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International Conference of Critical Geography- Ramallah, Palestine, 25-30 July 2015. Título
original: The review process of the DSM-5: Is gender a cultural or diagnostic category?
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Desde que o DSM começou a ser publicado, em 1952, foram reali-
zadas cinco revisões. Ao longo desses anos, observou-se um aumento
considerável de doenças diagnosticadas como “transtorno mental”. Há
uma literatura robusta que discute as motivações ditas e não ditas des-
sa inflação de transtornos psiquiátricos, incluindo a crescente influên-
cia da indústria farmacêutica nas decisões dos membros dos Grupos
de Trabalho (GT) que compõem a Força Tarefa (FT) responsável para a
revisão. (KIRK; KUTCHINS, 1998; JANE, 2004, 2006)
A pesquisa que realizei durante 2014 teve um corte preciso: mapear
os critérios de diagnóstico de disforia de gênero (que, no DSM-IV, era
nomeado “transtorno de identidade de gênero”). As perguntas guia-
ram-me: como é possível transformar uma categoria cultural (gênero)
em uma categoria diagnóstica? Para responder a essa pergunta, outras
foram feitas: quem eram os membros do Grupo de Trabalho respon-
sável pela revisão do capítulo “Transtorno de identidade de gênero”?
Quais são as ligações institucionais desses membros? Qual literatura
foi citada e consultada pelos membros do GT? Nesta comunicação, vou
apresentar uma pequena parte dessa pesquisa.
Comunicações ○ 41
E é aqui que um “nó político” interessante é estabelecido. Se no
contexto norte-americano a psiquiatrização está mais próxima de um
jogo de cena, um faz de conta em que é assumida como necessária, e
se na realidade brasileira não seria necessário reproduzir esse mesmo
teatro, eu me pergunto: qual o sentido de utilizarmos a categoria disfo-
ria de gênero entre nós?
O DSM é um texto que universaliza contextos locais, portanto, seu
modus operandi é colonizador. Mas o pensamento colonizador só faz
sentido se puder ser internalizado como verdade. A aceitação e repro-
dução das verdades do DSM é um efeito do pensamento colonizado.
O DSM é um texto que fala de um contexto econômico, social, político
e específico.
AS QUESTÕES CULTURAIS
Comunicações ○ 43
tidas seriam válidas apenas para o contexto norte-americano. Nesse
momento, outra certeza pode-se afirmar: não, ele é válido para além
das fronteiras nacionais, porque é passível de verificação.
Em última análise, é uma visão única, psiquiatrizante e patologi-
zante que continuou hegemonizando o Manual. Deduzo que o capí-
tulo referente à cultura é o desejo de ser “politicamente correto”, um
exercício de retórica que visa produzir miragens sobre o caráter de con-
trole dos corpos e desejos em contexto norte-americano e colonizar a
outras culturas.
Referências