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Parte 4:
Terapia Fotodinâmica
16
Princípios Básicos da
Terapia Fotodinâmica
na Infecção
Mark Wainwright
Introdução
H
á muitos exemplos cotidianos da interação en- biomedicina, bem como fármacos convencionais, isto é,
tre luz e matéria, seja isso visível, como no aver- em antissepsia.
melhamento ou escurecimento da pele após a Os fotossensibilizadores orgânicos constituem uma
exposição à luz solar, ou invisível, como no acúmulo classe especial de moléculas de corantes capazes de
constante de carboidratos nas plantas verdes, durante converter iluminação incidente em reação química ou
a fotossíntese. A simples percepção da cor em nosso transferência de energia, o que pode resultar na produ-
ambiente requer absorção, reflexão e dispersão da luz ção local de espécies reativas. Se isso ocorrer em um
incidente, dependendo da química e morfologia dos ambiente celular simples, pode haver danos não especí-
materiais envolvidos. ficos e morte celular. Em virtude da natureza incomum
Corantes e pigmentos existem na forma natural e desse mecanismo de ação, há pouco potencial para
sintética no mundo, tanto para fins de coloração (pig- defesa entre células simples, isto é, microbiana. Conse-
mentos de flores/corantes têxteis) como para transpor- quentemente, o uso direcionado dessa abordagem ofe-
te de elétrons e energia (fotossíntese/células solares). rece considerável potencial no controle de infecções,
O seu uso biológico abrange corantes e pigmentos para incluindo a infecção oral.
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Lasers na Odontologia: Uma Visão Clínica Baseada em Evidências Científicas
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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia
Parte 4:
Terapia Fotodinâmica
18
Terapia Fotodinâmica
Aplicada à Periodontia
Letícia Helena Theodoro
Edilson Ervolino
Marina Módolo Cláudio
Daniela Maria Janjácomo Miessi
Marta Aparecida Alberton Nuernberg
Valdir Gouveia Garcia
Introdução
As
doenças gengivais são inflamações crôni- associada à manutenção de microbiota residente saudá-
cas dos tecidos que revestem o periodon- vel, havendo uma relação simbiótica com o hospedeiro.
to e têm alta prevalência1. Considera-se No entanto, se há acúmulo do biofilme e essa condição
gengivite quando a doença é associada à presença de não é tratada adequadamente, bactérias patogênicas
placa bacteriana. Doença gengival não induzida por pla- são capazes de proliferar e desenvolver uma disbiose5.
ca bacteriana ocorre quando a inflamação está associa- O acometimento da periodontite pelo acúmulo do
da a outros fatores etiológicos específicos1. biofilme varia entre indivíduos e pacientes não suscetí-
Por outro lado, a periodontite tem sido definida veis à periodontite, os quais podem desenvolver apenas
como inflamação crônica progressiva dos tecidos de su- a gengivite. Por outro lado, pacientes suscetíveis ou que
porte (osso alveolar, ligamento periodontal e cemento) apresentam fatores modificadores como tabagismo, uso
ocasionada por uma disbiose entre o hospedeiro e o de álcool, diabetes descompensado e estresse podem
agente agressor que apresenta etiologia multifatorial2. apresentar um agravamento da evolução da doença,
Ao longo das últimas décadas, tem-se confirmado com maior destruição dos tecidos periodontais5.
que um dos principais fatores etiológicos para o de- Diante desses fatos, o tratamento atual das doenças
senvolvimento das gengivites e das periodontites é o gengivais e periodontais deve englobar, além da remo-
desequilíbrio entre a presença de bactérias periodonto- ção e controle da placa bacteriana, um acompanhamen-
patogênicas e bactérias benéficas associado à resposta to do paciente ao longo dos anos com frequentes te-
do hospedeiro3,4. A saúde dos tecidos periodontais está rapias de suporte e a observação de seus hábitos e de
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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia
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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia
Evidências científicas:
estudos em humanos
O efeito da PAT como terapia coadjuvante ao tra-
tamento das periodontites tem sido avaliado e os re-
sultados são ainda controversos e inconclusivos39,41.
C D
Alguns têm demonstrado vantagens clínicas da PAT
Figura 18.4: Aspecto histológico da região de furca do primeiro
quando comparada à RAR, enquanto outros demons-
molar inferior de ratos sem nenhuma doença ou modificação sis-
traram que a PAT foi capaz de reduzir apenas o san-
têmica em um sítio com periodontite experimental tratada exclu-
sivamente com RAR (A e C) e RAR associada à PAT empregando gramento à sondagem de sítios tratados. Outros es-
azul de metileno (100 μg/mL) e LBP (B e D). Observar menor tudos ainda demonstraram que a PAT foi capaz de
perda óssea alveolar e um processo de reparação dos tecidos pe- promover redução bacteriana, principalmente de bac-
riodontais mais favorável, incluindo áreas de neoformação óssea térias periodontopatogênicas39,41. Cabe destacar que
alveolar nos ratos cuja periodontite experimental foi tratada com os estudos clínicos apresentados na literatura têm
RAR associada à PAT. Asteriscos: infiltrado inflamatório; oa: osso
utilizado diferentes fotossensibilizadores associados
alveolar; tc: tecido conjuntivo. Coloração HE. Aumento original:
A e B, 50x; C e D, 400x. Barras de escala: A e B, 400 µm; C e
com lasers ou LED com diferentes comprimentos de
D, 100 µm. onda. Além do tipo e concentração dos fotossensibi-
lizadores, outros parâmetros têm sido muito variáveis
na PAT, como o tempo de pré-irradiação (entre 1, 3 e
5 minutos), a potência utilizada (entre 30 e 150 mW),
o tempo de exposição (entre 10 e 150 segundos/sí-
tio), o número de sessões (única ou múltiplas), a fre-
quência e o intervalo entre as sessões.
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Existem algumas evidências científicas sobre os de bolsas residuais por promover modulação das cito-
efeitos de múltiplas aplicações da PAT no tratamento cinas do fluido crevicular43. Entretanto, estudo clínico
periodontal23,24,40,41. Um desses estudos demonstrou avaliando a PAT na terapia de manutenção como coad-
que três aplicações de PAT (primeiro, terceiro e sétimo juvante ao tratamento periodontal concluiu que esse
dias) promoveu maior redução de Aggregatibacter acti- procedimento falhou em demonstrar benefícios clíni-
nomycetemcomitans, Tannerella forsythia e Treponema cos e bacteriológicos ao associar o AM (0,01%) com
denticola em bolsas moderadas (4-6 mm), de T. denti- tempo de pré-irradiação de 5 minutos seguido de 90
cola em bolsas profundas (> 6 mm) e do sangramento à segundos de irradiação com laser de diodo (660 nm)47.
sondagem, quando comparado à RAR isolada24. Nosso Outro estudo avaliando três aplicações de PAT em bol-
grupo de pesquisa tem demonstrado que um protocolo sas residuais no primeiro, terceiro e sétimo dias após
de três sessões de PAT (AM + LBP de 660 nm, 160 J/ a RAR também não demonstrou melhoras clínicas em
cm2) com intervalo de 48 horas e tempo de pré-irra- relação aos parâmetros profundidade de sondagem e
diação de 1 minuto em bolsas moderadas e profundas ganho de inserção clínica, evidenciando apenas maior
mostrou-se clinicamente eficaz tanto quanto a antibio- redução de sangramento à sondagem aos 3 e 12 me-
ticoterapia sistêmica (500 mg de amoxicilina e 400 mg ses comparado à RAR isolada24.
de metronidazol, 3 vezes ao dia, durante 7 dias), como Por outro lado, estudo clínico utilizando modelo de
terapia coadjuvante no tratamento da periodontite crô- boca dividida avaliou o efeito o LED (620-640 nm) com
nica em pacientes não fumantes40 e fumantes41. intensidade de potência entre 2.000 e 4.000 mW/cm2
Recentemente, outro estudo clínico controlado ran- associado a 0,1 mg/mL de ATO no tratamento de bolsas
domizado comparou o efeito desse mesmo protocolo residuais e demonstrou benefícios clínicos com o uso
de PAT (três aplicações semanais) como coadjuvante desse protocolo em pacientes em terapia de manuten-
ao tratamento da periodontite em pacientes diabéticos ção, pois o tratamento promoveu maior redução da pro-
não compensados42. No estudo, a PAT como terapia fundidade de sondagem e ganho clínico de inserção48.
coadjuvante beneficiou clinicamente os pacientes, pois Com relação à terapia periodontal cirúrgica, estudo
foi capaz de reduzir significantemente o número de bol- clínico em humanos demonstrou redução significati-
sas com profundidade de sondagem ≥5 mm e com san- va da profundidade de sondagem e de níveis de placa
gramento aos 90 e 180 dias, além de reduzir a média bacteriana subgengival 90 dias após uso de PAT, como
de profundidade de sondagem de bolsas profundas aos coadjuvante ao tratamento cirúrgico periodontal (reta-
180 dias após o tratamento. lho) de bolsas profundas, em pacientes portadores de
No tratamento de bolsas residuais em manutenção, periodontite crônica utilizando laser de diodo e fotos-
alguns estudos clínicos têm demonstrado vantagens sensibilizador fenotiazínio49. Ademais, pode-se associar
do uso da PAT, seja como terapia alternativa ou como a terapia cirúrgica periodontal com técnicas regenerati-
coadjuvante ao tratamento periodontal43-46. Algumas vas no tratamento de defeitos ósseos periodontais ou
evidências clínicas têm demonstrado que a PAT pro- apenas como terapia antimicrobiana no caso de raspa-
move benefícios clínicos na redução da inflamação dos gem em campo aberto.
tecidos periodontais, na redução das bolsas residuais
ou no ganho de inserção clínica como terapia de ma-
nutenção43,44,46. Várias sessões de PAT como terapia
coadjuvante para o tratamento de bolsas residuais em Protocolo clínico de uso
terapia de manutenção têm se mostrado eficazes (cin-
co aplicações no período de duas semanas)44. Outro no tratamento periodontal
estudo clínico, utilizando o AM (10 mg/mL), com tem-
po de pré-irradiação de 1 minuto, seguido da irradiação A terapia periodontal não cirúrgica consiste nos
com laser de diodo (660 nm) durante 1 minuto, com a procedimentos iniciais de debridamento supra e sub-
fibra posicionada dentro da bolsa, como terapia alter- gengival com o objetivo de remoção e desorganização
nativa, demonstrou benefícios clínicos no tratamento do biofilme aderido às superfícies dentárias, que são
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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 18 Terapia Fotodinâmica Aplicada à Periodontia
indicados para o tratamento das gengivites e periodon- clínica (NIC) ≥ 2 ou ≥ 3 mm em dois dentes não ad-
tites diagnosticadas por um exame clínico periodontal e jacentes em áreas interproximais, o que é confirmado
exame radiográfico, além da orientação de higiene bucal clinicamente também pela presença de perda óssea al-
e controle da placa bacteriana. A consulta de reavalia- veolar no exame radiográfico2.
ção consiste na avaliação do sucesso do tratamento por Tanto nas doenças gengivais como periodontais,
meio de nova anamnese e exame clínico periodontal, concluído o procedimento de RAR, o fotossensibiliza-
seguida ou não do exame radiográfico. Caso haja neces- dor é aplicado no interior da bolsa gengival/periodontal,
sidade, pode-se seguir para o retratamento não cirúrgi- com seringa e agulha de insulina, até extravasar ligei-
co ou para tratamento cirúrgico. Após nova reavaliação, ramente na margem gengival, devendo permanecer no
o paciente deve ser incluído em um programa de manu- mínimo por 60 segundos em contato com as superfícies
tenção, que tem sido considerado uma das fases mais da área, como a superfície dentária e parede mole da
importantes do tratamento, pois independentemente bolsa. Os fotossensibilizadores AM ou ATO, nas con-
da terapia utilizada, o sucesso do tratamento depende- centrações de 10 mg ou 100 µg/mL, têm sido os mais
rá de um adequado controle do biofilme dentário. empregados e devem se manter na área por no mínimo
Enquanto as doenças gengivais são caracterizadas 1 minuto antes da irradiação (pré-irradiação). A seguir,
por uma inflamação que acomete apenas o periodonto a área será irradiada por uma fonte de luz, preferencial-
de revestimento, a periodontite apresenta perda de in- mente LBP ou LED, com comprimento de onda de 630
serção e é confirmada quando houver nível de inserção a 680 nm (visível-vermelho) (Fig. 18.5).
A B C
Figura 18.5: Técnica de aplicação da PAT no tratamento periodontal não cirúrgico. (A) Irrigação da bolsa periodontal com fotossensi-
bilizador. (B) Irradiação da bolsa com a fibra do LBP posicionada paralelamente ao longo do eixo do dente até o limite apical da bolsa.
(C) Reparo periodontal.
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Os LBP, por apresentarem sistema de entrega com margem gengival (irradiação transgengival) ou com a
fibras ópticas flexíveis e capazes de penetrar no sulco ponta de saída do laser posicionada paralelamente ao
gengival ou na bolsa periodontal, têm sido mais uti- longo eixo do dente, na margem gengival, com tempo
lizados com a fibra óptica posicionada no interior do de exposição adequado ao equipamento utilizado.
sulco/bolsa periodontal até o seu limite apical, parale- Existe grande variabilidade nos protocolos utilizados
lamente ao longo do eixo do dente (irradiação intras- durante a irradiação dos tecidos periodontais com la-
sulcular), e mantida acionada pelo tempo determinado sers ou LED. Um protocolo que tem se mostrado eficaz
de 40 a 60 segundos por sítio (Fig. 18.6). No entanto, quando utilizado com irradiação intrassulcular é a utili-
caso o equipamento não apresente esse sistema de zação de um laser visível (660 nm; InGaAlP) com fibra
fibras para posicionamento intrassulcular, o laser pode óptica flexível, com potência de saída de 100 mW, tem-
ser utilizado com a ponta de saída do feixe posicio- po de irradiação de 50 segundos e energia de 5 J. Em
nada sobre o tecido gengival, perpendicularmente à terapia de manutenção, a PAT pode ser utilizada como
A B
C D E F
Figura 18.6: (A) LBP com 660 nm para uso com fibra óptica flexível e descartável. (B) Fibra óptica para PAT. (C) Exame clínico perio-
dontal de paciente portador de periodontite generalizada. (D) Irrigação da bolsa com AM (100 μg/mL) utilizando seringa e agulha
sem bisel até extravazamento da solução (tempo de pré-irradiação de 60 segundos). (E) Posicionamento da fibra óptica na entrada
da bolsa periodontal, paralelamente ao longo eixo, e irradiação com laser de diodo de InGaAlP (660 nm, 100 mW, 50 segundos).
(F) Profundidade de sondagem de 3 mm e aspecto clínico após 30 dias do tratamento.
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A B
C D
E F
Figura 19.2: Uso da PAT para evitar a ocorrência de ONM-M em paciente apresentando fatores de risco. (A) Aspecto clínico inicial
de raiz residual com comprometimento periodontal e com cárie em paciente do gênero feminino, 65 anos, que fazia tratamento para
osteoporose com alendronato de sódio. (B) Aspecto clínico imediato após a exodontia simples. (C) Deposição de azul de metileno (10
mg/mL) no alvéolo dental com tempo de pré-irradiação de 60 segundos, imediatamente após a curetagem e irrigação com solução
salina fisiológica. (D) Irradiação do alvéolo com LBP (InGaAlP, 660 nm, 40 mW, 60 segundos, 3,92 J). (E) Aspecto clínico 7 dias após a
exodontia. (F) Aspecto clínico de normalidade do sítio cirúrgico após 2 anos de acompanhamento.
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Parte 4: Terapia Fotodinâmica Capítulo 20 Terapia Fotodinâmica nas Doenças Peri-implantares
A B
C D
Figura 20.2: (A) Aspecto clínico inicial e exame de profundidade de sondagem em área com peri-implantite demonstrando inflamação.
(B) Irrigação de bolsa peri-implantar com azul de metileno (100 μg/mL) utilizando seringa e agulha sem bisel até extravasamento. (C)
Aspecto clínico após 60 segundos de tempo de pré-irradiação. (D) Irradiação de bolsa peri-implantar com laser de diodo de 660 nm
(100 mW; 40 segundos; 4 J) em um dos sítios acometidos.
A B
Figura 20.3: (A) Aspecto clínico e exame de profundidade de sondagem 60 dias após tratamento. (B) Exame radiográfico 60 dias após
tratamento.
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