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Conteúdo: Gênero Textual Crônica

O texto “Meu morro”, que você lerá a seguir, foi escrito por uma estudante que está entre os
vencedores da 6ª edição da OLP. Nele, a aluna e autora, Maria Eduarda de Moraes Silva, de Guarujá (SP),
nos apresenta o seu lugar, o Morro do Macaco. Leia-o com atenção e, depois, realize a atividade de hoje.

Maria Eduarda de Moraes Silva


O morro acorda sempre apressado, agitado. Num desce e sobe vielas e escadas, pessoas seguem suas
vidas ao mesmo tempo em que portas e janelas se escancaram e melodias, risadas saltam soltas daqui e acolá.
Dona Josefa, com seu cigarro já aceso, está de pé à porta de seu barzinho, curtindo suas músicas
sertanejas; e não se demora muito pra ver a Brenda, dos salgadinhos, aos gritos com os filhos da Michele, que
insistem em jogar bola na frente da sua barraca… Está declarada a confusão. Mas bom mesmo é passar pela
dona Maria, a quitandeira – me delicio só de olhar todas aquelas frutas cheias de cheiros e sabores.
Os dias são quase todos assim: entre idas e vindas, “sobes e desces”, vou e volto da escola. E nessa volta,
loucura mesmo é passar pelo “Caminho das Índias” – é assim que chamam a Cachoeirinha na hora do rush –
Pensa num lugar agitado, cheio de gentes, gritos e buzinas? Aff!! Salve-se quem puder! Mas… Chego lá na minha
casa, chego lá…
Já é noite no Morro do Macaco. As luzes tomam seu lugar e, aos poucos, tudo vai se aquietando… Bem aos
poucos. Não vejo mais a Brenda nem dona Maria que, pelo horário, já fecharam suas vendinhas. Dona Josefa –
agora sentada na sua cadeira de plástico vermelha – mantém o bar aberto até tarde da noite.
Continuo a subida e, lá pelo meio do caminho, um grito sai avisando:
— Os “cara” tão subindo!!! Coooorre, coooorre!! Tão subiiindo!!
O susto paralisante foi logo desfeito pelo apavoramento do povo. Quem pela rua estava, correu
desesperado, assim como eu, pra se esconder em algum lugar. Os disparos pareciam vir de todos os cantos do
morro. Portas e janelas agora fechadas, amedrontadas pelo caos armado. Tiros, muitos tiros e um último grito
seguido de um choro sentido e doloroso…
— Meu filho nããããããoo!!! Mataram meu menino…
O silêncio reinou por alguns instantes e, aos poucos, via-se a cena final: uma mãe e o corpo coberto de
sangue de um moço baleado.
No dia seguinte, o morro acorda sempre apressado, agitado. Num desce e sobe vielas e escadas, pessoas
seguem suas vidas. Enquanto a noite ficou ali… Estendida no chão.
PARA COMEÇAR: TEMA É DIFERENTE DE
TÍTULO!
O texto que você acabou de ler é uma crônica, o gênero textual que, no contexto da olimpíada, é estudado por
alunos de 8º e 9º ano. A temática das crônicas produzidas pelos alunos na OLP é “O lugar onde vivo”. Assim, cada
aluno deve escrever uma crônica sobre isso: o lugar em que ele vive. Perceba que tema é o assunto do texto. Já o
título do texto é individual e funciona como um nome que damos ao nosso texto, de acordo com aquilo que
escrevemos nele. Portanto, uma vez que todos os alunos escrevem sobre lugares diferentes e de formas diferentes,
cada aluno dá um título para o seu texto. Você já sabia diferenciar? Interessante, não acha?! Agora, vamos

1) Pensando na relação entre tema e título de um texto, responda às questões abaixo sobre o texto que você leu.

a) Qual é o tema do texto que você leu?


O lugar onde a autora vive.

b) Qual é o título do texto que você leu?


Meu morro.

c) Reflita e responda: Por que a autora deu esse título ao seu texto?
Porque o morro, lugar que chamam de favela, é o lugar, sobre o qual ela resolveu escrever.

2) A crônica é um gênero textual que quase sempre é curto, tem poucas personagens e se inicia quando os fatos
principais da narrativa estão por acontecer. Por essa razão, nele o tempo e o espaço são limitados. Em “Meu
morro”:

a) Quais são as personagens envolvidas na história narrada?


Dona Josefa, Brenda, filhos da Michele, Dona Maria, os policiais, o garoto assassinado,sua mãe e a narradora.

b) Onde aconteceram os fatos narrados? De modo geral, como esse lugar é descrito?
Aconteceram no Morro do Macaco, é dito como um lugar bastante agitado.

c) Quanto tempo (minutos, horas, dias, meses...) duram os fatos narrados por Maria Eduarda em seu texto?
Provavelmente em torno de 24h, uma vez que inicia-se quando o dia amanhece e se estende até o amanhecer do
outro dia.

d) Resuma, em poucas linhas, os fatos narrados no texto.


Um dia na vida de uma moradora de uma favela carioca, que alterna momentos de alegria e descontração com
episódios de violência e terror.

3- Numa crônica, os fatos podem ser narrados por um narrador-observador (que é aquele que relata os fatos, mas
não participa deles) ou por um narrador-personagem (que narra a história e participa dela). Qual é o tipo de
narrador na crônica “Meu morro”? Marque a opção correta e, em seguida, justifique-a.
( ) Narrador-observador.
(X)Narrador-personagem.
Como você identificou essa resposta?
Porque se fez o uso de verbos e pronomes na primeira pessoa do discurso.

4- O cronista tem o olhar atento nas notícias veiculadas em jornais falados e escritos e nos fatos do dia a dia. E
escreve sobre eles com sensibilidade, ora criando humor, ora provocando uma reflexão crítica acerca da realidade.

a) Pense um pouco: A história relatada na crônica “Meu morro” é apenas ficcional, ou seja, inventada pela autora?
A história é baseada na realidade do Morro do Macaco, podendo conter traços de ficção, mas não em tudo.

b) Conclua: Na crônica, Maria Eduarda apenas narra os fatos ou busca apresentar um novo olhar sobre eles?
A autora buscou apresentar um novo olhar sobre eles, sendo a forma como ela enxerga o morro.
c) Que objetivos a autora da crônica “Meu morro” tem em vista: tratar cientificamente de um assunto, divertir o
leitor ou levar o leitor a refletir criticamente sobre a vida na comunidade periférica? Explique sua resposta.
Levar o leitor a refletir criticamente sobre a vida na comunidade, lugar em que, em meio à agitação, muitas vidas
inocentes se perdem em confrontos entre membros da comunidade e policiais.

ATENÇÃO: Um cronista narra fatos, mas não tem compromisso com a verdade, ou seja, não precisa se prender
ao que é real. A partir da realidade, ele fica à vontade para escrever sobre o cotidiano, inclusive podendo
5- Observe a linguagem empregada na crônica “Meu morro”.

a) Os fatos são narrados de forma pessoal/subjetiva, ou seja, de acordo com a visão da autora, ou são narrados de
forma impessoal/objetiva, como na linguagem jornalística?
Os fatos são narrados de forma pessoal/subjetiva, em conformidade com a visão da autora.

b) Em relação à linguagem, a crônica é mais parecida com as notícias de um jornal ou com os textos literários (como
o conto, o mito, o poema)?
A linguagem da crônica se aproxima mais da linguagem dos textos literários.

c) Que tipo de variedade linguística é adotado na crônica: uma variedade de acordo com a norma-padrão formal ou
com uma norma-padrão informal? Justifique sua resposta.
De acordo com um padrão informal da língua. Isso se vê em trechos como “Os ‘cara’ tão subindo!”, que traz traços de
informalidade, não prejudicando a
construção do texto.

6- Releia os seguintes trechos da mesma crônica:

– “O
a) morrocada
Observe acorda
um sempre apressado,
dos seres agitado.”
destacados. Eles são seres animados (com vida) ou inanimados (sem vida)?
3- – “[...]
Seres inanimados. portas e janelas se escancaram [...]”
4- – “[...] melodias, risadas saltam soltas daqui e
b)acolá.” IV – “As
Que ações luzes tomam são
e características seu atribuídas
lugar [...]” a cada um desses seres em cada trecho retirado do texto?
V – “Portas
O morro: acordae janelas agora fechadas, amedrontadas pelo caos
apressado/agitado;
armado.” VI – “Enquanto a noite ficou
Portas e janelas: se escancaram/estão ali… Estendida no chão.”
amedrontadas;
Melodias, risadas: saltam soltas;
As luzes: tomam seu lugar;
A noite: ficou estendida no chão.

c) Diante do que você respondeu, reflita e escreva: Essas ações/características são comuns para esses seres? O que
será que a autora pretende ao fazer isso, escrevendo, por exemplo, que “a noite ficou ali... Estendida no chão”?
Não. Com isso, a autora pretende mostrar seu olhar poético e de cronista sobre esses seres.

Note que a forma que autora utiliza para escrever sobre tudo o que vê a sua volta, sobre o seu cotidiano,
sobre o lugar em que ela vive, é uma forma totalmente individual e particular. Ela dá vida a seres não vivos, algo
que caracteriza uma linguagem poética e singular. Dizer que “o corpo do menino morto ficou ali... Estendido no
chão” não tem o mesmo efeito de sentido que se alcança com “a noite ficou ali... Estendida no chão”. Esta
linguagem é característica do gênero crônica e de tantos outros textos de caráter literário. O cronista tem a
liberdade de escrever seus textos fazendo uso da linguagem de maneira criativa. Muito bacana, não acha?!

AMARRANDO AS INFORMAÇÕES SOBRE O


GÊNERO:
Como você deve ter percebido, a crônica é um texto que narra de forma artística e pessoal fatos
colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano; é geralmente curto e leve, escrito com o objetivo de divertir
o leitor e/ou levá-lo a refletir crítica ou filosoficamente sobre a vida e os comportamentos humanos; o
narrador pode ser do tipo observador ou personagem; emprega geralmente uma variedade linguística de
acordo com a norma- padrão, podendo ser mais ou menos formal, em linguagem simples e direta, próxima do
leitor.

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