Você está na página 1de 2

Curso: Zélia Nascimento

A QUESTÃO DA RESPONSABILIDADE

I – RESPONSABILIDADE
Que vida tenho vivido? Se não a minha vida de quem, então? Somos o único personagem
presente em cada cena, de nossa vida. Então precisamos nos manter responsáveis. A
recuperação da própria vida se torna um imperativo, e começa com assumir a
responsabilidade. Se você não gosta de sua vida, mude-a. Mas pare de culpar os outros,
porque mesmo se eles o feriram você é quem faz suas escolhas. Mesmo que tenha escolhido
a partir de mágoas, você é, apesar disso, o responsável por essas escolhas. Você é o
responsável por viver sua vida, e não a de outra pessoa qualquer. Para fazer seu caminho, você
terá de se tornar mais responsável do que qualquer um de nós deseja realmente ser. Somos
obrigados a reconhecer que a única pessoa consistentemente presente em cena do nosso
drama, que chamamos vida, somos nós. Temos alguma responsabilidade sobre a maneira
como essa peça, ou novela, está se desenvolvendo. Somos claramente protagonistas do nosso
drama, mas é possível também que sejamos seus autores – e se não nós, então quem? Ou o
que? Essa é a nossa vida, não a de outra pessoa. Somos responsáveis por quaisquer aspectos
de nossa personalidade. Eu criei a minha vida. Eu fiz essas escolhas, e de maneira assombrosa,
essa inundação de consequências não imaginadas, são fruto das nossas decisões. E o que
demoramos a enfrentar, cedo ou tarde, nos morderá o traseiro. “Ao que resistimos,
persistirá”.
Depois da meia idade, 35 anos, somente nós somos responsáveis por nossa vida. Estamos,
verdadeiramente por conta própria. Somos responsáveis pela condução de nossa jornada, não
somente do ponto de vista econômico e social – essa parte é fácil, mas também do ponto de
vista espiritual, moral e psicológico. E não somente o mundo exterior, mas nossa própria
psique nos manterá responsáveis. Crescer significa assumir responsabilidade por nós mesmos.
Ninguém mais pode definir nossos valores, tonar-se nossa responsabilidade, ou proteger-nos
das escolhas necessárias. Até que aceitemos essa responsabilidade, estaremos pedindo aos
outros para servir de abrigo a nossa alma desabrigada. Crescer e sair de casa requer duas
coisas:
1º - Precisamos assumir responsabilidade sobre nós mesmos e parar de culpar os outros.
2º - Temos de olhar para dentro, para ver as idéias centrais repetitivas, os complexos e as
influências históricas onde jaz o verdadeiro inimigo. Se assumo a responsabilidade por minha
vida, tiro a carga dos outros mas passo a ter uma tonelada de coisas para carregar eu mesma.
E me encontrarei muito mais sozinho quando tiver de tomar as decisões criativas da vida.
Se olho para dentro, tenho de parar de culpar os outros e reconhecer que sou parte
responsável pelos resultados e sintomas que surgem para perturbar e inquietar a consciência.
Mas fugimos de crescer e ser completamente responsáveis por nossa experiência de vida. O
triste legado de ter sido pequeno e temeroso continua a me desautorizar e a me infantilizar.
Até quando? Amar pedirá que poupemos ao outro a tarefa de tomar conta de nós. Somente
quando ganhamos a capacidade de tomar conta de nós, podemos começar a reclamar nossas
vidas de nossa história. Lembre-se de que a principal característica da era moderna é que a
responsabilidade de escolher valores mudou da tribo e da instituição, para o indivíduo. Tal
privilégio também é uma responsabilidade. Todo crescimento requer enfrentar o que
tememos e os padrões que nos “protegem” (aprisionam) contra o mundo. Aonde que eu vá aí
estará você.
Se não pudermos dizer a verdade, a nossa verdade, a nós mesmos, seremos incapazes de dizê-
la ao mundo. Negar a verdade complexa que personificamos é mais que um trauma pessoal;
é um trauma para o mundo, por nossa recusa em participar nele. Uma relutância em adicionar
nosso aspecto único ao mundo.
Aqueles mais preocupados com aparências, são tipicamente os mais resistentes à tarefa da
autoridade interior, porque continuam a buscar validade do mundo externo. De fato, uma
pessoa que busca, vorazmente, validação externa, através da posição social, dos clichês de
sucesso social, é a pessoa mais provável de ter grandes questões inacabadas dentro. O que
não sabemos sobre nós, quase sempre, prova ser uma terrível carga sobre os outros.
A compreensão inicial da culpa é como uma companhia necessária a uma vida de valor. Uma
vida na qual a responsabilidade é assumida, na qual a visão moral importa. Quando levamos
prejuízo a nós ou aos outros, é medida de maturidade assumir a responsabilidade por isso:
reconhecendo erros que cometemos, repará-los se possível, ou pelo menos fazer uma
tentativa simbólica de compensação e restauração. Se esta tarefa restauradora não é
empreendida, a culpa perniciosa cai no inconsciente e produz ainda mais, comportamentos
auto destrutivos e áreas de dor, que intensificam o ciclo vicioso. A capacidade de aceitar a
responsabilidade por este dano, pelas escolhas feitas e não feitas, marcará o nível de
maturidade do ego e acrescenta profundidade e gravidade a alma. Nenhum de nós tem mãos
limpas neste mundo. Só os inconscientes pensam assim, e esses são mais culpados de projetar
suas sombras sobre os outros. O campo do relacionamento externo é sempre conturbado,
quando somos interiormente problemáticos.
“Um rei enviou você a um país para realizar uma tarefa especial, específica. Você vai ao país e
executa uma centena de outras tarefas, mas se não executou aquela para a qual foi enviado,
é como se não tivesse executado nada afinal. Então o homem veio ao mundo para uma tarefa
particular e esse é seu propósito. Se ele não à executa, não terá feito nada”.
Maulana Rumi

Encontrando Significado na Segunda Metade da Vida –


James Hollis / Edit. Novo Século

Você também pode gostar