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DESENVOLVIMENTO

O GUI A DO
AUTO CONHECIMENTO
A competência essencial para ser feliz e realizado no trabalho está
dentro de você, à espera de ser explorada. Veja por onde começar
essa jornada e descubra como ela pode ser transformadora
Paula Alves
Marcia Di Domenico coordenadora de projetos

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M
u itas qua l i- pessoas não tem boa percepção de
dades e com- si mesma. Foi o que descobriu a psi-
petências são cóloga organizacional Tasha Eurich
fundamentais no livro “Insight — Por que não nos
para pavimen- conhecemos tão bem quanto pen-
tar o caminho samos e como ter clareza de quem
até o sucesso somos ajuda a alcançar o sucesso na
profissional. vida e no trabalho” (numa tradução
Acima de to- livre; ainda sem edição brasileira).
das, porém, Tasha ouviu quase 5 000 pessoas e
ex i st e u m a descobriu que apenas de 10% a 15%
habilidade da acreditam se conhecer bem. Um ín-
qual as outras dependem para se- dice preocupante, já que mais au-
rem colocadas em prática de forma toconhecimento está associado a
efetiva: o autoconhecimento. Ele é índices mais elevados de satisfação
indispensável para o profissional do no trabalho e nos relacionamentos,
século 21. De acordo com o relatório produtividade, autoconfiança e fe-
mais recente do Fórum Econômico licidade, além de menos estresse,
Mundial sobre o futuro do trabalho, ansiedade e depressão.
aptidões como criatividade, colabora-
ção, flexibilidade, pensamento crítico, As etapas da jornada
capacidade de trabalhar sob pressão e Alguns têm interesse natural por si
resolver problemas complexos serão mesmos e fazem da busca pelo au-
obrigatórias para evoluir na carreira toconhecimento uma constante na
daqui para a frente. E o autoconhe- vida. Outros podem ser surpreen-
cimento é o ponto de partida para o didos por alguma situação difícil
desenvolvimento dessas e outras soft envolvendo saúde, dinheiro, família
skills, como são chamadas as habi- ou trabalho que os leve a querer ver
lidades comportamentais. Não que sentido e encontrar saídas para o
algum dia ele tenha deixado de ser problema. “Ao mesmo tempo, a ro-
importante. Mas as transformações tina automatizada, o excesso de es-
pelas quais o mundo do trabalho vem tímulos no dia a dia e a ideia de que
passando e as demandas das novas é preciso acelerar para se adaptar a
gerações de profissionais — traba- tantas mudanças não poupa quase
lho remoto, freelancer e sem carga ninguém e leva à perda de consciên-
horária fixa, por exemplo — cada cia da própria vida e do que é preci-
vez mais vão exigir boa capacidade so de fato para se sentir realizado”,
de gestão de si próprio. “A respon- afirma Edwiges Parra, psicóloga or-
sabilidade pelos rumos da carreira ganizacional, coach executiva e fun-
está mais do que nunca nas mãos do dadora da Emind Mente Emocional.
indivíduo e menos sob responsabili- Resultado: uma multidão de seres
dade da empresa”, afirma Wilma Dal desconectados de quem são, do que
Col, diretora do ManpowerGroup. estão fazendo aqui e do que desejam.
“Ampliar a visão de si mesmo dentro Conhecer a si mesmo é uma inves-
e fora do ambiente de trabalho per- tigação que tem início, mas nunca
mite fazer escolhas mais alinhadas acaba. A seguir, mostramos quais
com o que você quer para a vida.” são as cinco principais etapas para
O problema é que a maioria das conhecer a si mesmo.

I LU S T R AÇ ÃO : O TÁV I O S I LV E I R A V O C Ê S /A wA G O S T O D E 2 01 9 w 31
DESENVOLVIMENTO

1.
DO ESCRITÓRIO
PA R A A PR A I A

O
empr es ár io Felipe
Arias, de 36 anos, pas-
sou por uma baita crise
existencial até chegar
aonde sempre quis es-

FAÇA AS PERGUNTAS CERTAS tar. Advogado de formação, ele se es-


pecializou no mercado imobiliário e já
atuava havia dez anos na área quando
decidiu largar tudo para empreender.
No último emprego antes de pedir de-
O primeiro passo para tomar as rédeas de sua vida é missão, há três anos, ganhava muito
fazer questionamentos do tipo: “Estou feliz fazendo o bem e tinha prestígio, mas, à medida
que faço?”, “Que atenção estou dando à saúde e a meus que a carreira prosperava, sentia que
relacionamentos?”, “O que me dá prazer hoje?”, “Quanto estava cada vez mais se desconectan-
espaço estou reservando para isso no meu dia a dia?”, do de tudo o que o fazia feliz: natureza,
“Preferia estar fazendo outras coisas?”, “O que me deixa vida simples, praia, surfe e amigos por
desmotivado?” O objetivo é conectar-se, focar o que está perto. Para piorar, as relações no es-
acontecendo no presente e detectar possíveis conflitos critório eram péssimas, era obrigado
e fontes de insatisfação. Mas vale saber que não é pre- a vestir terno e proibido de usar barba.
ciso estar passando por uma crise para decidir buscar o “Eu me sentia um peixe fora da água.
autoconhecimento — ao contrário, saber mais sobre si Mantinha um frasco de protetor so-
mesmo é uma forma de evitar que a crise apareça. lar na gaveta do trabalho e cheirava
Nesse exercício, a psicóloga Tasha Eurich sugere que quando queria relaxar e me sentir
evitar se perguntar o porquê — por exemplo, “por que mais perto da praia.” Meio que como
não consigo me dar bem com meu chefe?” ou “por que uma terapia, Felipe começou um blog
insisto em procrastinar?” — pode ser produtivo. Ela em que publicava histórias de gente
explica: “Primeiro, porque dificilmente se chega a res- que havia abandonado tudo para viver
postas úteis, já que o mais provável é que, inconscien- de forma mais autêntica. “A ideia era
temente, acabemos ‘inventando’ explicações que nos ESTOU tomar coragem para eu fazer o mes-
pareçam satisfatórias”, diz. “Além disso, tentar entender mo.” Foram quatro anos tocando o site
os porquês tende a gerar pensamentos ruminativos, que FELIZ paralelamente à vida no escritório, e
levam mais para o passado do que ajudam a entender FAZENDO ele chegou a fazer viagens bate-volta
o que está ocorrendo no presente. É por isso que pes- até o litoral para entrevistar persona-
soas com perfil muito analítico tendem a sofrer mais
O QUE gens antes de voltar para o expediente
de ansiedade e depressão.” FAÇO? em São Paulo. “Escrever foi o que me
salvou.” Felipe foi conhecendo mais
gente, o projeto se desdobrou para
uma linha de camisetas e convites
para organizar eventos que reuniam
música, arte e pé na areia. Até que
ele tomou coragem para entregar
o crachá, vender tudo o que tinha
e investir na Lar Mar, misto de loja,
bar e espaço para eventos na capital
paulista. Hoje Felipe vive como quer:
“Trabalho descalço, conecto pessoas,
promovo o trabalho de artistas e vejo
sentido no que faço. E ainda ganho
mais dinheiro do que antes”.

FOTO: DA N IEL A TOV I A NSK Y ILUSTR AÇÃO: V ICTOR BEU REN


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2. PEÇA FEEDBACK
Somos o resultado da soma do que sabemos sobre nós
3.
DEFINA O QUE
mesmos com a maneira como o mundo (formado por
nosso círculo de relações pessoais e profissionais) nos
enxerga. Dar ouvidos ao feedback externo, portanto, leva
PRECISA MUDAR
a uma consciência maior de quem somos — afinal, todos
temos pontos cegos na personalidade, que dificilmente
enxergamos sozinhos. Além disso, o exercício nos torna Com u ma v isão mais n ítida de
mais empáticos, ou seja, capazes de compreender o outro quem você é, do que deseja e de
e ver as coisas pela perspectiva dele. como vem agindo, é mais fácil de-
Observar nossas reações diante da opinião de tercei- finir quais aspectos deveriam ser
ros também é parte da autoanálise e geralmente revela desenvolvidos ou modificados no
bastante sobre nós. Mas é importante acolher a visão do comportamento ou na rotina. Nessa
outro e olhar para si mesmo com menos julgamento e mais fase, prepare-se para analisar hábi-
curiosidade e gentileza, tendo em mente que não é porque tos, reações, convicções e modos de
você age de determinada maneira hoje, por mais nociva realizar suas tarefas. Questionar e
que seja, que precisa ser assim para sempre. “Pensar se desapegar de atitudes e menta-
desse modo diminui o impacto negativo que você gera lidades que se tornaram padrões e
sobre si mesmo”, diz a coach e psicóloga Edwiges Parra. já não servem a seu momento atual
ou à meta que está buscando tem o
mesmo efeito de tirar obstáculos do
caminho de sua evolução.
Observar se seu “sistema operacio-
nal” interno possibilita, por exemplo,
perceber se precisa mesmo madru-
gar para frequentar a academia todo
dia (e morrer de sono antes do fim
do expediente) ou se dormir mais e
malhar à noite não o deixaria mais
bem disposto e produtivo. Também
ajuda a descobrir se precisa apren-
der a ouvir mais, se vem guardando
boas ideias para você por falta de
autoconfiança ou se está deixando
QUE de lado a vida social em nome da
ATENÇÃO profissional. Em resumo, se está
ESTOU DANDO levando uma vida que faz sentido.
Escolha uma meta por vez e trabalhe
À SAÚDE nela, celebrando seus avanços e ava-
E A MEUS liando o impacto real na rotina, em
vez de querer mudar a vida inteira
RELACIONA- de uma vez — e acabar se frustran-
MENTOS? do e voltando à estaca zero.

34 wA G O S T O D E 2 01 9 wV O C Ê S /A ILUSTR AÇÕES: V ICTOR BEU REN


PROCUR AM-
SE LÍDERES
MAIS
HUMANOS
POR QUE O AUTOCONHECIMENTO É IMPORTANTE PARA A BOA GESTÃO

U
m estudo, divulgado neste ano, em parceria moderna e autoconsciente. Porém, nem sempre há empe-
entre a consultoria em desenvolvimento de nho por parte das chefias para olhar além de si mesmo,
lideranças Green Peak e a Universidade Cor- muito menos admitir a própria vulnerabilidade. Pesquisas
nell, ambas nos Estados Unidos, analisou a mostram que, quanto maior o poder de um gestor, mais ele
experiência, o estilo de gestão e os resulta- tende a superestimar suas capacidades (em comparação
dos de 72 executivos de empresas públicas e privadas e com a opinião dos subordinados).
revelou o seguinte: os profissionais capazes de construir Ainda assim, o futuro aponta para profissionais cons-
boas relações com e entre o time entregaram melhores cientes de que o aprimoramento como pessoa é condição
resultados financeiros do que os que eram vistos como para criar e inspirar culturas organizacionais mais sau-
tiranos. Entre as explicações dos pesquisadores, a ha- dáveis e estafes mais eficientes. Em escolas de educa-
bilidade de compreender como se dá a interação dentro ção executiva de referência no mundo, como Harvard,
do time e a consciência das potencialidades e fraquezas Stanford e Yale, a arte vem sendo usada há algum tempo
de cada um (incluindo a si mesmo) permitiria ao líder como recurso na formação desse tipo de liderança. A
montar uma equipe equilibrada e produtiva. Além disso, ideia não é exatamente usar pintura, escultura, teatro
a curiosidade de olhar além das experiências pessoais e e música de forma lúdica ou para entretenimento, mas
de se interessar pela realidade do cliente favoreceria a como objetos de análise e interpretação para levan-
tomada de decisões assertivas e focadas em resultado. tar discussões sobre ética, racionalidade, inovação e
Nas organizações, espera-se que o líder pratique e pro- liberdade. “A arte estimula novas formas de pensar,
pague a cultura criando significados para os subordinados permite olhar as situações além do óbvio, desenvolver
produzirem se sentindo engajados e valorizados em sua pensamento crítico e resgatar valores humanos, como
individualidade. Ser acessível, saber se comunicar e agir generosidade, respeito e sensibilidade, tão importan-
com transparência — inclusive em relação ao que não tes nos ambientes de trabalho”, explica o professor e
sabe e precisa de apoio do time —, em vez de distribuir e pesquisador Ricardo Carvalho, especialista em arte e
fiscalizar ordens e processos, são atributos de uma gestão gestão da Fundação Dom Cabral.

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4. ESCOLHA SEUS RECURSOS


A busca por autoconhecimento é pes- das sessões (de dez a 15, em média).
soal e intransferível, mas contar com É certo que não dá para evitar que
ajuda profissional durante o percurso, dramas da vida pessoal afetem o dia
em vez de dar esse mergulho por con- a dia profissional e vice-versa, mas,
ta própria (ou com auxílio de livros quando os conflitos internos têm mais
e aplicativos apenas), faz diferença. a ver com questões emocionais e me-
É mais ou menos como aprender a nos com a performance no trabalho,
tocar um instrumento: você até pode o melhor é considerar a psicoterapia.
conseguir sozinho, mas talvez demore Os prejuízos emocionais (tristeza, im-
mais e deixe de absorver lições im- paciência) e cognitivos (falta de foco,
portantes de quem tem mais experi- lapsos de memória) desencadeados
ência do que você no assunto. por uma separação ou uma doença
Seu perfil e suas metas individuais na família impactam a rotina no es-
devem orientar quais estratégias e fer- critório, mas devem ser tratados no
ramentas usar para descobrir mais consultório do psicólogo ou psiquiatra.
sobre si mesmo. O coaching é uma Questões como assédio e bullying
alternativa quando o foco das mudan- também são caso de psicoterapia.
ças é a carreira. Se a queixa for uma Meditar, praticar esportes, manter
rotina desorganizada e improdutiva, um hobby ou atividade que tragam
dificuldade para se adaptar a mudan- prazer, e cuidar das relações pró-
ças no trabalho — como explorar com ximas são estratégias que, além de
mais profundidade seus talentos ou aliviar tensões do dia a dia, favo-
organizar a vida financeira —, cliente recem a conexão consigo mesmo e
e coach podem trabalhar juntos para com os outros e ajudam a compreen-
detectar possíveis obstáculos, traçar der nossos padrões de pensamento
metas e avaliar sua evolução ao longo e de comportamento.

O QUE
ME DÁ
PRAZER
HOJE?
PROPÓSITO E AUTONOMIA

O
conflito da professora de marketing digital com o trabalho e descuidar da saúde e dos relaciona-
Vanessa Kym, de 36 anos, ao pedir demissão mentos — e trouxe mais segurança de estar no caminho
de seus últimos empregos era o mesmo de certo. Respondeu a um anúncio para dar aulas e acabou
muita gente: trabalhar com o que gosta ou se encontrando — hoje leciona na Digital House. Além
ganhar dinheiro? Vanessa tinha estabilidade de se sentir realizada, consegue conciliar o emprego
e boas avaliações, mas estava infeliz. Pesavam as mui- de carteira assinada com palestras e consultorias para
tas horas por dia na função, o fato de não conseguir ver marcas. Recentemente, recebeu proposta de uma mul-
amigos e família, episódios de assédio moral e sinais de tinacional francesa (trabalhar com franceses era, até
alerta da saúde, como estresse, ansiedade, enxaqueca e então, um sonho de carreira), com salário três vezes maior
gastrite. O preço era alto demais e ela decidiu que tinha do que o do último emprego, mas dispensou a vaga ao
de tomar as rédeas de sua vida profissional. Um curso de descobrir o que seria esperado dela: disponibilidade quase
liderança feminina abriu a cabeça para as armadilhas em total, inclusive nos fins de semana. “Estava tecnicamente
que ela não queria mais cair — fazer concessões demais, preparada, mas seria voltar àquela espiral de trabalho
enxergar o trabalho como a parte mais importante da que não quero mais. Sucesso, para mim, é escolher os
vida, priorizar cargos em vez de satisfação, se identificar projetos em que desejo trabalhar, e hoje posso fazer isso.”

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ALTO IMPACTO
SABER MAIS SOBRE VOCÊ MESMO FAZ
MUITA DIFERENÇA NOS ASSUNTOS ABAIXO

VALORES: Entender que há con- dades que tem fora do ambiente seguranças sem cair no excesso
dições inegociáveis e esforços de trabalho — muitas delas po- de autocrítica, tende a ser mais
que você não está disposto a dem ser empregadas no contexto tolerante com os erros e as inse-
fazer quando o assunto é traba- profissional —, assim como a guranças dos outros. Isso melho-
lho é um bom ponto de partida opinião de terceiros sobre suas ra a colaboração na equipe, au-
para tomar decisões com menos qualidades. Aprenda também a menta o bem-estar e se reflete
desgaste mental e emocional. O separar o que você realmente é em resultados positivos. Mas não
emprego permite trabalhar home do que gostaria de ser — eis uma se trata de forçar o entrosamen-
office, mas a carga horária inclui cilada frequente. Ter essa imagem to ou achar que precisa se dar
fins de semana e feriados? O sa- clara a seu respeito é útil, inclu- bem com todos daqui para a fren-
lário é bom, mas são muitas sive na hora de preparar uma te. Em ambientes com muitas
conduções e horas no trânsito descrição realista em um currí- personalidades é normal que nem
para chegar ao escritório? Com culo ou entrevista de emprego. todos os santos batam. E tudo
autoconhecimento fica mais fácil bem, desde que o esforço seja pela
dizer “não, obrigado” com con- PRODU TIVIDADE: Conhecer civilidade e pelo respeito.
vicção e evitar agir levado por sua personalidade e seus interes-
motivações de curto prazo. ses é chave para desenhar uma SAÚDE: Conhecer (e respeitar) os
rotina de trabalho fluida e eficien- próprios limites, saber dizer não,
COMPETÊNCIA S: Após muito te. Serve, por exemplo, para des- ajustar expectativas em relação
tempo numa função ou quando se cobrir se você desempenha com a si mesmo e aos outros. Essas
está operando no piloto automá- mais disposição e foco de manhã atitudes, que vêm com a maturi-
tico, é comum achar que você é ou à tarde, na tranquilidade do dade e o autoconhecimento, nem
bom apenas em certas tarefas ou home office ou interagindo no sempre são fáceis de colocar em
que sabe fazer as coisas de um coworking, entre tantas outras prática, mas demonstram auto-
único jeito. Só que não. Manter o escolhas que influenciam direta- cuidado e previnem males tão
olhar atento e generoso para suas mente a rotina profissional. presentes no cotidiano profissio-
habilidades é uma forma de am- nal quanto nocivos para a saúde
pliar a visão que tem de si mesmo RELAÇÕES: Quem enxerga bem a e a autoestima, como ansiedade,
e seguir sempre estimulado. In- si mesmo, aceitando e acolhendo insônia, abuso de medicamentos,
clua nessa investigação capaci- as próprias falhas, dúvidas e in- depressão e burnout.

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COMEÇANDO DO ZERO

S
e mudanças de vida vêm
pela dor ou pelo amor,
no caso da empresária
Patrícia Lima, de 40
anos, a reviravolta teve
mais a ver com o segundo porque se
deu depois do nascimento da filha,
hoje com 6 anos. Patrícia comandava
há mais de uma década uma publica-
ção de referência no mercado de moda
e tinha rotina de workaholic. Pretendia
retomar a rotina logo depois de dar à
luz e chegou a levar o berço ao escritó-
rio, mas nunca o usou. A maternidade
mudou tudo e o trabalho com moda foi
perdendo o sentido. “Tinha orgulho da
minha trajetória, mas não do legado
que estava deixando para o mundo
que minha filha encontraria no futuro.”
Patrícia se refere à natureza efêmera
desse mercado, com lançamento de
coleções a cada quatro meses e estí-
mulo ao consumo excessivo. Olhan-
do para dentro e se questionando, viu
que queria se lançar em algo novo,
mas sem jogar fora o conhecimento
que tinha acumulado. Mais uma vez
a maternidade trouxe o insight: en-
quanto amamentava, Patrícia parou
de usar maquiagem por medo do con-
tato com a pele do bebê. Pesquisou e
viu que não havia no Brasil produtos
desse tipo com uma pegada natural,
sem tanta química. E assim nasceu
a Simple Organic, marca de maquia-
gens orgânicas e veganas, depois de
quase dois anos de pesquisas e tes-
tes. Houve quem a tachasse de louca
por trocar um negócio certo por algo
desconhecido no país na época. Esse,
porém, foi um dos principais argu-
mentos da decisão. “Não queria ir
pelo caminho mais fácil, de seguir a
concorrência e apenas fazer melhor
aquilo que alguém já fazia. Queria
criar alguma coisa com identidade
e entregar uma mensagem positiva,
de equilíbrio, que era também minha
busca naquela nova fase da vida.”

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5. REPITA
O CICLO
O processo de autoconhecimento é
uma investigação permanente. “O
tempo e as experiências transformam
nosso comportamento, necessidades
e anseios, de modo que é importante
revisitar nossas reflexões de tempos
em tempos e nunca perder o interes-
se em nós mesmos”, destaca Rafael
Nunes, psicólogo, coach de carreira
e líder de inteligência emocional na
escola Conquer. Mudanças de cargo ou
função no trabalho, assim como novos
ciclos na vida pessoal tornam ainda
mais importante voltar a se perguntar
se você está satisfeito onde se encontra
ou se é hora de refazer a rota.

PREFERIA
ESTAR
FAZENDO
OUTRAS
COISAS?

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SEM PRESSA

H
á cerca de quatro anos, quando já ocupava a posição
que tem hoje na Wilson Sons, empresa do setor de
logística portuária e marítima, a supervisora de
agenciamento Michelle Bonaparte, de 35 anos,
recebeu a proposta para assumir a coordenação de
uma filial da companhia, o que representaria um salto na carreira
e um salário pelo menos 50% maior. Os olhos brilharam, mas,
depois de uma autoavaliação de seus pontos fortes e fracos, ela
sentiu que não tinha o conhecimento técnico necessário para a
função e acabou declinando sem peso na consciência. Sua chefe
na época achou a decisão madura e aceitou. Recentemente, um
novo desafio exigiu mais esforços de adaptação: Michelle foi
designada para assumir uma gestão descentralizada, passou a
liderar uma equipe maior e a se dividir entre duas cidades, Santos
e Rio de Janeiro. “Aprendo todos os dias a trabalhar minha ten-
dência centralizadora, já que preciso delegar e confiar.” Bastante
interessada em autoconhecimento — nessa busca, ela se apoia
na filosofia contemporânea, na meditação e na espiritualidade
—, Michelle conta que, se aquela mesma promoção viesse hoje,
aceitaria. “Acumulei experiência, tenho mais maturidade e me
sinto mais segura. Tudo tem seu tempo.”
DESENVOLVIMENTO

VOCÊ SABE
QUEM É DE
VERDADE?

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Grupo Único UP! - Clau.


Reflita sobre as afirmações abaixo e, deixando o julgamento de
lado, marque sim (S) ou não (N) de acordo com a percepção que tem
de si mesmo. Peça a uma pessoa em quem confia e que considera
que o conheça bem para também responder às questões com base
na percepção que tem de você (e não dela mesma). Em seguida,
compare os resultados. Aproveite as discordâncias para saber mais
sobre a imagem e as impressões que vem transmitindo e detectar
possíveis fontes de conflito (interno e no ambiente). Você deve usar
as informações como ponto de partida para definir mudanças de
comportamento e caminhos para desenvolver o autoconhecimento.

1 Quando erro, 2 Tenho clareza 3 Sei o que me faz


sou capaz de sobre o que me bem e mal em meu
reconhecer o erro. faz feliz. ambiente de trabalho.
S( ) N( ) S( ) N( ) S( ) N( )

4 Sou flexível 5 Tenho clareza sobre 6 Reconheço


e adaptável a minhas metas pessoais padrões em meu
mudanças. e profissionais. comportamento.
S( ) N( ) S( ) N( ) S( ) N( )

7 Tenho consciência 8 Meus valores e 9 Gosto de analisar


do impacto de minhas crenças orientam a situação antes de
ações nos outros. minhas atitudes. tomar decisões.
S( ) N( ) S( ) N( ) S( ) N( )

10 Me relaciono bem 11 Sei quais são 12 Não tenho


com a maioria das meus sabotadores dificuldade em
pessoas no trabalho. de produtividade. pedir ajuda.
S( ) N( ) S( ) N( ) S( ) N( )

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