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CHAUL, Nasr N. Fayad. A construção de Goiânia e a transferência da capital.


Goiânia: Centro Editorial e Gráfica da UFG, 1988. 174p. (Coleção
Documentos Goianos, 17).

Capítulo primeiro
Discussão no final a respeito do processo da Revolução de 30 e a
questão se houve ou não uma alternância no poder oligárquico (grupos
oligárquicos). Neste caso a presença de Pedro Ludovico, médico em busca de
ascensão política/p.16/.

Segundo capítulo
Idéia da mudança da capital pelo governo provisório do interventor
Pedro Ludovico.
Até 1930 os grupos oligárquicos concentram-se em torno da
oligarquia Caiado que domina com mão de ferro isoladamente, desde o início
do século quando os Bulhões são afastados do poder.
Oligarquia aqui o autor utiliza como conceito ligado a “grupo de
dominação cujo poder político real emana da propriedade da terra e do
conseqüente controle que exerce sobre o comportamento dos que nela
trabalham”. Como é do meio rural, agrário, que deriva o poder político dos
coronéis então pode-se aferir que o meio urbano quase nada interferia nesta
estrutura, mesmo porque como afirma o autor até a década de 20 as cidades
do Estado de Goiás e mesmo uma classe média urbana eram “acanhadas”
não compreendendo núcleos hegemônicos para uma transição política como
ficou patente nas análises do fenômeno da revolução de 30 para a Região
sudeste e sul (Boris Fausto e Edgar de Decca).
As regiões mais desenvolvidas de Goiás (sul e sudeste goianos)
tentam em 30, sob o comando do médico Pedro Ludovico, derrubas a
oligarquia Caiado, mas foram derrotados pela Força Pública apoiada por uma
batalhão de voluntários. Somente após a entrada da chamada “Coluna Arthur
Bernardes” chefiada por Quintino Vargas é que os grupos Caiadistas sediados
na capital, Goiás, caíram com a ocupação do Palácio do Governo.
Uma situação estranha, pois tropas mineiras derrubaram a situação
em um Estado onde a oposição demonstrava não concentrar forças suficientes
para derrotar seus inimigos.
Após 1930 a heterogeneidade das forças que apoiaram e fizeram o
levante tem seu grau de polaridade em 1933 com as eleições para a
Assembléia Nacional Constituinte, pois de um lado os tenentes defendiam uma
centralização ditatorial, detestando o modelo liberal e seu regime político
federativo com autonomia estadual e limitação do poder executivo.
A Constituição de 1934 foi o resultado do conflito de forças que
acabou representando a vitória do liberalismo defendido pelas oligarquias do
Centro-Sul, que contribuiu para o enfraquecimento do Tenentismo como força
política autônoma e movimento sólido, com garantiu a consolidação das
lideranças estaduais com base no apoio das oligarquias vinculadas a Vargas.
Em Goiás a Junta Governativa formada por Mário Alencastro
Caiado, Pedro Ludovico Teixeira e Emílio Francisco Póvoa, durou certo
período sendo indicado como Interventor, Pedro Ludovico (o autor discute sua
possível indicação feita por Diógenes Magalhães, concunhado de Ludovico e
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médico de relevante influência na área federal, mas sem dúvida Pedro


Ludovico era o homem certo para o momento histórico)/p.60/.
Foram realizadas medidas para dar a impressão de mudança
política como por exemplo as Comissões de Inquérito, mudanças no poder
Judiciário/p.60-1/, objetivando-se com isto a conquista do apoio dos municípios
e povo goiano à Revolução de 30, que tinha seu inverso no próprio poder de
Pedro Ludovico, inserido na idéia de que era para ser provisório, e existiam
dois pretendentes a substituí-lo: Domingos Netto Velas e Mário Caiado. Pedro
Ludovico tinha a máquina administrativa do executivo e uma idéia na cabeça,
como dizia o autor: “mudar a capital do Estado”/p.60/.

2. As idéias de mudança da Capital/p.65/.


Idéia da mudança era antiga, tendo sua origem no período colonial
conforme Luiz Palacín.
Em 1754 o governador Conde dos Arcos sugere a mudança da
capital para Meia Ponte (atual Pirenópolis) devido as dificuldades de
comunicação e deficiência climática de “Vila-Boa“. O Governo português
desiste do intento devido ao custo altíssimo desta transferência.
Por volta de 1830 Miguel Lino de Morais (2º governador de Goiás do
Império - 1827-1831), sugeri a mudança para Água Quentes. A crítica de
Couto Magalhães às condições climáticas exemplificam a permanência
deletéria e a insatisfação dos sucessivos governos para com o local
pretendido.
Apontava as deficiências da capital: foco de epidemias e doenças
inúmeras, com condições comerciais medonhas: “o comércio aqui vive
exclusivamente dos empregados públicos e da força de linha”; às condições de
transporte e estradas péssimas: “Goiás não só reúne as condições
necessárias para uma capital, como ainda reúne muitas para ser
abandonada.”/p.66 - MAGALHÃES, Couto. Viagem ao Araguaia. Coleção
Brasiliana. v.2. citado por PALACIN, Luiz, APUD. CHAUL, Nasr F. Fayad).
Rodolfo Gustavo da Paixão, presidente de Estado em 1890, crítica
as condições sanitárias da cidade, e deste período até 1932 a tônica dos
governantes e legisladores goianos foi a mudança da capital, que não
realizando-se seja por falta de recursos, seja no plano do executivo, passa a
manifestar-se segundo o autor como idéia.
O ano de 1932 marca um momento interessante de discussão e
estratégia política do interventor Pedro Ludovico que põe a questão da
mudança da capital na pauta do dia e que estaria por toda década de 30 na
ponta de atuação do governo.
A primeira cidade goiana a apresentar-se como candidata para
sediar a nova capital foi Bonfim (hoje Silvânia), que pediu a transferência em
julho daquele ano /p.67/ - carta do prefeito Mário Costa Ferreira ao Interventor
de 07/07/1932, trecho citado nas p.68-9:
“Segundo a respeitável opinião do referido engenheiro Dr. Carlos
Hass, quinze são as condições exigidas em urbanismo moderno:
I - Possível ausencia de accidentes fortes no terreno a ser edificado;
II - Absoluta salubridade do local;
III - Possibilidade de purificação do ambiente por meio de jardins e
bosques;
IV - Máxima de insolação e arejamento;
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V - Bom clima;
VI - Facilidade no abastecimento de água e altamente potavel,
calculdada em 140 e 180 litros, ‘per capita’, em 24 horas;
VII - Facilidade nas installações sanitárias e exgotos;
VIII - Facil obtenção de força hydraullica para a produção de
energia;
IX - Facilidade na obtenção de materia prima para a fabricação de
materiaes para construcção;
X - Facilidade no abastecimento de primeira necessidade;
XI - Fertilidade no sólo na zona suburbana e rural;
XII - Facilidade na construcção de extensa rêde de vias de
comunicação para todos os lados;
XIII - Facilidade na defesa e fortificações;
XIV - Impossibilidade de Inundação, esbarrancamentos e outras
catastrofes calculáveis; e
XV - Existencia de terrenos adequados para a prática de esportes.”
O Congresso realizado em Bonfim foi visto por Ludovico como uma
das pedra fundamentais para medir o desejo do sudoeste e sul goianos em
levar a capital para os centros dinâmicos da economia do Estado.
Domingos Velas que ambicionava o poder político do governo do
Estado, foi Secretário da Segurança Pública de Ludovico até 1932, quando
demitiu-se mudando-se para o Rio de Janeiro, para logo em seguida retornar
buscando apoio para eleições livres para o governo estadual, mesmo intento
dos constitucionalistas paulistas.
Pedro Ludovico mantém-se fixo na idéia da construção da Nova
Capital e publica o Decreto n.º 2737 de 20 de dezembro de 1932, nomeando
uma comissão para “proceder aos estudos necessários à escolha de um local
para se edificar a futura capital”/p.70/.
A comissão era composta dos seguintes membros: Dom Emanuel
Gomes de Oliveira, arcebispo de Goiás (tendente a escolha de Bomfim), João
Argenta, urbanista, Colemar Natal e Silva, advogado, Antônio Pirineus de
Souza, militar; Antônio Augusto Santana e Gumercindo Alves Ferreira,
comerciantes.
O decreto é absorvido como ato político na cidade de Goiás,
visando às eleições para Câmara Federal.
Em 3 de janeiro de 1933 são apresentados os locais indicados para
futura capital: Pires do Rio, Bonfim, Batá (Ubatam) e Campinas, sendo os
requisitos básicos para a escolha definitiva: abundância de água, bom clima,
topografia adequada e proximidade com a estrada de ferro /p.70/.
É formada uma sub-comissão para o estudo das regiões composta
por J. Argenta, Jerônimo Fleuri (engenheiros) e Laudelino de Almeida.
Logo em seguida é publicado no dia 13 do mesmo mês, um decreto
autorizando o governo a contrair empréstimos com a finalidade de liquidar
dívidas (no valor de 6 mil contos de réis, com 9 anos de prazo e 8% de juros
anuais) e iniciar a construção da capital /p.71-2/.
O pagamento desta dívida não deveria ser superior a 500 contos de
réis para amortização e juros da quantia emprestada.
Segundo Ludovico o Estado poderia contrair tal empréstimo visto o
controle da dívida pública interna, ausência de dívida externa e a arrecadação
anual de mil contos de réis.
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A sub-comissão acabou por escolher Campinas como local onde


deveria situar-se a nova capital (04/03/1933), com o argumento de localizar-se
na região mais central e densamente povoada do Estado, que recebeu a
aprovação do engenheiro Armando Augusto de Godoi, não residente em
Goiás e técnico de prestígio com especialização no exterior /p.72/.
Foram realizadas eleições dos Deputados em maio de 33 que
comporiam a Constituinte, e, para outubro de 1934, as eleições nos Estados
para se elegerem deputados federais e estaduais. As assembléias estaduais
elegeriam o presidente, os senadores e os governadores.
Nesse período houve uma certa polarização política tendo a
situação formado o PSR (Partido Social Republicano) com Mário Caiado,
domingos Netto de Velasco, José Honorio da Silva e Souza e Nero Macedo de
Carvalho (candidatos à representação federal), enquanto a oposição arranjada
no PD (Partido Democrático) congregava Josiano de Morais, Agenor Alves de
Castro, Benjamin Luiz Vieira e Ernâni Cabral.
Derrotados por PSR, os oposicionistas não elegem sequer um
deputado representando a decadência dos Caiados na política goiana/p.73/.
O decreto n.º 3359 de 18 de maio de 1933 que estabelecia critérios
para demarcação do município de Campinas para estabelecer e organizar o
plano definitivo da nova cidade, assim como as zonas urbanas, suburbanas e
rural, a divisão de terrenos em lotes, assim com os preços para venda.
Destinação de áreas para construção de edifícios públicos, federais, estaduais
e municipais, cemitérios, hospitais, mercados, praças, quintas e jardins
públicos, meios de transporte, etc. /p.73/. (parágrafo 2º do artº 1º).
Estabelecia também regras de higiene e arquitetura (parágrafo 3º do
art.º 1º), concessão de favores e privilégios a particulares e empresas para
estabelecimentos de serviços de iluminação, abastecimento de água, esgoto,
viação urbana (parágrafo 5º, art. 1º).
O artigo 4º é ilustrativo de uma preocupação social emergente no
populismo em nascimento: “A Prefeitura da nova cidade construirá, em zona
para êsse fim demarcado, prédios em condições higiênicas e de aluguel
barato para os operários”/p.74/, e a questão que fica é se esses bairros ainda
existem ou chegaram a existir na nova cidade.
O artigo 6º estabelecia um prazo de dois anos para mudança da
capital.
A identificação do “mudancismo” perpetrada por Pedro Ludovico
com um desejo do país, de avanço da “frente pioneira” para novas “frentes de
expansão”, identificando-se num plano maior ao ideário de Vargas, a uma
necessidade de dinamização da economia rumo ao capitalismo.
A transferência da capital como aspiração nacional, identificada com
o “novo, o progresso, a centralização e a esperança.”/p.76/. Base do capital
em Goiás continuava entretanto a estar ligada à terra (interação entre o “novo”
e o “velho”).
Pedro Ludovico para Itami Campos, era o saber médico (doutoral)
como “estratégia de poder” - daí as imagens de Goiás como um doente,
interfere em todas as esferas da existência material, e mais contundentemente
na saúde pública, que embora presente no discurso não efetiva-se para além
da capital devido a falta de apoio e ação do governo federal/p.76-7/.
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A opção estratégica de ataque a antiga capital (Goiás) serve como


ataque indireto ao antigo centro de poder oligárquico dos Caiados, que
precisavam ser apeados do poder.
- a construção da nova capital
O problema do levantamento dos custos para construção de Goiânia
não pode ser resolvido completamente, visto a destruição da documentação
por uma inundação no Arquivo da Secretaria da Fazenda /p.100/.
A alguns apontamentos possíveis como por exemplo com relação
aos empréstimos:
6000 contos - Decreto n.º2851 (1933)
12000 contos - empréstimo externo (1935)
5663 contos - apólices do governo Federal (1936)
Na venda de lotes efetuada entre 1934 e 35 o governo estadual
obteve 797 contos de réis.
No geral haviam dúvidas quanto a capacidade financeira do Estado
de arcar com a construção da nova capital, que era respaldada pelo futuro
sucesso do investimento que colaboraria para intensificar a economia goiana,
isolada dos centros produtivos (sudeste e sul)/p.101/.
Em 24 de outubro de 1933 é feito o lançamento da pedra
fundamental da futura capital.

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