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capa Por Gustavo
Camacho Solon
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Regime jurídico emergencial na pandemia e sua
aplicação na rotina dos condomínios
Por Joana Brasil e Lucas Militão
Esquadria
padronizada
vale para todos
os andares: do
primeiro ao último
Por Olga Maria Krieger
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condomínio
nos tribunais
Direito condominial nos tribunais
Por Pollyana Pissaia
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perguntas &
respostas
Quem deve pagar
essa dívida?
Por Karla
Pluchiennik
Moreira
Alteração
na convenção
do condomínio
Por Geison de Oliveira Rodrigues
Advogado e síndico profissional em Curitiba/PR – geisonoliveira@uol.com.br
N
ão são poucos os casos em que o síndico vezes, fique anos e anos em vigor, dificultando
e os condôminos constatam que exis- a rotina no condomínio.
tem normas que precisam ser altera-
das, atualizadas ou incluídas para garantir me- Mesmo na primeira assembleia (assembleia
lhorias na vida em condomínio, tanto na esfera dos contratantes), pela falta de convivência em
administrativa e patrimonial quanto na con- comum e de uso efetivo dos espaços condomi-
vivência coletiva. Contudo, devido a proibições niais, ninguém ainda sentiu o que de fato aquele
e limites previstos na convenção, todos ficam condomínio novo precisará ter regulamentado
obstaculizados de providenciar tais mudanças. em norma convencionada. Ainda é muito cedo
para isso. Então é comum os novos condôminos
Esse conjunto de normas condominiais cha- aprovarem a convenção no formato da minuta.
mado convenção tem origem na vontade úni-
ca do incorporador. No momento em que faz No decorrer dos anos, contudo, surgem as
o “start” da incorporação imobiliária, a qual, particularidades do condomínio, que exigem
após a venda das propriedades autônomas, re- respostas não previstas na convenção, por
sultará no futuro condomínio, o incorporador é exemplo: eleição de um síndico profissional
obrigado por lei a registrar no cartório de regis- não morador, construção de uma lavande-
tro de imóveis a minuta da convenção. Dessa ria coletiva, transformação do terraço numa
maneira, esse texto inicial acaba sendo genéri- área comum de convivência, troca da portaria
co demais para atender as necessidades espe- presencial por portaria remota (eletrônica),
cíficas e futuras de todos. No entanto, desde a modernização dos elevadores. E para muitos
minuta registrada, se exige o quórum de dois casos a convenção exige quórum unânime ou
terços para alterações da convenção, fazendo de dois terços (qualificado), o que é bastante
com que tal minuta, na grande maioria das desafiador alcançar.
A
falta do pagamento da cota condominial no prazo de vencimento do boleto
atrapalha o fluxo do condomínio. Por isso, mesmo sem que o síndico possa
oferecer descontos nas cotas em atraso, é comum que ocorram negociações da
dívida, e destas negociações, muitas vezes, são firmados termos de acordo e confissão
de dívida para que o pagamento seja feito de forma parcelada e o dinheiro volte aos
cofres do condomínio.
A grande questão seria: o devedor que fez um acordo continua sendo devedor? Aquele
que fez acordo pode participar das assembleias? Está quite com o condomínio?
Com base no artigo 360 do Código Civil, quando o devedor contrai com o credor nova
dívida, a anterior se extingue, fica novada. Assim, aquele que negociou a sua dívida não
é mais devedor na acepção jurídica do termo, até que deixe de pagar a cota do mês ou
a parcela do acordo.
VIDA EM CONDOMÍNIO
120 QUESTÕES DO DIA A DIA
COVID ID-19
-19 COV
COVID
ID--1199
COV COVID
9 -19
ID-1
COV
REGIME JURÍDICO
EMERGENCIAL
na pandemia e sua aplicação na rotina dos condomínios
Por J oana Brasil – Advogada em Fortaleza/CE – joana@brasilbrasil.adv.br
Lucas Militão – Advogado em Fortaleza/CE – lucas@militaodesa.adv.br
A
s primeiras ações em resposta à pandemia da covid-19 no nosso país começaram em
fevereiro deste ano com a repatriação dos brasileiros que viviam em Wuhan, cidade chi-
nesa epicentro da infecção. Quinze dias depois, já em março, confirmávamos a primeira
contaminação no Brasil. Desde então, foram editadas diferentes normas que trazem novas con-
dutas sociais o aumento do número de mortes e de contágio pelo vírus.
Esta lei visa garantir segurança jurídica para vários âm- Lei 14.010, de 10 de junho de 2020
bitos, entre os quais citamos: contratos, aspectos do
direito de família, relações de consumo e, como não O texto da nova lei traz dois artigos
poderia ficar de fora, as relações condominiais. de temas relevantes para o dia a dia
de síndicos, condôminos, adminis-
Inicialmente, o projeto de lei previa expressa- tradoras de condomínios e presta-
mente poderes para que o síndico pudesse: I. res- dores de serviços, como veremos a
tringir a utilização das áreas comuns para evitar a seguir:
contaminação pelo coronavírus, respeitado o acesso
à propriedade exclusiva dos condôminos; II. restrin- Art.12. A assembleia condominial, inclusive para
gir ou proibir a realização de reuniões e festividades os fins dos arts. 1.349 e 1.350 do Código Civil, e a
respectiva votação poderão ocorrer, em caráter
e o uso dos abrigos de veículos por terceiros. No en-
emergencial, até 30 de outubro de 2020, por meios
tanto, tal artigo (art. 11 do projeto de lei) foi vetado virtuais, caso em que a manifestação de vontade
pelo presidente e não entrou em vigor. de cada condômino será equiparada, para todos os
efeitos jurídicos, à sua assinatura presencial.
Ainda assim, regras para restringir o uso de áreas co- Parágrafo único. Não sendo possível a realização de
assembleia condominial na forma prevista no caput,
muns e evitar aglomerações já vêm sendo adotadas
os mandatos de síndico vencidos a partir de 20 de
pelos síndicos diante dos vários decretos estaduais e março de 2020 ficam prorrogados até 30 de outubro
municipais que versaram sobre o tema, e que dão legi- de 2020.
timidade às medidas tomadas por síndicos.
VID-19
CO
ID-19
10 Direito & Condomínio
C
VID-19
CO
Importante observar o parágrafo único do ar-
tigo 12 acima transcrito: caso nova eleição de
síndico não seja possível, o mandato vencido
a partir de 20 de março será prorrogado até
30 de outubro do corrente ano.
MULTIUSO EM
áreas comuns
Não é certo afirmar que em nenhuma circunstância o condômino pode utilizar‑se
com exclusividade de área comum do prédio.
U
sualmente divide-se a propriedade particular. Áreas como a entrada principal,
imóvel do condomínio em áreas pri- corredores térreos, mais parecem uma ex-
vativas e áreas de uso comum, situ- tensão da rua, por ali transitando todo tipo
ando-se entre aquelas as unidades autôno- de pessoa, sem nenhuma fiscalização por
mas e entre estas tudo o mais abrangido no parte do condomínio.
terreno e construção. Outras classificações,
menos rigorosas, também acontecem, dan- Logo a seguir vêm áreas que podemos de-
do um colorido bem sugestivo ao tecido ju- nominar coletivas, como os elevadores,
rídico de um condomínio moderno. parte do saguão (quando há controle de
passagem via catraca, por exemplo), corre-
Comecemos pelo grau de acesso público de dores dos andares de cima e outras áreas
certos edifícios, especialmente os comer- comuns do prédio. Seu acesso já sofre um
ciais. Da entrada da rua até a sala privativa maior controle por parte da administração,
dos usuários há uma graduação sutil que especialmente nas regiões onde a questão
vai do totalmente público ao totalmente de segurança é mais aguda.
VIVA MELHOR
VIVA O CONDOMÍNIO
Tudo sobre o universo do condomínio
a um clique de distância!
A LEGALIDADE DA
taxa de mudança
Por Gustavo Camacho Solon – Advogado em Joinville/SC – gustavo@camachoadvogados.adv.br
U
m dos elementos mais tendo havido, no Tribunal de Justiça artigo 5º da Constituição Federal,
conflituosos existentes de Santa Catarina, por exemplo, além da hipótese de enriqueci-
no cotidiano condominial decisões colidentes, algumas favo- mento sem causa encartada no
refere-se à taxa de mudança, so- ráveis e outras desfavoráveis à sua artigo 884 do Código Civil, bem
bretudo quando se trata de unida- aplicabilidade. como nos danos gerados à rela-
de colocada à locação. ção social interna do condomínio,
A título de curiosidade, é interes- conforme colhe-se do trecho do
Essa taxa tem natureza jurídica sante mencionar que no ano de julgado proferido na Apelação
indenizatória, na forma dos arti- 2017, na cidade de Curitiba/PR, Cível 2.558 do TJSC: “Se há previ-
gos 186 e 927 do Código Civil, pois a vereadora Maria Manfon apre- são de indenização para a hipóte-
presume-se que durante o proce- sentou um projeto de lei visando se de causação de danos ao bem
dimento das mudanças ocorrerão proibir a aplicação da taxa de mu- condominial, qual o motivo da
danos às áreas comuns da edifi- dança a todos os condomínios si- imposição do pagamento de uma
cação, além da necessidade de re- tuados no perímetro municipal. taxa de três salários mínimos para
forço na limpeza e disponibilidade mudanças dos locatários, tanto
de um preposto do condomínio Aqueles que combatem a cobran- para as entradas, como para as
para acompanhar o ato. ça da respectiva taxa de mudança, saídas?”, questiona o magistrado.
fundamentam sua insurgência no Para ele, a taxa existe somente
A legalidade da referida taxa de mu- direito constitucional de ir e vir, para garantir “um lucro injustifi-
dança já foi por vezes questionada, estabelecido pelo inciso XV do cado ao complexo condominial”.
ESQUADRIA
PADRONIZADA
VALE PARA TODOS
OS ANDARES:
do primeiro ao último
Por Olga Maria Krieger – Advogada em Curitiba/PR – olgabonijuris@gmail.com
A
lteração de fachada nos a fachada do edifício, dizem O senso de coletividade é mesmo
condomínios verticais, respeito ao
condomínio como o norte do condomínio: um por
sejam edifícios comer- um todo. todos e todos por um! E não vale
ciais ou residenciais, costuma ser pensar que “o que não é visto não
um tema conflituoso entre os A Lei do Condomínio (Lei 4.591/64) é lembrado”. Como pontuou o mi-
condôminos. Se, por um lado, o e o Código Civil (Lei 10.406/02) nistro Ricardo Villas Bôas Cueva,
proprietário tem a liberdade e o trazem como um dever funda- do Superior Tribunal de Justiça,
direito de escolher como decorar mental dos condôminos “não alte- “fachada não é somente aquilo
o seu apartamento ou escritório, rar a forma e a cor da fachada, das que pode ser visualizado do térreo,
inclusive com pequenas reformas partes e esquadrias externas” (CC, mas compreende todas as faces
(que não abalem a estrutura do art. 1.336, inc. III), complementan- de um imóvel: frontal ou princi-
edifício), por outro lado as divisó- do a lei especial que “o transgres- pal (voltada para rua), laterais e
rias externas da sua propriedade, sor ficará sujeito ao pagamento posterior”, caso contrário, “em ar-
como o hall de entrada do seu de multa prevista na convenção”, ranha-céus, os moradores dos an-
andar, a face exterior de janelas e além de ser obrigado a desfazer dares superiores, quase que invisí-
varandas, além da fachada em si a obra, podendo ser autorizado veis da rua, não estariam sujeitos
não podem ser modificadas pelos a modificar a fachada desde que ao regramento em análise” (REsp.
condôminos unilateralmente. obtenha “a aquiescência da una- 1.483.733 – RJ – Dje 01.09.2015).
nimidade dos condôminos” (Lei
Por certo que na maioria das si- 4.591/64, art. 10, parág. 1º e 2º). O caso em apreço era de mudan-
tuações não há má-fé por parte ça na cor original das esquadrias
do proprietário e as alterações Sim, este é o desafio: alcançar o externas de apartamento do últi-
são realizadas sem a intenção de voto da unanimidade dos condô- mo andar da edificação, mas sem
quebrar o equilíbrio arquitetônico minos para manter uma altera- prévia autorização dos demais
da edificação. A escolha de uma ção particular. Mais tranquilo é o condôminos. A obra teve que ser
cortina de cores fortes, o fecha- quórum para atualização ou me- desfeita e a dor de cabeça com
mento da sacada com vidros es- lhoria da fachada do edifício como certeza foi grande.
curos, a troca de esquadria por um todo: com o voto de 2/3 dos
uma que isole do barulho da rua condôminos uma obra dessa na- Esquadria é fachada, e a fachada
parecem decisões individuais dos tureza pode ser aprovada (CC, art. vale para todos, do primeiro ao
condôminos, mas, por alterarem 1.341, inc. I). último andar.
Direito condominial
nos
tribunais Por Pollyana Elizabethe Pissaia - Advogada em
Curitiba/PR - pollyana@bonijuris.com.br
Perguntas e respostas
Por Karla Pluchiennik Moreira – Consultora empresarial em Curitiba/PR – adprospera@gmail.com
A
pesar de a compradora do
apartamento ter cumpri-
do com suas obrigações,
é ela quem deverá responder pelo
débito do apartamento, ainda que é sempre pedir o auxílio de um
tais valores tenham origem an- profissional (um advogado, uma
terior à data da compra. A dívida empresa de assessoria por exem- ser rateadas entre todas as uni-
condominial acompanha o imó- plo) para verificar as pendências dades, mesmo as que estiverem
vel, independente da transação do imóvel antes de finalizar uma desocupadas. Exceção pode ocor-
de venda – em termos jurídicos compra. Muitos são negociados rer caso a convenção trate alguma
diz-se que a dívida tem natureza com débitos de quotas condo- unidade de forma diversa, conce-
propter rem, “por causa da coisa”. miniais, IPTU, com penhoras ou dendo isenção ou desconto a al-
outros empecilhos que precisam guma unidade específica.
O Código Civil é bem claro sobre o ser pesquisados antes da compra
tema: “Art. 1.345. O adquirente de para evitar dores de cabeça. Por fim, é aconselhável à nova
unidade responde pelos débitos proprietária propor um acordo
do alienante, em relação ao con- O pagamento da taxa condomi- extrajudicial para parcelamento
domínio, inclusive multas e juros nial deve ser realizado indepen- dos débitos, pois, em que pese as
moratórios.” dente do uso da unidade. O rateio alterações do Código de Processo
inclui despesas como: água, luz, Civil terem abreviado uma boa
A compradora poderá cobrar es- funcionários e outras que são ge- parte do processo de cobrança,
ses débitos do vendedor judicial- radas pela manutenção do con- um acordo extrajudicial será bem
mente. De qualquer forma, o ideal domínio como um todo e devem mais rápido e barato.