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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 16 Princípios Básicos da Terapia Fotodinâmica na Infecção

Parte 4:
Terapia Fotodinâmica

16
Princípios Básicos da
Terapia Fotodinâmica
na Infecção
Mark Wainwright

Introdução

H
á muitos exemplos cotidianos da interação en- biomedicina, bem como fármacos convencionais, isto é,
tre luz e matéria, seja isso visível, como no aver- em antissepsia.
melhamento ou escurecimento da pele após a Os fotossensibilizadores orgânicos constituem uma
exposição à luz solar, ou invisível, como no acúmulo classe especial de moléculas de corantes capazes de
constante de carboidratos nas plantas verdes, durante converter iluminação incidente em reação química ou
a fotossíntese. A simples percepção da cor em nosso transferência de energia, o que pode resultar na produ-
ambiente requer absorção, reflexão e dispersão da luz ção local de espécies reativas. Se isso ocorrer em um
incidente, dependendo da química e morfologia dos ambiente celular simples, pode haver danos não especí-
materiais envolvidos. ficos e morte celular. Em virtude da natureza incomum
Corantes e pigmentos existem na forma natural e desse mecanismo de ação, há pouco potencial para
sintética no mundo, tanto para fins de coloração (pig- defesa entre células simples, isto é, microbiana. Conse-
mentos de flores/corantes têxteis) como para transpor- quentemente, o uso direcionado dessa abordagem ofe-
te de elétrons e energia (fotossíntese/células solares). rece considerável potencial no controle de infecções,
O seu uso biológico abrange corantes e pigmentos para incluindo a infecção oral.

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que seja o mesmo que o outro elétron, ainda no estado


fundamental. Esse arranjo, com ambos os spins na mes-
ma direção, é chamado de estado tripleto excitado.
O desemparelhamento (mesmo spin) dos elétrons
tem três resultados possíveis:
1. Retornar ao estado fundamental, estado single-
to com reirradiação da energia – o que é cha-
mado de fluorescência retardada ou fosfores-
cência.
2. Transferência de elétrons simples para o ambien-
te imediato – reações de redução/oxidação.
3. Transferência de energia para moléculas no am-
Figura 16.5: Faixa de comprimento de onda útil e regiões de ab- biente próximo.
sorção aproximadas para fotoantimicrobianos comuns. ICG: in-
Para a presente discussão, dessas opções, (2) e (3)
docianina verde.
representam rotas úteis, geralmente conhecidas como
fotossensibilização Tipo I e Tipo II, respectivamente.
Considerando a rota (2), a transferência de elétrons
Fotossensibilização para o oxigênio pode resultar na produção do ânion su-
peróxido (O2-), do radical hidroxila (OH•) e do peróxido de
O tópico anterior tratou do conceito de absorção hidrogênio (H2O2), enquanto a transferência de energia
de luz por uma molécula, resultando na promoção de para o oxigênio no estado fundamental produz oxigênio
um elétron para um nível mais alto. Esse é também o singleto excitado (1O2). Cada uma delas é uma ROS que
ponto de partida para as vias de fotossensibilização se combinará rapidamente com uma variedade de biomo-
que são, em última análise, responsáveis pela ação fo- léculas, levando à oxidação e degradação subsequente,
toantimicrobiana. reação suficiente ou crítica que leva à morte celular. O
Como notado, nem todas as moléculas de corante processo como um todo é mostrado na Figura 16.6.
ou pigmento são fotossensibilizadores, isto é, a absor-
ção de luz pela maioria dessas moléculas não resulta na
produção de espécies citotóxicas. Em vez disso, nesses
casos, o elétron excitado envolvido simplesmente perde
sua energia e retorna ao estado original do solo. Essa
energia pode ser perdida como calor ou, em alguns ca-
sos, como luz, gerando o fenômeno da fluorescência.
Moléculas que agem como fotossensibilizadores têm
um estado excitado relativamente estável. Em outras
palavras, a energia do elétron excitado não é perdida
ou novamente irradiada de imediato. Em muitos casos,
o estado excitado é mantido por tempo suficiente para
que outra transição eletrônica ocorra. Figura 16.6: Caminhos gerais de fotossensibilização para fotoan-
Os dois elétrons no HOMO possuem spins empare- timicrobianos.
lhados (opostos). Isso é chamado de estado fundamen-
tal singleto (não excitado). A primeira excitação impulsio- Consequentemente, as condições necessárias para
na um desses elétrons sem alteração do spin. O estado fotossensibilização eficaz são fotossensibilizador, oxigê-
excitado inicial é assim referido como o estado singleto nio suficiente e luz de comprimento de onda adequado.
excitado. Quando ele é relativamente estável, é possível A elaboração da ação fotoantimicrobiana é governada
que o spin do elétron excitado seja invertido, de modo mais pela interação da molécula do fotossensibilizador

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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia

Parte 4:
Terapia Fotodinâmica

18
Terapia Fotodinâmica
Aplicada à Periodontia
Letícia Helena Theodoro
Edilson Ervolino
Marina Módolo Cláudio
Daniela Maria Janjácomo Miessi
Marta Aparecida Alberton Nuernberg
Valdir Gouveia Garcia

Introdução

As
doenças gengivais são inflamações crôni- associada à manutenção de microbiota residente saudá-
cas dos tecidos que revestem o periodon- vel, havendo uma relação simbiótica com o hospedeiro.
to e têm alta prevalência1. Considera-se No entanto, se há acúmulo do biofilme e essa condição
gengivite quando a doença é associada à presença de não é tratada adequadamente, bactérias patogênicas
placa bacteriana. Doença gengival não induzida por pla- são capazes de proliferar e desenvolver uma disbiose5.
ca bacteriana ocorre quando a inflamação está associa- O acometimento da periodontite pelo acúmulo do
da a outros fatores etiológicos específicos1. biofilme varia entre indivíduos e pacientes não suscetí-
Por outro lado, a periodontite tem sido definida veis à periodontite, os quais podem desenvolver apenas
como inflamação crônica progressiva dos tecidos de su- a gengivite. Por outro lado, pacientes suscetíveis ou que
porte (osso alveolar, ligamento periodontal e cemento) apresentam fatores modificadores como tabagismo, uso
ocasionada por uma disbiose entre o hospedeiro e o de álcool, diabetes descompensado e estresse podem
agente agressor que apresenta etiologia multifatorial2. apresentar um agravamento da evolução da doença,
Ao longo das últimas décadas, tem-se confirmado com maior destruição dos tecidos periodontais5.
que um dos principais fatores etiológicos para o de- Diante desses fatos, o tratamento atual das doenças
senvolvimento das gengivites e das periodontites é o gengivais e periodontais deve englobar, além da remo-
desequilíbrio entre a presença de bactérias periodonto- ção e controle da placa bacteriana, um acompanhamen-
patogênicas e bactérias benéficas associado à resposta to do paciente ao longo dos anos com frequentes te-
do hospedeiro3,4. A saúde dos tecidos periodontais está rapias de suporte e a observação de seus hábitos e de

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condições sistêmicas, bem como aconselhamento sobre fotossensibilizadores, em diferentes concentrações, na


as formas de prevenção das doenças e sobre os fato- viabilidade de espécies de microrganismos relacionados
res de risco associados. Não obstante, pode-se afirmar com as doenças bucais8,9, surgiu o interesse do uso da
que o tratamento não cirúrgico das doenças periodon- PAT no tratamento periodontal. A PAT (do inglês pho-
tais tem se tornado um desafio, também em virtude da todynamic antimicrobial therapy) surgiu a partir do uso
grande variação da severidade e extensão da doença. da terapia fotodinâmica com objetivo fototóxico, geral-
Durante a fase não cirúrgica inicial, o procedimento mente via dano oxidativo de microrganismos presentes
de raspagem e aplainamento radicular (RAR) com ins- no sangue, como também para tratamento de infecções
trumentais manuais, sônicos e ultrassônicos, associado bucais10. Na periodontia atual, a PAT tem sido proposta
ou não às terapias coadjuvantes, tem sido o mais utili- como terapia alternativa ou como coadjuvante ao tra-
zado pelos clínicos6. O insucesso clínico da RAR pode tamento periodontal convencional não cirúrgico e cirúr-
decorrer de um insuficiente tratamento mecânico local gico, apresentando resultados promissores nos estudos
ou, ainda, de outros fatores que interferem na resposta experimentais em animais e em vários estudos em hu-
do tratamento, como tabagismo, uso de medicamen- manos11-13.
tos e presença de diabetes não compensado. Dentre As principais indicações da PAT no tratamento pe-
as terapias coadjuvantes, o uso de subdoses sistêmicas riodontal são:
de doxiciclina, antimicrobianos sistêmicos e terapia fo- • terapia coadjuvante ao tratamento mecânico de
todinâmica antimicrobiana (PAT) tem demonstrado um RAR no tratamento periodontal não cirúrgico;
nível moderado de evidência científica para uso em pe- • terapia coadjuvante na terapia periodontal cirúr-
riodontia6. Por outro lado, uma metanálise de estudos gica para descontaminação da superfície radicu-
clínicos que avaliaram o efeito da PAT no tratamento lar e do tecido ósseo e em áreas de difícil acesso,
das periodontites observou um benefício potencial na associando ou não terapias regenerativas;
melhora do nível clínico de inserção e na redução da • terapia alternativa no tratamento periodontal
profundidade de sondagem. Entretanto, segundo os de pacientes que possuem condições sistêmicas
autores, a relevância clínica é baixa e a diferença com que contraindiquem procedimentos clínicos in-
a RAR é modesta, considerando o nível de evidência vasivos, para promover a descontaminação radi-
baixo a moderado7. cular e dos tecidos moles e duros;
Deve-se considerar, ainda, que o uso da PAT no tra- • terapia de manutenção e retratamento de
tamento periodontal apresenta várias vantagens quan- bolsas residuais, após tratamento periodontal
do comparado com os antibióticos sistêmicos ou locais, prévio11,13.
por ser uma terapia local, de fácil uso, baixo custo, sem
efeitos colaterais e que não induz o desenvolvimento A PAT também pode ser utilizada como coadjuvante
de cepas resistentes. Além disso, apresenta como van- ao tratamento das doenças gengivais. O tratamento da
tagem a possibilidade de acumular o efeito adicional dos gengivite inclui o controle da placa supragengival pelo
lasers de baixa potência (LBP), os quais podem promo- paciente e pelo profissional e o controle da placa sub-
ver efeitos fotobiomoduladores nos tecidos periodon- gengival pelo profissional. Evitar instrumentações em
tais e reduzir o processo inflamatório, principalmente demasia, utilizando instrumentos manuais ou ultrassô-
nos períodos iniciais do processo de reparação. nicos, é muito importante para não promover desgastes
excessivos das superfícies dentárias nesses pacientes
nem lesionar os tecidos marginais. Além disso, alguns
Aplicações da PAT em fatores modificadores podem interferir no desenvolvi-
mento da gengivite e no seu tratamento, como gravidez,
periodontia puberdade, ciclo menstrual, uso de medicamentos (ano-
vulatórios hormonais, anticonvulsivantes, ciclosporina),
A partir da década de 1990, com a publicação de al- diabetes mellitus não compensado, leucemia e má nutri-
gumas pesquisas in vitro nas quais se avaliou o efeito de ção14. Além de um plano de tratamento multidisciplinar

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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia

com auxílio de médicos e métodos coadjuvantes ao


tratamento periodontal convencional, a PAT é uma das
Evidências Científicas:
terapias coadjuvantes que pode ser utilizada sem con- Estudos em Animais
traindicações e sem causar efeitos adversos aos pacien-
tes portadores de gengivite e de periodontite associada Ao longo destes últimos 20 anos, nosso grupo de
a algum fator modificador15-19. pesquisa tem se dedicado à avalição dos efeitos da PAT
A PAT tem a vantagem de não promover desgaste empregando estudos in vitro e in vivo em animais30,31.
das superfícies dentárias, ser de fácil aplicação, baixo Em um desses estudos in vitro avaliou-se o efeito da
custo, uso local e não promover nenhuma reação adver- PAT sobre microrganismos comumente encontrados na
sa aos tecidos gengivais11,12. Ademais, por utilizar uma microbiota bucal31. Com relação aos estudos in vivo em
fonte de luz de baixa potência, principalmente lasers, animais, grande parte deles se concentraram em avaliar
ela promove um efeito fotobiomodulador, aumentando a ação da PAT tanto no tratamento de feridas cutâneas30
o fluxo sanguíneo local, a migração de células de defesa quanto no tratamento da periodontite experimental em
para a área, ação anti-inflamatória, redução de edema e ratos32. Um dos primeiros estudos de nosso grupo na
estimulação do processo de reparação dos tecidos pe- doença periodontal avaliou o efeito da PAT como mo-
riodontais18,20. Alguns estudos clínicos, apesar de não noterapia no tratamento da periodontite experimental,
demonstrarem efetividade no ganho de inserção clínica e comparou-a com o uso isolado do LBP ou irrigação
após o uso da PAT, demonstraram que essa terapia é com azul de metileno32. Pode-se confirmar o potencial
capaz de reduzir o sangramento à sondagem e controlar dessa terapia quando utilizada isoladamente na modu-
a inflamação dos tecidos tratados21-24. lação da resposta inflamatória local e no controle da
O uso dos fotossensibilizadores fenotiazínicos, como reabsorção óssea alveolar nos sítios com periodontite
azul de metileno (AM) e azul de toluidina-O (ATO), tem experimental.
se mostrado eficiente para a inativação de bactérias Depois desse primeiro estudo, realizamos uma se-
Gram-positivas e Gram-negativas8,9,25,26 durante a PAT, quência de estudos experimentais em animais para
fato que os torna opção preferencial para o tratamento verificar o efeito da PAT na periodontite experimental
da periodontite e da gengivite. Além desses fotossen- em ratos com ou sem doenças ou modificações sistêmi-
sibilizadores, rosa bengala, verde malaquita, eritrosina, cas15-19,29,33-38. Nos animais desprovidos de doenças ou
rodamina, cristal violeta, porfirinas e fitalocianinas27 e a modificações sistêmicas, a PAT mostrou-se efetiva no
curcumina28,29 também têm sido empregados. As fontes tratamento da doença periodontal experimentalmente
de luzes mais utilizadas têm sido os LBP (630-680 nm) induzida quando utilizada isoladamente ou como tera-
e o diodo emissor de luz (LED). pia coadjuvante ao tratamento mecânico convencional.
De modo semelhante, a PAT mostra-se muito efetiva
no tratamento da periodontie experimental em ani-
mais portadores de doenças ou modificações sistêmi-
cas, como diabetes15, exposição à nicotina17, depleção
de esteroides ovarianos por ovariectomia18 (Fig. 18.1),
imunossupressão pelo uso de corticoide16 ou quimiote-
rápico19 (Fig. 18.2 e Tabela 18.1).

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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia

A maioria dos estudos realizados em modelo animal


utilizaram os fotossensibilizadores fenotiazínicos AM e
ATO nas concentrações de 100 μg/mL e 10 mg/mL. Um
desses estudos avaliou o efeito das concentrações dos
fotossensibilizadores e demonstrou que as baixas con-
centrações são mais eficientes (Fig. 18.4)35, o que pode
estar associado a menor coagregação das moléculas e
maior penetração da luz. O tempo de pré-irradiação em
todos os estudos foi de 60 segundos e todos os estu-
dos utilizaram o LBP com comprimento de onda de 660
a 685 nm. Além disso, outro estudo do nosso grupo
verificou que múltiplas sessões de PAT não demons-
traram reduções significativas de perda óssea na região
de furca de molares com periodontite experimental em
A B comparação a sessão única34. Outro estudo do grupo
demonstrou o efeito benéfico da PAT como monotera-
pia com a associação de um LED (InGaN, 465-485 nm,
200 mW/cm2) e curcumina (40 µM) no controle da pe-
riodontite experimental29.

Evidências científicas:
estudos em humanos
O efeito da PAT como terapia coadjuvante ao tra-
tamento das periodontites tem sido avaliado e os re-
sultados são ainda controversos e inconclusivos39,41.
C D
Alguns têm demonstrado vantagens clínicas da PAT
Figura 18.4: Aspecto histológico da região de furca do primeiro
quando comparada à RAR, enquanto outros demons-
molar inferior de ratos sem nenhuma doença ou modificação sis-
traram que a PAT foi capaz de reduzir apenas o san-
têmica em um sítio com periodontite experimental tratada exclu-
sivamente com RAR (A e C) e RAR associada à PAT empregando gramento à sondagem de sítios tratados. Outros es-
azul de metileno (100 μg/mL) e LBP (B e D). Observar menor tudos ainda demonstraram que a PAT foi capaz de
perda óssea alveolar e um processo de reparação dos tecidos pe- promover redução bacteriana, principalmente de bac-
riodontais mais favorável, incluindo áreas de neoformação óssea térias periodontopatogênicas39,41. Cabe destacar que
alveolar nos ratos cuja periodontite experimental foi tratada com os estudos clínicos apresentados na literatura têm
RAR associada à PAT. Asteriscos: infiltrado inflamatório; oa: osso
utilizado diferentes fotossensibilizadores associados
alveolar; tc: tecido conjuntivo. Coloração HE. Aumento original:
A e B, 50x; C e D, 400x. Barras de escala: A e B, 400 µm; C e
com lasers ou LED com diferentes comprimentos de
D, 100 µm. onda. Além do tipo e concentração dos fotossensibi-
lizadores, outros parâmetros têm sido muito variáveis
na PAT, como o tempo de pré-irradiação (entre 1, 3 e
5 minutos), a potência utilizada (entre 30 e 150 mW),
o tempo de exposição (entre 10 e 150 segundos/sí-
tio), o número de sessões (única ou múltiplas), a fre-
quência e o intervalo entre as sessões.

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Lasers na Odontologia: Uma Visão Clínica Baseada em Evidências Científicas

Existem algumas evidências científicas sobre os de bolsas residuais por promover modulação das cito-
efeitos de múltiplas aplicações da PAT no tratamento cinas do fluido crevicular43. Entretanto, estudo clínico
periodontal23,24,40,41. Um desses estudos demonstrou avaliando a PAT na terapia de manutenção como coad-
que três aplicações de PAT (primeiro, terceiro e sétimo juvante ao tratamento periodontal concluiu que esse
dias) promoveu maior redução de Aggregatibacter acti- procedimento falhou em demonstrar benefícios clíni-
nomycetemcomitans, Tannerella forsythia e Treponema cos e bacteriológicos ao associar o AM (0,01%) com
denticola em bolsas moderadas (4-6 mm), de T. denti- tempo de pré-irradiação de 5 minutos seguido de 90
cola em bolsas profundas (> 6 mm) e do sangramento à segundos de irradiação com laser de diodo (660 nm)47.
sondagem, quando comparado à RAR isolada24. Nosso Outro estudo avaliando três aplicações de PAT em bol-
grupo de pesquisa tem demonstrado que um protocolo sas residuais no primeiro, terceiro e sétimo dias após
de três sessões de PAT (AM + LBP de 660 nm, 160 J/ a RAR também não demonstrou melhoras clínicas em
cm2) com intervalo de 48 horas e tempo de pré-irra- relação aos parâmetros profundidade de sondagem e
diação de 1 minuto em bolsas moderadas e profundas ganho de inserção clínica, evidenciando apenas maior
mostrou-se clinicamente eficaz tanto quanto a antibio- redução de sangramento à sondagem aos 3 e 12 me-
ticoterapia sistêmica (500 mg de amoxicilina e 400 mg ses comparado à RAR isolada24.
de metronidazol, 3 vezes ao dia, durante 7 dias), como Por outro lado, estudo clínico utilizando modelo de
terapia coadjuvante no tratamento da periodontite crô- boca dividida avaliou o efeito o LED (620-640 nm) com
nica em pacientes não fumantes40 e fumantes41. intensidade de potência entre 2.000 e 4.000 mW/cm2
Recentemente, outro estudo clínico controlado ran- associado a 0,1 mg/mL de ATO no tratamento de bolsas
domizado comparou o efeito desse mesmo protocolo residuais e demonstrou benefícios clínicos com o uso
de PAT (três aplicações semanais) como coadjuvante desse protocolo em pacientes em terapia de manuten-
ao tratamento da periodontite em pacientes diabéticos ção, pois o tratamento promoveu maior redução da pro-
não compensados42. No estudo, a PAT como terapia fundidade de sondagem e ganho clínico de inserção48.
coadjuvante beneficiou clinicamente os pacientes, pois Com relação à terapia periodontal cirúrgica, estudo
foi capaz de reduzir significantemente o número de bol- clínico em humanos demonstrou redução significati-
sas com profundidade de sondagem ≥5 mm e com san- va da profundidade de sondagem e de níveis de placa
gramento aos 90 e 180 dias, além de reduzir a média bacteriana subgengival 90 dias após uso de PAT, como
de profundidade de sondagem de bolsas profundas aos coadjuvante ao tratamento cirúrgico periodontal (reta-
180 dias após o tratamento. lho) de bolsas profundas, em pacientes portadores de
No tratamento de bolsas residuais em manutenção, periodontite crônica utilizando laser de diodo e fotos-
alguns estudos clínicos têm demonstrado vantagens sensibilizador fenotiazínio49. Ademais, pode-se associar
do uso da PAT, seja como terapia alternativa ou como a terapia cirúrgica periodontal com técnicas regenerati-
coadjuvante ao tratamento periodontal43-46. Algumas vas no tratamento de defeitos ósseos periodontais ou
evidências clínicas têm demonstrado que a PAT pro- apenas como terapia antimicrobiana no caso de raspa-
move benefícios clínicos na redução da inflamação dos gem em campo aberto.
tecidos periodontais, na redução das bolsas residuais
ou no ganho de inserção clínica como terapia de ma-
nutenção43,44,46. Várias sessões de PAT como terapia
coadjuvante para o tratamento de bolsas residuais em Protocolo clínico de uso
terapia de manutenção têm se mostrado eficazes (cin-
co aplicações no período de duas semanas)44. Outro no tratamento periodontal
estudo clínico, utilizando o AM (10 mg/mL), com tem-
po de pré-irradiação de 1 minuto, seguido da irradiação A terapia periodontal não cirúrgica consiste nos
com laser de diodo (660 nm) durante 1 minuto, com a procedimentos iniciais de debridamento supra e sub-
fibra posicionada dentro da bolsa, como terapia alter- gengival com o objetivo de remoção e desorganização
nativa, demonstrou benefícios clínicos no tratamento do biofilme aderido às superfícies dentárias, que são

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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia

indicados para o tratamento das gengivites e periodon- clínica (NIC) ≥ 2 ou ≥ 3 mm em dois dentes não ad-
tites diagnosticadas por um exame clínico periodontal e jacentes em áreas interproximais, o que é confirmado
exame radiográfico, além da orientação de higiene bucal clinicamente também pela presença de perda óssea al-
e controle da placa bacteriana. A consulta de reavalia- veolar no exame radiográfico2.
ção consiste na avaliação do sucesso do tratamento por Tanto nas doenças gengivais como periodontais,
meio de nova anamnese e exame clínico periodontal, concluído o procedimento de RAR, o fotossensibiliza-
seguida ou não do exame radiográfico. Caso haja neces- dor é aplicado no interior da bolsa gengival/periodontal,
sidade, pode-se seguir para o retratamento não cirúrgi- com seringa e agulha de insulina, até extravasar ligei-
co ou para tratamento cirúrgico. Após nova reavaliação, ramente na margem gengival, devendo permanecer no
o paciente deve ser incluído em um programa de manu- mínimo por 60 segundos em contato com as superfícies
tenção, que tem sido considerado uma das fases mais da área, como a superfície dentária e parede mole da
importantes do tratamento, pois independentemente bolsa. Os fotossensibilizadores AM ou ATO, nas con-
da terapia utilizada, o sucesso do tratamento depende- centrações de 10 mg ou 100 µg/mL, têm sido os mais
rá de um adequado controle do biofilme dentário. empregados e devem se manter na área por no mínimo
Enquanto as doenças gengivais são caracterizadas 1 minuto antes da irradiação (pré-irradiação). A seguir,
por uma inflamação que acomete apenas o periodonto a área será irradiada por uma fonte de luz, preferencial-
de revestimento, a periodontite apresenta perda de in- mente LBP ou LED, com comprimento de onda de 630
serção e é confirmada quando houver nível de inserção a 680 nm (visível-vermelho) (Fig. 18.5).

A B C

Figura 18.5: Técnica de aplicação da PAT no tratamento periodontal não cirúrgico. (A) Irrigação da bolsa periodontal com fotossensi-
bilizador. (B) Irradiação da bolsa com a fibra do LBP posicionada paralelamente ao longo do eixo do dente até o limite apical da bolsa.
(C) Reparo periodontal.

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Lasers na Odontologia: Uma Visão Clínica Baseada em Evidências Científicas

Os LBP, por apresentarem sistema de entrega com margem gengival (irradiação transgengival) ou com a
fibras ópticas flexíveis e capazes de penetrar no sulco ponta de saída do laser posicionada paralelamente ao
gengival ou na bolsa periodontal, têm sido mais uti- longo eixo do dente, na margem gengival, com tempo
lizados com a fibra óptica posicionada no interior do de exposição adequado ao equipamento utilizado.
sulco/bolsa periodontal até o seu limite apical, parale- Existe grande variabilidade nos protocolos utilizados
lamente ao longo do eixo do dente (irradiação intras- durante a irradiação dos tecidos periodontais com la-
sulcular), e mantida acionada pelo tempo determinado sers ou LED. Um protocolo que tem se mostrado eficaz
de 40 a 60 segundos por sítio (Fig. 18.6). No entanto, quando utilizado com irradiação intrassulcular é a utili-
caso o equipamento não apresente esse sistema de zação de um laser visível (660 nm; InGaAlP) com fibra
fibras para posicionamento intrassulcular, o laser pode óptica flexível, com potência de saída de 100 mW, tem-
ser utilizado com a ponta de saída do feixe posicio- po de irradiação de 50 segundos e energia de 5 J. Em
nada sobre o tecido gengival, perpendicularmente à terapia de manutenção, a PAT pode ser utilizada como

A B

C D E F

Figura 18.6: (A) LBP com 660 nm para uso com fibra óptica flexível e descartável. (B) Fibra óptica para PAT. (C) Exame clínico perio-
dontal de paciente portador de periodontite generalizada. (D) Irrigação da bolsa com AM (100 μg/mL) utilizando seringa e agulha
sem bisel até extravazamento da solução (tempo de pré-irradiação de 60 segundos). (E) Posicionamento da fibra óptica na entrada
da bolsa periodontal, paralelamente ao longo eixo, e irradiação com laser de diodo de InGaAlP (660 nm, 100 mW, 50 segundos).
(F) Profundidade de sondagem de 3 mm e aspecto clínico após 30 dias do tratamento.

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Lasers na Odontologia: Uma Visão Clínica Baseada em Evidências Científicas

A B

C D

E F

Figura 19.2: Uso da PAT para evitar a ocorrência de ONM-M em paciente apresentando fatores de risco. (A) Aspecto clínico inicial
de raiz residual com comprometimento periodontal e com cárie em paciente do gênero feminino, 65 anos, que fazia tratamento para
osteoporose com alendronato de sódio. (B) Aspecto clínico imediato após a exodontia simples. (C) Deposição de azul de metileno (10
mg/mL) no alvéolo dental com tempo de pré-irradiação de 60 segundos, imediatamente após a curetagem e irrigação com solução
salina fisiológica. (D) Irradiação do alvéolo com LBP (InGaAlP, 660 nm, 40 mW, 60 segundos, 3,92 J). (E) Aspecto clínico 7 dias após a
exodontia. (F) Aspecto clínico de normalidade do sítio cirúrgico após 2 anos de acompanhamento.

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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 20 Terapia Fotodinâmica nas Doenças Peri-implantares

A B

C D

Figura 20.2: (A) Aspecto clínico inicial e exame de profundidade de sondagem em área com peri-implantite demonstrando inflamação.
(B) Irrigação de bolsa peri-implantar com azul de metileno (100 μg/mL) utilizando seringa e agulha sem bisel até extravasamento. (C)
Aspecto clínico após 60 segundos de tempo de pré-irradiação. (D) Irradiação de bolsa peri-implantar com laser de diodo de 660 nm
(100 mW; 40 segundos; 4 J) em um dos sítios acometidos.

A B

Figura 20.3: (A) Aspecto clínico e exame de profundidade de sondagem 60 dias após tratamento. (B) Exame radiográfico 60 dias após
tratamento.

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