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REVISÃO REVIEW 239

Avaliação de custo-utilidade como mecanismo


de alocação de recursos em saúde:
revisão do debate

Cost-utility analysis as a mechanism for allocation of


health care resources: a review of the debate

Micaela Moreira Pinho 1,2,3


Paula Alexandra Correia Veloso Veiga 3

Abstract Introdução

1 Faculdade de Ciências Priority setting in health care involves choosing Uma questão que domina as preocupações po-
Econômicas e da Empresa,
Universidade Lusíada,
between alternative health care programs and/or líticas na área da saúde é a de saber como distri-
Porto, Portugal. patients or groups of patients who will receive buir de forma eqüitativa, os cada vez mais, escas-
2 Instituto Superior de
care. Traditionally, health economists have pro- sos recursos da saúde. Os economistas da saúde
Espinho, Espinho, Portugal.
3 Núcleo de Investigação posed maximizing the additional health gain avançaram uma proposta que passa por utilizar
Microeconomia Aplicada, measured in QALYs as a way of setting priorities uma versão do método formal de alocação, da
Universidade do Minho,
and maximizing social welfare. This requires análise custo-efetividade (ACE), geralmente de-
Braga, Portugal.
that the social value from health improvements signada de análise custo-utilidade (ACU), que
Correspondência be a product of gains in years of life, quality of usa os anos de vida ajustados pela qualidade
M. M. Pinho
life, and number of people treated. The results of (quality-adjusted life-years – QALY) como medi-
Faculdade de Ciências
Econômicas e da Empresa, a literature review suggest that potential health da de benefício. A ACU propõe que a alocação
Universidade Lusíada. gain is not a single relevant determinant of value, dos recursos da saúde seja prosseguida de acordo
Rua Dr. Lopo de Carvalho
4369-006, Porto, Portugal.
nor is the rule of maximizing this gain sufficient. com o princípio da maximização dos QALYs, por
michaelapinho@hotmail.com The social value of a health gain appears not to unidade de custo.
be linear in terms of mortality and morbidity, or Os QALY são uma medida de resultado da
neutral vis-à-vis people’s characteristics or the saúde, baseada em preferências sociais, utilizada
ultimate distribution of health in society. In par- nas avaliações econômicas de programas de saú-
allel with the review of the debate on the role and de e de doentes que necessitam de cuidados de
limitation of QALYs for prioritizing health care saúde. A vantagem dessa medida é que combina
resources, the article attempts to justify the con- num simples índice numérico a quantidade de
troversy over some empirical results, particularly vida (mortalidade) e a qualidade de vida (morbi-
in relation to the construction and expression of dade). O custo-efetividade de uma distribuição
social preferences. de recursos em saúde é determinado por compa-
ração entre os QALYs gerados por uma interven-
Health Priorities; Health Resources; Equity ção e o custo associado a este resultado. O custo
por QALY é calculado e comparado entre diferen-
tes programas de saúde e/ou pacientes.
Tradicionalmente, com o objetivo de ma-
ximizar os ganhos de saúde da sociedade, sob
restrições orçamentais, são priorizados os pro-

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gramas com o menor custo por QALY 1. O utili- A tradicional abordagem da


tarismo está implícito nesse método de alocação maximização dos QALY’s
de recursos, ao assumir que o melhor esquema
distributivo é aquele que maximiza o número de Um QALY é uma medida de resultado em saúde.
anos de vida (saudáveis) na sociedade, para um No entanto, como a sua fundamentação teóri-
orçamento, definido em nível macro. ca está alicerçada na teoria da utilidade 3,4 pode
Essa estratégia de avaliação não teve, con- também ser considerado uma medida de utili-
tudo, um impacto direto e/ou significativo nas dade. Em termos individuais não é relevante dis-
decisões de alocação de recursos em saúde. Uma tinguir medida de utilidade de medida de saúde
exceção parece ser a reforma do estado norte- mas, em termos sociais, é. Enquanto medida de
americano de Oregon que experimentou a sua saúde, o resultado total da aplicação de um ser-
implementação, ainda que sem grande sucesso. viço de saúde pode ser avaliado pela soma dos
Uma das razões que parece justificar esse impac- QALYs individuais que gera mas, quando o QALY
to limitado da avaliação econômica, sobretudo é entendido como medida de utilidade surge o
quando aplicada à priorização de doentes (ou problema, já conhecido na literatura, da compa-
grupos de doentes) é o reconhecimento de que ração interpessoal de utilidades.
não incorpora os efeitos distributivos. A maximi- Como refere Bleichrodt 5, na linha de inves-
zação dos QALY’s é encarada por muitos como tigação de Sen 6,7, a incorporação de considera-
uma regra de escolha social conseqüencial que ções distributivas sociais impõe que a utilidade
pouco tem a dizer quanto à multiplicidade de seja uma medida cardinal e perfeitamente com-
direitos que dominam a forma como os stackhol- parável entre os indivíduos. Torrance 8 identifi-
ders pensam o problema das escolhas nesta área. cou diferentes métodos (time-trade-off, standard
A evidência indica que o potencial ganho de saú- gamble, rating scale) de medir a utilidade asso-
de não é a única fonte de valor social, assim como ciada à qualidade de vida que conferem ao QALY
o não é a regra da sua maximização. As preocu- a propriedade cardinal (esta premissa de que os
pações pela justiça e pela eqüidade são conside- QALYs podem ser medidas cardinais válidas para
radas, pela sociedade, igualmente importantes estimar os benefícios de saúde dos doentes tem
nas decisões distributivas. Incorporar a visão da sido amplamente discutida na literatura. Existem
população, enquanto elemento no processo de numerosos problemas associados ao tratamento
tomada de decisões, pode ajudar os decisores a da saúde e da qualidade de vida como algo que
lidar com essa difícil área da alocação de recursos pode ser mensurado em termos cardinais. Para
em saúde e assegurar que as decisões tomadas uma discussão desse assunto ver, por exemplo,
são, se não as ideais, pelo menos as legitimadas Nord 9).
pela comunidade. Na literatura recente procu- Para possibilitar a comparação interpessoal
ram-se formas de aperfeiçoar as metodologias de utilidades, Torrance 8 propôs atribuir um valor
convencionais de avaliação econômica, incorpo- 0 (zero) à morte e um valor 1 (um) à saúde per-
rando-lhes considerações sociais sobre os efeitos feita. O QALY é avaliado numa escala intervalar
distributivos. Muitos investigadores procuram ficando superado o problema da sua agregação.
integrar considerações sociais atribuindo pon- A utilização desses dois pontos fixos (zero e um)
derações aos QALYs e estabelecendo trade-offs pressupõe que a diferença de utilidade entre es-
entre a eficiência e a eqüidade 2. Dependendo da tar morto e perfeitamente saudável é igual para
interpretação dada à igualdade na saúde, essas todas as pessoas. Nesse sentido, o método é igua-
ponderações pela eqüidade podem ser simples- litário no domínio da saúde, na medida em que o
mente aplicadas ao algoritmo da maximização valor da saúde é igual para todos os indivíduos.
dos QALYs, ou podem antes ser incorporadas co- O QALY é uma combinação do valor de dife-
mo um parâmetro de aversão à desigualdade em rentes estados de saúde com a sua duração. Um
função do bem-estar social (relacionadas com a QALY é equivalente a um ano de vida num estado
saúde). de saúde perfeito. Em nível micro, a ACU agrega
Este artigo revê o debate em torno da cons- o número de QALYs ganhos pelos doentes indivi-
trução dos QALYs e suas limitações quando apli- duais de acordo com a regra da sua maximização
cados à priorização de cuidados de saúde, e sin- para um determinado custo. Em termos macro,
tetiza a problemática associada à manifestação para um determinado programa ou intervenção
das preferências da sociedade quando confron- de saúde o valor social de um ganho de saúde
tada com decisões de alocação, que envolvem (excluindo as considerações pela incerteza e pe-
um conflito entre objetivos de eficiência e de las preferências temporais) é o produto de três
eqüidade. fatores:
• Ganho, em termos de esperança de vida;
• Ganho, em termos de qualidade de vida;

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• Número de pessoas que recebem o programa menta com acréscimos de saúde e diminui com
de saúde. a desigualdade no estado de saúde final. Uma
Dentre dois programas de saúde com o mes- distribuição de recursos em saúde é considerada
mo custo será escolhido o mais eficiente – aquele eqüitativa se resultar numa igualdade na saúde
que produz o maior número de QALYs. Isso pres- per capita. Se a saúde é encarada como neces-
supõe que a sociedade deseja, com os recursos sária para que os seres humanos possam “florir”,
disponíveis, maximizar a soma dos benefícios então apenas a igualdade no stock final de saúde
de saúde dos pacientes quando, efetivamente, a garante a mesma oportunidade de alcançar ob-
sua participação só se manifesta numa dimensão jetivos de vida pessoais 10. A sua proposta ainda
(a da qualidade de vida). A evidência contradiz, que, seguida por alguns 2,14, não teve o impacto
porém, essa hipótese. A sociedade não revela desejado porque ao focalizar-se na igualdade dos
preferências distributivas neutrais. Ainda que, as estados finais de saúde deu origem a um prolife-
considerações de eficiência sejam reconhecidas rar de interpretações dimensionais de saúde 15.
pela população como um elemento importante a Alguns autores procuram convencer outros pa-
pesar nas decisões de distribuição dos cuidados ra o uso de diferentes considerações de eqüida-
de saúde, a eqüidade (qualquer que seja a sua de- de como a gravidade do estado de saúde 16 e o
finição) é, em regra geral, considerada essencial fair-inning 2.
nestas decisões. Uma vez que, uma distribuição Uma revisão da literatura permite concluir
justa dos ganhos de saúde não é, necessaria- que quando a ACU é, socialmente avaliada, pro-
mente, a mais eficiente, os decisores enfrentam liferam as considerações de justiça na distribui-
um conflito entre a eficiência (maximização dos ção. No momento de escolher entre programas
QALYs) e a eqüidade (distribuição dos QALYs). A ou intervenções de saúde alternativos(as) e/ou
operacionalização do trade-off entre eficiência entre doentes, as considerações distributivas
e eqüidade é caracterizada por numerosas difi- classificadas como relevantes pela sociedade po-
culdades metodológicas e conceituais. Uma das dem ser sintetizadas em três tipos:
mais significativas está associada à definição de • As que se relacionam com as características
eqüidade em saúde. Nesse contexto, assistiu-se dos efeitos dos tratamentos na saúde dos doen-
nos anos recentes a um proliferar de artigos na li- tes;
teratura da economia da saúde com propostas de • As que se relacionam com as características
princípios eqüitativos alternativos a usar como pessoais daqueles que recebem os tratamentos;
base para refletir as considerações distributivas • As que se relacionam somente com o número
imiscuídas no estabelecimento de prioridades. de pessoas que recebem o tratamento.
Esses princípios incluem, entre outros, a aloca-
ção de acordo com a necessidade 10, a alocação Características dos efeitos dos tratamentos
que assegure a igualdade de acesso 11 e alocações sobre o estado de saúde
que igualizem a distribuição final de saúde 12
(para uma excelente revisão dos conceitos de jus- A abordagem dos QALYs na sua formulação ori-
tiça distributiva e de eqüidade na saúde veja-se ginal acomoda a duração do efeito do tratamento
Williams & Cookson 13). O debate teórico que se sobre a saúde (refletido pela esperança de vida)
segue mostra que é pouco provável que venha a e a alteração na saúde (refletida pela diferença
ser desenvolvido um conceito de eqüidade uni- entre a saúde pós e pré-tratamento). Porém, in-
versalmente aceito. formações sobre o estado de saúde inicial (antes
do tratamento) parecem também constituir uma
fonte de valor social. A ACU reconhece apenas
Potenciais fontes de valor social e suas indiretamente essa preocupação pela gravidade
incompatibilidades com a ACU do estado de saúde. Se os indivíduos que se en-
contram mais doentes são também os que mais
Nos anos recentes, alguns economistas da saúde, benefícios retiram do tratamento, então, e para
dando importância às preferências da sociedade, iguais custos, será dada prioridade a estes do-
começaram a investigar a possibilidade de aper- entes. Mas, se os indivíduos mais doentes são os
feiçoar as metodologias econômicas incorpo- que geram menos ganhos de saúde, a ACU não
rando-lhes a dimensão dos efeitos distributivos. lhes confere prioridade.
Wagstaff 12 foi o primeiro a explicitar o trade-off Ignorar o estado inicial de saúde pressupõe
entre eficiência e eqüidade no domínio da saúde. conferir o mesmo grau de prioridade a indivídu-
Ele propôs a utilização de uma função bem-estar os que venham a se beneficiar do mesmo ganho
social (FBES) para determinar a distribuição óti- de saúde. No entanto, os indivíduos podem partir
ma de QALYs entre diferentes indivíduos (ou gru- de situações iniciais diferentes com conseqüen-
pos de indivíduos) em que o bem-estar social au- tes reflexos em estados finais de saúde também

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diferentes. Alguns autores 17 explicaram em deta- Características dos doentes


lhe por que é que os ganhos de saúde podem não
ter o mesmo valor social, independentemente Existem muitas características dos receptores
do estado inicial de saúde. A evidência empírica dos serviços de saúde que podem ser levadas em
mostra que os QALYs recebidos pelos indivíduos consideração quando se procede ao estabeleci-
mais gravemente doentes são mais valorizados mento de prioridades. Muitos estudos empíricos
pela sociedade. Muitos estudos revelam que as foram conduzidos para determinar em que medi-
pessoas estão até dispostas a sacrificar alguns da a sociedade deseja acomodar essas caracterís-
ganhos de saúde em prol de uma igualização na ticas no processo de racionamento dos cuidados
qualidade de vida na sociedade (por exemplo, de saúde 22. Williams 2,23 defende que as carac-
Dolan 14). Isso vai ao encontro da definição de terísticas pessoais dos doentes devem ser consi-
igualdade avançada por Wagstaff 12 uma vez que, deradas nas decisões de alocação dos recursos.
incrementar a saúde dos mais doentes conduzirá No seu entender, a melhor forma de conciliar os
a uma distribuição final de saúde mais igualitá- objetivos de eficiência e de eqüidade na provisão
ria. A preferência pelos doentes com estados de dos cuidados de saúde é atribuir ponderações
saúde mais graves pode ser interpretada como pela eqüidade aos QALYs. Os QALYs avaliam os
uma variante do rule of rescue 18. benefícios dos cuidados de saúde em unidades
A consideração dessas preferências pelo stock estandardizadas enquanto as ponderações pela
inicial de saúde alarga o conceito de eqüidade eqüidade permitem que a avaliação dos QALYs
que compreende agora a igualdade na saúde se torne mais personalizada relativamente ao
prospectiva em vez da igualdade nos ganhos de receptor 23. As características pessoais que mais
saúde prospectivos. Um novo trade-off entre efi- destaque têm merecido na literatura são a idade
ciência e eqüidade pode emergir quando o do- do doente, o seu papel social e a sua, eventual,
ente com maior gravidade é também o que me- influência no aparecimento da doença.
nos benefícios retira do tratamento. A literatura Embora a medida dos QALYs seja, por vezes,
fala num potencial conflito entre “necessidade acusada de discriminatória contra os doentes
entendida como gravidade do estado de saúde” mais velhos (ageist) é de se notar que no cálculo
e “necessidade interpretada como capacidade de dos QALYs a idade aparece contemplada apenas
benefício” 10. de forma implícita. A esperança de vida é que é
Para além da gravidade do estado de saúde a o elemento constituinte dos QALYs e, por ine-
sociedade parece também sensível às limitações rência, a idade. Uma vez que, às idades mais jo-
no potencial ganho de saúde por parte de alguns vens está, freqüentemente, associada uma maior
pacientes. Harris 19 acusa a ACU de discrimina- esperança de vida, coloca-se a questão se será
tória contra os doentes crônicos e/ou incapacita- legítimo privilegiar as faixas etárias mais jovens
dos. De dois pacientes com o mesmo stock inicial como decorre da aplicação da ACU. Pode acon-
de saúde, a ACU dará preferência àquele que re- tecer que exista uma preferência pela idade per
velar maior capacidade de se beneficiar do tra- se. A evidência mostra que, quando o ganho de
tamento. Porém, a evidência revela que a socie- saúde é o mesmo e a idade dos doentes é dife-
dade não deseja discriminar os doentes de acor- rente, a sociedade tende a preferir um indivíduo
do a sua “função produção” (ver Dolan et al. 20 a outro em função apenas da idade. A literatura
para uma revisão dos trabalhos empíricos). contempla duas linhas de pensamentos sobre a
Essas considerações pela gravidade da doen- discriminação pela idade. Uma baseia-se na efi-
ça e pelo potencial ganho de saúde podem ser ciência e a outra na eqüidade. Tsuchiya 24 enqua-
incorporadas em modelos de valorização numé- dra essas preferências em três tipos de ageism:
rica, multiplicando os ganhos de utilidade no health maximization ageism (HMA); productivity
modelo convencional dos QALYs por pondera- ageism (PA) e fair-inning ageism (FIA). O HMA é
ções que refletem a gravidade do estado de saúde compatível com o algoritmo da maximização dos
inicial ou o potencial ganho de saúde por parte QALYs na medida em que a valorização atribuída
do doente 21. Em particular, a abordagem visa a a cada unidade de saúde é constante com a ida-
suplementar a convencional ACU, substituindo de. Dentre dois doentes será conferida, segundo
as utilidades (pelos estados de saúde) por valo- o HMA e ceteris paribus, prioridade ao mais novo
res com uma forte compressão da parte superior simplesmente porque se assume que se benefi-
da escala de intervalo (0-1). Essa metodologia, ciará do ganho de saúde por mais tempo. O PA
baseada na técnica de compensação de pessoas atribui ponderações pela idade que refletem a
(person-trade-off), foi designada de Análise Custo relação entre a idade do paciente e o seu papel
Valor 21. social. Assim, será atribuída maior ponderação
aos jovens que aos idosos porque se entende
que a contribuição que os jovens exercem para

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o bem-estar social é superior. Adicionalmente, as espera atinjam (ou ultrapassem) este fair-inning.
crianças e, geralmente, os idosos precisam que o A partir do FIA será dada prioridade aos mais
resto da sociedade lhes confira suporte financei- novos porque, ceteris paribus, se beneficiaram
ro, emocional e físico 25. de menos QALYs. De igual modo, o FIA atribuirá
O conceito de contribuição aqui utilizado é um valor relativamente maior a alguém oriundo
bastante vasto na medida em que extravasa a me- de um meio mais desfavorecido porque, ceteris
ra produtividade (subjacente à teoria do capital paribus, será de se esperar que venha a se be-
humano) para contemplar o papel que os indiví- neficiar de menos QALYs ao longo da vida que
duos têm no bem-estar de outros, nomeadamente, outrem de origens mais favoráveis. A teoria ma-
sobre os dependentes. O PA confere valorizações ximin de Rawls 27 constitui a manifestação mais
sociais em função do ciclo de vida ou das etapas extrema deste argumento. O fair-inning também
da vida do doente. Os primeiros anos de vida são se manifesta num argumento menos extrema-
conotados com valorizações sociais baixas, que do – double joeopardy promovido por Harris 19
aumentam na fase adulta para depois voltarem e alterado por Singer et al. 28 que defendem um
a decrescer na fase da velhice. Nesse sentido, os gênero de compensação pela vida difícil que se
indivíduos em idade ativa devem receber maior teve o “azar” de ter. A idéia é que os indivíduos
prioridade. Essa forma de ponderação pela idade que já experimentaram significativos “azares” na
encontra uma aplicação prática no cálculo dos vida não devem ser adicionalmente penalizados
disability-adjusted life years (DALYs) ou burden com o estatuto de “maus” candidatos a receber
of disease 26. Investigações empíricas que procu- cuidados de saúde.
raram inferir sobre o parecer da sociedade sobre A complexidade inerente à definição do con-
esse tipo de ageism requerem alguma cautela na ceito de eqüidade na saúde não se esgota com
análise. Os resultados parecem depender muito a diversidade de princípios distributivos avan-
da forma como as questões são expressas. Se, por çados, mas estende-se à possibilidade de estes
um lado, as pessoas revelam menos sensibilidade argumentos virem a colidir entre si. Por exemplo,
pelo argumento do papel social do que pelo da poderá haver situações em que as abordagens
idade, por outro, a maioria dos inquiridos recu- da gravidade do estado de saúde e do fair-inning
sa discriminar doentes com base no seu papel resultem na mesma ponderação dos QALYs, mas
econômico na sociedade, mas desejam priorizar outras existirão em que tal não acontece e os re-
aqueles com dependentes a seu cargo ou com ou- sultados serão diferentes. O FIA tem a particula-
tras responsabilidades sociais (ver Dolan et al. 20 ridade de levar em consideração não apenas os
para uma revisão dos trabalhos empíricos). O ganhos de saúde futuros como também o mon-
FIA deriva de um princípio ético intergeracional tante de QALYs de que a pessoa usufruiu até o
avançado por Williams 2 que defende que uma momento da tomada de decisão sobre a distri-
distribuição de cuidados de saúde é considera- buição dos recursos. Isto requer um conhecimen-
da eqüitativa se garantir uma igualdade na es- to detalhado do historial de vida dos indivíduos.
perança de vida entre os indivíduos. Isso é, as O argumento da gravidade do estado de saúde só
ponderações pela idade devem refletir o direito inclui preocupações pelos doentes que estão em
que os indivíduos têm de se beneficiar, em ter- pior saúde atualmente e/ou no futuro. Se, por
mos médios, de um determinado perfil de saúde exemplo, (adaptado de Nord 29) dois indivíduos,
caracterizado por uma esperança média de vida ambos com 65 anos, em que um (A) foi sempre
ao nascer (70-75 anos nas sociedades ocidentais) saudável e agora apresenta um problema de saú-
e uma determinada qualidade de vida, diferente de que lhe permite viver com uma qualidade de
em cada uma das etapas da vida. O argumento vida avaliada em 0,6, enquanto o outro doente
original visava apenas à esperança de vida, mas (B) sofreu sempre de problemas de saúde (viveu
Williams 2 reformulou-o acrescentando a qua- sempre num estado de saúde avaliado em 0,8),
lidade de vida por entender que uma existên- mas um problema de saúde atual coloca-o num
cia vivida com sofrimento não pode ser consi- estado de saúde 0,7, concorrem a um tratamento
derada igual a outra vivida com saúde perfeita. que gera o mesmo ganho de saúde em ambos, a
O trade-off entre eficiência e eqüidade im- qual deve ser dada prioridade? O argumento éti-
plícito nesse argumento do fair-inning manifes- co da gravidade de doença confere prioridade ao
ta-se na contraposição entre uma igualdade na indivíduo A porque se encontra numa situação
esperança média de vida e os ganhos de saúde inicial pior que a do doente B. Porém, pelo prin-
extra produzidos pelas intervenções. Segundo cípio do fair-inning, deve ser atribuída priorida-
Williams 2, os anos de vida ganhos pelos indi- de ao indivíduo B, por ter se beneficiado ao longo
víduos que enfrentam menos que o fair-inning da vida de pior saúde que A. Essa dicotomia entre
devem ser mais valorados (maior ponderação) gravidade do estado de saúde e fair-inning pode,
que os anos de vida ganhos por pessoas que se ainda, ter um impacto significativo em termos

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políticos quando um jovem moderadamente do- tantivas”, teoria que defende que justiça implica
ente concorre a um tratamento com um idoso compensar as pessoas por problemas que não
gravemente doente. sejam da sua responsabilidade, mas não pelos
Muitos estudos empíricos foram conduzidos que sejam provocados por elas. Algumas críticas
para tentar saber se a sociedade encara a idade co- foram apontadas a essa teoria. Uma delas, por
mo um critério a ter em conta no momento de es- exemplo, sustenta que a igualdade de oportuni-
tabelecer prioridades na saúde (ver Dolan et al. 20 dades define justiça sem misericórdia por não
para uma revisão dos estudos empíricos). Ain- contemplar situações em que as pessoas tomam
da que, muitos estudos confirmem que as pes- decisões das quais se venham a arrepender 13. Ol-
soas consideram a idade dos doentes um fator sen et al. 22 referem que, mesmo quando a doen-
relevante no momento de avaliar programas de ça se deve a causas endógenas, raramente pode
saúde, esta evidência é contraditória. Enquanto ser atribuída inteiramente às ações do próprio
alguns trabalhos não refletem preferências pela indivíduo.
idade (por exemplo, Nord et al. 30) a grande maio- A evidência dá conta de algum suporte pe-
ria confere aos ganhos de saúde dirigidos a ido- la idéia de que os cuidados de saúde devem ser
sos um menor valor social. Essa diferença de opi- distribuídos em primeiro lugar aos doentes que
niões pode ser explicada pela redação e/ou pelo não têm qualquer responsabilidade por esta ne-
contexto das questões. Os inquiridos parecem, cessidade (ver Dolan et al. 20 para uma revisão
por exemplo, mais preparados para aceitar uma dos estudos empíricos). Essa idéia não é, porém,
discriminação positiva em favor dos jovens que consensual. Alguns estudos mostram que os in-
uma discriminação negativa contra os idosos 31. divíduos que não aceitam o estilo de vida como
Adicionalmente, parece conveniente salientar fator de ponderação na atribuição dos recursos
que as preferências em matérias tão subjetivas da saúde se opõem veementemente à sua consi-
como as características pessoais variam em fun- deração para fins de priorização 38. Outros traba-
ção dos parâmetros culturais da sociedade. Não é lhos revelam que as pessoas não só não querem
por isso de estranhar que as preferências variem discriminar os indivíduos que têm comporta-
de país para país. Um estudo conduzido no Brasil mentos de risco como ainda parecem dispostas
revela que os idosos são priorizados relativamen- a recompensá-los 39. Nos países onde a saúde é
te aos jovens porque se considera que são mais considerada um direito e não um bem público,
fracos e que precisam de mais atenção 32. Estudos o estilo de vida dos doentes é, em geral, conside-
feitos no norte da Europa (Suécia, Holanda e Fin- rado irrelevante para fins de racionamento dos
lândia) mostram uma tendência para priorizar cuidados de saúde 39.
os jovens contra os idosos 33 , o que já não sucede A interpretação das preferências da socieda-
na Austrália 30. Uma limitação comum à maioria de a favor dos doentes com estilos de vida sau-
dos estudos desenvolvidos é que não distinguem dáveis requer algum cuidado, uma vez que, pode
as considerações da idade das da duração do be- manifestar preocupações de eficiência (doentes
nefício enquanto fontes separadas de valor. Isso que seguem um modo de vida saudável tendem
dá origem a que quando os resultados indicam a apresentar maior potencial de benefício) ou
uma preferência pelos jovens em detrimento dos atitudes meramente moralistas contra modos
idosos fique por esclarecer se esta prioridade se de vida. Uma razão ética que pode justificar a
justifica por razões de eficiência ou de eqüidade. ponderação dos QALYs em função do estilo de
A relação do doente com a (causa da) doença vida é a noção de benemerência. De acordo com
parece ser outro atributo considerado determi- o princípio da distribuição conforme o mérito, as
nante do valor social conferido aos ganhos de ações passadas refletem-se no direito conferido
saúde. Segundo LeGrand 34, se a doença de um ao indivíduo sobre determinada dotação de saú-
indivíduo resulta de fatores fora do seu controle de. A sociedade pode punir os indivíduos com
a situação não é eqüitativa, mas já o será se for comportamentos de risco com base no argu-
o resultado de elementos sobre o seu controle. mento moral que sustenta que temos o dever de
Também Edgar et al. 35 defendem que os QALYs buscar um modo de vida saudável – healthism 40.
ganhos do tratamento de uma doença que resul- Esse dever é tão mais relevante quanto mais pro-
tou de comportamentos de risco do próprio do- nunciado é o argumento econômico que refere
ente (como fumar ou beber, por exemplo) devem que as pessoas devem evitar o uso desnecessário
ser menos valorados que os resultantes do trata- de serviços financiados pelos seus concidadãos.
mento de doenças que surgiram naturalmente. A Numa contribuição posterior, LeGrand 34 propôs
ênfase está em saber se a causa da doença resulta que o conceito de igualdade de oportunidades
de uma escolha individual ou se é exógeno ao fosse restrito ao campo do financiamento dos
doente. LeGrand 36 e Roemer 37 definem eqüida- cuidados de saúde. Na sua opinião, o financia-
de enquanto “igualdade de oportunidades subs- mento dos cuidados de saúde (e não a sua pro-

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visão) é que deve ser usado para discriminar os réplica desse estudo, Ubel et al. 42 notaram que,
indivíduos que não exercem a oportunidade de as preferências pelo programa menos efetivo já
serem saudáveis. Dolan & Olsen 15 discordam da não são tão acentuadas quando este não pode ser
definição de um princípio geral que atribua me- oferecido a toda a população.
nos valor aos ganhos de saúde futuros em função Uma forma de incorporar as preferências dis-
dos comportamentos do passado. São da opinião tributivas na ACU é por meio de FBESs. A FBES
que as ações do passado só devem ser conside- contribui para o processo de estabelecer priori-
radas para efeitos de distribuição de ganhos de dades entre doentes porque ao atribuir uma va-
saúde futuros se forem prosseguidas de forma lorização decrescente a cada ganho adicional de
continuada e reiterada. saúde recebido pelo mesmo indivíduo 12 permite
Uma forma de introduzir na ACU as preferên- incorporar as preferências sociais pela dispersão
cias sociais pelas características pessoais dos do- dos ganhos. Estimando a FBES é possível obter
entes é recorrer a ponderações. Essas permitem o grau de aversão à desigualdade da sociedade.
que os ganhos obtidos a partir de um programa Essa abordagem foi, porém, questionada por só
de saúde sejam, no momento da agregação, pre- contemplar preferências pela dispersão dos be-
viamente ponderados em função, por exemplo, nefícios quando estudos indicam que os inqui-
da idade ou de outros atributos pessoais. ridos não mantêm um padrão de preferências
distributivas estável. Dependendo do número de
Número de pessoas que recebem o QALYs em causa, os indivíduos podem passar de
tratamento difusores para concentradores (na terminologia
de Olsen 43) e vice-versa. Olsen 43 sugere que as
O algoritmo da maximização dos QALYs não dis- preferências pela difusão ou concentração dos
tingue entre uma distribuição difusora dos ga- benefícios podem ser “contaminadas” por quatro
nhos de saúde por muitos beneficiários ou uma considerações: (i) preferências puramente eqüi-
distribuição que concentra os mesmos ganhos tativas, (ii) preferências temporais, (iii) aversão
em poucos doentes. Na comparação entre pro- ao risco e, (iv) ganho mínimo individual (thresold
gramas de saúde, a ACU ignora as diferenças na effect). As preferências temporais e as puramente
distribuição de um ganho total de saúde entre eqüitativas determinam a opção pela dispersão
os doentes. Contudo, atribuir, por exemplo, 100 dos ganhos, enquanto a concentração é a forma
QALYs a um indivíduo pode não ter o mesmo va- distributiva escolhida pelos indivíduos que apre-
lor social que conceder 1 QALY a 100 indivíduos sentam um perfil de aversão ao risco e/ou se o
ou 5 QALYs a 20 pessoas (ainda que o ganho total ganho individual é inferior a um determinado
seja o mesmo). A evidência empírica mostra que montante considerado mínimo 43. Por exemplo,
a sociedade não é indiferente entre esses dois Choudry et al. 44 concluíram que 56% dos inqui-
perfis distributivos, preferindo o programa de ridos preferem um programa que proporciona 20
saúde que beneficia mais doentes ou que reparte anos de vida a 500 pessoas a outro que garante a
os benefícios de forma mais igualitária entre a 10 mil pessoas um ganho individual de apenas 1
população. O trade-off entre eficiência e eqüida- ano. Contudo, somente 30% dos inquiridos re-
de traduz-se, nesse caso, entre programas que velam preferir um programa que beneficia, indi-
maximizam os ganhos de saúde e aqueles que vidualmente, pessoas com 20 anos contra outro
os distribuem de forma mais igualitária entre a programa que garante um ganho individual de 5
população, mesmo que isto implique um menor anos a 4 mil indivíduos. Rodríguez-Míguez & Pin-
ganho total. Ubel et al. 41 concluíram que, den- to-Prades 45 reiteram essa idéia e propõem uma
tre dois programas preventivos, a maioria dos FBES que permite conciliar, simultaneamente,
inquiridos prefere aquele que previne menos preferências pela dispersão e pela concentração,
mortes (menos efetivo) mas que pode ser ofe- combinando as seções côncavas e convexas da
recido a toda a população. O mais interessante função utilidade. O estudo que conduziram per-
desse trabalho é que um dos grupos inquiridos mitiu confirmar que os inquiridos pretendem
era composto por membros de uma organiza- dispersar os ganhos por muitos indivíduos des-
ção que desenvolve técnicas para a avaliação do de que o ganho individual seja superior a nove
custo-efetividade dos serviços de saúde (Society anos (threshold gain), caso contrário preferem
of Medical Decision Making – SMDM) e, também concentrar os anos de vida ganhos em poucos
destes, quase metade (41%) optou pelo progra- doentes.
ma menos efetivo. Esses técnicos mostraram-se
desconfortáveis com as implicações distributivas
associadas à maximização da saúde, quando ma-
ximizar o número de vidas salvas implica a dis-
tribuição desigual dos cuidados de saúde. Numa

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Natureza das preferências sociais contradições 47. A evidência é mista e parece re-
sultar tanto de enviesamentos cognitivos quanto
A evidência acumulada sugere que as pessoas de valores profundamente suportados. A razão
rejeitam a ACU como única forma de alocar os parece estar nas técnicas adotadas para obter as
escassos recursos da saúde. Os temas recorren- preferências da sociedade. As diferentes técni-
tes na literatura parecem convergir para o con- cas que podem ser usadas para obter os valores
ceito Aristotélico de eqüidade vertical – no qual da população são, geralmente, classificadas em
indivíduos considerados diferentes devem ser quantitativas e qualitativas (ver Ryan et al. 48 para
tratados de forma diferenciada – quando dão uma excelente revisão das técnicas usadas).
conta da necessidade sentida pela população A maioria dos trabalhos empíricos citados
em atribuir, no momento da provisão de cuida- até o momento recorreu a métodos quantita-
dos de saúde, maior prioridade a alguns grupos tivos, sobretudo a inquéritos ou questionários
de pessoas às expensas de outros. Isso sugere para recolher dados primários sobre os valores
que o estabelecimento de prioridades deve in- atribuídos pela população ao trade-off entre efi-
corporar tanto as necessidades da população ciência e eqüidade. Essa metodologia embora
quanto as medidas de eficiência e os valores seja menos dispendiosa e permita a recolha de
sociais de alocações alternativas. Porém, a par mais dados, tem levantado alguma contestação e
da problemática até agora retratada da necessi- vários problemas práticos continuam sem reso-
dade de estabelecer prioridades, por um lado, e lução. Os métodos quantitativos aceitam impli-
das limitações técnicas da avaliação econômica citamente que os indivíduos exibam preferências
para o fazer, por outro, proliferam na literatu- “bem formadas”, completas e presumivelmente
ra outros assuntos mais gerais, mas igualmen- estáveis. Porém, existem razões que fazem crer
te pertinentes para a questão principal. Desde que as preferências não são bem-comportadas.
logo, polarizou-se a discussão em torno do pa- Os pressupostos e simplificações subjacentes aos
pel legítimo que as preferências da comunida- métodos quantitativos têm suscitado intensos
de terão no estabelecimento de prioridades 46. debates na ciência comportamental e na comu-
Quem deve ser envolvido no processo de estabe- nidade econômica sobre a sua validade. Lloyd 49
lecer prioridades (os doentes?, os cidadãos em numa revisão sobre a natureza das preferências
geral?, os políticos?, ou os prestadores de cuida- declaradas recomenda que os economistas da
dos de saúde?) é outra questão freqüentemente saúde estejam mais atentos à forma como os
debatida 46. Preocupações de caráter metodoló- seus inquiridos tomam as decisões. Uma vasta
gico procuram saber como obter as preferências literatura psicológica e sociológica demonstra
da sociedade e se quando declaradas são, efeti- que os valores sociais mudam significativamente
vamente, válidas para poderem ser incorporadas de acordo com variações no processo de revela-
nas decisões de racionamento dos cuidados de ção das preferências 50. Investigadores compor-
saúde. Uma exposição, ainda que breve, de to- tamentais têm denunciado a importância dos
das essas temáticas aumentaria a extensão deste processos cognitivos para a tomada de decisões.
artigo para além dos limites considerados razo- Uma vasta literatura tem sido produzida com o
áveis. Nesse sentido, limitar-nos-emos ao longo intuito de descortinar anomalias cognitivas que
do restante do trabalho à última questão (se as parecem explicar o desvio das preferências de-
preferências da sociedade realmente existem) claradas pelos princípios enunciados pela teoria
por ser a que ultimamente tem recebido maior econômica (trabalho fundamental desenvolvido
atenção por parte dos investigadores de diversos por Kahneman e Tversky sendo exemplos, Kah-
quadrantes científicos. neman & Tversky 51 e Tversky 52). Kahneman &
A manifestação das preferências da socieda- Tversky 51 descobriram que os decisores são sen-
de pelo estabelecimento de prioridades e aloca- síveis ao contexto e ao processo, são inconsis-
ção de recursos em saúde constitui um dos maio- tentes na formulação das suas percepções e no
res desafios colocados aos economistas da saúde. processamento da informação e recorrem, fre-
Um número significativo de estudos empíricos qüentemente, à heurística.
tem sido conduzido por economistas da saúde (e Alguns temas enfatizados pelos psicólogos
outros investigadores) com o propósito de averi- cognitivos são a complexidade, a familiaridade, o
guar se as pessoas aceitam trocar ganhos de saú- risco associado às escolhas a fazer (ver, por exem-
de por outras considerações, desde a gravidade plo, Ajzen 53) e o “efeito de contexto” (framing
da doença ou o potencial ganho de saúde, pas- effect) (ver, por exemplo, Schweitzer 54). Slovic et
sando pelas características pessoais dos doentes al. 55 observaram que as preferências ou crenças
até a agregação dos benefícios num determinado sobre eventos de alguma complexidade não são,
número de beneficiários. Uma análise cuidada geralmente, declaradas mas sim construídas no
desses resultados parece indiciar a existência de momento da geração da resposta. Se as preferên-

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cias não são completas então terão de ser cons- to de Broome 60 que defende a consideração de
truídas no momento em que são declaradas. Os laudered preferences, isto é, preferências moral-
indivíduos podem construir as suas preferências mente e eticamente justificáveis. O propósito do
com base em informação detida previamente empirical ethics tem muito em comum com a de-
e/ou da, entretanto, facultada e, possivelmente, mocracia deliberativa sobretudo quando defen-
baseando-se em estratégias cognitivas e atitudes de que políticas com importantes conseqüências
sociais. As estratégias cognitivas podem influen- éticas devem ser submetidas a vigorosos debates
ciar o processo de construção das preferências morais e ao criticismo.
de diferentes formas. É possível, por exemplo,
que os indivíduos respondam de forma diferen-
te quando se encontram inseridos num grupo e Conclusão
quando estão sozinhos 56. Isso é especialmente
significativo uma vez que diferentes respostas A revisão apresentada parte do princípio que o
dão origem a ponderações pelos atributos tam- racionamento explícito é uma necessidade ca-
bém diferentes. Adicionalmente, as preferências da vez mais evidente. O problema surge com a
podem ainda ser enviesadas pela aversão a po- definição do método de estabelecer prioridades.
tenciais perdas ou a favor do status quo (ponto Um setor importante do pensamento econômi-
de referência) 54. co considera, em linha com a interpretação eco-
Os economistas da saúde estão cada vez mais nômica de eficiência, que a alocação ótima dos
conscientes do hiato existente entre a abordagem recursos em saúde é aquela que maximiza a saú-
econômica e a abordagem psicológica dos indiví- de esperada da população. O método sugerido
duos na tomada de decisões sobre a alocação dos contrapõe os custos com os benefícios derivados
recursos da saúde. O grande desafio colocado aos dos programas de saúde – ACU. Porém, a saúde,
economistas da saúde está em eliminar a incom- em geral, e os cuidados de saúde, em particular,
patibilidade que parece existir entre o requisito são um setor sensível e fonte de discussão ética
econômico de estimar trade-offs precisos e a ca- e moral. Sendo a saúde, por muitos, considera-
pacidade psicológica dos inquiridos em pensar da um direito ou um bem público parece legíti-
na eficiência e na eqüidade de forma tão estreita. mo que a sociedade tenha um papel consultivo
Esse exercício requer, por um lado uma maior na alocação dos recursos da saúde. A evidência
sensibilidade da teoria econômica para as suti- indica que o parecer da população se afasta do
lezas psicológicas e para a sensibilidade ao con- objetivo maximizador da saúde para outros crité-
texto imiscuído nas preferências dos indivíduos rios distributivos, como a igualdade de acesso, os
e, por outro, exige métodos mais sofisticados de efeitos dos tratamentos, as características pesso-
revelação das preferências que sejam capazes de ais dos doentes e/ou o número de beneficiários
separar as considerações importantes das que dos cuidados médicos. Isso levanta considerá-
possam eventualmente “contaminar” as respos- veis problemas aos decisores econômicos e aos
tas. Os investigadores começaram a responder prestadores de cuidados de saúde no momento
a esse desafio combinando métodos quantitati- de definir prioridades. Um deles prende-se com
vos de declarar preferências com métodos qua- a necessidade de desenvolver uma metodologia
litativos 47,57. As técnicas qualitativas têm, entre suficientemente eclética capaz de incorporar
outras, a vantagem de desviar os inquiridos do considerações de eficiência e valores sociais. Ou-
seu interesse pessoal em prol de uma perspec- tro problema resulta da própria natureza das pre-
tiva impessoal e, para além de concederem aos ferências declaradas. As opiniões não só não são
inquiridos mais tempo para refletirem nas ques- unânimes (sendo até por vezes contraditórias)
tões e deliberarem sobre as respostas, permitem como, freqüentemente, as preferências não são
recolher informações sobre as razões subjacen- bem formadas ou variam em função do contexto
tes às escolhas efetuadas. A evidência empírica da análise. Essa limitação na quantificação dos
mostra que o parecer das pessoas sobre o esta- valores psicossociais na saúde impede que sejam
belecimento de prioridades é, sistematicamen- conhecidas as reais considerações distributivas
te, diferente quando lhes é dada a oportunidade que as pessoas querem ver refletidas no momen-
de discutir o assunto 58. Em conformidade com to da alocação dos escassos recursos da saúde.
isso, uma nova corrente normativa do bem-es- Ainda que, a breve revisão de literatura mostre
tar social – empirical ethics 59 – defende que os que diversos fatores são relevantes nas decisões
princípios que devem nortear o estabelecimento sobre como alocar os recursos em saúde, parece
de prioridades devem ser derivados de forma in- difícil concluir sobre qual ponderação relativa se
terativa, envolvendo estudos empíricos sobre os deve atribuir a cada um. Isso porque a sua impor-
valores da sociedade e análises éticas dos resul- tância depende da contextualização específica
tados. Essa visão é consistente com o argumen- dos subgrupos.

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Uma vez que, ponderações pela eqüidade têm tados debates públicos sobre as bases e objetivos
como objetivo corrigir desigualdades na saúde socialmente aceitos a protagonizar pelas políti-
entre diferentes grupos sociais, parece-nos, pa- cas públicas. Isso será tão mais premente quanto
ra efeitos de política de saúde, mais importante menos aceitável se for tornando o racionamento
que quantificar de forma precisa estes ponde- discricionário, o que aumentará a necessidade
radores para serem aplicados aos resultados de de investigações futuras desenvolverem modelos
todas as análises custo-utilidade, seria definir multicritérios de opinião pública e de resultados
os fatores contextuais que tornam um atributo em saúde.
relativamente mais importante numa decisão e As técnicas de avaliação econômica mui-
relativamente menos importante noutra. Dito to úteis em diversas áreas encontram-se para
de outro modo, o debate sobre a desigualdade efeitos de racionamento dos cuidados de saúde
em saúde deve permitir definir a importância numa fase embrionária de desenvolvimento. A
atribuída pela sociedade a diferentes formas de complexidade que norteia essa temática pode
desigualdade, de modo a identificar o que os ser sintetizada por uma metáfora utilizada por
cidadãos comuns interpretam como “justo” na Ham 61 que compara o processo de estabelecer
saúde e nos cuidados de saúde. Assim, e a par da prioridades mais a uma maratona que a um
coleta de dados quantitativos devem ser fomen- sprint.

Resumo Colaboradores

Estabelecer prioridades em saúde traduz-se em esco- O artigo foi redigido por M. M. Pinho e revisado por
lhas entre programas alternativos e/ou entre pacientes P. A. C. V. Veiga.
ou grupos de pacientes. Tradicionalmente, os econo-
mistas da saúde propuseram a agregação dos ganhos
de saúde, avaliados em QALYs, como forma de esta-
belecer prioridades e maximizar o bem-estar social.
Isso requer que o valor social dos ganhos de saúde seja
um produto dos ganhos em anos de vida, qualidade
de vida e número de pessoas tratadas. Resultados da
revisão de literatura sugerem que nem os potenciais
ganhos de saúde são, por si só, um determinante sig-
nificativo de valor nem a regra da maximização dos
ganhos de saúde parece suficiente. O valor social de
um ganho de saúde parece não ser uma função linear
dos ganhos de mortalidade e morbidade, nem parece
neutral às características dos doentes ou à distribuição
final de saúde entre a população. Paralelamente à re-
visão do debate sobre o papel e limitação dos QALYs
para a priorização dos recursos da saúde, o artigo
procura justificar a controvérsia de alguns resultados
empíricos, em particular, no que se refere à formação e
manifestação das preferências sociais.

Prioridades em Saúde; Recursos em Saúde; Eqüidade

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