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Experiência indígena e cidades:

mobilidades e produção de modos de vida dos Xocó Kuará

Adla Viana Lima1

Resumo: Os Xocó são indígenas do estado de Sergipe, cuja TI se localiza no município


de Porto da Folha, a TI Ilha de São Pedro/Caiçara, reconhecida em 1984 e demarcada
em 1991. O povo Xocó guarda na sua trajetória episódios de luta pelos direitos de
propriedade de terra cujas origens remontam ao século XVII, como narra Dantas. “A
despeito de terem negada a sua identidade e de terem sido expulsos das terras, nas
imediações das aldeias persistiam os índios, utilizando-se do expediente de que sempre
fizeram uso, recorrendo as autoridades, notadamente ao Governo Central, no sentido de
terem de volta as suas terras.” (Dantas, 1993, p. 15). Nos últimos dez anos, passaram
por um conflito interno que provocou a configuração de um novo grupo, de etnônimo
“Xocó Kuará”, que reúne índios Xocó cuja maioria, descendentes de moradores da
aldeia, sempre residiu em áreas urbanas – Aracaju, Maceió e Porto da Folha, nos estados
de Sergipe e Alagoas. Esse conflito é objeto de uma Ação Civil Pública, datada de 13 de
Junho de 2012, ajuizada pelo Ministério Público (MPF/SE), cujo objetivo seria garantir
novas terras aos “índios desaldeados”. Essa comunicação objetiva apresentar a
discussão da minha pesquisa monográfica - desenvolvida no bacharelado de Ciências
Sociais da Universidade Federal de Sergipe - que propõe a tecitura de uma análise sobre
as formas como são agenciadas as práticas, discursos e memórias entre os Xocó Kuará,
considerando sua posição ambígua diante dos outros Xocó, no que diz respeito à
produção da vida, aos seus trânsitos e experiências nas cidades nas quais estão
“espalhados”. A construção do objeto desta pesquisa não se dá no sentido de investigar a
vida dos Xocó residentes nas cidades como portadores de diferenças ou de “cultura”
diversa no espaço urbano, mas sim da exploração da narrativa da experiência
etnográfica que objetiva promover pensamento sobre como e para que fins suas
diferenças são agenciadas nas relações entre seus “irmãos” e com o estado e seus
agentes. Em primeiro lugar, analisa-se o que se narra sobre o conflito interno entre os
Xocó que gerou a configuração do grupo indígena Xocó Kuará, do que se produziu
subjacente a ele, das suas mobilidades, dos aspectos de seus modos de vida, de seu
cotidiano. A partir disso, a pesquisa se direciona para as suas relações com os órgãos do
estado e seus agentes na busca de acesso aos serviços e bens públicos e das suas
mobilizações políticas e vivências nas cidades considerando sua identificação indígena.
A concepção da pesquisa se pautou, portanto, na proposta de pensar as mobilidades e
trânsitos Xocó - que ocorrem desde os aldeamentos e missões jesuíticas até hoje – e,
sobretudo, como a vida produzida em contexto urbano integra a relação com o estado na
busca de soluções de suas demandas. Importa, todavia, a forma como esses
agenciamentos incidem na mobilização de recursos políticos do grupo e reverberam nos
seus trânsitos, alianças, relações de parentesco e vínculos, no seu cotidiano vivido.

Palavras-chave: etnologia urbana; cidades; etnologia indígena; Xocó Kuará; Índios de


Sergipe.

1 Graduanda do Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe.


Os Xocó são indígenas do estado de Sergipe, que tem sua TI localizada no
município de Porto da Folha, a TI Ilha de São Pedro/Caiçara2, e guardam na sua
trajetória episódios de luta pelos direitos de propriedade de terra, cujas origens
remontam ao século XVII (Dantas & Dalari, 1980, p.7). A professora Beatriz Dantas
finaliza a introdução da publicação “Repertório de Documentos para a História Indígena
em Sergipe” afirmando que
a despeito de terem negada a sua identidade e de terem sido expulsos
das terras, nas imediações das aldeias persistiam os índios, utilizando-
se do expediente de que sempre fizeram uso, recorrendo as
autoridades, notadamente ao Governo Central, no sentido de terem de
volta as suas terras (Dantas, 1993, p. 15).

O grupo, nos últimos dez anos, passou por um conflito interno que provocou a
configuração do povo Xocó Kuará, etnônimo que reúne índios Xocó residentes em áreas
urbanas – Aracaju, Maceió e Porto da Folha, nos estados de Sergipe e Alagoas. Esse
conflito é objeto de uma Ação Civil Pública, datada de 13 de Junho de 2012, ajuizada
pelo Ministério Público (MPF/SE), cujo objetivo é garantir novas terras aos “índios
desaldeados”. Isto porque um grupo de indígenas - hoje denominados Xocó Kuará - foi
impedido pelos Xocó da Ilha de São Pedro de se instalarem na aldeia, e a seriedade da
questão pode ser percebida no depoimento reproduzido abaixo.

Em termo de declaração juntado na f. 473/474, o cacique da


comunidade Xocó (aldeada) reafirmou a impossibilidade de retorno do
índio Antônio Feitosa e seus familiares à aldeia indígena:

Tonho da Cabocla tentou voltar para a Ilha de São Pedro


com sessenta famílias, ameaçando ocupar boa parte da
terra; chegaram a entrar uns dois na terra indígena sem
permissão, na calada, para ver a terra e depois se
organizaram para entrar com várias famílias; que sabendo
disso, o depoente, como cacique convocou com 100
homens da comunidade e comunicou à FUNAI que
impediria a entrada dessas famílias na terra indígena e
para evitar o conflito imediato, mandaram dois parentes
até proto da Folha na casa de Tonho da Cabocla para ver
se era verdade; que a cacique dos Xocó-Kuará disse
então, que “o sangue podia dar no meio da canela, mas
entrariam nas terras” (ACP/MPF/SE, 2012, p. 15)

As justificativas desse feito são apresentadas em falas do cacique da Ilha e em

2 Ver mapa nos anexos.


documento abaixo assinado da comunidade, na Ação citadina, e se referem em
primeiros momentos aos questionamentos quanto à seu pertencimento ao grupo. Depois
da inspeção realizada por representante da FUNAI e posterior reunião entre membros da
comunidade Xocó reconhecendo-os como índios, a comunidade passou a questionar as
condições desse pertencimento e a falta de participação na luta histórica pela
demarcação das terras, além das supostas relações com fazendeiros à época dos
processos de homologação e demarcação e da diferenças de costumes por residirem
afastados da Ilha, tendo adquirido modos de vida caracterizados como urbanos. Nesse
contexto, cerca de 603 Xocó Kuará estão amparados nos trabalhos da Procuradoria da
República em Sergipe, para reivindicar acesso à bens e serviços relativos às políticas
públicas para povos indígenas.
A contextualização histórico-antropológica das experiências vividas pelos Xocó
se faz necessária aqui no sentido de expor o fio condutor que liga o estudo sobre
experiência indígena e cidades, e a condição ambígua dos Xocó Kuará frente aos outros
Xocó da Ilha. A história da demarcação da terra indígena dos Xocó da Ilha de São
Pedro/Caiçara vai acontecendo pari passu com o desdobramento do trabalho histórico-
antropológico da Professora Beatriz Góis Dantas, que participou da publicação “pela
Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), que resultou num documento final
comprobatório dos direitos dos atuais Xokó sobre a Ilha de São Pedro”(Souza, 2011) no
ano de 1993. Dantas oferece bases sólidas para a contextualização histórica da vida dos
Xocó e quando afirma que os índios permaneciam “nas imediações das aldeias”, oferece
um ponto de partida para pensar os fluxos e as andanças que acontecem até hoje quando
da relação dos Xocó entre si, e com as políticas públicas governamentais. É na reflexão
sobre a busca desses direitos - cujos pilares históricos e antropológicos escolhidos se
fazem presentes em Dantas(1980, 1991, 1993), Arruti (1995, 2001) e Souza (2011) - e
as composições de agenciamentos sociopolíticos, nas cidades, entre os Xocó Kuará e
suas relações com os Xocó que esse trabalho se debruça.
Essa comunicação apresenta o avanço da pesquisa até o momento, e se coloca
como forma de discutir as perspectivas apresentadas antes da sua conclusão. 4
3 Esse número foi informado pela liderança dos Xocó Kuará, Sônia Feitosa, em entrevista
semiestruturada ocorrida no mês de Abril de 2014.
4 O projeto dessa pesquisa foi apresentado como painel na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, em
Agosto de 2014, com o título "Índios Urbanos", "Índios Desaldeados": os Xocó-Kuará e a
experiência indígena nas cidades” no GT Atuação etnopolítica dos povos indígenas e reconfiguração
do indigenismo contemporâneo no Brasil: reflexões teóricas e avanços metodológicos sobre o tema.
Uma das propostas teórico-metodológicas que cabe à essa pesquisa e que vem
sendo bordada nessa escrita se inspira nos debates das interfaces entre Antropologia
Urbana e da Etnologia Indígena, apresentados na proposta de experiência de etnologia
urbana, que tem acontecido no âmbito do Grupo de Etnologia Urbana – GEU, do
Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo, NAU/USP, fazendo-se
valer de uma aproximação da “metodologia própria e a elaboração de categorias
específicas de análise” (Amoroso, 2013, p. 46) apresentados nos trabalhos do grupo,
para então compor o balanço metodológico dos recursos que estão propostos nesse
projeto e os que poderão surgir durante sua execução. Os trabalhos de Amoroso (2013),
Romano (1982), Silva (2001), Lasmar (2006), Lasmar e Eloy (2006), Andrello (2006),
Santos (2008), Bernal (2009), Melo (2009), Alvarez (2009), Farias Júnior (2009),
Andrade (2012) e Magnani (1997, 1997, 2002, 2012) formam um quadro de referência
para escolha de abordagens interessantes5, no sentido de instrumentalizar a discussão
sobre modo de vida indígena e cidades, mas cabe dizer, que é a experiência etnográfica
é o que dá a tônica dessas escolhas.
É escolhida essa abordagem para pensar os processos de circulação dos Xocó
pelas cidades de Sergipe e Alagoas para considerar a produção de seus modos de vida
como alternativa à ideia de fronteiras rígidas entre aldeia e cidade e às discussões
calcadas nas noções de etnicidade e identidade. Nota-se que, embora a produção acerca
da experiência indígena e cidades seja um terreno de pesquisa bastante fértil, cabe dizer
que se trata de um tema que muito pode ser explorado considerando também que todos
os trabalhos, salvo engano, que possuem abordagem semelhante tem por objeto grupos
indígenas amazônicos, como os citados por Magnani (2013b) no levantamento presente
no texto intitulado “Índios em Contextos Urbanos: o caso de Manaus e outras cidades da
Amazônia”, que considera não ser muito extensa a produção etnológica indígena do
tema e interpreta esse dado como reflexo da diminuta atenção dada ao tema nas
pesquisas de etnologia. Pode-se afirmar que existe a mesma restrição com relação aos
povos indígenas da região geográfica do Nordeste, ou “índios do Nordeste”, como
convencionou-se chamar a partir das linhagens de pesquisa firmadas tendo como base as

O resumo está disponível em http://www.anaisda29rba.org/#!gt19/c1ij3.


5 Parte desse conjunto de trabalhos está citado no levantamento de Magnani, considerados os mais
representativos, no texto “Índios em Contextos Urbanos: o caso de Manaus e outras cidades da
Amazônia”. (Magnani, 2013, p.184) e de Amoroso, no texto “O Nascimento da Aldeia Mura.
Sentidos e modos de habitar a beira”. (Amoroso, 2013, p. 49).
construções teóricas de Fredrik Barth (1998), Roberto Cardoso de Oliveira (1964, 1967)
e João Pacheco de Oliveira (1998, 2004).
É importante elencar os autores que desenvolveram pesquisas sobre os “Índios
do Nordeste” e demonstrar quais as bases à disposição na literatura antropológica para
que se possa pensar as questões apresentadas. Portanto, cabe salientar, as produções de
autores como Pacheco de Oliveira (1998, 2004), Arruti (1995, 2001), Agostinho (1993),
Agostinho e Carvalho (1995), Reesink (1983, 2000), entre outros autores, fazem parte
da exposição de como o tema vem sido abordado, e foram necessárias para a discussão
sobre as agências dos Xocó Kuará nas cidades, na medida em que o povo Xocó está
inserido na literatura sobre “Índios do Nordeste”.
Em relação à produção antropológica acerca dos Xocó, o principal trabalho que
faz uma completa atualização sobre a vida dos Xocó é o do antropólogo Natelson
Souza, na sua dissertação intitulada “A Herança do Mundo: história, etnicidade e
conectividade entre jovens Xokó”, defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia da Universidade Federal da Bahia, no ano de 2011, cuja revisão
dispensa um novo levantamento. Souza elenca uma série de trabalhos de pesquisadores
especializados em história e antropologia indígena na região Nordeste que dão subsídios
para discussão acerca dos modos de vida dos Xóco e dos Xocó Kuará.
Souza (2011) apresenta um panorama que contextualiza a presença
contemporânea de povos indígenas do Nordeste, que tem como foco a noção de
“etnogênese” indígena, categoria que utiliza muito mais por sua eficácia ilustrativa,
chamando a atenção para o desconforto que o conceito causa em alguns antropólogos.
Faz parte do quadro teórico desse projeto o levantamento de Arruti (1995; 2004) no
trabalho “Morte e vida do Nordeste indígena: a emergência étnica como fenômeno
histórico regional”, também citado por Souza na seguinte consideração:
(…) inicio a descrição do panorama histórico tomando por base uma
eficaz síntese etnográfica já produzida por Arruti (1995; 2004), de
modo a acentuar a proposta de uma crescente tendência – reforçada
por ele, por Carvalho (1994), Messeder (1995), Andrade (2002; 2008),
entre muitos outros – de análises para a etnologia indígena no
Nordeste, a qual tem me chamado a atenção pelo seu caráter
abrangente e, suponho, eficaz na exploração de novos elementos
elucidativos do cenário político-histórico indígena no Brasil, em
particular no Nordeste. Refiro-me à atenção a ser dada às redes extra-
locais de trocas – com seu poder altamente expansivo, espacialmente e
temporalmente – e o papel destas na formação e manutenção étnica
dos povos indígenas contemporâneos. Estas redes funcionam,
sobretudo, como uma conexão estratégica entre pessoas e grupos que
podem ser considerados afins históricos 58 . Considero estas redes um
exemplo empírico de uma espécie de “globalização popular”, ou, no
original, “grassroots globalization”. Termo aplicado por Appadurai
(2000) para curiosos fenômenos sociais que evidenciam modos locais
e regionais de apropriação dos discursos e dos instrumentos
proporcionados pelo também crescente fluxo de pessoas, informações
e objetos entre os municípios, estados, países e continentes. (SOUZA,
2011, p. 63)

Esse parágrafo do texto de Souza aponta para o objetivo desse trabalho no


sentido de que sugere que a produção citada sobre os índios do Nordeste possui aspectos
relevantes na elucidação do cenário político-histórico indígena - tema que penetra o
debate e que compões o modo de vida dos Xocó Kuará.
A primeira entrevista que fiz para conhecer o ambiente da pesquisa foi com
Sônia Feitosa, em 18 de Março de 2014, uma das lideranças do grupo e sobrinha do seu
Antônio, que foi de quem partiu o desejo de retornar à morar na Ilha de São Pedro, na
Terra Indígena. Passei cerca de quatro horas conversando com Sônia, muito bem
recebida em sua casa, num prédio no Conjunto Médici, em Aracaju. No início ela quis
saber qual a minha intenção com o trabalho, e só no meio da entrevista para frente que
me aceitou realmente como alguém que ela poderia ter alguma confiança, como mesmo
disse. “Precisava saber primeiro quem era... o que queria”.
Nossa conversa se deu quando propus de nos encontrarmos para que eu
mostrasse meu interesse de pesquisa e pedisse a sua ajuda. Mostrei o que vinha fazendo
e pedi ajuda para saber se poderia ou não continuar. Mostrei o resumo que enviei para a
29ª RBA (Reunião Brasileira de Antropologia), mostrei o esboço do meu projeto e o que
pensava em desenvolver dali pra frente, ela dizia que tinha escrito sua monografia sobre
“seu povo” e que sabe como é complicado fazer um trabalho como esse, se formara na
Faculdade Pio X no curso de Pedagogia, em Aracaju. Sônia contava apaixonadamente a
história dos Xocó, e também a história dos Xocó Kuará, que se envolvem e são uma só
e também são outra história, são ao mesmo tempo e não são. Ela falava “meus
antepassados”, como quem via nos parentes mais velhos um retorno à memórias que
devia retomar naquela conversa a todo o tempo, e assim fazia. O centro da sua narração
era o Tio Antônio, que havia um certo dia resolvido que queria porque queria morrer na
terra onde havia nascido, a terra dos Xocó.
Esse encontro derivou a ideia de pensar o espalhamento dos Xocó Kuará pelas cidades,
pelas “imediações das aldeias” (Dantas, 1993, p. 15) dentro de uma perspectiva que
retoma a dicotomia entre aldeia e cidade tal qual abordada por Magnani (2013, p. 314-
316) como “formas”: “Um novo esquema analítico, propriamente antropológico,
constituído por oposições simétricas e inversas, que distinguem simultaneamente
“aldeia” e “cidade” dos pontos de vista da aldeia e da cidade que certamente não
coincidirão” (Silva, 2013, P. 331). O conflito se tornou subjacente à narrativa e o que se
produz em torno e em meio a ele, na conformação do circuito Xocó, passa a ser o que
importa. Amoroso chama a atenção para a “interessante afinidade” de algumas das
categorias, nas quais está incluída a noção de circuito, “com a maneira particular como
os indígenas circulam e se referenciam na paisagem, lida, em grande parte da literatura,
como demarcada por fronteiras rígidas – rios/floresta, cidades/aldeia, etc.” (Amoroso,
2013, p. 48).
Em Dezembro de 2014 fui até Maceió, onde mora a cacique do grupo, Maria
José, nome igual a da sua bisavó, fundadora da Ilha de São Pedro, como mencionou.
Nos encontramos a primeira vez na praça de alimentação do shopping onde ela iria
passar depois de sair da empresa onde trabalha, do ramo da construção civil. Já
havíamos nos falado por telefone, na ocasião da entrevista com Sônia, sua irmã, e
algumas outras vezes. Maria José contou em detalhes os acontecimentos que geraram
sua vida de cacique, usou a palavra cacique com um certo desconcerto, contando como
ela atua e concatena sua vida no trabalho, nas reuniões com a FUNAI, nos processos de
luta – termo que usou incessantemente para se referir a história Xocó Kuará. Em virtude
do pouco espaço dessa publicação, não é possível detalhar mais a conversa, mas é
interessante dizer que esse encontro facilitou outras três entrevistas com pessoas ligadas
à FUNAI e a observação da sua atuação nesse espaço.
Nesse processo de entendimento da vida dos Xocó Kuará vê-se que suas
andanças ocorrem desde os aldeamentos e missões jesuíticas até os dias de hoje, e a
produção de seus modos de vida são postos também em virtude das relações políticas
que esses grupos estabelecem entre si e com os órgãos do estado na busca de soluções
de suas demandas. Em meio a esses processos de reivindicação residem os conflitos,
que são perpetrados em face dessas relações, e recaem sobre tais mobilidades,
produzindo a experiências do cotidiano vivido.
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