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IMPRESSO PORTE PAGO

DR/Rj
I lSR 52.224ói8ó

Órgão Oficial do Conselho Regional de Economia -1ª Região- Rio de Janeiro - Nº 28 - DEZEMBR0/1990- JAN/ 91

POSSE CONJUNTA
DO CORECON, IERJ
ESINDECON
----Página2----

PREMIO DE
ECONOMIA 1990
-·- - - - - -·Página 3 - -

ENTREVISTA
, COM
JOSE LUIS FlORI
----Página 1 1 - - - -
.,
ARTIGOS:
. .,MONOPOLIO
,
DO PETROLEO, DIVIDA
EXTERNA E TECNOLOGIA
- - - P á g s . 04,10 e 1 2 - - -

ENTREVISTA
REIS VELLOSO
Págs. 5,6,7 e 8
fuillil®Dffi:l@
--------------------------------~----~~------CORECON

CONVI1EAOS
--EDIMRIAL-- ECONOl\11STAS
ão é privilégio deste governo, instrumento de alocação de
nem um atributo de sua recursos. Não abre espaço para POSSE CONJUNTA
equipe econômica, nenhum projeto nacional a não
deixar-se enredar ser aquele que. os automatismos Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro
pelos problemas econômicos de econômic~s possam vir a criar.
curto prazo. No Brasil, os anos Vale dizer, o governo tem como
(CORECON)
oitenta foram consumidos pelos proposta a transposição
mais diferentes esforços de inequívoca do discurso neoliberal. Instituto dos Economistas do Rio de Janeiro
estabilização que, em comum, E este é o seu projeto de l'ongo
prazo.
(IERJ)
além do objetivo, têm o fracasso
como resultado. O "Plano Collor"
não é uma exceção neste quadro. É verdade que o neoliberalismo
ganhou importância no Brasil Sindicato dos Economistas do Rio de Janeiro
Entretanto, após poucos meses como um dos discursos de (Sll-IDECON)
de imobilidade e perplexidade oposição aos governos militares.
causadas pela engenharia Nos últimos quinze anos a luta
contra o Estado ganhou espaço na .No prox1mo dia 18 de dezembro, ocorrerá a posse conjunta das
heterodoxa do "Plano Brasil Diretorias das instituições que congregam os economistas do Rio de·
Novo", a sociedade inicia uma grande imprensa. A deterioração Janeiro.
reação e, tateando, começa a dos serviços públicos,
A posse se realizará no Clube de Engenharia, Av. Rio Branco 124- 22º
formular uma nova estratégia principalmente aqueles voitados andar, às 18:30 hs.
para énfrentar a crise econômica. para o atendimento das
necessidades das camadas menos Após a solenidade de posse haverá um debate sobre o quadro atual da
economia brasileira, com a participação dos economistas Carlos Geraldo
A expressiva vitória eleitoral de privilegiadas da população, e os Langoni, Maria da Conceição TavareS,e Luís Alfredo Salomão.
candidatos que, em sua evidentes e notórios descalabros
campanha, criticaram o plano de administrativos, que se A solenidade terminará com um cock=tail de confraternização.
estabilização por seu caráter personificaram na figura mística
recessivo e a proposta do "marajá", se encarregaram de
apresentada por empresários e transformar esta posição em uma
parcelas dos trabalhadores no quase unanimidade.
processo de entendimento
Entretanto, sabemos que um
~ Presidente
Marcelino José Jorge
nacional foram dois fatos
discurso que se presta a uma CORECON Vice-Presidente
Lia Hasenclever
políticos marcantes nestes últimos campanha pode não ser adequado EXPEDIENTE
meses e propõem efetivamente para ser transformado em
uma mudança de rumos na estratégia de governo. E isto os Orgão Oficial do Conselho Regio- CORECON
condução da política econômica. próprios segmentos que nal de Economia do Rio de J anei- Conselheiros Efetivos
ro: Arthur Câmara üardozo, Carlos
formularam inicialmente este
Os economistas também não Editora e Jornalista Responsável Francisco Theodoro Machado Ri-
discurso, agora, estão começando beiro Lessa, Cláudio Monteiro
estão infensos.a este movimento Cláudia Valéria Plácido
a perceber. Diretor Responsável - Márcio Considera, Frederico Machado,
da sociedade. Nos últimos meses, Amorim, José Clemente de Olivei-
os meios de comunicação Henrique Monteiro de Castro
As propostas que estão sendo Conselho Editorial ra, Lia Hasenclever, Marcelino J o-
começaram a publicar opiniões apresentadas à mesa do Pacto ou Claúdio Monteiro Considera, sé Jorge, Márcio Henrique Mon-
críticas ao programa de Entendimento NaCional são Ignácio de Mourão Rangel, José teiro de Castro, Tito Bruno Ban-
estabilização, tanto no que se apenas o primeiro passo, a Clemente de Oliveira, José Márcio deiraRyff.
refere à sua concepção, quanto à primeira reação organizada que Camargo, Marcelino José Jorge, Conselheiros Suplentes
sua execução. E mais, inicia-se a Silvando da Silva Cardoso, Márcio Airton de Albuquerquer Queiroz,
transcende a combativa luta dos Henrique Monteiro de Castro.
cobrança de um projeto de longo Carlos Aguiar Medeiros, Carlos
trabalhadores, que, atacando o Fotografia Augusto Callou, 'Elvio V alente,
prazo, sem o qual, e esta opinião programa de estabili_zação, põe Sheila Chalfun Geraldo Meyer de Souza Carnei-
começa a se corporificar, os em xeque o projeto neoliberal. Colaboradores ro, Hélio Oliveira Portocarrero
problemas ditos conjunturais não Outros passos, entretanto, terão Ignácio de Mourão .I{angel, Ange- Castro, Ignácio de Mourão Ran-
serão enfrentados com êxito. que ser dados. A crise brasileira la Peixoto, Marcelino José Jorge, gel, Renato Augusto. da Matta,
João Roberto B]lering, Roberto Sandra Helena Bondarovsky
O "etapismo" que postula que tem raízes profundas, é uma crise
Saturnino Braga, Juvenal Osório Secretário de Fiscalização
de estrutura, e para superá-Ia é Gomes, Armando Alencar, Dare
primeiro devemos estabilizar para José Publio de Almeida Cunha
necessário um verdadeiro Projeto Costa, José Luis Fiori, José Publio Secretário de Administração
depois desenvolver está em xeque
Nacional de Desenvolvimento. A de Almeida Cunha, lsac Roffé Za- RaifMoyses Sobrinho
no momento atual. Por mais que a gury, José Mário de Campos Pin-
tarefa dos economistas é, junto Secretária Jurídica
equipe econômica do governo to, Antonio Luiz Figueira Barbosa. Terezinha de Jesus Almeida Joa-
tente defender-se, afirmando que com os demais segmentos da
Secretarias de Redação quim
a luta pelo desenvolvimento seja sociedade, ajudar em sua Maria das Graças Souza de Olivei-
construção. Para tal, entretanto, Delegt~.cia Regional de Campos
uma cruzada pela inflação, as ra Castro, Sheila Chalfun
nunca é demais lembrar, devemos Tiragem- Periodicidade Denise Cunha Tavares Terra
forças organizadas da sociedade 15.000 mil exemplares- bimestral Avenida Dom Bosco, 49
estão a propor uma correção da explicitar nossas diferenças e Telefone (0247)- 23-8333
resisitir à tentação de adotar As matérias assinadas por colabo-
política econômica. radores não refletem, necessaria- Biblioteca Eginardo Pires
posturas tecnocráticas em mente, a posição do CORECON- Bibliotecária Angela Peixoto
O "Plano Brasil Novo" se detrimento de soluções RJ. É permitida a reprodução total Avenida Rio Branco, 109/ 19º an-
caracteriza por ser uma aposta democráticas amplamente ou parcial dos artigos desta edi- dar
inequívoca no mercado como discutidas na sociedade. ção, desde que citada a fonte. Rio de Janeiro- RJ, CEP: 20054
Conselho Regional de Economia Fone (021) 224-0578- ramais B-3 e
do Rio de Janeiro - B-4
~
·CORE.C O N - - - - - · - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3

PROFESSOR RANGEL

O Dr. Ignácio de Mourão parabenizá-lo e permanecer mente, tendo sido, no perío- Tenho insistido, incansa- sos captados no resto do sis-
Rangel recebeu o título de abertos às suas contribui- do de 1932-80, uma das eco- velmente, na demonstração tema. Temos hoje, em conse-
"Benemérito do Estado do ções, sempre oportunas, sóli- nomias mais prósperas do do erro dessa terapêutica. A quência de toda uma seql.fên-
Rio de :aneiro", em 30 de· das e inovadoras. planeta - Dar-se-á que essa febre declina temporaria- cia desses ciclos, uma agri-
novembro último, título esse. Publicamos na íntegra o experiência feliz se repita mente, mas a infecção segue cultur~ que dispensou levas
conferido pela Assembléia discurso do Professor Rangel agora, a exemplo do que está o seu curso, implacavelmen- e levas de trabalhadores sem
Legislativa Fluminense, por por ocasião dessa sofenida- acontecendo com uma plêia- te, e o absurdo dessa prática reduzir sua própria produ-
iniciativa do Deputado Pe- de: de de países medianamente está conduzindo à rebeldia do ção; uma indústria leve não
reira Pinto. desenvolvidos, como a R. P. corpo social contra ela. - raro carregada de excesso de
Senhores Deputados da China, a fndia, as Filipi-· Seria, de fato, um equívoco capacidade produtiva; uma
Em se tràtando do Profes- Prezadíssimo amigo Perei- nas, o Vietnam, a Coréia e, esperar que as classes sociais indústria pesada, idem. En-
sor Rangel, maranhense de ra Pinto em nossa América Latina, em torno das quais tende, tretanto, os grandes serviços
76 anos, essa homenagem Queridos amigos e amigas apenas Cuba? cada vez mais a gravitar todo
marca um justo reconheci- de utilidade publica, a come-
Não tenho dificuldade em o nosso sistema social, a sa- çar pelo indispensável trans-
mento do Estado às ativida- confessar-me grato por esta Tomara que sim. Tal como . ber o empresariado e o ope- porte ferroviário de carga;
des que há cerca de 50 anos oportunidade de dirigir-vos a ocorre nesses países, o Brasil rariado industriais, aceitas- seguindo pela produção de
esse emérito estudioso da palavra. Nos meus anos já pode desenvolver-se através sem mansamente uma políti- eletricidade e de outros itens
economia do país vem reali- provectos, tudo o que diga de investimentos que pode ca que conduz o primeiro à
zando em prol do conheci- suprir, orientados para a im- que interessam ao balanço
terá sempre o sabor de testa- concordata e à falência, e, o energético; pela infra-
mento da realidade brasilei- mento, reflexo de vivências e plantação de tecnologia já segundo, ao desemprego. estrutura urbana, incluindo
ra, com características que meditações já antigas, na es- provada nos países de van- os metropolitanos, em meia
têm levado sempre a marca perança de que as novas ge- guarda, sem esperar, como As eleições de 25 de no- dúzia de grandes cidades, os
da originalidade ou, de outra rações encontrem, nessa estes, por uma tecnologia vembro, por diversas formas, serviços de água e esgotos,
maneira, da visão acurada ménsagem despretensiosa, ainda em prancheta. Tudo levaram a resultados que · tudo isto está na pendência
sobre questões complexas, algo de útil para a solução depende da implantação de exigem uma polftica econô- de investimentos de vulto
quer econômicas, quer so- dos problemas pendentes. mudanças institucionais, pa- mica que, sem descurar da sem precedentes, sem fal'ar
ciais que o Brasil atravessou Nosso jovem país tem, nas ra as quais estamos amadu- Juta contra a inflação, a asso- na insuficiência da constru-
ao longo de sua formação . posições de comando, uma reciclos, ordenadas em torno ciem inseparavelmente à lu- ção residencial que, além de
Em livros como: "A Duali- equipe singularmente jovem, dos direitos de concessão e ta contra a recessão e o de- um déficit estimado em dez
dade Básica da Economia no seio da -qual, segundo te- de garantia. semprego. Precisamente milhões de residências, deve-
Brasileira" e "A Inflação Bra- nho ouvido, fazem falta al- aquilo que venho recomen- rá completar-se com uma de-
Nossa crise atual dando, incansavelmente, por
sileira", além de inúmeros guns cabelos brancos. manifesta-se, entre outras manda adicional de um mi-
artigos, participação em Pla- todos os meios de comunica- lhão de residências por ano.
Vivemos uma crise nacio- coisas, pelo fenômeno estu- ção ao meu alcance.
nos de Governo, Estudos, nal muito grave, complicada dado sob o nome de inflação. Ora, tudo isto está na pen-
Congressos, Seminários, o pelo fato de desenvolver-se Assim como as moléstias in- Sob minha fé de ofício pro- dência de uma revisão do
Professor Rangel, como é co- no contexto de uma crise fecciosas que se manifestam fissional afirmo a possibilida- direito de concessão e do
nhecido carinhosamente nos mundial não menos grave, pela febre. Ora, seria tão des- direito de garantia, sem o
de dessa associação da luta
meios acadêmicos, segue im- que, como a de há meio sécu- propositado limitarmos nos- contra a recessão e pela reto- que a transferência dos exce-
primindo algo de fundamen- lo, corre o risco de desembo- sa terapêutica econômica ao mada do desenvolvimento. dentes a serem gerados nu-
tal para qual :J_uer economis- car num conflito universal, combate à inflação, como, Essa associação, não apenas ma área do sistema, onde há
ta, a luta cotidiana e despo- comparado com o qual a li para a medicina, descurar da é possível, mas, para ela não excesso de capacidade, para
jada de qualquer vaidade Grande Guerra, ·que custou infecção e cuidar apenas de as áreas carecidas de investi-
existe alternativa. Nossa in-
pessoal, no sentid9 de conhe- 60 milhões de vidas, pode forçar a baixa da febre. flação se exacerba, pontual- mentos não serià possível. -
cer e dar a conhecer ao maior
não passar de um ensaio. Não obstante, é isso o que mente, com o advento da Trata-se de mudanças insti-
número de pessoas a seu al- tucionais que não dependem·
cance o que vem a ser este · Devo começar por lembrar os nossos planejadores estão recessão; regredindo, quan-
tentando fazer, como se fos-· do a economia se reativa. da· prévia estabilização mo-
país carregado de dificulda- que, tal como aconteceu netária, mas que, como nos
des, heterogeneidades, equí- com a passada Grande De- se possível curar um doente A economia brasileira
. de pneumonia submetendo-o ciclos passados, conduzirá a
vocos, mas ao mesmo tempo pressao, o Brasil imergiu na desenvolve-se através de ci-
de extrema riqueza. presente juntamente com o a banhos de assento em água essa estabilização. Esta a or-
clos decenais, cada um dos dem obrigatória do encami-
Feito o registro da home- resto da humanidade. Entre- cada vez mais fria - que é o quais abre-se com mudanças
nagem prestada pelo Estado tanto, daquela feita, nosso que vimos fazendo, desde o nhamento da matéria.
institucionais propiciadoras
do Rio de Janeiro ao Profes- país, a certa altura, entrou a Plano Cruzado, ao Plano de investimentos em áreas Muito , grato por vossa
sor Rangel, resta-nos desenvolver-se vigorosa- Brasil Novo. ainda retardatárias, de recur- atenção.

PRtMIO MONOGRAFIA 1990 PRi:MIOS


A partir do dia 17 I 12 estarão abertas as inscrições Foi assinado um convênio com o BANERJ visando o
para o "Prêmio Conselho Regional de Economia-RJ", financiamento da premiação que será a seguinte:
que tem como objetivo estimular e divulgar os metho- 1º Prêmio -2.000 BTN's
res trabalhos dos estudantes de instituições fluminen-

PRÊMIO ses do curso de Graduação em Economia.

INSCRIÇÃO
2º Prêmio
3º Prêmio
COMISSÕES JULGADORAS
- 1.000 BTN's
- 500 BTN's

. .OORIRA As inscrições podem ser feitas pelos chefes de Depar- ·


tamento de Economia das Universidades ou pela Dire-
ção ou equivalente de Faculdades isoladas, mantendo-
se inviolável o nome do Autor e do orientador.
O Plenário ·do CORECON escolherá a Comissão
Examinadora que julgará os trabalhos, ela será presidi-
da pelo Presidente do CORECON e será composta de
pelo menos quatro profissionais com notório saber no
campo da Ciência Econômica. A Presidência da Comis-
REGULAMENTO são Examinadora terá o voto de decisão em caso de
empate.
Somente poderão concorrer os trabalhos concluídos no Maiores informações podem ser obtidas na sede do
semestre de 1989 e 1º semestre de 1990, sendo até 4 · CORECON / RJ, na Av. Rio Branco, 109/199 andar -
(quatro) monografias para cada Instituição de Ensino. Centro/RJ ou pelo telefone 224-0578 com as senhoras
As monografias devem ser entregues com um pseu- Marley e Cely. Q prazo de entrega dos trabalhos
dônimo em 5 (cinco) vias datilografadas. termina no dia 7 de janeiro.
~~~@
4 ------------------------------------------~~---cORECON

O MONOPÓLIO EM QUESTÃO
José Mário de Campos Pinto

O monopóli o es tata l do petróleo, institu cio- vação, ressalte-se que foi a política de preços,
nalizado no país pela Lei 2004, de 3 de outubro adequada às cricunstâncias então vigentes
de 1953. fo i reco nhecido e consagrado como qu e assegurou a continuidade e expansão do
uma das maiores conquistas do povo brasilei- programa exploratório até alcançarmos as
ro. ao ter sua in clusão aprovada pela quase importantes desco~rtas da plataforma sub-
totalidade da Assembléia Nacional Consti- marina. Por essa política o preço do petróleo
tuinte. na Constituição promulgada em 1988. nacional deve ser fixado em paridade com o
Entreta nto. a partir da posse do Presidente da similar importado; assim. apesar deste princí-
República. eleito em 1989, que assumiu o pio quase nunca ser integralmente seguido,
cargo jurando cumprir e defender a Nova com o chamado "choque" de 1973, que quadru-
,C-onstituição, os etern os inimigos da Lei 2004 plicou os preços do mercado internacional e,
e. agora do art igo 177 da Constituição. passa- posteriormente, em 1979. quando ocorreu uma
ram a ter um número crescente de aliados, nova multiplicação de preços, a atividade
'incluindo-se entre estes f.iguras de relevância
exploratória no país aumentou de muito a sua
na gestão govern amental e . at'ê' mesmo na rentabilidade.
direção da própria PETROBRAS. A importância dessas modificações pode ser
No presente texto, não entraremos na an':íli-
avaliada por algumas cifras do período 1978-
se desse aparer. te paradoxo; pretendemos ape- !989. cujo início fixamos justamen.te por ser o
nas arrolar dados e fatos que possibilitem ao
leitor analisar realisticamente o problema pos- ano a partir do qu al a PETROBRAS passou a
to em questão. a ntes que in verdades e distor-
ter, praticamente, como únicas fontes de re-
ções amplam ente veiculadas pelos grandes cursos. as suas receitas operacionais, quase
meios de comunicação o conduzam a apoiar que totalizadas pelo preço do petróleo nacio-
uma solução da qual venha a se arrepender nal e pela margem de refinação. isto é. a
quando. mais esclarecido sobre a matéria. vier remuneração de transformar o petróleo bruto
a reconhecer que a mesma é contrá ria aos em derivados.
interesses do povo brasileiro. Em 1978. deste total, a margem de refinação
Para isto. procuraremos responder, da for- representava 84% e conseqlientemente a recei-
ma mais clara e concisa possível, às questões ta do petróleo correspondia a 16%; em 1988
seguintes: altera-se esta posição, com a margem de
refinação declinando para 40% e a conseqüen-
- Quais foram as razões que levaram a te elevação da receita do petróleo para 60%.
grande maioria do povo brasileiro a apoiar Isso ocorreu por duas razões: a primeira foi
ardorosamente e ao Congresso Nacional a uma progressiva elevação do preço do petró-
a provar a institucionalização do monopó- leo nacional, por uma menos distorcida apli-
lio estatal do petróleo no país e a criar a cação da sua paridade com o do importado; a
PETROBRÁS como sua empresa executora, segunda e ma is importante razão foi que a
em 1953? participação do petróleo nacional na carga
- Em que medida essas razões permanecem total processada por nossas refinarias elevou-
válidas depois de decorridos trinta e sete se de menos de 16% em 1978 para mais 50% em
anos. durante os quais se verificaram pro- 1989. evidentemente como resultado do vigo-
fundas mudanças nas economias nacional roso a umento da produção interna.
e internacional? Com a seqi.tência · da descoberta de novos e
promissores campos, as perspectivas de hoje
Para a primeira resposta convém prelimi- são bem diferentes das de 1953. permitindo-
narmente recordar as circunstâncias que en- nos admitir a auto-suficiência do país também
volveram a campanh a do petróleo é nosso. na produção de petróleo, se mantivermos a
culminada com a promulgação da Lei 2004. continuidade do programa exploratório.
ainda que de forma resumida. Em que med ida este quadro pode ser altera-
O surto industrial eclodido no Brasil nos do com a revogação do monopólio estatal?
a nos da g uerra. entre 1939 e 1945. revelou-se hoje mais da metade do total da carga proces- Em primeiro lu gar, torna-se forçoso reco-
Como o empresariado nacional nessa época nh ecer que o custo médio de produção do
vigo roso bastante para prosseg uir evoluindo era ainda bastante incipiente, restavam como sada por nossas refinarias e, fi nalmente, após
no pós-guerra. Entretanto, decorridos alguns concluída sua fase de implantação, a partir de petróleo nacional é elevado em relação ao
possíveis responsáveis capazes para a realiza- custo médio dos grandes produtores. o qu e é
anos. a co ntinuid ade deste processo de desen- ção de um investimento desse vulto as gran- !978, quando passou a dispor como única
volvimento passou a ser ameaçada por " pon- fonte de recursos o resultado de suas ativida- explicado por estarmqs trabalhando pioneira-
des empresas petrolíferas internacionais ou o
tos de estrangul amento" . representados pelo próprio Estado, através do Governo da União. des , a PETROBRÁS vem realizando investi- mente quanto à profundidade da lâmina d'á-
crescimento insuficiente . de alg un s setores A escolha en tre essas duas alternativas foi mentos anuais que flutuam entre 2 e 3 bilhões gua de nossas explorações na plataforma
produtivos. entre os quais assu mia importân- de dólares, dos quais mais de 90% representa- continental, de onde vem a ma ior parte de
cia rel evante o da produção de energia. feita, porém, através de uma ótica mais abran-
gente do que a estritamente econômica e que dos por compras no mercado interno , promo- nossa produção. Ainda assim, o custo médio
Apesar das excelentes potenc ia lidades hi- vendo com isto a criação e expansão de do nosso petróleo, normalmente, situa-se bem
drá ulicas do país. a ex pansão dessa fonte contemplava a soberania e a segurança nacio- abaixo do preço de venda praticado no merca-
nais. numerosas empresas privadas e, conseq'üente-
energética só poderia contribuir para a solu- mente, dando expressiva contribuição para o do internaciona l, e é justamel)te esta diferen-
ção do problema em futuro relativamente Uma ampla campanha de esclarecimento ça que permite a PETROBRAS proporcionar
revelou ao povo que a continuidade do nosso aumento de empregos e da renda gerada em
distante. fa ce aos lon gos perfodos de tempo nossa economia. substancial economia de divisas para o país.
exigidos para a maturação dos projetos desse desenvolvimento a longo prazo, de forma O que ocorreria com o rompimento do
setor. As outras duas fontes energéticas in- soberana, dependi a em grande parte de uma Isto posto, vejamos a resposta à segunda monopólio?
dustriais não podiam ser consideradas como produção interna de petróleo capaz de atender qu estão. Algo semelh ante à situação de 1953. só que
a lternativas para esta contribui ção : o carvão, às exigências mínimas necessárias para a com prejuízos muito maiores para o país.
continuidade da operacionalização de nossa Preliminarmente, consideremos os fatores
principalmente. pelo ba ixo teor do m inério nas qu e possibilitaram o sucesso do monopólio Qualquer empresa internacional teria interes-
novas jazidas, e o petróleo pela pequena economia, face a eventuais restrições ao abas- se em construir refinari as no nosso território,
tecimento externo. estatal. O primeiro deles foi o a poio dado pelo
expressão das reservas até então descobertas povo à PETROBRÁS, que possibilitou ao Go- mas somente para abastecê- las com· petróleo
e pelas perspectivas pouco esperançosas de Foi revelado também que nenhum investi- verno da União proporcionar-lhe, por diversos proveniente de suas jazidas no exterior que,
suas ampl iações. mento estrangeiro seria orientado nesse sent:- meios, os recursos necessários para a imple- como já vimos, tem um custo médio mais
Assim. para qu e a crescente demanda inter- do. tendo em vista que as grandes concessões mentação do parque refinador nacional, ca- ba ixo do que o do petróleo nacional. Com este
na de energia co ntinuasse a ser a tendida, as de que dispunham as empresas petrolfferas bendo ressaltar que à medida que aumenta- procedimento ga nhariam com a importação
importações de derivados de petróleo cresce- internacionais possibilitavam-lhes uma produ- vam a capacidade instalada de refinação este do petróleo qu e, evidentemente, continuaria a
ram rapidamente. passando dos 7% de antes ção de petróleo a custo baixfssimo e pratica- aporte de recursos foi declinado até que, ser feita pelos preços praticados no mercado
da guerra para m a is~ 12% do total de nossas mente sem riscos, tomando-se injustificável praticamente a partir de 1978 a PETROBRÁS internacional, e ganhariam com a remunera-
exportações em 1951 ; já no ano seguinte, esse para elas a exploração aleatória no território passou a ter, co mo qualquer empresa privada. ção da atividade de refinação.
percentu al elevou-se para 18%, cifra assusta- nacional. A força desses argumentos empol- o resultado de suas atividades. Nessas circunstâncias, tendo em vista que o
dora para a época. tendo em vista que, no gou os mais diversos segmentos da sociedade preço do petróleo bruto representa cerca de
estágio em que se encontrava a nossa econo- brasileira, levando o Congresso Nacional a Preliminarmente. consideremos os fatores oitenta por cento do custo total da produção
mia. a dependência externa era muito grande implantar no país o monopólio estatal do que possibilitaram o sucesso do monopólio de seus derivados (gás de cozinha, gasolina.
para o desenvolvimento da quase totalidade petróleo e a criar a PETROBRÁS como sua estatal. O primeiro deles foi o apoio dado pelo diesel , quereosene, etc... ), as refmarias da PE-
das novas atividades industriais. empresa executora, com a responsabilidade de povo à PETROBRÁS que possibilitou ao Go- TROBRAS não teriam condições de sobrevi-
Ness as ci rcunstâncias, impunha-se uma construir uma indústria petrolffera integrada verno da União proporcionar-lhe, por diversos ver em regime de concorrência com as instala-
drástica redução do peso da rubrica "combus- todos os seus segmentos. meios, os recursos necessários para a imple- das no país, e a bastecidas com petróleo im-
tfveis lfquidos" na balança comercial do país, Com o acima exposto acreditamos estar mentação do parque refinador nacional, ca-: portado, pelas grandes companhias interna-
sem que co m isto fosse prejudicado o atendi- respondida a primeira pergunta que nos colo- bendo ressaltar que à medida que aumentava cionais. Sem as· refinarias, a PETROBRÁS não
mento das suas necessidades de energia. camos; não nos parece, porém, ocioso acres- a capacidade instalada de refinação, este mais teria os recursos necessários para dar
Levando-se em consideração que: os deriva- centar que o acerto da decisão tomada fica aporte de recursos foi declinando até qye, prosseguimento a seu programa exploratório
dos de petróleo constituíam-se na única alter- amplamente confirmado pelos resultados obti- praticamente a partir de 1978, a PETROBRAS e a produção interna de petróleo declinaria até
nativa viável para a continuidade do abasteci- dos pela PETROBRÁS, citando apenas como passou a ter, como qualquer empresa privada, a extinção; como consequência, o peso da
mento interno de energia; o preço do petróleo ilustração três marcos importantes dessa rea- o resultado de suas atividades como única rubrica "petróleo" na balança comercial do
importado representava cerca de um terço do lização: a partir de 1961, com a construção da fonte de recursos. Um segundo fator foi uma país aumentaria extraordinariamente e, por·
preço médio das importações de derivados; a Refinaria Duque de Caxias, foi praticamente polftica de formação de preços que assegurou fim , sem os bilhões de dólares de investimen-
oferta de petróleo no mercado internacional alcançada a auto-suficiência do país quanto à à atividade de refinação uma rentabilidade tos da PETROBRÁS, o fluxo de salários,
era abundante e a preços relativamente bai- produção de derivados e mantida a partir daf capaz de autofinanciar as expansões que se lucros e impostos por eles gerados em nossa
xos e. finalmente, que as perspectivas internas com a permanente expansão da capacidade de lhe tornaram necessárias com o crescimento economia seria interrompido, com a transfe-
para o au mento de sua produção eram desani- refinação através da construção de novas uni- da economia, polftica esta que está h~e ca- rência para o exterior das atividades e benefí-
madoras, em termos estritamente econômicos dades ou ampliação das já existentes; a nossa rente de um reexame, mas. pela importância cios por eles promovidos.
delineava-se claramente para a solução do incipiente produção de petróleo, a partir das da matéria, este reexame merece ser analisado O delineamento desse quadro nos impõe
problema a pura e simples construção de descobertas realizadas na plataforma subma- em um texto elaborado especificamente com colocar uma última questão: a quem interessa
refinarias no território nacional. rina, cresceu a taxas elevadas, representando esta finalidade. A despeito dessa última obser- o fim do monopólio est1:1tal dç; petróleo?
~
·cORECON----------~---------------------------------5

O CORECON/RJ teve o prazer de


receber o ex-Ministro João Paulo
dos Reis Velloso, para uma entrevis-
ta, poucos dias antes da realização
do "DI FÓrum Nacional - Idéias para
a modernização do Brasil" realizado
no final de novembro.
O Sr. Velloso tornou estimulante o
caráter de nossa entrevista, onde
·foram repassados diversos assuntos
relacionados com a economia brasi-
leira e mundial e destacou a impor.
tância fundamental de que se conci-
liem divergências no sentido da ela-
boração de um Plano de Longo-
Prazo, para o Brasil, e que deve ser
visto como uma contribuição impor-
tante e oportuna, num momento co-
mo o que vivemos em que1 até bem
pouco tempo, economistas de quase
todas as correntes estavam como
que afogados nas questões de curto
prazo, em que as dificuldades enor-
mes de nosso país parecem inviabili-
zar pensamentos mais projetivos.

P - Eu gostaria de saber qu e paralelo nós sociedade ao desenvolvimento. particular-


podíamos estabelecer em relação à montagem mente. naqu ela época. a industrialização vol-
do sistema de planejamento e do segmento tada para a substituição de importações. Nós
moderno do nosso setor a partir dos anos 60. tivemos também a cria<;ão do BNDE , de modo
Que contribuições pode a sociedade civil dar à que é possível ver uma divisão de economistas
preservação do bloco moderno do nosso apa- que a Lourdes Sola chamou de " os criadores
relho de Estado? de ideologias" naquele período, principalmen-
te entre os mais internacionalistas e os mais
"As 1XQ1lagen8 R - Nós começamos realmente em 88 a
reunir economistas. num sentido pluralista, e
nacionalistas e talvez tenha havido uma espé-
cie de "acordo tácito". um pacto econômico "Não há como
entre economistas que permitiu, reunindo os
comparatitXJS de.
a idéia era ter todas as tendências políticas e
todas as escolas econômicas com um propósi-
to de propor algo para a modernização políti-
moderados das duas alas, ter o mínimo de
apoio ·entre os técnicos para que pudesse Jazer zibertJliZilÇiio
pa~sescomoBrasil
ca. social e econômica do país. No terceiro acontecer o Plano de Metas e o BNDES foi um

deim~
Fórum Nacional , realizado no mês passado, dos mais. senão o mais importante instrumen-
foi feito um balanço do que houve no Governo to de execução daquela política de investi-
Collor. particularmente o ajustamento de mentos que dava , como era naturaL muita
estão ameaçadas curto prazo e também debates sobre as pré-
condições políticas e econômicas para a reto-
ênfase a investimentros de infra-estrutura que
era de responsabilidade do Governo. Nos anos sem um progrClJJllt
mada do crescimento, além de painéis volta- 60. e particularmente com a criação do IPEA e
pelonotX> dos para o problema da inflação, da dívida
externa, sobre os rumos do sindicalismo no
instituciona lização do Ministério do Planeja-
m~nto foi possível ter uma espécie de sistema de reestruturação
Brasil, a questão social, a política industrial e nacj.ona l de planejamento que era
paradigma tecnológica e no final um pout-pourri abran-
gendo desenvolvimento regional , questão da
fundado nas secretarias gerais dos ministérios
e foi se- aperfeiçoando, fortalecendo o papel do da indústria
agricultura e meio ambiente. Nós já publica- BNDES como o grande financiador das priori-
industrial" mos cinco livros com os trabalhos do Fórum e
há mais cinco sendo publicados pela Editora
dades do governo que já iam evoluindo, ou
seja, principalmente, naquele período em que
eu fui ministro, o BNDES estava sobre a nossa
inf;er11il"
José Olympio que representam a tentativa de
modernização do pensamento brasileiro, não ~.!Jpervisão, houve a reorientação no sentido
apenas no tocante à área econômica. mas de que, aos poucos , o BNDES diminuísse a
especialmente à questão social e à parte ênfase na infra-estrutura para se dedicar mais
política. Isso me faz voltar às tentativas que as indústrias básicas, principalmente, através
podem ser comparáveis. nos anos 50, quando da empresa privada nacional ou em associa-
se estava tentando cristalizar um pensamento ções entre empresa nacional e ca pita is públicos
brasileiro qu e desse suporte em termos de e <:apitais intern aciona is. Depois, veio o perío- .:.
~
6--~----------------------------------------cORECON

do de exec ução de grandes programas de para esse fim. Tem que se ter primeiro essa
insumos básicos, de bem de capital - na, idéia em. mente. isso tem que estar muito
segu ndo PND- em que certamente o BNDES claro. quer dizer. se as vantagens comparati-
foi um instrumento por excelência. Já aí não vas de países como o Brasil estão ameaçadas
apenas através de financiamento de longo pelo novo paradigma industrial. qual é o
prazo. como sempre fez. mas também de futuro industrial deste país? Eu só sejo esse
novos mecanismos de capitalização como futuro em termos de consolidação de vanta-
aquela criação das subsidiárias de capitaliza- gens que já se tinha e desenvolver algumas ·
ção do BNDES e também da criação do vantagens que agora são do tipo criado, não
Procap que era uma forma de colocar um são fatores herdados como mão-de-obra,
sistema de bancos de investimento em torno recursos naturais, são fatores relacionados
do BNDES que repassava os recursos. O com a tecnologia, com o engineering, com
mesmo se fazia em relação ·aos bancos de .software, que cjizer, o uso de mão-de-obra
desenvolvimento, de modo que havia real- qualificada de que já temos uma massa críti-
mente um sistema de bancos de desenvolvi- ca . Isso me parece o campo em que vamos
mento e de investimento no país voltados atuar em termos de prioridades para o desen-
para o médio e longo prazo. Eu devo mencio- volvimento industrial brasileiro. Agora, essas
nar que mesmo no início dos anos 70, a função novas prioridades têm que estar na cabeça
do BNDES de financiar as prioridades nacio- dos empresários e do Governo e tem que
nais o havia levado à criação do FMRI que foi haver os instrumentos que vão identificar
um esforço de reestruturação industrial que onde estão os problemas para que essas novas
naquela época se verificou, principalmente, na prioridades possam acontecer.
área das indústrias tradicionais. Nós tínhamos
tido um diagnóstico feito através do !PEA e P- Por que o Governo não tem um segundo
também de esp()cialistas do BNDES, no senti- PND, que era inteiramente orientativo de
do de que as indústrias tradicionais brasileiras investimentos do setor privado e tinha metas?
encontrava m dificuldade de competição pe-
rante a sua concorrência de empresas multi- R - Eu não posso querer que esse Governo
nacionais aqui no pafs e também no exterior. seja como eu gostaria que ele fosse , mas
na tentativa de alcançar mercados externos. tomado o fato de que ele procede de uma
pois o Brasil já estava interessado em desen- determinada forma, nós temos que ver como é
volver uma linha de exportação de manufatu- que isso se pode converter num caminho para
rados. principalmente. devido à sua fragilida- que o país faça uma polftica industrial. A
de, ela tendia a ser muito verticalízada e pela gente tem que entend.e r o seguinte: foi .
dimensão não alcançava economias de escala. lançada uma política industrial e tecnológica
não tinha eficiência suficiente. tinha proble- integrada com uma polftica de comércio exte-
mas de capitalização. de tecnologia e de ma- rior, então eu estou procurando colocar as
nagement e através do FMRI se fez ull!a coisas dentro do balizamento que foi estabele-
experiência muito válida de reestruturaçao cido. Eu já tive contatos e fui convidado para
desses setores que foi no sentido de que essas participar de reuniões no IPEA para discutir
empresas alcançassem competitividade inter- essa nova polftica industrial. com presença,
nacional. Eu acho que agora nós estamos inclusive, de todos os secretários diretamente
numa fase em qu e é preciso fazer algo seme- envolvidos no assunto e com membros do
lhante. ou seja. não há como fazer liberaliza- BNDES e eles aceitaram, ou melhor·, definiram
ção de importações sem a contrapartida de a posição depois do debate que houve em que
um programa de reestruturação da indústria havia os neoliberais que não aceitam essa
interna. senão nós vamos ter a ruptura do colocação, eles aceitaram muito bem a idéia
grande parque industrial diversificado e inte- de que nós vamos ter um desenvolvimento
grado que o Brasil construiu nas últimas tendo uma estratégia definida e uma polftica
décadas. De modo que. eu veJO novamente o industrial e tecnológica ativa. Eu acho que
isso constitui aquele mínimo de que a gente repente, abandonar esse grande contingente
BNDES co m atr ibuições importantes não só de emprego industrial que já temos, que é
na área de privatização. como ele está fazen- precisa para começar a pensar e fazer suges-
tões. O que eu quis naquele debate foi real- altamente significativo, isso tem que ser pre-
do. mas também de financiamento de desen- servado na medida do possível sem abrir mão
mente saber se esse pressuposto existia, senão
volvimento tecnológico e de a poio a esse
esforço de reestruturação industrial sem o
qual uma política de tomar a indústria brasi-
eu estaria perdendo meu tempo. A partir daí,
eu pude fazer sugestões e até entreguei uma
"As prioridades dos objetivos de competitividade.

leira internacionalmente competitiva não vai nota com algumas dessas sugestões, no senti- P - O senhor foi o último Ministro do
poder funcionar. do de que eu sentia falta, primeiro de uma
definição de novas vantagens comparativas
têm que estnr Planejamento e a polftica comandada pelo seu
ministério era mais voltada para atender o
dinãmicas, senão você não tem visão de prio- mercado interno. Escuta-se falar aí de novo
P- Co mo fazer isso sem um sistema nacio-
nal de planejamento, que foi o grande item
ridades, não sabe nem para onde você está
querendo ir. Segundo, quais são os mecanis-
na cabeça dos em termos de mercad,o externo, ou seja, o
planejamento na sua concepção hoje deve ser
dessa e~periência passada? mos para que essas prioridades ch_e guem ao mais voltado para o plano internacional, se

R - É óbvio que é preciso um sistema de


setor privado, sejam aceitas por ele e para que
você possa realmente começar, para todos os
empresários e nós voltarmos a ter planejamento, ou deve
atender prioritariamente à questão nacional? ~,
planejamento, mas não vamos esquecer que grandes complexos industriais, a identificar
agora a tarefa ficou facilitada porque você
tem um Ministério da Economia que abrange
quase tudo de que nós precisamos para fazer
quais são os seus obstáculos. Por outro lado,
tem que haver a idéia de uma política de do Got:erOO R - Eu acho que deve, co:no sempre foi,
considerar um modelo misto que integra subs-
competição interna, que foi uma coisa com a tituição de importações ou àbsorção de novos
essa reestruturação industrial. Nós precisa-
mos, principalmente, de mecanismos para de-
qual o Brasil nunca se preocupou. Se isto é
uma economia capitalista, você precisa colo- para que elas setores, como é o caso agora das novas
tecnologias, conforme a época, exportações
senvolver as estratégias de ação integrada car competição, porque aí entra topa ·essa de manufaturados, além das exportações tra-
entre Governo e iniciativa privada. O .Brasil
está precisando cria r os novos instrumentos
para essa nova fase, que~ ?izer. se você tem
estória de oligopólio. Nós sabemos que todas
as indústrias de grande porte, todos os setores
de base hoje, são oligopolizados por uma
~m acontecer" dicionais e a expansão do mercado interno.
Você vai atuar nessas três fontes de cresci-
mento como nós fazíamos. Você dá mais
preocupação com competJtJVJdade mternacw- necessidade tecnológica de economias de es- ênfase a uma ou outra conforme as circuns-
nal na área externa e de consolidar a criação cala, há setores em que isso não é necessário, tãncias. Por exemplo, em termos de novos
gradual de um mercado de consumo de massa mas em geral as indústrias básicas exigem. O setores o que nós temos, agora, são as altas
internamente. as duas coisas exigem reestru- problema não é você ter oligopólio, porque os competitividade, de tomar a sua indústria tecnologias. mas incorporando de uma manei-
turação industrial: ou dos setores mais volta- setores· também estão oligopolizados interna- internamente mais eficiente, porque o Bras1l ra seletiva. A expansão das exportações é
dos para o mercado interno ou dos setores em cionalmente. O problema é que esses oligopó- não está mais naquela fase de aceitar indefini- uma forma de você dar sübstância ao merca-
que nós queremos ter competitividade inter- lios não se co;wertam em virtuais monopólios damente uma proteção a determinados seto- do interno. Você está utilizando capacidade
nacionaL Então. eu acho que nós precisamos ou cartéis e você precisa de uma política de res que já têm 30 ou 40 anos de existência ,no para vender no exterior, é o primeiro momen-
de mecanismos. seja qual for o nome que eles competição no país, até com definição de país, em nome do consumidor, em nome to. No segundo momento, você está gerando
tenham; de "grupos de modernização" como quais são as práticas que não devem ser também de você poder competir em certos utilização de capacidade, emprego de mão-
na França; "comissões de produtividade" , no aceitas. Todo país tem um mímmo de polft1ca ramos no exterior, você vai admitindo um de-obra e emprego de todos os fatores de
Japão; ou apenas grupos de integração, dê a anti-trust, ou que nome tenha, mas não na certo volume de imoortacões. mas aí entram produção no país, isso significa a expansão de
eles a denominação que quiser para identificar idéia de impedir que se formem oligopólios, mas duas coisas: primeirÕ, pra' que você quer fazer mercado interno, é um processo contínuo em
os problemas que vão surgindo nos diferentes sim na idéia de se manter o mínimo de essa liberalização de importações? Eu faria que as três coisas vão interagindo. E fazer
setores. Antes de tudo. é preciso ter uma idéia competição que é necessário para que se para modernizar a indústria. Eu quero impor- estratégia de desenvolvimento significa exata-
de quais são as novas vantagens comp!lrati- tenha desenvolvimento tecnológico, para que tar equipamentos, eu quero importar tecnolo- mente você saber como vai dosar essas coisas,
vas dinâmicas do Brasil. Você tem um novo se tenham eficiência, dinamismo econômico e gia de que eu preciso e também ter uma conforme o estágio em que v.ocê se encontra.
paradigma industrial. Como esse novo para- assim por diante, quer dizer, para que você estrutura industrial interna que seja razoavel- Desde o início dos anos 80. o Br-asil deveria ter
digma industrial se trad\lZ em termos de não forme monopólios que vão ser obstáculo mente competitiva. Mas isso tem que ser dado um passo adiante na sua política indus-
novas vantagens comparativas? Isso significa para o desenvolvimento daquele setor e vão sincronizado com a aquisição de competitivi- tria l e o que se fez até o começo dos anos 80
que é preciso consolidar as vantagens que constituir problema do ponto de VIsta de dade, com fortalecimento de setores, quer com aquele bloco de investimentos correspon-
você já tinha, seja nas áreas tradicionais, seJa preço para o consumidor. São esses elementos dizer. é uma atitude positiva em relação ao dente ao segundo PND foi dar ao país uma
nas áreas de indústrias básicas, o Brasil se que nós temos que discutir para ir montando setor industrial aqui estabelecido para dizer: indústrial realmente integrada. Aí o que se
tornou um gra nde exportador de petroquími- um novo tipo de polftica industrial. Eu acho "Olha, nós queremos tais transformações, precisava era entrar no novo paradigma in-
ca. siderurgia. celulose e essas áreas que são que aqui realmente a coisa pega: há muita mas nós vamos dar apoio à indústria para ela dustrial que já começava a despontar e evo-
por assim dizer. o núcleo do paradigma indus- coisa a ser definida ainda, além do fato que ultrapassar essa fase". Esse apoio pode ser em luir um pouco de uma preocupação exclusiva-
trial anterior. bens de capital em certa medida, você tem que ligar, como, eu já dizia, reestru- termos de adquirir escala, mas as duas coisas mente com promoção ,industrial, que significa
e precisa também identificar uns certos "ni- turação industrial CO!l)- toda a quest_ão de de,vem estar presentes porque existe uma certas atitudes como a de dar incentivos para
chos" nas novas tecnologias em que nós liberalização de importações. Você nao .faz questão de emprego envolvida. O Brasil, nos que o setor se instale no país, lhe dar financei-
vamos tentar ser competitivos. Alguma coisa liberalização de .importações. pelo amor a h\Je- anos 70, tinha um emprego no setor industrial ramente para que os projetos nessas áreas
tem que ser selecionada nas novas tecnologias ralizar. Você faz com o ob]et1vo de adqumr crescendo a 8% .ao ano. Nós não vamds, de aconteçam, para um outro tipo de estratégia
flrnfl®[ffi]]@
!--~:uK~CON--~----------------------------------------7

Finep a não ser a preocupação de não ver um micas trazidos, por exemplo, por fatores como
mstrumento como esse desaparecer porque o aqueles que já citei: você ta' engineerlng mais
-orçamento que a Finep ia ter para este ano era barato que no exterior, você ter software com
de não poder pagar o funcionalismo. Ao con- massa crítica mais barata para o exterior.
trário, eu acho que a Finep não deveria ter um Então, como o mercado externo dos países
orçamento de 50 ou 60 milhões de dólares ela desenvolvidos é formado de segmentações,
deveria ter um orçamento de 500 milhõe~ de você tenta ver onde é que você pode penetrar.
dóiares, que não seja em I ano ou 2 anos, que Você faz up-gradlng das suas exportações
seJa no período de 5 anos. O BNDES também continuamente, tal como faz up-gradlng da
deveria estar aí com um programa gigantesco sua indústria dentro do novo paradigma in-
na área de tecnologia, mas de vez em quando dustrial. Isso me parece a coisa mais natural
tem problemas enormes. Você descobre que do mundo, agora você não perae o controle do
ao fazer a Constituição tiraram uma fonte de processo, ou seja, dos objetivos que você tem
recursos do BNDES, depois veio uma outra lei em mente que são objetivos de dar um alto
que tirou outra fonte de recurso e af vai o padrão de vida à população que está aqui no
Presidente do BNDES e tenta recuperar de Brasil.
outra forma. quer dizer, esse instrumental
deveria estar sendo fortalecido porque se nós
não tivermos esse instrumental de apoio a uma P - Se o Estado não retoma drasticamente
boa estrutura de desenvolvimento científico e as funções de indicador e mais as iniciativas
tecnológico no pafs não há futuro industrial desse processo, não se justificará nada, ficare-
para o Brasil. E isso vai até a área de educa- mos todos de braços cruzados, o Estado fica
ção certamente. O resumo da novela é que o "zerado" , à espera de livre jogo de neolibera-
lismo e, enquanto isso, há milhões de brasilei-
Governo tem que recuperar a sua capacidade ros morrendo de fome , o que o senhor acha?
'de poupança. Nunca ninguém pensou em
fazer Estado mfnimo no Brasil. Você tem é
que definir de um lado. o que deve ser o Estado R- Não vamos ficar discutindo pressupos-
empresário no Bras il. A última definição que tos. Vamos dizer o que no5 achamos que deve
foi feita e eu não tenho culpa de ter sido, na ser feito, vamos fazer as nossas propostas. Eu
época, do segundo PND, mas foi, o que o não tenho nenhuma vocação para ficar discu-
Estado faria em termos de empresas estatais e tindo aquilo que o Governo deveria ser. A
depois disso você está tentando fazer um minha vocação é para chegar e dizer: "Eu
programa de privatização sem esse pressupos- acho que o desenvolvimento brasileiro deve
to básico que é o de dizer: "Vou privatizar tais ser conduzido da segu inte forma: nós precisa-
e tais empresas. porque elas não são mais da mos de estratégia, depois da estratégia, nós
área de atuação do Estado empresá rio, segun- precisamos de instrumento para que essa
do meu entendimento". O que deve ser discu- estratégia aconteça, instrumentos em termos
tido entre Executivo e Congresso e isso. qual é de integração com o setor privado e instru-
~". . . "". . . . ,Roberto
Satumino Braga, a área de atuação do Estado empresário?
Discutida essa delimitação, a privatização é
mentos em termos de agentes financeiros e de
sistema de incentivos". Então, qu al é o papel
uma mera consequência e ninguém mais vai do BNDES nessa nova polftica ind ustria l?
foram os convidados do "Infonne Corecon,, se preocupar em fazer lista de empresas. Você
diz que tais e tais setores estão fora do âmbito
Qual é o pape! da Finep. do Governo e o que
fa lta o Governo fazer? Como é q ue deve ser a
do Estado. porque o Estado já precisa passar reformulação fiscal a ser realizada? A minha
''""""....... Reis Velloso. para tecnologia, então vai esq uecer certas
coisas e elas já amadureceram bastante como
vocação é dizer em que consiste a minha
estratégia e como operacionalizá-la, dêem a
a área de petroqufmica. siderúrgica, etc., e isso a denominação que derem! O Brasil, eu
transfere para a iniciativa privada, principal- citei aqui o exemplo dos anos 50 e não foi à
todo um traba lho feito pelos outros Governos mente, a iniciativa privada nacional. Mas é toa, tinha um debate ideológico, na época, que
ao longo do tempo? toda uma reformulação. É o processo normal talvez fosse até muito mais apa ixonado do
de evolução das funções do Estado. Na medi- que hoje e a despeito disso você fez o Plano de
R - Eu acho que não se pode esperar nada. da em que. inclusive, o Estado puder sair de Metas. Nesse Plano de Metas se envolveu o
Você tem é que sincronizar, tentar sincronizar áreas como transportes. portos e essa coisa pessoal do BNDES e não fo i só de uma
as coisas, porque existe toda uma globaliza- toda e eu acho que deve sair, principalmente corrente. Houve um modus vivendi de sorte
ção da economia que é um fato da vida e não se houver iniciativa privada para absorver que quem não era extremado pôde participar
depende de você, inclusive porque a polftica esses setores. Obviamente, não há coisa mais desse processo. Exatamente quando aquele
dos pafses industrializados é uma política de dinâmica do que isso das funções econômicas mínimo de consenso desapareceu no infcio
reciprocidade. Não é possível mais tentar do Estado, particularmente, em matéria de dos anos 60, porque o país, de repente, come-
fazer o isolamento do mercado brasileiro, o Estado empresário. Há certas funções que são çou a enfrentar uma crise e havia diagnósticos
que se pode é dizer quais são os salva-guardas muito mais permanentes porque são próprias de tal modo divergentes e não foi mais possível
que você adota na hora que você começa a do Estado. na área de Educação, por exemplo. reproduzir aquele mínimo de consenso. Aí
fazer uma certa liberalização. O que tinha sempre o Estado estará envolvido. cada lado saiu na sua direção e nós vimos o
acontecido no Brasil é inadmissfvel. A partir que aconteceu. Então, quem acha que aquilo
do colapso financeiro externo de 1982, o Brasil que o Governo está fazendo é errado e incom-
simplesmente estabeleceu o seguinte: você P - Em 1970, o Brasil tinha em termos de pleto deve trazer propostas para discussão.
não importa nad a ljue possa produzir no país. poupança 26% ou 25% do PIB e isso represen-
O que é um retrocesso em relação ao que nós tava na época uns 60 e poucos bilhões de
dólares. Depois de 20 anos, em 1990, a popula- P - Essas propostas o senhor colocou aqui,
estávamos fazendo nas décadas anteriores em quer dizer, é necessário que se tenha planeja-
que você tinha uma le i de tarifas feitas em 57, ção brasileira quase duplica de 90 milhões para
cerca de 150 milhões- quase 100%- e a carga mento indicativo centralizado?
moJerna para a época. Então, como é que em
1982. você simplesmente diz que o Brasil n1!c fiscal só aumenta 10%. O senhor não concorda R - Eu não sei· qual é o nome. Eu nem usei a
tem mais lei de tarifas e nós vamos decidir o que teria que ser apresentado um verdadeiro palavra planejamento aqui, mas se você qui-
que importa e o que não importa administrati- arrocho fiscal? ser usar, usa. Eu estou .de acordo. Eu acho que
vamente. Esse sistema não existe em lugar deve haver planejamento indicativo como
nenhum do mundo, ainda mais numa econo- R- Há toda uma reforma fiscal, tributária e sempre achei. Nós temos até que discutir o
mia razoavelmente complexa e sofisticada orçamentária a ser feita, eu concordo. problema polftico. O Brasil tem um problema
industrial em que se comece a ter preocupa- como é a brasileira. Cada empresa tinha que polftico seríssimo, que é o seguinte: existe
ção com competividade, porque já se tem apresentar um programa de importações à uma democracia de massas neste pafs. É a
CACEX e ela dizia o que podia importar ou P- E para fazer isso é vital que o Governo mesma coisa em relação à economia interna-
todo um setor industrial amplo e integrado em defina a retomada do papel do Estado e não
funcionamento e isso tem que dar frutos ou não. Isso não dá , todos nós sabemos. Isso se cional globalizada. É um fato da vida. Nós
pode fazer durante 2 ou 3 meses em que haja permaneça só nessas discussões de interciona- temos 84 :nilhões de eleitores e50,aproximada-
para o consumidor interno, transferindo parte lismo, abertura, teoria dos investimentos com- mente, 53 à 55% da população adulta desse
dos ganhos de produtividade para ele ou para uma emergência de não poder executar o seu
balanço de pagamentos. Só que em lugar de petitivos, teoria da pós-modernidade e. outros pafs são eleitores. Na República Velha, 2% da
a trabalhador, também transferindo parte dos ficar 6 meses ou I ano com essa política nós modismos que não significam nada neste população adulta votavam. Então, af você tem 1
ganhos de produtividade sobre a forma de pafs?
ficamos uma década e tudo isso tinha que ser os números que dramatizam a existência de
salários reais crescentes ou em termos de
conquista de mercados no exterior. Então. revisto. Agora, certamente o Brasil precisa uma democracia de massas, que ainda não
construir todo o sistema de pós-graduação no R - Existe um negócio que é o seguinte: a . existia nos anos 50. Já havia populismo, inclu-
·não é aceitar apenas que o país tenha esses
país, que era, inclusive, para melhorar o nível economia globalizada é um fato da vida. Ela é sive, porque o percentual de votantes devia
setores é começar a ser mais exigente como de graduação. Tudo isso está indo para o
anteriormente eu coloquei. É preciso ter uma uma realidade. Você te"l é que dizer de que estar uns 20%. Então como é que com essa
política de competição interna. O Japão sem- brejo. As universidades brasileiras estão numa forma se quer fazer a sua articulação com democracia de massas, num pafs em . que
pre teve essa polftica de competição interna, situação lamentável e eu r:tão diria nem que essa economia. É aí que você pode tentar existe desigualdade sociais que nós conhece-
de modo que antes das empresas japonesas seja por problemas de recúrsos. As universi- fazer alguma coisa, mas você não vai negar mos, vai funcionar de maneira a não impedir
irem para o exterior elas já disputavam entre dades brasileiras absorvem mais de 80% do que ela existe. Você está dentro do mundo e que pelo imediatismo de soluções ou cliente-
si o mercado e foram para o exterior realmen- total de recursos que vão para o Ministério da tem relações com o resto do mundo e eu acho lista, populista que seja, ou de direita, de
te preparadas para competir. Educação, ou seja, o Governo Federal cuida bom que se tenha, mas você conduz o seu esquerda, de centro, do alto, de baixo, de
da universidade, é isso que ele faz. Então, processo. É diferente. Você precisa de uma todos os lados, você venha impedir que haja
você tem toda uma reformulação do sistema estratégia para dizer como é que você vai um mínimo de controle da inflação e haja
P - O senhor não acha que pode não educacional brasileiro a ser feito e mais você fazer a sua articulação com a economia mun- viabilidade do crescimento? O que se chama
funcionar essa idéia de que nós vamos criar- tem, vamos tomar aqui como exemplo, os dial. Isso é que deve estar claro para nós. O no Brasil de década perdida não é propriamen-
aumento · de produtividade, com petitividade casos problemas que o BNDES e a Finep tem Brasil, inclusive, deve no meu entender, qu e- te uma década em que não tenha havido
abrindo digamos o acicate da concorrência de recursos. A Finep quase desaparece esse rer ter "nichos" das altas tecnologias em que crescimento. Você teve dois surtos de cresci-
externa, se não houver primeiro uma prepara- ano, vocês sabem disso muito bem. · Eu tive ele vai tentar fazer exportações para pafses mento e até com início exagerado, em 79 e em
ção interna? Sem esse suporte interno nós não que procurar o relator do orçamento, em fins desenvolvidos. Como eu já <)isse de maneira 85, e eles foram abortados, eles morreram. O
corremos o risco de jogar nossa indústria a do ano passado, para discutir a situação da altamente seletiva. Por que? Por que nós que o Brasil não conseguiu foi ter ciclos de
um embate, destruf-la de repente, e destruir Finep e eu não tenho mais nada a ver com a temos as novas vantagens comparativas dinã- c_:escimento que fossem duráveis , e talvez
·11----------------------------------------------~---co~
tenha feito. em 79. reaceleração da economia municipal de 88, nenhum partido teve mais de do por decreto. Nós tínhamos PDS e PMDB e todos -aqueles pedaços? E nós terminamos
na hora errada. quando estava ch~egando a. 17,5%. Como aquela divisão d7-águas que se acabou! Tudo era plebiscltário, tudo era mani- tendo a Constituição que está af e que é o
segunda crise do petróleo, e fez uma reacele· fez no segundo turno é artifictal, como tinha . queísta. Aquela discussão sobre distribuição retrato daquele momento e que realmente
ração da economia em 85. quando estava ficado claro no primeiro turno, toda vez que de renda teve um sentido muito bom, porque avançou na questão dos direitos sociais, mas
chegando a inflação de 250 a 500%, ninguém você fizer eleição no Brasil nas circunstâncias todo mundo passou a se voltar para o assunto não teve qualquer preocupação com o cresci-
mais sabia direito porque era muito volátil. Af, atuais, você vai ter d mesmo fato retornando. e aí você começou primeiro a entender o que mento, pelo menos, com o instrumental para
você misturou incompetência de gestão eco· Não existe nenhuma corrente polftica prepon- era o processo de concentração de renda no que se pudesse fazer o crescimento do país. A
nômica. ao longo da década, de várias formas, derante. Varia um pouco de eleição para país, quais eram os principais fatores causa- União está, hoje, em situação insustentável,
com incompetência polftica da sociedade ou eleição, mas vocês tem PMDB, como _tem PFL, dores e segundo você começou a pensar em porque realmente você deu 50% dos principais·
de quem seja. o certo é que o país não PDT, PT, certa idéia de social-democracia que estratégias. Surgiu depois a estória de cresci- impostos da União para distribuir com os
conseguiu mais realmente ter crescimento está um pouco no PMDB, como está no PSDB mento com redistribuição e em termos teóri- Estados e Municípios. J\ União, por seu turno
estável. Agora. se faz novamente uma tentati· e até certas facções do PD:r e PT que são cos, todo mundo aceita hoje, praticamente, aumentou incrivelmente os gastos de pessoal
va. Está se tentando controlar a inflação com próximos da social democracia européia . En- que você tem que fazer crescimento -. com e o resíduo hoje para outros custeios e despe-
o pressuposto, para voltar a crescer, se conse· tão, você tem uma idéia mais neoliberal, · redistribuição simultaneamente, mas o que sas de capital é insignificante . Ela investe
guir um mínimo de controle você vai tentar economicamente, que abrange PFL e PDS, nós vimos no ano passado foi uma volta atrás. apenas através de empresa, no orçamento
fazer o crescimento e eu pergunto o seguinte: mas também permeia quase todos os ()Utros Você ainda estava explicando à população federal não há mais investimentos- a própria
não vai acontecer novamente que aquela partidos, tem uma outra tendência . mais brasileira que o Brasil é um país terrivelmente Previdência co m algumas idéias qu e pareciam
questão não solucionada, de como você conci· social-democrata que permeia vários partidos. desigual. Isso está claro desde 1962, com simples, você no primeiro ano aumentou em
lia democracia de massas com a boa gestão Essa tendência neoliberal tem um grupo que é aquele artigo do economista Fishlow e que 3,5% do PIB a despesa da Previdência, no
econômica vai trazer problema? Enquanto a mais moderno, mais conservador ou mais iniciou o debate. Então. você levou 15 anos de segundo ano em 3% do PIB e agora não
Europa não resolveu isso. e ela não resolveu progressista, tem gradações, da mesma forma um debate e parece que o esqueceu e, pior conseguiu tapar o buraco- você está adotan-
até a segunda guerra mundial, ela teve proble- como tem gradações dentro da social- ainda, esqueceu o seu resultado que era um do medidas paliativas porque há um desequilí-
mas muitos sérios, inclusive perdeu a demo- democracia, não é? Tem um grupo que é mais certo entendimento de como se conduzir uma brio financeiro e estrutural no orçamento da
cracia. Quase todos os países europeus entra- extremado, bem de esquerda, como tem ou- estratégia social neste país. Agora , como tudo Previdência que ainda não foi consertado.
ram em regimes autoritários ou totalitários, tros grupos que são quase conservadores, aquilo era artificial, porque o segundo turno Esses recursos que são transferidos para os
antes da segunda guerra, isso não foi à toa, é economicamente, quer dizer, você pode fazer cria um maniquefsmo e a polarização artificial· Estados e Municípios, eles são gastos e os
porque ela tinha passado por um processo de suas "clivagens". Você procura os divisores mente, depois que você saiu do segundo turno Estados não têm nenhuma preocupação com
industrialização muito rápido, cheio de ten- de águas da forma que quiser, nenhuma des- voltou a ter a pluralidade que é de onde surgiu o co ntrole de déficit nem nada disso. De modo
sões, ela teve o advento da polrtica de massas, sas correntes ou agrupamentos é preponde- essa parte aqui da nossa discussão que real- que, a União vai ficando só com os problemas
ela não soube como conjuminar essas duas rante. Cada um tem 15 a 20%, então se tem 4 mente este é um pafs hoje pJuralizado, politi- e você não transferiu os encargos, ela tentou
coisas, eu estou falando de maneira grosseira, ou 5 grandes grupos pol!ticos, logo, você tem camente. O que eu acho bom, porque evita transferir, mas não conseguiu. Você tem que
mas o certo é que cada pais teve que encon- que ter alianças de 2 em 2, ou alianças aquele tipo de polarização que você teve no ter toda uma reformulação orçamentária e
trar o seu caminho e foram os consensos do ' penetrando todas as correntes. O importante é início dos anos 60, com consequências extre- fiscal da Un ião para ver como ela vai sobrevi-
pós-guerra em cada um dos pafses mais im- que você vá tentando explicitar as propostas mamente danosas. Até que o pafs naturalmen- ver decentemente e como vai recuperar o
põrtantes da Europa que permitiram fazer a dos projetos para depois ver onde é que te desenvolva as suas convergências e os seus mfnimo de capacidade de investimento. Ainda
conciliação daquela polftica de massas com o podem ressurgir as convergências. O Fórum consensos, eu acho que é bom que fique claro que ela entregue o investimento às empresas,
crescimento. E af você teve o milagre italiano, Nacional tem sido um instrumento importante que existe uma pluralidade, porque af real- ela tem as suas áreas intransferíveis em ter-
milagre alemão, milagre francês e teve isso para isso. Quando nós começamos era mais mente esse processo de discutir como conci- mos de educação e saúde e tem que comple-
que vocês chamam hoje de Europa em via de difícil falar em propostas, mas hoje essas liar crescimento com redistribuição, como mentar o que os Estados e Municípios fazem,
unificação, mas não foi nada cafdo do céu. Foi propostas já vão ficando mais claras. conciliar política de massas com o crescimen- tem que cuidar, pelo menos, das grandes
todo um trabalho de mudanças institucionais to, controle da inflação com o crescimento e endemias e de certas coisas que ela não pode
que permitiram conciliar a democracia de uma série de coisas que não estão -respondidas transferir para os Estados e Municípios. prin -
massas com o crescimento. e que causaram todo o problema dos anos 80, cipalmente, porque essas coisas ocorrem nos
além dos aspectos de incompetência econômi- Estado e Municfpios pobres. O Nordeste saiu
P - Além disso esses países tinham um ca e política governamentais. af de gaiato nessa estória toda , porque ele
planejamento indicativo centralizado. O se- achou que fa ganhar com aquilo, ele foi o pior
nhor acredita que uma das causas talvez dos
sucessivos fracassos dos planos de controle da
inflação no nosso país, os mais recentes, é que
"É necessária P - Nos anos 50, nós estávamos em crise
muito séria que talvez por isso se tenha
prejudicado, porque o amigo do nordeste é a
União. Na hora que você deixou a União de
tanga, o Nordeste e a Amazônia não têm mais
conseguido um mínimo de consenso em certas
eles não acenavam com um pano de fundo , as
questões de combate à inflação eram imedia·
toda uma coisas. Tinha que ter consenso, por exemplo,
que era necessário investir em energia elétri-
saída. Correm até o risco de perder agora o
incentivo fiscal. Os Estados ricos ganharam
tistas. não se tinha um projeto por trás e isso muita Receita e estão gastando adoidados. e o
de certa forma pertúba um poucõ? rejormulação ca, porque a situação estava complicada para
todo mundo, para o da direita, o da esquerda,
do centro ou liberal. Hoje, muitos dizem que a
pior é que além de terem muita Receira eles
gastam tanto que continuam tão endividados
R - O progresso que os países desenvolvi-
dos tiveram nos anos 80, ao lado da falta de
orçamentária situação tem que piorar para o pessoal tomar
jufzo. Como esse país é muito grande, se
piorar muito, o senhor acha que depois vai ter
quanto antes. Não resolveram seu problema e
como eu disse,o osso sempre fica com a
União. Agora tem que chegar e enfrentar a
progresso no Brasil, é um negócio que impres-
siona. Eles rapidamente vão sair do problema
que estão enfrentando, talvez com uma pe-
e fiscal da alguma liderança capaz de segurar isso? situação, não ficar nesse sistema em que você
cobra cada vez mais imposto e cada vez
quena recessão e eu não tenho dúvida de que menor número de pessoas e cobra impostos
daqui a um ano e meio já estarão crescendo l)nião" R- Por isso é que eu acho que nós devemos
adiantar nossas propostas para evitar que o
errados. '
novamente e o que eu pergunto é: aonde é que processo continue se deteriorando, pelo me-
nós vamos estar? nos. vamos fazer um debate para que enquan- O sistema tributário está piorando porque
to as coisas se mantenham complicadas você · está ficando cada dia mais regressivo e os ~,
P - O senhor acredita que talvez seja ganhe tempo em termos de debate, porque aí tributos são cada dia em maior número, o que
necessária uma crise para formação desse p - O senhor identifica essas propostas na hora que você sentir que piorou demais ou é um erro, você ter um número muito grande
consenso, quer dizer, a Europa formou o seu totalmente elaboradas? que as coisas possam tomar um rumo bom de impostos e são impostos sobre o valor da
consenso na guerra, na crise da guerra, nós você já tem idéia de como vai fazer a recons- produção e não sobre o valor adicionado. Tem
não temos a guerra, mas nós devemos passar R - Eu diria que existem embriões de que parar e dizer: "Está aqui a reforma tribu -
trução.
por uma crise de tal forma tensionante que vai propostas. tária feita na Constituição, vamos fazer um
obrigar a sociedade a encontrar uma safda? novo sistema tributário, é o começo de toda
P - Então só tinha uma proposta dominan- P - Ein 88, a nossa Constituinte parece que conversa e vamos cobrar impostos."
te? Pode-se dizer que dos dois candidatos que · pressupôs que o Brasil era um país rico,
R - Eu acho que é por af. Você precisa ficaram no segundo turno não havia grandes · desenvolvido. do primeiro mundo e que então P - Nós já estamos em recessão. O senhor
colocar as diferentes propostas na mesa, va- tinha que cuidar só de repartir o bolo. O acredita numa depressão?
mos discutir essas propostas, vamos fazê-las divergências?
senhor não acha que a impressão que se tem é
passar pelo processo polftico e vamos tentar R - Havia sim, havia profundas divergên- que os nossos constituintes de 88 foram ex- R - Quem sou eu para saber o que vai
chegar a um mínimo de entendimento, qual- cias tanto do lado do Lula como do lado do temporãneos e que eles criaram uma Consti- acontecer! A questão é saber como o Governo
quer que seja o nome que esse mfnimo tenha, Collor. Tanto que quando passou a eleição o tuição para um pafs que não é aquele que eles vai se compc,ctar e como a sociedade vai se
para que o país volte novamente a crescer PSDB ficou muito mais próximo do Governo imaginaram e que ela vai constituir um empe- comportar também. Se você não está conse-
resolvendo os seus problemas sociais. do que os aliados que ele tinha. Só havia cilho muito sério para nós começarmos a guindo fazer esse pacto social é porque nova-
coincidência numa coisa: é que a campanha tentar a arrumar alguma coisa? Especialmen- mente certas perguntas não foram respondidas.
P - Nós estamos discutindo alternativas a eleitoral do ano passado foi extremamente te melhorar a poupança? Não ficou claro, realmente, como é que faz
uma aliança Estado capital privado nacional simplista e em certo sentido um retrocesso. reajuste de salários e de preços. Eu concordo
que teve sucesso marcante e naturalmente Idéias tão vagas que não permitiam nem que R - Eu acho que a Constituição foi feita que o objetivo é chegar à livre negociação,
nós não precisamos pensar num novo modelo você identificasse propostas. A identificação numa fase complicada, em que o país não porque estamos numa democracia e não há
imperiosamente, mas porque não numa crftica de propostas veio a posteriori, porque nenhum havia ainda definido a sua transição, as idéias outra idéia por mais insatisfatória que ela seja, a
interna ao modelo que nós viemos adotando dos candidatos explicitou o que era a sua não estavam nada arrumadas, não havia nem livre negociação é a melhor maneira de resolver
que ao longo da sua entrevista o senhor fez proposta, deliberadamente. Em matéria social, esse debate que a gente hoje está querendo o problema da distribuição dentro de uma
vários comentários e demonstrou adaptabili- a discussão da questão social no Brasil foi fazer. A Constituinte partiu de · uma idéia de sociedade democrática. Se queremos caminhar
dade a várias metas que nós temos de reali- ·simplesmente uma denúncia social, só isso. que ia se assessorar com a sociedade· brasileira para isso, no momento em quw temos uma
zar? O senhor poderia opinar a respeito disso? .Não houve nenhuma proposta de estratégia com !50 milhões de pessoas, então fez urna inflação maluca, então, no mínimo, é necessário
social com ninguém. Nenhum dos candidatos, figuração de receber sugestões e eu estive lá. termos um balizamento porque os agentes estão
R - Eu acho que isso passa pelo sistema nem os finalistas , nem qualquer outro apre- Foi um espetáculo quase de circo, porque você acostumados a atuar por balizamentos. Mas
político e qualquer aliança nas condições do sentou uma proposta concreta de estratégia fazia uma reunião de 15 em 15 minutos e com vamos discutir quais são as regras para permitir
Brasil tem que passar por ele. Você tem várias social. Se pedisse a seu partido, tinha, o diferentes grupos sociais. Eu consegui falar 5 que os reajustes de salários e de preços sejam
alternativas de projetos nacionais e de pro- partido tinha, mas não queria explicitar com minutos, um dos que mais falaram e a f entre- compatfveis com o declfnio da inflação, senão
postas. Eu acho que há um intervalo desse receio de estreitar o apoio. É óbvio. Foi isso guei um documento antes que me cassassem a novamente teremos a ausência de um mínimo
espectro de possíveis propostas que permite que aconteceu. palavra, quer dizer, deu a impressão de que se :de consenso. É por isso que não sei dizer o que
um certo mfnimo de cooperação. Mas depois estava consultando a sociedade·. Bom, é uma vai acontecer. Cada um está indo para o seu
de debates, de jogo político, que a gente nota, Nos anos 70, nós tivemos todo um debate maneira de fazer, só que é uma maneira lado e na hora em que cada um está indo para o
inclusive, o seguinte: a pluralidade eleitoral sobre distribuição de renda que foi extrema- extremamente complicada, porque depois co- seu lado, há um preço e um custo social muito
brasileira é hoje uma coisa óbvia. Na eleição mente polarizado, pois o país estava polariza- mo é que ficou o Bernardo Cabral para reunir alto a ser pago.

Participaram desta éntrevista: Marcelino José Jorge, Márcio Henrique Monteiro de Castro, Àrmando
Alencar, Dare Costa, Juvenal Osório Gomes, Roberto Saturnino Braga, João Roberto Bhering.
~
·C ORECON------------------------------------------9
PROGRAMAÇAO DE CURSOS
-
A Biblioteca Eginardo Pires é resultado de um convênio entre o CORECON e o IERJ e
atende a todos os profissionais registrados, estudantes de economia, associados do IERJ e
pessoas de áreas afins, diariamente, no horário de 10:00 às 17:00 horas. Ela reúne livros 1 'l SEMESTRE DE 1991
doados _ao IE~J pela farrúlia Eginardo Pires, livros já existentes no CORECON e objetiva
J.I"Oporcwnar a classe dos economistas melhores condições de acesso ao conhecimento
técnico especializado. PROGRAMAÇÃO DECURSOS-!9 SEMESTRE DE 1991
14! 01 a 18/ 01 / 91 - 15 hs
Serviços prestados pela Biblioteca: Instrutores: Miguel Dirceu Fonseca Tavares e Domênico Mandarino
-Apoio aos usuários em suas consultas e pesquisas;
- Empréstimo domiciliar;
- Loca~'zação de publicações existentes em outras bibliotecas; -CONTABILIDADE PARA ECONOMISTAS
- Empréstimo-entre-bibliotecas. 18/ 02 a 01 / 03/ 91 - 30 hs
Instrutor: José Francisco Filho

••• -AVALIAÇÃO DE EMPRESAS


04/ 03 a08/03/9 1-15 hs
A Videoteca de Economia doCORECOJ'I ! RJ conta com mais de 273 fitas sobre Teoria Instrutores: Miguel Dirceu Fonseca Tavares e Domên ico Mandarino
Econômica e Economia Brasileira e está organizada para atender aos pedidos e empréstimo.
, O preço de aquisição é de 50 BTN's por fita e o de locaç ão é de 1,5 BTN por 24 horas ou -ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE
fração. ll / 03 a 21 / 03 / 91-24 hs
Instrutor: Manoel Pedro Côrtes

...
A Videoteca está preparada para promover seguindo interesse dos associados os ma'
diversos programas.
- ANÁLISE I;:CONÔMICO-FINANCEIRA DE EMPRESAS
25 / 03 a 05 / 04 / 91-30 hs
Instrutor: José Francisco Filho

- MATEMÁTI CA FINANCEIRA I
15/ 04 a 19/ 04 / 91·-15 hs
Instrutor : José Outra Vieira Sobrinho
BOLSA DE EMPREGO -MATEMÁTICA FINANCEIRA 11
06105 a 10/ 05 / 91- 15 hs
O CORECON 'RJ possui relaç.:io atualizada de economistas formados com diferentes Instrutor: José Dutra Vieira Sobrinho
títulos- especialização. mestrado e doutorado- que estão procurando nova colocação no
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lamentada pelo Decreto n9 31.794/ 52. com fiscal mediante ação de cobrança executiva na Largura das colunas: Área útil:
a notações posteriores da Lei n9 6.021 /74. Justiça Federal. na forma orientada pela Lei I coluna .. .. 5,9cm I página: 3lcm x 25,6cm
no 6.830! 80 - que trata da Cobrança Judicial 2 colunas .... .. 12,5cm 2 páginas: 15,5cm x 25,6cm
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ção profissional. e a expedição da respectiva 4 colunas .... . . . . .. . . - . . .. .. . . .25,6cm
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gozar das prerrogativas inerentes a sua profis- de dirimir dúvidas muito comuns entre a Material para Publicidade:
são. tendo em contrapartida a obrigatoriedade exigibilidade do recolhimento das contribui- fotolito ou arte- final
do recolhimento anual da contribuição ordi- ções anuais e o exercício profissional. e ao LIGUE:
nária (anuidade), fixada pelo Conselho Fede- mesmo tempo alertar sobre as implicações (021) 224-0578 ra mal B-3/ 4 hnpressão: Off-set- 2 cores
ra l de Economia , em consonância com a Lei n 9 legais de in adi mpl ência.
6.994 / 82. com prazo máximo para recolhimen- Aproveitamos para informar que o Conse- TABELA DE PREÇOS (*)
to até o di a 30 de abril de cada exercício fiscal. lho Federal de Economia - COFECON -
fixou em 100 BTN o teto da anuidade do I página: . . . 1.600
Assinala -se que, por se trata r de uma con- l / 2página . .. .. .. .. . .. ... ...... .... .
tribuição federal. as anuidades dos Conselhos econnmista para o exercfcio de 1991. com . .800
pagaL1ento integral do valor no mês de abril. em/ coluna ........... . . .... 16
Regionais de Economia têm o seu pagamento l / 4página .............. .
ou com opção de desconto nos meses de . .400
em caráter compulsório. ainda que o econo- (*)EM BTN MONEfÁRIO
mista não esteja efetivamente exercendo a janeiro, fevereiro e março, para pagamento
sua profissão. de vez que o fato gerador da efetuado em cota única, conforme a tabela
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ção legal ao exercício da profissão concedida deverão ser remetidas aos economistas até o
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do pedido de registro profissional. formalizado tuado em qualquer agência da reae bancária Cancelamento de reserva:
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,Atualização de Cadastro e Cobrança, através de carta, pessoalmente ou pelo tel.: (021) Anuidades Machado, pelo telefone - 263-7570
224-0578 no horário de 9 às 18 h. Guias de Contribuição Sindical Rua do Propósito, 27 -Saúde- RJ
1()·--------------------------------------------co~~

-
I. A redução da dívida externa pode ser
obtida por meio de modificações negociadas
A Isac Roffé Zagury
DA DIVIDA
ção de juros, com prazo de 25 anos e uma taxa
de juros crescente até o décimo ano, quando
nos termos e condições pactuadas ou através se estabiliza ao nfvel de 7% por ano. O terceiro
de mecanismos baseados no mercado. A pri- .título será o bônus de safda com prazo de 15
meira abordagem contempla medidas como o anos e taxa de juros de 3% ao ano. Todos os

Esr n
reescalonamento de prazos de carência e de instrumentos serão ao portador e não pos-
amortização do principal e a redução dos
spreads cobrados sobre as taxas básicas de
juros. O segundo enfoque abrange mecanis-
mos como a conversão de dividas em capital
u 1 ·2 4 suem _garantia.
16. Além do conceito fundamental da capa-
cidade de pagamento, a proposta brasileira
de risco e recompras de dívida no mercado
secundário. \ apresenta aspectos diferentes das recentes
negociações das dívidas mexicana e venezue-
lana. A capitalização dos juros atrasados e a
2. Entre 1982 e 1987, as quinze nações mais ausência de uma garantia colateral aos títulos .
endividadas assinaram 34 acordos de reescalo- são pontos extremamente sensíveis nesta ro-
namento com seus bancos comerciais credo- dada de negociações. Na proposta brasileira ·
res, no valor global de US$ 300 bilhões. A os títulos possuem somente taxas de juros
média dos spreads sobre a dfvida reescalona- fixas, enquanto no acordo mexicano a primei-
da foi reduzida a mais da metade no perfodo ra opção de título era regulada por taxas
da crise, enquanto a média dos vencimentos variáveis de j_uros. A discussão entre as partes
aumentou de quase 7,5 anos, em 1983, para conduzirá a uma solução intermediária, e a
cerca de 14 an0s, em 1987. tendência é que ocorra o pagamento de uma
3. A redução da divida através dos instru- . parcela de juros atrasados em torno de US$
mentos de mercado foi considerável, tendo -;1,8 bilhões via reservas ou dinheiro novo dos
somente o Brasil, no biênio 1988/89, reduzido credores, e a securitização do restante, com
em US$ 12 bilhões o estoque de sua dívida um prazo entre 5 e 10 anos e taxas de juros
bancária. Entretanto, os principais países de- · próximas às de mercado. Quanto ao principal,
vedores têm reduzido as operações de investi- o resultado das negociações deverá levar a
mentos através da conversão da dfvida, em • uma redução do prazo dos títulos de cupom
função do seu impacto monetário. Além disso, zero para 35 anos. As gestões finais deverão
as conversões podem provocar distorções na concentrar-se na questão da garantia de paga-
economia, por atingirem os inveeytimentos pa- mento do principal dos títulos novos. O esque-
ra setores que porventura não reflitam neces- ma adotado na renegociação mexicana res-
sariamente uma eficiente alocação de recur- tringiu o risco dos bancos ao pagamento dos
sos. juros, além do período de dezoito meses que
foi garantido através de instrumentos colate-
4. A redução da dívida pode também ocor- rais. Não obstante, a oferta de uma garantia
rer através da sua securitização, que envolve colateral aos títulos implica uma mobilização .
a substituição de um crédito bancário por um adicional de recursos que teriam de ser dedu-
ativo financeiro de maior liquidez. Ao contrá- zidos das disponibilidades fiscais.
rio dos créditos bancários. os papéis são
remunerados regularmente e excluídos dos 17. A apresentação da proposta brasileira
acordos de reestruturação e de dinheiro novo. segunda opção foi a troca por tftulos novos, fiscais e monetárias. Essa mudança conceitual coincide com o auge das dificuldades vividas
com valor igual aos atuais e uma taxa de é importante e histórica. Trata-se de uma pelos bancos americanos. A fragilidade do
5. O Brasil assinou três acordos de reescalo- juros de 6,25% ao ano (aproximadamente 35% proposta de parceria. Representa um convite sistema financeiro internacional data de mea-
namento de sua dfvida externa junto à comu- menor que a de mercado na ocasião). A a que os bancos acreditem no crescimento dos dos anos 80. A canalização de poupanças
nidade bancária privada internacional (1983, terceira alternativa era a manutenção do prin- econômico do país. externas para o mundo em desenvolvimento
1984 e 1986), segundo critérios tradicionais de cipal e dos juros, com a obrigação de conceder tem sido insuficiente e vem, não raro. acom-
reprogramação de prazos de pagamento e novos recursos, no valor de 25% do exposure 13. Nos anos 80, a estratégia conduzida panhada de uma série de condicionantes.
redução de taxas de risco. Os dois primeiros atual de cada credor. pelos credores com o apoio do FMI exigiu dos
acordos envolveram recursos novos empresta- países endividados um esforço enorme na 18. As agências oficiaís que regulam as
dos compulsoriamente pelos bancos, em fun- 9. O acordo sobre a dívida bancária mexica- operações bancárias nos Estados Unidos têm
na de médio e longo prazo, no valor de US$ 48 obtenção de megasuperávits comerciais, com
ção da participação de cada um no montante a finalidade de servir à dívida externa. Embo- obrigado os bancos a aumentar suas reservas
total da dívida brasileira. Foi também obtido bilhões, foi assinado em 4 de fevereiro do .compulsórias. O fundo federal de seguro está
corrente ano, e suas condições retroagiram a ra o Plano Brady tenha representado um
dos credores o compromisso de manutenção grande avanço no que concerne ao tratamen- praticamente esgotado. A crise bancária pode-
das linhas comerciais e dos créditos junto às julho de 1989. Cerca de 41% dos empréstimos rá ampliar-se, com eventual recessão na eco-
serão reescalonados com uma redução de 35% to da dívida, ficou ainda longe de constituir-se
agências de bancos brasileiros no exterior, aos em uma solução definitiva para o assunto. A nomia americana.
níveis existentes, no início da crise da dívida. no capital e 47% com uma diminuição equiva-
lente nos juros. Apenas 12% do pacote corres- restrição fiscal impõe uma limitação ao paga-
O último acordo de reescalonamento firmado mento do serviço da dívida bem maior que a 19. A crise atual dos bancos "americanos
pelo governo brasileiro com os credores priva- pondero a novos empréstimos. Por razões resulta da combinação de uma série de fato- ·
contábeis, era previsível que a grande maioria indicada pela capacidade degeração de saldo
dos. em 1988. teve bases plurianuais e introdu- comercial. Estabelece o limite a partir do qual res, dentre os quais se destaca o colapso do
ziu o mecanismo· de securitização em um dos bancos quisesse logo atualizar seus pre- mercado imobiliário, cuja modalidade de em-
juízos. Assim. as duas primeiras opções eram o aumento das exportações ou a queda even-
montante reduzido da dívida reestruturada. tual de importações começa a ter consequên- préstimo constitui o mais importante ativo
mais favoráveis para os bancos. Aliás, estas cias inflacionárias internas. dos bancos, superando em mais de 10 vezes o
6. O México foi o pais catalizador na eclo- alternativas continham as vantagens de ins- total de créditos a países do Terceiro Mundo.
são da crise da dívida do Terceiro Mundo. trumentos colaterais. A garantia de pagamen- Os sete grandes bancos americanos represen-
Recentemente, desempenhou um papel impor- to do principal dos tftulos novos, bem como 14. Uma redução drástica do serviço da tam pelo menos 80% da participação daquele
tante na obtenção de um início de solução do do pagamento de juros por um período limita- dívida junto aos bancos privados, até o nível país no endividamento externo brasileiro jun-
problema. Os bancos relutaram em adotar a do a 18 meses, foi resultado da aquisição, por ,compatível com a capacidade de geração de to à comunidade bancária internacional. As-
idéia da redução do estoque da dívida, sob a parte do governo mexicano, de bônus de .superávit no orçamento primário do governo, sim, a pressão dos acionistas dos maiores
argumentação de que representaria um sim- cupom zero do Tesouro Norte-Americano,com implicará concessões, por parte dos credores, bancos é intensa, no sentido de evitar novas
ples perdão. A pressão da opinião pública recursÓs emprestados pelo Banco Mundial, bem mais significativas que as conseguidas possibilidades de perdas no gerenciamento
internacional foi fundamental para o reconhe- FMI e governo japonês. pelo México, Venezuela e Chile. Nestes três dos ativos. A queda brusca das ações dos
cimento do princípio da co-Pesponsabilidade países, parte considerável das receitas de ex- bancos norte-americanos verificada nos últi-
entre credores e devedores na formação da 10. Um elemento importante do acordo foi a portação é gerada por empresas públicas, de mos meses sinaliza uma expectativa negativa
dívida, cujo serviço tem ameaçado seriamente flexibilidade fornecida ao México de conduzir forma que o saldo comercial se confunde com dos investidores quanto à liquidez dos ativos
a JStabilidade política de muitos devedores da no futuro operações de redução de dívida, a receita fiscal. No caso do Brasil, o investi- dos bancos.
América Latina. Embora longe do ideal, o incluindo recompras no mercado secundário. mento produtivo estatal está concentrado em
acordo firmado pelo México foi uma vitória A alternativa de capitalização ou transforma- ,infra-estrutura ou em serviços não comeréiali-
ção da dfvida em investimentos ficou limitada 20. Por outro lado, o Japão dificilmente
para a estratégia de revisão da atitude em záveis no exterior, sendo, por outro lado, o retomará a médio prazo o seu papel de finan-
relação aos países altamente endividados lan- ao programa do governo mexicano de privati- grande devedor externo. Esta situação pecu-
zação de empresas públicas e projetos de ciador do investimento mundial. A crise da
çada pelo Secretário do Tesouro Americano, liar do Brasil reforça o conceito de pagamento construção civil reduziu drasticamente a prin-
Nicholas Brady. m!Ta-estrutura, no valor ft[obal de US$ 3,5 segundo a capacidade fiscal.
bilhões. A cláusula mais discutida entre as •cipal fonte de lucros do sistema bancário
partes foi a chamada recaptura (provisões de japonês. A relação preço/ lucro média das
7. Os Estados Unidos tiveram um enorme· reajuste). Se, após 1996, o preço do petróleo, a 15. Os principais elementos da primeira ações no Japão mostra-se cinco vezes superior
interesse em assegurar que o México, localiza- principal fonte de exportação do México, esti- proposta brasileira são os seguintes: .à dos demais países industrializados. Os pre-
do em sua fronteira, fosse o primeiro a ter ver acima do valor de US$ 14 por barril, os ços das ações japonesas caíram mais de 40%"
seus problemas solucionados. Os E.U.A. são o bancos terão direito a receitas adicionais (i) A dívida externa do setor privado será nos últimos meses. A unificação da Alemanha
principal parceiro do México, que para lá àquelas previstas inicialmente. excluída da dívida a ser reestruturada. .exigirá gastos fiscais consideráveis para a
remete 2/ 3 de suas exportações. O Free-Trade reconstrução e modernização do lado oriental.
Agreement, de junho de 1989, eliminou barrei- 11. Quatro países - México, Venezuela, (ii) As linhas de crédito de curto prazo - Desta forma, os países exportadores de capi-
ras comerciais e facilitou os fluxos de investi- Costa Rica e Filipinas- reestruturaram recen- interbancárias e comerciais - passam a ser tais dificilmente terão condições de repetir o
mentos entre os dois países. temente suas dfvidas externas junto à comu- voluntárias a partir de abril do próximo ano. fluxo de financiamento dos investimentos no
nidade bancária internacional, no valor global exterior das décadas passadas.
8. O acordo mexicano foi acertado, prelimi- de 72 bilhões de dólares. Embora os instru- (iii) Os juros sobre o pagamento da dívida
narmente, em 23 de julho de 1989,com a missão mentos de redução de díyida adotados em de médio e longo prazo em. atraso serão 21. O cenário está armado para uma fase
de assessoramento bancário (15 participan- cada caso tivessem sido diferentes em função incorporados ao capital da dívida existente, e difícil de renegociação da dfvida externa bra-
tes), representando mais de 500 bancos. O da natureza e composição das dívidas dos o valor global será refinanciado segundo um sileira. Os fatos acima expostos mostram que
acordo, de natureza voluntária, permitiu aos países foram utilizadas as idéias e princípios cardápio de opções que inclui três tipos de os interesses das naÇões credoras são confli-
bancos optar por uma das três formas de básicos do plano do Secretário do Tesouro tftulos. O primeiro título é um bônus de cupom tantes com o conteúdo inovador e revolucio-
cooperação. A primeira era a troca de títulos Americano. zero de 45 anos, com uma taxa de juros nário da proposta brasileira. A viabilidade e o
da dívida atual por títulos novos, com redução implfcita de 9% ao ano. A capacidade anual sucesso da proposta dependerão basicamente
de 35% do principal , prazo de 30 anos e taxas 12. A proposta do governo brasileiro sobre a definida para pagamento será usada para do apoio que a sociedade venha a prestar ao
de juros variáveis em função da Libor, acres- dívida ex terna in traduz oconceito <,!e capacida- resgatar o bônus através de leilões trimestrais. governo nesta tentativa de modificar o trata-
ddos de um spread de 0,87% ao ano. A de de pagamento do país, ligado às limitações O segundo instrumento será o bônus de redu- mento conferido à questão da dfvida.
~ .
C O R E C O N - - - - - - - - - - - - - - - -- -- 1 1
ENTREVISfA

Entrevistado no últ imo dia 05 de dezembro, José Luís Fiori, professor da UFRJ e Cientista
p olític?, con:-truiu d~ maneira brilh:mte e U:~tocável um verdadeiro painel sobre a política
brasile1r_a e mternac10nal. Dada a 1mpossibil1dade de transcrever a entrevista na íntegra,
neste nwnero do INFORME, o CORECON v&-se na contingência de desdobrá-Ia em dois
segmentos, para que não se perca essa contribuição extremamente relevante do Dr9 Fiori no
entendimento. do momento político que vivemos, centralizado no período que vai de março
de 1990 até os seus possíveis desdobramentos até março de 1991.
t fundamental destacar que o p~nel desenhado pelo Dr.Fiori, com extrema clareza não
apresenta qualquer dose de sectariSmo ou maniqueismo no trato da política, o que se
afigura no mínimo raro, quando alguém se propõe a discutir questões tão propensas a esse
tipo de trabalho simplificador.
Ao final da entrevista, a ser editado no próximo número o Prof'9 Fiori faz uma
,emocionante conclamação aos intelectuais no sentido de procurarem entender, custe o que
.custar,. o que se passa no Brasil, especialmente com o povo brasileiro, exortando-os a
cumpnr o seu papel para o desenvolvimento de nossa população, não com as características
de um discurso sobre "o que deve ser feito", mas com algo muito mais sólido, ao mesmo
tempo. hum~ o, ~jo paradigma seria a "poética" de MaiaKowsky, em que se ressalta a
necessidade no penosa de pensar e agir, sem dogmatismos.

Corecon - Como você explicaria, na quali- cara visfvel foi o esgotamento da coalizão
dade de cientista político, a eleição do Presi- governante que governou durante os vinte
dente Fema,!ldO Collor? anos de governo autoritário. Nesse processo-
. de transição polftica, simultâneo, que é um,
processo de agonia de um padrão de desenvol-
Fiori - E difícil entender a chegada do vimento houve uma relação perversa entre os
C ollor à Presidência da República sem recuar dois , coisa que olhando nos dias de hoje não
um pouco ou ta lvez muito no tempo. Mas se era necessário que tivesse sido. A nossa tran-
a gente, pelo menos, tomasse em conta certos sição aqui de 1985 â 1990, o perfodo conhecido
aspectos terminais de um processo prolonga- como Nova República ou Governo Sarney, é
do - um processo de desenvolvimento, indus- um exemplo do cinético oposto do que foi na
tria lização, crescimento econômico e dificul- Espanha. O que aqui no Brasil se chamou de
dades sociais que esse país viveu desde que o desmontar do entulho autoritário, o desfa-
optou por uma condução autoritária na déca- zer do entulho foi lento e foi pautado por
da de 60, dessa estratégia desenvolvimentista ' sucessivas concessões de parte a parte. Você
- evidentemente. esse longo percurso deságua não desfez o entulho todo, fez uma constitui-
por várias causas internas e externas supera- ção e depois sentou para ver o que fazia.
nalisadas e predominantemente econômicas Desde a primeira hora, o entulho ia sendo
na crise dos anoo 80 ; uma crise de estran~la­ desfeito e cada passo do ponto de vista da
mento interno e externo da ca pacidade de liberalização, da democratização, da institu-
seguir crescendo segundo o mesmo modelo de cionalização er a uma conquista negociada
art iculação e financia mento anterior e da com as forças conservadoras que conduziram pouco há de entender a ascensão vertiginosa cação que todos nós sabemos cumprem neste
capacidade de seguir sustentando esse cresci- até 1982 o processo da transição democrática. de Collor, que vinha de Alagoas, não é verda- pafs uns 70% do papel que cumpriam os
mento através de um regime político autoritá- O entulho foi chutado pela janela com enor- de? Mas ele já tinha tido presença em Brasf- clássicos partidos europeus, em termos de
rio. A década de 80, que polftiça e economica- me velocidade e o processo constituinte an- lia, no Rio, e tinha tido uma presença nacion al form açã o de opinião pública, não é? E o ·
mente alguns consideram perdida e outros dou à margem do processo de negociação. em já há algum tempo nos debates internos do Collor, de algum a forma, reuniu uma espécie,
não, do ponto de vista da percepção da torno da polftica econômica que praticamente PMDB, no processo de implosão do PMDB, ele conseguiu ga lvanizar, eu acho que o pró-
opinião pública e da cidadania, ela efetiva- não existiram. A Nova República do Sarney C ollor sempre se alinhou com as posições prio fato de ele ser um outsider fortaleceu ele
mente foi uma década lamentável, uma déca- conduziu o processo de transição de uma chamemo-las mais progressistas. De cerca de muito mais neste discurso do que, por exem-
da triste e repleta de problemas, onde as fórma inábil e incompetente do ponto de vista vinte governadores, naquela altura, do PMDB, plo, este mesmo discurso feito pelo senhor
pessoas, desde o seu plano de vida ipdividual da percepção da gravidade da crise econômi- é bom relembrar houve um apenas que se Ulisses Guimarães, que pode ser perfeitamente
até a sua convivfficia coletiva, seguiram per- ca nacional , conjugada com o cerco interna- opôs aos cinco anos de mandato, que eu hon esto, mas perfeitamente ininteligfvel para
manentem ente dura nte dez anos chacoalhá- cional e o desmanchar de instituições que lembre, eu não tenho certeza se o Waldir .o povo brasileiro depois de ele ter sido sócio
veis por su cessi vas modificações nas regras tinham cinqúenta ou sessenta anos neste pafs Pires também, entã o ou foram dois ou foi ele durante cinco anos do Governo S arney. En-
contratuais econômicas, por sucessivas apari- e tudo isso foi administrado de uma maneira só que opôs ao mandato de cinco anoo para tão, o Collor teve uma enorme capac idade de
ções de propostas, pequenas utopias e sonhos extrem amente incompetente politicamente. presidente. Entã o, ele já vinha m arcando pre- .ga lvanizar esse sentimento da grande m assa
qu e foram destrufdos ou enterrados rapida- Então, nós chegamos à 1990, para terminar sença e vocês se lembram de uma luta dele da população de ins atisfação, de contra e de
mente. Eu acho que á década de 80, desde essa ante-sala da chegada do Collor à Presi- contra os maraj ás, no Alagoas, coisa qu e intolerância com a degenerescência ética do
uma outra ótica que não é nem de economis- dência, com uma economia em frang alhos e às normalmente na extensão desse país nin guém ponto de vista da grande massa, m as galvani-
ta, nem só de " politólogo" ela agit ou em portas da hiperinflaçã o, um Governo Sarney est aria se importando, mas naqu ele clima do zar sem precisar se comprometer e se articular
excesso as emoç ões, a sensibilidade do povo pouco menos qu e a bandonado até pela im- 'final de Nova República, daquela degeneres- e sim simples mente pela reinteração do dis-
brasileiro e ela cansou brutalmente a popula- prensa. No final, nem mesmo se falava de cência marcada por aquela fig ura exponencial curso que era feito pela maioria da elite de
ção desta década. Cansou de várias coisas. Eu Sarney numa espécie de concessã o, inclusive, do senhor Robert o Cardoso Alves, para dar retórica, que é depois exatamente o que esse
acho que uma das coisas que lamentavelmen- ao Presidente. Então, você chegou ao final de um exemplo emblemático do que foi o fi nal a no está demonstrando que esse imens o con-
te essa população se cansou de form a muito 1990 havendo atropelado as eleições diretas de trágico da Nova República do Governo do senso liberal co nservador como já em tantas
rápida foi do próprio processo de transição 84, em troca de um processo negociável de senhor Sarney, evidentemente, que aquele vezes, e ou tros momentos na história deste
democrá tica inicia da em 84/85. Hoj e. a gente transição que as elites afirmavam que seria Governador lá no pequeno Alagoas, comba- pafs foi mais retórico do que prático. E assim
tem plena consciência, a hi stória já passou, mais eficaz. E afin al, não se teve as eleições tendo os marajás, foi trazido pela imJrensa chegou o jovem governador Coll or. de Ala-
qu e esses ci nco anos de reco nstituição das diret as em 1984/ 1985 e se teve um processo de para o primeiro plan o nacion al porque ele era goas, a conseguir esse fenômeno de disparar.
inst it uições democráticas fo i atropelado, a , transição não consensual, extremam ente con- o que a massa estava querendo, o qu e o povo Vocês vejam que isso não é nen hum a peculia-
Lodo momento, · não a penas pela m á sorte do flitivo, não pactável e onde as questões funda- estava sentindo, então ele desde ali arrancQu ridade nossa, já fo i demonstrado que não é,
fa lecimento do Presidente Tancredo Neves~ mentais polfticas e econômicas foram tratadas com um discurso profundamen te ético, com mas pouco depo is do Coll or, gan hou o Fuji-
ascensão de u ma figu ra totalmente inespera- de forma descontfnu a e separada. Não é de se um discurso e básica e originariamente con- mori, no Peru, e como vocês estão vendo no
da , mas pela má sorte de ter sido uma trans i- estranhar qu e em 1990 a opinião pública, por trário a tudo que a Nova República havia momento, ele é um japonês que veio ganhar
ção democrática atropelada por uma brutal ci ma de instituições, partidos, igrejas e lide- trazido de errado. E pouco a pouco, foi agre- no Peru e aparentemente há um peruano que
crise econômica que foi diagnosticada, na ranças, tivesse, fu-ndamentalmente, no fundo gando este discurso numa gradação progressi- está quase ganhando a eleição na Polônia, ele
primeira hora da transição, com o uma crise da sua alm a um brutal cansaço com essa va desta proposta de modernização do Esta- é polonês imigrado e está voltando do Peru e
·conjuntural perfeitamente contornada. Creio década e, portanto·, extremamente aberta, do, da economia em que em linguagem "pão Canadá, quer dizer, essa apetência de figuras
que essa era um pouco a visão de Tancredo propensa e receptiva a discursos que fossem pão, queijo queijo" se chama da ú ltima déca- mágicas, de soluções mágicas, parece que se
Neves, em 1984, e que pouco a pou co foi contrários e crft icos. E a população movendo- da e meia de projeto de modernização neolibe- dissemina nas manchas mais dramáticas oo
mostrando todas as suas faces, foi m ostrando se pela primeira vez num espaço nacional de ral. Então, pouco a pouco, ele foi se encalçan- mundo nesse momento em termos de crise.
a sua cara inteira de uma crise não puramente 80 milhões de eleitores - uma coisa que esse do não apenas no que é um consenso hegemô- Nesse sentido, estamos próximos da Polônia,
conjuntural, mas no meu entender, uma crise pais ~unca teve, pocque nós tivemoo eleições re- nico no mundo ocidental, na segunda metade da Tchecoeslováquia, da Iugoslávia, da Hun-
profu nda do própio padrão de desenvolvimen- gJOmus e locais - essa ml5sa de 80 milhões da década de 70 para frente , como também gria e estamos distantes em duas dinãmicas
to e de organização polftica da sociedade de brasileiros saltou com muita facilidade desse galvanizou sem nenhuma articulação, sem diferentes, mas do ponto de vista de sermos
brasileira que vigiu durante trinta, quarenta cansaço, dessa insatisfação profunda por uma necessidade de base orgânica o que era tam- elos frágeis dessa crise internacional econômi-
ou se nós tomarmos de trinta para cá, cin- expectativa, mais uma vez ainda, e eu acho bém neste pafs, aparentemente, o consenso ca e de estarmos, portanto, suscitando nos
quenta ou sessenta anoo n a noss a história É o que só mu itos anos e décadas de democracia líbero conservador das nossas elites, também nossos povos expectativas de soluções rápidas
que já em várias ocasiões reintive reinterado começam a destruir essas expectativas mági- partidário deste mesmo projeto. Eu diria que e eficientes parecem que vão tendo repercus-
e chamado em alguns textos de uma prof).ln- cas do exercício do voto ou expectativas nesse primeiro ano de governo, o Presidente sões desse tipo em todo lugar. Então, o
da e radical crise do estado desenvolv imentis- mágicas depositadas em personalidades de levou à frente com uma extraordinária ousa- Presidente Collor como um outsider alagoano
ta em todas as suas dimensões. A face visfvel tipo messiâ nica, carismática, enfim, aquela d i a, ainda que talvez com pouc a . qu e chega à Presidência da República não
nesta crise do estado desenvolvim en t is ta foi a que em geral se relaciona de forma direta e coordenação estratégica, as idéias que apa- - chega a nos dar nem mesmo o orgulho de
crise financeira , pelo lado econôm ico, o es- inorgânica com a massa, que é um pouco o rentemente ao fin al do ano passado, gozavam 1sermos originais neste sentido.
trangulamento financeiro do Estado e o corte fenômeno do Collor. Esse era o quadro.então de amplo consenso nas elites polfticas, nas
dos nossos financiamentos externos e outra na entrada de 90, e eu acho que por aí um 'academias e sobretudo nos meios de comuni- CONCLUI NA PRÓXIMA EDIÇÃO

...
I'

Antônio Luiz Figueira Barbosa


A Propriedade Industrial é o ins- Brasil Novo, cujas características pa- nais. Aqui, cumpre recordar que, se valor (máx. 5% das vendas) ou seja
trumento através do qual a socieda- recem ser neoliberais. As duas cons- em geral o processo de substituição temporalmente (5 anos). O sistema
de regula a forma ·de apropriação dos tatações são de extrema relevância de importações está . esgotado, no fiscal, sendo ainda incipiente, requer
meios intangíveis de produção e co- para a análise, todavia há uma outra ramo farmacêutico tal processo não o amcnio de outros órgãos governa-
mercialização, destinados, respecti- também importante que independe parece ser conhecido, deixando de ser mentais, no caso oJNPI.
vamente, a maximizar a riqueza ge- da conjuntura atual: o pouco debate aplicável conceitos e medidas relacio- Ora, as funções do INPI para
rada e a reduzir sua desvalorização e compreensão nacional a respeito nados com a abertura da economia regular a transferência de tecnologia
no processo de circulação econômi- de Propriedade Industrial e Transfe- ou, para usar o jargão, com a integra- são necessárias ao bom funciona-
ca. A definição é necessária, conside- rência de Tecnologia. Assim, são ção competitiva mento da economia, e, por conse-
rando que o objeto parece estar poucos os técnicos destes temas com Desta maneira, parece importante quência, o desenvolvimento tecnoló-
esquecido pelos economistas. De fa- uma compreensão do geral econômi- que, previamente a qualquer decisão gico torna-se viável, dadas as pré-
to. desde que a Economia marginali- co. bem como são também raros os para "liberalizar" patentes farma- condições geradas pelas regulações.
zou a distribuição da riqueza e vol- técnicos de outras áreas com o en- cêuticas, haja uma reflexão sobre os A criação, p. ex., de grupos de traba-
tou sua atenção para a formação de tendimento do particular. Resultado: motivos pelos quais a excfusão de lho para avaliar e selecionar a tecno-
preços, a apropriação social ficou o processo de transformação tende a proteção não foi suficiente para que logia contratada por uma empresa,
relegada à sua forma, i.é. à sua ex- conter incompreensões, prescindir aumentasse a produção local de fár- ainda que com a participação empre-
pr essão jurídica. Passemos aos fatos. de uma articulação do específico macos. Então, e só então, deveria se sarial, é somente um óbice ao funcio-
As crises econômicas internacio- com o geral. etc, sem deixar de pensar em fazer a política para ·. , namento do parque produtivo- uma
nais. inclusive esta que ora vivemos. mencionar o interesse de grupos em Propriedade Industrial e para as oú- burocratização desnecessária (o
transformam as relações entre paí- manter o cartel ou o cartório ou, por tras áreas econômicas interrelacio- GT para Serviços de Engenharia
ses. grupos econômicos e sociais, outra parte, pretender reviver as leis nadas. Em outras .Palavras, as medi- não se enquadra no exemplo). Outra
etc. dadas as alterações estruturais de mercado com base em que "é das não podem ser de permissibilida- forma de desvirtuar foi atribuir ao
que provocam na economi a. Desta proibido proibir". . de "per se", mas devem ser de deter- INPI, na política industrial do go-
maneira. as especificidades das "re- minar aquilo que é necessário permi- verno passado, a função de analisar
gras do jogo" necessitam também Tomemos o caso das patentes far- tir. projetos de desenvolvimento tecno-
ser alteradas. e. quanto mais profun- macêuticas. sem a proteção no país Vejamos. então, a transferência de lógico que, se contivessem contratos
da a crise. maiores serão as mudan- desde 1969, tanto para as invenções tecnologia. No caso, parece haver a de transferência de tecnologia, deve-
ças a nível internacional e nacional. de processo quanto para as de pro- busca de desburocratizar preceden- riam ser aprovados sem qualquer
Neste contexto. a Propriedade In- duto. Inicialmente. deve ser com- do possíveis liberalizações. Ou seja, o avaliação... desde que houvesse pare-
dústrial tem que sofrer adaptações. preendido que em todos os países há principal é acabar com o cartório, o cer firmado por advogado inscrito na
Há cerca de cem anos, em meio a "restrições" no ramo farmacêutico, que pressupõe pôr fim à "liberaliza- OAB atestando a consonância com a
outra crise, a Propriedade Indústrial seja em patentes ou em outras áreas ção condicionada". Palmas! legislação em vigor! Afinal, a definição·
foi internacionalizada, i.é, as leis na- - preços, p. ex. Em Propriedades Em verdade, o processo de aprova- de cartório?
cionais sobre patentes e marcas pas- Industrial a exclusão de proteção ção dos contratos de transferência
saram a ter como ponto de referên- total (processo e produto), parcial de tecnologia foi desvirtuado. Na É um imperativo a desburocratiza-
cia um tratado intergovernamental (só produto. p . ex.) ou maior rigor última década o discurso enveredou ção do INPI, conjugada com a
firmado em 1883. vulgarmente deno- para a concessãe da patente. foram para o desenvolvimento tecnológico retomada de suas reais funções e
minado de Convenção de Paris. Este ou ainda são medidas adotadas em através da pesquisa tecnológica, que atribuições. especialmente quando a
mais antigo tratado internacional países desenvolvidos ou em desen- objetivamente não é atribuição do recém-lançada política industrial do
econômico vigente estabelecia al- volvimento. No momento, a exclu- Instituto Nacional da Propriedade Brasil Novo gravita em torno do de-
guns princípios gerais. deixando aos são de proteção total em patente de Industrial (INPI), pois a regulação senvolvimento tecnológico. Mas aqui
países desenvolvê-los em suas leis processo é medida adotada pelo Bra- da transferência de tecnologia é des- é preciso estar atento. As medidas
nacionais. Hoje. o surgimento de sil. Malawi e Turquia, havendo mais tinada a outras funções. De fato, a anunciadas desta política industrial
bloco de países buscando unidades seis países com certas restrições; aprovação dos contratos tem três retomaram os mesmos incentivos fis-
econômicas. sendo a Comunidade mas. em patente de produto, um finalidades: possibilitar ao ·Banco cais para tecnologia db governo ante-
Européia o exemplo, requer que total de quarenta e nove países ado- Central · autorizar a remessa de divi- rior e ao fazê-lo reiteraram alguns
aquela internacionalização seja ho- tam a exclusão ou outras formas de sas (regulação cambial). eliminar as equívocos. Por exemplo, a dedutibili-
mogeneizada. Para tal fim. há em reduzir o poder econômico conferido cláusulas restritivas (regulação do dade fiscal para despesas de contrata-
fase de negociação dois tratados no pela proteção. Portanto, pelo menos poder econômico) e permitir a dedu- ção tecnológica foi aumentada de 5%
âmbito do Acordo Geral Sobre Co- para as patentes de produto, a homo- tibilidade fiscal (regulação fiscal). para IO% das vendas no caso da
mércio e Tarifas (GATT) e da Orga- geneização deverá ter um impacto A regulação cambial é necessária chamada tecnologia de ponta. Portan-
nização Mundial da Propriedade In- muito menor sobre as leis nacionais em um país com crônicos problemas to, em primeiro lugar, não há qual-
telectual (OMPI). do que para processo. cambiais, servindo para evitar a re- quer definição do que seja tal tecnolo-
messa disfarçada de lucros, para im- gia, ficando a definição no caso-a-caso
Enquanto a internacionalização No Brasil mudanças são esperadas do mais puro estilo cartorial, e, em
integra os países em um "sistema" possibilitar o pagamento por tecno-
no campo das patentes farmacêuti- segundo lugar, o aumento da deduti-
flexível. no qual são poucas as regras logia cujo valor seja considerado
cas. embora ainda sem uma clara acima da capacidade de endivida- bilidade pressupõe maiores facilidades
mandatárias, ficando a maioria à de- definição de extensão e alcance. Para ao ingresso de tecnologias sofistica-
cisão nacional. na homogeneização o mento nacional, ou induzir o uso de
raciocinarmos sobre o tema, vamos serviços técnicos disponíveis no país. das, o que não encontra apoio teórico
"sistema" é enrijecido pela dominân- supor a proteção para produtos e ou prático. O Japão, até hoje, limita
cia da obrigatoriedade: os desiguais A economia de divisas, graças a esta
processos. sem outras restrições em ação regulatória, contribui para o em 5% das vendas ... Outro exemplo· é
passam a ter o mesmo tratamento. patentes. Ora, esta proteção é um o crédito do imposto de renda para
Se para os países em desenvolvimen- desenvolvimento econômico, do
direito exclusivo e, logicamente, um alguns casos de remessa de divisas de
to há uma tendência negativa. torna- qual o tecnológico é uma parcela.
monopólio que tem. como qualquer empresa sediada no país, o que impli-
se imprescindível analisar critica- monopólio. seus custos sociais. Além A regulação das· práticas comer- ca no absurdo de admitir o pagamento
mente o novo panorama, tendo em disto. este direito poderá incluir - ciais restritivas permite o livre fun- do imposto por aquele que faz a
consideração que não há nada de por hipótese extremamente liberal - cionamento da economia, inclusive despesa e não por que tem a renda!
inexorável no futuro. o direito de importar. i. é., somente o possibilitando a livre exportação. Toda a análise anterior aborda
titular da patente poderá ingressar Nos países desenvolvidos, há orga- questões de base, ou de pré-condições,
As repercussões da homogeneiza- nismos especializados, bem como a
ção já existem em nosso país, pelo com o produto ou sua substância para levar a termo uma políti.c a tecno-
ativa no país. Portanto, é possível legislação fiscal também é utilizada lógica e industrial, independente do
menos em dois eventos em curso: a para esta regulação; nos países em
elaboração de um Código da Proprie- também supor que ocorrerá um au- (s) paradigma (s) vigente (s), ou se
mento dos preços finais, sem qual- desenvolvimento, o aparelho gover- esta política é pós-industrial, neo-
dade Industrial. tendo como desta- namental inexiste ou é bastante inci-
que a perspectiva de adoção de pro- quer possibilidade de recorrer às im- liberal, etc., ou se há recursos finan-
teção para as invenções do ramo portações para reduzir o poder eco- piente. ceiros disponíveis e se existe propen-
químico-farmacêutico e alimentar. e. nômico do cartel. O leitor poderá A regulação fiscal atua desincenti- são a investir em tecnologia. De fato,
um projeto de desburocratização e efetuar outras hipóteses. como por vando despesas excessivas na con- os aspectos abordados são premissas
simplificação de procedimentos. com exemplo. o ramo farmacêutico que tratação tecnológica. bem como in- para o desenvolvimento de modelos,
co notações liberais, na contratação atualmente importa cerca de 15% das centiva a pesquisa local, sendo o os quais delimitam as trilhas possíveis
de tecnologia externa. importações industriais, indicando o instrumento capaz de atender às fi- de percorrer, ou são princípios funda-
menor índice de agregação indus- nalidades das regulações anterior- mentais para qualquer política. Espe-
Estas transformações fazem-se em trial. aumentar o valor das importa- mente mencionadas. O desincentivo remos que, sob tais aspectos, a atuali-
meio a uma séria crise econômica e ções reduzindo a importação. de in- é pela limitação da dedutibilidade dade do tema haja interessado aos
patrocinadas pelo chamado plano sumos e elevando em produtos fi- fiscal das despesas. seja por meio do leitores.

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