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A CRÔNICA DE CINEMA
LUCIANA ARAÚJO
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AGRADECIMENTOS
Agradeço
aos amigos Maria Bacellar, Arthur Autran, Fernando Trevas Falcone e Kátia Halbe -
pelas conversas, correções e total apoio
aos jornalistas Alexandrino Rocha, Celso Marconi, Jomard Muniz de Britto, José de
Sousa Alencar e Luís Maranhão Filho; ao médico Rildo Saraiva; e ao cineasta Romain
Lesage (em memória) - pelos depoimentos
às instituições
CAPES e FAPESP que viabilizaram este trabalho através de bolsas de estudos;
Arquivo Público Estadual de Pernambuco; Fundação Joaquim Nabuco; Fundação de
Cultura da Cidade do Recife; TV Universitária de Pernambuco; Cinemateca Brasileira
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APRESENTAÇÃO
Jean-Claude Bernardet
ORELHA
Celso Marconi
Embora que hoje seja, quase, uma atividade sem muito prestígio, pelo menos
quando feita com maior aprofundamento, o estudo de Luciana Araújo sobre a crônica
cinematográfica dos anos 50 do Recife, apresenta, sem dúvida, um especial interesse
àqueles que buscam conhecer a realidade cultural pernambucana.
Mesmo nos anos 50, a atividade de comentar cinema nos jornais teve uma
dubiedade entre o pensamento reflexivo e o simples noticiar fatos amenos, que se
interligavam no mundo mítico tanto do filme europeu quanto do hollywoodiano. E
Luciana passeia, com muita propriedade, na sua pesquisa, entre as figuras que
apresentavam suas crônicas buscando uma realidade ou outra.
O cinema traz nele mesmo uma dimensão que comporta praticamente todos os
níveis. Do onírico ao realismo. E nos anos 50 era um autêntico facho de luz atraindo
aqueles menos acadêmicos. E podemos sentir que todos os cronistas apresentados na
pesquisa possuíam (ou estavam possuídos de) dilemas ideológicos para decifrar. Até
uma Renata Cardoso, por dentro de suas brincadeiras, não ficava só no inconsciente. O
estudo de Luciana Araújo consegue, por isso mesmo, documentar um momento rico da
atividade cultural do Recife, numa área restrita e definida do jornalismo.
É expressivo que jovens como Luciana Araújo, Alexandre Figueirôa, Diana
Moura e outros, em seus estudos acadêmicos, se voltem para atividades pernambucanas
não acadêmicas. Principalmente em regiões como o Recife, pobres, mesmo hoje o
cinema continua a ser um objeto pouco definido para o contexto cultural/social. E
Luciana consegue marcar sua pesquisa por uma visão pessoal. Não assume um lado,
nunca. Todos os figurantes têm o seu espaço, mas ela, como espectadora privilegiada,
esboça a sua visão. E abre ao leitor a melhor compreensão do período. Do que foi o
Recife cultural nesses anos estudados.
Certamente que após a publicação dessa tese sobre a crônica cinematográfica
recifense dos anos 50 muitos passarão a compreender melhor porque o nosso Estado é
marcado, no panorama brasileiro, como de vocação para a produção do cinema. E como
está retomando esse caminho, com a realização de curtas e até de um longa. O estudo
de Luciana é a teoria que serve para dar embasamento à prática.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..............................................................................................07
Capítulo 1:
A CENA CINEMATOGRÁFICA DA “3ª URBE” ....................................16
Capítulo 2:
O CINEMA COMO DEVE SER ..................................................................50
Capítulo 3:
O CINEMA BRASILEIRO VISTO DA PROVÍNCIA ..............................67
Capítulo 4:
O CANTO DO MAR: ALBERTO CAVALCANTI NO RECIFE .............91
ANEXO
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................169
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INTRODUÇÃO
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Alguns jornalistas em textos dos anos 50 chegam a apontar o ano de 1949 como
o marco do “reaparecimento” da crônica cinematográfica no Recife. Jovens
colaboradores e veteranos que voltam à ativa restabelecem o vigor da crônica -
praticamente estagnada desde meados dos anos 40 -, estimulados pelo neo-realismo
italiano, pelas produções hollywoodianas do pós-guerra, pelas experiências de cinema
industrial no Brasil, Vera Cruz à frente.
Tal retomada acontece num contexto diferente dos anos anteriores em relação
aos novos procedimentos implantados na imprensa. Na década de cinquenta começa a
se consolidar o jornalismo especializado, que coloca em xeque a tradicional figura do
cronista de assuntos gerais, que transita com desenvoltura e com maior ou menor
propriedade entre diversas áreas. Por outro lado, o cinema deixa de ser mero
passatempo e passa a ser encarado com “seriedade”, falando-se até em “cultura
cinematográfica”. Cria-se, então, um campo específico, com repertório e vocabulário
próprios.
Um interessante testemunho dessas mudanças é dado pelo jornalista Mário
Melo, figura tradicional da imprensa pernambucana, em atividade desde o começo do
século, que assina diariamente a “Crônica da Cidade”, no Jornal do Commercio:
vezes não traz textos de cronistas, mas simplesmente reproduz o material de divulgação
enviado pelas distribuidoras. Trata-se de um espaço bem mais publicitário do que
propriamente jornalístico, opinativo. Uma exceção que merece registro é a página
dominical do Diário de Pernambuco, com textos assinados de diversos colaboradores,
comentando os filmes em cartaz ou abordando temas e personalidades ligados ao
cinema.
A seguir, elaboramos uma rápida apresentação dos jornais pesquisados e seus
cronistas e colaboradores entre 1952 e 1953 1:
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Aqui nos valemos especialmente das informações sobre os jornais diários do Recife
In: NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco, v.III. Recife,
Imprensa Universitária - Universidade Federal de Pernambuco, 1967.
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Depoimento de Alexandrino Rocha.
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- José Laurênio de Melo: no início de 1953, é responsável, por pouco tempo, pela
coluna de cinema.
JORNAL DO COMMERCIO (JC) - fundado em 1919 por João Pessoa de Queiroz para
defender os “interesses das classes conservadoras”. Nos anos 40, publica a coluna de
Carlos Lacerda “Tribuna da Imprensa”. Na década seguinte, o suplemento dominical
dedica entre uma e duas páginas aos assuntos cinematográficos. Não circula às
segundas-feiras. Cronistas e colaboradores:
- Ralph: pseudônimo de José de Sousa Alencar. Assina a coluna diária “Telas e Palcos”,
chamada posteriormente de “Cinema”.
- José do Rego Maciel Júnior: colaborador na página “Cinematografia” do suplemento,
a partir de setembro de 1953.
JORNAL PEQUENO (JP) - como o próprio nome indica, jornal de pequeno porte,
“órgão independente e noticioso”, com seis páginas, que ostenta na primeira, ao lado do
nome do jornal, a frase “A Verdade Nua e Crua”. Na década de quarenta, atua como
órgão das Oposições Coligadas. Não circula aos domingos. Cronista:
- Ângelo de Agostini: cronista cinematográfico e, com menor frequência, teatral, na
coluna diária “Cinemas e Teatros”.
No caso, Brasil se refere à crítica literária no Recife dos anos 40, mas o
parágrafo não poderia definir melhor - excetuando, é verdade, a exigência de erudição -
o aspecto polêmico que se verifica na crônica cinematográfica dos anos 1952/53. Brasil
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Cf. BRASIL, Antônio e outros. Um Tempo do Recife. Recife, Arquivo Público
Estadual/Secretaria da Justiça, 1978.
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Optamos por delimitar o trabalho aos anos de 1952/53. Antes de tudo, porque é
esse o período de filmagem de Canto. As atividades de Cavalcanti no Recife
representam um poderoso estímulo à crônica cinematográfica local, colocando questões
importantes no que se refere à produção brasileira e pernambucana. Apesar de se deixar
levar inúmeras vezes por preconceitos e rivalidades pessoais, a crônica não se furta a
abordar tais questões. Canto é um momento privilegiado porque aproxima a crônica da
esfera da produção. Aqui, não se trata de comentar “de camarote” um filme estrangeiro
ou mesmo nacional, mas de acompanhar de perto as etapas de realização de um produto
que trabalha com profissionais e temas “da terra”.
Ainda insistindo no estímulo gerado pela produção, desta vez em nível nacional,
vale a pena lembrar que em 1952/53 a Vera Cruz conhece seu período de maior
prestígio. Lança com regularidade seus filmes no mercado brasileiro e conquista
prêmios internacionais para O Cangaceiro e Sinhá Moça, mobilizando ainda mais a
crônica em torno do cinema industrial paulista. No final de 1953, a crise financeira da
companhia vem à tona e daí por diante a situação não melhora.
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