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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

A submissão do homem à mercantilização do


tempo
DOI: 10.5935/1984-9044.20200026

Marcos Silva Santos, Romário da Silva Santos - Universidade Federal do Ceará


(UFC)

Resumo: O presente estudo tenciona tecer uma crítica ao excesso de tempo devotado ao trabalho,
avaliando e reconhecendo como isso foi edificado socialmente, principalmente em relação às
perdas para a vida individual e coletiva. Em virtude da obscuridade, transversalidade e
multiplicidade de sentidos atribuídos ao tempo, o que era visto como conceito é tratado como
categoria. Sendo assim, desenvolve-se a categoria tempo a partir de uma perspectiva analítica de
sua função na contemporaneidade, de modo a captar como tal conceito transmutou-se ao seu
sentido atual para atender determinadas exigências, sobretudo econômicas. Objetiva-se, além de
dissertar sobre a referida categoria, compreender de que modo o sujeito troca seu tempo por
recursos financeiros, reconhecimento social e pessoal, por meio da atividade/ação do trabalho.
Conclui-se que a relação estabelecida é inexorável e necessária para o metabolismo social, porém
os sacrifícios no âmbito individual e coletivo são imensuráveis.

PALAVRAS-CHAVE: Tempo; Trabalho; Recurso; Capitalismo.

Man's submission to the commodification of time


Abstract: The time category will be developed from an analytical perspective of its function in the
contemporaneity, aiming to capture how such a concept was transmuted into its current meaning
to meet certain demands, mainly economic ones. Due to the obscurity, transversality and
multiplicity of meaning assigned to time, which has been seeing as concept, it is going to be
seeing as category. It aims to, additionally to lecturing on this category, comprehend the ways
that people invest and trade theirs time for financial resources, social and personal
acknowledgement, using their workforce to make it possible. It is understood that this relation is
inflexible and crucial to the social metabolism, although the sacrifices in the individual and
collective aspects are tangible. This academic research intends to formulate a critic to the excess
of time devoted to work, evaluating and acknowledging how it was socially created, specially its
losses for both individual and collective life.

KEY WORDS: Time; Work; Resource; Capitalism

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Introdução à construção
histórica do conceito de tempo e
sua correlação com o trabalho

Q
ual é a natureza do o fato de que sua amplitude é
tempo? A noção de imensa, sendo difícil pensar em
passado, presente e algo, ou pessoa, que não esteja
futuro ergue-se justamente na subordinado aos seus efeitos. Em
tentativa de sanar tamanha suma, será que o tempo reside no
dúvida, mas será que não há resultado numérico fornecido
outras respostas mais completas pelos relógios – a duração –, ou
e que também remetem à seja, seu poder de conversão da
experiência temporal? A sua realidade numa cifra numérica?
essência pode repousar nos dias,
De todo modo, a experiência
semanas, meses e anos que fazem
temporal deve ser mais que um
referência a sua trajetória como
simples algarismo, pois também é
evento recorrente? O tempo
interação entre gerações,
também pode ser definido como
compreensão de aspectos físicos e
“coisa” que marca o início e o
sociais, entre outros tantos
término de um período, porém,
elementos. Quando o homem
de que modo isso é feito, uma vez
reduz o tempo a um produto
que nada é capaz de representá-
quantitativo, ele finda usurpando
lo fielmente? Alguns podem
sua vastidão, sua elaboração e sua
recorrer à Física para tentar
singularidade como categoria
explicar tal indagação, ainda que
complexa, transversal e cheia de
a dúvida persista. Soma-se a isso
sentidos fundados nas mais

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profundas vísceras sociais. Os No alvorecer das civilizações, as


instrumentos de medição do discussões, enigmas e debates
tempo comprimem sua infinidade gerados em torno do tempo
de significados e sua própria sempre estiveram dissolvidos na
construção, assim como os malha social por meio das eras,
substantivos que reduzem o que mesmo que com outros trajes e
há no mundo linguístico. significados. Possivelmente, a
recorrência de eventos e as
O tempo ainda detém um posto
transformações geradas no
soberano sobre nossas vidas que
sujeito e no ambiente sejam suas
independe da nação, continente,
únicas características
credo, sexo, quiçá universo.
permanentes (Elias, 1998). Não
Todos estão submetidos ao seu
obstante, essa constatação não
domínio, sentindo na pele, no
aplacou as indefinições e dúvidas
rosto e no corpo seus efeitos
que se engendraram no seio da
irrevogáveis e implacáveis. A
humanidade, questões que nunca
ciência ainda busca recursos
foram desfeitas e que perseveram
capazes de frear seu avanço
até hoje. Para os integrantes
impiedoso, mas ele continua
dessas sociedades, o tempo
seguindo seu curso inclemente.
também oferece a oportunidade
Na física moderna, a Teoria Geral
de o homem situar-se diante de
da Relatividade destituiu o
sua própria vida, colocando-o
absolutismo Newtoniano,
dentro de um espaço temporal
todavia, o conhecimento
cujo percurso possui início e fim
científico formulado ainda não
bem definidos (Araújo; Duque,
possui os instrumentos
2012).
necessários para aplacar seus
efeitos sobre o semblante Na atualidade, a sociedade
humano. contemporânea aprofunda e

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acelera seu ritmo com o fim de relógios, pois não havia nada que
alcançar um maior progresso os obrigassem a seguir tais
econômico, de modo a levar seus recursos. No entanto, desde
membros a seguirem esse muito cedo, todos aprendiam
compasso rápido e fugaz em suas quais consequências negativas
vidas (Batista et al., 2013). Essa seriam produzidas caso não os
celeridade foi percebida, de forma seguissem.
mais acentuada, nas grandes
Considerando o contexto
metrópoles, as quais atingiram
anteriormente citado, a pesquisa
um maior crescimento econômico
em questão tenciona analisar a
durante a Revolução Industrial. A
categoria tempo e suas
cadência requerida pelo
transformações na
maquinário industrial promoveu
contemporaneidade, mais
ganhos e avanços à humanidade,
precisamente no sistema
contudo, a relação inicialmente
capitalista de produção,
benéfica tornou-se pesada
aspirando compreender quais
demais ao homem
contribuições os diversos campos
contemporâneo.
de conhecimento, sobretudo o
Paralelamente, o tempo próprio meio social, forneceram
incorporou nos indivíduos a para formular os atuais sentidos,
“disciplina” (Venco, 2012; Elias, representações e características
1998) imprescindível para que o atribuídos à categoria.
desenvolvimento pretendido
Este artigo em questão visa
fosse alcançado. Era necessária a
também refletir, mediante a
existência de sujeitos capazes de
literatura exposta, como o sujeito
seguir normas e comandos
contemporâneo adentrou nesse
sociais, alguns muito sutis, como
campo laboral capitalista, que
aqueles representados pelos

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emprega o seu tempo (recurso da de usufruir plenamente das


ação) para edificar um mundo riquezas geradas pelo seu próprio
melhor, teoricamente para si e trabalho e tempo investido.
para a comunidade, porém, ainda Mesmo entre aqueles que
assim sua pobreza não cessa. Isso conquistaram fortunas
porque o esforço diário de vários inimagináveis, ninguém sabe a
trabalhadores é, muitas vezes, que custo isso foi adquirido, nem
inversamente proporcional à o trabalho/tempo que eles
oferta de um ambiente melhor investiram, e continuam
aos seus familiares e à investindo, para continuar
comunidade. A grande maioria gozando dos bens angariados.
não consegue chegar nem perto

Tempo como bem a ser


investido/consumido

O capitalismo possui uma história caracterizada pela derrocada do


longínqua e, por diversas vezes, Antigo Regime e ascensão da
pouco explorada, relacionada à burguesia ao poder (Costa;
ascensão da classe burguesa. O Almada, 2018).
Antigo Regime, sistema em que
Entretanto, o crescimento do
apenas o clero e a aristocracia
sistema capitalista e sua
detinham o poder do Estado
soberania nem sempre foram
francês, gerou um grande
estáveis. Basta citar diversas
sentimento de insatisfação
crises ao longo do século XX,
popular, que culminou na
como a ocorrida na década de
Revolução Francesa,

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1970 nos países industrializados jornadas de trabalho dignas. Por


– quando prevalecia o modelo conseguinte, a sociedade
taylorista-fordista –, responsável ocidental modificou-se
pela reestruturação produtiva e o severamente para atender às
avanço de um novo modelo ânsias desse sistema. E, mesmo
produtivo (toyotismo) pelo com suas crises, e quase colapso,
mundo. Consequentemente, firmou-se como estrutura
ocorreram mudanças sociais e de hegemônica dotada de preceitos e
grande extensão que viabilizaram condutas bem aclimatadas ao
a instituição de uma sociedade ambiente, com o objetivo de
salarial, com elementos que manter sua perenidade e
culminaram na capilaridade por meio dos séculos.
desregulamentação das leis
De modo análogo, a maneira
trabalhistas e no avanço do
sistemática e sutil com que o
liberalismo econômico, processos
tempo domina as sociedades,
que abalaram os laços sociais,
como categoria social, também é
como atesta Nardi (2006).
fruto de tal sistema (Aquino,
Assim, os grupos que 2003). Desse modo, a categoria
prosperaram em decorrência tempo é fundamental para
desse sistema sempre tiveram a compreender a atual organização
luta de classes como propulsora social, algo edificado socialmente
de intensas transformações no ao longo das eras, especialmente
cerne social (MARX, 2007), algo depois do advento do capitalismo,
que não cessou com o declive da que se afastou da agricultura
aristocracia a partir da Revolução familiar para se ancorar ao
Francesa; pelo contrário, perdura sistema de produção,
até hoje, sobretudo quando se repercutindo de forma mais
trata da busca por condições e notória na vida cotidiana da

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população (Venco, 2012). Desde Em alguns casos, o tempo se


então, o tempo de trabalho apresenta como um recurso
tornou-se dominante e soberano (econômico, moral, político)
(Aquino, 2003; Cardoso, 2009; da ação que pode se configurar
Pietro; Ramos; Callejo, 2008) como um ator-agente. Esse
sobre a atual civilização pode ser escasso, embora nem
Ocidental, deixando todos os sempre seja considerado como
outros tempos sociais à mercê de tal. Em qualquer caso, o
suas necessidades. tempo-recurso disponível
para o agente social pode ser
Nesse sentido, o tempo de
usado de muitas maneiras: em
trabalho surge como algo capaz
alguns casos, é usado ou
de coordenar e deliberar os
investido como se fosse um
tempos de cada sujeito inserido
bem econômico que deve ser
no sistema capitalista de
capitalizado; em outros, é
produção, colocando-se ainda
retratado basicamente como
como algo insubstituível, pois é
um bem que se doa ou se dá a
dele que a grande maioria dos
outro por causa de impulsos
indivíduos retira seu sustento. O
emocionais ou deveres morais;
presente estudo busca, a partir
em outros, é considerado um
desse tempo social específico, ir
bem que deve ser conservado
um pouco mais além, tomando o
para si, para o próprio cuidado
trabalho de Ramos (2008) como
e cultivo; em outros,
aporte teórico para compreender
finalmente, aparece como um
o tempo como recurso e suas
bem para gastar no trato com
nuances no atual contexto
o outro pelo simples prazer da
histórico:
comunicação. (RAMOS, 2008,
p. 110, tradução nossa)

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O autor propõe que o tempo músculos, nervos, energia na


individual é algo passível de ser criação de objetos e bens a favor
compreendido de diversas do capital, recebendo, ao final do
maneiras, principalmente como processo, um salário que, em
um recurso da ação, um bem tese, corresponde ao tempo
consumido em proveito de investido. No domínio das
determinado objetivo e contexto. relações sociais, o tempo coloca-
Sendo assim, as ações carecem de se como algo que pode ser
segundos e minutos para ganhar aplicado na relação com o outro
materialidade no plano real. O sem que haja necessidade
referido estudioso concebeu isso econômica por trás de tal ação,
mediante as verbalizações de seus configurando-se como doação ao
entrevistados, todavia, isso não outro e vice-versa, como nos
deixa de possuir apoio na minutos e horas gastos com a
realidade. O sujeito provê essa família, amigos e pessoas que se
relação trocando seu tempo, ama. Além disso, o referido autor
investindo-o em ações que o propõe que, para além dos planos
consomem em detrimento de já citados, o tempo também é
determinado contexto e despendido a todo momento pela
ambiente, sejam eles econômicos, comunicação, ou seja, uma ação
sociais, ou pela via da que perpassa toda a experiência
comunicação. humana. O tempo torna-se vivido
quando é investido em palavras,
No âmbito laboral, o tempo é
em frases e em discursos que
comumente transmutado em
remontam à experiência do
capital ante o trabalho, e o
sujeito que o percebe, sendo essa
homem, por sua vez, coloca-se
compreensão confeccionada
como sujeito capaz de alimentar
conforme a sociedade que o cerca
essa relação. Ele investe
(Ramos, 2008).

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Logo, a linguagem entraria como entender como tais autores


unidade básica capaz de dar vida à perceberam essa intrínseca
comunicação temporal dentro do relação de “troca” entre sujeito e
grupo, pois é nela que o tempo se seu labor.
expressa, servindo ainda como
Ramos (2008) afirma que existem
instrumento de repasse aos
três verbalizações fundamentais
membros das próximas gerações,
presentes na experiência
isto é, sem ela o conceito de
temporal dos sujeitos, a saber:
tempo jamais chegaria ao
recurso, ambiente e horizonte.
entendimento atual. Entretanto,
Conforme o referido autor, há
citando o pensamento de Elias
inúmeras metáforas, mas essas
(1998), o poder de síntese e
são as três principais. Como
generalização desse símbolo
ambiente, o tempo faz referência
social (tempo) também estaria
ao local onde a ação está
comprometido na ausência de
localizada, lugar composto por
uma comunidade verbal, pois a
uma dualidade que oscila entre
comunicação humana nasce com
calmaria e tensão, entre o que é e
um aparato biológico diminuto, e
aquilo que pode vir a ser. A
a linguagem é seu principal
compreensão de tempo como
instrumento de aprendizagem.
ambiente surge quando o
No estudo em questão, tendo em
indivíduo percebe o curso
vista as diversas mudanças
temporal, ora como bem
ocorridas na contemporaneidade
arquitetado e imbuído de
e a dominância dessa dimensão
certezas, ora como um retrato fiel
temporal do trabalho sobre os
de desconexões e
indivíduos (Pietro; Ramos;
descontinuidades. Na metáfora
Callejo, 2008), enfatiza-se o
em que o tempo aparece como
contexto econômico “tempo
horizonte, ele surge como aquilo
como recurso”, de modo a tentar

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que o sujeito utiliza para apreciar embate entre o querer e o dever


e ponderar suas ações, tendo em incutidos no sujeito
vista as suas experiências. O contemporâneo, tendo em vista a
horizonte do tempo é percebido necessidade de engajamento cada
mediante um passado cristalizado vez maior ao mundo do trabalho,
e imutável, contrapondo-se às mesmo que seus anseios sejam
estimativas de um futuro cada vez outros. Soma-se a isso a inserção
mais incerto e funesto. em um contexto permeado pelo
discurso que posiciona o tempo
Ademais, as metáforas
como bem limitado e raro,
mencionadas são exemplos de
figurando-o, então, como um
crises vivenciadas pelo homem
recurso da ação escasso, algo que
contemporâneo, tendo em vista
nunca está disponível para o
que elas foram extraídas e
sujeito em si, pois está
condensadas por denotarem
regularmente empregado em
experiências temporais comuns à
atividades tecnicistas. Ou seja, ele
língua de um determinado grupo
é visto como algo pouco acessível
pesquisado pelo supracitado
a tarefas que estejam fora do
autor, sendo esses elementos
âmbito profissional.
verbalizados e elencados
Consequentemente, o tempo
mediante a recorrência deles no
dedicado à família, aos amigos, ao
discurso. Ramos (2008) ratifica
próprio lazer é cada vez mais
que esse desequilíbrio/crise surge
esquecido, sendo que para esses
por intermédio da atual
sujeitos, de fato, não há mais
organização e coordenação dos
tempo, pois tudo é sacrificado em
tempos sociais.
nome do trabalho.

Conforme Ramos (2008), a crise


Por exemplo, muitas vezes o
do tempo como recurso se dá pelo
presente é sacrificado visando ao

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desenvolvimento profissional, o não conseguiam se desligar


cargo de gerência, a promoção, o totalmente do trabalho após o
aumento salarial e tantos outros expediente. O resultado
objetivos que, de certa forma, demonstra um número
também assinalam o expressivo, pois assinala que
reconhecimento pessoal e social quase metade da população
que a atividade pode gerar aos entrevistada ainda realiza tarefas
indivíduos. A vida pessoal, por referentes ao trabalho, mesmo
sua vez, é realocada em segundo estando num período,
plano e mediante as sobras desse hipoteticamente, de descanso.
intenso processo. Em suma, tudo
Acerca disso, muitas vezes o
é coordenado – energia,
homem presenteia o capital com
músculos, vida – para que os
sua força física e intelectual
esforços no tempo presente
visando ao reconhecimento
possam, de alguma forma,
pessoal, social, riqueza e tantos
edificar um futuro mais agradável
outros elementos (Bendassolli,
e favorável ao sujeito, contudo, a
2009). Assim, ele renuncia a seu
relação fomentada é
presente para se dedicar ao
probabilística, haja vista que não
trabalho, executando outras
há certezas.
tantas ações com o mesmo fim,
Especificamente, a crescente tendo o seu próprio tempo
dedicação ao ambiente laboral (recurso de ação) como maior
também é vista no contexto bem investido: “quem pode
brasileiro. Campos (2012), ao citar assegurar que o sacrifício do
pesquisa realizada pelo IPEA presente faça sentido e não
(Instituto de Pesquisa Econômica aconteça que alguém acabe se
e Aplicada), apontou que 45,4% arrependendo no outro dia de ter
dos trabalhadores entrevistados feito o hoje de maneira ingênua e

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baixos enganos?” (Ramos, 2008, inseguranças, faz esses sujeitos


p. 115, tradução nossa). Em outras sacrificarem seu presente em prol
palavras, a penitência no presente de um futuro cada vez mais
quase nunca é capaz de produzir indefinido e sombrio. Um futuro,
um futuro melhor. Isso também visualizado por meio do momento
reflete as sucessivas crises no presente, que indica, na maioria
sistema econômico de produção, das vezes, um cenário pouco
colapsos que fazem o modelo animador e embebido de
mudar para atender às novas inexatidão, algo completamente
exigências, mas, em contrário e incompreensível, já
compensação, deteriora as que o homem se dedica
condições de vida humana, paulatinamente mais e mais ao
agravando o processo de trabalho.
desregulamentação trabalhista,
Teoricamente, tamanha
de instabilidade e de
abnegação deveria estruturar um
flexibilização produtiva na
quadro futuro mais auspicioso e
contemporaneidade (Lima;
benéfico a cada um, entretanto,
Barros; Aquino, 2012).
na prática, isso quase nunca
A crise do tempo como horizonte ocorre. Além disso, mesmo
futuro surge nas discussões percebendo que a relação nem
quando muitos homens e sempre é benéfica, o sujeito acha-
mulheres encontram-se perdidos se coagido a mergulhar na
nesse contexto de constantes e atividade, na maioria das vezes,
repentinas mudanças para sobreviver. No engodo de
contaminadas por determinações tais determinações, as queixas
temporais, de modo a provocar são comuns e também assinalam
um abismo de incertezas. Esse certo nível de sofrimento, como
resultado, embora marcado por

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apontou Ramos (2008, p. 115, está submetido, são as


tradução nossa): verbalizações de queixa em que se
aborda a experiência temporal
Queixa-se pela deterioração
como produtora de patologias.
das condições de vida, queixa-
Nessas disfunções geradoras de
se pelo empobrecimento das
sofrimento ao homem
condições de trabalho,
contemporâneo, a crise do tempo
queixa-se pela dissolução do
como recurso e horizonte se faz
espaço comunicativo da
presente. O horizonte entra em
família, queixa-se contra o
desequilíbrio quando denota um
inferno urbano e sua
futuro inebriado, turvo e com
degradação da vida cotidiana,
densas nuvens capazes de
queixa-se frente à indiferença
impossibilitar qualquer
das autoridades públicas e
planificação do futuro,
empregadores frente a estes
contrastando com as ações do
problemas etc.
sujeito que se entrega mais e mais

Assim, para Ramos (2008), a ao trabalho visando a um

dimensão temporal também é resultado contrário. Enquanto

vista como uma enfermidade isso, na metáfora do tempo como

causadora de angústia, ansiedade recurso da ação, o homem

e sofrimento aos sujeitos encontra-se obrigado a doar seu

orientados e regulados por ela. tempo em prol do trabalho, sem

Um exemplo de como as restar recursos (tempo) para

transformações sociais fazer o que deseja ou deve.

constantes do atual momento


Desse modo, conforme tudo que
histórico também são geradoras
já foi exposto, depois de
de incertezas e mal-estar, algo
compreender a categoria tempo
que o homem contemporâneo
como construção social, além de

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perceber também a existência de metrificada e ordenada pelos


diversos tempos sociais distintos ponteiros do relógio.
e sua percepção alçada pela
Nesse ponto, a criação (tempo)
experiência e vivência de cada
torna-se o carrasco do próprio
indivíduo (Cardoso, 2009), o
criador, atuando como um forte
próximo passo será dado a partir
regulador e orientador da conduta
de uma pergunta: qual o preço do
humana (Elias, 1998) com efeitos
seu tempo (recurso da ação)? A
que perduram até hoje. Além
resposta pode oscilar sem nunca
disso, aquilo que antes era
chegarmos a um número exato
incalculável (seu tempo) passa a
para todos os sujeitos
ser comumente medido e
interpelados por ela. Contudo, a
quantificado a fim de que, ao final
atual civilização ocidental, que
do mês, o trabalhador receba sua
floresceu e conquistou seu maior
remuneração. Salienta-se, nesse
apogeu econômico no período
ponto, que a atribuição de valores
pós-Revolução Industrial,
remuneratórios ao tempo é
metamorfoseou-se nesse
relativamente recente, algo que
contexto de turbulentas
surgiu como fruto da própria
mudanças, influenciando o
centralidade que o tempo de
homem por incutir nele uma vida
trabalho ganhou na nossa
cada vez mais pautada,
sociedade.

Objetificação do tempo ou
simplesmente “tempo é
dinheiro”

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Benjamin Franklin, ao ser citado livre de racionalidade. Para Weber


por Max Weber, expõe que o (2009, p. 53) a “auri sacra fames”
“tempo é dinheiro.” (Franklin (a fome de riqueza) sempre
citado por Weber, 2009, p. 48), existiu, e sua ancestralidade
um jargão que ganhou mais remonta ao surgimento das
prestígio e significado na era narrativas sobre o próprio
contemporânea, em um sistema homem. A dita expressão também
que prega o acúmulo de capital pode ser classificada como
como objetivo a ser atingido por sinônimo de condutas egoístas,
seus membros, colocando-o desonestas e avarentas praticadas
ainda como elemento mediador por sociedades onde o capitalismo
de felicidade e bem-estar. Tal ainda não estava plenamente
expressão enfatiza o utilitarismo desenvolvido (sociedades pré-
cada vez mais premente em capitalistas). No que se refere ao
nossas vidas, já que não se pode capitalismo moderno, há um
perder tempo, pois isso significa incentivo ao lucro, de fato, mas de
também perder ou deixar de forma racional e ordenada,
ganhar dinheiro. Esse fato visando ainda a sujeitos capazes
intensifica-se haja vista que o de seguir regras e princípios, o
sistema preconiza a concentração contrário da busca desenfreada
de recursos financeiros como um por “dinheiro/lucro”. Com isso, o
dos objetivos fundamentais, autor visa destacar que certa
forçando o sujeito a utilizar bem “conscienciosidade” muitas
seus segundos, minutos e horas vezes é ignorada pela crítica, fato
da melhor forma possível, que também não a torna menos
evitando qualquer desperdício. nociva, pois o homem continua
prisioneiro do sistema, restando a
Contudo, a acumulação de capital
ele apenas uma pequena cifra do
não chega a ser algo desmedido e
que é investido dia após dia.

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Na Idade Média, a Igreja como tentando justificar sua existência


instituição condenava a usura, por ser algo indispensável ao
uma conduta que aplicava juros comércio. Nesse momento
superiores ao que era estabelecido histórico de conturbados
por lei, com o fim de "aumentar acontecimentos, a riqueza
os lucros”. No final da Idade burguesa aflorava e crescia, e a
Média, o sistema capitalista usura era uma atividade capaz de
começava a florescer, tendo o tornar isso realidade. Por
lucro e o acúmulo de capital como conseguinte, o intolerado (usura)
máximas, colocando ainda o parecia ser algo bastante
trabalho como vocação a ser difundido no comércio medievo:
seguida pelos membros da “Crônicas, histórias e canções
comunidade a fim também de transbordam de parvenus, de
prover a sustentabilidade e homens que partiram do nada, e
perenidade do sistema econômico que, com a usura, o comércio e
que despontava no horizonte. A também o trabalho manual,
usura não era tolerada pelo ascenderam ao cúmulo do poder”
código moral e ético da época, (ROSSIAUD, 1989, p. 106). O ato
assim como também não é de cobrar juros abusivos era uma
admitida hoje, porém, no período prática inexistente, teoricamente,
medievo, a Igreja detinha muito aos olhos da Igreja, uma vez que
poder sobre a vida das pessoas, Deus recriminava tal conduta
fato que intensificava a coerção pelos escritos sagrados. Todavia,
desses discursos. na época, entende-se que o
crescimento econômico
Conforme Weber (2009), os
alcançado pela classe burguesa foi
medievos da escola nominalista
em grande parte viabilizado por
colocaram essa forma de negócio
intermédio da cobrança excessiva
como algo inexorável ao sistema,
de juros, tudo em prol do lucro.

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No capítulo O Espírito do Dessa forma, a necessidade era o


Capitalismo, Weber (2009) nascedouro de tais motivações.
salienta que esse desejo de Tendo em vista o contexto
conseguir mais e mais riqueza contemporâneo, essa linha que
não é algo natural ao homem, divide necessidade e remuneração
inclusive até ilustra com o pode ser bem tênue, mesmo que,
exemplo do sistema de ao final do processo, a carência de
recompensa por tarefas. Nesse algo seja o principal motivo.
modelo, o sujeito ganhava um Então, no começo era preciso
valor para realizar certa função, concentrar-se no lado oposto
logo depois recebia duas vezes desse conjunto, pois o homem
por esse mesmo serviço, porém, tinha que trabalhar mais e mais
mesmo com o acréscimo no saldo para receber a mesma quantia, de
do trabalhador, não era visto modo a aumentar os lucros da
como maior engajamento; podia indústria e, consequentemente, a
ocorrer até mesmo o efeito tornar o sujeito dependente e
oposto: ele começava a diminuir o alienado a esse modelo.
montante de trabalho. Ou seja, o
No entanto, convém ressaltar que
indivíduo não trabalhava mais
essa alternativa não funcionou, e
para ganhar mais, engajava-se ao
nem funciona, em todos os casos,
processo para atender, sobretudo,
pois manter a produção à custa de
suas necessidades, visando
baixos salários é infrutífero e
preservar seu modo de viver. Por
danoso, sobretudo quando os
outro lado, caso suas
meios de produção necessitam de
necessidades fossem de grandes
mão de obra especializada ou
dimensões, a relação que antes
quando os equipamentos são
era indireta poderia ser
onerosos para o proprietário.
diretamente proporcional.
Nesse sentido, a política de baixos

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

salários não era benéfica para a Para Weber (2009), a emergência


produção de forma integral, do “espírito do capitalismo
criando, assim, outro problema moderno” deu-se por intermédio
para o capital. Logo, a sociedade das camadas médias da
precisou forjar e incutir em seus população. A aristocracia e os
membros uma vocação ao antigos nobres, em contrapartida,
trabalho, fazendo-os participaram timidamente ou
experienciarem um sentimento quase nada desse movimento. Os
de dever para com a atividade novos ricos foram exatamente a
(Pietro; Ramos; Callejo, 2008; esfera da população que deu
Bendassolli, 2009), algo que se energia a esse fluxo, que deixou o
deu mediante um laborioso e desejo pelo lucro atravessar suas
extenso processo educativo. reais necessidades sociais, ainda
Weber, o já referido sociólogo que mediante ações ordenadas e
alemão, dilata o campo de visão e sistemáticas. Weber (2009)
aprofunda esses outros elementos afirma que esse processo ainda
que podem estar adjacentes à ocorre e em constante revolução,
ação (trabalhar) do sujeito se comparado ao que substituiu o
perante o processo produtivo no antigo regime.
mundo contemporâneo, sem
No alvorecer desse processo, o
desconsiderar a importância da
homem passou a dedicar-se de
remuneração, mas colocando sua
forma mais integral ao trabalho,
existência fora do âmago das
com o fim de constituir uma vida
discussões ao acrescentar outros
regrada, próspera e abundante
processos pertinentes ao
conforme a aplicação dessa
contexto. Conforme Marx (2006,
atividade, colocando a felicidade
p. 124), o salário “assemelha-se
como propósito final de suas
ao óleo que se aplica a uma roda
ações. Entretanto, é um anseio
para mantê-la em movimento”.

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

perceptivelmente ilógico, tendo evidenciar a contínua entrega do


em vista que é uma atividade homem ao trabalho, em um
desgastante, alienante e árdua, já sistema que promete ao sujeito
que o sujeito sempre buscará uma vida mais confortável,
melhorias contínuas, formando tranquila e próspera, quando, na
um eterno ciclo de realidade, ele desgasta-se no
retroalimentação, como é exposto processo de busca por uma
no seguinte trecho: “E essa seria “melhora de vida/felicidade” que
de fato a única motivação pode nunca chegar. Esse sujeito,
possível, mas ao mesmo tempo muitas vezes, faz uso do tempo
nos diz que, do ponto de vista da como recurso da ação, sacrifica
felicidade pessoal, parece por seu presente por um futuro cada
demais irracional esse tipo de vez mais indefinido e sinistro que
vida em que o homem existe para possui, talvez, como maior
o seu negócio, quando deveria ser certeza a imprevisão. Assim, mais
o contrário” (WEBER, 2009, p. uma vez a crise do tempo como
63). Ou seja, trata-se de uma recurso e horizonte é destacada,
construção social necessária e pois é imposta ao sujeito uma
vital ao sistema, mas que detém entrega cada vez mais acentuada
diversos caminhos que levam o ao mercado, mesmo que nada seja
homem a trabalhar. capaz de lhe assegurar um futuro
mais agradável.
Com base nesses
questionamentos, objetiva-se

Tempo aplicado ao trabalho sob


perspectiva macrossocial

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 83


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

Ao realizar uma macroanálise relacionamento dos valores de


social, Marx (2006) afirma que, troca, sem qualquer relação com
na sociedade burguesa, a as propriedades naturais da
mercadoria é o alicerce de toda mercadoria. Ou seja, a mercadoria
sua riqueza, provida de uma não é nada mais que tempo de
dupla existência manifestada em trabalho agregado, minutos que
valor de uso e troca. O valor de passam a ter um valor à medida
uso tem uma característica mais que são trocados.
qualitativa, fazendo referência às
Os objetos produzidos mediante
propriedades físicas do objeto: “A
esse processo subjugam o sujeito
forma sob a qual a mercadoria é
à produção. O homem se objetifica
um valor de uso confunde-se com
no percurso, finda sendo
sua existência material tangível.”
escravizado por sua própria
(Marx, 2007, p. 50), sendo a
criação, tendo em vista que sua
mercadoria algo estruturado e
“força de trabalho” é propriedade
empregado para atender às
da classe burguesa, a qual
necessidades sociais, todavia, ela
também é dona do produto final
mesma não expressa uma relação
do trabalho. Logo, o sujeito passa
de produção. A relação de
a ser apenas mais um custo
produção é exteriorizada pelo
dentro do processo produtivo,
valor de troca, uma relação
assemelhando-se ao maquinário
quantitativa, simples e uniforme
e às ferramentas usadas na
do tempo de trabalho, pois a
produção fabril.
“troca” é realizada mediante o
trabalho corporificado a elas: “O Para Marx (2006, p. 111), “o
tempo de trabalho é a expressão objeto produzido pelo trabalho, o
quantitativa do trabalho” (Marx, seu produto, opõe-se a ele como
2007, p. 53). A correlação ser estranho, como um poder
realizada surge do

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 84


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

independente do produtor. O cria, mais sem valor e mais


produto do trabalho é o trabalho desprezível se torna; quanto
que se fixou num objeto, que se mais refinado o seu produto,
transformou em coisa física, é a mais desfigurado o
objetificação do trabalho”. Sendo trabalhador; quanto mais
assim, o indivíduo relaciona-se civilizado o produto, mais
com o resultado do seu trabalho desumano o trabalhador;
de forma estranha, em outras quanto mais poderoso o
palavras, alienada, uma vez que trabalho, mais impotente se
não se reconhece no objeto fruto torna o trabalhador; quanto
da sua atividade. A mercadoria mais magnífico e pleno de
toma a vida do próprio inteligência o trabalho, mais o
trabalhador para se fazer trabalhador diminui em
presente no plano material. Vale inteligência e se torna escravo
destacar que essa vida é, melhor da natureza
dizendo, o próprio tempo do
O “mundo dos objetos” descrito
indivíduo empregado
por Marx (2006) evidencia,
progressivamente naquela tarefa.
sobretudo, as consequências
Isto é, o objeto escraviza e aliena,
contraditórias e alheias
à medida que: 1. é fonte de
produzidas pelo trabalho na
trabalho; 2. provê recursos de
criação desses instrumentos. É
subsistência. Acerca dessa
um universo capaz de aprisionar,
alienação do trabalho presente na
obrigar e escravizar seu próprio
economia política, Marx (2006, p.
criador em favor da produção.
113) disserta:
Conforme essa lógica, o homem
Quanto mais o trabalhador equipara-se às máquinas, com
produz, menos tem de movimentos velozes, repetitivos e
consumir; quanto mais valores cronometrados, objetivando

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

possuir mais e mais capital, metas e objetivos designados pelo


mesmo que jamais consiga capital. Desse modo, a distância e
acessar o produto do seu trabalho. as relações estabelecidas entre o
trabalhador e mercadoria
Para Cardoso e Grisci (2012, p.
produzida ganham outros
198), “o processo de
elementos que a distanciam ainda
intensificação do trabalho é
mais de quem os produz. Assim, o
resultado do aperfeiçoamento
sujeito não trabalha para si, mas
tecnológico”, já que o sujeito
para outrem, reforçando o
necessita desenvolver atividades
entendimento da atividade
cada vez mais constantes e
forçosa, compulsória e alheia.
velozes para acompanhar o ritmo
do maquinário industrial. Por Também é verdade que a
outro lado, a mesma tecnologia expressão genuína de liberdade
que aumentou a produção fabril humana habita ações, como o
também possibilitou outras comer, o dormir, o reproduzir,
formas de trabalho, como o aproximando-se dos animais. O
“home office” e outros meios de animal identifica-se
trabalho remoto, dissipando mais completamente com sua
ainda a fina membrana que atividade vital, porque constrói
separa o tempo de trabalho do de habitações, caça para alimentar
não trabalho. Consequentemente, sua fome e modifica apenas
a necessidade de atividades aquilo que é essencial para sua
constantes e em tempo integral subsistência. Contrariamente, o
promove a flexibilização da “homo sapiens” – homem sábio
jornada de trabalho, em que há – altera o meio até quando suas
total liberdade do sujeito para necessidades imediatas estão
começar ou terminar seu satisfeitas. Por conseguinte, o
expediente, contrastando com as trabalho surge, para esse homem

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

sábio, como a única atividade bem como o transforma em força


vital capaz de satisfazer suas de trabalho por almejar criar
necessidades e de prover sua objetos úteis socialmente,
existência física. Sobre isso, é tornando-o alienado ao produto
demasiadamente estranho do seu trabalho.
perceber que tamanha
Alinhando-se ao pensamento de
“racionalidade”, a que construiu
Rousseau (2007), a expansão do
impérios, reinos e nações, seja a
conhecimento humano balanceou
mesma que explora, subjuga e
os males que a partir dele
escraviza sua própria raça.
ganharam vida, assegurou
Para Marx (2006), a vida diversos avanços e criou
produtiva é uma vida genérica, necessidades referentes ao
pois sua existência é formulada e ambiente, carências inexistentes
alterada por outra preexistente. ao homem selvagem e aos
Em outras palavras, a vida próprios animais irracionais.
genérica discorrida por Marx Conforme o autor: “Digo a dor, e
(2006) é dotada de consciência, não a morte; porque jamais o
ações planejadas e livres que animal saberá o que é morrer; e o
visam à criação de instrumentos, reconhecimento da morte e seus
contrapondo-se às ações temores foi uma das primeiras
desordenadas e irracionais aquisições que o homem fez
presentes na vida de outros afastando-se da condição
animais, cuja identificação com animal” (Rousseau, 2007, p. 43).
suas atividades é total, pois são O distanciamento dessa condição
imediatas e atreladas apenas à animal e o progresso científico
sobrevivência deles ou da espécie. acumulado durante as eras
Em relação ao humano, essa possibilitaram uma melhor
outra vida domina o indivíduo, compreensão de si e a

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 87


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

apropriação do espaço; e, por Por conseguinte, a propriedade


intermédio do trabalho, criaram privada seria o produto do
um novo mundo, reunindo novas trabalho alienado, que é
necessidades incutidas ao sistema indiferente ao sujeito, pois não
e a cada sujeito que faz parte dele. pertence a quem produz, mas a
outro homem: “Só o homem, e
Primeiro, o trabalho firma-se
não os deuses ou a natureza, é
como ação edificadora de objetos,
que pode ser este poder estranho
indiferentes ao ser que o fabrica,
sobre os homens” (Marx, 2006, p.
capazes de dominar e comandar
119). A alienação ocorre quando o
quem os constitui. Por
trabalhador cria objetos/ “mundo
conseguinte, o homem conecta-
de objetos”, mas a criação não lhe
se ao trabalho como atividade e o
confere a posse, tornando a coisa
faz meio e objetivo de vida, sendo
construída uma mercadoria. Esses
ainda compreendido pelo
objetos necessitam de atividade
indivíduo como sinônimo de
organizada e consciente, com
omissão, sofrimento, desgaste
ações que carecem de horas e
mental e físico: “E o que será a
minutos da vida de cada sujeito
vida senão atividade?” (Marx,
escravizado por ela para se fazer
2006, p. 115). Por fim, o autor
presente no mundo: “O trabalho é
ressalta a vida genérica, alterada
vida, e se a vida não for todos os
e disforme que foge da vida
dias permutada por alimento,
natural da espécie humana, algo
depressa sofre danos e morre”
que foi forjado por intermédio
(Marx, 2007, p. 76).
desse processo na produção. A
vida ordenada e embebida de Processualmente, o valor dos
consciência gerada pela alienação objetos também é alterado
é, portanto, genérica, por isso não mediante a alienação, pois o valor
é natural e livre de identificação. de uso deixa de ser particular, de

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 88


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

modo a transformar-se em investido. Ramos (2008), sob uma


trabalho útil social; logo, adquire perspectiva mais imanente,
valor de troca. Ao alienar-se, a manifesta suas ideias no campo
mercadoria assume o valor de da linguagem ao salientar que a
troca nas relações sociais, tendo permuta entre sujeito e sua
um tempo de trabalho geral atividade econômica é apenas um
corporificado aos objetos, dos vários planos em que ela pode
enquanto a mercadoria, em seu ser doada, oferecida ou concedida
modo primitivo de existência a outrem, colocando o tempo
(valor de uso), possui o tempo como um instrumento/recurso da
individual como instrumento ação utilizado nos mais variados
criador (Marx, 2006). contextos. Weber (2009), por sua
vez, resgata certa
Marx (2007) teoriza esse
“conscienciosidade” presente
sucessivo escambo entre sujeito e
nessa “busca por lucro” incutida
sua atividade em diversos
no sistema capitalista
escritos, porém toma como base
contemporâneo, elemento que
outra via de apropriação mais
muitas vezes é desconsiderado
tangível e perceptível, porque, se
pela crítica.
o sujeito é capaz de criar um
objeto em determinado tempo, as Ao analisar os três autores,
horas e os minutos empregados evidenciam-se os efeitos nocivos
estariam diretamente para a vida do indivíduo que se
relacionados ao tempo de faz instrumento do sistema de
trabalho geral atribuído à produção capitalista
mercadoria no final do processo contemporâneo. É perverso
produtivo. Em outras palavras, o demais pensar que é por
valor adquirido pela mercadoria intermédio do homem que o
reside no tempo de trabalho sistema consome, degrada e

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 89


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

adoece seu principal instrumento pessoais, colocadas muitas vezes


de exploração: o próprio homem, em segundo plano. Tal conjuntura
sua fonte de riqueza. Talvez, a nos leva a pensar como os
melhor metáfora que se indivíduos podem se apoderar
assemelhe ao tempo trabalho seja desse mesmo tempo e revertê-lo,
aquela atribuída ao titã Cronos na de forma a atender as suas
mitologia grega, o deus do tempo necessidades de subsistência sem
que tudo consome de forma deixar de lado a qualidade de vida
impiedosa, assim como o trabalho e as relações pessoais tão
que devora/transforma para necessárias à vida em sociedade.
atender determinadas exigências Nesse sentido, explorar formas
do sistema de produção. mais saudáveis de conversão do
tempo do indivíduo é
Em contrapartida, o homem
extremamente essencial – citá-
contemporâneo não está
las aqui demandaria um caminho
habituado ao ócio ou dificilmente
que este trabalho não objetiva,
lhe é permitido desacelerar o
contudo há possibilidade em
ritmo, para valorizar as relações
produções futuras.

Considerações finais

O mundo metamorfoseou-se ao acompanhar o ritmo e as ânsias


longo dos milênios. O homem de seus membros por meio do
também mudou, especialmente trabalho, atividade capaz de
quando almejou expandir seu transformar esse desejo em
domínio sobre a natureza. O corpo realidade por atuar na natureza
social cresceu tencionando para facilitar a vida e ampliar a

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

dominância do homem sobre a investido/transferido a cada


Terra. Essa mesma atividade objeto ali presente, criado para
construiu vilas, cidades, impérios satisfazer as necessidades sociais,
e nações, ao passo que o sistema porém, as urgências/carências
criou mecanismos de incutir no que se projetam no mundo, em
homem uma abnegação cada vez pleno século XXI, são
maior ao trabalho, visto que seu inimagináveis e insaciáveis. Em
uso era inelutável e essencial. outras palavras, a mercadoria
Nesse sentido, o tempo torna-se produzida pelo capital é o alicerce
circunvizinho de tais que edificou toda a riqueza
determinações, pois o sujeito que burguesa, sendo difícil imaginar
dá vida ao sistema é o mesmo que seu contentamento.
abastece com seu tempo – um
No modo de produção capitalista,
meio pelo qual a atividade ganha
os tempos de trabalhos são
existência – as relações
intensificados e seguem galgando
produtivas que edificam a
mais e mais espaço na vida
sociedade contemporânea.
contemporânea. Esse sistema
Como consequência, os vocifera falácias e inculca no
infortúnios e as disfunções que sujeito a renúncia necessária para
afetam a qualidade de vida que os períodos dedicados ao
nascem da sujeição ao capital, trabalho sejam sempre
consumindo escolhas/tempo e hegemônicos e perenes. O
autonomias individuais em homem, muitas vezes, opera
detrimento da produção e do provendo essa composição com
lucro. As mercadorias desse seu próprio tempo, postergando
modelo econômico ganham momentos com a família, os
contornos e delineamentos por amigos, os filhos e a comunidade
intermédio do tempo em geral. Quando obtém o lugar

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 91


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

desejado na cadeia produtiva, a por meio da criação de um


velhice chega impiedosa e brutal ambiente propício apenas ao
visando reaver o tempo amor-próprio, ao individualismo
perdido/investido. e à competição que dele aflorava
ao utilizar tais elementos como
Na outra extremidade, um grande
instrumentos cruciais na
segmento da população não
construção do novo sistema que
consegue sequer conquistar o
amadurecia no horizonte. Antes
emprego pretendido, tampouco
disso, a Igreja medieval
um local menos precário na
beneficiou o capital aspirando
produção, uma vez que o trabalho
doutrinar sujeitos. Mais tarde, as
se coloca como meio de
entidades de ensino herdaram
sobrevivência. Nos dois extremos
essa visão uma vez que
e naquele interstício que
instigavam nos trabalhadores
resguarda as características
uma dedicação maior à produção,
desses segmentos, todos se
insuflando um homem
submetem ao avanço da
disciplinado e autorregulado que
terceirização, à
serviria de instrumento capaz de
desregulamentação trabalhista,
sustentar as relações de produção
ao empobrecimento das relações
tão necessárias ao capitalismo
sociais e à perda de diversos
contemporâneo.
direitos duramente conquistados
que desvanecem como fumaça no Nesse sentido, o trabalho é uma
limiar. atividade prescrita mediante
moldes imperceptíveis, que estão
O sistema capitalista dissipou a
dispersos na malha social desde
consciência de “bem comum” e a
muito cedo, tendo a participação
noção de comunidade diante dos
da escola como instituição crucial
interesses individuais e
nesse processo, de modo a
particulares (Comparato, 2011),

REVISTA DE PSICOLOGIA DA UNESP, 19 (2), 2020 92


A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

transformar homens em vassalos, Também é verdade que o


submissos ao trabalho. Esses trabalho, como ação
sujeitos convertem suas ações em transformadora do ambiente,
objetos sociais que exigem tempo promoveu domínio, comodidade,
para lograr existência no plano recursos e tecnologias, de modo a
material. atuar na subjetivação de outros
tantos indivíduos submetidos a
Dessa forma, o trabalho retira
ele. Os resultados foram
tempo daquilo que não é lucrativo
desfrutados pelo homem e outras
e o doa ao capital. Todavia, esse
tantas sociedades capazes de
trabalho célere, intenso e
promover a soberania sobre o
disforme não é capaz de
globo e salvaguardar a espécie.
arquitetar um futuro condizente
Apesar disso, essa relação torna-
com tamanha abnegação, visto
se injusta quando o tempo
que a instabilidade presente nas
dedicado ao trabalho é
atuais relações trabalhistas
desproporcional e alheio às suas
acentua e incide seus efeitos
vontades; quando o criador é
sobre os sujeitos que delas
subjugado pela criação, que clama
dependem, exacerbando suas
sempre por mais
consequências disruptivas e
sacrifício/tempo. Esse homem
nocivas à vida individual e
coloca a produção, o lucro, o
coletiva, esfacelando, ainda, os
próprio capital à frente de si e da
laços e a coesão social. Contudo,
comunidade onde vive, visando
mesmo com uma infinidade de
ascensão social e fortunas
efeitos deletérios, a população
inimagináveis que talvez nunca
continua outorgando sua
aflorem em sua vida. O sujeito
liberdade, suas escolhas, seu lazer
culmina colhendo o egoísmo, o
e sua família em prol do trabalho.
individualismo, a competição
semeada pelo sistema, e ela o

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A SUBMISSÃO DO HOMEM À MERCANTILIZAÇÃO DO TEMPO

constitui como homem contemporâneo.

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Recebido em: 08/08/2020


Aprovado em: 19/12/2020

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