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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO


FACULDADE DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS

RESUMO ESQUEMÁTICO

SOCIOLINGUÍSTICA - UMA INTRODUÇÃO CRÍTICA - Louis-Jean Calvet

Capítulo I: A luta por uma Concepção social da língua

Saussure / Meillet: a origem do conflito

- Meillet defende o caráter social da língua, definindo-a, preferentemente, como um fato social.

- Saussure defende o discurso de caráter estrutural, focaliza a forma da língua.

- Meillet critica Saussure dizendo que ao separar a variação linguística das condições externas de que
ela depende, ele a priva de realidade, reduzindo-a a uma abstração que é necessariamente
inexplicável.

Bernstein e as deficiências linguísticas

- Basil Bernstein, especialista inglês em sociologia da educação, foi o primeiro a levar em


consideração as

produções linguísticas reais e a situação sociológica dos falantes.

- A tese principal de Bernstein é que o aprendizado e a socialização são marcados pela família em
que as crianças são criadas.

- Ele baseia-se na produção linguística das crianças para propor dois códigos: código restrito e
código elaborado.

- a estrutura social determina, entre outras coisas, os comportamentos linguísticos.

- Sua tese não fez eco entre a comunidade dos linguistas.

William Bright: uma tentativa de síntese

- William Bright estabelece fatores que condicionam a diversidade linguística:

• a identidade social do falante

• a identidade social do destinatário

• o contexto

- Esses fatores representam a ideia básica da teoria da comunicação (emissor, receptor e contexto).

- Essa abordagem permite à Bright a partir de quatro dimensões definir os fatores que condicionam a
diversidade linguística. As dimensões são:
- a oposição sincronia/diacronia;

- os usos linguísticos e as crenças a respeito dos usos;

- a extensão da diversidade, como uma tríplice classificação: diferença multidialetal, multilingual ou


multissocietal;

- as aplicações da sociolinguística, com mais uma classificação em três partes: a sociolinguística


como diagnóstico de estruturas sociais, como estudo do fator sócio-histórico e como auxílio ao
planejamento.

Labov: a sociolinguística é a linguística

Labov discorda de Sausurre e afirma que a língua é um fato social e que a linguística então, só pode
ser uma ciência social e assim define que a sociolinguística é a linguística.

Capítulo II: línguas em Contato

- O mundo é plurilíngue e as línguas estão constantemente em contato. O resultado disso é um dos


primeiros objetos de estudo da sociolinguística.

O autor argumenta que parece obvio a interferência de elementos estrangeiros em uma língua,
principalmente no sistema fonológico, morfológico e sintático.

Empréstimos e interferências

- A palavra interferência designa um rearranjo das estruturas da linguagem resultantes da introdução


de elementos estranhos a ela.

- Tipos de interferência: fônico, sintático e lexical.

- Sugestão de leitura: Languages in Contact de Uriel Weinrich.

As línguas aproximativas

Quando um orador está numa comunidade cuja língua ele não conhece, este multilinguismo assume
diferentes formas.

(1) A pessoa de passagem tentará recorrer a uma terceira língua conhecida por ele e pela comunidade
que o rodeia: linguagem veicular;
(2) A pessoa que pretende permanecer naquela comunidade e deve adquirir a linguagem da
comunidade receptora, situação na qual os trabalhadores migrantes estão localizados.

- Esta situação pode dizer respeito a um grupo, não a um indivíduo, confrontado com outro grupo
que não fala a sua língua e apenas fala o seu.

- Se não houver uma terceira língua disponível e se houver necessidade de se comunicar, os dois
grupos inventarão outra forma de linguagem aproximada.

- É um sistema extremamente restrito: algumas estruturas sintáticas e um vocabulário limitado a


necessidades específicas de comunicação.

- Quando essas formas abrangem situações de comunicação mais amplas e seu sistema sintático é
mais estimulado, falamos de pidgins.

- Estas formas não se destinam a desenvolver uma melhor prática da linguagem; eles são auxiliares e
são usados ??em uma situação de contato.

Misturas de línguas, alternâncias de código e estratégias linguísticas

- Ocorrem na declaração; isto é, produzem declarações "bilíngues".

- São colagens, passagens de uma língua para outra em um ponto do discurso.

- Misturas e alternâncias podem ter diferentes funções

- Em alguns casos, o contato linguístico produz situações em que a passagem de uma língua para
outra assume uma situação social.

- O bilinguismo social nem sempre é tão harmonioso, também pode ser conflitivo.

O laboratório crioulo

O contato entre as línguas gera um problema de comunicação social. Uma resposta para esse
problema são os idiomas aproximados que são caracterizados por não serem a primeira língua de
ninguém. Mas certas situações sociais e históricas fazem com que as primeiras línguas percam sua
eficácia comunicacional quando as populações se misturam a tal ponto que ninguém fala a língua do
outro.

Exemplo: nos deslocamentos de escravos da África para as ilhas, onde os negros, de diferentes
origens, misturados nas plantações, não podiam mais se comunicar em seus primeiros idiomas e
tinham que criar uma linguagem aproximada, um pidgin.
Para alguns, uma língua crioula é um pidgin que se tornou vernacular (ou seja, a primeira língua de
uma comunidade e que possui um léxico ampliado, uma sintaxe elaborada e domínios variados de
uso). Ela seria caracterizada por um vocabulário emprestado da língua dominante, a dos proprietários
de plantações e uma sintaxe baseada nas línguas africanas.

As línguas veiculares

No surgimento das línguas crioulas, há duas coisas envolvidas: um grupo dominante e minoritário (e
a linguagem desse grupo); a maioria dos escravos dominados que não têm uma língua comum. Mas
existem outras situações plurilingues que geram dificuldades de comunicação; neste caso, entre
grupos homogêneos que possuem suas próprias línguas.

- Exemplo de Dakar (Senegal), com sete línguas principais, todas as primeiras línguas maternas.

Definição de linguagem veicular: uma linguagem usada para comunicação entre grupos que não
possuem a mesma primeira língua.

- Outros exemplos: Suaíli, da África Oriental, Quéchua na Cordilheira dos Andes (?), Etc.

Em todos esses casos, o surgimento de uma linguagem veicular é a resposta que a prática social e
comunicativa dos locutores dá ao problema colocado pelo plurilinguismo da comunidade. Essa
resposta pode ser especificada de duas maneiras: (1) a linguagem veicular pode ser a de um dos
grupos em situação (o wolof no Senegal); (2) a linguagem veicular pode ser uma linguagem "criada",
composta de empréstimos dos diferentes códigos em situação (a munukutuba no Congo).

É interessante estudar as ligações entre forma e função que o fenômeno veicular revela. Foi
observado que as línguas são "simplificadas" quando cumprem a função das línguas veiculares. A
noção de simplificação, leia bem, não é muito científica; nós o usamos aqui para designar o fato de
que o sistema gramatical da linguagem veicular é reduzido, regularizado. Assim, uma linguagem
pode ter um sistema mais complexo no ambiente, onde é a primeira língua do que no ambiente
plurilíngue, onde funciona como um veículo de comunicação. O fato de que a função de uma
linguagem pode influenciar sua forma é uma das descobertas fundamentais da sociolinguística.

A diglossia e os conflitos linguísticos

- Conceito introduzido por Ferguson em um artigo em 1959. Coexistência na mesma comunidade de


duas formas lingüísticas ele chama de "baixa" e "alta". Ilustra isso com quatro exemplos: de língua
árabe (dialeto / árabe clássico), Grécia (demotikí / katharevoussa), Haiti (Crioulo / francês), e a parte
de língua alemã da Suíça (alemão suíço / Hochdeutch).

Ferguson caracteriza situações de diglossia pelas seguintes características:

(1) distribuição funcional de usos: a variedade alta é usada na igreja, nas letras, nos discursos
(públicos), na universidade; enquanto a variedade baixa é usada em conversas familiares, literatura
popular, etc.
(2) a variedade alta goza de um prestígio social que a da variedade baixa não goza .

(3) a variedade baixa é adquirida "naturalmente" (é a primeira); a alta, na escola.

(4) a variedade alta é fortemente padronizada (gramáticas, dicionários).

(5) A situação da diglossia é estável, pode durar séculos.

(6) Essas duas variedades da mesma língua, ligadas por uma relação genética, têm uma gramática,
um léxico e uma fonologia relativamente divergentes.

- Anos mais tarde, J. Fishman (1967) retoma o problema de expandir a noção de diglossia.

Primeiro, distinguir entre bilinguismo, fenômeno individual e diglossia, fenômeno social. Segundo,
pode haver diglossia entre mais de dois códigos, e estes não necessariamente têm que ter uma origem
comum, uma relação genética. Ou seja, qualquer situação colonial que, por exemplo, ponha em
contato uma língua européia e uma africana, produz diglossia. Então, Fishman distingue algumas
situações típicas:

1. Bilinguismo com diglossia: todos os membros da comunidade conhecem a forma alta e a forma
baixa (espanhol e guarani no Paraguai).

2. bilinguismo sem diglossia: existem muitos indivíduos bilíngues em uma comunidade, mas há
código alternativo em usos específicos.

3. diglossia sem bilinguismo: há uma distribuição funcional dos usos entre duas línguas, mas um
grupo só fala a forma elevada, e o outro só fala a forma baixa (o caso da Rússia czarista: a nobreza
fala francês, o povo, Russo).

4. nem diglossia nem bilinguismo: existe apenas uma linguagem; Esta situação é apenas imaginável
em uma comunidade muito pequena.

Críticas logo surgiram, pois tanto Ferguson quanto Fishman tendiam a subestimar os conflitos que
ocorriam em situações de diglossia; ambos sugeriram que essas situações eram harmoniosas e
duradouras. Mas a diglossia está em constante evolução.

- O caso da Grécia, por exemplo: 30 anos depois de Ferguson, o demotikí, baixa variedade, já havia
se tornado uma língua oficial, e a variedade "alta" em breve será uma língua morta.

- Em geral, a história nos mostra que muitas vezes o futuro das variedades "baixas" é tornar-se uma
variedade "alta" (línguas românicas X latim).

Para entender o sucesso do conceito de diglossia na sociolinguística, é preciso levar em conta o


momento em que foi lançado.
Capítulo III: Comportamentos e Atitudes

Os preconceitos

Existem dois tipos de preconceitos linguísticos principais: o preconceito contra a língua e contra os
falantes.

A história está repleta de provérbios ou de fórmulas pré-fabricadas que expressam os preconceitos de


cada época contra as línguas.

- Exemplos históricos (provérbios e estereótipos

- O preconceito não é contra a língua, mas sim pela classe social a qual o falante pertence.

O que interessa à sociolinguística é o comportamento social que a norma espontânea pode acarretar.

2 tipos de influência sobre os comportamentos linguísticos;

- Maneira como os falantes consideram seu modo de falar (ou é valorizada ou, pelo contrário, a
pessoa tenta modificá-la para adaptar-se a um modelo de prestígio)

- Reações dos falantes à fala do outro. (as pessoas são julgadas pelo seu modo de falar

Segurança / insegurança

- Segurança linguística - quando, por várias razões sociais, os falantes não se sentem questionados
por sua maneira de falar.

- Insegurança linguística - quando os falantes consideram seu modo de falar não muito valioso e têm
em mente outro modelo, mais prestigioso, mas eles não praticam.

Atitudes positivas e negativas

As atitudes linguísticas repercutem no comportamento linguístico.

Partindo da pesquisa de Morales López realizada em Porto Rico, Calvet apresenta, de forma objetiva,
porém, muito esclarecedora, as atitudes positivas e negativas.

- Partem de um falante em direção e/ou em respeito a outro falar/falante, fundamentadas em critérios


linguísticos e sociais.

- Pesquisa de Morales López realizada em Porto Rico.

- Exemplos regionais
Hipercorreção

- Está diretamente ligada com insegurança linguística.

Acreditar que sua forma de falar de falar sua língua é menos prestigiosa, implica em buscar esse
prestígio para criar vínculos com o grupo mais prestigiado.

Essa tendência à norma pode produzir imitações exageradas.

Essa prática pode corresponder a diferentes estratégias: fazer as pessoas acreditarem que a linguagem
legítima é dominada ou esquecer sua própria origem social.

Hipercorreção e hipocorreção, são estratégias que deixam seus traços na fala, mas que têm outra
função, uma função social.

Esta ou aquela forma linguística, esta ou aquela pronúncia, são atitudes linguísticas apenas na
aparência.

Por trás desse domínio linguístico há um compromisso social, uma aposta nas vantagens que ele
pode oferecer.

Vemos, então, que é impossível distinguir, em nível teórico, o objetivo linguístico do objetivo social.

As atitudes e a variação linguística

Como as línguas variam? por que evoluem?

Atitudes Linguísticas – Comportamento Linguístico

A língua é um produto social e toda mudança que ocorrer dentro de uma comunidade será refletida
através dela.
Capítulo IV: Variáveis linguísticas e Variáveis sociais

Um exemplo de variáveis linguísticas: as variáveis fonéticas

O “vernáculo negro-americano”

Variáveis linguísticas e variáveis sociais

Os mercados linguísticos

Variações diastráticas, diatópicas e diacrônicas: o exemplo da gíria

Comunidade linguística ou comunidade social?

Capítulo V: sociolinguística ou sociologia da linguagem?

A abordagem micro

A abordagem macro

As redes sociais e as línguas

Sociolinguística e sociologia da linguagem

Do analógico ao digital

Capítulo VI: As políticas linguísticas

Duas gestões do plurilinguismo: o in vivo e o in vitro

A ação sobre a língua

A ação sobre as línguas

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