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RESUMO
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1. Introdução
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Ao longo do século XX, entretanto, diversos foram os desafios a esse tipo
de abordagem da ordem global. A evolução do que foi definido por diversos autores
como globalização, levou à emergência de novos temas e a inserção de diversas
novas fontes de poder e autoridade nesse contexto. Questões como direitos
humanos, meio ambiente ou direitos econômicos e sociais, passaram a desafiar
definitivamente a imaculada soberania estatal e atores da sociedade civil e da
iniciativa privada adquiriram voz e possibilidades de influência nessa, que deixa de
ser apenas um ordem internacional para tornar-se, definitivamente, uma ordem
global.
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produtivos vêm sendo praticadas e consideradas legítimas fornecedoras de bens
públicos globais.
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Ainda para esse autor, a regulamentação não apenas é importante, mas é
fundamental para a globalização econômica. É por meio dela que o capitalismo
neoliberal se torna um sistema econômico legítimo aos olhos de seus participantes e
que as relações econômicas se tornam mais confiáveis em um ambiente (o mercado
internacional) que necessariamente envolve mais riscos. Assim, o “capitalismo
regulatório”, entre outros elementos, seria caracterizado por três aspectos centrais:
(1) uma nova divisão de tarefas regulamentadoras entre Estado e sociedade; (2) um
aumento da delegação de questões à comunidade científica (que,
conseqüentemente, tem adquirido muito mais importância) e por fim, (3) uma
proliferação de novas tecnologias de regulamentação, com a formalização de
mecanismos auto-regulatórios que não contam com a participação estatal. (LEVI-
FAUR, 2005, p. 2-10).
3.1. Legitimidade
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Woods (2009, p.10), por exemplo, ao contraporem-se à visão de inquestionável
benevolência atribuída aos autores de tais regulamentações, ressaltam o fato de que
tais mecanismos estão extremamente expostos à possibilidade de captura por
interesses “especiais”, contrários ao interesse público. Sem afirmar que a “captura”
das regulamentações privadas seja um fenômeno constante, os autores ressaltam,
entretanto, que a incorporação e análise das possibilidades e probabilidades de que
ela ocorra são fundamentais para que se pondere o excesso de otimismo em relação
ao fenômeno.
3.2. Efetividade
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Ao se contraporem à possibilidade de que instituições2 sejam efetivas sem a
existência de coerção formal, os autores enfatizam o aspecto de endogeneidade dos
mecanismos voluntários. O fato de serem os próprios atores os responsáveis pela
escolha das regras às quais serão vinculados (conceito de endogeneidade), tornaria
vazias, de acordo com essa visão, as afirmações a respeito da efetividade de tais
regras como reais alteradoras de comportamentos. Dessa forma, de acordo com
esse ponto de vista, poder-se-ia afirmar que as regulamentações privadas tornam-se
meros reflexos das preferências dos atores, elevando muito pouco o nível de
cooperação e padrões efetivamente adotados em sua ausência. (DOWNS, ROCKE
& BARSOOM, 1996, p. 379-406)
4. Conclusão
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representar um risco iminente de afrontas ao interesse geral, em processos pouco
transparentes e pouco inclusivos de produção de regulamentações. Assim, a
necessidade de processos participativos e abertos de produção de padrões foi
enfatizada como elemento central da legitimação social desses novos mecanismos.
Críticas quanto à efetividade dessas novas regras também foram
consideradas. Diante da ausência de possibilidades de coerção formal e do caráter
voluntário da adoção de tais regras, problematizou-se a questão da endogeneidade
de sua adoção (o que limita a efetiva alteração de condutas). Nesse sentido,
buscou-se enfatizar a inserção social dos atores e as exigências decorrentes dessa
inserção. Dessa forma, argumentou-se que a necessidade de legitimação e
prestação de contas à sociedade pode, muitas vezes, revelar-se um elemento de
pressão suficiente para que o risco de endogeneidade seja descartado e que
ocorram efetivas alterações de comportamento.
Por fim, acredita-se que a aceitação e reconhecimento das novas fontes
privadas de regulamentação global, já são, por si só, passos fundamentais para que
se possa discutir e aplicar ideais normativos de modelos mais legítimos e efetivos
para a provisão de bens públicos globais.
5. Referências Bibliográficas
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Rise of Private Regulation in the Apparel and Forest Products Fields.In: Politics &
Society. v. 31 n. 3, Set. 2003. pp. 31-433.
DOWNS, George; ROCKE, David; BARSOOM, Peter. Is the Good News About
Compliance Good News About Cooperation? International Organization, vol. 50, nº
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B.;BIERSTEKER, Thomas J. (Orgs). The Emergence of Private Authority in
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in Global Politics. In: MATTLI, Walter; WOODS, Ngaire.(Orgs.) The Politics of
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OLSON, Mancur. The Logic of Collective Action: Public Goods and the Theory of
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ROSENAU, James N. Governance, order and change in world politics. In: Rosenau,
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499-531
TEUBNER, Gunther. Substantive and Reflexive Elements in Modern Law. Law &
Society Review. v. 17, n. 02, 1983. pp. 239-285.
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Gunther (Org.). Global Law Without a State. Dartsmouth, Brookfield: USA,1996. pp.
3-28.
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Walter; WOODS, Ngaire.(Orgs.) The Politics of Global Regulation. Princeton:
Princeton University, 2009. pp. 151-188.
6. Notas
1
O termo “mão invisível” foi cunhado por Adam Smith em seu célebre trabalho “A
Riqueza das Nações” (1976) e refere-se à idéia neoliberal de que a economia possui
mecanismos autônomos de regulamentação e que, portanto, não precisa de
interferências externas.
2
Na concepção desses autores instituições são entendidas como regras, normas,
regimes ou quaisquer tipos de mecanismos públicos ou privados que influenciem as
expectativas dos atores.
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3
Nomeando e envergonhando.
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Para mais detalhes sobre os diferentes mecanismos de regulamentação privada
vide: NADVI, Khalid; WÄLTRING, Frank. Making sense of global standards. In:
SCHMITZ, Humbert (Org.). Local Enterprises in the Global Economy: Issues of
Governance and Upgrading. Cheltenham, UK: Edward Elgar, 2004. p. 53-94.
5
Cabe ressaltar, no entanto, que tais autores desenvolveram esse argumento com
foco mais voltado a regimes internacionais públicos, o que eventualmente torne o
argumento menos adequado para a analise de regimes privados.
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