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REVISTA

Direito & Condomínio Ano 6 • nº 23 • Julho a Setembro • 2020


DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

NOVAS REGRAS AO COND O M ÍNIO


vírus
na pandemia do corona

Alteração na convenção Multiuso em A legalidade da


do condomínio áreas comuns taxa de mudança
Índice
artigos &
comentários 4 Dia
a dia 12
Alteração na convenção do
Multiuso em
condomínio
áreas comuns
Por Geison de Oliveira Rodrigues
Por Luiz Fernando de
Queiroz

O devedor com acordo está


quite com o condomínio?
Por Rodrigo Karpat
6
14
fique
atento
A legalidade da
taxa de mudança

8
capa Por Gustavo
Camacho Solon

16
Regime jurídico emergencial na pandemia e sua
aplicação na rotina dos condomínios
Por Joana Brasil e Lucas Militão
Esquadria
padronizada
vale para todos
os andares: do
primeiro ao último
Por Olga Maria Krieger

17
condomínio
nos tribunais
Direito condominial nos tribunais
Por Pollyana Pissaia

18
perguntas &
respostas
Quem deve pagar
essa dívida?
Por Karla
Pluchiennik
Moreira

2 Direito & Condomínio


Editorial

Quando pensaríamos que entre duas edições da Revista Direito  &


Condomínio – que é trimestral – teríamos todos ficado em casa? Do
mês de abril pra cá esta é a orientação das organizações de saúde para
que a propagação da covid-19 não cause tantas mortes, como infeliz-
mente temos visto acontecer. Ficar em casa é a melhor medida nesta
Revista Direito & Condomínio
pandemia, mas não é uma possibilidade para aqueles que precisam se
ISSN 2317-689X deslocar para o trabalho, que atuam em áreas essenciais para a socie-
Publicação periódica de caráter
informativo com circulação dade, ou que seu ofício não pode ser feito remotamente. Os condo-
dirigida e gratuita. mínios sentem o impacto desse cenário: grande parte dos moradores
está trabalhando de casa e condôminos muito especiais – as crianças
Periodicidade: Trimestral
– estão sem aulas ou com aulas online, tendo que brincar e se divertir
Tiragem desta edição: como podem. Tenho certeza de que muitos vizinhos ouviram pulos e
20.000 exemplares corridas vindos do andar de cima e, antes de reclamar do barulho, rele-
varam o incômodo em nome do que estamos vivendo. A empatia tem
Jornalista responsável:
Luiz Fernando de Queiroz sido grande aliada dos vizinhos!

Coordenação editorial: No plano da gestão condominial, os síndicos precisaram rapidamente


Olga Maria Krieger
adequar o condomínio às novas exigências: uso de máscara nas áreas
Coordenação de marketing: comuns, álcool em gel disponibilizado ao lado de portas e elevadores,
Jéssica Regina Petersen restrição de entregas e delivery no portão. Sem falar na proibição de
aglomerações, com o fechamento de parquinhos, churrasqueiras, aca-
Revisão:
Andressa Harpis demias e salões de festa. Se conversarmos com um síndico creio que
ouviremos: não foi fácil implantar tantas restrições, mas foi o necessá-
Projeto gráfico e diagramação: rio. Nesse sentido, o direito civil, mais precisamente o Código Civil, atri-
Estúdio Sem Dublê
bui ao síndico a função de fiscalizar o uso das áreas comuns e aos con-
Imagens: dôminos o dever de não prejudicar a saúde dos demais moradores.
Shutterstock
O artigo da capa, escrito pelos advogados Joana Brasil e Lucas Militão,
Publicação:
Editora Bonijuris traz análise da recente Lei 14.010, de 10 de junho de 2020, que regu-
lamentou regras emergenciais e transitórias para relações jurídicas,
PARA ANUNCIAR: como as condominiais. As assembleias poderão ocorrer de maneira vir-
(41) 3323-4020
comercial@bonijuris.com.br tual até 30 de outubro deste ano, inclusive com prorrogação do man-
dato dos síndicos que tiveram seu mandato vencido a partir de 20 de
Atendimento ao leitor: março. Os autores indicam três princípios bastante úteis para a realiza-
Receba a revista em sua casa.
Escreva-nos para:
ção de assembleias não presenciais.
revistadc@bonijuris.com.br
Reunimos, com a colaboração preciosa dos autores desta edição, temas
Sugestão de pauta: sempre importantes para o dia a dia do condomínio: legalidade da taxa
revistadc@bonijuris.com.br
0800-645-4020 de mudança, alteração na convenção, compra de imóvel com dívida
condominial anterior, possibilidade de multiuso das áreas comuns.
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Esperamos que, quando o leitor abrir as páginas desta revista, o tema
Versão digital: da capa tenha virado história. A vida do condomínio segue seu curso
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Olga Krieger
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Direito & Condomínio 3


artigos &
comentários

Alteração
na convenção
do condomínio
Por Geison de Oliveira Rodrigues
Advogado e síndico profissional em Curitiba/PR – geisonoliveira@uol.com.br

N
ão são poucos os casos em que o síndico vezes, fique anos e anos em vigor, dificultando
e os condôminos constatam que exis- a rotina no condomínio.
tem normas que precisam ser altera-
das, atualizadas ou incluídas para garantir me- Mesmo na primeira assembleia (assembleia
lhorias na vida em condomínio, tanto na esfera dos contratantes), pela falta de convivência em
administrativa e patrimonial quanto na con- comum e de uso efetivo dos espaços condomi-
vivência coletiva. Contudo, devido a proibições niais, ninguém ainda sentiu o que de fato aquele
e limites previstos na convenção, todos ficam condomínio novo precisará ter regulamentado
obstaculizados de providenciar tais mudanças. em norma convencionada. Ainda é muito cedo
para isso. Então é comum os novos condôminos
Esse conjunto de normas condominiais cha- aprovarem a convenção no formato da minuta.
mado convenção tem origem na vontade úni-
ca do incorporador. No momento em que faz No decorrer dos anos, contudo, surgem as
o “start” da incorporação imobiliária, a qual, particularidades do condomínio, que exigem
após a venda das propriedades autônomas, re- respostas não previstas na convenção, por
sultará no futuro condomínio, o incorporador é exemplo: eleição de um síndico profissional
obrigado por lei a registrar no cartório de regis- não morador, construção de uma lavande-
tro de imóveis a minuta da convenção. Dessa ria coletiva, transformação do terraço numa
maneira, esse texto inicial acaba sendo genéri- área comum de convivência, troca da portaria
co demais para atender as necessidades espe- presencial por portaria remota (eletrônica),
cíficas e futuras de todos. No entanto, desde a modernização dos elevadores. E para muitos
minuta registrada, se exige o quórum de dois casos a convenção exige quórum unânime ou
terços para alterações da convenção, fazendo de dois terços (qualificado), o que é bastante
com que tal minuta, na grande maioria das desafiador alcançar.

4 Direito & Condomínio


Um detalhe importante. Se os representem 2/3 do total das fra- Contudo, a gama de possibilidades
inadimplentes não votam, por ções ideais” (art. 22, par. ún.). que podem ser avaliadas numa
exemplo, a convenção deveria assembleia e alteradas já atende
prever 2/3 dos votos válidos, No Código Civil de 2002, maior lei e resolve os problemas específicos
pois assim os condôminos que federal em vigor sobre condomí- de cada condomínio sem ir contra
pagam em dia não dependeriam nios, preceitos equivalentes fo- nenhuma lei. É só trabalhar para
dos inadimplentes para aprovar ram incluídos nos arts. 1.333 (so- conseguir o quórum. O quórum
melhorias! Contudo, se a palavra bre a necessidade da assinatura é conhecido e bem estabelecido
“válidos” não estiver escrita no de 2/3 dos titulares para que seja para alterar a convenção: dois ter-
texto da convenção, o condomínio válida) e 1.351 (a respeito do quó- ços de todos os proprietários. Já
terá que esperar os inadimplentes rum de 2/3 exigido para alterar a para a alteração do regimento in-
recuperarem seu direito de voto, o convenção). terno é mais fácil: o entendimen-
que é inviável e atrapalha! to atual é o quórum de maioria
Diante do pouco que a lei mencio- simples, ou seja, mais de 50% dos
Na imensa maioria das vezes é na sobre aprovação e alteração de presentes na assembleia.
impossível reunir o quórum que a convenção, seria possível elaborar
convenção exige ou fazer a refor- uma carta totalmente nova para o O síndico deve, na primeira as-
ma que a convenção proíbe. Há si- condomínio? sembleia para atualizar a conven-
tuações em que a convenção não ção, buscar os votos presenciais e
permite síndico externo, mas ne- A resposta é simples, mas depen- incentivar a todos os interessados
nhum condômino quer ser síndico. de, naturalmente, do que se en- a conseguir procurações daqueles
Como fica a segurança jurídica do tenda por totalmente nova. que não poderão comparecer nas
condomínio neste caso? assembleias. Conquistado o quó-
É possível aprovar em assembleia, rum de 2/3, na mesma assembleia
Estipula a Lei 4.591/64 que os pelo quórum legal de 2/3 das fra- deve ser incluída na convenção a
proprietários “elaborarão, por es- ções, uma convenção totalmen- possibilidade de voto à distân-
crito, a convenção do condomínio, te nova, desde que a nova ordem cia por meio eletrônico confiável,
e deverão, também, por contrato convencional não afete o direito contato remoto, voto por e-mail,
ou por deliberação em assembleia, de propriedade de qualquer dos voto por aplicativos e também de-
aprovar o regimento interno da condôminos. Se houver alteração vem ser fixadas as regras para o
edificação ou conjunto de edifica- que exija quórum unânime (mu- voto por procuração (número por
ções” (art. 9º, caput). Informa logo dança da destinação do prédio, por condômino, firma reconhecida
adiante que se considera “aprova- exemplo), não será possível uma ou não, se síndico e conselheiros
da e obrigatória para os proprietá- modificação completa da conven- poderão ou não ser procuradores
rios de unidades, [...] atuais e futu- ção “apenas” pelo quórum de 2/3. etc.).
ros, como para qualquer ocupante, Note-se, portanto, que a convenção
a convenção que reúna as assina- é uma lei porque o Código Civil a re- Aprovadas estas regras e inclu-
turas de titulares de direito que conhece como tal, logo, assim sen- ídas na convenção, basta que
representem, no mínimo, 2/3 das do, nenhuma convenção nova pode o síndico mantenha o cadastro
frações ideais que compõem o con- ir contra as leis federais, estaduais de condôminos sempre em dia
domínio” (idem, § 3º). Bem mais à e municipais. A convenção, o regi- que não mais haverá dificuldade
frente, determina que a convenção mento interno e as deliberações em para reunir o quórum necessário
“só poderá ser modificada em as- assembleias são soberanos, mas li- à atualização da convenção e do
sembleia geral extraordinária, pelo mitados à lei. Não podendo contra- regimento interno, quando assim
voto mínimo de condôminos que riar esses instrumentos. o precisar. 

Direito & Condomínio 5


artigos &
comentários

O devedor com acordo está


QUITE COM O
CONDOMÍNIO?
Por Rodrigo Karpat – Advogado em São Paulo/SP – midia@karpat.adv.br

A
falta do pagamento da cota condominial no prazo de vencimento do boleto
atrapalha o fluxo do condomínio. Por isso, mesmo sem que o síndico possa
oferecer descontos nas cotas em atraso, é comum que ocorram negociações da
dívida, e destas negociações, muitas vezes, são firmados termos de acordo e confissão
de dívida para que o pagamento seja feito de forma parcelada e o dinheiro volte aos
cofres do condomínio.

A grande questão seria: o devedor que fez um acordo continua sendo devedor? Aquele
que fez acordo pode participar das assembleias? Está quite com o condomínio?

Com base no artigo 360 do Código Civil, quando o devedor contrai com o credor nova
dívida, a anterior se extingue, fica novada. Assim, aquele que negociou a sua dívida não
é mais devedor na acepção jurídica do termo, até que deixe de pagar a cota do mês ou
a parcela do acordo.

6 Direito & Condomínio


Por definição legal o condômino com A questão em debate é se podemos dizer que o devedor
acordo não pode ser considerado de- que não tem mais dívida está quite com o condomínio e
vedor, ele não tem mais a dívida an- pode votar e participar da assembleia de condomínio.
terior. Até que deixe de pagar a cota Conforme aduz o Código Civil, o devedor não pode votar e
do acordo no prazo, ou a cota do mês, sequer estar presente na assembleia se não estiver quite:
ele está em dia para com a suas obri-
gações perante o condomínio.
Art. 1.335. São direitos do condômino:
III - votar nas deliberações da assembleia e delas parti-
Plácido e Silva definiu a novação
cipar, estando quite.
como “a obrigação constituída a novo
vem mudar, substituir, transformar a
obrigação velha, que se extingue ou Ainda na questão central do tema, o fato do antigo deve-
deixa de existir. Desta forma, no sen- dor ter feito o acordo e não ser mais inadimplente lhe con-
tido técnico, novação implica, neces- fere o status de quite?
sariamente, na extinção da dívida ou
obrigação anterior, pela criação de um Entendo que, pelo fato de estar, no momento, livre da dívida,
direito novo, quase coloca em substi- pois ocorreu a novação e, por isso, não há parcelas do acordo
tuição ao que foi extinto” (Vocabulário em aberto, além de estar em dia com a cota do mês, ele se
Jurídico, 20ª edição Editora Forense, p. encontra quite para votar e participar. A expressão “quite”
560). utilizada no Código Civil deve ser interpretada no sentido de
que a pessoa “não está inadimplente” e não de que a pessoa
Neste sentido, os tribunais tam- “não está devendo”.
bém já se manifestaram: “O acordo
firmado entre o adquirente e o con- Por fim, se aquele que fez um acordo precisar de uma
domínio, referente ao débito condo- CND, esta deve constar que ele tem uma novação, a qual
minial constitui-se em novação da fica vinculada à quitação integral para a emissão da CND.
obrigação. Uma vez novada a dívida, O que poderia ser feito no caso seria emitir uma certidão
extingue-se o débito anterior e cria- positiva com efeitos negativo. Ou seja, isso atestará que
-se uma nova obrigação entre as par- existe um acordo no valor firmado e que, para a emissão da
tes” (TJRS - AC: 70061038071, Diário certidão negativa sem ônus, se faz mister o cumprimento
da Justiça do dia 12/09/2016). integral do acordo. 

VIDA EM CONDOMÍNIO
120 QUESTÕES DO DIA A DIA

de Luiz Fernando de Queiroz


A 2ª edição chega para esclarecer as mais diferentes questões de forma rápida, didática e descomplicada.
São 120 tópicos, que, juntos, fazem da obra não só uma leitura indispensável para síndicos e moradores,
como uma ferramenta capaz de tornar a vida em condomínio ainda mais harmoniosa.

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Direito & Condomínio 7
capa

COVID ID-19
-19 COV
COVID
ID--1199
COV COVID
9 -19
ID-1
COV
REGIME JURÍDICO
EMERGENCIAL
na pandemia e sua aplicação na rotina dos condomínios
Por J oana Brasil – Advogada em Fortaleza/CE – joana@brasilbrasil.adv.br
Lucas Militão – Advogado em Fortaleza/CE – lucas@militaodesa.adv.br

A
s primeiras ações em resposta à pandemia da covid-19 no nosso país começaram em
fevereiro deste ano com a repatriação dos brasileiros que viviam em Wuhan, cidade chi-
nesa epicentro da infecção. Quinze dias depois, já em março, confirmávamos a primeira
contaminação no Brasil. Desde então, foram editadas diferentes normas que trazem novas con-
dutas sociais o aumento do número de mortes e de contágio pelo vírus.

8 Direito & Condomínio


COVID
-19
COVID
-19
Os condomínios – o “comum a todos” – foram tam- Além disso, segundo a essência do
bém impactados, pois diante das regras mais rígidas artigo 1.336, inc. IV, do Código Civil é
de circulação e vedação de aglomerações decretadas dever do condômino não prejudicar
por autoridades públicas, tiveram sua rotina alterada. a saúde dos demais moradores. E,
fazendo uma leitu­ra conjunta com
Em resposta a este momento único na socie­dade, o as atribuições do síndico previstas
Congresso Nacional aprovou o projeto de lei 1.179/20, no artigo 1.348, também do Código
chamado de “Regime jurídico emergencial e transitório Civil, chega-se à conclusão de que
das relações jurídicas de direito privado (RJET) no perí- cabe ao síndico fiscalizar o uso das
odo da pandemia do coronavírus (Covid-19)”, que em 10 partes comuns a fim de evitar aglo-
de junho foi sancionado com vetos pelo presidente da merações e, assim, garantir a salu-
República, convertendo-o na Lei 14.010/20. bridade dos condôminos.

Esta lei visa garantir segurança jurídica para vários âm- Lei 14.010, de 10 de junho de 2020
bitos, entre os quais citamos: contratos, as­pectos do
direito de família, relações de consu­mo e, como não O texto da nova lei traz dois artigos
poderia ficar de fora, as relações condominiais. de temas relevantes para o dia a dia
de síndicos, condôminos, adminis-
Inicialmente, o projeto de lei previa expressa- tradoras de condomínios e presta-
mente poderes para que o síndico pudesse: I. res- dores de serviços, como veremos a
tringir a utilização das áreas comuns para evitar a seguir:
contamina­ção pelo coronavírus, respeitado o acesso
à propriedade exclusiva dos condôminos; II. restrin- Art.12. A assembleia condominial, inclusive para
gir ou proibir a realização de reuniões e festividades os fins dos arts. 1.349 e 1.350 do Código Civil, e a
respectiva votação poderão ocorrer, em caráter
e o uso dos abrigos de veículos por terceiros. No en-
emergencial, até 30 de outubro de 2020, por meios
tanto, tal artigo (art. 11 do projeto de lei) foi vetado virtuais, caso em que a manifestação de vontade
pelo presidente e não entrou em vigor. de cada condômino será equiparada, para todos os
efeitos jurídicos, à sua assinatura presencial.
Ainda assim, regras para restringir o uso de áre­as co- Parágrafo único. Não sendo possível a realização de
assembleia condominial na forma prevista no caput,
muns e evitar aglomerações já vêm sendo adotadas
os mandatos de síndico vencidos a partir de 20 de
pelos síndicos diante dos vários decre­tos estaduais e março de 2020 ficam prorrogados até 30 de outubro
municipais que versaram sobre o tema, e que dão legi- de 2020.
timidade às medidas tomadas por síndicos.

Direito & Condomínio 9


capa

Diante do dilema que os condomínios enfrentam,


por um lado o dever de isolamento e por outro a ne-
cessidade constante de deliberações em condomí-
nio, assembleias virtuais começam a tomar espaço
no mundo condominial. Ponto controverso, porém,
é o fato de as assembleias digitais, até o presente
momento, não encontrarem um procedimento es-
pecífico na legislação. A legislação supracitada traz
a possibilidade de emergencialmente ocorrerem as-
sembleias por meios digitais, no entanto não apre-
senta requisitos para tal realização.

Compete à convenção condominial (art. 1.350 do


Código Civil) estabelecer a forma de convocação e
realização de uma assembleia condominial, valendo
salientar que, para alterar a convenção, necessário se
faz um quórum de 2/3 dos condôminos, conduta pra-
ticamente impossível diante das recomendações de
isolamento para o combate à covid-19.

Assim, partindo-se da nova e emergencial permis-


são para realização de assembleia virtual, e para
que ela ocorra com segurança, trazemos três princí-
pios básicos a serrem seguidos: ser técnica, objetiva
e acessível.

Ser uma assembleia técnica, pautada no que diz a


lei e a convenção de condomínio, sem explicações
complexas. Os temas abordados deverão ser bem
conduzidos, com explicações precisas, podendo tais
temas serem submetidos previamente para análise
dos condôminos. Objetiva, pois tendo em considera-
ção que os assuntos devam ser claros, cada condô-
mino poderá simplesmente aprovar, desaprovar ou
abster-se diante de um item colocado em pauta, evi-
tando-se discussões que fogem ao tema proposto.
Acessível, já que cada condômino, além de receber
o edital em tempo hábil, como em uma assembleia
presencial, deverá ter meios técnicos e ferramentas
para exercer seu poder de voto, de expor seus argu-
mentos e de deliberar (desde que devidamente quite
com as taxas condominiais, é claro).

VID-19
CO
ID-19
10 Direito & Condomínio
C
VID-19
CO
Importante observar o parágrafo único do ar-
tigo 12 acima transcrito: caso nova eleição de
síndico não seja possível, o mandato vencido
a partir de 20 de março será prorrogado até
30 de outubro do corrente ano.

Art. 13. É obrigatória, sob pena de destituição do síndico, a prestação


de contas regular de seus atos de administração.

Assim como exposto acima, o artigo 1.348,


inc. VIII, do Código Civil já prevê a obrigação
do síndico de prestar contas à assembleia,
anualmente ou quando exigida. Assim tal
artigo apresenta a intenção do legislador de
deixar claro que, mesmo diante da eleição ou
prorrogação por caráter emergencial do man-
dato, permanece o dever de prestar contas,
evitando-se malfeitos e excessos por parte
do síndico em período de pandemia.

Resta-nos, então, concluir que, apesar da


situação sem precedentes que estamos vi-
vendo, não podemos nos aventurar em ino-
vações do mundo tecnológico ou levantar a
bandeira de comodidade e segurança sem
se preocupar com a validade do ato jurídico,
pois se agirmos assim estaremos por impul-
so levando o condomínio para uma situação
ainda mais insegura na prática de atos e to-
madas de decisões. 

LEIS ESSENCIAIS DO CONDOMÍNIO


COM NOTAS, GRIFOS E NEGRITOS

de Luiz Fernando de Queiroz e Olga Maria Krieger


Indispensável para quem procura respostas rápidas na legislação. Neste
livreto você encontra o essencial das regras sobre condomínio com a
transcrição de artigos de 23 leis ordinárias brasileiras, onde os autores
chamam a atenção para o conteúdo mais relevante de cada norma citada.

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dia a dia
do condomínio

MULTIUSO EM
áreas comuns
Não é certo afirmar que em nenhuma circunstância o condômino pode utilizar‑se
com exclusividade de área comum do prédio.

Por Luiz Fernando de Queiroz – Advogado em Curitiba/PR – lfqueiroz@grupojuridico.com.br

U
sualmente divide-se a propriedade particular. Áreas como a entrada principal,
imóvel do condomínio em áreas pri- corredores térreos, mais parecem uma ex-
vativas e áreas de uso comum, situ- tensão da rua, por ali transitando todo tipo
ando-se entre aquelas as unidades autôno- de pessoa, sem nenhuma fiscalização por
mas e entre estas tudo o mais abrangido no parte do condomínio.
terreno e construção. Outras classificações,
menos rigorosas, também acontecem, dan- Logo a seguir vêm áreas que podemos de-
do um colorido bem sugestivo ao tecido ju- nominar coletivas, como os elevadores,
rídico de um condomínio moderno. parte do saguão (quando há controle de
passagem via catraca, por exemplo), corre-
Comecemos pelo grau de acesso público de dores dos andares de cima e outras áreas
certos edifícios, especialmente os comer- comuns do prédio. Seu acesso já sofre um
ciais. Da entrada da rua até a sala privativa maior controle por parte da administração,
dos usuários há uma graduação sutil que especialmente nas regiões onde a questão
vai do totalmente público ao totalmente de segurança é mais aguda.

12 Direito & Condomínio


Quando se entra nas áreas priva- e contanto que não exclua a utili- convencionado. O único estorvo,
tivas encontra-se praticamente a zação dos demais compossuido- hoje, é que as despesas relativas
mesma dicotomia, com áreas de res” (art. 1.335, II). E dispõe a Lei do a esse terraço cabem apenas ao
acesso facilitado do público (sala Condomínio, expressamente, que morador da cobertura.
de espera) e outras de caráter es- “é defeso a qualquer condômino
sencialmente privado. [...] embaraçar o uso das partes co- Nas garagens é costumeiro en-
muns” (art. 10, IV). Por exagero de contrar vãos e pequenos entraves
Dentro da unidade, obviamente, interpretação, muitos antes enten- ou pontos de acesso sem nenhu-
a disciplina de acesso é de seu diam que, em nenhuma circunstân- ma serventia para a comunhão de
proprietário. No prédio como um cia, o condômino poderia utilizar-se proprietários mas que podem ter
todo, a regulação é do condomínio. com exclusividade de área comum alguma utilidade para o dono da
Exigir que os visitantes se identi- do prédio. O Código Civil colocou garagem anexa. Seu uso com ex-
fiquem em certas horas da noite fim à dúvida ao dispor, no art. clusividade, regulamentado ou não
(ou mesmo durante todo o expe- 1.340, que “as despesas relativas a por decisão em assembleia, é outro
diente) é uma imposição não mui- partes comuns de uso exclusivo de exemplo de flexibilidade do direito
to simpática mas que está dentro um condômino, ou de alguns deles, de propriedade no condomínio.
dos limites de autorregulamenta- in-cumbem a quem delas se serve”.
ção do prédio. Proibir o exercício Igualmente não vemos obstáculo
de atividades mercantis autôno- Em muitas edificações existem intransponível à locação de deter-
mas (o ingresso de vendedores) áreas de copropriedade que, cir- minadas partes comuns, de difícil
também pode se incluir nessa cunstancialmente, são utilizadas acesso ou subutilizadas, a um ou
atividade fiscalizadora. É amplo o apenas por um ou poucos condô- outro condômino, com remune-
leque do que pode ser restringido minos. Veja-se, por exemplo, as ração em proveito de todos, se
se devidamente aprovado e não coberturas e terraços. Em certas esta for a vontade inequívoca da
constituir odiosa discriminação. incorporações, a cobertura cons- comunidade.
titui área privativa, porém o ter-
Uso exclusivo raço, por ser área descoberta, é Como se vê, o condomínio é um
Uma outra classificação atinge de domínio de todos (Cód. Civil, maravilhoso campo de experiên-
determinados edifícios no que diz art. 1.331, § 5º), ainda que de uso cias jurídicas. 
respeito ao uso das áreas coletivas. exclusivo do titular da cobertura,
Preceitua o Código Civil que é direito seja porque não há acesso direto *Artigo extraído do livro Vida em
do condômino “usar das partes co- do terraço a outras áreas de livre Condomínio: 120 questões do dia a dia
muns, conforme a sua destinação, circulação, seja porque assim ficou (Ed. Bonijuris, 2020)

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Direito & Condomínio 13
fique
atento

A LEGALIDADE DA
taxa de mudança
Por Gustavo Camacho Solon – Advogado em Joinville/SC – gustavo@camachoadvogados.adv.br

U
m dos elementos mais tendo havido, no Tribunal de Justiça artigo 5º da Constituição Federal,
conflituosos existentes de Santa Catarina, por exemplo, além da hipótese de enriqueci-
no cotidiano condominial decisões colidentes, algumas favo- mento sem causa encartada no
refere-se à taxa de mudança, so- ráveis e outras desfavoráveis à sua artigo 884 do Código Civil, bem
bretudo quando se trata de unida- aplicabilidade. como nos danos gerados à rela-
de colocada à locação. ção social interna do condomínio,
A título de curiosidade, é interes- conforme colhe-se do trecho do
Essa taxa tem natureza jurídica sante mencionar que no ano de julgado proferido na Apelação
indenizatória, na forma dos arti- 2017, na cidade de Curitiba/PR, Cível 2.558 do TJSC: “Se há previ-
gos 186 e 927 do Código Civil, pois a vereadora Maria Manfon apre- são de indenização para a hipóte-
presume-se que durante o proce- sentou um projeto de lei visando se de causação de danos ao bem
dimento das mudanças ocorrerão proibir a aplicação da taxa de mu- condominial, qual o motivo da
danos às áreas comuns da edifi- dança a todos os condomínios si- imposição do pagamento de uma
cação, além da necessidade de re- tuados no perímetro municipal. taxa de três salários mínimos para
forço na limpeza e disponibilidade mudanças dos locatários, tanto
de um preposto do condomínio Aqueles que combatem a cobran- para as entradas, como para as
para acompanhar o ato. ça da respectiva taxa de ­mudança, saídas?”, questiona o magistrado.
fundamentam sua insurgência no Para ele, a taxa existe somente
A legalidade da referida taxa de mu- direito constitucional de ir e vir, para garantir “um lucro injustifi-
dança já foi por vezes questionada, estabelecido pelo inciso XV do cado ao complexo condominial”.

14 Direito & Condomínio


Já os que defendem a aplicabilidade da taxa No mesmo sentido, segue a orientação do TJPR:
de mudança argumentam a necessidade
de pré-fixação das indenizações incidentes [...] não verifica qualquer ilegalidade
sobre as mudanças realizadas nas depen- na cobrança da taxa de mudança, vez
dências do condomínio, notadamente ante que prevista no regimento interno do
condomínio e, portanto, aprovada por
a dificuldade de comprovação de todos os
todos os condôminos. 5. Assim, para
pressupostos ensejadores da responsabi- que houvesse a entrada do recorrido no
lidade civil (dano, nexo de causalidade e condomínio, era imprescindível o paga-
culpa). mento da referida taxa, de modo que
incumbia ao proprietário do imóvel alu-
gado pelo recorrido informar quanto as
Os defensores da validade da taxa em tela, sa-
regras do condomínio recorrente. (TJPR,
lientam que o valor cobrado deve ser módico e AC 0000348-95.2015.8.16.0058/0, j.
suficiente para reparar pequenos danos ocor- 14/07/2016)
ridos durante o transporte do mobiliário das
unidades, sob pena de ser considerado abuso
de direito, a teor do artigo 187 do Código Civil. Importa mencionar que a legislação condominial é com-
posta por apenas 27 artigos (1.331 ao 1.358 do Código
Nessa linha de raciocínio, nos casos práticos, Civil), os quais funcionam como “a espinha dorsal” da
se for possível comprovar todos os elemen- vida condominial. Eis que o saudoso professor Caio Mário
tos caracterizadores da responsabilidade da Silva, ao conceber a Lei 4.591/64, teve a sensibilida-
civil, assim como quantificar o dano havido de de reconhecer que cada condomínio é uma pequena
durante o processo de mudança, na forma sociedade, formada por pessoas e para pessoas, motivo
do artigo 944 do Código Civil, o qual esta- pelo qual os seus acordos de vontade constantes na con-
belece que “a indenização mede-se pela ex- venção e no regulamento interno devem ser respeitados
tensão do dano”, o condomínio deverá op- por todos os condôminos e moradores, atuais e futuros,
tar por cobrar a indenização efetiva ao invés desde que não contrariem a legislação hierarquicamente
da aplicação da taxa, mitigando, destarte, superior, tais como o Código Civil e a Constituição Federal.
maiores discussões acerca do ocorrido.
Então, se as normas do condomínio preveem a aplicabili-
Em que pese as duas correntes de entendi- dade da taxa de mudança e tendo sido esta legitimamen-
mento citadas anteriormente, se o condo- te votada em uma assembleia especialmente convocada
mínio optar por adotar a cobrança da taxa para esta finalidade, a cobrança da taxa é legal.
de mudança em seu perímetro, é
imprescindível que a mesma este- Conhecer o regulamento interno e a convenção é um
ja prevista em seu regulamento dos grandes segredos de sucesso para o gestor con-
interno e que este preveja to- dominial, assim como é para o morador um elemento
das as suas hipóteses de apli- indispensável para conviver harmonicamente junto ao
cabilidade, conforme enfatizado seio social escolhido por si.
no julgado colhido do TJRS, abaixo
trasladado: “A taxa de mudança consta Ao optar por residir em um condomínio, o morador
no registro interno, que foi aprovado em subscreve tacitamente um contrato social, por meio
assembleia extraordinária, logo é devida. do qual ratifica todas as normas de convivência apli-
Afastar sua cobrança somente através de cáveis àquela determinada sociedade, submetendo-se
uma ação anulatória” (TJRS, Apelação Cível ao cumprimento delas, ainda que não tenha participa-
198054348, j. 08/04/1999). do de sua concepção.

Direito & Condomínio 15


fique
atento

ESQUADRIA
PADRONIZADA
VALE PARA TODOS
OS ANDARES:
do primeiro ao último
Por Olga Maria Krieger – Advogada em Curitiba/PR – olgabonijuris@gmail.com

A
lteração de fachada nos a fachada do edifício, dizem O senso de coletividade é mesmo
condomínios verticais, respeito ao ­
condomínio como o norte do condomínio: um por
sejam edifícios comer- um todo. todos e todos por um! E não vale
ciais ou residenciais, costuma ser pensar que “o que não é visto não
um tema conflituoso entre os A Lei do Condomínio (Lei 4.591/64) é lembrado”. Como pontuou o mi-
condôminos. Se, por um lado, o e o Código Civil (Lei 10.406/02) nistro Ricardo Villas Bôas Cueva,
proprietário tem a liberdade e o trazem como um dever funda- do Superior Tribunal de Justiça,
direito de escolher como decorar mental dos condôminos “não alte- “fachada não é somente aquilo
o seu apartamento ou escritório, rar a forma e a cor da fachada, das que pode ser visualizado do térreo,
inclusive com pequenas reformas partes e esquadrias externas” (CC, mas compreende todas as faces
(que não abalem a estrutura do art. 1.336, inc. III), complementan- de um imóvel: frontal ou princi-
edifício), por outro lado as divisó- do a lei especial que “o transgres- pal (voltada para rua), laterais e
rias externas da sua propriedade, sor ficará sujeito ao pagamento posterior”, caso contrário, “em ar-
como o hall de entrada do seu de multa prevista na convenção”, ranha-céus, os moradores dos an-
andar, a face exterior de janelas e além de ser obrigado a desfazer dares superiores, quase que invisí-
varandas, além da fachada em si a obra, podendo ser autorizado veis da rua, não estariam sujeitos
não podem ser modificadas pelos a modificar a fachada desde que ao regramento em análise” (REsp.
condôminos unilateralmente. obtenha “a aquiescência da una- 1.483.733 – RJ – Dje 01.09.2015).
nimidade dos condôminos” (Lei
Por certo que na maioria das si- 4.591/64, art. 10, parág. 1º e 2º). O caso em apreço era de mudan-
tuações não há má-fé por parte ça na cor original das esquadrias
do proprietário e as alterações Sim, este é o desafio: alcançar o externas de apartamento do últi-
são realizadas sem a intenção de voto da unanimidade dos condô- mo andar da edificação, mas sem
quebrar o equilíbrio arquitetônico minos para manter uma altera- prévia autorização dos demais
da edificação. A escolha de uma ção particular. Mais tranquilo é o condôminos. A obra teve que ser
cortina de cores fortes, o fecha- quórum para atualização ou me- desfeita e a dor de cabeça com
mento da sacada com vidros es- lhoria da fachada do edifício como certeza foi grande.
curos, a troca de esquadria por um todo: com o voto de 2/3 dos
uma que isole do barulho da rua condôminos uma obra dessa na- Esquadria é fachada, e a fachada
parecem decisões individuais dos tureza pode ser aprovada (CC, art. vale para todos, do primeiro ao
condôminos, mas, por alterarem 1.341, inc. I). ­último andar. 

16 Direito & Condomínio


condomínio
nos tribunais

Direito condominial
nos
tribunais Por Pollyana Elizabethe Pissaia - Advogada em
Curitiba/PR - pollyana@bonijuris.com.br

SÍNDICO DEVE RESSARCIR CONDOMÍNIO É POSSÍVEL A COMPENSAÇÃO ENTRE


QUE TEVE DE PAGAR INDENIZAÇÃO CAUÇÃO E DÍVIDAS CONDOMINIAIS
POR MORTE DE PORTEIRO SEM DEIXADAS PELO LOCATÁRIO
SEGURO DE VIDA OBRIGATÓRIO Apelações Cíveis. Locação. [...]
Apelação Cível – Ação de ressarcimento de valo- Inadimplemento de despesas ordinárias
res – Condomínio – Benefícios da justiça gratuita de condomínio cujo pagamento incum-
concedido ao réu – Obrigação do síndico de contra- bia ao autor, então locatário do imóvel.
tar seguro de vida para os funcionários do condo- Delimitação dos débitos e créditos recíprocos.
mínio – Convenção coletiva de trabalho vigente à Possibilidade de compensação. Danos morais
época – Descumprimento – Morte do funcionário – não configurados. Sentença parcialmente
Inexistência de seguro – Cobrança dos valores rela- reformada. 1. Tendo a locação se extinguido,
tivos à indenização securitária na esfera trabalhista é devida a devolução integral da caução em
– Verba paga com recursos próprios do condomínio dinheiro prestada pelo locatário, acrescida
– Prejuízo demonstrado – Alegação do réu de que o dos respectivos rendimentos. Art. 38, §2º, da
contrato de seguro não foi fechado por estar em fase Lei nº 8.245/91; 2. A Lei de Locações define
de negociações e orçamentos – Período de três me- e elenca tanto as despesas extraordinárias
ses entre a contratação do porteiro e o afastamento de condomínio, de responsabilidade do loca-
do síndico – Tempo hábil para formalizar o contrato dor, quanto as despesas ordinárias, a serem
– Negligência configurada – Ausência de comprovação pagas pelo locatário. Art. 22 e 23 da Lei nº
da entrega de documentos à nova gestão 8.245/91; 3. Compensação. Instituto descrito
– Dever de exibição – Sentença manti- no Código Civil. Art. 368. Se duas pessoas fo-
da – Majoração dos honorários em grau rem ao mesmo tempo credor e devedor uma
recursal – Cabimento – Inteligência do da outra, as duas obrigações extinguem-se,
art. 85, §11 do CPC. Recurso de apela- até onde se compensarem. 2. Recursos co-
ção não provido. (TJPR -Apelação Cível n. nhecidos e parcialmente providos. (TJPR –
0010693-58.2015.8.16.0014 – Rel.: Juiz de Apelação Cível n. 0028569-65.2015.8.16.0001
Direito Substituto em 2º Grau Alexandre –Rel.: Juiz de Direito Substituto em 2º Grau
Barbosa Fabiani – Fonte: DJ, Luciano Carrasco Falavinha Souza – Fonte: DJ,
19.03.2020)  29.04.2019) 

SÍNDICO DESTITUÍDO DO CARGO


NÃO SOFRE DANO MORAL
Embargos de Declaração. Ação indenizatória por danos morais
por destituição irregular e vexatória. Autor que era síndico de con-
domínio. Destituição do cargo. Inexistência de abalo moral. [...]
(TJPR - Embargos de Declaração n. 0024945-86.2017.8.16.0017 -
Rel.: Desa. Ângela Khury – Fonte: DJ, 17.02.2020) 

Direito & Condomínio 17


perguntas
& respostas

Perguntas e respostas
Por Karla Pluchiennik Moreira – Consultora empresarial em Curitiba/PR – adprospera@gmail.com

“Faz um ano, comprei um apartamento


seguindo todos os trâmites
burocráticos. No entanto, depois de
uns meses recebi notificação de
ação judicial de cobrança de taxas
condominiais que não foram
pagas pelo antigo proprietário,
que me vendeu o apartamento.
Quem deve pagar essa
dívida? Eu sempre pago
em dia, considero que a
dívida é responsabilidade
do antigo morador.”

A
pesar de a compradora do
apartamento ter cumpri-
do com suas obrigações,
é ela quem deverá responder pelo
débito do apartamento, ainda que é sempre pedir o auxílio de um
tais valores tenham origem an- profissional (um advogado, uma
terior à data da compra. A dívida empresa de assessoria por exem- ser rateadas entre todas as uni-
condominial acompanha o imó- plo) para verificar as pendências dades, mesmo as que estiverem
vel, independente da transação do imóvel antes de finalizar uma ­desocupadas. Exceção pode ocor-
de venda – em termos jurídicos compra. Muitos são negociados rer caso a convenção trate alguma
diz-se que a dívida tem natureza com débitos de quotas condo- unidade de forma diversa, conce-
propter rem, “por causa da coisa”. miniais, IPTU, com penhoras ou dendo isenção ou desconto a al-
outros empecilhos que precisam guma unidade específica.
O Código Civil é bem claro sobre o ser pesquisados antes da compra
tema: “Art. 1.345. O adquirente de para evitar dores de cabeça. Por fim, é aconselhável à nova
unidade responde pelos débitos proprietária propor um acordo
do alienante, em relação ao con- O pagamento da taxa condomi- extrajudicial para parcelamento
domínio, inclusive multas e juros nial deve ser realizado indepen- dos débitos, pois, em que pese as
moratórios.” dente do uso da unidade. O rateio alterações do Código de Processo
inclui despesas como: água, luz, Civil terem abreviado uma boa
A compradora poderá cobrar es- funcionários e outras que são ge- parte do processo de cobrança,
ses débitos do vendedor judicial- radas pela manutenção do con- um acordo extrajudicial será bem
mente. De qualquer forma, o ideal domínio como um todo e devem mais rápido e barato.

18 Direito & Condomínio

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