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POTENCIALIDADES DO SISTEMA1
OBJETIVOS
O presente trabalho busca fazer uma análise acerca das possíveis relações
entre o fenômeno do capitalismo e as migrações internacionais. Pretende-se, a partir
de então, posteriormente, a construção de uma pesquisa com viés critico e
propositivo no que tange aos atuais fluxos migratórios internacionais.
A história mostra que as relações entre o capital e o trabalho tem caráter
complexo e problemático. No entanto, a revolução na filosofia realizada por Marx
com o surgimento do materialismo dialético e histórico alçou o pensamento e o
mundo para uma nova concepção, principalmente entre as forças produtivas e as
relações de produção. Foi no desenvolvimento socioeconômico e político da
humanidade que sedimentou-se o regime capitalista; nas suas contradições
intrínsecas e na luta do proletariado e da burguesia.
O capitalismo está assentado na propriedade privada dos meios de
produção e na exploração do trabalho assalariado. A finalidade da produção
capitalista e a fonte do enriquecimento é a apropriação dos meios de produção e a
mais valia. E, a principal contradição é a existente entre o caráter social da produção
e a forma privada de apropriação. Samir Amim em Le Développement inégal escreve
que, “o modo de produção capitalista é caracterizado por uma contradição imanente:
a que opõe o crescente caráter social das forças produtivas ao persistente caráter
acanhado das ralações de produção” (AMIM, 1974).
A partir de suas análises, Marx constata que, a acumulação de capital
constituí o imperativo ou a força motriz da sociedade burguesa. Ela se baseia na
exploração da mão de obra operária que submete à produção mecanizada, com a
finalidade de assegurar a mais valia. Consequentemente, há a formação de um
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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração
do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.
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Graduanda em Direito pela Universidade Católica de Pelotas e pesquisadoras do grupo de estudos
em políticas migratórias e Direitos Humanos – GEMIGRA, da Universidade Católica de Pelotas.
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Graduanda em Direito pela Universidade Católica de Pelotas e pesquisadoras do grupo de estudos
em políticas migratórias e Direitos Humanos – GEMIGRA, da Universidade Católica de Pelotas.
exército industrial de reserva e sobre ele recai a Lei Geral de Acumulação Capitalista
onde “O mecanismo da produção capitalista e da acumulação adapta continuamente
esse número (de trabalhadores) e essas necessidades (de expansão do capital). O
começo deste ajustamento é a criação de uma superpopulação relativa ou de um
exército industrial de reserva, e o fim da miséria de camadas cada vez maiores do
exército ativo e o peso morto do pauperismo” (MARX, 1984).
Esse processo pode ser compreendido historicamente a partir das primeiras
migrações de caráter fundamentalmente econômico, as quais se iniciam com o
desenvolvimento do capitalismo e, paralelamente, com o decurso da industrialização
e urbanização; o que, na época, acarretou no declínio das sociedades rurais, bem
como, no desenvolvimento dos burgos e da classe trabalhadora (SASAKI; ASSIS,
2000).
Marx, em “Contribuição a Crítica da Economia Política” (1984), demonstra
que no transcurso da produção social, os homens contraem determinadas relações
necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção, que
correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das forças produtivas
materiais. E, o conjunto destas relações de produção forma a estrutura econômica
da sociedade, a base real sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica e política e
àquelas que correspondem a determinadas formas de consciência social.
No entanto, diferentemente do êxodo rural no fervor da revolução industrial,
é a partir das expedições para o Novo Mundo, onde as pessoas em situação de
pobreza e miserabilidade, principalmente devido a exploração do trabalho na lógica
capitalista, migraram, ou melhor, dizendo, fugiram para as colônias, para
distanciarem-se das crises cíclicas que a produção industrial de larga escala
estabelecia, ou também, devido a superpopulação e o consequente desemprego que
se instaurava nestes centros (SASAKI; ASSIS, 2000). Esta superpopulação é
produto inerente do processo de produção e valorização do capital, decorrente não
só das condições de exploração que impõe o processo produtivo, mas ainda, na
determinação dos níveis salariais.
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custa […]. Não basta à produção capitalista de modo algum o quantum de
força de trabalho disponível que o crescimento natural da população
fornece. Ela precisa, para ter liberdade de ação, de um exército industrial de
reserva independente dessa barreira natural (MARX, 1984, p. 200 e 202).
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Partindo desses princípios defendidos por Sasaki; Kizek e Gaudemar um
ponto a ser analisado é o paradoxo existente entre a produção de migrantes e a
exclusão deles do capital nacional resultante da sua força laboral. Começa-se
observando como os migrantes são formados na conjuntura atual: o capitalismo é a
resposta chave para tal. Parafraseando as palavras do doutorando Allisson Goes, a
cultura capitalista constrói barreiras físicas e simbólicas para o trânsito de pessoas,
principalmente para os menos favorecidos economicamente, os quais, teoricamente,
não tem nada a ofertar àqueles que os receberão. Contudo, de forma controversa,
esse sistema, ao mesmo tempo, permite que capitais, bens e mensagens sejam
dissimulados pelo mundo de forma imediata.
Portanto, percebe-se que o migrante é necessário para o sistema capitalista,
porém ele não é aceito na lógica social, em outras palavras, o capitalismo produz e
precisa dos imigrantes para aqueles trabalhos com mão de obra barata, sub-
remunerados e precarizados, mas em contra partida, exclui eles do resultante da sua
produção laboral e, mais preocupante ainda, os exclui do corpo social, por meio de
uma sociedade regada a preconceitos, que vê aquele que migra como forasteiro e
indigno de permanência no país.
A migração surge como uma maneira de potencialização de ganhos no
momento em que projeta essas pessoas nesses esquemas de trabalho debilitados,
já que existe a fuga de condições degradantes no país de origem, almejando uma
nova perspectiva de vida, entretanto são recebidos com novas formas de exploração
que seguem perpetuando desigualdades e conjunturas de insegurança. Nesse
aspecto, os refugiados são o extremo dessa estrutra decorrente do capitalismo e do
processo de globalização, uma vez que são os que mais sofrem para sair de seus
países e também quando conseguem chegar ao seu destino, são os que mais
passam por preconceito e exclusão. Z. Bauman constata que: “eles deixam suas
terras, mas são preteridos aonde tentam chegar e assim empurrados para lugar
algum, rejeitados pelo medo do estrangeiro, da diferença, do outro; pelo medo da
“desestabilização” social, econômica e cultural que a presença do outro pode
causar” (BAUMAN, 2009).
Por conseguinte, eles seguem em frente indefinidamente e são repelidos na
medida que o lucro chega a seu ápice; esses migrantes tem sua força da trabalho
sugada ao máximo e depois, ao chegarem as crises econômicas naturais de um
sistema capitalista, são os primeiros a serem descartados do conjunto social, isso
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fora o ocorrido na França, pós Segunda Guerra, com a utilização do trabalho
argelino para a reconstrução econômica francesa, bem ilustrado por Sayad (1998),
desse modo pode-se depreender que, no mundo capitalista e globalizado atual, o
capital circula preferencialmente e em seguida migram as pessoas.
Lembra, ainda, Marx que, o modo de produção capitalista é forçado a
revolucionar incessantemente a produção, e, portanto, igualmente forçado a
revolucionar incessantemente as relações de produção para adaptá-las à exigências
do desenvolvimento contínuo das forças produtivas. A história do Capitalismo é,
necessariamente, a história deste processo de ajustamento das relações de
produção às exigências do progresso das forças produtivas. Este processo é
constituído por fases de expansão e cada fase é caracterizada por um modelo
particular de acumulação (AMIN, 1978).
No cenário atual há uma progressão da estrutura de mercado, em vista do
processo de globalização e internacionalização da produção, dispersando as
relações de trabalho e criando uma flexibilização das antigas estruturas de emprego.
Portanto, percebe-se a imigração como um processo da própria estrutura de
acumulação flexível (SASAKI; ASSIS, 2000).
Sustentado por Sassen "Globalization has also produced sites that
concentrate a growing demand of particular types of labor supplies. Strategic among
these are global cities, with their sharp demand for top-level transnational
professionals and for low-wage workers, often women from the global south”
(SASSEN, 2008).
Sob outra perspectiva da globalização fundamenta Zizek a partir de
Sloterdijk:
METODOLOGIA
O método de abordagem utilizado para o presente projeto de pesquisa é o
materialismo-histórico. Ele consiste em uma pesquisa qualitativa de caráter
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bibliográfico-documental caracterizada pelo olhar interdisciplinar e o viés crítico
sobre o problema proposto.
CONCLUSÃO
É possível, portanto, perceber que o movimento de migração,
fundamentalmente econômico, tem seu alicerce sedimentado na história das
relações de trabalho onde o detentor dos meios de produção desloca o capital
variável, mão de obra excedente dos países de capitalismo dependente, às
necessidades do capital. Tal fato reflete a intenção de maximizar os lucros por meio
da contratação de trabalho imigrante cuja baixa remuneração da mão de obra
propicia a acumulação do capital.
Outro aspecto a relevar, é a percepção de que a globalização naturalizou o
processo de migração como parte da lógica do próprio funcionamento, em outras
palavras, do próprio capitalismo. Este sistema traz no seu cerne contradições entre
as duas classes, empresariado e o trabalhador, sendo no presente trabalho utilizado,
em específico, o caso dos migrantes.
A conjuntura atual demonstra que políticas migratórias são retrógradas,
intensificam as adversidades e maculam a imagem do imigrante. Percebe-se
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também que o imigrante é explorado em seu máximo pelo país que desembarca, em
posições degradantes e precárias, servindo apenas como fornecedor de lucro, sendo
facilmente descartado quando o país assim deseja. O capitalismo fez com que, no
cenário atual, as pessoas sejam preteridas em função do capital, servindo aquelas
apenas como mão de obra barata, em se tratando de imigrantes e refugiados.
REFERÊNCIAS
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development. New York, NY: Monthly Review Press, 1974.
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Editorial Estampa, 1977.
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SASSEN, S. Two stops in today„s new global geographies: shaping novel labor
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ZIZEK, S. La nueva lucha de clases los refugiados y el terror. Barcelona:
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