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Prática 1. Determinação da tensão superficial e do paracoro de um liquido.

Estudo de um surfactante comercial.

1. INTRODUÇÃO
Além das mudanças físicas que acontecem na superfície dos líquidos, tais como vaporização e
condensação, a superfície de um líquido tem propriedades interessantes por si mesmas, como é a tensão
superficial. A tensão superficial afeta o comportamento de um líquido e, essas propriedades são
modificadas se um soluto está presente, particularmente, e se o mesmo é um agente ativo na superfície,
daí a importância de se descrever termodinamicamente e explorá-la experimentalmente. Efeitos
superficiais também afetam profundamente as propriedades de colóides, particularmente suas
estabilidades. Processos que ocorrem nas superfícies determinam muitos aspectos diários, incluindo a
própria vida. Camadas de moléculas nas superfícies líquidas são usadas para reduzir a taxa de evaporação
de água em regiões áridas e para estabilizar espumas, e suas propriedades são importantes quando se
consideram as propriedades e o tratamento de poluentes, como nos derramamentos de óleo no mar.
A tensão superficial surge nos líquidos como resultado do desequilíbrio entre as forças agindo
sobre as moléculas da superfície em relação àquelas que se encontram no interior da solução. As
moléculas de qualquer líquido localizadas na interfase líquido-ar realizam um número menor de
interações intermoleculares comparadas com as moléculas que se encontram no interior do líquido. Assim
as moléculas na superfície de um líquido estão sujeitas a fortes forças de atração das moléculas interiores.
A resultante dessas forças, cuja direção é a mesma de plano tangente à superfície, atua de maneira a que
a superfície líquida seja a menor possível. A grandeza desta força, atuando perpendicularmente (por
unidade de comprimento) ao plano na superfície é dita tensão superficial (  )
e, geralmente, quantifica-se a mesma determinando-se o trabalho necessário para aumentar a área
superficial.
A superfície ou interface onde a tensão existe está situada entre o líquido e seu vapor saturado
no ar, normalmente a pressão atmosférica. A tensão pode também existir entre dois líquidos imiscíveis,
sendo então chamada de tensão interfacial. As dimensões da tensão superficial são força por unidade de
comprimento, no sistema SI = N.m-1.
São diversos os métodos que podem ser empregados para a determinação da tensão superficial
e estes são classificados em estáticos, dinâmicos e de desprendimento (ou separação). Dentre os métodos
estáticos destacam-se o da ascensão capilar, o da placa de Wilhelmy e do anel de DuNoüy. Enquanto os
dois últimos necessitam de equipamentos específicos, o primeiro apresenta, em geral, erros
experimentais bastante elevados, acima de 20%. Isto se deve ao fato deste método, descrito por alguns
autores como o mais preciso, poder ser utilizado somente quando o ângulo de contato, formado pelo
menisco e a parede do tubo, for zero, como no caso dos capilares. Entretanto, este diâmetro deve ser
uniforme ao longo do tubo, restrição dificilmente atendida pelos capilares disponíveis comercialmente e
com preços acessíveis. O método dinâmico da oscilação permite a determinação da tensão superficial em
intervalos de tempo bastante curtos, mas trata-se de um dos métodos mais complexos existentes.

Método do peso da gota


A determinação da tensão superficial fundamentada no desprendimento, como o método do peso
da gota (um dos mais antigos) ou volume da gota, é convenientemente mais simples. No método do peso
da gota geralmente emprega-se uma vidraria especial, o estalagmômetro, conforme desenho
apresentado na Figura1a, de modo a poder regular através da quantidade de líquido o tempo de formação
da gota.

(b)
(a)
Figura 1. (a) Estalagmômetro (b) Método do peso da gota

O método do peso da gota é um dos mais utilizados para medir a tensão superficial. Este método,
assim como todos aqueles que envolvem separação de duas superfícies, depende da suposição de que a
circunferência multiplicada pela tensão superficial é a força que mantém juntas as duas partes de uma
coluna líquida. Quando esta força esta equilibrada pela massa da porção inferior, a gota desprende-se.
No exato momento de desprendimento, a força exercida pelo peso da gota (m.g) é equilibrada
pela tensão superficial (γ) multiplicada pela circunferência (2..r) da gota formada. Desta forma, a tensão
superficial pode ser calculada pela medida da massa (m) de uma gota do líquido, ou mesmo, pelo volume
da gota (V) e a densidade do líquido (ρ), de acordo com a Equação 1 (Lei da Tate).
:

mi . g
  Eq.1
2. .  . r
onde: mi – massa de uma gota ideal
r – raio do tubo
g – aceleração da gravidade
Na prática, o peso da gota obtido, é sempre menor que o peso da gota ideal. A razão disto torna-
se evidente, quando o processo de formação da gota é observado mais de perto. A figura abaixo ilustra o
que realmente acontece.

Figura 2. Sequencia de separação da gota

Observa-se que somente a porção mais externa da gota é que alcança a posição de instabilidade
e cai. Perto de 40% do líquido que forma a gota permanece ligado ao tubo.
Para corrigir o erro causado pelo peso da gota, introduz-se na Equação 1 um fator de correção f.
Assim:

mi . g
 
2.. . r . f Eq.2

O fator de correção f é uma função do raio do tubo e do volume da gota. Estes valores são tabelados
abaixo:

Tabela 1. Fator de correção para o método do peso da gota.

Paracoro
O Paracoro, P, é uma constante que depende da constituição do composto estudado e de seu
volume molecular. Sendo um propriedade aditiva, tem aplicação em química orgânica para determinar
ou tirar dúvidas sobre a estrutura de compostos. Representa um volume molecular, quando certas
influências de forças intermoleculares não são consideradas. Por isto, o paracoro de uma molécula pode
ser calculado adicionando as contribuições de cada átomo da molécula. Uma tabela de paracoros
moleculares pode ser obtida por medidas de tensão superficial de uma série homóloga de composta, uma
vez que:

𝑃 = 𝑉𝛾 1⁄4
Onde:
V é o volume molar dado por M/d, tal que M é o peso molecular e d é a densidade do composto estudado.

Concentração Micelar Critica de um surfactante


O efeito ocasionado por um surfactante sobre o valor da tensão superficial da água pode ser
estudado a partir da determinação da tensão superficial de soluções de diferente concentração de
surfactante. A partir dos dados experimentais pode-se construir a curva da tensão superficial versus a
concentração de surfactante e, a partir do perfil da curva determina-se a concentração micelar critica
(CMC) do tensoativo. De fato, a mudança nas propriedades da solução, quando do início da formação das
micelas, apresenta-se como um excelente exemplo para as discussões envolvendo fenômenos de
superfície e colóides. Assim, a CMC pode ser determinada pelo estudo de várias propriedades, como
tensão superficial, condutividade elétrica, pressão osmótica, crioscopia, viscosidade, índice de refração,
viragem de cor com corantes e espuma.
Quando presentes em soluções aquosas de baixas concentrações, as moléculas de surfactantes
encontram-se na superfície da água, formando o filme superficial, ou no interior da solução, isoladas ou
aos pares. Com o aumento da concentração formam-se as micelas, agregados de 50 ou mais moléculas,
que adotam a forma esférica. Acima da CMC não existe um aumento significativo no número de partículas
isoladas e, consequentemente, a força de coesão das moléculas da superfície é pouco modificada e não
se observam mais efeitos significativos sobre a tensão superficial da solução.
Na curva da tensão superficial versus a concentração de surfactante (ver Figura 1.3), a baixas
concentrações, na parte esquerda do gráfico, a concentração de surfactante não é suficiente para a
saturação da superfície, e a tensão superficial praticamente não é alterada. Quando ocorre a formação
de um filme superficial recobrindo toda a superfície do líquido, a tensão superficial da solução aquosa
diminui acentuadamente, até o ponto onde se inicia a formação das micelas. A CMC é então determinada
a partir do segundo ponto de inflexão, obtendo-se o valor experimental da CMC do tensoativo, 2,6 x 10-
4
moldm-3 para o TWEEN 80.
Figura 1.2. Efeito da concentração de surfactante comercial TWEEN 80 sobre a tensão superficial a 23 °C

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Objetivo: Determinar a tensão superficial e a partir dela o paracoro de um liquido. Determinar a


concentração crítica micelar CMC de um tensoativo comercial.

2.1. Materiais e Substâncias Químicas

- Bureta comum de 25 mL (1 por equipe) (ver Figura 1.3)


- Erlenmeyer para coleta das gotas com tampa ( por equipe)
- Balança analítica
- Água destilada, metanol, álcool etílico, propanol, butanol, todos de grau analítico. Os surfactantes
utilizados foram:

Figura 1.3. Bureta acoplada ao erlenmeyer, sistema empregado na determinação da tensão superficial.
Observações: Limpeza é essencial em medidas de tensão superficial. Pequenas quantidades de
impurezas afetam muito as propriedades superficiais. Portanto, limpe muito bem o material a ser usado
na experiência. Se o líquido for volátil é necessário que as gotas sejam recolhidas em recipientes fechados.
Além disto, a primeira gota deverá ser tombada durante aproximadamente 5 minutos para que o
recipiente fique saturado nos vapores do líquido em questão. Neste caso, também é necessário fazer duas
medidas. Uma com aproximadamente 15 gotas e outra com 5 gotas. A diferença de peso entre as duas
medidas dará o peso de uma gota livre do peso do vapor.
Peso 15 gotas – peso 5 gotas = peso 10 gotas sem vapor

2.2. Procedimento Experimental

2.2.1- Determinação do diâmetro do tubo de vidro da bureta:


O diâmetro do tubo de vidro da bureta pode ser medido utilizando-se um paquímetro ou obtido
a partir da massa de uma gota de um líquido padrão, cujo valor da tensão superficial seja conhecido. A
massa de uma gota de água pura a 20°C, para tubos de diferentes diâmetros, acham-se tabelados no
quadro abaixo. Para temperaturas superiores ou inferiores a 20°C, mas não muito diferentes, pode-se
usar a seguinte relação para calcular a massa da gota de água a 20°C.

𝛾 (200 𝐶)
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑎 𝑔𝑜𝑡𝑎 𝑎 20°𝐶 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑎 𝑔𝑜𝑡𝑎 𝑛𝑎 𝑇(°𝐶) ∗
𝛾(𝑇 0 𝐶)
onde  é a tensão superficial da água nas respectivas temperaturas.

Tabela 2 – Massa de uma gota de água (200C) que se desprende de tubos de diferentes diâmetros.

2.2.2-Medidas para obtenção da tensão superficial de solventes:

1. Para a determinação da tensão superficial dos solventes e surfactantes estudados primeiramente


faça a rinçagem da bureta com o solvente orgânico apropriado.
2. Fixe a bureta em suporte universal e acoplada a um erlenmeyer, de forma que a parte inferior à
torneira ficasse toda dentro do recipiente coletor. Desta forma evita-se a influência de correntes de ar
sobre a formação da gota.
3. Com o auxílio da torneira é possível ajustar a queda das gotas em intervalos regulares de
aproximadamente 1 min. Ajuste para uma vazão de 1 gota por minuto. É importante montar o aparato
em um local com o mínimo de vibrações possível.
4. Para cada solução colete 10 gotas do líquido no erlermeyer (tome previamente o peso do
erlermeyer com tampa). Realize os experimentos em triplicata e reporte a temperatura ambiente.
5. Determine a massa em balanças analíticas.
6. O raio (r) da circunferência da gota, na Equação 1, será idêntico ao raio interno da vidraria utilizada,
quando esta não tocar a superfície do líquido determinado segundo o item 2.2.1.
7. Determinar o peso de uma gota.
8. Determinar o volume de uma gota.
9. Calcular r/V⅓ e obter f.
10. Calcular  através da Equação 2.

2.2.3- Efeito ocasionado pelo surfactante sobre a tensão superficial da água.

1.Preparar 10 soluções de surfactante com as seguintes concentrações: 1,0 mM; 3,0mM; 5,0 mM; 7,0mM;
8,0mM; 9,0mM; 11,0mM; 15,0mM; 18,0mM; 20,0 mM.
2. Coloque o líquido na bureta de sua bancada, iniciando pela água pura e em ordem da solução menos
concentrada a mais concentrada. Ajuste para uma vazão de 1 gota por minuto.
3.Recolha 10 gotas do líquido no frasco (já pesado anteriormente com a tampa). Anote o volume e a
massa correspondente às gotas recolhidas.
4.Determinar o peso de uma gota.
5.Determinar o volume de uma gota.
6.Calcular r/V⅓ e obter f.
7.Calcular  através da Equação 2.

3. ORIENTAÇÕES PARA O RELATÓRIO

1. Reporte a determinação do raio do tubo de vidro da bureta utilizada.


2. Reporte os dados da massa, volume e o fator de correção f de cada substância química estudada.
3. Reporte o valor da tensão superficial e o paracoro de cada substância química estudada.
4. Compare os valores obtidos para os solventes com os valores da literatura. Calculando o erro relativo.
5. Faça o gráfico do efeito da concentração do surfactante sobre a tensão superficial da água (curva da
tensão superficial versus a concentração de surfactante).
6. A partir do perfil da curva da tensão superficial versus a logaritmo da concentração de surfactante,
determine a CMC do tensoativo (segunda inflexão da curva). Compare o valor obtido com o valor da
literatura e/ou mensurados por outros métodos.

Questões:

1. Defina tensão superficial e tensão interfacial.


2. Quais os fatores que influenciam na tensão superficial de um líquido
3. O que pode ser concluído das diferenças de paracoro do metanol, do etanol e do propanol Por que
4. Dê exemplos de substâncias que aumentem a tensão superficial da água

5. Como são constituídos e como se classificam os surfactantes ? Dê exemplos

6. Desenhe uma estrutura para a micela?. Como agem os xampus e condicionadores?

4. GERENCIAMIENTO DE RESÍDUOS

1. Retornar os solventes orgânicos não utilizados nas medidas para seu frasco de origem, evite a
contaminação rotulando a vidraria utilizada.
2. Os solventes orgânicos utilizados não foram contaminados ou misturados, portanto retorne estes a
frascos de vidro rotulados para posterior purificação por destilação e reutilização.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.BUENO, W. A., DEGRÈVE, L. Manual de Laboratório de Físico – Química, Ed. MacGraw-Hill, 1980
2. Behring, J. L., Lucas, M., Machado C. Barcellos, I. O.; Adaptação no Método do Peso da Gota para
Determinação da Tensão Superficial; Quim. Nova, Vol. 27, No. 3, 492-495, 2004.
3. Norma ASTM D7490-08
4. ATKINS, P. W., PAULA, J., Físico-Química, Vol. 1, 2 e 3, LTC, 2004.

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