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Manual FPAS

Curso de Mergulho
CMAS P1
Título Nacional de Mergulho “Nível 2”

2012
3ª Edição revista e aumentada
Comissão Nacional de Mergulho
Federação Portuguesa
Curso de Mergulho
de Actividades
CMAS P1Subaquáticas 1
Edição:
Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas
Autoria:
Comissão Nacional de Mergulho (CNM)
Coordenação e direcção técnica:
Fernando Muralha Pina
A Comissão Técnica de Mergulho Desportivo da FPAS
agradece a colaboração de:
Armando Teixeira da Rede - Fernando Aldomiro - Fernando Pina
Henrique Santos - João Gomes Pedro - José Tourais - Manuel Preto
Óscar Camacho - Pedro António Neves - Pedro Freitas Cruz
Pedro Lage - Raul Monteiro - Teresa Alexandra Pina
Créditos fotográficos:
Carlos Franco: págs. 11, 17, 30, 48, 53, 55, 56, 60, 62, 65, 66, 68,
96, 104, 150, 156, 163, 164, 168, 170 a 179, 190
Fernando Pina: págs. 49, 64, 71, 73; ilustrações págs. 84, 86 a 89,
102, 136, 139 a 144
Manuel Anselmo: págs. 6, 74, 82, 124, 146, 155
CMAS: ilustrações das págs. 79, 80, 91, 92, 99, 107, 108
CNANS: págs. 186, 187, 188
Corel: pág. 5 e ilustrações de separação
Ilustrações de equipamento cedidas por:
Aquasport (Cressi-sub) - Equipsub (Sporasub) - Marpro (Aqualung)
Nautisub (Beuchat) - R. Saramago L.da (Scubapro, Uwatec)
Setunáutica (Seemann Sub) - Tecniquitel (Suunto) - Submate

Conceção gráfica:
Carlos Franco
Impressão:
MX3 - Artes Gráficas, Lda..
Tiragem: 1.000 exemplares
Depósito Legal n.º ??????????/1012

© Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas


É proibida qualquer reprodução, total ou parcial, sem autorização escrita da FPAS

2 Curso de Mergulho CMAS P1


ÍNDICE

Prólogo ................................................................................................. 4
Instruções para o aluno ....................................................................... 5
MÓDULO 1T1 - Funcionamento do curso ..................................... 7
MÓDULO 1T2 - Equipamento básico de mergulho .................... 15
MÓDULO 1T3 - Equipamento de mergulho diverso ................... 31
MÓDULO 1T4 - O escafandro autónomo .................................... 47
MÓDULO 1T5 - Controlo de flutuabilidade ................................. 61
MÓDULO 1T6 - Manutenção do equipamento .......................... 69
MÓDULO 1T7 - Sinalização subaquática ..................................... 77
MÓDULO 1T8 - Princípios básicos de física ................................. 83
MÓDULO 1T9 - Princípios básicos de fisiologia .......................... 97
MÓDULO 1T10 - Barotraumatismos ............................................. 105
MÓDULO 1T11 - Intoxicações, hipotermia e afogamento ......... 117
MÓDULO 1T12 - Acidente de descompressão ............................ 127
MÓDULO 1T13 - Tabelas e computadores, Cálculo do consumo
de ar, Planeamento básico do mergulho......... 133
MÓDULO 1T14 - Segurança no mergulho ................................... 165
MÓDULO 1T15 - Autosegurança e ajuda .................................... 173
MÓDULO 1T16 - O ambiente marinho ........................................ 181
MÓDULO 1T17 - Abordagem à arqueologia subaquática ......... 197

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PRÓLOGO

Bem-vindo ao espetacular mundo submarino!


Está prestes a entrar numa nova dimensão, a da beleza e maravilhas do planeta da
água (curiosamente denominado Terra) e, simultaneamente, numa nova experiência
de vida. O mergulho com escafandro autónomo é o elo que une estas duas realidades.
O mergulho amador é fácil e divertido, mas é uma atividade que se desenrola
num ambiente totalmente diferente daquele a que o ser humano está habituado
desde que nasceu, e portanto hostil por natureza. Por isso, o mergulho será tanto
mais seguro quanto mais rigoroso for o cumprimento das regras estabelecidas para a
sua prática.
Não é necessário ser um “atleta” ou um “super-homem” para mergulhar; basta
apenas uma constituição física normal e boa saúde. Também não é necessário ser
um grande estilista em natação, ainda que seja necessário estar à vontade na água e
saber flutuar com facilidade e segurança.
Por outro lado, é muito importante ter um bom domínio do equipamento básico
para o mergulho, ou seja, a “máscara”, o “tubo”, as “barbatanas”, o “fato” e o
“lastro”. Por isso deverá praticar até alcançar uma total segurança e tranquilidade
com a utilização deste equipamento.
Debaixo de água é necessário estar tranquilo e são totalmente desaconselhados
os movimentos bruscos. No entanto, estar tranquilo não significa ficar indolente.
Lucidez e raciocínio pronto, são fundamentais para nunca reagir precipitadamente.
O pior que pode acontecer a um mergulhador é entrar em pânico e disparar para a
superfície, guiado apenas pelo instinto de sobrevivência. Esta situação nunca deverá
ocorrer a um mergulhador experiente, aconteça o que acontecer.
Na verdade, a tranquilidade é o fator chave no mergulho, pois permite que,
haja presença de espírito e uma correta capacidade de reação, duas qualidades
indispensáveis ao mergulhador para fazer face a qualquer contingência.
Se reúne as condições que apontámos até aqui, vamos em frente! De certeza que,
com o tempo, virá a ser um excelente mergulhador. Se assim não for, terá que pôr
muito empenho em dominar-se, para poder mergulhar tranquilamente. Mas, quando
finalmente alcançar esse domínio de si mesmo, que lhe permitirá evoluir como um
peixe no meio subaquático, poderá verificar com satisfação que valeu a pena!
É privilégio do mergulhador certificado penetrar no universo subaquático, uma
fronteira durante muito tempo inacessível ao homem, para tomar parte na grande
comunidade internacional dos mergulhadores que observam, exploram e até exercem
as suas carreiras profissionais nas águas de todo o mundo.
A Comissão Nacional de Mergulho

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INSTRUÇÕES PARA O ALUNO

 Ler cada módulo duas vezes antes da sessão teórica correspondente

 Prencher e separar os questionários dos módulos referentes a cada lição


e entregá-los ao instrutor no início da sessão teórica.

 Participar no diálogo com o instrutor, pedindo esclarecimentos sobre


quaisquer dúvidas relacionadas com a matéria lecionada na sessão.

 Realizar o teste que lhe for apresentado no final da sessão, devolvendo-


o ao instrutor devidamente preenchido.

O INSTRUTOR
O Instrutor é o guia que permite entrar no mundo subaquático em segurança. As
suas indicações devem ser sempre seguidas, pois os seus conhecimentos e prática
são importantíssimos para a segurança do aluno.
O aluno deve depositar nele a sua confiança e não ter receio em fazer-lhe quantas
perguntas forem necessárias para esclarecer qualquer dúvida sobre os temas do
programa ou sobre os exercícios que tem que realizar na prática.

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6 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T1

FUNCIONAMENTO DO CURSO

TÓPICOS

 Apresentação. Detalhes administrativos, horário, locais das aulas, manuais,


documentação e equipamento fornecido, equipamento do aluno.
 Objetivos e características do curso. Finalidade do programa de treino
e nível de preparação.
 Sistema Nacional de Certificação de Mergulhadores. Características
da Escola. Os diversos níveis segundo as Normas Europeias. Filiação e seguro.
 Sistema Internacional de Certificação de Mergulhadores. Relação
entre a Escola, a FPAS e a CMAS . Os diversos níveis de progressão CMAS.
 Documentação. Certificação emitida. Documento exigido ao mergulhador,
face à legislação nacional.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Que deverá cumprir a disciplina que lhe é imposta pelo monitor, depositar
toda a confiança nos seus ensinamentos e respeitar os seus conselhos.
√ Quais as certificaçõee que lhe são atribuídas no final do curso.
√ O que lhe é permitido fazer com a qualificação atribuída após este curso.
√ Que possibilidades oferece este curso no que respeita à carreira de
progressão do mergulhador.
√ Qual o nível máximo que pode atingir como praticante.
√ Como se insere este curso no Sistema Nacional de Certificação de
Mergulhadores face à legislação nacional.
√ Como se insere este curso no Sistema Internacional CMAS de Certificação
de Mergulhadores.
√ Qual a função da FPAS no âmbito das acividades subaquáticas nacionais e
quais as vantagens em ser filiado.
√ Qual a função da CMAS no âmbito das atividades subaquáticas
internacionais.
√ Quais os documentos que deverá possuir para poder mergulhar em território
nacional e no estrangeiro.

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MÓDULO 1T1

APRESENTAÇÃO

O programa de treino a que vai ser submetido corresponde ao primeiro nível da


carreira de mergulhador, em que se pode ingressar sem qualquer treino prévio.
A finalidade deste curso é ensinar as bases fundamentais do mergulho, sem que
o aluno se preocupe com matérias reservadas para a instrução mais avançada.
Queremos o mesmo que você quer: mergulhar!
Ao terminar o seu curso teremos formado mais um mergulhador, treinado e
competente para a utilização correta e segura do equipamento de mergulho, numa
zona protegida e até 20m de profundidade, acompanhado por mergulhadores do
mesmo nível, utilizando o ar como mistura respiratória. Poderá planear os seus
mergulhos em locais com acesso direto à superfície. Não poderá efetuar mergulhos
que exijam paragens para descompressão nem mergulhos noturnos.

A ESCOLA
A escola que vai frequentar está devidamente reconhecida e legalizada pela FPAS
para ministrar cursos de mergulho CMAS, cumprindo os conteúdos programáticos
definidos pela Comissão Nacional de Mergulho (CNM) da FPAS.
Todas as escolas que utilizam os programas de mergulho FPAS/CMAS são obrigadas
a filiar os seus alunos no início do curso.
Esta filiação tem dois objetivos: serve para que os alunos fiquem cobertos por um
seguro de acidentes pessoais durante e após terem terminado o curso e para
que lhes possa ser atribuída a qualificação internacional CMAS.

O seguro de Acidentes Pessoais da FPAS cobre a atividade em todo o mundo e é


válido durante um ano, devendo o seu titular proceder à sua revalidação, de
preferência, antes de terminar o prazo de validade.

A FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ACTIVIDADES


SUBAQUÁTICAS (FPAS)

Organização representativa dos clubes, entidades e prati-


cantes filiados, a FPAS é a entidade coordenadora a nível
nacional das atividades subaquáticas não profissionais,
encontrando-se sob a tutela do Ministério do Desporto e
Juventude. Tem como principais objectivos a difusão,
promoção, regulamentação e enquadramento pedagógico dessas
atividades, tanto das modalidades competitivas como das atividades recreativas e de
lazer.
Fundada em 1965 com o nome de Federação Portuguesa de Caça Submarina, em

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MÓDULO 1T1

1974 alterou o nome para Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas face


ao desenvolvimento que já então se verificava nas atividades subaquáticas, não só
na vertente Desportiva (competição ou lazer) mas também nas vertentes Técnica,
Cultural e Científica, em que o mergulho com garrafas foi fator principal.
Em 1967 tornou-se membro da Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas
(CMAS), onde integra a Comissão Técnica, a Comissão Desportiva e a Comissão
Médica Permanente.
Em 15 de Julho de 1978 foi-lhe atribuído o estatuto de Utilidade Pública e em 23
de Setembro de 1994 recebeu o estatuto de Utilidade Pública Desportiva. No mesmo
ano passou a integrar a Confederação do Desporto de Portugal e em 1996 tornou-
se membro do Comité Olímpico de Portugal.

ESTRUTURA DA FPAS

Estatutariamente, a FPAS é composta pelos seguintes Órgãos Sociais:


Assembleia Geral
Presidente
Direção
Conselho Fiscal
Conselho Jurisdicional
Conselho Disciplinar
Conselho de Juizes
Delegação Regional do Norte

As diferentes atividades são dirigidas por comissões, entre as quais se destacam


Comissão Nacional de Mergulho
Comissão Desportiva
Comissão Médica
Comissão de Pesca Submarina
Comissão de Audiovisuais
Comissão de Tiro Subaquático
Comissão de Natação com Barbatanas
Comissão de Hóquei Subaquático
Comissão de Orientação Subaquática
Comissão de Apneia de Competição

Em qualquer momento poderão ser criados novos grupos de trabalho, caso


sejam necessários para implementar e desenvolver outras modalidades.

Curso de Mergulho CMAS P1 9


MÓDULO 1T1

A CONFÉDÉRATION MONDIALE DES ACTIVITÉS


SUBAQUÁTIQUES (CMAS)

A CMAS é uma organização internacional sem fins


lucrativos, reconhecida pela UNESCO (United Nations
Educational Scientific and Cultural Organization) e filiada
na UICN (Union International pour la Conservation de la
Nature) e no WWF (World Wildlife Fund).
Enquanto federação internacional, a CMAS é reconhecida
pelo IOC (International Olympic Committee). É também
membro da GAISF (General Association of Sports
Federations) e da IWGA (International World Games Association).
A CMAS nasceu no Mónaco em 1959, sob a presidência do Comandante J.Y.
Cousteau, fundada pelas delegações de 15 países, entre os quais Portugal, representado
pelo Centro Português de Actividades
Submarinas nas pessoas de Jorge
Albuquerque e António Ramada Curto. ESTRUTURA DA CMAS
Atualmente, a CMAS é formada por Corpos sociais
184 membros (101 Federações Nacionais Assembleia Geral
e 83 Associações ou Organismos)
representando mais de uma centena de Conselho de Administração:
países de todo o mundo. Portugal está Presidente, Secretário Geral, Vice-
oficialmente representado pela FPAS, Presidente, 3 Presidente de Comité,
instituição creditada pela entidade que Tesoureiro e 14 membros
tutela o desporto em Portugal, face ao
seu estatuto de Utilidade Pública Comité Científico:
Património Cultural subaquático,
Desportiva (UPD).
Geologia marinha, Biologia e Protecção
Uma das funções mais importantes da natureza, Relações Amadores-
da CMAS é a de unificar critérios e Profissionais e Difusão-Comunicação-
regulamentos na prática das atividades Documentação.
subaquáticas. Assim os mergulhadores
que tenham feito a sua aprendizagem Comité Desportivo:
seguindo este programa da FPAS terão Disciplinas em Apneia, Hóquei, Natação
conhecimentos análogos aos de com barbatanas, Orientação e Rugby.
qualquer mergulhador que tenha feito
Comité Técnico:
o seu curso CMAS em qualquer lugar
Standards e equivalências, Educação,
do mundo. Isso permite-lhe integrar- Mergulho Técnico, Segurança no
se facilmente em grupos de mergulho Mergulho e Tarefas Particulares
de diversas nacionalidades e mergulhar
com maior confiança, maior facilidade Comissões independentes:
de comunicação e, portanto, com Jurídica, Médica, Foto-Filme-Vídeo,
maior segurança.

10 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T1

QUALIFICAÇÕES DO MERGULHADOR PRATICANTE

Se bem que seja necessário possuir um certificado para mergulhar é muito mais
importante que esse certificado seja obtido após uma boa aprendizagem.
De acordo com os padrões de ensino da CMAS, existem quatro níveis de
mergulhador praticante a que se pode aceder após frequência dos respetivos cursos
ou por proposta directa no caso do último nível.
Os três primeiros níveis estão enquadrados nas Normas NP EN14153-2 2005 e
NP EN14153-3 2005, que definem para cada um deles as competências, os pré-
requisitos para a formação, os conhecimentos teóricos e práticos exigidos, os
parâmetros de formação prática e a avaliação dos praticantes.
A partir do nível 3 o mergulhador praticante poderá optar pela vertente do ensino
ingressando na carreira de monitor.
A qualificação de praticante nível 4, não enquadrada em qualquer destas normas,
será obtida após a avaliação da proposta enviada à CNM da FPAS, por uma entidade
de mergulho reconhecida, solicitando a sua atribuíção.
Será atribuída ao mergulhador que possui conhecimentos acrescidos em todas as
matérias teóricas relacionadas com o mergulho, que tenha adquirido grande
experiência demonstrada em todas as técnicas e práticas do mergulho e seja
reconhecido pelas suas qualidades de liderança de projetos ou desenvolvimento de
atividades com objetivos técnicos, culturais ou científicos.

Ao terminar este curso obterá a qualificação internacional de mergulhador CMAS P1 (CMAS


Praticante de Uma Estrela) e o Título Nacional de Mergulho “Nível 2”

Curso de Mergulho CMAS P1 11


MÓDULO 1T1

Após a obtenção da qualificação CMAS P1 o mergulhador poderá frequentar os


cursos de especialização de:
Mergulhador Socorrista
Administração de Oxigénio
Navegação Subaquática
Pesquisa e Recuperação
Mergulho Noturno
Nitrox Básico
Técnico de Misturas
Fotógrafo Subaquático Nível 1
Compressores e Estações de Enchimento

DOCUMENTAÇÃO

Ao ser considerado apto, no final deste curso ser-


lhe-á atribuída a qualificação de mergulhador CMAS
P1, sendo-lhe entregue o cartão internacional CMAS
P1 e o Título Nacional de Mergulho (TNM)
correpondente à qualificação obtida (“Nível 2”).
O mergulhador deve ser sempre portador do
documento de certificação de praticante exigido por
lei e apresentá-lo às autoridades competentes quando
por estas solicitado. Este documento deverá também Qualificação internacional
ser apresentado junto de entidades que promovam e
organizem a prática do mergulho.

A Caderneta de Imersão é o documento que permite registar corretamente todos


os mergulhos efectuados, isto é, com as informações mínimas essenciais, entre as
quais se destacam a profundidade máxima atingida e o tempo de
imersão. Durante o curso o instrutor ensinará a maneira mais
correta de registar os dados de cada mergulho.
O número de mergulhos, corretamente
registados e confirmados, será um dos
parâmetros utilizados pelo sistema de
progressão na carreira do mergulhador FPAS
ou CMAS.

A Caderneta de
Imersão da FPAS permite
registar corretamente os mergulhos

12 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T1

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa. Envolva


com uma circunferência a resposta certa)

1º) A Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas (FPAS) possui


estatuto de:
a) Utilidade Administrativa
b) Utilidade Pública Desportiva
c) Utilidade Internacional Desportiva
d) Utilidade comercial

2º) A FPAS, enquanto entidade representativa das modalidades


subaquáticas a nível nacional, tem por fim principal:
a) A sua difusão
b) A sua regulamentação
c) O seu enquadramento pedagógico
d) A sua promoção
e) Todas as respostas estão corretas

3º) As principais atividades desenvolvidas pela FPAS são:


a) De carácter técnico
b) De carácter desportivo
c) De carácter científico
d) De carácter cultural
e) Todas as respostas estão corretas

4º) O Seguro Desportivo que a FPAS proporciona aos seus filiados


tem a seguinte validade:
a) Um ano
b) O ano civil em que é acionado
c) Nenhuma resposta está correta

5º) A CMAS é uma organização internacional que:


a) Ministra cursos de mergulho
b) Unifica critérios de mergulho
c) Unifica o regulamento de mergulho
e) Tutela todas as federações

Curso de Mergulho CMAS P1 13



MÓDULO 1T1

QUESTIONÁRIO

6º) Ao concluir este curso, a FPAS atribuir-lhe-á o nível internacional:


a) ACUC Open Water Scuba Diver
b) NAUI Scuba Diver
c) CMAS Praticante de Uma Estrela
d) PADI Open Water Diver

7º) O mergulhador nível 3 pode ingressar na carreira de ensino.


a) Verdadeiro
b) Falso

8º) O mergulhador de CMAS P1 tem de possuir:


a) A caderneta de qualificação
b) A carta de condução
c) A carta de desportista náutico
d) O título nacional de mergulho

9º) O Título Nacional de Mergulho “Nível 1” é atribuído a todos


os mergulhadores que sejam possuidores da qualificação
internacional de praticante CMAS P1:
a) Verdadeiro
b) Falso

14 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T2

EQUIPAMENTO BÁSICO DE MERGULHO

TÓPICOS

 Equipamento básico para o mergulho. Máscara, barbatanas e tubo:


função, construção e características.
 A escolha do equipamento. Forma de experimentar. Modelos mais
adequados. A manutenção.
 Proteção do mergulhador. Proteção contra o frio: a perda de calor na
água. Proteção contra a abrasão e a vida marinha.
 A proteção isotérmica. Os tipos de fato e os materiais. A importância do
conforto. Luvas, meias e botas isotérmicas. A manutenção.
 Cinto de lastro. A obtenção do equilíbrio perfeito (flutuabilidade neutra).
Tipos de cinto, ajustamento, fivela de abertura rápida.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Qual o equipamento básico que vai utilizar no mergulho.


√ Como escolher uma máscara.
√ Que tipo de tubo deve utilizar no mergulho.
√ Que tipos de barbatanas se utilizam no mergulho e qual o critério de
escolha.
√ Que tipos de fato isotérmico se utilizam e quais as suas principais
diferenças.
√ Que características deve ter um fato isotérmico para que cumpra a sua
função.
√ Para que serve o cinto de lastro e que características deve ter.
√ Os cuidados a ter na manutenção do equipamento.

Curso de Mergulho CMAS P1 15


MÓDULO 1T2

EQUIPAMENTO BÁSICO

Equipamento básico de mergulho pode ser definido como aquele que permite a
nossa adaptação ao ambiente subaquático, de forma a podermos mergulhar segura
e comodamente. Este equipamento básico, tanto para o mergulhador com escafandro,
como para o mergulhador em apneia, é essencialmente constituído por máscara,
tubo e barbatanas.
Dada a sua importância para a segurança, este equipamento tem de ser escolhido
em função de dois critérios determinantes:
 Simplicidade na conceção, na forma e no funcionamento.

 Qualidade de construção e dos materiais utilizados.

A MÁSCARA

A função da máscara é permitir ao mergulhador uma visão nítida no ambiente


subaquático, uma vez que a visão se torna difusa se os olhos estiverem em contacto
com a água. Como resultado da utilização da máscara, os objetos parecem maiores
e mais perto do mergulhador.

A refração ar/água através do vidro da máscara provoca um desvio nos raios luminosos que faz os
objectos parecerem maiores e estar mais próximos do mergulhador

Ao longo dos anos, a máscara conheceu muitos aperfeiçoamentos e evoluiu de


diversas formas. Desta evolução resultaram diferentes tipos de máscara e uma grande
variedade de modelos.
A máscara é formada por duas parte essenciais: o vidro e um “corpo” macio que
se adapta à cara do mergulhador. A montagem destes dois elementos é feita através
de uma estrutura sólida e indeformável, à qual se fixa uma precinta que permite o
fácil ajuste da máscara.
Inicialmente feitas em borracha, atualmente o material mais utilizado no corpo da
máscara é o silicone (normalmente preto ou transparente), um material mais duradouro.
A perfeita aderência à face é conseguida por intermédio de um rebordo macio,

16 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

com uma configuração que aumenta a superfície de


aderência e ajuda a tornar a máscara estanque com a
pressão do ar no seu interior.
Na parte inferior do nariz não existe rebordo interno,
para que a expulsão da água do interior da máscara se
possa fazer com facilidade.
O aumento do campo de visão é obtido aumentando o
vidro (normalmente máscaras de vidro único), o que
faz aumentar o volume interno da máscara, ou
aproximando o vidro dos olhos (dois vidros separados),
solução cada vez mais utilizada por permitir desenhar
máscaras pouco volumosas.
Os utilizadores de óculos têm duas opções: poderão
usar máscaras às quais são coladas internamente as lentes
corretoras, ou máscaras cujos vidros simples são
substituídos por lentes, com a necessária correção de
dioptrias por estarem em contacto com a água.
A montagem destes elementos deve ser feita sobre
a estrutura sólida e indeformável da máscara, de forma a
não sofrerem oscilações em relação aos olhos do
mergulhador.
A adaptação da máscara à face deve ser confortável
(não deve estar muito apertada, mas apenas justa) de
modo a poder ser usada durante longos períodos. Além
disso, para permitir
uma fácil compen-
sação, a parte que
envolve o nariz
deve ser projetada
para fora, de forma
que seja fácil Seja qual for o modelo
apertar o nariz escolhido, a máscara deve
sempre ser experimentada
com os dedos. antes de ser comprada
A colocação da
máscara deve ser feita de modo a que o
rebordo não fique sobre os cabelos ou sobre
o capuz do fato, evitando assim a entrada de
água.
Pelo que vimos, é fácil compreender que a
compra de uma máscara exige uma atenção
A manobra de compensação dos ouvidos especial. O modelo que é bom para o
deve ser fácil indivíduo “A” pode ser péssimo para o

Curso de Mergulho CMAS P1 17


MÓDULO 1T2

indivíduo “B”. Por isso, a escolha deve ser cuidada e é muito importante experimentar
a máscara antes de comprar. Deve-se encostá-la levemente à face e inspirar pelo
nariz: se a máscara se colar à cara e ficar aderente durante algum tempo, sem cair,
está garantida a sua estanquecidade.
Para testar a comodidade, deve-se comprimi-la contra a face e certificar-se que
nenhuma parte se torna incómoda ou dolorosa, nomeadamente o rebordo e a zona
envolvente do nariz.
A máscara é uma peça frágil e é aconselhável mantê-la numa caixa plástica. Isto
protege-a de quedas ou pancadas inadvertidas e do contacto com gasolina (frequente
no fundo do barco) ou outros produtos que ataquem a borracha ou o silicone.
A manutenção é muito importante mas simples: lavá-la muito bem com água
doce no final de cada mergulho, deixando-a secar à sombra.

Independentemente do tipo de máscara preferido, a escolha deverá ter


em atenção a morfologia facial do utilizador e as seguintes qualidades:
 Ter uma perfeita aderência à cara, de modo a ser estanque.
 Ser confortável, permitindo uma utilização prolongada.
 Permitir manobras de compensação fáceis.
 Ter vidro temperado e com bom ângulo de visão.
 Ser de construção sólida.
 Ter um volume interno o mais reduzido possível.

O TUBO

Aparentemente muito simples e muitas vezes menosprezado, o tubo é o segundo


elemento do trio básico do equipamento de mergulho.
Ainda que limitado à natação à superfície, onde se torna no complemento natural
da máscara, o tubo (ou respirador) nalgumas situações é determinante para a segurança
do mergulhador.
No mercado existem variados modelos de tubos, que vão dos mais arcaicos até
aos de desenho vanguardista, uns de conceção simples, outros inutilmente
complicados com válvulas e apêndices de interesse duvidoso, além dos modelos
especialmente dirigidos para caça submarina ou específicos para a natação com
barbatanas. Também variam o diâmetro e a curvatura do perfil do tubo e a posição
do bocal, pormenores importantes para o conforto de utilização. A forma mais comum
do bocal é a de um J ou de um L.
O tubo é composto basicamente por duas partes: um bocal em borracha ou
silicone macio, que o mergulhador fixa entre os dentes (sem trincar) e veda entre os
lábios, e um tubo rígido ou semi rígido que sobe ao lado da cabeça, possibilitando a
entrada do ar.

18 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

O comprimento do tubo não deve ultrapassar os 40cm. Quanto


maior for, maior é o espaço morto onde o ar não é renovado. O
espaço morto, que normalmente se confina à traqueia e vias
aéreas superiores, é agora aumentado pelo tubo, o que se
traduz numa maior deficiência nas trocas respiratórias (O2-
CO2). Além disso, se o tubo for demasiado comprido,
também dificultará a expulsão da água do seu interior.
Por outro lado, se for muito curto permitirá uma fácil
entrada de água com as consequências desagradáveis
que daí resultam.
Quanto ao diâmetro interior, deverá ter
aproximadamente 2cm (mais ou menos o diâmetro onde
cabe o dedo polegar, mas o mais correcto é medir). Se o
diâmetro for maior dificulta a expulsão da água e se for
muito menor oferece resistência à passagem do ar, podendo
criar dificuldade respiratória.
Há duas formas de colocar o tubo: pode ser preso à
precinta da máscara com uma peça de fixação, ou
simplesmente entalado por baixo da precinta, sem
qualquer peça de fixação (cuidado ao tirar a máscara).
Os cuidados com a manutenção são os mesmos O tubo para mergulho deve ser
indicados para a máscara: lavar com água doce após comprido, permitir uma boa
o mergulho e secar à sombra. respiração e ser fácil de vazar

Para o mergulhador com escafandro, o modelo de tubo mais conveniente


é o mais simples possível e com as seguintes características:
 Ter diâmetro suficientemente largo (2 cm) para evitar fadiga respiratória.
 Ter cerca de 40cm (maior que o tubo para caça submarina) porque o
peso do escafandro à superfície faz afundar a cabeça.
 Ter perfil direito, para evitar a entrada de água quando está ondulação.

AS BARBATANAS

Fundamentalmente, a barbatana é um prolongamento do membro inferior que


aumenta o poder de propulsão, atuando como se fizesse parte integrante do corpo
do mergulhador.
Depois das primeiras palas de propulsão, criadas por Corlieu em 1920, muitos
modelos foram lançados no mercado. As barbatanas foram alvo de uma grande
evolução e uma crescente especialização para diferentes atividades ou modalidades

Curso de Mergulho CMAS P1 19


MÓDULO 1T2

desportivas, como a natação à superfície, o mergulho livre, o mergulho com


escafandro ou a competição de natação com barbatanas.
As barbatanas são constituídas essencialmente por duas partes: o pé e a pala. O
pé, que pode ter calcanhar fechado ou aberto, normalmente é moldado em diferentes
tipos de material, de modo a ser suave e maleável mas sem perder rigidez estrutural.
A pala poderá ser simples ou ter nervuras intermédias, aberturas, canais ou outros
artifícios que lhe proporcionem estabilidade, flexibilidade e força propulsora.
As características básicas que uma barbatana deve ter são as seguintes:
O plano da pala deve prolongar o eixo da perna e não o eixo do pé.
Deve ter nervuras suficientemente firmes para dar a rigidez necessária
ao conjunto e canalizar os fluxos de água.
A partir destes princípios gerais existe uma enorme gama de
modelos, cujas características e eficácia resultam de diferentes
conceções e detalhes, cada um com as suas vantagens para
utilizações específicas.
O mergulho com escafandro, por exemplo, não requer o
mesmo tipo de barbatana que a natação à superfície. No
meio da massa líquida, a barbatana constitui um importante
ponto de apoio e a sua função na evolução e controlo dos
movimentos é, pelo menos, tão importante, como na
propulsão propriamente dita.
Pelo contrário, na caça submarina, com exceção das breves
apneias onde é fundamental que a propulsão seja feita com o
mínimo esforço, a barbatana deverá assegurar longos trajetos à
superfície.
As barbatanas com calcanhar fechado têm a vantagem de
se adaptar melhor ao pé do mergulhador, formando um
conjunto mais solidário e protegendo-o mais eficazmente,
mas porque são justas apenas permitem o uso de meias
de neoprene finas.
Com botas isotérmicas, mais grossas e com sola de
borracha consistente, torna-se necessária a utilização de
barbatanas sem calcanhar. Têm um desenho de pé
mais largo, a contar com o volume da bota, o
que as torna mais cómodas de calçar e
descalçar.
Também nas As palas podem ser feitas em diversos
barbatanas a materiais (borracha, plástico, fibra de vidro,
variedade é muito fibra de carbono, etc., muitas vezes utilizados
grande. Na impossibilidade
de experimentar deve-se optar por um
em conjunto) e variam em tamanho e dureza.
modelo intermédio, sem pala muito Quanto maiores e mais duras forem, mais
grande nem muito rija água deslocam, tornando a propulsão mais

20 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

rápida, mas mais exigente


fisicamente (exige mais for-
20º
ça das pernas do mergu-
lhador).
Resumindo, a compra de
barbatanas deve ser feita
Para ficar no seguimento da perna, a pala da barbatana deve
com ponderação, tendo em fazer um ângulo de pelo menos 20º com o pé
conta as características
físicas do utilizador e a finalidade da utilização. Não esquecer que não podemos ir
atrás da opinião dos outros, porque uma barbatana que agrada excecionalmente a
uns é completamente inadequada para outros.
É importante para o conforto escolher uma barbatana que tenha a maior área
possível em contacto com o pé do mergulhador, de forma a distribuir melhor o
esforço que lhe é transmitido.
Os cuidados com a manutenção das barbatanas são idênticos aos cuidados a ter
com a máscara e o tubo, com a recomendação especial de armazená-las deitadas
numa superfície plana, para evitar a deformação da pala.

A escolha das barbatanas depende não só da experiência adquirida mas


também das aptidões físicas do mergulhador. A dureza das barbatanas
não de ve ser excessiva, de forma a cumprir os seguintes requisitos:
 Não ferir os pés.
 Não exigir esforço exagerado.
 Não se tornar dolorosa durante uma utilização prolongada.
 Estar adaptada ao tipo de atividade praticada.

A PROTEÇÃO DO MERGULHADOR

Resolvidos os primeiros problemas de adaptação do ser humano ao meio aquático


(visão, respiração e locomoção), um outro se apresenta, este relacionado com a
temperatura ambiente.
Não será correto falarmos na temperatura da água sem referir a sua grande
condutibilidade térmica comparada com a do ar. Na realidade, a água conduz
aproximadamente 25 vezes mais calor do que o ar à mesma temperatura. Ou seja,
a água absorve muito rapidamente o calor dos corpos nela mergulhados. Além disso,
as grandes massas de água têm uma incomensurável capacidade de armazenamento
do calor.
Isto significa que um indivíduo, sem roupa, arrefece muito mais rapidamente se
estiver mergulhado em água à temperatura de 25ºC, do que se estiver exposto ao ar
à mesma temperatura.

Curso de Mergulho CMAS P1 21


MÓDULO 1T2

A solução para o problema é a utilização de roupa de proteção térmica (fato


isotérmico, luvas e meias ou botas), que isole a pele do contacto com a massa de
água, reduzindo substancialmente a perda calórica.
Outra função não menos importante da roupa isotérmica é a proteção contra a
ação abrasiva e cortante das rochas e o contacto com espécies marinhas urticantes
ou venenosas.
No entanto, é preciso não esquecer que este tipo de roupa não protege de
qualquer tipo de poluição. O mergulho em águas poluídas só deve ser feito com
fatos concebidos para esse efeito.

O FATO ISOTÉRMICO

A maior parte dos fatos isotérmicos são feitos de neoprene (espuma de borracha),
um material com grande poder isolante. Há fatos com diferentes espessuras (desde
1,5mm até 7 mm ou mais), podendo ser forrados no interior e no exterior com um
tecido sintético, normalmente nylon ou lycra. O forro interno tem a função de os
tornar mais confortáveis a vestir e despir e o forro externo serve para os tornar mais
resistentes à abrasão.
O neoprene é uma espuma formada por pequenas células fechadas e cheias de
gás. Trata-se, portanto, de um material cujo peso é extraordinariamente
baixo em relação ao volume, o que lhe confere um poder de flutuação
muito elevado. Quanto maior for a espessura do neoprene maior
será a proteção contra o frio, mas, consequentemente, maior
será também o seu poder de flutuação.
Existem basicamente três tipos de fatos isotérmicos para
mergulho: os “fatos húmidos”, os “fatos semi secos” e os
“fatos secos”.
FATOS HÚMIDOS - Permitem a entrada de uma pequena
quantidade água, que se instala entre o neoprene e a pele do
mergulhador e é rapidamente aquecida. A eficácia do fato é
tanto maior quanto mais evitar a entrada de nova água fria.
Portanto, o fato deve funcionar como uma segunda pele (justo,
mas não apertado), evitando a circulação da água no seu interior
e não permitindo a rápida renovação da película de água
aquecida pelo corpo.
Este tipo de fato existe no mercado em modelos para todos
os gostos e tipos de utilização: pode ser de peça única ou
de várias peças, com ou sem capuz, com ou sem fechos,
pode ter ou não vedantes nos pulsos e tornozelos e ser
Fato húmido de duas
peças, com fecho, um tipo feito em neoprene com diferentes espessuras,
de fato muito popular densidades e padrões.

22 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

Ao escolher um fato húmido é necessário experimentá-lo. O tama-


nho é importante, não pode ser pequeno, para não ficar apertado, e
não deve ser grande para que não se formem bolsas de água entre
o fato e a pele, o que prejudica o isolamento térmico.
Para águas tropicais, onde a temperatura é mais elevada, além
dos fatos de neoprene fino, existem também fatos em materiais
sintéticos (Lycra, Darlexx, etc.). Este tipo de materiais não tem a
flutuabilidade do neoprene e também não tem a mesma
capacidade isolante. São fatos que permitem uma grande liberdade
de movimentos ao mergulhador, providenciando alguma proteção
térmica e são uma boa proteção da pele contra contatos
indesejáveis.
FATOS SEMI-SECOS - São na verdade fatos húmidos (não
são 100% estanques) de uma peça, a que são aplicados alguns
atributos usados nos fatos secos, nomeadamente um fecho
estanque, de forma a reduzir ao mínimo a entrada de água.
Também este tipo de fato deve assentar como uma segunda
pele (justo, mas não apertado) para ter o máximo de eficácia.
FATOS SECOS - são completamente estanques. Têm O fato semi-seco é bem
vedantes elásticos no pescoço e pulsos, o fecho é estanque adaptado à temperatura
e as botas fazem parte do fato. Desta forma, o corpo das nossas águas
mantém-se seco, dentro de uma almofada de ar.
Através de uma mangueira, ligada a uma saída de baixa
pressão do 1º andar do regulador, é possível injetar ar
no fato de forma controlada. Isso permite compensar a
diminuição de volume interno do fato devido ao aumento
de pressão, impedindo assim que o tecido do fato se
comprima contra a pele e se torne desconfortável.
Da mesma forma que a água não entra, também o ar não
sai. Por isso estes fatos possuem uma válvula de descarga
automática, calibrada para uma determinada pressão, que
permite controlar a quantidade de ar no interior do fato. A
válvula permite também que o ar em excesso seja purgado
em caso de erro ou defeito na válvula injetora, evitando
assim um enchimento anormal do fato.
Os fatos secos podem ser feitos em neoprene, ou em
materiais com pouca proteção térmica. Neste caso torna-
se necessário vestir por dentro um macacão de flanela
(ou qualquer outra roupa quente).
Estes fatos são bastante mais caros que os fatos húmidos, Fato seco, a solução
requerendo maior cuidado na sua conservação. indicada para os mais
Os cuidados básicos na manutenção do fato isotérmico friorentos

Curso de Mergulho CMAS P1 23


MÓDULO 1T2

são os habituais: passar por água doce e secar à sombra. O fato deve ser armazenado
sem ser dobrado, para evitar que os vincos no neoprene esmaguem as pequenas
células, o que reduz o poder isolante. O ideal é guardá-lo pendurado num cabide
não metálico e de apoio largo, tendo em atenção que os fechos devem ser
particularmente bem lavados para retirar todo o sal que eventualmente contenham.

LUVAS, MEIAS E BOTAS ISOTÉRMICAS

Tal como o resto do corpo, se as mãos estão em contacto


direto com a água ficam sujeitas a elevadas perdas calóricas
e em água fria facilmente ficam dormentes e sem
sensibilidade. Nestas circunstâncias, rapidamente se torna
difícil manusear o equipamento ou efetuar manobras como
a compensação dos ouvidos, o que pode afetar a segurança
do mergulhador. Além disso, as mãos desprotegidas estão
sujeitas à ação abrasiva das rochas e às agressões da fauna
marinha.
Por isso, é importante utilizar luvas de proteção, qualquer
que seja o tipo de mergulho. As luvas de neoprene forradas a
nylon, são uma boa proteção contra o frio e as agressões
exteriores. Em águas quentes podem utilizar-se luvas não As luvas deverão ser
isolantes, apenas para proteção das agressões exteriores. confortáveis e permitir um
Há uma enorme variedade de modelos de luvas, mas a bom manuseamento dos
instrumentos
sua escolha deve basear-se no conforto e facilidade de
movimentação dos dedos. Tal como o fato isotérmico deverão estar
justas mas não apertadas, o que as tornariam incómodas e
eventualmente reduziriam a circulação nas extremidades. A sua
manutenção é igual à recomendada para o fato isotérmico.
Com os pés passa-se o mesmo que com as mãos, com uma
agravante: como não estão visíveis como as mãos, os
pés são muito mais vulneráveis ás agressões externas.
Além disso, com o frio e a perda de sensibilidade
dos pés, a locomoção torna-se menos eficiente e por
vezes dolorosa.
O uso de meias ou botas isotérmicas também torna
As meias
permitem usar barbatanas mais confortável a utilização das barbatanas, porque evitam
de calcanhar fechado a sua fricção contra a pele, protegendo-a contra possíveis
esfoladuras.
Enquanto que as meias são feitas só de neoprene, as botas têm uma sola
consistente, por vezes antiderrapante, que lhes aumenta a resistência e permite
uma utilização confortável em terra, sobretudo quando é preciso caminhar sobre

24 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

rochas irregulares e com bicos.


Tal como as luvas, existe uma enorme variedade
de modelos de meias e botas, devendo a sua escolha
basear-se no conforto. Tal como o fato
isotérmico, deverão estar justas mas não
apertadas, o que as tornaria incómodas e
eventualmente reduziria a circulação nas
extremidades.
Há modelos com fecho rápido lateral, outros
modelos com “velcro”, muito confortáveis a calçar e
descalçar, mas com o inconveniente de deixarem
As botas são mais robustas mas
entrar mais água do que os modelos sem fecho. A só podem ser usadas com
sua manutenção é igual à recomendada para o fato barbatanas de calcanhar aberto
isotérmico.

O CINTO DE LASTRO

Para compensar o grande poder de flutuação do fato isotérmico e permitir que o


mergulhador encontre um equilíbrio perfeito na água (equilíbrio hidrostático), utiliza-
se um cinto de lastro, onde são colocados pesos de chumbo. Este material tem um
elevado peso em relação ao volume, ao contrário do que acontece com o neoprene
do fato.
Há outros sistemas de lastragem do mergulhador, nos quais o chumbo se encontra
instalado em bolsas especiais no colete de mergulho, mas deste sistema falaremos
mais adiante, no módulo destinado a este equipamento.
A característica principal de um cinto de lastro é ter uma fivela segura e de
abertura rápida. A fivela tem que ser fácil de abrir só com uma mão; tem que
abrir só quando o mergulhador necessitar; tem que permitir o ajuste do
cinto de uma forma simples durante o mergulho.
Os pesos utilizados têm a forma de malhas com valores diversos (0,5kg, 1kg, 2kg,
etc.) de modo a conseguir-se a lastragem correta. O lastro também pode ser formado
por granalha (grãos de chumbo).
O cinto pode ser em fibra têxtil, de nylon, de borracha, ou de qualquer outro
material, mas não deve permitir que os pesos escorreguem facilmente da sua posição,
para não alterar as condições de flutuabilidade do mergulhador. Para evitar este
A fivela tem
obrigatóriamente
de permitir
abertura rápida
com uma só mão e
tem de ser segura
(não abrir
involuntáriamente)

Curso de Mergulho CMAS P1 25


MÓDULO 1T2

inconveniente, existem dispositivos para fixar a


posição das malhas de chumbo.
Também há cintos de lastro com bolsas, onde
se introduzem as malhas de chumbo ou a granalha.
O lastro de granalha permite uma distribuição mais
homogénea e mais confortável do peso em redor da
cintura do mergulhador. Normalmente, estes cintos são
em neoprene ou tela de nylon, e as bolsas são fechadas
Os pesos podem
com “velcro” ou fecho rápido (zip/éclaire). ser malhas de chumbo ou
O cinto de lastro não deve ser atirado pacotes de granalha
descuidadamente para o chão, para evitar
que as malhas de chumbo sofram deformações que as impeçam
de ser retiradas em caso de necessidade.
Tal como o restante equipamento, após o
mergulho, deve ser lavado com bastante
água doce para retirar o sal que se
Os cintos com entranha na textura da precinta e que
bolsas permitem usar tanto lhe irá reduzir a duração (sobretudo nas
malhas como granalha de chumbo precintas de fibras têxteis)

EQUIPAR PELA SEQUÊNCIA CORRETA

Ainda que cada mergulhador possa colocar o seu


equipamento pela ordem que bem lhe aprouver,
a sequência mais lógica a ser seguida, de modo
a racionalizar os procedimentos, é a seguinte:
 Fato

 Meias/botas

 Instrumentos

 Barbatanas

 Cinto de lastro

 Escafandro (colete/garrafa/

regulador)
 Máscara/tubo

 Luvas
Esta sequência pode ser alterada em função
das condições existentes no momento.

Organizar a sequência de equipar


e desequipar é muito útil para
evitar esquecimentos e não criar
o caos a bordo

26 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T2

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa)

1º) O rebordo interior da máscara tem por finalidade:


a) Torná-la estanque
b) Aumentar a sua duração
c) Torná-la indeformável
d) Melhorar a sua aderência à face

2º) A ausência do rebordo interior da máscara sob o nariz desti-


na-se.
a) A permitir o uso do bigode
b) A permitir que a água seja expulsa mais facilmente
c) A permitir que se adapte melhor à face
d) Todas as respostas estão corretas

3º) As máscaras adequadas ao mergulho são as que mantêm o nariz


em contacto com a água.
a) Verdadeiro
b) Falso

4º) O tubo é uma peça do equipamento não essencial ao mergulhador


de escafandro.
a) Verdadeiro
b) Falso

5º) O diâmetro ideal para o tubo utilizado no mergulho é três


centímetros.
a) Verdadeiro
b) Falso

6º) Se o tubo for muito comprido aumenta a dificuldade respiratória


devido às deficientes trocas gasosas.
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 27



MÓDULO 1T2

QUESTIONÁRIO

7º) O diâmetro do tubo está relacionado com:


a) O seu comprimento
b) A maior dificuldade em expulsar a água
c) O aumento da resistência à deslocação do mergulhador na água
d) Todas as respostas estão corretas

8º) Um dos princípios básicos na construção duma barbatana é:


a) O seu comprimento
b) O plano da pala deve prolongar o eixo do pé do mergulhador
c) As nervuras devem ser suficientemente rígidas para dar a rigidez
necessária à barbatana
d) Todas as respostas estão corretas

9º) As barbatanas com calcanhar devem utilizar-se de preferência com:


a) Meias de neoprene
b) Botas com sola rígida
c) O fato seco
d) Nenhuma resposta está correta

10º) Qualquer modelo de barbatana é bom para qualquer mergulhador:


a) Verdadeiro
b) Falso

11º) Um indivíduo na água, sem qualquer tipo de proteção,


arrefece muito mais rapidamente que em contacto com o ar.
a) Verdadeiro
b) Falso

12º) O fato isotérmico “tipo húmido” não deixa entrar água.


a) Verdadeiro
b) Falso

13º) O fato isotérmico deve ser escolhido de modo a ficar.


a) Apertado
b) Justo
c) Largo

28 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T2

QUESTIONÁRIO

14º) As proteções térmicas utilizadas pelo mergulhador são:


a) O fato isotérmico
b) As luvas
c) As botas
d) As meias
e) Todas as respostas estão corretas

15º) O melhor lugar para secar o fato, a máscara, o tubo, as luvas e


as botas é ao sol.
a) Verdadeiro
b) Falso

16º) O cinto de lastro serve para o mergulhador:


a) Ir rapidamente para o fundo
b) Encontrar o seu equilíbrio hidrostático
c) Não se virar de barriga para cima
d) Todas as respostas estão corretas

17º) Uma das condições a que deve obedecer a fivela dum cinto de
lastro é:
a) Ser de aço inoxidável
b) Só abrir quando o mergulhador necessitar
c) Poder ser utilizada com qualquer tipo de cinto
d) Nenhuma resposta está correta

18º) O cinto de lastro é a última peça do equipamento a ser envergada


pelo mergulhador:
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 29



30 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T3

EQUIPAMENTO DE MERGULHO DIVERSO

TÓPICOS

 Instrumentos. Profundímetro, relógio, termómetro, bússola, manómetro


de alta pressão, computador de mergulho. A consola de instrumentos.
 Equipamento de segurança. Faca, sinalização sonora, boia de patamar,
bóia de superfície.
 Acessórios. Placa para escrever, lanterna, saco para o equipamento.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Quais os instrumentos fundamentais para o mergulho e como utilizá-los.


√ Quais são os principais tipos de profundímetros.
√ Como é constituída uma bússola, como funciona e como utilizá-la.
√ Que função tem o manómetro de alta pressão, como está graduado e
como se utiliza.
√ Interpretar e respeitar as indicações fornecidas por um computador de
mergulho.
√ Que características deve ter a faca de mergulho qual a utilidade deste tipo
de instrumento.
√ Para que serve e em que condições se deve utilizar uma boia de superfície
√ Em que situações se pode usar a bóia de patamar e que cuidados ter na
sua utilização.
√ Como fazer a manutenção do equipamento.
√ Funções da lanterna em mergulho.

Curso de Mergulho CMAS P1 31


MÓDULO 1T3

O PROFUNDÍMETRO

O profundímetro é um aparelho que mede a pressão a que


está submetido, dando a indicação da profundidade a que se
encontra. É um aparelho essencial para o mergulhador, pois
permite que este controle a profundidade a que está ao longo
da imersão.
Existem basicamente três tipos de profundímetro: os de tubo
capilar, os de tubo Bourdon e os eletrónicos. Profundímetro de
tubo capilar
Embora atualmente caído em desuso, o mais simples e barato
é o de tubo capilar, que no entanto dá leituras muito precisas em
pequenas profundidades. A água entra pela extremidade de um tubo capilar
transparente e a profundidade é indicada à medida que a linha de água se desloca
dentro do tubo, ao longo da escala das profundidades. A graduação é muito espaçada
no início (os primeiros 10m ocupam metade da escala) mas vai-se comprimindo
gradualmente, de modo que a precisão vai diminuindo à medida que a profundidade
aumenta.
Os profundímetros mecânicos de tubo Bourdon, embora sem a mesma precisão
nos primeiros metros, têm a vantagem de ser mais preciso a maiores profundidades.
Nestes equipamentos a profundidade é indicada por um ponteiro, que se desloca
sobre uma escala que pode ter graduação uniforme ou de evolução exponencial. Em
viagens de avião sem cabina pressurizada, estes profundímetros devem ser
transportados numa caixa estanque, porque podem ser danificados.
Os profundímetros digitais, de conceção eletrónica, são muito
precisos a qualquer profundidade, e a indicação da profundidade é
lida num mostrador digital. Os profundímetros deste tipo memorizam
os dados dos últimos mergulhos, nomeadamente a profundidade
máxima atingida durante o mergulho, o tempo de permanência no
fundo, a temperatura, se a velocidade de subida foi respeitada, o
intervalo de tempo entre mergulhos, a maior profundidade
registada pelo aparelho, entre outras informações.
Embora estes aparelhos avisem quando a
bateria começa a estar
fraca, há que ter em
atenção o nível da
carga da bateria,
para não termos a
desagradável sur-

Profundímetros de tubo
Bourdon (de pulso) e
profundímetro digital (em consola)

32 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

presa de ficarmos sem qualquer tipo de informação durante o mergulho.


Sendo a profundidade uma das informações fundamentais para o mergulhador, o
profundímetro não deve ser utilizado como simples objeto de adorno, mas sim para
ser lido com alguma frequência.
Este aparelho pode ser usado no pulso, como qualquer relógio, ou instalado numa
consola de múltiplos instrumentos.

O RELÓGIO

O relógio para mergulho deve ser não apenas à prova de água,


mas resistente às altas pressões a que irá ser submetido (verificar
para quantas atmosferas de pressão está garantido).
O que caracteriza um relógio para mergulho é possuir uma
coroa móvel graduada em minutos, cujo zero deverá ser colocado
em frente do ponteiro dos minutos no início do mergulho. O
tempo de mergulho é indicado na coroa pelo ponteiro dos
minutos.
Esta coroa só deve rodar no sentido contrário ao dos ponteiros do
relógio, para que nunca indique acidentalmente um tempo de
O relógio é
imersão inferior ao real. Alguns modelos têm mesmo um travão fundamental no
para impedir que a coroa saia da posição em que foi colocada no mergulho
início do mergulho.
Atualmente, com o desenvolvimento da microeletrónica, utilizam-
se cada vez mais os relógios digitais que incluem funções relacionadas
com o mergulho, nomeadamente as funções de profundímetro.
O relógio deve ter uma conservação muito cuidada. Deve ser
muito bem lavado com água doce no final do mergulho e, pelo
menos uma vez por ano, deve ser levado ao relojoeiro para
limpeza, lubrificação e substituição das juntas tóricas e da pilha
(se necessário), e ser verificada a sua estanquecidade.
O aparecimento de condensação interior no vidro é sinal de
humidade interna, sinal de que há qualquer entrada de água, pelo
que é conveniente levar o aparelho a um técnico para ser visto.
Em substituição dos relógios tradicionais, no início dos anos Relógio com
80 apareceram os cronómetros eletrónicos de mergulho computador de
(bottom timer). Estes cronómetros têm um sensor de pressão e mergulho
iniciam a contagem do tempo quando se inicia a descida (a 1m
de profundidade), parando quando atinge de novo a superfície. Os cronómetros
de mergulho praticamente desapareceram de cena com a chegada dos
profundímetros digitais e dos computadores de mergulho.

Curso de Mergulho CMAS P1 33


MÓDULO 1T3

O TERMÓMETRO

Ainda que não seja indispensável ao mergulhador, a utilização do termómetro


não é supérflua, pois a temperatura da água é uma informação com interesse para o
mergulhador. Se sentir frio durante um mergulho pode saber se é originado pela
baixa temperatura da água ou por um problema de saúde.
Normalmente o termómetro é instalado na pulseira do relógio ou do profundímetro
ou então é montado na consola de instrumentos. Atualmente existem computadores
e profundímetros que indicam a leitura da temperatura.

A BÚSSOLA

É um instrumento que permite seguir uma determinada direção quando não se


tem pontos de referência, por exemplo, quando se mergulha em águas muito turvas,
ou quando se efetuam mergulhos de noite. Serve também para posicionar locais de
mergulho, tirando azimutes para pontos fixos e destacados em terra.
Na forma tradicional, a bússola é constituída por uma agulha magnética móvel,
que roda sobre um quadrante graduado em graus e se posiciona sempre no sentido
Norte-Sul. Na maioria das versões náuticas, em vez de uma agulha móvel é o quadrante
que é móvel e está solidário com um magneto (íman), posicionando-se sempre
corretamente em relação aos pontos cardeais.
Este quadrante encontra-se dentro de uma caixa selada cheia
de líquido para amortecer as oscilações e os choques. Na caixa
está desenhada uma linha que passa pelo eixo do quadrante, a
linha de fé, que é utilizada para indicar o rumo (direcção) a
seguir. Quanto mais comprida for a linha de fé mais fácil é
seguir o rumo correto.
As bússolas utilizadas no mergulho são quase todas do
Bússola de mergulho.
segundo tipo, apresentando diferentes configurações,
É bem visível a linha de podendo o quadrante graduado ter a forma de disco ou
fé e a coroa móvel calote, mais ou menos esférica, e permitindo diferentes
formas de leitura.
Quase todas as bússolas para mergulho possuem uma coroa
móvel graduada, que permite memorizar o rumo pretendido,
fazendo coincidir o zero da coroa com o Norte do quadrante.
Torna-se assim muito fácil seguir o rumo desejado, mantendo
a agulha nessa posição.
A bússola pode ser usada no pulso ou montada na consola.
Muitas bússolas têm uma
Há também quem fixe a bússola na placa para escrever,
janela para facilitar a onde pode registar a sequência de rumos a seguir.
leitura de azimutes É fundamental que a bússola seja utilizada afastada de

34 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

massas magnéticas, para não dar leituras erradas. A bússola também


não deve ser guardada perto de massas magnéticas ou de campos
eletromagnéticos, que podem provocar alterações no seu
magnetismo.
Atualmente existem bússolas eletrónicas. Neste tipo
de aparelho o quadrante aparece representado no
mostrador e a indicação do rumo é digital.
Estas bússolas não têm coroa móvel,
mas em contrapartida memorizam
A bússola
um número apreciável de rumos pode ser usada na
previamente planeados que o consola
mergulhador vai ativando ao longo do percurso
efetuado.
A utilização da bússola é explicada no módulo sobre Navegação
Subaquática, do Curso CMAS P2, ou, de uma forma mais
aprofundada, no curso de Navegação Subaquática. Este curso
A bússola eletrónica de especialização pode ser frequentado pelo mergulhador
permite memorizar
vários rumos
CMAS P1.
No fim de cada mergulho, tal como qualquer equipamento, a
bússola deve ser lavada com água doce e seca à sombra ou com um pano e guardada
em local adequado.

O MANÓMETRO DE ALTA PRESSÃO

O manómetro de alta pressão serve para medir a pressão do ar, ou outro tipo de
mistura gasosa, dentro da garrafa de mergulho.
Existem dois tipos de manómetros: o manómetro de superfície (não estanque),
destinado a medir a pressão da garrafa à superfície, e o manómetro de mergulho
(estanque), que indica qual a pressão do ar existente na garrafa durante o
mergulho.
O manómetro de mergulho é um instrumento obrigatório para o
mergulhador, pois permite-lhe controlar a quantidade de ar que tem
na garrafa, de modo a poder regressar à superfície antes do ar terminar.
Tal como os outros instrumentos atrás descritos, o manómetro de
mergulho é um sistema de controlo passivo. Isto significa que o
mergulhador deve ter o hábito de o consultar regularmente.
Nos manómetros mecânicos convencionais a pressão é indicada por
um ponteiro que se desloca sobre um mostrador circular, graduado
em bar ou em kg/cm2 ou em PSI (libras/polegada quadrada).
Normalmente o mostrador tem o sector entre os 0 e os 50 bar Manómetro
pintado de vermelho. Quando o ponteiro entra neste sector diz-se de superfície

Curso de Mergulho CMAS P1 35


MÓDULO 1T3

que o mergulhador entrou na reserva. Isto significa que o mergulho está no fim
devendo iniciar-se imediatamente o regresso à superfície.
O manómetro de mergulho é ligado, através de uma mangueira
especial, à saída de alta pressão (HP) do 1º andar do regulador,
medindo a pressão no interior da garrafa assim que a torneira é
aberta.
Esta mangueira deve ser tratada com cuidado para evitar a
deterioração, tal como as juntas tóricas que vedam a ligação entre
a mangueira e o manómetro, que devem ser mantidas limpas e
bem lubrificadas. Atenção à areia que se pode colar às juntas
tóricas, pois é meio caminho andado para a sua destruição.
Ao contrário do que se possa pensar, a rutura da
mangueira de alta pressão não é perigosa nem provoca
um rápido esvaziamento da garrafa. Na realidade, o
diâmetro da saída de alta pressão no primeiro andar do
regulador é micrométrico e deixa escapar uma reduzida
quantidade de ar, precisamente para que em caso de
seccionamento a mangueira não dê chicotadas ao deixar
sair o ar.
Atualmente existem manómetros de mergulho eletrónicos, que
apresentam o valor da pressão num mostrador digital. Além da
representação numérica, normalmente o valor da pressão é também
representado graficamente por uma coluna, onde está assinalada a
Manómetros de
zona de reserva.
mergulho. São estes Como está preso ao escafandro pela mangueira, o
aparelhos que servem manómetro de mergulho é o aparelho que serve de suporte
de suporte às consolas quando se instala uma consola de instrumentos.

O COMPUTADOR DE MERGULHO

Descendente dos decompressímetros, podemos dizer que o computador de


mergulho se comporta como uma “calculadora de tabelas”. Basicamente, o
computador de mergulho reúne as funções de profundímetro, relógio e tabela de
mergulho e está permanentemente a medir a profundidade, a contar o tempo de
mergulho e a fazer os cálculos de acordo com o algoritmo em que se baseia a tabela
(ver Módulo 1T13 - Tabelas).
Com os avanços da eletrónica, para além das indicações fundamentais durante o
mergulho, os computadores de mergulho reúnem todas as funções já encontradas
nos profundímetros eletrónicos e ainda mais algumas outras indicações, como o
tempo de espera para poder voar, avisos sonoros, bloqueio dos dados quando há
erro grosseiro que configure perigo de acidente, etc.

36 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

Os modelos mais recentes permitem a ligação a um computador pessoal,


transmitindo todos os dados armazenados durante o mergulho, permitindo analisar o
perfil do mergulho realizado. Um conjunto de informações que simplificam
grandemente a tarefa dos mergulhadores.
Existe no mercado um tão elevado número de fabricantes e de modelos de
computadores que diferem entre si, quer na apresentação, quer nas informações
que fornecem, que seria exaustivo estar a descrever cada um deles.
É muito importante ler cuidadosamente o manual de instruções que é fornecido
com cada aparelho antes da sua utilização, uma vez que a manipulação, as funções
e a leitura das informações no painel, normalmente, divergem de modelo para
modelo. É necessário ter também muita atenção ao estado da bateria (aviso de
bateria fraca) para não correr o risco de comprometer um mergulho.
As seguintes funções são essenciais para o mergulhador:
 Profundidade a cada instante do mergulho.

 Profundidade máxima atingida.

 Tempo de mergulho decorrido até um

determinado momento.
 Tempo total do mergulho.

 Tempo de mergulho disponível, sem

paragens obrigatórias de descompressão.


 Alarme ao desrespeitar a velocidade de

subida.

Alguns computadores da geração mais recente permitem


também fazer a gestão do ar disponível, indicando:
 A pressão do ar dentro da garrafa. O computador
 O consumo de ar do mergulhador. fornece todos os
dados essenciais à
 O tempo de mergulho disponível, em função do ar.
gestão do mergulho

Há ainda outras informações disponibilizadas pelo aparelho


depois de finalizado o mergulho:
 O intervalo de superfície.

 O tempo de espera até poder voar.

 O tempo que falta para o utilizador atingir o estado

normal de saturação de azoto.


 O limite de tempo e profundidade num mergulho

sucessivo, em função do intervalo de superfície (no


Modulo 1T13 - Tabelas, será esclarecido o significado
destas funções). Há computadores que
Com um leque tão grande de informações fundamentais também permitem
para a segurança do mergulhador, o computador é um fazer a gestão do ar

Curso de Mergulho CMAS P1 37


MÓDULO 1T3

instrumento precioso, pelo que o seu utilizador deve ter o hábito de o consultar
com alguma frequência, tal como se disse para os outros instrumentos.
Tal como os restantes aparelhos, o Computador de Mergulho pode ser usado
no pulso ou instalado numa consola, conjuntamente com outros instrumentos.
Sendo um aparelho de precisão deve ser tratado com o maior cuidado, devendo
ser protegido dos choques, quedas ou qualquer outra agressão mecânica. O
computador deve ser lavado em água doce no final de cada mergulho, seco com um
pano e guardado em sítio seguro.

O computador é um objecto pessoal, que não deve ser emprestado após


ter sido utilizado
O mergulhador deve levar sempre as tabelas, para não ser apanhado
desprevenido em caso de falha do computador

A FACA

A faca não é utilizada no mergulho como arma mas sim como um instrumento
para cortar um cabo ou uma rede, para bater na garrafa para chamar a atenção do
companheiro, para fazer marcas, etc. A sua utilização nunca deverá provocar danos
na vida marinha.
Face aos diversos fins a que se destina, a lâmina da faca deve ser forte e em aço
inoxidável. O punho deve ser robusto, adequado ao tamanho da lâmina e anatómico,
de modo a dar segurança quando a faca está a ser utilizada.
A faca pode ser de um ou dois gumes (punhal). A opção por uma faca com um
gume e um lado espesso é preferível, por este tipo de faca ser
mais versátil.
No entanto, seja qual for o modelo escolhido, um dos
lados deve ter uma serrilha longa e afiada, capaz de cortar
um cabo. O gume também deve ser bem
afiado, de modo a cortar facilmente linhas
de pesca ou redes.
Normalmente a bainha da faca é presa
na perna ou no colete de mergulho,
permitindo um acesso fácil e cómodo.
Em alternativa ou complemento da faca,
também existem tesouras para mergulho,
concebidas para cortar redes e cabos de
Seja qual for o modelo escolhido, a lâmina pequena bitola. São instrumentos muito
deve ter uma serrilha longa e afiada eficazes, com a vantagem de funcionarem

38 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

bem apenas com uma mão disponível.


Ainda que feitos de material inoxidável, com o tempo e
uma deficiente conservação estes instrumentos começam
a adquirir ferrugem. Esta degradação pode ser evitada
se no final de cada mergulho estes instrumentos
forem lavados com água doce e bem secos antes de
serem guardados. A faca, ou punhal, deve
guardar-se sempre dentro da bainha. A tesoura é um eficaz substituto da faca

EQUIPAMENTO DE SINALIZAÇÃO SONORA

À superfície o mais barato equipamento de


sinalização sonora, mas também o que apresenta
resultados mais fracos, é o vulgar apito.
Os restantes equipamentos são normalmente
montados na mangueira de enchimento do colete
de mergulho, e funcionam com o ar proveniente do
1º andar do regulador. Estes dispositivos têm um som
muito forte e com grande alcance. Enquanto alguns
só funcionam à superfície, outros também funcionam
debaixo de água .
O chamamento sonoro debaixo de água faz-se
basicamente por percussão. A forma mais simples é
bater com o cabo da faca na garrafa. No entanto o
mercado está cheio de sistemas, mais ou menos
imaginativos, de produzir sons de chamamento
subaquático. A maraca, por exemplo, consiste num
cilindro de alumínio cheio de esferas
de aço. Ao agitar a maraca, o som
produzido pelas esferas é
suficientemente forte para ser
ouvido por outros mergu- Alguns sistemas sonoros
lhadores até aproximadamente funcionam dentro e fora de água
10m de distância.
Outro dispositivo muito simples é uma peça de plástico
rígido preso a um elástico colocado à volta da garrafa. Para
chamar a atenção, o mergulhador puxa a peça esticando o
elástico e larga-a de encontro à garrafa. A pancada da esfera
na garrafa produz um som forte, como uma martelada, audível
Maraca e peça de pelos mergulhadores a razoável distância.
plástico com elástico Este sistema, tal como bater com a faca na garrafa, só é

Curso de Mergulho CMAS P1 39


MÓDULO 1T3

eficaz se a garrafa não estiver protegida por uma rede ou outro tipo de capa.
A manutenção destes equipamentos segue os preceitos indicados para os
equipamentos anteriores: lavar com água doce, secar e guardar em local protegido.

Os sinais sonoros dentro de água não devem ser utilizados levianamente

A BOIA DE SUPERFÍCIE

É fundamental que um mergulhador imerso esteja devidamente sinalizado à


superfície, para que quem navega (barcos, pranchas de wind-surf, motos de água,
etc.) conheça a sua localização e não lhe passe por cima.
Esta sinalização de superfície é, em princípio, a garantia da segurança do
mergulhador. Todavia, o desconhecimento e a incúria de muitos
utilizadores do mar deve levar o mergulhador a ter uma
atenção redobrada a todos os sinais de perigo à superfície.
A boia de superfície pode ser esférica ou cilíndrica, de cor
amarela, laranja ou vermelha, com o volume mínimo de 10l,
arvorando a bandeira A do Código Internacional de Sinais (CIS).
O significado desta bandeira é “mergulhador na água;
mantenha-se afastado e navegue a baixa
velocidade”.
A boia deve estar ligada a cerca de 20m
de cabo de pequena bitola e deverá ser
A boia de
rebocada pelo mergulhador, ou presa ao fundo.
superfície pode ser
esférica ou cilíndrica Neste caso, o mergulhador não se deve afastar mais
de 50m do local onde deixou presa a extremidade do cabo,
mantendo-se assim a sua posição referenciada à superfície. É
conveniente ter um carreto para enrolar o cabo da boia, de
modo a que não se embarace no mergulhador.
Quando se mergulha a partir de uma embarcação, esta
deve ter içada a bandeira A do CIS a uma altura suficiente
para ser visível a 100m de distância.
A Divers Alert Network (DAN) lançou uma campanha de
segurança com uma imagem bastante sugestiva referente
à distância de resguardo a manter em relação ao
mergulhador. A FPAS fez chegar esta campanha à Direção
Geral de Marinha e Capitanias, solicitando a sua divulgação
junto das autoridades marítimas, portos, marinas, clubes A distância de resguardo
náuticos e outras instituições. deverá ser de 50m

40 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

PLACA PARA ESCREVER

Este utensílio simples é muito útil para o mergulhador se fazer entender debaixo
de água, de uma forma fácil e eficaz. Permite ainda “anotar” ou “desenhar” aquilo
que lhe chamou a atenção e que lhe interessará recordar mais tarde.
Uma placa de plástico branco (baço de preferência), presa ao colete ou guardada
num dos bolsos, e um lápis macio atado à placa (enfiado num tubo plástico para não
se abrir com a água) é quanto basta.

A LANTERNA

É um equipamento de grande utilidade no


mergulho. Para além de permitir inspecionar
buracos com pouca luz, reproduz as cores que se
foram perdendo com a profundidade (ver Módulo 1T8 –
Seja grande
Física). Naturalmente, é indispensável para mergulhar à ou pequena,
noite. é importante que a
Estas lanternas são semelhante às lanternas utilizadas à lanterna dê boa luz
superfície, com a diferença de serem estanques, mesmo às
pressões elevadas a que são submetidas.
No fim do mergulho, depois de lavado o equipamento, é importante
abrir a lanterna e retirar as pilhas ou baterias. O estado das pilhas ou baterias
deve ser vigiado com frequência, não só para evitar danos na lanterna, mas
também para que não falte a carga durante um mergulho.

A BOIA DE PATAMAR

Esta boia destina-se principalmente a sinalizar o mergulhador durante a


subida, quando não está agarrado a um cabo de subida e não tem boia de
superfície.
Este equipamento exige cuidados especiais na sua utilização, podendo
causar embaraços ao mergulhador menos experiente. Por isso o mergulhador
de CMAS P1 só deverá utilizá-lo como boia de sinalização, depois de ter
chegado à superfície.
A boia de patamar normalmente é vermelha ou laranja e de forma
cilíndrica, com um comprimento entre 150cm e 220cm e cerca de 15cm
de diâmetro, e tem preso um cabo com seis metros de comprimento. O
conjunto é transportado numa pequena bolsa que pode ser levada no
bolso do colete. A boia é aberta numa extremidade, por onde o Bóia de
mergulhador introduz ar, colocando o bocal do regulador por baixo e patamar

Curso de Mergulho CMAS P1 41


MÓDULO 1T3

em débito continuo. A boca da boia tem uma cintura de chumbo para ajudar a
manter a posição vertical, onde está preso o cabo.
Depois de cheia, a boia é largada para a superfície onde emerge na sua quase
totalidade. O mergulhador mantém o cabo em tensão para que a boia não se deite,
para não perder ar e para ser mais visível. Atualmente existem boias de patamar cuja
construção elimina o perigo de perderem o ar caso fiquem deitadas.

O SACO DE EQUIPAMENTO

Com tantas peças de equipamento, o mergulhador precisa de ter uma forma de


as arrumar e transportar.
Existe no mercado um sem número de modelos de sacos para o equipamento de
mergulho, feitos de variadíssimos materiais e de todas as formas, cores e feitios. A
escolha deve ser feita de acordo com as necessidades e com o nível de robustez
necessário.
O saco para o equipamento de mergulho deve ser feito de tecido forte, de
preferência impermeável e com comprimento suficiente para transportar as barbatanas
sem que fiquem encurvadas. Deve ter um bom fecho rápido (não metálico, para não
enferrujar) que permita a colocação de um cadeado.
Normalmente a garrafa e o cinto de lastro são transportados à parte, para aliviar o
peso do saco.
Por uma questão de comodidade o
equipamento de mergulho deve ser arrumado
pela ordem inversa àquela em que irá ser
retirado para utilizar. Este cuidado simplifica
a tarefa do mergulhador quando começa a
equipar-se.

Simples ou sofisticado, o saco para


equipamento de mergulho deve ser
robusto e impermeável

42 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T3

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) Entre as várias informações dadas pelo computador de mergulho


encontram-se as seguintes
a) Tempo de mergulho
b) Direcção do vento
c) Força da corrente
d) Visibilidade debaixo de água
e) Nenhuma resposta está correta

2º) O profundímetro de tubo capilar é mais rigoroso para ler grandes


profundidades
a) Verdadeiro
b) Falso

3º) O profundímetro é necessário para:


a) Mergulhar até aos 10 m de profundidade
b) Para nos assegurarmos de que não estamos a ultrapassar o limite
de profundidade aconselhado para o mergulhador CMAS P1
c) Para saber a pressão do ar na garrafa
d) Saber a que profundidade nos encontramos

4º) O relógio analógico tem uma coroa móvel que se destina a registar
o intervalo de superfície entre dois mergulhos:
a) Veradeiro
b) Falso

5º) A bússola indica


a) O Norte
b) O local em que nos encontramos
c) A profundidade do local de mergulho
d) A altitude do lugar
e)Todas as respostas estão corretas

Curso de Mergulho CMAS P1 43



MÓDULO 1T3

QUESTIONÁRIO

6º) As massas magnéticas próximas da bússola alteram o seu


desempenho
a) Verdadeiro
b) Falso

7º) O manómetro é um instrumento que serve para:


a) Indicar para quanto tempo dá o ar existente na garrafa
b) Indicar a pressão do ar existente na garrafa
c) Indicar a quantidade de ar existente na garrafa
d) Indicar a pressão de prova da garrafa

8º) Quando o ponteiro entra no sector vermelho no mostrador do


manómetro, indica ao mergulhador que:
a) Deve regressar de imediato para a superfície
b) Pode permanecer apenas mais 15 minutos à profundidade a que
se encontra
c) A partir daquela pressão se torna mais difícil respirar
d) Nenhuma resposta está correta

9º) Normalmente os manómetro apresentam a sua escala graduada


em:
a) Bar
b) Milímetros de mercúrio
c) PCI (Pounds/Cubic Inch)
d) g/cm3

10º) A leitura do manómetro deve ser feita:


a) No início do mergulho
b) No fim do mergulho
c) Durante a subida
d) Frequentemente

11º) Com o computador de mergulho o mergulhador não precisa da


bússola para se orientar
a) Verdadeiro
b) Falso

44 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T3

QUESTIONÁRIO

12º) O computador de mergulho pode ser substituído por um


profundímetro, pelo manómetro de pressão e pela bússola
a) Verdadeiro
b) Falso

13º) Uma das funções da faca ou punhal de mergulho é:


a) Cortar as algas
b) Cortar um cabo ou uma rede
c) Abrir as conchas bivalves
d) Defender o mergulhador do ataque dum peixe
e) Todas as perguntas estão corretas

14º) O equipamento sonoro de sinalização serve para:


a) Chamar os companheiros de mergulho debaixo de água
b) Fazer com que os peixes se aproximem do mergulhador
c) Ouvir música debaixo de água
d) Nenhuma resposta está correta

15º) A boia de superfície destina-se a:


a) Balizar um local de mergulho
b) Ajudar outro mergulhador
c) Suportar a bandeira nacional
d) Avisar as embarcações de que não devem aproximar-se do local
onde se encontra

16º) Para evitar que o cabo da boia se embarace é aconselhado:


a) O uso de um carreto
b) Atar a extremidade livre do cabo à cintura ou ao colete de mergulho
c) Guardá-lo no bolso do colete
d) Nenhuma resposta está correta

17º) A bandeira A do CIS serve para:


a) Avisar as autoridades de que existe um mergulhador no local
b) Advertir as embarcações de que está um mergulhador na água e
que deverão afastar-se e navegar a baixa velocidade
c) Pedir socorro
d) Todas as respostas estão corretas

Curso de Mergulho CMAS P1 45



MÓDULO 1T3

QUESTIONÁRIO

18º) Além de iluminar buracos escuros, debaixo de água a


lanterna serve para reconstituir as cores do espectro solar.
a) Verdadeiro
b) Falso

19º) As pilhas da lanterna devem ser deixadas no seu interior para


não se perderem.
a) Verdadeiro
b) Falso

20º) A função da boia de patamar é:


a) Indicar a posição do mergulhador à superfície
b) Sinalizar o mergulhador quando está a fazer um patamar de
descompressão
c) Indicar a posição do mergulhador no fundo
d) Todas as respostas estão corretas

46 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T4

O ESCAFANDRO AUTÓNOMO

TÓPICOS

 O escafandro autónomo. Constituição, finalidade, funcionamento.


 A garrafa. Características, enchimento, cuidados de conservação. Sistemas de
fixação da garrafa.
 O regulador. Função e funcionamento. Redução da alta pressão para a pressão
ambiente. Cuidados de manutenção.
 Utilização do escafandro . Montagem correta e verificação pelo
companheiro de mergulho.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ O que é o escafandro autónomo.


√ Características da garrafa de mergulho.
√ O que significam as gravações existentes na calote superior da garrafa.
√ Os cuidados a ter com a garrafa.
√ Os dois tipos principais de torneiras.
√ Qual a função da junta tórica (o-ring).
√ Que sistemas são utilizados na fixação da garrafa.
√ Que função tem o regulador.
√ Quais são as partes principais de um regulador.
√ O que é o regulador de emergência e para que serve.
√ Os cuidados a ter com o regulador.
√ Montar corretamente os componentes que constituem o escafandro
autónomo.
√ Quais os passos a seguir na verificação do equipamento pelo companheiro
de mergulho.

Curso de Mergulho CMAS P1 47


MÓDULO 1T4

O ESCAFANDRO AUTÓNOMO

Denomina-se escafandro autónomo o equipamento transportado pelo mergulhador,


que lhe permite evoluir autonomamente debaixo de água, possibilitando-lhe um
tempo de permanência submerso que ele nunca conseguiria a mergulhar em apneia.
Este equipamento é constituído fundamentalmente por:
 Uma garrafa com torneira.

 Um sistema de fixação da garrafa.

 Um regulador.

A garrafa, transporta ar comprimido a alta pressão, proporcionando assim uma


grande reserva de ar para o mergulhador.
O sistema de fixação (precintas, arnês com apoio dorsal ou o colete de mergulho),
possibilita o transporte da garrafa às costas do mergulhador.
O regulador, reduz a alta pressão a que se encontra o ar armazenado na garrafa
para a pressão ambiente, permitindo ao mergulhador respirar sem dificuldade.
Este conjunto
muito simples (bas-
tante pesado em
seco, mas extraor-
dinariamente leve
dentro de água)
permite ao mergu-
lhador respirar com
segurança debaixo
de água, qualquer
que seja a profun-
didade a que se
encontre.
O mergulhador,
ao expirar, liberta o
ar diretamente
para a água, por
isso este equipa-
mento chama-se
escafandro de “cir-
cuito aberto”.
O escafandro autónomo é essencialmente formado por uma garrafa com
Existem tam-
ar comprimido e um regulador que fornece o ar à pressão ambiente
bém escafandros
de “circuito fechado” e “circuito semi fechado”, em que a expiração não é direta
para a água, mas passa por um filtro químico que permite voltar a respirar o oxigénio
não usado, mas estes equipamentos não fazem parte do âmbito deste curso.

48 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T4

A GARRAFA

A garrafa de mergulho, é um reservatório cilíndrico, metálico, capaz de armazenar


ar comprimido a pressões muito elevadas (200 ou 300bar). A torneira é enroscada e
vedada com uma junta tórica, de forma a reter o ar dentro da garrafa (desta peça se
falará mais adiante).
A garrafa é normalmente fabricada em liga de aço ou de alumínio, sendo as
garrafas de aço as mais utilizadas em Portugal. As capacidades mais usuais são as de
10, 12 e 15 litros.
Normalmente o cilindro tem uma base em plástico ou borracha, que serve para
que a garrafa possa ser colocada de pé quando está a ser carregada.
As características técnicas da garrafa estão inscritas no bojo superior do cilindro,
junto ao gargalo. Nestas inscrições podemos ver os
seguintes elementos:
 Data de fabrico da garrafa.

 Data da ultima prova hidráulica.

 Pressão de serviço (pressão máxima a que a

garrafa pode ser carregada).


 Pressão de ensaio (pressão de teste da garrafa

na prova hidráulica).
 Capacidade.

 Peso.

 Homologação da EU (União Europeia).


Todos os dados da garrafa estão
inscritos no bojo superior

As garrafas são carregadas em compressores especialmente fabricados para o


efeito, com sistemas de purificação que tornam o ar próprio para ser respirado sob
pressão.
Para que as condições de segurança deste processo estejam reunidas, nenhuma
garrafa deve ser cheia se a data da prova hidráulica estiver fora do prazo exigido
por lei. Além disso, nunca se deve exceder a pressão de serviço para evitar
deformação permanente do material.
Há toda a vantagem em que o enchimento da garrafa seja feito lentamente para
evitar um aquecimento muito rápido.
Estes cuidados devem ser tomados pelo pessoal afeto à estação de enchimento,
que também deverá ter a máxima atenção ao estado dos filtros do compressor, cuja
duração prevista deve ser respeitada.

De acordo com a legislação europeia, as garrafas fabricadas a partir de


1995 terão obrigatoriamente de apresentar o punção da “homologação
da UE”, para que possam fazer a prova hidráulica e o enchimento

Curso de Mergulho CMAS P1 49


MÓDULO 1T4

CUIDADOS A TER COM AS GARRAFAS - Ainda que a garrafa seja o elemento


mais robusto do escafandro deve ter-se o máximo cuidado no seu manuseamento,
sobretudo por causa da fragilidade da torneira que, dada a sua posição saliente, está
sempre sujeita a pancadas que a podem danificar. A garrafa deve estar sempre
deitada para não cair acidentalmente, o que pode causar estragos e magoar quem
estiver perto. Durante o transporte (automóvel, barco), além de deitada, a garrafa
deve estar entalada para não rolar, evitando que a torneira sofra pancadas.
A pintura da garrafa deve ser mantida em bom estado de conservação, uma vez
que as esfoladelas e cortes são portas de entrada para a oxidação do material. A
utilização de redes ou lonas envolvendo o corpo da garrafa são proteções adequadas,
apesar de terem alguns inconvenientes.
Deve evitar-se abrir demasiado a torneira e deixar sair rapidamente o ar, para
impedir que se forme condensação no interior da garrafa devido ao brusco
arrefecimento que se verifica quando o ar se expande.
É conveniente que todos os anos seja feita uma inspecção visual ao interior da
garrafa para se avaliar o estado de conservação interno (ausência ou não de ferrugem
ou corrosão), inspeção essa que deverá ser feita por um técnico habilitado.
No final do mergulho a garrafa deve ser lavada com água doce e posta a secar à
sombra, sempre deitada.

Nunca deixar uma garrafa com a torneira aberta.


Durante longos períodos de armazenamento a garrafa deve ser mantida de pé, para
que a água resultante da condensação se deposite no fundo que é parte mais
espessa da garrafa, e fechada, contendo ar sob pressão à volta dos 50b.

AS TORNEIRAS

Há uma enorme variedade de tipos de torneira, desde a torneira com uma saída
com ou sem dispositivo de reserva (praticamente em desuso) até à torneira de
duas saídas.
Nas torneiras com reserva, este dispositivo consiste, basicamente, numa válvula
fechada por uma mola calibrada para 40 ou 50 bar de pressão. Enquanto o ar dentro
da garrafa tem uma pressão maior do que a da mola, abre facilmente a válvula e sai.
Quando a pressão do ar dentro da garrafa desce para um valor igual ao da mola,
as forças equilibram-se, a pressão do ar já não é suficiente para abrir a válvula e o
mergulhador precisa de fazer esforço para vencer a força da mola e inspirar.
Ao diminuir ainda mais a pressão dentro da garrafa, a mola acaba por manter a
válvula fechada, interrompendo a passagem do ar. Nesta altura o mergulhador tem
de puxar a “vareta da reserva”, para anular manualmente a força da mola e abrir a
válvula, permitindo que o ar passe. O mergulhador volta então a respirar normalmente,

50 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T4

sabendo que está a consumir o “ar de reserva”.

Com este sistema de reserva é necessário tomar duas precauções:


 A garrafa deve ser carregada com a reserva aberta (vareta para baixo).
 No início do mergulho a reserva deve estar

fechada (vareta para cima).

Embora usado durante muito tempo,


nunca se deve confiar totalmente neste
sistema. Se houver deficiência da mola (mola
pasmada), o mergulhador tem uma reserva de ar
inferior à que deveria ter; se por esquecimento a
reserva não for fechada antes de iniciar o mergulho,
ou se durante o mergulho a vareta da reserva for puxada
acidentalmente (presa numa rocha, por ex.), o
mergulhador fica sem qualquer reserva de ar.
Atualmente o dispositivo de reserva foi substituído pelo
manómetro de pressão, (ver Módulo 1T3 -
Torneira simples e
Equipamento de Mergulho Diverso), que permite saber torneiras duplas, em T
em qualquer momento do mergulho qual a pressão do ar (modular) e em Y
existente na garrafa.
As torneiras com duas saídas podem ser do tipo “Y” ou do tipo “T”.
O acoplamento do regulador à saída da torneira poderá ser feito pelo sistema
de estribo ou pelo sistema DIN (rosca).
No sistema de estribo, a junta tórica está alojada numa sede (gola) à volta do
orifício de saída da torneira e é sobre ela que aperta o estribo do regulador. No
sistema DIN, a torneira tem uma rosca fêmea onde é atarraxado o regulador que
tem uma rosca macho, no topo da qual está alojada a junta tórica.

O mergulhador deve ter sempre juntas tóricas de reserva para poder


substituir uma junta danificada ou que se tenha perdido.

A manipulação das torneiras deve ser feita suavemente e sem forçar. Se notar
alguma dificuldade ao rodar o manípulo é conveniente mandar verificar, pois pode
ser o eixo empenado ou apenas falta de lubrificação.
A saída das torneiras deve ser protegida com uma capa em plástico ou envolvida
com fita adesiva de papel após o enchimento, de modo a não permitir a entrada de
substâncias estranhas.

Feche sempre as torneiras suavemente, sem apertar, para não danificar as


juntas de alta pressão

Curso de Mergulho CMAS P1 51


MÓDULO 1T4

A FIXAÇÃO DAS GARRAFAS

Existem três formas de fixar a garrafa às costas do mergulhador:


através de precintas simples, através de arnês com apoio dorsal
(back pack) ou prendendo a garrafa ao colete.
O uso de precintas simples é o modo menos cómodo e está
caído em desuso. O sistema consiste em duas alças ajustáveis
(precintas de ombros) de lona, nylon ou outro material, fixas ao
gargalo da garrafa e ao copo da base, e uma precinta “sub cutal”
ou de “entre pernas”, que passa entre as pernas do mergulhador
e vem prender ao cinto de lastro. Esta evita que a garrafa saia pela
cabeça (desencapele) quando o mergulhador salta para a
água ou quando desce de cabeça para baixo.
O arnês com apoio dorsal (back pack) é composto
por um jogo de precintas presas a uma peça
anatómica, em plástico de alta resistência, que
Garrafa com
torna mais cómodo o transporte da garrafa precintas simples
às costas do mergulhador. A garrafa é
presa por uma cinta de desblocagem rápida ao arnês, de
onde saem duas precintas de ombros e uma precinta de
cintura (que substitui a precinta “sub cutal”). Normalmente,
o arnês tem uma “pega” para tornar mais fácil o transporte
da garrafa.
Com o aparecimento dos modernos coletes de mergulho
generalizou-se a fixação da garrafa ao colete. Assim, este
Garrafa com arnês de equipamento tem duas funções: fixar a garrafa às costas do
apoio dorsal mergulhador e controlar a sua flutuabilidade.
Por agora abordamos a primeira destas funções, deixando
o controlo da flutuabilidade para mais tarde (Módulo 1T5).
O colete de mergulho é basicamente uma bolsa em
tecido resistente, que se pode encher com ar para
controlar a flutuabilidade do mergulhador. Esta bolsa é
fixa à garrafa através de uma estrutura dorsal com uma
precinta de fixação. Nalguns casos, o colete de mergulho
assenta mesmo numa estrutura semelhante à dum arnês
de apoio dorsal.
O colete tem uma configuração que permite que o
mergulhador o “vista” como um casaco, ajustando-o
ao corpo através de um conjunto de precintas. A solução
de fixar a garrafa ao colete é atualmente a mais utilizada,
não só pela comodidade e vantagens que possui, mas
Garrafa acoplada ao colete também por o colete ser um equipamento obrigatório.

52 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T4

Tanto no arnês como no colete, é necessário apertar muito bem a precinta de


fixação à garrafa, para evitar que esta escorregue durante o mergulho ou durante o
transporte. Se a precinta estiver molhada, o aperto e a fixação são mais eficazes.

O REGULADOR

O regulador é a peça mais importante do escafandro. Tem como função reduzir a


pressão do ar armazenado na garrafa (HP) e fornecê-lo ao mergulhador a uma pressão
respirável, isto é, à mesma pressão a que se encontra a água que o rodeia (pressão
ambiente).
Existem dois tipos de regulador:
 O regulador de duas traqueias (um corpo).

 O regulador de uma mangueira (dois corpos separados).

O regulador de duas traqueias foi criado em 1945 por Jaques-Yves Cousteau e


Emile Gagnant. Baseando-se na invenção de Rouquayrol/Denayrouze (1864/1865),
Cousteau e Gagnant desenharam e construíram um regulador de extrema simplicidade,
o CG45. Este protótipo deu origem ao regulador Mistral, de um só andar, com duas
traqueias, que rapidamente se tronou no mais difundido no mundo pelo seu sucesso.
Foi este regulador que permitiu o desenvolvimento extraordinário que o mergulho

Na década de 70 os reguladores de duas traqueias ainda eram muito utilizados entre nós

Curso de Mergulho CMAS P1 53


MÓDULO 1T4

conheceu a partir dos anos 50, tendo entretanto caído


em desuso, com o aparecimento do regulador de
uma mangueira e dois andares separados .
Os novos reguladores são constituídos por dois
corpos (o primeiro andar e o segundo andar),
unidos por uma mangueira.
O primeiro andar do regulador (andar de alta
pressão) é metálico e tem a função de reduzir a alta
pressão a que se encontra o ar na garrafa para uma Mistral, o regulador que tornou o
pressão intermédia fixa (vulgarmente designada baixa mergulho popular
pressão). Este corpo está
acoplado à torneira da garrafa pelo sistema Yoke
(estribo) ou pelo sistema DIN (rosca macho),
consoante o tipo da saída da torneira.
O primeiro andar tem várias saídas LP (ar
a baixa pressão). De uma das saídas LP sai
uma mangueira que leva o ar a baixa pressão
até ao segundo andar do regulador. As
mangueiras de alimentação do segundo andar de
emergência, do colete e do fato seco, são ligadas às restantes
Regulador de dois
andares separados saídas de baixa pressão.
O primeiro andar tem também uma ou duas saída HP (ar a
alta pressão, à pressão da garrafa), onde se liga o manómetro.
O segundo andar, que pode ser metálico ou de plástico de alta resistência,
reduz o ar a baixa pressão para a pressão ambiente, permitindo assim que o
mergulhador respire sem qualquer esforço.
Basicamente, o segundo andar tem uma válvula de entrada, que regula a admissão
do ar a inspirar de acordo com a pressão ambiente, um bocal, através do qual o
mergulhador respira, e uma válvula de saída, por onde sai o
ar expirado. Possui também um botão de purga que permite
ao mergulhador abrir manualmente a válvula de entrada e
pôr o regulador a deitar ar continuamente (débito contínuo),
caso seja necessário.
A utilização de uma fonte alternativa de ar, que poderá
ser um regulador de emergência ou apenas dum
segundo andar de emergência, é obrigatória para
todos os praticantes (NP EN 14153-2 2005).
A vantagem desta fonte alternativa é permitir que no
caso de avaria do regulador principal o mergulhador possa
utilizá-la para respirar ou, numa situação de emergência,
Primeiro andar com o mergulhador possa dar ar a um companheiro sem que
encaixe DIN e de estribo seja necessário partilhar o regulador principal.

54 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T4

Normalmente o segundo andar de emergência está ligado a


uma das saídas de baixa pressão do primeiro andar, através de
uma mangueira bastante mais comprida, para mais facilmente
chegar ao mergulhador assistido. Alguns destes segundos
andares têm o bocal virado para o recebedor, não sendo
necessário torcer a mangueira para lhe introduzir o bocal
na boca, o que facilita bastante a manobra de dar ar.
Como alternativa, o mergulhador pode optar por um
segundo andar de emergência integrado no sistema de
enchimento do colete. A alimentação deste segundo andar
é feita pela mangueira de enchimento do colete.
Se a torneira da garrafa tiver mais do que uma saída, o
mergulhador pode montar um segundo regulador (em vez Nas garrafas com duas
de um segundo andar de emergência). Com esta solução, saídas, pode ser montado
mesmo que surja uma falha no primeiro andar do regulador um regulador de
emergência
principal, é sempre possível respirar pelo regulador de emergência.

CUIDADOS A TER COM O REGULADOR - Durante o transporte o regulador


deve ser acondicionado de forma a evitar pancadas ou agressões suscetíveis de lhe
provocar danos. Após cada utilização o regulador deve ser lavado com água doce e

Com a utilização de um segundo andar ou de um regulador de emergência, já não é necessário


partilhar o nosso regulador para dar ar a outro mergulhador

Curso de Mergulho CMAS P1 55


MÓDULO 1T4

seco à sombra, de preferência pendurado pelo primeiro andar. Sempre que possível,
o regulador deverá ser lavado ainda acoplado à garrafa e com a torneira aberta.

UTILIZAÇÃO DO ESCAFANDRO
A boa utilização do escafandro depende da correta montagem dos seus
componentes, que deve ser feita pela ordem seguinte:
1. Montagem do colete na garrafa de mergulho.
2. Montagem do regulador na garrafa e ligação ao colete.
3. Abertura cuidadosa da torneira da garrafa e verificação da pressão no manómetro.
Após a montagem do escafandro, todo o sistema deve ser testado, verificando-se
se o regulador está a debitar ar corretamente e se o sistema de enchimento do
colete funciona sem problemas.
Depois do mergulhador ter colocado o escafandro, deve ser feita uma nova
verificação do equipamento com a ajuda do companheiro de mergulho.
Os pontos a verificar são os seguintes:
 Abertura total da torneira da garrafa.
 Leitura da pressão no manómetro (para saber a quantidade de ar disponível).
 Testar o 2º andar do regulador (verificar se está a debitar convenientemente).
 Verificar a boa colocação do manómetro (evitando que este ande pendurado a
arrastar pelo fundo).
 Testar as válvulas do sistema de injeção e descarga do colete.
 Verificar o ajustamento das precintas, assegurando que o conjunto está bem
fixo ao corpo e que as fivelas funcionam corretamente.

56 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T4

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa)

1º) O escafandro autónomo é o conjunto formado por:


a) Máscara, tubo e barbatanas
b) Garrafa com as respetivas precintas
c) Regulador, garrafa e colete de mergulho
d) Garrafa, manómetro e máscara

2º) A garrafa de mergulho contém:


a) Oxigénio à pressão de 400bar
b) Ar comprimido
c) Uma mistura de azoto e dióxido de carbono
d) Nenhuma resposta está correta

3º) A garrafa de mergulho possui na parte superior as seguintes


gravações:
a) Data de fabrico da garrafa
b) Capacidade
c) Pressão de serviço
d) Homologação da EU (União Europeia)
e) Data da última prova hidráulica
f) Todas as respostas estão corretas

4º) A inspeção interior da garrafa deve ser feita anualmente.


a) Verdadeiro
b) Falso

5º) As torneiras de duas saídas podem ser dos tipos:


a) Y e W
b) J e Y
c) T e L
d) Y e T
e) Nenhuma resposta está correta

6º) O sistema de reserva nas torneiras (atualmente em desuso) é


100% fiável.
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 57



MÓDULO 1T4

QUESTIONÁRIO

7º) Um dos sistemas utilizados para colocar a garrafa às costas


do mergulhador é:
a) Alças cruzadas
b) Placa dorsal
c) Colete de mergulho
d) Nenhuma resposta está correta

8º) Se apertar com demasiada força a torneira da garrafa:


a) Pode danificar a junta de alta pressão
b) Evita que o ar se perca durante o transporte
c) Não deixa entrar tanta humidade
d) Todas as respostas estão corretas

9º) Para evitar que entre humidade na garrafa, devemos deixá-la:


a) De pé com a torneira aberta
b) Sempre deitada com ar comprimido a 40b
c) Deitada com a torneira fechada
d) De pé com algum ar comprimido
e) Nenhuma resposta está correta

10º) A função do regulador é:


a) Permitir que o mergulhador respire sem dificuldade até aos 15m
b) Reduzir a pressão do ar contido na garrafa para a pressão ambiente
c) Permitir mergulhar a qualquer profundidade
d) Todas as respostas estão corretas

11º) Ligados ao primeiro andar dum regulador podem estar os


seguintes componentes:
a) O 2º andar do regulador principal
b) O manómetro
c) O colete
d) O 2º andar de emergência
e) Todas as respostas estão corretas

58 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T4

QUESTIONÁRIO

12º) O uso dum 2º andar de emergência é obrigatório.


a) Verdadeiro
b) Falso

13º) Após terminar um mergulho o escafandro deverá ser lavado


com água doçe e posto a secar ao sol.
a) Verdadeiro
b) Falso
.
14º) Na sequência de montagem do escafandro o regulador é o
primeiro componente a ser montado:
a) Verdadeiro
b) Falso

15º) Uma das verificações a que se deve proceder com o companheiro


de mergulho, após colocar o escafandro às costas é:
a) Se a pintura da garrafa está em bom estado
b) O modelo do fato utilizado pelo companheiro de mergulho
c) A pressão do manómetro
d) A elasticidade das precintas
e) Nenhuma resposta está correta

Curso de Mergulho CMAS P1 59



60 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T5

O CONTROLO DE FLUTUABILIDADE

TÓPICOS

 Colete compensador de flutuabilidade. Sua importância para o conforto


e segurança no mergulho. Utilização em caso de emergência, à superfície e
em imersão.
 Tipos e modelos de colete. Características essenciais adequadas a cada
tipo de mergulho. Ajustamento. Manutenção
 Métodos de enchimento. Enchimento com ar a baixa pressã e à boca
(não recomendado). Vantagens e desvantagens de cada método.
 Ajustamento da flutuabilidade. Processo recomendado.
 Perigos duma subida rápida. Controlo da subida

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ As principais funções do colete de mergulho.


√ As características essenciais a que deve obedecer um colete de
mergulho.
√ As partes fundamentais do colete de mergulho e suas funções.
√ As maneiras possíveis de encher o colete.
√ Que função têm as válvulas de segurança.
√ Como deve ser ajustado ao corpo do mergulhador.
√ Como se deve utilizar o colete à superfície.
√ Como manter o equilíbrio hidrostático durante o mergulho.
√ Quais os perigos de não controlar o manuseamento do colete.
√ Os cuidados a ter na conservação e manutenção.

Curso de Mergulho CMAS P1 61


MÓDULO 1T5

O COLETE DE MERGULHO

Vimos no Módulo 1T4 - O Escafandro, que o colete de mergulho reúne duas


funções: fixar a garrafa às costas do mergulhador e controlar a sua flutuabilidade. Foi
então explicado de que forma o colete podia ser utilizado para fixar a garrafa às
costas do mergulhador, mas na realidade esta é uma utilidade secundária. De facto,
a verdadeira e principal função do colete é permitir o controlo da flutuabilidade
do mergulhador durante a imersão e proporcionar flutuabilidade positiva à
superfície, proporcionando maior conforto e segurança nas duas situações.

A utilização do colete de mergulho é obrigatória por lei

Apesar da grande evolução registada e da enorme variedade de modelos existentes


atualmente, há basicamente três tipos de colete de mergulho, que resultam de três
conceções diferentes: o colete em forma de jaqueta (em que a designação de
colete - casaco sem mangas - melhor se aplica), o colete de enchimento dorsal
(também conhecido por asa ou wing) e o colete em forma de colar (babete).
 Colete do tipo casaco
(jacket) – É atualmente o mais
utilizado no mergulho amador. O ar
distribui-se pelas costas, ombros e
flancos, até à zona ventral. É de
utilização prática e existem modelos
ajustáveis.
 Colete dorsal (wing) –
Normalmente utilizado pelos
mergulhadores técnicos, por ter uma
grande capacidade de impulsão.
Como o ar se distribui somente nas
costas, o arnês fica liberto à frente,
permitindo a fixação de vários
acessórios, incluindo garrafas
complementares.
 Colete de colar (babete) –
Pouco utilizado hoje em dia. Não
serve de suporte à garrafa, que
necessita de um arnês de fixação.
O colete enfia-se pela cabeça e o
ar distribui-se à volta do pescoço e
O colete de colar (babete) começou por ser o único
na zona peitoral. É fixo com uma
modelo disponível, mas hoje caíu totalmente em
desuso, substituído pelo colete do tipo casaco precinta sub cutal e uma precinta
de cintura.

62 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T5

O CORPO DO COLETE - É formado por uma bolsa em


tecido resistente (nylon ou outro material), que se pode
encher com ar proveniente da garrafa através do primeiro
andar do regulador (ar em baixa pressão), com ar
proveniente de uma pequena garrafa auxiliar (ar em alta
pressão) ou à boca o que é francamente desaconselhado.
Alguns modelos têm saco duplo, isto é, uma câmara de
ar interior em poliuretano, protegida por um invólucro
exterior em tecido de nylon resistente à abrasão e aos cortes
e perfurações.
Todos os modelos de colete possuem bolsos, onde podem
ser acondicionados o segundo andar de emergência, a consola,
peças do equipamento delicadas, que assim ficam protegidas
e deixam de andar a arrastar pelo fundo.
Independentemente do tipo e do modelo, o desenho e
construção do colete devem ter em atenção a comodidade
do utilizador.

A TRAQUEIA - O colete possui uma traqueia, à qual


está ligado um sistema mecânico de injeção de ar (Direct
System) que tem uma válvula de enchimento, uma válvula Duas versões de colete do
tipo jaqueta: modelo
de descarga e um bocal. integral e modelo ajustável
Este mecanismo de enchimento é alimentado por uma
mangueira ligada a uma saída LP (ar em baixa pressão) do
primeiro andar do regulador. A válvula de injeção de ar
deve ser progressiva, de modo
a permitir o enchimento suave
e controlado do colete.
A descarga do ar é feita
através da traqueia e do bocal,
que permite também encher
o colete à boca (desacon-
selhado). A traqueia deve ser
de grande diâmetro, de
Colete de enchimento dorsal.
modo a permitir uma O arnês fica liberto à frente
purga rápida do colete.
Nalguns coletes é possível optar por um segundo
andar de emergência incorporado no sistema de
enchimento. Esse segundo andar é alimentado pela
A traqueia do colete tem um
mangueira que também alimenta o mecanismo de
sistema de enchimento e uma injeção de ar no colete, o que reduz o número
válvula de descarga mangueiras ligadas ao primeiro andar do regulador.

Curso de Mergulho CMAS P1 63


MÓDULO 1T5

AS VÁLVULAS DE SEGURANÇA E PURGA RÁPIDA - Para evitar o rebentamento


por enchimento excessivo e permitir a libertação rápida do ar, o colete tem válvulas
de segurança e de purga rápida.
Geralmente estas válvulas localizam-se em cima, junto ao ombro, e em baixo,
atrás, junto do bordo inferior do colete. As válvulas dos ombros, incluindo a válvula
da traqueia, usam-se quando o mergulhador nada na horizontal ou de cabeça para
cima. As válvulas de baixo são usadas quando o mergulhador se encontra de cabeça
para baixo.

O manuseamento das válvulas de segurança deve estar perfeitamente


automatizado, para que o seu acionamento seja imediato, em caso de
necessidade

A FIXAÇÃO - O colete deve adaptar-se corretamente ao corpo do mergulhador


de modo a que este se sinta confortável, mesmo quando está completamente cheio.
O colete deve ser escolhido em função do peso do mergulhador e do seu
equipamento, não esquecendo o tamanho do tronco: se estiver demasiado largo,
pode rodar em torno do corpo, se ficar demasiado apertado, torna-se desconfortável.
O mergulhador deve fazer um
primeiro ajustamento das precintas
com o colete vazio e de seguida deve
enchê-lo, para se certificar que não
lhe dificulta os movimentos depois
de completamente cheio.
Durante o mergulho, devido à
compressão do fato, há que proceder
a novos ajustamentos das precintas
para que o colete volte a ficar justo
ao corpo (mas não apertado).
Normalmente quando o colete está
cheio, à chegada à superfície, é
necessário aliviar de novo as precintas
para que o mergulhador não se sinta
muito apertado.
A precinta de fixação à garrafa é
larga e robusta, com uma fivela de
fixação por alavanca, que permite um
forte e eficiente aperto, não
deixando que a garrafa escorregue
As válvulas de segurança encontram-se junto aos do suporte. É preferível fazer o
ombros e em baixo, junto ao bordo do colete aperto com a precinta molhada.

64 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T5

CUIDADOS A TER COM O COLETE - Tal como o regulador, o colete é uma peça
relativamente frágil, que exige um acondicionamento cuidado. Após utilização deve
ser passado por água doce e seco à sombra com algum ar no interior.
Para lavar o interior do colete, enche-se com água pelo bocal da traqueia até 1/3
da sua capacidade, agitando depois, de forma a que a água lave todo o interior. No
fim despeja-se de novo pela traqueia de enchimento.
Deve haver um cuidado muito especial com os botões do sistema de injeção de
ar. Estes botões devem estar sempre em perfeitas condições de funcionamento,
para que nunca fiquem presos ao serem premidos. Se o botão de enchimento encravar
aberto pode originar uma subida intempestiva, com muito graves consequências
para o mergulhador, sobretudo se este não estiver treinado para atuar
rapidamente sobre as válvulas de segurança.
Periodicamente, o sistema de enchimento deve ser revisto por técnicos habilitados.

O CONTROLO DA FLUTUABILIDADE

Na segunda das 10 regras de ouro do bom mergulhador (ver Módulo 1T16


- Ambiente), é exatamente um bom controlo da flutuabilidade que se
exige para que o mergulhador possa cumprir a terceira regra, que é manter-se
longe do contacto com o fundo marinho e dos seres vivos que nele habitam.

O mergulhador deve procurar controlar a flutuabilidade como os peixes, utilizando o colete como
os peixes usam a bexiga natatória

Curso de Mergulho CMAS P1 65


MÓDULO 1T5

Isto exige ao mergulhador uma atenção constante, para manter um bom


equilíbrio hidrostático através do perfeito controlo do volume do seu colete,
isto é da quantidade de ar que ele contém. Este fenómeno físico será
devidamente explicado no Módulo 1T8 - Princípios de Física.
É essencial que o mergulhador esteja treinado para manusear o colete.
Se a técnica não estiver aperfeiçoada, há o risco de subida rápida e de
acidentes, especialmente o risco de sobrepressão pulmonar.

A insuflação e libertação de ar do colete deve ser feita de forma


cuidadosa, para que não se perca o controlo da flutuabilidade. Portanto, o
ar deve ser insuflado ou libertado sempre em pequenas quantidades.

A última geração de coletes inclui muitos modelos com sistema de


lastragem incorporado. Este sistema liberta a zona lombar do esforço
localizado produzido pelo cinto de lastro convencional.
Estes coletes têm tem bolsos especiais para colocar as malhas de
chumbo, cujo peso fica distribuído pelo colete. Estes bolsos possuem um
sistema de libertação rápida do lastro de chumbo, através da simples tração
de duas pegas.

Tal como os peixes, o mergulhador não deve arrastar-se pelo fundo, mas pairar a meia água

66 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T5

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa)

1º) A finalidade do colete de mergulho é:


a) Isolar do frio o peito do mergulhador
b) Proteger o mergulhador contra o contacto das rochas
c) Permitir que ele varie a sua flutuabilidade
d) Proteger o mergulhador dos peixes venenosos

2º) A traqueia do colete deve ter uma secção grande para permitir um
rápido esvaziamento.
a) Verdadeiro
b) Falso

3º) Nos coletes de duplo saco, o saco exterior serve para:


a) Permitir um melhor controlo da flutuabilidade
b) Proteger o saco interior de perfurações e cortes
c) Criar uma câmara de vácuo entre si e o saco interior
d) Evitar que o colete encha rapidamente

4º) O colete de mergulho deve ser lavado interiormente


a) No início da época do mergulho
b) No fim de cada mergulho
c) No fim da época de mergulho
d) No início de cada mergulho

5º) As características essenciais dum colete são:


a) Ter volume de ar suficiente para suportar o peso do mergulhador e
do seu equipamento
b) Ter uma traqueia de grande diâmetro de modo a permitir uma
rápida purga do ar
c) Ter um sistema mecânico de enchimento de ar progressivo
d) Ter válvulas de segurança que impeçam o rebentamento do colete
por enchimento excessivo
e) Todas as respostas estão corretas

Curso de Mergulho CMAS P1 67



68 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T6

MANUTENÇÃO DO EQUIPAMENTO

TÓPICOS

 Manutenção do equipamento de mergulho e segurança.


 Lavagem com água doce na limpeza geral.
 Cuidados especiais com equipamentos deterioráveis.
 Prevenção contra a corrosão das partes metálicas.
 Serviços de assistência e manutenção regulares.
 Armazenamento.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Que importância tem a manutenção do equipamento na segurança do


mergulhador.
√ Porque é fundamental a lavagem com água doce de todo o equipamento
de mergulho.
√ Os cuidados especiais a ter com equipamento deteriorável.
√ Como se protegem as partes metálicas.
√ A importância das revisões periódicas do equipamento.
√ Como proceder à hibernação do equipamento de mergulho.

Curso de Mergulho CMAS P1 69


MÓDULO 1T6

CUIDADOS E CONSERVAÇÃO

Tal como se tem vindo a referir nos módulos anteriores, todo o equipamento de
mergulho deve ser tratado cuidadosamente, uma vez que alguns dos seus
componentes são responsáveis pela segurança do mergulhador. Além disso,
e tendo em conta que o equipamento de boa qualidade não é barato, uma boa
manutenção garante uma maior duração.
Em termos de conservação, podemos dividir o equipamento de mergulho em três
grupos:
Equipamento básico
 Máscara, tubo e barbatanas.

 Fato, botas e luvas.

 Cinto de lastro.

Instrumentos
 Relógio, profundímetro, manómetro, bússola, lanterna, faca, etc.

Escafandro
 Garrafa, regulador, colete.

A lavagem abundante com água doce logo após cada mergulho é o primeiro
cuidado a ter com todo o equipamento. A lavagem destina-se a remover não só
sedimentos e areia, mas também toda a água salgada do equipamento, que ao secar
iria originar depósitos de sal.
A secagem do material deverá ser sempre feita à sombra e em local arejado,
de preferência pendurado. O calor e sobretudo a exposição direta à luz solar (raios
ultravioletas) são os piores inimigos do equipamento de neoprene, borracha e silicone.

Lavar com água doce e secar à sombra são os dois cuidados básicos mais
importantes para todo o equipamento de mergulho

INSTRUMENTOS - Todos os instrumentos deverão ser acondicionados de modo a


ficarem protegidos contra os choques. A bússola deve ficar sempre colocada longe
de materiais magnéticos.
As coroas rotativas do relógio e da bússola devem ser cuidadosamente lavadas
com água doce e limpas após o mergulho.
A lâmina da faca deve ser bem seca, bem com o interior da bainha, de modo a
evitar a oxidação do material (mesmo daquele que se diz ser inoxidável!).
O cinto de lastro não deve ser largado no chão de qualquer maneira, porque com
as pancadas as malhas de chumbo vão-se deformando, dificultando depois a sua
movimentação ou a remoção do cinto. O funcionamento da fivela deve ser verificado
frequentemente, para garantir que o cinto poderá ser solto sem qualquer dificuldade.

70 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T6

Há que ter o cuidado especial de nunca deixar as pilhas dentro da lanterna para
evitar que se danifiquem os contactos eléctricos, no caso de alguma das pilhas se
estragar.

ESCAFANDRO - A garrafa de mergulho deve ser manuseada com o maior cuidado


para evitar qualquer choque ou queda, de modo a que o seu revestimento exterior
não seja danificado, uma vez que qualquer golpe na pintura protetora pode dar
origem a um ponto de ferrugem. No final de cada mergulho a garrafa deve ser
lavada com água doce e posta a secar à sombra.
Não se deve deixar a garrafa exposta a temperaturas muito elevadas (especialmente
na bagageira dos carros) para evitar dilatações do material, e subsequentes contrações,
o que afeta a sua estrutura molecular.
A garrafa deverá ser mantida sempre deitada (transporte, barco, cais) exceto quando
está armazenada. A torneira da garrafa deverá manter-se sempre fechada quer esta
contenha ou não ar,
devendo manter-se pre-
ferencialmente uma
pressão mínima de ar no
seu interior.
Periodicamente o in-
terior da garrafa deve ser
inspecionado por um
técnico competente para
ver se há formação de
ferrugem. Caso isso se
verifique, a garrafa deve
ser limpa de modo a
retirar-se toda a ferrugem
existente e, se neces-
sário, fazer a proteção da As torneiras devem ser protegidas e a garrafa deve ser
superfície interior. inspecionada todos os anos

As garrafas devem ser submetidas periodicamente (de acordo com a


legislação em vigor) a uma prova hidráulica para avaliação da sua estrutura

Uma das partes mais sensíveis da garrafa é a torneira. Esta deve ser protegida ao
máximo contra choques, para evitar o empeno de alguns dos seus componentes, o
que pode levar ao seu bloqueio.
As torneiras deverão ser inspecionadas anualmente, no final ou no início da época,
por um técnico especializado, que deverá substituir os componentes deteriorados e
proceder à lubrificação interna.

Curso de Mergulho CMAS P1 71


MÓDULO 1T6

Há que dar especial atenção à junta tórica que faz a vedação entre a torneira e o
regulador, tanto no sistema de “estribo” como no sistema DIN. Esta junta deve estar
sempre em muito bom estado, sem cortes ou defeitos, e ao ser colocada na sede
deve verificar-se cuidadosamente se está limpa.
Durante o transporte e o armazenamento das
garrafas, a saída da torneira deve estar protegida por
uma capa de plástico que evita a entrada de poeiras
ou outras impurezas que a possam danificar ou
dificultar a boa vedação da junta.
O regulador, sendo a peça mais complexa do
equipamento, deverá ser sujeito aos maiores
cuidados. Durante o transporte, deve estar muito bem
acondicionado, de modo a ficar protegido de choques
ou da ação de grandes pesos que o possam deformar. Quando
está fora de uso, a entrada do ar no 1º andar deve estar sempre
tapada, de modo a evitar a entrada de poeiras, água ou outros
corpos estranhos.
Depois de montado na garrafa, devem
evitar-se movimentos bruscos para evitar
que o regulador vá embater em obstáculos
que o possam danificar. O melhor é
guardar o 2º andar dentro de um dos
bolsos do colete, ou então prendê-lo
com um dispositivo apropriado, para
que não ande solto.
Após o mergulho e antes de ser
retirado da garrafa, o regulador deve ser
lavado abundantemente com água doce. A
torneira deve manter-se aberta para que o
sistema esteja sob pressão, evitando assim
qualquer entrada de água na válvula de baixa pressão
A junta tórica que faz a vedação
entre o regulador e a garrafa exige no 2º andar.
cuidados especiais O 2º andar de emergência deve estar preso ao
equipamento durante o mergulho, sem nunca ser
deixado solto, a bater nas rochas ou arrastando pela areia, para evitar danos.
O regulador deverá ser verificado anualmente, no final ou no início da época, por
um técnico especializado que deverá substituir os componentes deteriorados e
proceder à sua lubrificação e afinação.

Nunca entregue a manutenção do seu regulador a curiosos pois dele


depende a sua sobrevivência

72 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T6

A mangueira que liga os dois andares do regulador deve ser cuidadosamente


conservada. Nunca deve ficar dobrada durante o armazenamento e transporte dentro
do saco de mergulho. Como qualquer outro material de mergulho, nunca deve ser
deixada exposta ao sol ou a elevadas temperaturas.
A ligação da mangueira às uniões roscadas deverá ser inspecionada com
regularidade e frequentemente, para garantir que não existe qualquer golpe e que a
junção está perfeita.
Quando se retira uma mangueira do regulador, a abertura do regulador e
a extremidade da mangueira deverão ser tapadas com os tampões de origem,
evitando a entrada de corpos estranhos.
O colete de mergulho, é outra peça do equipamento que é fundamental manter
bem cuidada e funcional. Tal como o indicado para os outros equipamentos, também
o colete deve ser lavado com abundante água doce no final do mergulho. Todos os
recantos do colete devem ser cuidadosamente lavados, fazendo incidir o jato de
água nas válvulas de escape e no bocal e sistema de enchimento da traqueia.
O colete deve ser bem lavado por dentro com água doce e imediatamente
despejado. A seca-
gem deve ser feita ao
abrigo do calor e da
luz solar, pendurado
pelas precintas ou
num cabide.
Depois de seco o
colete deve ser guar-
dado no saco de
mergulho, sem ser
dobrado e com as
abas viradas para
cima, colocando-se
depois o restante
equipamento no seu
interior, e fechando
as abas no fim. O sistema de enchimento do colete merece uma atenção redobrada
Todas as partes
metálicas do colete devem ser cuidadosamente limpas e o sistema de admissão de
ar deve ser revisto e lubrificado regularmente por um técnico especializado, para
garantir o seu perfeito funcionamento e sobretudo para que botão de enchimento
nunca fique preso quando acionado. As precintas e fivelas ou mosquetões devem
ser mantidas limpas e em boas condições para garantir que funcionam corretamente.
O colete deve ser transportado de forma cuidada, evitando que entre em contacto
com superfícies abrasivas ou cortantes para que não sofra esfoladuras ou rasgões
(cuidado com a arrumação da faca. Nunca a deixe fora da baínha!).

Curso de Mergulho CMAS P1 73


MÓDULO 1T6

ARMAZENAMENTO

No final da temporada todo o equipamento deve ser bem lavado, para retirar todo
o salitre entranhado. Depois deve ser seco à sombra e guardado, evitando que os
equipamentos fiquem em cima uns dos outros. Deve evitar-se que as mangueiras e
as barbatanas fiquem dobradas, que a máscara fique com o cinto de lastro em cima,
e que o colete fique com a traqueia dobrada ou comprimida.
Os equipamentos acessórios, depois de secos e lubrificadas as partes metálicas,
devem ser guardados dentro dos respetivos estojos.
Antes de guardar o fato por um longo período (Inverno, por exemplo) é aconselhável
uma passagem pela máquina de lavar a 30º (lavagem ligeira), exceto no caso dos
fatos secos.
O fato deve ser arrumado pendurado num cabide largo, ao abrigo da luz e do
calor, depois de ter sido aplicada uma ligeira camada de silicone nos fechos. Nas
partes de látex ou de borracha sem forro deve ser aplicado pó de talco.
A garrafa deve ser guardada num local seco, na vertical (de pé), com a torneira
protegida de qualquer pancada e a saída de ar tapada. Os reguladores podem ser
armazenados pendurados pelo primeiro andar, assegurando que não há perigo de
caírem.

Não esquecer de mandar fazer a revisão anual do equipamento a um


técnico especializado, para o manter sempre em perfeitas condições de
funcionamento

74 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T6

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa)

1º) A manutenção do equipamento de mergulho deve ser o mais


cuidadosa possível, porque do seu perfeito funcionamento depende
a segurança do mergulhador.
a) Verdadeiro
b) Falso

2º) Após o mergulho o equipamento deve:


a) Ser guardado no saco até à próxima utilização
b) Ser muito bem lavado com água doce
c) Ser posto a secar ao sol
d) Nenhuma resposta está correta

3º) A faca de mergulho deve guardar-se:


a) Embrulhada em papel de jornal
b) Enfiada na bainha
c) Dentro de um dos bolsos do colete de mergulho
d) Depois de bem oleada

4º) Os instrumentos que possuem coroa rotativa devem ser:


a) Bem lavados com água doce
b) Postos a secar à sombra
c) Lubrificados periodicamente
d) Todas as respostas estão corretas

5º) O cinto de lastro não deve ser atirado para o chão para:
a) Evitar que se suje
b) Evitar que as malhas de chumbo se deformem
c) Evitar que a fivela se abra
d) Nenhuma resposta está correta

6º) Durante o transporte, a garrafa deverá ser mantida sempre na


posição vertical.
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 75



MÓDULO 1T6

QUESTIONÁRIO

7º) O regulador deve ser colocado no fundo do saco de mergulho,


sendo o restante equipamento colocado por cima.
a) Verdadeiro
b) Falso

8º) O regulador deverá ser revisto anualmente.


a) Verdadeiro
b) Falso

9º) Depois de montado na garrafa até à sua utilização, o 2º andar do


regulador deve ser:
a) Deixado solto
b) Enrolado à volta da garrafa
c) Guardado num dos bolsos do colete de mergulho
d) Nenhuma das respostas está correta

10º) As juntas tóricas da garrafa e do regulador (sistema DIN), devem


ser
a) Limpas cuidadosamente
b) Cobertas com tinta anti-ferrugem
c) Lubrificadas com óleo vegetal
d) Nenhuma resposta está correta

11º) Todas as partes metálicas do equipamento de mergulho devem


ser bem secas para evitar a oxidação.
a) Verdadeiro
b) Falso

12º) No fim da época de mergulho todo o equipamento de mergulho


deve ser bem lavado com água doce e, após a secagem à sombra,
guardado em sítio seco ao abrigo da luz.
a) Verdadeiro
b) Falso

76 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T7

SINALIZAÇÃO SUBAQUÁTICA

TÓPICOS

 Importância e características dos sinais.


 Código Internacional de Sinalização Subaquática.
 Sinalização de mergulhador para mergulhador. Sinais à superfície e
em imersão.
 Sinais de presença. Sinalização diurna e nocturna.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Os tipos de sinalização existentes no mergulho.


√ O significado de cada um dos sinais de mergulho.
√ Executar corretamente os sinais de mergulho.
√ Responder corretamente à sinalização que lhe é feita.

Curso de Mergulho CMAS P1 77


MÓDULO 1T7

A COMUNICAÇÃO NO MERGULHO
Ainda que o som se propague melhor na água do que no ar, é impossível ao
mergulhador comunicar verbalmente debaixo de água com o seu companheiro de
mergulho, a não ser através de equipamentos de comunicação, mais ou menos
complicados e caros.
A maneira mais simples de conseguir essa comunicação é através de sinalização
gestual. Basicamente todos os sinais devem ser intuitivos, fáceis de executar,
fáceis de compreender e fáceis de responder
A FPAS adopta o conjunto de sinais básicos utilizado pela CMAS. Faz também
referência a outros sinais que, embora não fazendo parte desse conjunto, estão
amplamente difundidos e são utilizados internacionalmente.

Qualquer sinal adicional ao conjunto dos sinais básicos, deve ser sempre
explicado claramente a todos os membros do grupo, antes do mergulho

Existem Sinais Diurnos e Sinais Nocturnos para comunicação no mergulho. Estes


sinais dividem-se em quatro grupos:
 Sinais entre mergulhadores à superfície.

 Sinais entre mergulhadores submersos.

 Sinais entre mergulhador à superfície e embarcação.

 Sinais entre mergulhador submerso e embarcação.

Debaixo de água, o primeiro cuidado que um mergulhador deve ter antes de


executar qualquer sinal, é verificar se o companheiro de mergulho está preparado
para o receber, sob pena do sinal não resultar.
Se for necessário, atrai-se a sua atenção através de um dispositivo de sinalização
sonora (ver Módulo 1T3 - Equipamento diverso) ou simplesmente batendo com
o cabo da faca na garrafa.
Garantida a atenção do companheiro, deve então executar-se o sinal adequado,
lentamente e com a maior clareza, para uma perfeita compreensão.
Se for um sinal que traduza uma pergunta, o sinal de resposta deve ser igualmente
claro, para que também seja bem compreendido.

Todos os sinais devem obrigatoriamente receber uma resposta, ainda que


seja a simples confirmação de que foram compreendidos

Em mergulho nocturno, utilizam-se os mesmos sinais que durante o dia, devendo


o mergulhador fazer incidir a luz da sua lanterna sobre a mão que efetua o sinal, de
modo a que este seja visto pelo companheiro de mergulho. Além disso existem dois
sinais especificamente noturnos, que são feitos exclusivamente com a lanterna.

78 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T7

SINAIS DE COMUNICAÇÃO SUBAQUÁTICOS

Eu Tu Estás/Estou bem (ok) Assim-assim

Vertigem Falta de ar Subir Descer

Abrandar Parar (stop) Reunir Direção

Olhar para Partilhar ar Ver pressão 100 bar

50 bar (reserva) Encher colete Atar Não

Curso de Mergulho CMAS P1 79


MÓDULO 1T7

SINAIS DE COMUNICAÇÃO À SUPERFÍCIE

Estou aqui Estou bem (ok) Socorro

À superfície, entre mergulhadores que não possam contatar pela fala, por se
encontrarem afastados ou por as condições de vento e de mar não permitirem
retirar o regulador da boca, os sinais devem reduzir-se a “estou bem” ou “não
estou bem - socorro”. Nesta situação os mergulhadores devem preocupar-se
prioritariamente em juntar-se um ao outro.
O mesmo se aplica à sinalização entre o mergulhador à superfície e a embarcação,
devendo, neste caso a embarcação aproximar-se do mergulhador nas melhores
condições de segurança.

À superfície, o mergulhador nunca deve agitar os braços fora de água,


a não ser que se sinta em dificuldade

É importante que o mergulhador possua um dispositivo de sinalização sonora (ver


Modulo 1T3 - Equipamento Diverso) para alertar o companheiro ou a embarcação.
Um dos sistemas mais utilizados para a comunicação entre um mergulhador
submerso e a embarcação de apoio, é através de um cabo, manipulado de acordo
com um “código de puxões” definido internacionalmente. Como esta situação
não se insere na actuação do mergulhador CMAS P1, a
descrição deste sistema será feita num nível superior
de formação.
Actualmente existem meios electrónicos de
chamamento dos mergulhadores para a
superfície e de orientação subaquática. Estes
últimos permitem que o mergulhador, baseado
nas indicações de um detector de sinal eletrónico
que transporta no pulso, se dirija
Emissor e recetor de sinal. O recetor indica diretamente para a fonte emissora do sinal,
a direcção em que se encontra o emissor colocada sob a embarcação ou no local de
saída do mergulho.
Todos os sinais deverão ser treinados na aula teórica, para depois serem
reproduzidos sem qualquer hesitação durante as aulas práticas

80 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T7

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) Para se fazer compreender debaixo de água o mergulhador utiliza:


a) O código Morse
b) O código Internacional de Sinais de Mergulho
c) O código Internacional de Sinais (CIS)
d) O código Da Vinci
e) Nenhuma resposta está correta

2º) Um dos princípios a que deve obedecer um sinal de mergulho é ser:


a) Feito rapidamente
b) Feito com a mão aberta
c) Intuitivo
d) Executado durante 15 segundos
e) Nenhuma resposta está correta

3º) Á superfície, o mergulhador deve agitar os braços fora de água


quando:
a) Está contente
b) Está com frio
c) Está em dificuldade
d) Está com pressa de sair da água
e) Nenhuma resposta está correta

4º) Pôr a mão ao nível do pescoço, na horizontal e com a palma virada


para baixo, movimentando-a para a frente e para trás, significa:
a) Estou com frio
b) Dói-me a garganta
c) Quero ir para a superfície
d) Estou sem ar

5º) À superfície, levantar o braço esticado a cima da cabeça e baixá-lo


lateralmente batendo fortemente sobre a água, significa:
a) Estou com pressa de ir para terra
b) Estou contente
c) Estou em dificuldade
d) Estou com uma cãibra

Curso de Mergulho CMAS P1 81



82 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T8

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FÍSICA

TÓPICOS

 Pressão atmosférica e pressão hidrostática. Pressão absoluta. Relação


com a profundidade.
 Comportamento dos gases sob pressão. Relação entre a pressão e o
volume.
 Efeitos da variação de pressão sobre o corpo. As cavidades que contêm
ar. Compensação.
 Efeitos da variação de pressão sobre o equipamento. Máscara,
colete, fato isotérmico. Equilíbrio das pressões.
 Relação entre o peso dum corpo mergulhado e a impulsão.
 Fatores para o equilíbrio da flutuação e seu ajustamento.
 A luz. Alterações na visão.
 O som. Alterações na audição.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ O valor da pressão atmosférica ao nível do mar, como varia a pressão


hidrostática e o que é a pressão absoluta.
√ As unidades mais usuais para medir a pressão.
√ Como varia o volume de um gás com as variações de pressão.
√ Que efeito têm nas cavidades do corpo as variações da profundidade.
√ Em que consiste a manobra de compensação.
√ Qual o efeito das variações de pressão nos equipamentos que contêm ar.
√ O que acontece a um corpo mergulhado num líquido, em função do seu
peso e volume.
√ Como se pode obter o equilíbrio de um corpo mergulhado num líquido.
√ Como usar a caixa torácica de modo a reduzir o manuseamento do colete.
√ Que alterações da visão se verificam durante o mergulho e como se
corrigem.
√ Que alterações da audição se verificam durante o mergulho e que
precauções deve ter o mergulhador.

Curso de Mergulho CMAS P1 83


MÓDULO 1T8

NOÇÕES SUMÁRIAS DE PRESSÃO

MEIO AÉREO - Experimentalmente sabe-se que um litro de ar atmosférico pesa


1,293g ou, mais simplesmente 1,3g.
Assim, todos os corpos à superfície da terra estão sujeitos, por unidade de
superfície, ao peso da coluna de ar cuja altura corresponde à altura da camada de ar
que envolve o globo terrestre, que constitui a troposfera (17.000m no equador e
6.000m nos pólos), podendo ser tomado como valor médio os 12.000 metros.

Pressão é o peso (ou força) exercido por unidade de superfície

Podemos dizer que a pressão exercida pelo ar atmosférico sobre os corpos, situados
ao nível do mar é de:

P = 1033 grama por centímetro quadrado (g/cm2)


ou aproximadamente 1kg/cm2

A pressão pode também medir-se noutras unidades, tais como, atmosferas,


milímetros de coluna de mercúrio, bar, Pascal, etc.

P = 1 atmosfera P = 1,013bar
P = 760mm de mercúrio P =1,01325x105 Pa

Esta pressão diminui com a altitude, não sendo, no entanto, essa variação
proporcional aos dois parâmetros, como podemos ver no gráfico seguinte. Note-se
que, para o valor da pressão se reduzir a metade é necessário que a altura atinja
aproximadamente os cinco mil metros.

1,2

1
1

0,8
PRESSÃO EM Kg/CM2

0,8
0,72

0,6 0,6
0,5

0,3 9
0,4
0,3
0,2
0,2
0,1

0
0 2 000 400 0 6 000 800 0 100 00 120 00 140 00 160 00 18 000
A L TITU D E EM M E T RO S

84 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T8

MEIO AQUÁTICO - Analogamente ao ar, sabe-se experimentalmente que um


litro de água do mar (1000cm3) pesa aproximadamente 1000g.
Isto significa que uma coluna de água do mar apenas com dez metros de altura
exerce sobre superfície de um corpo, aproximadamente, a pressão de 1kg/cm2.
Ou seja, por cada dez metros de coluna de água tem-se uma variação de pressão de
1kg/cm2 (ou 1 atmosfera ou 1bar), pressão essa que é igual à pressão exercida pelo
ar atmosférico ao nível do mar.
Podemos portanto dizer que a pressão exercida sobre um corpo mergulhado,
pressão absoluta, é a soma da pressão atmosférica com a pressão exercida
pela coluna de água, cuja altura é igual à profundidade a que o corpo está mergulhado
e que se designa por pressão hidrostática.

PROFUNDIDADE PRESSÃO PRESSÃO


HIDROSTÁTICA (Ph) ABSOLUTA(Pa)

0m --- 1 bar
-10 m 1 bar 2 bar
-20 m 2 bar 3 bar
-30 m 3 bar 4 bar
-40 m 4 bar 5 bar
-50 m 5 bar 6 bar
-60 m 6 bar 7 bar
-70 m 7 bar 8 bar
-80 m 8 bar 9 bar
-90 m 9 bar 10 bar

A pressão a uma determinada profundidade é igual ao número de metros (n)


correspondente a essa profundidade, a dividir por dez, mais um:
P = n/10 + 1

Recapitulando, a Pressão Absoluta é a soma da Pressão Hidrostática com a Pressão


Atmosférica, ou Pa = Ph + Patm.

A titulo de curiosidade, se mergulharmos a 1,80m e tentarmos respirar o ar da


superfície através dum tubo não conseguimos! A pressão que se exerce sobre a
nossa caixa torácica não nos permite inspirar, uma vez que, os músculos inspiratórios
não conseguem vencer o aumento de pressão de apenas 0,18kg/cm2, exercida
pela coluna de água que temos sobre nós.
Podemos agora compreender a importância de que se reveste a ação que o
aumento de pressão exerce sobre o organismo humano quando mergulhado.

Curso de Mergulho CMAS P1 85


MÓDULO 1T8

PRESSÃO E VOLUME

Vejamos experimentalmente o que se passa quando mergulhamos na água um


recipiente cheio de ar, de boca para baixo. Suponhamos que o recipiente tem a
capacidade de um litro e que o vamos levando progressivamente para uma
profundidade cada vez maior.

Assim, ao nível do mar, à pressão


P0 = 1kg/cm2, o volume de ar, V0,
0 metros 1 kg/cm2
1 litro é um litro.
A 10 metros de profundidade, à
pressão P1 = 2kg/cm2, o volume
reduziu-se para metade do volume
-10 metros 2 kg/cm2 1/2 litro inicial, V1 = 1/2l.
A 20 metros de profundidade, à
pressão P2 = 3kg/cm2, o volume
reduziu-se para um terço do volume
-20 metros 3 kg/cm2 1/3 litro inicial, V2 = 1/3l.
A 30 metros de profundidade, à
pressão P3 = 4kg/cm2, o volume
-30 metros 4 kg/cm2 1/4 litro reduziu-se para um quarto do volume
inicial, V3 = 1/4l.
A 40 metros de profundidade, à
pressão P4 = 5kg/cm2, o volume
-40 metros 5 kg/cm2 1/5 litro
reduziu-se para um quinto do volume
inicial, V4 = 1/5l.

Se relacionarmos o volume com a pressão, poderemos escrever:

V0 x P0 = 1 x 1 = 1 V3 x P3 = 1/4 x 4 = 1
V1 x P1 = 1/2 x 2 = 1 V4 x P4 = 1/5 x 5 = 1
V2 x P2 = 1/3 x 3 = 1 V x P = constante

Verifica-se que o produto é constante e que, além disso, para a mesma diferença
de profundidade, a variação do volume é tanto mais importante quanto mais perto
da superfície se dá essa variação.
Na realidade, entre os 0 e os -10 metros, para uma variação da pressão de 1kg/
cm2, o volume reduz-se para metade (0,5l), enquanto que entre os -30 e os
-40 metros, para a mesma variação de pressão (1kg/ cm2) o volume reduz-se de
1/4 de litro para 1/5 de litro (ou seja apenas 0,05l), portanto 10 vezes menos do
que no primeiro caso.

86 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T8

O que se disse para a descida é também absolutamente válido para a subida. Se


a 90m de profundidade introduzirmos um litro de ar num balão de recuperação com
capacidade para dez litros:
 Aos -60m o volume do ar no recipiente é de 1,42l.

 Aos -30m o volume do ar no recipiente é de 2,5l.

 Aos -10m o volume do ar no recipiente é de 5l.

Finalmente ao nível do mar o volume do ar é de cinco dez (10l), enchendo


completamente o balão de recuperação (ver Curso de Especialização de
Pesquisa e Recuperação).

Para a mesma diferença de profundidade, a variação do volume é tanto


mais importante quanto mais perto da superfície se dá essa variação

As variações de volume provocadas pela variação da pressão sobre o corpo do


mergulhador manifestam-se nas cavidades com ar, principalmente os ouvidos e os
seios perinasais (seios maxilares, frontais, etc.), dentes e pulmões. Isto obriga o
mergulhador a efetuar manobras de compensação (usando o ar que respira e que
está à pressão exterior) para manter um equilíbrio constante entre as pressões exterior
e interior. Se estas manobras de compensação não forem executadas, a diferença de
pressões pode originar acidentes barotraumáticos de maior ou menor gravidade.
Também o ar contido nalgumas peças do equipamento de mergulho (máscara,
colete e fato isotérmico) está sujeito às variações de volume provocadas pelas variações
da pressão do meio ambiente, devendo haver o maior cuidado em manter o perfeito
controlo dessas variações volumétricas, para evitar lesões barotraumáticas ou de
outro tipo, que serão tratadas em detalhe nos módulos respetivos.

Curso de Mergulho CMAS P1 87


MÓDULO 1T8

PESO E IMPULSÃO

Vejamos o que se passa quando mergulhamos um corpo na água. Tomemos


como exemplo um corpo com o volume de 1dm3, ou seja, 1 litro. O corpo está
suspenso de um dinamómetro, no ar, e o peso
indicado é de 6kg.
Ao mergulharmos o corpo na água o peso 1 1
2 2
indicado pelo dinamómetro passa a ser de 3 3
5kg. O volume da água deslocada pelo 4 4
6 KG 5 5
corpo é igual ao volume do corpo (1 6 6
5 KG
litro). Como um litro de água pesa 1kg 7 7
a força que empurra o corpo para cima
terá esse valor.
A esta força vertical, que se exerce
debaixo para cima, chama-se
impulsão. V=1 litro
Vamos agora analisar as situações
em que se pode encontrar um corpo
mergulhado, em função do seu peso e volume e, portanto,
da impulsão a que está sujeito.
1º Caso - O peso (p) do corpo é igual à impulsão (I). Neste caso o corpo não
sobe nem desce. Está em equilíbrio hidrostático. É a situação ideal para o
mergulhador, que se obtém com uma correta lastragem.
2º Caso - O peso (p1) do corpo é maior do que a impulsão (I). Neste caso o
corpo afunda-se. É o que se passa com um mergulhador incorretamente lastrado
(com peso a mais).
3º Caso - O peso (p2) do corpo é menor do que a impulsão (I). O corpo sobe,
empurrado para a superfície pela impulsão. É o que se passa com um mergulhador
incorretamente lastrado (com peso a menos).
4º Caso - Ao atingir a superfície, o corpo descrito no 3º caso sai
fora de água até o seu peso igualar o peso do volume de água
p2

p2 V
p
V I2
p1
I
V
I
I
1º Caso 2º Caso 3º Caso 4º Caso

88 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T8

deslocada. O novo valor da impulsão (I2<I) volta a ser igual ao valor do peso (p2)
do corpo. O corpo fica então a flutuar, em equilíbrio hidrostático.
É por causa da relação entre o peso e a impulsão que o mergulhador usa um cinto
de lastro. O chumbo utilizado no cinto tem um peso muito superior à impulsão que
sofre e serve para corrigir o equilíbrio hidrostático do mergulhador, que normalmente
possui um peso inferior à impulsão, sobretudo se utiliza um fato isotérmico em
neoprene, que lhe dá uma flutuação muito grande.
A impulsão também se faz sentir sobre as garrafas de mergulho. Normalmente,
quando estão cheias, as garrafas têm um peso maior do que a impulsão e afundam-
se. Porém, após serem utilizadas, algumas ficam com um peso quase igual ou mesmo
inferior à impulsão que sofrem, tendo neste caso tendência para flutuar.
Um mergulhador corretamente equilibrado pode servir-se das variações
de volume da sua caixa torácica e do colete para fazer variar a impulsão
sobre ele exercida e consequentemente o seu equilíbrio hidrostático.
Suponhamos um mergulhador de peso p1. Estando a respirar normalmente, sendo
o volume médio da sua caixa torácica V1 e estando sujeito à impulsão I1, está em
equilíbrio hidrostático.
É intuitivo que, se este mergulhador fizer uma inspiração profunda (superior à
normal), que lhe faça aumentar significativamente o volume da caixa torácica (V2),
este aumento de volume irá traduzir-se num aumento da impulsão (I2) relativamente
ao seu peso (p1), o que origina a sua subida.
Pelo contrário, se fizer um expiração muito profunda (superior à normal) fazendo

p1 p1 p1

V2 V1 V3

I3
I1
I2

sobe em equilíbrio desce

O mergulhador pode controlar a sua flutuabilidade com o volume dos pulmões

Curso de Mergulho CMAS P1 89


MÓDULO 1T8

diminuir o volume da caixa torácica (V3), esta diminuição de volume irá


traduzir-se numa diminuição da impulsão (I3) relativamente ao seu peso
(p1), o que origina a sua descida.
Todos sabemos que para um corpo alterar o seu estado de equilíbrio (em repouso
ou em movimento) é necessária uma causa exterior (uma força). Esta alteração não
é imediata. A esta propriedade dos corpos chama-se inércia.
É esta situação que se verifica quando tentamos alterar o nosso equilíbrio
hidrostático, para subir ou para descer. Neste caso específico, a resistência oferecida
pela água faz com que o início do movimento só se comece a manifestar alguns
segundos depois do mergulhador ter modificado o seu equilíbrio hidrostático, quer
utilize o volume da caixa torácica ou o do colete.
É necessário que esteja sempre bem presente a existência deste atrazo entre a
acção e a reação, para evitar a tendência (que inicialmente o mergulhador tem)
de reforçar a injeção ou a purga de ar do colete, conforme queira subir ou descer, ao
verificar que não se manifesta qualquer movimento imediato.
O resultado desta injeção ou purga de ar excessivas é existir ar a mais
ou a menos no colete quando o movimento se inicia, o que provoca uma
impulsão superior ou inferior à adequada para atingir a nova situação de
equilíbrio.
Por outro lado, a insuflação de ar deve ser feita de maneira criteriosa, de modo a
não encher bruscamente o colete, que trará o mergulhador descontroladamente
para superfície se entretanto não conseguir controlar a velocidade de subida despejando
o ar em excesso.
Esta subida intempestiva pode originar graves acidentes, como a sobrepressão
pulmonar, se durante a subida o ar dos pulmões não for expirado com suficiente
rapidez, ou um acidente de descompressão se não for respeitada a velocidade de
subida imposta pela tabela. (Ver Módulos 10 e 12 - Acidentes relacionados com
o mergulho).

É fundamental que o mergulhador saiba controlar o volume inspiratório e


expiratório (volume da caixa torácica) para “afinar” o equilíbrio hidrostático,
sem estar a recorrer constantemente ao colete

A LUZ - ALTERAÇÕES NA VISÃO

O olho humano está adaptado para a visão no meio aéreo. Os raios luminosos
provenientes do objeto viajam pelo meio aéreo, passam através da pupila, atravessam
o cristalino (meio aquoso) e vão formar uma imagem focada sobre a retina, daí
sendo levada uma imagem nítida ao cérebro através do nervo ótico.
Quando mergulhado na água, os raios luminosos provenientes do objeto viajam
pelo meio aquático penetrando através da pupila, atravessam o cristalino

90 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T8

(meio aquoso) e vão formar a


imagem atrás da retina
(desfocada), pelo que a imagem Ar
levada ao cérebro através do nervo
ótico se apresenta difusa
Como se escreveu no Módulo 1T2
- Equipamento básico, a função da
máscara é evitar esse inconveniente, Água
colocando uma camada de ar entre o
meio aquático e o olho. Assim, os raios
luminosos, ao atravessarem esse meio
aéreo e o cristalino, vão formar uma
imagem focada sobre a retina, que,
deste modo, se apresenta nítida. Água Ar
Porém, os raios luminosos sofrem um
desvio na passagem do meio aquático
(onde se encontra o objeto) para o
meio aéreo (dentro da máscara) e
o objecto parece maior e mais
perto do mergulhador. Na passagem da água para o ar, os raios luminosos
Outro fenómeno que se verifica sofrem um desvio que altera a visão dos objectos
é o da absorção da luz. Os raios
luminosos ao penetrarem na água sofrem uma perda rápida da sua
intensidade luminosa. Esta perda deve-se não só à absorção pela água,
mas também à difusão causada pelas partículas que se
encontram em suspensão. No mar, em média, a luz é
cerca de 40% a -1 metro, 14% a -10 metros, 7% a -
20 metros e apenas de 1,5% a -40 metros.
Em simultâneo com esta extinção
progressiva, produz-se um outro
fenómeno, que faz modificar a
composição espectral da luz e provoca
5m
uma alteração das cores.
Na verdade a água comporta-se como
12m um filtro que absorve progressivamente as
25m radiações que compõem o espectro solar.
30m Primeiro são absorvidos os comprimentos
40m
de onda mais longos (infravermelhos,
vermelhos, etc.) e por fim os comprimentos
200m de onda mais curtos (verde, azul).
Profundidades aproximadas que atingem É por isso que mergulhadores veem o
as cores do espectro solar seu sangue esverdeado, se fizerem uma

Curso de Mergulho CMAS P1 91


MÓDULO 1T8

ferida quando estão num mergulho profundo, ou constatam que a estrela


do mar que veem azulada no fundo, ostenta uma magnífica cor vermelha
sob a luz de uma lanterna ou quando se encontra junto da superfície.
O SOM - ALTERAÇÕES NA AUDIÇÃO

Tal como o olho, o ouvido humano está adaptado para a audição no meio aéreo,
podendo captar sons entre as frequências dos 20 e os 20 000 ciclos.
No meio aéreo, a velocidade de propagação do som é de 340m/seg. à temperatura
de 8ºC, e os sons de baixa frequência (sons graves) atingem maiores distâncias que
os de alta frequência (sons agudos).
Graças ao afastamento dos dois ouvidos (cerca de 20cm), o desfasamento temporal
com que o som detetado por cada um deles é transmitido ao cérebro, permite-nos
saber de imediato qual a direção da sua origem.
Na água, à
m e s m a
temperatura de
direcção 340 m/seg 8ºC, a velocidade
de propagação do
som é de 1435m/
seg, mais de
quatro vezes a
velocidade de
propagação no ar.
direcção 1435 m/seg Em águas com
temperatura mais
elevada, esta
velocidade é ainda
maior, atingindo
A grande velocidade com que o som se propaga na água impede o
os 1500m/seg.
mergulhador de perceber a direção da sua origem Nestas condições,
o desfasamento de
tempo com que o som é detetado por cada um dos ouvidos é demasiado
curto e o cérebro tem grande dificuldade em avaliar a direção da origem
do som.
É por isso que o som parece chegar ao mergulhador de todas as direções,
particularmente se for de baixa frequência, como os sons graves produzidos
pelo hélice dum motor pouco rotativo, que começam a ouvir-se a grande
distância. No caso dos sons graves, na melhor das hipóteses, consegue
ter-se a noção de aproximação ou afastamento da fonte sonora, devido
ao aumento ou diminuição de intensidade do som, conforme a situação
verificada.

92 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T8

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) A pressão atmosférica ao nível do mar é:


a) 1 atmosfera/cm2
b) 1kg
c) 1kg/cm3
d) 1bar

2º) A pressão a que um mergulhador está submetido a 20 metros de


profundidade é:
a) 2kg/cm2
b) 3bar
c) 4kg/cm2
d) 5bar

3º) O volume de uma determinada quantidade de ar a 30m de


profundidade é:
a) Metade do volume à superfície
b) O triplo do volume à superfície
c) Um terço do volume à superfície
d) Um quarto do volume à superfície

4º) As variações do volume dos gases são tanto maiores quanto maior
é a profundidade
a) Verdadeiro
b) Falso

5º) Qual das peças do equipamento de mergulho é influenciada


pela variação do ar nela contido?
a) O cinto de lastro
b) As barbatanas
c) A máscara
d) O profundímetro
e) Nenhuma resposta está correta

Curso de Mergulho CMAS P1 93



MÓDULO 1T8

Se o som tiver uma frequência muito elevada (sons agudos


produzidas pelo hélice dum motor muito rotativo) já começa a ser
QUESTIONÁRIO
possível referenciar a direção da origem do som, mas neste caso o
6º) Osom
atocomeça a ser ouvido
de compensar quando
destina-se já está bastante
a equilibrar mais perto,
as pressões do ar com
o inconveniente de ser produzido por um barco rápido.
contido em algumas cavidades do corpo com a pressão exercida pela
água quePerante
rodeiaesta situação o mergulhador deve ter cuidados especiais
o mergulhador
quando ouve
a) Verdadeiro um som durante a subida, pois pode arriscar-se a ser
abalroado
b) Falso por uma embarcação que se aproxime, sobretudo se for
uma embarcação rápida.
7º) Quando um corpo está mergulhado num líquido parece ter menos
peso. Tal efeito deve-se:
a) À força da gravidade
b) À impulsão
c) À forma do corpo
d) À temperatura do corpo

8º) Quando um corpo se mantém parado (não sobe nem desce) seja
qual for a profundidade a que está mergulhado, diz-se que está em:
a) Equilíbrio dinâmico
b) Suspensão
c) Equilíbrio hidrostático

9º) Para obter o equilíbrio hidrostático o mergulhador pode utilizar:


a) O cinto de lastro
b) O colete de mergulho
c) A caixa torácica
d) Todas as respostas estão corretas

10º) Se um mergulhador em equilíbrio hidrostático fizer uma inspiração


muito prolongada tem tendência para
a) Descer
b) Não se mover
c) Subir
d) Nenhuma resposta está correta

11º) Se os olhos estiverem em contacto com a água, os objetos


veem-se difusos porque a imagem se forma:
a) Sobre a retina
b) Atrás da retina
c) À frente da retina
d) Nenhuma resposta está correta

94 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T8

QUESTIONÁRIO

12º) O ar que se encontra entre o vidro da máscara e o olho permite


ver, debaixo de água, uma imagem nítida:
a) Igual ao objecto
b) Maior que o objecto
c) Menor que o objecto
d) Menos luminosa

13º) Qual é a primeira cor do espectro solar que desaparece debaixo


de água?
a) Violeta
b) Verde
c) Amarelo
d) Azul
e) Nenhuma resposta está correta

14º) A velocidade de propagação do som na água é maior que no ar:


a) Dez vezes
b) Quatro vezes
c) Sete vezes e meia
d) Vinte vezes

15º) Debaixo de água os sons graves (de baixa frequência) começam


a ouvir-se a grande distância.
a) Verdadeiro
b) Falso

16º) Debaixo de água o mergulhador pode conseguir determinar


a direção donde vem um som agudo (de alta frequência).
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 95



96 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T9

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FISIOLOGIA

TÓPICOS

 Sistemas de suporte da vida humana. Sistemas circulatório e respiratório.


 Trocas gasosas nos pulmões. Função de cada gás componente do ar
atmosférico. Hematose.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ As partes principais dos aparelhos circulatório e respiratório.


√ Como e onde se processam as trocas gasosas dos principais gases que
compõem o ar atmosférico.
√ Quais os principais gases intervenientes nessas trocas.
√ Os cuidados a ter com a respiração durante o mergulho.

Curso de Mergulho CMAS P1 97


MÓDULO 1T9

O SISTEMA CIRCULATÓRIO

O sistema circulatório é constituído pelo coração e pelos vasos sanguíneos. Este


sistema é um circuito fechado que tem a função de transportar o sangue. Este, por
seu turno, tem como principal função levar oxigénio e nutrientes a todas as células
do organismo e recolher delas o anidrido carbónico e outros produtos resultantes do
metabolismo.

O CORAÇÃO - O coração é um órgão muscular, oco, que se encontra no tórax,


numa cavidade chamada mediastino, situada entre os pulmões, atrás do esterno.
Está rodeado por uma fina película ou membrana, o pericárdio, que lhe permite
bater de forma contínua sem problemas de fricção. O coração está situado
obliquamente, cerca de um terço à direita e dois terços à esquerda do esterno.
O coração, é uma potente
bomba muscular que, na idade
adulta, bate cerca de 70 vezes
Coração por minuto e impele para o
direito organismo cerca de 60ml de
Coração sangue em cada contração.
esquerdo Durante o exercício físico, este
fluxo (débito cardíaco) duplica ou
triplica, conforme a intensidade
Sangue Sangue do exercício.
venoso arterial Do ponto de vista da funcio-
nalidade, o coração é constituído
por duas bombas separadas, uma
no lado esquerdo e outra no lado
O coração é uma bomba muscular dividida em dois
direito. Cada uma destas bombas
circuitos separados possui duas câmaras e funciona
com base em contrações mus-
culares, ejetando o sangue para fora das câmaras.
As câmaras superiores, as aurículas, recebem o sangue vindo do corpo (sangue
venoso) e dos pulmões (sangue arterial) e as câmaras inferiores, os ventrículos,
recebem o sangue proveniente das aurículas e bombeiam-no para fora do coração.
O ventrículo esquerdo bombeia o sangue arterial (rico em oxigénio) para todo o
organismo através de um trajeto chamado grande circulação e o ventrículo direito
bombeia o sangue venoso (pobre em oxigénio) para os pulmões, através de um
trajeto chamado circulação pulmonar ou pequena circulação.

O SANGUE - Um adulto tem em média cerca de 6.000ml de sangue, isto é, cerca


de 1/12 do seu peso corporal. É um líquido viscoso constituído por uma parte sólida
e uma parte líquida. A parte sólida constitui cerca de 42% do sangue total no

98 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T9

homem e 38% na mulher, e é exclusivamente constituída por células. A parte


líquida que transporta essas células em suspensão é o plasma.
As células que constituem a parte sólida distinguem-se estruturalmente e
funcionalmente em glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.
Os glóbulos vermelhos são mais de 99 % das células do sangue. Estes glóbulos
vermelhos contêm uma proteína, a hemoglobina, com vários átomos de ferro onde
se liga o O2. Nas pessoas que vivem em lugares com baixa concentração de oxigénio
(grande altitude), o número de glóbulos vermelhos aumenta.
Os glóbulos brancos (leucócitos) desempenham um papel importante na defesa
do organismo contra vetores portadores de doenças (bactérias) e na manutenção da
nossa imunidade. Existem vários tipos, com diferentes funções.
As plaquetas são importantes na coagulação do sangue. Quando um vaso sanguíneo
é lesado as plaquetas agregam-se formando um tampão (coágulo) que impede que
o sangue extravase para o exterior.

OS VASOS SANGUÍNEOS - O sangue que sai do ventrículo esquerdo, circula através da


artéria aorta, que é a maior do organismo. Esta tem uma parede muscular grossa que se
contrai durante o relaxamento ventricular para manter a pressão arterial durante o
enchimento dos ventrículos. A aorta ramifica-se para todo o corpo.
O sangue que sai do ventrículo direito passa através dos troncos pulmonares, que se
dividem quase de imediato nas artérias pulmonares direita e esquerda. Este sistema
leva o sangue aos pulmões
donde regressa ao coração
PULMÕES
através das veias
pulmonares .
CIRCULAÇÃO VEIAS
Os vasos sanguíneos ARTÉRIAS
PULMONAR pulmonares
pulmonares
constituem uma árvore com “Pequena circulação”
a ramificação progressiva
dos ramos, as artérias, em CORAÇÃO
outros cada vez mais
pequenos, os capilares,
CIRCULAÇÃO
que são os vasos VEIA CAVA A O R TA
SISTÉMICA
sanguíneos de menor “Grande circulação”
calibre. Os capilares são a
última parte de todo o VÉNULAS<--CAPILARES
sistema cardiovascular. É
através das suas finas
paredes que se efetuam as Esquema da circulação e trocas gasosas
trocas de gases e de
V
nutrientes. O coração e os
grandes vasos são apenas um sistema de bombeio e distribuição para os capilares.
A partir dos capilares o sangue é recolhido por umas pequenas veias de paredes muito
finas, as vénulas, e devolvido às aurículas através das veias, de maior dimensão.
A maioria das veias controlam a direção da circulação sanguínea por meio de válvulas
unidirecionais, que evitam que o sangue flua na direção errada.

Curso de Mergulho CMAS P1 99


MÓDULO 1T9

O SISTEMA RESPIRATÓRIO

É constituído pela caixa torácica (costelas, músculos intercostais), diafragma,


pulmões, boca, nariz e uma série de tubos que ligam o nariz e a boca aos pulmões.
Os pulmões têm aproximadamente a forma de um cone. São formados por um
tecido elástico e cada pulmão é envolvido por uma membrana, a pleura. Esta é
constituída por dois folhetos, um colado à caixa torácica o outro colado aos pulmões.
O espaço virtual compreendido entre as duas membranas é a cavidade pleural. Este
espaço contêm uma fina camada de líquido (líquido pleural), que torna possível o
movimento dos pulmões durante a respiração (fase inspiratória).
Na inspiração, o ar entra pelas fossas nasais e pela boca, atravessa a faringe, que
é um tubo curto de tecidos moles, comum ás vias respiratórias e digestiva. A faringe
divide-se em dois tubos: a traqueia e o esófago. A epiglote é uma cartilagem localizada
nesta bifurcação, que seleciona os alimentos para o esófago e o ar para a traqueia.
Antes de chegar à traqueia, o ar circula através da laringe, onde estão inseridas as
cordas vocais.
A traqueia é formada por uma série de anéis cartilagíneos semicirculares. Quando
penetra na cavidade torácica bifurca-se nos brônquios esquerdo e direito, que se
ramificam nos pulmões esquerdo e direito respetivamente.

Traqueia
Alvéolos
Aorta
descendente
Capilares
pulmonares Bronquíolos

Aurícula e
Ventrículo
esquerdos, a
Aurícula e parte arterial
Ventrículo do coração
direitos, a
parte venosa
do coração
Aorta
descendente

Capilares Pulmões
sistémicos

Aparelhos respiratório e circulatório

100 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T9

No interior dos pulmões, os brônquios dividem-se em tubos cada vez mais


pequenos, como o tronco de uma árvore. Estes pequenos ramos da árvore respiratória,
os bronquíolos, possuem um reforço cartilagíneo.
Os alvéolos estão situados no final dos bronquíolos. Têm umas paredes muito
finas e estão cobertos por uma rede de vasos capilares. Normalmente diz-se que os
alvéolos pulmonares parecem cachos de uvas (a palavra alvéolo deriva do latim –
alveus – que significa cavidade).
Nos dois pulmões existem milhares de alvéolos que no seu conjunto ocupam
cerca de 300m2, área equivalente a um campo de ténis.
A barreira entre o gás e o sangue, chama-se membrana alvéolo-capilar. Se esta
membrana se rompe ou se deteriora, pode produzir-se um barotraumatismo pulmonar.

AS TROCAS GASOSAS (gases intervenientes)

O OXIGÉNIO - Trata-se de um gás incolor, inodoro, e insípido. O ar que respiramos


contem aproximadamente 21% de oxigénio. Necessitamos de oxigénio para
metabolisar os alimentos e para fabricar energia para a função celular. O organismo
consome oxigénio, produz calor e outras formas de energia. O ar que expiramos
contém cerca de 16% de oxigénio.
O sangue transporta oxigénio de duas maneiras diferentes: dissolvido no plasma
e quimicamente ligado à hemoglobina. Devido a sua grande capacidade de se unir
à hemoglobina, em condições normais de pressão e temperatura, existe uma pequena
quantidade de oxigénio dissolvido no plasma (2 a 3%). A grande parte do oxigénio
encontra-se, portanto, combinado com a hemoglobina.
Segundo a lei da difusão dos gases, estes movimentam-se por difusão simples
das áreas de maior pressão parcial para as áreas de menor pressão parcial. Deste
modo, a hemoglobina cede o oxigénio aos tecidos, porque a pressão parcial do
oxigénio nos tecidos é inferior à pressão parcial do oxigénio no sangue.

O DIÓXIDO DE CARBONO - O ar que respiramos contem em média cerca de


0,033% de dióxido de carbono. O dióxido de carbono é um produto residual do
nosso metabolismo e é transportado no sangue, uma pequena parte dissolvida no
plasma, outra unida à hemoglobina ou às proteínas. O ar que expiramos contém
cerca de 4% de dióxido de carbono.
O processo de difusão deste gás é o mesmo, mas agora em sentido contrário. A
hemoglobina cede o dióxido de carbono para o interior dos alvéolos pulmonares,
porque a pressão parcial do dióxido de carbono no interior do alvéolo é inferior à
pressão parcial do dióxido de carbono no sangue.
A produção do dióxido de carbono é contínua e tanto maior quanto mais esforço
se exerce durante o mergulho. A sua libertação durante a expiração deve ser objeto
da maior atenção.

Curso de Mergulho CMAS P1 101


MÓDULO 1T9

Os esforços efetuados pelo mergulhador (natação rápida, natação contra a


corrente), juntamente com a resistência oferecida pelo regulador (sobretudo se
está mal afinado), mais a diminuição da fluidez do ar com o aumento da profundidade
e a ansiedade do mergulhador iniciado ao entrar num elemento que não é o habitual,
traduzem-se numa maior produção de dióxido de carbono. Se não for
convenientemente eliminado no ciclo expiratório, este gás pode conduzir a graves
situações das quais falaremos adiante.
Nesta situação, o ato respiratório passa a ser todo ele um ato refletido, ao contrário
do que acontece à superfície, em que a fase expiratória é passiva. O mergulhador
deve expirar profundamente para eliminar a maior quantidade possível do CO2
produzido. Além disso, deve evitar todos os esforços inúteis e manter o seu
equipamento nas condições ideais de funcionamento.

O AZOTO - É um dos gases inertes presentes no ar atmosférico que não participam


em nenhuma função metabólica, e representa aproximadamente 78% do ar que
respiramos. Uma vez que o nosso organismo não utiliza o azoto, a quantidade que
entra no organismo através da parede do alvéolo pulmonar é a mesma quantidade
que sai e o ar que expiramos contém igualmente 78% de azoto.
Também este gás, se não for eliminado convenientemente, pode causar graves
problemas, dos quais falaremos no Módulo 1T13 - Tabelas.

A HEMATOSE

É através da membrana alvéolo-capilar


que se efetuam as trocas gasosas que
permitem levar o oxigénio às células e
libertar o dióxido de carbono resultante Alvéolo
do metabolismo.
O sangue venoso (rico em dióxido de
carbono, CO2) que circula na rede de O2 CO2
vasos capilares nas paredes do alvéolo,
liberta o CO2 para dentro do alvéolo e
em troca recebe o oxigénio do ar
inspirado que está dentro do alvéolo,
O2 CO2
transformando-se em sangue arterial (rico Capilar
em oxigénio, O2).
A esta transformação do sangue venoso Esquema das trocas gasosas pulmonares
em sangue arterial chama-se hematose.

102 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T9

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) O coração bombeia o sangue para todo o corpo para:


a) Fornecer oxigénio às células
b) Arrefecer os músculos
c) Manter o equilíbrio hidrostático
d) Lubrificar as cartilagens

2º) O percurso do sangue que vai do coração aos pulmões e regressa


ao coração é denominado:
a) Circuito fechado
b) Pequena circulação
c) Circulação periférica
d) Circulação interna

3º) O grande vaso que sai do coração para distribuir o sangue a todo
o organismo chama-se:
a) Artéria principal
b) Aorta
c) Veia cava
d) Artéria femural

4º) O oxigénio do ar existente nos alvéolos pulmonares passa para a


hemoglobina do sangue devido a:
a) Ser um gás muito denso
b) Ser um gás comburente
c) Diferença das pressões parciais existentes
d) Ser muito volátil

5º) Durante o mergulho o ato respiratório é, todo ele, um ato


reflexo
a) Verdadeiro
b) Falso

6º) A percentagem de azoto consumido no ato respiratório é


de:
a) 22,5%
b) 16%
c) 10%
d) 0%
Curso de Mergulho CMAS P1 103

104 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T10

BAROTRAUMATISMOS

TÓPICOS

 Esmagamento da máscara. Causas, sintomas, prevenção.


 Barotraumatismos do ouvido e seios perinasais. Causas, sintomas,
prevenção. Primeiro socorro.
 Barotraumatismo dos dentes. Causas, sintomas, prevenção.
 Cólicas do escafandrista. Causas, sintomas, prevenção.
 Vertigens alternobárica e calórica. Causas, sintomas, prevenção.
 Sobrepressão pulmonar. Causas, sinais e sintomas, prevenção. Primeiro
socorro.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ O que se entende por barotraumatismo


√ O que causa e qual o sintoma do esmagamento da máscara
√ Como resolver o problema do esmagamento da máscara
√ Que partes do ouvido estão relacionadas com as variações de pressão
√ Qual a causa e como prevenir o barotraumatismo do ouvido
√ Reconhecer os sintomas e saber que cuidados ter face a um baro-
traumatismo do ouvido
√ O que é e como prevenir o barotraumatismo dos seios perinasais
√ Reconhecer os sintomas e saber que cuidados ter face a um baro-
traumatismo dos seios perinasais
√ Quais as causas e como prevenir o barotraumatismo dos dentes
√ Quais as causas e como prevenir as cólicas do escafandrista
√ Quais as causas da vertigem alternobárica
√ Reconhecer os sintomas e saber como prevenir a vertigem alternobárica
√ Qual a causa e como prevenir a sobrepressão pulmonar
√ Reconhecer os sintomas e sinais duma sobrepressão pulmonar e saber
que cuidados ter face a este acidente

Curso de Mergulho CMAS P1 105


MÓDULO 1T10

BAROTRAUMATISMOS

Por barotraumatismos, entende-se a ação agressiva das variações de pressão sobre


o organismo.
No mergulho, a agressão barotraumática deve-se à variação dos volumes das
massas gasosas, ar ou outros gases, encerradas nas cavidades no organismo. Portanto,
o barotraumatismo pressupõe a existência de uma cavidade, encerrando uma massa
gasosa que está em comunicação com a pressão ambiente.
Se os gases estão contidos em compartimentos elásticos ou compressíveis, como
os pulmões, estômago ou intestino, as paredes destes órgãos adaptam-se com
facilidade às variações do volume. Mas se os compartimentos não são compressíveis,
como é o caso das cavidades ósseas, o ar pode entrar em conflito com a cavidade
que o encerra e originar o barotraumatismo.

O barotraumatismo surge quando, por causas anatómicas, fisiopatológicas,


ou por alterações temporárias, existe obstrução à livre passagem dos gases
entre a cavidade onde estão contidos e o exterior

ESMAGAMENTO DA MÁSCARA

Quando um mergulhador coloca a máscara à superfície, dentro dela fica aprisionado


um volume de ar à pressão de 1bar. Após a imersão, ao chegar por exemplo a -10m,
fica sujeito a uma pressão ambiente de 2bar. Como através do regulador o
mergulhador respira ar à pressão ambiente, vai igualando através do nariz a pressão
do ar contido na máscara, que fica também à pressão de 2bar. A máscara está
compensada.
Porém, se o mergulhador iniciar a imersão sem deixar sair ar pelo nariz, ao chegar
aos -10m a pressão ambiente será de 2bar mas a pressão dentro da máscara continuará
a ser de 1bar (a mesma pressão que trazia da superfície). Cria-se assim um desequilíbrio
entre a pressão ambiente e a pressão do ar contido na máscara. A máscara não foi
compensada.
Este desequilíbrio de pressões resulta no esmagamento da máscara contra a cara
do mergulhador, causando um efeito de ventosa que dá origem ao barotraumatismo.
Este efeito de ventosa produz um sintoma bastante doloroso e pode mesmo originar
a rotura dos vasos capilares do olho. Desta rotura resultam hemorragias que afetam
não só o globo ocular mas também os tecidos circundantes do olho, sinais
suficientemente reveladores do sucedido.

Este barotraumatismo apenas se verifica na descida

106 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T10

A prevenção do esmagamento da máscara passa pela insuflação de ar para o


interior da máscara através do nariz, manobra esta que deverá ser feita assim que o
mergulhador inicia a descida.
Se esta manobra começar a ser feita tardiamente poderá verificar-se a
impossibilidade de se insuflar o ar através do nariz. Neste caso o mergulhador deverá
introduzir um dedo por baixo do rebordo da máscara para a inundar, restabelecendo
assim o equilíbrio das pressões, e depois secar a máscara insuflando ar para o seu
interior.

BAROTRAUMATISMO DO OUVIDO MÉDIO

O barotraumatismo do ouvido médio manifesta-se ao nível do tímpano, membrana


que separa o canal auditivo (ouvido externo) do ouvido médio.
O ouvido médio está em comu-
nicação com a garganta através da
trompa de Eustáquio, por onde se faz
o equilíbrio entre a pressão do ar contido
no ouvido médio e a pressão do ar
respirado.
Em condições fisiológicas normais, Ar = Ar
durante o mergulho, qualquer variação
da pressão ambiente (pressão hidros-
tática) será assim compensada pela
À superfície o ouvido está compensado
pressão do ar que respiramos através do
regulador. O ouvido está compensado.
Se, por qualquer razão (causas
anatómicas, fisiopatológicas, ou alguma
alteração temporária), esse canal se
encontrar obstruído e não permitir a livre
circulação do ar, o equilíbrio não se faz, Água (+) = Ar (+)
criando-se um desequilíbrio de pressões.
O ar dentro do ouvido médio mantém
a pressão inicial e vai reduzindo o seu
volume, provocando a distensão Normalmente, na descida o ouvido é compen-
(curvatura) da membrana do tímpano no sada pelo ar respirado pelo regulador
sentido do ouvido médio.
O primeiro sintoma desta situação é perda de audição seguida de dor, que se
tornará cada vez mais intensa se o mergulhador insistir na descida.
Em princípio esta situação não acontecerá se o mergulhador tiver o cuidado de,
desde o inicio da descida, efetuar manobras de compensação da pressão, que
podem ser o simples ato da deglutição ou de mastigar movimentando o maxilar de

Curso de Mergulho CMAS P1 107


MÓDULO 1T10

um lado para o outro. Estas manobras, facilitam a desobstrução da trompa de


Eustáquio, permitindo a entrada do ar à pressão ambiente no ouvido médio.
Quando estas manobras não resultam, a solução mais correntemente utilizada é a
manobra de Valsalva. Esta manobra consiste em tentar expirar pelo nariz, com o
nariz apertado. Como o ar não pode sair, a pressão aumentará o suficiente para abrir
caminho através da trompa de Eustáquio, de forma a restabelecer o equilíbrio das
pressões entre o ouvido médio e a garganta. Desta forma, o ouvido fica compensado.
A manobra de Valsalva deve ser feita logo que se inicia a descida, com muita
suavidade e repetidas vezes. Se não resultar deve-se suspender imediatamente a
descida para evitar situações mais gravosas, como a rotura do tímpano, com todas as
consequências daí resultantes.
Ao mais pequeno indício de dor, a descida deve ser imediatamente
interrompida. O mergulhador deve subir uns metros, até desaparecer completamente
o sintoma doloroso, e reiniciar a manobra de compensação e a descida.
A longo prazo o indivíduo que não
poupa os ouvidos, pode vir a sofrer de
otites crónicas e surdez precoce
Podem ser feitas outras manobras
com a mesma finalidade, mas por serem
de execução mais difícil não são aqui
Água (+) Ar (-) referidas.
Normalmente, durante a subida a
Obstrução trompa de Eustáquio abre passivamente.
No entanto, embora seja menos
Na descida, se houver obstrução da trompa o frequente, durante a subida também
ouvido não compensa
pode verificar-se dificuldade de com-
pensar o ouvido. Neste caso verifica-se
a situação inversa da descida, isto é, ao
diminuir a pressão ambiente, o ar no
interior do ouvido médio aumenta de
volume e se não puder escapar-se obriga
Água (-) Ar (+) o tímpano a distender-se, neste caso de
dentro para fora. Esta distensão do
tímpano provoca uma dor aguda e tem
Obstrução as mesmas implicações anteriormente
descritas.
Na subida, se a trompa estiver obstruída o ouvido
também não compensa
Assim que entra na água, o
mergulhador deve afastar o capuz do
fato no sítio dos ouvidos, de modo a que a água inunde o ouvido externo, para que
não fique qualquer bolha de ar no seu interior. Se tal acontecer, a libertação da bolha
durante o mergulho pela simples inclinação da cabeça, poderá provocar uma situação
de vertigem pelo contacto brusco da água com membrana do tímpano.

108 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T10

O uso de tampões auriculares cria uma zona com ar à pressão atmosférica,


entre o tampão e a membrana do tímpano.
Se a trompa de Eustáquio estiver permeável e permitir a passagem do ar à pressão
ambiente para o interior do ouvido médio, irá criar-se um desequilíbrio de pressões
entre o ouvido médio e a bolha que ficou retida pelo tampão, o que vai originar a
distensão da membrana do tímpano de dentro para fora, com as consequências atrás
referidas. Os rolhões de cerúmen também podem causar um efeito idêntico ao
dos tampões

O uso de tampões auriculares é absolutamente proibido no mergulho

O uso dos medicamentos vasoconstritores é altamente desaconselhado. O seu


tempo de efeito é reduzido, podendo terminar ainda durante o mergulho e causar
problemas ao mergulhador quando inicia a subida.
Nesta situação, ao diminuir a pressão ambiente, o ar existente no ouvido médio
aumenta de volume. Se não conseguir sair por a trompa já não se encontrar permeável,
empurrará a membrana do tímpano para fora, originando o barotraumatismo.

RESUMINDO - Se após o início do sintoma doloroso (porque as pressões entre o


ouvido médio e o ambiente não se conseguem equilibrar) o mergulhador insiste na
descida ou na subida, outras perturbações vão surgir, que constituirão os quadros
clínicos das otites barotraumáticas.
Consoante a intensidade da agressão, os efeitos do barotraumatismo
podem ser congestão do tímpano, hemorragia e derramamento na caixa do
tímpano, podendo mesmo produzir a rotura do tímpano
Após um acidente barotraumático do ouvido, o mergulhador deverá ir de imediato
ao médico especialista, limitando-se a tomar um medicamento analgésico (aspirina,
saridon, etc.) para reduzir o incómodo. Nunca deve pôr gotas auriculares antes
de ser observado, para que possa ser feita uma correta avaliação da extensão dos
danos causados.

O barotraumatismo do ouvido tanto pode acontecer durante a descida como


durante a subida

BAROTRAUMATISMO DOS SEIOS PERINASAIS

São acidentes que ocorrem nas cavidades do maciço crânio-facial, quando as


variações da pressão ambiente não podem ser equilibradas, devido à obstrução da
comunicação dessas cavidades com o exterior

Curso de Mergulho CMAS P1 109


MÓDULO 1T10

Os seios frontais comunicam com as fossas nasais através de um canal comprido


e estreito, enquanto que os seios maxilares o fazem através de um orifício bastante
mais largo e curto. Isto explica porque é que o barotraumatismo dos seios frontais é
muito mais frequente do que o dos maxilares. Este barotraumatismo tanto pode
acontecer na descida, como na subida.
Em condições normais, as variações da pressão ambiente durante a imersão, que
produzem variações do volume do ar encerrado nestas cavidades, são compensadas
através da entrada ou saída de ar pelo canal naso-frontal ou pelo orifício do seio
maxilar. Se existe uma obstrução destes canais a compensação não se faz. Durante a
descida existirá uma depressão no seios perinasais e na subida um barotraumatismo
em sobrepressão.
No primeiro caso dá-se uma sucção que, agindo sobre as mucosas e vasos, produz
secreções, hemorragias e dor. No segundo caso há uma espécie de esmagamento
dessas estruturas, produzindo uma dor muito intensa. Quando o canal desobstrui, a
dor desaparece quase instantaneamente, chegando o indivíduo a expulsar rolhões
de mucosidade que aparecem na máscara, realizando uma verdadeira drenagem.
Na descida, a dor pode começar muito próximo da superfície, aumentando
progressivamente se o indivíduo persiste em mergulhar. Localizando-se no ângulo
interno da órbita junto ao nariz. Muitas vezes a dor cede subitamente, o que significa
que se desobstruiu o orifício de comunicação e o mergulhador pode alcançar o seu
objetivo: descer. No regresso à superfície é frequente que o mergulhador observe a
presença de sangue e mucosidade dentro da sua máscara.
Para prevenir este barotraumatismo o mergulhador deve inalar pelo nariz a água
do mar, fazendo com que a água saia pela boca. Esta operação produz uma lavagem
eficaz e uma vasoconstricção das mucosas ao longo do percurso feito pela água do
mar. A conduta correta perante a ameaça dum barotraumatismo é diminuir a
velocidade de descida, e se a dor não desaparece, regressar à superfície e tentar
assoar-se ou fazer a inalação. Se não se resolve o problema por estes meios deve
desistir-se do mergulho.
A maioria das vezes, ao tentar compensar os ouvidos efetuando a manobra de
Valsalva, consegue-se simultaneamente fazer a compensação dos seios perinasais.

Nunca mergulhar com situações febris. É a única contraindicação absoluta

O tratamento de um barotraumatismo dos seios perinasais compete a um médico.


Se as dores persistem depois do mergulho, podem ministrar-se medicamentos
analgésicos (aspirina, saridon, etc.) para reduzir o incómodo e deve tomar-se também
um antibiótico até à consulta médica.

Este barotraumatismo pode verificar-se tanto na descida como na subida

110 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T10

BAROTRAUMATISMO DOS DENTES

Surge em indivíduos com cáries dentárias que têm granulomas ou nevrites dentárias
e obturações. Deve-se ao aumento da pressão sobre a estrutura inflamatória que
nestas circunstâncias se torna extraordinariamente sensível aos estímulos térmicos
ou mecânicos.
Na subida o barotraumatismo é provocado pela expansão do ar aprisionado em
cáries ou dentes mal obturados.
Tem acontecido várias vezes que as obturações sejam expulsas durante o regresso
à superfície e em casos mais graves, chega a haver mesmo fratura do dente.
Para evitar este acidente impõe-se uma visita ao médico dentista sempre que
existam problemas dentários, sejam eles quais forem.
Se no início da subida se começarem a manifestar sintomas dolorosos, o
mergulhador deverá parar e descer uns metros até que a dor desapareça, após o que
reiniciará a subida muito lentamente, de modo a permitir a saída do ar e consequente
redução da pressão no interior da cárie.
Os portadores de próteses devem dar uma atenção particular à solidez de fixação,
que deve ser garantida pelo especialista sempre que se pretende iniciar esta atividade
ou se recomeça após um período longo de inatividade.

Este barotraumatismo apenas se verifica na subida

CÓLICA DOS ESCAFANDRISTAS

É um acidente barotraumático que ocorre quando o ar ou gases contidos no


aparelho digestivo (estômago ou intestinos) aumentam de volume com a diminuição
da pressão ambiente (subida) e não são expelido pelas vias naturais, provocando a
dilatação destes órgãos, com dor de intensidade variável.
De um modo geral, mesmo em mergulhos considerados normais, em indivíduos
nervosos e controlando mal a respiração, este acidente pode ocorrer. A causa é a
deglutição de ar ou saliva devido ao mau controlo da respiração. O ar engolido no
fundo, a uma pressão elevada, vai aumentar de volume no regresso à superfície e,
se não sair, provoca o acidente.
Para prevenir este acidente o mergulhador deve respirar calmamente, para
não engolir ar, e evitar engolir a saliva originada pela presença do regulador
na boca, na qual está emulsionado ar. Esta saliva deve ser expelida através
do regulador.
Também a produção de gases em excesso a partir da ingestão abundante de
farináceos ou proteínas, leva à possibilidade deste acidente. É aconselhável que o

Curso de Mergulho CMAS P1 111


MÓDULO 1T10

mergulhador evite comidas abundantes, sobretudo de produtos de fácil fermentação,


na véspera ou no dia do mergulho.
Se durante a subida se começarem a manifestar sintomas dolorosos, o mergulhador
deverá parar e descer uns metros até que a cólica desapareça após o que reiniciará
a subida muito lentamente procurando expulsar o ar ou gases pelas vias naturais.
Nalguns casos pode surgir uma dilatação do ventre, que exige cuidados médicos ou
mesmo a recompressão.

Este barotraumatismo apenas se verifica na subida

VERTIGEM ALTERNOBÁRICA

Esta vertigem é um problema comum entre os mergulhadores. Durante a descida


e mais frequentemente durante a subida, sobretudo na posição vertical, a variação
de pressão no ouvido médio pode não se realizar em simultâneo nos dois ouvidos.
Isto pode resultar numa sensação transitória de vertigem (tontura), desorientação e
náuseas. Normalmente é uma sensação que dura apenas alguns minutos mas que,
ocorrendo em profundidade, pode ter consequências graves.
Esta situação pode ser evitada se, antes de iniciar o mergulho, o mergulhador se
assegurar de que as manobras de compensação do ouvido são eficazes.

Se o mergulhador for confrontado com esta situação, deve parar e agarrar o


cabo de segurança ou apoiar-se no companheiro, até que o equilíbrio se
restabeleça nos dois ouvidos e a sensação de vertigem desapareça

A diferença de temperatura também pode originar uma sensação de vertigem


(vertigem calórica). Quando o mergulhador introduz a cabeça na água,
normalmente há uma inundação dos dois ouvidos (canal auditivo externo) praticamente
em simultâneo. Deste modo, o aparelho vestibular responsável pelo nosso equilíbrio,
no ouvido interno, arrefece a uma velocidade mais ou menos idêntica em cada
ouvido.
Se um dos ouvidos está parcial ou completamente bloqueado (capuz muito
apertado ou um tampão de cerúmen) a entrada de água e o consequente arrefecimento
fazem-se a velocidades diferentes nos dois ouvidos, resultando numa forte sensação
de vertigem. Uma sensação semelhante ocorre quando há perfuração do tímpano.
Tal como a vertigem alternobárica, a vertigem de origem térmica é normalmente
uma sensação transitória. Esta vertigem persiste até a água aquecer à temperatura
corporal. Estes sintomas são mais intensos na posição vertical de cabeça para baixo.
Na posição de cabeça para cima estes sintomas são aliviados.

112 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T10

SOBREPRESSÃO PULMONAR

É um barotraumatismo muito grave, que acontece se o ar contido nos pulmões


ficar bloqueado ou não for expelido em quantidade suficiente durante a subida. Em
qualquer destas situações, o ar contido nos alvéolos pulmonares, ao expandir-se
durante a subida, devido à diminuição da pressão, provoca uma dilatação dos alvéolos
que pode causar lesões que vão da simples
distensão até à rotura alveolar.
Nos casos mais graves pode mesmo - 20m Inspiração
haver pneumotórax (penetração de ar na 3 Atm
cavidade pleural).
A gravidade deste acidente depende de
dois fatores: a quantidade de ar que o
mergulhador tem nos pulmões no início
da subida e a rapidez de expansão do ar Álvéolo
no início do acidente. Isto quer dizer que compensado
o acidente será tanto mais grave quanto
maior for a quantidade de ar inspirado, Inspiração normal: equilíbrio da pressão
quanto mais rápida for a subida e quanto
mais perto o mergulhador estiver da
superfície. - 10 m Expiração
Este acidente pode ocorrer durante as 2 Atm
aulas práticas em piscina, se o aluno
bloquear a expiração ao vir para a
superfície.

Nunca bloquear a expiração Álvéolo


durante a subida compensado

Expiração normal: equilíbrio da pressão


Se tiver que regressar à superfície sem
poder respirar pelo regulador, deverá desde Expiração
o início da subida produzir continuamente 0m bloqueada
o som !aaaaaaah!.
Isto bastará para manter aberta a saída
de ar dos pulmões, ao mesmo tempo que
vai libertando o ar em excesso devido ao
aumento de volume.
É muito importante que o mergulhador Distenção
preste atenção ao cinto de lastragem e que do alvéolo
esteja bem treinado na utilização do colete
de mergulho. Expiração bloqueada: sobrepressão pulmonar

Curso de Mergulho CMAS P1 113


MÓDULO 1T10

A sobrepressão pulmonar pode também ocorrer quando um mergulhador em


apneia recebe ar no fundo, regressando à superfície com a respiração bloqueada.
Por isso um mergulhador com escafandro nunca deve dar ar a um mergulhador
que se lhe apresente em apneia.

Este barotraumatismo apenas se verifica na subida

O diagnóstico de uma sobrepressão pulmonar deve ser feito sempre que o


mergulhador de escafandro sofra uma perda de conhecimento durante a subida ou
pouco depois da saída da água.
Num caso destes é natural que outros problemas estejam presentes, pois a perda
de conhecimento pode igualmente ser causado por anóxia (ausência de oxigénio),
hiperóxia (excesso de oxigenação), intoxicações por dióxido de carbono ou monóxido
de carbono, acidentes de descompressão e afogamento (ver Módulo 1T11 -
Acidentes-Intoxicações).
Atuar de imediato, é o princípio que deve estar presente nestas situações. Ou
seja, primeiro devem mobilizar-se os recursos para o combate ao choque e à falência
respiratória e depois encarar o diagnóstico diferencial, a ser feito pelo médico.
O primeiro socorro mais indicado é a administração de oxigénio a 100%
com um débito de 15l/min, devendo o acidentado ser colocado numa posição
confortável (ver Curso de especialização em Administração de O2).

SINAIS E SINTOMAS
 Dor aguda no peito, normalmente atrás do esterno.
 Dificuldade e exacerbação da dor ao respirar.
 Tosse com expetoração com sangue.
 Sensação de plenitude torácica (peito cheio).
 Inchaço no pescoço, que à palpação local se assemelha à palpação de
neve (crepitação).
 Alteração na tonalidade da voz.
 Cianose dos lábios.
 Diminuição dos movimentos do lado do tórax afetado.
 Desvio da traqueia para o lado afetado.
 Alterações neurológicas como:
Confusão mental - dificuldade em falar - alterações da sensibilidade
vertigens - convulsões - perda de consciência.

114 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T10

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) Para evitar o esmagamento da máscara o mergulhador deve:


a) Aliviar a precinta da máscara
b) Insuflar ar pelo nariz para o interior da máscara
c) Tentar afastá-la da cara, puxando-a com força
d) Nenhuma resposta está correta

2º) O aparecimento da dor de ouvidos durante a subida deve-se:


a) Ao capuz do fato estar apertado
b) À pressão no ouvido médio ser inferior á do meio ambiente
c) Os ouvidos não estarem ao mesmo nível
d) Nenhuma resposta está correta

3º) Para evitar a dor de ouvidos, a manobra de Valsalva deve ser feita
assim que o mergulhador inicia a descida.
a) Verdadeiro
b) Falso

4º) O primeiro cuidado a prestar a uma vítima com dores de ouvidos


é aplicar-lhe gotas analgésicas.
a) Verdadeiro
b) Falso

5º) Normalmente quando se faz a compensação dos ouvidos, os seios


perinasais também são compensados.
a) Verdadeiro
b) Falso

6º) A vertigem alternobárica pode manifestar-se quando


a) O mergulhador está excitado
b) Há uma diferença de pressão interior entre os dois ouvidos
c) O mergulhador respira profundamente
d) O mergulhador está lastrado de mais

Curso de Mergulho CMAS P1 115



MÓDULO 1T10

QUESTIONÁRIO

7º) Alguns dos sinais e sintomas da sobrepressão pulmonar são:


a) Tosse com expetoração sanguinolenta
b) Dificuldade em respirar
c) Dor no peito
d) Dificuldade em falar
e) Todas as respostas estão corretas

8º) Para prevenir uma sobrepressão pulmonar


a) Nunca deve reter a respiração durante a subida
b) Deve fazer a manobra de Valsalva durante a subida
c) Deve inspirar profundamente durante a subida
d) Todas as respostas estão corretas

9º) Ministrar oxigénio no caso da vítima ter feito uma sobrepressão


pulmonar é contraproducente.
a) Verdadeiro
b) Falso

10º) Perante uma sobrepressão pulmonar a vítima deverá ser:


a) Reimersa
b) Evacuada o mais rápido possível para uma Unidade de Cuidados
Médicos
c) Mandada para casa para descansar
d) Tratada com se tivesse uma bronquite

116 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T11

INTOXICAÇÕES, HIPOTERMIA E AFOGAMENTO

TÓPICOS

 Intoxicação pelo dióxido de carbono (exaustão). Causas, sinais e


sintomas. Prevenção. Primeiro socorro.
 Intoxicação pelo monóxido de carbono. Causas, sinais e sintomas.
Prevenção. Primeiro socorro.
 Intoxicação pelo oxigénio (efeito Paul Bert). Causas, sinais e sintomas.
 Toxidade do azoto (narcose). Causas, sinais e sintomas. Prevenção.
 Hipotermia. Causas, sinais e sintomas. Prevenção. Primeiro socorro.
 Afogamento. Causas, sinais e sintomas. Prevenção. Primeiro socorro.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Reconhecer uma intoxicação pelo dióxido de carbono


√ Aplicar o primeiro socorro a uma vítima de intoxicação pelo dióxido de
carbono
√ Reconhecer uma intoxicação pelo monóxido de carbono
√ Aplicar o primeiro socorro a uma vítima de intoxicação pelo monóxido de
carbono
√ Reconhecer os sinais da narcose
√ Quais os procedimentos para evitar o aparecimento da narcose
√ Reconhecer os sinais das várias manifestações da hipotermia
√ Aplicar o primeiro socorro a uma vítima de hipotermia
√ Reconhecer os sinais duma vítima de afogamento
√ Aplicar o primeiro socorro a uma vítima de afogamento

Curso de Mergulho CMAS P1 117


MÓDULO 1T11

INTOXICAÇÕES (Generalidades)

As intoxicações são provocadas pela inalação de gases em concentrações tais que


são prejudiciais ao organismo.

INTOXICAÇÃO PELO DIÓXIDO DE CARBONO (EXAUSTÃO)

A causa mais usual da intoxicação pelo dióxido de carbono (CO2) na prática do


mergulho é a má técnica respiratória (respiração superficial), que provoca uma retenção
deste gás no organismo.
O mergulhador deve preocupar-se com a fase expiratória, que deve
ser ativa e prolongada. Deve fazer expirações profundas para libertar
ao máximo o CO2 produzido.

SINAIS E SINTOMAS
Na primeira fase: Numa fase mais avançada:
 Dificuldade em respirar (respira-  Palpitações.
ção cada vez mais acelerada).  Tremor muscular.
 Ansiedade.  Lábios e extremidades azuladas.
 Dores de cabeça.  Convulsões.
 Tonturas e náuseas.  Perda de consciência.

(A perda de consciência pode conduzir à morte por afogamento)

Se o mergulhador estiver submerso quando começa a sentir dificuldade


em respirar, deve parar todos os movimentos e controlar a respiração
concentrando-se na fase expiratória, que deve ser ativa e prolongada.
Depois de acalmar e de regularizar a respiração, deve subir alguns metros lentamente.
Se não melhorar, deve regressar à superfície depois de avisar o companheiro de mergulho
de que não se está a sentir bem, para que ele o acompanhe.
Este tipo de intoxicação origina a maior parte das mortes por afogamento à
superfície. Em situações extremas, o mergulhador vai perdendo o controlo da
respiração, que se torna cada vez mais rápida e superficial, aumentando ainda mais
o nível de CO2 no organismo, até que atinge o descontrolo total. Nesta altura, o
mergulhador tenta desesperadamente manter-se à superfície, arranca a máscara,
tira o regulador, não responde ao companheiro de mergulho, esquece-se de encher
o colete e de largar o cinto de lastro. Entra então em pânico, o que pode conduzir
rapidamente a uma situação de afogamento.
Ao chegar à superfície o mergulhador deve encher o colete, para ficar a
flutuar sem fazer qualquer esforço. Caso seja necessário, não deve hesitar em

118 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T11

largar o cinto de lastro, ficando imóvel até que o recolham. Não deve
também hesitar em pedir auxílio, através de um sinal sonoro e do sinal
visual adequado.
Depois de subir para bordo, o mergulhador deverá ficar em repouso num local
bem ventilado. Normalmente as melhoras verificam-se ao fim de algum tempo.
Se for possível deverá ser feita administração de oxigénio a 100% com um
débito de 15l/min, uma vez que o tratamento com oxigénio reduz substancialmente
o tempo de recuperação.
Outra causa de intoxicação pelo CO2 é o cansaço excessivo do mergulhador
(exaustão), já existente ao entrar na água. Este cansaço pode ser também provocado
pelas condições do mar (corrente, água fria, fraca visibilidade, ondulação), pelo medo,
pela insegurança, pela falta de preparação, pela utilização incorreta ou avaria do
equipamento (regulador com débito insuficiente ou entrada em débito contínuo) ou
por uma situação de perigo inesperada.

INTOXICAÇÃO PELO MONÓXIDO DE CARBONO

A única causa provável da intoxicação pelo monóxido de carbono (CO) durante o

SINAIS E SINTOMAS
Idênticos aos apresentados na intoxicação pelo dióxido de carbono

Na primeira fase: Numa fase mais avançada:


 Dificuldade em respirar (respira-  Palpitações.
ção cada vez mais acelerada).  Tremor muscular.
 Ansiedade.  Lábios e extremidades cor de cereja.
 Dores de cabeça.  Convulsões.
 Tonturas e náuseas.  Perda de consciência.

(A perda de consciência pode conduzir à morte por afogamento)

mergulho é a contaminação do ar da garrafa durante o enchimento.


Se o mergulhador estiver submerso quando começa a sentir dificuldade
em respirar, deve parar todos os movimentos e controlar a respiração
concentrando-se na fase expiratória, que deve ser ativa e prolongada.
No entanto, contrariamente ao que acontece na intoxicação pelo dióxido de
carbono, esta atitude não melhora os sintomas, pelo que o mergulhador deve regressar
lentamente à superfície depois de avisar o companheiro de mergulho que não se
está a sentir bem, para que ele o acompanhe.
Ao chegar à superfície o mergulhador deve encher o colete, para ficar a flutuar
sem fazer qualquer esforço. Caso seja necessário não deve hesitar em largar o cinto

Curso de Mergulho CMAS P1 119


MÓDULO 1T11

de lastro, ficando imóvel até que o venham recolher.


Depois de subir para bordo o mergulhador deverá manter-se em repouso em sítio
bem ventilado. Ao contrário do que acontece na intoxicação pelo dióxido de carbono,
os sintomas agravam-se ao fim de pouco tempo
Neste tipo de intoxicação é imperioso que seja feita administração de
oxigénio a 100% com um débito de 15l/min, e a vítima deve ser transportada
o mais rapidamente possível para uma Unidade de Cuidados de Saúde e em
casos mais graves para uma Unidade Hiperbárica.

INTOXICAÇÃO PELO OXIGÉNIO

Falar da intoxicação pelo oxigénio no âmbito do curso CMAS P1 serve apenas


para alertar o mergulhador da existência deste tipo de intoxicação. Com efeito, esta
intoxicação muito raramente acontece nos mergulhos até à profundidade
recomendada como limite para o mergulho amador, os 40 metros, onde a mistura
respirada é o ar.

SINAIS E SINTOMAS
Algumas vezes a intoxicação manifesta-se imediatamente por convulsões
semelhantes às da epilepsia, mas na maioria das vezes este quadro é
precedido pelos seguintes sintomas:
 Tremor muscular generalizado,  Zumbidos.
especialmente dos lábios.  Visão tubular.
 Tonturas e náuseas.  Dificuldade em respirar.
 Irritabilidade.

A toxicidade neurológica (Efeito de Paul Bert) é extremamente variável, não


existindo um critério fixo de exposição ao oxigénio em que se assuma que surja
toxicidade neurológica. A suscetibilidade varia muito entre indivíduos e no mesmo
indivíduo varia de dia para dia.
Em mergulhos efetuados sem esforço e em águas quentes, respirando oxigénio
puro (100%) esta intoxicação poderá surgir aos 6 metros de profundidade e respirando
ar (21% de oxigénio) poderá surgir aos 66 metros de profundidade.

INTOXICAÇÃO PELO AZOTO

Conhecida por narcose ou embriaguês das profundidades, a intoxicação pelo azoto


resulta do aumento da pressão parcial deste gás inerte sobre o sistema nervoso
central do mergulhador e caracteriza-se pela diminuição do desempenho intelectual
e por alterações do comportamento (ex.: euforia, depressão, medo).

120 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T11

A gravidade deste efeito depende da profundidade, da velocidade de descida e


da experiência do mergulhador. Os efeitos são progressivos com o aumento da
profundidade mas não aumentam de intensidade com a permanência à mesma
profundidade. Algumas drogas sobretudo o álcool e os sedativos (comprimidos para
o enjoo) têm um efeito aditivo na narcose e não devem ser ingeridos antes do
mergulho. Outros efeitos aditivos são a ansiedade, o frio e a fadiga.
Tal como na intoxicação pelo oxigénio, este tipo de intoxicação nunca será sentida
pelo mergulhador CMAS P1, dado o limite de profundidade que lhe é imposto.
Apesar de existir uma suscetibilidade variável entre diferentes indivíduos, a maioria
dos mergulhadores são afetados pela narcose em profundidades superiores a 50
metros. A profundidade mínima a que se pode manifestar é difícil de definir, mas
existem casos de intoxicação a profundidades inferiores a 30 metros.
As funções superiores, raciocínio, memória recente, aprendizagem e concentração
são as primeiras a ser afetadas. O mergulhador pode sentir bem estar e excesso de
confiança semelhante à intoxicação alcoólica moderada. Com o aumento da
profundidade diminui a capacidade de desempenho físico, agrava-se a prestação
mental, surgem alucinações e finalmente a perda de consciência e o coma.

O perigo da narcose é levar o mergulhador a um comportamento


inapropriado, que provoque um acidente

A suscetibilidade individual é variável e surge alguma habituação aos efeitos da


narcose com mergulhos repetidos. A sintomatologia é semelhante à embriaguez
provocada pelo álcool. O efeito narcótico em si não é perigoso e desaparece
rapidamente ao regressar à superfície. Por isso, face a este acidente, o mergulhador
deverá diminuir a profundidade do mergulho ou, em casos mais sérios, interromper
o mergulho e regressar à superfície.

HIPOTERMIA

Considera-se hipotermia quando a temperatura interior do corpo é inferior a 35°C.


Quando o mergulhador se expõe a condições em que a perda de calor corporal é
maior que a produção, a temperatura do corpo baixa e entra em hipotermia.
Exceto em águas quentes tropicais, a maioria dos mergulhadores necessita de um
fato isotérmico para manter o equilíbrio entre perda e a produção de calor. Em
climas moderados, como o nosso, um fato húmido é suficiente, mas em águas frias
como no Norte da Europa é imprescindível o recurso a um fato seco.
O arrefecimento ocorre porque a água é um bom condutor do calor, possuindo
uma capacidade calorífica alta. A água conduz o calor 25 vezes mais rapidamente
que o ar.

Curso de Mergulho CMAS P1 121


MÓDULO 1T11

CHOQUE PELO FRIO - A diminuição súbita na temperatura da pele, como a que


resulta da imersão súbita ou da entrada de água fria no interior do fato isotérmico,
provoca alterações fisiológicas profundas: há um imediato aumento da frequência
cardíaca e da tensão arterial e um período de franca dificuldade ou mesmo de
incapacidade de respirar. Mesmo nadadores experientes podem ser incapazes de
coordenar a respiração com os movimentos natatórios e inalar água.
O aumento rápido de pulso e a hipertensão podem provocar uma falência da
circulação em indivíduos fisicamente mal preparados. Se a vítima sobrevive a esta
reação inicial as respostas orgânicas normalizam e a hipotermia começa a instalar-se.

HIPOTERMIA PROGRESSIVA - O mergulhador que não esteja convenientemente


protegido para a temperatura da água em que está submerso vai sofrendo uma
hipotermia progressiva (também designada sub-aguda ou crónica).

As causas mais frequentes da hipotermia são a exposição ao vento frio


antes ou depois do mergulho, a escolha de um fato isotérmico
inapropriado, o mergulho em água muito fria e os longos períodos de
inatividade na água

Numa primeira fase, se o mergulhador abandonar a água, ou for retirado, com


uma temperatura central de 33 a 35°C (hipotermia leve), apresenta-se consciente e
a respirar espontaneamente. Apresenta algumas alterações, como o tremor muscular
generalizado, sensação de frio nas extremidades que evolui para perda da sensibilidade
e aumento da diurese que pode levar à desidratação. À dificuldade em desempenhar
pequenas tarefas associa-se a lentidão do raciocínio e das reações, o que pode
causar situações de perigo, porque o mergulhador não consegue manusear
eficazmente o seu equipamento.
Se o mergulhador for retirado da água numa fase mais avançada de hipotermia,
com uma temperatura central de 30 a 33°C (hipotermia moderada), apresenta
dificuldade em responder a estímulos ou pode mesmo estar inconsciente. O tremor
muscular persiste até ao limite em que é substituído pela rigidez muscular. A
frequência e o débito cardíaco diminuem, a frequência respiratória diminui e
consequentemente os tecidos corporais recebem menos oxigénio. A maioria das
vítimas marítimas de hipotermia morre nesta fase porque têm dificuldade em nadar
ou manter a cabeça fora de água.
Se o mergulhador for retirado com uma temperatura central inferior a 30°C
(hipotermia severa), apresenta-se inconsciente ou “semiconsciente” e o tremor

Uma vítima de hipotermia grave deve ser conduzida o mais rapidamente


possível para uma Unidade de Cuidados Médicos

122 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T11

muscular é substituído pela rigidez muscular. A respiração e o pulso estão deprimidos


ou não detetáveis e o risco de paragem cardíaca é alta.
O primeiro socorro consiste em evitar mais perdas de calor retirando o mergulhador
da água e colocando-o num local abrigado do frio e protegido do vento. A vítima
deve ser manuseada com cuidado mantendo-a sempre dentro do possível na posição
horizontal ao ser retirada da água para prevenir o colapso cardiovascular.
Nos casos moderados de hipotermia, em que o mergulhador está consciente
deve retirar-se o fato isotérmico, vestir roupas quentes, fazê-lo ingerir bebidas quentes
açucaradas e assim que possível introduzi-lo em água quente (40°C).
Em casos mais graves o companheiro de mergulho deverá proceder segundo as
técnicas do Suporte Básico de Vida. Se a decisão for iniciar a reanimação cárdio
pulmonar (RCP) não esquecer que só deve ser interrompida quando o
mergulhador é aquecido.

Nunca dar bebidas alcoólicas a uma vítima de hipotermia, pois estas


aumentam a perda de calor do corpo

Se, por algum motivo, o mergulhador for obrigado a permanecer na água à espera
de ajuda, deve adotar os seguintes procedimentos:
• Adotar uma posição fetal, com a cabeça fora de água, joelhos encolhidos junto
ao corpo e os braços entre as pernas (esta atitude aumenta o tempo de sobrevivência
em 50%). Só nadar se estiver muito perto da segurança.
• Mergulhadores em grupo devem permanecer juntos e abraçados (esta atitude
minimiza a perda de calor e torna-os mais fáceis de detetar). Se possível, usar
qualquer proteção adicional na cabeça. Evitar voltar a mergulhar antes de estarem
bem aquecidos.

AFOGAMENTO

Afogamento significa morte por asfixia após submersão em meio líquido. Há


situações em que a vítima recupera, nem que seja temporariamente, do episódio de
submersão. No entanto, as vítimas reanimadas após a submersão mas que morrem
nas 24 horas seguintes, continuam a ser consideradas vitimas de afogamento.
Cerca de 15% dos afogamentos são secos, isto é, devido a um severo espasmo
da laringe não há aspiração de água para os pulmões. Os restantes afogamentos
independentemente de acontecerem em água doce ou salgada, provocam a
destruição do surfatante da parede alveolar, lesionando e levando ao colapso dos
alvéolos, que perdem a capacidade de efetuar as trocas gasosas com o sangue.
Uma agressão pulmonar, como é a introdução de água, pode também provocar
um edema pulmonar, ou seja, a libertação de líquido dentro dos pulmões.

Curso de Mergulho CMAS P1 123


MÓDULO 1T11

O afogamento constitui normalmente o mecanismo final de morte na maioria dos


acidentes de mergulho.

SINAIS E SINTOMAS
 Dores torácicas  Coloração azul da pele (cianose)
 Enjoo e vómitos  Perda de consciência
 Dificuldade respiratória, tosse  Paragem respiratória e/ou
e expectoração mucosa. cardíaca

A primeira prioridade na recuperação e salvamento deste acidentado é,


eventualmente, a ventilação com ar expirado ainda dentro da água. No caso de, à
chegada à superfície, ser detetada a paragem respiratória, a vítima deve ser assistida
de imediato com ventilação artificial, que se deve manter durante o reboque até à
chegada a um local seguro (embarcação ou terra).
Uma vez em local mais seguro, o socorrista deve aplicar as técnicas do Suporte
Básico de Vida (ver Curso de Especialização de Mergulhador Socorrista), tendo sempre
a preocupação de manter a vítima numa posição horizontal.
Um mergulhador acidentado que apresenta sintomas de afogamento necessita
de níveis muito altos de oxigénio para combater os efeitos nocivos da hipóxia. Por
isso, se possível, deve proceder-se de imediato à administração de oxigénio a
100% com um débito de 15l/min (ver Curso de especialização de Administração
de O2). A administração de oxigénio deve continuar a ser feita durante a ventilação
artificial ou reanimação cárdio-pulmonar (RCP), se estes procedimentos forem
necessários.
Após recuperada, a vítima de afogamento deve ser transportada de imediato para
a unidade de cuidados médicos mais próxima, para prevenir complicações pulmonares
resultantes do acidente.

124 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T11

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) A intoxicação pelo CO2 pode surgir durante o mergulho por:


a) Descontrolo respiratório
b) Esforços exagerados
c) Má preparação física
d) Avaria do equipamento
e) Todas as respostas estão corretas

2º) Alguns dos sinais e sintomas da intoxicação pelo CO2 são:


a) Respiração acelerada
b) Dores de cabeça
c) Ansiedade
d) Tremores
e) Todas as respostas estão corretas

3º) À superfície, a intoxicação pelo CO2 pode conduzir o mergulhador


a um estado total de descontrolo que se manifesta por:
a) Debater-se desesperadamente por se manter à superfície
b) Arrancar a máscara de cara
c) Tirar o regulador da boca
d) Não encher o colete de mergulho e não largar o cinto
de lastro
e) Todas as respostas estão corretas

4º) Os procedimentos a ter com um mergulhador vítima duma


intoxicação pelo CO2 são:
a) Obrigá-lo a respirar pelo regulador de emergência
b) Mandá-lo nadar para a embarcação de apoio
c) Administrar-lhe oxigénio a 100%
d) Dar-lhe líquidos em abundância

5º) A narcose caracteriza-se por uma


a) Diminuição do desempenho intelectual
b) Uma maior acuidade visual
c) Diminuição da temperatura
d) Todas as respostas estão corretas

Curso de Mergulho CMAS P1 125



MÓDULO 1T11

QUESTIONÁRIO

6º) Como a narcose é provocada pela inspiração do azoto a pressões


parciais elevadas, esta situação nunca acontecerá ao mergulhador
CMAS P1.
a) Verdadeiro
b) Falso

7º) Um mergulhador em hipotermia pode apresentar os seguintes sinais


e sintomas:
a) Descontrolo respiratório/motor
b) Diminuição da sensibilidade e do raciocínio
c) Tremores
d) Inconsciência
e) Todas as resposta estão corretas

8º) Se um mergulhador estiver perdido à superfície à espera que o


resgatem deve adotar a posição fetal, que consiste em manter a
cabeça fora de água, com as pernas encolhidas bem juntas ao
corpo e os braços entre as pernas, não executando qualquer
movimento.
a) Verdadeiro
b) Falso

9º) Perante uma vítima de afogamento em paragem respiratória


deve-se:
a) Aplicar ventilação artificial
b) Ministrar oxigénio a 100%
c) Manter o corpo da vítima em posição horizontal
d) Chamar o 112
e) Todas as respostas estão corretas

10º) Uma vítima de afogamento que tenha sido recuperada deve ser
sempre transportada posteriormente para uma Unidade de Cuidados
Médicos.
a) Verdadeiro
b) Falso

126 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T12

ACIDENTE DE DESCOMPRESSÃO

TÓPICOS

 Princípios gerais.
 Composição do ar e ação do azoto.
 Acidente de descompressão. Fatores predisponentes. Sinais e
sintomas. Primeiro socorro.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Quais são os principais elementos constituintes do ar atmosférico


√ Que tipo de mergulho deve ser efetuado pelo mergulhador CMAS P1
√ Que comportamento tem o azoto no corpo humano quando respirado a
pressões superiores à normal
√ Quais são os fatores primários que influenciam a dissolução do azoto no
organismo humano
√ Qual é a causa do acidente de descompressão
√ Que fatores predispõem ao acidente de descompressão
√ Quais são os sinais e os sintomas de um acidente de descompressão
√ Qual é o primeiro socorro que se aplica no caso de um acidente de
descompressão

Curso de Mergulho CMAS P1 127


MÓDULO 1T12

COMPOSIÇÃO DO AR E AÇÃO DO AZOTO

Qualquer gás em contato com um líquido tem tendência a dissolver-se nele, até
um determinado limite. Quando este limite é atingido diz-se que o líquido está
saturado, isto é, não consegue dissolver mais gás. Este limite de dissolução está
relacionado com a pressão a que o líquido e o gás estão sujeitos.
Assim, no ato respiratório, os componentes do ar que inspiramos vão dissolver-se
no sangue e nos restantes tecidos orgânicos, até atingirem um valor máximo, de
acordo com a pressão a que estão submetidos.
O ar que respiramos é uma mistura de gases composta por:
 79% de Azoto ou Nitrogénio (N2)

 20,9% de Oxigénio (O2)

 0,03% de Dióxido de Carbono (CO2)

 0,07% de vapor de água e gases raros

Tendo em conta as características dos mergulhos permitidos ao mergulhador


CMAS P1, que só pode evoluir até à profundidade de 20m, e partindo do princípio
que a técnica respiratória do praticante é satisfatória, interessa-nos apenas analisar o
comportamento do azoto.
O azoto é um gás inerte que se dissolve nos tecidos do organismo, apesar de não
ter qualquer utilidade respiratória. O volume de azoto dissolvido depende da
profundidade atingida e da duração do mergulho: quanto maior for a profundidade
(pressão) e o tempo de mergulho, maior é a quantidade de gás dissolvido.
Todo este azoto que se dissolve no organismo durante o mergulho é libertado
quando se inicia o regresso à superfície (diminuição de pressão). Esta libertação é
feita através das trocas respiratórias.
Isto não quer dizer que ao chegar à superfície o mergulhador tenha já eliminado
todo o azoto dissolvido durante o mergulho. Na realidade, ao atingir a superfície o
organismo continua com uma certa quantidade de azoto, que irá libertar-se após
terminado o mergulho. Portanto, o nosso organismo pode suportar uma determinada
quantidade suplementar de azoto dissolvido, para além da que normalmente contém
quando se encontra ao nível do mar (cerca de 1 litro).
Para que o mergulhador chegue à superfície com o azoto dissolvido dentro dos
limites que o organismo pode suportar, são impostos limites de profundidade e de
tempo de mergulho, que se apresentam relacionados sob a forma de tabelas (ver
Módulo 1T13 –Tabelas de descompressão).
O não cumprimento destes limites pode originar graves problemas ao mergulhador.
De facto, se a quantidade de azoto dissolvido ultrapassar a capacidade suportada
pelo organismo, dá-se a libertação de bolhas de azoto nos tecidos durante a subida.
É um fenómeno parecido com o que acontece quando se tira a rolha a uma garrafa
de espumante, que tem gás dissolvido sob pressão.
Estas bolhas provocam uma alteração fisiológica de maior ou menor gravidade,
chamada “doença de descompressão” ou “acidente de descompressão”.

128 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T12

FATORES QUE PREDISPÕEM AO ACIDENTE DE DESCOMPRESSÃO - O cansaço,


a desidratação, o frio, os esforços físicos violentos durante e após o mergulho, a
idade, a obesidade, o consumo de álcool, as drogas, a má forma física, os fatores
emocionais, o perfil do mergulho e os mergulhos sucessivos, são todos fatores que
podem também predispor para o acidente de descompressão, mesmo quando os
limites impostos relativamente à profundidade e tempo do mergulho
sejam respeitados.
A diminuição brusca de pressão a seguir a um mergulho, por exemplo numa
viajem de avião ou numa viajem de carro por estradas de montanha, pode igualmente
provocar um acidente de descompressão, ainda que tenham sido respeitados os
limites impostos de profundidade e de tempo.

SINAIS E SINTOMAS

Uma vez que a doença de descompressão pode interferir com a função de um


grande número de tecidos do organismo, a quantidade de potenciais sinais e sintomas
é vasta. No passado estes sintomas foram agrupados de acordo com a localização
anatómica e presumível mecanismo da doença: tipo I (leve) e tipo II (grave).
Estes termos ainda hoje são usados, mas é largamente reconhecido o seu pequeno
valor, não só porque sintomas dos dois grupos podem coexistir, mas também porque
um acidente do tipo I pode evoluir para um acidente do tipo II.
Assim, a sintomatologia deste acidente é apresentada segundo a evolução clínica
e respetivas manifestações. A evolução pode ser progressiva, estática, melhorar
espontaneamente ou reaparecer.
As manifestações da doença de descompressão podem ocorrer isoladas ou
combinadas:
 Alterações gerais - cefaleias, fadiga exagerada, náuseas e vómitos, mal estar

geral.
 Alterações cutâneas - vermelhidão, inchaços.

A vermelhidão dispersa pelo corpo, mais frequente nos ombros e no tronco, não
deve ser relacionada com reações alérgicas a algum ser marinho, animal ou vegetal.

SINTOMA DOLOROSO - A dor nas articulações (bend) é provavelmente a


manifestação mais frequente da doença de descompressão. Pode iniciar-se ainda
durante a subida ou depois de terminada a imersão, afetando sobretudo as articulações
mais utilizadas durante o mergulho. Consiste numa dor de instalação gradual, difícil
de localizar, que muitas vezes desaparece espontaneamente, sendo com frequência
considerada pelo mergulhador como uma “ninharia”.
Se a dor aumenta, a sua localização é mais precisa e é descrita como um peso ou
uma dor aguda e perfurante, semelhante a uma dor de dentes. Por vezes o mergulhador
encontra uma posição em que a articulação fica menos dolorosa. Se está localizada

Curso de Mergulho CMAS P1 129


MÓDULO 1T12

numa articulação dos membros inferiores, o peso corporal pode não ser tolerado por
essa articulação. Os sinais inflamatórios clássicos, como pele vermelha, quente e
inchada, estão normalmente ausentes.

ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS - O envolvimento do sistema nervoso pode ser


subtil ou multifocal, originando uma grande variedade de manifestações, que vão
desde alterações do humor e da personalidade, até à dificuldade em falar, passando
pela perda de memória, descoordenação de movimentos e formigueiros nos membros
superiores. Alterações dos órgãos dos sentidos, como visão enevoada ou em túnel,
zumbidos, surdez súbita e vertigens também são possíveis. Nos casos mais graves
podem ocorrer convulsões, perda de consciência e morte.
Se a espinal medula estiver envolvida podem surgir formigueiros nas pernas e
perda de sensibilidade até á incapacidade completa de as sentir (paraparesia) e de as
mover (paraplegia). Pode também ocorrer a impossibilidade de urinar e defecar.
A doença de descompressão pode manifestar-se imediatamente após o mergulho,
ou mesmo ainda dentro de água, se a causa for a omissão de paragens de
descompressão ou uma subida excessivamente rápida.
Deve ter-se especial atenção às manifestações de fadiga exagerada, quando
não tenham sido despendidos esforços durante o mergulho, pois pode ser
prenúncio de um acidente neurológico
Cerca de 90% dos acidentes manifestam-se nas primeiras seis horas e mais de
50% na primeira hora. Os restantes 10% manifestam-se após as seis horas. Se um
mergulhador está assintomático mais de 48 horas após a saída da água, qualquer
sintoma que surja depois deste período, muito provavelmente não se relaciona com
a doença de descompressão.

PRIMEIRO SOCORRO - O primeiro socorro consiste, no caso de mergulhadores


conscientes, em administrar muitos fluídos por via oral (água), oxigénio a 100% com
um débito mínimo de 15litro/min, mantê-lo confortável, seguindo-se a sua evacuação
em posição deitada, para uma Unidade Hiperbárica.
Os mergulhadores inconscientes devem ser abordados segundo os procedimentos
recomendados no Suporte Básico de Vida e transportados em posição lateral de
segurança a respirar oxigénio a 100%. O tratamento definitivo consiste em
recompressão imediata em Câmara Hiperbárica seguida de descompressão gradual
segundo tabelas próprias.
Todo o mergulhador que se suponha ser vítima de um acidente de
descompressão deve ser conduzido para uma unidade hiperbárica.
Todos os elementos do grupo de mergulho, especialmente o companheiro
do acidentado, devem ser mantidos sob vigilância médica.

130 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T12

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) Um dos componentes do ar atmosférico é:


a) O acetileno
b) O cloro
c) O azoto
d) O metanol
e) O anidrido sulfúrico

2º) O limite máximo de profundidade permitido ao mergulhador


CMAS P1 é:
a) 12m
b) 18m
c) 20m
d) 25m

3º) A quantidade de azoto que se dissolve no organismo humano


durante um mergulho depende:
a) Da salinidade da água
b) Da duração do mergulho
c) Do tipo de regulador utilizado
d) Da quantidade de luz que o corpo absorve
e) Da temperatura da água

4º) Um dos fatores predisponentes ao acidente de


descompressão é:
a) A visibilidade da água
b) A direção da corrente
c) O esforço físico durante o mergulho
d) A pressão do ar na garrafa

5º) Entre os vários sinais e sintomas dum acidente de descompressão,


a fadiga não justificada, deve ser objeto de atenção especial
pois pode ser o aviso para um acidente do tipo neurológico.
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 131



MÓDULO 1T12

QUESTIONÁRIO

6º) As alterações cutâneas que se podem manifestar como sinais dum


acidente de mergulho são:
a) As cefaleias
b) As náuseas
c) Os inchaços
d) Os formigueiros nos dedos
e) Nenhuma resposta está correta

7º) As dores nas articulações poderão ser sintoma dum acidente de


mergulho.
a) Verdadeiro
b) Falso

8º) Alterações neurológicas podem manifestar-se como sinais e


sintomas dum acidente de mergulho.
a) Verdadeiro
b) Falso

9ª) O 1º socorro que deve ser aplicado a uma vítima de um acidente


de descompressão, que esteja consciente, é:
a) Ministrar água
b) Ministrar oxigénio a 75%, a um débito de 10l/min
c) Ministrar oxigénio a 100%, a um débito de 10l/min
d) Ministrar bebidas alcoólicas aquecidas
e) Nenhuma resposta está correta

10º) Toda o mergulhador que se suponha vítima de um acidente de


descompressão deve ser conduzido para uma Unidade Hiperbárica.
a) Verdadeiro
b) Falso

132 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T13

TABELAS E COMPUTADORES

TÓPICOS

 Tabelas de mergulho. Introdução.


 Principais parâmetros. Profundidade, tempo, velocidade de subida.
 Mergulhos com e sem paragens de descompressão. Paragem de segurança.
Azoto residual.
 Voar ou viajar em altitude após o mergulho.
 Mergulho sucessivo. Intervalo de superfície, tempo de penalização.
 Utilização da tabela Büehlmann “86.
 Computadores versus tabelas de mergulho.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Para que servem as Tabelas de Mergulho


√ Porque foram escolhidas pela FPAS as tabelas Büehlmann “86
√ Ler e interpretar uma tabela de mergulho
√ Porque devem ser evitados os mergulhos que obriguem a paragens de
descompressão
√ Quais são os principais parâmetros duma tabela de mergulho
√ O que é a paragem de segurança e em que difere duma paragem de
descompressão
√ O que é o azoto residual e quais as suas implicações nas viagens em
altitude e nos mergulhos sucessivos
√ Quais são os parâmetros a respeitar num mergulho sucessivo
√ Como se utiliza o computador de mergulho e em que difere da utilização
de uma tabela

Curso de Mergulho CMAS P1 133


MÓDULO 1T13

TABELAS DE MERGULHO

Antes de avançarmos na explicação sumária das tabelas de mergulho há que


deixar alguns esclarecimentos e chamar a atenção para algumas noções fundamentais
para a prática correta do mergulho desportivo:
 Ainda que possa mergulhar acompanhado por um mergulhador de nível igual e

planear os seus mergulhos, o mergulhador CMAS P1 terá toda a vantagem, no


início, em mergulhar acompanhado de um mergulhador de nível superior.
 Nestas condições, sabe que tem ao seu lado um companheiro mais qualificado
e com maior experiência que lhe transmitirá uma maior segurança e que o poderá
ajudar a resolver qualquer situação anormal.
 O mergulhador CMAS P1 não pode fazer mergulhos que exijam paragens de

descompressão. Este tipo de mergulhos reveste-se de maior perigo, requerendo


segurança acrescida e maiores conhecimentos.
 Os mergulhos de perfil ”yo-yo” ou “dente de serra” são vivamente desacon-

selhados, devido às constantes variações de pressão.


 Os ”mergulhos sucessivos” deverão ser deixados para quando o mergulhador,

com mais experiência e conhecimentos, obtiver uma qualificação superior.

Por tal motivo, é de fundamental importância que ele tenha os conhecimentos


mínimos relacionados com a utilização das tabelas de mergulho para poder planear
os seus mergulhos e, em qualquer eventualidade, saber fazer o “ponto da situação”.
Há por todo o mundo uma enorme variedade de tabelas de mergulho. Todas são
fiáveis, mas nenhuma é 100% segura, pela simples razão de que uma tabela é o
resultado de cálculos matemáticos, não contemplando pois todos os fatores de ordem
fisiológica que contribuem para que ocorra um acidentes de descompressão. Portanto,
a realidade dos factos é que, o uso correto das tabelas não dá a garantia absoluta
de que tais acidentes não possam ocorrer.
A primeira tabela de mergulho foi criada no início do século XX (1907) por Scott
Haldane, com base nos trabalhos do dr. Paul Bert. Esta tabela foi inicialmente utilizada
pelas marinhas nacionais de vários países, nomeadamente a França, a Inglaterra e os
EUA. Em 1948, o Groupe d’Etudes et Recherches Subaquatiques (GERS), adaptou o
sistema métrico à tabela e introduziu a tabela de mergulhos sucessivos.
Ao mesmo tempo, a evolução dos conhecimentos científicos, nas universidades
e institutos de investigação permitiu que o aperfeiçoamento das tabelas fosse cada
vez maior. Desta forma, uma vez que as tabelas têm sido continuamente
aperfeiçoadas, devemos estar preparados para eventuais alterações que possam surgir
nas tabelas que adotamos.
Todas as tabelas são feitas a partir de modelos matemáticos que são testados mais
ou menos exaustivamente em seres humanos. A credibilidade da Organização que
as criou, o modelo matemático adotado, o tipo e quantidade de testes realizados e
os equipamentos de rastreio e controlo utilizados é que ditam o grau de fiabilidade

134 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

de uma tabela.
Após a análise de várias versões de
tabelas de mergulho, a FPAS adotou a
tabela BÜEHLMANN “86, elaborada pelo
Instituto Büehlmann de Zürich, uma das
mais prestigiadas organizações mundiais
que se dedicam ao estudo do compor-
tamento dos gases sobre pressão no
organismo humano.
A tabela Büehlmann“86 foi elaborada
a pensar no mergulho desportivo. Para
além de contemplar os mergulhos em
altitude, está feita de modo a tornar
simples os cálculos necessários para
efetuar mergulhos sucessivos. Esta tabela
é utilizada por diversas federações de
mergulho europeias (63%) e o seu
algoritmo é utilizado em computadores
de mergulho de várias marcas, como a
Uwatec (Aladin), a Spiro (Monitor 2+ e Tabela de descompressão
3), a Suunto e a Mares, entre outras.

A TABELA BÜEHLMANN “86

Todas as tabelas de mergulho se baseiam


em três parâmetros fundamentais:
 Profundidade máxima (P)

 Tempo de Fundo (TF)

 Velocidade de subida

Estes valores estão relacionados com


a dissolução do azoto no sangue e nos
tecidos orgânicos. Quanto mais profundo
e mais demorado for o mergulho, maior
é a pressão e mais longo é o período em
que o corpo está sujeito a essa pressão,
portanto, maior será a quantidade de
azoto dissolvido no organismo.
Assim, interessa começar por definir
esses valores e outros igualmente Tabela de mergulhos sucessivos
importantes, para nos inteirarmos do
modo como funcionam as tabelas.

Curso de Mergulho CMAS P1 135


MÓDULO 1T13

PROFUNDIDADE (P) - É a profundidade máxima, em metros, atingida durante o


mergulho. Por exemplo, no caso de um mergulho realizado quase na totalidade a 15
metros de profundidade, com uma “escapadela” muito rápida aos 30 metros, é esta
profundidade que conta para consultar a tabela e não os 15 metros.

TEMPO DE FUNDO (TF) - é o intervalo


P TF Patamares de tempo, em minutos, desde o início da
(m) (min)
GR
9 6 3 descida até ao início da subida directamente
125 1 G para a superfície.
12 140 5 H O último gesto do mergulhador ao
150 8 H abandonar a superfície é marcar no seu
75 1 G relógio o início da contagem do tempo.
80 3 G Muitos relógios e profundímetros digitais
90 7 G dão início à contagem do tempo
15
100 12 G automaticamente, mal se dá a imersão, o
110 17 H que é o ideal.
120 20 H A soma do Tempo de Fundo, mais o
51 1 F tempo de subida, mais o tempo no patamar
60 5 F de segurança, dá o Tempo Total de
18 70 11 G Mergulho. É esse o valor que será registado
80 18 G na Caderneta de Imersão.
90 24 H
35 1 E VELOCIDADE DE SUBIDA - A
40 2 F velocidade de subida está condicionada
50 8 F
21 por fatores relacionados com a
60 16 G
70 25 G descompressão. As tabelas Büehlmann“86
# # # foram calculadas para a velocidade de
subida de 10 metros/minuto, velocidade
essa que deverá ser sempre respeitada.
Exemplos:
 Se um mergulhador estiver a -40m, a subida até ao patamar de segurança

(-3m) durará 4 minutos; se estiver a -27m, 1 minuto depois de iniciar a subida


deverá estar a -17m, e 2 minutos depois a -7m.

Cumpra sempre a velocidade de subida de 10m por minuto

A velocidade de descida é em grande parte condicionada pela capacidade individual


de compensação. Porém, recomenda-se que esta velocidade não ultrapasse os 30
metros por minuto.

136 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

MERGULHOS COM E SEM PARAGENS DE DESCOMPRESSÃO

Na tabela de descompressão Büehlmann“86 existem valores limite de


profundidade/tempo que permitem ao mergulhador subir sem efetuar paragens de
descompressão. Os valores acima destes limites estão representados a itálico.
Em princípio, para cada profundidade existe um Tempo de Fundo máximo, dentro
do qual os tecidos não acumulam azoto em quantidade suficiente para provocar
problemas de descompressão (o azoto não ultrapassa os limites suportados pelo
organismo). Para que isto se cumpra é obrigatório respeitar a velocidade de subida
e a paragem de segurança, da qual falaremos mais adiante.
Isto não significa que não permaneça dissolvida nos tecidos uma certa quantidade
de azoto excedentário. Esse azoto só será completamente eliminado algum tempo
após o mergulho (entre 2 a 24 horas).

No âmbito do mergulho desportivo, os mergulhos não deverão ter


paragens de descompressão

PARAGENS DE DESCOMPRESSÃO (AZOTO RESIDUAL) - Como já vimos, durante


o mergulho o azoto vai-se acumulando lentamente no organismo do mergulhador.
Porém, a sua libertação através da respiração nem sempre se pode efetuar da mesma
forma gradual, dado que o mergulhador não pode subir tão lentamente como seria
desejável. A solução encontrada para o regresso à superfície, de forma a libertar o
azoto em excesso antes que ultrapasse o limite suportado pelo organismo, é a
seguinte:
 Cumprir uma velocidade de subida fixa.

 Efetuar paragens (se necessário) durante um determinado tempo e a


determinadas profundidades (patamares).

Este procedimento permite descomprimir lentamente, como se estivéssemos a


subir muito devagar. Na gíria do mergulho, estas paragens também são conhecidas
simplesmente por “patamares de descompressão”.
Na tabela Büehlmann “86, para os mergulhos efetuados até 700m acima do nível
do mar, foram fixados patamares de 3 em 3 metros (3, 6 , 9 e 12m de profundidade).
Para mergulhos efetuados entre os 701 e os 2500m de altitude, os patamares são
aos 2, 4, 6, 9 e 12m.

Sempre que o Tempo de Fundo ultrapasse o tempo limite para a


profundidade máxima atingida, tornam-se obrigatórias as paragens de
descompressão, não sendo possível subir directamente para a superfície

Curso de Mergulho CMAS P1 137


MÓDULO 1T13

O mergulhador deve transportar sempre consigo uma tabela de descompressão,


quer para a planificação do mergulho, quer para utilização durante o mergulho
sempre que haja necessidade de efectuar uma consulta rápida e fácil.
A tabela seguinte, extraída das Tabelas Büehlmann “86, apresenta os limites máximos
de Tempo de Fundo em função da profundidade, de forma a não ultrapassar o limite
de azoto suportado pelos tecidos. Nestas condições, para regressar à superfície, apenas
será necessário efetuar uma paragem de segurança de 1 min aos 3m.

Profundidade Tempo de Fundo Profundidade Tempo de Fundo


máxima limite máxima limite

9m 335 minutos 27m 20 minutos


12m 125 minutos 30m 17 minutos
15m 75 minutos 33m 14 minutos
18m 51 minutos 36m 12 minutos
21m 35 minutos 39m 10 minutos
24m 25 minutos 42m 9 minutos

Valores da tabela de descompressão Büehlmann “86 para mergulhos sem paragens de


descompressão
Embora a menor profundidade indicada na tabela Büehlmann 86 seja de 12 metros,
na verdade, a 9 metros de profundidade já existe limitação de tempo, mais
exactamente, de 5h 35m. Em qualquer dos casos deve ser sempre efetuada a
paragem de segurança.

GRUPO RESIDUAL DE AZOTO (GR) - É a quantidade de azoto excedentário


dissolvido nos tecidos do mergulhador após a sua chegada à superfície. Na tabela de
descompressão, esta quantidade de azoto é representada por uma letra.
Já referimos, que após terminado o mergulho permanece dissolvida nos tecidos
certa quantidade de azoto, que só será completamente eliminada algum tempo
depois (entre 2 a 24 horas), como se pode ver na Tabela IS (Intervalo de Superfície).

VALORES NÃO INDICADOS NAS TABELAS - Os valores reais do Tempo de Fundo


e da Profundidade de mergulho podem não coincidir com os valores mostrados na
tabela. Quando isto acontece, devem considerar-se sempre os valores
imediatamente superiores aos valores reais do tempo e profundidade registados.
Exemplos:
 Se a Profundidade for 19 metros e o Tempo de Fundo for 42 minutos, a escolha

na tabela será: 21m/50 minutos.


 Se a Profundidade for 31m, a escolha na tabela será: 33m.

 Se para a Profundidade de 24m o Tempo de Fundo for 26 minutos, a escolha na

tabela será: 30 minutos.

138 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

MERGULHOS COM EXAGERADO ESFORÇO FÍSICO - Em mergulhos com exagerado


esforço físico tomar o tempo imediatamente superior ao tempo de fundo real.

MERGULHOS EM ÁGUAS MUITO FRIAS - Em mergulhos em águas muito frias


tomar o tempo imediatamente superior ao tempo de fundo real.

A DESCOMPRESSÃO APÓS O
P TF Patamares
MERGULHO - Depois do regresso à (m) (min)
GR
9 6 3
superfície, tendo efetuado um mergulho
125 1 G
com ou sem paragens de descompressão,
12 140 5 H
não se pode considerar que o mergulhador
150 8 H
eliminou completamente o azoto em
excesso dissolvido nos tecidos. Apenas se 75 1 G
poderá afirmar que a quantidade de azoto
80 3 G
90 7 G
dissolvido no organismo já não é tão 15
100 12 G
susceptível de causar acidentes.
110 17 H
No caso do mergulho atrás referido
120 20 H
(21m/50min), o Grupo Residual de azoto
com que o mergulhador termina o 51 1 F
60 5 F
mergulho é o F (GR=F)
18 70 11 G
Já vimos que o mergulhador só se 80 18 G
pode considerar completamente liberto 90 24 H
de todo o azoto residual entre 2 a 24 35 1 E
horas após o mergulho. Tal facto dá 40 2 F
origem a algumas restrições importantes 50 8 F
21
durante esse período de tempo: esforços 60 16 G
físicos violentos, voar, subida de 70 25 G
# # #
montanhas e mergulhos sucessivos.
Quando os valores reais não existem na
tabela, escolhem-se os valores imediatamente
RESTRIÇÃO AO VOO - Se for a seguir
necessário viajar de avião (pressurizado
ou não) ou subir uma montanha a seguir a um mergulho, o mergulhador ficará
sujeito a pressões inferiores à pressão atmosférica ao nível do mar, para a qual as
tabelas foram calculadas. Por isso, é preciso esperar ao nível do local em que efetuou
o mergulho, o tempo necessário para eliminar o azoto em excesso, .
Por razões de segurança, mesmo depois de realizado um mergulho sem paragens
de descompressão, só se deve voar depois de passarem 12 horas. Igualmente
por razões de segurança, durante a primeira hora após o mergulho devem evitar-se
percursos de montanha. Se isso acontecer inadvertidamente, logo que se deteta o
erro deve-se descer imediatamente.
Embora esta situação seja difícil de acontecer em Portugal continental, no Algarve,
por exemplo, em menos de uma hora o mergulhador pode estar a subir a Serra de

Curso de Mergulho CMAS P1 139


MÓDULO 1T13

Monchique (900 metros de altitude) depois de ter estado a mergulhar em Lagos ou


na Barragem de Stª Clara (Ourique). Em contrapartida, nos Açores e na Madeira este
problema coloca-se com certa frequência e com altitudes mais elevadas.
Também é importante que o mergulhador não faça esforços físicos violentos a
seguir ao mergulho, porque o aumento do ritmo circulatório, acrescido de uma
maior produção de CO2, pode conduzir ao Acidente de Descompressão.

MERGULHO SUCESSIVO

É qualquer mergulho efetuado antes do organismo estar completamente liberto


do azoto residual acumulado no mergulho anterior. Esta situação pode acontecer
durante um intervalo de tempo que pode atingir as 24 horas, conforme a quantidade
de azoto residual com que o mergulhador saiu do mergulho anterior.
Em função do intervalo de superfície (IS), todo o mergulho sucessivo é caracterizado
no seu início por um valor de GR (Grupo Residual de azoto), que poderá ser igual ou
diferente ao valor de GR com que terminou o mergulho anterior.

INTERVALO DE SUPERFÍCIE (IS) - É o intervalo de tempo que decorre entre o fim


de um mergulho (chegada à superfície) e o início do mergulho seguinte. Caso não
exista na Tabela IS o valor real do intervalo de superfície, deve escolher-se o valor
imediatamente inferior por ser mais penalizante para o cálculo do novo GR,
garantindo portanto maior segurança.
Exemplo:
 Se no final de um mergulho o Grupo Residual de azoto (GR) tem o valor E

e passados 40 minutos vai ser feito um mergulho à profundidade prevista de


23m, o Intervalo de Superfície (IS) escolhido para determinar o novo valor para o
GR deverá ser 25 minutos. O novo GR passa a ter o valor B.
Na tabela IS, a coluna Voar indica o tempo mínimo de espera em horas, até o
mergulhador poder viajar de avião.
Minutos Horas A coluna “0” indica o tempo mínimo
A 2 2 necessário para que não seja preciso
B 20 2 2 introduzir qualquer correção no tempo
C 10 25 3 3 de fundo do mergulho seguinte.
D 10 15 30 3 3
E 15 15 25 45 3 4 TEMPO DE PENALIZAÇÃO (TP) – O
Tempo de Penalização corresponde ao
F 20 30 45 75 90 4 8
tempo que seria necessário permanecer
G 2 5 4 5 6 0 7 5 100 130 5 12
à profundidade a que se vai mergulhar,
H 5 0 6 0 9 5 9 5 180 240 340 7 24 para atingir o valor de azoto residual (GR)
H G F E D C B A Voar “0” com que se inicia o mergulho sucessivo.
Tabela de Intervalo de Superfície No caso de não existir na Tabela TP

140 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

o valor real da Profundidade Prevista (PP)


para o novo mergulho, escolhe-se o valor G F E D C B A PP
de profundidade imediatamente inferior. 154 130 105 81 55 37 25
1 9
Exemplo: 137 111 82 57 37 25 19 12
 Se estivermos a preparar um mergulho 115 88 59 41 29 20 16 15
sucessivo a 23 metros e o novo GR for B, 91 68 44 33 25 17 14 18
a profundidade considerada será de 21 72 53 37 28 22 15 12 21
metros e o Tempo de Penalização (TP) 57 42 30 24 20 13 11 24
será de 15 minutos. 47 35 26 21 18 12 10 27
40 30 23 19 16 11 9 30
TEMPO DE FUNDO CORRIGIDO (TFC)- 35 27 21 17 14 10 8 33
É o tempo de fundo a considerar, para todos 31 24 19 15 12 9 7 36
os efeitos e todos os cálculos, no mergulho 27 21 17 14 11 8 7 39
sucessivo. Tabela de Tempo de Penalização
O Tempo de Fundo Corrigido (TFC)
resulta da soma do Tempo de Penalização (TP), obtido a partir do GR existente no
início do mergulho sucessivo, com o Tempo de Fundo (TF). O Tempo de Fundo Corrigido
(TFC) serve também de base ao cálculo de eventuais paragens de descompressão a
realizar no mergulho sucessivo, situação que é interdita ao mergulhador CMAS P1.

OBSERVAÇÕES
 Quando se diz “mergulho sem descompressão”, de facto, quer
dizer-se “mergulho sem paragens de descompressão”. Isto
significa que o organismo tem azoto em excesso, mas dentro do
limite que permite subir diretamente para a superfície. No entanto
não se pode mergulhar de novo, voar, ou subir uma montanha,
sem entrar em conta com o mergulho efetuado.
 As tabelas são modelos matemáticos, que usam como referência o
“indivíduo médio”. Mas as pessoas reagem fisiologicamente de formas
diferentes. Os riscos de acidente de descompressão podem aumentar com
a fadiga, frio, adiposidade, certos medicamentos ou a idade. Por isso, é
aconselhável encurtar um ou dois minutos o Tempo de Fundo indicado para
os mergulhos sem paragens de descompressão.
 Mesmo nos mergulhos sem paragens de descompressão, é sempre
aconselhável parar 1 minuto a 3m. Com mar agitado, onde é difícil a imobilização
aos 3m, essa paragem de segurança deverá ser feita entre os 3 e os 5 metros.
 Uma subida mais rápida ou mais lenta do que os 10m/min indicados na
tabela pode criar problemas de descompressão, mesmo num mergulho sem
paragens de descompressão obrigatórios.
Subir repetidamente à superfície, mesmo por breves momentos (verificar
marcas, procurar companheiros, etc.), é muito desaconselhável.
 Nunca se deve esticar o Tempo de Fundo até aos limites.

Curso de Mergulho CMAS P1 141


MÓDULO 1T13

UTILIZAÇÃO DA TABELA BÜEHLMANN “86

Independentemente do tipo de mergulho a efetuar, a utilização das tabelas é


feita sempre da mesma forma e cumprindo sempre os mesmos princípios:
a) Primeiro, na coluna das profundidades, seleciona-se o valor da Profundidade
Máxima de mergulho ou, se este valor não existir, o valor imediatamente superior.
b) Depois, na coluna do Tempo de Fundo, na zona correspondente à profundidade
selecionada, procura-se o Tempo de Fundo registado ou o valor imediatamente superior.
c) Finalmente, seguindo a linha correspondente ao Tempo de Fundo selecionado,
encontram-se os tempos de paragem a respeitar em cada um dos patamares de
descompressão (15, 12, 9, 6 e 3 metros), situação que deve ser sempre evitada.
Exemplos:
 Se a Profundidade Máxima foi de 27 m e o Tempo de Fundo foi 15 minutos,

não há paragens obrigatórias. O mergulhador pode regressar à superfície


efetuando apenas a paragem de segurança de 1 minuto a 3 m.
 Se a Profundidade Máxima foi de 28 m e o Tempo de Fundo foi 31 minutos,

a escolha na tabela será: 30 m/35 min. A tabela mostra que é obrigatório fazer
uma paragem de 3 minutos no patamar dos 6 m e outra paragem de 14 minutos
no patamar dos 3 m.

A partir de determinados valores de profundidade máxima e de tempo de fundo,


os tempos de descompressão tornam-se excessivamente longos. Por exemplo, num
mergulho à profundidade máxima de 40m com um tempo de fundo de 27 minutos,
as paragens de descompressão obrigatórias a efetuar são de 4 minutos no patamar
dos 9m, mais 7 minutos no patamar dos 6m, mais 19 minutos no patamar dos 3m.
Ou seja, o tempo total de descompressão é de 30 minutos, portanto mais
longo do que o tempo útil do mergulho
É duvidoso que valha a pena ao mergulhador amador realizar tais mergulhos, que
além de fastidiosos (estar pendurado num cabo à espera que o tempo passe é pouco
interessante), são mergulhos de risco acrescido. Este tipo de mergulho só se justifica
em casos muito especiais e é preciso ter em conta que a quantidade de ar necessária
para o mergulho e para a descompressão não pode exceder o volume
de ar transportado na garrafa.
Num caso destes, além da garrafa para o mergulho, será preciso usar uma garrafa
independente para a descompressão, ou usar garrafas de capacidade maior do que
a habitual. Tudo isto pressupõe um plano de mergulho previamente elaborado
para que possam ser cumpridos os tempos de paragem de descompressão nos
patamares exigidos.

Só mergulhadores muito treinados, com a qualificação CMAS P3, estão aptos a


programar e realizar mergulhos com paragens de descompressão.

142 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

MERGULHO SUCESSIVO - Como já várias vezes tem sido referido, o mergulhador


CMAS P1 não pode fazer mergulhos em que seja necessário efetuar paragens
obrigatórias de descompressão. O mergulho sucessivo não poderá fugir à regra. Por
isso, para além dos procedimentos normais no seu planeamento, há que ter em
conta o fato de que o Tempo de Fundo (TF) do mergulho, acrescido do
Tempo de Penalização (TP), nunca poderá exceder o valor indicado na
tabela para o qual não é necessário fazer paragens obrigatórias de
descompressão.
Exemplo:
 Efectuou-se um mergulho cujo Tempo de Fundo (TF) foi de 15 minutos à

profundidade (P) de 29m. A tabela de descompressão indica que o mergulho


terminou com um GR igual a D.
Ao fim de 28 minutos, pretende-se fazer um novo mergulho (mergulho
sucessivo), à profundidade máxima de 20m. Passando à Tabela dos Mergulhos
Sucessivos, dado que na tabela de Intervalo de Superfície (IS) não existe o valor
de 28 minutos, deverá adotar-se o valor imediatamente inferior, 15 minutos, por
ser mais penalizante. A este valor corresponde um GR igual a B.
Passando à tabela do Tempo de Penalização (TP), como não existe a profundidade
de 20m, escolhe-se a profundidade imediatamente inferior, 18m, por ser mais
penalizante. Esta profundidade, relacionada com o valor de GR=B, dá um Tempo
de Penalização (TP) de 17 minutos. Isto significa que, ainda antes de iniciar o
mergulho, o mergulhador “já gastou” 17 minutos de mergulho à profundidade
considerada.
Como o mergulhador não poderá fazer paragens obrigatórias de descompressão,
estes 17 minutos terão que ser subtraídos ao tempo máximo de permanência
para um mergulho deste tipo à profundidade considerada (a tabela de
descompressão indica 35 minutos), porque o Tempo de Fundo Corrigido (TFC)
não poderá passar esse limite.
Assim, o mergulhador terá disponível, como Tempo de Fundo (TF) para o seu
mergulho, apenas 18 minutos (35 - 17).

Quando se fazem mergulhos sucessivos, como medida de segurança, o


mergulho mais fundo deve ser sempre feito em primeiro lugar.
O tempo mínimo de intervalo de superfície aconselhado é de 2 horas.

COMPUTADORES DE MERGULHO

O computador de mergulho, na sua essência, é uma tabela de mergulho, com


um cronómetro e um profundímetro incorporados. A grande diferença em relação à
simples tabela de mergulho é que o computador trata em tempo real os dados
recolhidos durante o mergulho e os resultados são de imediato visíveis no mostrador.

Curso de Mergulho CMAS P1 143


MÓDULO 1T13

Isto permite ao mergulhador fazer em cada momento o ponto da situação


relativamente ao mergulho, enquanto que as tabelas apresentam uma escala de
resultados fixos.
Mais recentemente, através de uma ligação a uma saída de alta pressão do 1º
andar do regulador (mangueira ou emissor via rádio), vários modelos de computador
tratam dados relativos à pressão do ar na garrafa, calculando o consumo de ar em
cada momento e fazendo a
estimativa da duração da reserva
de ar.
Desta forma o mergulhador é
informado do tempo de mergulho
de que ainda dispõe sem ter que
realizar paragens de
Algoritmo Dados em descompressão, quais os
patamares e tempos de
Micro
proces- descompressão que even-
tualmente tenha de respeitar, a
velocidade de subida que está a
Medidor praticar, os intervalos de superfície,
Relógio
além de muitas mais informações.
Nos casos em que o mergulho
começa fundo e depois vai
Emissor via rádio subindo gradualmente, ao longo
de uma parede, por exemplo, o
uso do computador pode otimi-
zar o tempo do mergulho. Na
Esquema de funcionamento de um computador de verdade, a descompressão que
mergulho com gestão de ar através de emissor via rádio se vai fazendo lentamente à
medida que o mergulhador vai
subindo, é um fator continuamente calculado e atualizado pelo computador. Com
uma tabela, tal procedimento é impossível.
Após a chegada à superfície, o computador continua a manter o mergulhador
informado sobre a forma como está a decorrer a descompressão, permitindo desta
forma o planeamento fácil de um segundo mergulho.
Permite mesmo introduzir, se for caso disso, as correções da pressão
atmosférica relativamente à altitude em que o mergulho se vai efetuar. Na
memória ficam também registados alguns dados relativos aos mergulhos
efetuados, que na geração mais recente de computadores podem ser
transferidos para um computador pessoal, sob a forma de tabela ou de
gráfico.
Atualmente há computadores de mergulho que têm bússola e termómetro
integrados, para além de terem a possibilidade de gerir mergulhos onde

144 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

são utilizadas misturas respiratórias diferentes do ar


atmosférico.
No entanto, o uso de computadores não exclui o
uso de tabelas, uma vez que também estes aparelhos
são suscetíveis de sofrer avarias, embora não sejam muito
frequentes. Por razões de segurança, mesmo com
computador, o mergulhador deve fazer-se acompanhar
sempre da tabela (de preferência baseada no modelo
Computador com emissor
matemático utilizado pelo computador) e dos meios
para gestão do ar
necessários para a medição do tempo e da
profundidade (relógio e profundímetro).
Por outro lado, é necessário não esquecer que existem modelos de
computadores programados com modelos matemáticos diferentes. Assim, num
grupo de mergulhadores em que existam computadores diferentes, é muito
provável que as informações obtidas não coincidam umas com as outras.
Finalmente deve ter-se presente que não é o computador que evita os
acidentes de descompressão, mas sim o modo como se utiliza o
aparelho. O mergulhador deve saber ler corretamente e sem margem para
dúvidas os dados que o aparelho fornece no mostrador e respeitá-los
escrupulosamente.
As regras de segurança que se aplicam ao uso das tabelas (não esticar os
tempos até ao limite e respeitar a paragem de segurança) devem ser também
aplicadas ao mergulho com computador. Segundo o Dr. Büehlmann, “100% de
segurança só se consegue obter restringindo todas as atividades subaquáticas
ao mergulho na banheira”.

 Nunca faça comparação entre os valores do computador e os


apresentados na tabela de mergulho.
 Utilize ou o computador ou a tabela de mergulho. Nunca misture as
duas coisas.
 Cada mergulhador deve ter o seu computador. Dois mergulhadores
têm sempre perfis de mergulho diferentes.
 Se não usar computador e estiver a mergulhar com um companheiro
que o utilize nunca evolua a uma profundidade superior àquela em que
ele está a evoluir.
 Leia sempre atentamente o manual de instruções antes de utilizar o
computador. Cada modelo de computador tem as suas características.

Curso de Mergulho CMAS P1 145


MÓDULO 1T13

146 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO 1T13a

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) Um dos parâmetros duma tabela de mergulho é:


a) A pressão do dióxido de carbono no ar
b) O consumo de ar
c) O tempo de fundo
d) A temperatura da água
e) A velocidade de descida

2º) Tempo de fundo é o intervalo de tempo entre o início da


descida e o final do mergulho.
a) Verdadeiro
b) Falso

3º) A velocidade de subida adotada na tabela BÜEHLMANN“86 é:


a) 6m/segundo
b) 10m/minuto
c) 15m/segundo
d) 17m/minuto
e) Nenhuma resposta está correta

4º) Os mergulhos nos quais o mergulhador pode vir diretamente


para a superfície sem problemas de descompressão, denominam-
se mergulhos:
a) De subida rápida
b) Com patamares oscilantes
c) De alta precisão
d) Com paragens de descompressão
e) Nenhuma resposta está correta

5º) A paragem de um minuto aos três metro de profundidade,


que se deve realizar em todos os mergulhos chama-se:
a) Paragem de descanso
b) Paragem de recompressão
c) Paragem de segurança
d) Paragem de segurança tabular

Curso de Mergulho CMAS P1 147



MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO

6º) Na tabela de mergulho Buhelmann “86, o grupo de azoto residual


é a letra que representa a quantidade de azoto dissolvida nos tecidos
do mergulhador no início do mergulho.
a) Verdadeiro
b) Falso

7º) Fazer esforços violentos, voar, viajar numa estrada de montanha,


são ações que podem ser efetuadas logo após ter-se terminado
um mergulho.
a) Verdadeiro
b) Falso

8º) Se o valor da profundidade máxima atingida durante um mergulho


não se encontrar na Tabela toma-se o valor de profundidade
imediatamente superior:
a) Verdadeiro
b) Falso

9º) O tempo de fundo corrigido é:


a) O tempo máximo de permanência menos o intervalo de superfície
b) O tempo de permanência mais o tempo de penalização
c) O tempo de mergulho mais o tempo do patamar de segurança
d) Nenhuma resposta está correta

10º) Se efetuar dois mergulhos num dia, a profundidade do


segundo mergulho deverá ser superior á do primeiro.
a) Verdadeiro
b) Falso

11º) Num computador de mergulho estão obrigatoriamente reunidos


os seguintes instrumentos:
a) Bússola, profundímetro e relógio
b) Relógio, termómetro e tabela de mergulho
c) Profundímetro, tabela de mergulho e relógio
d) Tabela de mergulho, manómetro e relógio
e) Termómetro, manómetro e bússola

148 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO

12º) Se foi mergulhar com um companheiro de mergulho que utilize


um computador e se tiver esquecido o seu computador na
embarcação, nunca desça a uma profundidade superior àquela em
que ele está a evoluir.
a) verdadeiro
b) falso

13º) O único lugar onde é impossível ter um acidente de


descompressão é quando se mergulha:
a) em águas tropicais
b) num lago de montanha
c) em casa, na banheira
d) em águas interiores

Curso de Mergulho CMAS P1 149



MÓDULO 1T13

150 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

CÁLCULO DO CONSUMO DE AR

TÓPICOS

 O ar que respiramos
 O ar que transportamos.
 Cálculo do consumo individual de ar

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Que fatores influenciam o consumo de ar de um indvíduo


√ Qual é o valor médio do consumo de ar à superfície adotado no mergulho
√ Como varia o consumo de ar com o aumento da profundidade
√ Como calcular a quantidade de ar armazenado numa garrafa de mergulho
√ Como calcular o consumo de ar a uma determinada profundidade evoluindo
em condições normais

Curso de Mergulho CMAS P1 151


MÓDULO 1T13

O AR QUE RESPIRAMOS

Julgamos ser intuitivo que um dos fatores mais importantes na duração dum
mergulho é a quantidade de ar que transportamos.
No entanto, outros fatores não menos importantes condicionam a duração do
mergulho, entre os quais sobressai, naturalmente, o consumo de ar do
mergulhador.
Ainda que os dois fatores referidos sejam bastante variáveis, podemos no entanto
adotar valores que nos possibilitem efetuar, com alguma aproximação, alguns cálculos
sobre a quantidade de ar consumido e do ar que ainda resta.

O CONSUMO DE AR - O volume de ar que respiramos por minuto está relacionado


com vários fatores:
a) O volume dos pulmões
b) O esforço que exercemos
c) A temperatura da água
d) A profundidade a que evoluímos
e) O nosso estado mental
f) O nosso estado físico
g) A nossa experiência no mergulho
Podemos pois afirmar que no lado mais baixo da escala de consumo teremos um
mergulhador do sexo feminino, mergulhando descansadamente, a baixa profundidade
e em águas quentes. Ao contrário, um mergulhador do sexo masculino, de elevada
compleição física, deslocando-se rapidamente, a grande profundidade, mal preparado
fisicamente e em estado de pânico, situa-se no extremo oposto.
O ser humano, à superfície e em descanso, consome cerca de seis litros de ar por
minuto. Ao levantar-se e movimentar-se ligeiramente o seu consumo duplica e se o
movimento for mais rápido facilmente o seu consumo volta a duplicar.

Normalmente, nos cálculos de mergulho, adota-se o valor de 25 litros/


minuto para o consumo médio de ar à superfície

Vamos agora considerar a profundidade no cálculo do consumo de ar. Ao variar a


pressão rapidamente com a profundidade (por cada 10m varia um bar), o nosso
consumo de ar aumenta rapidamente quando descemos.

à superfície a -10m a -20m a -30m a -40m


20 40 60 80 100
25 50 75 100 125
30 60 90 120 150
Consumo em litros/minuto, consoante a profundidade

152 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

Portanto, se adotarmos como consumo médio de um mergulhador à superfície os


25 l/min, se estivermos a mergulhar a 25m de profundidade, onde a pressão absoluta
é 3,5bar, a nossa necessidade de ar por minuto será de:
25l/min x 3,5 = 87,5l/min
Desta forma, se estivermos a planear fazer um mergulho com a duração de 25
minutos, podemos determinar que a quantidade ar que iremos consumir nesse
mergulho será:
87,5l/min x 25min = 2187,5l

O AR QUE TRANSPORTAMOS

A garrafa de mergulho contem um volume máximo de ar em função da sua


capacidade interna e da pressão de trabalho que pode suportar. Estes dois valores
fazem parte do conjunto de dados que vêm gravados na garrafa e são especificados
para a sua construção.
O valor que indica a capacidade interna (capacidade em água) é o volume de ar
que contém quando está “vazia”, isto é, à pressão atmosférica (1bar). Este valor é
expresso em litros. O valor que indica a pressão de trabalho refere-se à máxima
pressão a que a garrafa pode ser carregada no enchimento. Este valor vem expresso
normalmente em bar mas nalgumas garrafas vem expresso em psi (pound/square
inch).
Podemos pois escrever: capacidade em água x pressão de trabalho =
máximo volume de ar armazenado
Assim, se tivermos uma garrafa de 12l com uma pressão de trabalho de 225bar, o
volume da ar nela contido no fim do enchimento será:
12l x 225 = 2700l
Convém não esquecer que a pressão ao fim de algum tempo baixará, porque a
temperatura da garrafa vai diminuindo após o enchimento. (Ver Módulo 2T2 –
As leis da física aplicadas ao mergulho). Este abaixamento de pressão pode
ser verificado pela simples leitura do manómetro, ao montar o regulador na garrafa
antes do mergulho. Nessas condições o ar disponível na garrafa será indicado pela
expressão: capacidade em água x pressão de manómetro = volume da ar
disponível
Supondo que o valor de pressão lido no manómetro antes do mergulho é de
195bar, o volume de ar disponível será:
12l x 195 = 2340l
A simples avaliação da pressão durante o decorrer do mergulho permite-nos
saber a cada momento a quantidade de ar disponível na garrafa

Curso de Mergulho CMAS P1 153


MÓDULO 1T13

CÁLCULO DO CONSUMO INDIVIDUAL DE AR

Como atrás referimos, cada mergulhador tem o seu próprio consumo de ar, que
ainda pode variar de acordo com o esforço que cada um despende no mergulho.
No entanto não é difícil a um mergulhador calcular os seus consumos de ar em
várias condições de mergulho, desde que as saiba simular no mar ou mesmo numa
piscina. De preferência, esses ensaios devem ser feitos envergando o equipamento
que normalmente utiliza, para tornar mais realista o ensaio efetuado.
Criado o cenário pretendido o mergulhador deverá medir a pressão da garrafa
antes do início do ensaio e após a sua realização. A diferença de pressão encontrada,
multiplicada pela capacidade da garrafa, permite calcular ao quantidade ar consumido
durante o tempo que durou o ensaio.
O registo dos valores obtidos nos vários cenários criados (por exemplo, águas
mais frias, existência de correntes, mais peso transportado, etc.), permite ao
mergulhador fazer um cálculo mais exato da duração do ar de que dispõe na sua
garrafa numa situação de mergulho idêntica à simulada. Nunca esquecer, porém,
que estes valores irão sofrer alteração se o mergulho estiver a ser efetuado em
condições mais gravosas do que as verificadas durante os ensaios.
É de salientar a vantagem de utilizar os conhecimentos obtidos neste tipo de
ensaios, pois a sua aplicação pode evitar alguns percalços que poderão pôr em causa
a segurança do mergulhador.

154 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO 1T13b

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) O volume de ar que respiramos está relacionado com:


a) O volume dos pulmões
b) O esforço que efetuamos
c) A profundidade a que evoluímos
d) A temperatura da água
e) Todas as respostas estão corretas

2º) Na atividade do mergulho, adotou-se como volume médio


de ar consumido à superfície o valor de:
a) 12,5 l/min
b) 15 l/min
c) 20 l/min
d) 25 l/min

3º) Quanto mais fundo evoluímos maior será o consumo da ar:


a) Verdadeiro
b) Falso

4º) O volume da ar armazenado numa garrafa de 15l à pressão


de trabalho de 215bar é:
a) 2985 l
b) 3075 l
c) 3225 l
d) 3485 l

5º) Em condições normais, o volume da ar consumido por um


mergulhador evoluindo a –15m é:
a) 57,5 l/min
b) 62,5 l/min
c) 72,5 l/min
d) Nenhuma resposta está correta

Curso de Mergulho CMAS P1 155


MÓDULO 1T13

156 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

PLANEAMENTO BÁSICO DO MERGULHO

TÓPICOS

 Fases do planeamento. Pré-planeamento. Planeamento. Reunião


inicial. Verificação do equipamento. Reunião final.
 O companheiro de mergulho.
 Cálculo da autonomia

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Reconhecer a importância do planeamento para a realizaçãodum mergulho


√ Conhecer todas as fases do planeamento dum mergulho
√ Quais os parâmetros a observar no pré-planeamento dum mergulho
√ Quais os parâmetros a observar no planeamento dum mergulho
√ Quais os temas a abordar na reunião inicial
√ Quais as verificações a fazer ao material
√ Calcular a quantidade de ar necessária para a realização de um determinado
mergulho

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MÓDULO 1T13

FASES DO PL ANEAMENTO

Não é demais repetir que um bom planeamento dum mergulho é fundamental


para aumentarem a segurança dos mergulhadores, pois reduz a probabilidade
de acontecerem situações que ponham em risco a sua integridade física. Neste
contexto, todos os esforços deverão conduzir ao cumprimento do plano
estabelecido previamente, pelo que o planeamento deverá ser o mais realista
possível e adaptado às condições existentes no local e na altura de se efetuar o
mergulho.
Seja qual for o planeamento a efetuar deverá ser colocado em primeiro lugar a
segurança dos intervenientes no mergulho. Num bom planeamento dever-se-á
considerar as seguintes fases: pré-planeamento, planeamento, o companheiro, reunião
inicial, verificação do equipamento e cálculo da autonomia.

Nunca entrar na água sem planear o mergulho que vai realizar

PRÉ-PLANEAMENTO - No pré-planeamento definem-se os objetivos do mergulho e


escolhe-se o local.
a) Objetivos do mergulho. O primeiro cuidado a ter quando se faz um
planeamento será o objetivo do mergulho. Na realidade podemos distinguir entre outros:
o mergulho de treino, o mergulho para experientes, o mergulho para fotografia, o
mergulho científico, etc., cada um deles com características bem definidas e merecendo
portanto um planeamento de acordo com as mesmas.
b) Seleção do local de mergulho. Na escolha do local do mergulho deveremos
ter em atenção:
 A qualificação dos mergulhadores.
 A possível interdição pela autoridade marítima do local previsto para o mergulho.
 A acessibilidade; neste aspeto dever-se-á ter em conta o local de entrada e de
saída devendo ter em atenção, no caso dum mergulho efetuado a partir de terra, a
escolha de saídas alternativas para o caso de haver uma mudança do estado do mar
que impeça a saída inicialmente prevista.
 A visibilidade da água, a existência de correntes, a movimentação de embarcações
à superfície, a altura da maré, a existência de redes no local, o vento, o estado do mar,
as condições meteorológicas são fatores importantes a considerar na seleção do local
de mergulho que poderão levar à sua anulação e possível mudança de local, dando
sempre primazia à segurança.

PLANEAMENTO - No planeamento do mergulho teremos que equacionar os seguintes


parâmetros:
a) Profundidade máxima a atingir. O estabelecimento dum limite de profundidade
destina-se a garantir um maior grau de segurança tendo em atenção que o mergulhador
CMAS P1 só pode evoluir no espaço de média profundidade (até 20m).

158 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

b) Duração de mergulho. O estabelecimento dum tempo máximo de


mergulho permite-nos despoletar atempadamente o “plano de emergência”
de procura e recuperação dos mergulhadores que o ultrapassarem.
c) Consumo de ar (cálculo da autonomia). Relaciona-se com o “percurso
subaquático” que se pretende efetuar (distância a percorrer)
d) Percurso subaquático. Depende entre outras fatores, do interesse dos
mergulhadores (lazer, fotografia, biologia, etc.), perfil do mergulho (evitar os perfis
inverso e tipo yo-yo), zonas perigosas, “consumo de ar”, possibilidade da existência
de saídas alternativas, etc.
e) Chegada à superfície e saída da água. Está relacionada com a maneira
como vai ser feita a recolha dos mergulhadores pela embarcação de apoio (embarcação
fundeada ou não) ou, se a saída for feita para terra, com a escolha do local de saída.
f) Elaboração dum plano de emergência. Todos os mergulhadores e pessoal
de apoio têm que ter conhecimento de um plano de emergência

REUNIÃO INICIAL (Briefing) - Após ter sido feito o planeamento, o responsável


do mergulho deverá reunir com todos os intervenientes tendo em atenção os
seguintes parâmetros (conhecidos internacionalmente por SEEDS): Segurança,
Explicação, Equipamento, Disciplina e Sinais.
Segurança - Nunca perder o companheiro de mergulho, respeitar a
velocidade de subida, evitar fazer grandes esforços durante o mergulho, avisar
o companheiro se não se sentir bem, etc.
Explicação - Indicação das características do local do mergulho (tipo de
fundo, visibilidade, referências para a navegação subaquática e rumos, a
existência de correntes, características da fauna e flora, pontos de interesse,
etc.).
Equipamento - Verificação se o equipamento utilizado por cada mergulhador
é o adequado ao mergulho a realizar e se todos sabem utilizá-lo corretamente
(colete, bússola, boia de patamar, etc.)
Disciplina - Qual a profundidade máxima a atingir, duração máxima do
mergulho, posição de cada mergulhador no grupo, avisar o responsável pelo
mergulho e/ou o seu companheiro quando chegar aos 50% da pressão inicial,
cumprimento rigoroso do início da subida ao ser atingido o valor da pressão
que eventualmente tenha sido combinado na reunião inicial, que no entanto
nunca deverá ser inferior à pressão da reserva (50bar).
Sinais - Relembrar os sinais convencionais e/ou combinar novos sinais, se
for caso disso.

VERIFICAÇÃO DO EQUIPAMENTO - Antes de iniciar o mergulho cada


mergulhador deve fazer a verificação do seu equipamento e do seu companheiro. É
aquilo a que podemos chamar a verificação FAP (Flutuabilidade, Ar,

Curso de Mergulho CMAS P1 159


MÓDULO 1T13

Precintas).
Começando pelo colete, verificar o funcionamento do injetor da mangueira de
admissão, da traqueia e das válvulas de escape. O cinto de lastro deve também ser
verificado para ver se tem o peso ideal para o mergulho que se vai efetuar e se a
fivela cumpre com o que está determinado.
Verificar em seguida se a garrafa está bem aberta, qual a pressão do ar indicada
no manómetro de pressão, o débito dos reguladores principal e do segundo
andar de emergência, a existência de fugas (substituição da junta tórica) e o
estado das mangueiras.
Verificar depois se a garrafa está bem fixa ao colete, se todas as precintas do
colete estão ajustadas e quais os restantes tipos de fechos utilizados, as precintas da
máscara e barbatanas estão em boas condições, qual o tipo de fivela do cinto de
lastro e finalmente se os instrumentos estão devidamente posicionados e seguros
(manómetro, segundo andar de emergência, etc.).

Durante a verificação do equipamento, a avaliação da disposição do


companheiro de mergulho é fundamental para que o mergulho decorra nas
melhores condições, pois nessa fase ainda se pode alterar a planificação, de
acordo com o seu estado físico ou emocional

REUNIÃO FINAL - Ao terminar o mergulho, deverá ser feita em terra uma reunião
final com todos os participantes, onde serão discutidos todos os pormenores
relacionados com o mergulho efetuado, feitas as chamadas de atenção julgadas
necessárias, ouvidas as críticas e sugestões e onde finalmente será feito o registo do
mergulho na Caderneta de Imersão (log book) dos participantes.

O COMPANHEIRO DE MERGULHO (Buddy System)

Nunca é demais realçar a importância do companheiro de mergulho como peça


fundamental da segurança no mergulho. Devemos ter sempre presente que o papel do
companheiro começa à superfície, mesmo antes do início do mergulho, na ajuda mútua
na colocação do equipamento e na verificação do estado operacional de todo o material
(ver Modulo 1T4 – O escafandro autónomo).
Durante a imersão, se por qualquer motivo os elementos do par se afastarem e
perderem um do outro, cada um deverá subir um pouco rodando sobre si mesmo
(360º) tentando localizar o companheiro. Se ao fim de um minuto não o conseguirem,
deverão subir para se encontrarem à superfície.

No caso de só um elemento regressar à superfície este deverá dar de


imediato o alarme de “perda do companheiro” para que seja

160 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

despoletado o plano de emergência estabelecido previamente


CÁLCULO DA AUTONOMIA

No capítulo “Cálculo do consumo de ar” apenas considerámos a variação do


consumo do ar existente numa garrafa consoante a profundidade de evolução do
mergulhador. Na realidade, o que nos interessa é o cálculo da “autonomia da garrafa”
para sabermos como planear o nosso mergulho em função do ar que iremos consumir.
Partindo do pressuposto que o mergulho desportivo deve ser feito sem ter que
efetuar paragens de descompressão, a primeira norma de segurança a definir é que
no cálculo do ar necessário para o tempo de fundo não se entra em
conta com o ar da reserva (50bar).

O ar da reserva é destinado exclusivamente à subida para a superfície

Posta esta premissa, a quantidade de ar utilizado pelo mergulhador desde o início


da descida e durante a sua permanência no fundo até iniciar a subida (Tempo de
Fundo) é considerado o volume de ar útil da garrafa, que se traduz em tempo
de utilização a que chamamos a autonomia da garrafa.
A fórmula de cálculo da autonomia (em minutos) duma garrafa é a seguinte:
Autonomia = [C x (Pt – Pr)] / (c x Pa)
Em que: C = capacidade da garrafa em litros,
Pt = pressão a que a garrafa está carregada,
Pr = pressão da reserva (50b),
c = consumo de ar à superfície (25l/min)
Pa = pressão absoluta (à profundidade considerada).

Exemplo 1 - Pretende-se efetuar um mergulho à profundidade de 18m, utilizando


uma garrafa de 12litros, carregada à pressão de 200b. Calcule a autonomia da garrafa
para esse perfil de mergulho.
Pa = 2,8b C = 12litro Pt = 200b c = 25 l/min Pr = 50b
Autonomia = [C x (Pt – Pr)] / (c x Pa)
ou seja = [12x(200–50)] / (25x2,8)
= (12x150) / (25x2,8)
= 1800 / 70 = 25,7min
Isto significa que poderemos efetuar um mergulho a 18m com o tempo de fundo
(TF) de 25min.
Seguidamente consulta-se a tabela de descompressão Büehlmann “86 para verificar
se este mergulho NÃO EXIGE patamar de descompressão. Feita a consulta, verifica-
se que o tempo de fundo SEM paragem de descompressão é de 50min,

Curso de Mergulho CMAS P1 161


MÓDULO 1T13

portanto o mergulho pode ser efetuado sem qualquer restrição.


Exemplo 2 - Pretende-se fazer um mergulho à profundidade (P) de 18m com
a duração (tempo de fundo - TF) de 35min, dispondo duma garrafa com a capacidade
(C) de 15l, carregada à pressão (Pt) de 232bar. O consumo de ar (c) à superfície é
de 25l/min.
Pa = 2,8b Pt = 232b Pr = 50b TF = 35min C =15l c =25l/min
Consumo de ar (Ca) = Pa x c x TF
= 2,8 x 25 x 35 = 2450 litros
Ar disponível (Ad) = C x (Pt – Pr)
= 15 x (232 – 50) = 2730 litro
Conclusão: Face aos cálculos, este mergulho pode ser realizado, tendo o
mergulhador disponíveis 1030 litros de ar para regressar à superfície, que é a diferença
entre o ar disponível na garrafa (Ad) e o ar consumido pelo mergulhador (Ca) mais o
ar da reserva ( 2730 – 2450 + 750 = 1030l), o que garante uma margem de
segurança, que permitirá resolver uma situação imprevista durante o mergulho.

Exemplo 3 - Temos uma garrafa de 15l carregada à pressão de 220b. Qual será
a autonomia desta garrafa se mergulharmos à profundidade de 20m, sendo o consumo
à superfície 25l/min?
Pa = 3,0b Pt = 220b Pr = 50b C = 15l c =25l/min
Autonomia (At) = [C x (Pt - Pr)] / (c x Pa)
ou seja = [15 x (220 - 50)] / (25 x 3,0)
= 2550 / 75 = 34 min
Conclusão: Isto significa que poderemos efetuar um mergulho a 20m com o
tempo de fundo (TF) de 34min.
Seguidamente consultar-se–á a tabela de descompressão Büehlmann “86 para
verificar se este mergulho NÃO EXIGE paragem de descompressão. Feita a consulta
verifica-se que o tempo de fundo SEM paragem de descompressão é de 35min
pelo que o mergulho pode ser efetuado sem qualquer restrição.

162 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO 1T13c

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva com
uma circunferência a resposta certa).

1º) O principal parâmetro a considerar no planeamento dum mergulho


é a segurança do mergulhador.
a) Verdadeiro
b) Falso

2º) No pré-planeamento dum mergulho é fundamental ter em conta


se o objectivo do mesmo é um:
a) Mergulho de treino
b) Mergulho em água fria
c) Mergulho noturno
d) Nenhuma resposta está correta

3º) Na escolha de um local de mergulho deveremos ter em conta,


entre outros factores:
a) A visibilidade da água
b) A temperatura da água
c) A existência de correntes
d) A existência de vento
e) A qualificação dos mergulhadores
f) Todas as respostas estão corretas

4º) No planeamento dum mergulho deverá ter-se em conta:


a) A profundidade máxima a atingir
b) O tempo de duração do mergulho
c) O consumo de ar
d) O percurso a realizar
e) A elaboração dum plano de emergência
f) Todas as respostas estão corretas

5º) Na verificação do material feita pelo companheiro, antes do início


do mergulho, utiliza-se a mnemónica FAP cujo significado é:
a) Fato/Ar/Precintas
b) Faca/Arnês/Pressão
c) Fixação da garrafa/Ar/Profundímetro
d) Nenhuma resposta está correta

Curso de Mergulho CMAS P1 163


MÓDULO 1T13

QUESTIONÁRIO

6º) A avaliação da disposição do companheiro de mergulho é


de importância fundamental para que o mergulho decorra nas
melhores condições de segurança.
a) Verdadeiro
b) Falso

7º) No cálculo do ar necessário para o tempo de fundo do


mergulho a efetuar entra-se em conta com a pressão
total do ar na garrafa:
a) Verdadeiro
b) Falso

8º) Planear um mergulho significa:


a) Marcar uma data para efetuar o mergulho
b) Escolher os amigos com quem quer mergulhar
c) Analizar todos os parâmetros necessários para que o mergulho a
realizar resulte 100% seguro.
d) Nenhuma resposta está correta

9º) Os parâmetros usados no cálculo da autonomia duma garrafa


são:
a) A profundidade do mergulho
b) A pressão de carga da garrafa
c) A pressão da reserva
d) O consumo de ar à superfície
e) A capacidade da garrafa
f) Todas as respostas estão corretas

164 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T14

SEGURANÇA NO MERGULHO

TÓPICOS

 O “companheiro de mergulho”, elemento essencial para a


segurança.
 Preparação antes do mergulho. Reunião e verificação do equipamento.
 Entrada na água. Verificação da flutuabilidade.
 Descida. Atitude durante o mergulho.
 Subida. Chegada à superfície e saída da água. Reunião final.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Qual o papel do companheiro de mergulho e em que situações ele se


torna de fundamental importância
√ A que verificações se deve proceder com o companheiro de mergulho
durante a reunião que antecede o mergulho
√ Que importância tem a avaliação do estado físico e emocional do
companheiro de mergulho
√ Como entrar na água a partir de uma embarcação ou a partir de terra
√ Os procedimentos a ter antes de iniciar a descida
√ Que comportamento ter no fundo durante o mergulho, de forma a proteger
o ambiente marinho
√ Quais as regras a respeitar durante a subida
√ Quais os procedimentos a ter para sair da água

Curso de Mergulho CMAS P1 165


MÓDULO 1T14

O PRINCÍPIO DO “COMPANHEIRO DE MERGULHO”

O sistema do “companheiro de mergulho” (budy system) é a forma mais segura


de mergulhar, pois só assim podemos ajudar e ser ajudados em caso de dificuldade,
evitando complicações graves. Por isso, mesmo quando o grupo é grande, os
mergulhadores devem organizar-se aos pares.
O sistema de mergulho a dois (princípio do “companheiro de mergulho”) permite
que os mergulhadores trabalhem em conjunto desde a superfície, partindo de ajudas
tão simples tais como colocação e verificação o equipamento.
Durante todo o mergulho devemos permanecer junto do nosso companheiro de
mergulho para que se possa prestar auxilio mútuo, se necessário. Assim ambos os
mergulhadores devem verificar o ar disponível, o tempo e limites de profundidade e
saber o que fazer, no caso do companheiro necessitar de ajuda.

O “companheiro de mergulho” é um elemento essencial para a segurança


do mergulhador.
Regra de ouro do mergulho - Nunca mergulhar sozinho

PREPARAÇÃO ANTES DO MERGULHO

Como já foi referido o planeamento é a maneira mais segura de evitar frustrações


decorrentes de mal entendidos com o companheiro de mergulho, de evitar
esquecimentos de equipamento e de prever as condições do local de mergulho. A
preparação antes do mergulho deve ser feita de modo a antecipar, discutir e concordar
sobre o maior número de variáveis possíveis.
Antes de iniciar o mergulho, cada mergulhador deve fazer a verificação do seu
equipamento e do equipamento do seu companheiro de mergulho.
 Começar pelo colete, verificando o funcionamento da mangueira de admissão,

da traqueia e das válvulas de segurança e purga rápida.


 Depois verificar se a garrafa está aberta, qual a pressão do ar indicada no
manómetro, o débito dos reguladores principal e do 2º andar de emergência, a
existência de fugas (deficiência da junta tórica) e o estado das mangueiras.
 Finalmente verificar se a garrafa está bem fixa ao colete, se todas as precintas
do colete estão funcionais, se as precintas da máscara e das barbatanas estão em
boas condições, se o peso do cinto de lastro está adequado ao tipo de mergulho
e finalmente se os instrumentos estão devidamente seguros e operacionais
(manómetro, 2º andar de emergência, etc.).

Para não esquecer a sequência adequada para a verificação do equipamento,


pode-se utilizar a mnemónica FAP: F - Flutuabilidade; A - Ar; P - Precintas.

166 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T14

Deve levar-se em linha de conta se o equipamento é o mais adequado para o tipo


de mergulho que vai ser efetuado.
A avaliação da disposição do companheiro também é fundamental para que o
mergulho decorra nas melhores condições. Na fase de preparação do mergulho
ainda se pode alterar a planificação de acordo com o seu estado físico ou emocional.

ENTRADA NA ÁGUA

Ao chegar ao local do mergulho deve sempre avaliar-se as suas condições, de


modo a garantir que estas sejam adequadas à experiência e limitações dos
mergulhadores. Existem basicamente dois tipos de entradas na água: a partir
duma embarcação ou a partir da costa.

ENTRADA A PARTIR DA EMBARCAÇÃO - A entrada mais utilizada em grandes


embarcações é o “passo de gigante”, devendo ter-se o cuidado de segurar o
regulador na boca e a máscara na cara quando se salta. Em embarcações menores
utiliza-se sobretudo a entrada de costas. Em qualquer destas situações deve sempre
verificar-se se a área de entrada está desimpedida, para evitar cair em cima de
um mergulhador que já esteja na água.
Depois da entrada na água, ainda à superfície, deve ser feito o sinal “estou
bem” (OK) para o barco.

ENTRADA A PARTIR DA COSTA - Antes de entrar na água deve observar-


se as ondas, verificando a sua frequência e onde rebentam. Para entrar de
terra pode usar-se uma das duas técnicas:
a) Com todo equipamento posto, exceto as barbatanas, atravessar
rapidamente a rebentação respirando pelo regulador (a onda deve ser
enfrentada com o corpo de lado e agarrando a máscara). Logo que a
rebentação esteja ultrapassada deve calçar-se as barbatanas, insuflar o
colete, trocar o regulador pelo tubo e nadar até ao local da descida.
b) Com todo equipamento posto, incluindo as barbatanas, entrar de costas
para o mar, não deixando contudo de olhar para a rebentação. Tem a
vantagem de já se levar as barbatanas calçadas, mas o equilíbrio é mais
difícil e é necessário mais atenção e segurar todo o equipamento para que
nada se perca. Recomendada para quem tem mais experiência.

FLUTUABILIDADE - Depois de entrar na água, ainda à superfície, é importante verificar


a flutuabilidade. Deve ter-se a água ao nível dos olhos com os pulmões normalmente
cheios e afundar lentamente quando se expira. Isto significa que o lastro está correto.
Antes de iniciar a descida, deve ainda verificar-se o ajuste do colete, a posição do
regulador ou do 2º andar de emergência, a colocação do cinto e a máscara.

Curso de Mergulho CMAS P1 167


MÓDULO 1T14

Depois de termos a certeza de que todo o nosso equipamento e o do companheiro


estão corretamente colocados e operacionais, estamos prontos para iniciar a descida
tirando ar do colete e dos pulmões.

DESCIDA E ATITUDE DURANTE O MERGULHO

A descida deverá ser preferencialmente feita de pés para baixo, com o mergulhador
agarrado a um cabo guia, para facilmente poder controlar a descida, o contacto com
o companheiro e não perder a orientação.
Nos primeiros metros devem compensar-se os ouvidos com frequência (sempre
antes de sentir dor) e deve manter-se flutuabilidade neutra durante toda a descida,
adicionando pequenas quantidades de ar ao colete. É importante descer junto ao
companheiro para que possa haver ajuda mútua, em caso de dificuldade.
Todo o mergulho deve ser feito com flutuabilidade neutra (em equilíbrio
hidrostático), afastado do fundo e com todo o equipamento bem preso (regulador
de emergência, manómetro de pressão, etc.), de modo a que não ande a arrastar
pelo fundo. De preferência, o corpo deve estar na horizontal e as barbatanas
ligeiramente para cima, de modo a evitar tocar no fundo para não danificar o ambiente
marinho. Ver as “10 regras de ouro do bom mergulhador” (Módulo 1T16 – Meio
Ambiente).

SUBIDA E CHEGADA À SUPERFÍCIE

A subida deverá ser feita sempre junto do companheiro e deverá ser sempre
respeitada a velocidade de subida indicada na tabela ou no computador utilizado.
Ao aproximar-se da superfície, o mergulhador deve olhar à sua volta para ter a
certeza que não há obstáculos que dificultem a saída e levantar o braço para
proteger a cabeça contra qualquer pancada e sinalizar a presença.
Já à superfície deve olhar à sua volta para localizar os companheiros e a embarcação
e para verificar se existe tráfego à superfície (atenção a pranchas de windsurf e
barcos à vela que não fazem barulho). Fazer o sinal “estou bem” (OK) para o barco,
com a mão ou, se estiver longe, com o braço sobre a cabeça para ser mais visível.
Nunca, em caso algum, se deve bloquear a respiração durante a
subida, de modo a evitar uma sobrepressão pulmonar.

SAÍDA DA ÁGUA E REUNIÃO FINAL

Se a saída for para uma embarcação deverá tirar primeiro o lastro, depois a garrafa e
o colete e por fim (se necessário) as barbatanas. Este procedimento facilita a entrada
na embarcação. Respeite e cumpra as indicações que lhe derem a bordo da embarcação.

168 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T14

Se a saída for para a praia deverá ter os mesmos cuidados que na entrada, isto é,
logo que tenha pé tire as barbatanas e saia sem deixar de olhar para a rebentação.
Evite arrastar o equipamento (sobretudo os reguladores) pela areia e evite que eles
batam contra as rochas.
No final de cada mergulho todo o equipamento deve ser lavado e arrumado
convenientemente.
Finalmente, o mergulho deve ser analisado com o companheiro, discutido algum
ponto importante, e registados os parâmetros do mergulho na Caderneta de Imersão.
A FPAS dispõe de um modelo de Caderneta de Imersão com vários tipos de
folhas de registo, que se adaptam às mais diversas necessidades.

Curso de Mergulho CMAS P1 169


MÓDULO 1T14

170 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T14

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) O companheiro de mergulho é um elemento essencial para a


segurança no mergulho porque:
a) Está sempre bem diposto
b) Possui qualificações académicas elevadas
c) É um nadador de competição
d) Nos pode prestar ajuda no caso haver problemas
e) Transporta a boia de sinalização

2º) Na reunião preparatória o mergulhador e o companheiro de


mergulho devem verificar mutuamente:
a) Se a garrafa está bem presa ao colete
b) Se a máscara está embaciada
c) Se a garrafa está com ferrugem no seu interior
d) Qual a pressão do ar no colete
e) Nenhuma resposta está correta

3º) Avaliar a disposição do companheiro de mergulho é muito


importante para que o mergulho se faça nas melhores condições.
a) Verdadeiro
b) Falso

4º) Na entrada para a água a partir de um semirrígido deve


verificar-se se existe algum mergulhador na zona de queda.
a) Verdadeiro
b) Falso

5º) Na entrada para a água a partir duma praia deve ter-se em conta:
a) A direção da corrente
b) A altura da maré
c) O local da rebentação
d) Todas as respostas estão corretas

Curso de Mergulho CMAS P1 171



MÓDULO 1T14

QUESTIONÁRIO

6º) Ao encontrarmo-nos dentro de água devemos verificar:


a) A localização do barco
b) A nossa flutuabilidade
c) A temperatura da água
d) O estado do mar
e) Nenhuma resposta está correta

7º) Durante o mergulho é conveniente:


a) Ter lastro a mais para não termos tendência para vir para a superfície
b) Estar com flutuabilidade neutra
c) Nadarmos rapidamente para vermos muita coisa
d) Nenhuma resposta está correta

8º) Ao regressarmos à superfície devemos:


a) Subir o mais depressa possível
b) Subir muito lentamente para evitar uma sobrepressão pulmonar
c) Subir à velocidade indicada pela tabela de mergulho
d) Subir muito lentamente até aos três metros e depois rapidamente
até à superfície

9º) Recomenda-se que nos últimos metros se suba com o braço


levantado sobre a cabeça para:
a) Ver se a superfície do mar está por cima
b) Verificarmos se está a chover
c) Proteção de um hipotético obstáculo à superfície
d) Nenhuma resposta está correta

10º) No fim do mergulho deve discutir-se com o companheiro de


mergulho a maneira como ele decorreu e registá-lo na Caderneta de
Imersão.
a) Verdadeiro
b) Falso

172 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T15

AUTO SEGURANÇA E AJUDA

TÓPICOS

 Técnicas de auto ajuda e auto salvamento.


 Lidar com cãibras.
 Procedimentos de emergência em caso de separação do
companheiro.
 Subida de emergência com pouco ar ou sem ar. Fonte de ar alternativa;
fonte de ar partilhada; subida controlada com o colete. Regulador em débito
contínuo. Problemas com o equipamento.
 Reconhecimento dos sinais que denunciam potenciais problemas.
 Exaustão e reboque dum companheiro cansado. Pedido e utilização
de ajuda.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Como proceder numa situação anormal à superfície


√ Como proceder numa situação anormal debaixo de água
√ Como proceder face a uma cãibra e como ajudar o companheiro de
mergulho nessa situação
√ Como proceder ao perder o companheiro de mergulho debaixo de água
√ Como proceder face a um problema de falta de ar ou de pouco ar
√ Como partilhar ar com o companheiro de mergulho
√ Em que situação se deve fazer uma subida de emergência
√ Como proceder se o regulador entrar em débito contínuo
√ Como evitar problemas com o equipamento
√ Reconhecer os sinais de pânico no companheiro de mergulho e como
proceder nesse caso
√ Como lidar com um companheiro vítima de exaustão e como rebocá-lo
até à embarcação ou para terra.

Curso de Mergulho CMAS P1 173


MÓDULO 1T15

TÉCNICAS DE AUTO AJUDA E AUTO SALVAMENTO

A atividade de mergulho é uma das mais seguras de entre as atividade desportivas.


Contudo, o bom senso manda ter alguns cuidados quando estamos na água, à
superfície, ou submersos. Se o mergulhador respeitar as regras de mergulho,
permanecendo dentro dos seus limites, planeando o mergulho e procurando fazer
um mergulho descontraído, evitará situações de conflito. Estar em forma física e
psíquica razoáveis é também de grande importância. Apesar disso, se ocorrer algum
problema o mergulhador deve ser capaz de cuidar de si próprio e dos outros.
A maior parte dos problemas no mergulho acontecem à superfície. Os principais
são a exaustão, o frio, as cãibras, a separação do companheiro, o engasgamento
com água (pirolitos), as correntes e a tensão nervosa.
Caso ocorra um problema à superfície, a primeira atitude a tomar é estabelecer
flutuabilidade positiva, pondo ar no colete e, se necessário, largando o cinto
de lastro. Só depois se deve tentar resolver o problema ocorrido. Caso seja
necessário, deve pedir-se ajuda o mais cedo possível, evitando que um pequeno
problema ganhe proporções incontroláveis.
Os problemas que ocorrerem debaixo de água, na sua maior parte são facilmente
evitados ou controlados se o mergulhador estiver calmo e descontraído, se verificar
o ar regularmente e se mergulhar dentro dos seus limites. Os problemas mais
frequentes são a exaustão, as cãibras, a separação do companheiro, ter pouco ar ou
ficar sem ar, débito continuo do regulador, problemas com equipamento e tensão
nervosa.

Parar, pensar e só depois agir, é a chave para a soluçaõ dos problemas

LIDAR COM CÃIBRAS - As cãibras são contrações musculares involuntárias, que


podem aparecer nas pernas ou pés, causadas por esforço repentino e exagerado.
Outros fatores podem contribuir ainda para a sua ocorrência, como a má condição
física, desidratação, circulação sanguínea deficiente ou água fria.
Perante uma cãibra, deve imobilizar-se o músculo afetado, esticá-lo e massajá-lo
suavemente para aumentar a circulação. No caso de uma cãibra no músculo inferior
da perna (situação mais frequente), pode puxar-se a pala da barbatana esticando a
perna. O companheiro de mergulho também, pode ajudar empurrando a pala da
barbatana e fazendo uma massajem no músculo lesionado.

SEPARAÇÃO DO COMPANHEIRO - Se a separação ocorrer à superfície, antes


do início do mergulho (devido a correntes, por ex.), deve manter-se a flutuabilidade
positiva, emitir um sinal acústico e pedir ajuda. Nunca iniciar a descida sozinho.
Durante o mergulho, o mergulhador deve permanecer sempre junto do seu

174 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T15

companheiro, a uma distância que permita haver auxilio mútuo em caso de


necessidade.
Se houver separação, o mergulhador deve procurar o companheiro durante
um minuto, no fim do qual deve regressar à superfície. Como o companheiro
de mergulho deve ter o mesmo procedimento, os dois encontrar-se-ão à superfície.

SUBIDA COM POUCO AR OU SEM AR - Ficar com pouco ar ou sem ar é o


problema mais fácil de se evitar. Para isso deve verificar-se o manómetro de pressão
antes do mergulho e consultá-lo frequentemente durante o mergulho. Supondo
que o improvável acontece há algumas maneiras de subir sem problemas.
A fonte de ar alternativa é a melhor solução. Os sistemas mais utilizados são a
pony bottle (pequena garrafa auxiliar com regulador), que se leva montada sobre a
garrafa principal, e o Spare Air (pequena garrafa com regulador incorporado na
torneira), que se leva presa ao colete ou noutro local de fácil acesso.
Em sentido lato, podemos considerar ainda como fontes de ar alternativas:
 Um segundo andar de emergência (“octópus”) ligado ao primeiro andar do

regulador principal.
 Um segundo regulador independente montado numa segunda saída da torneira

da garrafa.
O segundo andar de emergência, geralmente de cor garrida e com uma mangueira
mais comprida, permite oferecer ar ao companheiro de mergulho, comodamente e
sem necessidade de partilhar o regulador principal. Além disso, se por acidente
(uma barbatanada de algum mergulhador “arrasa fundos”) lhe fizer saltar o regulador
da boca, o mergulhador tem uma fonte de ar imediatamente à disposição, enquanto
recupera e verifica o bom estado do segundo andar principal. A única desvantagem
deste sistema é que, se houver uma avaria na torneira ou no primeiro andar do
regulador, tanto o segundo andar principal como o de emergência ficam sem ar.
Esta situação não acontece se existir um segundo regulador independente acoplado
a uma segunda saída da torneira. Se surgir uma fuga no primeiro andar do regulador
principal, basta fechar a torneira à qual está ligado, para que o ar não se esgote,
passando a respirar pelo outro regulador. Neste caso, o mergulhador continua a
poder partilhar o ar com o companheiro.
A fonte de ar partilhada é outra solução. Neste caso, o ar da garrafa é partilhado
através de um único regulador. É fundamental que o mergulhador que dá ar controle
totalmente a situação. Quem dá ar nunca deve largar o regulador, mesmo quando o
mergulhador assistido está a respirar, permitindo-lhe no entanto que ele possa controlar
o fluxo de ar que respira através do botão de purga do regulador.
Cada mergulhador deve respirar duas vezes e passar o regulador para o outro,
embora no início da partilha seja conveniente deixar o mergulhador assistido respirar
mais vezes para ele se restabelecer e retomar o ritmo respiratório. Poderão então
iniciar lenta e calmamente a subida, com o mergulhador que fornece ar a agarrar o
colete do companheiro para evitar a separação.

Curso de Mergulho CMAS P1 175


MÓDULO 1T15

A subida de emergência controlada é a última opção. Até uma profundidade


máxima de 12 metros e se o companheiro estiver longe, o mergulhador pode nadar
para a superfície, libertando ar continuamente para evitar a sobrepressão pulmonar.
Chegado à superfície pode ter que encher o colete à boca e deve pensar seriamente
na possibilidade de tirar o cinto de lastro para manter flutuabilidade positiva.
Se estiver a mais de 12 metros, pode fazer a subida em flutuabilidade positiva,
largando o cinto de lastro no fundo e nadando para a superfície. Neste caso, o
mergulhador deve ter o maior cuidado em libertar continuamente o ar, para evitar a
sobrepressão pulmonar.

REGULADOR EM DÉBITO CONTÍNUO - Nesta situação deve-se tirar e pôr


o regulador na boca ou desselar os lábios do bocal, deixando sair o ar em excesso. O
mergulhador deve avisar de imediato o companheiro de mergulho e iniciar a subida
acompanhado por este.

PROBLEMAS COM EQUIPAMENTO - Estes problemas evitam-se com uma


verificação atenta antes do mergulho e manutenção regular do equipamento (no
local do mergulho não há possibilidade de fazer grandes reparações). De qualquer
forma o companheiro é fundamental para ajudar a resolver este tipo de situações.

Quando não estamos bem devemos pedir ajuda o mais cedo possível de
modo a que um problema simples não se transforme numa situação muito
complicada

AJUDA AO COMPANHEIRO

SINAIS QUE DENUNCIAM POTENCIAIS PROBLEMAS - Para poder auxiliar um


mergulhador é preciso reconhecer os sinais de que ele necessita de ajuda.
Um mergulhador com problemas mas com o controlo dos seus atos, geralmente
pede ajuda e mantém os seus movimentos controlados e precisos, respira
normalmente, responde ao que lhe dizem e até parece estar descontraído. Se o
mergulhador entra em pânico, perde completamente o controlo, fica com um
medo irracional e age por instinto com ações descontroladas.
Quando a situação se passa à superfície, geralmente fica com medo de se afogar
e não é capaz de estabelecer flutuabilidade positiva. Frequentemente tira o regulador
da boca, põe a máscara na testa e não ouve nada do que se lhe diz. Também
começa a fazer movimentos bruscos e descontrolados e fica com os olhos
muito abertos. Debaixo de água esta situação é muito conflituosa, sendo necessário
muita calma e cuidado para ajudar um mergulhador em pânico.

176 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T15

EXAUSTÃO E REBOQUE DE UM MERGULHADOR CANSADO – Há situações


em que o mergulhador pode ficar tão cansado que não consegue respirar, tendo
dificuldade em nadar até ao barco ou até à costa. Nestas condições, o companheiro
deve criar-lhe flutuabilidade positiva e rebocá-lo, segurando-o pela torneira da garrafa
ou empurrando-lhe as barbatanas, procurando acalmá-lo e pedindo a sua colaboração.
Se a exaustão acontece debaixo de água, é preferível parar, controlar a respiração e,
se necessário, iniciar a subida.
Existem alguns procedimentos básicos para ajudar um mergulhador exausto:
 À superfície, o salvador deve aproximar-se da maneira mais conveniente, de

modo a não se colocar numa situação de perigo. Deve estabelecer flutuabilidade


positiva (enchendo-lhe o colete e se necessário tirando-lhe o cinto de lastro);
deve tentar acalmá-lo e ajudá-lo a recuperar a respiração; se necessário, deve
ajudá-lo a voltar pra o barco ou para terra.
 Debaixo de água é preferível aproximar-se por trás. Deve tentar manter o

regulador do mergulhador em dificuldade na boca; deve ajudar na subida,


operando o colete do mergulhador assistido. Estas situações necessitam de
treino suplementar e requerem experiência e aquaticidade.

Para proporcionar uma ajuda eficaz, é aconselhável a frequência do Curso de


Especialização de “Salvamento”

Curso de Mergulho CMAS P1 177


MÓDULO 1T15

178 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T15

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva


com uma circunferência a resposta certa).

1º) A segurança no mergulho começa por:


a) Cumprir todas as regras do mergulho
b) Mergulhar não excedendo os nossos limites
c) Um correto planeamento do mergulho
d) Todas as respostas estão corretas

2º) Dos problemas que podem acontecer à superfície destacam-se:


a) As cãimbras
b) A exaustão
c) A separação do companheiro
d) A incapacidade de estabelecer a flutuabilidade positiva
e) Todas as respostas estão corretas

3º) A primeira atitude a tomar caso ocorra um problema à superfície é


estabelecer a flutuabilidade positiva e se for necessário largar o cinto
de lastro.
a) Verdadeiro
b) Falso

4º) Ao ocorrer qualquer problema debaixo de água a primeira atitude


a tomar é: parar, pensar e, só depois de analisado o problema, agir.
a) Verdadeiro
b) Falso

5º) No caso de se separar do seu “companheiro de mergulho” durante


o mergulho deverá regressar imediatamente à superfície.
a) Verdadeiro
b) Falso

6º) A maneira mais usada para fornecer ar ao “companheiro de


mergulho” é:
a) A respiração boca-a-boca
b) Utilizar um 2º andar de emergência
c) Utilizar uma pequena garrafa com oxigénio
d) Nenhuma das respostas está correta

Curso de Mergulho CMAS P1 179



MÓDULO 1T16

QUESTIONÁRIO

7º) Se o regulador entrar em débito contínuo deve fechar-se


imediatamente a torneira da garrafa e subir rapidamente para a
superfície.
a) Verdadeiro
b) Falso

8º) Um dos cinco sinais que denunciam um mergulhador em pânico é:


a) Tirar as barbatanas
b) Tirar a máscara
c) Deitar-se no fundo e controlar a respiração
d) Fazer o sinal de “OK”

9º) À superfície, um mergulhador cansado, pode ser transportado


para a embarcação:
a) Empurrado pelas barbatanas
b) Rebocado pela cabeça
c) Rebocado pela máscara
d) Rebocado pelo cinto de lastro
e) Todas as respostas estão corretas

10º) Num caso de emergência à superfície ou debaixo de água, o


salvador nunca se deve colocar em situação de perigo.
a) Verdadeiro
b) Falso

180 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T16

O AMBIENTE MARINHO

TÓPICOS

 Atitude para com a vida marinha e o ambiente. Importância da sua


conservação
 Vida subaquática. O que se pode observar e como identificar. Os principais
grupos da flora e fauna subaquáticas
 Perigos relacionados com a fauna subaquática. Prevenção e primeiro
socorro

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ Como se comportar para evitar agressões ao meio marinho


√ As 10 regras de ouro do bom mergulhador
√ O que põe em perigo os ecossistemas e a biodiversidade da faixa litoral.
√ Que importância tem a correta utilização do colete de mergulho
√ Quais os dois grandes reinos da vida animal subaquática
√ Qual a atitude a tomar para evitar o contacto com os animais venenosos
√ Como tratar um mergulhador picado por um peixe venenoso
√ Como proceder perante um quadro alérgico de grande intensidade
√ Como proceder se houver tentáculos de hidrozoários no corpo de um
mergulhador

Curso de Mergulho CMAS P1 181


MÓDULO 1T16

A VIDA MARINHA E O MEIO AMBIENTE

A reação imediata do mergulhador que encontra algo interessante é a de apanhar


e levar para casa para melhor observar e mostrar aos amigos.
Este comportamento tal como a remoção desnecessária dos organismos marinhos
deve ser evitada a todo o custo pois até a simples retirada duma pedra do seu lugar
pode afetar a vida que nela existe ou que sob ela se oculta.

IMPORTÂNCIA E CONSERVAÇÃO DO MEIO MARINHO

A Natureza diversificada dos fundos da nossa costa e alguns fenómenos


oceanográficos que ocorrem sazonalmente, contribuem para a presença de
importantes recursos marinhos e de elevados níveis de biodiversidade.
A estrutura das comunidades, em termos de abundância e diversidade, é
determinada em grande parte pelo meio ambiente e pelo grau de exploração humana.
A nível ambiental, os fatores que mais contribuem para essa diferenciação
compreendem a temperatura, produtividade primária, correntes marinhas, extensão e
inclinação da plataforma continental e os tipos de fundos oceânicos. Por outro lado, a
existência de vários acidentes geográficos com pequenas ilhas, baías e cabos, sistemas
lagunares e estuários, pro-
porciona um conjunto de
habitats adequados em termos
de abrigo, proteção a
predadores, alimentação,
desova e crescimento de
juvenis de muitas espécies
marinhas.
A crescente exploração
de recursos pesqueiros,
aliada a uma cada vez maior
ocupação e utilização das
faixas litorais, com con-
A recolha de seres marinhos deverá ser sempre feita com fins sequente aumento de
científicos, enquadrados por responsáveis na matéria
poluição, alteração e des-
truição de habitats, levanta sérias precauções para a manutenção dos ecossistemas
e da biodiversidade.
Muito embora a maioria das espécies que se observam durante o mergulho nas
nossas costas ainda sejam relativamente abundantes, algumas já são raras e, porque
podem levar muitos anos a atingir a sua maturidade ou porque têm períodos de
reprodução restritos, podem ser particularmente vulneráveis à sua recolha.
Pode ser tentador para um mergulhador recolher organismos que à primeira vista

182 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

parecem ser abundantes, mas na realidade pode não ser esse o caso; por isso se
quer levar qualquer recordação do seu mergulho faça-o utilizando uma máquina
fotográfica.

A minimização dos impactos sobre o meio marinho poderá ser alcançada


pelo estabelecimento de reservas marinhas, proteção de habitats, gestão
integrada de recursos marinhos e ordenamento da orla costeira

A proteção do ambiente marinho começa pela postura correta do mergulhador


durante todo o seu mergulho. O mergulhador deve deslocar-se junto ao
fundo, como se fosse uma sombra sem deixar o mínimo rasto da sua
passagem.
Obviamente, esta postura obriga a uma lastragem perfeita e ao correto
manuseamento do colete de mergulho, competências que deverão ser adquiridas
durante este curso e exaustivamente treinadas pelo mergulhador.
É fundamental que o mergulhador se consciencialize de que, não sendo a água o
seu habitat normal, deverá comportar-se como uma parte sensível do mundo
subaquático e nunca como um estranho, de modo a integrar-se perfeitamente nesse
mundo tão maravilhoso.
Para isso deve cumprir as “10 regras de ouro do bom mergulhador”, aprovadas
no ano 2000 pela CMAS, por proposta da sua Comissão Científica, que definem
objetivamente o relacionamento do mergulhador com o meio marinho no âmbito
da sua proteção

10 REGRAS DE OURO DO BOM MERGULHADOR


1. Nunca entrar na água por cima das algas, corais ou outros seres marinhos
2. Controlar bem a flutuabilidade
3. Manter alguma distância dos corais e outros animais e não agitar o
sedimento do fundo
4. Ter cuidado com o local onde lançar o ferro para fundear o barco
5. Não perseguir, tocar ou alimentar os animais no seu ambiente
6. Não caçar (por divertimento) e não comprar nem colecionar lembranças,
como corais e conchas
7. Ter o máximo cuidado nos mergulhos em grutas, pois existem formas
de vida muito delicadas nas paredes
8. Manter os locais de mergulho limpos
9. Aprender sobre a vida marinha e alertar para a sua destruição
10. Incentivar os companheiros de mergulho a seguirem estas regras

Ter uma noção básica da vida marinha permite que o mergulhador registe com
alguma precisão aquilo que viu. “Conhecer toda a vida existente nas extensões
oceânicas é o primeiro passo para a sua correta preservação”.

Curso de Mergulho CMAS P1 183


MÓDULO 1T16

A VIDA SUBAQUÁTICA

ALGAS
O termo algas refere-se a um vasto grupo de organismos, unicelulares ou
pluricelulares, do qual fazem parte desde as algas microscópicas, denominadas
fitoplâncton, às algas existentes nas praias.
Em comum partilham o facto de nas suas células existir clorofila, uma classe de
pigmentos com capacidade fotossintética. Durante muito tempo foram consideradas
como plantas, no entanto não têm raízes, caules ou folhas verdadeiras. Apenas as
algas verdes têm uma relação evolutiva com as plantas terrestres, todas as outras algas
resultam de linhas independentes de desenvolvimento evolutivo.
As algas fazem agora parte do reino Protista. O seu papel ecológico é fundamental,
já que o fitoplâncton constitui a base das cadeias alimentares marinhas, sustentando
deste modo quase toda a vida marinha. O fitoplâncton é, também, o principal produtor
primário, responsável por metade da produção fotossintética do planeta. As algas
fornecem ainda refúgio a uma grande variedade de organismos. Algumas espécies
têm, também, importância económica, pois são utilizadas nas indústrias alimentar, de
cosméticos e farmaceutica.
Algas verdes - As algas verdes, vivem na sua maioria em águas continentais,
podendo colonizar habitats muito diversos. Compreende formas unicelulares e
pluricelulares, podendo estas últimas atingir dimensões macroscópicas, com frondes
bem desenvolvidas.
Entre as algas verdes
mais abundantes
encontram-se a Ulva
lactuca (alface-do-
mar) e o Codium
tomentosum
(Codium).
Algas castanhas
- As algas castanhas
são quase exclusiva-
mente marinhas,
com apenas três
espécies de água
doce. Encontram-se
As algas fazem agora parte do reino Protista
principalmente nas
regiões de águas frias e temperadas. São plantas pluricelulares normalmente fixadas ao
substrato. Algumas das espécies desta classe são a Laminaria hyperborea (laminárias) e
a Fucus vesiculosus (bodelha). Estas algas formam um excelente habitat para diversos
organismos, quer vegetais quer animais e, se alguns deles podem viver sobre a fronde
das laminárias, a maioria prefere as fendas e buracos dos seus órgãos de fixação.

184 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

Algas vermelhas - Estas algas são principalmente marinhas e distribuem-se por


todos os oceanos do mundo, principalmente em águas quentes e tranquilas. Algumas
das mais abundantes espécies nas nossas águas são o Gelidium sesquipedale (gelídeo),
a Callophyllis laciniata e a Halurus equisetifolius.
Líquenes - Os líquenes resultam da simbiose entre uma alga e um fungo. O talo
de um líquen consiste em regra numa parte foliar achatada e incrustante, agarrando-se
a plantas, à rocha ou a outros substratos. O tecido constituinte pode ser macio ou
áspero, liso ou rugoso, tufoso, ramificado, ereto ou prostrado. Alguns representantes
deste grupo são a Verrucaria
maura e a Ochorolechia parella.

PLANTAS
As Angiospérmicas, ou
plantas com flor, ocorrem na
nossa costa em ambientes
tipicamente marinhos. Este
grupo bastante homogéneo
caracteriza-se por apresentar uma
organização externa onde se
pode distinguir raiz, caule, folhas
e flor. O representante mais
comum deste sub-reino é a As esponjas podem atingir dimensões volumosas
Zostera marina (erva-marinha).

ANIMAIS
Esponjas (Filo Porifera) -
As esponjas são animais com
formas e cores muito variáveis.
O seu corpo é perfurado por
vários poros pequenos por onde
a água entra, permitindo as trocas
com o meio. A saída da água é
feita por um orifício de maiores
dimensões chamado ósculo.
As esponjas vivem em quase
todos os tipos de habitat, desde As anémonas são muito belas e comuns, mas podem ser
urticantes
a zona entre marés até às
grandes profundezas do oceano. A sua forma depende em grande parte do grau de
exposição dos locais em que estão fixas. Assim, em zonas de grande exposição as
esponjas são arredondadas ou achatadas contra o substrato, mas em locais abrigados
assumem um padrão de crescimento diferente, apresentando hastes eretas com
ramificações delicadas.

Curso de Mergulho CMAS P1 185


MÓDULO 1T16

Uma característica interessante das esponjas é a facilidade com que se encontram


associadas a outros organismos, tais como vermes e caranguejos.
Algumas das esponjas facilmente observadas durante um mergulho encontram-
se a Myxilla incrustans e a Ircinia fasciculata (pertencentes à Classe Demospongiae).
Medusas, Anémonas e Corais (Filo Cnidária) - Estes animais não têm um
esqueleto rígido interno, sendo a sua forma mantida pela pressão da água no seu
interior. O seu corpo é caracterizado por ter uma abertura, que serve de boca e
ânus, rodeada por tentáculos. A sua principal característica é a presença de células
urticantes, chamadas cnidócitos.
Neste filo estão incluídos
organismos com aparências
distintas, embora com a mesma
organização geral do corpo:
Hidrozoários (Classe Hydrozoa);
Alforrecas ou Medusas (Classe
Scyphozoa); Anémonas e Corais
(Classe Anthozoa).
Alguns representantes destas
classes podem ser vistos com
frequência, como a alforreca
Rhizostoma pulmo (Classe
As alforrecas são abundantes nalgumas épocas do ano.
Scyphozoa), a gorgónia
Algumas espécies são urticantes
Paramuricea chamaeleon, ou as
anémonas Corynactis viridis e
Actinia equina, com várias formas
e coloração (Classe Anthozoa).
Anelídeos (Filo Annelida)
- Os anelídeos (vermes) têm uma
cavidade corporal verdadeira
preenchida por um fluido. O
corpo é dividido longitu-
dinalmente num número
reconhecível de segmentos cada
um dos quais com sedas
quitinosas. A cabeça é bem
A buzina é o maior gastrópode das nossas águas, embora desenvolvida e está provida de
seja cada vez mais raro vários órgãos sensoriais; a boca,
abre no segundo segmento e o
ânus abre no segmento terminal.
Búzios, ameijoas, polvos (Filo Mollusca) - Os moluscos representam o
segundo maior grupo de animais, com cerca de 50.000 espécies vivas. Estes animais
já têm órgãos estruturados em sistemas embora simples. O corpo divide-se em

186 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

cabeça, massa visceral e pé. A principal característica dos molusco é a sua concha,
muito embora em alguns grupos ela possa ser reduzida ou mesmo ausente.
Gastrópodes:Estes moluscos são assimétricos e têm uma cabeça bem desenvolvida e
um pé largo. A sua concha é univalve e normalmente enrolada em espiral.
Entre os gastrópodes marinhos mais comuns está a Patella lusitanica (lapa) e o
Gibbula umbilicalis (burrié). Também podem ser observadas com alguma facilidade a
Haliotis lamellosa (orelha-do-mar) e a Aplysia punctata (vinagreira).
Bivalves: Estes moluscos possuem simetria bilateral, e um corpo comprimido
lateralmente e encerrado numa
concha de duas valvas que estão
unidas dorsalmente por um
ligamento e uma charneira,
fechando-se com o auxílio de um
ou dois músculos adutores.
Possuem igualmente um manto
constituído por dois lobos
achatados, cuja margem
posterior forma geralmente
sifões que controlam a entrada
e saída da água.
Os bivalves são bentónicos e
muitos vivem enterrados no O polvo é um cefalópode muito inteligente e confunde-
-se facilmente com o meio envolvente
sedimento do fundo. Os mais
fácei de ver em mergulho são os
Mytilus edulis (mexilhões), que
vivem fixos a substratos duros.
Muitas espécies são consumidas
pelo Homem,como alimento,
constituindo um recurso de
elevado interesse comercial.
Cefalópodes: Os cefalópodes
têm o corpo cilíndrico e em
forma de saco, e possuem um
pé que se divide num número
de tentáculos providos de
ventosas, cercando a boca e Os crustáceos têm um esqueleto exterior calcário. São
unindo-se à cabeça. visíveis sobretudo nos buracos ou à noite
Na maioria das espécies
encontra-se uma concha interna, mais raramente externa e, por vezes, ausente. A
boca conduz a um par de mandíbulas que se assemelham a um bico de papagaio.
Nesta classe os indivíduos são agrupados pelo número de tentáculos.

Curso de Mergulho CMAS P1 187


MÓDULO 1T16

Os cefalópodes com dez tentáculos mais comuns são o Sepia officinalis (choco),
a Loligo vulgaris (lula) e a Allo-teuthis subulata (pota). O cefalópode com oito
tentáculos mais comum é o Octopus vulgaris (polvo).
Aranhas-do-mar, lagostas, percebes,caranguejos (Filo Arthropoda) -
É o maior de todos os filos animais com cerca de um milhão de espécies conhecidas.
Os seus representantes possuem um exosqueleto de quitina, pelo que têm de efecuar
mudas para crescerem. Apresentam simetria bilateral, corpo segmentado e patas
articuladas com funções distintas. Este Filo divide-se num grande número de classes
sendo a mais importante a Classe
Crustácea.
Crustáceos: Os crustáceos
têm o corpo dividido em três
partes: cabeça, tórax e abdómen.
O exosqueleto é formado por
sais de cálcio e pode ser espesso
e pesado. A cabeça tem dois
pares de antenas e mandíbulas
no quarto segmento. Os
crustáceos apresentam formas
corporais e ciclos de vida muito
diversos. Entre os mais
As estrelas-do-mar são animais exclusivamente marinhos conhecidos, devido ao seu valor
e são um verdadeiro símbolo do mar
comercial está o Pollicipes
pollicipes (percebe), o Crangon
vulgaris (camarão), o Cancer
pagurus (sapateira), o Maja
squinado (santola) ou o Palinurus
vulgaris (lagosta).
Estrelas-do-mar, ouriços-
do-mar, pepinos-do -mar
(Filo Echinodermata) - Os
equinodermes constituem um
dos grupos mais aparentado com
os cordados. São exclusivamente
marinhos e têm no estado adulto
Os ouriços são outros equinodermes muito comuns e um tipo especial de estrutura:
fáceis de observar apresentam simetria radiada, com
a boca no centro de uma das
faces do corpo e o ânus normalmente na parte central da face oposta.
O corpo pode ser globular ou apresentar extremidades mais ou menos distintas.
No primeiro caso estão os ouriços-do-mar, como o Diadema antillarum (ouriço-de-
espinhos-compridos) o Echinus esculentus (ouriço-do-mar) ou o Paracentrotus lividus

188 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

(ouriço-das-poças). As estrelas-do-mar, como a Astropecten aranciacus (estrela-


cavadora) ou a Marthasterias glacialis (estrela-do-mar) , ou os ofiurídeos, como o
Ophioderma longicauda, estão entre os equinodermes de extremidades distintas
mais comuns.
Com um aspeto completamente diferente, os Holothuria forskali (pepino-do-
mar) têm elementos esqueléticos muito reduzidos, conferindo ao animal uma textura
macia.
O pepino-do-mar move-se apenas com o auxílio da parte anterior do corpo, ou
seja o animal move-se como um
verme.
Peixes, aves, mamíferos
(Filo Chordata) - Os cordados
são animais que têm um cordão
nervoso dorsal. Formam o
conjunto mais familiar de todos
os animais marinhos.
Os vertebrados, para além
das características dos cordados,
possuem uma coluna dorsal
composta por muitas peças
ósseas articuladas (vértebras) e
dispostas em cadeia longitudinal. Os Condrictes (raias e tubarões) têm esqueleto
cartilagíneo e pele áspera
A cabeça é distinta e nela
encontram-se órgão sensoriais
muito desenvolvidos. Os verte-
brados possuem frequentemente
apêndices pares anteriores
(peitorais) e posteriores
(pélvicos).
Em termos de espécies
conhecidas, os vertebrados são
apenas uma pequena fração do
Reino Animal. Contudo, eles
incluem muitos dos organismos
mais familiares, desde as
lampreias até ao Homem. Os Teleósteos são os peixes mais comuns. Têm esqueleto
Peixes cartilagíneos (Classe ósseo, bexiga natatória e quase sempre escamas na pele
Chondrichtyes): Esta classe inclui
alguns dos maiores e mais vorazes animais marinhos e está representada por uma
grande variedade de organismos que inclui desde a pequena Scyliorhinus canicula
(pata-roxa) ao enorme Rhincodon typus (tubarão-baleia), que apesar do tamanho se
alimenta de plâncton, passando pelos diversos tipos de raias, desde a grande jamanta
(que também se alimenta de plâncton) até às tremelgas, de corpo arredondado e
Curso de Mergulho CMAS P1 189
MÓDULO 1T16

que produzem descargas elétricas.


A descarga elétrica da tremelga não representa qualquer perigo para o homem,
mas o espigão existente na base da cauda de algumas raias, como a uge, pode
causar ferimentos dolorosos a um mergulhador mais descuidado.
Estes vertebrados com verdadeira mandíbula e esqueleto cartilaginoso não possuem
raios ósseos nas barbatanas. A boca situa-se na face ventral da cabeça, e a pele é
geralmente rugosa e áspera.

Peixes ósseos (Classe Osteichthyes): Engloba os peixes com maxilares verdadeiros


e esqueleto ósseo. São peixes mais evoluídos com raios ósseos nas barbatanas e
opérculo a cobrir as brânquias, com bexiga gasosa na cavidade abdominal e com
barbatana caudal simétrica.
Este grupo inclui o maior número de espécies de peixes existentes (mais de
25.000 espécies), constituindo a maior classe de vertebrados do planeta.
Esta elevada diversidade específica traduz uma grande plasticidade adaptativa que
resulta das suas adaptações tróficas e locomotoras que lhes permitiram colonizar
literalmente todos os biótipos do
meio aquático, desde o meio
oceânico pelágico aos habitats
estuarinos e de água doce.
A faixa costeira constitui um
habitat preferencial para um
grande número de espécies sendo
impossível fazer uma descrição
exaustiva das espécies que aqui
ocorrem. Algumas podem ser
facilmente observadas durante um
mergulho junto à costa.
O rascasso tem espinhos venenosos. O mergulhador deve
ter cuidado com os locais onde põe as mãos

PERIGOS RELACIONADOS COM A VIDA SUBAQUÁTICA


Existem múltiplos riscos associados com o contacto com os diversos animais
marinhos que poderão ser encontrados durante o mergulho. O objetivo deste curso
não é abordar de forma exaustiva todas as lesões possíveis e os respetivos tratamentos,
mas sim dar noções básicas e linhas gerais de atuação.

PEIXES VENENOSOS - Nem sempre é fácil, após um acidente, fazer a identificação


do peixe (ou outro ser marinho) responsável pelo ferimento, mas isso não tem
grande importância, já que os efeitos que os venenos provocam e a atitude a tomar

190 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

é praticamente a mesma.
Os peixes venenosos raramente são agressivos. O contacto é na maioria das
vezes puramente acidental, por distração do mergulhador, ou então devido ao
manuseamento indevido do peixe. É preciso não esquecer que, mesmo depois
do peixe estar morto, os espinhos continuam a ser venenosos.

Na maioria dos casos, o veneno é muito sensível ao calor, degradando-se se for


submetido a uma temperatura elevada. A aplicação de água quente (ou qualquer
outra fonte de calor) é uma forma
prática de reduzir o seu efeito.
Os sintomas iniciais são habi-
tualmente uma dor intensa
seguida de um “adormecimen-
to” ou, ao contrário, da “hiper-
sensibilidade” da área em volta
da ferida. Frequentemente, a
intensidade da dor é despro-
porcional ao tamanho da ferida
(dor muito intensa, com ferida
muito pequena). A pele à volta
da ferida poderá tornar-se
azulada e com inchaço (edema), A beleza do peixe-leão esconde um veneno poderoso,
acompanhada de uma certa que facilmente pode arruinar umas férias de sonho
palidez dos tecidos circundantes.
Entre os sintomas gerais são
frequentes as náuseas, os
vómitos, o estado de choque e a
perda de consciência. Nalguns
casos, pode mesmo ocorrer a
morte.

PREVENÇÃO - A atitude mais


lógica e eficaz é evitar o contacto
com qualquer peixe venenoso.
Frequentemente estes peixes
encontram-se em buracos e
fendas, escondidos entre as algas As raias têm um espigão na cauda. Ao serem incomodadas
ou enterrados na areia, como o ou ao tentar fugir podem causar feridas graves
peixe-aranha.
O mergulhador deverá ter sempre o maior cuidado ao assentar
qualquer parte desprotegida do corpo, nomeadamente ao meter as
mãos dentro de um buraco ou ao pousá-las no fundo.

Curso de Mergulho CMAS P1 191


MÓDULO 1T16

CASOS ESPECIAIS (Peixe-pedra, peixe-escorpião e peixe-leão) - O


Synanceia verrucosa (peixe-pedra), o Scorpaenopsis diabolus (peixe-escorpião) e o
Pterois sp. (peixe-leão) são peixes de águas tropicais altamente tóxicos. As toxinas
destes peixes produzem efeitos muito semelhantes às dos restantes peixes venenosos,
mas frequentemente associados a sintomatologia mais grave, como paragem
respiratória, estado de choque, colapso cardiovascular e mesmo a morte.
Para além dos procedimentos de primeiros socorros habituais neste tipo de acidentes,
existem nos hospitais antitoxinas específicas para estes casos especiais. Para que esse
tratamento seja aplicado é preciso
informar o hospital de que o
ferimento foi provocada por um
destes peixes.
Embora nas nossas águas não
sejam frequentadas por estes
peixes, o Scorpaena porcus
(rascasso-de-pintas) é bastante
comum na nossa costa. Este
peixe, muito frequente nos
fundos rochosos, encontra-se
normalmente camuflado entre as
algas e tem um veneno bastante
Os tentáculos dos hidrozoários, mesmo quando separados poderoso.
do animal continuam a ser perigosos
Raias - Na maior parte dos
casos de acidentes com raias, o
que acontece é o mergulhador
pisar ou perturbar a raia e esta
ter um movimento defensivo
com a cauda quando tenta fugir,
podendo daí resultar feridas
extremamente dolorosas.
O aspeto típico da ferida
apresenta uma zona pálida e
inchada, com um halo cir-
cundante de tonalidade azulada.
O principal problema nestes casos
é que as infeções secundárias são
Coral-fogo. Além de cortantes e abrazivos, alguns corais
têm células urticantes que provocam queimaduras muito frequentes. No entanto
podem também surgir sintomas
sistémicos, tais como tonturas, sensação de desmaio, náuseas, vómitos, suores frios,
dificuldade respiratória e estado de choque.
A prevenção e tratamento destes casos são idênticos aos descritos para a
generalidade dos ferimentos causados por peixes venenosos.

192 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

HIDROZOÁRIOS - Na maioria dos casos o resultado do contacto com estes seres


é apenas uma irritação local da pele, mas que pode ser muito dolorosa, como acontece
com a pequena Pelagia noctiluca (água-viva), muito comum nos Açores.
Os casos de maior cuidado são o Sea wasp que não existe na costa portuguesa, e
a Physalia physalis (caravela-portuguesa). Nestes dois casos, as toxinas podem
provocar reações alérgicas sistémicas graves, das quais poderá resultar rapidamente
o estado de choque ou mesmo a morte (já foram descritos casos mortais após o
contacto com a caravela-portuguesa).
Como é evidente a prevenção nestes casos é muito importante. Por isso o
mergulhador deve estar atento à presença destes animais para evitar contactos
acidentais, sobretudo com partes desprotegidas do corpo. Mesmo com o corpo
protegido, o contacto é de evitar, porque as células urticantes que fiquem presas ao
fato podem ainda causar queimaduras.
Esfregar a ferida com areia não produz qualquer alívio e pode mesmo levar á
libertação de mais toxinas, se ainda houver restos de tentáculos na pele.
O tratamento local para o alívio da dor poderá incluir esteroides tópicos, pomadas
anestésicas e pomadas anti-
histaminicas ou mesmo
analgésicos e anti-histaminicos por
via sistémica.
Existe também o perigo de se
desencadear um choque anafi-
lático, uma reação alérgica
maciça que põe em risco a vida
do acidentado. Este quadro de
sintomas é mais frequente em
pessoas que tenham já uma
história clínica de manifestações
alérgicas. Nas nossas águas os tubarões andam afastados das
Porque é difícil prever a paragens frequentadas pelos mergulhadores
ocorrência de um choque
anafilático e face à gravidade que esta situação representa, é muito importante
manter o acidentado sob vigilância e justifica-se o seu envio imediato para
o Hospital.
Coral - Devido à sua estrutura, por vezes cortante ou abrasiva, o contacto com o
coral pode resultar em feridas que por vezes levam muito tempo a cicatrizar, surgindo
com alguma frequência infeções secundárias. Além disso, alguns corais têm células
urticantes, que podem causar queimaduras graves, como acontece com o Millepora
platyphylla (coral-fogo).
As feridas resultantes do contacto com o coral devem ser desinfetadas, mantidas
limpas e vigiadas. Nalguns casos pode justificar-se mesmo a observação e tratamento
por profissionais de saúde, sobretudo quando o coral é urticante.

Curso de Mergulho CMAS P1 193


MÓDULO 1T16

A prevenção, mais uma vez, faz-se evitando o contacto. Por precaução, o


mergulhador deve usar sempre roupa protetora, mesmo em águas quentes.

OS GRANDES PREDADORES - Nas nossas águas não há notícias de ataques de


tubarões. As espécies aqui existentes são pelágicas e andam afastadas das zonas
costeiras frequentadas pelos mergulhadores. Mesmo nos locais onde estes animais
abundam os ataques a mergulhadores são raros (as estatísticas na Austrália revelam
que os acidentes de mergulho são muito mais numerosos que os ataques por
tubarões).
Os motivos do ataque de um tubarão são quase sempre desconhecidos, ainda
que sejam avançadas muitas teorias, e os ataques são na maior parte das vezes
imprevisíveis.
Por outro lado, o comportamento do tubarão antes de iniciar um ataque é previsível.
O animal nada em círculos cada vez mais apertados em torno da presa, com
movimentos amplos e com as barbatanas peitorais dirigidas para baixo (o normal é
estarem dirigidas para os lados), podendo o ataque ser precedido de uma aceleração
súbita ou outra alteração comportamental.
As lesões podem ser provocadas não só pela mordedura mas também pelo
contacto, já que apele do tubarão é muito áspera, por estar coberta de pequenas
espículas muito aguçadas. Assim, do contacto com o tubarão podem resultar abrasões
importantes e com hemorragia significativa.
Há uma série de regras a respeitar para prevenir os ataques destes animais, das
quais a mais óbvia é evitar mergulhar nos locais onde eles encontram. Não esquecer
que um tubarão nada sempre mais depressa do que qualquer nadador ou mergulhador.
O resultado do ataque de um tubarão é normalmente muito grave, necessitando
de tratamento hospitalar urgente.

194 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T16

PRIMEIROS SOCORROS E TRATAMENTO


PEIXES VENENOSOS
• Retirar o acidentado da água, deitá-lo numa superfície plana, tranquilizá-
lo e vigiar. Ter particular atenção aos sinais de choque
• Lavar a ferida (água doce, salgada ou soro). A sucção da ferida para
remover o veneno não é eficaz
• Colocar a zona afectada em água quente (máxima temperatura tolerada
até 50ºC) durante 30 a 90 minutos. Se houver intolerância ao contacto
prolongado com a água quente, fazer imersões curtas e repetidas. Em
feridas na cara, utilizar compressas ou panos quentes
• Transportar o acidentado para o hospital
• Torniquetes e ligaduras não são aconselhados

HIDROZOÁRIOS
• Remover qualquer tentáculo sem esfregar ou fazer pressão, de
preferência com uma toalha ou peça de roupa
• Lavar a ferida com ácido acético (3 a 10%) ou com vinagre, para evitar
a libertação de mais toxinas

CORAIS
• Controlar a hemorragia • Administrar a vacina antitetanica
• Limpar e desinfetar a ferida • Administrar antibióticos tópicos
• Fazer um penso ou sistémicos caso se justifique

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALVO, J. C. C., 1995. El ecosistema marino Mediterráneo. Guía de su flora y
fauna. Juan Carlos Calvin Edicion. Murcia 796 pp.
CAMPBELL, A., 1994. Fauna e Flora de Portugal e Europa - Guia FAPAS. 320 pp.
GONÇALVES, J.; Silva, J. A., 2000. Costa Sudoeste - Macrofauna Marinha. Talento
Edições e Publicidade e Promoções Limitada. Lisboa. 100 pp.
SALDANHA, L., 1995. Fauna Submarina Atlântica. 3ª Edição. Publicações Europa
América. Lisboa. 364 pp.

Curso de Mergulho CMAS P1 195


MÓDULO 1T16

QUESTIONÁRIO
(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa; envolva
com uma circunferência a resposta certa).

1º) Se um mergulhador encontrar uma estrela do mar durante o


seu mergulho, deve trazê-la para a superfície para mostrar aos
amigos.
a) Verdadeiro
b) Falso

2º) Para ver pequenos animais o mergulhador deverá:


a) Revolver o fundo com as mãos
b) Virar as pedras
c) Não tocar no que quer que seja
d) Raspar as rochas com a faca
e) Nenhuma resposta está correta

3º) A manutenção dos ecossistemas é posta em perigo pela:


a) Exploração exagerada dos recursos pesqueiros
b) Ocupação anárquica da faixa litoral
c) Mau controlo da flutuabilidade pelo mergulhador
d) Aumento da poluição
e) Todas as respostas estão corretas

4º) Nunca mergulhar sozinho é a Regra de Ouro do mergulho


a) Verdadeiro
b) Falso

5º) A principal função do colete de mergulho no âmbito da


proteção do meio marinho é:
a) Proteger o mergulhador do frio
b) Não deixar cair a garrafa
c) Permitir ao mergulhador encontrar o equilíbrio hidrostático
d) Permanecer mais tempo no fundo

6º) Os principais reinos da vida animal subaquática são:


a) Reino animal
b) Reino dos fusiformes
c) Reino das talófitas
d) Reino dos otólitos

196 Curso de Mergulho CMAS P1



MÓDULO 1T16

QUESTIONÁRIO

7º) Os grupos de algas mais comuns são as algas vermelhas.


a) Verdadeiro
b) Falso

8º) Para evitar o contacto com os animais venenosos, o


mergulhador deve ter cuidado ao pousar qualquer parte
desprotegida do corpo no fundo e ao colocar as mãos em buracos
ou fendas.
a) Verdadeiro
b) Falso

9º) Se um mergulhador for picado num pé por um rascasso deveremos


a) Colocar o pé a um nível mais elevado
b) Colocar o pé em água muito quente
c) Chupar o sangue da ferida
d) Colocar gêlo sobre a picada

10º) Se um mergulhador for atingido pelos filamentos de uma caravela


portuguesa deverá:
a) Retirá-lo imediatamente esfregando com areia
b) Fazer sangrar a ferida abundantemente
c) Aplicar uma pomada anti-histamínica
d) Colocar uma ligadura muito apertada

Curso de Mergulho CMAS P1 197



198 Curso de Mergulho CMAS P1
MÓDULO 1T17

ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA

TÓPICOS

 Porquê falar de Arqueologia. Que interesse tem para o mergulhador


desportivo. O papel do mergulhador.
 O que é o património cultural submerso. Noção de documento
arqueológico (o local do crime). Conservação dos vestígios. Campanha
arqueológica.
 Como agir perante a descoberta de vestígios arqueológicos. A
intervenção no local e após o mergulho. Como evoluir.
 Enquadramento legal.

NO FINAL DO MÓDULO O ALUNO DEVE SABER:

√ O que é o património cultural submerso


√ Que importância tem um contexto arqueológico
√ Que comportamento ter face a vestígios arqueológicos
√ Quais os dados mais importantes a registar (posicionamento)
√ Que problemas de conservação enfrentam os objetos recolhidos
√ O que representa uma campanha arqueológica
√ Direitos e obrigações legais

Curso de Mergulho CMAS P1 199


MÓDULO 1T17

PORQUÊ FALAR DE ARQUEOLOGIA

O património cultural submerso e a arqueologia subaquática podem ser motivos


de prazer acrescido no mergulho amador (mergulhar com um objetivo).
A arqueologia é como o trabalho de detetive: uma desafiante combinação de
teoria e competências técnicas, tentando reconstruir o passado. Envolve um grande
conjunto de disciplinas, sobretudo quando praticada debaixo de água, englobando
muitas atividades
com interesse para
o mergulhador
amador (pesquisa,
prospecção, foto-
grafia, deteção
remota, posiciona-
mento, registo, de-
senho, etc.).
O mergulhador
amador pode ajudar
na busca de
vestígios do passa-
do submerso, fazer
prospeção de des-
troços de naufrágios
e de outros locais
arqueológicos.
Pode também
receber formação e
treino em técnicas
aplicadas à arqueo-
logia subaquática
(qualificação FPAS/
CNANS) e participar
em projetos de
intervenção arqueo-
lógica subaquática.
A arqueologia subaquática é uma actividade multidisciplinar que pode
trazer um interesse acrescido ao mergulho desportivo Atualmente, a
crescente comuni-
dade do mergulho amador tem condições (através da deteção e registo) para ser a
mais importante ferramenta para a inventariação do património cultural subaquático
na zona costeira. Na verdade, o mergulhador amador, seja em apneia seja com
escafandro autónomo, pode desempenhar um papel fundamental na descoberta de
novos vestígios de património arqueológico subaquático.

200 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T17

PATRIMÓNIO CULTURAL SUBAQUÁTICO

Segundo a convenção da Organização das Nações Unidas para a Educação, a


Ciência e a Cultura (UNESCO), património cultural subaquático são todos os traços
de existência humana, parcial ou totalmente submersos há mais de 100 anos. Isto
inclui sítios, estruturas, edifícios, artefactos e restos humanos, barcos, aeronaves e a
sua carga, em conjunto com o seu contexto arqueológico e natural.
Todos estes vestígios fazem parte do património cultural da humanidade. Por isso
o acesso aos locais arqueológicos submersos, para observar ou documentar, deve ser
encorajado. Pretende-se deste modo a estimular no público o gosto pelo património
e pela sua salvaguarda. No entanto este acesso deve ser evitado quando é incompatível
com a sua proteção e gestão.

DOCUMENTO ARQUEOLÓGICO - Se podemos comparar o trabalho do


arqueólogo ao do detetive, podemos dizer que o sítio arqueológico é como o local
do crime: os mais pequenos pormenores podem ser a chave para decifrar a verdade
dos factos. É por isso que qualquer alteração da disposição dos vestígios, sem um
prévio registo pormenorizado e exaustivo (desenho à escala, fotografia,
posicionamento tridimensional, etc.), pode comprometer a investigação.
A esta íntima relação entre os vestígios arqueológicos de um sítio chama-se
contexto arqueológico, uma das noções mais importantes a reter.

PRESERVAÇÃO DOS VESTÍGIOS - A preservação in situ do património cultural


subaquático deve ser sempre considerada como a primeira opção, antes de ser
autorizada ou iniciada qualquer intervenção, até porque os bens arqueológicos

Os materiais recolhidos debaixo de água têm uma consevação difícil e delicada

Curso de Mergulho CMAS P1 201


QUESTIONÁRIO

provenientes do meio aquático põem problemas de conservação muito complicados.


Em qualquer atividade dirigida ao património cultural subaquático devem ser usados
métodos e técnicas de prospeção não destrutivas, em vez da recuperação de objetos.
No entanto, se a escavação ou a recuperação forem necessárias para o objetivo dos
estudos científicos ou para a proteção definitiva do património cultural subaquático,
os métodos e técnicas usadas devem ser tanto quanto possível não destrutivas e
contribuir para a preservação dos vestígios. É preciso não esquecer que a escavação
e recuperação de objetos é como a leitura de um livro a que arrancamos cada página
que lemos. Já não é possível voltar a lê-lo.
Por isso, a prospeção, escavação e proteção do património cultural subaquático
requerem a disponibilização e a aplicação de métodos científicos especiais e o uso
de técnicas e de
equipamentos apro-
priados. Da mesma
forma, é necessário
um elevado grau de
especialização dos
intervenientes.
O património cul-
tural subaquático
recuperado deverá
ser depositado, con-
servado e gerido de
uma maneira que
fique assegurada a sua
preservação a longo
prazo, uma tarefa
complexa e difícil.
Os objetos e ou-
tros vestígios arqueo-
lógicos provenientes
do meio aquático
apresentam difíceis
problemas de conser-
Antes de mexer é preciso registar tudo pormenorizadamente. Depois
vação quando expos-
é tarde demais. Não se pode voltar a ler uma página arrancada tos ao ar. Depois de
secos, os materiais
orgânicos (madeira, couro, tecidos, etc.), alguns deles já muito frágeis dentro de
água, desfazem-se ao mínimo toque. Até objetos de um material tão robusto como
o ferro, mesmo sendo de grandes dimensões (canhões, âncoras), ficam reduzidos a
pó de ferrugem em poucos anos. Esta degradação só é possível evitar mantendo os
objetos em meio húmido e sujeitos a longos processos químicos.

202 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T17

CAMPANHA ARQUEOLÓGICA SUBAQUÁTICA – Face à fragilidade dos vestígios


arqueológicos submersos, é fácil de compreender porque é que, antes de qualquer
atividade dirigida ao património cultural subaquático, é exigido um plano do projeto
para ser apreciado e autorizado pelas autoridades competentes.
As intervenções sobre o património cultural subaquático só poderão ser realizadas
sob a direção, controle e a presença regular de um arqueólogo subaquático qualificado,
com competência científica adequada ao projeto.
Deverá também ser preparado um plano de incidência ambiental de modo a
garantir convenientemente que o leito do mar e a vida marinha não são perturbados
indevidamente.

UM PLANO DE PROJETO DEVE INCLUIR


 Uma avaliação dos estudos prévios  A gestão do sítio e um plano de ma-
ou preliminares nutenção para a duração completa
 O enunciado do projeto e seus do projeto
objetivos  Planos para análises e outras ati-
 A metodologia a ser usada e as vidades após o trabalho de campo
técnicas a serem empregues  Um programa de documentação
 Financiamento antecipado  Um plano de segurança
 A calendarização prevista para a  Um plano de incidência ambiental
conclusão do projeto  Os acordos para a colaboração com
 A composição da equipa e as qua- museus e outras instituições, em par-
lificações, responsabilidades e expe- ticular as instituições científicas
riência de cada membro da equipa  A preparação dos relatórios
 Um programa de conservação  Depósito dos arquivos, incluindo o
para os artefactos e para o sítio do património cultural subaquático
em estreita cooperação com as recuperado
autoridades competentes  Um programa de publicação

COMO AGIR PERANTE VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS

INTERVENÇÃO NO LOCAL – O mergulhador amador desempenha um papel


fundamental e pode dar um contributo de grande importância para a arqueologia
subaquática, se agir de forma correta. A coisa mais importante que o mergulhador
pode fazer é registar o mais rigorosamente possível a posição do vestígio que
encontrou. Para isso, o ideal seria subir na vertical do vestígio encontrado e, chegado
à superfície, tirar marcas para terra (enfiamentos ou azimutes). Se isso não for possível,
logo que suba para bordo deve tirar marcas ou azimutes para terra, ou registar a
posição por GPS. Estes dados devem ser imediatamente assentes para evitar falhas
de memória.

Curso de Mergulho CMAS P1 203


QUESTIONÁRIO

Além disso, ao encontrar vestígios de património cultural submerso, o mergulhador


deve deixar no lugar e não alterar a disposição daquilo que descobre.

APÓS O MERGULHO – É importante que o mergulhador registe tudo o que viu


imediatamente a seguir ao mergulho (ou mesmo durante o próprio mergulho), nunca
se fiando na memória (ver folha especial da Caderneta de Imersão FPAS).
Deve fazer sempre a declaração oficial do achado à entidade competente (nem
que seja por telefone, fax ou correio electrónico). Esta é a única maneira de garantir
simultaneamente a riqueza documental do achado e a sua conservação, o
reconhecimento do mérito do mergulhador e dos seus direitos, assim como o seu
estatuto de futuro participante e colaborador das atividades arqueológicas subaquáticas
desenvolvidas em Portugal.

COMO EVOLUIR – O curso de especialização FPAS/CNAS (com equivalência


CMAS) e os diversos cursos que estão a ser estruturados pelo CNANS (*) permitirão
ao mergulhador desenvolver as suas capacidades técnicas nesta área, proporcionando-
-lhe contacto próximo com os projetos em curso.

ENQUADRAMENTO LEGAL

As disposições legais em vigor que enquadram o património arqueológico


subaquático e o comportamento do mergulhador são as seguintes:
 Decretos-Lei n.º 164/97, de 27 de junho e 289/93 de 21 de agosto, relativos

ao património cultural subaquático.


 Portaria n.º 51/98, de 4 de fevereiro, relativa à tabela de recompensas por
achados fortuitos de contextos arqueológicos coerentes e delimitados (e não objetos
isolados).

(*) Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática - IGESPAR


MARL - Pavilhão CC1 - Lugar do Quintanilho
2641-421 S. Julião do Tojal
Tel.: 219 926 802/3 Fax.: 219 926 819 e-mail: dans@igespar.pt

204 Curso de Mergulho CMAS P1


MÓDULO 1T17

QUESTIONÁRIO

(Nas perguntas de resposta múltipla apenas há uma resposta certa;


envolva com uma circunferência a resposta certa).

1º) O que é património arqueológico submerso?


a) Reserva de antiguidades valiosas a explorar
b) Todos os traços da vida humana submersos há mais de 100 anos
c) Os tesouros dos galeões
d) Todas as respostas estão corretas

2º) Se um mergulhador encontrar vestígios de património cultural


submerso deve:
a) Escavar à volta para ver se há mais vestígios
b) Remover os vestígios imediatamente
c) Registar e anotar todos os dados possíveis
d) Nenhuma resposta está correta

3º) Encontrados vestígios arqueológicos submersos, é fundamental


posicioná-los. A melhor forma de o fazer é:
a) Chegado à superfície, tirar enfiamentos para marcar o lugar
b) Depois de regressar a terra, perguntar onde foi o mergulho e anotar
c) Chegado ao barco, ver a posição no GPS
d) Todas as respostas estão corretas

4º) Ao chegar a terra depois de um mergulho em que deparou com


vestígios arqueológicos, o mergulhador deve:
a) Contar aos amigos o que viu durante o mergulho
b) Declarar o achado às autoridades competentes
c) Alertar os jornais para o sucedido
d) Nenhuma resposta está correta

5º) O mergulhador amador pode desenvolver as suas capacidades na


área da arqueologia frequentando cursos de especialização.
a) Verdadeiro
b) Falso

Curso de Mergulho CMAS P1 205



206 Curso de Mergulho CMAS P1
RESPOSTAS AOS QUESTIONÁRIOS

Módulo 1 7 b Módulo 6 Módulo 9


1 b 8 a 1 a 1 a
2 e 9 a 2 b 2 b
3 e 10 d 3 d 3 b
4 a 11 b 4 d 4 c
5 b 12 b 5 b 5 a
6 c 13 b 6 b 6 d
7 a 14 a 7 b
8 d 15 a 8 a Módulo 10
9 b 16 a 9 c 1 b
17 b 10 a 2 d
Módulo 2 18 a 11 a 3 a
1 d 19 b 12 a 4 b
2 b 20 d 5 a
3 b Módulo 7 6 b
4 b Módulo 4 1 b 7 e
5 b 1 c 2 c 8 a
6 a 2 b 3 e 9 b
7 b 3 f 4 d 10 b
8 c 4 a 5 c
9 a 5 d Módulo 11
10 b 6 b Módulo 8 1 e
11 a 7 c 1 d 2 e
12 b 8 a 2 b 3 e
13 b 9 d 3 d 4 c
14 e 10 d 4 b 5 a
15 b 11 e 5 c 6 a
16 b 12 a 6 a 7 e
17 b 13 b 7 b 8 a
18 b 14 b 8 c 9 e
15 c 9 d 10 a
Módulo 3 10 c
1 a Módulo 5 11 b Módulo 12
2 b 1 c 12 b 1 c
3 d 2 a 13 e 2 c
4 b 3 b 14 b 3 b
5 a 4 b 15 a 4 c
6 a 5 e 16 a 5 a

Curso de Mergulho CMAS P1 207


RESPOSTAS AOS QUESTIONÁRIOS

6 c 6 a 7 b
7 a 7 b 8 a
8 a 8 c 9 b
9 a 9 f 10 c
10 a Módulo 17
Módulo 14 1 b
Módulo 13 1 d 2 c
(a) 2 a 3 a
1 c 3 a 4 b
2 b 4 a 5 a
3 b 5 c
4 e 6 b
5 c 7 b
6 b 8 c
7 b 9 c
8 a 10 a
9 b
10 b Módulo 15
11 c 1 d
12 a 2 e
13 c 3 a
4 a
(b) 5 b
1 e 6 b
2 d 7 b
3 a 8 b
4 c 9 a
5 b 10 a

(c) Módulo 16
1 a 1 b
2 a 2 c
3 f 3 e
4 e 4 a
5 d 5 c
6 a

208 Curso de Mergulho CMAS P1


Curso de Mergulho CMAS P1 209
NOTAS

210 Curso de Mergulho CMAS P1


NOTAS

Curso de Mergulho CMAS P1 211

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