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Hidrostática

x Hidrostática: estudo de fluidos em repouso.

x Fluido: substância que pode escoar; se adapta ao contorno de qualquer recipiente que o contém. Na
definição mais formal, fluido é uma substância que não suporta uma tensão de cisalhamento, ou
seja, ele se deformará continuamente sob a ação de uma força cisalhante. Os líquidos e os gases
são classificados como fluidos.

x Densidade

Densidade ou massa específica de um material é a razão entre a massa e o volume ocupado por
uma amostra deste material:

m
U
V
a densidade U, no S.I., é dada em kg/m3. Porém, a unidade g/cm3, no sistema CGS, também é muito
utilizada. A relação entre estas duas unidades é,

g kg
1 10 3
cm 3 m3

Tabela - Densidade aproximada de alguns materiais, à 20 oC e 1 atm.

Material Densidade U (kg/m3) Material Densidade U (kg/m3)


Alumínio 2,7.103 Sangue 1,05.103
3 3
Cobre 8,9.10 Álcool etílico 0,81.10
Ouro 19,3.103 Mercúrio 13,6.103
Irídio 22,6.103 Água 1,00.103
3 3
Ferro ou aço 7,8.10 Água do mar 1,03.10
Chumbo 11,3.103
Platina 21,4.103 Espaço interestelar 3.10-22
3 -17
Tungstênio 19,3.10 Melhor vácuo no laboratório 10
3
Sol: média 1,4.10
Osso 1,8.103 núcleo 1,6.103
Concreto 2,4.103 Terra: média 5,5.103
3 3
Diamante 3,5.10 núcleo 9,5.10
3 3
Vidro 2,6.10 crosta 1,4.10
Gelo 0,92.103 Estrela de nêutrons (núcleo) 10 18
3 19
Madeira 0,7.10 Buraco negro 10

Ar 1,29
Hélio 0,179
o
Vapor (100 C) 0,090
Hexafluoreto de urânio 15

x Pressão em fluidos

Pressão em um ponto qualquer é a relação entre a força normal (dF), exercida sobre uma área
elementar (dA):
dF
p
dA
Se a pressão for a mesma em todos os pontos de uma superfície plana finita de área A, temos:

F
p
A
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A pressão em um fluido estático varia com a posição vertical, devido ao seu peso. Por exemplo, a
pressão num lago ou oceano aumenta quando a profundidade aumenta, enquanto que a pressão da
atmosfera diminui com o aumento da altura.
Num líquido como a água, cuja densidade é constante (numa ampla faixa de pressões), a pressão
cresce linearmente com a profundidade. Na figura a seguir, consideramos uma coluna de líquido de
altura h e de área da seção transversal A. A pressão no fundo da coluna deve ser maior que a pressão
no topo da coluna, a fim de suportar o peso da coluna.

Utilizando a definição de densidade, temos a massa desta coluna:

m
U Ÿ m UV U Ah
V
e o seu peso é:

P mg UAhg

Sabendo-se que p=F/A, ou seja, F=pA, temos:

Fo = p o A e F=pA

Como a coluna de líquido está em equilíbrio, a força resultante tem que ser nula. Assim devemos ter:

F - Fo - U A h g = 0

p A - po A - U A h g = 0

p - po - U g h = 0

p = po + U g h

Em um recipiente aberto, se po for a pressão na superfície de um líquido, então po é igual à pressão


que a atmosfera exerce sobre esta superfície. Assim, temos,

po = patm

então,
p = patm + U g h

onde p é a pressão total ou absoluta a uma profundidade h, no líquido.


p - patm = U g h = pressão manométrica = pressão devido somente à coluna de líquido.
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x Medidores de pressão

Manômetro de tubo aberto em U:

No mesmo nível e no mesmo líquido, as pressões são iguais. Assim, a pressão p do gás dentro do
balão é:
pc = pB = p = patm + U g h

Barômetro de mercúrio:

Barômetro é um dispositivo para medir pressão atmosférica.

Como os pontos 1 e 2 estão no mesmo nível e mesmo líquido, a pressão atmosférica pode ser
calculada por:
p1 = p2 = patm = U g h

Manômetro de Bourdon:

O manômetro de Bourdon é utilizado para medir pressão de gases e líquidos.


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Unidades de pressão:

No S. I. a pressão é dada em N/m2 (pascal, Pa).


Outras unidades de pressão e seus fatores de conversão:

1 bar = 105 Pa = 1,02.104 kgf/m2 = 1,02 kgf/cm2 = 0,987 atm


1 atm = 760 mmHg = 1,013.105 Pa = 14,7 lb/pol2 (psi) = 1,013.106 dyn/cm2
1 torr = 1 mmHg

atm = atmosfera
torr = torricelli

Pressão atmosférica ao nível do mar: patm = 1 atm = 760 mmHg = 1,013.105 Pa = 14,7 lb/pol2

x Vasos Comunicantes

Se recipientes de formatos diferentes estiverem interligados e contendo um líquido, o nível atingido


pelo líquido será igual em todos os recipientes, não importando o seu formato.

x Princípio de Pascal

Enunciado do princípio de Pascal:


"Uma mudança de pressão aplicada a um fluido contido em um recipiente é transmitida
integralmente a todos os pontos do fluido e às paredes do recipiente".

Prensa hidráulica ou elevador hidráulico:

A figura a seguir mostra um dispositivo chamado de prensa hidráulica ou elevador hidráulico, que
utiliza o princípio de Pascal para ampliar forças.

De acordo com o princípio de Pascal, temos:

'p 1 'p 2

F1 F2 A2
Ÿ F2 F1
A1 A2 A1
como A2 > A1, a força F2, no pistão 2, será maior do que a força F1, aplicada no pistão 1.
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Se o pistão menor (da esquerda) deslocar uma distância d1, o maior (da direita) se moverá para
cima uma distância d2. Como o volume de óleo deslocado no cilindro menor e maior tem que ser igual,
temos:

V = A1 d1 = A2 d2

A1
d2 d1
A2
como A2 > A1, o pistão maior desloca uma distância menor do que o outro pistão.

x Princípio de Arquimedes

Enunciado do princípio de Arquimedes:


"Um corpo total ou parcialmente mergulhado em um fluido recebe deste fluido uma força vertical, de
baixo para cima, cujo módulo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo". Esta força recebe o nome
de Empuxo.

Desta maneira, o empuxo E é dado por:

E = Peso do líquido deslocado pelo corpo

E = mLD g

E = UL . VLD . g

onde: UL = densidade do líquido.


VLD = volume de líquido deslocado pelo corpo.
g = aceleração da gravidade.

Se o corpo flutuar em um fluido, temos que:

E = Peso do corpo

UL . VLD . g = UC . VC . g

UL . VLD = UC . VC
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x Exemplos

1. Determine a pressão manométrica e a pressão total ou absoluta no fundo de uma piscina, contendo
água, com 5 m de profundidade.

2. Em um elevador hidráulico, o pistão maior possui um diâmetro de 300 mm e o menor, 17 mm. Se,
sobre o pistão maior, um carro de 1200 kg está sendo equilibrado, qual é a força aplicada no pistão
menor?

3. A figura mostra um tubo em U contendo mercúrio e um líquido desconhecido. Sabendo-se que a


densidade do mercúrio é 13,6 g/cm3, determine a densidade do líquido desconhecido.

4. Um bloco de material desconhecido pesa 5 N no ar e 4,55 N quando submerso em água. Determine


a densidade do material.
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Hidrodinâmica

Os fluidos (líquidos ou gases) em movimento são muito mais complexos do que os fluidos em
repouso. A descrição de um fluido em movimento envolve o conhecimento da velocidade vetorial do
fluido, da pressão e da densidade, em todos os pontos. Um escoamento é chamado de estacionário
quando a pressão, a densidade e a velocidade vetorial do fluido não variam com o tempo em um
determinado ponto, embora possam variar com a posição no fluido. Quando alguma dessas grandezas
variarem com o tempo, o escoamento é chamado de turbulento. Como a análise de um escoamento
turbulento é muito complexa, nosso estudo se restringirá ao fluxo não-turbulento (laminar) e a condições
estacionárias.
x Escoamento laminar: escoamento no qual as camadas adjacentes do fluido "deslizam" suavemente
uma sobre as outras.
x Escoamento turbulento: escoamento com velocidades suficientemente elevadas ou com mudanças
bruscas na velocidade, onde o módulo e direção dessa velocidade, em um determinado ponto, varia
com o tempo. Isto significa que o fluxo é irregular e não há a configuração estacionária.
x Linha de fluxo (ou linha de corrente): é uma linha que mostra como as partículas do fluido se
movem. Ela é traçada de modo que a tangente em cada ponto esteja na direção do vetor velocidade
do fluido (figura a seguir).

Figura - Uma linha de fluxo em um fluido escoando. Em cada ponto a linha de fluxo
aponta na direção do vetor velocidade do fluido.

x Tubo de fluxo (ou tubo de corrente): conjunto de linhas de fluxo que passam tangenciando um
elemento de área A (figura a seguir).

Figura - Tubo de fluxo contornado por linhas de fluxo.

Um fluido que não sofre variação na densidade, é chamado de fluido incompressível. Se variar, é
chamado de fluido compressível. Neste estudo, abordaremos problemas com fluidos
incompressíveis.
Na figura a seguir são apresentados alguns exemplos de escoamento laminar, onde podem ser
visualizadas as linhas de fluxo.

Figura - (a), (b), (c) Escoamento laminar em torno de obstáculos com formas diversas;
(d) Escoamento laminar através de um canal com seção transversal variável.
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x Equação de Continuidade (Conservação da Massa)

Na figura a seguir temos um trecho de tubo de fluxo.

Figura - Entrada e saída do fluido num trecho de um tubo de fluxo.

Na figura anterior, v é a velocidade da partícula de fluido, V é o volume contido no elemento de


fluido, A é a área do elemento de fluido, x é o deslocamento do elemento de fluido. Equacionando no
tubo de fluxo, temos:

x v 't Ÿ x1 v 1 't
x 2 v 2 't

V1 A 1 x1 Ÿ V1 A 1 v 1 't

V2 A2 x2 Ÿ V2 A 2 v 2 't

Para fluido incompressível, o volume (ou massa) que entra no tubo de fluxo é o mesmo que sai
(conservação da massa), portanto:

V1 V2

A 1 v 1 't A 2 v 2 't

A1 v1 A2 v2

O produto Av é a vazão (Q) do escoamento e é constante ao longo do tubo de fluxo:

Q A1 v1 A2 v2

No escoamento de água, no fluxo de ar ao redor de asas ou em dutos de aquecimento e


resfriamento, onde as variações de pressão são pequenas, a hipótese de fluido incompressível pode ser
aplicada.

x Equação de Bernoulli (Conservação da Energia)

No tubo de fluxo (figura a seguir), aplicaremos a conservação da energia, ou seja, nenhum


trabalho é realizado por forças não-conservativas.
22

Figura - Pressão na entrada e saída do fluido, num trecho de um tubo de fluxo.

Em um intervalo de tempo 't, um volume 'V flui através do tubo de fluxo. O trabalho (W)
realizado sobre este elemento de volume 'V durante o deslocamento é:

W F1 'x 1  F2 'x 2

W p1 A 1 'x 1  p 2 A 2 'x 2 p1 'V  p 2 'V

W (p1  p 2 ) 'V (1)

O trabalho W também é igual à soma das variações das energias cinética e potencial do
elemento de volume:
W 'E C  'E P (2)

1 1
'E C EC  EC 'm v 22  'm v 12
2 1
2 2

1
'E C 'm ( v 22  v 12 )
2

1
'E C U 'V ( v 22  v 12 ) (3)
2

'E P EP  EP
2 1
'm g y 2  'm g y 1

'E P 'm g ( y 2  y 1 )

'E P U 'V g ( y 2  y 1 ) (4)

Substituindo as equações (1), (3) e (4) na equação (2), temos:

1
(p1  p 2 ) 'V U 'V ( v 22  v 12 )  U 'V g ( y 2  y 1 )
2

1
(p1  p 2 ) U ( v 22  v 12 )  U g ( y 2  y 1 )
2
ou
1 1
p1  U v 12  U g y 1 p2  U v 22  U g y 2
2 2
23
x Aplicações da Equação de Bernoulli

a) As equações da Hidrostática são casos especiais da Equação de Bernoulli, para velocidade nula em
todos os pontos. Se v1 e v2 são nulos, temos:

1 1
p1  U v 12  U g y 1 p 2  U v 22  U g y 2
2 2
1
p1  p 2 U ( v 22  v 12 )  U g ( y 2  y 1 )
2
p1  p2 U g (y2  y1 )
p1 p2  U g h

b) Velocidade de descarga (Teorema de Torricelli).


Na figura a seguir temos um reservatório aberto para a atmosfera, com um orifício a uma altura h
abaixo do nível do líquido.

A pressão no topo do tanque (ponto 1) e na saída do orifício (ponto 2) é a pressão atmosférica.


Aplicando a equação de Bernoulli nos pontos 1 e 2, temos:
1 1
p1  U v 12  U g y 1 p2  U v 22  U g y 2
2 2
1 1
p 0  U v 12  U g h p 0  U v 22
2 2
Como a velocidade v1, com que o nível diminui, pode ser considerado desprezível em relação a
v2, temos:
1
Ugh U v 22
2
v2 2gh

Se o reservatório for fechado, como na figura a seguir, temos:

1 1
p1  U v 12  U g y 1 p2  U v 22  U g y 2
2 2
24
1 1
p  U v 12  U g h p atm  U v 22
2 2
Fazendo a mesma consideração de que a velocidade v1, com que o nível diminui, pode ser
desprezada e que a pressão p, no ponto 1, seja muito maior do que a pressão exercida pela coluna de
líquido (Ugh), temos:
1
p p atm  U v 22
2
2 (p  p atm )
v2
U

c) O medidor Venturi (ou Tubo de Venturi). É um dispositivo usado para medir a velocidade de
escoamento de um fluido dentro de um tubo (figura a seguir).

No estrangulamento, a área é reduzida de A1 para A2 e a velocidade cresce de v1 para v2. Note


que, no estrangulamento, onde a velocidade é máxima, a pressão deve ser mínima. Como previsto pela
equação de Bernoulli. Isto é razoável, uma vez que a diferença de pressão está no sentido correto para
acelerar o fluido, ou seja, uma partícula de fluido que penetra, pela esquerda, na região do
estrangulamento, será acelerada para a direita pela diferença de pressão entre o tubo e o
estrangulamento.
Considerando o tubo na horizontal, ou seja, y1 = y2, e utilizando a equação de Bernoulli, temos:
1 1
p1  U v 12 p2  U v 22
2 2
Pela equação da continuidade, temos:

A1 v1 A2 v2
A1
v2 v1
A2
Assim,
2
1 1 §A ·
p1  U v 12 p 2  U ¨¨ 1 v 1 ¸¸
2 2 © A2 ¹
2
1 §A · 1
p1  p 2 U v 12 ¨¨ 1 ¸¸  U v 12
2 © A2 ¹ 2

1 ª
2 § A1 ·
2
º
p1  p 2 U v 1 «¨¨ ¸¸  1»
2 «¬© A 2 ¹ »¼
2 (p 1  p 2 )
v1
ª§ A · 2 º
U «¨¨ 1 ¸¸  1»
«¬© A 2 ¹ »¼
25
onde U é a densidade do fluido escoando. A diferença de pressão (p1 - p2) pode ser calculada
utilizando a altura h da coluna do liquido manométrico de densidade U'. Ou seja,
p1 - p2 = U'g h

d) Tubo de Pitot (ou tubo de Prandtl). É um dispositivo utilizado para medir a velocidade de escoamento
de um gás.

Consideremos o gás - ar, por exemplo - que escoa através das aberturas existentes em a. Essas
aberturas são paralelas à direção de escoamento e suficientemente afastadas na parte posterior para
que a velocidade e a pressão fora delas não sejam perturbadas pelo tubo. A pressão no ramo esquerdo
do manômetro, que está ligado a essas aberturas é, por isso, a pressão estática da corrente de gás, pa.
A abertura do ramo direito do manômetro é perpendicular à corrente. A velocidade reduz-se a zero em b
e o gás aí fica estagnado (em repouso); portanto, nessa região a pressão é a pressão total, pb.
Aplicando a equação de Bernoulli aos pontos a e b, obtemos:
1
pa  U v2 pb
2
em que pb, como mostra a figura, é maior do que pa.
Sendo h a diferença entre as alturas do líquido nos ramos do manômetro e U' a densidade do
líquido manométrico, temos:
p a  U' g h pb
Igualando as duas equações, obtemos:
1
pa  U v2 p a  U' g h
2
1
U v2 U' g h
2
2 g h U'
v
U

x Exemplos.

1. Calcule o fluxo, em litros/s, de um líquido não viscoso através de uma abertura de 0,5 cm2 de área,
2,5 m abaixo do nível do líquido, em um tanque aberto.

2. A seção do tubo tem área transversal de 40 cm2 na parte mais larga e 10 cm2 na garganta. No tubo
escoam 30 litros de água em 5 segundos. Determinar:
a) As velocidades nas seções largas e estreitas.
b) A diferença de pressão entre as duas seções.
c) A diferença de altura h no líquido manométrico (mercúrio)
(UHg = 13,6.103 kg/m3; Uágua = 1.103 kg/m3)
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x Viscosidade

Em geral, as forças não-conservativas em um fluido não podem ser desprezadas, como foi
considerado na equação de Bernoulli. Tais forças dissipam a energia mecânica do fluido em energia
interna do mesmo. Um fluido com tais forças dissipativas é chamado de viscoso. Se a viscosidade de
um fluido não é desprezível, então, a energia mecânica não é conservada, e a equação de Bernoulli não
é mais válida. A viscosidade pode descrita como o atrito interno em um fluido. Todos os fluidos reais
são viscosos e esta característica tem uma influência muito grande em seu movimento, por exemplo,
quando um fluido viscoso escoa em um tubo horizontal uniforme, a pressão decresce à medida que se
avança no sentido do escoamento, conforme mostra a figura a seguir.

Observando o efeito de outra forma, é preciso que haja uma diferença de pressão para empurrar
um fluido através de um tubo horizontal. Esta diferença de pressão é indispensável em virtude da perda
de energia, devido à força de arraste que cada camada de fluido exerce sobre a camada adjacente, que
tem velocidade diferente da sua. Estas forças de arraste são denominadas forças viscosas. Em virtude
destas forças viscosas, a velocidade do fluido não é constante sobre o diâmetro do tubo. Ao contrário, é
maior no eixo central do tubo e vai diminuindo no sentido da parede do tubo, onde zera. Na figura a
seguir tem-se o perfil de velocidade de um fluido viscoso escoando em um tubo.

Figura - Perfil de velocidades de um fluido viscoso, em escoamento laminar, dentro de um tubo.


O comprimento das setas é proporcional às velocidades, sendo maior no centro e
diminuindo no sentido da parede do tubo.

Podemos utilizar o arranjo da figura a seguir para estudar a viscosidade de fluidos. A placa
superior é deslocada a uma velocidade baixa, constante, através do topo do fluido. Experimentos
mostram que, para a maioria dos fluidos, a velocidade do fluido em pontos entre as duas placas da
figura varia linearmente com a distância em relação à placa móvel. Fluidos para os quais a componente
horizontal da força necessária para mover a placa é proporcional à velocidade da placa chamam-se
fluidos newtonianos. Água e ar são exemplos de fluidos quase newtonianos. Certos plásticos e
suspensões, tais como sangue e mistura de água e argila, são exemplos de fluidos não-newtonianos,
nos quais o módulo da força necessária para mover a placa poderia ser proporcional ao quadrado da
velocidade. Para altas velocidades, o fluxo torna-se turbulento e muito complexo em todos os fluidos.
Figura - Quando a placa superior é puxada lentamente, o fluido viscoso entre as placas flui em

"lâminas", cuja velocidade é proporcional à sua distância até a placa parada na base,
conforme indicado pelo comprimento das setas na figura.

A porção de fluido representada na figura anterior possui uma forma que vai se tornando cada
vez mais distorcida devido ao movimento da placa superior. Ou seja, o fluido sofre uma contínua
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deformação de cisalhamento. A razão F/A é a tensão de cisalhamento exercida sobre o fluido. A
tensão de cisalhamento depende da taxa de deformação que é dada pela razão v/z.
A viscosidade do fluido (K) é definida como a razão entre a tensão de cisalhamento e taxa de
deformação:
Tensão de cisalhamen to F/ A
K
Taxa de deformação v/z

Reagrupando a equação anterior, vemos que a força necessária para o movimento indicado na
figura anterior é diretamente proporcional à velocidade:

v
F KA
z

A unidade de viscosidade, no SI, é:

N.s/m2 = Pa.s

No sistema CGS, a viscosidade é dada em:

din.s/cm2 = poise

O fator de conversão entre as unidades SI e CGS é:

1 Pa.s = 10 poise

Os fluidos que escoam facilmente, como a água e a gasolina, possuem viscosidades menores
do que fluidos como mel e o óleo de motor. As viscosidades dos fluidos são fortemente dependentes da
temperatura, aumentando para os gases e diminuindo para os líquidos, à medida que a temperatura
aumenta.

x Lei de Poiseuille

Pela natureza geral dos efeitos viscosos, a velocidade de um fluido viscoso que escoa através
de um tubo não será constante em todos os pontos de uma seção transversal do tubo. A camada mais
externa do fluido adere às paredes e sua velocidade é nula. As paredes exercem, sobre ela, uma força
para trás e esta, por sua vez, exerce uma força na camada seguinte na mesma direção e assim por
diante. Se a velocidade não for muito grande, o escoamento será laminar, a velocidade atingirá um
máximo no centro do tubo, decrescendo para zero nas paredes.
Na figura a seguir, a força propulsora (FP) do fluido é produzida pela diferença de pressão. Assim
temos:

Figura - Forças sobre um tubo de fluxo de um fluido viscoso.

FP p1 S r 2  p 2 S r 2

FP ( p1  p 2 ) S r 2
A força viscosa (retardadora) na parede é dada por:
28
dv dv
FV KA K2 SrL
dr dr
Igualando as duas forças, pois temos um escoamento estacionário, temos:

dv
( p1  p 2 ) S r 2 K2 SrL
dr

dv (p 1  p 2 )
r
dr 2 KL

(p 1  p 2 )
dv r dr
2 KL

O sinal negativo deve ser introduzido, porque a velocidade v diminui quando r aumenta.
Integrando, temos:
0 (p 1  p 2 ) R
³v dv ³r r dr
2 KL

cujo resultado é:

(p 1  p 2 ) 2
v (R  r 2 )
4KL

onde v é a velocidade do fluido na posição de raio r.


A equação anterior pode ser usada na determinação do fluxo no tubo. A velocidade, em cada
ponto, é proporcional ao gradiente de pressão (p1 - p2)/L, de modo que a razão do fluxo total também
deve ser proporcional a essa quantidade. O volume de fluido dV que atravessa os extremos do tubo de
fluxo no tempo dt, é (v dA dt), onde v é a velocidade na seção de raio r e dA, a área (2 S r dr)

(p 1  p 2 ) 2
v dA dt (R  r 2 ) dA dt
4KL

(p1  p 2 )
dV (R 2  r 2 ) 2 S r dr dt
4KL

O volume que escoa através de toda a seção transversal do tubo é obtido pela integração de
todos os elementos entre r = 0 e r = R:

S (p 1  p 2 ) R 2
³0 (R  r ) r dr dt
2
dV
2 KL

S R 4 (p 1  p 2 )
dV dt
8 KL

O fluxo (vazão Q) é dado por:

dV S R 4 (p 1  p 2 )
Q
dt 8 KL
29
x Lei de Stokes

A força viscosa (força de arraste) sobre uma esfera de raio r, se movendo com velocidade v, em
um fluido, é dada por:

F 6 SK r v
Uma esfera movendo-se na vertical em um fluido viscoso atinge uma velocidade terminal vT,
onde a força viscosa retardadora, somada ao empuxo, se igualam ao peso da esfera:

F E P

onde: F 6 SK r vT

4
E U' Vesf g U' S r3 g
3

4
P mg U Vesf g U S r3 g
3

Substituindo, temos:

4 4
6 S K r vT  U' S r3 g U S r3 g
3 3

2 r 2 g (U  U' )
vT
9 K

onde: vT = velocidade terminal da esfera.


K = viscosidade do fluido.
U = densidade da esfera.
U' = densidade do fluido.

x Número de Reynolds

Quando a velocidade de um fluido que escoa em um tubo excede um certo valor crítico (que
depende das propriedades do fluido e do diâmetro do tubo) a natureza do escoamento torna-se
extremamente complicada. Dentro de uma camada extremamente fina, adjacente às paredes,
denominada camada limite, o escoamento ainda é laminar. A velocidade de escoamento na camada
limite é nula nas paredes do tubo, crescendo uniformemente através dela. As propriedades desta
camada são da maior importância para se determinar a resistência ao escoamento e a transferência de
calor para o fluido em movimento ou proveniente dele.
Fora desta camada limite, o movimento é altamente irregular. Desenvolvem-se no fluido, ao
acaso, correntes circulares locais, chamadas vórtices, com um grande aumento na resistência ao
escoamento. Este tipo de escoamento é chamado turbulento.
A experiência indica que uma combinação de quatro fatores determina se o escoamento de um
fluido em um tubo é laminar ou turbulento. Esta combinação é conhecida como Número de Reynolds
(NR), definido como a razão entre as forças de inércia e viscosa:

Força de Inércia
NR
Força Vis cos a
Uv D
NR
K
30
onde: U = densidade do fluido.
v = velocidade média do fluido (a velocidade média é definida como a velocidade uniforme em
toda a seção transversal do tubo que produziria a mesma vazão volumétrica).
K = viscosidade absoluta, ou dinâmica, do fluido.
D = diâmetro do tubo.
K
Q = viscosidade cinemática do fluido. No SI, é dada em m2/s; no CGS, em cm2/s (stoke =
U
st).

O número de Reynolds é adimensional e, portanto, seu valor independe do sistema de unidade


utilizado.
Um escoamento pode ser classificado, de acordo com o número de Reynolds, em:

a) Escoamento laminar: NR d 2000

b) Transição (escoamento instável): 2000  NR d 3000

c) Escoamento turbulento: NR ! 3000

O número de Reynolds constitui a base do estudo do comportamento de sistemas reais, pelo


uso de modelos reduzidos. Dois sistemas são dinamicamente semelhantes se o número de Reynolds
for o mesmo. O termo D na equação refere-se, em geral, a qualquer dimensão característica do
sistema, por exemplo, o comprimento da asa de um avião. Se a dimensão característica D for reduzida,
aumenta-se a velocidade média do escoamento no modelo reduzido, para que tenha o mesmo número
de Reynolds que o sistema real. Assim, por exemplo, o escoamento de um fluido em um modelo
reduzido na escala 1/2, é dinamicamente semelhante ao sistema real, se a velocidade for duas vezes
maior.

x Exemplos

1. Água a 20oC escoa por um tubo de 1 cm de raio. Se a velocidade do escoamento no centro do tubo
for de 10 cm/s, determinar a queda de pressão, devido à viscosidade, ao longo de um trecho de 2 m.
(K da água a 20oC = 1,005 centipoise)

2. Em um tubo, com raio de 2 cm, escoa água à 20oC. Se a vazão é de 125 ml/s, determine se o
escoamento é laminar ou turbulento. (K da água a 20oC = 1,005.10-3 Pa.s)

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