Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
relações internacionais
Robert Jackson • Georg Sørensen
Introdução às
relações internacionais
Teorias e abordagens
Tradução:
Bárbara Duarte e Carlos Alberto Medeiros
Revisão técnica:
Arthur Ituassu
Prof. da PUC-Rio, mestre e doutor em Relações Internacionais
pelo Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio
Para os nossos estudantes
Título original:
Introduction to International Relations
(Theories and Approaches)
Jackson, Robert
J15i Introdução às relações internacionais: teorias e abordagens/Robert Jackson, Georg Søren-
3.ed sen; tradução Bárbara Duarte, Carlos Alberto Medeiros; revisão técnica Arthur Ituassu. –
3.ed., rev. e ampl. – Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
il.
Tradução de: Introduction to international relations (theories and approaches)
Inclui bibliografia e índice
Inclui glossário
ISBN 978-85-378-1769-8
Nesta nova edição, beneficiada pelos proveitosos comentários dos leitores das
edições anteriores, fomos estimulados a manter o objetivo e o formato básicos
do livro: uma introdução sucinta e de fácil compreensão às principais teorias e
abordagens de Relações Internacionais (RI). Também seguimos as sugestões de
ampliar o foco sobre “por que estudar RI” no Capítulo 1, fazer uma atualização
importante no Capítulo 7 para incluir temas e teorias mais contemporâne-
os e ampliar as “questões-chave” no Capítulo 11. Todos os capítulos foram
atualizados à luz de acontecimentos internacionais da atualidade e debates
em curso nessa disciplina. O livro tem agora uma estrutura mais clara, com
capítulos organizados em quatro partes: 1. O estudo de RI; 2. Teorias clássi-
cas; 3. Abordagens e debates contemporâneos; e 4. Política e questões. Foram
acrescentadas, ao final de cada capítulo, questões que conectam teoria e prática.
O site de apoio foi revisto e ampliado; os links incluem referências a debates
teóricos, bem como informações, em âmbito mundial, sobre situações em áre-
as geográficas específicas, dando assim aos estudantes uma perspectiva sobre
como a teoria pode dialogar com o mundo real. Esta nova edição contém, ao
final do livro, um glossário de termos-chave.
Somos gratos pelo apoio e incentivo de muitas pessoas. Tim Barton, da edi-
tora Oxford University Press, apoiou com entusiasmo o projeto desde o início.
Vários leitores anônimos fizeram sugestões de grande auxílio para as revisões
e esclarecimentos. Alguns colegas nos aconselharam e encorajaram: Will Bain,
Derek Beach, Michael Corgan, Kenneth Glarbo, Hans Henrik Holm, Kal Holsti,
Peter Viggo Jakobsen, Brian Job, Knud Erik Jørgensen, Anne Mette Kjær, Tonny
Brems Knudsen, Mehdi Mozaffari, Liselotte Odgaard, Elias Götz, Jørgen Dige
Pedersen, Nikolaj Petersen, Thomas Pedersen, Jennifer Jackson Preece, Mette
Skak, Sasson Sofer, Morten Valbjørn e Mark Zacher.
Sarah Iles foi de gande ajuda como editora-chefe desta edição. Annette An-
dersen mais uma vez tratou o texto com a eficiência e a pontualidade usuais.
Lotte Dalgaard Christensen e Maiken Gelardi Madsen fizeram a revisão do texto,
sugeriram referências, revisaram tabelas e ajudaram a corrigir os vários dados
no Centro de Recursos Online deste livro junto com a Oxford University Press
(estudos de caso, questões para revisão, links e flashcards). Em tudo isso, reali-
zaram um trabalho soberbo, apresentando ideias, acrescentando elementos e
5
6 Introdução às relações internacionais
fazendo correções, garantindo que tudo fosse colocado no devido lugar. Agra-
decemos em especial aos leitores que nos ofereceram observações úteis sobre
a última edição, incluindo nove especialistas anônimos. Tentamos lidar com
as excelentes sugestões de modo a gerar melhorias sem sacrificar os objetivos
e as qualidades da edição anterior, que, em geral, receberam elogios. Estamos
confiantes de que tanto professores quanto alunos concluirão que esta nova
edição conseguiu alcançar esse objetivo.
Por fim, agradecemos mais uma vez a nossas esposas e nossos filhos por
apoiar nosso esforço contínuo de produzir um manual de RI que possa contri-
buir para a formação de leitores não só na América do Norte e na Europa, mas
em qualquer lugar onde as relações internacionais sejam ensinadas e estudadas
como uma disciplina acadêmica.
Aarhus e Redbourn
Novembro de 2015
Novidades desta edição
·· Novas perguntas, ao final dos capítulos, que desafiam o leitor a analisar o modo
como as teorias apresentadas organizam e modelam as perspectivas globais.
7
Sobre este livro
Atualmente, quase toda a população mundial vive dentro das fronteiras das
distintas comunidades territoriais chamadas de Estados — cerca de 7 bilhões
de pessoas são cidadãos ou sujeitos de algum país. Para mais de meio bilhão
de habitantes dos países desenvolvidos da Europa ocidental, América do Nor-
te, Austrália, Nova Zelândia e Japão, a segurança básica e o bem-estar são em
geral considerados naturais, por serem garantidos e, em geral, fornecidos dire-
tamente pelo Estado. No entanto, a situação nos países em desenvolvimento
da Ásia, África e antiga União Soviética é quase que oposta para a maioria da
população — proteção, policiamento, imposição da lei e outras condições civis
de segurança mínima não são garantidos a todos. Ademais, para muitos, ter
acesso a alimentação adequada, água limpa, habitação e necessidades socioeco-
nômicas similares é um desafio diário. A disciplina de Relações Internacionais
(RI) procura entender como os povos estão providos ou não dos valores bási-
cos: segurança, liberdade, ordem, justiça e bem-estar.
17
18 Introdução às relações internacionais
Dicas de estudo
Este livro foi enriquecido com uma gama de ferramentas de aprendizado para
ajudá-lo a avançar pelo texto e reforçar seu conhecimento de RI. Trata-se de
um guia que mostra como tirar o máximo de seu texto.
Resumos de capítulos
Breves resumos, ao início de cada capítulo, criam condições para a dis-
cussão de temas e questões que serão apresentados e indicam o escopo da
cobertura em cada capítulo.
Quadros
Por todo o livro, quadros fornecem informações extras sobre determinados te-
mas que complementam sua compreensão do principal texto de cada capítulo.
Termos do glossário
Termos-chave aparecem em negrito no texto e são definidos num glossário
ao final do livro para ajudá-lo a revisar o conteúdo.
Pontos-chave
Ao final de cada capítulo, há um conjunto de aspectos-chave que resumem
os argumentos mais importantes desenvolvidos em cada um deles.
Perguntas
Uma série de perguntas cuidadosamente selecionadas é fornecida para
ajudá-lo a avaliar sua compreensão dos temas centrais, e também pode ser
usada como base para discussão em seminários ou trabalhos de curso.
Leituras complementares
São fornecidas listas de leituras como guias para se descobrir mais sobre os
temas que aparecem em cada capítulo e para ajudar a localizar os principais
livros desse campo.
20
Guia do Centro de Recursos Online
www.oxfordtextbooks.co.uk/orc/jackson_sorensen6e/
Para estudantes:
Estudos de caso
Cada capítulo é complementado por um breve estudo de caso, por sua vez
acompanhado de tarefas destinadas a reforçar sua compreensão dos temas
apresentados.
Links
Uma série de links comentados, organizados por capítulo, vai direcioná-lo
a diferentes debates teóricos, assim como a informações sobre situações de
RI em diferentes locais do planeta.
Há links para tratados importantes, artigos e trabalhos escritos, bem
como mapas e informações sobre organizações internacionais e uma cole-
ção dos mais relevantes documentos sobre a Guerra do Iraque.
Flashcards
Uma série de flashcards interativos contendo termos e conceitos-chave serve
para testar sua compreensão da terminologia de RI.
21
22 Introdução às relações internacionais
Para instrutores:
Quadros do livro
Todas as figuras e tabelas do texto são apresentadas em formato de alta
resolução para possibilitar o download em software de apresentação ou o
uso em tarefas e material de exame.
PARTE 1 Estudando RI
Resumo
Este capítulo responde à pergunta “por que estudar RI?”. Começa apresentando as
bases sociais e históricas das relações internacionais, ou RI. O objetivo é enfatizar
a realidade prática das relações internacionais em nossas vidas e associá-la ao seu
estudo acadêmico. Essa ligação é feita, aqui, focando o principal tema histórico
das RI: os Estados soberanos modernos e as relações internacionais do sistema
de Estados. Por que existem Estados e sistemas
de Estados? Três tópicos centrais são discutidos:
o significado das relações internacionais na vida
cotidiana e os principais valores providos pe-
los Estados; a evolução histórica do sistema de
Estados e da economia mundial; e o mundo con-
temporâneo de Estados em transição.
26 Estudando RI
ocidental. Nos séculos XIX e XX, o sistema de Estados foi ampliado a fim de
abranger todo o território global — leste e oeste, norte e sul. Hoje, RI é o estudo
do sistema global de Estados a partir de várias perspectivas acadêmicas, sendo
que as mais importantes serão discutidas no decorrer deste livro.
O mundo de Estados é basicamente um mundo territorial. As pessoas preci-
sam viver em algum lugar do planeta, esses lugares precisam relacionar-se entre
si de um modo ou de outro. É uma forma de organizar politicamente as regiões
povoadas do mundo, um tipo diferenciado de estruturação política territorial
com base em inúmeros governos distintos, que são legalmente independentes
uns dos outros. Nesse sentido, o único grande território que não é considerado
um Estado é a Antártida, administrada por uma associação de Estados que
têm interesse em seu meio ambiente e em seu potencial em termos de pesquisa
científica e desenvolvimento econômico. Para entender o significado das RI é
necessário compreender a vida dentro de um Estado. O que isso implica? Qual
sua importância? Como devemos pensar sobre isso? Estas questões — principal-
mente a última — são a preocupação central deste livro. Os capítulos seguintes
tentam responder de várias formas a esta pergunta fundamental. Este capítulo
aborda o principal tema histórico das RI: a evolução do sistema de Estados e o
mundo contemporâneo de Estados em transição. A história é importante por-
que os Estados e o sistema de Estados precisavam vir a existir, tornar-se uma
realidade prática, antes que pudessem ser teoricamente estudados.
Por que estudar RI? É importante, antes de começar a responder a esta ques-
tão, avaliar nossa vida diária como cidadãos de Estados particulares e nossas
expectativas quanto a esses Estados. Há, no mínimo, cinco valores sociais bási-
cos que os Estados supostamente devem defender: segurança, liberdade, ordem,
justiça e bem-estar. Por serem tão fundamentais ao bem-estar humano, tais
valores sociais precisam ser protegidos e garantidos. É claro que outras orga-
nizações sociais, além do Estado, podem assumir tal responsabilidade: como a
família, o clã ou as organizações étnicas ou religiosas. Na Era Moderna, contu-
do, o Estado tem sido, em geral, a principal instituição a cumprir esta função e
espera-se que o próprio garanta estes valores básicos. Por exemplo, as pessoas
costumam achar que o Estado deveria financiar a segurança, responsável pela
proteção dos cidadãos com relação a ameaças internas e externas. Esta é uma
preocupação ou um interesse fundamental dos países. No entanto, a própria
existência de Estados independentes afeta o valor da segurança: vivemos em
um mundo de muitos países, quase todos minimamente armados. Dessa forma,
os Estados tanto defendem como ameaçam a segurança das pessoas — este
paradoxo do sistema de Estados é geralmente conhecido como “dilema de
segurança”. Portanto, assim como qualquer outra organização humana, os
Estados apresentam problemas e soluções.
Por que estudar RI? 29
fim de impedir a guerra entre grandes potências (ver link 1.10). Esses esforços
não tiveram o sucesso que se esperava. Mas as RI permanecem importantes
porque buscam entender o mais amplamente possível as diferentes maneiras
pelas quais as relações internacionais podem fortalecer, mas também solapar,
a qualidade de vida de tantas pessoas que vivem em diferentes países ao redor
do globo.
A Segunda Guerra Mundial não apenas enfatizou a realidade dos perigos
da guerra entre grandes potências. Ela revelou também a importância de se
impedir qualquer potência de escapar do controle, assim como a imprudência
de seguir uma política de apaziguamento — adotada pela Grã-Bretanha e pela
França em relação à Alemanha nazista, um pouco antes da guerra, e que pro-
vocou consequências desastrosas a todos, inclusive ao povo alemão.
Após a Segunda Guerra Mundial, verificamos também outros momentos de
expansão da consciência no que diz respeito à importância fundamental desses
valores. A crise dos mísseis cubanos de 1962, por exemplo, esclareceu os perigos
da guerra nuclear e o fato chocante de que ela poderia destruir a civilização
humana. Os movimentos anticoloniais na Ásia e na África dos anos 1950 e
1960 e os movimentos dissidentes nas antigas União Soviética e Iugoslávia no
final da Guerra Fria demonstraram claramente quanto a autodeterminação
e a independência política ainda eram relevantes. A Guerra do Golfo (1990-
91) e os conflitos nos Bálcãs, em particular na Bósnia (1992-95) e no Kosovo
(1999), foram uma lembrança da importância da ordem internacional e do
respeito pelos direitos humanos. Em 2001, os ataques a Nova York e Washing-
ton despertaram a atenção da população norte-americana e de outros países
com relação aos perigos do terrorismo internacional (ver link 1.16). Mais re-
centemente, os levantes populares (a “Primavera Árabe”) no norte da África
e no Oriente Médio (2010-13), a guerra civil na Síria (iniciada em 2011 e em
andamento enquanto este texto está sendo escrito), o conflito entre Israel e
palestinos em Gaza, a guerra de secessão na Ucrânia e a postura ameaçadora
da Rússia de Vladimir Putin no Leste europeu (desde 2014), assim como o
avanço da organização terrorista radical Estado Islâmico (EI) (a partir de 2014),
demonstram uma vez mais a importância vital desses mesmos valores.
Já a Grande Depressão (1929-33) demonstrou para a população mundial
como os meios econômicos de vida poderiam ser afetados de modo adverso, até
mesmo destruídos, através de condições específicas de mercado não só internas,
mas também internacionais (ver link 1.11). Já a inflação global da década de
1970 e do início dos anos 1980, causada por um aumento súbito e dramático
nos preços do petróleo pelo cartel da Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (Opep), relembrou quanto as interconexões da economia global
podem ameaçar o bem-estar nacional e pessoal em qualquer lugar do mundo.