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EDITORA

SOLAR
PUC
Uma cidade em questão I
Grandjean de Montígny e o Rio de Janeiro
Uma cidade em questão I
Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro
PUC
Reitor
Pe. Jesus Hortal Sánchez, S J .

Vice-Reitor
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.

Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos


Prof. José Ricardo B e r g m a n n

Vice-Reitor para Assuntos Administrativos


Prof. Luiz Carlos Scavarda do C a r m o

Vice-Reitor para Assuntos Comunitários


Prof. A u g u s t o S a m p a i o

Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento


Pe. Francisco Ivern, S.J.

Decanos
P r o f Maria Clara Lucchetti B i n g e m e r (CTCH)
P r o f Luiz Roberto A . Cunha (CCS)
Prof. Reinaldo Calixto de C a m p o s (CTC)
Prof. Francisco de Paula A m a r a n t e Neto (CCBM)
Uma cidade em questão I
Grandjean de Montígny e o Rio de Janeiro
Realização do Departamento de Artes da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

PUC
«S»
CIF-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de

P859c Uma cidade em questão I: Grandjean de Montigny e o Rio de


Janeiro/realização do Departamento de Artes da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. - Rio de Janeiro: PUC : FUNARTE : Fundação
Roberto Marinho, 1979.
Catálogo da exposição a ser realizada no Solar Grandjean de Montigny.

Cronologia
1. Arquitetura - Rio de Janeiro (Cidade)
- Século 19 - Catálogos
2. Montigny, Grandjean de, 1776-1850
3. Urbanismo - Rio de Janeiro (Cidade) - Século 19 - Catálogos I.
Títutlo ll.Título: Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro CDD - 927.2
710.981541
720.981541
C D U - 71/72(815.41)
"18" (085)
92Montigny
79-0730
Agradecemos a colaboração de:

Archives Nationales, Paris


Arquivo Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Bibliothèque Nationale, Paris
Consulat General de France, Rio de Janeiro
Departamento de História, PUC-Rio
Divisão de Intercâmbio e Edições, PUC-Rio
École des Beaux-Arts, Paris
Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya
Institui de France
Ministère des Affaires Étrangères, Paris
Museu da Cidade, Rio de Janeiro
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
Museu Imperial de Petrópolis
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Alcides de Rocha Miranda


Almir Paredes da Cunha
Aloísio Magalhães
Augusto de SilvaTelles
Cecília Duprat de Britto
Cely de Souza Soares Pereira
Clariva! do Prado Valladares
Edson Motta
Francesco Del Brenna
Gilberto Ferrez
João Conrado Niemeyer de Lavõr
Lourenço Lacombe
Madame Labat
Margarida Barbosa Guimarães
Maria de Lourdes Parreiras Horta Barreto
Mário Barata
Marly V.W. de França
Neyde Gomes de Oliveira
Pascal Monod
Paulo Geyer
Pedro Martins Caldas Xexéo
Rafael Vieira Souto
0 Ç - 0 ^ ^

Direção Geral Irmã Arestizabal


Projeto e Coordenação Giovanna Rosso Del Brenna
Coordenadora Assistente SusaneWorcman
Pesquisa Giovanna Rosso Del Brenna
Alfredo Galvão
SusaneWorcman
Fotografias José Góes
Mana Cristina Ferrão
Hcnri Stahl
Almiro Teixeira Aragão
Traduções SusaneWorcman
Sérgio Canetti
Planejamento Gráfico
Direção Joana Bielschowsky
Desenvolvimento e Patrícia GaMiez de Salles
Produção Sílvia Lima Negreiros

©Editora PUC-Rio
Rua Marquês de S.Vicente, 225
Projeto Comunicar - Casa Editora
Gávea - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22453-900
Telefax: (21)3527-1760/1838
Site: www.puc-rio.br/editorapucrio
E-mail: edpucrio@puc-rio.br

Conselho Editorial
Augusto Sampaio, César Romero Jacob, José Ricardo Bergmann,
Maria Clara Lucchetti Bingemer, Fernando Sá, Luiz Roberto A. Cunha,
Reínaldo Calixto de Campos, Miguel Pereira.

Revisão
Débora de Castro Barros
Gilberto Scheid

Editoração eletrônica
José Antônio de Oliveira

Todos os direitos reservados. Nenhuma pane desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou
mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
Sumário

Prefácio 9
Apresentação • Irmã Sylvia Arestizabal 13
Intenções de uma exposição • Giovanna Rosso dei Brenna 1?
Da colonização à Europa possível, as dimensões da contradição • Afonso Carlos Marques dos Santos 25
Grandjean de Montigny, a Missão Francesa e o Rio de Janeiro pela imprensa • Susane Worcman 41
Grandjean de Montigny, urbanista" Robert Coustet 71
A casa de Grandjean de Montigny na Gávea • Mário H. G. Torres 81
Fontes documentais para pesquisas sobre o arquiteto Grandjean de Montigny • Donato Mello Júnior 115
A cidade 1-37

0 arquiteto:
Formação 185
Projetos europeus 205
Projetos no Rio 231
Cronologia 251
Documentos 267
Em 1980, quando o livro/catálogo Uma cidade em questão I: Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro foi
lançado por ocasião da inauguração do Solar Grandjean de Montigny como Centro Cultural da PUC-Rio, já era
possível antever que essa publicação, realizada a partir de pesquisas históricas e arquitetônicas por u m grupo de
professores, arquitetos e pesquisadores desta Universidade e de outras instituições, se tornaria bibliografia obri-
gatória e importante fonte de pesquisa iconográfica para todos aqueles que estudam a cidade do Rio de Janeiro
no século X I X .

O crescente interesse nos estudos sobre a nossa cidade, em todos os seus aspectos, comprovou a necessidade
da reimpressão dessa publicação esgotada há mais de 10 anos e constantemente consultada - a primeira do gêne-
ro a abordar especificamente e de modo abragente a vida e a obra do arquiteto Auguste Henri Victor Grandjean
de Montigny (Paris, 1776 - Rio de Janeiro, 1850), seus trabalhos e projetos europeus, as construções realizadas e
os projetos para o Rio de Janeiro, a Missão Artística Francesa e o ensino na Academia de Belas Artes, além de
importantes fontes documentais.

Para preservar a integridade da obra, foi mantida toda a estrutura original - textos, imagens, documentos
- respeitando-se as diversas autorias, com algumas atualizações no projeto gráfico.

Agradecemos ao Vice Reitor para Assuntos Comunitários, Prof. Augusto Sampaio p o r seu empenho em
tornar possível a reimpressão dessa publicação, evidenciando sobretudo a conscientização da Universidade na
preservação e conservação de u m dos mais importantes monumentos arquitetônicos e históricos dessa época.

A Eloisa de Macedo Soares, Prof. Irmã Arestizbal, P r o P . Giovanna Rosso Del Brenna, Prof. 3 Suzane W o r c -
m
a n , Prof. Fernando Sá e equipe da Editora PUC-Rio, Rita de Cássia V. de M a t t o s , Denise Silva de Moraes e
equipe do Solar Grandjean de Montigny pela inestimável colaboração e dedicação.

Piedade Epstem Grinberg


Diretora do Solar Grandjean de Montigny
Centro Cultural PUC-Rio
<£ Em o navio Ametieano Celplie, chegarSo do
Havre de Grace a este porto as pessoas abaixo no-
meadas ( a mór parte das qoaes são Artistas de
profissão ) e que vem residir nesta Capital.
Joaquim Le Brelon, Secretario perpetuo d&
classe das Bellas Artes do Instituto Real de Fran-
ça , Cavalleiro da Legião de Honra.
Tannay , Pintor, Membro do mesmo Institu-
to , trazendo sua mulher e y filhos.
Taunay , Escultor , e traz comsigo hum
aprendiz.
Debret, Pintor de historia e decoração.
Grandjean fie Aiotuigny , Architecio, traz
sua mulher, 4 filhas, 2 discípulos , e hum criado.
Pradier , Gravador em pintura e miniatura,
trazendo sua mulher , numa criança , e huma
criada.
Ovide, Maquinista, trazendo em sua compa-
nhia bum Serralheiro com seu filho, e hum Car-
pinteiro de Carros.
Nsutbomm, Compositor de Musica, excellen-
re Organista e Pianista , e o mais distinto discí-
pulo do celebre Haydn.
Joio Bapihta íevel, Empreiteiro de obras
de ferraria.
fflmldo Maghue Euout, Official Serralheiro.
Pilite, Çurrador de pelles, e Curtidor.
Fabte, o mesmo.
L,ui% Joíé Roy, Carpinteiro de Cartos.
Hyfoüte Roy, Filho do antecedente, e do
mesmo mister.,.
"Mas, senhores, a arte de um povo não resulta da vontade de um grupo,
nem da tentativa de uma escola."
Gonzaga Duque
Apresentação

Irma Sylvia Arestizabal


"A morte, que não poupa n e n h u m ser v i v o , surpreende t a m b é m as obras de arte. É
necessário saber reconhecer entre os t e s t e m u n h o s d o passado, e discriminar
aqueles que são vivos." Carta de Atenas.
Desde o início, na América Latina, vêm ocorrendo a simbiose e superposição de culturas, o transplante abrup-
to, a defasagem cronológica, a adaptação mais ou menos lenta às idéias importadas, as soluções novas plenas de
espontânea inventiva.
No século XIX, o academismo enxertado, o neoclassicismo, o ferro, a industrialização, os "estilos" são trazi-
dos quase contemporaneamente. Não existe um processo de formação, nem raízes que os sustentem, as novas
rormas de expressão são bruscamente implantadas na realidade do trópico, da meseta, do pampa ou dos Andes.
Todos esses fatores criam em menor ou maior grau nossas características. Somos todos países com menos anos
de civilização que o Oriente e a Europa, todos com uma história dividida em duas etapas que se opÓem mas
também se confundem: a do índio nascido aqui, a do colonizador e a do crioulo, que é tão real quanto a anterior,
as quais se somam outras culturas, como a negra, e depois a das imigrações no século XIX. O latino-americano
e um ser conquistado, reconquistado, colonizado e neocolonizado (Eni Bartra), e sobretudo jovem. E é por essa
juventude que nos caracteriza, por essa indefinição e falta de introspecção, que devemos conscientizar-nos da
capital importância do produto dessas diferentes tradições e realidades: dos nossos "bens culturais" que dão
a cada um de nós a nossa individualidade. O Rio de Janeiro está sofrendo, está crescendo com características
antropofágicas" muito negativas; em prol da "transformação urbana" se destroem a natureza, a geografia, a his-
toria, trazendo conseqüências desastrosas à qualidade do meio ambiente e à conservação do nosso patrimônio
cultural.
E indispensável pensar muito antes de destruir, antes de negar documentos, demolir prédios ou acabar com
a natureza. E nosso dever, uma vez estudadas as características dos prédios antigos e as suas possibilidades de
utilização, integrá-los dentro do contexto urbano contemporâneo. A reciclagem fá-los adquirir uma nova im-
portância, e aqueles que, no momento da criação, como o caso do nosso solar, eram totalmente alheios ao local,
vao adquirindo pouco a pouco características que o integram cada vez mais ao meio, carregados de contribuições
nativas.
Este será o caso do Solar de Grandjean de Montigny, o qual - restaurado e recuperado graças ao interesse,
estorçQ e ajuda da Funarte, da Fundação Roberto Marinho e do Patrimônio Nacional - abre hoje suas portas
pata integrar-se na comunidade como mais um organismo vivo e ativo.
Conscientes de que não vale restaurar um monumento sem lhe atribuir uma função específica, e que um dos
atores que contribuem decisivamente para a preservação do patrimônio monumental é a sua efetiva utilização,
01
criado um programa para o Solar Grandjean de Montigny. O mesmo estará aberto para a consulta dos arqui-
°s de arquitetura e desenho no Rio de janeiro e de pintura contemporânea brasileira, que ali se encontrarão.
As visitas, as exposições, a assistência aos eventos, o programa de atividades criativas, o atelier de gravura, os
tabalhos do escritório de programação visual e a reunião periódica dos componentes dos centros de alunos do
apartamento e os grupos de pesquisa de professores e alunos farão dele um organismo vivo e atuante no campus
n
a comunidade. Consideramos que, com a presença das práticas culturais mais diversificadas, se conseguirá
m
a maior e mais viva integração do interesse intelectual pela obra do passado, que assim se torna cada vez
mais contemporânea. No Solar de Grandjean de Montigny compreendemos hoje o neoclassicismo, a arquitetura
espontânea, as técnicas construtivas nativas, a arquitetura das fazendas e a realidade contemporânea. É nossa
proposta criar no seu espaço novas formas de exposição, de maneira que a relação dos indivíduos com a obra
artística seja menos sacralizada, porém mais viva e rica culturalmente; equilibrando exposição com produção,
documentação com informação, o solar deverá transformar-se em um autêntico centro cultural (Luís Otávio de
Lima Camargo).
Por ser o solar a antiga residência de Grandjean de Montigny, e sendo este umafigurade capital importância
para a compreensão do desenvolvimento da arquitetura brasileira, inauguramos o solar com a primeira de uma
série de futuras exposições que pretendemos oferecer sobre o tema "Uma Cidade em Questão". A idéia da ex-
posição sobre Grandjean nasceu com os primeiros trabalhos em prol da reciclagem do prédio, e começou a con-
cretizar-se com a pesquisa realizada para o Patrimônio do Estado sobre o neoclássico no Rio de Janeiro e com
a realização do projeto de recuperação para ser apresentado ao Iphan para aprovação do programa das cidades
históricas. Conscientes de que só o trabalho de equipe e o apoio dos estudiosos do tema permitem concluir e
avançar nos estudos, consultamos especialistas que nos auxiliaram com seu conhecimento e sua compreensão,
tais como Clarival do Prado Valladares, Gilberto Ferrez e Mário Barata. Conseguimos também a contribuição
de outros que, como Alfredo Galvão, Donato de Mello Júnior, Mário Torres e Robert Coustet, tantos trabalhos
já dedicaram a Grandjean e à arquitetura do século XIX.
As dúvidas que surgirem, o caráter polêmico e contestatório mesmo da exposição, as diferentes posições
dos estudiosos - notáveis em uma primeira leitura de texto do catálogo - deverão fazer dela o que deve ser uma
mostra universitária: não uma amostragem, mas um incentivo à pesquisa, à contestação, à pergunta, ao desejo
de saber.

"Não acredito que os bárbaros tenham-se preocupado em destruir todos os grandes


edifícios espalhados pelo mundo romano. A idéia de conservá-los é que nunca
passou por suas cabeças'' Kenneth Clark
Intenções de uma exposição

Giovanna Rosso Del Brenna


Como propõe o título - "Uma Cidade em Questão", esta exposição quer ser acima de tudo um convite
à reflexão e ao questionamento da nossa realidade urbana. Isto é, nosso objetivo não é somente expor os
resultados de uma pesquisa sobre um capítulo fundamental da história arquitetônica e urbanística do Rio de
Janeiro - a atividade do arquiteto da "Missão" Francesa, Grandjean de Montigny -, mas também utilizar esses
resultados como ponto de partida para uma discussão mais ampla, para a qual tentaremos estabelecer algumas
diretrizes.
E preciso afirmar desde já que nosso projeto inicial, provavelmente ambicioso demais, visava incluir, além
do material iconográfico sobre a cidade e dos desenhos e projetos de Grandjean, objetos de uso, roupas, móveis
e material iconográfico sobre a vida cotidiana do Rio na primeira metade do século XIX. Dessa maneira, a
apreciação da arquitetura e do urbanismo introduzidos no Rio pela "Missão" francesa seria colocada no interior
de um contexto mais amplo, estendendo ao âmbito do costume e da cultura material o problema da importação
de modelos culturais.
No curso do trabalho, porém, o projeto inicial foi notavelmente reduzido, por várias razões, de natureza
principalmente técnica e econômica. Assim mesmo, tentamos manter o caráter aberto de nossa proposta, tanto
na organização do material que constitui a exposição quanto na dos artigos que compõem o presente catálogo,
em que a presença de contribuições como a do historiador Afonso Carlos Marques dos Santos e de Susane
Worcman, ao lado de contribuições estritamente especialistas, como as de Robert Coustet, Mário Torres e
Donato Mello Júnior, ilustra a nossa convicção de que só uma abordagem interdisciplinar de um problema pode
levar a um conhecimento do passado que sirva acima de tudo a uma melhor e mais viva compreensão do nosso
presente.
O ponto de partida para a compreensão do episódio da "Missão artística" de 181Ó e das conseqüências da
atividade do seu arquiteto Grandjean de Montigny deve ser a releitura crítica das fontes, principalmente as da
época, geralmente não suficientemente aproveitadas ou intencionalmente marginalizadas pelos estudiosos do
assunto. De fato, a discussão sobre a "Missão" é caracterizada desde o início por um tom de violenta polêmica e por
um clima de facciosismo acirrado que desviou logo o discurso, levando à formação de duas facções opostas, pró e
contra a atividade do grupo. Pertencem à primeira os estudos de Morales de Ios Rios' e de Afonso d'Escragnolle
Taunay/ que, apesar de se definir como "julgador imparcial", fala na realidade como porta-voz da própria elite
cultural estabelecida pela "Missão" à qual ele próprio pertence; a segunda não produziu estudos sistemáticos,
ficando limitada, na maioria dos casos, a avaliações rápidas, porém significativas, como o comentário desfavorável
de Pictro Bardi sobre a arquitetura de Grandjean em Introdução à arquitetura}
i Morales de Ios Rios Filho, Adolfo. (irandjeaii de Shmti^iiy e a evoluça» da arte brasileira, líio de j a n e i r o : Empresa A Noite, 1941.
2 Taunay, Afonso d'Kscraj>nolIc, A missão artística de 1816. Rio dejanciro: Publicações da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, n. 18,1956.
3 Bardi, Pictro Maria. A arquitetura brasileira. In: Apêndice a licriévolo, Leonardo. Introdução a arquitetura. São Paulo: Mestre Jou, 1972. p.
262: "Chegada a .Missão Francesa, i]iic passa poi deliciosas peripécias descriríveis s o e m muitas laudas, a expectativa mais intensa em seus
O que nos parece importante, a essa altura, não é evidentemente nos identificarmos com os defensores ou
com os detratores da Missão e de Grandjean, mas procurar entender o porquê das dificuldades que ela encontra em
sua atuação e do clima de intensa polêmica que acompanha o desenvolvimento da sua atividade e sua subseqüente
avaliação. "A grande desconfiança existente contra os estrangeiros, a inveja de alguns, a maldade de outros, a apatia
de muitos, as dificuldades da burocracia, e a precária cultura dos habitantes...", que Morales de los Rios enumera
entre as causas principais das dificuldades encontradas por parte da Academia de Belas Artes para estabelecer uma
educação artística" no País,4 são conseqüências de razões mais profundas; analisá-las significa chegar ao âmago do
problema, que é, mais uma vez, o da importação de modelos culturais alheios.
A polêmica entre os componentes da colônia francesa, em primeiro plano o pintor J. B. Debret e Grandjean
de Montigny, e os artistas e funcionários locais, chefiados pelo pintor português Henrique José da Silva (diretor da
Academia de Belas Artes após a morte do chefe da "Missão" francesa, Lebreton, em 1819), estoura em 1827-1828,
lst
o é, nos primeiros tumultuados anos de abertura da Academia ("quando em 1827 nos matriculamos na Academia
de Belas Artes, já aquela malfadada casa era um caos incompreensível de desordem e ódios recíprocos", escreverá
mais tarde Manoel de Araújo Porto Alegre).5 O ponto de partida é a discussão sobre os estatutos da Academia e os
regulamentos do diretor,* mas a disputa, conduzida através de publicações, opúsculos e principalmente cartas (às
v
ezes anônimas) aos jornais - aqui publicadas por Susane Worcman -, se estende rapidamente: a própria existência
de uma "Missão" contratada pelo governo é posta em dúvida,7 e cedo a briga desce ao nível dos ataques pessoais.

resultados era posta, como é fácil imaginar, na arquitetura de Montigny, expoente do neoclassicismo na Europa... os neoclássicos 1
onvencidos de caminhar na linha justa... mas aquele estilo frio e arqueológico, veiado de melancolia, teimoso inquisidor do regular e do
retilineo... não servia para o trópico. No transplante, perdeu suas asas de terceira mão."
4 Morales de [os Rios, Adolfo. Op. cit. p. 150.
5 *-'tado por Taunay, Afonso d'Escragnolle. Op. cit. p. 250.
Ver
a narração detalhada na biografia de J. B. Debret por Taunay (Op. cit. p. 231 e segs.); no capítulo "Malas artes, malogros da missão
tttfetic*", da obra de J. B. de Almeida Prado, Thomaz Ender pintoraustríaco na Corte de D.João VI no Rio de Janeiro (São Paulo: Nacional,
9íS), e na biografia de Debret por Almeida Prado (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 34-45)- Menções às dificuldades
contradas pela instituição nos primeiros anos de funcionamento são também contidas em uma memória inédita de 1838, redigida pelo
lr
etor Félix Emílio Taunay: "Em virtude da Ley oculta que regia o estabelecimento, os alunos amontoavam-se por um tempo indefinido
classe de desenho, nunca passando para as outras; abafava-se no germe a instrução artística, a não haver excepçôes dependentes de
8Uma vontade individual mais enérgica; a instituição esmorecia..." (História da Academia das Belas Artes no Rio de janeiro de 1816 ate'1838
^quivo da Escola Nacional de Belas Artes).
acusação de que os componentes da "Missão" francesa não foram contratados, mas vieram ao Rio por iniciativa própria tentar uma
er
»tura, foi feita pela primeira vez em uma carta anônima ao Diário Fluminense, citada por Taunay (Op. cit. p. 31), em que eles são cha-
s e
" gárrulos impostores, que com mentiras e imposturas procuram elevar-se ao grau iminente, em que não os colocam o talento
gemo. A discussão toda é retomada no livro citado de Escragnolle Taunay, que chega com apaixonadas argumentações à conclusão
P°sta, Na realidade, o exame da documentação por ele produzido - e que contém tantos elementos a favor de uma tese como da outra
e
'a principalmente o caráter extremamente contraditório de toda a operação, evidenciando a falta de um programa cultural defini-
O episódio mais interessante, em relação ao nosso assunto, é sem dúvida a troca de cartas entre Grandjean de
Montigny e o arquiteto Pedro Alexandre Cavroé, protegido de Henrique José da Silva e arquiteto da Casa Imperial
desde 1825 (ver apêndice de documentos). Esquecidas pelo biógrafo de Grandjean, Morales de los Rios - talvez
pelo conteúdo não correspondente à dignidade do seu herói -, as cartas constituem de fato um documento de
importância excepcional para entender o clima de exasperação no qual se desenvolve a luta e a real natureza do
dissídio.
Quando Grandjean acusa Cavroé de ter estudado arquitetura "na oficina de um fabricante de cadeiras
em Lisboa", apresentando em comparação o seu currículo acadêmico e profissional ("Em 1799, aos 22 anos
de idade, alcancei o grande prêmio de Roma onde, na Academia de Vila Mediei, passei seis anos. Voltando
à França, escrevi uma obra sobre arquitetura toscana. Em 1807 fui designado pelo Instituto de França para
dirigir os trabalhos da sala de sessões do Parlamento da Vestfália. Neste país exerci as funções de arquiteto
régio. Publiquei algumas obras sobre os túmulos dos séculos XV e XVI e, afinal, em 1816, fui contratado para o
Brasil"), e Cavroé retruca que ele, por seu lado, foi nomeado "inspetor do edifício da Academia Imperial de Belas
Artes", projetada pelo próprio Grandjean, e que Grandjean só constrói edifícios que "desabam", como a "Bolsa",
ou nos quais "a chuva penetra por todos os lados", como na casa do senhor Oliveira Barbosa, não passando "de
um mero projetista", estamos em presença do choque entre duas mentalidades opostas e irreconciliáveis. De
um lado, o arquiteto francês, convencido de ter recebido a missão de "incrementar as belas-artes no Brasil"
(rependre /es Beaux Arts dans fautre bémtsphère, diz Debret na introdução ao seu Voyage pittoresqué)," orgu
da própria superioridade cultural; do outro, o construtor de origem portuguesa, que tudo avalia em termos de
atuação prática. Para o primeiro, arquitetura é uma arte que se aprende nas academias, tendo como objetivo

do por parte das autoridades c das possibilidades de realizá-lo. Pelos d o c u m e n t o s por ele citados - e infelizmente não reproduzidos na
í n t e g r a - é possível deduzir que a idéia inicial, atribuída W conde da Barca, era a de uma verdadeira importação de tecnologia para o desen-
volvimento da indústria e da agricultura nacional, privilegiando a entrada no País de profissionais e artífices especializados nessas áreas.
T a m b é m se pode concluir que o g r u p o reunido por I.ebreton, ex-secretário do Institui de E rance, estava só em parte de acordo c o m as
intenções dos patrocinadores da iniciativa (veja o ofício de 17 de dezembro de 181c - citado por Taunay ã p . 14 - , cm que o marquês de
Marialva lembra a Lcbrcton que no Brasil "as artes liberais e de luxo deviam ceder a passo às úteis e necessárias ã economia interior do
País"; e o ofício de 28 de janeiro de 1816, d o marquês de Aguiar ao cavalheiro de Brito, encarregado de negócios em Paris, em que se diz
que "alguns dos especialistas indicados por Mr, Lebreton eram de necessidade absoluta, outros menos"). O próprio texto do decreto de
12 de agosto de 181o, que cria a Escola Real de Ciências, Artes c Ofícios, revela m u i t o b e m essa contradição inicial entre o pragmatismo
das intenções do grupo ligado ao conde da Barca - "estabelecer no Brasil uma Escola cm que se promova e difunda a instrução e conhe-
cimentos indispensáveis aos homens destinados nau só aos empregos públicos da administração do Estado, mas t a m b é m ao progresso
da agricultura, mincralogia, indústria e comércio, de que ressalta a subsistência, comodidade e civilização dos povos, m o r m e n t e neste
C o n t i n e n t e ; e a realidade profissional dos estrangeiros beneméritos chegados de Paris, na maioria artistas de formação acadêmica, que
irão ser aproveitados para esse fim".

8 D e b r e t , J e a n Baptiste. Voyagepittoratt/ite ei bistiiriifue au Hmil, ouséjour <fun artistejrancais au Brésil, depuis i8i6jtisij'en i8p indusivement.
Paris; Eirmin Didot frères, 1834-1839.
primário erigir "monumentos" que exaltem grandes temas ideológicos e enalteçam a grandeza das cidades e dos
impérios; para o segundo, arquitetura significa a arte de construir um edifício sólido, que respeite as regras da
funcionalidade e da economia.9
Entre as duas posições, a dos intelectuais idealistas e um tanto megalomaníacos, fiéis aos princípios do
neoclassicismo francês, e a dos artífices locais, herdeiros do pragmatismo da tradição colonial, não existia
possibilidade de relacionamento que não fosse a do desprezo e da incompreensão recíproca. Era inevitável que
um dos dois ganhasse: venceram os franceses, mas foi uma vitória dura e frágil.
Desprovida, por sua própria natureza e pelo nível dos seus representantes, da capacidade de abalizar com
teorias suas posições antiintelectualistas e de fazer delas sua própria bandeira, de construir e de propor uma
alternativa positiva, a oposição local não encontra, de fato, na sua luta outra arma que não a polêmica mesquinha
e
o obstrucionismo, tática para a qual se revela especialmente bem dotado - pelo menos nas narrações dos
apologistas da Missão, onde aparece como o verdadeiro vilão da história - o diretor Henrique José da Silva
weja os incríveis episódios, contatos por Taunay, das chaves do atelier de Debret escondidas por seis meses; das
gueixas dos professores franceses engavetadas por anos; e a própria história do regulamento da Academia, de
sua autoria, que obrigava os candidatos à matrícula nos cursos superiores a uma permanência de três anos nas
aulas de desenho, dadas por ele, paralisando assim as aulas dos professores franceses que estavam esperando para
lecionar há 10 anos).'"
Apesar dos primeiros momentos de nervosismo, os franceses, por outro lado, defendem-se bem, sustentados
pelo orgulho nacional, inabalável, e pela sua arma melhor, a ironia," conseguindo enfim organizar seus esforços
e
m uma verdadeira batalha cultural, que pode ser reconstruída a partir dos documentos (de grande interesse e
ate
hoje não utilizados) ainda existentes no arquivo da Escola Nacional de Belas Artes, a maior parte dos quais

" v ^r também, como exemplo da mentalidade do ambienre local, a carta publicada no jornal O Cronista em 10 de maio de 1838, em que
u
"i leitor anônimo critica as reformas do Colégio Pedro II feitas por Grandjean, que, "longe de procurar conciliar a beleza, e segurança do
edifíci( com o fim a que se destinava, c sobretudo com a necessária economia, queria multiplicar enfeiti
mu
'to, por um palácio de riquíssimo príncipe...".
0
1 aunay, Afonso d'Escragnolle, Op. cit. p. 233 e segs.
Nem Debret, geralmente muito equilibrado e objetivo, perfeito exemplo de mentalidade iluminista, renuncia a fazer observações
°nicas quando se trata de comparar a cultura dos artistas franceses com a dos artistas locais (como na ocasião da ereção dos Arcos de
Wnfo para a chegada da imperatriz Leopoldina. Op.cit., III, p. 191). E valem para todos, em matéria de ironia, as observações de um ou-
0
P'ntor francês residente do Rio, Armand Julien Pallière, sobre a arquitetura local: "UescalierRoyal- (da Fazenda Real de Santa Cruz)
aans uncoin de Iamaison. Je dis maison carc'estplutôtunemaison <kpari'/•tuStr i/iúi»pidais. Onnesedoutequec'estunpalahqu'àlagrand
Pièces, <?ue sont enfillés /es unes aux autres sans aucune comoditepour le service. La grande maison de Santa Crttz est un cbef doeuvre de der
Pour,icbever Céloge de cette heureuse conception, ce grand momument est prive de tout ce quipeut être appreciab/epour un pays cbaud, de g
biencomPom et remplis darbres sous lequels onpeutgouter lefrais malgré le chaleur,... en ayant demande pourquoi à Yimmitation dei autres
••''" plantempas au long des arbrespour rendre te voyage dans lespays chauds moinpenibh, celui a quijeposais cette observatíon me répond
,oral il
' "'y a des arbres que oú Dieu on a vou/u qu'ilen aif (citado em Almeida Prado. Op. cit. p. 41-42).
referentes ao período de 1833 31852," pacientemente copiados pelo professor Alfredo Galvão. O objetivo da longa
luta - conduzida com coerência e tenacidade por Félix Emílio Taunay, novo diretor da Academia após a morte
de Henrique José da Silva em 1834 e amigo íntimo de Grandjean de Montigny" - é romper o isolamento no qual a
instituição se encontra desde a sua fundação, conquistando para ela o papel de guia e orientadora reconhecida da
vida artística da cidade e, principalmente, do seu desenvolvimento arquitetônico e urbanístico. Entre os inúmeros
requerimentos à Câmara dos Deputados e aos ministros e secretários de Estado dos Negócios do Império que
documentam a sua ação, os mais interessantes nesse sentido são os pedidos para que a Academia se torne um órgão
de consulta imprescindível em todas as ocasiões em que fossem levantados edifícios e monumentos públicos, e os
requerimentos para que fossem encontradas colocações profissionais para os alunos como inspetores das obras
públicas e similares.'4 Mas o verdadeiro símbolo de toda a batalha é a história interminável da abertura da pracinha

ii Do arquivo da Escola de Belas Artes. Cópias dos ofícios, cartas e respostas desde o dia 12 de março de 1833 até 28 de agosto de 1843,
pelo professor Alfredo Galvão; cópias do Livro 2C da Academia Imperial de Belas Artes. Ofícios, entradas e saídas de 1843 a 1852. Ma-

13 Félix Emílio Taunay era filho do pintor Nicolau Antônio Taunay, que voltou à França cm 1821. A sua eleição a diretor da Academia
- como ele próprio conta no necrológio do amigo aqui publicado (documentos) - foi devida a Grandjean de Montigny, que renunciou ao
cargo em seu favor, desviando para ele os votos dos outros professores.
14 Ver, entre os muitos, o requerimento de Taunay em 24 de dezembro de 1836: "Cabe aqui insinuar respeitosamente o grande au-
mento de crédito que resultaria para o Estabelecimento e vantagem geral para a Nação do uso de mandar informar à Academia
sobre todos os planos de obras públicas. A Congregação dos Lentes é aqui autoridade competente para decidir a respeito do caráter
artístico dos monumentos. Não se deve, em tão honrosa missão, suspeitar a sua boa-fé; mesmo no caso de ser obra de um dos profes-
sores o projeto a informar, e, pois que toquei neste ponto, não duvido acrescentar que hão de aparecer muito bons resultados de se
empregarem, como V. Excia. tenciona fazer, os professores de Arquitetura e Escultura nos trabalhos públicos; porque assim acharão
exercício os discípulos deles, e a nação virá a lucrar por todos os lados, no presente pela execução clássica das obras e, no futuro, pelo
adiantamento dos estudantes. E a 'representação' do mesmo em 4 de julho de 184Ó... Exc.mo Sr., em telação às necessidades artísticas
da Nação, isto é, à ereçáo de monumentos, impressão de medalhas, etc. etc. faz-se preciso um centro de educação artística; porém o
que, geralmente c cm princípio, é indubitável, pode-se tornar duvidoso de fato, quando acontece que a Nação, por um lado, despende
com uma academia para a formação de alunos os quais, uma vez formados, não acham emprego por estarem fechadas todas as entradas
das Repartições Artísticas; e por outro lado, despende nas mesmas Repartições com empregados não formados nesse centro de edu-
cação artística nacional. Assim, a despesa feita com a Academia não tem os seus resultados lógicos. 0 serviço nacional sofre, c sofre a
Academia. O serviço nacional sofre: os fatos o comprovam. De um quarto de século para cá, nem um só monumento, que mereça este
nome, se tem levantado, apesar do cabedal consumido em construções, nem um símbolo plástico qualquer que sirva para a glória do
Brasil. A Academia das Belas-Artes solte, experimentando toda a l.mguidez de uma Instituição isolada, sem relação com a Sociedade,
sem utilidade positiva, por conseguinte sem porvir, com professores que o fato de uma inatividade desacredita as vistas dos estudan-
tes. Estes dois interesses, entretanto, seria fácil conciliá-los c satisfazc-los por sua coordenação. No ponto de vista administrativo,
parecem ser verdades incontroverríveis:
1. que nada se pode decidir, com perfeito conhecimento de causa em qualquer ramo do serviço público, senão com informação da Cate-
goria constituída respectiva; c que no caso vertente, nada se pode regularmente empreender a respeito de monumentos etc, sem infor-
mação da única corporação artística existente na (lapiial, da Academia das Belas Artes.
semicircular em frente ao palácio da Academia e da rua transversal até o largo do Rocio, que deviam permitir a
digna inserção do "Monumento" de Grandjean de Montigny na paisagem urbana, realizando dessa maneira a sua
desejada tarefa na vida cultural da cidade.
Prevista desde a época da construção do palácio da Academia (da necessidade da sua abertura já se fala
em uma carta ao "Espelho Diamantino" em 1828), a rua foi enfim aberta em 1846, e a pracinha, praticamente
acabada em 1848 (verfichan° 31). Nesses mesmo anos, uma chuva de encomendas de projetos importantíssimos
" para o monumento comemorativo da chegada da imperatriz Teresa Cristina na Praça Municipal (1844); para a
regularização e ornamentação da mesma praça (1844-1845); para os chafarizes da praça da Benfica e da Rua São
Clemente (1846); para um Palácio Imperial e um Palácio de Senado (1847); para o chafariz do Rocio Pequeno
(1848); e, enfim, para "as edificações das praças da Aclamação, Constituição, S. Francisco de Paula e Rocio da
Cidade Nova" (1849)'' - parece coroar os esforços de Taunay e Grandjean e consagrar o triunfo do neoclassicismo
na arquitetura da cidade.
A morte de Grandjean, um ano após a encomenda dos projetos para as quatro praças, interrompe bruscamente
0
processo. Nos documentos posteriores a 1850, as referências a projetos arquitetônicos e urbanísticos entregues à
classe de arquitetura da Academia vão escasseando até desaparecerem por completo.
Exclusivamente ligado ao tardio prestígio de um homem, e carecendo sempre daquela real adesão do público
que leva à formação de uma verdadeira cultura urbana, o projeto neoclássico para a capital de D. Pedro II não se
2
- que o dinheiro nacional empregado numa Instituição ou Liceu qualquer deve ser quanto possível aproveitado para a melhor execução
ae
certas partes correspondentes do serviço geral, e que, no caso vertente, os Artistas formados ã Custa da Nação devem ser chamados
ao serviço artístico, para seu melhor desempenho.
Apoiadas nas duas proposições precedentes, e invocando somente o que nelas há de rigorosamente lógico, a Congregação lembra o se-
guinte:
• que todo e qualquer projeto de arquitetura civil seja enviado à Academia das Belas Artes servindo mera consultoria de trabalho e obras
Públicas;
2
- que havendo que levantar um monumento importante ou erigir uma estátua se mande abrir um concurso público na Academia para ser
Preterido o melhor esboço, dando-se ao autor deste projeto o trabalho da execução;
3- que havendo que formar-se uma medalha comemorativa de qualquer evento nacional, o Governo de Sua Majestade o Imperador exija
a
Academia três projetos da dita medalha;
4' que para o futuro e sem transtorno dos empregados atuais, toda a renovação e acrescentamento do pessoal artístico nas Repartições
amo declaradas tenha lugar somente em resultado de concursos públicos abertos na Academia de Belas Artes, a saber:
a
repartição de obras públicas os lugares de Ajudante do Inspetor e os de adidos
as obras municipais os de Ajudante do Diretor e os de adidos
a
casa da Moeda os de Abri dor e ajudantes
a Litografia militar os de Desenhadores
35
fcscolasMilitar c de Marinha, Arsenais de Guerra e de Marinha e Colégios de Pedro II, colégios públicos que sç criarem, os de
Pr°fessores de Desenho e Substitutos."
er
, na mesma ordem, asfichasdos desenhos do presente catálogo e os documentos.
realiza. Dele sóficamalguns episódios isolados e cheios de conseqüências para o futuro da cidade, o que podemos
chamar de "complexo do monumento".
Quando Moreira de Azevedo, na sua obra sobre o Rio dejaneiro (1877), inicia as suas queixas sobre a arquitetura
urbana- "Na Europa atraem os paços reais por seu esplendor e luxo a atenção dos viajantes, e entre nós dá-se o nome
de palácio a uma casa antiga, sem beleza, sem gosto, sem arte e sem aspecto... não basta levantar um edifício com
cômodos suficientes para o fim a que é destinado; deve elevar-se um monumento belo, grandioso pelos primores
da arte, e digno do chefe da nação e da própria nação; porque tais construções engrandecem o país aos olhos do
estrangeiro, e quando vê-se cercado de esplendor o poder supremo de uma nação. Respeitam-se mais as instituições
de tal país... etc."'6 -, o mito do monumento, importado pela Missão Francesa e sua conseqüência direta, o desprezo
pela cidade existente já estão solidamente estabelecidos. Para o Rio de Janeiro, isso significará, de um lado, a
destruição da cidade colonial - cuja vocação antimonumental, baseada em valores de singeleza, homogeneidade e
continuidade, permaneceu incompreendida até nossos dias17 -, e, de outro, a fragilidade c a instabilidade das novas
estruturas e das novas aparências, como produto de uma cultura alienada.
Em face do fracasso do plano do urbanismo clássico para a cidade, as realizações parciais das idéias introduzidas
pela Missão resolvem-se, assim, apenas em ações destruidoras. A demolição do morro, a abertura da grande avenida
retilínea, os cortes radicais na estrutura urbana e na paisagem, longe de serem as premissas da cidade monumental
e racional prometida pelos herdeiros do neoclassicismo francês, preparam um novo urbanismo "espontâneo", que
só difere do colonial pelo selvagem caráter especulativo e pelas assustadoras e irreversíveis dimensões.

16 Moreira de Azevedo. O Rio dejaneiro. Rio d e j a n e i r o , 1877 (3. ed. anotada por Elysio de Oliveira Belchior. Rio d e j a n e i r o : Brasiliana,
1969. v. I I , p. 19). Ver t a m b é m os comentários do m e s m o sobre a torre da catedral ("A torre da igreja c baixa, sem gosto, n e m regras de
arquitetura, parece torre de uma igreja de aldeia...", p, 89); a Capela Imperial ("...está longe de ser um m o n u m e n t o , e não apresenta a vas-
tidão c a magnificência das catedrais da liuropa... essa antiga igreja de frades, sem beleza nem arquitetura, patenteia nosso a t r a s o e p o u c o
g o s t o pelas artes; c se na altura dos edifícios que ergue, deixa o povo sinal de sua existência, parece que não será 'famosa' a nossa glória,
pois só preocupam-nos os acontecimentos, os interesses, as paixões da época e m que vivemos", p. 91); o Palácio Episcopal ("é um edifício
acaçapado, sem arquitetura, nem beleza, c parece mais uma casa particular d» que um 1'alácio de um príncipe da igreja...", p . 404), etc.

17 São significativas, a esse respeito, as razões oficiais da demolição do antigo prédio do Ministério da Arquitetura (1978), a fim de "per-
mitir a visáo" do conjunto arquitetônico da igreja da Misericórdia. Exemplo típico de desvirtuação, em sentido monumental, de u m
episódio urbano que tinha a sua razão de ser justamente no tato oposto de ser inserido em uma trama continua e homogênea.
Da colonização à Europa possível,
as dimensões da contradição

Afonso Carlos Marques dos Santos


i. O lugar da colônia

A docilidade dos indígenas, a bondade com que receberam os Europeus, levan-


do-os até às suas mesmas choças de pindoba, liberalizando-os dos seus inhames,
e outras raízes farináceas, apresentando-lhes os seus frutos, e caça dos animais
e aves, de que se sustentavam, ajudando-lhes a carregar a lenha e água para os
batéis da esquadra, enchiam de admiração, e de um nobre entusiasmo aos por-
tugueses, que estupefatos se maravilhavam da bondade do clima, fertilidade da
terra, docilidade dos novos Irmãos, bem como da grandeza das árvores, da vas-
tíssima largueza e extensão do Território, regado de tantos Rios, formoseado
de lindas e seguras Enseadas, que cheios de tão justa admiração, miudamente
comunicaram a El Rei D. Manoel tão grato e famoso achado...

(Balthazar da Silva -Annaes do Rio de Janeiro, 1834)

Forjada e moldada em função da exploração comercial européia, a dominação colonial no Novo Mundo pro-
duziu um amplo universo de contradições - águas difíceis, ainda que sedutoras, para o mergulho de quem se
arrisque a compreendê-las.
Colonizar significara não apenas a pilhagem de riquezas, o escambo, a agressão e a destruição de culturas
nativas, mas a ocupação e valorização efetiva das novas áreas descobertas. A conquista, por sua vez, coordenada
pelo poder monárquico absolutista e financiada pela burguesia comercial, ampliava o ritmo de acumulação de
capital no espaço europeu, permitindo o progresso de riqueza burguesa - a contradição mais profunda do Anti-
go Regime. O poder real e os privilégios nobiliárquicos, ao se legitimarem em Deus, afastavam das decisões do
Estado o setor dinâmico da sociedade - a camada empresarial. Assim, a riqueza burguesa e a mentalidade nobi-
liárquica se confrontarão ao longo do Antigo Regime (séculos XVI a XVIII) no espaço onde se dá a transição
feudal-capitalista.
O movimento de colonização da época moderna não é um acidente isolado nessa história. É, ao contrário,
parte integrante das contradições da sociedade européia. Assim, as sociedades que se formam nas áreas con-
quistadas, ao possuírem sua especificidades e contradições próprias, não escapam ao movimento geral da época
moderna - plasmadas que são pela fúria do capital comercial e sua lógica de acumulação.
Destarte, a formação cconòmico-social da colônia portuguesa na América, desde a sua gênese, estará inseri-
da nas articulações do antigo sistema colonial da época moderna, ajustando-se à demanda de produtos tropicais,
de matérias-primas e de metais preciosos no mercado europeu. Nessas articulações é que se dão a ocupação do
solo, a seleção e a escolha dos produtos e a organização do trabalho.
Do início da ocupação colonial no século XVI até a crise do colonialismo mercantilista do final do século
XVIII o elemento nuclear de definição do sistema será o monopólio do comércio. "Em torno da preservação
desse privilégio, assumido inteiramente pelo Estado, ou reservado à classe mercantil da metrópole ou parte dela,
é que gira toda a política do sistema colonial."1
Contemporâneo da crise do antigo sistema colonial, o bispo Azeredo Coutinho afirmava em 1794:

A metrópole e as colônias, principalmente a respeito da agricultura e de tudo o que é produção da terra,


se devem considerar como um só prédio de um agricultor, cujo fim é conservar a sua casa em abundância
e ter um grande supérfluo para vender aos estranhos.1

Essa articulação está submetida à violenta dominação do Estado absolutista. Aqui aparece o sentido mais
profundo da colonização: produzir para "conservar" a "abundância" do comércio do reino português. A colônia
constitui-se, portanto, na retaguarda econômica da metrópole, devendo ser oculta e "protegida" da cobiça dos
"estranhos", o que garante os privilégios da Coroa lusitana, já que "sem o Brasil, Portugal é uma insignificante
potência", como, em 1779, já havia observado Martinho de Melo e Castro,3 ministro de Portugal.
A crise do antigo sistema colonial, por sua vez, insere-se na crise geral do Antigo Regime, que emerge, na
segunda metade do século XVIII, da própria composição econômica e social do Estado absolutista moderno.
Composição ambígua e contraditória - de um lado, os privilégios da aristocracia e a mentalidade nobiliárquica;
de outro, a burguesia e a mentalidade empresarial. Lembremo-nos que o nobre e o burguês possuíam, em um
sentido mais geral, formas diversas e antagônicas de apropriação e enriquecimento. A nobreza (na sua dimensão
tradicional) é uma camada que apropria sem contrapartida econômica, recebendo prebendas, sem interferir
diretamente no processo produtivo, sem preocupar-se com investimentos, rentabilidade, etc. Já a burguesia
configura-se como uma classe de empresários por excelência, em que a concepção de riqueza assume um caráter
dinâmico, sempre se recompondo através de investimentos e realizando a apropriação do trabalho de forma
radicalmente diversa da nobreza. Enquanto esta beneficiava-se de seus direitos apropriando através do trabalho
compulsório, a burguesia precisava de homens livres e despossuídos para poder, através da compra da força de
trabalho, subjugá-los aos seus interesses.

1
Novais, Fernando. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: Mota, C. G. (Org.). Brasil em perspectiva. 3. ed. São Paulo: DifeI,
'97I-P.5!.
* Coutinho, José Joaquim da Cunha de Azeredo. Ensaio econômico sobre o comércio de Portugal e suas colônias. In: Obras econômicas.
âo
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966. p. 153.
J
Castro, Martinho de Melo e; Sousa, Luís de Vasconcelos e. Instruções... acerca do governo do Brasil (1779). Revista do Instituto Histórico
G
* *<>grâfico Brasileiro XXV, 1S62. p. 479-483.
A Revolução Burguesa - a tecnológica e a política - é fruto dessas contradições e marco fundamental no en-
tendimento da crise do antigo sistema colonial e da destruição do pacto colonial.
Todavia, não basta apenas inserir a colonização na dinâmica da gestação do capitalismo para compreen-
der as formações sociais que se estruturam no Novo Mundo. Estas, embora fazendo parte da mesma história,
possuem um universo específico que demanda a pesquisa e a reflexão dos novos historiadores, principalmente
daqueles que, no interior das culturas contraditórias do Novo Mundo, buscam estudá-las e compreendê-las a
partir das inquietações impostas pelo presente.

2. A sociedade e o espaço colonial

Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decora-
do para os dramas majestosos dos elementos em que o homem é apenas um simples
comparsa.
(Alencar, José de — 0 Guarani, 1857)

Dois traços são fundamentais na compreensão da sociedade que se estrutura no espaço colonial desde os
primeiros tempos: o seu caráter basicamente rural e a organização do trabalho de forma compulsória. É nessa
perspectiva que Sérgio Buarque de Holanda afirmava, em Raízes do Brasil, que: "Toda a estrutura de nossa so-
ciedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos."4 Esse caráter rural e a prioridade dada à agricultura de
exportação colocaram as cidades na dependência das "propriedades rústicas".5 Recordemo-nos, no entanto, que
mundo rural e mundo urbano, na colônia, organizavam-se em função de uma acumulação de capital que se dava
no Velho Continente. As riquezas produzidas na colônia e que atingiam altos preços no mercado europeu não
garantiam, por outro lado, o maior grau de rentabilidade para os produtores coloniais. Estes recebiam a menor
fatia da renda que promoviam na colônia.
O que, portanto, garantia a permanência do colono português na América? A aventura? O gosto pelos riscos
que a terra selvagem oferecia? Certamente que não.
Outro aspecto define com cores mais fortes a produção no espaço colonial: o trabalho compulsório e a sua
forma limite, a escravidão, que garantiam uma absoluta concentração da renda produzida na colônia. A recriação
do escravismo no Novo Mundo surgirá, à primeira vista, como um contra-senso em relação ao processo de libe-
ração de mão-de-obra na Europa, mas, integrada na lógica geral de acumulação primitiva de capital, a escravidão
permanecerá como elemento fundamental de sustentação da empresa colonial.*
4 Holanda. Sérgio BwqoeÓV. Raízes do ISraiii'. liras/lia. «9^3- p. 57-
5 Cf. Holanda, Sérgio Duarque de. Ofi. cit. p. 57.
6 Fernando Novais, no segundo capítulo de sua tese Portugal e Brasil na crise do sistema colonial, desenvolve convincente argumentação no
sentido de mostrar o lu^ar da escravidão na produção mercantil realizada na colônia, indicando o papel que o tráfico negreiro ocupou na
promoção da acumulação primitiva de capital, o que não nos cabe aqui examinar.
O sempre citado André João Antonil, em seu livro Cultura e opulênàa do Brasil, mostrando o grau de depen-
dência da produção colonial em relação ao trabalho escravo, afirmava em 1711: "Os escravos são as mãos e os
pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem
ter engenho corrente."7 O português livre não se submeterá no Brasil colonial à "desonra" do trabalho. Plebeus,
cristãos-novos ou os supostamente oriundos da aristocracia assumirão na colônia a superioridade que a condição
técnica sugeria e a escravidão sustentava - separando rigidamente livres de não-livres.
O mesmo Antonil iniciava seu trabalho afirmando:

O ser Senhor de Engenho é título a que muitos aspiram porque traz consigo o ser servido, obedecido
e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no
Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre osfidalgosdo
Reino."

No entanto, a contradição estará sempre presente na sociedade desses "Senhores". O ser senhor de gran-
des extensões territoriais e senhor de homens (escravos) permite que se compreendam esses proprietários na
colônia na vertente senhorial, o que, por seu lado, pode levar a mitificar a existência e a maneira de viver desses
"Senhores". Essa mitificação tem levado muitas vezes a se considerar a classe proprietária no Brasil como uma
"aristocracia agrária".
Entretanto, esse proprietário, como bem já dizia Antonil, em 1711, para ter sucesso precisava ser "ho-
mem de cabedal", isto é, ter capitais ou meios de consegui-los para que a sua condição de "senhor" fosse garanti-
da. Capitais, portanto, para investir na empresa- na montagem dos engenhos e na mão-de-obra escrava. Vistos
dessa vertente, os senhores de engenho não permanecem apenas mergulhados no bucolismo do campo como
príncipes medievais, mas também se assemelham à classe empresarial dos tempos modernos, preocupados que
devem estar sempre com investimentos e lucratividade, mergulhados até o fundo no âmbito da produção, o que
°s diferençava radicalmente da aristocracia européia e do mundo medieval.
Lembremo-nos ainda que a produção colonial nasce e se desenvolve em função da política econômica
da metrópole e através dela é definida. Assim, a produção se realiza na faixa de produtos que possam cumprir a
função de integrar a colônia no contexto da capital mercantil (a partir das exigências do mercado europeu). A
própria ocupação do espaço se dá em função dessa produção definida pelo sistema colonial.
Nesse espaço o setor fundamental da economia é o setor de exportação, definido diretamente pelos im-
pulsos do sistema. Já o setor de subsistência, menos expressivo e até deficitário, decorre imediatamente do
-jflesmo mecanismo. Nesse sentido é que o abastecimento na colônia é estruturalmente problemático, já que
7 Andreoni, João Antônio (André João Antonil). Cultura e opulênàa do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e vocabulário por A. P.
Canabrava. 2. ed São Paulo: Cia. Editora Nacional, [s/dl. p. 159.
8
Andreoni J . A. Op. cit. p. 139.
o desenvolvimento do setor de exportação significou sempre retração na subsistência para não "desperdiçar"
mão-de-obra.
A dinâmica da economia é limitada por um processo produtivo concentrado e especializado, no qual a renda
é espoliada, como indicamos anteriormente, em função da acumulação externa - realizada através do "exclusi-
vo" metropolitano, que consiste na reserva do mercado das colônias para a metrópole, isto é, para a burguesia
comercial metropolitana. Essa dinâmica de exploração leva a bloqueios internos que limitam a acumulação a ser
realizada pela camada dominante da colônia, assim como impedem o desenvolvimento interno.
Por outro lado, a escravidão como forma de produzir bloqueia o desenvolvimento tecnológico, estagnando
a técnica e conservando o caráter predatório e itinerante da produção agrícola.
Assim, a renda se acumula na metrópole que abastece a colônia de escravos e promove a reprodução do sis-
tema, e a economia metropolitana (artesanal) amplia a demanda a partir do espaço colonial - mercado garantido
pelas garras do sistema. O sistema colonial funciona, então, como peça da acumulação primitiva de capital no
espaço europeu e seu principal fator de aceleração."
Fechada nesse quadro de articulação com a metrópole, a sociedade na colônia, dispersa nas unidades de
produção agrícola, tem a escravidão como princípio cstratificador básico, apesar de se ocultar no espectro da so-
ciedade de ordens. Proprietários e trabalhadores escravos representam a dualidade básica da sociedade colonial.
N o entanto, dirá Caio Prado Júnior:

Entre estas duas categorias nitidamente definidas e entrosadas na obra de colonização, comprime-se o
número, que vai avultando com o tempo, dos desclassificados, dos inúteis e inadaptados; indivíduos de
ocupações mais ou menos incertas e aleatórias ou sem ocupação alguma. 10

N u m a sociedade na qual todo o poder está concentrado na propriedade, sendo pequeno o espaço de atuação
do h o m e m livre não-proprietário, o esquema de favor irá desenvolver-se na clientela dos senhores e dos comer-
ciantes nas cidades, que busca nos "poderosos" da colônia proteção e auxílio. Fora da propriedade e do trabalho
restam os "vadios" despossuídos e desocupados, que permanecerão como uma ameaça que os administradores
metropolitanos não conseguem eliminar.
Porém, se nos dois primeiros séculos da colonização a dimensão rural da propriedade propicia uma certa au-
tonomia e ilimitado prestígio aos senhores de terras, o século X V I I I verá ocorrer uma mudança em relação ao
prestígio desses "aristocratas", em especial na cidade que, a partir de 1763, torna-se a capital da colônia e sede do
vice-reinado: São Sebastião do Rio de Janeiro. 0 marques do Lavradio (vice-rei de 1769 a 1779), em seu Relatório
de 19 de junho de 1779, apresentado ao seu sucessor, D. Luís de Vasconcelos c Souza, já indicava que: "Escolhiam-

9 Cf. Novais, Fernando. Op. cil.


10 Pradojunior, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. .São Paulo: Martins, 1942. p. 279-180.
se para vereadores os homens que tinham mais alguma distinção no seu nascimento, e para procuradores alguns
homens que tivessem sido comerciantes e a quem o menos bom sucesso de sua ocupação os tinha reduzido a curtas
possibilidades." Ao que acrescentava criticamente: "Estes homens chamados distintos são de ordinário aqui os
mais pobres e necessitados; recaia em a nomeação dos vereadores os homens mais abundantes e de mais probida-
de..." Quem seriam esses "homens mais abundantes" o próprio Lavradio esclarece, ao justificar que:

Como as leis de S. M. têm nobilitado os comerciantes, destes escolhi para vereadores, nomeando-lhes
sempre por companheiro um dos melhores da terra, e por este modo consegui por as ruas da cidade, como
V. Excia. tem visto, fazerem-se mais duas fontes públicas, muitas pontes, consertarem os caminhos, juntar
e entalharem-se infinitos pântanos, que haviam (fie) na cidade, origem de infinitas moléstias. Fizeram-se
currais e matadouros públicos; está arrematada a obra do açougue, a casa da Câmara. Abriram-se novas
ruas para se fazer melhor comunicação da cidade, e daqui por diante se continuarão a fazer muitos outros
úteis serviços, se V. Excia. quiser tomar debaixo de sua proteção aquela repartição, e vigiar sobre ela quan-
to se precisa."

Esse crescimento da importância do comerciante que aparece como o colono dos novos tempos, com quem
a administração poderia então contar, verifica-se no Rio de Janeiro em particular desde que a cidade transfor-
ma-se em centro de confluência comercial e rota obrigatória de acesso às Minas Gerais. Afisionomiada colônia
muda em muitos aspectos. A metrópole fomenta novas atividades, ao mesmo tempo que estabelece um maior
rigorfiscale maior número de proibições.
No último quartel do século XVIII, o sistema se aguça, controlador, suspeitando sempre dos homens da
terra, temendo o contrabando e a revolta. No entanto, aí estava sua grande contradição: na medida em que fo-
mentava o desenvolvimento das atividades econômicas na colônia, o seu "progresso", para melhor explorar den-
tro das regras do sistema, promovia também as condições necessárias para a sua própria negação. O súdito dos
Primeiros tempos da colonização - o português do Brasil - tomava agora outra feição, era o colono que percebia
a
desigualdade no interior do Estado absolutista entre a "mãe" metrópole e a colônia, e que percebia e explora-
ção realizada pela burguesia metropolitana.
Recordemo-nos, no entanto, que esse processo não é isolado, nem singular em relação às demais colônias
européias no continente americano. É o próprio Antigo Regime como um todo que está em crise. Assim, sinte-
tiza Fernando Novais:
Não foi indispensável que se completasse a industrialização (no sentido da revolução industrial) de
toda a economia central para que o sistema se desagregasse; bastou que o processo de passagem para
" Marquês do Lavradio, Relatório, Manuscrito do Arquivo Nacional, publicado algumas vezes de forma integral ou parcial, Revista do
pGB.V.IV.
o capitalismo industrial se iniciasse numa das metrópoles para que as tensões se agravassem de forma
insuportável."

O "progresso burguês", fundamental para a manutenção do poder e do luxo dos monarcas e suas cortes,
acaba apresentando a sua outra face - revolucionária e implacável - , destruindo as estruturas do Antigo Regime
para continuar a sua própria história.

3. U m a Corte n o s trópicos

/ am persuaded that if the Court of Portugal had sufficient energy and activity to transplant
itselfto the Brazils, as was once intendend when the Spaniards invaded them, a mtghty and
brilltant empire might speedily be created in South A merica, to counterpoise the growingpower
ofthe United States m the northernpart ofthat continent.
(Barrow.John. A voyage to Concbinchina. Londres, [1792] 1806.)

...A balança da Europa está tão mudada que os cálculos de há dez anos saem todos errados
na hora presente. Em todo o caso o que é preciso é que V. A. R. continue a reinar, e que
não suceda à sua Coroa o que sucedeu à de Sardcnha, à de Nápoles e o que talvez entre no
projeto das grandes potências que suceda a todos as coroas de segunda ordem na Europa.
V. A. R. tem um grande Império no Brasil, e o mesmo inimigo que ataca agora com esta
vantagem, talvez que trema, e mude de projeto, se V. A. R. o ameaçar de que se dispõe a
ser imperador naquele vasto território de onde pode facilmente conquistar as Colônias
Espanholas e aterrar em pouco t e m p o as de todas as potências da Europa. P o r t a n t o é
preciso que V. A. R. mande armar com toda pressa os seus navios de guerra, e todos os
de transporte que se acharem na praça de Lisboa - que meta nestes a Princesa, os seus
Filhos, e os seus Tesouros, e que ponha tudo isto a partir sobre a Barra de Lisboa...
(Carta de D. Pedro, Marquês de A/orna, ao Príncipe Regente D.João, 1801,30 de maio.)

N e n h u m porto colonial do m u n d o está tão bem localizado para comércio geral quan-
t o o do Rio de Janeiro. Ele goza, mais do que qualquer outro, de iguais facilidades de
intercâmbio com a Europa, América, África, índias Orientais e as ilhas dos Mares do
Sul, e parece ter sido criado pela natureza para construir o grande elo de união entre o
comércio dessas grandes regiões do globo. D o m i n a n d o também, como capital de vasto
12 Novais, Fernando A. As dimensões da Independência. In: Mota, Carlos Guilherme (Org.). 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva,
1971- p-15-
§•" % 4: 3613. Ifl*. £>L °ta<3

e rico território, imensos e valiosos recursos, exigia somente um governo eficiente, que
lhe desse prestígio político, e agora adquiriu esta vantagem, ao ser escolhido para resi-
dência da Corte de Portugal.
(Mawe.John. Viagens ao interior do Brasil. Trad. port. Belo Horizonte: Itatiaia, [1809] 1978.)

Não era novo o projeto de transferir a sede da monarquia portuguesa para a América. No entanto, é no
contexto de crise do Antigo Regime que a monarquia portuguesa se transfere para sua colônia americana, quase
de improviso, fugindo dos exércitos napoleônicos que, em novembro de 1807, invadem e ocupam Portugal. O
príncipe regente D.João, com a maior parte do governo e da corte, decide - após alguma relutância - refugiar-se
no Brasil. Chega à Bahia em janeiro de 1808 e ao Rio de Janeiro dois meses depois.
Assistia-se, então, ao que Sílvio Romero chamou de "a versão brasileira". De 1808 a 1821 são inúmeras as
transformações no Brasil promovidas pela presença dos Bragança e pelo projeto de transformar o País em um
grande "Império", como em 1814 Silvestre Pinheiro Ferreira esboça nas suas Memórias políticas, sugerindo que,
quando da morte de D. Maria I, D.João tomasse o título de "Imperador do Brasil, soberano de Portugal", e que
delegasse ao Príncipe da Beira (D. Pedro de Alcântara) o título de "rei de Portugal, herdeiro da coroa do Brasil,
procedendo do mesmo modo a sucessão na augusta descendência de V. A. R.".'3
O mesmo Silvestre Pinheiro Ferreira, em 1803, já aconselhava D. João que "à lusitana monarquia nenhum
outro recurso restava, senão o de procurar quanto antes nas suas colônias asilo contra a hidra então nascente, que
jurava a inteira destruição das antigas dinastias da Europa".14
A "hidra então nascente" era a revolução burguesa a enfrentar as "antigas dinastias da Europa" - onde a
máquina administrativa do Estado absolutista e o mercantilismo, como política econômica, atuavam como en-
traves ao desenvolvimento das atividades burguesas e ao livre movimento do capital industrial.
De qualquer forma, a transmigração da Corte para o Brasil causa grande impacto entre os senhores territo-
riais brasileiros, que "saem de seu exílio, deslocam-se do interior ou das cidades, onde viviam já como absenteís-
l
as, chamados pelo brilho da nova Corte"."
A "Versalhes Tropical", como a chamou Oliveira Lima, terá agora exigências de grande dama. Exigências,
c
ontudo, que irão defrontar-se com as marcas deixadas pela colonização na organização do espaço e na constru-
ção dos homens.
Com a abertura dos portos o pacto colonial receberá um golpe mortal. Porém, a formação social da colônia
Permanecia definida pelos mesmos elementos - produção para exportação e trabalho escravo -, mesmo quando,
e
ro 1815,a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e AJgarves vinha dar forma jurídica e política

•3 Ferreira, Silvestre Pinheiro. Memórias políticas RIHGB. t. XLVII, parte I, p. 3.


'4 Ferreira, S. P. Op. cit. p. 11.
'í Faoro, Raymundo. Os donos do poder. Porto Alegre: Globo, 1958. p. 125.
à realidade de mudança da Corte. Nesse passo, é importante marcar que o ato político de 1815 não irá represen-
tar na prática nada de novo para o Brasil, já que as transformações institucionais básicas estavam feitas desde a
chegada da Corte no Rio de Janeiro.
Qualquer projeto "modernizador", entretanto, esbarrava em duas grandes dificuldades: de um lado, a em-
perrada máquina administrativa do Estado português, com uma "chusma de funcionários e fidalgos aspirantes a
empregos públicos, pensões, etc, que acompanharam o rei na fuga, na esperança de generosas recompensas";'6
de outro, a estrutura social assentada na violência da escravidão. A revolução dos novos tempos significava a
destruição de valores do Antigo Regime e a construção de uma mentalidade que pressupunha a morte do escra-
vismo para que, livres, os homens pudessem ser submetidos à sanha do capital industrial e à sua nova forma de
dominação.
Entre os homens brancos, desde o século XVIII que uma elite letrada havia estudado na Europa tentando
superar os limites de sua própria geografia cultural. Homens do Novo Mundo, ao presenciarem a revolução na
Velha Europa, passavam a reinterpretar as colônias de origem, o que significava, então, pensar a autonomia na-
cional e ofimdo pacto colonial. A presença da Corte portuguesa no Brasil dá à história desta colônia um caráter
diferente. A revolução autonomista fica como o arroubo de jovens no ainda não muito distante século das luzes
para ser substituída pelo aulicismo e a busca de favores junto ao monarca transmigrado.
É um caminho aparentemente mais fácil e cômodo para os proprietários brasileiros aquele onde o Estado
antecede a Nação. Esta, como projeto, não tardará a se esboçar, mas nascerá tutelada pelo filho do monarca por-
tuguês - herdeiro também do trono da antiga metrópole'7 -, o que na realidade representava atrelar os primeiros
passos da jovem nação aos interesses da burocracia de origem metropolitana e do comércio de quadros ainda
basicamente portugueses.
Nada identifica melhor as contradições geradas pelo sistema colonial que a própria visão da cidade onde a Cor-
te portuguesa irá instalar-se - adicionando à paisagem elementos ainda mais contraditórios que os já existentes.
Conquistada ao mar, aos alagados e às elevações, a cidade nasceu primeiramente deixando que a natureza
ditasse os sítios de ocupação. Torna-se, porém, difícil falar do sítio da cidade - e assim o confirmam incontáveis
viajantes estrangeiros - sem deixar-se seduzir pelos encantos da natureza circundante, a começar pela Baía de
Guanabara, privilegiada por acidentes geográficos de grande singularidade. Era a exuberância dos trópicos a
oferecer-se ao visitante, no calor do clima e no colorido natural.
O Rio de Janeiro de D.João tinha todo o exotismo do Novo Mundo, arremedando por vezes cidades portu-
guesas, sem no entanto confundir-se com qualquer cidade européia. A cidade, possuindo ruas estreitas, atravan-
cadas a princípio por "balcões de grade, de aparência muito pesada, impedindo a circulação do ar", que "foram

Ió Faoro, R. Op. cit. p. 125.


17 Para o Brasil, a própria independência política só é defini ti vãmente completada cm 1831, com a abdicação de D. Pcdrc
português impera nu* nos trópicos.
retirados por ordem do governo",'8 lembrava em alguns momentos uma cidade árabe e não primava pela salubri-
dade. Muito pelo contrário, a imundície era visível tanto por culpa da geografia como do comércio de escravos.
Mawe, ao tratar da insalubridade, considerava como uma das razões das doenças que corriam pela cidade "a vasta
importação de negros da África, que habitualmente desembarcam em estado doentio, conseqüência de viagens
destituídas de qualquer conforto, em local quente e apertado"."'
Autores chegam a afirmar que o Rio parecia uma cidade africana devido à quantidade de negros a fervilhar
em todos os cantos. Negros de ganho, carregando toda espécie de fardos e realizando todo tipo de comércio, ne-
gros do serviço doméstico, negras de estimação, negros nasfileirasdos regimentos, negros no serviço da Câmara,
negros remando nas catraias, negros sendo castigados em praça pública. A evidência mais clara da escravidão.
Luccok, observando a face urbana da escravidão, dirá que:

Toda a casa que se prezava era provida de escravos aos quais se haviam ensinado algumas ou mais artes co-
muns da vida e que não somente trabalhavam nessas especialidades para a família a que pertenciam, como
eram também alugados pelos seus senhores a pessoas não tão bem providas quanto aqueles.10

Em 1817, referindo-se à situação urbanística do Rio, escrevia Alvares de Araújo:

que desordem, que irregularidade de casas as desta cidade! Há algumas que parecem palhoças de uma
aldeia. Que falta de armamento, simetria, gosto, comodidade, em todas as ediflcadas ou que se edificam
ainda, e nas melhores ruas! Em um país onde seriam necessárias casas espaçosas e altas, eles fizeram-nas
acanhadas estufas. Daí vem, além de outros inconvenientes, que a cidade não tem beleza.21

Esta naturalmente aparece como uma visão crítica bastante rígida se comparada com outros testemu-
nhos, principalmente o de John Luccok, que em 1813 já encontrava ruas novas acrescidas à cidade e novos mer-
cados, afirmando que:

As casas fizeram-se mais generalizada e simetricamente caiadas e pintadas; aboliram-se as gelosias, e al-
guns dos balcões, que ficaram, viam-se ornamentados com plantas e flores. Inúmeras pequenas vivendas
e jardins enfeitavam as cercanias, tratos de terra eram cuidadosamente cultivados com grama, verdura e
flores. As estradas foram alargadas em várias direções ao mesmo tempo que limpadas de mato e outros
'8 Mawe.John. Viagens ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1978. p. 81.
'9 Mawe, J. Op. cit. p. 82.
*° Araújo, Álvares de. Reflexões sobre as edificações das novos (asas. Apud Edmundo, Luís. A Corte de D.João no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Conquista, 1957. v. III, p. 597.
1
Luccok, John. Notas sobre o Rio de janeiro. Belo Horizonte, p. 22.
quejandos estorvos, achando-se uma nova em construção, através dos mangues do ocidente da cidade,
para a aldeia de São Cristóvão, aonde a família real freqüentemente se retira."

No entanto, uma característica permanecia na cidade: o casario de pequeno porte, com o mesmo aspecto
das construções dos séculos anteriores. Louis Claude de Freycinet - que esteve no Rio entre dezembro de 1817
e janeiro de 1818 -, referindo-se às habitações dos cariocas, chega a dizer que: "para que elas representassem um
necessário conforto seria preciso que fossem construídas em terrenos destinados a quatro".1'
Aí está um dos contrastes da paisagem: a exuberância do panorama ao redor da baía, cercada de elegantes
montanhas, e a cidade esparramada nos morros e apertada entre estes e o mar. Nela, apenas as construções
religiosas e os edifícios públicos aparecem como eventos que se destacam, mas não reproduzem seu gosto nas
habitações particulares locais. Daí ser possível encontrar testemunhos posteriores, como o do George Gardner,
em 1836:

...vista de bordo, a cidade apresentava um aspecto imponente por sua posição e por suas numerosas igrejas
caiadas de branco. Mas, olhada de perto, desvanece-se a ilusão. Quem quer que entre nesta cidade, que, cin-
tilando de longe, parece celestial, desconsolado errará em meio de tanta coisa repugnante e mesquinha.14

Esses testemunhos de viajantes são, como todas as fontes, passíveis também de crítica, desconfiança e con-
frontação com outros relatos. Auguste de Saint-Hílaire era capaz de, em 1816, ao descrever a paisagem durante
um passeio na Baía de Guanabara, comentar:

Várias ilhas, que pouco se elevam sobre o nível das águas, passaram-nos rapidamente pela vista, e todas
ofereciam ao paisagista em que empregar pincéis. Algumas não são mais do que uma aglomeração de
rochedos empilhados e arredondados, entre os quais nascem sarças; outras, em maior número, exibem o
aspecto agradável da cultura. Em quase todas vêem-se uma ou duas casas notáveis pela limpeza exterior e
por uma espécie de elegância que lhes é particular.
Ordinariamente muito baixas, como todas as dos arredores do Rio de Janeiro, essas habitações têm todas um
teto quase plano arrebitado nas extremidades à maneira dos pavilhões chineses e cobertos de telha de canal.
Muitas de bananeiras rodeiam essas pequenas residências, e, não raro, um coqueiro, elevando-se acima de
seus tetos, contribui ainda para aumentar o pitoresco, pela sua elegância e simplicidade de formas."

22 Luccok, John. Op. cit.

23 Freycintc, Loilll (Claude DCMUCd <lf. Voyatí auumrdu nniiuk. Ptfis, 1821. t. I , p . 79.

24 Gradner, O c o r r e . '1'nivcts in lhe interior <>l Ht\i~il. . [/>«</( >mcj;n;i, NI-IMHI. .1 (idade enUmial. ]inisili;i: Kl>r:is:i, 1971. p. 45.

25 Saint-Hilaire, Auguste de. As viagens pelas provimias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo I lorizonte: Itatiaia, 197c. p. 18.
Esses relatos, que uma multidão de estrangeiros nos deixou, demandam observação cuidadosa, o que nos
exige pensá-los nos seus contextos de origem, como produtos de formações sociais diferentes não só da colonial,
mas também da própria formação social portuguesa.
Entretanto, fazê-lo foge aos objetivos deste pequeno esboço de contradições - o que não invalida o fato de
que os testemunhos dos viajantes atuam como magnífico contraponto em relação às fontes oficiais, quase sem-
pre frias e compromissadas com a visão do poder e seu discurso.
O período posterior à abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional é especialmente rico em
relatos de viajantes, não sendo poucos também os testemunhos escritos por portugueses, como é o caso de Luís
dos Santos Marrocos, bibliotecário da Biblioteca Real, que nos deixou em sua correspondência observações pe-
netrantes sobre a política e a sociedade na Corte instalada nos trópicos,figuracuriosa que criticava severamente
a cidade e o País nos primeiros tempos de sua estada no Brasil, e que acabava refazendo sua opiniões, talvez
movido pelo interesse de participar dos quadros administrativos do Império que viria a ser criado, o que de fato
acaba acontecendo. Marrocos naturalmente não foi o único a fazê-lo, muitos serão os que, após a Independên-
cia, buscarão no novo Estado nacional um lugar ao sol.
Marrocos, em uma de sua cartas à família em Portugal, quando já estava casado e com opiniões mais favo-
ráveis ao Brasil, ao descrever o lugar onde morava nos deixa perceber não só aspectos plásticos da cidade, como
também alguns dos costumes:

O Sítio destas casas é magnífico, e talvez o melhor da cidade, não só por ser lavado de bons ares, mas em
uma rua mui larga e asseada, tendo no princípio um formoso chafariz, e no fim o passeio público, tudo obra
do falecido Luís de Vasconcelos; temos próximas três igrejas, e duas capelas, uma praça de hortaliças, e o
matadouro com açougue, além de mil outras comodidades, que talvez não se achem juntas a favor da maior
parte das casas desta cidade; sendo de não menos vantagem a proximidade do mar para limpeza e despejo
da casa, o recreio do nosso quintal para família, e a comodidade para ter criação em socorro de qualquer
moléstia, contando já minha mulher grande número de galinhas.16

A urbanização da cidade, ainda com características tão primárias, como o texto de Marrocos denuncia, fi-
cou, a partir da vinda da Corte, entre as atribuições da Intendência-Geral de Política, responsável também pelas
°bras públicas.
O exame das medidas tomadas pela Intendência permite perceber os níveis de preocupação quanto à
adaptação da cidade às suas novas funções como sede da monarquia. Nesse sentido, a "política urbanística
do governo concentrava-se em três pontos, intimamente ligados entre si: aumentar o número de habitações,
lr
*centivar o aterro dos locais pantanosos da cidade, apoiar a construção de casas de sobrado e impedir a edi-
—j^ação de casas térreas".17
26
Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 56,1934.
*7 Silva, Maria Beatriz Nizza da. Linguagem, cultura, sociedade - o Rio de Janeiro de 1808 a 1821. São Paulo, 1973. v. II, p. 186. (mimeo)
É, porém, no quadro de contradições e conflitos da formação social colonial que a máquina administrativa
do monarca português tentará fomentar e atualizar as atividades econômicas da colônia. Projetada a construção
de um Império no Brasil, os burocratas de D.João pensarão também nas novações culturais. Para tanto, im-
portava trazer da Europa o gosto, a cultura e o conhecimento científico do alvorecer do século XIX - a Europa
possível para o Império tropical.
Para quem, na realidade, as inovações estavam sendo propostas? Que tipo de sociedade deveria recebê-las?
Quem era o povo dessa colônia?
A historiografia comprometida ideologicamente com visões oficiais da Nação sempre usou a categoria
"povo" como uma forma de não definir as classes sociais, qualquer que fosse o movimento da história do País
a ser examinado. Mas aqui também os elementos estruturais precisam ser retomados: o tipo de propriedade, o
tipo de produção e as formas de exploração da mão-de-obra. A escravidão, pano de fundo e agente fundamental,
estará, dessa forma, sempre presente na produção dos homens e na organização da sociedade, ao lado da grande
propriedade, com a produção organizada em função da demanda dos mercados internacionais.
Assim, quem é a "elite" colonial quando chegada da Corte?
Composta de proprietários de terras, comerciantes, clérigos e funcionários da Coroa, torna-se difícil se-
pará-la com grandes distinções, já que são setores sociais que interpenetram-se em uma sociedade na qual a
finalidade mercantil da colonização aparece como elemento definidor. Dispersos pela geografia da produção, os
proprietários têm o poder local em suas mãos, criando, por vezes, a ilusão de uma certa autonomia em relação
aos administradores metropolitanos.
Alcântara Machado, examinando os inventários e testamentos de São Paulo no período colonial, chega a
afirmar que:

Dentro de seu domínio tem o fazendeiro a carne, o pão, o vinho, os cereais que o alimentam; o couro, a lã,
o algodão que o vestem; o azeite de amendoim e a cera que à noite lhe dão claridade; a madeira e a telha
que o protegem contra as intempéries; os arcos que lhe servem de broquel. Nada lhe falta. Pode desafiar
o mundo.18

Entretanto, no século XVIII, o fiscalismo da Coroa portuguesa, principalmente na área da mineração, em


que a riqueza era mais evidente e mais fácil de contrabandear, desmascara a ilusão de autonomia. Some-se a isso
a repressão violenta a todos os que ousassem questionar as bases em que se fundamentava o sistema colonial.
No início do século XIX, contudo, é possível ainda encontrar um observador, como Saint-IIilaire, fazendo
observações semelhantes às de Antonil um século antes:

28 Machado, A k f m u r a . Vida e morte dos biirideiniirttí. Sfui 1'aulo, 1929. p . 49-^0.


A posse de um engenho confere aos lavradores de cana dos arredores do Rio uma espécie de nobreza. Só
se fala com consideração de um Senhor de Engenho, e vir a servi-lo é a ambição de todos. Um senhor de
engenho tem geralmente um aspecto que prova que se nutre bem e trabalha pouco. Quando está com
inferiores, e mesmo com pessoas da mesma categoria, impertiza-se, mantém a cabeça erguida e fala com
essa voz forte e tom imperioso que indica o homem acostumado a mandar em grande número de escravos.
Quando está em casa usa camisa de chita, chinelos, e calças ordinariamente mal sungadas, não põe gravata,
e toda a sua roupagem indica que é inimigo de se constranger; se, porém, monta a cavalo, é necessário que
as vestes anunciem sua categoria, e então a casaca, as botas envernizadas, as esporas de prata, uma sela bem
limpa, e o pajem negro numa espécie de libre são obrigatórios."

É explorando a ambição dessa "espécie de nobreza" em notabilizar-se que a administração joanina promove-
rá grande parte das obras públicas - destinadas à tentativa de "civilizar" a paisagem. A chegada da Corte colocará
também, para D.João e seus funcionários e nobres, o problema da moradia. Para tanto, casas foram confiscadas
pela Coroa e também lojas e armazéns para dar abrigo e sustento aos emigrados. Loccok nos informa que, antes
mesmo do confisco, a gente da terra se adiantava "em seus oferecimentos, emprestando espontaneamente seu
dinheiro, suas casas e quase que todas as suas comodidades".'0
Todos os viajantes são unânimes nas observações que fazem em relação ao nível intelectual da "elite" da
época.
Maurie comenta que "a palestra dos homens educados, contudo, é mais animada do que instrutiva, pois a
educação aqui está em um nível baixo, compreendendo um curso limitado de literatura e ciência".'1
Naturalmente que o observador inglês põe o crivo de sua própria origem intelectual para julgar os da
terra. Porém, a realidade do ensino colonial é realmente precária. Ensinavam-se grego, latim, retórica e poética.
Preparavam-se os jovens para o bacharelismo dos salões, não para enfrentar as dificuldades reais da colônia.
Para compreender as iniciativas de "modernização" promovidas pelo monarca português e sua Corte, é ne-
cessário inseri-las, assim como os seus fracassos e sucessos, no interior das contradições da sociedade de forma-
ção colonial. Compreendendo-a a partir de seus traços fundamentais (principalmente a escravidão e o bloqueio
tecnológico por ela representado), será possível atingir as dimensões da contradição entre a "Europa" que tenta-
v
am importar e a sociedade plasmada na colonização.
Nesse sentido, um dos eventos que melhor permite identificar essa contradição será a vinda da Missão
Artística Francesa - em 1816 -, contratada pelo governo português para atualizar o gosto e a técnica do novo
Império".

2
9 Saint-HÜairc, Auguste de. Op. cit. p. 38.
30 Luccok, John. Op. cit. p. 68.
3' Luccok, John. Op. cit. p. 86.
Esses artistas e técnicos foram contratados entre nomes que estiveram ligados ao derrotado Império Na-
poleônico. Deslocados de sua antiga importância, tentaram a aventura de dar à Corte Tropical dos Bragança a
dignidade e a imonumentalidade do neoclássico.
Todavia, sua concepção de arte e de organização do espaço correspondia à Europa da razão burguesa, con-
temporânea da Revolução Industrial e da liberação do trabalho.
A realidade que esses artistas encontrarão no Brasil de D.João fará com que as obras e os seus projetos
fiquem como eventos contrastantes com a paisagem aparentemente desordenada do espaço colonial. As fontes
iconográficas da época dão o testemunho o mais incidente do contraste entre os eventos arquitetônicos de um
Granjean de Montigny ou de um Debret, principalmente os monumentos efêmeros - construídos para as gran-
des ocasiões em madeira, como imensos cenários a tentar ocultar a realidade legada pela colônia.
A paisagem, que aparece como desordenada e confusa para esses europeus, na realidade correspondia a uma
ordenação que tinha sua lógica em um sistema em crise. Nesse sentido, as contradições desse momento são tão
agudas e evidentes.
Essa "Europa possível" ou essa "civilização", ao ser trazida para o Novo Mundo, apenas virá aguçar as con-
tradições já existentes. Momentos importantes para a nossa reflexão e pesquisa, intelectuais e artistas do Novo
Mundo (algumas vezes estrangeiros em nossa própria terra) que vivemos as inquietações de um presente que nos
leva a repensar continuadamente as nossas próprias contradições.
Grandjean de Montigny,
a Missão Francesa
e o Rio de Janeiro pela imprensa

Susane Worcman
A leitura de jornais e revistas de uma época transforma fatos passados em algo muito próximo, fazendo viver
seus personagens e incidentes. Ao fazer esta pesquisa, objetivando documentar a exposição sobre Grandjean,
a atmosfera de um Rio de Janeiro que não conheci, mas que podia sentir, foi-me envolvendo. As notícias e os
anúncios, sua linguagem e forma retratam de maneira incomparável a cidade encontrada pelos franceses - an-
siosa por equiparar-se a uma capital européia, mas a todo momento deixando transparecer sua ingenuidade de
cidade colonial. Utilizando uma abordagem visual, proponho-me recriar as imagens que percebi ao acompanhar
pelo imprensa os caminhos de Grandjean.
Assim, a 6 de abril de 1816 (quase um mês após o acontecimento), lemos que

KEm o navio Americano Câ1pbet ohegcrío do


Ravrt de GrAce a este porro as pessoas abaixo no-
meadas (-a mor parte das qaaes são Artistas de
profissão ) e que vem residir nesta Capitai.
Joaquim Le Breton, Secietario perpetuo da
classe d»s Belias Artes do Instituto Real de fran-
ça , Cavalleiro da Legião de Honr*.
Taunay, Pintor, Membro do mesmo Institu-
to , trazendo sus mulher e 5 filhos.
launay , Escultor , c traz comsigo hum
aprendiz.
Debret, Pintor de historia e decoração
Grandjean de Atotltlgny , Architecto, traz
sua mulher, 4 filhas, 2 discípulos, e hum criado.
Pradier, Gr»vador em pintura e miniatura»
trazendo sua mulher , huma criança , e humas
Criada.
Ovide, Maquínista, trazendo em sua compa-
nhia hum Serralheiro com seu filho, e hum Car-
pinteiro de Carros.
Ntnkbonm, Compositor de Musica, excellen-
te Organista e Píanúra , e o mais distinto discí-
pulo" do celebre Hnyin,
João Baplista Levei, Empreiteiro de obras
de ferraria.
tficoldo Magfoirt Euout, OtHci.it Serralheiro.
Pilhe, Çurrjdoi de pelles, e Curtidot.
Fabre, o mesmo.
fyilx foié ROí . Carpinteiro de Carros.
Hypolite A"o>, Filho do antecedente, e <fo
mesmo mister.».
Isto, em um jornal que divide "ja-neiro" em seu cabeçalho e dedica suas primeiras páginas a detalhadas notí-
cias de longos tratados e eventos europeus. Na última, o movimento marítimo e os avisos locais, em que artigos
ingleses e franceses sáo anunciados à venda, junto com negros fugidos e livros de feitiçaria.

N.» 23.

GAZETA J | f f c DO RIO
D E J A- *Ç|J1P KEIRO-
SABBADO ÍDEABRILDE itíis.

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;T.-nJn • impo< i iml-oa «am ippirc K 11 i:r CiNfe M , * de idade d* le » > « poteo m i a M rr(-
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t i . if f - - í f 19 Ic fuuot. 4>Kin'qi;ii(. wri»-f Ww com CafVipM J * ' i * , r,o luas, d* A .

AVISOS.
Ni 'loji d> Q"ttt> !g «ha. — Sitvt li iM«tl lOÍ/í « "io f «JitM rffl' vmniu t Altiiit t COM-
Ml icl'rriiyirii'1 » de [>odtr to díNtnlo í .1- timorM m orem A laitr jttuígit, por L aO rfij. —
rlir.ntia-Aât Im«j""ilfiis-ixstavtí.amií At 0»Hf cimaAai rrU Itmia.-áo' i.Mtn , attt rrrfiij Ai
Jn.itir.9 i £hr:mDiii«haAat, Ftiiittirei , Iciniwitd , PcítnMímai , r •fhtiif du w » «rrvjao , .[3.
n*-l , /Vi/'« ' FirtKJnl , £iif<t«ifirNiiini, e>r. rum >w«i tHftU.li, !;,o:> — Ptfc 1.1 Ar Cttilin • Fm.1-
\ i , aeiiiJa ir fttilttitn, 1 1H0. — A Ant-Ma^ita anitiijuilaAa, 1 uni. d» *.° 4-roo. I
Cuilbtrm VariO" N." •( rui do J a t i o , lera piu .enjer por miúdo e aiíeidoi por piecoi no-'
irtoi, lorlimenior coirpltiot d* poicetjni e Ibuci gunde c vidfoi !.<pUidoi /flflfíM , (lnl^em no <o-

loi it lojti aucido, icndo indo ttnpi» /.t/lfi.


No cimpo i' S- Ctriitovio \tnic-ie humi chiem com 10 bnçit d; htale t 71 J- f,i- 'o
icJi plinuda de cipim, tom, horta , itidtffl-. c m de v i . o J i , f pome tobtt t " " " " '
ctli tien'.(, Qotrn >]uraer conj-iii diri]i-K 1^ it.«» ,U B « . . M O . i j ; . ^ . .
(jiirm ithitse rum' bilhete J.i Loirrii mi
di ^ i ( i u i i 4 . «n;o d* IUJ Jelui do Haipi l ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^
' í J I I I Mtndti Aa Jnnittdt , i[u« le ichi extrtendo o Oflíelu de Menltho L'O Mir e A-|inJrí
(11 u b » ao tleipeilivel Publico oue Je hole em Junte ha de M r a lua MficiMtuij da Luit M<*
ii fa-ruiirclloi.
IJuem quiltt comprit huma prOptifdaáfde c a i » de tnbudo , com tojit, 1 m na rui da '
:.-i(rrilij N." J( , dirija te 1 cila de SariMomt» Jolt AínríKt, monJoi na meim» iv» N - \
tvm loil de louca.
Quem ^g.ítt comprai hom liuo em retrat de s,„ Pt»,*,, c o m n u l M c i l l < i M ^

M, Sl.gtr»» J o t •Rf S BMBI«fi«C»«IW,, r * M « b * tlBtJtSt JoE«.B*S«»*t«M«-*»* Zjtfh


E ainda no mesmo jornal que vamos encontrar, um ano depois, a deslumbrada descrição dos festejos pela che-
gada da imperatriz Leopoldina, em que é evidente o desejo de reproduzir aqui o fausto das Cortes estrangeiras.
N.* í»l.

GAZETA DO R I O
D E J A- N E 1 K 0

QUARTA FEIRA i í DE NOVEMBRO DE 1817.

RIO DE JANEIRO. Cavalherices , tm qoe entrai Io oi Cavalheiro!',

H, L A vendo'chegado • eat» Coce o Excelleniis-


»mo Conde d'£lís , Embaixador Extraordinário
da comitiva do Estcellentiasimo Embaixador , e
a Carruagem do ExceHentiiiimo Conde Con-

Je S. M. I. e II. Apostólica o Imperador de Atuiria, N«ra noite , Houve por Bem ELRE1 Nos-
Rei de fhiifrM e de Hotnmi/1 , em i Nau S. Stbíf ao Senhor receber no Paço da Real Quinta da
SÜo, que lana pine da esquadra, que conduiio Boi Fíits o Corpo Diplomático , t em preiença as-
a S. A. K a Sereniisimi Senhora Prinoeu R o l •im deare Respeitável Corpo, como dot Cirandei do
du Remo Unido de Portugal, do HIAV.í , e dos Reino , Omciaes Mores da Caia , Camireitas
Algãrvtn ELKEI Nono Senhos Foi Servido, por More* , Damas , ícc. começou huma magní-
hum» contempUçio parriculat par» com o Impe- fica Sercnaii na Caia da Audiência. Deu prin-
tijiir , e em attenç/ão ao eipecial motivo desta cipia a esta pomposa solemnidide huma lym-
FmlMiKiifa , mandar no dia immediato ao JJ en- phonia composta por Ignaeio dt Frttlai. Dignou-
tti i! di .Mj,,.].I,í,J , comprimeniai a bordo o •e.então o Setenissimo Senhor Principe Rett de
mentonado F.mbiix.idoi peto Oficial Maior da cintar humi ária com as foi mil idi dei seguidas em
Sec r u m de E t u d o doi Negócios Estrangeiros limilhanw* circunstanciai, repetindo ene mesmo
e da Guerra , o Cocnmendador Camilta Mttrtim obséquio as Seirniisimai Senhoras Princeza D.
L*)',t, o qii.! panou em conseqüência a dirá Nau M » I A T i l U M l Infanta D. laaMs, M*-.*. De.
r!,.i 11 nora* da manhl do dia 6, yewido de pois destaa Reacs demomtraçÕei de júbilo , srgoio*
Í irande ( i i i j , e levando huma Carta do Excellen- *e a eiecuçio do Dramma intirulado — A-gurio
4i Filithi, arranjado pelo cetrbie Aforei.i Portn-
titsimo Jóia Paulo Btitrra, Ministro e Secreta-
rio da Estada d) Faienda , Presidente do Real gal, compoiitof da excellente Musica , dejeirpe-
Erário, Encarregidn interimmente da Kep.miçto nhada perfeitamente pcloi Músicos da Real Câ-
doi Negócios Estrangeiros e da Guerra , para o mara ; Krminando eire mesmo Drarrma com
referido Embaixador. No dia 7 pel« II horn da hum Elogio também em Italiano , recitado por.
m m h l deícmbircou S. Ki. e ai mais Pessoas, que hum dos mais insignes Músicos da Real Câmara.
• accompanluvlo , e ei t*HÍ* nos Escaleres Reaei, Nio he possível descrever fe!mcnte a brilhan-
forío conduzidos i rampa do C J « do Terreiro te perspectiva , que o Berrei t o de rofoi dadas a
do Paço , ande o erpeuvs em hura Coehe de grandeza e a liqueu • e nunca ™ tio breve re-
Eitado di Caia Rcil o Excel lentíssimo Conde cinto encontraria > fama objrcto mais difctw do
de Avinltl , q«e Tora nomeado pira Seu Condo* sen clarim. Nada diremos dique! b alrgna , qoe
crori o qual, logo que oEscaler, que transporta- reflectindo do Augusto Semblante de Sua Majes-
va o Embaixador, chegou á rampa do Caei, se tade no de todos os que tinháo a horta de israi
apeou do CocSe, e o toi encontrai, e voltando ptetentei, era sem duvida o írsir|» mais digno
com elle ao m - m í Coehe , o conduzia i Caia , e proporcionado á Gtsndeis do i bjecto. Nossas
que Sua Mi^;«nJe m i n J i n destinar para reiiden- expressões diminuiiiio o seu realce . c o noiso
•ejl do mesmi Evcelleniitaimo Embiixador ; ac- respeitoso silencio he o mais fiel n . l u o da ncua
companhavãu* a ene Coche maii irei dal Reaei ídmitaçío.
Entre oiob]ecto<;, que deufiavio a aitençía, Em iodai M trei r.eiiet leguinlf* tf Ctpfftvorl
Mio oi arcoi , que j.i mfneionimo* deid* o Ar- O iico com ICflM 01 KM CiraiO! , iIltn:mado
«nnl iié i Real Capclli. Oi «trntoi limitei de; com ctra, e grande -crcluíio de margis de vicro
(i iolln não aoi pennitrem dtictevei com conve- e g l t b o i , que lhe davio tedo o tealce.
niente cíicniío • _ Dcve-K m e elrgante iromuncnio i habilidade
d í i i , qoe ila iltéeto mer.oi de grati-
de M. Cranditan it Mo»iigny, Aiquiteeio, e de
No primeiro, erigido wlo"Commercio tu t f M . Ditnl , Pintor de Hiuoria , Anitiat Pentio-
quina J i rua dot Pruaámti, com lume pira o nidoi de Sui H.gemde Fideliiiim», e *«i cnida-
Atcerul Real da Marinha , venceu o Aiquitecio dot e deiveloi dei NegceUntei Jcáftiim Jeií l't-
diHieuldiJei i que olrerecii * eicaufl da terreno , rtir* 4t /<iro, e Irêtuitte Ptrtira át Mtiq.m<t,
eonquiliinJo al*nm eipaco pira o lado da peque- Focar legado 1 roí peru do Commeicio da IUI
na pUÇI, quj O precíJt , pela reunião de doil erecçio.
peJeitiei, que luitcntavio de hum lado • Figura Próximo á roa do Sfbl» te gcnivi hum ele-
do Sio fo Jantiro, i Ja ouira • do í^anira | gime itco , com JC palmoi de largo , 18 de vi-
irtiílii afyreie.-mnJo ai Armai do Reino Unido vo , e 12 noi doit pcdeinet, que letviio de ba-
de fom.g.il , e do íttaul, • Atgiuvei, c ena te 1 8 coiemnii, qiie o l u r e n u v i o ; 11 Mf ilion
ii Agoia* do Império. até a baranda era de €0 palmoi, e tié i cabeçt
dai Figuras, de U6. Sobre a baranda te fiiir.avSn ) pe>
Ene monumento conimha irei I abei tu ris 1
dentei , onde eiiiTÍo collocadat, no do meio 1
M I 1JTJI.II ; o grande arco do raiei
Egttn do 1-ivmincH, e de hum lido * Gloria, e
moi du largo,_ era tuitenudo por oito coluninat
do ourro a Fama , mostrando doit rerabolos coir
de ordem Dotita Romana , de i6 palmai de ilio,
ai letut — t L. — ]. VI. debaixo de huma «010a.
d:ixinjj pira cada hdo por -entre M columnaa
Sobre oi pedenaet da baie dm columnai, e entra
paiiagcii livre de K pilmoi de largo, pelai quaet
citai, Eiravio collocadai a* quatro panei do Mundo,
•e letria o Publico, e ia formarão ai i l » da
e na face de dentto do arco , entre ai metmat
rropa , que bordar* a» rua* no feliz dia 6 do
columnis te (chavão do>* pedctlael, bom de ca-
corrente A aliura geral do monumento era dt
da lado • com doil gtandet vasos , que lanr->vlo
50 palmot, a largura ilo lado ia praça de £ 0 ,
peifumei no occiiiáo da paitagen de SS. MM.
c J i p i i t ' da rua Dinit.t óc 4.0, que he todo o
e AA. RR. A baranda do arco era gaarnecida de
elpaço da rui. Entre ai columnis, que suitunti-
baliuttret , e 8 pedetraet > que 01 drvidüo com
»io o grande arco do meio , eitavio doii pedet-
grandei VIIOI de flctei. Oi pedettaet erio guar-
raet , tobre oi qujei for «o postoi doit meninoi
necidoi de ditticoi, que nío (rinicrevemot por fil-
ricamente veitiJoi , com 01 croblemai de Amor
ra de etp.150 Em todos ai 4 noites eiteie iüu-
e de Hymmeo, IJUS appreieniarlo a SS. MM. C
e Hvm.neo 1 grande Coroa de tnimoiai Dom, minado com grande ibundancia de lozei, e agra*
. RR. PM davel lymmerrii.
> do a
1 Coche, que oi conduzia, ejpararn- Oi perfumei,, qoe mtnciorrãmos agora, e as
Aorei, que cahirio do nco precedente, não forlo ot
00 10 mtrimu lempo quantidade de florei.
nnicot aromai, qoe embiliinurio 1 itnmotfén
Üi baiato* relevei, que omtvio o arco da 10 pinarem SS MM, e AA. Rtt. De toda* as
praça, repretentiváo oi emblema* do antigo e no- jirtttUii iiuibida* de Senhora», lanca*So etiai ii
vo mundo , reunindo o cadueto do Conimercio,
r fazendo jacritícoi. Do lado d* rua Dirtita havia
duai figuti) da Fama ; hum a com o faefco de
Hymmeu . que vinhl je oferecer presentel, e im-
t-ocava • trombeta, e 1 outra depositava tobre o al-
O terceiro nlo he propriamente hom arco. O
tar de Hymineu ai cifrai reunidas de SS. AA.
•eit author díi que " picce ler hum rriunfb Ruma-
RR. o Piincipe e * Princcza.
no feito i preita. Oito eitandariei fincados em
Pot baixo da grande corrnja , que coroava o
rerii são preio* por grlnildai e Itoiei i a nobre
•tco, M n«av» a i n j c i p ç i o — A' filitUniia, O
folh.-.-em de palmai ic etpalhi por teda a pane
Commtrcití ; e tobre o» irei degríor, qoe cila IIü-
e coroa roda » obra. Em vn do Genera' tímuh
temiva, hum grupo deju^i igotaa tentada*, e ila-
no, fcstcja-ie hum.t filha doi Cci.irn: a Agoia de
d a i , com Oi aitribuIO* da p - ; , reunindo em hu-
duai cibécai 'em ferio as « z e i da Águia Humana,
ma coroa ai eifiii doi Angnitoi Eipoaoa. Todo* o§
Ot medalho» não tuzem i nutr.ctu victonat itn-
biixoi-televot , de h o m excellcnte , e rrugnifi.
(•,'i-iolfntíi, m u sim 11 - n ç i s , e oi tale-not de
ei cumpotiçáo , erio executados em ouro sobre o
M i i i l ' m c « i adotarei „ II; e»i 1 idéa, que po.
fundo de mirmore brinco.
A' pawagem de SS. M M. , foi eeie morm- d:mt» dar da]ii:lía obra com a* m.-mu pilatrii
memo ricamente ornado de fcitoei de 6nat e de- do teu Arauit.-cto. OiiaitCrtn erio: — Bondade. —
licid.it flor» de Frai^a, e dii C**l de SS. Amibllijade. — Doçura. — Sentibri idade.—Benetv
AA. Rtl feirai de ro*at cnm o |MM mau etqui- cencia. — Constância. — Eipirito. —Talento
lii J , appreicnudit em (ned»lh«« rerL^iidoi de te- | Sciencii. — Encantos. — Graça. — Modeitia.
da cõi de CITO , 1'ím de crjlrot Je tci'a izuf E em baixo — Felicidade Publica.
tom giandet k m * de outo iniclati CM Aquilo*
Nonei de SS. / A . V.U.
Grandjean já é, então, o primeiro professor oficial de arquitetura no Brasil, e suas primeiras obras parecem
despertar grande entusiasmo.
Nos 10 anos que se seguem, o Brasil passa de Colônia a Império, e os artistas franceses, importados a fim de
aqui desenvolver as artes, passam por muitas atribulações. Um ato governamental cria em 1820 a Real Academia
de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura, mas só em 1827, já sob o nome de Academia das Belas Artes, ela
começa a funcionar regularmente. Nesse ano, um periódico dedicado às senhoras brasileiras publica uma apre-
ciação pouco lisonjeira a respeito da situação das "Belas Artes" no Brasil e do mau aproveitamento que vinha
sendo feito da Missão Francesa.
BE1.LAS ARTES.

O B M d. Rolor. M U Corlr. confi™ . mU* ™» . Ü ^ È I ' í ' * " 0 P™«™ b " " ™ ^ ^ " P V * - 1 ' !••"-
tooMi p r a r«»(h. m . , . - FoHwo. _ , _ , i o n p , * 7 S i 5 r ' i i T i i » i í t ? ^ * mT^fí '••*!Ti i r

!;x: íJHs^&yíSErS i E r ^ ^ í E e t sr:ME'


iiqua l í n i t , t di c , n , o, obro. piiduridüí w r i ^ V i m í í 2 n u " '«W» p « . & di.-.nci. co»»i>«r.ie « podrr gbnn^r
<i>i;„^ Ar- laot admiradorc, t> nln |i.it«jrim dw borrwi ti-ftalU, * dii.ruWr • prnpctiiva.
J * P"Wi»çío d* rrprwnlar m Fiiuft.fi da n i l l l gà *»'•* « f W * " nin tio oooui priialita., >ão i, .!.> min
Saolo. da p l r ai.n p a r t __s | J M q u ( , J|J(l| l r j n i i | l l , ; , } o do Hbio, a. «o poblii-,, [Iluminado .]•• P.iria, o Londr. • .
1 IlUuril ODIcs da chrf;i>J> drl Rrv D. Joio V I . w n tm-rno F1™ l 1 ™*' ''"aremoi »i)i» hiiiD podaço do huiuj cibr. IU
tom bailam* i f e i p í u , u „ , 1 , ^ (umuJwlo t i r . e m >Si6 trmianle . Cruel» do m.iiio. irabalW litloririoa o hdaga-

maior loinorclln nwrccem. qw l i . o ido r. bo. vwilwlp ^ / " " » " " • r»ni í« iiwwi. mnnwií (« liwtt* ISMMUJ:
podüo ir.dU.i]]fl. . , , « ,, 1Q alha««n. p.,i. q u c „ „ , „ por £ * • T ^ * £ " ' ?f"„™?"S Z " * * T T l £ '
premia., r.«n p*rrio g rDi,n*n. pnrrfl,-,,..,,,,-,,^,.,-,-,,,»;.™. " " " " * <** " ? / * ' * • ' " ""."'•' " «•»«•>•*• P™'"!
» » m « i » por arde.» pnl.ivv p„ , , „ , , „ , , , ' , . . r.„ r l| u . - f">>«•*>•?»>• ' • . " " V " ^ V ' " 1 Í - " " V « « ™ « « ' "

Seapinlii™ watha nonladode abandona qnr imuiimi, J M I o irfüniijçMu» ThàMrt { * J ,('«« « j i i nnwrfuo-

RiLicioniperior» quaíqurr rdificío drsla Capitai, c no .!.- „ n . — Fcrdinamt l)-ii]>. Il"«uun- d. !'!LÍ>n>írr tilu-rairr .1»
Io palácio «pparfcem maii «i.iluai dn (|i« ««icoolrãn 11.11 Portugal ,uiri Je 1'ui.loin litleraire du Brí.if. page 58^.

Evidentemente O Espelho Diamantino não era lido pelas senhoras, pois o artigo provoca uma reação indig-'
n
ada através de correspondência nos jornais, onde, a partir de 1828, podemos acompanhar o desenrolar de um
período difícil na vida de Grandjean, quando questionamentos sobre sua competência entremeiam-se com pro-
blemas financeiros.

W.» _10_S.bbm.lo ^ ^ ^ • M d. Janeiro (,_„.__

IMPÉRIO f É f S DO BUASIL.
UlAltlO FLUMINENSE. Vol. n
Sr. Reénctor.

« e m i e . i l o , não r n m p i o i i i r l t » o «..-rito, p o i . r>5« •> ),* J.hüiJjil» <• . - i o n c i u de a í - o t i . d. * r v ™ . i í ; e -


d c i c r e m t i ; p o r v n quando . i...po.t.. I J , .e l u n d u . r u > ', .„„.,„., n „ ,„,,, h n ^ a d A a :.-„,hi ll-al e

!IS&^»srUriiÍUT««itt^,V?«^'<*i í" "'' '••""'^ p"»iw •«•:•'*-'- '-'••• t ,fi :


n o , a p.oporçao que ha maior a rapreati l i , i. "O * " " » d í i n > l r a c ç j 3 (lubliea daquolra< a r l r " . U r i f t
M a i U K . H H l l i d o , maior lie a Dltrfeatv'. M, ... .n.ua- bem . r menino c i n q i r u i l o a i aula* d a q u r d l a , a i l e l
caiar • íH.I •«•••ira , t u a i t n e w > i . l u u . u i a , e u n i - e «Ificiu* a i s í n - m m a p a r l e tanta*» 'Ia J i U
quiler • menti... E t c u l a Real . 1 » S i l e n c i a i , A r t e . , o O . l i c i u . quo
S . h i u ii l a a n foiha.i, P,oj,tto da jifono para a E u H o u v e r d t M a n d a i « a ú b d a w l , ru p « £ M » " •
Ataácmi« Imperial rias BtllKi Aiiit , qnr • ( <.,; ' . /.'- n u a l . i e n l o p o r querleia • cada huinJ d a . pauon»
ptufo j W u (.V.i/io ée**mka f > rir. I l e n i i . i u . J . - a d t t j a i a d u na relação i n w l a M U I Meu Real U r -
da S i l i a , U n e r l o r a LaajlB ita Academia . . u . I oru t i d o , e a t l i g u u i U pelu .Meu A l i m t t r o < Secretaria
MU imprearo moatrou eer i i < i i ' « > i t i i i i o l . i . d i n f m - d ' E i l a d u Nua N e g o c i o * E a l r a n g i i r o a e d» U u t r r a ,
fr.inrti V r a a M i a a ) , n n i i i a IC que o i 1'iafnrn'ts • • n u m a d * oi Io c o n i o i • K i n l u d o m aiil rttr, eui
r W m í l f t r á HinHilitlnt -ir falu Cinirno «u l."'!:'j quo i m p o r l ã o aa p e n i õ r i , da que por buni euVitu
* no t i . ' N . ' dn E-pelho I ) n a i l u t í l i o • p i a . W J da lUnilm U r a l M u n i licencia • 1'alrrual «elo pelo
• o i r h a • i n r i n j t . r-< ••.. . . c r u a d t i l a uiaiA-i'» : Vom publico uetle l i m i o , llira fu<.u irawií pura *
tr i> (,'scrirto, iam b.-< "> irtjHta, pãa lii.t.. »-• •- " u i auli-Mtenciu , pagoe pelo I t e . l E r . i i " , eme-
dWu xir tm O l l i /•»«!•• tolania da J'ii;/'iMirft < « [ i n d o d e t d * I n j o cada hnut dot á i i u i p f k - m . , a i i " a
' « ,• • proteeue, hJNflMMtl hMM mfii-la lau hb" •a ..l-.itic.oM , enrera-na , e f . i i p n l , » ,ie. que
m~o trr» oi rtmttndas que diria ler Ac.
t i a t i t a i r r x e * deèci.-.llio w C u r n o de S. M . I . , p r . i p i - u J n . l . u r , , . . . Nacional . 1 . . . I l r l l e < A r l e a ap-
p c i | u e , paalo !'•-«. ) u t . u i , . , . ü , M i . i . i i m , n U u - p l i c a d » ã Ia W r i a , n r l h o r a i u r i i i a , e Bt>fTr«*a
* e m o l i * o m u r n o ; e lie I « I - paia r e l i j f r e t l a d » imira» u m a •,tncio> inccauitua. I ) Mai>>*ex
• r r n i i l a , que lonio a peii.ia. E l u c i d e i a a w r u i l * , da A i r u i a r , d u CuHaeiliii d ' E . l . i l u , M w i x r u a.-ii.-
appacr^ii) ilocuuiinlua e làclna , e contieça o U i a - tanla an Daawiclio do ( i a h i n e l e . • P i c r i d e n t a da
a i l quem i . u e . i f i homena i n g r a t o ! , n-:e de Pm oi a .Mau R - a l E r á r i o , o I t u l i a ataial entendido , i t o
« i r i l s n.nrroaa o benéfica do Senhor I t e i I ) . J f í O f l r -a aaecuiar e»iu o i ü e . p u h o t l l t i m i ü í UM
o (i. = , f a / e m l.ooia e.Hpul»c,Ío de eiuUrur flo e m b a c i o de q u e - o o e r L a i a , O r d e n a , ou d.ipoai-
c o m p r i d o , • i n e h r a i . Não fotaem o> p i o m e n d c r r , , , - „ , < i n r . . n i r a . l u . I M . c i o do R i o d * J a n e i r o am
que eleroo l i l e n c i o c u a r d a c i a ; niai n ( " ha *• ITri- ) í de Aa,o.to de I 8 I I Í . — Coai a líubríea d * E l -
n i n i o pata t e r <!::nej!rida huma acçío dn hum A l n . J l ( | N o » o Kenhoi. — Cumpra-a* a ieei.ie ia. B i o
l i a r e i , a rpieru tanto d e . c a i o . . O uocunienlo k s u l , da J a n e i r o !rf do OUIIIíMCI de l » ! í i . — C o m * r a b r í -
« • uu» pela r e i prin.eira a p p s r r c t a i n i nomei- « » • u> do E i . - f r e . i d e n t e do K c a l E r á r i o .

» [MuwSn. V e j a m o i como to enuncia. Rriarüo rfnr BC.JOMI a M l por irtrtU * f M dWbJ


Manda S. M. por kua. rgtilo da ma fí,*l lilmifi-
Dfti' Io. ctMia dar ai pratici ainuiari abaixe dtclaradui.
, l l l t i i ü í . i d o n h í n . w i i i n , ntia p I „ , e m ara
. . , . „ . Rria UMaalla* .'e ••- M a U P < c r f ao U u i l A o Caeatloiro Jeaqaira Ia B r e t o o 1:60011000
huma Kaewla Real de S n r n r . n , A r t i " , t U H i c . u - , p , d i „ IJ.ito,, (JOOUUOO
em qua te p i o u i o t a , • d.ilunda • i m l i y ( i , ' Í o , o J o i o rl»p<i<ta D a B r e l , P i n t o r
tonh.ximenli.a i m . , . f . n " v e i i aut l i m i i r t i i i r . u n a d n . de iti.inrii. HÍWIIOOo
«ao a.i aua K m p r r ^ o a IVibliena da ' . J m i . i i . l r a r u o A t i d o l o T a u a a v . Raeallor SOOLOIIU
do E i l a d n , i, a i l a n l i e m ao p r o n n u o üa A g f i c e l - N i c o l á o A n i u n i n T . u n a » , P.uN.r. 8OOU0UC-
t o r a , M i n a r . ! i u i a , l u d u i l i i a , e C o n : i t e t t i o • da Á u i - m i i l l e a r i q u a Vietoeio O r a n d
que r e i i . l t a a . u l u U l e n c i t , conimodulale , a e i t i l i - J U D , A.cliit-ci 80111)00(1
«a^iía d n i p o v o a , m n i o r m r r i l e i.eate c u n l m e n t e , eu- Simlo 1'rnii-r, Orataitat . . . . . . . . B00L000
ja e i l e a i f o Ria Irado o detido a cortei,mndeiil* «'rancuco O n d e , P r o f e . i o r da M e -
nmnero do h r a c o i i a d i i p e n a a i e i i ao anianlio , « chanica 80011000
aproveitamento do I r r i t o u , p i e c i i » de r n n d e l aor- C a r i o . Henrique ! „ • - . . . - . , - , „ 3COU0O0
cair ua da praiica p i . n a p r o n i t a r o ' p i u d u c t e i , r u - Lqi< 8ij.pann.no Meunif 3*111000
j n T a l o r , t p r r c i o t i i l u d e iiodem t i r a foiioer do PraKÍK» üooiepai IlhtJOOO
H ' a i i l o m a i - t í r n a o p u i m i n doa I t e i n o i r f l - .
r i d o t , ( a t e n d o . » per O n l o i i r t f l l l t i o «»• I t a b l l M 8:03«lT0Oa
l e i n M a d r i d m I t r t t l a A i l r a com i p p ü t i ç f l o « . —
referencie ao. ollicio- n i e r a i i i r n i , e . i j i p r a l i . j , per » » d . J ^ n - . r o ,m )t aW i ( o a t o do 1 8 1 6 . —
frinln. # u i i l i d « t a d e p e n l e d,.. ,. .,,!,.•,• imee loa ll»-(.- fllaraun if> ^ t n ; o e .
A carta prossegue, em 26 e 28 de janeiro, criticando minuciosamente e com veemência o artigo sobre Belas
Artes e o desempenho tanto de Grandjean quanto de Debret.

V." niFfirtiJi •'!'•


( a »HX0 daa l
• N.. üu R pt*
Klaaj Ima *imil :;*i- «H T W r r rf'«, í^ií rca.trf.ibl.-. Ia rírro), T.iln-
I.sm d l ili-lln n ulH-Incu ik. ,> nimlii.lii tríiiiane
l^rij) do Papl pi-la checaria dt Sua 5Uj**tad< •
-I- H,,il.,i
W.* Pitai» .1 B * ) I H AH» 1 1"e
,!•• .1 -..••» »•• \S*>, M para i*r •- r—W« •• (íbui lh> d«» •in-Ja
„ - , ; . - ' * • « n ' ! « W » . d o i . ! . • ! " • . - M I . . i « : t . . » r - -

111 a U>>•••--(--••••, «mquanla H t c r m Pari. : um


- , Ht*Ui'-« -i;.'.l.. dela Cipimt w« hi-n-..
(MM <|«e no literata da IM) j í "*.. <™. raltfi*.
(,„l... <i Cotctno jattEM , «• j . i l í " " muito • » . • -
v.f tU* prrdido n diniin á pra*l«) • f. ' I- . df pnlnio
10 , i|U» M ieliro.11 , e M« l"i-,|«lt »4'i B ijmiirii.i
uitmitlir • • lugar Je l^nlí. Kn-iMuntn *i> •<•!• JT».

•uiui lYJarrfatct»*, qH •

da, II I. »a irt úa uyaf t)i»Li» pro|wiii pam *> Ealaav •


r Laa • M«. i . . J*..C .«Li a hnr» , 'rSi r.' fLurji : pori[".' l«ia empr«'
( m i , ilciiiovr», •'l<> ii'Jinm f-lilii-iii da N.içín frãg^i» miltiim,
m.-o Mr. P'iadi.i -•nilm o .]-i» r<-«;n-.i>*ndi « »r[e do tdilitír, Jip.
que f>t*'nrnl ha IlialO , quinlu D
1 -oliimna" , r o Ijjrín onilu nau Fililuai (i haiioi
Prt=ttat durado i jVa nria ifr CmAM c':r<« çm al»c
>i- f j * * «"'1 CniHlal, r t w itt*ii!tSn o tem / " "
,.. . /&.!.<•« („• ? » . / ; „ t , ,1/,-, f!r„^Jf„tl ;,nmr, In . ...HI-V-J --n Jiiiin pau ard-
laia » .•'•:iri-p l«t. qna alé M in«ripçío q
viilal, iiut imã cnrh'.i pn-vi í * . n r rsiii jin.3'-- i« IJ !•••' cima ,1o piitticit •« íBCoalra n l r trana-
mlrr « fMM itnntlurinmi n Pn>ino it-u ffrita A- »„.!,.„. i.-ím. I n i . : Ar«kmi« ImpfMit BrUaritm
In, Eu «mu «iirimia d* fvaawa calÚc», Mr.flrtnt • :..- • rí'in lilm»i.<; n i " M/li-iiii 'nrt/mii se ao
' ; . , t-luir:i d,, lio olr^mi.jiiuu monuui-ino I f a l -

l|9, d«nil« IS* • r-eaRfariçto de hun» ISr.j« (.')•


'»' " " l-m'»™ ' • q»* "» R>mlin*„ t ,-,M-Í
•«rata rfp. /•rtílí f>r/« iartio dt c.,« d«
ra iíu. CÒMtt»reÍMtN rm Paiii , pa* i n j l i l

J.iirifò (3)| l i *

Irm.t-Jínn não ca» • ' - l«r .,..* f.i


• Io |-:<rfl (,,.;,„ Jn«í
Smhi.r l.uij! rir >'
A resposta de Grandjean vem em francês, no jornal L'Echo de 1'Amérique du Sud, aqui editado. Diz que "nous
aurions desiréde suite focasion deprofesser, mais des raisons, qui nous sont encore inconnues, se sont opposées à
notre zele à Pepreuve". Ataca frontalmente o diretor da Academia, José Henrique da Silva, e aquele a quem ele
pretende entregar a cadeira de Arquitetura, Pedro Alexandre Cavroé - de quem diz que "a etudiécet art dans une
boutique de marchands de chaises à LisÒonne".'

IT. 101 (Vol. I I . ) i8a8.

JORNAL DO COMMERCIO.
Sexta feira 1 de Fevereiro.
(PREÇO DA ASS1GNATCRA ,o«» POK 1IEZ. )

i l A Hn'i J . Mr. C r . . i > . n di h.nnt ir.i>4*


riuun , • ín M M dt viv.nJ. M U m laja» i' * • -
drijto rffl KrtilJt, • i i t M ih«iL«i P'*IHI .1 hi ér i'

l i i u i f l — l » alo lmp»rial T k n i n ala K. r.,J™ , . .-.


fUH da • • • M vrndfT b , . t . . l . M M M J- t . l . . l . . ,

« U n i l M D. 9 * , J J H . 4 . * . . ' ! , , „ , . d. Lulão
t u •"Alfaa.Vp • - w , h . . . . . . . . , „ D i » U i , • tm
M M a". I * ' U M MaJÚlaa Ir.:,.' i...
JWaa
ti Na ia.Ua Je <N iS Ja J***fc*, -laaipraa» aj | * u a
l i .lixla Nua» Léan». ( ' • • * • > («naU l> • • * ' • , ftl-

/.,!. — W HHWMM !-M M * h n * , M ^ WM.


* . . at-aar « Aat-liaiaRjdor M M M ..-.i.l-.
• I N« . . . i . 4* « • v , ^ t w t a , • « • * * - « «
(,,.. .'. br. J- kl. R M » > .1- U.r„ . J . H Í . •
r ..„> d* ! ' • • . , <tr • t . » <• 3 i U « . iwl. .!'AII ..4. ( »

M ' " ™ * . ' M M a . V $ 7 * • » * " * * • * • » * *

£>o*aw Fmgidm.

r . - . J - , • laltH 4a l.lla urtu, n M 4* » « i — ii.tr


• Ia
lta I«
Mticil 1 I H a > l . (...!. ma . . . J ' A H a - 1 . , . « t n J a
t . t i p u i H IK. t a l M i u r • M i n k d U .

No dia seguinte, o Diário fluminense publica a seguinte "Notícia particular".


A venda, aluguel e procura de escravos é uma constante, a designação da nação a que pertencem demons-
trando critérios de valor em função da origem.
i Documentos a partir da página j6.
O redator do Espelho, responsável pelo artigo provocador, escreve ao Didrio Fluminense, em 4 de fevereiro,
explicando suas intenções.

t i a •!>• dignidade d i i t c t u i i a l ; no niireianto » K *


i I U E o « m i n o p l . n o du l'i «fem-oi Acadêmico \>-
b i r l , pi a nu ( j r i i N l i i o do !»l )T,)li-nrr , i p * x . r <j<
( l i e r.i... r * m ncm.c doa ••• "- culltua» natinnaei.
K i t , perna o | > i i * e j « l l n i r i , , . . . . , » f . | . , í 0 d .

» M coma c u n . p l i » 0 bo .ir.tio M s i .
M •'•< a.boti
,!,. , . l . , . „ U r b r M i M ; pur cumula de ileaurdea
> K a .e l b o , H r c d M d i d *
• N=
. d, '-!«£
matéria. P « r e « . f i r m e o> tiumi f u t . i a c í i i l l i a
iDimiiienle, • • declaro aqui que nu d, ° N . e do !•••
uelhu Ur.ru Batina, artigo Delia» a r t e . , niitndn tal-
I.i nu i n t r i g a i , u u | , í , aoiiho •<:<! Unibrei do S r .
Director Henrique da M i r e , e daa atenufjiee qaa
( i i l f i . i T que tenha f e i l o , >in> d » , intrigai d e hura

belecin.entui liberara • * uiecJi'e*io a p" 1 •!«


e igualmente dai intrigaa i m e i i n i e t da C o *
[oaioiidaa p o i bum aujcilo de ( t n i o i m a -

f l a n u como p r o » i d* que naa i r l e a bom p r a l i e » *


te pôde ter p o i m o U e o t i " » : pelo que loca ao
talento d m arilaiaa Fi . « I T I - , eaipreaa erdoa pa*
ia ou S í . da ror ria pondero ia i r i a o deiacrcdiia*
In. U l i i a i , e a i r i t o i , e opinlori E a r o p e a i aio tee-
temunhai diíliceia de aerrru arguida» de f a l i a » , ma«
defcndio ae allea m e a n i o i , caeo que aeja i i . r n . i a -

nairçio na Franca de N . p o l u l o vindo da Ilha de


E l b a , a qual t e » lugar em 1815 , foi obllaculo
para que a Corte de Portugal ae u e t u p . n e em
uliliiar arliataa chegado* «o Rio de J u n i n o no dia
I f de M a r ç o da 1816. Seu a » Í d n n leitor o R e d » .
atoi reformado — JuHo tiaie dai Paimtirt,.
Note-se a observação "intrigas de um partido que intentava reconduzir a Corte para Lisboa, e cujo interesse
era opor-se a quantos estabelecimentos liberais se meditavão a pro do Brasil". Explicaria, talvez, o ostracismo
dos artistas franceses? Não poderia afirmá-lo. É, no entanto, significativa a importância atribuída ao ensino de
Belas Artes como atividade de Iivre-pensamento.
A questão ainda não está encerrada. L'Ecbo publica, a 6 de fevereiro, cartas de J. B. Debret - "Professeur
de peinture (tbistoire à lAcadémie des Beaux Arts" - e de Félix Emílio Taunay - "Professeur de payage a fAcadé
Impértale des Beaux Arts",2 respondidas por "Hum cidadão Brasileiro" no Diário Fluminense} Em 9 de fevereiro,
Cavroé, desculpando-se "pelos erros de estilo ou de gramática, a língua francesa não me sendo familiar", chama
Grandjean de "bom desenhista de arquitetura, mas não bom arquiteto".4
No dia 7 de fevereiro é de novo anunciada a rifa da casa. No mesmo jornal, anúncios de "sementes de ceboli-
nha muito boa vinda da Cidade do Porto, salames de Florença e mortadellas de Bollogna" contam-nos algo sobre
as possibilidades alimentares de então. Na coluna de exportações, lemos que parte "Para Lisboa o Bergantim
Portuguez Formosura, 1208 sacas com café, 1 barriquinha com farinha de mandioca, 965 couros de boi, 5 dúzias
de cossueiros de jacarandá".
A variedade da exportação é ainda demonstrada pelo aviso que diz: "Compra-se com toda a brevidade um
Sahuy ou Micco de pequena espécie que seja louro, esperto, de pouca idade, e sem defeito que he para se remet-
ter para Europa..."
O problema da Academia continua a despertar interesses. Alguém que se assina "Un vieilamateur" escreve
ao Echo propondo intervir entre senhores da Academia a fim de que as aulas possam começar em um ambiente
não tão conturbado por "ódios furiosos".' Outra carta, anônima, é publicada pelo Diário Fluminense analisando o
currículo aqui adotado e comparando-o com os da França e de Portugal.''
O Jornal do Commercio de 16 e 20 de fevereiro traz o mesmo anúncio:

• 3 M r . <;, .,.,!>.„ f . i • í i t f . <U U m ! liiul. t i n -


ta!* * a u i l i l u H I«fjM d« ltadrij;* J . F n i l i i i , i ) i i
• • d i r i MAlhrlmmt* inn.ii a urnini uiim Ulirii
tulnordmirU d . foptnil TUwIro do S. F.Jrt d'Al-

LUkMti t m i i n i . p . n » d > r b r u r • ••> prooii«l>d*,


t u b » i n t i ] ; « i B « i . . . , , r t i i . ; r J „ J í , . I , , U r.«,i !,[„,
M r . C . i . d j . . . caiTidi 1 l » d u •> . „ , , „ , . , „ • n t
« r m . l i t í u r <[ r .i. rilft, • tfcj P « . . , . W . , i , r . . . „ » . r
• f n | « » d * d * d* <{» •• tompG* , • • « r i ™ dr <|» «1

f r r f * i l i «iiir».
O i l i l l - u . » • < ! > • • • • . « J . r - u M I u m l» P U i -
r\.< r u 4, O.TÍJcf * . a5 | J . J . DvdiYorth , M d *
A l f t a d t u . . 3 8 , c i u d, i t i l l a ; I t m i d u « . l ) i r « -
U | • M q a n i U d l i • • l n j i i Jr n,...,l,.(-. I . I * M M da
O**tdor, Ouri>t• • A U d * | a prtnt d« cida k m H -
l u l * U d* 4rJooa.
í>A uruuuiiilA u-iijíiLt *
O apelo do "VieilAmateur" não parece surtir efeito, pois Cavroé envia ao Espelho uma carta na qual, através
de silogismos, responde a Grandjean. Assim, escreve, por exemplo, que "i - Ungénie transcendam se manifeste par
ses productions. 2 - Mrs. de Ia colonieríontencore manifeste des productions de génie. Ergo. Mrs. de Ia colonie ne
dungénie transcendam." E quase aofinal:"/ - L architecture est Fart de bien batir. Celui quia bati de sorte que ses édifi
eeroulent ne saispas architecture. Ergo. Mr G.J. quia batides édifices qui écroulent ne saispas architecture." Finaliza c
epigramas, assinando: "Celui qui a appris Yarchitecture dons une boutique de ehaises, etprocure une autre pour aprend
logique."i Uma nota do redator vai encerrar a questão no Espelho. Diz ele, comentando a carta de Cavroé: "Vous
êtes,je lavoure, ignorant écrivain. Et deplus, mauvais arebitecte."1'
No UEcho, três cartas ainda são publicadas.9
Jornal do Commercio, 24 de março de 1828:

6 M r . OTiàuil-u-H tf-, a honra de participar ao*


S r . . <pf LOUi|>i:.rM> IiÜhclM Ai Hílli de toa caia « c k a -
<MTJ 11.1 l*ft«4 J« RvilíjjU ile F r t i u » , que aao lhe «en-
•10 |..i'.vini extr.1h.1- • rifla rum a proiima Loteria d*
I n j r r â l 'iiir..!r.i •:.• ti. l'-clío d'.\kijil«r;i , tUr n l i
pmni-rfa a r n l i l u i r o dn.l:. i i o reci-bid» Cimln oi bilha-
I t i vciK.íJiik , e '[•!•-- i » r ctiti-guinic c o m i d a .11 met-
ui.11 p e ^ - a i . ; u . i i i . . dtiípii w d» 1. « de Abril p r n x i -
uio p>.r iliuil.- , a i . . . de K, l*i-neU«r S r i t M t r a a d ' 0 « -
liíTor n. ')> , rn••arr>';c'lo rta dita reriiluiçSo,
7 Sama*l IW-I r C. Cimm K i m b a c t U P r . i ç » ,
M t i ! " t - m .•ii:i>i(tii'u ,4ra i-u Sócio a» .Sr. J o i o
Í Hilherme MurÜM , i"Utinn in !i» Iodai *t treniarüe* d « -
UÍ1M da KMSna bViN dr St-PW-l ! W I . C.
» n u j | ' | u t r ür. MgpcNvta i|itt precisar de h*m moce
j u r a leu <:..iieiru de «*llpl<i , » • aiíai para c n b r a a c a ,
xlade 30 m u n i , ti* >t*i <Jr, , rum ira r i r n a . i Imli* ,

íSSSm, B2 1 IVook.ifiUA ZfiSflS S

Dez anos se passam. Com a morte de seu diretor português, a direção da Academia é entregue a Félix Emílio
Taunay. Em um artigo sobre a inauguração do Colégio Pedro II que o jornal Aurora Fluminense publica a 7 de
m
aio de 1838, encontramos que "o Sr. Grandjean, professor da Academia de Bellas Artes, um dos artistas estran-
geiros mais distintos de quantos entre nós existem, e a quem o Ministro nomeara architecto do Collegio, foi
Ca
Prichosamente despedido e o que mais é, sem que S. Ex. lhe quisesse pagar o produto dos seus trabalhos..."
A resposta vem em

mo üR JOtEtM. —QUINTA FEIRA 10 DE M A I O -

O Chronista.
A Aurora, « o Colli-aio .le Pedro II.
0 conliimporanuo d i Atirara piiblitxm inn '•'• <™ collrjjio ornado por um gororno con«-
a r l i j n i>in quo ai uiai» v i r u l r n l a . , n u i j u i U i lilucional quo loin torirtaulf-DMiil* do darccm-
f i i n i i i n i r H o Jriailila.aalllliTiiln f . i i j * ao di^nia- U doa dmlioirni j m U f C M , cuja adininitlraçao
•i.iio urinai m i n i u r o ilo i m p e r o por canta líw 6 confiado : do ""> g o . ™ ™ qoo tabo o
•loa embaricm com que n. n c l i m lido do ?alor da »uor du povo p a r i » l o enpcrdiçal-o
l u l U r p i r a • ttuidarüu du colh-^io J« D- l'n- cm inutilidade*.
d™ i . * q n o o coiilciii|iii[,iii.u m j i | i ü i i n U T «i- A m . b r a i . c w pm|oel«* J n >nr. arr.hiloclo
do decretada pira úYiliiu.brar o« oluiluru. , o abi n l a n liara ilcporrm d l j i i al i ç i clim que n
nau coiu mira.dn bcnrficiar o paia, e promo- e m ) , n i i m i l r o pruci-dcu atalhando a caiuncãu
vor a'ii>ruuJ)igramviilua. , 1 6 „ , , „\ml„ Sahnrr.ni Ioda* M « 1 " m
A ^ / « ™ . i i J o o n o r dar ifcic U ..lo i u d i f f i r . n l - r d i l i . u , ,,,.. ,„ ,-,!„<•-ri.. •'•. ir.or.i-
d u l r » aouipro inhoroiiloi • rral.iacao de q i » ! - da.li- dr.,. i „ , . „ , ™ „ i i „ ,„i,i.,do Jo r i o mui-
quer i d o i i noia , i i t o quor altsodor a lodoa tlnlirar r w u m V i j o i IIMJ. ai» a inditorr-
o . ubicea quo I r m onco.itrorio, o continuara >aiel i^Baãela, M l k * V t a IWiWcuBtrni
ú oucoi.trar o d i g » i » i u H ) D i i i i i » l r o p i r a dar ato pur*»** ao cglkflo . ou Ifcímir•«.• .h- '«bjnin
c n ç l o a rim i j « l e u i * inteiramente n o i o onlre ' ' • ' t e a * amia/» qne Io i - „ itulrbl* o jargim-
I I . H , e d i v r n o em Iodai M a u n parle* da * " " " " • 'l"»l " «-rvlra Je a rlw faetda* M -
, w
tollia rotina que ato . . o r a « • í u i a m u i , anui F 1 » »n-l,iirel«. a .;..•!!..* í « do í o l l r j i o . *
aaafcaM d o pro.ritoao « « . o p t o quo i.o, oflo- '''"'. * * • « " » • " ' • " " " f « . ' « • r * » * " ' T " '
rociam a . . . % * . u a i . c u l t a . d . « l h a K u r o - ™££ ™ " '""l T "° ' huTao
pa.NIvignor.nioiq^oroi.lr.npor.uooqoan- S 3 3 l r « B , . ú aè r o t X X t T í í l í S a r T l o - i
do I m i r na u i l u ai r o d e » do r a l a d o , com KfÕnm mtttm, f h i l ü l f t f t IlilaT a. acrom-
•au p-iiKt ia»io « proriindo n l o aaiba i'<im iuadac>M ,1, uma caia nui q<m lrin d o m i d i r
luilanU. i . . | * r a r lodoa oa o l n u r u l m , ludu t m t M f í i B n . u II 111 n i ' i ililli nl l i rir I
N t W , lodo a J r f j a n r i o que n l u IKHIO O n t i i . boI^>Ma*>a| .igilancia.

da aula m i Ittmia ac auiphi-lhcalr , fonáo


cM Ckrratitr! V o n n i l U cl • lodavia quo oa J ««Iwra do umfcMor uo t r n l i . ddla oui uui

jdrn M g * » * o..".»' .'F»«. <*mwm *£?$?!£EtZÍTZSlm m£


ubtan- aqmllo ooo « . « H n o a c o r l o a q u c o l l u o u . . , „ „ „ „ , „ , „ J u , i . i 4 r i l . . u o . Ju a m u . d» e«o--
l i n a n u urna l.ora. lha doa amphi-ilirain,!, m u uari atilai qoa
T m l l i i i l o I . H K l I p l o í l l l qno j i l l p i n u í r l o t T ouaudu n.uilo clirprSu a r t u n i r , na forma
l i o u o , pailar com ello aljriioiai l l u l i » . A p r l - doa ailaloioi | e aluinnoa, nao aei qim ulili-
luuirt « r g u i r i o que awaca o coiiloiriporaiM-a datlo 'pronari.ui « l a t i UíI-IHM, g baocoa cir-

i bailo forrai u* l>


\oio no cunlirrimcDlo d " quo n l e anr, IOIIL-O ™ "'"J*"' ' " ' " ,"%/''"™sJ|™ii,™,r"t0ojr
do q n t « r iccou.odar w i plauoi k «onlado i j 4 c ! "°4 c " ""•'"" • '
do n n . u . l r , , , | o n r du procor.r coi.ciliar . I « | - u<g ' ^ ' ^ „, „.
r Ç C 0 nl U 1
„ *il.*.fS' *!í í. u^.'..i .' .-ü - -'" -V?-" ***«• «pfa-Ço"' m crciliio d i ardatoota

namnnloa pmprioa. qtiauJo iiiullu pai


paticio do riqníialino príncipe, mai n l
Opinião certamente não compartilhada por Paulo F . Vianna, que escreve: a Revue Fratiçaise, sob o título De
'a ávilisation et desprogrès du Brésil:

Nous trouverons également /es beaux arts honores et cultives comme ils doivent Fêtre dans unpays véritabkment civilisé.
Non seulement nous admirerons au sein de Ia capitale le magnifique temple que Ia munificense souveraíne leur a eleve'
dans ces derniers temps, mais encore nous admirerons lexcellence des études de cette Académie, que ÍAdministration
vraiment arttstique de son savant directeur a mise em peu dannées dans le cas de rivaliser avec les A cadémies de
FEurope, en donnant à ses expositions annuelles depeinture, de sculpture, anarchitecture et de gravure en médailles une
solennité et un ordre qui rapellent les expositions françaises.

Q u a n t o à vida no Rio nessa época, O Malho de 1839 traz uma deliciosa descrição.

§ liifiuriiutiiii!

f
:KSt~
•Jl II OM)rjtt~| Hfi * « « t
usra 30 vjinranw
m m m svsiwva
*(• r < W H « « | - » i « M l « - - « — » • * ><UHB4
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•*M p • « M * I » ^ t « * . | . * * ..«—,,,.-. MM> — . -? -«1
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•|''>llilMV 4 . - . i > ) i ^ . , ^ > M f u s » " ' « V - « « i !•<»«•
• — • • -M H » ^ i «•»» I I H J . 1 H M t )••!• ^ • ( • • 4 t n w ' l o i i t » -
1
H » T " " . l r | n . i « . i | S 1 ' ' « i m - i i ' «ri* r •
' - •)• > t * | l | U!|>W|. i m u l M M t | M * l « • i't i h n • - n
" f " * » iil - . | - » l - f , i ry FMI >ii " « ' «
-'•I • . • » • • ( * . . r a * j | n u w i r f » r j o l •. t / H l V • • . l i
.,• H M t u i M ( I M i r r . , . | , « I . I K * < » I
•I* •••t"! rjtoMJ> >.«» •.>!!_, -|. *>»r i i c l J v f l l l *
• • w r p »«*H| t * t | J ' *»• 'I
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I
•OIMHftlUMOUlUUOr
opjBiaudoj oppuuo£- -OíJBUI ap g - 6 í g i
Correio Mercantil- 10 de março.

PUBLICAÇÃO A PEDIDO.
V RAUDQM MEMOKIA
do nunca assai chorado Sr. Augusto Henrique)
Vietor Grand'Jean da M o n l i g n y , irchitecto d a
tesa imperial, professor duarcluiectura d t i o t -
domia dos Bellas-Artea, cavalheira d i ordem
d l Chrislo s o f l k u l d l d i Rosa.

mu,
FM d o ia o Wt n. i i pw ri m > t cai ún<S>,
! r r i funda s d n c i n i o .
úa<*f «LTii D i t i .
Abria-* i eternidade 1 o nbio darma
E dorna pira o mundo I
Cahin tobre ella a noite doa Mpulerot 1
Q u e myslario profundo |
E tu Utaata d m « i r e i doce espVança
Qu« unha «m meu futuro I
Morto 1 , . . Perdi, perdeu p'ra sempre • i r t a
SuaUnucuIo aegnro I
E pudeete morrer, deixar discípulos
A quem amaste tanto 1
E pudeete deixar • etpoa* fida
Quo chora amargo pranto 1
E mormia, e no leu extremo lance
Não le puda abraçar 1
Horto t aeni que em meus labioa recubossa
Olau ultimo artirl
Tristes lagrimas, pranto da ateu peito
Em vio vos choro, em vlot
Da saudade o pungír me rasga o aolo,
Me corta oooraclot
E eu pago um tributo ao aabio, ao caenlre,
Naacldo d'amiiade.
ET limara exprosiio da dor destalma,
E Ilibo da saudado.
Eu choro, sina choremos o homem «abio,
O exemplo da virtude.
Florea lancemos, lagrimas vertamos
No MU triste (Uuda.
E eaua florea a lsgrimis que expressem
Noew ultimo adouil
Adeus que d'alma parta a entre ainpiroe
Vai cíiegar l i aos crus!....
Abra-sa a aternididel o nbio dorma
E Jorma para o mundo I
Cabiu «obre alia a noite doa «epuleraa t
Que •jíterio profundo I
Pilo seu saudou d>Mípulo
Francisco Joaquim Bitncourí da Silva
O centenário da chegada da Missão Francesa é devidamente comemorado pela imprensa carioca.

©mF^èiior
••: Dürio lllustndo a» Rio <u J—"»^fJ^Hr^ÈTT"
0 CENTENIRI3 D, ENSINO ARTÍSTICO NO BRASIL
O ceotenario do ensino artístico
no
As grandes solemnidades
de hoje

.' .üffgnfl* a IDIII

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,- half ni.. .prâ
•*™»i- I.» ..«WJ.imv «»• lltrr.m d 11 J.>-•.-. poruato,

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»IU> «rtr. ni„ rirlmrln iVHar df*

, Inhilldad-. 1' KíIBCI* fl


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\ IHKWM) OFPKIAL RO KXSL


Ml ARTÍSTICO NO l l l l \ s l l ,
K M I M * . ' • ' " > • i r t K W i . é n i t m i

.IIHMJ v Iniwrla d» Xanolrao. (oram


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.. mata»-' d.- Mari.lv*. Dlitttr- -
IHir urdrm d<» vnnd* dJ Bar^i. un*

o n n u . T»ID qiul
•ria i n i m biu dr u t l f i u r . j i t Tinlnlo. V*

fitu •!- prapaaia l l M n c f i d I

í L i i i - . d* ««alar, rU. Palácio t* K l * | '

•ai a f u h r i r . d» K l - * * l Moaao iwiilor

i, » oV Outubra rf- 1 H « C « a • ru
jri 41 K i m o r'r*.LJ>al- do R i .

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ObrtWtWla * Brtfm i hronol«jl>.i,

!-• Rrolan. HnrlfM J™* <U I

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urda, mwnlitd* •» ar II UM.
O ir. K<Hlf,liilia Urra

Mdl» 4r h-Mcltr* Raia M«-

jBbiiiclo do a n f « <
WHMiflAMMA DAS KOLUXM- V I I — f a r l o * í l n m - * — Monolmo
DADKS ! i r t / ' . da ülicra " X o S, tllat..". pil,; •
r n l c r l f » <Ia Naa. !,.,< nio P i l h o .
Al mlt-mnldaiV-s i O n i i c m o r i (|v;n (IUI

• ola N r i i l Q o i l di> Br l i a i A r t f otx?d»


• i ' - ijrojramm»
A ' r-h.nada lu i r . D M t U C M e A «JMXIM-; i'i.\A(irrni:iA

Araújo VU„B
•]* R*
N a . Ir, A | i r n l i w i i,lna. o i h " a da K w o l a N a -
nui.1 dr I f l l a * I r w , q i l ' i c r i boi»
aucuradi. • m i tm galar!•• da 1 *
qu> U r i uma
lln> iwriit da i r ,
1 nw •
Y l a n n » . . .mrar Wk
l j n m » n <ia R r i i u b l l o .
n llymno

I f f l i--a .... ralará o d r . Afíonfo de


Ela * - 1 l n n y o a t a a i
' V iu<.oll< T IXJ ralai . o t„a M t l » .
I» 4o t n t i : i u [ . l l l a t o r k o . •!... u m - m - - - da V N H « r i - pi. ( m a l .
\ . ! . . i r l h „ | . ... it(- d i p l o m a i d^ pre v a r i a . • * * « • : f r * n ' - m . bollandr-
m l t a ••>• a r i i m t trri falta p i l o i M k X a , • B * * * . . * l « i ! "•!»<• I W " • "
K.io df .a.(.laa . l a . H . a • 1—•:••=- ubrj*
i i u m n o i i r r i f ( t i orlo Rl*|> i.faliiadM plntOTM br a ali-Iru«

••r..1.d
..l.r-to,r0, da Ewol» dr Bella riu» n r i s i M * * "'• V a D " " " ' v * ' * * '
. T l n l u r r t l * . T i í l i n . i . Karaal. M e -
la.. Co U M In, Arulnln. A a W r t t * B i r m l O ,

Ha tflna mui*

I — Padro Jo«*" M a u r k l o — Ouve

ir — Uar.oa Antunlo r u i i m . n •
i i u . i t o da np-Tji I,.ini*. " O B i n n l b o
I>'IíI ara. X l r l a Silva o o i r . Pr»d#rl.
do Naa. I m . n i , , F i l h a . d» « . « a l u a r i a . Na
I I I — Prainla.o V l I U — "Paitoral • iai.1 .naar.lll.ai.
["•Ia or< li*»( ra , a <|<- | i - M . r i l l l . , .
I V - - M . . . v : - i , v l y r j - — A ' l.ilr.. , i,aa*a aala lorar»
ri-KJto ~ liljrllo • ' - n l i m - n t i ! Ida *él
braullrlrai. t - i . , ni-.tii-.ua.
V — I. ,l., M K u n — E i t a n . l K i
Ramla. r-l.i « r a . X l H a H I M .

Hoje, um século e meio depois, as conseqüências da influência da Missão Francesa ainda são motivo de con-
trovérsia, Apesar de ter sempre existido em vivaz questionamento sobre a validade de modelos vindos de fora,
Utn
a característica constante de nosso comportamento tem sido a incapacidade de selecionar a contribuição
Positiva e adequá-la às nossas necessidades.
O fascínio pelas aparências e o desprezo pela substância, a visão imediata e parcial, em detrimento da pers-
pectiva e do global, marcam de maneira irremediável a história do Rio de Janeiro.
drjà «ou prufciteur de pciuluru ,et qu'cn Europe,
COJIRESPOFDANCE. que 1'on p c n l , jt c i o i s , citer en pureille m a t ü r e ,
Monaieur le Rsdaclenr, cr. a w t I n |.rufi.«Kuri de prinlure '|ui e n w i -
J'íIÍ lu <lun> Ict S •• 10, ai et í l du Di-irio (nnit 1c d e » i n , et q u l l Inmbe tou> le aen*
qu'on nc peul i^parer l'un de 1'iutre. C M (tone
Fl:tmm.'..ise Lln-á-un arlirle, líunl U tiut cuu-
ma duuLle einjilõi, ei i.--nr arriecr a celW hru-
palile **T diTÍlir n u , J e u l rle' |j „,ii Bn l.u:^_
« u < e r í j l i o n d u o e l U n inalíle , i l > faliu éloí-
lienne In irti,t« Iranrtui .im- fru S. M le roí
D. Ju.u V[ ,e»l plu i .faU . . - - ntr ile* arli.lfa p l u l ulilei. Le prntn*rui-

pour formcr une Academia dei B c . u x A r t h


S '•ivtiíteclure, par exemple, ae troiiee p r i r í d e i
mbelilBli qu'un l u i e t a i l d u n u n dane le pre-
l l í i , et il i.'. •.[ p u pernii* de douter , que c-
•íier plun d'orgaDÍaaiioii. Naia le pn>jcl de M
anil d a p r è a i e a o r d r e a d o eouvernrtr:-nt r[.ii_-ni.u* Henrique . W ett de lèire ibmiMT U cheire
noo< snir.ma rendo» m Breail; non conimo dra d'arrlulecture ã aon itfulre ipoL^iate Cavro^ qui
i n t r i g a i » , Hi.ii com me d o a r t i i t a de u l c n l , a , J i l u n , (jiudié «et art duni uno boutlque de
dont U p r o b í U et I a moturi A i i e n l c o n n i i n , m i r d u n d de c b a i t n a IJalionoe. avanl qu un ne
poar aeconder d * lonl notre jwaToir I a eíForU l e u l i•lueié pour aea pernirieuK r t r r i b ; rt » « i

£ ie le gourernement eouluit fuirr pour Emorutr


cultore de* b e i u l a r U eu Bréul. Noiu v aoiu-
D i n i í e u n ae pUiaent k Iraitcr ilinipoateun l e i
artiiles fiiiu.;.iij, quel uuiu pnuri.i l-oo l i u r ae-
uu.;.Í!, quel noiu pounu t-on I r u r ae-
me* r e m i l . non comme d , i j m » dcnuJi d a
tout et g a i d n • C D I C I D C H I per 1'opplt du p i o , I nu u N i i J U U í T jnnii un peinlre et
m i i i i l i n i 1'npuir de non» / dolioguer ; num i m i r e pour u n arcUlecU'. Pour mellrufio* de*
a roo* quiltrf nutre pttrie de notre (ironre l u - nVbeta auati i n d é c e m , il aerait ã deiirer q u e ,
lonte', H noa comme de* fu|iiiiC. íúrce* dd »'et- pour ulialáíre le* arti>lea en g e u r r a l , le gouver-
palricr. Je ne p u ú eroíre nua U . de M n r u d n , Dcmeul veduniúl à M M . k i prun.'«vura * n e e i -
imbieiedeinr de ]'ortu|>l a P a r i i ; et M. ie con- puaitioo de leur» oiivra^ci. L e publ.. [ndicieui
•ciller de B r i t o , r l i a r e / d i l u i r e i , eient w u l u |>.juiTjit élaLlir u m opiuion d'une mauitre non
noiu m e t l r * d m » l ' e m « r r u , en nona e n » j - e i n t equlinque, ei c l - i w r cliacun * r l o n m^rile. V o i l i
oour n o u i r e n d r e eu B r é i i l , et d a l l l a m l a i - n i n l le r e r t n de Ia medaillc qui eflraie M . le diree-
•leia da Lonlé que noul Gt S. M. le roi l . \ , . leur, et qui nu lui aerait lana doute pta aeaa-
luieui.
& * * * ~" " l u r a í l promplemuot drtrompt'*.
I f o u i auriunl âéiré Irourer de juilu 1'ucraMuii
de prole*"er, meia d a n i i o n » , qui noua iont
V o i l á , M. Ic ilcilacleiir, ce que je croia de-
»..ir oppotcr J I I ' i m 1-. i i v f i de M . Henrique ,
rn.-ore i i i c o n m i r * , * * Kint oppjmíe» « Cí qtlun n e r.-.ii . . m l . aiec un de m e * c o l l r ( i i i , de
Irailer Ia queitinn pina pmilireinenl dane uo de
mit notre l è l * * 1'epreute. Cepeudant notn M H U "is procljiim uuiiiM.il
aoinme* empreaiee de noiu rendra utili-i I I M ^ . H . .
(Jiuiil ã ™ qui me concerne peraonDellement,
íói« que 1'uecaeion i'en e*l p r « e n l i ! e ; et no Iam-
|e • ' » n u que U d . p i t d u r i n » u « i i écrivain
•nent tora de l'icil»malion de S. U Duu P e d r o ,
qui j u í t tina d a b o r d le nora <i'/gnorant, qu'il
n o . i a-un- «*—n< d e i p r e u r r i de t . l r n l g| Ha
• M l >i L i t n n tuu* ignJt,
„»nna rolv. i que produiraicM dilTUilerutui CR
r x U t .!•« nrli.lf» o oi t c p l a l t ••i|.»,r<l'l.ui ü n o u i J ignore >i l e i M n l õ n l de M le direcleur ef
jnjiiiiir de I J InMnWtf Li p l m imliVetlil». I belan
em. (Ju'il ou: Hiit I H T U I ! de le* de-lailter
> . H H i w / l l e m I m n i l m i n i m l iiuc l e i a .
I J I w i u m l ikxil I H I U ' . J li.'i» WUUtllTW i i j i l poiot - , ü", '7!ia .
,W ( mè m i l Li m.nl de t i l.c!n.'l..n | | ' . V M - I-•.li- !e jirtjoier p u t á P a r i » , a I j g e d e 31 * n * .
J . w i e . u r . n l eu i m .!.•• i . ^ l n i n - i . . raitonue *i liit «MtOViJ ii il.uiie kur le l o u n - i u e u i r n t
Hi-., ri IHHII »nri<iii« d.: ( j d e i vlivea n p a b l e *
I • 1, a i i , et apri» "* aiúTde « • j o u r . i i m t a l W
dapjin-nili-ci Al J i * !
l k n r i i ) t i c d j Silve, nolre 1 iiboiic de Ia VilIa-MeJicia A mon relour a
M W M ilie-ilr.si, * •|<n- ••'iil ijne Ia p e i n l u r i . 1 ,k, IJ publi.ii u n o u f r a i e aur larcliileelure
)l • IMIIU It- luallii-iirroí r v i i i e m c i i l qui Doue • t . . ,ne. I . i , , 8 „ 7 , je U . l . : . i | « e fT ' í ' " l i l u l
[.i 11.-. de iü-iri- r h a f , poar I * pUoer i b a i une •!•• KrarMW n u i i m l l e r diiizer I» <•'••'•• * ' » " > ' ' •
cluire inulilu.á ] .VL».!i'inir, et q u l l nauryít j j - ' i n . u a d-iiue wlle pour le» e U U 4 í , 1 t e " l > n ' i
r m i . oi.Icmn- u m L piiitrclion iiumédiate de l i e . e u j - n e r t a i U * (,11*00- * * " * • " • * A i roí.
M T a r n i n i , uui n a t e i l p u i . i l |Hi reuAir i, le Je publiai par Ia auilt W, l u U . o u e r i | e v i r
d i r í iiniiiiniT t L í . I P I I I I I H ; , oú le ei-klrt Henrique le* tombeauí d » X V ' et \ V I < aiecle>i * t etüin
• i.ii i.. ;i bien t n M M pour q u u n lui ninfial le • o r 8 i 6 , ) e f u i * e»|agé pour lu Bre*il.
A g r a e i , M le Rddaeteur, ate.
nmindre iinjJui d a m reciBeíguenieat public.
Jíoui n'aurinii» janiiiii fi.lt celle remarque aani
h x l / c c n c e de M I dialriliei. Je dle que Ia c U i r e
de dewin eit inulilc li l A r e d ^ n i i e , puuquVMe e
!•• ui-: i i •>' :i« i-.« ri.-ir-
et cela a v o t u n e • j a a N n f tt« H Í M I , Alors í i
COnHESPOSDANCES. H e n r i q u e -Josi : da S:1VJ . ,-,'r.' K : J , «evient I s r -
b i t r e des O e a u x - A r ü a» S n U I , . u m u m e n t o i
Monaíeiir 1 * R e t l a c l e u r , i l t r e r o b b . i t d e l o i r son i n m p j ; ' i ! > : S ' i i ^ m : . - m - . l t
F.n a t t e n d i n t qae ie reponde csthiígnriqnemeot r e c o i m u e , et demasquée p r l i s thí.irios d { . , ,;if,
k 1J b r o c h u r e d e M. H e n r i q u e José d d Silva et f e r e n l p r o r e o e u r s p e n s i o i u i c . depois douzeans-
iurt I r o i í a r l i c l e i d n Diário Fluminense , j e rú- e u ü n , l i i u u i p l . K u l cí d è í i v n : d e ses terreurs t t
rttaie d e r u t r c eomplaisance de v o u l o i i b i e n des aeeès d e c o l Í N q u i Io t u o r m e u l a i e n i , e
i t W r e r U note M i r a n t e . m o u l r . i i t d i ^ n c de? plus liaules n i ú n i p c n s c a \ur
E n j r a g í 4 i n l une l a i t e i n d m - f iranenl p r o r o - lecnnonnu. i k ' sa gesiicni, rt. d i n i ^ p .Io l ' i n s i p , f
quéo * plnsieurs reprises, je rais d o n n e r q u e l - gl.iire d a v u i v e'laiili sur l i s d i i b r i s du fAearip-
W W d i t a d a »ur I V Ú l «ctuel d e TAcaderoie .les n i i o í;rperiaU- des B e a u i - A r t s , une ecole d .
l i ' j r i i . \ r i j , afio de bien fiiire connaítre Ia n u l - d e w i l i r t v i l e d e celle d e L l s l i ü n n e .
ü f e ITU ptutót Ia mawiaiie foi de M. Henrique N o a , M . H e n r i q u e , cet o u l r a j j c que T O I B TOU-
d e i r n , ) p r i i f i a j c o r d e dessin e t d i r e c t e u r d e cctte le-í ú i r o i r c t a b l i s s e m e n t , I r o t r r e r t en mui m

Acad.ttnie, autsar d u p L n p r o v i s o i r e m e a t adop- constante oppusiliuu , d o n t n n i n xclc me C i t un


t * 1,'anteiBÍile d * ce chef-iTieavre no:i c l en-
U ^ r e m e i i l i n c i i w i u , p u i s q u i l n'a jamais i'le i m - Q u e lc g u m w m t s m i l i m j T I l bien iioui t e .
p r i m e , ansil Be a o i u a jamais iló com mu- c o r . i e r u n e JHHU c u n p r i s t e de d i r e c l e u n de Ia
a i q u d ; et que l o u r e r t n r e d e 1'Academia n'a t i é B i b l i o t l i é q u c I m p c r u l e , c!u J i i r d i n B - i U u i q u e e t
p r - W . l e e d aiicnna u s e m b l í e reguliere dos p r o - d i ; Musóe, et t n u t w a r c a W f * p r f a i l e n u n t : q u t
K s w u r a , soo. Ia presidence d'une a u l o r i l á » u - itr. p l u s , i l (Inigiic o r d o n u ' T une e í p o r i l i n n pu>
p r r i e a r s , SI. H e n r i q u e > na p c n c h a n l b i e u <\é- b l i q u o des l i a v j u t des : K - n - i , p e i i i l a n t rnnnéa
«•••> poar \'obtcurità. 1817. t e que ju vi.'us d'iit:inircr sur l e l i t dppln-
Ce q u i l _v » d e cariai o , c e s t que mir sept r a b l f n ü i e t i u u i c 1'Acnilrsiie f p t : i , p a r c a m o j e u ,
classes insUtuces à r A c a d e m i e , í l y ea a i r ó i s incoiit':íLiLlciMent [ n o n v e , o i les pèrcs d e & -
k i t » é l i v e s , mie q u i n V n a q u u n s e u l , e t que nille aj««v
J j i n n i l des (rum nutres classes est r é d u i t à Jai 1'JSDIII

I r u i . Ueure» <t<jhidc d o d e u en deus j o t i r s , ce J B. Da B H T .


« u i ne pre-ruet a u c u n r é s u l t s t , cocnme ecole
rlapjtitcalMtn poar Ia p e i n t u r e ( i ) , Ia i c u l n t o r e ,
U n i e c i i i i q u e , ele 1 / A c a d e i n i e , r í c b e d e t o u *
* - • proressenn.se trouve «iOJi réduile è „ , „ •
pelile J c o l e d e dessin i m i g n i l i n n t e p o i i r d e i í l è - Momicur Ie Heilaclcur,
T í S q u i se destineut a Ia prolession des « r i » , et J a l t e n d i d e 1 otre i m p r t i a l i l o 1'lnjerliou d a n i
q u i o n t 1 peine n e u f h e u r c . d e l u d e par se- r o t r e Journal des lignes s u i v a u t e i 1
» Ia p r u d e n t e prifvoyance d e M. D a m l e * p r e l i m i n . i r e s d e Ia polemique- qoi
H e n r i q u e , q u i :— i n g e les cliosea d e m a n i è r e à
«'eleva au sujei d ' u n p l a n dor gati i s ati on de
.1 , ,,*° , , r " !
" " " ' i - * ' " ' 1 u « seta —naTT. V A c a d ^ m i e des B e a u i - A r t s , i l est quertion d'una
é\tr* de H t s b l i s s e m e o t ! I I est certaín que les m a n i e r o ' a g u e d e i a r t i a l u f f a n c a í s , inembres de
naules classes, p n r f e s d e l W a n t a ç e d e e o m m e n - 1'Acadéiuie, c u m m e i'ir.léressant lous à 1'eieea-
*et Tenra eleves, ne p o u r r o n t receroir que q u e l - tio, p l a n . J e déelare q u e , W 1 1 que Fran
qnes vurtimei d . M . H e n r i q u e . b i e n rroides, bíeu. ç a i i , e t priiíesseur a 1'Académie d e . B e a u í A r i -
p l i e n l e e . q u i auront p e r d u Iroís . n n é e s sous d e R i o - J a n e i r o , j e n'ai p r i . aucune p r t d i r e c l f
l e r a p p o r t d e . science. . n . l o , j u e s , U nouTelIo
o u i n d i r e c t e n i ã Ia rtdaetion, u i a l» publica-
classe q u . U cho-Siront. (Je „,, , » , , , d
tiOD d e cc p l a n ; et je * « n j d'autant p l u l lãcile-
n t s n « h « , haoiludes et d u m.uyai, eoQt n.,'il m e n t c r u dana cette reelauntiOT. n m p l e e( juste
s o u s t o u s les points d e T U C , que l a n t e u r du
W t m e j l e n . e n t d o u ^ d^une p é n í t r i l i O D r i v e -, p l a n , dans u n e i n l e n l i o n o» avee une uno.-
««.rra, reater d e u t a f i â d t r o i . a M d a n a I» d a n c e d o n t j e pois e g a l e m c m m e p l a i n d r e , •'
r i - i a e de d t w m , ne s e r . i t p l a . p ^ p , â j , ; ^ e n l i è f e m e i i t t i q b l i d le n o i n d e Tuuwj k i*rli«k
d e Ia claree d e p y s s g c : ne l ' e ü t - i l rappele J " ' -
Maís « u i pnint h p | u , ; „ dana une n o l e , que les dales p e r m e l l a i c o ' , «'
<.>mi>;. « t i do M. i : ' ; , - ; r " que Io b i e n v e i I lance U plus com m u n e a u n u t • ' -
isTi-í p o n d . i n t t m ^ p',. Btmeol s n n g í r é e .
i n d u b i l u l . l c m e i i L Io ' l e s o u l[ •. I rcvyrraj llil . i r e U r a L
bons pi'ofcsseiirs,nuc M H e n r i q u e ne nuinq-ura J'aí 1'boDneur d'5lre, etc.
p i q u a l i l i e r dVímn.flfíif «.-gre^j, d ' / r n . - : I W j , f . niJ _ F í l ! Eati.* Ti.nm'.
n r / u , mtinUant Já « CrMHW BB aclivitJ, e^.
_ , Sr. Ilntoltr.
Jjmpre cindo m l a . »r.]titi>. , ,.,„, „ n . i l r t
n oilíjil l>l»liilo nr> gel.» dn S.h.d., *l üa Maniieur Ir « W *
Vousavel puliüed.
."'7.1' ,f" ,''"„" M»»* **• "" ll:íl
"•<***' ,ie '!• üraniíjL-aii «iix — ---
A.1»., lia,,,!,.. J „ j j , 8 i | M i , j ( m ( [ I 1 1 d . S i , Ni- i", « •' «3i Í'' ricl.ti.-J* ™"«
i.uu meio. «i.ion par.- i] 1r • i ( j W . „ . » . >,n. b.p.rli.lil. do vnuUir M W M n T l - l - c
. , J « . . . . . . . « n ^ i . j , . U j i <„,..„„„, ,.,,. , , , . 6 . « ™ i pU bdlffm» Ia puUie eonlre
Kar de Ml ponea nu* d* buu gjaalla J. p»o u , h «IOBíC d o «*Mt« r™n.:air — - " • " -
g leiir*. anaio-
traíra, ou Leuri rnntgilisteü •
*•••••- '!" I UM
I. 1
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.^ .Vi •.,'.-. .•*,'•„ j,„i. ' y'\. « L naü. '
i <pn
,•„,,.!,
Us. — Jlnja fi-í 'íeitr cowMMJ'

do tlrlno H. l)u Uirt, •


tun. — In. i.'raiwe nVitóv •<• /wi
*)'"
CelU- «filí " l ti p.il|«We, que M. Grand-
(lu.il, . a «UM M.Lld.d,-.
j m , daiu w ripou»!,ct-utirme lalUrme. Lxera-
• B.iu.... , paia • M*l .'. plc: CairoO. dam b M M M . <]": le uomrac
Lupeclcur ,<v rddifi.4.- d.- n ^ d n . i i c de» Braui-
Arti, m éW honuriililcrnciil düifioii de Ia ma-
nlfrí aglnat* " 5. W, o ImjiavJor retWie-
a nridu o prestímo, taxi, t mais parlfi que
* cancerrem na pessoa de P. A. Cavrué, lia
» par bem nomei-lo inspe-lor ele. i Uaiii lei
••.•d. na* ...limo UUíIM ddki c..,. x -J..l do n«- •Dtm on trouve le miiae I. - : le mjni.lre
le recunnalt poiir hommc de t»l*nl, «ai» min
p u H . Grandjnn, >.. Dppoiilion a
o ."-'cuímcuM • -7rfr.mi.-tr.i-il. i-n l,ú.j>P.l« , ii.i Ún. II derait <wpend.nl lu rei
.rijsialti MlMttfcaa,
Ci.-r.BU M-P.-l-ur .!, l,|
X bire. Puur ae oonrain-
rt de ctlie iir'M , il aulül datler *ol( Ia aalle
elude du dewio, fjite j » r Carroé", et ctlle de
i cúuae dardiítccturc fjile par H. Grandjean.
II. lu .,.•!;.•,,,. aaj patunt auui ailence Idnu-
i dífyuli de aea «ivragei, laiue pen-

A)iní ]i>iiigi»,*kt(nu.rS*uHd
K
lM
JUW
i„ ,....:
•!nD
rl •.. im
*, l.do
,,,- -.1.. D* U..I •• rip
_. . Câvroe,
drl-il, a eludic 1'arcLilcvturc dana U bcvliqu*
dun mrchand .le CIIHíM» l • i'en>uit il de Ia
O Sr. llraMuii* dia. ,D,
. N.iihiiii .„,,.,- ,i,. J w l u i , H. Gram)jciin, M)it uii boD arenilecte f
Qutlle drleataLle lo([Íi|uc <[u* celle de Hemeuti
kouor cuw • 0«lf«
T " 1 ' ! " ' "f 1 "'
„•.,.'••
',«. .!.•-!.M«if
i. (M
!.•*•.!„,i.t. de li n.l.inie françaiae et de leura adlifireng!
M. Gnodjean, dai» Ielupi quil (kit de lui-mt-

/'. 1 l,H..ldu «ao»* 1 i.. ,-•-„, a tia nb


m t.J-tí., ttimtkkl. e, e( i.on pai bun. archilecle. L'ar-
^lecture el.m r „ t Je blün Latir, et M.Graod-
, , tt*«« . . « . • fee. .!. UaSt, f „ .
jeui M Uliaunt que án édifirea qui iVcroulent
coei bani Http d. Mr, flr.lrlJM,. COBO ,11. (U Bourujoiidanaleanuel. Ia pluLe penetre de
" ' " " "°* '1™ 'í* f * pt.Mit.auiMlHaiblb, to» le. eúte. ( 1. n u i i „ ; , J , M J o A l i r e i r ,
Birtmaa) permettr. h i í n quon puu«e dir> qu^il
•e»l que deuinati/ur d^rel.iteelure, et ríea de
Quant i lapprcnlissaee iltins In bmitinue d'un
nurcliaml de d,,,;,,.,, t „il ;l L r,,..,,^ • „,. «ulp- COIH1F.SP05D.1NCE.
teuf. un orlèvre. n n ,„.-,! o i , , , onl el-j de eraml.
»n;lntecles, mais M. Uramlmii .-mil Wil t»t le Kédacli.*ur,
«Mendu par le Pire Éi-rnrl .me le> Sric.iocs rt
leaarli auíenl le. parlai;" i]'un Lmu.e qui a ™.n-
">" lepéclií mortel ÍTappreiHirr \« mdO« de
roeuuisirr-cbAiiste. Avix s> pcnok-iiw, t q m
*">l, J « c F r a n c b c dt l\.i>». a IWl... r..
P".rluga1, a coitstriiít un poiit iur l e l W o . a a *
MM l u ine/.ii.ui-i. a arddleclei, ,,ant lui,
panient pu^cuuilniiro Vuili un menuisier ar-
(inadpgm Ir purmet.
' u n une buutiqim de niui-
iiipècba pus CatnNj do redi- flitls, Im f.r^.t-:rs uni •riiii, lei pantVl |»íiilí<i
Kn cri i m u n 1017 un jiHirujl dej be.ux-»r(i, i.t.l ivictili <!is 1 ii.; d ' i e.iiiil.LilIaiu; V; ei-iir dec
ei rn iSin t i I S J I un Journal pi.litique, <]u'il librairea a l-.iirli ilcj j . i e , rn Bnüfriabl i\ai\s A-
a Miípeii'1'i |»HI[ «rtiur dam. une carrière plus lalent M pnrger du plu» pur m ; Jeã partia,
brillaiile II H rlé «lembre H sm^laire de l i eVsl-à-dire de leuii liillrli ti-! Ii:uinue; elle p.i-
clasv rlcs ari» ile Ia SuricJade pmmotorn da 1/1- Idir , à ji:un de 1u.11 ,«ntA, |wr le rrlanl lira
ilnilriH ile. I.i'lim, et roeiubrc ei M,<.re1s>ire de |iulii:l>, a piií pliúsir ,rii uiiiiuew d'.m« guerre
Ia i-.jiimii>si(.ii piiur Irrecliun Je U >UIUe .'r b NtiliMM »n(f li. plus fjiumli >it..rilK.
I^MOlilatlaik ruf h fáW* do Una»; il a rlé e1u (^ejienilaiii FénuBa d* b retilrí» dw elann
piut-umir de U cliainbre nuiiiit-irnlc. Maii, mi- mrórJHt. Ou nu prni puèrt mmffüt«atiMui-nt
»jnt I» Ittpijnc d.r M GmndJLiii, rien do ccl» de li fgiicuM.'» Ii.iims *.• cuiiiieudrunl d».it un
fy dei. LI.
,11111' wniiilfrt étie arcbilecle, il pent encore aiãnreaiit, |i>9 palpite:.
lurn ru-iitncirr. seeríWe da-jociali.u. «avante, •|>piiie-iuains, lei mulcilrs et 1>M piciTrsà brurer
cl IWIWIMII 'le Ia iiiuiiicipalite' duiic capilale. ne dfvieiidraienl pji ilm marliiiH"* de juerre et
Haia Carm,! lui enrole l i portaria ci-jaiiite.aft-.i dts armes? O.1, cuimnc il ett fcot q-i* tu-t'r
.]n'il pt.iw Sí cnnvaincre qu'i ffitcnv tjiii niiftit p*ií t-e ni-wllat ilrfíniti/' •<•
lemlre <b' rranib aervicei a ia palrir. Je dclie termine par un mjí.i/nii/nit, je ]ir.i[«vc mm
M {iran.ljeau deu pruduire un neuibblde tu ia bu-.iMe hlefT«NlÍM à ümmm de rArade-mie.
ia*eur(.). Je nUifMnJatafcorJ . M de tW.CaMattM
Quinl à rcvnrcttínn de chiuti poti' >et f*MM- Ir prmjrjl.-ur de Ia niierre,el nuituie .1v.u11
[•ífiij- ii-níí. le panepu-t depoM a Hatamlami rimiiiieiiré lej Inuliüiés en piddiunl kin plan
e/uérale de Ia polii* altnJe í, oontraife, bVau- íliii^ii.is.liiin |H>iir 1"A1 —-'•"—-
RUUP de penuniiea, i.i mime, tauronl drtnrulir
M. lirandican, •'• «mlíiiidre U ealoniRM tyiant
à fira IW.lujEi.le de M. Henrique, .... . . , „ ,
iniem a 1'ílro d'un arlislc iguí » l cmpl.iye dam M llfWiOM
Ia (.luunbre de I lí.npereur, et fat e>t clwrír ,
par une portaria, de (ãíre le portriil de S. H.
••Kir chaeurn: d « chaiubret í e preadenee da íVtude»
iKrnpira, que deu iTlWa dont ou dedajgne
lea n u m i a . E<.lin. quant au pro]et datmr b
eh.ir.dWl.ire.lnreà 1-Aca.leW. < W .J»"t
, ,1 par .
In» des a
I>
• (.•iin drs
*
l-hontieur dVlie i . ^ ^ l e u r de cet ídifiçe ei da lnlllrins niu »!
I" • linlin |e lui I-.I-.II que
uluMFiir* »urr.7n, ei de plu» arelulecie de b na- í[..e M. de Crel n.
de vin pbin Ȓriit de Iur;
lion, UéJaienr une plare J« votmàrt conaidé- . _. ...II (111 d nrupnia.
(alíun -lue rtlle qu"il uccupe. UAcailriiue d.M JtMux-Arui est un elabliwe-
t i c l e a w* (àutej «Ir .(yl- o» J« í ? " » ™ 1 ^ • meut >cienlii;<(d.: iud. : |winbiit, íipl cn dignlta-
Ia b w i franpiú* mVunt peu bmilière t n et rn iinjx.rlniiro H rrui dulil li. de Bret A—
unrlucaia, (t dam unn aulre
lutre piurn
iguroal, jr di mande les direclíum ponr furmer b junta da
direclion. T.L-. MOIII H«i Jlricent li Bibliol^lí•.
J'a que imperiale, le Jírdin D-.tanique ei le Uuaéum
1V-A. C a n o t . ^i-aient trop le ridicnle
dnm une iidminiítralion ií
I à leur. Ilude* et a le
lerer !• Tuix úaue luui Ce q u <
baaill-erU.
J»ur»i r r r a u n , une „ , i r e fui», 1 mtn feiiill*
i m j « r t i e l e poor rignater une g r a o d j in[u*tÍo«
VAttdéniK.
r da justiça et de n J'ai lltoiiucur d t l i e ,
«r cnmmDder 1'ermíe.
^ r n i muita • M. le direcleor,
Silvi, et je lui ditai que son pUu
i, itlaflltment en icliviti!, * dü
•elui le cnmr dee •rtistcs f.iuciii ,
uWrei
• le* dldrea doi- Sr
par I . d e u » . • — v - - - — , ... - FnltttBf.
t e n t abeolument eraployer dane 1 * e -- T.-nde IMo I H J o r a m r r e u m e . ei>Min<le*
,1, •••'!•:. ilont l u i , dírectenr, ert proleeeeur. J * c.t. Curte buat M < i p * w l i . . « H . I « . , . l . . , ,,„.] .
lui direi que crtte clame mériie Io notn do
dmmelte. Poisquefle p a n l r a e lout Io b U n que *mia Ja.arM.1 J . , B ^ J , , A,M da nio j, Jâ .
dCTT.il fiiiro l - A a d e m w i l e a B o a i n - A r l i . q . i d l » .
i loiu l e * úiiMoreuieii* * • le" funottta contõ-
q n n m d A a i H * t * M T * . J e - B r e t , dane •» let- Mataeat*- <- aee a l a '•<• dedo.'• «Mi M U d i , '
I N eu Hedi.-l.-ur £ > £ * » , do 6 K W M * d o r . j c.jii'n..í e i i i o r i B t i i , «a e ••liei» ri* U * er-
u i e r , et nu"*ll* e'a [-. í l r » A t o r q u * q w i " •
muiintrofcieni m i i r e oufi.itd'.rt«. laifee da pKHp.rid.de do

Lre urirf. ríeiufoqoe. aioii t f t . b l i * . il B M eeo»- ;) « w t i h* ataoe dai liea A r t n L i b a i a n ,


U i * -lu» ri cnaovB Jee parti* m e l a i ! crfder ao • • • r i , a b c o l t e r a , * a Arqelftetfire i i.i.>
pru rle ar. prelentjona, le* ehooe* earrâogeraieot * u.««if-H.«wl« »bi'tv., qae a l a lie Bun »'.
dVIlee-meiuao. Q u * M de Brat rearOoce • BOM
plae de r t t V n o i a a l i o a . H . Io a i r e e t n r a La . rt»i»ri«
« J M í d.-. | | X . . » . « U peii M t™»«r. Ufa
• prm
i rl
Er j-.,ir conipltf er Ia i
arraia * M M Io* p r o b a M n i .
f.n-..ier. v o e 1» pre*d*a,o* d*
•ili.ti.rtl . jí f
He M.

Heoriqn* d l
1'AcadVrai
S i l r e . irei n i . t T . i n l i , \n-a e a l e a d u , m i l ü r *
de d i r r d e u r , r i H p-.tif.i-.. liou r w n . i * 1*1 ( r * í
o .1-1 r.
Dienl ncquto eaM une aiitorile* I r i a l i m e ) on W - ]
n a u ( a m 4 r alútwoto) pour l adiei n letra lio*.
de l ' . t t » . M i « i * . «t piwr Ira ••nrllonliooe ot I w

Aloai
•( t IVJII
pnajTtnl neiiqui-r d * leiro n - l i r « ; oar M U «j
pine d l btloDt q a i Ira proaWafl.in aee colláp—».
on i l Io* «gala, ou il U u r ral ir.fi'rioiir. í o a r t o M
le prvmiòra *upno*illaB, oamme h j M r W i u * ) * ;
Ia . l a r n i l r e , coram* oxtieua* I imua l u i r i p u i -
• i . a dnno un lili.nl tfnl. N a «oil-oei p a i f M
mmmm
«ltt-ir. it.a^MtcU».
T i u . l i r i n n l n |N«lrai l a l a l l l nua eaitl» í « o . l -
•.rnir- rui P . . Í - hai.a iTno/a tfraf r Jnjtrrwí liai
IVuinLiJnn pruduit nne lulle .1'anni.ii-pr.ípre a s - J W b l / I - ' n . . . i i i n i i cai di.ei >.-. . . . i , e piiiueira
tro i . rltrerieiir r i le* H i n ' | * a , lutto en*«uina*a dr l ' , . , u , , . • K . r y l t . r . . a e ..:•.,.,,.. da Arqui-
C r I r . r i r i l i l r o ajalionalo* miae. e u i r u , et par t i c l u í . - e 1 . •eri.in ].e r..».pn... 4 * a Kiiu-.iio.,
haai 1'ieir.r. nm.ii K w i . l l o r ; 3 l ' i i . r » M r i * I t - i l o .
elana. dee I r a i . ene.
r , , V ur H^-Hliare a h » da P.m.ira •. S l>,<^
Si I'OBJ nw domandail a n-A títn )'-||- n i l a n IVtjlera d . r n . i w . ri* P k M w i ' , a 3 d . K e r u l l a . . ,
daoe I w deiurléa eca.lémi.iiio., le r é p o n d n l * h u n Pl*J*>«*ae ria Anatomia, - o.iro ri. P # , . , « r .
q . - - N * J a n o a r pour ta> eHudt* ( U n i . , m
kg» d i ( M do renereluut, et mon defrounaent
• M iaterlle du firea!) me dounenl 1* droil d * * .
• heoiitt r • fntim d» ano da tcmnVuii H «diS. «eduiromnietrin, noiq.w • • Ailae H t u i M Mal
ctrt piiWtcm • pa.iici.larea, o í - n e dn. p e d r . i , eoiim eu, r o d „ „ N a n l a c u l l u J '
• tarpial.ria , a Ijoteuto, • a.le d* planle.r, O n t l o i i r i « m i r f t j u . n i M i n m f o , ,i,r « C M
• • p e r a j i e r ^ . ^ A n ^ u m o , u , " l ' " n hum* ^tul" • P « « * * » c.otl.reitM.to do * • « , , , n i . l » l i . i . «

iMaii- «lleia »- Hid. r fod(t r'> d* Aendemi».' k l aa « Í M N U haa>. A . l a d» H M.1ÍI "é. T - I U L


N B > . | H I « « U m b u . i - n o r a r , que a l e » i e t t a . • O m i t o , < outra d* A r q i l l i c i ,
d n » KntuUa , aade H tp.iua o d i i m h o d u r r . - principiua J i p.ia.eira a u
uka ii rr il a d* P w l i i í a ] fc
a d*
p « l i » . A r I M , enii.tr. oulrt ' £ > « / « Krtl graluilm • • L11.it.no, e Vieira ) ' u , 1 m n
dr Ih.-.ml.,, «-i-li-li-ciiln ir. i m d . K-cutl d l • R u a i l , « l i fui n » pcl. piimeira I PI aeiai*>
M e d i c i n a , • " • " ' - •• ü r , 1 U N , ! , . n t ( i diteipula. <<>•- r.'. piaccl , a p.lbela. Vieira L . . , . „ U U . Londrr*

Mecânica. , rrwhnti Ií^üJ™ d . i * i > i n l r : • • M i n - tueiecri-lh. lodoa oi i p p l . a u » , lhe ^ | „ H I a


dai * quinta, de ( I r o i u ' l i i a u r i h c , Aiilhatriica, priajaiia d* eap<iii<;ão ; Sequeira un.beai r i p e . ta>
._-....- -í-ít , . - 1 * - _ - \ , t:_. • .1- - - , . 1 . - . ^ : : — yt* -...- . _ _• _:__ ,p-- /._.:.... _ __... . . _ j . '

M I N deaonainudn £„„/., Rrai .,aluiu de Dtvftio I I quadm d* Vieira .cba-w no Mixrs drtla Ca.
paia Jnern. ( , . : ' t i . .... I - . - ] ) , ^ qae tra I W c nit.l , t o dr Sequeira ao Imperial Para da Baa

dua. canheda.._ r.tudu do dewnho , l i o eabadia par n l r e Anis».

deinia dai l l u l l n A r t e a , qtie fut jiarls do l n . l í . d „ n a n d u . 10 q u * u dia, l a l m aa o u s . , aa*


tatn da F i a n ç a , mi.li-m r a Paria qp.i.ro Eieata. a impugnarão pimVm de nio pndeiea h o a b n u
de d f r n l i u ; V e o he coa-iderairu o D n n i h n c<.n™ u a i o L r n i e da Dt.enbo da Academia , ta ala I *
a h » e imuciiul pata >a "ubie ao. oulma «m-loe. (o qua l.lraa •*•> i a i i faadaiatiiiada), qar {an-
u í a n i . t i n d n n n l a Capital d.. Rio doJanoúo ha. JO,oi da pro.pe.idad*. • g n n d , „mmttt, i t U l i M
n a Aeatl-mia á.n U - l l u . t - t o t , otiia em « d a e i . . . doa Di-opulo. tlr.i» K-lo.lo, o . ainda paia M M
H ha MI hum l ^ n t . , pi'i'1* .firmar-aa, qaa oío 0 B i » i 1 drpend"nta d* Artiita» E.tian(eiret, 't*
«n.H., ubficadoi 1» di.ciiiolot a ap.mrter c u ~ h o » p.opõa a . e i , •<• p " d " " eorlar pela raia o a a * *
Jrll-a o d ^ c i h o Ar l i j . r . , o f o - l " , ao.lom.a ftc, i.m«olo , a procrn.o da. A r l e . , co« o *»?<**
ha i.po-Hvel eun.ide,.ira>.M a p t « para entrai na. . n a , . | i . . r i o , quo iBl.alIo 6 » « á baia pnaoaal
ouliaa elu.-e-. Q u - t f t qiii <>• di.ciputo* na Aula u t l | , átomo ni«r.«u.

Aula "d.." K-iThVIa a . " - . " h a / é l modelar! M o . 0 d>*oo de . r . Iraméjiplo D" - u i u t * r * w » t e Itf
„„-.,i." que intani.r apirtider ü . a « m » i i c a * Rbelo- „ | , ,o ( o-lba a inrfrfiB. - • • •

• ftntMVi . .
a oulra. Logo como t i o nii.iman
^ r c Z ^ * " ' » |.rôP.^o «t« Sr.: A.i'.UÍL.««, CÜllUESPOSDAMCE.
r'«eiu" 7;^:;'« '»'C*™»'11^7 JJ •"
n>ik% .'. /.V"K1 o-t u " Jb! I'',„',",.„' "*L'I '. .V;. *:' 'V-'"., »^ « » " ü E vtBomm.
u I , « » . . , - . I « d.u,.,,.;,,,, ,;,.„,,,.;,,;Z.,!l?
ri*Mlç., • m. R U d. J , „ . i , „ „ „ , „ , ( „ , , ; , . , , * - \ w « Í M p a r i M U M U yu< w 4 a w a t t u d w i -
• u i i i t - , fluo t » . t « t . M , „ , . b , l . t i J . „> A ( f c d — I - i i ™ ' • • « « • « • T«' « u « I « « - * - . par
deuiial JT. F. X l ' l i i " i íaf-naían. A M » í t » j o « a u a dranr
Ignoraiío M i n SeMinin , nua • pi m i m L l h * • Ã"'" ' V ' 1 " , r l 1 " I " ! » » . » • « I M I M / aernur
lunaa paia « r |)nl<ila d u e l r t i< j » l . M , l » . r dai», W l " " " f 4 " ™ * * . ' ' • ' P***—Mm * -M Ar-
. F I I I I U , K>HB du e i p i n U o , t Iwüria J c i i . l . n i j n ! alai. f ai tíril diuu « H (ailjiia f w • ' « H l a i i a j » ,
tia nflg o labaoi, .4s i ^ m r . i i t n ; ( I r 0 1 J 1 , m , lia
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Ü.D.IeNonduf.-f.lko. •a dei. nulicet publier lei driu Mire. qui precedeul, C n l


i Cvroe dil.que " I n . dp I. onlnnie MPBBt p**ce oi j a c n i l . T.pujr.111111- I. |Ju. . . n j j n t e qu'on puilie lloeer
diu-ni de n l .- HrL <h> I. Cobaio -ool U M d o c.rie.l «oolroiiur «uleur. yuoiquil en MUI, I. polita»e mge i|ii'oB
tonlrc Ccroe. f r f u M n de LaGunaie IOIII cr qu'ib v d i .
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TDln proioiec lilLogiuue porle . i.ui. Mr. do U colônia frta-
e>ÍH W H pU^noc! „ i . ju.lo lilre, i>i r.uueu.ent du ttd-
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pHor.r.onqopoul £•• liror d e i . L cou.£jurpco qu'it o.~.
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Daria fíummense,\e lui r d p o n d r a l , car je le
-niis m m i |Jin laju-liunune, cm, i n m c l w i i i le

i m e r e e , n o u . n W u , pu n 0 u a eu.uiclier de
peiuer q u e » le bon-homme le ci.ii.iait ,• t„
ma i l le i l i t , m b e a m - a r t * , j l „ ' t , t J , „ t.,.7r,:,..l .[HL-lc «liwiu l l l l :
nul d W n t i a u i r a t i o n , de ] , p l u , , „ „ , ! , f ' ÁVtl *«%"««> * i r , " J , .,r.-
C r o j t - i l . e n eflfet. ou'il a i f a e que k- , L r - f ( - - n r w l ' » » nr l«» f r , J e I a " • " p a r o U , ; ] f . t *
• i 1 c M r i n e ™ P L j e . ,1'u» e ' i . i , i ; « r a e „ i d e - biniuen.Fiit W) a u l i i r i l n e i ira» I » etabluae-
«irent uncliangertient ou une r é f . r i a e d u m I . mero C>u ta P m w e [wur 1'euxigneineal d u
marclre - i c e i etablissenjctit, pour que I W f
n i - l i o n : »V„ • . d u » , , u , r i 0 . J . o r t dé- I I but • W w que " • " • B M «ulre leltre , i l
nm.i .pnrentlr. que Ia e W e w vicui du Teu , * I
lliulntillie' de 1'eaii , en Ciilifeinl u n opinion
C e l l * reHe.ion . V l . n l gíneralisde d*n« nolrc de «'»e J W P " B J • « • • f » de plQriuIaM,
« • p r i l , DOU. n u u i «mirues demanda n.iel « m i , Qui iloiilt- <["L- le d f j - i u *>il iion seulement
l e mode a adupter duna l i ú o u í r c , pour que L> naas, mais K i — n r i d e i bemia-arl. ? p t l u a W ,
c'eJ ile.uinrr i r e i ' i i l u u o i n cunleurs; i r g l n l e r ,
l e i o t . b l i a e r u e n i q „ i u n l r.po,.rl U N I o i n n a i i -
c ' „ t iumart nur de ta r i r » , de I . l e r r e , de U
Jence. ( n h que déja a t f a b m LI d l m n w d i f e
pieri*. uu du m i r n t e ; Ü i r e , c'e>* r « l i « c r un
leur i d i u i n i n l r a l i u i i rrgleiucntaire , conluie cet! dn-Nii dvier-niiiJ j o r lie. íurfHiTii ei irt l i g n r t
) • ea. pour l A o i l é m i e d e i Beanx-Arls , ou le e.ni. m a M r i M M |.r.jj>.Tti
auenumler cownie 1 . Mtiieíinj d'l>i»uire ualu
r e l l e , qiii n'a p » encore I n cuurt q u i de
Mnú, do re que le d r w n v i l I . L.w « t
t r a i e u t j i i r e . I l u d i a , n i t q u ' i l f a l i u ! 1.
r<Me«ra dei i K i u . i - a r l . . il ne í V I H U í I p u nt-
c r e e r , ai m i qu'il esl urgr.nl de le feire pou
une • W r K a j l l d e i acieiicta et bellea-letlre., • .
pour d e . universilJs) Ironrasjeiit une ' i i i t o r i l .
•BM r u » l i . r
média (rico e n t r e u * et l, bígislation, q u i to»- « • f r u t i m i dewiiHT d m i
dunt t
a Ia f o i i le gage de leur .tabilité et de I o Jl. Ilcurilliie J i Silva, ei qu» l e i
r n . r c l i e régnlière et Icgule » e r l u n pejieclioi p m l c w u » dei M b H classe* ue auicnl p u en
nemenl qui aceompagnerait tuujuur. l e . progr t l i l densrlgner le He»in rlénienlaire m l rV-tct
qi.e ferail 1'inlelligenrc hutiiaine t h e í "un pe. a\h inilirroiil 1>lui lard a u i aublime. m f t l i r e l
p i e quelconque, e i d a os une hnmche qiiei-
conque d u y i t è i n o d e i comia a M M M b
3 1 1 . purete aniique et du heau ideal.

B i e l . u n d e s eleve* diilingiie. de Ttarid, de


David , le plu< (rand deaMinileur oni ail p « l -
N o u . p r o p o m n . celto q u w l i o n BuT liomm . ílre eiiite 1 , et qui . laiáe pour t r j d i l i i m t m i
d e t a t et a u i i d e u l o g i i l e i , n e u l - í l r e DOU. m i ir - etole de lu.il luborduiiner au <le»in , eú* beimin
en chercberaiii-nuua Ia v i l u l j u a d a n i un de r. - queM. Henrique da Silva l u i preparai M diaci-
procliaini nu meio..

let ipurlle >i eeiuiruenl le Correapund.nl q u i ,


OOBRESPOMOAMCES. • w . b . i l j . I . i i . l t u i i rarffcav(lt>, w n l , j * croia,
Hooaieur 1( R é d t c l e u r , Irea-ceuvaiiicLii «^'un cltve d o i l enuiacrer, nnn
p u anilemeul Iruii u * , tMna H n « , mau d u .
r a p p r e n d i par m o o experiente q n i l n V i l pai
u a i . . . ,w enliCrc a Teiu-U du d e « n J nu», d t
toojnur» bon de K fourrer enlre di-s Keua i m i H auil p u eunvai.irm que l e . "ivit pranuçre.
aont a u i u i i i n i . L a charílable i n l e n l M u i l r it-i •nnev. . u 7 c . . i a . f í l . i d e doiver.1 .e p a « r dam
•éparer ne i e r t , je le TOí» , q u * altlrer qni'lqn« I W Ã t r de I L l l r u r i q u e da S i l v a . d e e» RfHd
h o r i o n au n i é d i . l c u r beneinle. J'.í propuíJ mi.a Í M . - W , eeruíiHi r.|ipeUe na.veiuMt U C u r m -

J > Ciirre«pi>ndanl p r í l e n d ehrore Irèa-nalTe-


•eme afpcTe
4 d u n BM,
u 1 .ptil-prèã
. -, et 1'aiiteíir de "" Ccmf
pnndaoce inieree d . u i le Diária Ftumintiise iln
a3 d u c o u n u i t , me r e p r u c l n une epourantaL],.-
tlwardlii, Les ariMei | — i i l i pe.,vent «Ira depitoi Je
Je p u M c a n d a r n n i l i o n eur l e p i l l i è l e de k m - • « r riiicapKihj I r i u m p h . n l o , maia jaloua I I I
homme, dunt i u.lifiei : Au rerie, piairquoi Unt de tanta, " • { ™
n e i <Lns Ira h i u l c u r e de vr.tiv pliilu-u j A n u e , , 1.nt d , JÍOT..ÍUD. f h o n d e cl—«I««
»'<w»re. Void l e noinent d a f i r ; à tauvrt o»
BMaaat Furtam. Lea h í r o . d^Heniira, «nfi«
«íirr mis en lulmie p r dt* di»|ii»le» « d™ ">'

Kwu lUraMdMM e s r ^ r .me ika thffr-faw»-


« e tcrunl )c retulutdi: «Uc lnt« «ídfiiuque;
nona ilernm «p^rtr que M. da Tírcl n c i i n ,
reli-- Miuíf. li drn.HTí mún j Ia JHIIC fmfB
,\r nSílture llll Brcuil , <]n'il » I lxMiri1iJU:!iiL-lit
comnieiHré. S»»« dou li i"-íi i\.-e M. lli-uriqiie
K |Mi|Upm llVmuLlinn, Dt li .>\r« tu ^r.uiil,
p>ur LViK le pçint.iit. \>n mire 'pivrnl^ if« r , | i r
gnwte nívoluiHiii |»ili[iquo. SaM douta que le
pmfnfcur i'c |*)'»:;e M mfllitirri , <IIII« quil-
•M niurreíu n | X l J , mi digM MCCramr d«
trni illmlrc pire II eit fe.idmiwnl & dirsircr que
li- goiiiCTnritiPiil dunne j M UramtjCan lVdi-
fi,.n, eo le ilutecai.I de ípieliiue grand ou-
I M > , >1G rcrnirr U Imuclic • U nulvdlljlice.
hliüll. <>n M |*"l dnuler C-.Ií MM. •*• « i . l ^ u n
M rii-di-eiil de >'*!•• ••( •!•: ul'»l ponr renm-

relle iiim.iEi* l» pililic «Wl * • * * • <«> i»P!W

,1'lin rondai d'.in>"Ur-|>ropre <[u. i. a vitGuitc


|iH(]ii'Íci (jÊf d n prulH.
h d n e r à - r n u » , M. le redielo.ir, UMtVtt <*•
liguei ila 6on-'iumKic, qui « ntt hnmHrWwul
volre, etc.

COIir.LSPONUAKCE.
Honnear \: IVdacienr,
Je mi- vnif riir-irf nl.liijí ilo rccot.rír 1 volre
fe.úlle [Hiiir ilerUvr i|U< \v mi« eiiLièremeiit
Annjtm * U rAIwi J«»füeld Jo bnm-
»ri* -ijni'» í'<i ftrit ÂWittUT, loquei*, (inlrt
W n ilw itrfUÍU '|iii Wjl lónl de, h | * i n t , ont
••> rV~.ll.[ giWr-l JKPIJT moi IV.Trt iMliin-l t i
mnrlifiinl de ri>i>ijirr,iiii'1ho IHMH let-ibliiia-
mi»! luqtiul |'JÍ Uiunntur il'j[i|juileriir.
Agruei. rto. F í i m Éwiu T*VUT.
l'..-f,..,.ui 4< HMwi il« MPM1 J
*riltll
Grandjean de Montigny, urbanista

Robert Coustet
Os artistas franceses que, em 1816, chegaram ao Rio de Janeiro, chefiados por Lebreton, com a finalidade de
fundar uma academia de Belas Artes, descobriram uma cidade barroca. A primeira vista, a planta da capital bra-
sileira poderia evocar a Lisboa nova do marquês de Pombal: o Largo do Paço abria-se sobre a baía tal qual a Praça
do Comércio sobre o Tejo; ao fundo o traçado quadriculado das ruas era regular o bastante para lembrar as treli-
ças (J. A. França) da Baixa; a praça principal, no centro, chamava-se Rocio, como em Lisboa. M3S as semelhanças
eram superficiais e ilusórias. A capital reconstruída por Pombal era o fruto de uma busca racional, conduzida
pela ambição de criar uma cidade moderna.1 O Rio de Janeiro, por outro lado, desenvolveu-se de forma natural
em um sítio geográfico escolhido pelo fundador, em 1555, por razões de defesa do território. As primeiras funda-
ções, o castelo e os conventos, foram erguidos nos quatro morros: Castelo e Santo Antônio, ao sul, São Bento e
Conceição, ao norte. A várzea foi progressivamente atertada, e a planta da cidade se desenvolveu com uma certa
regularidade devido à topografia que, de alguma maneira, a sugeriu. A cidade acabava, a oeste, em uma zona de
contornos incertos chamada Campo de Santana. Ao sul, um jardim inaugurado em 1783, o Passeio Público, abria
o caminho a uma eventual expansão em diteção ao Flamengo e Botafogo. Por fim, a planta da cidade e seu modo
de crescimento eram bem característicos do urbanismo despreocupado dos colonizadores portugueses."
A marca portuguesa era igualmente inconfundível na arquitetura. No Largo do Paço, a residência real, o
Convento do Carmo, as duas Igrejas do Carmo e da Ordem Terceira, as casas particulares, o Arco do Teles, o
Chafariz de Mestre Valentim acotovelavam-se e formavam uma praça irregular que atestava a persistência do
estilo barroco. Quando a família teal portuguesa e a Corte chegaram em 1808, um grande artista, Mestre Valen-
tim, chegava ao fim de uma bela carreira, que, como a do Aleijadinho em Minas Gerais, levou ao apogeu o estilo
rococó, tardiamente, mas com brilho.3
A instalação da Corte rompeu o equilíbrio da cidade, pois o afluxo brutal de população otiginou uma ex-
pansão incontrolável. Ao longo dos anos, a situação só tendeu a se agravar. Entre 1808 e 1818, cerca de 600 casas
foram construídas na cidade e mais ou menos 150 nos arredores. No total, o número de habitantes dobrou no
primeiro quartel do século e, cm 1840, atingiu 135 mil almas. Os núcleos habitacionais, pouco densos e com
poucas interligações, se multiplicaram. A oeste, um bairro chamado Cidade Nova cresceu na zona do Campo de
Santana, em direção ao novo subúrbio de São Cristóvão, nascido à volta da residência privada dos soberanos. Ao
sul, as casas contornaram o Passeio Público, estenderam-se ao longo da praia do Flamengo c mais além... Tudo
isso sem plano e sem coordenação.

1 Cf. França, Josc. Une villí Ja him/eivt. Li I.hfawih- ,lc Pomkil. Paris, 1965.
1 Os julgamentos relativos ao urbanismo português são diversos. Sérgio liuaiqiic de I lolanda, cm Raízes do lirusil (Rio de Janeiro, 1948),
ressalta seu lado despreocupado c negativo. Sua opinião é contestada por N. Goulart Reis Filho, cm Ew&ffa WÒMâdo Brasil 1500-1720
(São Paulo, 196S). O historiador francês Yvcs Bruand adotou um ponto de vista intermediário em Lanhilecltire contempomine au Brésil
(Universitó de I.ille, 1973).
3 A obra do Mestre Valentim, o maior artista do Rio no fim do século XVIII, ainda não foi objetivo do estudo exaustivo que seria neces-
sário para situar, com todas as suas nuanças, a posição estilística da capital antes da chegada da Missão Francesa.
Essa anarquia tornou-se insustentável, pois prejudicava o prestígio do Rio de Janeiro, cuja situação estava
progressivamente impondo-se. Em 1815, a cidade foi elevada à categoria de capital oficial do "Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarve" antes de tornar-se, em 1822, a metrópole de um império independente. A antiga resi-
dência dos vice-reis, promovida a palácio real e depois imperial, foi reservada às cerimônias oficiais, e os sobera-
nos organizaram sua morada na Quinta da Boa Vista, no morro de São Cristóvão. Essa resolução, que duraria até
0
fim da monarquia (1889), mostrava claramente que o Rio não estava preparado para ser a capital de um grande
país moderno.
Sem dúvida, tais inconvenientes e deficiências revelaram-se nitidamente a Auguste-Victor Grandjean de
"lontigny4 desde sua chegada ao Rio. Pois se hoje em dia a reputação de Grandjean no Brasil se deve ao seu
trabalho de arquiteto e ao seu papel de professor na Academia de Belas Artes, em 1816 ele era conhecido sobre-
tudo como historiador da arquitetura. Até então, havia tido poucas oportunidades de construir. Sua obra mais
conhecida, a transformação do Palácio dos Estados em Cassei, Alemanha, era apenas uma adaptação às novas
necessidades e uma modernização estilística de um prédio já existente. Sua notoriedade residia, principalmente,
nas suas publicações sobre a arquitetura toscana e os túmulos italianos dos séculos XV e XVI. Assim, Grand-
jean aparecia mais como teórico (o que, aliás, correspondia às funções de professor para as quais fora chamado
a
o Brasil) do que como construtor. Suas pesquisas sobre a arquitetura antiga, sua formação e suas relações com
arquitetos parisienses e romanos, suas responsabilidades de arquiteto oficial em Cassei haviam-no naturalmente
familiarizado com os problemas do urbanismo.
Não se deve esquecer que Grandjean, chegado ao Brasil aos 40 anos de idade, vivera até essa época em
Ca
pitais agitadas por permanentes obras de remodelação. Paris, na época da Revolução e do Império, era um
v
erdadeiro laboratório de experimentação urbanística.
Já antes da queda da monarquia a administração real em Paris baixara cartas regias para regulamentar a lar-
oWa das ruas, a altura das casas, os materiais de construção.' Depois, durante a Revolução, um plano de conjunto
01
estabelecido para modernizar a capital francesa;* a conjuntura econômica, entretanto, não permitiu que fosse
re
alizado. Por outro lado, o governo revolucionário multiplicou as grandes festas públicas destinadas a celebrar
0
novo regime político; essas cerimônias deram lugar a construções efêmeras. Tratava-se de criar vastos espaços
Para permitir que as autoridades, o exército e o povo parisiense pudessem desfilar em um cenário próprio para
e
*altar os sentimentos patrióticos e revolucionários.7 Um desenho de Grandjean prova que ele se dedicou a esse
'Po de atividade, que exige dupla visão: a arquitetônica, pois é preciso erigir construções apropriadas às circuns-
atlc
'as, e a urbanística, pois é necessário prever circuito de circulação e organizar o espaço.8 Sob Napoleão, os
4
'-* Morales de !os Rios Filho, A. Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira. Rio de Janeiro, 1941.
* "autecoeur, L. Histoire de íarcbiteOun dasúque en France. Paris, 1952. t. IV, p. 130.
'-avedan, P. Histoire de Turbanisme, Renaissanceettempsmodernes. Paris, 1941. p. 3Ó0.
useu Bargoin. Usfites de Ia Révolution. Clermont-Ferrand, 1974.
Us
eu Nacional de Belas Artes, Desenho n" 3701, Lesplaisirs lespluspurs som ceux de fbomme libre.
projetos se tornaram ao menos em parte realidade. Acima de tudo eficiente, o imperador francês deu prioridade
às realizações práticas: o abastecimento de água, os mercados, o sistema viário. Incentivou a abertura de grandes
ruas, o realce dos edifícios públicos, uma estética do espaço que justificou a demolição de bairros antigos e mo-
numentos históricos.5 Grandjean associou-se a alguns dos projetos napoleônicos; assim, em 1807 apresentou um
projeto para a construção de uma orangerie impériak et unepromenade cfhiver, e uma solução que permitia ligar o
palácio do Louvre à residência imperial das Tulherias; seu plano previa a demolição de todo um bairro e a criação
de perspectivas ordenadas entre os dois palácios.10
Durante sua estada em Roma, Grandjean foi também testemunha dos esforços da administração francesa
no sentido de modernizar a Cidade Eterna," e temos provas de que seu interesse pelos problemas do urbanismo
não diminuiu. Em sua obra Architecture toscam não se contenta em desenhar palácios; interessa-se também pelos
jardins, os do palácio Pitti em particular, e se empenha na tarefa de representar a disposição de certos conjuntos
urbanos, como a praça maior de Livorno: "sua forma é um paralelogramo... o meio desta praça, que se alarga e
forma um quadrado, é decorado com pórticos de ordem dórica. A catedral ocupa-lhe o alto". Faz um levanta-
mento minucioso de certas avenidas de Florença, indicando suas dimensões, precisando as espécies das árvores
que as bordam, cuidando de anotar suas impressões: "esta avenida é do mais belo efeito...".11 Em resumo, tudo
mostra que, para ele, a atividade do arquiteto e do urbanista são, por natureza, indissociáveis.
Chegando ao Rio de Janeiro, Grandjean encontra um campo de ação imenso. Para fazer da capital uma ci-
dade moderna, convinha não somente impor o estilo neoclássico internacional como também realizar reformas
de estrutura. Naturalmente, Grandjean foi levado a se interessar por questões de urbanismo; vários desenhos
permitem reconstruir as linhas mestras de sua atividade nesse campo.
Não temos indício de que ele tenha imaginado um plano de conjunto para a remodelagem da cidade. Mas o
fato é que Grandjean sempre concebeu seus grandes edifícios tendo em vista o efeito monumental, preocupan-
do-se em integrá-los no contexto urbano e prevendo acessos capazes de criar perspectivas elaboradas. Por outro
lado, uma série de desenhos evoca projetos que, se realizados, teriam transformado a fisionomia do Rio. Esses
projetos não datam todos da mesma época c concernem a três bairros diferentes, porém nunca se contradizem
e se completam de maneira coerente.
O primeiro dos grandes projetos estava vinculado a estudos para a construção de um novo palácio imperial
para D. Pedro I. Em 1826, ou antes, Grandjean traçou o "plano de um trecho da cidade do Rio de Janeiro",1' no
qual propõe a reorganização ideal do centro da capital. O novo palácioficariasituado à beira da baía e englobaria
9 Lavedan, P. HistoiredeFuHninhmf, epoi/ue 1 unhmporaine. Paris, 19^2. p. 8-14.
10 Museu Nacional de Belas Artes, Desenho n" 6350AA, Orangerie etpromenade cfbiver.
11 fAouhitl.J.IscomteCamitkdeTourttort. Paris, 1930.
12 Museu Nacional de Belas Artes, Desenho nu ÓÍ09AA, Planta de um trecho de Florença. Este desenho nunca foi notado até o momento.
13 Biblioteca Nacional, seção de Iconografia, desenho e.g. III res, Watt ifuneportíott d,- Li vilíe d? Rio de Janeiro pour 1'inteltigence de lanouvetle
dispositton dupatais imperial ri dei di-ivn atesuiin-sprajewpar (irand/ean arihitecte. A cronologia desse projeto loi estudada por Mário Torres
Glicério em seu levantamento dos Riscos ou projetos de (hamljean de Muntigny (a ser publicado).
o antigo paço, como em Versalhes o imenso palácio de Luís XIV incorporara o pequeno castelo já existente.
Ainda como em Versalhes, que parece ser a constante referência de Grandjean, a cidade era concebida como
um satélite do palácio, para que lhe servisse de moldura. Os bairros adjacentes ao palácio eram reservados para
o grand commun (termo especificamente versalhês), isto é, o pessoal do serviço imperial. Para dar acesso ao pa-
lácio, a cidade era cortada por uma avenida grandiosa e duas praças. A primeira praça, dita "imperial", formaria
ur
n semicírculo com pórticos que cercariam a estátua do soberano. Daí, rasgando os velhos bairros, uma "rua
"nperial" conduziria à segunda praça, cuja disposição repetiria o traçado em semicírculo; outra, em torno da
estátua da imperatriz. Com seus "pórticos para o público e o comércio", a "rua imperial" constituiria uma longa
perspectiva à maneira da Rua de Rivoli, ou melhor, da Rua dos Arcades, em Paris. Mais adiante, atingir-se-ia
0
Rocio e o Campo de Santana. O traçado das vias, a disposição das praças, o programa decorativo, tudo nesse
projeto submete o povo a um urbanismo monárquico.
Um segundo projeto, muito ambicioso, talvez o mais elaborado, foi concebido igualmente no reinado de
** Pedro I, em 1827. Tratava-se de construir no Campo de Santana uma praça à francesa chamada Campo da
Aclamação, em torno da qual se organizaria o novo bairro da Cidade Nova. Conhecemos bem esse projeto,
graças a um plano'* e um desenho que mostra a elevação das fachadas uniformes, o corte transversal do palacete
imperial em um dos lados, o arco do triunfo que fecha a perspectiva principal, os chafarizes e a estátua eqüestre
a
° imperador localizada no centro.'1 Possuímos igualmente uma "nota explicativa" que precisa as intenções do
^quiteto.16 Alguns detalhes denotam incerteza, ou melhor, talvez variantes no que concerne, em particular, à
atribuição das ruas e à localização da futura catedral de São Pedro de Alcântara. Mas no conjunto o texto cor-
res
ponde ao plano e ao desenho.
As enormes dimensões do Campo de Santana são reduzidas a 200 braças de comprimento por 106 de lar-
B11^ ou seja, uma superfície igual "à reunião das três maiores praças de Paris". Quatro "entradas principais"
Se
param os quarteirões. O acesso é uma via no eixo da "rua de trás do hospício", ou seja, no prolongamento das
•uas vindas da cidade velha. Em frente, além do arco do triunfo, uma rua conduz em direção à residência imperial
e
^ão Cristóvão. O palacete, ou tribuna do imperador, previsto, entre outras utilizações, para as cerimônias da
elamação, ocupa o lado menor da praça, próximo ao morro do Senado. Somente a localização da catedral de São
e
dro de Alcântara não é determinada.
Na nota explicativa, o conjunto de Santana é qualificado como "fórum", termo que lembra o "projeto de fórum
" a os homens livres" imaginado já para o desenrolar das festas cívicas e das manifestações patrióticas.'7 Próprio
" a a realização das cerimônias políticas, das procissões religiosas, das paradas militares, concebido para o passeio
i
*>uscu Nacional de Belas Artes, D e s e n h o n° 6363AA, Planta para uma praça no Campo de Santana.
m
- D e s e n h o 11o 2978, Corte transversal no Campo da Aclamação.
" * « , D e s e n h o n" 6364AA, Nota explicativa do Projeto da Praça Proposta no Campo de Santana pela
e o descanso do povo, com chafarizes, bancos, lojas sob galerias, o "fórum'' do Rio de Janeiro é idealizado como o
centro da vida política que gravita em torno da imagem do monarca. Todas as atividades se ordenam em volta da
estátua eqüestre do imperador, cercada pelas estátuas simbolizando as 19 províncias do Império, "oferecendo a S.
M. I. suas homenagens e seus votos". Herdeiro da tradição monárquica francesa e das experiências revolucionárias
e napoleônicas, Grandjean de Montigny expressa no seu "fórum" imperial o ideal urbanístico imperial e centraliza-
dor. Mas o projeto contribui, ao mesmo tempo, para assegurar a coesão da capital. Os terrenos baldios do Campo
de Santana formavam um obstáculo entre a cidade velha e os bairros novos. A partir de então, graças ao Campo da
Aclamação, "a cidade não será mais como é agora, dividida em duas partes; ela oferecerá também mais segurança".
Em 1848, no reino de D. Pedro 11, Grandjean de Montigny retomou o projeto do palácio imperial. Sabemos,
graças as elevações da fachada, que ele pretendia criar um cenário portuário, com colunas-faróis, como em São
Petersburgo, ou, como em Bordeaux, com estátuas reclinadas.'8
Mas nessa época não se pensava mais em remodelar o centro da cidade. O grande número de projetos para
edifícios públicos indica que, sob a monarquia vitoriana e burguesa de D. Pedro 11, o culto do soberano deu lugar
a preocupações de ordem cívica. Grandjean faz então planos para uma biblioteca pública, uma prefeitura, um
palácio para o Tesouro, um palácio para o corpo legislativo, outro para o Senado...
De todas essas pesquisas, as mais aprofundadas foram as do Senado, datadas de 1848. Dessa vez ainda,
Grandjean aproveita o projeto da construção de um edifício para imaginar modificações na estrutura dos bairros
antigos. A planta baixa para o palácio do Senado'9 e um esboço de plano1" indicando sua localização permitem
que se faça uma idéia da amplitude das transformações imaginadas. O prédio do Senado ocupa, com seus jardins,
um terreno em forma de trapézio, ao lado do Rocio (então Praça da Constituição), implicando a transformação
da praça. As vias de acesso antigas, do lado sul, são suprimidas para dar lugar a duas ruas simétricas acompanhan-
do os lados do palácio. Em frente, o lado norte da praça é dividido pela pequena Rua Leopoldina, que conduz à
Academia. No centro ergue-se a estátua do fundador do Império. O traçado da praça é geométrico e oferece a
perspectiva dos dois pórticos do Senado e da Academia, um diante do outro.
Uma das ruas que contornam o Senado se prolonga para formar uma "rua imperial projetada". E a grande
idéia do projeto, a mais ambiciosa e talvez a mais profética. Trata-se, na realidade, de uma larga artéria (o dobro
das ruas vizinhas), que, cortando o morro de Santo Antônio, liga o Rocio à praia de Santa Luzia, perto do Pas-
seio Público. Seria necessário sacrificar o venerável Convento da Ajuda e o Passeio Público. Desse modo, seria
possível construir sobre a baía uma vasta esplanada. A justificativa dessa avenida era ligar o centro da cidade aos
novos bairros que começavam a ganhar importância no Flamengo, onde já se esboçava o futuro desenvolvimento

18 Biblioteca Nacional, seção de Iconografia, Desenho n" 40A, Desenho C fachada do Patdcio Imperial, t Btcoll Nacional de Belas Artes,
Desenho n" l')Ho, Pormcmn J.i l.nh.iJ.i ílu P.il.hw Imperial.
19 Museu Nacional <!c Belas Artes, 1 lesenho n" 3701AA, Desenha e planta h.itx.i dt> l\i\ n Jo Senado.
10 Ibidem, Desenho n" 635HAA, Projeto de planta, com urna Avenida Imperial projetada entre o Rocio e o Passeio Público.
da zona sul. Grandjean de Montigny propõe, assim, o esboço da solução resolvida mais tarde com a abertura da
Avenida Central (hoje Rio Branco).
Todos esses sonhos ficaram no papel. Convém, no entanto, sublinhar sua lógica e sua complementarida-
de. As preocupações simbólicas ou estéticas, cuja importância ressaltamos, nunca são determinantes; cada
projeto se apoia em um conhecimento sério da realidade urbana e propõe uma solução que contribui para
reforçar a coesão da cidade. Se os planos de Grandjean tivessem sido realizados, o Rocio teria se tornado o
coração da capital, ligando-se por uma rede de vias novas a três núcleos satélites: o Paço e o porto, o Campo
de Santana e o Flamengo. As diversas partes da cidade teriam sido, dessa maneira, organicamente ligadas e
subordinadas a um centro.
O único dos projetos de Grandjean que foi efetivamente realizado é bem modesto: é a construção do palácio
da Academia de Belas Artes, inaugurado em 1826. Como de costume, o arquiteto imaginou um cenário apropria-
do ao edifício, com ruas para servi-lo. As dificuldades financeiras obrigaram-no a renunciar a qualquer concep-
ção mais ambiciosa. Diante da fachada do palácio, desenhou uma praça muito pequena, semicircular, circundada
P°r um paredão ritmado por pilastras; uma rua estreita (Rua Leopoldina) rasgada através dos bairros antigos
chegava até o Rocio e colocava o pórtico da Academia na extremidade de uma perspectiva. Foram precisos mais
de
10 anos (1837-1850) para completar a obra.1' O conjunto, de extrema simplicidade, constitui a primeira praça
0r
denada construída do Rio e representa uma perfeita aplicação dos princípios do urbanismo clássico francês. No
^ g o do Valongo, hoje desaparecido, Grandjean conseguiu igualmente ordenar uma fachada regular, adornada
c
°rn pilastras, a qual, porém, está muito distante da realização de seus sonhos grandiosos.
Podem-se relacionar às preocupações urbanísticas de Grandjean todos os seus estudos relativos ao proble-
013
da drenagem e do saneamento, questão fundamental e difícil que só encontrará solução muito mais tarde.'
**tt seu projeto para o Campo da Aclamação, a nota explicativa nos indica que ele previra as "linhas dos declives
a
° Fórum para saída das águas etc".
A mesma precisão se encontra no plano da Bolsa" e nos projetos de 1848 para o palácio imperial, que mostram
Ca
is monumental sobre a baía perfurado por uma saída de esgoto. A presença dessa cloaca máxima não é somente
0r
namental, já que se mantém invariavelmente quando são modificados os outros detalhes decorativos.
Grandjean fora testemunha dos esforços de Napoleão no sentido de abastecer Paris de água potável, e sem
Uv
'da apreciara o encanto célebre dos chafarizes de Roma. Para ele, o chafariz é um elemento fundamental do
P a»ejamento urbano, e em seus projetos lhe concede um papel de destaque. Previa quatro para o Campo da

^ v ão, A. F. E. Taunay e a Academia de Belas Artes. Revista do Patrimônio Histórico e Geográfico, n. 16,1967.
"blioteca Nacional, seção de Iconografia, desenho sem número de tombamento: Planfacade ttcoupt de Ia Bourse telquHestexecuteà Rio
Janeiro, tan MDCCCXX... a legenda indica: H, escalíer et entre (íic) du canalqui conduit les eaux à Ia mer.
Aclamação; haveria dois nos jardins da Biblioteca Imperial2' e um no pátio do Palácio Imperial;1'* a coluna em
memória do 7 de abril deveria erguer-se no centro de dois lagos superpostos que receberiam a água lançada por
estátuas reclinadas.1» Possuímos estudos muito detalhados para um chafariz chamado São Clemente;16 para um
outro, em homenagem à Imperatriz Teresa Cristina;17 e para um terceiro, dito em Benfica.28 Grandjean chegou
a construir um chafariz no centro do mercado e um outro na Praça do Rocio Pequeno.19
A tentativa de Grandjean de multiplicar os chafarizes não é uma contribuição nova. O arquiteto, nesse
setor, limita-se a dar continuidade à obra dos administradores da época colonial, que, bem antes dele, haviam
dotado a cidade do imponente aqueduto da Carioca e de inúmeras bicas d'água. Sua originalidade é de ordem es-
tética. Substitui os modelos barrocos e rococós por formas novas, sejam taças, colunas, edículas quadradas com
pilastras e frontões, ou muros de cantaria com pilastras. Demonstra, assim, que as construções utilitárias devem,
da mesma maneira que os edifícios mais importantes, se adaptar ao estilo neoclássico.
A mais importante realização de Grandjean no campo do urbanismo foi o mercado. O Rio de Janeiro não
possuía um mercado construído; vendia-se peixe na calçada da Praça do Paço. Em 1835 a municipalidade encar-
regou seu arquiteto de construir um mercado moderno. A obra de Grandjean, concluída em 1841, inspirava-se
claramente no mercado Saint-Germain, construído em Paris por Blondel (1813-181Ó). Nele se encontrava o mes-
mo caráter austero. Cada fachada era constituída por uma série de oito arcadas de cada lado do portão central.
A parte inferior das arcadas era vazada; um frontáo triangular coroava as paisagens. Para facilitar a ventilação,
Grandjean retomara a fórmula "à etrusca" de Blondel: sobre o entablamento, curtos pilares de seção quadrada
sustentavam o telhado.'0
Atribui-se a Grandjean toda uma série de medidas relativas ao sistema viário. Na verdade, o que se tem
certeza é que é sua a idéia de recuar sistematicamente as casas quando de sua reconstrução, a fim de se pos-
sibilitar o alargamento das ruas. O saldo da obra de Grandjean de Montigny urbanista pode parecer, afinal
de contas, modesto. Entretanto, seus projetos foram bastante conhecidos e sua influência, enorme. Foi o
primeiro a conscientizar o carioca da necessidade de se planejar o crescimento da cidade. No dizer de Félix
Emílio Taunay, Grandjean contrariou costumes seculares. A Academia de Belas Artes, herdeira de seus ensi-

13 Museu Nacional de Belas Artes, D e s e n h o n" 3691, Planta d,i B&Bóttca imperial.
14 Biblioteca Nacional, seção ili: k o migra fia, Desenho rV.joli, Desenho 1>, Cortetr.iniv.-rsjldn Vaiado Imperial.
u
25 Museu Nacional dc Belas Artes, D e s e n h o n 3696, Projeto de um monumento a erigir no Campo da Honra.
26 Ibidem, D e s e n h o n" 6357AA, Chafariz São C/emente.
17 Biblioteca Nacional, seção dc Iconografia, D e s e n h o n" 324.974AA, Chafariz comemorativo da chegada da imperatriz D. Teresa Cristina.
18 Museu Nacional dc Belas Artes, D e s e n h o n" 6545, Chafariz de Benfica.
29 Cf. Galvão, A. Chafarizes de Montigny. In: Arquivos n" X I I , p . 23-29. Esse chafariz, que ainda existe, foi t r a n s p o r t a d o para a entrada
do Alto da Boa Vista e m 1943; perdeu infelizmente suas carrancas de leões de bronze.
30 O mercado de Grandjean foi demolido em 1903.
namentos, se esforçará para influenciar as autoridades no sentido de adotar um urbanismo lógico. Em face das
tradições portuguesas de construção espontânea, Grandjean propôs o exemplo de um urbanismo fundado na
regularidade, na simetria. Em meio à trama cerrada das ruelas estreitas, muitas vezes sinuosas, sonhou aplicar
uma política de amplas avenidas, à maneira francesa. Graças a ele, pela primeira vez, os brasileiros tomaram
consciência de uma concepção clássica do urbanismo.
A Casa de
Grandjean de Montigny
na Gávea

Mário H. G. Torres
Ao projetar para si mesmo, poucos anos depois de chegado ao Brasil, essa casa da Gávea, Grandjean de Mon-
tigny retoma um tipo de planta residencial francesa por ele já usado em um de seus projetos europeus, para o
rei Jerônimo de Vestfália. O historiador de arte francês Louis Hautecoeur, em sua monumental obra Histotre
de tarcbitecture classique en France (tomo I, p. 336; tomo III, p. 194; e tomo IV, p. 369), chama esse tipo depla
massé, por se aproximar do quadrado em sua forma externa ou "massa", contrapondo-o ao plano mais usual, que
chama de plano em "§". Ambos se originam no século XVI, até certo ponto em virtude da influência italiana,
preponderante no Renascimento, que impõe simetria à irregularidade dos planos medievais franceses. Apesar
desse italianismo de origem, tais tipos de planos se tornam especificamente franceses, pela peculiaridade de sua
evolução posterior na disposição interna.1
Oplatt massé, adotado por Grandjean em sua casa e que poderíamos chamar de "plano concentrado", é uma
redução do plano em "ff", ou "plano estirado" (Fig. 1). O corpo de habitação (corpsde/ogis) deste último, em forma
de retângulo alongado, situado entre o pátio de entrada (cour) e o jardim (entre cour etjarditi), retrai-se em seu
comprimento, transversal ao terreno, e se aproxima do quadrado ou o realiza perfeitamente no plano concentra-
do. Quando a forma retangular não desaparece de todo, pode permanecer transversal ao terreno ou ordenar-se
segundo seu eixo, em ambos os casos, como no do quadrado perfeito, mantendo-se afastada das divisas sempre
que a largura do lote o permitir, em geral havendo alas de serviço que formam um pátio de entrada. Estas se se-
param do corpo de habitação, que aparece como uma "massa" isolada e concentrada em sua disposição interna,
donde o nome que lhe dá Hautecoeur e a tradução que lhe aplicamos. É importante notar, por ser esse o caso da
residência de Grandjean, que ambos os tipos de planos podem possuir, a meio da fachada do jardim, um salão
oval ou redondo, em maior ou menor saliência à mesma fachada. Essa disposição particular aparece pela primei-
ra vez no século XVII nos castelos do Raincy e de Vaux-le-Vicomte, perto de Paris, projetados pelo arquiteto
Louis Le Vau para os financistas Bordier e Fouquet.1

1 O s planos dos castelos e casas urbanas francesas eram, até o fim da Idade Média, irregulares, c o m o c m toda a Europa. O Renascimento
traz à França o ideal da simetria e repila ri da de dos palácios fiorentinos. Segundo Anthony Blunt (An andarchitecture m France I$OO-IJOO.
Pclican History of Art. p. 8), o primeiro castelo a ter um plano regular na França foi o castelo de Bury (1Ç11-IJ24), hoje destruído mas
conhecido por desenho de Audrouet du Cerceau. D e autor desconhecido, o castelo c constituído por três alas e m torno de um pátio
quadrado, cujo quarto lado, por onde se Ia/ a entrada axial, c fechado p o r Lima ala m.us baixa. D o lado o p o s t o , alem do pátio, situa-seo
jardim. É o gérmen do plano cm "^". Fm 1544, segundo o mesmo autor (Op, <it. p. 48), o tratadista e arquiteto italiano Serlio, adaptando
o plano de Bury fl uma morada urbana, cdiíica e m Fontainebleu, para o cardeal de Ferrara, um hotel cm que o plano c m " j " se encontra,
pela primera vez, perfeitamente realizado, isto c, um corpo <lc habitação (Fig. 1) transversa ao terreno, entre o pátio aberto de entrada e
o jardim, c o m alas secundárias perpendiculares ao alinhamento da rua.

2 F, importante notar 0 papel p r e p o n d e r a n t e dos grandes burgueses na evolução da arquitetura residencial na França. Dispondo de muito
mais dinheiro que os aristocratas, já desde o século XV, pelo menos, constróem grandes moradas (a casa de Jacques Coeur, c m Bourges),
as quais se recusa o nome de bote/, por muito t e m p o reservado as casas nobres, e se m o s t r a m mais receptivos as inovações, salvo o caso
das construções reais, é claro. Bury foi e d i l i i a d o para um rico burguês, outros no m e s m o século t a m b é m , no século X V I I , OS que deram
origem a esta nota e assim até a Revolução. A nota 3 dá exemplos do século X V I I I .
O plano "concentrado", pouco usado nos séculos XVI e XVII, passa a ter grande voga a partir de meados
do século XVIII, nos albores do neoclassicismo, talvez por influência do pavilhão real paladiano de Marly e por
corresponder melhor ao gosto da época pela vida de sociedade mais íntima e menos aparatosa, libertada pelo
r
acionalismo e pela melhor repartição da fortuna e da cultura intelectual, das etiquetas rígidas e das barreiras
sociais dos séculos anteriores. É o tipo de plano apropriado às pequenas construções, às casas burguesas e às
chamadas ermitages, folies ou bagatelles, que o rei, príncipes da família ou do sangue real, gráo-senhores fidalgos,
n
cos magistrados ou burgueses constróem para si ou para alojar suas amantes, cantoras, atrizes ou bailarinas
lustres, nos últimos decênios da monarquia. Passada a tormenta revolucionária, esse tipo de plano continua em
"ioda, quer para os mesmos fins, quer para a morada dos abastados burgueses da nova sociedade do Diretório,
00 Consulado ou do Império, desejosos de imitar em tudo os refinamentos da velha sociedade, como se pode ver
cm alguns projetos do mesmo Grandjean feitos para o rei Jerônimo, irmão de Napoleão, na Vestfália.Uma das
^ais importantes pequenas construções de plano concentrado com salão redondo em saliência não é uma folie.
« ° pavilhão de caça do Butard, construído pelo grande Gabriel para Luís XV, em 1750. Dasfolies, uma das mais
famosas e ainda existentes é a do rico drapier (industrial ou comerciante de tecidos) Van Robais, nas cercanias
°a cidade de Abbeville, na Normandia, de 1752,' em que o vestíbulo e o salão central são ovais e se projetam em
ambas as fachadas. Porém, em nenhum desses dois exemplos o corpo do edifício forma um perfeito quadrado.
Interessa-nos aqui o tipo concentrado mais particular, de corpo quadrado com salão circular, como na casa
°-e Grandjean. E o exemplo desse tipo, que, além de ser uma obra-prima, se encontra na gênese direta dessa casa,
ea
célebre Bagatelle do conde d'Artois, o irmãoplayboy e perdulário de Luís XVI, que, já no século XIX, iria ser,
c
om o nome de Carlos X, o último Bourbon da linha direta a reinar em França.
Em 1777, esse príncipe compra um terreno, com uma velha construção em mau estado, nos limites de Bou-
°gne, perto do Sena. Tendo Maria Antonieta caçoado de sua compra, Artois aposta com ela que em menos de
res
meses se erguerá no local a mais bela Bagatelle da França, e o arquiteto Bellanger, no tempo recorde de 64
las
> projeta (em 48 horas) e dirige a construção da ainda hoje existente Bagatelle, infelizmente modificada em
u
aspecto exterior, mas que conhecemos perfeitamente como era por gravuras de suas plantas e alçados. A
a
gatelle erguia-se, inteiramente isolada, entre seu pátio de entrada e seus jardins, laterais e posterior, com as
nstruções suplementares (hoje inexistentes) também isoladas. Dentro do quadrado (Fig. 2), Bellanger conse-
gui agrupar no andar térreo, com extrema habilidade, além da maior porção do salão circular do lado do jardim
P°sterior, dois bourdoirs ou saletas, uma de cada lado do mesmo salão, que é o principal, e, do lado do pátio, o
s
ribulo com a escada ao fundo, flanqueada por dois salões maiores, a sala de jantar e o salão de bilhar. Assim,
^^J™ a parte de recepção está em baixo, o que não era habitual nos grandes boteis ou châteaux, mas já se tinha feito
rece
<lida, junto a Paris, petefo/ie ou maison de um M. Gakpin,p/an massé de admirável comodidade, projetado pelo arquiteto Dulin,
"•uteuil. Hautecoeur diz ignorar-lhe a data, mas como Dulin morreu em 1751, essa casa é certamente anterior a Van Robais. Nem a
. "cia poderia ter ditado moda cm Paris. Antes da casa Galepin, Dulin já projetara para o negociante Dunoyer uma casa em Paris, com
0va
Ção de estar a cozinha, pela primeira vez, instalada no próprio corpsdelogis (Hautecoeur. Op. cit. t III, p. 154 e segs.).
rã folie Van-Robais e se fará, daí por diante, em muitas plantas desse tipo. A escada, bem à vista ao fundo do vestí-
bulo, impede a costumeira passagem axial direta deste para o salão. Contudo, muito engenhosamente, Bellanger
sai-se da dificuldade, criando algumas passagens ou corredores laterais à escada, que estabelecem comunicação
fácil entre essas seis peças de que se compõe o térreo. A disposição não poderia ser mais agradável e cômoda.
No andar superior, de pé direito muito mais baixo, o arquiteto, com a mesma, senão com maior engenhosida-
de, consegue subdividir a área, diminuída pelo vazio do salão circular de dupla altura, em três appartements* ou
seja, ao todo, cinco quartos de dormir com alcovas, duas antecâmaras, dois gabinetes e uma peça de serviço, em
uma planta totalmente independente da do andar térreo e em uma diferenciação nítida e característica de tais
construções entre recepção e habitação, que Grandjean vai abandonar em sua própria casa, também de dois
pavimentos, talvez por razões de maior facilidade no construir. A Bagatelle fez furor. O número de visitantes
era tal5 que o conde d'Artois teve de mandar imprimir cartões de entrada, e a sua planta térrea foi imitada até
depois da Revolução, durante a qual, tendo sido a Bagatelle confiscada, foi explorada como centro de diversões.
Grandjean, parisiense, nascido um ano antes de sua construção, não pode deixar de tê-la conhecido. Das inú-
meras folies ou casas dos anos seguintes, citemos apenas as que se filiam à planta térrea desse famoso exemplo,
todas interpretações mais livres do modelo comum do que a que fará Grandjean na Vestfália: a casa do arquiteto
J.J. Huvé, no Bas Meudon; a casa La Ballue, também de Bellanger, em Pantin, hoje incluída na grande Paris; a
casa do arquiteto Vavin, em Paris, construída em terreno estreito e por isso encostada às divisas e com alas de
serviço ligadas ao corpo principal; a casa do Chevalier de Courmont pelo arquiteto Henry (depois Ecole des Ponts
et Chaussées); e, ainda pelo mesmo Henry, em 1795, já na época do Diretório, em que Grandjean fez seus estudos
de arquitetura, a casa Lakanal (Fig. 3), ainda existente, embora desfigurada e escondida entre novas construções,
no n° 20 da Rue de Ia Cbaussée cCAntin, não longe da paróquia de Saint Merry, onde nasceu Grandjean.6
Não admira, pois, que, impressionado como esses arquitetos seus predecessores pela obra de Bellanger,
Grandjean projetasse no parque de um palacete para Jerônimo Bonaparte, elevado por seu irmão imperador às
4 Osappartementl, c o m p o s t o s ineialmcnte de antccàmara, câmara ou quarto de dormir c gabinete, OU gabinetes, são a unidade de habita-
ção individual dentro da residência familiar francesa. Segundo Aotliony Blunt {O/J. r/7, p. 12), aparecem pela primeira vez no castelo real
de C h a m b o r d , c o m e ç a d o em 1519, por Dominico d a C o r t o n a , que imita a disposição dos salões e m cruz, no meio de um c o r p o quadrado,
com quatro appartvmenli nos cantos, da Vila Medieis, em Poggio a ('.nano, perto de Horença, reformada por seo mestre G i u I i a n o d a S a n
Gallo. N a Itália, a idéia não t e m seguimento, mas na França é definitivamente adotada, c o appartement evolui, através dos séculos seguin-
tes, aumentado-sc o n ú m e r o de peças secundárias, cm busca de maior comodidade, cm uma complexidade crescente, contra a qual os
neoclássicos, amidos dos planos g c o m c t r i c a m c n t c claros, reagem em muitos casos. C o m o uso de edifícios de vários andares destinados a
várias unidades familiares, na própria França a palavra passa a designá-las também. Nessa acepção a t o m a m o s d o francês, c p o r isso não
a traduzi aqui a fim de marcar seu significado original. Hoje, nos nossos "apartamentos" de luxo, c o m e ç a m a reaparecer os conjuntos de
peças destinadas a uma só pessoa, o casal, com o nome de "suíte", Muita coisa se repete na história, ainda que mude de n o m e . De qualquer
forma, o appartement é o u t r o itulianismn que se torna, por sua assimilação, tipicamente francês.

c Kalncin, W c n d Graf; I.evcy, Michael. Art andarcbilecture t/ftbeeighteenth century in France. T h e Pelican Ilistory of A r t . n. 132, p. 4 0 3 .
6 RevistaFOtil, n. 275, jun. 1978; e Hautecoeur. Op. at. t. IV.
alturas de rei de Vestfália, um casino ou bagatelle (desenho sem número de tombamento do MNBA) de um só pa-
vunento, cuja planta reproduz, com a maiorfidelidade,a divisão da planta térrea da Bagatelle do conde d'Artois,
embora dando destinações diversas às peças laterais. A sala de jantar e a de bilhar passam a constituir as antecâ-
ma
ras de cada um dos dois "apartamentos" de habitação, cujos quartos de dormir ou de repouso são as saletas aos
'ados do salão redondo e que com este não se comunicam mais. Do vestíbulo, que por não ter escada se comunica
direta e axialmente com o salão, abrem-se, lateralmente, as portas para as antecâmaras (Fig. 4). Ficam, assim,
dois apartamentos iguais de cada lado do eixo de simetria e um só salão que, de acordo com o modelo adotado e
a
tradição francesa, se situa do lado oposto à entrada.
Contudo, fiel aos princípios de ordenação geométrica desenvolvidos por J. N. L. Durand no fim no século
-"•vJ.II e adotados por todos os arquitetos europeus neoclássicos daí por diante,7 inclusive Percier e Fontaine,
wandjean guarda-se de alterar, no interior desse projeto, as formas estritamente geométricas das peças, como
Í12
era Bellanger em Bagatelle, ainda dentro do espírito de graça e "amabilidade" herdado do rococó e tardo-bar-
r
°co. O próprio salão circular, cujo centro, na Bagatelle até à casa Lakanal de 1795, se encontra bem no interior
0
bloco quadrado, de modo a aparecer exteriormente apenas um segmento relativamente pequeno do círculo, o
í U e é mais gracioso e elegante, se situa, aqui, exatamente sobre o alinhamento externo do bloco, a saliência sobre
a
tachada vindo, assim, a resultar em um perfeito semicírculo. E como a sublinhar mais outro avanço no sentido
e
um neoclassicismo mais "arcaizante", Grandjean coloca, à frente da entrada, um pórtico de quatro colunas,
astadas do paramento e não alinhadas com este, como fez Henry na casa jLakanal. Tal pórtico prenuncia o
arandado que, na Gávea, se prolongará pelos lados da casa.
Chegado ao Brasil, Grandjean não demorou muito a construir essa casa, pois já em 1828 pretendia desfa-
er
~se dela por meio de uma rifa malsucedida.8 Ao projetá-la, inspira-se em seu risco da Vestfália, tão fielmente
""irado do da Bagatelle como acabamos de ver. Basta compararmos as respectivas plantas (Figs. 2 e 4) para dar-
0s
conta disso. Entretanto, dessa vez o faz com muito maior liberdade que da primeira. E assim procedeu, a
°sso ver, afimde adaptar aquela planta, envolvida das tradições e costumes de seu país de origem, às tradições,
s
tumes, técnica construtiva e clima do seu país de adoção e, também, parece-nos, ao sítio escolhido, tão carac-
fls
ticamente carioca pela paisagem que o envolve.
Comparando oriscoda Vestfália (Fig. 4) com a planta da Gávea (Fig. 5) repetida nos dois pavimentos da casa,
m
os que o que Grandjean fez para transformar uma em outra consistiu essencialmente em alargar o vestíbulo na
°ida do diâmetro do salão circular, transformando-o, assim, em um grande salão retangular, à custa de parte das
** antecâmaras que o ladeavam. Esse salão, tornado o principal e situado à entrada, isto é, ao que para nós consti-
1a
ftente da casa, é a "sala de fora", como se dizia então, depois dita "sala de visitas" e hoje "de estar", equivalente
^s&zasalon francês oposto à entrada e do lado do jardim posterior, face mais nobre da habitação na França.
> Muita 'Ueton, Rohin; Watkiti, David. Architetturamoderna. ElectaEd Col. "Nervi".
' A . Mi italcs de los Rios Filho, cm seu conhecido livro sobre o arquireto (p. 175), cirando anúncio do Jornal do Commertio de iu de fevereiro
iwleano.
Todavia, esse novo salão, ou "sala de fora", continua a servir de vestíbulo ou entrada principal, como o in-
dica a escada externa, e fica voltado para a melhor vista e aberto para a varanda, tudo isso adaptação a nossos
costumes. As antecâmaras desaparecem e com elas os apartamentos de mais de uma peça, como unidade de uso
individual do hotel, cbàteau ou casa francesa. Ficam os simples quartos de dormir, à brasileira, sem outra peça
que os complete. Para dar aos quartos uma comunicação com o interior da casa, o arquiteto desloca o centro do
salão circular um pouco para fora do perímetro quadrado da construção e afasta a parede de fundo do novo salão
retangular da linha de tangência do círculo, criando, desse modo, dois pequenos compartimentos de acesso aos
quartos nas extremidades de um corredor transversal, em cuja parte mediana abrem-se duas portas que estabe-
lecem a comunicação axial do risco anterior entre os dois salões. Um dos dois compartimentos na extremidade
desse corredor contém a escada em espiral, elemento que não existia na sua planta da Vestfália, mas que teve
de ser introduzido aqui, sem, no entanto, receber solução satisfatória.9 Por fim, vè-se que o pórtico de quatro
colunas de seu risco europeu torna-se, em ambos os andares dessa casa, um avarandado com colunas, que se de-
senvolve por toda a frente e pelos lados do salão retangular, ocupando a área que sobrara das antecâmaras, até
topar com a parede dos quartos.
Desse modo, o protótipo francês, imitando a Vestfália, adapta-se às tradições brasileiras. Uma caracterís-
tica marcante das plantas francesas é abandonada: não se entra mais de um lado, côtécour ou lado do pátio, para
atingir o salão, ou salões, do outro, còtéjardin. Entra-se logo pelo lado da varanda e do salão principal retangu-
lar, voltado para a vista mais descortinada e importante, enquanto o salão circular, remanescente dos modelos
europeus, se torna secundário, talvez sala de jantar, como peça de permanência diurna, como entrada e como
abertura para uma vista dominante. Comparem-se, a esse respeito, os três pequenos vãos deste último com os
três grandes vãos do primeiro. Além disso, como já vimos, os apartamentos reduzem-se a simples quartos.
De todas as adaptações feitas por Grandjean ao ambiente brasileiro nessa casa, a mais feliz, funcional e este-
ticamente a mais regionalista c, sem dúvida, a criação dos avarandados. Por certo ele deve ter conhecido algumas
das casas rurais ou de engenho da região fluminense, do tipo de entrada por um avarandado e por uma grande
.) A estada cm (.11.11 ol.alr.iv.mi .1,10 lei mo. uma il:i\ passagens para os quartos, unilc fica c o m o que escondida c não oferece comodidade
nem segurança, obrigada pelo pouCO espaço a um passo curto, que impede a porta d o quarto contíguo de ultrapassar t,8o de altura. Assim,
mal desenvolvida c invisível a q u e m entra na casa, por o n d e quer que seja, 6 u m a solução falha para a única circulação vertical de uma mo-
radia, cujo andar superior é t ã o i m p o r t a n t e t o m o o de baixo, vista a identidade de plantas que supõe uma identidade de função das peças
c m cada andar: duas de reunião ou recepção (os dois salões segundo o eixo de simetria da planta) c duas de habitação individual (os quar-
tos dispostos lateralmente). Tal falha é s o b r e m o d o cstranhávcl, não só por se tratar de um arquiteto de formação erudita, mas t a m b é m
p o r q u e o corredor ou espaço transversal, entre as duas salas, permitiria dispor, c m sua parte central, uma melhor escada, visível desde a
entrada, estabelcccndo-sc a comunicação entre as mesmas salas c os quartos por passagens laterais, c o m o fez Bcllanger na Bagatelle, seu
p r o t ó t i p o . Teria Grandjean, inicialmente, p e n s a d o c m u m só pavimento, c, ao resolver fazer o segundo, em curso das obras, a solução da
escada ao c e n t r o lhe pareceu dispendiosa e tecnicamente mais difícil, c m virtude das modificações que precisaria fazer no que já estava
realizado? O u essa escada s e m uma solução provisória, que suas dificuldades financeiras tornaram definitiva.-' A falta de d o c u m e n t a ç ã o
não nos permite sair d o terreno das hipóteses.
sala,10 como a do Viegas, do Capão do Bispo, da Penha, do Engenho d'Água em Jacarepaguá, da Estrela, do
Porto Velho, de Neves, do Colubandê e da Rua Rocha Miranda na Tijuca. Todas elas possuem um avarandado,
para o qual se abre uma grande sala (Fig. 6) e pelo qual se faz a entrada, por meio de uma escada; é certo que de
tapo diferente do que usou Grandjean, sem que, no entanto, esse pormenor invalide a hipótese de uma provável
influência da tradição local.
Cabe, ainda, a esse respeito, atentar para um fato interessante. É que tais avarandados da região fluminense,
alem de constituírem um elemento perfeitamente adequado ao clima e de se prestarem admiravelmente à situação
dessa casa, também rural, não podiam deixar de agradar ao gosto neoclássico de nosso arquiteto por uma de suas
Peculiaridades. Com efeito, suas colunas lisas, de um "arcaísmo" provinciano, em alguns casos de "fustes tron-
c
onicos, onde não há mais vestígios de galbo, maciços e robustos em Viegas..."," sobretudo estas, sem base, se
as
conheceu, devem ter-lhe trazido à lembrança um tipo de colunas sem base e sem caneluras, com um capitei
semelhante ao dórico grego, porém com seus elementos reduzidos em volume, tipo esse largamente usado pe-
tos arquitetos franceses da corrente neoclássica mais avançada e "arcaizante", já que era reputado como dórico
Primitivo, etrusco ou "itálico", por alguns arqueólogos da época, entre eles Piranesi, que por seu prestígio como
art
'sta disso convencia os pensionados da Academia de França em Roma, que Grandjean freqüentou.
Esse tipo de coluna, ou "ordem dórica primitiva", esteve em grande moda na França desde muito antes e até
ae
pois da Revolução, e, pelo uso que delas fez David, como fundo de seu célebre quadro do "Juramento dos Ho-
ra
cios" (Fig. 7), de 1875, tornaram-se quase um símbolo das virtudes cívicas da Roma Republicana, o que explica o
seu
favor entre os arquitetos imbuídos da ideologia revolucionária." Contudo, na época do império napoleônico .
10
Ver Cardoso, Joaquim. Revista do DPHAN, n. 7.
11
Cardoso, Joaquim. Op. cit.
•>obre o uso de tais colunas pelos romanos da era republicana nas colônias militares por eles fundadas no início de sua expansão pela
™* Central (Lácio e Campània) ou em cidades por eles conquistadas, como Herculano e Pompéía (colunada do Foro), à medida que às
'uencias etruscas se somam as do dórico da Magna Grécia e da Sicilia, até que entrem em contato direto com a própria Grécia, enfim,
"«•esse entrecruzar de influências na Itália antiga, veja-se John Wark Perkins. Architectura romana. Electa Ed. Col. "Nervi", e Ranuccio
"chi Bandinelli. Roma centro delpotere (trad. espanhola Aguilar). Nesse período há um grande síncretismo de formas, que oscilam entre
orico grego e o quefinalmenteveio a ser o toscano e o dórico clássicos romanos, que serviram de padrão desde o Renascimento até a
. * a neoclássic,i. Entre essas formas aparece com freqüência a "ordem", tão do gosto neoclássico, que é usada por Grandjean nessa casa,
* *l a do quadro dos Horácios. Na cidade de Roma os exemplos dessa época tinham desaparecido, substituídos pelas construções do
da república e do tempo do império. Nesse ponto não erravam os neoclássicos ao tornarem-nas representativas da era republicana.
rc
o uso e abuso dessas colunas desde o século XVIII (Soufflot e Lcdoux entre os mais influentes) e a reação de Perder e Fontaine,
r
"autecocur (Op. cit. t. V, p. 291), assim como seu capítulo no início do tomo IV da mesma obra Retour ã Fantiquité. Sobre o uso e acei-
f a ° dessas colunas como símbolos de virtudes cívicas republicanas e a influência de Piranesi nos pensionários franceses de Roma, ver
«dGraf KalneincMichael I-cvey (0/i, aí. p. 330 c suanotaó, em que vem citada, a respeito da influência do quadro de David, o artigo
• Crozet. David et 1'architecture néoclassique. Gazette des BeauxArts, XLV, 1955, m). Grandjean, a não ser nessa casa, só empregou
c u
°' "as lisas c sem base em cres projetos dos que conhecemos, a saber: o de um pequeno teatro (ENBA), o da "leiteria" e dos banhos
1Cos
de Nendorf, os dois últimos no MNBA e feitos na Vestfália.
já começavam a cansar. Percier e Fontaine, mestres de Grandjean, criticaram seu emprego abusivo com o peso
de sua autoridade. Por isso, talvez, seu discípulo as tenha usado pouco. Pelo menos só as encontramos, até agora,
em três de seus desenhos. Seu uso aqui nessa casa provavelmente lhe foi sugerido pelo "primitivismo" e pela simi-
litude, ainda que vaga em alguns casos e mais precisa em outros, que com o modelo europeu tinham os exemplos
fluminenses de colunas toscanas como parte integrante dos avarandados que ele adotou. Teria então usado essas
colunas como um meio de se conformar à tradição regional, sem deixar de manter-se fiel a um protótipo de sua
formação neoclássica.
A casa de Grandjean é, portanto, no seu conjunto, uma adaptação, orgânica e formal, de tradições (a plan-
ta) e modismos neoclássicos franceses (as colunas) ao novo meio ambiente, conseguida por meio da adoção de
costumes (entrada principal e sala mais importante do mesmo lado da "frente") e de elementos locais (os avaran-
dados).
Todavia, aparece, também, nessa casa, uma reminiscência dos anos passados na Itália. Nela, Grandjean vale-
se de um elemento renascentista e toscano para vencer a declividade do terreno, sem que isso lhe chegue a dar o
aspecto de uma vila toscana. É o grande terraço construído sobre abóbadas e sobre o qual se assenta a casa, apa-
rentemente derivado do grande terraço, também sobre abóbadas (Fig. 8), da Vila Medicis em Poggio a Caiano,
de Giuliano da San Gallo, perto de Florença." Já Bellanger fizera repousar a Bagatelle sobre um vasto terraço,
porém de pouca altura. Nessa casa da Gávea é mais evidente, por sua altura e pela importância das arcadas, a
semelhança com o modelo italiano. Cremos não se poder atribuir aos exemplos de porões das casas rurais brasi-
leiras a origem dessa disposição em terraço. Os nossos porões, em geral, não são abobadados e se circunscrevem
ao perímetro da casa sem formarem terraços. Aqui, como no exemplo italiano, temos de fato um grande terraço,
que, como uma varanda exterior ao corpo da casa, dá-lhe a volta pelos quatro lados, embora fique a rés-do-cháo
pela parte de trás, em virtude do aclive do terreno.
Como varanda descoberta exterior ao corpo da casa, esse terraço não podia deixar de ter, como tinha, seu
guarda-corpo na parte fronteira e mais alta. Em 1961, o professor Donato de Mello encontrou no Museu Nacio-
nal de Belas Artes um desenho, por ele atribuído a Grandjean, opinião que nos parece indubitavelmente certa.
13 A Vila Medicis de Poggio a Caiano não vem reproduzida na Architecture toscane de GTandjcandeMontignycFamin. Isso não quer dizer
que os autores não a conhecessem, pois nessa obra limitaram-se a estudar palácios e construções urbanas de Florença e outras cidades da
Toscana.
Cabe aqui fazer uma observação sobre as colunas objeto da nota 12. Fmbora fossem conhecidas c largamente usadas pelos arquitetos da
época, nâo deixa de ser interessante o fato de aparecerem cm dois exemplos ilustrados na referida obra: as famosas Casctm de Florença e
um Ptiii fia/ais via áti GhiaharJini. N e s t e último, a lojtgia do andar superior apresenta quatro colunas, que, com sua arquitrave, lembram
muito as duas colunadas da (lavca. listas, portanto, em seu aspecto, p o d e r ã o ser outra reminiscência toscana, mas dessa vez provinda de
um palácio urbano, o que não implica semelhança com as vilas toscanas em geral, ao menos as mais conhecidas e importantes, casarões
quadrados, cobe ri os por telhados de grandes beirais sem cornijas, quando não se traia de antigos castelos readaptados, por cima de cujos
caminhos de ronda sobressaem os mesmos telhados com beirais (Vilas de Artimino, l.a lYtraia. liombieci, Gamberaia, a citada de Poggio
a Caiano com as outras Vilas Medicis de Fíesole e de Gareggi e a Vila "II Trcbbio", estas duas últimas acasteladas).
dobre esse desenho (Fig. 9) escreveu uma comunicação, de que nos fez a gentileza de ceder uma cópia. Trans-
crevemos, data venia, os trechos desse estudo que mais nos interessam e com os quais estamos inteiramente de
acordo, sublinhando o que achamos mais importante a nossos fins: "Trata-se do estudo do paredão que delimita
0
terraço de entrada da residência de Grandjean na Gávea..." "Está desenhado a nanquim, em traço fino, como
e
*a hábito do mestre, cotado e sem legenda." "A mureta que serve de peitoril é resolvida com elementos semicir-
culares, em ninhos de andorinha, dispostos em cinco fiadas na altura. Tendo o arquiteto explorado uma olaria,
talvez estes elementos em meia cana tivessem sido por ele fabricados." Como observa o professor Donato de
Mello em nota, "a execução não corresponde ao estudo". Tal coisa acontece com freqüência em qualquer obra,
n
ão é fato extraordinário e, portanto, não invalida a premissa de que o desenho tenha sido feito para a casa. O
terraço, com o ritmo das arcadas como está, já poderia existir antes da casa, e a modificação, de acordo com o rit-
mo dos vãos, textura e articulação, por Grandjean tão bem estudados e propostos no desenho, para o paramento
do muro, se tornaria onerosa (sabemos de suas dificuldades financeiras que o levaram a querer vender a casa em
1ÍÍ2
8), o que o teria impedido de executar fielmente seu desenho. Mas os elementos cerâmicos em "ninho de an-
dorinha" correspondem aos do guarda-corpo que lá existia e que talvez fosse o original. É verdade que este, pelo
decorativismo" dos referidos elementos, poderia, quem sabe, destoar da pureza e austeridade neoclássicas do
r
°ntispício da casa, mas o fato é que o próprio Grandjean os previu em seu desenho. Afinal, não tinham os etrus-
c s
° i e, à imitação destes, os romanos da república, tão admirados pelos neoclássicos, empregado a "terracota",
^ue é uma modalidade de cerâmica, em seus templos? E o lançar mão desses elementos, produtos da olaria junto
Ca
sa, não constituía, também, um condicionamento aos recursos locais, àquela distancia da cidade de então?
e
qualquer modo, ainda uma vez, à falta de documentação, não se pode chegar a uma conclusão. O mesmo se
a
Quanto a saber se todo esse "embasamento" ou terraço preexistia, ou não, à casa. Senão, torna-se mais clara '
In
tenção de seguir o exemplo de Poggio a Caiano. Se preexistia, será apenas uma coincidência que o arquiteto
e
na aceitado com gosto. Ficam essas hipóteses até um posterior esclarecimento.
Do exposto, vê-se que Grandjean procurou unir, nessa casa, as duas tendências marcantes do neoclassicis-
0
francês. Na planta, sobretudo na parte posterior e sua elevação, seguiu a corrente mais tradicional, que se
l(
ua na linha de evolução da arquitetura "clássica" francesa, que, após o interlúdio do rococó na primeira metade
0
século XVIII, sofre o influxo do novo gosto revivescente da Grécia, da Roma Imperial e do Renascimento
ora de Gabriel, Bellanger e, mais tarde, Perder e Fontaine, estes já influenciados pelo método de composição
'culada de J. N. L. Durand), sem deixar de ser essencialmente francesa. Na dupla colunata com que vestiu os
Mandados "fluminenses", habilmente integrados à planta francesa, seguiu a corrente mais "arcaizante", "ro-
,„ °~rePublicana", até mesmo "ideológica", austera e fria, a qual teve seu mais lídimo representante em Ledoux
aiinas de Chaux [Fig. 10], pavilhões aduaneiros ou barrières de Paris). A essas duas tendências ajunta-se ainda
ar
eminiscéncia italiana ou toscana, no terraço à volta da casa.
Muitas vezes em sua carreira, como a de quase todos seus contemporâneos da geração formada nos anos
ol
ucionários, mais de projetadores do que de realizadores, porque preteridos pelos arquitetos de reputação
firmada na época do Antigo Regime e mais realistas do que sonhadores, Grandjean hesitou entre essas diversas
tendências. Tentou integrá-las, com maior ou menor sucesso, ou se ateve à primeira tendência, realizando então,
a nosso ver, suas melhores obras e projetos, como a Academia de Belas Artes e o projeto do Senado ou do Palácio
Imperial no Brasil e outros na Europa.
Nessa casa, em que seguiu as duas mencionadas tendências do neoclassicismo francês, não conseguiu, pa-
rece-nos, chegar à síntese que se impõe em uma obra bem realizada. Vista de frente, a casa aparece como um
bem-sucedido exemplo da corrente arcaizante, dando a impressão, por sua imponência, de que esse tratamento
vai estender-se por todos os lados, o que faz com que, ao olhá-la por trás, fiquemos surpresos ao dar com um
exemplo da outra corrente, ainda impregnada da graça setencentesca e que nos lembra a elevação posterior da
casa Lakanal (Fig. 3). Conseqüentemente, vista de lado, (o que não é muito fácil hoje), como no desenho de De-
bret (Fig. 11), evidencia-se o efeito de justaposição de duas construções de espírito formal diverso, que parecem
dar-se as costas uma à outra.
De qualquer forma, essa casa ilustra bem sua formação francesa e neoclássica, a deficiência de auto-afirma-
ção que compartilhava com os de sua geração refletida na hesitação ocasional entre as correntes de sua época,
e por isso geradora de certa desigualdade em sua obra. Ilustra, também, o que nem sempre aconteceu em seus
projetos, isto é, a habilidade com que soube, nesse caso, adaptar-se às novas condições ambientais. Por tudo
isso, trata-se de uma obra marcante, que deve ser cuidadosamente conservada, quando não fosse, por ser, com
a antiga Bolsa, os dois únicos exemplos que restam do que conseguiu realizar no Brasil, sem falar de sua melhor
obra, o pórtico da Academia, remontado no Jardim Botânico.
D
' Planta da residência do Cardeal da Ferrara (Blunt, Anlony, An and architecture m Francg, 1500-1700. p. 50, Fig. 7).
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2 FoMe da Bagetalla. plantaa a alçados (Hauecouer. Op. ott t IV, p. 106, Flg, 30).
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3a Casa Lakanal. plantas (rOeíf, n° 275, junho de 78, Fig. 7).


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" iean do Monligny, bagatelte ou cas/no na Vestfália (Museu Nacional da Belas Artes, desenho s.n., detalhei.
5 Grandjean da Montlngv. Cosa da Gávea, plantas.
7 Da vi d, o Juramento dos Horácios.
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Villa Mediei de Poggio a Caiano, planta.
8b Villa Mediei de Pogglo e Caiano, fachada
principal.
"Jean de Monligny, desenho para o muro do teiraço da Casa da Gávea (Museu Nacional de Belas Aries, n° 6.353).
t"»V!C,J^fj»."|'.

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'sta da casa de Grandjean da Montigny (Museu da Chácara do Céu).
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12 Casa da Fazenda do Capão do Bispo.


3 Casa da Fazenda do Capão do Bispo,
14 Casa do Engenho de Colubandé.
15 Casa do Engenho de Cod
16 Engenha d'Água. Jacarepaguá.
18 Grandjean de Moniingy, Casa da Gáve
detalhe.
19 Grandjean de Montingy, Casa da Gávea,
20 Grandjean da Montingy, Casa da Gávea,
detalha da varanda.
21 Grandjean de Montingy, Casa da Gávea,
detalhe da varanda do primeiro andar.
Fontes documentais
para pesquisas sobre o arquiteto
Grandjean de Montigny

Donato Mello Júnior


Não se pode mais escrever sobre os acontecimentos históricos sem as pesquisas
nas fontes. A heurística é o primeiro passo do historiador. "Rien ne supplée aux
documents: pas de documents, pas ífbistoire" (Langlois - Introduction aux études histo
riques. p. 2). (José Carlos Macedo Soares. Fontes da história da igreja no Brasil.
Revista do IHGB, n. 220,1954)

Augusto Henrique Vitor Grandjean de Montigny é um dos arquitetos que mais contribuíram para o que hoje
conceituamos como arquitetura no Brasil.
Se no século XVIII registramos os nomes exponcnciais dos mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleija-
dinho, e Valentim da Fonseca e Silva; se no século XX reconhecemos os méritos de Lúcio Costa e de Oscar
Niemeyer, no XIX temos, como expressão maior, mestre Grandjean de Montigny e alguns arquitetos seus dis-
cípulos.
Dividindo-se a história da arquitetura no Brasil em três períodos, todos concordariam que o Aleijadinho e
Mestre Valentim encarnaram o nosso barroco-rococó; Grandjean de Montigny, o neoclassicismo; seus discípu-
los, a arquitetura imperial brasileira; Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a nossa arquitetura contemporânea.
Aleijadinho foi e continua a ser objeto de extensa literatura, a maior da nossa história artística, e Niemeyer,
por outro lado, é manchete permanente, arquiteto de ampla obra realizada e divulgada, aqui e no exterior. Am-
bos já foram focalizados pelo cinema, e suas obras são atrações turísticas. De permeio, a figura dominante de
Grandjean de Montigny, que representa o nosso espírito classicizante em um intermezzo menos conhecido e
considerado, está a merecer a mesma importância com que se estudam as produções barrocas, rococós ou con-
temporâneas, que já alcançaram o registro na história universal da arte. Sua notável contribuição, não só docente
como arquitetônica, embora reconhecida, não está de todo pesquisada, avaliada e divulgada.
O nosso neoclássico, a nossa "arquitetura imperial brasileira", na expressão feliz de Morales de los Rios Fi-
lho, o seu nascimento e a sua expansão Brasil afora estão por ser historiados.
Já temos, aliás, a contribuição de Morales de los Rios Filho em duas obras fundamentais: Grandjean de Mon-
tigny e a evolução da arte brasileira e O Rio de Janeiro imperial. Mas, apesar da importância de sua contribuição, ele
não esgotou tão importante assunto. Cremos mesmo que a expansão da arquitetura imperial ainda está por ser
pesquisada na obra dos seus discípulos, cujos exemplos se repetiram em outras, de autoria anônima, pelas pro-
víncias, em um levantamento e análise das fontes com seus documentos, testemunhas e monumentos, tombados
ou não. Os modernos estudos históricos, com seu caráter mais técnico e científico que literário, baseiam-se em
fontes que fornecem os documentos para a análise e a síntese, com a força da sua originalidade.
Nosso grande historiador Afonso d'Escragnolle Taunay já condenava os autores que, "tendo horror aos
papéis velhos das fontes documentais, desperdiçam montanhas dos de imprensa que divulgam suas lucubraçóes
conjeturais ou a repetição contínua de erros iniciais jamais corrigidos". É um princípio do historiador que a his-
tória se faz com documentos. Partindo deles, fazendo a sua análise e a sua crítica, pode o historiador preencher
lacunas, esclarecer fatos e dúvidas, interpretar, provar, concluir e ensinar. Felizmente não temos horror a papéis
velhos, nem alergia ao pó dos arquivos... Reconhecemos há muito o valor das fontes, procuramos pesquisar, para
melhor compreender e divulgar, a importância de Grandjean na história do ensino e da arquitetura no Brasil.

P r i m e i r o s contatos
C o m o arquiteto por formação e historiador por tendência natural, a figura exponencial de Grandjean de
Montigny no nosso meio impressionou-nos, desde o nosso curso acadêmico na Escola Nacional de Belas Artes,
miciado em 193o.
A sala de aula da disciplina Arquitetura Analítica, onde hoje funciona o T e a t r o da Funarte, exibia algumas
belas arquiteturas, magnificamente desenhadas e aquareladas. Nossa atenção de calouro foi logo atraída por tão
belos exemplos, naquele longínquo 193o, a nos ensinar as dificuldades da carreira escolhida: Arquitetura.
Só com o t e m p o viemos a conhecer um pouco sobre o autor daqueles preciosos desenhos: Augusto Henri-
que Vitor Grandjean de Montigny, autor de muitos outros no Arquivo da ENBA, ao qual não tínhamos acesso.
Durante nosso curso em 1937, foram criados o Museu Nacional de Belas Artes e o Serviço do Patrimônio His-
tórico e Artístico Nacional. Ambos os órgãos sempre deram importância àquela personalidade. O primeiro, em
sua notável exposição "A Missão Artística Francesa", de 1940, que nos revelou grande parte dos desenhos de
Grandjean, e o segundo, ao tombar várias de suas obras.
Mas vimos inexplicavelmente ser demolido o edifício da antiga Academia Imperial das Belas Artes (1938) a
pretexto da lá ser construído o novo Ministério da Fazenda, em um terreno maior que até hoje continua baldio...
O jovem Patrimônio salvou a cantaria do pórtico central, levando-a para o Jardim Botânico, e Gustavo Barroso,
diretor do Museu Histórico Nacional, salvou o portão do ferro velho...
N o fim do curso, em 1941, pudemos melhor conhecer o mestre no magnífico livro, então editado, do arqui-
teto Morales Filho.
Foi só com a criação da Faculdade Nacional de Arquitetura, em 1945, que o entusiasmo do professor Paulo
Ferreira Santos criou a disciplina Arquitetura no Brasil, para ensinar o valor e a importância de Grandjean às novas
gerações de estudantes de Arquitetura - disciplina hoje do currículo mínimo das Faculdades de Arquitetura.
Em 1955, quando se comemorou o décimo aniversário da F N A , voltamos nossa atenção para o grande ar-
quiteto e, em homenagem ao seu aniversário, escrevemos "Grandjean de Montigny e discípulos nas primeiras
premiações e exposições de arquitetura no Brasil", publicado mais tarde no Anuário da Faculdade de Arquitetura,
n. 4,1961.
A ele voltamos em outras pesquisas, como em 19Ó2. Nessa ocasião, trabalhando no acervo do Museu N a -
cional de Belas Artes, tivemos a oportunidade de conviver diretamente com os desenhos de Grandjean. Prepa-
ramos uma pequena exposição na F N A , que se realizou, e começamos a pesquisar seus desenhos com o intuito
de elaborar um catálogo que não tivemos a oportunidade de concluir. Publicamos apenas um estudo sobre um
dos seus desenhos: "Desenhos de Grandjean de Montigny para a sua residência na Gávea", no Boletim da FNA, n.
35-39> jun./out. 1962. Em 1976, procuramos chamar a atenção para o seu bicentenário de nascimento, que passou
quase desapercebido, em 15 de julho. Escrevemos algumas notas, publicadas ou não. A contribuição oficial foi
assaz modesta: o pronunciamento do Conselho Federal de Cultura e uma pequena mostra no MNBA, organi-
zada por Giovanna Rosso Del Brenna e Pedro M. Caldas Xexéo. Continuando, voltamos a pesquisar Grandjean
em 1977, em um trabalho para a Funarte. A pesquisa, de caráter documental, focalizou manuscritos, desenhos,
monumentos tombados e bibliografia dele e sobre Grandjean. Acrescentamos uma documentação fotográfica e
uma monografia, trabalho ainda inédito.

Fontes documentais de pesquisa


Não pretendemos, nem conseguimos, esgotar as fontes documentais de Grandjean de Montigny, nem nas
potencialidades de cada uma, nem na variedade desigual das mesmas. A pesquisa revela-nos que se encontra no
Rio de Janeiro o maior acervo documentário sobre o mestre, pois ele viveu aqui de 1816 a 1850. Existem nume-
rosas e variadas fontes primárias, que podemos grupar em:
a) museus, arquivos e bibliotecas;
b) monumentos tombados ou não;
c) bibliografia de e sobre Grandjean publicada em sua vida.
Essas fontes primárias complementam-se com bibliografiapost-mortem até nossos dias.

Identificamos como fontes brasileiras em museus, arquivos e bibliotecas a maior parte de caráter oficial:
Museu Nacional de Belas Artes;
Escola de Belas Artes da UFRJ;
Arquivo Nacional;
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;
Biblioteca Nacional;
Museu Histórico Nacional;
Museu da Cidade do Rio de Janeiro;
Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Município do Rio de Janeiro;
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro;
Arquivo Histórico do Itamarati;
Museu Imperial de Petrópolis;
Quinta da Boa vista;
Sala Matoso Maia da Biblioteca Municipal de Niterói;
Espólio Francisco Marques dos Santos;
Espólio Djalma Fonseca Hermes.
Como fontes recentes, podemos apontar:
Conselho Federal de Cultura;
Fundação Nacional de Artes (Funarte);
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Como fontes estrangeiras, podemos relacionar:


Ecole Supérieur des Beaux-Arts de Paris;
Institut de France;
Archives Nationales (Hôtél Soubise);
Museu de Versalhes;
Villa Mediei;
Staatliche Kunstsammlungen de Cassei.

Fizemos pesquisas diretas nas fontes cariocas. Em relação às estrangeiras, fizemo-las, algumas, por corres-
pondência, o que por vezes teve resultados precários.
Os monumentos tombados ou não compreendem os de autoria de Grandjean e os da sua escola.
O Iphan tombou a antiga Praça do Comércio e o antigo Segundo Tribunal do Júri, o pórtico reconstituído
da Academia no Jardim Botânico, o Chafariz da Praça Antônio Viseu, vinda da antiga Praça Onze, e a sua man-
são de Olaria, hoje no Campus da PUC-Rio.
Como remanescentes, a antiga pracinha fronteira da Academia e o portão da mesma.
É fonte importante a bibliografia do próprio Grandjean, ricamente ilustrada e de grande raridade.
A bibliografia sobre Grandjean é de valor variado, sendo importante, mas pequena, a que apareceu em vida
do próprio arquiteto. Levantamos uma trintena de referências em jornais, catálogos das Exposições Gerais da
Academia, coleção de leis e publicações.
A mais antiga referência colhemos no catálogo do Salon de Paris de 1808, quando ele expôs "753 - Un des-
sin. Fragments d'architecture". Nos rarissimos catálogos das Exposições Gerais pudemos levantar o que ele lá
expôs entre 1841 e 1850 e a referência desconhecida, colhida no de 1859, de um quadro "Animais mortos", hoje
no MNBA, por ele dado à Academia.
Não menos importante o "projeto do plano para a Imperial Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro..."
(Rio, 1827), bem como as referências de Luísjoaquím dos Santos Marrocos em suas Cartas (1811-1821), publicadas
pela Biblioteca Nacional, as de Luís Gonçalves dos Santos em suas Memórias... (2v., 182c e 1826), as de Debret em
sua Voyagepittoresque et bistorique... (1834,1835 e 1839), bem como as críticas de Manuel de Araújo Porto-Alegre e
os elogios de Félix Emílio Taunay no Jornaldo Commercio. Dentre os jornaisfluminenseshá referências na Gazeta
do Rio de Janeiro (1816 e 1820), no Diário Fluminense (1826), no Jornaldo Commercio, etc.
Para o estudo de Grandjean em bibliografia posterior, pudemos contar com mais de 300 itens de variado
interesse em literatura brasileira e alguns na alienígena, de natureza variada: livros, leis, catálogos, jornais, revis-
tas, etc. Poucos estudos focalizam em extensão o arquiteto da Missão, sempre presente, aliás, em tudo o que se
escreve sobre a mesma.
O estudo mais completo é o de Morales de Ios Rios Filho, em seu Grandjean de Montigny e a evolução da
arte brasileira. Entre outros autores, Grandjean é sempre apresentado como personalidade de escola da história
da arte brasileira. Entre inúmeros autores que trataram dele podemos citar B. Ribeiro de Freitas, Luís Gastão
d'Escragnolle Dória, Adolfo Morales de los Rios, Afonso d'Escragnolle Taunay, Manuel de Araújo Porto-Ale-
gre, Alfredo d'EscragnoIIe Dória, Francisco Marques dos Santos, Virgílio Correia Filho, Pedro Calmon, Alfredo
Galvão, Mário Barata, Augusto Carlos da Silva Teles, Paulo Ferreira Santos, Luís Carlos Palmeira, etc, em refe-
rências maiores ou menores, de importância e profundidade variáveis. Não esqueçamos a presença de Grandjean
em diversas exposições do MNBA desde 1940 até 197o e as relações dos bens tombados pelo Iphan.
Dentre algumas literaturas estrangeiras, em geral citando enpassant ou reproduzindo algum trabalho do mestre,
podemos lembrar: Dictionnaire des archttectesfrançais, de Lance (1872); A. Hofmeyer emDie Bau undKunstdenkmãle
im Regierungsbezirk Cassei'(1923); Henry Lapanze na Histoire de 1'Académie de France â Rome (1924); John Hard
em The study ofarchitectural design (1927); Jean-Paul Alaux em Académie de France à Rome (1933); Emil Kaufman em
Architecture in the age ofreason (1955); Souza Viterbo em Expedições científico-militares enviadas ao Brasil (1964, c
referências inexatas), etc.
Uma publicação feita no Bulletin de Ia Sociétéde 1'Histoire de CArt Français, por Robert Coustet (197Ó), talvez
seja o primeiro estudo específico sobre Grandjean na literatura européia.
Fontes preciosas de informações, as testemunhas e a correspondência quase não existem para depor sobre
o nosso pesquisado. Não há também notícia do seu arquivo particular, agravada por não haver descendência no
seu segundo matrimônio.

Uma pesquisa nas fontes


Motivado pelo bicentenário de Grandjean, voltamos a percorrer, mais sistematicamente, fundos já consulta-
dos em uma pesquisa planejada com o sentido de precisar minúcias, ampliar anotações, estendendo as buscas nas
fontes levantadas com o objetivo de localizar documentação original e organizá-la mctodologicamente. Infeliz-
mente não ampliamos a pesquisa até o ponto que desejaríamos, limitados pelo tempo e pelo campo da mesma.
Esta pesquisa, oficialmente planejada para oito meses e limitada ao Rio de Janeiro, foi insuficiente para do-
minar o que tínhamos em mente. As fontes fluminenses foram consultadas diretamente, e na medida do possível
usamos, em relação às fontes estrangeiras, a correspondência.
Neste trabalho realizado para a Fundação Nacional de Arte (Funarte) contamos, para sua organização me-
todológica, consulta aos manuscritos e fichamento, com a colaboração das professoras Iracy Lemos Bastos e
Theolides Cordeiro de Mello, ambas admiradoras do mestre francês.
Na metodologia da pesquisa, consultamos a documentação possível e passível de levantamento, fonte por
fonte, embora em pesquisas simultâneas, às vezes. O documento identificado, de maior interesse histórico, foi
analisado e anotado em fichas provisórias, depois reduzidas a "fichas documentárias", com os seguintes dados:
fonte, locaÜzação (na fonte), natureza, data, originalidade, divulgação, dimensões (nos desenhos), estado e ou-
tras particularidades do documento, completadas com uma súmula e um "comentário".
O resultado desta pesquisa pode ser resumido em conjunto de mais de 650fichasdocumentárias de 16 fon-
tes, uma bibliografia com 325 itens, uma monografia de 291 páginas, ilustrada com 70 reproduções fotográficas.
Esta pesquisa documental acha-se inédita na Funarte, que pretende publicá-la oportunamente na sua futura
coleção "Panorama da Arte Brasileira".
Posteriormente (em 1978), continuando nossas pesquisas, conseguimos um dossiê dos desenhos de Cassei,
em 16 reproduções fotográficas, que completaram iconograficamente uma relação tecnicamente organizada pelo
Staatliche Kunstsammlungen a nosso pedido. Também revimos documentação relacionada com Luísa Francis-
ca Ramos Panasco de Montigny, segunda esposa do mestre, já objeto de um artigo divulgado pelo Mensário do
Arquivo Nacional em seu número 11 de 1978.
A natureza da documentação sobre Grandjean que temos consultado (1962-1978) abrange, fundamentalmen-
te:
a) desenhos de arquitetura e urbanismo: estudos, levantamentos, croquis de voyage, restaurações e projetos, em
suas duas fases (européia e brasileira). Estes estão distribuídos pelas seguintes fontes: Museu Nacional de Belas
Artes, Escola de Belas Artes, Biblioteca Nacional, Museu da Cidade e Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Em
Cassei há 16 desenhos; em Paris, o seu Prix de Rome e a restauração do túmulo de Cecília Metela. Há possibili-
dade de outros ainda não localizados em fontes européias, conforme uma indicação vinda do próprio Staatliche
de Cassei;
*>) manuscritos de diferente natureza: decretos, avisos, ofícios, informações, relatórios, cartas, etc;
c) gravuras, pinturas e esculturas;
d) microfilme de Quai d'Orsay;
e) monumentos tombados (processos de tombamento, inventário e plantas). No local e no arquivo do Iphan;
0 bibliografia de Grandjean;
g) bibliografia sobre Grandjean;
h) fotografias.
Grande parte da documentação é de caráter original, não usada por historiadores, principalmente a do Ar-
quivo Nacional, a do Arquivo da Escola de Belas Artes, bem como desenhos do arquiteto por nós inventariados
«o Museu Nacional de Belas Artes. (nDi 6.346AA a 6.Ç48AA)
A documentação manuscrita é na sua maior parte de origem administrativa oficial, constando de rascunhos,
avisos, ofícios, papagaios, informações, despachos, relatórios, relações, etc, e se encontram principalmente no
Arquivo Nacional, no arquivo da Escola de Belas Artes, no Museu de Belas Artes e na Biblioteca Nacional.
Os desenhos da Escola de Belas Artes e do Museu Nacional de Belas Artes procedem da venda dos mes-
mos em 1816 pela viúva de Grandjean, quando ministro do Império o marquês de Olinda, em u m processo de-
morado cujo pagamento chega, em 1868, a u m total de 1 0 . 0 0 0 S 0 0 0 , após uma avaliação anterior em 1865 de
14.686S000.
Encontramos recentemente a relação manuscrita dos desenhos comprados, mais completa que a publicada
no relatório do Marquês de Olinda, em 1816. Abrange 157 itens sobre desenhos, alguns bem caracterizados e
identificáveis, outros não, havendo outros indeterminados como "pastas". H á nela vários enganos, sendo o mais
curioso o fato de constar nela desenhos já há muito de propriedade da Academia.
O conjunto atual, comparado com as relações antigas, demonstra que vários desenhos desapareceram com
o tempo. H á a tradição de que alguns desenhos desapareceram em u m incêndio do Liceu de Artes e Ofícios,
parecendo não ser verdadeira, pois o professor Bethencourt da Silva, ao se jubilar, indagado pela Academia, jus-
tificou-se admitindo a perda possível de alguns pelo uso (1888).
Da Academia, esse conjunto passou para o acervo da Escola Nacional de Belas Artes, que o manteve em um
só fundo até 1937. Nesse ano, com a criação do Museu Nacional de Belas Artes, foi esse fundo dividido - sem
qualquer critério, infelizmente - em dois outros, ficando o M N B A com o maior quinhão.
N o conjunto alguns dos desenhos não são de Grandjean, mas de alunos seus; outros são de identificação
difícil.
N o M N B A , seu fundo foi parcialmente inventariado (nÜS 3.691 a 3.737). Em 1964, trabalhando no Museu,
inventariamos o restante, julgado menos importante, em 198 itens (n°5 6.3S1AA a 6.548AA). N a EBA, o conjunto
menor está relacionado em um Boletim de sua biblioteca (n 9 2 de 1957).
Em ambos os órgãos os desenhos, atualmente, são custodiados com zelo.

Museu Nacional de Belas Artes


Esse museu possui o maior conjunto de desenhos de Grandjean, havendo ainda duas gravuras de sua obra
impressa e uma pintura a óleo, bem como o retrato da viúva de Grandjean, duas medalhas e alguns documentos
de arquivo.
Nosso levantamento abrangeu 157 fichas documentárias, que registram:
a) 217 desenhos (mais alguns não localizados na época da pesquisa);
b) duas gravuras;
c) três pinturas;
d) duas medalhas de prêmio;
e) documentação.
Classificamos, grosso modo, a documentação gráfica em:
a) Paris, anterior a 1799. F. Doe. 1-8;
b) Itália (1802-1805) - projetos e restaurações. F. Doe. 9-11;
c) Itália (1802-180$)-croqutsde voyage. F. Doe. 12-34;
d) Itália (1802-1805)-levantamentos. F. Doe. 35-89;
e) Fase européia (s.d.) - estudos e projetos. F. Doe. 90-108;
0 Paris (1807-1809) - projetos. F. Doe. 109-115;
g) Cassei (1810-1814) - projetos. F. Doe. 116-120;
h) Brasil (1816-1850) -projetos. F. Doe. 121-141. Estão incluídos cinco de outros autores (discípulos);
i) Documentação (1936-1975) - F. Doe. 142-156.
0 fundo se encontra custodiado na Divisão de Atividades Técnicas. Na documentação é importante um
levantamento sobre 25 estudos ou projetos de Grandjean pelo arquiteto Mário Torres, acompanhado de 34
fotos.
No setor de Pintura Brasileira guarda-se o retrato de D. Luísa Francisca Panasco, tela a óleo por Augusto
Mueller (T. 2.371), e uma pintura a óleo, "Área romana", de Grandjean (T. 2.166). O MNBA possui ainda uma tela
doada por Grandjean, conforme apuramos: "Cão com animais mortos" (T. 1.849), da Escola Holandesa.
Os principais desenhos do acervo do museu são:
1 - Alguns desenhos escolares de Beaux-Arts, incluindo-se duas aquarelas do seu Prix de Rome. São dese-
nhos acadêmicos orientados, alguns para programas de caráter cívico e festas republicanas. Um deles, grande
composição arquitetônico-paisagística, tem por título "Les plaisirs les plus purs sont ceux de l'homme libre"
(duas pranchas, Inv. 3.701 e 3.728). Há ainda duas "esauisses" ÇT. 3.734 e 6.348AA), possivelmente os dois mais
antigos desenhos de Grandjean.
II - A fase italiana se caracteriza por três tipos de desenhos:
A) Levantamentos de monumentos, em escala ou em esboço de plantas, minuciosos, cotados ou não, ge7
ralmente anotados em legendas minúsculas, por vezes de difícil leitura, feitos a lápis ou tinta, de acordo com
as circunstâncias, em tamanhos e papéis variados, abrangendo palácios e igrejas principalmente, alguma vezes
ac
ompanhados de perfilaturas. É a série maior.
Entre os monumentos levantados (57fichas- F. Doe. 27,31 e 35-89), compreendendo 134 desenhos, podemos
Cl
tar: Panteon de Roma, Belvedere do Vaticano, convento dos cartuxos em Siena de Baltazar Peruzzi, palácio
em Parma, Banhos de Água Santa, Cartuxa de Florença, Convento dos Capuchinhos em Florença, templo em
Assis, Palácio Barberini, subterrâneos da Villa Ludivisi, Palácios Macaroni e Carandini em Roma, Palácio Pitti
de Florença, Palácio Bianchi, Villa Cibi em Castel, Cúria Mostila, igreja e palácio em Albano, Villa Chigi em
Laricia, Palácio Sembaldi, Villa Palavicina, Palácio AIdrovandi em Bolonha, fonte em Viterbo, Palácio Bracani
e
m Albano, etc.
Estão normalmente colados sobre um suporte e fichados de época antiga. A montagem era do próprio
Grandjean, pois em alguns as anotações passam do desenho para o suporte.
B) Croquis de voyage. Como os levantamentos, pontuam os lugares por onde perlustrou Grandjean em via-
gens de estudo, principalmente pela Toscana. Somam 37 desenhos a lápis ou tinta, alguns minúsculos, regis-
trando vistas urbanas de Florença, Arco Oscuro, Capri, Campo Vachisco, igreja em Arezzo, Palácio Chigi em
Larcia, Aqua Cetosa, Monte Camello, Villa Verospia, Villa Altieri, Villa Pamphiti, praça em Preneste, Palácio
Barberini, etc. Acompanham anotações identificando locais.
A maior parte desses desenhos foi restaurada em 1966 por Edson Motta, segundo uma relação por nós feita
em maio daquele ano, juntamente com outros.
C) Projetos e restaurações:
a) composição não identificada de um edifício monumental (Inv. 3.700) precedido de pátio com fonte
central;
b) projeto de um orfanato militar de estilo neoclássico (Inv. 3.Ó94 e 3.695). Uma prancha com sete primoro-
sos desenhos monocrômicos em aguada de nanquim (fachada, cortes e detalhes arquitetônicos). A segunda,
também magnificamente desenhada sob o título "Onor s'aquista protegger l'arti" com seis desenhos minu-
ciosos em aguada de nanquim e sombreados. Título "Prospecto dei orfanotrofio militare". Trata-se de uma
das mais belas concepções monumentais de Grandjean, demonstrando sua capacidade, maestria, grandiosi-
dade e virtuosismo.
III - Restauração da fachada do Panteon de Roma. Desenho primoroso (Inv. 3.697). Foi o n° 1 da Exposição da
Academia em 1829 e o segundo na lista da compra.
Há um grupo de uma vintena de estudos e projetos da fase européia que podem ser da fase Beaux-Arts ou do
seu retorno a Paris, de difícil datação:
a) um entablamento preciosamente desenhado (Inv. 3.731);
b) um grupo defigurasmitológicas (Inv. 3.572);
c) templo das Musas (Inv. 3.352);
d) detalhe de janela (Inv. Ó4.215AA);
e) corte de um teatro (Inv. 6.380AA);
f) entablamento denticulado, decorado, aquarelado e sombreado (T. s.n.);
g) coluna coríntia (base e capitei) primorosamente executada (T. s.n.);
h) monumento piramidado (T. s.n.).
IV - Do retorno a Paris há desenhos de estilo neoclássico, que demonstram sua maturidade:
a) participação no famoso concurso de ligação Tulherias-Louvre (6.360AA) - urbanização;
b) projeto de um centro cívico (Inv. 6.546);
c) corte de um templo dominado por rica cúpula hemisférica, dedicado às glórias francesas (Inv. 3.705);
d) projeto de cunho monumental com a inscrição Napoíeon le Grand-A Ia ville de Paris - l'an MDCCCVIII,
em caprichados desenhos de aguada de nanquim e sombreados (Inv. 3.692 e 3.693). Esplêndido desenho sob
o título "Diversi frammenti antichi disegnati in Roma de A. Grangjean architetti". Foi premiado com a me-
dalha de ouro no Salon de Paris de 1808, conforme legenda posterior, minúscula e encoberta, anteriormente,
por antigo passe partout. Por engano, os catálogos da Academia (as "Notícias"...) da década de 1840 consig-
naram como premiado o desenho "Interior de Museu", de primorosa perspectiva, e não este, em um engano
nunca corrigido, embora Grandjean estivesse ainda em vida;
e) composição monumental neoclássica precedida de um grande arco central, com a legenda Munificentia
Imp. Rex Napoleonis Max. An- MDCCCVIII.
V - Fase de Cassei. São já da sua fase profissional essas grandes composições de caráter monumental arquitetô-
nico e urbanístico, parajerônimo Bonaparte:
a) palácio (planta) rodeado de jardins;
b) gravura de Schaeffer com o título Plan de Cathrinental dediéà sa majestéjeròme Napoleón Roi de Westphalie,
projeto de Grandjean;
c) grande composição de um programa cívico e de lazer (para Cassei?);
d) balneário de Neudorf.
VI - Fase brasileira. São os mais importantes para a história da arquitetura no Brasil.
Grandjean, como profissional, paralelamente à sua docência, produziu numerosos estudos e projetos, com ape-
nas alguns executados.
Da sua produção brasileira, temos:
a) urbanização monumental do Campo de Santana (Inv. 6.363AA) de 1827. Magnífica concepção seguida de
uma "nota explicativa". Monumental composição de estilo neoclássico, napoleônico e fora da escala brasi-
leira. Não executada;
b) elevação de um chafariz para S. Clemente (T. Ó.357AA), de estilo neoclássico. Não executada;
c) fachada e perspectiva de uma Biblioteca Imperial (1842). Não executada;
d) elevação de um chafariz parietal, estilo neoclássico. Executada no Catumbi, modificada, de planta qua-
drada no centro do largo (184o);
e) Vila Luzinha, pequena residência (1846);
f) fachada principal (T. 3.702), corte CT. 3.703) e situação (s.n.) do projeto para o Senado (1848). A localização
seria de frente para a atual Praça Tiradentes em eixo com o monumento a Pedro I e a Rua Dona Leopoldina,
em cujo final se via o pórtico da Academia Imperial das Belas Artes;
g) planta parcial do Rio de Janeiro entre o antigo Castelo e a atual Praça Tiradentes (1848), tendo em vista
uma Rua Imperial saindo da Ajuda (atual Cinelândia), onde se pensou também locar o Paço Imperial (T.
6.358AA). Não executada;
h) projeto não identificado de um edifício em corte, com dois pavimentos na fachada principal (T. 3.716);
i) detalhe arquitetônico de uma edícula para "portaria" CT. 6.374AA);
j) alguns desenhos, não identificados, cortados em "palmos";
k) o acervo do MNBA guarda ainda um desenho escolar de José Maria Jacinto Rebel (T. 6.348AA), outro
anônimo (T. 3.722) e outros de José Rodrigues Moreira e de Augusto de Paula Freitas.
O museu possui ainda obras relacionadas com o mestre:
I - Medalhas - pertencem ao museu duas medalhas premiais de Grandjean: a medalha "Poussin" (T. 2 . 3 3 4 ) , c o m
a legenda "le G d Prix de Peinture decerné par 1'Institut de France à Grandjean de Montigny, Architecte - l'an
1799", e outra, a medalha "Philibert de 1'Orne", com a legenda "Concours de mois/X e m t Medaille/Grandjean de
Montigny/Architecte" {T. 2.335).
II-Pinturas:
a) área romana. U m interior arquitetonicamente decorado e animado com diversas pessoas;
b) retrato a óleo sobre tela de D o n a Luísa Francisca Ramos Panasco de Montigny, doado ao museu em junho
de 1941 por Luís Gofredo d'Escragnolle Taunay;
c) tela a óleo de autor ignorado da Escola Holandesa - cão com três animais mortos. Doação de Grandjean
de Montigny à Academia conforme nota que localizamos na "Notícia da Academia..." de 1859.
I I I - Documentação. Além da já referida, alguns folhetos e recortes.
IV - Gravuras - duas a traço de sua obra impressa, junta com o fundo dos desenhos. Outra, já referida, de Schaeffer,
sob projeto do mestre para Cassei.

Escola de Belas Artes


C o m o já dissemos, a Escola custodia uma parte dos desenhos adquiridos pelo marquês de Olinda, e m 1866,
para a Academia.
Dentre eles, na série européia:
a) dois desenhos de 1799, estudos aquarelados para o seu "Prix de R o m e " (nos 2.974 e 2 - 9 7 5 ) - u m cemi-
tério público;
b) magnífica perspectiva do interior de uma galeria de museu (n° 2.984) dado, por erro, nos catálogos da
Academia, como tendo sido medalhado em 1808 no Salon;
c) projeto de coluna monumental (n° 2.990);
d) um croquis de voyage (n" 2.993);
e) corte de um Panteon, caracterizado por imensa abóbada hemisférica decorada por caixotões (n°
2.996);
0 uma cornija coríntia (n u 2.981) e a fachada do T e m p l o de Júpiter Sator (n° 3.007).
D a série brasileira, devemos citar:
a) desenho original da fachada da Academia Imperial das Belas Artes (n° 2.979);
b) projeto da Praça do Comércio, de 1820 (n ü 2.97o);
c) projeto da Catedral de São Pedro de Alcântara (n os 2.991,3.156 e 3.157);
d) planejamento arquitetônico monumental do Campo de Santana, em 1827 (n° 2.978);
e) planta do largo fronteiro à Academia (n° 2.980);
f) elevação central da fachada do Paço Imperial (n° 2.980);
g) projeto de fachada para a Câmara Municipal (na 2.986);
h) projeto de um Conservatório de Música (nDS 2.985 e 2.982) em fachada e corte;
i) fachada e corte de um edifício para as "Thermes Fluminensis" (n°5 2.989 e 2.987);
j) um monumento eqüestre (ne 3.160);
k) restauração do túmulo de Mausolo (n° 2.977), último trabalho do mestre (n° 1.850);
1) do discípulo Antônio Batista da Rocha, reconstituição do Templo da Fortuna Virile, envio de Roma
(nm 3.002,3.004 e 3.005), primorosamente desenhado;
m) do discípulo João José Alves, uma fachada para o Conservatório de Música (n° 3.154);
n) do discípulo Bethencourt da Silva, um desenho em aguada de nanquim: capitei e entalhamento com-
pósito, de 1845 (n° 3.006);
o) do discípulo João Dias Pinto Aleíxo, fachada de templo inspirada no Panteon de Roma;
p) de discípulo (anônimo), uma Praça de Comércio - fachada. Traz um carimbo da Academia e a assi-
natura do secretário João Maximiano Mafra (np 2.998);
q) de José Rodrigues Moreira Júnior. Corte de um edifício (n° 3.010).
Resumimos nossa pesquisa em 100 Fichas Documentárias que compreenderam os desenhos, os manus-
critos e códices do arquivo. Dentre os códices, podemos citar os livros de matrícula (1827-1831,1833-1844 e
1845-1854), os livros de atas (1831-1841,1841-1856 e 185Ó-1874), bem como os de ofícios, entradas e saídas (1833-
1843 e 1843-1852).
Há sete pacotes de manuscritos de documentos pessoais de professores e artistas. No pacote 1, além de
Grandjean (32 documentos), encontramos outros sobre Francisco Pedro do Amaral, Debret, Marcos e Zeferino
Ferrez, Félix Taunay, Augusto Muller, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Ernesto Gomes Moreira Maia (diretor),
João Maximiano Mafra (secretário), Henrique José da Silva (diretor) e Joséjustino de Alcântara. No pacote 6,
os nomes dejulião Pallière Grandjean Ferreira (neto de Grandjean), Tomás Gomes dos Santos (diretor), Carlos
Hucchi (arquiteto) e Daniel Pedro Cardoso (arquiteto). O pacote 8 contém documentação sobre os chafarizes
de Benfica, da Praça Onze, da Praça Municipal do Valongo, sobre a Casa da Moeda, etc, bem como pedidos de
informações sobre a Academia, sobre obras no edifício e serviços realizados ou projetados pela mesma. No pa-
cote 9 encontram-se os estatutos (1826,1875) e relatórios. No pacote onze, prêmios escolares (1832-1889) e alunos
premiados (1858-1886). No 17, Exposições Gerais.
Os pacotes vão até o n° 21, abrangendo variados assuntos, como horários, reforma de 1890, Conservatório
de Música, pinacoteca, disciplinas, certidões, exames, etc.
A Escola de Belas Artes, em sua galeria de pinturas, exibe o retrato de Grandjean de Montigny pintado em
vida do artista pelo professor da Academia Augusto Muller. O retrato foi entregue à Academia após a morte da
viúva de Grandjean, conforme sua vontade.
Arquivo Nacional
N a s Reflexiones sobre ia historia dei mundo, d e j a c ó Burckhardt (edição argentina, 1945, p. 33), lemos u m con-
selho aos que fazem história sem consulta arquivai: uEl documento autêntico force inestimabks ventdjos sobre Ias obras
de segunda mano. Lafuente original proporcional ei dato bajo una forma todavia próxima ei acontecimento easu autor; a
veces, es obra misma de este."
Nosso Arquivo Nacional custodia vários fundos importantes, ainda que pouco conhecidos, de interesse
para as pesquisas sobre Grandjean e a própria Academia Imperial das Belas Artes. O mais importante é o antigo
arquivo da Secretaria do Ministério do Império e Negócios Interiores, ao qual se subordinava a Academia; hoje
na Seção do Poder Executivo (SPE). Esse fundo documental abrange originais manuscritos classificados sob a
sigla IE (cultura e belas-artes), contendo: requerimentos, administração, relatórios.
a) Requerimentos. O s requerimentos, comportando nove pacotilhas IE, 36, 37, 38, 39,40, 41, 42, 43 e 44, são
arrumados nominalmente em ordem alfabética dos renomes (1850-1890). Nele encontramos dossiês de diversos
artistas e outros indivíduos, em assuntos relacionados com as belas-artes, inclusive pessoas relacionadas com
Grandjean, como, por exemplo, J ó j u s t i n o de Alcântara e Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Nele, encon-
tramos um dossiê com oito documentos referentes à viúva de Grandjean, que completaram dados sobre a venda
dos desenhos do mestre.
b) Expedientes (ofícios). Abrange a documentação recebida pela Academia, nela ainda constando despachos,
informações, papagaios, minutas, folhas de pagamento, freqüências, relatórios, etc.
Colecionada em 20 pacotilhas: IE 10 a 23 e IE 45 a 50 (1822-1889). É o conjunto mais rico de documentação
da Academia, nele se encontrando não poucos expedientes relacionados com Grandjean e demais professores.
c) 'IE: 120 (Livro 49). Códice relacionando decretos e portarias (1816,1820,1824,1831,1835-1837,1840,1842,
1846,1849-1852,1855-1865,1867,1871 e 1873).
d) IE: 123. Requerimento de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1849-1852).
e) "IE: 157. Códice [s.d.]. Livro Io - Academia de Belas Artes.
f) IE: 160. Registro no Livro i" da Academia. 1875.
O u t r o fundo importante são os códices conhecidos como "Livros de Corte", nos quais se registravam os
avisos do ministro do Reino (1819-1822) e do ministro do Império (1822-1860): *IJJJ: 1Ç2, 157, 167, 168, 169,175,
176,177,178,188,189,190,192 e 198.
O u t r o fundo do Ministério do Império é o de "Decretos sem número", com os desenhos de criação do ensi-
no artístico (cópias antigas) de 12 agosto e de 12 de outubro de 1820, e, em original, o de 23 de novembro de 1820,
os Estatutos da Academia (cópia de 1826) e numerosas nomeações, como as de Henrique J o s é da S i l v a j ó j u s t i n o
de Alcântara, J o ã o Batista da Rocha, etc.
Mais outro é a Coleção de Decretos Honoríficos das Ordens da Rosa e do Cristo, fichados e guardados cro-
nologicamente. Entre as graças concedidas a artistas nas Exposições de Belas Artes, encontram-se os decretos
dando a Grandjean a Ordem de Cristo e a Ordem da Rosa nas caixas 786, pac. 4, doe. 114 e 789, pac. 3, doe. 42A.
Dispõem as Ordens de Livros especiais de registro: Códices 14 e 15.
Na Seção do Poder Executivo (SPE), encontram-se originais de leis, decretos executivos e legislativos nu-
merados e publicações, como a Coleção de Leis do Brasil, ordenadas cronologicamente.
Na Seção do Poder Judiciário (SPJ), em seus fichários não encontramos referências diretas a Grandjean ou à
sua esposa. Na seção iconográfica há fotos, gravuras e estampas ordenadas nominalmente. Nos envelopes 540,800,
952,1.114,1.117 e 1.133 há fotos relacionadas com vistas, edifícios antigos, também encontráveis em alguns álbuns.
Relacionada com Grandjean direta ou indiretamente, a pesquisa de 1977 englobou 284 Fichas Documentá-
rias que apresentaram dados inéditos ou confirmaram conhecidos.
Outros fundos possivelmente poderão revelar ainda novos dados e até mesmo a revisão dos já consultados.

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


Seu arquivo vem acumulando expedientes e documentação há 40 anos, constituído principalmente pe-
los processos de tombamento, pelos expedientes do órgão, pelo inventário dos monumentos, de cópias e de
levantamentos de plantas, de fotografias, de recortes de imprensa, de cópias de manuscritos, de fichários de ar-
tistas e partes sobre personalidades. Relacionadas com a pesquisa sobre Grandjean, foram levantadas 59 Fichas
Documentárias:
a. Processos de tombamento: Praça do Comércio; Jardim Botânico; Casa de Grandjean na Gávea, hoje da
PUC-Rio; Chafariz da Praça Afonso Viseu, vindo da antiga Praça Onze; Solar da Marquesa de Santos; Santa
Casa de Misericórdia; Palácio Itamarati; Palácio Imperial e do Grão Pará (de Petrópoíis); Casa da Moeda; Casa
de Rui Barbosa; antigo Asilo São Cornélio (hoje Faculdade Souza Marques); Palácio da Princesa (em Petrópoíis);
antigo Asilo dos Alienados (hoje Palácio da Praia Vermelha, da UFRJ); antiga Escola Politécnica.
No arquivo de personalidades, que abrange cópias, cartas, recortes, fotos, gravuras, etc, além de Grandjean
encontram-se Cândido Guilhobel, José Maria Jacinto Rebelo, etc.
É rica a fototeca, com numerosos negativos. Na mapoteca, plantas relacionadas com levantamentos ou
obras de restauração dos monumentos, em geral de data recente. Foi publicada:
a. Relação de bens tombados, sendo a última edição de 1973, existindo um adendo. O registro do tombamento
é feito nos Livros de Tombo: Arqueológico, Etnológico e Paisagístico; Histórico; das Belas Artes e das Artes
Aplicadas.
Na sua revista e nas suas publicações há diversos trabalhos relacionados com Grandjean e a Academia das
Belas Artes.

Biblioteca Nacional
Possui um acervo excepcional de 8 desenhos de Grandjean, de grande valor arquitetônico e documental,
guardados na Seção de iconografia (EG III — Reservado):
a. Projeto da Praça do Comércio, sob o título original: Plan,façade et coupede Ia Bourse telqu'H est executeà Rio de
Janeiro Tan MDCCCXX dedté a Son Excellence Monseigneur le Vicomte St. Lourenço, par Grandjean de Montigny
cbitecte. Prancha com planta, corte e fachada;
b. Projeto de túmulo para a Imperatriz Leopoldina (1827?); não executado;
c. Projeto de fonte comemorativa à chegada ao Brasil da Imperatriz Teresa Cristina (1843); não executado;
d. Projeto urbanístico e de situação do Paço Imperial abrangendo o Largo do Paço à Praça da Constituição. É
anterior ao projeto de 1848 do Paço Imperial. Os desenhos "a", "b" e "c" pertencem à chamada "Coleção Tereza
Cristina", por doação de D. Pedro II;
e. Perspectiva de uma íoggia, de estilo renascença-romana, para o projeto de uma Biblioteca Imperial. Num
medalhão a sigla "P II", RJ., 1847;
f. Planta do 20 piso do palacete do Comendador Oliveira Barbosa. Existiu no Passeio Público, esquina de Rua das
Marrecas (atualmente cinema Metro Boavista);
g. Projeto de Arquitetura do Palácio Imperial. Fachada principal e corte longitudinal em dois magníficos desenhos
aquarelados. Grandioso na sua concepção. Executado por Modesto Brocos sob encomenda da Biblioteca Nacio-
nal. Existe na Seção de Iconografia o retrato de Grandjean em água-forte, baseado na pintura de Augusto Müller.
Na Seção de Manuscritos há alguns documentos relacionados com Grandjean, como o seu requerimento ao
Imperador reclamando gratificação devido a seus serviços prestados na obra do Colégio Pedro II C1839), tendo
anexos dois ofícios prestando informações (C9-33); outro pedindo sua jubilação (1843), existindo anexos uma
pública forma da sua Carta de Lente, passada em 6 de maio de 1835 e um parecer favorável à publicação, da Aca-
demia e um despacho a 2 de junho - "não tem lugar" (C870,63) - e,finalmente,um conhecimento para expedição
do diploma de oficial da Ordem da Rosa (1847).
Na mesma seção encontram-se ainda documentos referentes ajó Justino de Alcântara, Carlos Miranda,
Joaquim Cândido Guilhobel, Joaquim Francisco Bethencourt da Silva (requerimentos, ofícios e conhecimen-
tos), etc.
Foram levantadas 23 Fichas Documentárias relacionadas com nossa pesquisa.

Museu Histórico Nacional


Diretamente relacionado com Grandjean, encontram-se 2 documentos:
a. Na Seção de Documentação, o convite para o enterro de Grandjean (2/3/1850), em impresso preenchido.
b. O portão original de entrada da Academia Imperial das Belas Artes, instalado em vão lateral da fachada do
Museu, anonimamente, pelo antigo diretor Gustavo Barroso. Risco de Grandjean que o montou no antigo local
em 1831, sendo de lá retirado com a demolição da Academia. Já pleiteamos sua colocação no pórtico da mesma
Academia montado no Jardim Botânico, para preservá-lo como parte de um monumento tombado. A idéia não
foi aprovada pelo IPHAN, conforme parecer do arquiteto Sousa Reis.
Museu da Cidade do Rio de Janeiro
Existe em exibição um belíssimo desenho de Grandjean, representando o interior da antiga Praça do Co-
mércio, ao qual deu um caráter monumental, alterando sua escala, e artístico, havendo dois grupos de persona-
gens minúsculas: um deles representa Grandjean mostrando seu projeto a D.João VI. Repare-se a qualidade da
perspectiva e a grandiosidade dada ao ambiente.

Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Município do Rio de Janeiro


Esta é uma fonte que ainda não pudemos explorar a ponto de esgotar suas potencialidades. Em seu arquivo
(C-39-3-3Ó) há um requerimento de 1837, assinado por Grandjean, pleiteando o cargo de arquiteto da Câmara
despachado: "Está provido o lugar", em ro de outubro de 1837. A existência desse documento foi a nós comuni-
cada por Luís Carlos Palmeira, que divulgou depois no Boletim do Serviço de Museus, n° 3,1969. Julgamos existir
na Documentação da Câmara Municipal documentação de trabalhos seus, bem como de Jó Justino de Alcântara
e Joaquim Bethencourt da Silva, não pesquisados ainda, referentes a obras públicas da cidade. Apresentou-nos
seu antigo diretor Quinhões um documento: a designação de Grandjean para as obras de adaptação do Colégio
de D. Pedro II.

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


No rico arquivo do IHGB, é pobre a documentação diretamente relacionada com o nosso Arquiteto. Fo-
ram lá levantadas oito Fichas Documentárias em nossa pesquisa.
Na lata 1 existe a reprodução do retrato de Grandjean porJean-Baptiste Augustin (1810); na lata 403, pasta 22,
encontra-se um recorte de jornal francês do Rio de Janeiro, elogiando o nosso Arquiteto pelas decorações festivas
levantadas em homenagem ao segundo casamento de D. Pedro I. Nas latas 653 e Ó53 várias pastas com documenta-
ção de Manuel de Araújo Porto-Alegre, com assuntos artísticos variados. Na lata 213, doe. 136, uma carta, de 1865,
de Teodoro Taunay ao Marquês de Olinda, solicitando apoio à pretensão da viúva Grandjean na venda dos dese-
nhos do mestre. De Bethencourt da Silva há documentos na lata 622, pasta 33. Há cartas de Luís Pedreira do Couto
Ferraz ao Marquês de Olinda (1855) sobre a reforma da Academia Gata 213, doe. 66), que então se fez.
Um retrato do padre Antônio Pereira de Sousa Caldas, óleo sobre tela, é atribuído pelo Dr. Pedro Calmon
a Grandjean. Este quadro mostra uma assinatura — "Grandjean" (após restauração). Estamos pesquisando este
caso, bem como outras pinturas atribuídas a Grandjean, página a ser esclarecida na biografia do Mestre.

Arquivo Histórico do Itamarati


Nossas pesquisas realizadas no bem organizado Arquivo Histórico do Itamarati, em seus vários catálogos
e na documentação da mesma, revelaram pouca coisa sobre a Missão Artística de 1816. Além das propostas de
ensino formuladas por Joaquim Lebreton, divulgadas por Mário Barata, sentimos falta de maior documentação
original relacionada com o período 1815-1825, inicial da Missão.
No entretanto, há uma boa documentação microfilmada (1816-20), obtida por nossa Embaixada em Paris
dos arquivos Diplomáticos do Quai d'Orsay, trabalho organizado por Cícero Dias e constando de 3 bobinas.
Foram preparadas 10 Fichas Documentárias relacionadas com a vinda e membros da Missão: ofícios do
Coronel Maler, do Duque de Richelieu e notícia do jornal inglês The Staràe io/io/r8i6.
Entre outras minúcias, pudemos comprovar o falecimento de Lebreton a 9 de maio de 1819 e as providências
tomadas por Maler.
O Palácio Itamarati, na sua arquitetura, muito deve ajosé Maria Jacinto Rebelo, um dos melhores alunos
de Grandjean.

Museu Imperial de Petrópolis


O edifício do Museu já é por si uma fonte documental do estilo Imperial Brasileiro, onde trabalharam José
Maria Jacinto Rebelo, Joaquim Cândido Guilhobel e Manuel Araújo Porto-Alegre, deles existindo ainda boa docu-
mentação no seu bem organizado arquivo. O Anuário do Museu Imperial (n° 1,1941) divulgou — O Palácio Imperial
de Petrópolis — Documentos sobre sua construção, com documentação fotográfica e cópias de relatórios de 1854,18
1856 e 1857 do conselheiro Paulo Barbosa, pertencentes ao arquivo do Dr. Américo Jacobina Lacombe. Depois do
Rio de Janeiro, Petrópolis possui o maior número de edifícios do estilo Imperial Brasileiro na sua expansão pela
Província do Rio de Janeiro e outras. Aliás, o M.I. guarda boa coleção iconográfica da sua arquitetura.

Quinta da Boa Vista


Em seu parque se encontra um busto de bronze de Grandjean, inaugurado em 1930 graças ao interesse e à
admiração de Morales de los Rios Filho, então presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil. É obra do escul-
tor Moreira Júnior, baseada no retrato feito por Augusto Müller. O Edifício da Quinta é hoje um belo exemplar
da Arquitetura Imperial Brasileira em suas fachadas, embora Grandjean não tenha participado na construção
deste prédio.
O edifício do Museu Nacional é fonte de estudo da Arquitetura Imperial, e seu arquivo talvez contenha
documentação relacionada ao mesmo.

Biblioteca Pública de Niterói


Em sua sala Matoso Maia existe uma carta de Grandjean de Montigny, dirigida ao Presidente da Província
do Rio de Janeiro, datada de 31 de outubro de 1835, cobrando serviços profissionais de "plantas, projetos e orça-
mentos de diversos edifícios que tive a incumbência de apresentar..." Infelizmente não especifica quais serviços
eram, os quais, ao que parece, não foram realizados. Na "Relação" dos desenhos adquiridos à viúva Grandjean há
dois itens relacionados com um Projeto para a Assembléia Provincial do Rio de Janeiro. Estes documentos nos
levam a supor a existência de outros no Arquivo do Estado, nos expedientes coevos da Assembléia Provincial e
da Presidência da Província.
Arquivo Geral do Ministério do Exército
Ligado diretamente a Grandjean, parece não haver nenhuma documentação. Porém, há documentos re-
lacionados com engenheiros-militares que foram alunos do Mestre, como Jójustino de Alcântara, José Maria
Jacinto Rebelo e Joaquim Cândido Guilhobel, onde colhemos as suas fés de ofício. E provável que aqui também
se encontre material referente a outros discípulos do Arquiteto, que foram igualmente militares.

Espólios Particulares
E pobre a contribuição de alguns colecionadores particulares relacionada com Grandjean, mas é às vezes
rica em relação aos outros membros da Missão Artística.
Do colecionador Francisco Marques dos Santos podemos citar duas pinturas atribuídas a Grandjean:
a. XJmaloggia renascentista de estilo rafaelesco, óleo sobre papel colado em tela;
°- Interior da casa romana ricamente decorada. Yzzpendant com outra do MNBA, dada como sendo do Mes-
tre.
O assunto - Grandjean pintor - necessita uma revisão e uma pesquisa documental. O parecer de Morales de
los Rios, divulgado por seu filho, datado de 1927, parece-nos uma opinião um tanto pessoal, não documentada.
Marques dos Santos possuía uma coleção de 23 catálogos de Exposições da Academia, onde Grandjean expôs de
1841 a 1850.
Em mãos do falecido colecionador Djalma Fonseca Hermes conhecemos a foto de uma miniatura do pintor
Debret, representando Grandjean; segundo nos informou, procede de Paris, onde a adquiriu. Atualmente, en-
contra-se em outra coleção particular desconhecida.

Outras Fontes
Alguns órgãos e mesmo colecionadores particulares podem possuir documentação, como o Liceu de Ar-
tes e Ofícios. Não investigamos ainda os arquivos do Jardim Botânico, nem o da sede da Maçonaria, da Rua
dos Inválidos.
Outra fonte provável de dados é o Arquivo da Superintendência em Petrópolis, com rica documentação da
Mordomia da Casa Imperial, organizado por Guilherme Auler, que muito o divulgou. Uma consulta à Câmara
dos Deputados, em Brasília, teve resposta negativa, mas deve possuir documentação sobre a verba solicitada pelo
Marquês de Olinda para pagamento à viúva Grandjean. Os arquivos do Estado do Rio Grande do Sul revelam
a
presença do Arquiteto Carlos Miranda, destacado para a execução do Asilo de Santa Teresa. E possível ainda
encontrar-se no arquivo de Alagoas algo sobre um projeto de matriz para Maceió. No arquivo da Província Fran-
ciscana, em São Paulo, localizamos o registro do sepultamento de Grandjean no Convento de Santo Antônio.
A Santa Casa de Misericórdia também é fonte documental da arquitetura neoclássica entre nós, como o seu
arquivo, com os assentamentos de óbitos. Também o é a Casa da Moeda.
Novas e Recentes Fontes Brasileiras
O Conselho Federal de Cultura (CFC) transformou nossa carta de 29 de setembro de 1976 no processo CFC
647/76, em que encaminhamos um trabalho nosso sobre o bicentenário de Grandjean de Montigny, onde sugeri-
mos a colocação do portão da Academia no pórtico remontado no Jardim Botânico. Houve um parecer favorável,
do Conselheiro Clarival do Prado Valadares, e outro desfavorável, por parte do Conselheiro Renato Soeiro, com
o parecer 2268 de 9 de dezembro de 1976, arquivando-se o processo em n de janeiro de 1977. A documentação foi
publicada no Boletim do CFC n° 25/1976 (p. 170 e 231). O Boletim n° 28 (julho-setembro de 1977) publicou os pro-
nunciamentos dos Conselheiros Afonso Arinos, Renato Soeiro e Clarival do Prado Valadares nos dias 4 de agosto
e 12 de setembro, numa sessão comemorativa do bicentenário do grande Arquiteto, ocorrido no ano anterior.
No mesmo Boletim há uma nota da redação intitulada "Um artista de nossa cultura", bem como transcrição
das atas das sessões de 4 de agosto (n° 571) e de 12 de setembro de 1977 (n° 572), que homenagearam o Mestre.
A Fundação Nacional de Arte começa a reunir, em uma seção de documentação, material relacionado com
a história da Arte Brasileira. Em 1977 contribuímos com uma pesquisa, que se acha ainda inédita: "Grandjean de
Montigny e sua importância na Arquitetura Brasileira".
A Pontifícia Universidade Católica é proprietária da antiga residência de Grandjean, monumento tombado,
uma das poucas fontes diretas da obra construída por Grandjean. Nele se pretende instalar um Centro de Do-
cumentação, onde a Missão Artística de 1816, em particular, Grandjean de Montigny, deverá constituir a mais
recente fonte documental sobre a matéria.
Nossas pesquisas se acumularam em muitos dossiês de apontamentos, cópias de documentos sobre a Aca-
demia e sobre Grandjean, acrescidos de correspondência local e internacional, de documentação fotográfica e
bibliográfica de Grandjean ou sobre ele. De nossas consultas há registros em vários órgãos já citados, como ainda
o Instituto Cultural Brasil-Alemanha, a Embaixada Alemã e a Embaixada Francesa.

Fontes Européias
São duas as principais: Paris e Cassei.

Em Paris a Ecole des Beaux Arts custodia o Prix de Rome de Grandjean, em 3 pranchas, e o estudo de res-
tauração do túmulo de Cecília Metela. Conforme informação da escola, os seus arquivos se acham transferidos
para os Archives Nationales, onde possivelmente haverá documentação da fase acadêmica do Mestre, de Paris e
da Villa Mediei, onde não tivemos oporturnidade de localizar dados dependentes de pesquisa direta.
Uma vaga referência de Afonso d'Escragnolie Taunay cita uma aquarela - "A ocupação de Brescia" - no
Museu de Versalhes como sendo da autoria de Nicolau Taunay e de Grandjean.
Cassei é depositária de alguns vestígios da obra de Grandjean. Profundamente modificado existe o palácio
de Wilhelmsbole e uma coleção de 16 desenhos de Grandjean arquivados no Staatlische Kunstsammlungen que nel
funciona, cuja relação nos foi fornecida pela Dra. Lisa Dehler em 1977, acompanhada de alguns dados, e cuja
reprodução providenciamos depois em princípios de 1978.
Da Murhardsche Bibliothek der Staat Kassel und Landsbibliothek, obtivemos o microfdme do livro de A.
Holtmeyer, Die Bau undKunstdenkmãler in Regierungsbezirk Cassei, v. VI, com texto e reproduções, nele havendo
breves referências a Grandjean.
A documentação da Villa Mediei, salvo engano, se encontra recolhida nos Archives Nationales, fonte ainda
não explorada.

Conclusão
Cremos ter proporcionado um panorama do universo das fontes documentais de Grandjean de Montigny,
n
as quais nos abeberamos na tentativa de localizar documentação primária ou original. Com elas acreditamos ter
dado outra dimensão ao melhor conhecimento do grande Arquiteto da Missão Artística. O material nas fontes
citadas, evidentemente, não está esgotado. Inesperadamente surgem documentos em códices ou pacotilhas de
titulação pouco relacionada com a pesquisa. Há ainda os acasos de pesquisa, quando, na busca de um documen-
to, se encontra outro... numa recompensa que o pesquisador tem de inúmeras tentativas frustradas de reencon-
trar elos da continuidade histórica ou pontos que iluminam, provam ou preenchem os vazios, restabelecendo a
probabilidade da verdade buscada pela História através de documentos.
"La connaissance historique part non de faits, consideres comme 'tout faits', donnés d'avance, mais des do-
cuments et des monuments des moyens desquels precisement elle cherche à établir les faits." É o pensamento
de Martel Raymond em sua obra UHome et L'HÍstoiref Paris, 1952, p.87.
A cidade
A urbanização portuguesa no Brasil foi feita segundo
critérios próprios, que diferem consideravelmente
dos adotados pelos espanhóis no resto da América
Latina. Se as cidades coloniais espanholas obedecem
a um modelo urbanístico abstrato - o esquema em xa-
drez - que permite o crescimento indefinido da cida-
de, as cidades portuguesas crescem de maneira mais
espontânea, adaptando-se comflexibilidadeàs condi-
ções topográficas.
O caso do Rio de Janeiro colonial ilustra clara-
mente esse tipo de urbanismo pragmático em vez de
metódico, que muitas vezes resulta em alta qualidade
visual.
O mapa mostra nitidamente como a cidade colo-
nial se desenvolveu em função da topografia. Os fun-
dadores portugueses escolheram um lugar estratégico
defendido por quatro morros: Castelo, Santo Antô-
nio, São Bento e Conceição. Ladeiras estabeleciam
a ligação com a várzea, que foi pouco a pouco ater-
rada. O povoamento se fez a partir de duas direções
naturais: uma que segue a curva da praia e outra que
penetra perpendicularmente entre os morros. Esses
dois eixos determinam a colocação das outras vias, até
a formação de uma planta em forma de treliças. Duas
praças abrem o conjunto: o Largo do Paço à beira-mar
(hoje Praça XV) e o Rocio (hoje Praça Tiradentes) no
centro da cidade; este, ao norte, acaba em uma área de
contornos incertos, o Campo de Santana (hoje Praça
da República).
Ian
ta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, reduzida da que se
Publicou no ano de 1612. em 1817
L
"Oa'afia.
"«Produzida em Ferraz, Gilberto. A muito leal e heróica cidade de São
Se
bastião do Rio de Janeiro. Paris, 1965, p. 70.
so)uauia|a sonou jBiuSDSBjae no iiuiudns ajiwjocl onb
o 'sBiuajBjip BBJiBauí iod a seoode ma sopiiuisiioo 'saiuepuedepui soiuaiuaie
jod RPRUIJOJ 'ayeqe oaiisoduioo awn g ooedsa op eaiWBmp oeieziueSio e|od
aiuaiuiedpuud SBUJ J|||AX 0|ii3?s op njiojeui a 'sopijipa sop o|iiso o|ad aiuaujus
oeu 'aoojjBq eiuawBoidu eamoiaiinbjB ujaBasiBd auin eiuaseide oiunfuoa o
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BJiaojei uiapjQ ep afajB| a a oujjeg Op elei6| e a OIUBAUO^ O 'opunj oa :(|euedui|
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Í0L9 U>ui 'BinpB8iBAue ;oiE wui 'BIBíBA, 'Ojno 9p BmOj a B|OJBdBJpei(J
'opBimd leded-iAOBor Qap ouBsiaAme op üAJIBJOUJB 11103 enbai
As cidades coloniais eram formadas por escassos
elementos visuais, nelas, praticamente nunca foram
introduzidos conjuntos urbanos monumentais...
Em aparência, as cidades coloniais variavam pou-
co. Sua medida era pequena bastante para permitir
que fossem regidas por critérios simples. Assim, con-
seguiam atingir a homogeneidade que as fazia atraen-
tes, a qual só era variada pela introdução de simples
variações visuais e ritmos.
A água, uma cadeia de montanhas, um vulcão
ou cerro isolado, um barranco ou simplesmente um
bosque natural estavam, além disso, suficientemente
perto para serem parte integrante do âmbito visual
urbano, favorecidos pela baixa altura das construções,
e introduzindo variáveisricasem cores, texturas e mo-
vimentos.
Eram elementos naturais, integrados no dia-a-dia
urbano, exemplo das diferenças qualitativas entre o
meio ambiente natural e aquele criado pelo homem.
Bastava levantar a vista ou caminhar algumas centenas
de passos para perceber essa diferença.

Hardoy,Jorge. I„i forma de Ias liudadcstoloniales. In: Hispano


America, Psicon, n. 5, p. 101, out./nov. 1975.
*on Lowenstern, Georg Heinrich, Barão da.
Vista da Praia a Igraja da Glória. Reproduzido em O t>< no Brasil, 1827-29. São Paulo:
Gr
áfica Brunner, 1872.
Von Lowenslern. Georg Heinrich. Barão de.
Vista da Glória, Largo da Lapa até o Convento da Ajuda.
Reproduzido em O barão de Von Lowenslern no Brasil, 1827-29.
São Paulo: Gráfica Brunner, 1872.
;ado do Peixe.
em Ferraz, Gilberto. O Brasil deThomas Ender, 1817.
o: Fundação João Moreira Salles, 1976. n. 47
fiíii|i

Ender.Thomas.
Rua de Santo Antônio.
Reproduzido em Ferrei. Gitberlo. 0 Brasil deTtiomas Ender. 1817.
A vinda da Corte portuguesa em 1808 inicia um pro-
fundo processo de transformação da cidade colonial. Se a
abertura dos portos ao livre comércio inaugura uma fase
de dependência econômica da Inglaterra, com a maciça
chegada de produtos e homens de negócios ingleses, as
novas influências culturais, porém, são de marca predomi-
nantemente francesa. Um grupo de artistas plásticos fran-
ceses, convidados em Paris pelo encarregado de negócios
Cavalheiro de Brito e chefiados por Lebreton (a "Missão
Francesa") chega ao Rio em março de 1816.
Seus componentes são logo contratados como pro-
fessores da futura "Escola Real de Ciências, Artes e Ofí-
cios" (que só funcionará 10 anos depois com o nome de
Academia Imperial de Belas Artes).
A apresentação oficial do grupo se faz por ocasião
dos festejos da chegada da imperatriz Leopoldina. In-
telectualizados produtos de uma cultura alheia, de inspi-
ração clássica e carregados de conteúdos simbólicos, são
introduzidos provisoriamente na trama contínua e homo-
gênea da cidade colonial - estabelecendo uma espécie de
declaração de intenções.
E o primeiro disfarce do Rio em cidade capital, de
acordo com o modelo do neoclassicismo internacional.
^^'u^~ 6» 4^ )<^à- . /. i' O, l_*UMfc..«T«(, 9.. &j

Ender.Thomas,
Arcos triunfais na Rua Direita.
Reproduzido em Ferraz, Gilberto. O velho Rio de Janeiro através das
gravuras deThomas Ender, São Paulo: Melhoramentos, 1956.

Os arcos, projetados por Grandjean de Montignv e decorados por Debret,


foram erigidos por ocasião da chegada da imperatriz Leopoldina, em 5 de
novembro de 1817. Em primeiro plano, um triunfo romano formado por oito
mi medalhões e escrições celebrando as graças e os talentos
n segundo plano o grande arco romano mandado erigir pelos
Os monumentos suscitaram grande admiração documentada
pelas descrições detalhadas dos jornais da época.
De
brat, Jean Saptiste.
Desembarque de Dona Leopoldina.
Sépia. 256 x 350 mm. Fundação Ravmundo Ottoni de Castro Maia.

0 desempenho, correspondente â prancha 32 do Voyage piaoresque


m
os!ra o momento em que a princesa D. Leopoldina chega ao Arsanal
" 8 Marinha e. acompanhada de D. Pedro, salta da real galeota dirigindo-
Sa
para cumprimentar D. João VI e toda a família, através do pavilhão
es
Pecialmente construído para a solenidade. Nota-se a diferença de
Jjjüo entra o pavilhão (vivamente criticado por Debret: 'Hespèce d'arc de
"'ornphe de sryle ponugais, composé par les afficiers de Marins..?) e os
Debret, Jean Baptisle.
Aclamação de D. João VI na varanda do Paço da Cidade.
Aguada de sépia sem assinatura. 250 x 301 mm.
Fundação flavmundo Ottoni de Castro Maia.

A Varanda da Aclamação, construída em frente ao amigo Convento do Carmo


no Largo do Paço (em 6 de fevereiro de 1H18), foi obra do Arquiteto de Sua
Majestade João da Silva Moniz. Para a mesma solenidade, Grandjean de
Montignv, com a colaboração de Debret e AugustoTaunay, realizou em frente ã
varenda um Arco de Minerva e um Obelisco.
H Bate, Richard.
Arcos triunfais erigidos na Rua Direita por c o da Proclamação de D.
Pedro Imperador do Brasil.
Reproduzido em Ferrez, Gilberto. Aquarela defíicrtardBale, o Rio de
Janeiro de 1808-1848. Rio de Janeiro: Galeria Brasiliana, 1965.

datava-se de seis arcos, segundo projeto de Debret, que os .descreve em


entrevista ao jornal O Espelho. 0 arco aqui reproduzido, na extremidade
tia flua do Ouvidor, era dedicado ao comércio. ("0 grupo, que remata, se
Compõe de uma esfera coroada, no centro da qual se acha um P coroado,
Cercado todo de um manto imperial, de cornucópia e vários atributos do
comércio: o fecho da arcada sustenta uma ancora Os erquivoftos são
Qr
nados de duas figuras de baixo relevo, uma representando Mercúrio
°'erecendo uma bolsa è Esperaria, que estende a mão. O todo finge
"làrmore branco e escultura dourada.')
W«t *iit of Ru* D i w i t a . I t i u d e J a

Bate, Richard.
A Rua Direita.
Reproduzido em Ferrei, Gilberto. Aquarela de Richard Bata,
o Rio da Janeiro de 1808-1843. Rio de Janeiro: Galeria Brasilii
F
'uhbeck, Franz.
O Campo de Santana do Rio de Janeiro.
Reproduzido em Smith, R.; Ferrez, Gilberto; Franz Fruhbeck's
brantian journey. Filadélfia: University of Pennsylvania Press. 1960.

No centro é visível, em construção, o estádio elitico, inspirado nas


arenas romanas, construído pelo Senado da Câmara, segundo projeto
°e Grandjean de Montigny, em outubro de 1818, por ocasião das festas
Pelo natalício de D. Pedro. A entrada era formada por um Arco de Triunfo
a
ncimado por um grupo escultórico representando o Carro do Sol; em
'rente a ele ficava aTribuna Real em forma de Templo grego haxástilo.
A Praça do Curro, como foi chamada, hospedou cavalhadas, danças,
jogos e touradas.
A implantação da nova arquitetura neoclássica em
"monumentos" estáveis se realiza, porém, com grande
dificuldade, devido à instabilidade política e econômi-
ca, à hostilidade do ambiente local e às incertezas e
contradições culturais da Corte de João VI e de Pedro
I (aqui ilustrado pela curiosa história das transforma-
ções arquitetônicas do Palácio de São Cristóvão).
No panorama arquitetônico da época, os primei-
ros edifícios construídos por Grandjean de Montigny,
com seus elementos de refinada inspiração arqueoló-
gica, representam do ponto de vista formal, pelo seu
incomum refinamento técnico, um verdadeiro "mani-
festo" do alto nível artístico e profissional dos artistas
da colônia francesa, mas também testemunham o seu
isolamento cultural.
At*
'"•Ender.Thomas.
"Teatro São Pedro de Alcântara.
R
eproduiido em Ferrei, Gilberto. O velho Rio de Janeiro...
* . P. 91.

Ç°nstruido no antigo Rocio da cidade pelo arquiteto marechal de Campo


Manoel da Silva, entre 1810 e 1813, oTeatro São João. depois São Pedro,
c
°nstituía um exemplo de estilo clássico português tradicional. Foi demolid
Sa
m raiãu em 1928, durante a administração do prefeito Antônio Prado
Ju
nior, para ser construido em seu lugar oTeatro João Caetano.
15
De b rei, Jean Baptiste.
Melhoramentos do Palácio de São Cristóvão de 1808 até 1831.
Litografia colorida,
In: Voyage pittoresque... cit. III, n° 20.

A residência colonial do comerciante Elias Antônio Lopes, doada em 1808


a D, João VI (na parte inferior da prancha), levou quase 40 anos para se
transformar em uma residência real á européia em estilo neoclássico (a
aluai Quinta da Boa Vista, sede do Museu NacionalI. A prancha de Debret
ilustra algumas das fases intermediárias dos melhoramentos: a instalação
do portão da coroa, obra do arquiteto José Domingos Monteiro; a
construção de um pavilhão ao lado direito da fachada principal em estilo
gótico pelo arquiteto inglês Johnson (1816), reconstruído em 1822 em
estilo mourisco pelo arquiteto Manuel da Costa; a construção de um
segundo pavilhão neoclássico pelo arquiteto francês Pézerat (1828-1829).
O estilo arquitetônico do palácio - cujas obras ficaram interrompidas
em 1831, com o fim do reinado de D. Pedro I e a volta de Pézérat para
a Europa - só foi uniformizado após 1841, sob a direção de Manoel de
Araújo Porto Alegre, ex-aluno de Debret.
iej)Hei OLiBuas e p o i o s d s H o p i n s q B u i o o ' s j e j J a d u j j seJieuijed 1113 BDjuol u j a p j o e p s e u n | o a sios LUOD o p u n B e s o ' o o i e o p SBinxus
SBp BB|B Bp |BUIj OJUOd 01U03 S(Ol| 8S-BJ1U03U9 'O3jUe)0g U l j p i B f O SBU 0p|ZO3 OJJBq LU9 BOAB|9J 11103 OU9|d 0D18 Bp |BJ1UB3 OflJOd B
e j e d o p j j e j s u B . i l •a3i\ioú o noz||Bej es eaunu e n b O B i r u i s u o s BJino BNB)UB3 UJB OJIBUJIjd O '.S\BA\<J SjOp UJB 'B1UB||BS |BJ1UB3 0dlO3 Ujn S
BJHBni JBp BJBd '8C61 LU9 0 p i | 0 U i e p Ulljua | 0 j O j p a j d o '(«pUBiHJ OlUBUJjABd UJÍ1 Bp BIBJBIBI s o d j o a S|Qp JOd OpBUJJOf BI3 B|UJ0U03B
Bp o u e i s j u m ° i e d JepuB O J I B O J B I H J I I Bp o e J n j i s u o o e uioa) 8061
Bp BBOÍBJ JOd JBpUB W 1 B opBl|UJ|| |0( (5£ 0 U JBA| SBJBpUB 8|Op Bp
UJB B (HpBipB) Bp |BJ)US3 BJJBd Bp OlUBUJBjUBAB O O IBpiVB OpUnBSB 0B3nj|SU03 B BjABjd Bnb 'OUBmBjJO OlBJOjd Q 9 £ 8 l a P 0'qiUBAOU UJB
u i n ap OBòBAB|B B UJO3| E881Z881 w a opnfoupuiaj eiuaujBpuniojjJ,
o p B i n B n s i j t e g i a i e p O I B O B B LUS opBj3|U| | o j 'Àuflüuoirg s p u B B l p u e i Q
BAjeu!imBO|odv j o d o | y o u o p B i a l o j d o p i j i p s o j i o u i u d 'eiwepHay ap o i p e i d o
sp senieisa senp sepEpiuiaiwa ssp saunios SB B j j u g osou/uínT OJJBJ
nes ma oqaj o p u B i u e s B j d e j opizoa o j i e q m a OABIBJ UJOJ OIJUBJB 'lt •," 'III >P "enbseiouid aBeAo/\ :U|
Bp 0BIU01J JOd SOpBlUpUB 'BZUOjq Bp S|81|dB3 8 SBSBq UJOa 'OljUBjB B!jBj6oin
oj|euBr ep o i y o p s e u v S B l B 8 B P |B(jaduj| Bjuiepesv
•BisiidBa U B a f i a j q a Q
•mií:4.\;Yi".U
' I fii:i >UI UXV X1.VHH K3fl 3'] UHUI. Kl afWfC
tV
t UV
i rrort-i
Grandjean de Montigny.
^Academia de Belas Aries. Fotografia da Marc Ferrei.
c
°leçáo Gilberto Ferrei.

documento, rarissimo, mostra o antigo aspecto do prédio nc


0
início das obras da construção do segundo andar, em 1882.
ar * <*

n ííjlfllll^^'
18 principal de um pavimento com corpo central saliente precedido por
Grandjean de Montigny. patamar com quatro estátuas (• Comércio, a Navegação, a Agricultura
Fachada principal da Praça do Comércio, e a Indústria!, platibanda lisa, frontão reto com óculo semicircular a
depoia Alfândega, hojeTribunal do Júri. tfmpano decorado com as armas dos três reinos (Portugal, Brasil e
Pena e aguada de nanqulm. Algarves).
405 x 783 mm. Nas extremidades da platibanda duas estátuas representando a Europa
Escola Nacional da Balas Aries, Inv, n° 2.976.

Iniciado em 11 ds junho de 1819, o edifício foi inaugurado em 13 de das estátuas previstas no projeto acentua, hoje, o caráter
maio do ano seguinte, a no mesmo dia o arquiteto foi condecorado por rema e refinada simplicidade do edifício, ainda de pá apesar dos
D. João VI Cavaleiro da Ordam da Cristo. O desenho mostra a fachada tratos e da completa descaracterizacáo di
Bertichem, Pedro Godofredo.
Praça do Comércio na Rua Direita.
Reproduzido em O Brasil pitoresco e monumental, c/t, n° 16.

Após o abandono do prédio da primeira Praça do Comércio, invadida pelas


tropas reais durante as agitações politicas de abril de 1821, os comerciantes s
instalaram no antigo edifício da Alfândega na Rua Direita.

O prédio foi na ocasião reformado por Grandjean de Montigny, que


acrescentou i fachada uma galeria coberta (a única realizada entre as muitas
projetadas por ele para a cidade).
r " 0 * * » ) , Pedro Godofredo.
^ Largo do Paço e o Mercado .
J*Wü7Wo«rn D S w f l p t o
m
Perial de Rensburg, 1856, r

^'andjean de Montignv foi ar carregado do projeto do edifício do


Merc
ad° em 1834. pela Cãm. a Municipal. A construção - que surgia
"o local ( lercado do peixe - tinha planta retangular a um
"" Pavimento, com arcadas sobre pátio central. Externamente era
c n
° stituido. em cada frente, de um embasamento de granito e de 16
a
°s de arCO pleno com guamecimento de granito, semi-abertos, isto é,
a
*ados na metade de sua altura. Uma comija de granito e a competente
ar
'òanda vazada è romana complementavam os frvntispicios. Ao centro
s
'rentes voltadas para o Largo do Paço e para s flua do Ouvidor
BSI
>>vam os portões de entrada, coroados por frontões retos (Morales de
os
Rios). Foi destruído na administração do prefeito Pereira Passos, que <
Sub
stitui u por um novo por ;truido n.
Avenida Perimetral,
LARGO DO PAÇO

Pustkov». Frederick.
Largo do Paço, Praia do Peixe.
Reproduzido em Vista do Rio de Janeiro, Rio da Janeiro,
Secretaria de Educação e Cultura, 1954, rv* 4 e 5.

0 conjunto das duas pranchas permite avaliar o valor urbanístico


do Mercado de Grandjean, que constituía uma espécie de décor
monumental do cais para quem chegava do mar, e a sua feliz inserção
no conjunto aberto do Largo do Paço. Veja também a litografia de A.
D'Hastrei, em que o cenário é completado, do outro lado do Largo, pelo
Hotel Pharoux.
PRAIA 1>Ü l ' H X E
Ferrei, Marc.
O marcado da cidade visto do mar.
Fotografia, 1880-1890.
Coleção Gilberto Ferrez.

Através do portão de entrada sa vê o chafariz de granito, projeto do


próprio Grandjaan, que ficava no centro do pátio central e que foi
destruído na ocasião da demolição do Mercado. Compunha-se de
uma bacia circular, tio centro da qual emergia um bloco composto de
dois paraleiepipedos, sendo o de baixo envolvido por um feixe de oito

Quatro esferas, colocadas sobre a mesma sustentem uma esbelta


pirâmide de base quadrada, terminada por um ouriço de cobre. Quatro
golfinhos fundidos em bronze completavam o monumento, jorrando
água para a bacia (Morales de los Rios).
ilIlllllllllinihT] I HW 7 Si
O pesado chafariz monumental, classificado como monstro por um
contemporâneo, substituiu o balo chafariz construído durante o reinado de
D, JoáoVI e documentado por um desenho de Ender, Foi executado entre
1834 e 1838 por construtores locais que, encontrando-se embaraçados na
hora da executar as decorações em estilo Dórico Romano, pediram a ajuda
da Academia de Belas Artes, que apresentou um projeto para a regularização
dos detalhes do mesmo e harmonização de todas as suas partes. (Arquivo da
Escola Nacional de Belas Artes, ofícios de 23 de novembro de 1838 e 18 de
lonelro de 1839.)

Demolido em 1926, na ocasião do alargamento do Largo da Carioca.


o Rio de Janeiro. Litografia colorida à rr
«USBU Nacional de Belas A

A
° centro do Rocio da cida n o Teatro São Pedro. A esquerda d>
B
atro sobressai sobre os t o casario a parte superior do pórtic
Aca
demia de Belas Artes.
Brigs, Frederico Guilherme.
Panorama da Cidade do Rio de Janeiro.
Litografia colorida á mão.
Museu Nacional de Belas Artes.
ri
9B3, Fraderico Guilherme.
an
orama da Cidade do Rio da Janeiro,
g r a f i a colorida a mão.
Mu
Mu Nacional de Belas Artes.

* ° centro os fundos (com bela varanda semlcircular) da casa de José


'^aira Barbosa (futuro Visconde do Rio Comprido), projetada por
l^ndfean de Montigny. A casa. situada em frente ao portão do Passeio
"lico, foi demolida por ocasião da construção do cinema Metro.
Conhecemos as propostas de Grandjean de Mon-
tigny para a reestruturação da nova capital do Império
através de alguns projetos datáveis entre 1825 e 1848. De
acordo com os princípios da tradição clássica francesa,
trata-se de realizar praças monumentais limitadas por
prédios de fachadas uniformes com a estátua do sobe-
rano ao centro, e de estabelecer perspectivas por meio
da abertura de ruas e avenidas retilíneas na velha trama
urbana.
Arcos de triunfo, pórticos e galerias, estátuas,
colunas cclebrativas constituem o ponto final das
perspectivas e os pontos de referência visual dos no-
vos organismos urbanos, como nos projetos da época
napoleônica.
E importante observar, por outro lado, que o sis-
tema das places roya/es e das avenidas retilíneas não
constitui simplesmente um fato estético e celebrati-
vo, mas visa resultados de maior eficiência urbana. Em
cada projeto a praça é também um ponto de partida
para a reestruturação de bairros centrais, e a avenida
marca novas diretrizes de expansão em direção aos
novos bairros, proporcionando eixos de travessia rá-
pida da cidade.
Grandjean de Montigny.
Planta da parte da cidade do Rio de Janeiro, situando um novo
Palácio Imperial.
Pena, nanquim e aquarela,
384 x 227 mm.
Biblioteca Nacional, inv. n° 325.971.

0 projeto, um dos mais elaborados de Grandjean, prevê a


reestruturação do centro da capital em função da construção
de um imenso palácio imperial à beira da baia.

A edificação do palácio levaria ao desaparecimento do antigo


1 aigo do Paço e somente preservaria o Paço como ala do novo
••!•'•• Os velhos quartehoes são cortados por um avenida
monumental, que, ligando o Palácio ao Rocio, formaria a
espinha dorsal da cidade velha. 0 projeto, com legendas em
francês, é datável 1825c,
Grandjean de Montigny.
Planta da praça monumental do Campo de Santana, 1827
Pena e aquarela de nanquim.

Min u N.n ai de Belas Artes, inv. n° 6.393.

Os vastos terrenos livres do Campo de Santana são aproveitados


para a realização de uma enorme píace royale, cuja extensão
seria equivalente - como dito em uma nota explicativa do próprio
Grandiean - ã reunião das três maiores Praças de Paris. A praça,
que tem quatro entradas principais, é ladeada de edifícios públicos
e está orientada por um eixo central marcado pela estátua de D.
Pedro I e o Arco do Triunfo. Mais uma VBí ao tema celebratívo
latestar à posterioridade a Glória de S. M.l.ea Gratidão da Naçèol
acompanha-se também uma proposta de notável valor urbanístico:
estabelecer ligação entre e cidade velha e os novos bairros
residenciais de Vila Isabel e São Cristóvão.
Gr
andjaan di
Pr
oieto de e< o Campo de Santana.

Eacoli N.,010 1° 2.978.

a elevação dos prédios de fachadas uniformes que


'"ntam a praça - com pórticos que servirão de passeios públicos
Parecidos com os da Rue Rivoli, em Paris - o corte do pavilhão imperial
ar
n um dos lados, o Arco doTriunfo que fecha a perspectiva e a estátua
nOtotre do imperador ao centro.
Grandjean de Montigny.
Projeto de reestruturação da área da cidade entre o Largo do Rocio e o
Largo da Ajuda.
Lápis,
465 X 310 mm.
Museu Nacional de Balas Artes. inv. n° 6.538.

Em setembro de 1847 o Governo pediu à Academia para indicar os


melhores locais para a construção de um novo Palácio Imperial e de um
Palácio do Senado. Foi nomeada uma comissão composta pelo Diretor
Félix EmílioTaunav. por Grandjean de Montignv e por Job Justino
D'Alcãntara que indicou para o primeiro o Largo da Ajuda (no local do
antigo conventol e para o segundo o Largo do Rocio (Arquivo da Escola
Nacional de Selas Aries, Livro de Atas de 1841 a 1856: 9 de Setembro de
1847,13 de Setembro de 1847).
O desenho está sem dúvida relacionado com o trabalho da comissão: o
palácio do Senado ocupa um terreno trapezoidal à margem do Rocio e é
situado de maneira que o seu pórtico, com a abertura da Rua Leopoldina
se encontre no mesmo eixo do pórtico da Academia de Belas Artes,
estabelecendo um jogo de correspondências tipicamente neoclássico. Ur
das ruas que ladeiam o Sanado è prolongada para formar a rua Imperial,
que conduz ao Largo da Ajuda - lugar escolhido para a construção do
Palácio Imperial -cortando o morro de Santo Antônio e termina numa
esplanada se
177
1
-.-. •••.. . ...

F I liIII
32
Grandjean de Montigny. A rua foi aberta em 1846 (ofícios de 17 de julho e 31 de agosto), e
Projelo da Praça das Belas rtes e da Rua Leopoldina. em setembro do mesmo ano Grandjean apresentava um risco das
Pena, nanquim e aguada. fachadas das casas confrontantes I provavelmente este). A decoração da
475 x 728 mm. pracinha, um simples paredão ritmado por pilastras coroadas de vasos
Arquivo Nacional (comunii ;ão ds Mario H. G.Torres). de mármore, sã foi acabada em 1848 (pagamentos para execução do
paredão em 1 e 2 de junho e 26 de julho de 1847; compra dos vasos em
É o único projelo urbanístico de Grandjean de Montignv que foi 22 de maio de 1848).
inteiramente realizado. A necessidade ds abrir uma rua perpendicular
para formar uma perspectiva pitoresca e encantadora em frente ao O conjunto e bem característico, apesar da sua modéstia, das idéias
palácio da Academia de Belas Aries-que surgia em um beco atrás urbanísticas de Grandjean, A pracinha, cujo paredão combinava com
do Largo do Rocio, escondido entre o casario colonial (ver n° 25) - e as alas baixas do palácio da Academia, dirige os passos do espectador,
da realiiar uma pracinha semicircular para ao menos proporcionar ao limita seu percurso e impõe um ângulo de visão - no eixo do pórtico
pObflOO I pOfflMMidl de observá-lo é afirmada em inúmeros ofícios d. - que permite a correta apreciação do monumento. Em uma composição
Academia de Belas Artes a partir de 1836 (Arquivo da Escola Nacional di muito simples, as regras especificas do classiclsmo - ordem e simetria
Belas Artes, 25 de setembro de 1836, 24 de outubro de 1838. 30 de abril. da composição global, hierarquia dos elementos, controla dos efeitos
14 de junho, 26 da julho e 5 de novembro de 1839, etc). - são postas em prática com notável ri
De fato, o projeto neoclássico para a cidade não se
realiza. Do plano de Grandjean de Montigny só ficam al-
guns edifícios isolados - e, como tais, frágeis e prestes a
ser rapidamente destruídos - e algumas idéias urbanísti-
cas separadas do contexto em função do qual tinham sido
elaboradas.
A abertura da grande avenida retilínea, que corta de
um lado a outro a trama da antiga cidade colonial, será
realizada mais de 50 anos depois em ocasião da radical
"modernização" da cidade executada pelo prefeito Perei-
ra Passos. A demolição de um morro (o do Castelo, berço
da cidade colonial) será o ponto de partida do plano de re-
modelação da capital do arquiteto francês Alfred Agache,
que conclui com seus aspectos tipicamente beaux arts as
tentativas de estruturar a cidade de acordo com os princí-
pios do urbanismo clássico francês.
Nos mesmos anos, o aparecimento dos primeiros "es-
pigões" anuncia o aproximar-se de novo e mais constran-
gedor modelo urbano e cultural.
Mapa Arquitetura! da Cidade do Rio de Janeiro.
Parte comercial pelo engenheiro Rocha Fragoso, 1874.
Litografia em quatro folhas.
Escala 1:800.

Excepcional documento da situação da capital no último terço


do século XIX. Uma legenda especifica o nome da 16 bancos, 17
companhias de seguro, 21 companhias de navegação e mais oito
jornais e sete periódicos, ilustrando claramente como o papel politico
da cidade juntou-se a uma vocação comercial. Uma planta geral indica
as principais direções de extensão da cidade.

O centro comercial, desenhado nos minimos detalhes, mostra que a


cidade conservou quase intacto seu aspecto colonial. A maioria das
construções são casas térreas ou sobrados que alinham suas fachadas
tradicionais sobre ruas de traçado antigo. Só algun
ou três andares, com suas platibandas enfeitadas de vi
de louça, atestam a penetração do gosto neoclássico.
De 1902 a 1906, o prefeito Francisco Pereira Passos conduziu, com
indomável energia, o mais radical programa de obras da história da
cidade, adotando soluções brulais diretamente inspiradas no exemplo
de Haussmann em Paris.

A Avenida Central e a parte mais espetacular do ializando o


trânsito e concentrado as atividades comerciais e bancárias em novos
prédios de prestigio, ele vai desde o porto ate o Flamengo, terminando
no conjunto político-cultural da Praça Florieno, onde se eglutinem o
Palácio do Senado (Palácio Monroe, destruido), a Câmara Municipal, o
Tribunal da Justiça Federal, a Escola e Museu Nacional de Belas Artes,
a Biblioteca Nacional e oTheatro Municipal,
RIO DE JANEIRO
PERSPECTIVA AÉREA DO CENTRO
MONUMENTAL E DOS BAIRROS DF.
INTERCÂMBIO E DOS NEGÓCIOS
IDEAL1SADA PELO PROFESSOR
D. ALFRED AGACHE

p l , r a d °Ag a c h e .
^8rsPectiva aérea do et I e dos bairros ds intercâmbio
%>* negócios.
i « n r ° d U í i d o e m Cidade do Rio de Janei o. Paris: Foyer Brésilien,
158-11

Plano de remodelação da capital, i ilaborado pelo ai


^ces a pedido do prefeito Ai o Prado Júnior •
Co
( ">Pleto imaginado ate então, foi ilustrado en
^"uoaamente editada: Cidade do Rio de Janeiro..
mb
etezamento. Ordenações projetadas pela adm.
2 2 ? 1 A ? a r « mai. audaciosa do plano consistia em um gigantesco
la
le Açúcar à Ponta do Cslabouço, Nos
"enos* recuperados Agache ergue um novo centro governamental
-™IBI, a fim de formar um cenário monumental em torno de uma vasta
Ta
« (350 x 250 ml, que seria a Entrada do Brasil.
Formação
Nascido em Paris em 15 de julho de 1776, Au-
guste Henry Victor Grandjean de Montigny faz
seus estudos em pleno período revolucionário,
na Ecole (ÍArcbitecture dirigida por David Leroy
(que substituía a Academia Real de Arquitetura,
suprimida em 1793) e no ateliê do arquiteto Char-
les Percier, do qual é chamado élève em todos os
documentos.
Vencedor de duas medalhas nas provas men-
sais, é admitido duas vezes a concorrer ao Grand
Prix de Rome, o prêmio de Roma, o de maior
prestígio entre os jovens arquitetos, que consis-
tia numa estadia de cinco anos na Academia de
França em Roma, a fim de estudar os monumen-
tos antigos. Ganha em 1799 - ex aequo com o ar-
quiteto Gasse -, e é o primeiro a partir para Roma
(em dezembro de 1801) logo depois da reabertura
da Academia, fechada durante a Revolução. En-
tre 1801 e 1805, além do currículo normal - que
previa a execução por parte dos alunos de quatro
grandes estudos de detalhes de monumentos an-
tigos (nos primeiros três anos), do relevo e res-
tauração de um monumento antigo (40 ano) e de
um projeto para um monumento público (50 ano),
executa o relevo e o projeto de restauração da
nova sede da Academia de França, a Villa Mediei,
e viaja através de várias regiões italianas, após estu-
dar a arquitetura moderna e da Renascença. Volta
a Paris em fins de 1805, embora a duração normal
do curso ainda se estendesse por um ano, graças a
uma permissão especial do ministro francês, devi-
do, evidentemente, aos serviços prestados.
£oL d'Gtjv/ufcc/u/

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-'-/l i f"?-:' 4--' '«;>-#-
^7*-*

École d'Architecture. prêmios de emulação entregues depois da si


Academia de Arquitetura, em 1793.
37
Grandjean de Montigny.
Planta do Etiseu ou Cemitár o Público.
Grand Prix de Romo, 1799.
Paris, École das Beaux-Arts

0 lama do Grand Prix ara ternecido a cada ano pelo Institui da Franca,
qua dava lambam aos arquitetos algumas orientações de caráter
geral sobre a composição 1 er documentos, n" ). Fiel ás diretrizes
do programa {au centro du erram será éievó u Monument d'une
forme simple mais grande. i, Grandjean utiliza figuras geométricas a
volumes elementares (dteu lio a para lei epipedo).
atingindo um efeito de mon u manta lidada med anis uma composição
de notável clareza e simplic dede, no estilo tipi o dos projetos da
Apoca revolucionária.
38-39
Grandjean de Montígny.
Eliseu ou Cemitério Público.
Grand Prix de Roma, 1799.
Corte e fachada principal.
Paris, École d es Beaux-Arts.

Conforme utilizado pelo sistema acadêmico francês, c


composition designava o que era considerado o essei
arquitetônico. Composition referia-se não apenas a
fachadas, mas englobava todo o edificio, concebido como uma entid
tridimensional, vista ao mesmo tempo em planta, corte e elevação.

0 aluno da Ecole, ao fazer a composition, ti


interiores e volumes exteriores congmentes. 0 estudante dispunha esses
espaços e volumes ao longo de eixos, de maneira simétrica ou piramidal.
A solução básica para a composição de um prédio monumental em um
espaço desimpedido (a tarefa típica de um aluno da Écolel era encontrada
quase imediatamente: dois eixos, representados por duas fileiras,
cruzando em ângulo reto em um grande espaço central, e a estrutura
como um todo comprimia-se no interior de um retângulo circunscrito.
(Chafee, Richard, The teaching of architecture et École des Beaux-Arts.
Londres: Secker & Warburg, 1977. p. 112-116.)
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3,£iZl^Ji'*""**iy'*" " " " ^ t ^ * ^ - " \ o > - / A — T ^ f y f l à i Ò • «noVII da República (1799). IPrimeirn prêmio ex-eequo, L
• í 2 l a ^ - r / p ^ ç CA..&.U. Jf/-HtíSyitV'U£ (-&/£•• • GassBeAugustinVictorGrandjeandeMontignv.)Paris,A
Nationales.
'andjaan de Monligny.
^ouComltérloPúbli
£ * • « fachada principal.
aea
18" 9uadad 8 nanqui
Escol,
de Belas Artes, n" - 2.9
Outre
o projeto vi
Í-

-STAUREE-
;.-: FULCRAL
i
Grandjean ds Montigny.
Restauração do Mausoléu de Cecília Metella em Roma.
Paris, École des Beaux-Arts.

0 relevo do um antigo monumento, escolhido pelo próprio arquiteto, junto


com o desenho da sua reslauração, acompanhado por uma noticia historiei
era o trabalho obrigatório dos pensionistas da Academia de França em Ron
no quarto ano de estudos. IVar a relação do diretor da Academia Suvee. em
1604, publicada em Bonnaire, Mareei. Procès verbaux de 1'Académie des
Beaux-Arts. Paris, 1940. t. II, p. 285.)

O trabalho de Grandjean foi ei


Academia na Villa Módicl, a nc
de 1'Acadèmie da Franco è fíome. Paris, 1924. v
Grandjean de Montigny.
Composição com fragmentos do Mausoléu de Cecília Metella.
Paris, École des Beaux-Arts.
45
Grand)ean de Momignv-
Estudos de detalhes do Mausoléu de Cecília Metella.
Pene, nanqulm,
214x291 mm.
Museu Nacional de Balas Aries.
Grandjean ds Montigny.
Fragmento arquitetônico da Antigüidade Clássica
Traço e aguada de nanquim

Escola Nacional de Belas A es, n" 2.981.

0 desenho reproduz um ca to do entablamento d • Foro de Nerva, em


Roma, ao qual o arquiteto a crescentou as figuras Io friso. Foi exibido
juntamente com o da restauração do Mausoléu d Cecília Metei Ia na
exposição de 1605. (Lapauz . Qp. CIL p. 51.)
47
Grandjean de Montigny.
Elevação do pórtico do Panleon em Roma. 0 pórtico está desenhado com a restauração dos baixos-relevos das
Traço e aguada de nanquim, empanas a a estátua interior, como diz a lista da venda dos desenhos
640 x 950 mm. do arquiteto em 1666. Com certeza, trabalho feito como pensionista da
Museu Nacional de Balas Artes, n" 3.697. Academia de França em Roma.
Grandjean de Montigny
Planta do Panteon em Roma.
Pena, nanquim,
282 x 222 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 6.383.
Illll
TÍI
m m mm 'WmmM

Grandjean de Montignv.
Projeto para um orfanato militar. um trabalho do ultime
Onor $'acqui$ia cot prolegger 1'arti. de fato, le projet d'un int publique, tel qu'il convient à Ia
Traço e aguada de nanquim, Republique. (Bonnaire p, 285.) É evidente a preocupação de
570 x 945 mm. Grandjean em dar um são de grandeza mediante a desmedida
Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.695. proporção do edifício, repetição
obsessiva de temas idênticos s nos primeiros dois andares,
O desenho mostra o prospeclo da igreja, uma seção longitudinal, a colunas no terceiro). É obvio, n, que o principal objetivo
detalhes e seções dos prédios escola sucos. A seção revela, no interior desse tipo de trabalho era agradar juizes, como 0 demonstra a
do complexo monumental, ate a presença de ume grande piscina própria apresentação do projet obedece a exigências quase
com abrigos para embarcações. Trata-se, com toda probabilidade, de exclusivamente formais.
,., a 'iBtuauinuoui 0 ü p a OUJOO o p i q a o u o D ' S B l q 0 i J
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411 JU
51
• • • • • ; • in de r.ii.niiiii.
Pátio do Palácio Belvedere, em Roma.
Lápis a traço da nanqulm,
301 x 454 mm.
Museu Nacional de Belas Árias, n" 3.710.
S^e. U STRüP/S üOHBM

' 9 3*272 m
"use,, N a t ai de Belas Artes, n= 3.720.
Grandjean de Montignv.
Pátio da uma casa, com poço-
Lápis e sépia,
101x85 mm.
Projetos europeus
De volta a Paris em plena fase napoleònica,
Grandjean recomeça a apresentar projetos para os
maiores concursos públicos, cuidando também da pu-
blicação de uma obra sobre arquitetura toscana (180o-
1815). Designado em 1807, pelo Institui de France, para
projetar a sala de sessões do Parlamento de Vestfália,
edita os resultados de seu trabalho em 1810 e é nome-
ado primeiro arquiteto de Jerônimo Bonaparte. Mas
a derrota de Napoleáo em Leipzig em 1813 e a conse-
qüente fuga do rei de Vestfália interrompem a sua ati-
vidade de arquiteto da corte.
No período de incerteza que acompanha a queda
de Napoleão em 1815, resolve deixar a França. Entre
uma proposta de ida à Rússia como arquiteto da corte
do czar Alexandre I, e o convite de Lebreton, ex-se-
cretário do Instituí de France, para emigrar para o Bra-
sil, escolhe a segunda opção e embarca para o Rio de
Janeiro em 16 de janeiro de 1816.
Retrato de Grandjean da Montigny, aquarela, datado de 181
Paris, Bibliolhèque Nationale.
55
Grandjean de Montigny.
Projeto do embelezamento dos Champs-Elysées.
Les plaisirs les plus purs son ceux de 1'homma libre.
Traçado a nanquim s tinta vermelha, aquarelado com aguada de nanquim,
455 x 347 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.701.

Em outubro de 1798, por iniciativa do ministro do Interior, o embelezamento


da promonade das Champs-Elysées, em Paris, foi objeto de um concurso
público.Treze projetos foram entregues em 20 de janeiro de 1799; um ano
depois, em 5 de janeiro de 1800, um júri formado, entre outros, pelos ciloyens
Perder, Fontaine e David Leroy {diretor da École d'Architecturel escolheu por
unanimidade como vencedores Ias ciloyens Grand-Jean, Famin, Debrelet
Bury, élèves d'arctiitecture ei auteurs d'un projel sons Ia devise les plaisirs les

O projeto, do qual é preciso apreciar o caráter de abstrata perfeição, típico dos


desenhos dos arquitetos da época, não foi realizado, evidentemente. Os jovens
arquitetos só receberam a seguinte carta de felicitações, cujo texto foi redigido
pelo próprio júri: "Ciloyen, recevez les lèlicilalions duas à vos suecas. J'aurai
bien desiré que Ias circonstances m'eussenl permis de vous donner d'autros
preuvas de salisfaction; mais j'espère que das temps plus heureux m'offriront
biantôt das freqüentes oceasions da donnar aux artistas qui se distinguent das
encouragamerits dignes de ieur talent et úa ia générosité nation
general des richesses d'art de ia Franco, Monuments civis. I, p. 159-162.1
•Wsi
56
Grandjean De Mcmtigny.
Projeto para uma coluna ei
Traço e aguada de nanquim, realçado a sépia,
510x310 mm.
Escola Nacional de Belas Artes, n° 2.990,

As inscrições Armées du Norde Aux bravos morts pour êtrg libra


levam a crei tratar su de um projeto feito para um concurso realizado
em Paris, em 1900, para a escolha de monumentos á glória dos
exércitos revolucionários, a serem erigidos em cada departamento do
território francês. Esto risco de Grandjean «eria um dos 400 trabalhos
apresentados.
57
Grandjean de Monligny.
Projeto para um chafariz comemorativo do general Desaix
Reproduzido em Grands Pr/x dArchilecture, projets c<
1'Académie dArchitecture et par rinstitut da France, graves atpubliéi
par Aliais, Detournells ei Vavdoyer, Paris 1806.

Em 1801. um grupo de cidadãos, desejam to homenagear o valor


militar do general Desaix, abriu em Paris
construção de um chata lOrativo, Cento e oito artistas
apresentaram projetos, reunidos em uma exposição pública que
iieiro prêmio foi ganho pelo arquiteto Percier,
que viu em seiemoro oe 1801 o inicio da construção da obra, a atual
place Dauphine. O segundo prêmio foi conquistado por Barthélemy
Vignon Io futuro arquiteto da igreja da Madeleine), que recebeu
500 francos; o terceiro, por Grandjean e Famin, que receberam 300
francos.
general, cír., p. 204-206.)
Grandjean da Montigny.
Projeto de transformação da igreja da Madeleine em Paris.
Traço de nanqulm,
585 x 960 mm.
Museu Nacional da Baias Artes, n° 3.705.

Em dezembro de 1806, Napoleão decidiu transformar a igreja da Madeleine


há anos inacabada em monumento dedicado à Grande Armèe.
Os nomes de todos os soldados da Ulm, Austerlitz a Jena ficaram gravados
em placas de mármore; os dos mortos, em outro maciço. Baixos-relevos
ao redor da sala representariam os coronéis; estátuas, os marechais, (te
Moniteur. 28 de dezembro da 18061. Oitenta e dois artistas inscreveram
seus projetos; os desenhos foram apresentados em uma exposição
pública em março de 1807. O júri escolheu o projeto de Etienne de
Beaumont, inspirado no Panteon de Roma. Napoleão, no entanto, preferiu
a solução de Barthélemy Vigno, que propôs um templo periptero grego. A
correspondência perfeita do desenho de Grandjean com os requisitos do
decreto demonstra que ele também participou do concurso. A solução por
ale proposta inspira-se, como as da maioria dos concorrentes, no Panteon
romano, e se distingue por sua simplicidade.
W- "^
Grandjean de Montigny.
Composição com fragmentos antigos.
Traço de nanquim e aquarela,
425x300 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.729,

O desenho, executado em Roma. como atesta a inscrição no friso


(diversi frammenti anlichi disegnati 1/1 Roma da A. Grandjean
architétto) e que tem muitas analogias com as composições que
ornam vários (rontispícios da obra de Grandjean Architeture
Toscane, valeu a seu autor uma medalha no Salon de 1808 por
parte do imperador Napoleão (te Monileur, 22 de outubro da
1808). O uso das composições arquitetônicas com fragmentos
antigos (nesse caso um sarcófago com figuras reclinadas, os
relevos de abóbada central do Arco delito em Roma, além de
outros motivos decorativos antigos e renascentistas! foi tipico do
"romanismo" e da visão romântica da Antigüidade e das ruínas.
Existem numerosos exemplos no período clássico, sobretudo
na obra de G. B. Piranesi. Enquanto nos Troféus Piranesi utiliza
fragmentos antigos como elementos de uma nova arquitetura
ndjean parece não se submeterão fascínio da
stiva do "fragmento^ e reconstrói ut
ti .

Em 1810 houve um concurso público, do qual participaram 47 arquitetos,


A dificuldade consistia na falta de paralelismo entre a ala oriental do
Louvra e a fachada dasTulherias, no diferente estilo das decorações s no
afastamento dos dois eixos principais. A solução proposta por Grandjean,
que tem muitas analogias com o projeta n" 18 de Perdi er et Fontaine,
datado de 1808, introduz no grande espaço entre os dois palácios uma
Sobra asse problema, que remontava ao século XVI, trabalharam grande promenade d'hivertíe forma oval com dois pórticos de entrada
demoradamenle para Napoleão os arquitetos Psrcier e Fontaine, nos dois eixos discordantes, escondendo assim a irregularidade. Em
propondo as mais variadas soluções (reunidas na obra Exemen et torno, estão previstas a arborizacão a quatro fontes. Em 1809, uma
parallèla das projeta faits sur 1'aohèvement et Ia réunion des Pelais proposta análoga foi também apresentada pelo arquiteto Baltard.
du Louvre et des Tuilleries, depuis l'an 1541 jusqu'en 1809, parPF.L (Baltard, Mémoire sur Ia réunion du Pelais Imperial des Tuiiieries et du
Fontaine et Charles Perder. Paris, Bibliothèque Nationale, manuscrito). Louvre. Paris: Didot l'A1né , 1811.)
^fandjean de Montigny.
r
°Íeto para um passeio. 0 desenho representa, prova1
precedente. A entrada
se vê um obelisco.
u Nacional de Belas Artes, n° 3.6!
0 desenho, executado com técnica magistr si, mostra a seção
longitudinal de um edifício, precedido de u TI arco triunfal do tipo
do Arco do Carrossel, construído por Percisr a Fontaine em 1806.
A deslinação provável do complexo se ded JZ da inscrição do salái
iBibliothèque Sciences etArts) s dos nome: i de Apoio e das Musa!
Inscritos no triso da grande sala central.
63
Plan, coupe, élévation et détails de ia rastauration du Palais des Étals
et de sa nouvelieà Cassei, publié et grave au traitpar Grandjeart de
Montingy, premier architacte de S. NI. te fíoi de Westphaiia, et ancien
peisonnarire de 1'Acadèmie Française Impe ri ale des Beaux-Arts à Rome,
Cassei. Imprimerie Royale, 1810.

A primeira prancha do livro mostra no alto o estado primitivo do


palácio, originalmente um museu de antigüidades e história natural
{Musêe Frederic), e embaixo as modificações introduzidas por
Grandjean com ofimde transformá-lo em Palais des Etats.A grande
escadaria Ide acesso á biblioteca) do corpo central do edifício foi
suprimida (e substituída por uma menor, ao fundo da galeria esquerdal
e em seu lugar o arquiteto projetou uma grande sala semicircular I Salte
des États) destinada a receber o Conselho de Estado, os deputados, o
corpo diplomático e a Corte.
Grandjean de Montignv.
Projeto da residência.
Traço de nanquim e vermi

3, n° 3.704.

mostra a planta baixa de um palácio composto por um gran


itral.de onde partem duas galerias abertas sobre o jardim.
Duas outras alas, perpendiculares às primeiras, abrigam cavalaricas
e cocheiras e enquadram a Cour Whonneur, na qual se inscreve uma
redonda, de gosto neoclássico.

A residência é colocada em um jardim à francesa, que se organiza, corrn


em Versalhes, ao longo do eixo principal do complexo.
O projeto, executado provavelmente para o rei da Vestfália, Jerõnimo
Bonaparte, lembra o plano de Perder a Fontaine para a Malmaison de
Napoleáo, do qual se distingue pela maior simplicidade e organicidade.
Grandjean da Montigny.
Projeto para residência a jardim.
Traço de nanquim a vermelho, aquarela.

Mus j Nacional de Belas Artes, n 3.706.

As anotações feitas por Grandjean, relativas aos custos do


•?:•> projeto-indicados em moeda alemã ithalsrs)-, confirmam
tratar-se de um trabalho executado em Casse), para Jerônimo
Bonaparte. Trata-se provavelmente de uma segunda versão do
palácio precedente, em que as alas abertas sobre o jardim são
substituídas por galeria fechada, ficando as galerias abertas
deslocadas para as extremidades. Dessa vez, porém, a residência

irregular se adapta bem ao contorno irregular da propriedade.


66
Grandjean de Montingv.
Projeto para uma Leilería.
Traço a nanquim e vermelho, aguada de nanquím,
550 x 403 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.711.

A prancha mostra planta, elevação e corte de um pequeno edifício de


planta quadrada, usado - mediante duas galerias - a dois pequenos
edifícios terminados em um pórtico semicircular. A Leiterie havia se tornado
um elemento comum nos parques principescos no fim do século XVIli,
acompanhando a difusão dos ideais de vida agreste preconizados por
Rousseau. Entre as mais conhecidas, encontram-se as que pertenciam a
Maria Antonieta, no parque de Versalhes e de Rambouillet. É de se notar,
entretanto, que na versão de Grandjean - provavelmente destinada ao rei de
Vestfália e caracterizada por uma refinada elegância neo-renascentista - está
ausente o caráter rústico e pitoresco comum a esse tipo de construção frlvola.
223

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ap ojepoLu OLUOS apai&o|a a '0181 II1S EitEjlsaftap JBJ O ajad ueetpuejg
jod epB7i|B8i 'B|oijEiioe|odB[ij ep o|eisea o ejEd so|noEjedse ap e\es
euif) lasseQ UJB opejnsaxe aiuauj|SARAOjd 'opcamiuapi OEU OIHIOJJ
euvsB|aaep|Bu |3BM B|O0S3
uiOZZtOlf
' o m a u j j s A s Lum ueu e O ò E J I
pun a p a i j o a a EpEvpej ' e i U B y
'Au6|iuo|nj s u e e l p u e j Q
ARCIIITECTURE
TOSCANE,
OU

PALAIS, MAISONS,
ET AUTRES EDIFICES
DE LA TOSCANE,
MESURÉS ET DESSINÉS

PAU A. GRANDJEAN DE MONTIGNY ET A. FAMIN,

A.RCHITECTES,

Architecture Toscane. ou palais. maisons, et autres édifices de Ia


Toscane, mesurés et dessinés par A. Grandjean rie Monlingy ei A.
Famin. architectes, anciens pensionnaires da 1'Académie de France,
à Rome. Paris: Imprimerie de R Didot l'AÍné. 1815.

Os primeiros seis fasciculos da obra (qua compreende um total de


18) foram editados em 1806, logo depois da volta de Grandjean
A PARIS, da Itália, e doados pelos autores a Académie des Beaux-Arts,
Sobre eles houve uma relação verbal favorável na sessão de 27 de
DE L'1MPRIMEUIE DE P. DIDOT I/AINÉ. outubro (Bonnaire. Procès verbaux, cít. p, 54-55, 61). Interrompida
em 1812, quando tinham aparecido 12 (asciculos, a publicação foi
MDCCCXV. levada adiante por Grandjean, que se tornou o único proprietário da
obra, concluida em 1815.
Facfcada do Palácio Stroizi, em Florença. da mesma obra.
ARCHITECTTJRE TOSCA NE,
ou

PALAÍS, MAISONS, ET AUTUES ÉDIFtCES


DE LA TOSCANE,
ItíSUIU.S ET DESSISfS

feu A. GRAIÍDJEAN DE MOfíTJOÍíY ET A. FAMIN,


A l C i m C T U , A.1CIEII H J Í I O S M I Í L 3 DE L*AC.lI)tMII! DE HLOCE í » 0 1 1 t

PRÕSPÊCTÕsT
' - " t o U T r a g c in-folio, e n t i e r c m e n t ac-lievé, Tipos(* ilc l o g p l a n c h e s ,
* *« d i v i i e et> 18 caliier» J e c h i a r a 6 f<-t>ill.
P ^ l i m i n a i r e , et « u i t i d ' u n i r i l e liisloritrne r t explica lif. I J premiere.
'•uitlc, i c r v a n l de fronliipicc • chaipic r.iliirr, p r e V n l e IVnserolile d e
M^rr«gDwnU,lHa^lÍeftetimiriiHfHta«|K^wnetMwWirtk, tirr.dn
mu
» < e s de Florence et de» l u l m villes de Tosca n c ; s u r les q u a t r a fluirei
í « U u i v e , u t o n t let p l a n j , c o u p e s et elcvaiions g e o i u c t r o l r s . a i u i i q u e lei
<t*il» cn g r a n d , cotes en p í r d s et m c l r c i françoi», riba p l i u beaux
**ificei de Ia T o s c a n e ; Ia i l i i e m e enfia est driúaét k l.i TUB persp.
* • mon, n t i q u i [irr.vnlpiil les plus beaux <-ffcts.

Le p r i z d e cliaque caliicr grave au Irail et i m p r i m e r papu


F r a n e e , e*l d e 4 f.; i o u v r a g e cora
Sur papicr de Hollande . . . 8 Jdrin .
Et »ur bcau pap. Tél. gr. f o r m . i á Idem .

Se verul à Parit:

Cuu.

1 1^'AUIIun, r u e Kavurl, n" i a . H rtM*it«Co«(-Sainl-Jisin, 11*4,


1>. DuMTt. a A»£| Imjii íineui liiltrah e, 1 ue d u l'oi.i <k- U d i , D " 6 ,
Et les p r i n c i p a u x L í b r a i r w d u l l u y a u m e .

c de l'acqui. : reur.

lure Tosca na. Paris


Projetos no Rio
Nomeado professor de arquitetura da Escola Real
(futura Academia de Belas Artes) pelo decreto de 12 de
agosto de 1816, Grandjean inicia logo o projeto do pré-
dio (só inaugurado, incompleto, em 5 de novembro de
1826), participa da realização das decorações de vários
festejos públicos, projeta a Primeira Bolsa (1819-20) |
algumas residências particulares, entre elas o seu pró-
prio solar na Gávea. Quase inativo durante o reinado
de D. Pedro I, por causa das discórdias internas da Aca-
demia e da franca hostilidade do ambiente local, volta
a uma intensa atividade, especialmente como "Lente"
da escola, depois da morte do diretor português, Hen-
rique José da Silva (1834). Mas a maioria de seus proje-
tos, apesar do sucesso obtido nas exposições públicas
da Academia, são destinados a ficar no papel: entre
eles, os do Palácio Imperial e do Senado, ainda inspi-
rados, como todos os projetos brasileiros, no ideal de
grandiosidade clássica do período napoleônico.
- AM I" -

ÍWÈI:I:I: F í f 11 iiisüeijw

, ,
W• •i
^ f l

ra
ldjeen de Montigny. e por isso tem a denominação de Real. Os dois edifícios
^ a m i a Real de Belas Artes. :a foram construídos. A Academia, que aqui aparece com três
foi construída a principio com um, exceto na p3rte central.
Só depois da morte de Grandjean é que lhe acrescentaram o segundo
••«'a Nacional de Belas Afies, n" 2.979. pavimento que faltava, imitando nele as janelas do segundo pavimento
deste projeto. A planta do térreo já corresponde aqui ao que foi feito.
IJleiro projeto para a Academia Reaf de Belas Artes, entre um Comparando este risco com o que foi executado, vê-se como o arquiteto
" '"Cio pare os correios e uma casa para a lapidação de diamantes. aperfeiçoou a sua composição, sobretudo no que diz respeito à parte
n
'as térreas e fachadas dos três edifícios. 0 projeto foi apresentado
Grandjean de Montigny.
Risco da fachada da Academia nperial de Belas Artes cc
seQundo pavimento. 2. Levantou-s. acirrada polêmica, por discursos
Traço e aguada de nanquim. isCam. eofíi {transcritos e comentados
Arquivo Nacional. pelo professor Galvao r Revista do Iphan de 1961), entre o
deputado A. d'E,Taunay (o qual, segundo ho de seu pai, Félix
A autoria deste risco, reencontrado pelo professor Alfredo Emílio, atribula este risco, perfeitamente ido pelas descrições
Galvào em 1966. já era controvertida no século passado. A feitas então, a Grandjean de Montigny) e professores da Academia.
Academia, desde sua inauguração, em 1826, e até muito depois As razões pelas quais estes rejeitaram o risco são bem fundadas, porém
da morte de seu autor, não tinha mais que o rés-do-chão. Apenas algumas da contradições em que caíram, ao negar-lhe a autoria de
o pórtico central possuía um segundo pavimento, o templete Grandjean, dão a Impressão que o faziam para se eximirem da acusação
jônico, como se dizia. Este risco procura, por meio do recuo de trair o pensamento do mestre, que lhes faziaTaunay. Diante disso,
central, mantê-lo em destaque e Isolado do segundo pavimento, do testemunho de Félix Emílio, companheiro inseparável do arquiteto
a construir em toda a extensão da fachada. Todavia, os próprios no Brasil, e da qualidade do traço, este desenho pode bem ser atribuído
discípulos de Grandjean, professores da Academia, recusaram- a Grandjean de Montigny, cujos projetos não são isentos de falhas,
se a segui-lo ao se Iniciarem as obras de complementacáo em sobretudo de caráter funcional.
75
Grandjean da Montigny.
Planta, (achada a corte da primeira Bolsa do Rio de Janeiro,
depois Alfândega e hoje Tribunal do Júri.
Plan, laçada et coupe de Ia Bourse, lei qual est execute á Rio de
Janeiro, l'an MDCCCXX. Dedié à son Exçellence Monsigneuer Ia
Visconte St. Lourenço, par Grandjean de Monligny.
Traço e aguada de nanquim,
535 x 348 mm.
Biblioteca Nacional, r>° 325.971.

A despeito do qi
executado!, este risco nao corresponde exatamente a
hoje, nem ao que se vè na Planta Arquitectural do Rir.
de 1874, do engenheiro Rocha Ftagoso. No atual edifi
degraus da entrada têm outra disposição, o s janela es de cada
lado foram substituídos por óculos e os telhados são aparentes, e
não escondidos pelas platibandas. A fachada posterior, do lado do
mar, também não é reta como aparece nesta planta.
U1"*
76
Grandjean ds Montiynv
Elevação da Catedral de São Pedro entanto, se encontre marcada na única planta existente do mesmo),
Traço e aguada de nanquim com pi á mais uma versão do Panteon de Roma, entre tantas feitas pelos
380 x 625 mm. arquitetos neoclássicos para as mais diversas finalidades. O próprio
Escola Nacional ds Belas Artes, n° 2.991 Grandjean já fizera outra, mais livre, apresentada so concurso para o
Templo a Glória do Grande Exército de Napoleão. Nesta, ele cerca a bí
da cúpula por uma colunada corintia, como já fizera no projeto de um
cemitério monumental, com que obteve o Prêmio de Roma em 1799.
Grandjeart de Montigny.
Projeto de hum monumento a erigir no Campo da Honra em Memória
do Dia VII de Abril de MDCCCXXXI dedicado a |sic| Nação Brasileira.
Traço e aguada de nanquim,
1.065x610 mm.
«ME^ Museu Nacional de Belas Artes, n • 3.896.

Coluna para comemorar o dia 7 de abril de 1831, data da abdicação


de D. Pedro I. Composição semelhante a muitas colunas do mesmo
gênero projetadas na França no tempo do Primeiro Império.
Encontram-se, aqui, no (uste da coluna, lauréis e
fasciculados, os mesmo elementos decorativos c
departamental da Fig. 57, porém com menos ele;
Grandjean de Monligny.
Risco da fachada para a Biblioteca Imperial.
Traço a aguada da nanquim,
425 x 815 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.691.

Única prancha restante do projeto que, segundo a lista de venda de A obra exposta na Exposição Geral da Acedemia de Belas.
1866, constava, ainda, da plante, do corte longitudinal, da perspectiva e 1842fo i objeto de uma entusiástica aval lacáop or parte do
da elevação em maior escala da parte central, Félix ErnilioTau nay, o qual, na proposta .iim.il. favor dos i
[Este último desenho aparece ainda reproduzido no livro de Adolfo Cone, i ndicou ( orno único prêmio digni > do projeto a sua r
Morales de los Rios Filho e apresenta certas variantes de pormenores (doe. n<>IX>.
em relação eo que se vê aqui.)
ativo da chegada da imperatriz D.Tereza

Traço e aguada de nanquim,


630 x 500 mm.
Biblioteca Nacional, n° 325.974.

Em 14 de fevereiro de 1844, a Câmara Municipal e


Academia do projeto de um Monumento para
desembarque no Rio da impera triz Te reza Cristina, a se' erigido
na Praça Municipal. Como no lugar já existiam os alicerces de um
chafariz em construção, a Congregação dos Professores sugeriu
reunir os dois elementos, erigindo um monumento-chafariz (doe. n°
XI) encimado por uma estátua da Beneficência, a ser posta a concurso
entre os escultores da Corte. O risco, de autoria de Grandjean de
Montignv, acompanhado da descrição completa do monumento,
incluindo simbologia e inscrições Idoc. n* XII), foi entregue em 13
de maio de 1844 e aprovada em 19 de junho do mesmo ano pelo
imperador.

Os trabalhos para a realização da iniciativa - que foi se ampliando até


prever a retificação e decoração da Praça Municipal, a fim de dar-
lhe aspecto correspondente à grandeza do objeto a que o chafariz é
destinado a recordar - são documentados no arquivo da Academia
até o fim de 1344: jazidas de mármore em Campos, que deviam
fornecer o material para a estátua da Beneficência, são exploradas
entre junho e setembro, até resolver-se, por dificuldades técnicas,
encomendar na Itália um pedaço sólido de mármore estatuário com
12 palmos de altura e cinco e meio nas outras dimensões (12.9.1844).

Em janeiro de 1845, modelos para o Monumento da Praça Municipal,


cujo juízo é ainda pendente, são exibidos na Exposição Gerai da
AcademiadeBelasArtesldoc.de 11.1.1845). O fim da história pode
ser deduzido com base apenas em uma antiga fotografia publicada
por Morales de los Rios (Op. c/r. p. 160): foi erigido um monumento
diferente do projetado por Grandjean, sem estátua, mas houve
regularização da praça, cujo lado em vista é limitado por uma longa
fachada de tipo neoclássico.Todo o conjunto foi destruído por volta
80
Grandjean da Montignv
Esquema hidráulica do chafariz ativo de D.Tereza Cristina-
Traço de pena e aguada,
352 x 233 mm.
Museu Nacional de Belas Artes, n° 6.418.
81
Grandjean de Montigny.
Projeto de Chafariz para o Largo da Benfica.
Traço de nanquim,
439 x 302 mm.
Museu de Belas Artes, rr 6.545.

projeto para um chafariz a ser construído na Praça da Benfica foi


índado á Academia pelo imperador em outubro de 1846.
junto com um projeto p um chafariz na Rua São dementa. Em 9
IO, a Academia remetia planta, elevação
O (doe- n- XVI). Devia ser construído em
ir quatro ou três frentes iguais, conforme
melhor convém à localidade; em todo caso, era recomendada, ao
redor, a plantação em covas bem preparadas de duas ou mais árvores
frondosas que abrigassem a fonte.

A obra, que bem documenta a preocupação do autor em produzir,


com a melhor despesa possível, o efeito artístico mais grandioso pel
simplicidade das formas, foi realizada, com algumas modificações, n
Grandjean de Montignv.
Projeto para o chafariz da Rua São Clemente.
Traço e aguada do nanquim,
407 x 267 mm.
Museu Nacional de Belas Artes. n° 6.357.

Encomendado em 22 de outubro de 1846, o projeto do Chafariz foi

presente, mais barata (orçada em 2.378SO00), e uma outra, desconhecida


(orçada em 3.208S00O) (doe. n» XVII).

Juntamente com o projeto do chafariz comemorativo da chegada da


imperatriz D.Tereza Cristina, a concepção do monumento lembra muito
obras análogas projetadas em Paris na época do Império, tal como o
chafariz comemorativo do general napoleônico Desaix (18011, de Charles
Percíer, do qual imita o risco do tanque e da coluna (aqui arrematada pof
uma esfera apoiada sobre o dorso dos grifos bragantinos e encimada
pela Coma Imperial).
DESENHO F .

.m
Grandjean de Montigny.
Des. F - Fachada do Paço do Senado,

448 x 745 mm.


Museu Nacional de Belas Artes, n° 3.702 AA.

Um dos trás únicos desenhos que possuímos do projeto para o Paço do


Senado, encomendado pelo Governo Imperial ao arquiteto em 1648, dois ant
antes de sua morte e por ele assinado e datado. Representa a fachada voltad;
para o antigo Rocio (atual Praça Tira d entes), que devia situar-se em frente à
estátua de D. Pedro I. Enriquecida por um pronao corintio, por ela se devia
fazer a entrada dos soberanos na solene abertura das legislaturas. 0 corpo
avançado devia conter o vestibulo de honra, flanqueado por dois salões, um
para o imperador e outro para a imperatriz.
DESENHO G .

1,1
r
andjeandeMonlignv.
pas- G - Corte longitudinal na sala de sessões
K
*ío do Senado.
A
°.uarela
Mu
seu Nacional de Belas Aries, n° 3.703 AA.

^'issimo desenho e c TI posição espacial e decorativa, no i


|^P*'io francês dos m ftres Grandjean, Percier e Fonlaine.
"do. o trono do imperador. Aos lados deste, as entradas para o corpo
™ c33a do Senado e as tribunas para os diplomatas. Nos hemiciclos
aramos, as bancadas. Por detrás das colunadas, as tribunas para o
Publico e suas entradas. Como o desenho F, este também á assinado 6
DESENHO D

* i= i I, ,1 • ( . , [ ,

iPüiiiiri

Grandjean de Montingy.
Des. D - Corte, segundo o eixo ( ítria, do palácio imperial
projetado em 1848.
Traço e aguada gera! de nanquii 1 realce de aquarela nos

0 corta deixa ver, a direita do desenho, a ala sul do pátio, s


sala do trono, a galeria de aparato do palácio e o pânico ce
tachada do lado do mar. A sala do trono, de imponen
e de plano basilical, divide-se em duas partes: a abside para o trono
e um corpo de três naves, separadas por colunas que sustentam
a abóbada de berço da nave central. Em sua composição espacial
ísplra
ia á também coberta por ui
abóbada de berço, interrompida no meio por ume calota. A ai
da galeria fica escondida, em toda a sua extensão, por uma a
platibanda reta. Medindo-se o comprimento desta n<
fachada (des. C), vê-se que s galeria teria 83 metros
O pelácio seria, portanto, grandioso e magnífico, como nô-lo atestam
as decorações internas visíveis neste corte, fiéis ao estilo dos mestres
Grandjean, Percier o Fontain». O desenho é assinado e datado.
DESENHO C .

s
Tr - C - Fachada principal do Palácio Ir
27n * a 9 ua da da nanquim,
Bihli
oteca Nacional.

*d|s l afechadan- do palácio devia-se estender por 176 metros


aite te ddo
( mar.
Sua divi > em três partes lembra o conjunto de três
* " " * • do primeiro ri. da Academia de Belas Artes, pois suas partes
^ " " " a s obedecem a, a composição semelhante à dos edifícios
^ de lapidação d, amantes e dos correios (abstração feita do
i situados de cada lado da Academia. Quanto
salvo as janelas do piso nobre, copiadas das do
;e no referido risco da Academia, Grandjean retoma,
"°«a fachada,, mposição do pavimento térreo e da portada com o
„BniPletB. lá jôni e aqui coríntio, executados, ainda em sua vida, na
^ dademia,
en de acordo com um segundo risco que conhecemos por uma
VUra
u da Debret. Esta fachada do palácio é, pois, em suas três partes,
" ^ fusão dos dois a Acaden enriquecido, ei
°°nvf nhaa isdopi; a. Apro
n palácio, pelas fai
va na estreita Rua da Academia, o
r<
Witeto destaca, aqui, o p. central, por meio de um pronunciado
*3nÇO, como se vê pela so arojetada e pelo corte Ides. D),
i fachada á assinado e datado.
87
Grandjean da Montignv.
Pormenor do centro da (achada principal do Palácio Imperial de 184Í
Aguada de nanquim realçada e aquarela,
400 x 430 mm.
Escola Nacional de Belas Artes, n° 2.980.

Neste desenho, em maior escala que o da fachada completa, Grandj


pôde definir mais claramente os pormenores decorativos do motivo
central e da fachada, com algumas variantes, como o guarda-corpo
de metal dourado, com a sigla de D. Pedro II no templete, a estátua
no vértice do frontão, o escudo imperial com os grifos bragantinos r
timpano e o desenho do paramento e dos vãos que se sucedem no
térreo, e que de portas se tornam janelas, seguindo, assim, mais de
o risco executado da Academia de Belas Artes.
Aparece também aqui a calota da cúpula a meio da galeria interna,
omitida no desenho completo da fadiada. Este estudo não á assinai)
nem datado como os outros desenhos do palácio.
Cronologia
1776,15 de junho. Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, filho de Claude J e a n Baptiste Grandjean de
Montigny e de J e a n n e Ursule Cornet, nasce em Paris no bairro do Marais, sendo batizado no mesmo dia na
igreja paroquial de Saint Merry.
(Morales, p . 21-22)

1796. Grandjean ganha umprix âémulation na Ecole d'Architecture, com um projeto de Porte de Vtlk de Commerce.
(AN, AJ 52,95)

1797, 20 de abril. Grandjean participa da prova preliminar (esquisse tfessai) para seleção dos concorrentes ao Grana
Prix de Rome. T e m a da prova: Une Boursepour une ville maritime. (AN, AJ 59,3)

1798. 20 de abril. Grandjean participa novamente da prova preliminar para o GrandPrix, sendo admitido (26 de
abril). Tema: UneBastide. (AN, AJ 52,3)

11 de agosto. Grandjean junto com os colegas Famin e Dédeban, ganhaumprixd'émulation na Ecole d'Architecture
com u m projeto para u m Musée tíHistoire Naturelle. (AN, AJ 52,95)

1799, 20 de janeiro. Grandjean apresenta u m projeto em um concurso para o embelezamento da Avenida dos
Champs-EIysées, promovido pelo ministro François de Neufchâteau. {Inventairegeneral, p. 159 e segs.)

20 de abril. Grandjean participa pela terceira vez da prova preliminar do GrandPrix, sendo admitido. Tema: Utté
Mosquée.

25 de abril. Grandjean concorre ao GrandPrix de Rome com um projeto de u m Elysée ou Cimitière Public, obtendo
o primeiro lugar ex-aequo com Louis Gasse. (AN, AJ 52,95. Documentos I, I I , I I I )

30 de abril. Uma comissão julgadora, da qual fazem parte os arquitetos Percier e Fontaine, examina desenhos
dos alunos da Ecole d'Architecture sobre o tema Unpalais direetorial. Grandjean recebe uma medalha pelo se-
gundo lugar. (AN AJ 52,95)

18 de junho. Grandjean recebe um outro segundo prêmio com um esquisse para uma casa de banhos. (AN, AJ
52,95)

1800,5 de janeiro. U m júri, que inclui os arquitetos Percier e Fontaine, proclama vencedores do concurso para o
embelezamento dos Champs-EIysées Les citoyens Grandjean, Famin, Debret e Bury, autores de u m projeto sobre o
tema Lesplaisirs lepluspurs sont ceuxde 1'homme libre. {Inventaire general, p . 161-162)
wOl, setembro. Grandjean, junto com o colega Famin, participa com 108 artistas do concurso público para u m
monumento comemorativo em honra do general Desaix, recebendo o terceiro prêmio. (Inventaire general, p.
205-206)

Ue
z e m b r o . Grandjean chega a Roma, juntamente com Suvée, novo diretor da Academia de França em Roma.
<AN, F2i,6o6)
l
<>02, i o de janeiro. Suvée, diretor da Academia de França, em uma carta ao ministro do Interior, falado trabalho
^ e Grandjean, destacando sua utilidade nos projetos de restauração da Villa Mediei, futura sede da Academia de
Fr
ança em Roma. (AN, F2i,6i 3 )

!
° ° 3 J 2 7 de abril. Grandjean é de novo citado p o r Suvée em uma carta ao ministro do Interior: "Les citoyens Gasse
et
Grandjean, arebitectes, travaillent avec beaucoup dardeur à tout ce qui est relative à leur art." (AN, F21,613)

'005. Os alunos da Academia de França em R o m a fazem na sede u m a exposição de seus trabalhos. Grandjean
Participa com UEntablement du Fórum de Nerva, uma Restauration du Tombeau de Cecília Mete/Ia e Une sorte de
<»•»« moderne ou étaient groupés autour du Falais Imperial les palais du Corp Legislatif, du Sénat, des Ministères, etc.
ft-apauze, p . 51)
N o final do ano, Grandjean recebe do ministro do Interior autorização para voltar a Paris, t e n d o completa-
do o curso em quatro anos, ao invés dos cinco regulares. (NA, F2i,6i3)

°°6,27 de outubro. E m sessão da Academia des Beaux-Arts o arquiteto Peyre, em n o m e da sessão de arquitetu-
a
> faz uma relação verbal sobre os primeiros fascículos da obra Arcbitecture toscane, presenteados pelos autores,
0s
arquitetos Grandjean e Famin, à Academia. (Procès verbaux, I I I , p . 54-61)

°7- Grandjean é designado pelo Institut de France para dirigir os trabalhos da sala de sessões do Parlamento
e
Vestfália. (Grandjean de Montigny, carta ao jornal Echo, Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1828)

*°°8,14 de outubro. Grandjean, architecte de 5. Aí., le Roi de Westphalie, apresenta u m desenho c o m jragments
ar
cbitecture na Exposição do Museu Napoleão. (BN, Explication des oeuvres)

_ r 4i i" de outubro. Joaquim Lebreton, secretário perpétuo da classe de Belas Artes do Institut de France, men-
i n a no relatório anual a publicação de 16 fascículos da obra Arcbitecture toscane de Grandjean e Famin, e anun-
^ l a o aparecimento dos três primeiros fascículos de uma nova obra, Recueil des plus beaux tombeaux executes en
lt
«tie, dans le XV et le XVI' siècles. (BN, Notice des travaux)

de novembro. N a Exposição do Museu Real, Grandjean apresenta 10 desenhos, entre os quais muitos projetos
Xe
cutados em Cassei. (BN, Explication des ouvrages; documento IV)
1815, 30 de janeiro. Grandjean dirige uma carta ao ministro do Comércio francês pedindo uma assinatura à obra
Architecture toscam. (AN, F7 1031)

9 de outubro. Francisco José Maria de Brito, encarregado de negócios em Paris, remete ao marquês de Aguiar
uma proposta de Joaquim Lebreton sobre a fundação de uma Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, com in-
formações acerca dos artistas que desejavam estabelecer-se junto à Corte de João VI. Deviam partir: Taunay,
membro do Institut de France, pintor, sua mulher e cinco filhos; Taunay, escultor, irmão do precedente, e um
auxiliar; Debret, pintor de história; Grandjean de Montigny, arquiteto, a mulher, quatro filhas, uma criada e
dois ajudantes, seus discípulos; Ovide, engenheiro mecânico, um serralheiro e seu filho, fabricante de carros;
Neukomn, compositor de música e organista; e o próprio Lebreton, membro do Institut de France.

9 de dezembro. Respondendo à proposta de Lebreton, Francisco de Brito oferece colocar à disposição 10 mil
francos, de seu bolso, para pagar as passagens de Pradier, de Grandjean de Montigny e do engenheiro Ovide e
suas famílias, e para Lebreton levar consigo dois modelos novos de mecanismos.

20 de dezembro. Lebreton aceita a oferta dos 10 mil francos, com os quais paga as passagens de Pradier,
Grandjean, Ovide e Augusto Taunay e famílias, e adquire, para transportar ao Rio, um moinho completo mo-
vido por uma roda hidráulica de ferro, um segundo moinho de outro sistema e uma serra mecânica. (Taunay,
p. 11 e segs.)

1816, 26 de março. Grandjean, junto com os outros "missionários", chega ao Rio de Janeiro no navio americano
Calpe, depois de dois meses de viagem. (Morales, p. 31 e segs.)

í de abril. Em uma carta de agradecimento a Francisco de Brito, os dois Taunay, Debret, Pradier e Montigny
declaram-se amparados, no Rio de janeiro, "pela munificència do Rei, secundada pela caridade solícita e generosa
de seus ministros". (Taunay, p. 17)

12 de agosto. Decreto real cria uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, na qual serão aproveitados alguns
dos "estrangeiros beneméritos" recém-chegados. Os professores, entre eles Grandjean, receberão a pensão anual
de 800 mil réis. (Taunay, p. 18-19; documento V)

1817,5 de novembro. Grandjean participa das decorações erguidas para comemorar a chegada da arquiduquesa de
Áustria D. Maria Leopoldina, projetando um "Arco Romano" e um "Triunfo Romano". (Taunay, p. 293-294)

1818, 6 de fevereiro. Para os festejos por ocasião da Aclamação de D.João VI, Grandjean projeta um "Arco
Triunfal", um "Templo de Minerva" e, no centro do largo do Paço, um " Obelisco". (Taunay, p. 295-296)
!z de outubro. Por ocasião das festas para o natalício de D. Pedro e o enlace com D. Leopoldina, o Senado manda
construir no campo de Santana um "estádio", projeto de Grandjean de Montigny. (Taunay, p. 297)
J
8i9, II de junho. No terreno entre o mar e a Rua do Sabão, cedido por D.João VI aos negociantes da cidade, são
iniciados os trabalhos da primeira Praça do Comércio, projeto de Grandjean de Montigny. (Morales, p. 243)
2
o de outubro. Grandjean aparece em qualidade de consultor oficial em um ofício sobre as obras do Palácio Real
da Ajuda, em Portugal. (Morales, p. 241)

•820,13 de maio. Por ocasião da inauguração do prédio da primeira Praça do Comércio, Grandjean é condecora-
do com a venera de Cavaleiro da Ordem de Cristo. (Morales, p. 243)
2
o de outubro. Um segundo decreto cria uma Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura
Civil, com os mesmos professores da precedente Escola Real. (Morales, p. 159)
2
3 de novembro. Novo decreto determina o começo das aulas da Academia. (Morales, p. 159)

Iwy, 11 de maio. O Senado da Câmara resolve erigir um monumento a D. Pedro I; uma comissão, da qual faz
Parte Grandjean, deverá organizar os planos. Grandjean apresenta dois projetos: um, eqüestre, para a Praça da
Constituição, e outro, pedestre, para a Praça da Aclamação. (Morales, p. 238; Taunay, p. 301)

'826,5 de novembro. É inaugurado solenemente o prédio da Academia de Belas Artes, projetado por Grandjean
de Montigny. (Taunay, p. 240-246)

'827. Tendo o imperador designado o Campo de Santana como o lugar mais idôneo para erigir seu monumento,
Grandjean apresenta em uma "nota explicativa" o seu projeto, que prevê a completa reestruturação da praça.
(MNBA, n. 6.364; documento VI)

^28, 30 de janeiro. Grandjean responde pelo jornal Echo a ataques aos artistas franceses saídos no Diário Flumi-

ense dos dias 10, 22 e 23.

*" e 7 de fevereiro. No Jornal do Commercio é dada notícia da "Rifa de Mr. Grandjean de uma grande chácara, e
°oa casa de vivenda sita na Lagoa Rodrigo de Freitas". Preço do bilhete: 4$ooo.

9 de fevereiro. Pedro Alexandre Cavroé responde a Grandjean de Montigny, acusando-o de ser mau arquiteto e
s
"mples projetista.
9 de março. Não sendo possível a extração da rifa na próxima loteria, Grandjean anuncia no Jornal do Commercio
que a importância dos bilhetes vendidos será restituída.

1829,16 de outubro. Para os festejos comemorativos da chegada de D. Amélia, segunda imperatriz do Brasil,
Grandjean projeta para o Largo do Paço um "Templo do Amor" e um "Templo do Himeneu". (Morales, p.
239)

2 de dezembro. Na primeira exposição da Academia de Belas Artes são expostos 15 desenhos de Grandjean
- entre os quais a "fachada da Academia de Belas Artes", o projeto de um "Fórum Imperial no campo da Aclama-
ção" e um plano de um "Palácio Imperial no lugar do presente" - e mais de 100 desenhos dos seus 13 discípulos.
(Morales, p. 167-168)

1830, dezembro. Grandjean participa com oito alunos da exposição da Academia, expondo em seu gabinete
"muitas obras, todas de sua composição". (Morales, p. 170)

1832. Grandjean projeta para Vitor Chabry o teatro São Francisco de Paula, na rua do mesmo nome. (Taunay, p.
318)

1834. Grandjean é encarregado do projeto da segunda Praça do Comércio e do edifício do primeiro Mercado, na
praia do peixe. (Morales, p. 239-240, 245)

4 de novembro. Em seguida à morte de Henrique José da Silva, diretor da Academia, ocorrida em 29 de outubro,
a Congregação dos professores da Academia de Belas Artes elege seu vice-presidente, Grandjean de Montigny-
(ENBA; documento VII)

17 de novembro. Grandjean de Montigny, em ofício em nome da Congregação, pede que o cargo de diretor da
Academia de Belas Artes seja suprimido, e adotado o uso das presidências alternativas, ao exemplo das demais
corporações científicas. (ENBA)

3 e 6 de dezembro. Grandjean de Montigny, na qualidade de vice-presidente da Congregação, avalia desenhos e


peças de escultura pertencentes à viúva de Henrique José da Silva, a serem compradas pela Academia. (ENBA)

12 de dezembro. Grandjean de Montigny, vice-presidente da Congregação, comunica a eleição do novo diretor


da Academia de Belas Artes: o professor de pinturas de paisagem Félix Emílio Taunay. (ENBA)

1836, 25 de setembro. Em requerimento à Câmara dos Deputados, o diretor da Academia pede uma concessão
de loterias para, entre outros objetivos, acabar o palácio da Academia e, se for possível, dar princípio à compra
dos terrenos fronteiros ao vestíbulo do mesmo, para se abrir uma rua perpendicular até o Largo da Constituição.
(ENBA)
2
de dezembro. Em informação sobre o estado da Academia dirigida à secretaria d'Estado dos Negócios do
Império, o diretor Félix Emílio Taunay insiste sobre a oportunidade da abertura de uma pracinha em frente à
Academia. (ENBA)
:
^37.14 de dezembro. Estando o palácio da Academia "todo prompto a exepção dos capiteis das columnas que
es
tão a fundir-se", pede novamente a formação de uma "praça semicircular" na sua frente e a abertura de uma rua
até o Largo da Constituição. (ENBA)

$38,17 e 27 de março. Por ofício da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império, a Academia é encarregada do
Projeto da Igreja Matriz de Maceió. (ENBA)
2
7 de março. O Jornal do Commercio notifica a abertura do Colégio Pedro II, na sede do antigo Seminário de São
Joaquim, restaurado e adaptado por Grandjean de Montigny.
2
de abril. A Academia remete o projeto da Matriz de Maceió executado por Grandjean de Montigny, acompa-
nhado de uma nota explicativa do autor. PropÕe-se a viagem de um aluno da Academia para dirigir os trabalhos.
(ENBA)
2
5 de abril. O diretor da Academia remete à Secretaria d'Estado dos Negócios do Império uma memória sobre
^História da Academia das Bellas Artes do Rio de Janeiro de 1816 até 18)8, incluindo dados sobre a atividade do pro
fessor de arquitetura Grandjean de Montigny. (ENBA)

7 de maio. Carta ao jornal Aurora Fluminense lamenta que Grandjean - a quem o ministro nomeara arquiteto do
Colégio Pedro II - tinha sido "caprichosamente despedido", sem receber o pagamento do seu trabalho.
10
de maio. Um artigo publicado no jornal 0 Cronista responde à carta dirigida ao Aurora Fluminense, criticando
a
atuação de Grandjean no Colégio Pedro II.
2
4 de outubro. Novo pedido do diretor para abertura da pracinha em frente à Academia. Sugere-se que seja ar-
borizada, "plantando-se algumas casuarinas ao longe do mesmo paredão e outras porções irregulares de terreno
que sobejarem". (ENBA)
2
3 de novembro, n de dezembro. A Academia é encarregada de uma "reforma" do risco do chafariz da Carioca,
Para "servir de regra para a continuação dos trabalhos". (ENBA)
i839> 18 de janeiro. A Academia remete o risco do "Monumento da Carioca" formado na classe de arquitetura.
(ENBA)

14 de junho. Pedido do diretor para que se proceda à "plantação de cerca de 20 pés de casuarinas que existem já
promptas para este fim", em frente à Academia. (ENBA)

26 de junho. Esclarecimentos do diretor sobre os prédios que será necessário comprar para a abertura da rua
perpendicular até o Largo da Constituição. (ENBA)

5 de novembro. Ofício do diretor solicitando a abertura da rua fronteira ao Palácio das Belas Artes até a Rua
Francisco de Paula. (ENBA)

1840, 22 de junho, 24 de setembro, 24 de novembro. Novos pedidos do diretor para a realização da pracinha e a
abertura da rua. (ENBA)

1842, 29 de janeiro. Examinada a produção da última exposição da Academia, a Congregação dos professores
destaca a importância do projeto da Biblioteca Imperial apresentado por Grandjean, afirmando que só a realiza-
ção dele seria digna recompensa pelo autor. (ENBA; documento IX)

26 de outubro. Comunica-se à Academia que o inspetor das obras públicas deverá entender-se com Grandjean
de Montigny a respeito "dos riscos necessários para a execução das obras de cantaria para o portão do Jardim
Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas". (ENBA)

1843, 26 de maio. O imperador manda remeter à Academia um requerimento de Grandjean de Montigny pedin-
do a sua jubilação. E incluído um parecer do procurador da coroa. (ENBA)

2 de junho. A Congregação dos professores da Academia, manifestando o seu pesar pela decisão do professor de
arquitetura, afirma não poder, porém, opor-se à sua pretensão. (ENBA; documento X)

Na IV Exposição Geral da Academia é apresentado um retrato de Grandjean de Montigny, de autoria do pintor


Augusto Muller. Grandjean expõe o interior de uma biblioteca, desenho louvado na imprensa por Manoel de
Araújo PortoAlegre: "Feliz o mortal que na idade do Sr. Grandjean pode conservar uma mão tão firme, e uma
frescura e ligeireza de toque como se observa naquele debuxo." (Morales, p. 172)

1844, 12 de fevereiro. Na relação anual do diretor da Academia insiste-se mais uma vez sobre a necessidade da
realização da pracinha em frente à Academia. (ENBA)
ió de março. A Congregação dos professores da Academia, tendo sido encarregada da execução de um projeto
para um monumento comemorativo da chegada da imperatriz, na Praça Municipal, propõe a realização de um
monumento-chafariz. (ENBA; documento XI)
!
3 de maio. Atendendo a pedido da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império, a Congregação dos professo-
res remete oriscodo monumento comemorativo, autoria de Grandjean de Montigny, e uma descrição detalhada
d
o mesmo. (ENBA; documento XII)

*9 de junho. Sendo o desenho aprovado pelo imperador, é expedida ordem à Câmara Municipal para mandar vir
de São Fidélis, perto de Campos, o mármore necessário para a estátua. (ENBA)
21
de julho, 2 de agosto, 12 e 16 de setembro. Após exploração das jazidas de mármore em Campos, a Academia
tesolve pedir que "se encommende na Itália" o mármore necessário para a estátua. (ENBA)
2
3 de setembro. O diretor da Academia remete o orçamento de "toda a cantaria do monumento da Praça Mu-
nicipal". (ENBA)
2
S de setembro. O imperador encarrega a Academia de executar um risco para as fachadas dos edifícios da Praça
Municipal, para que estes fiquem "em harmonia com o que se acha aprovado para o chafariz". (ENBA)

7 de novembro. A Academia remete o projeto de retificação e decoração da Praça Municipal, acompanhado de


notícia explicativa, para aprovação do imperador. (ENBA; documento XIII)

^45, 5 de agosto. Por causa das dificuldades encontradas na realização do primitivo projeto, já aprovado pelo
governo, a Academia apresenta um projeto de modificação do plano de decoração da Praça Municipal, autoria
de Grandjean de Montigny, e relativo orçamento. (ENBA; documento XIV)
[
i e 14 de outubro. Grandjean propõe como tema do concurso ao primeiro prêmio de viagem para os alunos de
a
tquitetura da Academia um projeto de estabelecimento público de banhos. A tradução do programa oferecido
Por ele é aprovada pela Congregação. (ENBA)

^46,10 de março. Da relação anual do diretor da Academia consta um aumento de salário dos professores, entre
eles Grandjean, de 8oo$ooo a 12008000. (ENBA)
l
7 de março. Novo pedido do diretor da Academia para a abertura da rua fronteira ao palácio, motivado "pela con-
sideração de que progride rapidamente nestas paragens a construção de novos prédios e, portanto, é de temor que
^guma especulação particular venha a aumentar, pelo futuro, de maneira espantosa, as custas" da obra. (ENBA)
2o de junho. Relação do diretor sobre as casas que é preciso adquirir para a abertura da rua. (ENBA)

17 de julho. Tendo-se concluído o negócio da compra das casas, a Academia pede ao governo que se faça reserva
das fitas de terreno que sobejarem à demarcação da rua, a fim de que as construções confrontantes sejam feitas
de acordo com o "modelo" formado na própria Academia. (ENBA)

31 de agosto. Concluída a demolição das três casas compradas pela Fazenda Nacional, pede-se que a Câmara Mu-
nicipal mande o seu arruador na nova rua fronteira ao Palácio das Belas Artes para determinar, de acordo com
Grandjean de Montigny, o "alinhamento das tapagens de madeiramento" da nova rua. (ENBA)

31 de agosto, 5 de setembro. Carlos de Miranda, aluno de arquitetura, é escolhido para dirigir os trabalhos do
Colégio de Santa Tereza, "debaixo dos riscos e planos do professor Augusto Henrique Vitorio Grandjean de
Montigny". São adiantados 3008000 para despesa de viagem e estadia. (ENBA)

18 de setembro. A Academia remete ao ministro e secretário d'Estado dos Negócios do Império a "planta da rua
fronteira ao Palácio das Belas Artes" e "o risco para as fachadas das casas confrontantes", executado por Grand-
jean de Montigny. (ENBA; documento XV)

22 de setembro. Uma portaria à Câmara Municipal manda calçar a rua "hoje aberta" em frente à Academia e os
dois lados da praça semicircular. (ENBA)

7 de outubro. A Congregação dos professores pede que sejam construídos imediatamente os paredões circulares
em frente ao palácio da Academia. (ENBA)

22 de outubro. O imperador encarrega a Academia de apresentar planos para os chafarizes a serem construídos
na Praça da Benfica e na Rua São Clemente. (ENBA; documento XVI)

19 de novembro. A Academia remete dois projetos de chafarizes para a Rua São Clemente, com os respectivos
orçamentos. (ENBA; documento XVII)

1847, 18 de janeiro. A Congregação dos professores da Academia menciona entre as melhores obras da última
exposição geral um "desenho perspectiva" da Biblioteca Imperial de Grandjean de Montigny, pedindo para o
artista uma "recompensa honorífica de grau superior às costumadas". (ENBA; documento XVIII)

18 de fevereiro. O diretor da Academia é informado de que, com o decreto de 12 de fevereiro, Grandjean de


Montigny havia sido nomeado Oficial da Ordem da Rosa. (ENBA; transcrição do documento de nomeação
oficial em Morales, p. 241-242)
3 1 de março, 13 de abril. A pedido da Academia, a Câmara Municipal manda demarcar, pelo seu armador, "o
corte dos ângulos na encruzilhada das Ruas Leopoldina e da Lampadosa". (ENBA)

5 de maio. Ofício referente a casos de proprietários "que têm que pedir ao governo imperial a cessão de fitas de
terreno, para poderem formar as suas frentes na Rua Leopoldina". (ENBA)

í° e 2 de junho. Aviso de pagamento de mestre Adriano "para a fatura do segundo arco de paredão na praça se-
núcircular". (ENBA)

S de julho. Aviso da Secretaria d'Estado informa que foi dada Ücença a Manoel Pereira da Silva para edificar na
Rua Leopoldina, pedindo prestar atenção para que "a construção de frente do edifício não se afaste do desenho
que se acha aprovado e depositado neste estabelecimento". (ENBA)

22
de julho. Aviso para que a Academia entregue uma cópia do desenho "para regular a edificação da nova rua".
(ENBA)

2
6 de julho. O u t r o aviso de pagamento, para a construção do paredão da pracinha semicircular. (ENBA)

2
8 de julho. Grandjean apresenta à Congregação dos professores u m desenho para a impressão dos diplomas dos
alunos. O desenho é aprovado e entregue ao Sr. Faria, antigo aluno da Academia, que se ofereceu para abrir a
c
hapa. (ENBA, Atas)

23 de agosto. O imperador manda que a Academia remeta à Secretaria d'Estado um projeto para palácio imperial
no Rio de Janeiro e outro para u m novo palácio do Senado. Os projetos deverão ser acompanhados pelos respec-
tivos orçamentos e pela designação dos lugares onde deverão ser construídos. (ENBA)

13 de setembro. É nomeada uma comissão composta de Félix Emílio Taunay, Grandjean de Montigny e J o b j u s -
tino d'Alcântara para estudar a escolha dos locais do palácio do Senado e da residência do imperador. (ENBA,
Atas)

*3 de novembro. Depois de longa sessão, a comissão indica como local idôneo para o palácio imperial, o Largo da
Ajuda, onde está o Convento da Ajuda, e para o palácio do Senado, o Largo do Rocio. São examinados também
°s primeiros riscos do palácio. (ENBA, Atas)

*Ó de novembro. Grandjean de Montigny apresenta novos riscos do palácio imperial (fachada e corte longitudi-
nal). (ENBA, Atas)
6 de dezembro. A Academia informa que a comissão encarregada dos trabalhos dos paços está em plena ativi-
dade, e pede para o professor de arquitetura Grandjean de Montigny e o seu substituto Job Justino d'Alcântara
uma gratificação mensal. (ENBA; documento XIX)

15 de dezembro. Responde-se que o pedido de gratificação será tomado em consideração só depois da conclusão
dos trabalhos. (ENBA)

20 de dezembro. O diretor da Academia insiste sobre a oportunidade de uma gratificação mensal, cuja necessi-
dade resultará evidente "pela inspeção dos desenhos e documentos" que acompanham o seu pedido. (ENBA)

1848,7 de janeiro. O diretor da Academia sugere a gratificação mensal de iooSooo para Grandjean e de óóSooo
para seu substituto, contando-se a remuneração do dia 13 de setembro, em que foi nomeada a comissão acadêmi-
ca dos Paços Imperial e do Senado, até o 13 de março próximo, "época em que se háo de remeter... as respectivas
plantas e projetos com orçamentos". (ENBA)

8 de janeiro. É expedido aviso ao Ministério da Fazenda para que o professor de arquitetura Grandjean de Mon-
tigny e seu substituto recebam gratificação mensal de iooSooo e óó$ooo para seu trabalho na comissão dos
Paços Imperial e do Senado desde 13 de setembro de 1847. (ENBA)

11 e 24 de abril. Não tendo sido aprovado um projeto apresentado pelo inspetor-geral das Obras Públicas para
a construção de um chafariz no Largo do Rocio da Cidade Nova, a Academia é encarregada de executar outro
desenho. A configuração do tanque deverá estar de acordo com a obra já começada, "por se achar pronta toda a
cantaria". (ENBA)

24 de abril. Em sessão da Congregação dos professores da Academia é lido o ofício que vai acompanhar os pro-
jetos do Paço Imperial e do Senado. (ENBA, Atas)

29 de abril. A Academia remete planta e elevação de um chafariz para o Largo do Rocio. Não foi possível respei-
tar a prevista configuração do tanque. (ENBA)

3 de maio. E autorizada a compra de 12 vasos de mármore branco, para arremate do paredão semicircular em
frente ao palácio da Academia. (ENBA, Atas)

6 de setembro. A Academia recomenda que a Inspeção-Geral das Obras Públicas solicite "os riscos em ponto
grande de todos os detalhes" da obra do chafariz do Rocio, a fim de evitar erros nas proporções. (ENBA)

19 de setembro. A Academia remete o risco em ponto grande de todos os detalhes do chafariz do Rocio Peque-
no, projetado pelo seu professor de arquitetura. (ENBA; documento XX)
9 de outubro. São escolhidos os assuntos para o prêmio de viagem dos alunos de arquitetura: planta, corte e
elevação de um conservatório de música. Grandjean apresenta um esboço para servir de base aos trabalhos dos
concorrentes. (ENBA, Atas)

8 de dezembro. Na X Exposição Geral, os trabalhos apresentados por Grandjean 0pórtico do Pantbeon de Agripa
e
A fachada do Propileu da Acrópok são severamente criticados por Manoel de Araújo Porto Alegre, que os julga
feitos arbitrariamente e fora das tradições arqueológicas". (Morales, p. 173)

^49, 13 de janeiro. Não tendo recebido nenhum pedido de esclarecimentos a respeito da obra do chafariz do
Rocio Pequeno, a Academia pede que se recomende à Inspeção-Geral das Obras Públicas a observação cuida-
dosa das proporções da obra. A recomendação é feita no mesmo dia. (ENBA)
2
4 de março. O imperador, em acordo com representação da Câmara Municipal, manda que a Academia "for-
"Hile os prospectos" das edificações das Praças da Aclamação, Constituição, São Francisco de Paula e Rocio da
Cidade Nova. (ENBA)
2
4 de abril. Em um parecer sobre a Exposição Geral Pública de Belas Artes a Academia aponta a "vista perspectiva
da Sala do Trono e um Paço Imperial", projetado pelo professor de arquitetura Grandjean de Montigny. (ENBA)
z
& de abril. Em uma representação ao Ministério dos Negócios do Império, a Academia queixa-se que a obra do
chafariz do Rocio "não progride na conformidade do risco em ponto grande". Está sendo construída uma esca-
daria que "não conserva a necessária relação com as circunstâncias do serviço a que está destinada". (ENBA)

4 de maio. Tendo a Congregação dos professores determinado, em várias sessões, as bases dos planos para as
edificações nas Praças da Aclamação, Constituição, São Francisco de Paula e Rocio da Cidade Nova e iniciado a
execução dos respectivos prospectos, pede-se uma gratificação mensal para o professor Grandjean de Montigny
durante quatro meses. (ENBA)
2
4 de maio. Em nova representação a Academia queixa-se da execução do chafariz do Rocio da Cidade Nova:
nem o risco primitivo em ponto pequeno está sendo respeitado; há "desarmonias" na escada e erros na altura dos
degraus. (ENBA)
l
5 de maio. Em conseqüência de uma representação do inspetor das Obras Públicas, é devolvido à Academia um
Projeto "para o chafariz de São Cristóvão", enquanto falta a escala. (ENBA)

'9 de maio. A Academia informa que o risco do chafariz recebido de volta não foi feito para o Campo de São
Cristóvão, mas é o segundo dos dois projetos para o chafariz de São Clemente, oferecidos em 19 de novembro de
1846. Tendo sido escolhido o projeto n° 1, "com esfera em cima", a "disposição geral do segundo" foi aproveitada
para o chafariz do Rocio da Cidade Nova. (ENBA)

23 de maio. Tendo-se apresentado "defeitos de construção" na obra do chafariz do Rocio da Cidade Nova, a
Academia é encarregada de apresentar nova planta, "com todas as explicações que foram necessárias". (ENBA)

9 de junho. A Academia remete à Secretaria d'Estado um parecer da comissão encarregada de examinar o pro-
blema do chafariz do Rocio. (ENBA)

27 de agosto. O diretor da Academia informa a Secretaria d'Estado sobre a possibilidade de completar a deco-
ração da praça semicircular fronteira ao Palácio das Belas Artes, "formando-se na travessa do mesmo nome dois
portões iguais aos que existem no alinhamento da Rua Leopoldina". (ENBA)

15 de setembro. E autorizada a construção dos dois portões a fim de completar a decoração da praça. (ENBA)

i° de outubro. A Academia pede que seja encomendado o gradil de ferro fundido do chafariz do Rocio Pequeno,
remetendo o risco de elevação do mesmo e a respectiva planta.

3 de outubro. Pedido para que sejam garantidos os direitos de uma proprietária, em ocasião do "complemento
da decoração da praça semicircular". (ENBA)

17 de novembro. A Congregação dos professores resolve pedir gratificação de 70S000 durante seis meses para a
execução dos projetos de edificação para as praças do Rio. (ENBA, Atas)

4 e 12 de dezembro. A Secretaria d'Estado comunica que está de acordo em gratificar com 3508000 o professor
de arquitetura Grandjean de Montigny "pelo trabalho que lhe foi incumbido de formular os projetos para as
edificações nas Praças da Aclamação, Constituição, São Francisco de Paula e Rocio da Cidade Nova", quando
ele tiver entregue os desenhos. (ENBA)

1850,19 de janeiro. Representação do diretor da Academia para que seja concluída a Rua Leopoldina; "justifica-
da pela feliz coincidência do embelezamento que resultará pela cidade e para este palácio, de uma comunicação
em linha reta com o centro da Praça da Constituição, lugar destinado para a estátua do Augusto Fundador do
Império". (ENBA)

i° de março. Grandjean de Montigny morre, com 74 anos de idade, na sua casa da Gávea, em conseqüência de um
resfriado apanhado no entrudo do Carnaval. E enterrado no claustro do Convento de Santo Antônio. (Morales,
P- ^75)
4 de março. O diretor da Academia comunica ao ministro e secretário d'Estado dos Negócios do Império a
morte de Grandjean de Montigny, ocorrida no dia i° de março. N o mesmo dia é informada a Congregação; dis-
Põe-se que o retrato dele feito por Augusto Muller - por cópia o original doado pela viúva - fique conservado na
Academia. (ENBA)

6 de março. O Jornal do Commercio publica o discurso pronunciado no dia 2 pelo diretor da Academia de Belas
Artes por ocasião do enterro de Grandjean de Montigny no Convento de Santo Antônio.

9 de março. O diretor da Academia comunica que o professor substituto de arquiteturaJob Justino d'AIcantâra
é designado como continuador da "preciosa tradição arquitectural do finado professor Augusto Henrique Vito-
rio Grandjean de Montigny". (ENBA)

18 de março. J o b Justino de Alcântara é nomeado professor da cadeira de Arquitetura por falecimento do titular.

:
°6ó, 13 de março. O ministro do Império marquês de Olinda recomenda em seu relatório à Assembléia Legisla-
d a a aquisição dos desenhos de Grandjean de Montigny, existentes na Academia e de propriedade da viúva, por
' o . o o o S o o o . Consta anexo um ofício do diretor da Academia e uma "relação e avaliação dos desenhos do finado
Professor Victor Augusto Grandjean de Montigny, existentes na Academia de Belas Artes". (Morales, p . 263-269)

Bibliografia c i t a d a n a cronologia, n a m e s m a o r d e m :
M O R A L E S D E LOS R I O S F I L H O , Adolfo. Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira. Rio de Janeiro:
Empresa A Noite, 1941.
'nventaire generaldes richesses de fartde France, Paris, monuments civils. Paris, 1879.1.1.
L A P A U Z E , Henry. flistoire dePAcadémie de France à Rome. Paris: Plon-Nourrit, 1924. v. I e I I .
Procès verbauxde lAcadémie de Beaux-Arts, par Mareei Bonnaire. Paris, 1943. t. I I I .
Exp/ication des oeuvres depeinture, sculptnre, archítecture etgravures des artistes vivans, exposés au Musée Napoléon, le 14
octobre 1808, second'anniversaire de Ia Bataille dlena. Paris: Du Bray imprimeur, 1808.
Notice des travaux de Ia Classe des Beaux-Arts de Clnsthut Imperial de France, pourVannée 1814, par Joaquim Lebreton.
Paris, [s.d.].
T A U N A Y , Afonse d'Escragnolle. A Missão artística de 1816. Rio de Janeiro: Publicações da Diretoria do Patri-
mônio Histórico e Artístico Nacional, 1956.
Expljcation des ouvrages depeinture, sculpture, arebitecture etgravure des artistes vivans, exposés au Musée Royaldes Arts,
'e 1" novembre 1814. Paris: D u B r a y , 1814.

Abreviações:
A N = Archives Nationales de Paris
B N • Bibliothèque Nationale de Paris
E N B A = Arquivo da Escola Nacional de Belas Artes - RJ
M N B A = Museu Nacional de Belas Artes - RJ
Documentos
Esta seção é o resultado das pesquisas de Giovanna Rosso dei Brenna em arquivos de Paris, sob patrocínio
do Ministère des Affaires Etrangères da França, e de Alfredo Galvão no Arquivo da Escola Nacional de Belas
Artes.

I - Programme pour les graneisprix darchitecture de l'an 7 donnépar Flnstitut


Aujourd'hui au matin 6 floréal an 7 de Ia Republique les Trois Commissaires des trois sections réunies des arts
de Flnstitut ce sont transportées dans une des salles de Ia cydevant Académie de Peinture et de Sculpture dite de
Lacoon et ont aporte et remis entre les maíns du Cit Le Roy Professeur d'Architecture le Programme suivant.

Programme
pour les grands prix d'Architecture de l'an 7.
Le sujet est un Elysée ou Cimetière public.
Le lieu doit être choisi dans une position agréable, d'un abord facile, et à peu de distance des portes de Ia ville.
Les environs de Mont-martre, de Menil-montant, les bords des rivières de Seine et de Bièvre pourraient offrir
des situations heureuses. Ges positions ne sont indiquées pour exemple, chaque concurrent fera le choix de celle
qui lui paroitra le plus convenable. L'aspect de ce Monument ne doit avoir rien de repoussant, mais inspirer le
respect et le recueillemcnt. II conviendra qu'il ne soit pas entouré de murs, qui en obstruent lavue, mais de ter-
rasses et de plantations, à 1'ombre desquels on puisse se promener.
Au centre du terrain será élevé un Monument d'une forme simple mais grande, lequel será considere comme le
Cenotaphe commun de tous les Citoyens.
II será ouvert de toutes parts et servira d'abri dans les mauvais temps; sous les portiques qui 1'evironneront
seront placés les monuments des hommes illustres de Ia Republique. Le Monument principal devant naturelle-
ment dominer, il será ménagé au dessous une ouverture d'un grand caractère, qui conduira au lieu ou les corps
seront déposés.
II será ménagé dans 1'enceinte des logements convenables pour les Gardicns chargés de recevoir avec décence
les dépouilles des tous les Citoyens, en leur rendant à tous le même devoir.
Dimensions
Le terrain sur lequel 1'EIysée avec ses accessoires será élevé, n'exedera pas dans sa plus grande dimension 500
metres.
On fera pour les Esquisses un Plan General, une Elévation Générale, et une Coupe Générale, sur une echelle
dun millimètre, pour mètre.
Pour les dessins rendus, on fera un Plan General et une Coupe Générale sur une echelle de deux millimètre par
mètre, et en outre le plan, Pélévation, et Ia coupe du monument principal sur une echelle de quinze millimètres,
par mètre.
Les Esquisses terminées invariablement à 1'encre seront remises au Professeur demain
7 floréal à six heures precises du matin.
Les dessins mis au net seront rendus le 25 fructidor prochain, avant midy.
«ait a 1'Institut National le 6 floréal an 7.
Signé Raymond, Pajou, Chalgrin, Vincent, Haoudon, Taunay, Julien, David, Peyre, Dejoux, M o i t t e , Dufourny,
Gondoin.
Le programme cydessus a été confie sur le champ au Surveillant des Ecoles Nationales de Peinture, Scuipture et
d'Architecture, au Cit. Le Roy Professeur... lequel a signé le present registre m ê m e jour et l'an que dessus.

U -Admission définitive de 8 Concurrents aux grands prix a"ArchÍtecture


Aujourd'hui, 7 floréal an 7 de Ia Republique les trois Sections de Peinture, Scuipture et d'Architecture de l'Institut
s
e sont réunies à 10 heures du matin dans Ia salle dite du Lacoon, pour juger les Esquisses faites par les Eleves
o'Architecture d'après le programme d'un Elysée ou Cimetière public, qui leur a été donné le jour d'hier.
Les trois Commissaires nommés pour vérifier, si les Esquisses étaient conformes aux données et aux mésures du
Programme o n t fait leur rapport, d'oü en resulte, que les esquisses exposées étant en general conformes au pro-
êramme, aucune n'est dans le cas de 1'exclusion. Aprés quoi lecture a été faite du programme et les trois Sections
ont procede par Ia voie du scrutin au choix des meilleures Esquisses, qui ont été admises dans Pordre suivant.
Tableau des noms des Concurrents admis à rendre au net leurs dessins et des lettres qui leurs dessins portaient.

Louis Silvestre Gasse dessin marque E 14.VOÍX


Grand-Jean Q 14-
Guignet D 13.
^incent 1 12.
Augustin Famin N 12.
C. Gay C 10.
Jomard X 9.
Pinault M 9.

II -Jugement des Granas Prix de 1'Architecturepour lan 7 de Ia Republique


Procès Verbal de Ia Séance des trois Sections des Arts de 1'Institut National, réunies pour le jugement des Grands
Prix de l'an 7.
A.ujourd'hui 2 Vendemiaire de l'an 8 les Trois Sections de Peinture, Scuipture et d'Architecture de Ia Classe de
Littératurc et beaux-arts réunies aux termes de Farreie de 1'Institut National du 15 Ventose an 5, pour juger les
grands prix de Pan 6, se sont transportées à 9 heures du matin dans Ia salle du Lacoon, ou sont deposés avec leurs
es
quisses les projets d'un Elysée ou Cimetier public qui avait etc (fie) admis au concours le 7 floréal dernier. Les
trois Commissaires nommés précédément pour examiner les dessins au net et vérifier leur conformité avec le
programme et avec Ieurs esquisses font leur rapport d'oü il resulte que les dessins exposés sont en tout point con-
formes aux esquisses et aux dimensionsfixéespar le Programme. Ce rapport est adopté et Í'assemblée prononce,
qu'il n'y a lieu à 1'exclusion d'aucuns concurrents.
Elle passe ensuite à 1'examen des projets exposés, Ia discussion s'établit successivement sur chacun d'eux, et se
prolonge jusqu'au qu'il se trouvant (r/V) suffisament éclairée procede au jugement qui suit.
La première question, y-a-t-il lieu à adjuger des prix?, est décidée par raffirmative à 1'unanimité. La question se-
conde, y-a-t-il à adjuger un premier prix, raffirmative est encore decidée à l'unanimité. II se fait en conséquence
un premier Scrutin pour connaítre lequcl des projets exposés est digne du premier prix. Le résultat du dépou-
illement est que le projet cite de Ia E a merité le Premier Grand-Prix. L'auteur Loius Gasse. Ayant des Prix en
réverve, on a été aux voix pour savoir s'il serait acorde un second Premier-Prix, raffirmative a été unanime. Le
scrutin a accordé se second Premier-Prix, au projet marque de Ia lettre Q. L'auter Grand-Jean. Arrete ensuite
qu'il serait accordé un second prix, le projet marque de Ia lettre D, l'a obtenu.
L'auteur Guignet. On mit en question s'il y avait un second second-prix. Le scrutin a refusé raffirmative et les
membres présents ont signé. David Le Roy, Roland, Julien, Chalgrin, Moitte, Dondon, Vien, Goudoin, Peyre,
Dufourny, Raymond, Dejoux, Renou, surveillant.

IV - Grandjean de Montigtty, rue Favart, n. 12.


1192. Feuilles detachées d'un ouvrage publié sur les édifices de Ia Toscane.
1193. Idem sur les tombeaux des 15 e ió'1™ siècles, en Italie.
1194. Dessins des fragments faisant partie de 1'ouvrage sur Ia Toscane.
1195. Dessins faisant partie des tombeaux de 15 c i6èmc siècles.
1196. Pont execute à Cassei, en Westphalie, en 1812.
1197. Portique servant d'entrée aux grandes écuries, execute à Cassei en 1812.
1198. Fontaine publique execute à Cassei, en 1810.
1199. Plan, coupe et élévation d'une salle destinée à 1'AssembIé des Etats, execute à Cassei, en 1809.
1200. Fragments antiques dessinées à Rome.
1201. Dessins d'une maison executée à Cassei, en 1812.

V - Nota explicativa do Projeto da Praça proposta no Campo de Santa Ana pela Comissão do ano 1827.
Tendo S. M. Imperial designado o Campo de Santa Ana como o lugar mais conveniente para ali se erigir o monu-
mento, a Comissão nomeada pelo limo. Senado olbou como uma Lei sagrada a feliz escolha de S. M. L; mas con-
siderando a imensidade desta Praça, sua irregularidade e a pouca dignidade que apresenta em seu estado atual,
ela julgou dever submeter ao limo. Senado suas reflexões a este respeito, e pensou que um monumento que deve
atestar à posteridade a Glória de S. M. I. e a Gratidão da Nação não devia a desejar no seu todo geral. Ela, pois,
estabeleceu por base de seus Programas, que o Campo de Sta. Ana em seu estado atual não podia dignamente
receber este Monumento, porém que era de toda a necessidade restringir a Praça que o deve receber, para que a
admiração do Público não seja distraída do objeto que se quer expor a suas vistas; que os Artistas, com tudo, na
disposição que adotassem não deveriam esquecer, que a destinação desta Praça exige um vasto espaço para as
evoluções militares e as festas públicas.
E segundo estes dados que dispus o Projeto que tenho a honra de submeter a S. M. I. A Praça que eu proponho é
tal que sua superfície livre apresenta nela só, a reunião das três maiores Praças de Paris. Ela terá duzentas braças de
comprimento por cento e seis de largura. Os Edifícios que a rodearem terão quinze braças de largura, e deixarão
e
ntre si, e os já existentes ao reder do campo de Sta. Ana vasta Rua. A Praça terá quatro entradas principais que
dividirão os Edifícios em quatro partes. A Rua de trás do Hospício tem dado a linha do meio. Será decorada de Pór-
ticos que servirão de passeios públicos, e debaixo destes Pórticos se poderão reunir diferentes ramos de Comércio.
Por esta disposição a Cidade não será mais como é agora, dividida em duas partes: ela oferecerá também mais segu-
rança, e nas funções públicas um mui belo espetáculo para facilitar a sua execução. O Governo poderá dar os seus
terrenos a todos os Particulares, o Governo poderá depois de dez anos, tirar certos direitos sobre a cessão destes
terrenos, cujos produtos poderão servir por antecipação à construção do Palacete, ou tribuna de S. M. I. que deve
necessariamente substituir o existente, pois que, segundo os termos dos Regulamentos S. M. I. deve ter no Campo
um lugar disposto a receber dignamente nos dias de cerimônias públicas. No centro da Praça se levantará o Monu-
mento da Gratidão nacional. Tenho indicado o Plano do n° i° como sendo aquele que exprime mais o sentimento
geral da Nação pela reunião, e a representação das dezenove Províncias do Império oferecendo a S. M. I. suas ho-
menagens, e seus votos. A Praça poderá ser mais ainda decorada com quatro fontes de repuxo que servirão também
a entreter o asseio e frescura. Os Edifícios da Praça deixando entre si, e os quartéis um espaço bastantemente vasto:
tenho ali disposto um caminho triunfal, no centro do qual, e em face da principal entrada da Praça se elevaria um
Arco de Triunfo: dos dois lados seria ornada de bancos decorados de pedestais e no fundo entre as Ruas de S. Pedro
e de S.Joaquim, seria construído um bom chafariz d'água em lugar do atual cuja inconveniente situação não pode
deixar nenhuma pena a sua demolição. Na Rua entre a via triunfal e os quartéis, estariam encostados aos bancos
acima mencionados nove fontes decoradas com emblemas ou representações dos Principais Rios do Império.
Tenho feito dois Desenhos do Palacete, ou tribuna de S. M. I. acompanhados de uma porção da decoração das
Casas das Praça; um representa tal como poderia ser para os dias de cerimônias.
A Decoração das fachadas das casas é diferente nestes dois Desenhos, bem que tenham o mesmo Plano, afimde
deixar a escolha a S. M. Imperial.
Explicação do plano do Fórum Imperial: i - Fórum Imperial da aclamação. 2 - Entradas do Fórum Imperial. 3
H Estátua eqüestre de S. M. I. 4 - Fonte com repuxo de água. 5 - Palacete ou tribuna de S.M.I. 6 - Pórtico de-
baixo do qual se firma a Carruagem de S. M. I. 7 - Átrio ou vestíbulo. 8 - Escada Grande ornada de colunas. 9
- Sala de espera antecedente ao Salão de S. M. 1.10 - Salão de S. M. 1.11 - Quartos de serviço. 12 - Tribuna de
S. M. 1.13 - Pórticos públicos. 14 - Direção das Casas privadas. 15 - Casas dos Ministros de Estado. 16 - Casas
das Câmaras. 17 - Linha dos declívios do Fórum para saída das águas pluviais debaixo do qual serão construídos
canos para condução das águas ao mar. 18 - Passagem da frente das ruas. 19 - Arco triunfal. 20 - Castelo de água.
21 - Bancos e fontes. 22 - Igreja de S. Pedro de Alcântara, Padroeiro do Rio de Janeiro.

Nota: o documento foi redigido e transcrito em Morales de los Rios Filho. Grandjean de Montigny e a evolução da
arte brasileira. Rio de Janeiro: Empresa a Noite, 1941. p. 129 e 286-288.

VI - Atendendo ao bem comum que provém aos meus fiéis vassalos de se estabelecer no Brasil uma Escola
Real de Ciências, Artes e Ofícios, em que se promova e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis
aos homens destinados não só aos empregos públicos da administração do Estado, mas também ao progresso
da agricultura, mineralogia, indústria e comércio, de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos
povos, maiormente neste Continente, cuja extensão, não tendo ainda o devido e correspondente número de
braços indispensáveis ao tamanho e aproveitamento do terreno, precisa dos grandes socorros da estética para
aproveitar os produtos, cujo valor e preciosidade podem vir a formar do Brasil o mais rico e opulento dos Reinos
conhecidos; fazendo-se, portanto, necessário aos habitantes o estudo das Belas Artes com aplicação referente
aos ofícios mecânicos, cuja prática, perfeição e utilidade depende dos conhecimentos teóricos daquelas artes e
difusivas luzes das ciências naturais, físicas e exatas; e querendo para tão úteis fins aproveitar desde já a capa-
cidade, habilidade e ciência de alguns dos estrangeiros beneméritos, que têm buscado na minha real e graciosa
proteção para serem empregados no ensino e instrução pública daquelas artes: Hei por bem, e mesmo enquanto
as aulas daqueles conhecimentos, artes e ofícios não formam a parte integrante da dita Escola Real das Ciências,
Artes e Ofícios que eu houver de mandar estabelecer; se pague anualmente por quartéis a cada uma das pessoas
declaradas na relação inserta neste meu real decreto, e assinada pelo meu Ministro e Secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros e da Guerra, a soma de 8:0328000 em que importam as pensões, de que por um efeito da
minha real munificência e paternal zelo pelo bem público deste Reino, lhes faço mercê para a sua subsistência,
pagas pelo Real Erário, cumprindo desde logo cada um dos tidos pensionários com as obrigações, encargos e
estipulações que devem fazer a base do contrato, que, ao menos pelo tempo de seis anos, hão de assinar, obrigan-
do-se a cumprir quando for tendente aofimda proposta instrução nacional, das belas artes, aplicadas à indústria,
melhoramentos e progressos das outras artes e ofícios mecânicos. O Marquês de Aguiar, do Conselho de Estado,
Ministro Assistente ao Despacho, encarregado interinamente da Repartição dos Negócios Estrangeiros e da
Guerra, assim o tenha entendido, e faça executar com os despachos necessários. Palácio do Rio de Janeiro, 12 de
agosto de 181o, com a rubrica de Sua Majestade.
Relação das Pessoas a quem por Decreto desta data manda Sua Majestade dar as Pensões Anuais abaixo decla-
radas:

Ao Cavalheiro Joaquim Lebreton noooSooo


Pedro Dillon 800S000
João Batista Debret, pintor de história 800S000
Nicolau Antônio Taunay, pintor 800S000
Augusto Taunay, escultor 800S000
A. H. V. Grandjean, arquiteto 800S000
Simão Pradier, abridor 800S000
Francisco Ovide, professor de mecânica 800S000
C. H. Levasseur 800S000
L. Simp. Maunié 320S000
F-Bonrepos 192S000

Somam as onze parcelas oito contos e trinta e dois mil réis (8:032$ooo).
Rio de Janeiro, 12 de agosto de 181o. (a) Marquês de Aguiar.

Vil - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar à V. Exa., em Nome da Congregação dos Lentes da Acade-
mia de Belas Artes desta Corte, que, em sessão geral de hoje, a mesma Congregação, para poder provisoriamente
continuar os seus trabalhos, acaba de reconhecer, como o seu Vice Presidente, ao Lente mais antigo Augusto
Henrique Victorio Grandjean de Montigny. Deus guarde a V. Excia. por muitos anos. Academia das Belas Artes
ein 4 de novembro de 1834. limo. e Exmo. Snr. Antônio Pinto Chichorro da Gama. Félix Emílio Taunay.

VIU - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar à V. Exa. que, no dia 12 de dezembro do corrente ano a
Congregação dos Lentes da Academia das Belas Artes desta Corte, em conformidade com a letra dos Estatutos
lembrada no ofício de V. Excia., com a data de 28 de Novembro p.p., tratando da nomeação para o lugar de
Diretor com as formalidades marcadas no artigo z" do Cap. i° e no artigo 30 do Cap. z" dos mesmos Estatutos,
estando presentes todos os seus membros no número de 7, procedeu a votação por escrutínio secreto, e, passan-
do a conhecer dos votos, achou que o Lente de Arquitetura obtivera dois votos; o Lente de Desenho, hum, e o
Lente de Pintura de Paysagem, quatro; o que forma o total de sete, e conseqüência reconheço como Diretor o
niesmo Lente de Pintura de Paysagem Félix Emílio Taunay; e fazendo-se necessário prover o lugar de secretário
v
ago em resultado da mencionada nomeação, foi escolhido à unanimidade para este exercício o Substituto de
Arquitetura Civil Job Justino d'Alcântara, sendo o mais idôneo para servir nesta qualidade em conformidade
do que determinam os Estatutos. Deus guarde à V. Excia. por muitos anos. Palácio das Belas Artes em 12 de
Dezembro de 1834. limo. e Exmo. Snr. Antôcio Pinto Chichorro de Gama. A. H. V. Grandjean de Montigny
Vice-Presidente.

IX - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar a V. Exa. que a Congregação dos Professores desta Acade-
mia das Belas Artes reunida a 15 e 22 do mês p.p. procedeu na conformidade do aviso do Governo de 25 de abril
de 1S40 ao exame das produções da última exposição, com o fim de, em resultado do mesmo exame, dirigir ao
Governo de Sua Majestade a proposta anual a favor dos artistas da Corte. Semelhante providência já deu frutos
bastante evidentes para que a Academia não se honre de aceitar a responsabilidade que acompanha o exercício
de tão melindroso dever.

Entrando no assunto, Exmo. Snr., uma produção se oferece com primazia visível entre todas; e a observação
atenta confirma esta primeira impressão: he o projecto da Biblioteca Imperial formado pelo professor Grandje-
an de Montigny. Simplicidade e propriedade de caracter, solidez de forma e elegância de decoração, disposição
grandiosa e aspecto summamente monumental, taes são as qualidades que elevam esta obra à categoria das mais
notáveis no seu gênero tal he o fundamento do voto que esta Academia se anima a expressar, que, na falta exis-
tente de hum edifício isolado, adequado às necessidades de uma Biblioteca para a Capital; se lance mão de um
risco tão grandioso e original. A Academia se lisongeia de sentir a convição que, com uma indicação semelhante,
ela atende menos à consideração da pessoa que ao interesse público: entretanto a realização phisica de uma con-
cepção sublime hè a verdadeira recompensa do seu autor.

Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das Belas Artes em 29 de janeiro de 1842.

X - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar a V. Exa. que a Congregação dos Professores desta Aca-
demia, cingindo-se ao parecer do Sr. Procurador da Coroa, Soberania a Fazenda Nacional, sobre a questão de
direito à que dá lugar o requerimento de Augusto Henrique Victorio Grandjean de Montigny incluso no aviso
do secretário d'Estado dos Negócios do Império de 26 de março p.p. informa, sobre a questão de conveniência
da espécie, que, conquanto a Academia sinta muito a perda que se lhe autolha de um professor habilíssimo e go-
zando de uma fama universal, a quem se deve o próprio Palácio das Belas Artes desta Corte, elle não pode fazer
obstáculo e uma pretensão sobejamente fundada; considerando aliás que o nome do mesmo artista não deixaria
de ficar anexo aos Anaes da Instituição, assim como que a tradição do ensino dele será continuado por diversos
discípulos que formou, um dos quais já ocupa o lugar de Professor Substituto da cadeira. Deus guarde a V. Exa.
Palácio da Academia das Belas Artes em 2 de junho de 1843. limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado
dos Negócios do Império. Félix Emílio Taunay.
XI - Tenho a honra de participar a V. Exa. que a Congregação dos Professores desta Academia ocupou-se em
satisfazer, nas sessões de 4 a 15 do corrente mês ao desejo expressado no oficio do Secretario da Uma. Câmara
Municipal de 14 do mês p.p; e, pondo em deliberação o assunto do mesmo, o projeto de Monumento na Praça
Municipal, viu-se logo embaraçada por uma questão preliminar cuja solução é indispensável, pois afeta o objeto
no modo próprio da sua realização: a saber, se é necessário erigindo o monumento entendido sobre os alicerces
destinados para o chafariz, remover a este outro sítio, e se ao contrário, não seria mais belo, e mais conveniente,
como é sem dúvida mais econômico e mais consentâneo a certos precedentes, identificá-los no pensamento e
na execução.
Se se adotar, por exemplo, como emblema comemorativo do desembarque de S. M. a Imperatriz, uma figura da
Beneficência - é esta uma expressão natural das relações que existem entre os entes superiores e a humanidade
~ não seria a abundância d'água no pedestal da estátua, um atributo o mais apropriado possível? Não é a pro-
ximidade de uma fonte viva e perene o maior dos benefícios? E tanto mais, no caso vertente que os moradores
daqueles sítios, os da Rua da Imperatriz e contíguas, assim como os da Praia até a Prainha, contavam já com
semelhante vantagem e se viriam dela privados pelo monumento.
Haveria toda a facilidade em ajuntar exemplos de monumentos cuja base serve como chafariz, em todas as ca-
pitais do mundo. Semelhante circunstância é um penhor de conservação pela utilidade que deles resulta; o qual
afasta toda possibilidade de negligência no futuro e de abandono. Nem há precedente que ligue a lima. Câmara
Municipal à separação lembrada, sendo, como é, a autorização concedida pelo Governo meramente facultativa
e não obrigatória. Portanto, a mencionada Congregação espera que a Uma. Câmara Municipal decida sobre a
questão que faz o objeto da presente comunicação, isto é, a conveniência da reunião dos dois monumentos: re-
solvida que for esta dúvida, a Academia tratará de propor os meios de realização da idéia que se adotar a respeito
do emblema comemorativo do desembarque de Sua Majestade a Imperatriz na Praça Municipal. Deus guarde a
V. S. Palácio da Academia de Bellas Artes em 16 de março de 1844, limo. Snr. Presidente e Vereadores da Uma.
Câmara Municipal. Félix Emílio Taunay.

XII - 1 Imo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar a V. Exa. que, em obediência ao aviso da Secretaria d'Estado
dos Negócios do Império, na data de 29 de abril p.p., relativo ao monumento projetado para a praça municipal
em memória do desembarque de Sua Majestade a Imperatriz, a Congregação dos Professores desta Academia,
nas suas sessões de 4 e 13 do corrente entregou-se ao exame e discussão do assunto, e oferece, em conseqüência,
o risco incluso como expressão aproximativa do seu pensamento. A Estátua representa a Beneficência com al-
guns atributos seus. Tem asas significativas do espaço atravessado. No pedestal há duas ordens de bicas d'água.
A ordem superior acha-se fora do alcance da multidão que pode se ajuntar em derredor do chafariz.
Quanto à execução do projeto e seus meios, passo a apresentar, em nome da mesma Congregação, os aponta-
mentos que se seguem debaixo da forma de proposta.
i. A Estátua da Beneficência, ã qual o chafariz serve de base, será posta a concurso entre os escultores da Cor-
te. Dar-se-á aos concorrentes para o seu estudo todo o espaço de tempo que decorre até a Exposição geral de
dezembro deste ano, apresentando então eles um modelo de gesso do mesmo tamanho da estátua (9 palmos de
alto) para Sua Majestade o Imperador escolher o que sobressair aos outros. O preferido dentre os concorrentes
terá a seu dispor um pedaço de mármore polido para a execução do seu modelo. Determinar-se-lhe-á um prazo
fixo (um ano) e uma gratificação adequada (3:5005000).
2. A Uma. Câmara Municipal tratará desde já de mandar ver um pedaço de mármore estatuário sólido, nas pro-
porções de cinco palmos quadrados sobre 12 de alto. Parece que, para havê-lo de Campos onde consta que existe
este precioso calcáreo, seria mais que suficiente a quantia de 1:5008000: pois consistiriam as despesas todas em
jornais de um bom canteiro que para lá se mandasse e de alguns operários.
3. Conveniente será dar-se começo imediato a construção do pedestal servindo de chafariz, desenhado pelo Sr.
Grandjean de Montigny. A parte cilíndrica superior constará de granitos polidos de Paquetá e S. Cristóvão.
4. No friso contíguo à cimalha da mesma parte superior do pedestal, ler-se-á, em letras de bronze, anteriormente
a divisa Colesti terrarum hopes, e, por detrás, o seu complemento quo sistit, affluunt bom: ambos os membros da fra
se formando um sentido independente do outro, de maneira que o espectador para ler a divisa não seja obrigado
a dar volta do monumento: ambas aplicáveis tanto à augusta Pessoa de Sua Majestade o Imperador, como ao tipo
da Beneficência: oferecendo de mais a mais na expressão affluunt uma alusão à abundância d'água do pedestal.
Debaixo do friso, na parte anterior do pedestal, colocar-se-á a inscrição que principia por In memoriam, e, por de-
trás, a outra que principia por votarunt. O vácuo, nas partes laterais, encher-se-á com algum ornato apropriado-
E escusado dizer que a estatua terá a frente voltada para a cidade.
In memoriam
Faustissini adventus Votarunt
Almae Imperatricis Sebasttanopolitani aediles
Tberezae Mariae Cristinae anno sui muneris:
Die quarta septembris possuere iidem
A.D. MDCCCXLIII quarto
Tais são Exmo. Sr., as diversas partes do projeto; tais as disposições, por cujo meio parece possível apresentar
o monumento pronto e completo para o fim do ano p. futuro. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das
Belas Artes em 13 de maio de 1844. limo. e Exmo. Snr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império.
Félix Emílio Taunay.

XIII - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de remeter a V. Exa. em obediência ao aviso da Secretaria d'Estado dos
Negócios do Império de 25 do mês de setembro p.p. o projeto de retificação e decoração da Praça Municipal
(risco n° i e n° 2 com a noticia explicativa) que a Congregação dos Professores desta Academia oferece à aprova-
ção do Governo de Sua Majestade o Imperador. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia de Belas Artes em 7
de novembro de 1844. limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio
Taunay.
Notícia explicativa dos dois riscos:
Os espaços coloridos de preto (letra A) no risco 1 são os prédios existentes com a advertência de que os que têm
a mesma cor mais leve (A* e A') devem ser comprados pela nação. Os espaços de cor-de-rosa (letra B) no risco n°
1
figuram,as porções de terreno que serão compradas à nação pelos donos dos prédios contíguos ou cedidas aos
mesmos como indenização da exigência de edificarem eles as suas frentes no estilo geral da Praça. O vácuo mar-
cado (letra C) nos dois riscos indica a entrada da Rua da Imperatriz. O vácuo marcado D, nos dois riscos, indica
a entrada projetada para a rua da ladeira do Livramento. A entrada atual da mesma Ladeira traz no risco n-1 a
letra D ! na cor-de-rosa. A letra E indica nos dois riscos o monumento comemorativo do desembarque de S. M. a
Imperatriz. O traço quadrado designa o alicerce já feito. Da colocação do dito alicerce resulta a necessidade da
compra do prédio A' para ficar a Praça regular, como da prontifícação do desembarcadeiro I. Os quadrados F no
risco n° 1 indicam os prédios existentes na Praça: os quadrados F1 a mudança proposta de metade dos mesmos.
Os quadrados G no risco n° 1 indicam as estátuas no lugar em que se acham atualmente: os quadrados G2 indicam
nos dois riscos a mudança proposta de três dos mesmos. O semicírculo J designa no risco n° 1 o desembarcadeiro
atual, o semicírculo maior J indica o desembarcadeiro proposto em harmonia com a Praça. Os degraus L, nos
dois riscos marcam a diferença de nível entre o cais e a parte do meio da Praça. As partes laterais da mesma
descerão para o cais por um plano inclinado. A elevação M nos dois riscos é a decoração proposta para a casa de
fundo da Praça e seus lados para as quatro faces interiores das esquinas da mesma, as duas faces sobre as Ruas
da Saúde, e fachadas opostas a elas. A elevação N, (cuja metade somente aparece de ambos os lados no risco n° 2
por falta de espaço) é a decoração proposta para as duas faces das esquinas da parte do mar. A elevação indicada
Pela letra O no risco 2 é a decoração proposta para as construções indicadas pela mesma letra O no risco n° 1.
Assim a parte central das ditas construções, a que se acha mais aproximada ao monumento comemorativo do
desembarque deixará a este, como mais baixa, todo o valor que deve ter.

XIV - limo. Exmo. Sr. Apresentando-se vários inconvenientes que ameaçam dilação indefinida a realização do
plano de decoração da Praça Municipal, qual fora apresentado por essa Academia aprovado como consta do
aviso de Secretaria d'Estado dos Negócios do Império na data de 21 de novembro do ano p.p., tenho a honra de
remeter a V. Exa. em nome da Congregação dos Professores da mesma, um projeto de modificação do mencio-
nado plano, pela qual eliminar-se-á da ação as vontades individuais dos proprietários confrontantes, e portanto
ficarão removidas as principais causas da demora e hesitação. A atual proposta supõe a formação de um merca-
do à expensa da Uma. Câmara Municipal, consistindo o dito mercado de 35 lojas (com sobreloja DD na planta
anexa) as quais entre grandes e pequenas facilmente se alugarão pelo preço médio de 30S000 mensais, seja por
ano i2:ooo$ooo, mais os quatro sobrados a 4008000 preço médio i:6oo$ooo ao todo rendimento anuo de
14:2008000 mais de 11% do capital a empregar... 128:0008000 conforme o orçamento anexo.
N.B. A casa do fundo da Praça (A na planta) será construída pelo proprietário do canto esquerdo da
Rua da Imperatriz, segundo o plano adotado, cedendo-lhe a Nação o terreno, ou bem a Uma. Câ-
mara Municipal edificará a mesma casa (com área indicada na planta para prevenir qualquer queixa
de se tirar a luz a uma fachada) e achar-se-á uma compensação vantajosa das despesas nos aluguéis
ou enfim demorar-se-á a execução desta parte do projeto e das duas que passo a mencionar. No lado
direito da Rua da Imperatriz ao sair para a Praça (B) tem lugar a mesma alternativa de construção
pelo proprietário ou pela Uma. Câmara Municipal.
O paralelogramo (C) que em parte pertence ao proprietário da casa contígua na Rua da Saúde, for-
mará uma loja, cujo aluguel indenizará ao construtor, devendo-se notar que a plano atual tem a van-
tagem de não se bulir na Ladeira do Livramento a não ser para tornar a sua entrada mais acessível e
suave.
Vê-se pela precedente exposição que a decoração arquitectural da Praça, incluída a ereção do chafa-
riz monumental votado, realizar-se-á por meio de uma especulação excelente em si, por dar mais de
11% do capita] empregado, acrescendo para a Uma. Câmara Municipal a consideração de um cômo-
do imenso para um bairro populoso e para o porto das Embarcações de Comércio.
O r ç a m e n t o da obra da Praça Municipal compreendida a compra de terrenos e construção do chafa-
riz monumental.
A mão d'obra de pedreiros compreendida
Alicerces (79.750 palmos cúbicos) 6:3008000
Paredes externas (146.160 p.c.) i4:ii6Sooo
Cantaria 710008000
Tijolos (6900 a 2 0 $ o o o o milheiro) 13:0008000
Telhas (3900 a 5 0 8 0 0 0 o milheiro) 1:950X000

Primeiras qualidades
Frechais 44 3 2 5 8 0 0 0 cada u m mooSooo
Paus de prunoi5odzs. a 3 6 8 0 0 0 5:4008000
T a b o a d o de canela preta 350 dzs a 36S000 12:6008000
Pernas de serra 82 dzs. a 18S000 1:4768000
Ripas de madeira 246 dzs. a 4 S 0 0 0 984S000
M ã o d'obra de carpinteiro 5:0008000
Grades de ferro 870S000
Ferragens e pregos 1:5008000

72:0968000

Compra do terreno de D. Maria do Amparo


(segundo a avaliação dos Engenheiros da Uma. Câmara Municipal 31:9008000
Indenização aproximada pela benfeitoria nas marinhas contíguas 5:0008000
Construção do Chafariz monumental
(segundo orçamento feito pela Repartição das Obras Públicas 20:0008000

128:9968000

J u r o s a mais de 11% 14:2008000

Pelo aluguel de 35 lojas com sobrelojas e de 4 sobrados nos cantos da Praça.


Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das Bellas Artes em 5 de agosto de 1845.
limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio Taunay Diretor.
XV - limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de remeter a V. Exa., com planta da rua fronteira ao Palácio das Belas
Artes, o risco para as fachadas das casas confrontantes, o qual foi formado pelo Professor d'Arquitetura, em
conformidade do que manda o aviso da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império de 20 do mês de julho, p.p.
Tomo a liberdade de chamar a atenção de V. Exa. sobre a inovação de se cortarem os ângulos ou esquinas das
casas que formarão a encruzilhada da Rua da Lampadosa, e da fronteira ao Edifício: providência esta adotada em
várias Capitais da Europa como tendente a facilitar a circulação. A respeito da mencionada rua nova, oferece-se-
me, na ocasião de apresentar o risco para as fachadas confrontantes, requerer que seja determinada o nome da
mesma em harmonia com sua importância futura, elegância e circunstância do Palácio cuja perspectiva tem de
patentear. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das Belas Artes em 18 de setembro de 1846. limo. eExmo.
Sr. Ministro e Secretario d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio Taunay.

XVI - limo. e Exmo. Sr. Em obediência ao Aviso da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império na data de
22 do mês p.p. tenho a honra de remeter à V. Exa a planta e elevação de um projeto de Chafariz para a Praça da
Benfica, assim como o orçamento respectivo, importando em 1:4278000 reis, soma igual à indicada pela Re-
partição das obras públicas; seguindo na mesma ocasião todos os papéis relativos à mesma construção que me
foram entregues por efeito da Portaria adicional de 27 do mês p.p. O projeto, oferecido pela Academia, pode
apresentar três frentes iguais, ou bem quatro, conforme melhor convier à localidade, sendo em ambos os casos
igual a despesas, pois havendo somente três frentes, a supressão de parte das peças de granito da quarta frente,
corresponderia aos gastos de edificação do paredão indicado no desenho. Em ambos os casos, deve ser recomen-
dada a plantação em covas bem preparadas de duas ou mais árvores frondosas que abriguem a fonte.
Tomo a liberdade de chamar a atenção de V. Exa. sobre a circunstância de formar a construção cujo modelo
apresento, em verdadeiro maciço de granito, vindo a ser garantida a alvenaria central por revestimentos e arestas
todas sólidas. Quanto à resistência, será incomparavelmente superior; e, se a preparação das pedras de cantaria
custa alguma coisa caro, poupa muito obra de colher dos pedreiros, sempre imperfeita a par de caduca. A Aca-
demia está na convicção de entrar no pensamento do Governo Imperial, atendendo, nos projetos monumentais
de que for encarregada, a produzir, com a menor despesa possível, o efeito artístico mais grandioso pela simpli-
cidade das formas e conveniência com ofimentendido, e reunido a estas duas condições todas as contingências
de duração pelo valor dos materiais, afimde que conste no porvir que durante o presente Reinado, não somente
trabalhou-se para remediar os males da atualidade mas cuidou-se também de segurar benefícios a longa série de
gerações vindouras.
O projeto do Chafariz (junto) parece à Academia que, nas suas dimensões limitadas, não desdiz ao programa que
acabo de enviar. Deus guarde a V. Excia. Palácio da Academia das Belas Artes em 9 de novembro de 184o. limo.
e Exmo. Snr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio Taunay. Diretor.
Orçamento da despesa provável com a construção do Chafariz da Benfica, cujo projeto oferece a Academia:
alicerce 1944
{ construção fora da terra 864
Palmos cúbicos
2.808 nors 2808800

4 pilares a 30$ 1208000


Entablamento em duas peças-120 240S000
4frontõesa8o$ 320S000
4socosaioS 40X000
4 pedras de revestimento interior ao tanque a 16$ 64X000
8 pedras do fundo do tanque a 4$ 32S000
8 do lado exterior do tanque 120S000
Sapata geral 508000
Assentamento da Cantaria 80S500
Registros, bicas etc. etc 100S000
14478500
Importa em um conto quatro centos e quarenta e sete mil e quinhentos réis.

XVII - limo. Exmo. Sr. Em obediência ao Aviso da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império em data de 22
de outubro p.p., em aditamento ao meu ofício de 9 de novembro último tenho a honra de remeter a V. Exa. em
nome da Congregação dos Professores desta Academia, dois projetos de Chafariz, para a Rua de S. Clemente
com os respectivos orçamentos: um importando em Rs 2:3788000, e o outro em Rs 3:2088000 soma esta igual
ao custo indicado pela Inspeção Geral das Obras Públicas. Seguem, na mesma ocasião, todos os papéis relativos
à mesma construção que me foram entregues, por efeito da Portaria adicional da Secretaria d'Estado dos Negó-
cios do Império de 21 do dito mês de outubro. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das Belas Artes em 19
de novembro de 1846. limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio
Taunay. Diretor.
Orçamento da despesa provável com a construção do Chafariz.

Chafariz n° i Chafariz n" 2


Maciço para alicerce d'alvenaria 500S000 Maciço d'alvenaria para a base 9008000
Tanque 3008000 Tanque 5808000
Coluna 4608000 Bacia 500S000
Lagedo 728000 T a n q u e de Bicas 500S000
Bicas 508000 Repuxo 2288000
Luto para as juntas 1ÓS000 Lagedo 200S000
Assentamento 508000 Luto para as juntas 50S000
Esfera 9308000 M ã o d'obra para assentamento 1508000

Soma 2:3788000 Soma 3:2088000

X V I I I — limo. Exmo. Sr. T e n h o a h o n r a de participar a V.Exa. que a Congregação dos Professores desta Aca-
demia procedendo, em sessão de 16 do corrente, ao julgamento das obras artísticas apresentadas na última Expo-
sição Geral, segundo determinava o Aviso da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império de 25 de Abril de 1846,
informa ao Governo Imperial que mencionar se deve, entre as Produções superiores às outras iQ pelo Professor de
Arquitetura da Academia Grandjean de Montigny, u m desenho perspectiva (sala 9 n° 5) do projeto da Biblioteca
para a Capital, pertencendo a uma série de aquarelas arquitetônicas de que Sua Majestade o Imperador manda
fazer a aquisição (pelos quais, como por muitas plantas e elevações de projetos para monumentos e chafarizes
que o mesmo arquiteto formou para ordem superior, sobretudo pelos numerosos desenhos, estudados em p o n t o
grande, do Colégio de Santa Tereza, assim como pela consideração de uma longa c honradíssima carreira pro-
fissional cujo brilho reflete sobre esta Institituição), a Academia teria em conta infinita, mesmo no interesse
geral das Belas Artes, que se outorgasse ao mencionado Artista uma recompensa honorífica de grau superior às
costumadas nos casos gerais de propostas consecutivas às Exposições artísticas, 2 0 pelo artista Francisco Renato
Moreaux (sala o n. 34 e seguintes) e pelo Professor Substituto da Academia J o s é Correia da Lima (sala 9, n"' 6,
7,8 e 9) vários retratos recomendáveis, os do segundo pela maior solidez de t o m e pela abundância de cor, os do
primeiro pelos mágicos efeitos de luz e vivo toque de remate, 3 0 enfim pelo Professor Substituto da Academia,
Augusto Müller (sala 9, n. 13), e pelo artista Luiz Buvelot (mesma sala n. 14) dois vistosos quadros da floresta do
Brasil encomendados por ordem de Sua Majestade a Imperatriz; tendo-se ainda oferecido, em segunda linha à
aprovação da Acadêmica um retrato de h o m e m imediato ao n" 33 (sala 10) com agradável efeito de claro escuro,
pelo pintor Lasagna. À vista de que, e sustentando a sua indicação excepcional votada por aclamação a favor
do exímio arquiteto Grandjean de Montigny, a Academia passa a propor respeitosamente que seja concedida a
mercê de uma condecoração ao dito Luiz Buvelot (os outros três supracitados foram anteriormente agraciados)
e que se dê ao mencionado Lasagna uma medalha d'ouro da Exposição. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Acade-
mia das Belas Artes em 18 de janeiro de 1847. limo. e Exmo, Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do
Império. Félix Emílio Taunay. Diretor.

XIX — limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de representar a V. Exa., em nome da Congregação dos Professo-
res desta Academia, que a comissão incumbida da formação das plantas e elevações dos Paços projetados, Impe-
rial e do Senado, segundo o que determina o aviso da Secretaria d'Estado de 23 do mês de agosto p.p, principiou
logo na mesma data os seus trabalhos e está ocupada em continuá-los; e que, à vista da importância dos mesmos
e do tempo que exigem, sobretudo da parte dos membros profissionais da mencionada comissão, tanto o Pro-
fessor d'arquitetura como o seu Substituto, parece justo conceder-lhes gratificações durante o tempo da dita
Comissão, portanto rogo a V. Exa. que se digne de tomar em consideração o expendido, mandando contemplar
os ditos Professores de Arquitetura, Augusto Henrique Victorio Grandjean de Montigny e Professor Substituto
Job Justino d'Alcantara com as quantias mensais que se julgarem adequadas. Deus guarde a V. Exa. Palácio da
Academia de Belas Artes, em 6 de dezembro de 1847. limo. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do
Império Félix Emílio Taunay, Diretor.

XX — limo. e Exmo. Sr. Em obediência ao Aviso da Secretaria d'Estado dos Negócios do Império de n do
corrente mês, tenho a honra de remeter a V. Exa. o risco, em ponto grande de todos os detalhes do Chafariz do
Rocio pequeno da Cidade Nova, projetada pelo nosso Professor d'Arquitetura, e que passa a realizar-se. A peça
do centro da bacia para repuxo d'água marcada pela letra C vem distinguida pela tinta encarnada, assim como o
perfil da escadaria. Notarei que, se alguma parte estiver executada em mármore, será a superior de A até B com
a peça C; entretanto, parece preferível ser o todo C de granito. Acrescentarei que a Academia está pronta a dar
(como é de seu dever, tendo formado o plano) todos os esclarecimentos necessários sobre as dúvidas que pode-
rem aparecer: foi, conforme já o ponderei a V. Exa., entre um desenho em ponto pequeno,e um desenho do ta-
manho da execução, há latitude para muitas diferenças de proporções, capazes de mudar inteiramente o caráter
da obra e de fazerem esvaecer-se o sentimento primitivo do autor. Deus guarde a V.Exa. Palácio da Academia
das Belas Artes em 19 de setembro de 1848. limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do
Império. Félix Emílio Taunay. Diretor.

XXI — limo. Exmo. Sr. Tenho a honra de participar a V. Exa. que tendo a Congregação dos Professores desta
Academia determinado, em várias sessões, as bases dos planos para edificações nas praças da Aclamação, Consti-
tuição, São Francisco de Paula e Rocio da Cidade Nova, cuja formação V. Exa. incumbiu a este Estabelecimento
pelo Aviso de 24 de março p.p., iniciar-se-á atualmente a execução dos respectivos prospectos segundo as disposi-
ções adotadas; e como seja este trabalho positivo uma obrigação extraordinária imposta ao Professor de Arquite-
tura, Augusto Henrique Victor Grandjean de Montigny, rogo a V. Exa., em nome da mesma Congregação, que se
digne de conceder ao mencionado Professor uma gratificação mensal enquanto durar esta comissão que não pode
exceder muito o prazo de quatro meses. Deus guarde a V. Exa. Palácio da Academia das Belas Artes, em 4 de maio
de 1849. limo. Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios do Império. Félix Emílio Taunay. Diretor.

XXII — limo. e Exmo. Sr. Tenho a honra de participar a V.Exa. que, no dia 1° do corrente, faleceu o Profes-
sor Proprietário da Cadeira de Arquitetura desta Academia, Augusto Henrique Victor Grandjean de Montigny,
ficando a respectiva classe entregue à direção do Substituto Job Justino d'Alcantara. Deus guarde a V. Exa. Pa-
lácio da Academia das Belas Artes, em 4 de março de 1850. limo. e Exmo. Sr. Ministro e Secretário d'Estado dos
Negócios do Império Félix Emílio Taunay. Diretor.

Notícia Necrológica sobre Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny (Tradução do francês.


Original na Biblioteca Nacional, Paris)

Uma existência, cuja aurora lançou seus primeiros raios sobre nosso hemisfério, extinguiu-se na primavera
passada no Rio de Janeiro. Foi M. Taunay, diretor da Academia de Belas Artes no Brasil, quem, num discurso
ditado tanto por uma apreciação equitativa quanto por amizade, se encarregou de render uma justa homenagem
à memória de M. Grandjean.
Reproduziremos aqui as principais passagens desse discurso: "Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny,
nasceu em Paris em 15 de julho de 1776, na paróquia de Saint Merry. Nunca tive a ocasião de saber por sua própria
boca de onde lhe vinha este nome de Montigny, um dos mais recomendáveis nos anais da França, pois, na bata-
lha de Bovines, que consolidou, ou antes, que realmente fundou a monarquia, um escudeiro deste nome salvou
a vida do rei Philipe-Augusto. Porém, quaisquer que sejam as relações de família que possam aproximá-lo ou
distanciá-lo desta alta ilustração, o valor moral de nosso amigo não desonraria o mais brilhante nascimento.
O jovem Auguste mostrou, desde seus primeiros anos, tendências ardentes por todas as manifestações de
glória. Esta disposição geral fortificou nele uma predileção inata, uma vocação particular pela arquitetura, por
esta arte que simboliza em pleno ar e de maneira durável todas as grandezas humanas.1
Nós o vemos, ajudado pela amizade e pelos conselhos de M. Percier e Fontaine, estes dois célebres arqui-
tetos, alcançar numerosos lauréis em seus estudos clássicos até 1799, quando recebe o grande prêmio de viagem
para a Itália.
1 Ele fez seus primeiros estudos soba direção de M. Dclannoy.
Nota: Os documentos em língua portuguesa foram transcritos obedecendo às regras acuais de acentuação, por inacessibilidade ai
documentos originais.
A classe das belas-artes do Instituto, ao lhe conceder esta preciosa distinção, pediu, pela primeira vez, em
favor do laureado, a isenção do serviço militar, o que ficou depois estabelecido como regra.
Ele partiu para Roma, em 1802, como o novo diretor da Academia Francesa e foi, então, encarregado dos
trabalhos necessários para a instalação da escola no palácio Medicis, onde nossos pensionistas admirarão agora
com interesse dobrado os traços de sua passagem.
O resultado de seus profundos e conscienciosos estudos foram, no seu retorno da Itália, a publicação dos
doze primeiros cadernos da arquitetura toscana, feitos em sociedade com M. Famin. Esta obra foi interrompida,
em 1810, por sua partida para Westfália onde foi chamado por influência daqueles que dirigiam então a opinião
em matéria de arte. Em recompensa pelos trabalhos que executou em Cassei, a sala dos Estados, entre outros, foi
nomeado, em 1812, primeiro arquiteto do Rei e deu novas provas de seu talento. Citaremos uma porta triunfal,
fontes públicas, restaurações, ou melhor, uma reconstituição completa de grandes partes do palácio do Rei e,
sobretudo, um teatro do qual J.C. Kraft, arquiteto alemão, escrevia em 1822, no seu tratado sobre a arte da es-
trutura: 'Este teatro é de M. Grandjean, discípulo da Academia de Paris, ex-arquiteto do Rei da Westfália, hoje
arquiteto do Rei de Portugal. Podemos considerar o teatro de Cassei como um modelo de perfeição em todas
as suas partes. Lamentamos não ter podido obter os planos e desenhos, mas pensamos render um serviço aos
artistas do Norte ao lhes inspirar o desejo de ir ao local estudar esta obra-prima.'
Tais louvores, independentes de quaisquer cabalas, de qualquer parcialidade, provam o que era este artista a
quem rendemos homenagem, e como foi legitimamente adquirida a confiança ilimitada que lhe conferia o irmão
do grande imperador.
Após as catástrofes de 1814, quando desapareceu o reino da Westfália, M. Grandjean retornou ao país natal
e aproveitou um período de letargia para completar a série interrompida dos monumentos da arquitetura tosca-
na, coleção recomendável especialmente pela nobre escolha dos objetos.
Ele havia projetado de fazer suceder a esta coleção uma com as mais belas tumbas dos séculos XV e XVI e já
a havia iniciado quando ofertas lisonjeiras da Rússia, onde o príncipe Repnin lhe assegurava uma posição, vieram
despertar sua inclinação pela vida ativa. Veio, todavia, a preferir a estas ofertas, aquela que lhe fez o cavaleiro
Brito em nome do Brasil.
Foi assim que foi chamado a concorrer para a fundação desta Academia que hoje chora sua perda. Foi então
encarregado da construção do Palácio das Belas Artes que existe hoje.
O edifícioda Bolsa, que serve atualmente de Alfândega, veiodividir sem, noentanto,fatigá-la,avigÍlância do la-
borioso arquitetoeeste edifício tão vasto foi concluído numa rapidez surpreendente.Nasuainaugu ração, em 1820,
D.João VI outorgou ao artista a Ordem de Cristo e desejou, como prova de sua grande satisfação, tê-lo perto de sua
augustapessoa todo o tempo que durou a festa que lhe foi oferecida pelo corpo do comércio. O aspecto dasalaatual
de expedição de mercadorias causa grande admiração pela beleza de suas proporções, e justifica todos os sinais
de estima que foram dados ao seu autor.
Encantadores pequenos palácios de campo assinalaram, também, o despertar da boa arquitetura neste país...
Em seguida houve uma longa lacuna no trabalho do artista, cujos motivos não especificaremos... que a clemência
da sepultura se contente em nos ver deplorá-los!
Enfim, em 1829, por ocasião do casamento do S. M. D. Pedro I com a imperatriz D. Amélia, nosso grande
professor foi encarregado de levantar, na praça do Palácio, uma decoração composta de um templo ao himeneu
com uma colunata, que lhe proporcionou um novo crédito e teria tido, talvez, uma feliz influência sobre o gosto
geral das construções se, pouco tempo após, não houvessem surgido agitações políticas seguidas dessas grandes
mudanças diante das quais a musa costuma fugir ou calar-se.
Ele ficou alguns anos numa inatividade forçada, mas continuou a enriquecer seu portfólio com numerosos
projetos que teve depois ocasião de oferecer à apreciação dos admiradores, pois, em 1840, foram instituídas
nesta Academia exposições públicas.
Depois desta época, ele trazia cada ano um trabalho de primeira ordem, cuja aquisição, feita sempre por S.
M. o Imperador, honrava ao mesmo tempo o protetor e o protegido.
E assim que existe uma soberba série de aquarelas, incomparáveis pela grandeza de seu pensamento arqui-
tetônico e pela delicadeza de sua execução. A Academia não as deixou passar desapercebidas nos seus relatórios
de exposições e o soberano outorgou ao seu autor, em 1847, o título de oficial da ordem da Rosa, cujas insígnias
tivemos a felicidade de ver brilhar em seu nobre peito.
Depois, sua saúde começou a fraquejar, menos talvez pelo progresso da idade que pelas recaídas de uma
gripe negligenciada. Seus amigos eram atormentados por pressentimentos inquietos. Sua digna companheira
sofria angústias antecipadas ao ver um mal incurável curvar a estatura e tornar pesados os passos de seu esposo;
mas o espírito do artista mantinha-se perfeitamente são, estranho a qualquer abatimento, sua mão continuava
tão firme e sua vista tão aguçada como nos seus melhores dias. Tudo afastava dele, em relação às suas faculdades
intelectuais, a menor suspeita de decadência; nunca fez uma obra mais perfeita, sob todos os pontos de vista, do
que os projetos do palácio Imperial e do Senado, em 1848, votados pelas Câmaras, e dos quais o governo havia
encarregado a Academia de fazer os planos. Se houvessem sido executados, transformariam o aspecto da capital
do Brasil e a fariam mais digna da atenção do viajante."
Após essa descrição da vida e do trabalho do artista, M. Taunay ajunta alguns detalhes sobre a existência do
homem privado:
"Memória, diz ele, memória digna certamente de todas as saudades, de todas as simpatias. Por que não repro-
duziria eu aqui os louvores que lhe fiz ao pé do túmulo onde iria desaparecer sua forma terrestre? Extremoso em
todas as suas afeições, sem excessos incômodos, sem afetação; excelente marido, excelente pai, amigo dedicado...
quem pode sabê-lo melhor do que eu? Eu, que lhe devo a honra de ser diretor desta Academia; quando este posto
ficou vago em 1834, e a eleição teve que ser feita por sufrágio dos professores, de acordo com os estatutos, ele
me cedeu os votos que teve a seu favor.
O título de diretor o honraria, sem dúvida, disse-me ele; mas, por diversas razões, pensava que minha no-
meação convinha mais ao bem do serviço que ao seu próprio interesse, evitava-lhe muitas obrigações custosas
- além disso, alegava seu conhecimento insuficiente do idioma nacional, a distância de sua residência, enfim, sua
generosidade o fez engenhoso ao me provar a oportunidade de seu sacrifício, tanto a abnegação lhe era costu-
meira.
Um dos traços dominantes de sua alma foi a placidez que não o abandonava nunca. Mesmo quando ferido
pela indiferença e pela injustiça da opinião pública. Sua calma era ainda mais notável quando a mediocridade de
seus meios pecuniários o forçavam a restringir suas despesas pessoais no período decrescente de sua existência,
sacrifício penoso, sobretudo para aquele que nutre uma certa queda para o luxo em sua habitação e as amenida-
des da vida. Ninguém pode achar estranha essa disposição num admirador, num produtor do belo e, no entanto,
nós o vimos sofrer esse gênero de privações e muitas outras com uma completa magnanimidade. Uma das fontes
de sua doçura era certamente sua feliz natureza, pois, se foi na adversidade um modelo de amabilidade e mesmo
de resignação, havia oferecido, quando a fortuna parecia favorecê-lo, o exemplo de uma grande liberalidade e de
um contentamento inofensivo.
Contudo, senhores, é preciso reconhecer ainda um outro segredo nesta inalterável satisfação de espírito:
vós o encontrareis no culto das Belas-Artes; quem quer que seja que se entregue por inteiro às suas Musas, que
lhes devote todo o seu tempo não as considera ingratas. Elas não garantem sempre a fortuna e a glória (recusaram
a primeira ao nosso amigo); mas proporcionam prazeres às necessidades complexas de nossa natureza; o belo na
sua graça tocante é o alimento próprio da alma durante sua união com este envelope material.
Antes de terminar este discurso, dirigirei algumas palavras de consolo aos alunos de arquitetura: vós choras-
tes amargamente vosso bom mestre, senhores; agora, satisfeito esse dever, o coração aliviado do primeiro peso
do mais triste pesar, tomem a mais firme resolução de vos consagrar a expandir sua glória, a propagar o culto e a
tradição de suas doutrinas, continuem com o ardor que despertaram em vós tão justos desejos, estimulados pelo
seu exemplo, continuai com energia a vos elevar ao mais alto grau dos vossos estudos. Assim crescerá, se isto
for possível, o renome de nosso amigo, não somente pelo benefício de sua presença nesta Academia, mas pela
perene influência de sua memória."
Uma cidade em questão,

«HHiinn
PUC

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