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Resumo
Apresenta-se resultado de investigação teórica sobre a aderência de cordoalhas pré-
tracionadas, em concretos de alta resistência com e sem fibras de aço. Foram utilizadas
como parâmetros as cordoalhas de sete fios, com diâmetro de 12,7mm, e as fibras de
aço curtas, com ganchos nas extremidades (DRAMIX), fator de forma l/d=45, e
consumos de zero, 40kg/m3 e 60kg/m3. Foi adotado como referência, para as avaliações
teóricas, um concreto com resistência à compressão de 50MPa, por ocasião da
protensão, e 70MPa, em serviço. Foram analisadas e comparadas formulações
empíricas, encontradas na literatura técnica, e as prescrições normativas da NBR 6118
(2001), da FIB Bulletin 1 (1999) e do ACI 318 (2002), para a tensão de aderência das
cordoalhas. A conclusão principal desta pesquisa foi que existem, ainda, muitas
incertezas e inconformidades nos resultados encontrados por diferentes pesquisadores.
Em comparação com as expressões empíricas analisadas, as prescrições normativas se
encontram a favor da segurança.
1 INTRODUÇÃO
Desde o seu aparecimento, no início do século XIX, até hoje, o concreto vem
se desenvolvendo, seja com o surgimento de novas tecnologias, seja com o
surgimento de novos materiais, tais como os aditivos e as fibras.
Porém, o grande avanço da área tecnológica do concreto nem sempre é
acompanhado por atualização constante de normas e códigos. É de fundamental
importância que as normas acompanhem, o mais próximo possível, o desenvolvimento
tecnológico, especialmente no que diz respeito ao dimensionamento das estruturas,
para que não se cometam erros que possam levar essas estruturas a um desperdício
de material, ou, ainda pior, a um colapso, seja ele total ou parcial.
1
Professora Adjunta do Departamento de Construção e Estruturas da EP-UFBA, tbdumet@ufba.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, libanio@sc.usp.br
2 AS FIBRAS E O CONCRETO
Segundo BENTUR & MINDESS (1990), “a eficiência das fibras pode ser
julgada com base em dois critérios: aumento na resistência e aumento na tenacidade
do compósito, em relação à matriz quebradiça”. Ainda segundo os mesmos autores, “a
eficiência das fibras na melhora das propriedades mecânicas da matriz de cimento
quebradiça é regida por: (1) o processo de transferência de tensões da matriz para a
fibra; e (2) o efeito de ponte de tensões que as fibras apresentam através das fissuras
da matriz, e que ocorre num estágio mais avançado de carregamento”.
Na literatura técnica encontram-se vários parâmetros que tentam definir e
quantificar a eficiência das fibras. Os principais são: o comprimento (l), a orientação e
o volume de fibras (Vf).
O comprimento interfere diretamente na aderência entre a fibra e a matriz.
O segundo fator que influencia é a orientação das fibras dentro do compósito.
Se estiverem alinhadas na direção dos esforços, elas serão muito mais eficientes. Na
prática, é muito trabalhoso e caro alinhar as fibras na direção desejada.
O terceiro fator que influencia na eficiência das fibras é o volume a ser
adicionado ao compósito. Também no que se refere ao volume das fibras, tem-se
tentado definir parâmetros que quantifiquem a eficiência dessas fibras. BENTUR &
MINDESS (1990) apresentam um estudo sobre a determinação do volume crítico de
fibras (Vfcr) baseado na lei da mistura para materiais compostos. O volume crítico é
definido como sendo o volume a partir do qual o compósito apresenta ganho de
resistência na fase pós-fissuração. Segundo este parâmetro, tem-se:
As fibras só contribuem para o aumento da resistência do compósito se Vf >
Vfcr, pois nestes casos o compósito apresenta um ganho de resistência na fase pós-
fissuração (encruamento), com um quadro de fissuração múltipla;
Se Vf < Vfcr, o modo de ruptura será pela propagação de uma única fissura,
não havendo ganho significativo na resistência;
Para Vf > Vfcr ou para Vf < Vfcr, sempre haverá um aumento da tenacidade
(absorção de energia) do compósito em relação à matriz quebradiça.
Em resumo, para que se tenha um aumento significativo na resistência do
compósito, o volume de fibras tem que ser maior do que o volume crítico.
Para que a armadura não escorregue, é necessário que apareça uma força de
aderência (Fader) que equilibre a diferença (T2 – T1). Montando-se a equação de
equilíbrio para as forças horizontais, tem-se que:
T2 = T1 + Fader Fader = τ b . Alat Alat = π . φ . l b
π .φ2
f S 2 . AS = f S 1 . AS + τ b . π . φ . l b As =
4
4 . π . φ . l b .τ b 4 . l b .τ b Δf S . φ
Δf S = f S 2 − f S1 = = , ou τb =
π .φ2 φ 4. lb
T = Forças de tração;
C = forças de compressão;
z = braço de alavanca interno;
fs = tensão na armadura;
As = área da seção transversal da armadura;
τb = tensão de aderência;
Alat = área de atuação de τb;
φ = diâmetro da barra (armadura).
Se o elemento for de comprimento infinitesimal dx, pode-se reescrever a
equação da seguinte forma:
Δf S 4 . τ b
= (1)
dx φ
Logo, se a armadura estiver sob tensão constante (Δfs = 0), a peça já se
encontra em equilíbrio, não havendo necessidade da atuação da força de aderência.
Porém, sempre que haja a variação de tensão (Δfs ≠ 0), precisa-se da força de
aderência para que a armadura não escorregue em relação ao concreto, o equilíbrio
seja mantido, e possa ser feita a transferência dos esforços.
Figura 2 - Tensão de aderência local (τ) versus escorregamento local (S), para concretos com
fc=30MPa (ELIGEHAUSEN et al, 1983).
Tensão de aderência ( b ) τ
τmáx
τb = τmáx (S/S1 ) α
τf
S1 S2 S3 Escorregamento ( S )
Tensão na cordoalha ( σp )
FIB Bulletin 1 (1999)
fptd
fpyd
α2 FIB
σp
α2 NBR
NBR 6118 (2001)
0 Distância da extremidade
lbpt da cordoalha
lbpd
lbp
Tanto a NBR 6118 (2001) como a FIB Bulletin 1 (1999) o identificam por lbp.
4 AS FIBRAS E A ADERÊNCIA
5 FORMULAÇÕES EMPÍRICAS
Como já foi dito, não existe um modelo único que represente o comportamento
da aderência para o concreto pré-tracionado. Neste estudo, para a análise da tensão
de aderência, foram utilizados modelos analíticos para armaduras não-protendidas,
cujos resultados foram comparados com os valores das prescrições normativas.
Na literatura encontram-se vários modelos analíticos e numéricos que tentam
descrever o comportamento Tensão de aderência versus Escorregamento de
armaduras passivas, principalmente de barras nervuradas. Para o concreto sem fibras,
destacam-se os modelos propostos por ELIGEHAUSEN et al (1983), ALSIWAT &
SAATCIOGLU (1992), LUNDGREN & GYLLTOFT (2000) e ELMORSI et al (2000). Os
dois últimos já foram direcionados para a modelagem numérica, usando de iterações
para chegar aos valores desejados. O modelo de LUNDGREN & GYLLTOFT (2000) foi
especialmente desenvolvido para a análise tridimensional da aderência.
Vários pesquisadores têm tentado desenvolver expressões que abranjam o
maior número possível de variáveis, englobando, então, um universo maior no cálculo
da tensão de aderência. A Tabela 1 apresenta as expressões sugeridas por
ORANGUN et al (1977), Eligehausen apud HARAJLI et al (1995), KEMP & WILHELM
(1979), DARWIN et al (1992), HARAJLI (1994), e KRSTULOVIC-OPARA et al (1994).
Foi utilizada também a expressão presente no ACI 318 (1963). Entre elas,
apenas as expressões de HARAJLI (1994) e KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) levam
em conta a influência das fibras na aderência. As expressões foram desenvolvidas a
partir de análise por regressão não-linear de resultados de ensaios. Na realidade,
Autor(es) Expressão
⎡ c φ ⎤
ORANGUN et al (1977) τ b = ⎢1,2 + 3 + 50 . ⎥. fc
⎢⎣ φ l ef ⎥⎦
c
Eligehausen (1979) τ bs = 1,5 . . f ct
φ
⎡ c⎤
KEMP & WILHELM (1979) τ bv = ⎢1,64 + 2,9 . ⎥ . f c
⎣ φ⎦
⎡ c φ ⎤
DARWIN et al (1992) τ b = ⎢1,06 + 2,12 . + 75 . ⎥ . fc
⎣⎢ φ l ef ⎥⎦
⎡ φ ⎤
. (K f − 50)⎥ . f c
c 1
HARAJLI (1994) τ b = ⎢1,2 + 3 . + 50 . +
⎢⎣ φ l ef 25 ⎥⎦
KRSTULOVIC-OPARA et al ⎛ c⎞ ⎛ c⎞
τ b = ⎜⎜ 0,5 + 0,89 . ⎟⎟ . f ct + ⎜⎜1,2 + 0,83 . ⎟⎟ . 3 σ b
(1994) ⎝ φ⎠ ⎝ φ⎠
9,5
ACI 318 (1963 a 1983) τb = . f c ≤ 800psi (5,5MPa )
φ
fc = resistência do concreto à compressão;
fct = resistência do concreto à tração;
τb = tensão de aderência;
lef = comprimento aderente disponível;
c = cobrimento ou espaçamento entre as armaduras;
φ = diâmetro da barra;
3
ELIGEHAUSEN, R. (1979). Lapped splices of tensioned deformed bars with straight ends. Schriften-
reihe des Deutschen Ausschusses fur Stahlbeton, Berlim, 1979 (Alemanha), apud HARAJLI et al (1995).
⎛Vf . l ⎞ ⎛ c ⎞ ⎛ ld ⎞
Kf =⎜ ⎟.⎜ ⎟⎟ . ⎜⎜ ⎟⎟
⎜ d ⎟ ⎜d
⎝ f ⎠ ⎝ b ⎠ ⎝ db ⎠
σb = coeficiente de tenacidade da matriz reforçada com fibras (MPa).
Nota-se que o cobrimento, o espaçamento entre as barras, o diâmetro da
barra, o comprimento aderente, a presença ou não de armadura transversal, e a
resistência do concreto à compressão são os principais parâmetros adotados.
O cálculo da tensão de aderência, pela equação proposta por HARAJLI
(1994), só leva em conta a influência das fibras quando o valor de Kf é superior a 50.
Para valores de Kf<50, a equação recai na proposta por ORANGUN et al (1977).
Os gráficos seguintes apresentam uma comparação entre as expressões
analisadas, para os diversos parâmetros (Figuras 5 a 8). Para cada gráfico, variou-se
o parâmetro escolhido, e mantiveram-se todos os demais constantes, utilizando os
valores adotados neste estudo.
Como pode ser verificado na Figura 5, à medida que vai aumentando o valor
da resistência do concreto à compressão, vão aumentando as diferenças entre o maior
e o menor valor, dados pelas expressões. Excluindo-se a equação de KRSTULOVIC-
OPARA et al (1994) que leva em conta as fibras, a equação de DARWIN et al (1992)
para lef = 7φp fornece os maiores valores para a tensão de aderência entre,
aproximadamente, 15MPa ≤ fc ≤ 40MPa, a partir desse ponto, a equação proposta por
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994), sem levar em conta as fibras, passa a fornecer os
maiores valores. As equações propostas por KEMP & WILHELM (1979) e ACI 318
(1963), para fc ≥ 35MPa, fornecem os menores valores para a tensão de aderência.
Isso é uma constante para todos os gráficos. De maneira geral, as equações com
mesmos comprimentos de ancoragem disponíveis (lef) apresentam valores mais
próximos. Isso não vale, obviamente, para as expressões onde o comprimento
aderente não é levado em conta no cálculo da tensão de aderência.
20
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - sem fibra
3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 40kg/m
Tensão de aderência, τb (MPa)
3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 60kg/m
15
ORANGUN et al (1977) - lef=7φp
HARAJLI (1994) - lef=7φp
DARWIN et al (1992) - lef=7φp
10
Eligehausen (1979)
5
ORANGUN et al (1977) - lef=15φp
ACI 318 (1963 a 1983) HARAJLI (1994) - lef=15φp
25 3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 40kg/m
3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 60kg/m
20
DARWIN et al (1992) - lef=7φp Eligehausen (1979)
5
ORANGUN et al (1977) - lef=15φp
ACI 318 (1963 a 1983)
HARAJLI (1994) - lef=15φp
KEMP & WILHELM (1979)
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Razão (c/φ)
60
DARWIN et al (1992)
50
Tensão de aderência, τb (MPa) ORANGUN et al (1977)
HARAJLI (1994)
3
40 KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 40kg/m
30 Eligehausen (1979)
3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 40kg/m
20
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - sem fibra
10
KEMP & WILHELM (1979)
Razão (φ/lef)
18 3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 60kg/m
16
3
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) - Vf = 40kg/m
Tensão de aderência, τb (MPa)
10
ORANGUN et al (1977) - lef=7φp
8
0
40 60 80 100 120 140 160
Coeficiente Kf
Figura 8 - Tensão de aderência versus coeficiente Kf, que considera a influência das fibras.
se deve ao fato de que esta equação tem a intenção de caracterizar materiais que
apresentem encruamento, ou seja, um ganho de resistência após a primeira fissura,
como os concretos de alto desempenho reforçados com fibras de aço. Nestes
materiais, o volume de fibras usado é bem superior aos volumes críticos.
KRSTULOVIC-OPARA et al (1994) utilizaram quatro volumes: zero, 1%, 3% e 7%.
Não só para os valores pontuais da tensão de aderência, como também para
as expressões representadas nos gráficos das Figuras 5 a 8, há uma variação muito
grande dos resultados, mesmo levando-se em conta que a maioria das formulações
tem uma origem comum, na expressão de ORANGUN et al (1977). Isso, mais uma
vez, reforça a idéia da variabilidade dos resultados obtidos nos ensaios de
arrancamento. Os valores fornecidos pela expressão de KEMP & WILHELM (1979)
são, claramente, os mais conservadores.
6 PRESCRIÇÕES NORMATIVAS
6,0
5,5
5,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
DARWIN15f
HARAJLI7f
10 HARAJLI15f
OPARA0
ACI63
8
0
15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
Resistência do concreto à compressão, fc (MPa)
8 CONCLUSÕES
9 AGRADECIMENTOS
10 REFERÊNCIAS
GOTO, Y. (1971). Cracks formed in concrete around deformed tension bars. ACI
Journal, Apr.
HARAJLI, M. H.; HOUT, M.; JALKH, W. (1995). Local bond stress-slip behavior of
reinforcing bars embedded in plain and fiber concrete. ACI Materials Journal, v.92,
n.4, July-Aug.
LUNDGREN, K.; GYLLTOFT, K. (2000). A model for the bond between concrete and
reinforcement. Magazine of Concrete Research, v.52, n.1, Feb.
SOROUSHIAN, P.; MIRZA, F.; ALHOZAIMY, A. (1994). Bonding of confined steel fiber
reinforced concrete to deformed bars. ACI Materials Journal, v.91, n.2, Mar-Apr.