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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
advogada. Esta por sua vez orienta o telespectador como deve proceder. Percebe-
se no programa a ponte entre quem perdeu os documentos pessoais e quem os
encontrou e levou até a recepção da Rede Vitoriosa. A aproximação com o público
se faz de distintas maneiras, ligações telefônicas, agradecimentos transmitidos pelo
programa, emails, cartas, dentre outros.
Existe um espaço destinado ao balanço dos crimes ocorridos durante a
semana: os mais violentos, a quantificação de mortes em homicídios e acidentes de
transito, ou mesmo acidentes de trabalho. Outro ponto que merece destaque em
relação ao programa é o modo como a pauta de matérias é formada uma vez que
parte de denuncias de moradores/ telespectadores. Pois se trata de uma maneira
como os moradores participam da programação.
Acompanhar a cidade que o programa Linha Dura propõe, através das
matérias e reportagens sobre os moradores e suas reivindicações nos bairros, me
permite investigar a relação entre experiência e comunicação: como que esta
relação configura os modos de vida dos moradores pobres na periferia da cidade?
Moradores ligam para o programa solicitando que melhorias nos bairros mais
pobres sejam feitas, seja quanto a limpeza de terrenos baldios, duplicação de ruas,
acabar com buracos, dentre outros. Daí o programa se dispõe a cobrar que estes
serviços sejam feitos. Isso sugere uma prática dos moradores de bairros mais
pobres quanto à maneira como chegar até estes órgãos competentes, mas a partir
da comunicação. Tanto porque essa comunicação aparentemente funciona.
Nesse sentido, podemos pensar nos caminhos encontrados pelos moradores
para vivenciar a cidade enquanto prática uma vez que temos aí a relação inicial que
permite pensar essa interação entre o programa e os moradores, mas também se
torna necessário partir dessas experiências comunicacionais nos bairros das
periferias da cidade visto que diante de várias formas de construção/intervenção no
espaço urbano este movimento é concreto na cidade.
Minha intenção em acompanhar o programa Linha Dura no presente permite
entender no campo da história porque e como determinada prática jornalística
assume importância e aumenta cada vez mais? Por que ganha legitimidade no
cotidiano, e como as apropriações de uma linguagem que se populariza é
interpretada e utilizada pelos moradores na periferia da cidade enquanto estratégia
para reivindicação de direitos? E como isso constitui práticas habituais entre os
moradores pobres na periferia da cidade?
Considerando a presença do Jornal Correio de Uberlândia na cidade, e
analisando a tiragem e circulação do jornal, percebe-se a distribuição diária de
10.000 exemplares, sendo a maioria do público leitor composta de assinantes 4.
Entretanto, o jornal se apresenta como sendo o jornal da cidade:
4
Trata-se de um estudo de mídias da empresa ALGAR, incluindo tiragem do Jornal Correio. Ver:
ALGAR. Mídia Kit. Disponível em: http://midiakit.algarmidia.com.br/?secao=inicio. Acesso em:
05/08/2011.
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Idem.
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Em diálogo com o Grupo Memória Popular, quanto à discussão dos “processos reais de dominação
no campo histórico”. Ver: GRUPO MEMÓRIA POPULAR. Memória popular: teoria, política, método.
In: ALMEIDA, Paulo Roberto de; MACIEL, Laura Antunes; KHOURY, Yara Aun. (orgs.). Outras
histórias:
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memórias e linguagens. São Paulo: Olho d’Água, 2006, p.282-295.
Não é de maneira dicotômica que opõe espetáculo e visibilidade, mas a proposta que empreendo é
investigar a complexidade entre estes movimentos a partir “dos sujeitos reais”. Nesse sentido,
compartilho com as discussões de autores que propõem problematizar as relações entre os sujeitos
sociais em suas complexidades. Ver: CRUZ, Heloisa de Faria et alii. Introdução. In: ALMEIDA Paulo
Roberto de; MACIEL, Laura Antunes; KHOURY, Yara Aun (Orgs.). Outras histórias: memórias e
linguagens. São Paulo: Olho D’Água, 2006. P. 9-21. Para a discussão sobre a produção de
visibilidades e sua relação com o espetáculo, ver: BUCCI, Eugênio.; KHEL, Maria. Rita. Videologias:
ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004. (Estado de sítio); CHAUÍ, Marilena. Simulacro e
poder: uma análise da mídia. São Paulo:Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.
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Entretanto existe uma relação com o poder público na cidade uma vez que
perpassa a cobrança dos moradores através destes “veículos” de comunicação que
se destinam aos órgãos governamentais locais. Desta maneira, me faz indagar
quem resolve o quê? E com quais objetivos? Como os moradores vão se
movimentando na cidade, e como que também vão construindo a cidade a partir de
disputas no campo da comunicação?
Um ponto destacado é a concepção de bairro, uma vez que tal concepção
também é construída a partir de interesses diversos. Nesse sentido esta afirmação
se baseia na indagação sobre em quais parâmetros uma comunidade ganha status
de bairro?
As estratégias dos moradores no campo da comunicação são várias que vão
desde cartas enviadas a programas de televisão os quais se prestam a esta
finalidade, como também para jornais. O que estou percebendo até agora é que não
existe uma maneira de reivindicação padrão destes moradores, e nem tanto um
programa de televisão específico que comporte todas as formas encontradas por
estas pessoas.
Contudo, os meios de comunicação elencados por mim na pesquisa são
significativos enquanto estratégias dentre as variadas formas que sobressaem como
dominantes no segmento. Daí permite pensar no que se torna dominante (e talvez
hegemônico), mas que não é único, em relação com outras estratégias que vão
desde aquelas organizadas em grupos de moradores, mas que também podem ser
individuais.
Nesse sentido, acreditamos na importância de investigar estas questões a
partir dos movimentos dinâmicos considerando o processo histórico e a realidade
social na qual estas relações compõem, ao passo que novas indagações são
colocadas através do diálogo com as fontes. Dessa maneira, ao propor que os
conceitos não são dados, mas revelam enquanto movimentos históricos ainda não
definidos, a discussão de Williams propicia pensar na produção e apropriação de
conceitos como necessidade para explicar a sociedade, visto que não podemos
pensar sociedade, cultura e economia isoladamente, mas investigar o porquê de
estarem separados em determinados momentos. Isso traz implicações quanto aos
porquês de certas colocações; pensar as estratégias que levam a apropriação de
conceitos é imprescindível.
A reflexão de Williams sobre cultura enquanto “modos de vida” é
aparentemente simples, entretanto, uma investigação mais profunda permite
adentrar pelas complexidades enquanto prática, ao passo que ter esse suposto nos
coloca enfrentamentos necessário para pensarmos como efetivamente visualizar e
compreender de quais maneiras os sujeitos experimentam as relações sociais a
partir dos modos como organizam suas vidas. Tais organizações não estão
necessariamente em uma maneira esquemática e simples, pois muitas vezes se
apresentam sem uma sequencia e linearidade, chegando a supor que não exista
sentido.
Corremos os riscos enquanto pesquisadores em menosprezar as sutilezas
que compõem as formas de sobrevivência e atuação dos sujeitos sociais. Por
exemplo, no campo da comunicação. Como os modos de comunicação entre os
sujeitos na cidade se configuram enquanto aspecto cultural que interfere e constitui
a dinâmica social?
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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
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WILLIAMS, Raymond. Dominante, Residual e Emergente. In:____. Marxismo e literatura. Rio de
Janeiro:
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J. Zahar, 1979, p. 124.
Idem, p.127.
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WILLIAMS, Raymond. Dominante, Residual e Emergente. In:____. Marxismo e literatura. Rio de
Janeiro:
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J. Zahar, 1979, p.129.
THOMPSON, E. P. Exploração. In: _____. A formação da classe operaria inglesa. 2. ed. São
Paulo:
12
Paz e Terra, 1988. Vol. 2, p. 11-38.
13
Idem, p.18.
HALL, Stuart. Para Allon White; metáforas de transformação In:____Da diáspora: identidade e
mediações
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culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, p.228.
Idem, p.239.
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