Você está na página 1de 170

Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Geociências
Departamento de Geografia

Ronaldo Alves Belém

Zoneamento ambiental e os desafios da implementação do


Parque Estadual Mata Seca, Município de Manga, Norte de
Minas Gerais

Minas Gerais – Brasil


Janeiro – 2008

1
Ronaldo Alves Belém

Zoneamento ambiental e os desafios da implementação do


Parque Estadual Mata Seca, Município de Manga, Norte de
Minas Gerais

Dissertação apresentada ao curso de Pós


Graduação em Geografia, do Instituto de
Geociências da Universidade Federal de
Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Geografia

Área de concentração: Análise Ambiental

Orientadora: Profª. Dra. Vilma L. M. Carvalho

Co-orientador: Prof. Dr. Bernardo M. Gontijo

Belo Horizonte
Instituto de Geociências da UFMG
2008

2
A meu pai José Alves Belém e à minha mãe Maria de Lourdes Alves pois a vitória
materializada neste trabalho só foi possível graças à trajetória de lutas que eles
trilharam em prol do meu crescimento pessoal e profissional

À memória de meu grande irmão José Alves Belém Filho a quem eu sempre serei
grato por sua influência na minha iniciação ao hábito de ler

À Juliana Xavier de Freitas: companheira de caminhada que sempre esteve ao meu


lado com seu carinho, amor, dedicação e compreensão

3
AGRADECIMENTOS

À professora Vilma Lúcia Macagnan Carvalho por ter me ajudado a aceitar e a levar
a diante o grande desafio que esse mestrado representava. Sem o seu apoio,
compreensão e incentivo não seria possível a concretização desse trabalho;

Ao professor Bernardo Machado Gontijo pela amizade, sugestões, críticas


construtivas e constantes palavras de apoio e incentivo ao meu trabalho;

À professora Cristiane Valéria Oliveira pelas dicas e sugestões que foram


fundamentais na definição dos rumos desse trabalho;

Ao professor Celso Baeta Neves por suas sugestões e palavras de incentivo para
esse trabalho;

À professora Ângela Imaculada Dalben da Faculdade de Educação da UFMG: seu


incentivo e exemplo na arte de educar nunca serão esquecidos;

Ao professor Oswaldo Bueno Amorim Filho: a cada conquista não posso esquecer
do entusiasmo e encantamento que o seu grande exemplo desperta em nós;

Ao Zé Luís, Gerente do Parque Estadual Mata Seca. Com toda a minha sinceridade:
Muito obrigado por tudo e saiba eu não tenho palavras que possam expressar a
grandeza da gratidão que eu devo a você;

À professora Maria de Jesus Rodal da Universidade Federal de Pernambuco pelas


dicas e importantes sugestões para esse trabalho;

À Maísa Araujo: pela amizade, apoio e por todo seu empenho na elaboração dos
mapas;

4
Ao Instituto Estadual de Floresta – IEF/MG por todo apoio a esse trabalho e
principalmente pela concessão do material digital que permitiu a elaboração dos
mapas;

Ao CPRM e Copasa pela concessão das fotografias aéreas;

Ao professor Phillpe Maillard pelas imagens de satélites;

Aos amigos Guilherme, Wellington e Adriana Angélica pelo apoio, incentivo e grande
amizade;

À Diza pela amizade, apoio, incentivo e por me abrir as portas da sua casa em Belo
Horizonte;
Aos meus colegas de curso: Mariana Mungai, Karina Dal Pont, Cristiane, Renata
Silvano, Wanderson, Angela Andréa, Maíra, Álvaro, Luciana Alt, Vanessa Link,
Morel, Gizele e Marcela Scott;

À Dávila Patrícia Ferreira Cruz pelo belíssimo desenho da capa;

À Anne Caroline Veloso pela disposição e entusiasmo para expressar a sua


sensibilidade poética nesse trabalho;

Ao amigo Aloísio pela força na organização dos desenhos do Corel Draw;

Aos meus amigos e colegas de trabalho no Colégio Delta: Sônia, Janine, Talita,
Sílvia, Elaine, Jurandir e Kênia. Muito obrigado por tudo;

Aos meus alunos do Colégio Delta e Escola Estadual Augusta Valle pelo incentivo,
amizade e compreensão nos momentos difíceis;

A Deus pela graça da oportunidade de realizar este sonho.

5
Maravilhosa de fato
A beleza cíclica que aos olhos cativa
Ora seca, murcha, em pedaços
Ora verde, exuberante e viva

Se é seca: se guarda, espera


Se é chuva: renasce, embeleza

Habitat da graciosa barriguda


Com seus galhos a rezar para o céu
Prestes a iniciar caminhada
Muito tronco ou muito véu

Como o sertanejo, resistente à adversidade


Recolhida em secura, se é sol em brasa
Ou um espetáculo de verde graciosidade
Se chuva forte a seu solo agrada

A beleza que encanta e fascina


De uma visão que jamais feneça
Esplendor que não cabe só em rima
Mistérios e virtudes da Mata Seca

Anne Caroline Veloso

6
RESUMO

O Parque Estadual Mata Seca localiza-se no município de Manga, Norte do


Estado de Minas Gerais e apresenta um mosaico vegetacional bastante complexo
devido à diversidade de formações vegetais encontradas dentro dos seus limites.
Além das diversas fitofisionomias do bioma Caatinga o Parque também possui áreas
de pastagens artificiais, manchas de Florestas Decíduas alteradas em diferentes
estágios sucessionais e Lagoas Marginais de grande importância para a biota do Rio
São Francisco. A área vem sofrendo diversos tipos de pressões antrópicas como a
prática da agricultura irrigada, queimadas, carvoejamento clandestino, pisoteio do
gado, pesca e caça predatórias. Esse trabalho fez um zoneamento ambiental que
possa subsidiar a implementação dessa unidade de conservação, além de contribuir
para a discussão sobre os desafios que surgem à medida que uma área de proteção
integral é implementada. Esse zoneamento foi realizado através de uma
metodologia que se baseia no mapeamento de biótopos. Foram identificados e
mapeados nove biótopos constatando que a unidade de conservação apresenta
uma expressiva variedade de ambientes. Posteriormente foi realizada uma
caracterização através de um planilhamento e descrição sumária das áreas
amostrais dos biótopos. A Floresta Estacional Decidual de alto porte, a Caatinga
Arbórea Aberta e as Matas Ciliares se destacaram por apresentar um ótimo estado
de conservação e um avançado processo de sucessão ecológica. As Lagoas
Marginais e a Floresta de Afloramentos mostraram-se bastante conservados e com
poucos impactos. O Biótopo Florestas Alteradas apresentou impactos como o
pisoteio do gado e o efeito de borda. A Sede, o Pivô Cultivado e o Pivô abandonado
foram os biótopos mais impactados. A identificação e valoração dos biótopos
utilizando-se graus de relevância e indicadores ecológicos permitiram o
estabelecimento de zonas específicas para a área. O Parque foi dividido em três
zonas, a saber :Zona Intangível, Zona Primitiva e Zona de Recuperação. A Zona
Intangível possui a melhor qualidade ambiental da unidade de conservação,
ocupando 64,61% de sua extensão, o que reforça a sua importância na
conservação da área e indica a necessidade de ações que visem a sua proteção.
A Zona Primitiva ocupa 33,59% da unidade de conservação e apresentou uma
7
qualidade ambiental considerável. No entanto, essa zona abrange áreas que
precisam de ações que assegurem a completa e equilibrada regeneração das
florestas aí existentes. A Zona de Recuperação ocupa a menor extensão dentro da
unidade de conservação(1,80%) evidenciando a elevada qualidade ambiental do
Parque como um todo. No entanto, deve-se ressaltar que a Zona de Recuperação
merece um tratamento muito especial por abranger os biótopos que refletem as
maiores alterações e impactos sofridos pela vegetação original da área.

8
ABSTRACT

The State Park Dry Forest is located in the municipality of Manga, north of the
state of Minas Gerais and vegetation mosaic presents a very complex due to the
diversity of plant formations found within its limits. Apart from the various vegetable
formation biome Caatinga the Park also has areas of artificial pastures, patches of
deciduous forests Forests changed in different successional stages and Ponds banks
of great importance to the biota of the river San Francisco. The area is suffering
various types of human pressures such as the practice of irrigated agriculture, fires,
illegal charcoal, to trample of livestock, fishing and hunting predatory. This study
sought to make an environmental zoning that could subsidize the implementation of
the conservation unit, in addition to contributing to the discussion of the challenges
that arise as an area of protection is fully implemented. This zoning was conducted
through a methodology that is based on the mapping of biotopes. They were
identified and mapped nine biotopes noting that the conservation unit gives an
expressive variety of environments. Later a characterization was accomplished
through a planilhamento and description of the sample areas of biotopes. The
Seasonal Forest Deciduous of high size, the Caatinga forest Open and Banks forest
stood out by presenting a good state of repair and an advanced process of ecological
succession. The Ponds Banks and Forest of appear showed up quite preserved and
with few impacts. The biotope Forests Altered presented as to trample impacts of
cattle and the effect of edge. The Headquarters, the Pivot Cultivated in Pivot
abandoned biotopes were more impacted. The identification and valuation of
biotopes, using degrees of relevance and ecological indicators led to the
establishment of special zones for the area. The park was divided into three zones,
namely: Intangible Zone, Zone early in the Recovery Zone. The Zone Intangible has
the best environmental quality of the unit for storage, occupying 64.61% of its
extension, which reinforces its importance in the conservation of the area and
indicates the need for actions aimed at their protection. The early Zone occupies
33.59% of the unit of conservation and presented a considerable environmental
quality. However, this area covers areas that require actions that ensure the full and
balanced regeneration of forests existing there. The Zone of Recovery occupies a
9
lesser extent within the conservation unit (1.80%) showing the high environmental
quality of the park as a whole. However, it should be emphasized that the Zone of
Recovery deserves a very special treatment by cover biotopes that reflect the major
changes and impacts suffered by the original vegetation of the area. Finally, the
paper discusses the solution to the problems that threaten the preservation of natural
resources of the park from a perspective that considers the socioeconomic and
cultural context of the region to attain the real purposes of environmental zoning is to
ensure that the environmental quality of resources water and soil conservation and
biodiversity, ensuring sustainable development and improvement of living conditions
of the population.

10
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - A Mata Seca em dois períodos: chuvas e estiagem --------------------- 45


Figura 2 - Mapa da vegetação do Norte de Minas ------------------------------------- 47
Figura 3 - Áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade em Minas - 53
Figura 4 - Mapa de localização do Parque Estadual Mata Seca ------------------- 58
Figura 5 - A geologia da Região da região do Parque Estadual Mata Seca ---- 63
Figura 6 - A Caatinga Arbórea Aberta no período de chuvas ----------------------- 69
Figura 7 - Mapa de biótopos do Parque Estadual Mata Seca ---------------------- 86
Figura 8 - Localização e aspecto geral do Biótopo 1 --------------------------------- 94
Figura 9 - Transecto do Biótopo 1---------------------------------------------------------- 95
Figura 10 - Localização e aspecto geral do biótopo 2 -------------------------------- 101
Figura 11 - Transecto do biótopo 2 -------------------------------------------------------- 102
Figura 12 - Localização e aspecto geral do Biótopo 3 -------------------------------- 106
Figura 13 - Transecto do biótopo 3 -------------------------------------------------------- 107
Figura 14 - Localização e aspecto geral do Biótopo 4 -------------------------------- 110
Figura 15 - Transecto do biótopo 4 -------------------------------------------------------- 111
Figura 16 - Localização e aspecto geral do Biótopo 5 -------------------------------- 115
Figura 17 Transecto do biótopo 5 --------------------------------------------------------- 116
Figura 18 – Localização e aspecto geral do Biótopo 6 ------------------------------- 120
Figura 19 – Localização e aspecto geral do Biótopo 7 ------------------------------- 123
Figura 20 - Transecto do Biótopo 7 -------------------------------------------------------- 124
Figura 21 – Localização e aspecto geral do Biótopo 8 ------------------------------- 127
Figura 22 - Transecto do Biótopo 8 -------------------------------------------------------- 128
Figura 23 – Localização e aspecto geral e do Biótopo 9 ----------------------------- 131
Figura 24 - Transecto do Biótopo 9 -------------------------------------------------------- 132
Figura 25 - Mapa de zonas do Parque Estadual da Mata Seca -------------------- 148
Figura 26 - Área ocupada (%) pelas zonas do Parque Estadual Mata Seca --- 150
Figura 27 - Capa: Cavanillesia arbórea – árvore símbolo do Parque Estadual
Mata Seca /Desenho elaborado por Dávila Patrícia Ferreira Cruz

11
LISTA DE TABELAS

1 - Número e área das unidades de conservação do Brasil ------------------- 33


2 - Número e área das unidades de conservação de Minas Gerais --------- 35
3 - Espécies da Floresta Decídua ameaçadas de extinção -------------------- 51
4 - Unidades de conservação de proteção integral em áreas de Mata
Seca ------------------------------------------------------------------------------------------ 54
5 - Fitofisionomias do Estado de Minas Gerais ----------------------------------- 55
6 - Planilha para mapeamento de biótopos ---------------------------------------- 76
7 - Valores dos indicadores do Critério Estado de Conservação ------------- 79
8 - Valores dos indicadores do Critério Riqueza de Espécies ----------------- 80
9 - Valores dos indicadores do Critério Diversidade de Ambientes ---------- 81
10 - Valores dos indicadores do Critério Função Ecológica ------------------- 82
11 - Valores dos indicadores do Critério Atividade Acadêmica --------------- 83
12 - Valores dos indicadores do Critério Educação Ambiental ---------------- 84
13 - Relações entre as zonas e os intervalos de classes ---------------------- 84
14 - Síntese de dados do Biótopo 1 -------------------------------------------------- 90
15 - Síntese de dados do Biótopo 1 -------------------------------------------------- 91
16 - Síntese de dados do Biótopo 1 -------------------------------------------------- 92
17 - Síntese de dados do Biótopo 1 -------------------------------------------------- 93
18 - Síntese de dados do Biótopo 2 -------------------------------------------------- 98
19 - Síntese de dados do Biótopo 2 -------------------------------------------------- 99
20 - Síntese de dados do Biótopo 2 -------------------------------------------------- 100
21 - Síntese de dados do Biótopo 3 -------------------------------------------------- 105
22 - Síntese de dados do Biótopo 4 -------------------------------------------------- 109
23 - Síntese de dados do Biótopo 5 -------------------------------------------------- 114
24 - Síntese de dados do Biótopo 6 -------------------------------------------------- 119
25 - Síntese de dados do Biótopo 7 -------------------------------------------------- 122
26 - Síntese de dados do Biótopo 8 -------------------------------------------------- 126
27 - Síntese de dados do Biótopo 9 -------------------------------------------------- 130
28 - Valoração dos indicadores e médias do Estado de conservação ------ 134

12
29 - Valoração dos indicadores e médias da Diversidade de ambientes -- 136
30 - Valoração dos indicadores e médias da Função ecológica -------------- 138
31 - Valoração dos indicadores e médias da Riqueza de espécies --------- 140
32 - Valoração dos indicadores e médias da Educação ambiental ---------- 142
33 - Valoração dos indicadores e médias da Atividade acadêmica ---------- 145
34 - Relação entre as zonas e os intervalos de classes------------------------ 147
35 - Classificação dos biótopos em zonas ----------------------------------------- 149

13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMDA - Associação Mineira de Defesa do Ambiente


APA - Área de Proteção Ambiental
CETEC - Centro de Agricultura Alternativa
CODEVASF Companhia de desenvolvimento do Vale do São Francisco
-
COMIG - Companhia de Mineração de Minas Gerais
COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental
CPRM - Companhia de Pesquisa e Recursos Naturais
DN - Deliberação Normativa
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FLONA - Floresta Nacional
EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
FNMA- Fundação Nacional de Meio Ambiente
FUNATURA Fundação Pró Natureza
-
GPS - Global Position System
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEF - Instituto Estadual de Florestas
INDI - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais
ITER - Instituto de Terras de Minas Gerais
IUCN - União Mundial Pela Natureza
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PARNA - Parque Nacional
REBIO - Reserva Biológica
RESEX - Reserva Extrativista
RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural
14
SEMA - Secretaria Especial de Meio Ambiente
SGE - Serviço Geográfico do Exército
SIG - Sistema de Informação Geográfica
SNUC - Sistema Nacional de Unidade de Conservação
SP - Espécie
SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
UFLA - Universidade Federal de Lavras
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros

15
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
1.INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 19
2. REFERENCIAL TEÓRICO---------------------------------------------------------------- 23
2.1 Zoneamento ambiental -------------------------------------------------------------- 36
2.2 Mapeamento de biótopos ----------------------------------------------------------- 39
3. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA---------------------- 57
3.1 Processo de ocupação e uso do solo do Norte de Minas ------------------ 59
3.2 O Município de Manga no contexto do fisiográfico do Norte de Minas 61
3.2.1 Geologia -------------------------------------------------------------------------- 62
3.2.2 Geomorfologia ------------------------------------------------------------------ 64
3.2.3 Pedologia ------------------------------------------------------------------------ 64
3.2.4 Clima ------------------------------------------------------------------------------ 65
3.2.5 Vegetação ----------------------------------------------------------------------- 66
3.2.6 Hidrografia ----------------------------------------------------------------------- 70
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS--------------------------------------------- 71
4.1 Mapeamento de biótopos ---------------------------------------------------------- 71
4.1.1 Atividade preliminar ----------------------------------------------------------- 72
4.1.2 Revisão teórica------------------------------------------------------------------ 72
4.1.2.1 Análise cartográfica e aerofotogramétrica --------------------- 72
4.1.3 Elaboração do mapa preliminar -------------------------------------------- 73
4.1.4 Elaboração do mapa final ---------------------------------------------------- 73
4.1.5 Caracterização dos biótopos ------------------------------------------------ 74

16
4.1.6 Elaboração das tabelas-síntese com dados das planilhas ---------- 77
4.1.7 Definição dos critérios e indicadores de caracterização ------------- 77
4.1.7.1 Definição da escala de valores para cada indicador ------ 78
4.1.8 Os critérios e indicadores dos biótopos ---------------------------------- 78
4.1.8.1 Estado de conservação ------------------------------------------- 78
4.1.8.2 Riqueza de espécies ---------------------------------------------- 79
4.1.8.3 Diversidade de ambientes --------------------------------------- 80
4.1.8.4 Função ecológica---------------------------------------------------- 81
4.1.8.5 Atividade acadêmica ---------------------------------------------- 82
4.1.8.6 Potencial para educação ambiental --------------------------- 83
4.1.9 Determinação das zonas do Parque Estadual Mata Seca --------- 84
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES-------------------------------------------------------- 85
5.1 Delimitação e mapeamento final de biótopos --------------------------------- 85
5.1.1 Biótopo 1 Florestas alteradas ----------------------------------------------- 88
5.1.2 Biótopo 2 Floresta Estacional Decidual de alto porte ---------------- 96
5.1.3 Biótopo 3 Floresta Estacional de afloramentos ------------------------ 103
5.1.4 Biótopo 4 Floresta Perenifólia – Mata ciliar ----------------------------- 108
5.1.5 Biótopo 5 Caatinga Arbórea Aberta – Furado -------------------------- 112
5.1.6 Biótopo 6 Lagoas Marginais ------------------------------------------------ 117
5.1.7 Biótopo 7 Pivô Abandonado ------------------------------------------------ 121
5.1.8 Biótopo 8 Pivô Cultivado ----------------------------------------------------- 125
5.1.9 Biótopo 9 Sede ----------------------------------------------------------------- 129
5.2 Avaliação da qualidade ambiental dos biótopos ------------------------------ 133
5.2.1 Estado de conservação ------------------------------------------------------ 133
5.2.2 Diversidade de ambientes --------------------------------------------------- 135
5.2.3 Função ecológica--------------------------------------------------------------- 137
5.2.4 Riqueza de espécies ---------------------------------------------------------- 139
5.2.5 Potencial para educação ambiental --------------------------------------- 141
5.2.6 Atividade acadêmica ---------------------------------------------------------- 143
5.3 Classificação dos biótopos em zonas e os desafios do Parque 146
Estadual Mata Seca
5.3.1 Os principais desafios do Parque Estadual Mata Seca -------------- 153
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------- 159
17
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------- 163

18
1. INTRODUÇÃO

O Norte de Minas Gerais apresenta um quadro socioeconômico e ambiental


com peculiaridades que formam um universo de análise extremamente favorável ao
estudo das unidades de conservação e dos seus respectivos problemas
socioambientais. Mesmo com algumas tentativas de promover o desenvolvimento
social e econômico da região o Norte de Minas continua se destacando, ao lado do
Vale do Jequitinhonha, como uma das áreas mais pobres do Estado. Em estudos
que resultaram na produção do Atlas da Exclusão Social do Brasil, Pochmann &
Amorim( 2003) constataram que grande parte dos municípios da região apresenta
péssimos indicadores sociais e estão entre os mais carentes de Minas Gerais. Parte
desses municípios se encontra no entorno de um projeto que foi criado para ser a
redenção do Norte de Minas: o Projeto de Irrigação do Jaíba implantado no Vale do
São Francisco.
A história econômica brasileira revela que foi o Projeto Jaíba que inseriu o
Norte de Minas no contexto dos grandes projetos do governo militar, criados na
década de 1970. Considerado como o maior projeto de irrigação da América Latina,
o Projeto Jaíba proporcionou avanços, mas não promoveu as mudanças
socioeconômicas necessárias para o rompimento dos contrastes existentes entre o
Norte de Minas e as demais regiões do Estado. Além do mais, a ausência de
preocupação com o meio ambiente fez com que o projeto resultasse na destruição
de praticamente todo revestimento de Floresta Estacional Decidual de alto porte da
área conhecida como “Mata do Jaíba”.
Ao propor a criação da Etapa II do Projeto no início dos anos 90, o governo
Estadual teve que atender a uma série de condicionantes ambientais determinadas
pelo Copam e que reflete o amadurecimento das preocupações ambientais no
âmbito da sociedade civil e o fortalecimento das instituições ambientais do Estado
nas últimas décadas. Nesse contexto, o Parque Estadual Mata Seca foi criado pelo
Decreto 41.479 de 20 de Dezembro de 2000 e resultou de uma condicionante
ambiental que exigia a criação de uma unidade de conservação na margem
esquerda do Rio São Francisco no Norte de Minas Gerais. Entretanto, outras
condicionantes importantes, como a regularização fundiária e a integração das

19
Unidades de Conservação da região através do Sistema de Áreas Protegidas do
Jaíba – SAP, ainda não foram cumpridas.
O Parque Estadual Mata Seca enfrenta sérios problemas como as
queimadas, o desmatamento clandestino, o pastoreio do gado, a presença de um
pivô central em funcionamento dentro de seus limites, a caça e a pesca predatórias.
Esses problemas são típicos das unidades de conservação do nosso Estado e a
presença dos mesmos se explica, principalmente, pelo fato do poder público ter
criado as áreas protegidas e não ter promovido a criação dos mecanismos
necessários para implementação efetiva das unidades de conservação. Em outras
palavras, essas unidades de conservação existem porque os decretos que
asseguram a sua existência legal foram assinados, mas elas precisam
urgentemente de um plano de manejo e da regularização de suas terras para que
deixem de ser simples “parques de papel” ( GONÇALVES et al,2005).
No caso do Parque Estadual Mata Seca, as suas terras faziam parte de
quatro fazendas e o processo de regularização fundiária dessa unidade de
conservação está paralisado em função de uma disputa judicial provocada pelo fato
de um dos proprietários não ter aceitado a proposta de compra oferecida pelo
Instituto Estadual de Florestas-IEF em 2007. Por isso, ainda existe um pivô central
sendo usado para o cultivo de tomate dentro dos limites do Parque e a presença do
gado pastando por toda a extensão da área é uma constante. A informação do IEF
é que a última safra do tomate acontecerá em 2007 e que o arrendamento das
terras para pecuaristas estará proibido em 2008. Por outro lado, não se sabe ao
certo quando o Parque não mais enfrentará problemas relacionados às
comunidades de entorno que freqüentemente desmatam e usam as terras próximas
ao Rio São Francisco e às lagoas marginais para a prática da pecuária e da
agricultura de vazante. Também existem registros de problemas relacionados à caça
e à pesca predatórias dentro dos limites do Parque e de seu entorno. É bem
provável que todos esses problemas sejão solucionados com a regularização
fundiária e com a criação de um plano de manejo que garantirá a implementação
efetiva do Parque.
No entanto, é importante ressaltar que a regularização fundiária das unidades
de conservação de Minas Gerais já é em si um grande desafio a ser enfrentado
pelo poder público, uma vez que tem sido muito difícil a alocação dos recursos
20
necessários para a solução desse problema. O mecanismo de compensação
ambiental que determina que 0,5 % do custo de implantação de empreendimentos
nocivos ao meio ambiente seja aplicado na regularização das unidades de
conservação, representa uma esperança. O problema é que ainda não se observa
eficiência nas regras que estabelecem a aplicação dos recursos.
A solução definitiva para os problemas das unidades de conservação passa
pela definição da questão fundiária, mas essa não é a única questão a ser
enfrentada. Independente de qualquer decisão tomada pelo Estado para regularizar
as terras das unidades de conservação, o quadro socioambiental das mesmas
precisa ser conhecido e mapeado em sua totalidade, a fim de que o poder público
possa ter elementos para a elaboração de um plano de manejo que irá determinar o
destino e o uso de todos os seus recursos ambientais.
De acordo com essa perspectiva de análise, a não regularização fundiária e a
ausência de um plano de manejo dificultam a implementação do Parque Estadual
Mata Seca e acentuam todos os problemas que afetam essa unidade de
conservação, pondo em risco a preservação da rica biodiversidade encontrada na
área. Mas faz-se necessário que esse Parque seja antes de tudo mapeado,
conhecido e analisado dentro de um contexto socioeconômico e cultural. Nesse
sentido, este trabalho tem como objetivo fazer um zoneamento ambiental
como subsídio à elaboração de um plano de manejo que irá promover a
implementação do Parque Estadual Mata Seca e instituir o uso adequado dos
diversos recursos ambientais dessa unidade de conservação. Entretanto,
pretende-se apresentar o zoneamento ambiental como o centro de uma discussão
sobre os desafios sociais, ambientais e econômicos que precisam ser enfrentados
para garantir que as unidades de conservação cumpram os papéis determinados
pelas categorias de manejo de uma maneira equilibrada e sem conflitos.
Esse zoneamento ambiental será realizado através de uma metodologia que
se baseia no mapeamento de biótopos. O biótopo é a expressão espacial de uma
biocenose que abrange elementos bióticos e abióticos em interdependência. Assim,
o trabalho se propõe a identificar, caracterizar e mapear os diferentes biótopos
visando a criação das zonas nas quais o poder público estabelecerá os
regimes de uso e o manejo que garantirá a efetiva implementação do Parque
Estadual Mata Seca. Deve-se ressaltar que esse Parque destaca-se por
21
apresentar um dos mais expressivos remanescentes pouco alterados ou nativos de
Floresta Estacional Decidual de alto porte no Estado de Minas Gerais. Sabe-se que
as Florestas Estacionais Deciduais são pouco conhecidas, enquanto que as
pressões antrópicas através do carvoejamento e expansão da agropecuária
devastam imensas áreas de vegetação nativa. Por isso, o trabalho pretende
atender à necessidade de novas pesquisas sobre essa importante formação
vegetal, criando subsídios que possam adiantar o processo de implantação do
Parque Estadual Mata Seca e de outras unidades de conservação nas áreas de
ocorrência de remanescentes de Matas Secas no Estado.
Por fim, toda essa problemática apresentada e as outras questões que serão
reveladas pelo zoneamento representam os desafios que precisam ser superados
para garantir que o Parque Estadual Mata Seca assuma de fato a função que a sua
categoria de manejo estabelece.

22
2. REFERENCIAL TEÓRICO: O PARQUE ESTADUAL MATA SECA NO
CONTEXTO DOS GRANDES DESAFIOS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E
DAS FLORESTAS ESTACIONAIS DECIDUAIS DO BRASIL

A relação entre o homem e o seu ambiente tem variado ao longo do tempo


e entre regiões e culturas. Entretanto, mesmo diante de diferentes comportamentos
e visões de mundo o homem contemporâneo tem tido cada vez mais certeza de
que a Terra se encontra em uma situação crítica em função da maneira pela qual
as sociedades humanas têm-se relacionado com o planeta. Assim, os efeitos da
apropriação predatória dos recursos naturais nunca foram tão visíveis como na
atualidade. De acordo com Brito & Câmara (1998), esses efeitos estão relacionados
principalmente ao fato dos modelos de desenvolvimento das civilizações até
nossos dias terem sido projetados pelo homem para acumular riquezas materiais,
bens e serviços.
De acordo com Camargos (1999), as modificações ambientais impostas
pelo modo de produção da sociedade contemporânea vêm obrigando a
humanidade a pensar na possibilidade da biodiversidade do planeta ser reduzida
drasticamente devido à intensa utilização dos recursos naturais. Por isso, após a
Revolução Industrial e principalmente após a segunda metade do século XX, a
questão ambiental vem ganhando força nos debates políticos internacionais e, como
conseqüência, vem-se estabelecendo a criação de áreas destinadas à proteção
dos ecossistemas relevantes que estão ameaçados de extinção.
Para Miller (1997), umas das mais antigas referências documentadas sobre
debates envolvendo a questão ambiental e a criação de áreas verdes protegidas foi
encontrada na Ásia, onde o imperador Ashocka, da Índia, em 252 a.C.,determinou a
proteção de certos animais em áreas de florestas. Existem outros documentos que
registram a criação de diversas áreas protegidas ao longo dos séculos que
antecederam a Revolução Industrial, mas essas áreas destinavam-se à caça ou
para a proteção de lugares sagrados de comunidades tradicionais (MILLER, 1997).
Para Cardoso (2002), o marco internacional da política de criação de áreas
protegidas (unidades de conservação) iniciou-se com a implantação do Parque
Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos.

23
No Brasil, a discussão sobre a criação de Unidades de Conservação
também pode ser considerada como antiga, pois José Bonifácio, no início do século
XIX, sugeriu a criação de um setor específico que cuidasse da conservação das
florestas ( BRITO & CÂMARA, 1998). Para Camargos (2001), no final do século XIX,
André Rebouças propôs a criação dos Parques Nacionais de Sete Quedas e da Ilha
do Bananal baseando-se no modelo estabelecido nos Estados Unidos, mas não
conseguiu viabilizar o seu projeto. As unidades de conservação só vieram ganhar
destaque no Brasil a partir de 1937, quando foi criado o primeiro Parque Nacional
brasileiro – o Itatiaia, localizado entre os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Em Minas Gerais, o Parque Estadual do Rio Doce, criado em 1944, destaca-se
como o primeiro Parque criado pelo poder público Estadual. No entanto, vale
ressaltar que o número de Unidades de Conservação criadas no Brasil aumentou
principalmente a partir da década de 1960.
Em 1972, realizou-se em Estocolmo, na Suécia, a Conferência da ONU
sobre o ambiente humano que gerou a declaração sobre o Meio Ambiente. Em
sintonia com o avanço da consciência ambiental no mundo, surge no Brasil em 1973
o primeiro órgão de política ambiental do país: a Secretaria Especial de Meio
Ambiente (SEMA). Em 31 de agosto de 1981, foi sancionada a Lei n. 6938, que
dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos. Para
Brito & Câmara (1998), esse documento foi considerado um avanço na história do
meio ambiente do Brasil, pois demonstrou que a classe política brasileira evoluiu no
tocante ao trato com as questões ambientais do país. Em 1988, houve a
promulgação da primeira constituição brasileira a dar destaque sobre a questão
ambiental. Assim, toda a legislação sobre o meio ambiente passa a ter apoio na
Constituição, no Título VIII/Capítulo VI – do Meio Ambiente, que, no Artigo 225,
Parágrafo III determina incumbir ao poder público –

definir , em todas as unidades da federação, espaços territoriais e


seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção (BRASIL, 1988, p.146).

Mas o grande acontecimento que marca a história da questão ambiental no


Brasil foi a realização da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e

24
Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992. Nos anos posteriores a esse evento
constata-se o amadurecimento da consciência ambiental em todos os setores da
sociedade brasileira. Em conseqüência, as autoridades passam a ver a criação de
unidades de conservação como uma das principais estratégias encontradas para
minimizar a interferência antrópica sobre os ecossistemas naturais. De acordo com
Cardoso (2002), no início da década de 1990, o poder público federal, através do
Projeto de Lei 2.892/92, propôs a criação do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), criando as condições necessárias para que os diversos
setores da sociedade civil pudessem discutir os objetivos da conservação numa
perspectiva aplicável à realidade brasileira. Depois de um longo período de debates
envolvendo diversos interesses, promulgou-se a Lei 9.985 de 18 de julho de 2000,
instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que
estabelece critérios e normas para a criação, implementação e gestão das Unidades
de Conservação (CARDOSO, 2002).
As unidades de conservação são definidas por Camargos (1999, p. 25),
como

Áreas destinadas a ordenamento do processo de ocupação em


territórios que apresentem aspectos naturais relevantes, tais como,
mananciais hídricos, sítios geomorfológicos, remanescentes
vegetacionais em diversos estágios de conservação, endemismo de
fauna, flora, espécies ameaçadas de extinção, etc.

O Artigo 2º do Sistema Nacional de Unidades de Conservação define


Unidade de Conservação como

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção ( SNUC, 2000).

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação em seu Artigo 7º define


duas categorias para as unidades de conservação do Brasil: as unidades de
proteção integral e as unidades de uso sustentável. As unidades de proteção integral
têm como objetivo básico preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nessa Lei. As
25
unidades de uso sustentável, por outro lado, visam compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (SNUC,
2000). No grupo das unidades de conservação de uso indireto, proteção integral,
estão os Parques Nacionais, as Reservas Biológicas, as Estações Ecológicas e as
Reservas Ecológicas. No grupo das unidades de conservação de uso direto estão as
Florestas Nacionais (FLONAS), as Reservas Extrativistas, as Áreas de Proteção
Ambiental (APAS) e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).
Conforme o SNUC (2000), assim são definidos os tipos de unidades de
conservação no Brasil:
1.Parques Nacionais (PARNAS). São áreas de domínio público, constituídas por
ecossistemas naturais, em geral de grande beleza cênica e têm como objetivo
preservar a natureza, em especial, a fauna, a flora e os monumentos naturais, além
de proporcionar oportunidade para a pesquisa cientifica, a educação ambiental, o
lazer e o turismo. É uma Unidade de Conservação de uso indireto. Dentre os
principais PARNAS do Brasil destacam-se o Parque Nacional do Itatiaia, o Parque
Nacional do Caparaó, O Parque Nacional da Chapada Diamantina, Parque
Nacional da Serra do Cipó, entre outros. Na categoria Parque Nacional, são
incluídos os Parques estaduais e municipais que devem ser administrados pelo
órgão Estadual competente e pela prefeitura municipal, respectivamente. Em Minas
Gerais, cabe ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) a incumbência da
administração dos Parques estaduais que tiveram a sua quantidade ampliada
expressivamente nos últimos anos. De acordo com dados disponíveis no site do
Instituto Estadual de Florestas – IEF/MG em 31.12.20071, o Estado conta com 29
Parques estaduais, sendo que 7 desses Parques cobrem áreas com Florestas
Estacionais Deciduais. O Parque Estadual Mata Seca, ao lado das outras áreas
protegidas do Norte de Minas, representa uma das principais unidades de
conservação voltadas para a preservação das matas secas de Minas Gerais.
2. Áreas de Proteção Ambiental (APAS). São áreas em geral extensas que têm
como finalidade disciplinar o processo de ocupação, assegurar o uso sustentável
dos recursos naturais e promover, quando necessária, a reabilitação dos
ecossistemas degradados. As atividades econômicas devem ser planejadas para
não causar danos ao meio ambiente. O que diferencia as APAS das demais

1
www.ief-mg.org.mg.br
26
unidades de Conservação é que elas não proíbem que o seu proprietário utilize a
sua propriedade no atendimento de sua função econômica Geralmente ocupam as
áreas de entorno dos Parques Nacionais com o objetivo de resguardar os atributos
naturais dos mesmos. A APA do Peruaçu e a APA da Serra do Cipó, ambas em
Minas Gerais, são dois importantes exemplos desse tipo de Unidade de
Conservação.
3.Reserva Extrativista (RESEX). São áreas de domínio público constituídas por
ecossistemas modificados, podendo incluir também ecossistemas naturais ou
cultivados. São ocupadas por populações tradicionalmente extrativistas, cuja
subsistência baseia-se na coleta de produtos da biota nativa. São Unidades de
Conservação de uso direto. Praticam a exploração auto-sustentável e conservação
dos recursos naturais renováveis por populações extrativistas. Como exemplo,
destaca-se a Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, no Acre.
4.Florestas Nacionais (FLONAS). São áreas com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e têm como objetivo a produção econômica
sustentável de madeira e outros produtos vegetais, a proteção de recursos
hídricos, a pesquisa cientifica - especialmente de métodos de exploração
sustentada das florestas.
5.Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). São categorias que
possibilitam aos proprietários institucionalizarem a criação de reservas naturais em
sua propriedades. O Parque do Caraça em Minas Gerais é exemplo desse tipo de
Unidade de Conservação.
6.Reservas Biológicas (REBIOS). São áreas que têm a finalidade de resguardar
atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da flora, da fauna
e das belezas naturais. Essa categoria de Unidade de Conservação é bastante
restritiva, pois são áreas que possuem ecossistemas relevantes ou características
naturais de importância científica nacional. Nas Reservas Biológicas, não é
permitido o acesso ao público, devido ao fato de elas conterem ecossistemas ou
comunidades frágeis.
7.estação Ecológica. São áreas representativas de ecossistemas brasileiros,
destinados à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção
do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação ambiental.

27
Esse grande número de categorias de manejo para as unidades de
conservação brasileiras se deve ao fato do país possuir dimensões continentais e
por ser um dos maiores detentores de biodiversidade no mundo. Proteger e garantir
o uso sustentável desse riquíssimo patrimônio natural representa um dos maiores
desafios nesse século XXI. O Congresso Mundial de Áreas Protegidas, organizado
pela União Mundial pela Natureza (IUCN), em 1992, estabeleceu que cada país
tivesse 10% de seu território como unidade de conservação (AMDA, 2005).
O conjunto formado por unidades de conservação federais e estaduais do
Brasil soma 133.210.655 hectares de áreas protegidas, o que corresponde a 15,64%
do território brasileiro. Para Rylands & Brandon (2005), além das unidades de
conservação federais e estaduais, existem outros tipos de áreas protegidas que
fazem importantes contribuições ao contexto socioambiental brasileiro. As reservas
indígenas, por exemplo, destacam-se como as mais relevantes. Conforme esses
autores, o Brasil é constituído de 441áreas indígenas que correspondem a 11,80%
do território brasileiro. A maioria dessas áreas já foi demarcada, mas ainda existem
outros muitos territórios sob avaliação dos órgãos públicos responsáveis pela
questão indígena.
Deve-se frisar que ainda existem as áreas verdes municipais e das
instituições de pesquisa e organizações não governamentais que não foram
consideradas no cálculo do percentual do território brasileiro que se encontra
protegido pelas unidades de conservação. Mas não restam dúvidas de que a
cobertura do território brasileiro pelas unidades de conservação é ainda insuficiente
se consideradas a riqueza da biodiversidade brasileira, o grau de ameaça dos
ecossistemas e o tamanho do território. Assim, esses números precisam aumentar
e os problemas das atuais áreas protegidas precisam ser resolvidos com urgência.
A busca pela solução desses inúmeros problemas é aqui entendida como o
conjunto de desafios das unidades de conservação brasileiras, uma vez que se
apresentam como algo que instiga a capacidade de encontrar alternativas ou
caminhos viáveis às situações vigentes.
Portanto, sabe-se que parte relativamente pequena dos ecossistemas
brasileiros se encontra em unidades de conservação de diferentes categorias de
manejo e, mesmo assim, a maioria dessas áreas protegidas não tem conseguido
cumprir as funções para as quais elas foram criadas e não estão garantindo a
28
preservação das riquezas naturais do país. Isto se deve à existência de muitas
unidades de conservação que ainda não foram efetivamente implementadas, o que
favorece a intensificação dos problemas que ameaçam a preservação dos recursos
naturais. Todos esses problemas constituem o conjunto de desafios que o poder
público e a sociedade civil precisam enfrentar para acelerar o processo de
implementação das unidades de conservação e assegurar a preservação dos
ecossistemas do país.
A situação de Minas Gerais reflete fielmente a realidade nacional, pois o
Estado possui um grande número de áreas protegidas à mercê dos inúmeros
problemas relacionados à não regularização das unidades de conservação. E
quando se analisa a questão do Parque Estadual Mata Seca no contexto da
preservação das Florestas Estacionais do Norte de Minas Gerais depara-se com
uma realidade complexa marcada por problemas que envolvem diversos atores
como o poder público, as organizações não governamentais, os empresários, os
produtores rurais e as populações tradicionais. Peculiaridades à parte, a situação do
Parque Estadual Mata Seca pode ser usada como base para uma discussão
acerca dos problemas ou desafios das unidades de conservação de Minas Gerais e
do Brasil como um todo, pois trata-se de uma realidade que apresenta problemas
comuns às demais situações encontradas no país. Dentre esses desafios
destacam-se a carência de recursos para a regularização fundiária das unidades de
conservação, a ausência de estudos voltados para o conhecimento das ações
necessárias nas unidades de conservação, a ausência de plano de manejo, a falta
de pesquisas destinadas à caracterização da biodiversidade dos ecossistemas, a
existência de comunidades tradicionais de entorno que fazem uso dos recursos das
unidades de conservação, a precariedade socioeconômica dessas comunidades
tradicionais e a existência de produtores rurais que vêem as unidades de
conservação como um empecilho aos seus interesses econômicos.
Para o IBAMA (1997), a falta de recursos para a regularização fundiária
das unidades de conservação representa um dos grandes desafios a serem
enfrentados pelos órgãos gestores do meio ambiente no Brasil. Provavelmente, esse
seja um dos mais sérios problemas das áreas protegidas, uma vez que as terras
não sendo regularizadas tem-se o desencadeamento de uma série de conflitos
envolvendo o uso dos recursos naturais das unidades de conservação. De acordo
29
com a AMDA (2005), o problema da não regularização fundiária é um dos grandes
obstáculos da manutenção das unidades de conservação de Minas Gerais, pois o
fato de o poder público não ser o dono das terras impede que os órgãos gestores e
fiscalizadores executem as suas atribuições para impedir que as unidades de
conservação sejam afetadas pelas pressões antrópicas. No caso do Parque
Estadual Mata Seca, essa unidade de conservação foi criada através da junção de
áreas que pertenciam a quatro fazendas. Descumprindo as determinações do SNUC
(2000), esse Parque ainda possui áreas sendo usadas para o cultivo de culturas
agrícolas como o feijão e o tomate. Além do mais, os proprietários também
arrendam as terras do Parque para criadores de gado da região, deixando o
Instituto Estadual de Florestas - IEF (gestor da unidade de conservação) em uma
situação muita delicada no que diz respeito à execução da fiscalização e repressão
às irregularidades presentes na área.
Mas é importante ressaltar que o próprio SNUC instituiu um mecanismo
voltado para a arrecadação de recursos destinados à regularização fundiária e à
estruturação das unidades de conservação. Esse mecanismo é a compensação
ambiental que estabelece que todo empreendimento que cause impactos ambientais
negativos e não mitigáveis destine no mínimo 0,5 % dos custos de implantação do
empreendimento para a solução dos problemas relacionados à não regularização
fundiária das unidades de conservação. Para a AMDA (2006), a aplicação dos
recursos da compensação ambiental para aquisição de terras pelo Estado
representa um desafio difícil, devido ao fato de esse processo depender de trâmites
legais muitos burocráticos. Assim, a compensação ambiental tem gerado muita
polêmica e muitos questionamentos têm sido feitos para averiguar a viabilidade e a
credibilidade desse instrumento. Nessa perspectiva questiona-se até que ponto
vale a pena permitir a aprovação de determinado empreendimento sabendo que os
recursos obtidos pela compensação não pagam os danos ao meio ambiente, uma
vez que é muito difícil estipular valor para o patrimônio ambiental. O certo é que os
recursos oriundos da compensação ambiental já estão sendo empregados em
algumas unidades de conservação de Minas Gerais. O Parque Nacional do
Caparaó, por exemplo, tem feito obras de infra-estrutura com recursos desse
mecanismo.

30
No tocante à questão da regularização fundiária do Parque Estadual
Mata Seca e das demais áreas protegidas da Região de Jaíba, o IEF dispõe de
outro mecanismo voltado para a obtenção de recursos. Na aprovação da Etapa 2 do
Projeto Jaíba, ficou acertado que 25 % dos recursos obtidos com a venda dos lotes
seriam aplicados no cumprimento de condicionantes ambientais como a
regularização fundiária das unidades de conservação da região(AMDA 2006). O
processo de compra de terras pelo Estado é muito complexo e exige o cumprimento
de uma série de etapas compostas por estudos técnicos conhecidos como ações
discriminatórias que têm como finalidade a identificação e a separação das terras
públicas das particulares. A parceria entre o Instituto de Terras de Minas Gerais –
ITER e o Instituto Estadual de Florestas – IEF realizou diversas ações
discriminatórias no Norte de Minas em 2006, trazendo uma esperança positiva no
que diz respeito ao processo de regularização das unidades de conservação da
região (ITER, 2006). Nessa perspectiva, em meados de 2007, o IEF deu início ao
pagamento das terras das unidades de conservação do Norte de Minas, pondo fim
a uma espera de cerca de dez anos.
Nesse sentido, a regularização fundiária do Parque Estadual Mata Seca
se encontra bastante avançada uma vez que os limites do Parque já foram
reconhecidos e georreferenciados pelo IEF/ITER e as negociações com os
proprietários já foram feitas, inclusive com o pagamento a três dos quatro
proprietários das áreas que abrangem o Parque . O proprietário que era o detentor
da maioria das terras não aceitou a proposta do IEF por acreditar que o preço
oferecido não corresponde ao que ele acredita ser o verdadeiro valor do imóvel. Na
verdade, o proprietário encomendou um inventário para calcular o valor comercial
das madeiras existentes nas terras e quer que esse valor seja levado em
consideração na avaliação feita pelo IEF. Em situações como essas, o IEF faz o
depósito em juízo e espera que a justiça dê o parecer final. Ainda não se sabe o
tempo necessário para o desenrolar dessa questão. O certo é que os trâmites
judiciais relacionados às questões fundiárias não se resolvem em pouco tempo, o
que poderá comprometer a implementação do Parque Estadual Mata Seca,
permitindo que as atuais pressões antrópicas do Parque continuem ameaçando a
biodiversidade dessa unidade de conservação.

31
No mais, não se vislumbra uma solução definitiva para a questão fundiária
das unidades de conservação brasileiras em um curto espaço de tempo, haja vista
que a questão é complexa e não existe nenhuma pressão da sociedade civil para
acelerar o processo de liberação das verbas necessárias para a implantação das
áreas protegidas. A questão está totalmente dependente da vontade política e da
pressão das organizações não governamentais, o que faz com que a lentidão seja
uma conseqüência natural de todo o processo. Essa situação se torna preocupante
à medida que se tem conhecimento de que o Brasil possui um grande número de
unidades conservação federais e estaduais e a maioria delas não possui sua
situação fundiária resolvida e está à mercê das pressões antrópicas que aumentam
a cada dia. Como pode-se observar na tabela 1, o Brasil possui 111 unidades de
conservação integral federais, 367 unidades de conservação de proteção integral
estaduais, 141 unidades de conservação de uso sustentável federais e 295
unidades de conservação de uso sustentável estaduais.

32
TABELA 1 - Número e área total das diferentes unidades de conservação estaduais e federais no
Brasil
UNIDADES DE N° ÁREA UNIDADES DE N° ÁREA
CONSERVAÇÃO (Hectares) CONSERVAÇÃO (Hectare)
FEDERAIS ESTADUAIS

PROTEÇÃO INTEGRAL PROTEÇÃO INTEGRAL

Parque Nacional 62 26.998.561 Parque Estadual 180 7.697.662


Reserva Biológica 29 5.462.277 Reserva Biológica 46 217.453
Estação Ecológica 32 8.820.647 Estação Ecológica 136 724.127
Refúgio da Vida silvestre 3 144.966 Refugio da Vida silvestre 3 102.543
Monumento Natural 0 Monumento Natural 2 32.192
subtotal 126 41.426.451 367 8.773.977

USO SUSTENTÁVEL USO SUSTENTÁVEL

Floresta Nacional 73 20.900.214 Floresta Estadual 58 2.515.950


Reserva de 1 65.000 Reserva de 9 8.277.032
Desenvolvimento Desenvolvimento
Sustentável Sustentável
Reserva extrativista 50 10.176.896 Reserva extrativista 28 2.880.921
Área de proteção 31 7.427.067 Área de proteção ambiental 181 30.711.192
ambiental
Área de relevante 17 43.343 Área de relevante Interesse 19 12.612
Interesse ecológico ecológico
Subtotal 172 38.612.520 295 44.397.707

TOTAL 298 80.038.971 662 53.171.684


Fonte: Anthony Rylands & katrina Brandon (2005)/www.ibama.org.br (Acesso em 05.04.2007)

Em relação Minas Gerais, a situação é menos complicada porque o


número de unidades de conservação é menor, mas o problema ainda existe e o
poder público precisa encará-lo com seriedade e compromisso, pois o processo de
compra de terras pelo Estado é muito complexo e exige o cumprimento de uma série
de etapas compostas por estudos técnicos que demandam tempo e dinheiro.
Conforme a tabela 2, que também não considera as unidades de
conservação municipais, as reservas particulares e indígenas, o Estado de Minas
Gerais possui 9 unidades de conservação de proteção integral federais, 7 unidades

33
de conservação de uso sustentável federais, 41 unidades de conservação de
proteção integral estaduais e 27 unidades de conservação de uso sustentável
estaduais, o que equivale a uma superfície de aproximadamente 2,60 milhões de
hectares, ou 4,46 % do território mineiro. Desse total, apenas cerca de 10% das
terras encontram-se regularizadas (AMDA, 2005). A não regularização dessas
terras provoca constantes conflitos com proprietários e usuários das áreas
protegidas favorecendo a intensificação de problemas como as queimadas, a caça
predatória, o pastoreio e o carvoejamento.

34
TABELA 2 - Número e área total das diferentes unidades de conservação estaduais e federais em Minas Gerais
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO N° ÁREA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO N° ÁREA
FEDERAIS (Hectares) ESTADUAIS
(Hectare)

PROTEÇÃO INTEGRAL PROTEÇÃO INTEGRAL


Parque Nacional 7 521.185 Parque Estadual 29
396.662
Reserva Biológica 1 51.046 Reserva Biológica 2
13.495
Estação Ecológica 1 1.388 Estação Ecológica 9
10.701
Refúgio da vida silvestre 0 0 Refugio da vida silvestre 1
6.102
Monumento Natural 0 0 Monumento Natural 0
0
subtotal 9 573.619 41
426.844

USO SUSTENTÁVEL USO SUSTENTÁVEL


Floresta Nacional 3 595 Floresta Estadual 1
4.326
Reserva de Desenvolvimento 0 0 Reserva de Desenvolvimento 1
Sustentável Sustentável 60.796
Reserva Extrativista 0 0 Reserva Extrativista 0
0
Área de Proteção Ambiental 4 681.196 Área de Proteção Ambiental 9
750.161
Área de Relevante Interesse 0 0 Área de Relevante Interesse 0
Ecológico Ecológico 0
Área de Proteção Especial 0 0 Área de Proteção Especial 16
130.237
Subtotal 7 681.791 27
945.520

TOTAL 16 1.255.410 68 1.372.36


4
Fonte:Atlas das unidades de conservação de Minas Gerais – Instituto Estadual de Florestas/IEF- Abril de 2006 (Versão em DVD). Atualização
através do site:www.ief.mg.gov.br ( Acesso em 05.04.2007)

No tocante à questão do plano de manejo e sistematização dos usos das


unidades de conservação percebe-se que grande parte das áreas protegidas de
Minas Gerais não dispõe de estudos voltados para a caracterização dos seus
ecossistemas dificultando a implantação de planos de manejo que possam
disciplinar os usos dessas áreas protegidas. Assim, as unidades de conservação do
Estado precisam de pesquisas que possam subsidiar as ações a serem implantadas
35
visando à efetivação da sua regularização. Uma das maneiras de subsidiar essas
ações é através da elaboração de um zoneamento ambiental baseado na
metodologia de mapeamento de biótopos por tratar-se de um trabalho que apresenta
as características ambientais, potencialidades e problemas dos ecossistemas numa
perspectiva de análise sócioespacial que permite uma visão de conjunto mais
adequada às necessidades das unidades de conservação.
Nesse contexto, o Parque Estadual Mata Seca, assim como outras
unidades de conservação, vem sofrendo diversos tipos de pressões antrópicas,
entre outras razões, por não ter tido um zoneamento ambiental e
conseqüentemente um plano de manejo que possa disciplinar o uso de seus
ecossistemas. Percebe-se, portanto, a urgente necessidade de realização de um
zoneamento ambiental que possa favorecer a implementação efetiva dessa unidade
de conservação, pois ela se encontra bastante ameaçada.

2.1 Zoneamento ambiental

A implementação de uma unidade de conservação refere-se à implantação


do conjunto de mecanismos necessários ao funcionamento efetivo de uma área
protegida. Em outras palavras, é o processo que faz com que a unidade de
conservação se estabeleça e cumpra efetivamente os objetivos para os quais ela foi
criada. Mas para que a implementação ou implantação aconteça é necessário um
plano de manejo. De acordo com Brasil (2000), o plano de manejo é

O documento técnico mediante o qual, com fundamento nos


objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o
seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o
manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação de estruturas
físicas necessárias à gestão da unidade.

De acordo com Mazzini (2006), o plano de manejo é um instrumento que


estabelece o zoneamento e as normas que devem disciplinar o uso e as diretrizes
para manejo dos recursos ambientais localizados em unidades de conservação.
Percebe-se que o zoneamento ambiental deve estar inserido no plano de manejo e,
sem o zoneamento, o plano de manejo não se efetiva. O zoneamento ambiental

36
consiste em dividir o território em zonas nas quais são autorizadas determinadas
atividades e interditadas outras ( MAZZINI,2006).
De acordo com Melo et al (2004), o zoneamento ambiental é de
fundamental importância para a proteção dos ecossistemas, uma vez que permite
conhecer a real situação dos ambientes, possibilitando assim o uso adequado das
áreas em questão. Para Camargos (2005), o zoneamento ambiental permite a
criação de diferentes tipos de zonas, nas quais o poder público estabelece regimes
especiais de uso, gozo e fruição da propriedade com o objetivo de melhorar e
recuperar a qualidade ambiental e o bem-estar da população. Conforme Melo et al
(2004), o zoneamento ambiental é o planejamento da ocupação do espaço de
acordo com suas características e potencialidades. Rocha (1995)2, citado por
Martins et al (2005), define o zoneamento ambiental como a divisão de uma área
em partes homogêneas com características fisiográficas e ecológicas
semelhantes, nas quais se autorizam determinados usos e interditam outros. De
acordo com o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e a
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRN (1997), o zoneamento
ambiental pode ser definido como um processo responsável pela criação de áreas
que expressam espacialmente as características de seus recursos naturais,
culturais, sociais e econômicos constituindo, assim, uma unidade ambiental onde a
homogeneidade e heterogeneidade internas são indissociáveis. Em outras palavras,
o zoneamento ambiental produz zonas ambientais com peculiaridades de natureza
biótica e abiótica e com características decorrentes dos processos de uso e
ocupação do solo (IBAMA/CPRN,1997).
De acordo com a Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu 2° Artigo,
Parágrafo XVI, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (BRASIL, 2000), o zoneamento ambiental é

a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação


com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de
proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da
unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.

2
ROCHA, J.S.M. da ; APA de Ozório – Morro da Borússia. Osório: Prefeitura Municipal de Osório, 1995.188p
37
Esse mesmo decreto determina os tipos de zonas a serem criadas: zona
intangível, zona primitiva, zona de uso extensivo, zona de uso intensivo, zona
histórico-cultural, zona de recuperação e zona de uso especial ( BRASIL, 2000).
O Decreto 4297 de 10 de julho de 2002 estabelece os critérios para o
zoneamento ecológico-econômico – ZEE do Brasil, ou seja, um zoneamento de
abrangência nacional. Mas Camargos (2005) ressalta que as expressões
zoneamento ambiental e zoneamento ecológico-econômico devem ser entendidas
como sinônimas. Nesse sentido, a definição legal de zoneamento ambiental
encontra-se no Artigo 2º do referido decreto que o descreve como sendo

o Instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente


seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e
privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental
destinados a assegurar a qualidade ambiental dos recursos hídricos
e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o
desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da
população.

Para Neves (2002), a importância do zoneamento ambiental se encontra no


fato do mesmo permitir a determinação dos pontos frágeis dos ecossistemas antes
que possam atingir situações irreversíveis, permitindo, assim, uma tomada de
decisão sobre o manejo da área de maneira preventiva. Martins et al (2005),
constataram que o zoneamento ambiental é uma ferramenta indispensável para o
planejamento ambiental e que sua implementação está associada ao
desenvolvimento socioeconômico de uma região. Para Neves (2002, p.7),“o
zoneamento ambiental é um instrumento de manejo que apóia o poder público na
definição das atividades que podem ser desenvolvidas em cada setor ou mesmo
proíbe determinadas atividades por falta de zonas apropriadas” .
Infere-se que o zoneamento ambiental é de fundamental importância para a
elaboração de um plano de manejo e para a implementação de uma unidade de
conservação, mas deve-se ressaltar que, ao se apoiar nos mecanismos legais que
direcionam a determinação das zonas e disciplinam a gestão das unidades de
conservação, o zoneamento deve-se inserir dentro de um contexto de análise que
leva em conta a existência de diversos problemas sociais e ambientais. O
zoneamento deve ser um instrumento legal para a implementação da unidade de
conservação, mas ao mesmo tempo deve apresentar uma discussão envolvendo a
38
importância da preservação dos recursos naturais e a relação entre esses recursos
e os problemas que os afetam. Nessa perspectiva, o zoneamento deve ser algo
amplo e complexo que engloba uma discussão que envolve todos os problemas da
unidade de conservação. Esse é um dos grandes desafios do zoneamento ambiental
e é isso que faz com que esse tipo de trabalho seja algo indispensável para o
Parque Estadual Mata Seca.

2.2 O mapeamento de biótopos

Uma das maneiras de se fazer o zoneamento ambiental é através da


metodologia de mapeamento de biótopos. De acordo com Bedê et al(1997), essa
metodologia se iniciou na Alemanha em 1974 e foi aplicada em áreas rurais. Para
Neves (2002), o principal objetivo de um mapeamento de biótopos “consiste
especialmente no fornecimento de bases para a elaboração de um diagnóstico
baseado na integração de parâmetros ecológicos”. Para Bedê et al(1997), os
biótopos são caracterizados levando-se em conta os critérios ou parâmetros
ecológicos, tais como, função ecológica, raridade, impactos ambientais, forma de
uso, presença de edificações, tamanho, grau de ameaça, estado de conservação e
a riqueza de espécies. A função ecológica corresponde ao papel que o biótopo
desempenha no ecossistema. O trabalho de proteção que a vegetação exerce no
solo é um exemplo de função ecológica. A raridade diz respeito ao número de
espécies endêmicas no biótopo ou a presença de espécies ameaçadas de extinção.
Os impactos ambientais estão relacionados às pressões antrópicas que estão
sendo exercidas sobre os biótopos. A forma de uso corresponde ao atual tipo de uso
e ocupação do biótopo. As edificações são representadas por todas as estruturas
físicas implantadas nos biótopos, tais como, casas, calçamento de trilhas, pontes,
entre outras. O tamanho corresponde à extensão da área e esse parâmetro é de
grande importância para a conservação de um maior número de espécies. O grau de
ameaça refere-se ao tamanho do perigo que os recursos ambientais do biótopo está
correndo. O estado de conservação é o parâmetro que revela o grau de
primitividade do biótopo. A riqueza de espécies corresponde à variedade de
espécies convivendo em um mesmo biótopo e é um indicador da qualidade
ambiental da área (BEDÊ et al, 1997).
39
De acordo com Bedê et al (1997) observa-se a seguir uma escala de valores
para a classificação dos biótopos: 1- Desprovido de valor, 2 – Insignificante, 3 –
Muito pouco relevante, 4 – Pouco relevante, 5 – Relevante, 6 – Muito relevante, 7 –
Especialmente relevante, 8 – Com valor excepcional. Vale ressaltar que essa escala
pode ser adaptada em função da realidade que está sendo considerada. Neste
trabalho foram considerados os seguintes valores: 1- Insignificante, 2- Pouco
relevante, 3- Relevante e 4- Muito relevante. A presença do biótopo em uma dessas
classes vai depender do número de indicadores usado para cada critério.
Constata-se que o mapeamento de biótopos é um mecanismo pelo qual a
superfície é dividida em unidades cartográficas de uso e características ambientais
semelhantes possibilitando o zoneamento, uma tomada de decisão sobre o manejo
da área e a implementação da unidade de conservação. O Norte de Minas Gerais
apresenta um quadro natural com peculiaridades que formam um universo de
análise extremamente favorável ao estudo das biocenoses e sua relação com os
aspectos que compõem os biótopos. Ao se inserir dentro dos biomas Caatinga e
Cerrado, o Norte de Minas e a região do Parque Estadual Mata Seca apresentam
uma grande diversidade de ecossistemas que os tornam espaços apropriados para
os estudos de mapeamento de biótopos. Para Dajoz(1983), a noção de biótopo está
intimamente ligada ao conceito de biocenose. Assim, a biocenose corresponde a um
conjunto de seres vivos de diversas espécies em interdependência e ocupando um
chamado biótopo. Nesse sentido, a biocenose e o seu biótopo constituem dois
elementos inseparáveis que reagem sobre o outro para produzir um sistema mais ou
menos estável que recebeu o nome de ecossistema (DAJOZ, 1983). Portanto, o
ecossistema possui dois componentes: um orgânico, representado pela biocenose
que o povoa; e outro inorgânico, representado pelo biótopo que suporta a
biocenose.
Para Passos (1988), o biótopo constitui o substrato físico que sustenta a
biocenose. Esse autor ainda ressalta que o biótopo é formado por três partes: a
litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. A biocenose, por sua vez, subdivide-se em
fitocenose, zoocenose e edafocenose (PASSOS,1988). Entretanto, é importante
destacar que

40
o sistema biocenose não é simplesmente superposto ao sistema
biótopo, pois eles estão conectados pelos fluxos de matéria e de
energia e, constituem, em um nível superior e mais complexo um
novo sistema ecossistema. Em outros termos o ecossistema é um
sistema de ecossistemas (PASSOS, 1988,p.113)

De uma forma simplificada, Bedê et al (1997) definem biótopo como uma


porção da superfície terrestre ocupada por elementos da fauna e flora em
determinado tempo. Esses autores enfatizam que o substrato físico, o uso e a biota
são os principais parâmetros diferenciadores de biótopos. Assim, “nas paisagens
naturais e rurais, a divisão do espaço é baseada na cobertura vegetal, formas e uso
e manejo incidente”(BEDÊ et al,1997,p.18).

No tocante à diversidade e à importância do manejo integrado dos biótopos,


vale ressaltar que
uma dada paisagem, em função das características da sua
cobertura, pode ser representada por um conjunto de biótopos,
sendo que todos assumem funções ambientais específicas na
mesma. Por esse motivo, muitas vezes não é suficiente que partes
isoladas de uma paisagem recebam tratamento ou manejo isolados,
uma vez que são parte integrante da qualidade de um espaço maior
(BEDÊ et al, 1997, p.18).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística – IBGE


(2004), o biótopo define-se como uma parcela da superfície terrestre que contém os
recursos necessários para a conservação da vida. Para Troppmair (1988), o biótopo
pode ser definido como o espaço ocupado pelos diversos elementos da biocenose.
Todos os seres vivos formam uma geobiocenose que possui dois componentes: um
orgânico, formado pelos vegetais e animais; e um inorgânico, composto pelo biótopo
ou suporte físico dos elementos bióticos. Em outras palavras, o biótopo é a
expressão espacial de uma geobiocenose que apresenta elementos bióticos e
abióticos em interdependência, além de diversos fluxos de energia e matéria
(TROPPMAIR, 2006). No Parque Estadual Mata Seca, a interação harmônica entre
solos férteis de origem calcária e a Floresta Decidual de alto porte ou a interação
entre Afloramentos Calcários e a Caatinga Arbórea Aberta com cactáceas podem
ser exemplos de biótopos como complexos sistemas de relações estabelecidas
entre elementos bióticos e abióticos no espaço.

41
Essa última definição foi usada neste trabalho por ser considerada a
mais apropriada para os geógrafos, uma vez que considera o biótopo como um
complexo sistema que integra os seres vivos e o seu componente espacial. A partir
dessa definição, percebe-se que o zoneamento ambiental realizado através da
metodologia de mapeamento de biótopos é provavelmente a mais apropriada para
as unidades de conservação, para que, ao usar o biótopo como unidade espacial
das zonas, o trabalho final assuma um caráter de detalhamento e diversidade
indispensáveis para um plano de manejo eficiente. Como o Parque Estadual Mata
Seca se encontra em uma área de transição entre biomas e o seu quadro
vegetacional é marcado por uma grande diversidade de fitofisionomias, acredita-se
que a metodologia de mapeamento de biótopos é a mais adequada para o
zoneamento ambiental dessa unidade de conservação.
O zoneamento ambiental também ganha importância à medida que esse
tipo de trabalho exige a elaboração de uma caracterização prévia da área a ser
zoneada. E essa caracterização define-se como um trabalho amplo e complexo uma
vez que apresenta aspectos ambientais e também reflexões relativas às questões
ambientais em um contexto científico, social, político e econômico.
A caracterização da vegetação representa um dos mais importantes
componentes dessa discussão porque a caracterização dos biótopos leva em
consideração as tipologias de cobertura vegetal ou fitofisionomias, as espécies
vegetais predominantes, os aspectos relevantes para abrigo e alimentação para a
fauna, o estado de conservação, a capacidade de regeneração e os problemas que
socioambientais que afetam essas formações vegetais como um todo.
E, ao se caracterizar uma vegetação, deve-se fazer uma discussão prévia
envolvendo a questão da nomenclatura, por tratar-se de um componente
indispensável e de fundamental importância para qualquer debate sério sobre os
aspectos vegetacionais. Na verdade, é necessário que se saiba antes de tudo o que
se está caracterizando, de modo que exista mais clareza e objetividade na
discussão.
A padronização da nomenclatura vegetacional, a princípio, pode ser
considerada como uma questão puramente acadêmica cuja importância se restringe
apenas ao âmbito das discussões científicas. No entanto, essa discussão ao ser
incorporada a um zoneamento ambiental em áreas naturais valoriza em muito o
42
trabalho, pois faz com que, para o zoneamento, haja uma discussão bastante
embasada e consistente sobre vegetação. Trata-se de uma tarefa muito difícil, pois
diversos autores usam critérios e escalas distintas. Para Sano & Almeida (1998), os
termos formação, forma e fitofisionomia podem ser considerados como sinônimos.
Quanto aos critérios usados para diferenciar as fitofisionomias, esses autores
consideram a fisionomia, a estrutura, a fenologia, o solo e a flora. De acordo com a
terminologia usada por Sano & Almeida (1998), o bioma Cerrado possui 11 tipos
fitofisionômicos distribuídos em três grupos vegetacionais: as formações florestais
(Mata Ciliar, Mata Seca ou Floresta Estacional Decidual e o Cerradão) as formações
savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque Cerrado, Palmeiral e Vereda) e as
campestres (Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre).
Como pode se perceber, a Floresta Estacional Decidual é uma
fitofisionomia florestal que pode ser encontrada no Cerrado (SANO & ALMEIDA,
1998). Entretanto, diversos estudos atestam a existência de Florestas Estacionais
em outros biomas como a Caatinga e a Mata Atlântica (IBGE,1997; SCARIOT &
SEVILHA, 2005; UFLA, 2006). De acordo com BRANDÃO (2000), o bioma Caatinga
no Norte de Minas apresenta 6 tipos fitofisionômicos distribuídos em dois grupos: as
formações florestais e as formações arbustivas. As formações florestais são
representadas pela Floresta Semi-Decídua (restrita às margens dos rios), Floresta
Decidual, Caatinga Arbórea Densa e Caatinga Arbórea Aberta. As formações
arbustivas são representadas pela Caatinga Arbustiva e pela Caatinga Hiperxerófila
(BRANDÃO, 2000). Portanto, a Floresta Estacional Decidual ou Mata Seca está
presente em, no mínimo, três biomas brasileiros. Assim, são encontradas em
diversos Estados do território nacional, estando associadas a diferentes regimes de
estacionalidade, em volume de precipitação e temperatura, topografia e
características físicas e químicas dos solos (SCARIOT & SEVILHA, 2005).
A Floresta Estacional Decidual caracteriza-se por apresentar um ritmo
estacional que se reflete pela queda de folhas durante o período seco (BELÉM,
2002). Essa fitofisionomia ocorre em áreas que se caracterizam por apresentar
“duas estações climáticas bem definidas, uma chuvosa seguida por outra com longo
período biologicamente seco, apresentando o estrato arbóreo predominantemente
caducifólio, com mais de 50% dos indivíduos desprovidos de folhagem na época
desfavorável” (IBGE, 1996, p.113). A UFLA-IEF (2006) considera como deciduais
43
aquelas florestas onde os indivíduos desprovidos de folhas, durante a estação seca,
representam mais de 70%( figura 1). Em seus estudos na bacia do Rio Paranã,
Goiás, Schariot & Sevilha (2005) constataram que o percentual de indivíduos
desprovidos de folhagem no período seco superou 90%. O fator determinante para a
ocorrência dessa formação vegetal possivelmente está ligado às condições edáficas
locais (GOODLAND e FERRI, 1979). Para Belém (2002), a ocorrência da Floresta
Estacional está vinculada à associação solo - de origem calcária - e clima tropical
semi-úmido ou semi-árido.
De acordo com Schariot & Sevilha (2005), a existência de tipos
diferenciados de Florestas Estacionais está condicionada às variações climáticas,
edáficas e topográficas. Brandão (2000) reconhece a existência de dois tipos
básicos de Florestas Decíduas: a Mata Seca dos Neossolos Litólicos com substrato
calcário ou ardósia e a Mata Seca de alto porte associada a Latossolos Vermelhos
eutróficos. A primeira formação apresenta porte mediano, com raríssimas epífitas e
poucas lianas.
A outra forma de Floresta Decidual, por outro lado, destaca-se pelo porte
bastante desenvolvido, pelos troncos grossos e pelas inúmeras trepadeiras
(BRANDÃO, 2000). Embora ocorram variações florísticas nas diferentes tipologias,
algumas espécies ocorrem na maioria das formações da Mata Seca, tais como
Anandenanthera macrocarpa (Angico), Cedrela fissilis (Cedro), Myracruodom
urundeuva (Aroeira), Apuleia molaris (Garapa), Cavanillesia arbórea (Embaré),
Ceiba ventricosa (Barriguda de espinho), Aspidosperma populifolium (Pereiro),
Bauhinia forticata (Mororó), Bursera leptophoeus (Imburana), Enterolobium
contortisiliquum (Tamboril) Sterculia striata (Chichá) (BRANDÃO &
GAVILANES,1994).

44
Figura 1 – A deciduidade da Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual Mata Seca

Para Ratter et al (1978), a Floresta Estacional Decidual possui uma grande


afinidade florística com algumas fitofisionomias da Caatinga do Nordeste brasileiro,
podendo ser considerada como um tipo de Caatinga Arbórea. No Norte de Minas
Gerais, a Floresta Estacional Decidual e Caatinga Arbórea são duas fitofisionomias
que se distinguem no tocante à fisionomia e a florística. A Floresta Decídua
apresenta grande porte, com árvores de altura superior a 15 metros e um dossel
mais fechado, enquanto que a Caatinga Arbórea não passa de 10 metros, podendo
ser densa ou aberta. Floristicamente, ambas possuem espécies comuns, mas a
Caatinga Arbórea raramente apresenta indivíduos da espécie Cavanillesia arborea,
popularmente conhecida como Barriguda Lisa (BRANDÃO, 2000).
Sabe-se que a diferenciação dessas duas fitofisionomias não é uma tarefa
fácil, pois exige uma certa experiência de campo, uma base mínima de
conhecimento da flora e acuidade visual. Essa questão se torna mais difícil no Norte
de Minas porque essa região se encontra numa zona de transição entre os biomas
Caatinga e Cerrado e a fitofisionomia Floresta Decídua está presente nos dois
domínios. No Parque Estadual Mata Seca, essa situação está muito clara, pois são
bastante perceptíveis as diferenças fisionômicas existentes entre a Floresta Decídua
de alto porte e a Caatinga Arbórea encontrada na região dos Furados. Além dessas
fitofisionomias, o Parque também possui outro tipo de Floresta Decídua: a Floresta
Estacional Decidual de afloramentos calcários. Essa fitofisionomia também tem
gerado muita polêmica no debate sobre as formações vegetais do Norte de Minas,
pois muitos autores consideram as Florestas Decíduas sobre afloramentos como a
marca da transição entre os biomas Caatinga e Cerrado.

45
Em Montes Claros, por exemplo, existe o predomínio de Cerrado típico
(sentido restrito). Nos morros e serras calcárias que margeiam esse Cerrado típico
observam-se as Florestas Decíduas de afloramentos. Muitas pessoas se referem a
essas fitofisionomias do calcário simplesmente como vegetação de transição. Essa
definição não é apropriada porque essas Florestas Decíduas também são
encontradas em áreas muito distantes da verdadeira área de transição (Norte de
Minas). Em Sete Lagoas e Cordisburgo (região central de Minas Gerais), por
exemplo, existem Florestas Decíduas sobre afloramentos que se assemelham em
muito com as Florestas Decíduas das serras calcárias de Montes Claros. Essa
questão da transição precisa ser repensada em todos os sentidos.
Dentro dessa discussão sobre a nomenclatura, a UFLA-IEF (2006) defende
a idéia de que no extremo Norte de Minas Gerais (bioma Caatinga), a Floresta
Estacional Decidual e a Caatinga Arbórea têm a mesma identidade. Assim, nessa
região, as Florestas Decíduas podem ser consideradas como Caatingas Arbóreas.
Esta idéia pode ser constatada no mapa da vegetação de Minas Gerais elaborado
pela parceria UFLA-IEF em 2006 (figura 2). O mesmo não pode ser dito para as
Florestas Decíduas que estão inseridas nos biomas Cerrado e Mata Atlântica, pois
nesses domínios são denominadas apenas como Matas Secas ou Florestas
Estacionais (UFLA-IEF, 2006). Lembrando que Brandão (2000) reconhece a Floresta
Estacional e a Caatinga Arbórea como duas fitofisionomias distintas no Norte de
Minas.

46
Figura 2 – Mapa da vegetação do Norte de Minas
47
Para Leal et al (2004), a Caatinga, enquanto bioma, pode ser definida como
um conjunto de formações que pode ser caracterizadas como florestas arbóreas ou
arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos, muitos dos
quais apresentam espinhos e algumas características xerofíticas. Compreende um
mosaico vegetacional bastante diversificado e formado por fisionomias muito
variadas. Assim, a Caatinga possui formações que variam de florestas altas e secas
com até 15-20 metros de altura; a Caatinga Arbórea típica de solos mais férteis (a
verdadeira caatinga dos índios Tupi); até afloramentos de rochas com arbustos
baixos esparsos e espalhados, com cactos e bromeliáceas nas fendas (LEAL et al,
2004). Depois de discutir a evolução dos termos usados para a definição das
diversas tipologias da Caatinga, Leal et al (2004) consideram a Caatinga como um
domínio formado por treze fitofisionomias distintas. Nessa classificação, o Norte de
Minas abrange manchas de Caatinga Arbórea Alta sustentada por um substrato
formado por rochas calcárias do grupo Bambuí ou rochas cristalinas do Pré-
cambriano (LEAL et al, 2004). Na concepção de Rizzini (1997), a caatinga também
apresenta um caráter heterogêneo:

A Caatinga é o termo genérico para designar um complexo de


vegetação decídua e xerófila constituída de vegetais lenhosos e
mais ou menos rica em cactáceas e bromeliáceas rígidas. Ora
dominam os primeiros, ora as segundas, exigindo misturas em
proporção muito variada, conforme a natureza do substrato e a
secura do clima. Há, pois, nela várias formações entrelaçadas,
compondo diversos tipos de caatinga. ( Rizzini, 1997: p.522)

O autor acima ainda destaca que a Caatinga possui semelhanças com


diversos tipos vegetacionais, principalmente na América do Sul. A Floresta
Estacional dos Afloramentos Calcários de Minas Gerais destaca-se entre as
formações semelhantes à Caatinga. No entanto, Rizzini(1997), assim como Leal et
al (2004) não considera a Caatinga como um bioma que contém subsistemas que
também ocorrem em outros biomas. Eles não fazem referência à Floresta
Estacional como parte da Caatinga e de outros biomas brasileiros. Com certeza, a
ausência dessa discussão nos trabalhos desses autores também reforça as
dúvidas sobre a definição das diferenças entre algumas formas de Caatinga e da
Floresta Estacional.

48
Quanto à preservação, as Florestas Estacionais Deciduais se encontram
bastante ameaçadas pela expansão do carvoejamento e da agropecuária no Norte
do Estado de Minas Gerais. Essa ameaça, ao se inserir dentro de um embate
marcado por diversos interesses pelas áreas de Matas Secas, representa um dos
mais importantes desafios para o Parque Estadual Mata Seca e para as Florestas
Estacionais Deciduais encontradas em unidades de conservação ou não. Em função
do potencial madeireiro e dos ricos solos encontrados em grande parte das áreas
de Florestas Estacionais, essa ameaça se estende a todas as manchas de Matas
Secas do Estado e se encontram dentro de um complexo jogo de interesses que
envolvem poder público, ambientalistas, comunidades tradicionais, pecuaristas,
carvoeiros e grandes produtores rurais. Recentemente, a sociedade rural do Norte
de Minas com o apoio da bancada norte-mineira na Assembléia Legislativa
conseguiu revogar a Deliberação Normativa 72(DN 72)3 do IEF que permite a
alteração de apenas 20% da área total das propriedades rurais em que ocorrem
Mata Seca em fase primária. Em outras palavras, nas propriedades com Mata Seca
primária, o proprietário não poderia desmatar um percentual superior a 20%. De
acordo com essa deliberação, a supressão dos demais estágios sucessionais da
Mata Seca seria permitida em até 60%.
A DN 72 foi criada com o objetivo de proteger os últimos remanescentes de
Florestas Decíduas no Estado e a sua consolidação iria favorecer a criação de
novas unidades de conservação em área de Matas Secas em Minas Gerais. Os
ruralistas argumentam que a DN 72 poderia colocar 40 mil empregos em risco
(ALENCAR, 2006,2007; BRASIL,2005). No entanto, não aconteceu algum
esclarecimento sobre o tipo de emprego que está sendo colocado em questão, o
que pode favorecer o surgimento de dúvidas sobre a legalidade das atividades que
estão sendo defendidas. De acordo com a AMDA (2005, P.9), “não existem estudos
técnicos que apontem ser a substituição da floresta por atividades econômicas, mais
vantajosa para a sociedade, do que serviços ambientais por ela gerados”.
Após a revogação da DN 72, foi iniciado um novo debate voltado para a
determinação dos novos mecanismos legais para as matas secas. Recentemente, o
Governador do Estado negociou com os ruralistas e determinou que a reserva legal
das áreas de Matas Secas seja fixada em apenas 30% e o desmate em 70%

3
Art. 2º Parágrafo único da Deliberação Normativa número 72
49
(ALENCAR,2007). No entanto, essa nova determinação precisa ser transformada
em lei e isso depende de uma aprovação na Assembléia Legislativa. Toda essa
situação mostra o quanto determinados grupos econômicos são organizados e fortes
na luta pela defesa de seus interesses no Norte de Minas. Ao mesmo tempo, mostra
a fragilidade da sociedade civil – instituição formada por cidadãos que deveriam se
unir em prol da defesa dos interesses da maioria. Mas infelizmente, a realidade é
essa e esses empresários e pecuaristas não têm encontrado muitas dificuldades
para fazer valer suas vontades, uma vez que apenas uma ONG da região (CAA -
Centro de Agricultura Alternativa) e alguns membros do Copam-Norte se mostraram
totalmente contra as mudanças na Deliberação 72. A maioria dos deputados
representantes do Norte de Minas apoiou a decisão do governador devido à pressão
que os ruralistas exerceram sobre eles. Mas se a sociedade civil tivesse feito o
mesmo que os ruralistas, o resultado da decisão do executivo poderia ter sido
diferente.
Em relação às pesquisas específicas sobre as Matas Secas, Schariot &
Sevilha(2005) constataram que faltam estudos detalhados sobre a distribuição e a
caracterização dos fatores abióticos determinantes da ocorrência de Florestas
Estacionais Deciduais no Brasil. Para a Biodiversitas (2005), as Florestas
Estacionais Deciduais de Minas Gerais são pouco conhecidas, enquanto que as
pressões antrópicas através do carvoejamento, reflorestamento e expansão
agropecuária devastaram imensas áreas de vegetação nativa. Portanto, essa falta
de conhecimento sobre as Matas Secas favorece os mecanismos depredadores e
a perda da biodiversidade. Conforme a tabela 3, devido a esses processos, há treze
espécies vegetais ameaçadas segundo a lista do COMPAM/MG encontradas em
Florestas Estacionais Deciduais de Minas Gerais.

50
Tabela 3 – Espécies da Floresta Estacional Decidual ameaçadas de extinção em Minas Gerais
Espécie Nome popular Grau de ameaça Critério
População em declínio,
Destruição do habitat,coleta
Myracruodon rundeuva Aroeira Vulnerável
predatória e presença na
lista do Ibama
População em declínio,
Astronium fraxinifollium Gonçalo Vulnerável Destruição do habitat e
coleta predatória
População em declínio,
Bumelia sartorum Quixabeira Vulnerável Destruição do habitat, coleta
predatória e lista do Ibama
População em declínio,
Lychnophora evicoides Candeia Vulnerável Destruição do habitat e
coleta predatória
Lista do Ibama, população
em declínio, coleta
Shinopsis brasiliensis Braúna Em perigo
predatória e destruição do
habitat
Destruição do habitat,
Annona spinescens Araticum de espinho Vulnerável população em declínio e
distribuição restrita.
Destruição do habitat,
Bougainvillea fasciculata Bouganvile Vulnerável população em declínio e
distribuição restrita.
Destruição do habitat,

Cavanilesia arbórea Embaré/Barriguda Vulnerable população em declínio e


distribuição restrita.
Populações isoladas,
Aeschynomene laca-
Carrapicho Vulnerável destruição do habitat e
buendiana
distribuição marginal
Não coletada recentemente
Mimosa adenophylla Espinhenta Vulnerável
e área de distribuição restrita
Destruição do habitat e
Pereskia aureiflora Quiabenta/Ora-pro-nobis Vulnerável
populações pequenas
Destruição do habitat e
Opuntia werneri Palma Vulnerável
populações pequenas
Área de distribuição restrita
Pilosocereus floccosus Cacto Vulnerável
e destruição do habitat
Fonte: Flora ameaçada de extinção em Minas Gerais publicada na deliberação do COPAM, número 85 de 21.10.1997 e Lista
oficial da flora ameaçada de extinção publicada na portaria de número 37 do IBAMA (1992).

Para a Universidade Federal de Pernambuco (2002), foram identificadas 82


áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no bioma Caatinga. Dessas
áreas, 27 foram consideradas como de extrema importância biológica e a área em
que se encontra o Parque Estadual Mata Seca se insere dentro desse grupo, o que

51
comprova a riqueza da biodiversidade das Florestas Decíduas do extremo Norte de
Minas Gerais.
A Fundação Biodiversitas, que participou do trabalho realizado pelo
Ministério do Meio Ambiente, também realizou um levantamento das áreas
prioritárias para a conservação em Minas Gerais e identificou 86 áreas prioritárias
para a conservação da biodiversidade. Como pode ser observado na figura 3 as
Florestas Estacionais Norte-Mineiras da margem esquerda do Rio São Francisco
(que inclui a área do Parque Estadual Mata Seca) foram consideradas como áreas
de importância biológica extrema, o que reflete a notória relevância desses
ecossistemas.
O Estado de Minas Gerais possui 50 unidades de conservação de proteção
integral (federais e estaduais). Desse total, 10 unidades de conservação abrangem
áreas de Florestas Estacionais Deciduais. Essas unidades somam 194.160
hectares de áreas protegidas. No entanto, como se pode observar na tabela 4,
esses números não referem-se apenas às Florestas Decíduas, mas também a
outras fitofisionomias, o que fortalece a necessidade de criação de novas unidades
de conservação nas áreas de Matas Secas. Ainda em relação a esse levantamento,
essas Matas Secas carecem de investigação científica e uma maior proteção
através da criação de novas unidades de conservação e a implementação das já
existentes (BIODIVERSITAS, 2003).

52
Figura 3 – Mapa das áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade em Minas Gerais

53
Percebe-se que a preocupação com a preservação das Matas Secas
aumentou recentemente, haja vista que grande parte das áreas protegidas
apresentadas na tabela anterior foram criadas nos últimos dez anos. No entanto, é
necessário aumentar a fiscalização e apressar a implementação das unidades de
conservação já existentes.
Tabela 4 – Unidades de Conservação de proteção integral em áreas de Floresta Estacional Decidual em Minas Gerais
Parque Reserv Refugio
Parque Parque Reserv
Parque Parque Parque Parque Naciona a da Vida
Estadual Estadua a
Estadual Estadual Estadual Estadual l biológic Silvestr
Nome do l da biológic
Lagoa do Verde da Mata Caminhos Caverna a do e
Sumidour Lapa a Serra
Cajueiro Grande Seca dos Gerais s do Jaíba Pandeir
o Grande Azul
Peruaçu os
Área
20.500 25.570 10.281 53.264 1.300 7.000 56.648 7.285 6.210 6.102
(Hectare)
Espinosa, Januária
Matias
Matias Matias Monte Azul, Lagoa Montes e Januári
Municípios Manga Jaíba Cardos
Cardoso Cardoso Gameleira e Santa Claros Itacara a
o
Mamonas mbi
Floresta Floresta
Floresta Floresta Floresta
Floresta Floresta estacion Floresta estacio
estacion estacional estacio
Floresta estacional Floresta estacio al estacio nal
al decidual, nal
estaciona decidual,Cerr escional nal decidual nal decidua
decidual, Caatinga decidua
Fitofisiono l decidual ado Sensu decidual e decidua , decidua l,
caatinga arbórea, le
-mias e stricto, Cerrado le Cerrado le cerrado
arborea Floresta Caating
Caatinga Floresta Sensu Cerrado Sensu caating Sensu
e semi- a
árbórea semi-decídua Stricto Sensu Stricto, a Stricto e
caatinga decídua(al arbórea
(aluvial) Stricto ecótono arborea ecótono
arbustiva uvial) .
s. s

11.10.0 21.09.9 08.10.9 30.12.9 05.11.0


Criação 08.10.98 08.10.98 20.12.00 29.03.07
6 9 8 4 4

Fonte: www.ief-mg.org.br

Para a UFLA-IEF (2006), o território de Minas Gerais possui três


grandes biomas: o Cerrado, a Mata Atlântica e a Caatinga. O Cerrado corresponde
a 57% da área total do Estado, enquanto que a Mata Atlântica e a Caatinga
correspondem a 41% e 2%, respectivamente. De acordo com a tabela 5, foram
identificadas no território mineiro 10 fitofisionomias distribuídas entre os três
biomas acima citados.
Como pode se observar, a Mata Seca ocupa uma área de 2.040.920
hectares, o que corresponde a 3,46 % do território mineiro. Esse pequeno percentual
de Matas Secas associado a problemas como o carvoejamento, a coleta predatória,

54
as queimadas e a existência de espécies ameaçadas de extinção fortalecem a
importância da preservação dessas formações vegetais. Nesse contexto, o Parque
Estadual Mata Seca representa uma das mais importantes áreas com manchas de
Florestas Decíduas do Estado e a sua implementação vai significar um grande
exemplo a ser seguido para assegurar a preservação das Matas Secas de Minas
Gerais e do Brasil.

Tabela 5 – Fitofisionomias do Estado de Minas Gerais

Cerrado Mata
Campo Campo Mata Floresta
Nome Campo Senso Cerradão Vereda Semi-
Rupestre Cerrado Seca Ombrófila
Stricto Decídua
3.872.31 2.040.92
Área (Hectare) 617.234 1.501.475 5.560.615 355.011 406.887 5.222.583 224.503
8 0
Percentual no
6,58 1,04 2,55 9,45 0,60 0,69 3,46 8,87 0,38
estado
Fonte: Mapeamento e inventário da flora nativa e dos reflorestamentos de Minas Gerais – UFLA/IEF(2006)

Outro grande problema encontrado nas unidades de conservação


brasileiras refere-se ao fato de o processo de implementação das áreas protegidas
não levar em conta os interesses das comunidades tradicionais. Nesse sentido, o
grande desafio dos instrumentos legais voltados para a proteção da biodiversidade
consiste em estabelecer meios capazes de compatibilizar a preservação dos
ecossistemas e a exploração de seus recursos naturais por populações tradicionais
(CAMARGOS, 2005). Esse problema se agrava quando as unidades de
conservação estão inseridas em regiões cujas populações são muito carentes e que
dependem dos recursos naturais. Muitas vezes, a caça, a pesca, as queimadas e o
carvoejamento estão sendo praticados pelas populações que não têm encontrado
outras atividades para sobreviver. No entorno do Parque Estadual Mata Seca, por
exemplo, existem diversas comunidades tradicionais carentes que pertencem a
municípios que se destacam por apresentar baixos indicadores socioeconômicos.
Os municípios de Manga, Itacarambi, São João das Missões e Matias Cardoso
possuem respectivamente os seguintes Índices de Exclusão Social: 0,33; 0,36; 0,27
e 0,32. O Índice de Exclusão Social varia de zero a um sendo, que “as piores
condições de vida equivalem a valores próximos a zero, enquanto as melhores
situações sociais estão próximas de um” (POCHMANN & AMORIM, 2003). Ao
analisar os indicadores dos municípios do entorno do Parque, constata-se que essa
55
unidade de conservação se encontra dentro de um contexto socioeconômico
marcado pela presença de populações muito pobres. Essas populações, muitas
vezes por falta de opções ou por estarem reproduzindo uma característica já
enraizada em seu contexto sociocultural, acabam exercendo uma certa pressão
antrópica sobre os ecossistemas do Parque, desencadeando conflitos de uso com
os órgãos gestores/fiscalizadores. As principais ações praticadas por essas
comunidades são as queimadas e os desmatamentos voltados para o
desenvolvimento da pecuária e da agricultura de vazante ao longo do Rio São
Francisco e nas Lagoas Marginais. Também ocorrem a pesca, o carvoejamento e a
caça.
De acordo com dados da Policia Ambiental (2007), a população que mais
exerce pressão sobre os ecossistemas do Parque Estadual Mata Seca está em
Matias Cardoso, município localizado na borda Leste dessa unidade de
conservação. Essa população é freqüentemente encontrada na margem esquerda
do São Francisco, no período de piracema e no período em que os agricultores
costumam fazer suas plantações.
Dado o exposto, o zoneamento ambiental do Parque Estadual Mata Seca
tem o desafio de levar em consideração essa realidade e sugerir alternativas
econômicas viáveis para as comunidades tradicionais do entorno para reduzir os
conflitos entre essas populações e os órgãos gestores/fiscalizadores e, ao mesmo
tempo, amenizar a pobreza da região.

56
3. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual Mata Seca localiza-se no município de Manga, Norte do


Estado de Minas Gerais e, conforme a figura 4, encontra-se entre os municípios de
São João das Missões e Matias Cardoso, entre as coordenadas geográficas de 43°
97’ 02 ‘’ S - 14° 64’ 09’’W e 44° 00’ 05’’ S - 14° 53’ 08’’W. Essa unidade de
conservação apresenta um quadro ambiental bastante complexo em função da
diversidade de biótopos encontrados dentro dos seus limites.
Possui uma área de 10.281,44 hectares e foi criado em Dezembro de 2000
com o objetivo de proteger as representativas fitofisionomias da Caatinga que se
encontram ameaçadas pelas pressões antrópicas da região. Dentre as
fitofisionomias encontradas no Parque, destacam-se a Floresta Estacional Decidual
Densa e de alto porte, a Caatinga Arbórea Aberta ou “Furado” (depressão alagável
em afloramentos calcários com gramíneas e cactáceas), a Floresta Tropical Pluvial
Perenifólia e a Floresta Estacional Decidual de Afloramentos Calcários.
As manchas de Florestas Decíduas de alto porte são os principais biótopos
do Parque, uma vez que representam um dos últimos remanescentes dessas
formações florestais no Norte de Minas. Por estarem associadas a solos de alta
fertilidade natural, essas florestas foram quase que totalmente destruídas pela
implantação do Projeto Jaíba. Outro importante biótopo do quadro fisiográfico dessa
unidade de conservação refere-se às Lagoas Marginais que ocorrem na área do
Parque. As Lagoas Marginais exercem um importante papel na dinâmica ecológica
que sustenta a manutenção da biota do Rio São Francisco. As Florestas Tropicais
Perenifólias ocorrem nas margens do Rio São Francisco e também já foram
bastante alteradas, devido ao fato de sua ocorrência estar associada a áreas
preferenciais para a prática da agricultura de vazante.
O Parque também possui instalações de uma fazenda com pastagens, um
Pivô Central desativado e outro em atividade. Por fim, existem também extensas
áreas com Florestas Decíduas Alteradas e em diferentes estágios sucessionais.

57
Figura 4 – Localização do Parque Estadual Mata Seca

58
3.1 Processo de ocupação e uso do solo do Norte de Minas Gerais

O processo de ocupação do Norte de Minas é muito antigo e se insere no


contexto em que a pecuária foi a responsável pela atração de fluxos migratórios em
direção ao interior do Brasil a partir do Século XVII. De acordo com Pereira (2004),
a primeira viagem exploratória para o Norte de Minas aconteceu com a expedição de
Francisco Bruzza Espinosa e José de Aspicuetta Navarro que partiu de Porto
Seguro em direção ao Vale do São Francisco, em março de 1554.
Ao longo do século XVII, vários bandeirantes adentraram pelo interior do
Brasil em busca de pedras preciosas, mas o mais famoso deles foi Fernão Dias
Paes, em cuja bandeira estavam os dois principais conquistadores do Norte de
Minas: Matias Cardoso e Antônio Gonçalves Figueira (PEREIRA, 2004). A jornada
de Fernão Dias em Minas Gerais durou 9 anos e como ele não encontrou as tão
sonhadas esmeraldas, o grande bandeirante paulista acabou sendo preterido pelo
governo de Portugal na empreitada em busca das pedras preciosas. Assim, Fernão
Dias foi substituído por Dom Rodrigo Castelo Branco que passou a ser o novo
Governador e Administrador das esmeraldas (PEREIRA, 2004). Um dos maiores
amigos de Fernão Dias, o bandeirante Borba Gato, não aceitou o novo chefe, o que
acaba provocando uma séria disputa dentro do grupo e o assassinato de Dom
Rodrigo. Com o grupo dividido, Matias Cardoso, Januário Cardoso e Antônio
Gonçalves Figueira rumaram em direção ao Norte de Minas e, ao se instalarem nas
proximidades do Rio São Francisco, implantaram fazendas e povoados que
posteriormente foram transformados em cidades como Matias Cardoso, Manga e
Montes Claros (PEREIRA, 2004).
De acordo com o IBGE (1959), Antônio Gonçalves Figueira criou, para
fabricação de rapadura, a primeira fazenda no Norte de Minas, no final do Século
XVII. Esse engenho localizava-se nas margens do Rio Japoré, atual município de
Manga, margem esquerda do Rio São Francisco. Posteriormente, vieram as
fazendas de gado em um processo de expansão da pecuária nordestina em direção
ao Sul. Devido a essa expansão, implantaram-se os currais e caminhos de gado e,
em seguida, ferrovias, povoados, vilas, rodovias e cidades (LEITE &
PEREIRA,2004). Durante muito tempo as cidades ribeirinhas do Norte de Minas,

59
como Januária, Pirapora, São Romão e Manga constituíram as áreas de maior
dinamismo no comércio regional.
No final do século XIX, as cidades ribeirinhas entram em decadência e
Montes Claros ganha importância, tornando-se o principal núcleo urbano do Norte
de Minas (LEITE & PEREIRA, 2004). Os estudos de Leite & Pereira (2004)
constataram que até meados da década de 1970 a economia do Norte de Minas era
totalmente baseada na agricultura, no comércio e principalmente na pecuária. A
maioria das cidades destacava-se como centros produtores de gado de corte. No
entanto, a partir das ações da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –
SUDENE na região, algumas cidades, com destaque para Montes Claros, passam
por um surto de industrialização que desencadeia profundas transformações em
sua estrutura social e econômica.
Para Almeida (1999), o Norte de Minas, em relação a outras regiões do
Estado, tem se mantido desde a época da colonização como uma região vazia
econômica e demograficamente. Assim, em função do agravamento dos
desequilíbrios regionais e o acelerado desenvolvimento de regiões como o Sul e o
Triângulo Mineiro, houve uma maior mobilização de diferentes grupos sociais e
políticos em busca de uma solução para os problemas da porção Norte do Estado.
A SUDENE, criada em 1959, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais
no país, implantou dois distritos industriais na Região: o de Pirapora e o de Montes
Claros.
Na mesma perspectiva de busca pela superação dos desequilíbrios regionais,
o Estado inicia o processo de ocupação das Matas Secas da região de Jaíba, até
então composta por terras devolutas. Assim, através de um processo que tinha
como objetivo a reorganização da agricultura do Vale do São Francisco, foi criada
em 1975 a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco –
CODEVASF que através de projetos de irrigação promoveu uma grande
transformação nas forças produtivas e nas relações de produção do semi-árido
norte-mineiro (ALMEIDA, 1999).
Abrangendo os municípios de Jaíba e Matias Cardoso, o Projeto Jaíba foi
implantado no final dos anos 70 e destaca-se como o maior empreendimento
voltado para o desenvolvimento agroindustrial da região. Trata-se de um projeto que
desencadeou um expressivo avanço no agronegócio do Norte de Minas, uma vez
60
que promoveu o início de uma grande corrida pela agricultura irrigada que se
refletiu na proliferação de pivôs centrais ao longo das margens do Rio São
Francisco, Verde Grande e Gorutuba. No entanto, esses empreendimentos não
apresentaram nenhuma preocupação com o meio ambiente, o que resultou em
grandes impactos ambientais na região como um todo (FIRMINO,1996). Assim, a
escalada de desmatamento na região do Projeto Jaíba se estendeu até a margem
esquerda do São Francisco, fazendo com que grandes áreas de Florestas Decíduas
também fossem destruídas nos municípios de Januária, Itacarambi, Manga e
Montalvânia. A vegetação do Parque Estadual Mata Seca representa um dos
últimos remanescentes das imensas áreas de Florestas Decíduas que cobriam a
região.
Apesar de todos esses esforços, o Norte de Minas Gerais continua
apresentando sérios problemas econômicos e sociais, uma vez que a região
destaca-se ao lado do Vale do Jequitinhonha como uma das áreas mais pobres do
Estado. Em seus estudos que resultaram na produção do Atlas da Exclusão Social
do Brasil, Pochmann & Amorim (2003) constataram que grande parte dos
municípios da região apresenta péssimos indicadores sociais e estão entre os mais
carentes de Minas Gerais. Para Fontes & Fontes (2005), o Estado de Minas Gerais
apresenta um importante papel na economia e política nacional. No entanto,
apresenta uma economia dual com regiões alcançando alto desenvolvimento,
enquanto que, em outras, predominam o atraso econômico e a penúria.

3. 2 O município de Manga no contexto fisiográfico do Norte de Minas

O Norte de Minas possui uma rica biodiversidade que se reflete na existência


das inúmeras fitofisionomias vegetais inseridas dentro dos dois grandes biomas
que ocorrem no Norte do Estado: o Cerrado e a Caatinga. Entre elas, destacam-se
o Cerrado Típico, o Cerradão, a Vereda, os Campos, as Matas Ciliares, a Caatinga
Arbustiva, a Caatinga Arbórea e a Floresta Estacional Decidual (Universidade
Federal de Lavras – UFLA & Instituto Estadual de Floresta - IEF, 2006). Essa
diversidade vegetacional associada à distribuição dos solos, rochas, clima, relevo e
hidrografia conferem ao Norte de Minas a existência de um contexto fisiográfico

61
bastante diversificado e integrado constituindo, assim, uma grande variedade de
geobiocenoses ou ecossistemas.

3.2.1 Geologia

As diversas formações geológicas que compõem a geologia da região


situam-se cronologicamente desde o Pré-Cambriano até o Holoceno. Destacam-se
por sua maior extensão, aquelas atribuídas ao Pré-Cambriano (Grupo Bambuí), as
formações cretáceas (Urucuia), além dos recobrimentos referidos ao Terciário-
Quaternário ( JACOMINE et al, 1979). No município de Manga o Grupo Bambuí se
faz representar pela formação Lagoa do Jacaré e pelo Sub-Grupo Rio Paraopeba
indiviso, ambos pertencentes ao Sub-Grupo Rio Paraopeba. A Formação Lagoa do
Jacaré é constituída por siltitos, siltitos calcíferos, calcários cinzentos, ardósias e
quartzitos (SILVA,1989). Para o Cetec (1983) outro importante componente do
contexto litológico da área de estudo refere-se às Coberturas Detríticas e
Aluvionares do Quaternário.
De acordo com Companhia Mineradora de Minas Gerais – COMIG (2003), a
região de Manga e do Parque Estadual Mata Seca se insere no Sub-Grupo Rio
Paraopeba, seqüência estratigráfica do Grupo Bambuí formada por calcários e
siltitos de idade geológica situada entre 850 e 650 Milhões de anos. Como se pode
observar na figura 5as rochas do Bambuí são revestidas por coberturas detríticas
colúvio-eluvionares do final do Terciário e inicio do Quaternário(NQ d). Nas margens
do Rio São Francisco ocorrem depósitos aluvionares quaternários mais recentes
(COMIG, 2003).

62
Figura 5 – Mapa geológico da região do Parque Estadual Mata Seca
63
3.2.2 Geomorfologia

As rochas do Grupo Bambuí constituem a base sobre a qual se assenta o


contexto geomorfológico da área que se caracteriza pela presença de planícies
deposicionais e superfícies planas cujas cotas altimétricas variam entre 400 e 600
metros. Em meio a essas superfícies rebaixadas, típicas da Depressão do São
Francisco, destacam-se os morros calcários resultantes da erosão diferencial
realizada sobre as rochas. Na porção Nordeste do Parque Estadual Mata Seca, o
Morro da Lavagem com seus 532 metros de altitude destaca-se como uma das
principais formas de relevo residuais da região.
Para Jacomine et al (1979), a Depressão do São Francisco constitui uma
unidade isolada no contexto geomorfológico do Norte de Minas. Ao denominá-la de
Superfície de Aplainamento da Depressão Sanfranciscana, os autores a
caracterizam como uma unidade morfológica com grandes superfícies rebaixadas
ao longo do Rio São Francisco e seus afluentes. Geralmente, possuem relevo plano
e suave ondulado, com altitudes que variam de 450 a 750 metros. Grande parte do
município de Manga se encontra nessa unidade geomorfológica.

3.2.3 Pedologia

Em relação aos solos, a região apresenta o predomínio de Latossolos


originados da decomposição das rochas do Grupo Bambuí e dos depósitos colúvio-
eluvionares do Quaternário. De acordo com o mapeamento apresentado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e estatística – IBGE e pela EMBRAPA em 2003,
as principais classes de solos da região de Manga são os Latossolos Vermelhos
distróficos, os Latossolos Amarelos distróficos, os Neossolos Flúvicos eutróficos, os
Cambissolos Háplicos eutróficos e os Neossolos Quartzarênicos eutróficos.
Os Latossolos de uma maneira geral são profundos, acentuadamente
drenados, possuem saturação de bases baixa, saturação de alumínio extraível
elevada e estão associados a um relevo relativamente plano com superfícies
onduladas recobertas por depósitos de origem coluvial (EPAMIG,1990). Nesse
sentido, é importante ressaltar que a influência das condições geológicas e
geomorfológicas sobre a gênese e características morfológicas dos solos do Norte
64
de Minas é muito visível, haja vista que a expressiva presença de sedimentos
coluvionares explica o fato dos Latossolos da área serem bastante arenosos,
comprovando que algumas características morfológicas como a textura e a
porosidade também estão relacionadas às rochas da região. No tocante à gênese,
os terrenos planos como os que ocorrem em Manga justificam a ocorrência dos
Latossolos. Quanto à fertilidade, é importante destacar que a região também possui
solos férteis associados aos calcários do Grupo Bambuí e aos depósitos aluviais do
quaternário.
A região de Manga também apresenta áreas marcadas pela presença de
Neossolos Litólicos associados aos afloramentos calcários do Grupo Bambuí. Os
Neossolos Litólicos são pouco desenvolvidos e se caracterizam pela presença do
horizonte A assentado diretamente sobre um horizonte C pouco
espesso(EPAMIG,1990). Esses solos são muitos freqüentes nas encostas dos
morros calcários como o Morro da Lavagem e estão associados às Florestas
Estacionais de Afloramento calcário. Os Neossolos Litólicos também estão
presentes nas depressões alagáveis conhecidas regionalmente como “Furados”.

3.2.4 Clima

As características pedológicas da região refletem condições climáticas


pretéritas muito distintas das atuais. A considerar que o clima da atualidade é
marcado por um índice pluviométrico relativamente baixo, pode-se constatar que o
grau de intemperização e dissecação das rochas é menos intenso, fazendo com que
a pedogênese nos dias atuais seja mais lenta.
De acordo com a Classificação de Koppen grande parte do Norte de Minas,
incluindo Manga, apresenta um clima do tipo AW que também pode se definido
como tropical úmido com uma estação seca, sendo a precipitação do mês mais seco
inferior a 60mm, e a temperatura do mês mais frio superior a 18ºC (ANTUNES,
1990,1994).
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais -
INDI(2006), o clima de Manga pode ser considerado como quente, uma vez que
temperatura média anual está em torno de 24ºC e a temperatura média máxima
anual é 32 ºC, enquanto a média mínima anual está em torno de 18,5ºC. No tocante
65
às precipitações, a pluviosidade média anual de Manga é de 916 mm. No entanto,
deve-se ressaltar que essas chuvas são irregulares e concentradas nos meses de
verão, o que faz com o município esteja incluído no Polígono das Secas.
A EPAMIG (1990) calculou o balanço hídrico para Manga pelo método de
Thorntwait e Mather (1955) considerando como 100 mm a capacidade de retenção
de água no solo. Conforme esse balanço hídrico, a evapotranspiração potencial
anual de Manga está em torno de 1290 mm e o déficit hídrico em 460 mm
aproximadamente. Essa deficiência prevalece praticamente no ano todo, com maior
intensidade no período de maior estiagem que vai de junho a outubro. O período
mais crítico para a vegetação ocorre entre os meses de junho e setembro, pois
nessa época do ano a evapotranspiração real está ascendente e maior que a
precipitação que ainda não produz excedente hídrico (EPAMIG,1990;
ANTUNES,1994).

3.2.5 Vegetação

A deficiência hídrica nos meses de inverno se reflete claramente na


vegetação predominante que se caracteriza por apresentar um ritmo estacional
marcado pela queda de folhas durante o período seco. A presença significativa de
cactáceas na área, sobretudo na Caatinga Arbórea Aberta sobre lajeamento,
também retrata os efeitos climáticos sobre a vegetação, pois as espécies dessa
família são grandes exemplos de xerofilismo em ambientes tropicais. Assim, os
cactos, como o Cereus jamacaru (mandacaru) ou a Opuntia sp (palma), possuem
caules suculentos que permitem o armazenamento de água caracterizando uma
adaptação à seca, já evidenciada pela inexistência de folhas e presença de
espinhos. A significativa ocorrência de exemplares de Cavanillésia arbórea
(Embaré) com seu característico tronco ventricoso contrastando com uma copa
reduzida e mal formada também representa uma interessante adaptação ao clima
uma vez que o enorme espessamento do troco dessas árvores é conseqüência do
acúmulo de água (ROMARIZ, 1996).
A vegetação do Norte de Minas como um todo é bastante variada uma vez
que abrange áreas dos biomas Caatinga e Cerrado. Assim, as diversas
fitofisionomias desses biomas associadas aos maciços florestais plantados fazem
66
com que a região apresente um quadro vegetacional diversificado e complexo em
que destaca-se as Florestas decíduas e o cerrado típico ( ver figura 2).
O extremo Norte do Estado de Minas Gerais, abrangendo o município de
Manga e adjacências, encontra-se dentro do bioma Caatinga e apresenta um
mosaico vegetacional bastante complexo devido à diversidade de formações
vegetais ou fitofisionomias encontradas dentro dos seus limites (UFLA-IEF,2006).
Dentre as fitofisionomias do bioma Caatinga encontradas na área, destacam-se a
Floresta Estacional Decidual de alto porte, a Floresta Tropical Pluvial Perenifólia ou
Mata Ciliar, a Caatinga Arbórea Aberta ou “Furado” e a Floresta Estacional Decidual
de Afloramentos Calcários (EPAMIG,1990; BRANDÃO & GAVILANES, 1994;
BRANDÃO & NAIME,1998; BRANDÃO et al ,1998; BRANDÃO,2000).
A Floresta Estacional de alto porte é encontrada nas áreas onde os solos
eutróficos de origem calcária favoreceram o desenvolvimento de uma vegetação
estacional de grande porte, com troncos grossos e uma expressiva presença de
lianas. Trata-se de uma formação de grande importância biológica, pois possui uma
variedade florística marcada por espécies raras e ameaçadas de extinção
(BIODIVERSITAS,2005). Em seu estrato arbóreo ocorre uma significativa presença
de exemplares de Myracrodruon urundeuva (Aroeira) e Cavanillesia arborea
(Embaré) que destacam-se na paisagem. Através de observações de campo
constatou-se que a Cavanillesia arborea é determinante para a caracterização
fisionômica dessa vegetação, uma vez que a altura e o diâmetro dos exemplares
dessa espécie no Parque assumem proporções muito acima da média no Estado
(BRANDÃO, 2000). Alguns indivíduos chegam a alcançar entre 20 e 30 metros.
Quanto aos indivíduos da espécie Myracrodruon urundeuva (Aroeira) devemos
destacar que a área do Parque Estadual Mata Seca possui uma das maiores
concentrações de Aroeiras por hectare no Estado de Minas Gerais (informação
verbal)4.
A Floresta Tropical Pluvial Perenifólia ou Mata Ciliar restringe-se às margens
dos rios mostrando dimensões muito reduzidas e podendo ser vista em alguns
trechos dos Rios São Francisco, Verde Grande, Verde Pequeno, Jequitaí, Gorutuba,
Pardo e Carinhanha (BRANDÃO,2000). Esse tipo de vegetação aparece geralmente

4
Informe repassado por José Luís (técnico do IEF) em um trabalho de campo realizado em março de
2006.
67
em Neossolos Flúvicos eutróficos de textura argilosa, o que leva essas áreas a
serem desmatadas para a prática da agricultura de vazante. Entretanto, Matas
Ciliares possuem Estatuto de Área de Proteção de Permanente (APPs) e de acordo
com a legislação ambiental não devem ser desmatadas. No Parque Estadual Mata
Seca existem importantes manchas de Florestas Perenifólias encontradas nas
margens do Rio São Francisco e no entorno das Lagoas Marginais.
Outra fitofisionomia de destaque na área do Parque é a Caatinga Arbórea
Aberta sobre afloramento calcário em forma de lajeamento. Essa fitofisionomia
localiza-se geralmente em depressões alagáveis por ocasião das chuvas e recebe
localmente o nome de “Furados” (BRANDÃO et al, 1998). Os “Furados” estão sendo
considerados como um novo ecossistema. Para Brandão et al.(1998), os “Furados”
são de grande importância para a dinâmica ecológica local e regional pois trata-se
de um ecossistema que possui diversos frutos que complementam a dieta dos
animais locais, sobretudo, da avifauna, que ali também constrói os seus ninhos. O
estrato arbóreo da Caatinga Arbórea Aberta sobre afloramento calcário possui
agrupamentos arbóreos esparsos. Conforme a figura 6 no período de chuvas o
“Furado” apresenta também um tapete herbáceo denso e entrecortado por grandes
afloramentos de calcário e manchas de cactáceas com a presença de espécies
como Cereus jamacaru (mandacaru), Melocactus sp.(coroa-de-frade), Opuntia sp.
(palma), Pilocereus sp.(Xique-Xique), entre outras (BRANDÃO et al. 1998;
BRANDÃO & NAIME,1998).

68
Figura 6 – O tapete herbáceo do “Furado” no período de chuvas

A Caatinga Hiperxerófila apresentada no Inventário da Flora Nativa de Minas


Gerais (IEF-UFLA, 2006) define-se como uma vegetação aberta com arbustos e
árvores esparsas freqüentemente associada a afloramentos rochosos e que
geralmente ocorre na forma de encraves. Essas características e a composição
florística da Caatinga Hiperxerófila fazem com que essa vegetação se assemelhe
bastante à definição da Caatinga Arbórea Aberta apresentada por
Brandão(1998;2000). A diferença se encontra no fato da Caatinga Arbórea Aberta
se alagar nos períodos de chuvas.
Quanto à Floresta Estacional de Afloramentos Calcários, sabe-se que essa
fitofisionomia apresenta uma distribuição restrita aos afloramentos siltito/calcários e
que em Minas Gerais se estende por uma longa faixa que vai da região cárstica de
Sete Lagoas/Lagoa Santa indo até o extremo Norte do Estado ( IBGE, 2003).
Estudos realizados em áreas cársticas de Lagoa Santa por Brina (1998)
caracterizaram a Floresta Estacional de Afloramentos como uma floresta que se
desenvolve sobre topografia acidentada e em solos de espessura irregular com
muitos afloramentos calcários. As árvores alcançam entre 4 e 10 metros podendo
atingir até 20 metros e a maior freqüência de classes de diâmetro está entre 5 e 10
cm ( BRINA, 1998). No Parque Estadual Mata Seca, esse tipo de Floresta

69
Estacional ocorre nos afloramentos calcários do Morro da Lavagem, localizado a
Nordeste da área de estudo.
A região também possui áreas de Florestas Decíduas Alteradas e em
diferentes estágios sucessionais, além dos Carrascais ou Carrascos. O Carrasco é
uma vegetação típica de áreas degradadas do semi-árido do Norte de Minas e é
composta por espécies pioneiras de baixo porte, nunca maiores que 1,5 a 2 m de
altura (CODEVASF,1997).

3.2.6 Hidrografia

Devido às condições climáticas regionais, a maioria dos rios da região é


intermitente. Os Rios São Francisco, Itacarambi, Japoré e Carinhanha são os
principais rios perenes, mas que apresentam um regime de cheias e vazantes
determinadas pela estacionalidade do clima regional.
Grande parte do Norte de Minas e a área de estudo se inserem na Bacia do
São Francisco que apresenta 37% de sua área de drenagem dentro do Estado de
Minas Gerais (CETEC,1983). Os afluentes mais importantes do trecho norte-mineiro
do rio São Francisco são pela margem direita os rios Jequitaí, Pacuí e Verde
Grande; e pela margem esquerda os rios Urucuia, Pandeiros, Japoré, Calindó e
Carinhanha (CETEC, 1983).
O principal rio da área de estudo é o São Francisco que nos limites do Parque
Estadual Mata Seca apresenta quatro Lagoas Marginais: Lagoa da Picada, Lagoa
Comprida, Lagoa do Angical e a Lagoa da Prata. Para Pompeu (1997), as lagoas
marginais são corpos hídricos que ficam isolados nas planícies de inundação após o
período de cheias. Na bacia do São Francisco, as lagoas marginais constituem-se o
principal criadouro das espécies de piracema, que são as mais importantes para a
pesca comercial e esportiva. A importância das lagoas para os peixes torna esses
ambientes críticos para a conservação( POMPEU, 1997).

70
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1. O Mapeamento de biótopos

A proposta de zoneamento ambiental do Parque Estadual Mata Seca baseia-


se na metodologia de mapeamento de biótopos apresentada por Bedê et al (1997) e
adaptada por Neves (2002). Os mapeamentos de biótopos têm como principal
objetivo estabelecer os mecanismos básicos necessários para a melhoria da
qualidade ambiental. Para esse objetivo ser atingido é fundamental a elaboração de
um diagnóstico baseado na integração dos mais diversos parâmetros ecológicos.
Para esses autores, no mapeamento de biótopos, esse diagnóstico é feito através
do desmembramento de uma determinada área de estudos em unidades
cartográficas de uso e estrutura semelhantes, descrevendo exaustivamente suas
características. Dentre as inúmeras aplicações do mapeamento de biótopos,
destacam-se planejamento e preservação ambiental, projetos de mineração, planos
de reabilitação ambiental, planejamento de lazer e turismo, planos diretores,
diagnósticos e zoneamento de unidades de conservação entre outros (BEDÊ et al,
1997).
De acordo com Bedê et al (1997), dentre as inúmeras formas de aplicação do
mapeamento de biótopos, três merecem destaque:
→ O mapeamento seletivo que considera apenas os biótopos relevantes, passíveis
de proteção ou potencialmente passíveis de obter esse status.
→ O mapeamento representativo em que são analisados superfícies amostrais
representativas de cada tipo de biótopo encontrado na área de estudo.
Posteriormente, o resultado das análises será extrapolado para superfícies com
características semelhantes.
→ O mapeamento integral que não considera superfícies amostrais dos biótopos,
pois trata-se de um inventário ambiental detalhado de toda a superfície em estudo.
Como a área do Parque é muito grande, para este trabalho, o mapeamento
proposto foi do tipo representativo. Assim, o trabalho foi dividido em 9 etapas:

71
4.1.1 Atividades preliminares
Os trabalhos preliminares foram iniciados com a escolha da área de estudo e
com os primeiros trabalhos de campo voltados para reconhecimento do Parque
Estadual Mata Seca. Os trabalhos de campo foram realizados com o objetivo de
identificar os principais biótopos da área de estudo em períodos distintos: no período
de chuvas e no período de estiagem.

4.1.2 Revisão teórica

Essa etapa teve como objetivo fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema
proposto, visando adquirir a base conceitual necessária ao trabalho. Na revisão
bibliográfica, buscou-se fazer algumas leituras visando obter um maior
embasamento teórico sobre o tema a ser abordado no trabalho. O material
consultado constou de livros, artigos científicos, monografias, teses, dissertações,
jornais e mapas.

4.1.2.1 Análise cartográfica e aerofotogramétrica

Com o objetivo de obter uma visão geral da área e fazer uma


contextualização regional da unidade de conservação pesquisada, foram analisados
recobrimentos aerofotogramétricos do CPRM ( vôo de 1969, escala 1:60.000) e
imagens coloridas do Thematic Mapper - + ETM /Landsat( bandas 2,3 e 4) na forma
digitalizada com passagens nos dias 08 de setembro de 2001( período seco) e 06 de
março de 2003 ( período chuvoso). Também foram utilizados uma carta topográfica
do IBGE (folha Manga – SD.23-2-A escala 1:250.000) e mapas topográficos do
Serviço Geográfico do Exército - SGE: folhas Japoré (SD 23-2-A-V) e Manga (SD
23-2-A-VI) na escala de 1:100.000.

72
4.1.3 Elaboração do mapa preliminar

A produção do mapa preliminar de biótopos foi realizada através da análise


de imagens coloridas IKONOS na forma digitalizada cedidas pelo Instituto Estadual
de Florestas – IEF. Essas imagens IKONOS com passagem no mês de abril de 2007
possuem alta resolução espacial, por isso foram de fundamental importância para a
confecção desse trabalho. Entretanto, a elaboração do mapa preliminar contou com
o apoio de cartas topográficas de escala 1:100.000, imagens Landsat/ ETM +
(2001,2003) e fotos aéreas de escala 1:60.000( CPRN, 1969). Os biótopos foram
identificados através da análise visual das imagens IKONOS e posteriormente foram
comparados com as cartas e com os resultados encontrados na análise
aerofotogramétrica. Em um segundo momento, foi feito um trabalho de campo
através do qual foram confirmadas as informações levantadas nas análises de fotos
aéreas, cartas topográficas e imagens de satélite. Depois de confirmada a
identificação dos biótopos o mapa foi digitalizado.

4.1.4 Elaboração do mapa final

A delimitação final dos biótopos foi realizada através da comparação de


dados observados em campo e a realidade representada no mapa preliminar. Todos
os biótopos foram percorridos de modo que pudessem ser identificadas as
alterações necessárias no mapa preliminar. Essas alterações foram registradas
através de marcas e sinalizações. Posteriormente, as modificações foram feitas a
partir de uma nova análise das imagens de satélite e através da confrontação da
realidade observada em campo com os dados visualizados na imagem. Depois de
analisados os limites dos biótopos do mapa preliminar e corrigidas as possíveis
distorções comuns nesse tipo de trabalho foi realizado o georreferenciamento
através do uso das coordenadas geográficas correspondentes aos pontos
encontrados ao longo do perímetro do Parque. Esses dados foram produzidos pelo
IEF-MG através do uso de um Global Position System ( GPS). O mapa definitivo5foi
digitalizado através do software de Geoprocessamento Arc Map.

5
O mapa se encontra na forma de encarte de modo que ele possa ser manuseado ao longo da
leitura do capítulo 5.
73
4.1.5 Caracterização dos biótopos

Os biótopos foram caracterizados através do uso de planilhas ( Tabela 6)


adaptadas de Bedê et al (1997) e Neves (2002). Essas planilhas foram elaboradas
com o objetivo de produzir um mecanismo que permitisse o registro da situação dos
indicadores (características) nos biótopos analisados. De acordo com a metodologia
apresentada por Neves (2002) na maioria dos biótopos foi delimitado um
transecto/faixa de três metros de largura por cem metros de comprimento,
subdividido em dez parcelas de trinta metros quadrados. Nos biótopos Florestas
Alteradas e Floresta Estacional Decidual de alto porte foram delimitados 4 e 3
transectos respectivamente, devido ao fato de essas áreas serem mais extensas.
Dessa maneira, procurou-se definir pontos amostrais que cobrissem toda a extensão
dos biótopos (Ver o encarte com o mapa de biótopos no capítulo 5).
A caracterização foi realizada com a aplicação das planilhas em cinco
parcelas alternadas e levou em consideração seis critérios. Cada critério foi
caracterizado levando-se em conta dois indicadores. Assim, os biótopos foram
caracterizados baseando-se principalmente nas características fisionômicas da
cobertura vegetal, mas também considerou-se a existência de aspectos relevantes
para abrigo e alimentação da fauna e o estado de conservação (NEVES, 2002). Por
tratar-se de um zoneamento ambiental em que se priorizou a caracterização
florística geral dos biótopos esse trabalho optou por uma metodologia de
identificação de espécies baseada no levantamento dos nomes populares das
plantas presentes nas áreas mapeadas. Posteriormente esses nomes populares
foram confrontados com as referências bibliográficas (BRANDÃO &
GAVILANES,1994;LORENZI, 1998; SCOLFORO & OLIVEIRA,2005; OLIVEIRA-
FILHO, 2006). Entretanto, deve-se ressaltar que a associação nome científico/nome
popular só pode ser feita em situações em não se tem dúvida sobre essa correlação.
Por exemplo, as Barrigudas Lisas ou Embarés estarão sempre associadas à
espécie Cavanillesia arborea. Em outras situações, recomenda-se o uso do nome
do gênero. Deve-se ressaltar que esse processo de identificação das espécies
contou com a colaboração do gerente do Parque Estadual Mata Seca e sua larga
experiência em identificação de plantas pelos nomes populares.

74
A medição das árvores foi feita através de um método divulgado pelo
Programa Internet na Escola, do Ministério da Educação de Portugal6.Trata-se de
um método simples baseado na sobreposição de uma régua sobre uma árvore.
Nesse processo é necessário que uma pessoa, com uma régua na mão, estique o
braço em direção à árvore que deve ser medida. O medidor deve apontar a régua
em direção à árvore de modo que ele veja a régua e a árvore sobrepostos e do
mesmo tamanho. Uma outra pessoa deve encostar no tronco da árvore. Em
seguida, quem estiver com a régua na mão deve rodá-la com firmeza, nunca
deslocando a base da régua da base do tronco, até que a régua fique na horizontal.
Posteriormente, quem está encostado na árvore deve andar para o lado até chegar
ao ponto que coincide com a ponta da régua. Quando isso acontecer a pessoa pára
de andar e marca a sua posição no chão. A seguir mede-se a distância desde o
tronco até o local marcado no chão. A medida encontrada é a altura da árvore. Ao
obter a altura de uma árvore pode-se determinar a altura das outras por
aproximação.

6
http://www.uarte.mct.pt/activ/dia-arvore/dicas.asp
75
Tabela 6 - Planilha para mapeamento de biótopos
PLANILHA PARA MAPEAMENTO DE BIÓTOPOS
Tipo de biótopo: Código: Folha:

Localização: GPS: Data da Coleta:

Unidade Espacial Área (m²): Área Livre (%): Área Construída (%):

CARACTERÍSTICAS GERAIS E ESTRUTURAIS DA VEGETAÇÃO


Potencial para a Presença de
Estratos presença de musgos Invasoras

(1, 2, 3, 4,5,6)
Deciduidade Potencial para a Presença de
Presença de Líquens Ruderais
Presença de Epífitas Presença de Lianas Presença de
Clareiras
Árvores Mortas Em pé Caídas
ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO

Árvores (altura em metros / Nº ) Arbustos Subarbustos Ervas


T/F
20- 16- 11- 6- 2-
Total 1- 2
25 20 15 10 5

Espécies Abundantes Diâmetro Médio Número de Indivíduos

Espécies Ocasionais ou raras

ATIVIDADE ACADÊMICA / EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Número de aspectos de beleza
Atividade acadêmica
cênica
Potencial para pesquisas
N ° de processos ambientais
naturais observáveis

ESTRUTURA DO SOLO
Grau de Permeabilidade Tipos de Superfície sem
Drenagem Erosão
vegetação
Alto Pobre Não Visível Pedras
Médio Moderada Erosivo Solo Exposto
Baixo Boa Muito Erosivo Serrapilheira
Observações sobre a superfície: Estruturas Especiais: Água
Asfalto
Calçamento
IMPACTOS AMBIENTAIS / USOS E MANEJOS

Acúmulo de Lixo Estradas / Vias Incêndios

Criação de Animais Efluentes / Esgoto Processos Erosivos

Edificações Flora Exótica Retirada de Lenha

Limite com Estradas / Vias Limite com Áreas Externas

FUNÇÃO ECOLÓGICA
Reservatórios de Água
Espécies Frutíferas Bromélias
Temporários
Berçário de Espécies Rios / Lagoas Grau de Conservação
* A= Abundante (> 50%) C= Comum (10 a 50%) O= Ocasional (5 a 10%) MB= Muito Baixo B=Baixo

R= Rara (< 5%) AU= Ausente TF= Total Final Al= Alto MA= Muito Alto
FONTE: Adaptada de BEDÊ et al (1997) e NEVES (2002)

76
4.1.6 Elaboração das tabela-síntese com os dados das planilhas

Essa tabela-síntese foi elaborada com o objetivo de simplificar os dados


encontrados na análise dos biótopos e ao mesmo tempo criar um memorial
descritivo com as informações coletadas, visando a uma melhor interpretação das
áreas estudadas.

4.1.7 Definição dos critérios e indicadores de caracterização

De acordo com Bedê et al (1997) quase sempre são desejadas várias funções
para uma mesma área de estudos, o que faz com que os objetivos do trabalho
sejam bem claros de modo a direcionar o processo de avaliação a ser executado.
Assim, para se atingir os objetivos propostos deve-se pensar em critérios e
indicadores adequados, visando atingir uma avaliação capaz de subsidiar a escolha
das funções certas para os biótopos encontrados na área de estudo. Os critérios
correspondem ao aspecto central da caracterização dos biótopos que deve ser feita
a partir da análise dos indicadores ou parâmetros usados para analisar os critérios
nos biótopos. Nesse contexto, a caracterização levou em conta seis critérios. Sendo
que cada critério contou com dois indicadores:
a) Estado de conservação - Indicadores: interferências antrópicas e edificações.
b)Riqueza de espécies – Indicadores: espécies predominantes e estruturas
especiais.
c)Diversidade de ambientes – Indicadores: número de estratos e potencial para
ampliação do número de habitats no período chuvoso.
d)Função ecológica – Indicadores: características superficiais e estágios
sucessionais.
e)Atividade acadêmica – Indicadores: potencial para pesquisas e registro de
projetos.
f)Potencial para a educação ambiental – Indicadores: beleza cênica e processos
ambientais observáveis.

77
4.1.7.1 Definição da escala de valores para cada indicador

Essa escala de valores teve como objetivo classificar os indicadores de


acordo com um gradiente que vai do pior ao melhor. Assim, cada indicador recebeu
um valor que varia de 1 a 4. Os valores dos indicadores dependem do número de
vezes ou intensidade em que esse indicador aparece no biótopo. Os valores dos
dois indicadores foram usados para produzir uma média parcial que posteriormente
foi usada como valor médio parcial do critério dentro de um biótopo qualquer.
Assim, em uma suposta situação em que um biótopo é avaliado através dessa
metodologia, o critério estado de conservação poderá receber um valor médio
parcial quatro (4) se os indicadores ações antrópicas e percentual de edificações
receberem valor quatro (4). Lembrando que, para esses indicadores receberem
esses valores, é necessário que o biótopo analisado possua de 1 ação antrópica ou
1 impacto e não tenha edificações.

4.1.8 Os critérios e indicadores da caracterização dos biótopos

4.1.8.1Estado de conservação

O Estado de conservação corresponde ao nível de primitividade em que se


encontra um biótopo. É um critério de extrema importância, pois, ao revelar os
aspectos vinculados ao nível de conservação do patrimônio ambiental do biótopo,
torna-se indispensável na tomada de decisões relacionadas à criação de áreas de
recuperação, preservação e pesquisa científica. A quantidade de interferências
antrópicas e a presença de edificações foram os indicadores usados para a análise
desse critério (tabela 7). As interferências antrópicas consideradas foram as
estradas, o acúmulo de lixo, a presença de animais, os incêndios, a erosão, a
retirada de lenha e a proximidade de vias e áreas externas ao Parque . As
edificações são impactos ambientais determinantes na avaliação da primitividade,
pois a presença de casas e instalações de alvenaria de uma maneira geral são
inversamente proporcionais ao estado de conservação do biótopo.

78
Tabela – 7 Valores dos indicadores usados na caracterização do critério estado de
conservação

Ação antrópica e área (%) ocupada por Valores


edificações
Mais de 3 tipos de impactos/Mais de 30% de 1
edificações
3 tipos de impactos/20% a 30% de edificações 2
2 tipos de impactos/0 a 20% de edificações 3
1 tipo de impactos/ Sem edificações 4

4.1.8.2 Riqueza de espécies

A riqueza de espécies é um critério de grande importância para a avaliação


do desenvolvimento da biodiversidade do biótopo. É um critério que indica a
qualidade ambiental da área e a importância do biótopo como espaço destinado à
preservação e à pesquisa científica. O número de espécies vegetais predominantes
e a presença de estruturas especiais foram os indicadores escolhidos. O número de
espécies vegetais da flora predominantes na área é um indicador essencial para a
avaliação de riquezas de espécies. Nesse caso, o número de quatro ou mais
espécies predominantes indica que esse critério apresenta um valor alto(tabela 8).
As estruturas especiais são aspectos que abrigam parte da biota da área e que
sinalizam a presença de uma grande variedade de espécies no biótopo (NEVES,
2002). Ninhos, colméias, formigueiros, teias de aranha e tocas são as principais
estruturas especiais a serem consideradas. De uma maneira geral as estruturas
especiais observadas na área foram: teias de aranha, formigueiros, cupinzeiros,
ninhos e colméias.

79
Tabela 8 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério riqueza de
espécies

Espécies predominantes e estruturas especiais Valores


De 0 a 1 espécie predominante/De 0 a 1 Estrutura 1
2 espécies predominantes/2 estruturas 2
3 espécies predominantes/3 estruturas 3
4 espécies predominantes/4 ou mais estruturas 4

4.1.8.3 Diversidade de ambientes

A diversidade de ambientes refere-se ao número de habitats presentes nos


biótopos. Os habitats permitem que as espécies desenvolvam diferentes nichos
ecológicos que correspondem à função do ser vivo no ambiente, ou seja, o nicho
ecológico diz respeito às atividades e ao sistema de relações das espécies com os
recursos e com as demais formas de vida encontradas no mesmo espaço
(DAJOZ,1983). Os atributos considerados foram a estratificação da vegetação e o
potencial para ampliação do número de habitats no período chuvoso.
A estratificação foi um atributo importante, pois um grande número de
biótopos do Parque Estadual Mata Seca possui mais de três estratos o que
comprova a existência de diversos habitats nas áreas estudadas. O potencial para
ampliação do número de habitats no período chuvoso é um atributo indicado para a
análise de ambientes submetidos a estações secas muito pronunciadas. Sendo que
esta análise deve ser feita apenas no período de estiagem. Assim, esse atributo
avalia a possibilidade de surgimento de novos habitats no período chuvoso tendo
como base o número de estratos, o número de espécies arbóreos e as condições
da superfície. Os novos habitats que surgem no período chuvoso estão associados
principalmente aos líquens e musgos.

80
Tabela 9 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério diversidade
de ambientes

Número de estratos/ Potencial para ampliação do Valores


número de habitats no período chuvoso
1 Estrato/ x< 10% 1
2 ou 3 Estratos/ x=10% ou x < 20% 2
4 ou 5 Estratos/ x=20% ou x < 50% 3
6 Estratos/ x > 50% 4

4.1.8.4 Função ecológica

A função ecológica refere-se ao papel exercido pelo biótopo em seu contexto


ambiental. Neste trabalho, considerou-se como função ecológica o conjunto de
situações em que o biótopo atua como agente no processo de dispersão de
espécies e também como fator que assegura a proteção do solo contra a erosão. Os
atributos considerados foram o estágio de sucessão ecológica e as características
da superfície do biótopo( tabela 10).
O estágio da sucessão ecológica foi considerado como atributo desse critério
porque a capacidade de dispersão de espécies vai depender do nível sucessional
do biótopo. Assim, o fato dos biótopos se encontrarem em um estágio de
comunidade clímax e ao mesmo tempo estarem interligados com outras áreas será
determinante na dispersão de espécies. O outro indicador considerado na avaliação
da função ecológica foi a característica da superfície do solo em relação ao seu
recobrimento. A presença da cobertura vegetal reduz o escoamento superficial,
favorece a infiltração e reduz o processo erosivo evitando a formação de ravinas e o
assoreamento dos rios e lagoas.
Neste trabalho, foram observadas importantes áreas de Floresta Estacional
Decidual que podem ser consideradas como comunidades clímax ou como
comunidades muito preservadas e com pouca interferência antrópica. Essas áreas
exercem - e continuarão exercendo - um importante papel no processo de
recuperação das áreas alteradas no Parque.

81
Tabela 10 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério função
ecológica

Estágio sucessional e tipo de cobertura do solo Valores


Muito alterado/ Asfalto ou calçamento 1
Sucessão inicial/Solo exposto 2
Sucessão intermediária/Serrapilheira pouco 3
desenvolvida
Clímax/Serrapilheira muito desenvolvida 4

4.1.8.5 Atividade acadêmica

O Parque Estadual Mata Seca se encontra em uma região marcada por um


mosaico de ecossistemas que confere à área um grande potencial para atividades
acadêmicas como a pesquisa científica e a educação ambiental. Atualmente essa
unidade de conservação apresenta dezessete pesquisas científicas em andamento
e, com certeza, esses estudos vão contribuir muito para o conhecimento da área
e ainda poderão auxiliar na sua preservação.
Para avaliar esse critério, foram considerados os registros de projetos e o
potencial para pesquisas científicas de cada biótopo ( tabela 11). O registro de
projetos de pesquisas se encontra em uma ficha cadastral disponível no escritório
regional do IEF-MG. A maioria dos trabalhos está sendo realizada nas áreas de
Florestas Estacionais Deciduais mais preservadas, mas também existem pesquisas
que consideram a evolução dos diferentes estágios sucessionais das Matas Secas
da região. Este trabalho é o primeiro a fazer uma análise geral do contexto ambiental
do Parque.
O potencial para pesquisas científicas é um aspecto marcante do Parque
Estadual Mata Seca, haja vista que a área possui uma diversidade de ambientes
muito favorável aos estudos sócio-ambientais. Biótopos como a Floresta Estacional
Decidual de Alto Porte, a Mata Ciliar, a Caatinga Arbórea Aberta, a Floresta de
Afloramentos Calcários e as Lagoas Marginais possuem características que fazem
com que essas áreas possuam um potencial muito alto para pesquisas.

82
Tabela 11 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério atividade
acadêmica

Potencial para pesquisas/Registro de pesquisas Valores


X < 10%/ x< 5% 1
X = 10%ou x < 20%/x= 5 % ou x < 10% 2
X = 20% ou x < 50%/x=10% ou x < 20% 3
X > 50%/x > 20% 4

4.1.8.6 Potencial para educação ambiental

A educação ambiental destaca-se como uma das principais funções das


unidades de conservação e é considerada como um meio pelo qual as pessoas se
sentem preparadas para melhorar o meio em que vivem. Para Spoladore et al
(1997), a educação ambiental é parte integrante da educação geral e tem como
finalidade formar cidadãos conscientes do seu papel de agentes históricos
responsáveis pela construção de um mundo melhor para se viver.
Os atributos usados para analisar o potencial para educação ambiental foram
a existência dos processos ambientais naturais observáveis e o número de
aspectos de beleza cênica( tabela 12). Os processos ambientais naturais
observáveis referem-se aos mecanismos ambientais que podem ser direta ou
indiretamente observados nos biótopos. Aspectos fenológicos como a deciduidade
da vegetação e a floração, a dispersão de sementes, a relação planta/solo, o
xerofilismo, o regime de cheias das lagoas, entre outros, são exemplos de processos
ambientais naturais que podem ser observados no Parque Estadual Mata Seca.
Para Santos (2004), a beleza cênica é formada pelo cenário harmônico
criado pelos bens da natureza que compreendem aspectos visíveis e invisíveis. A
beleza cênica é um atributo subjetivo muito relevante, pois desperta sensações de
grande importância para a eficiência da educação ambiental, além de ser
indispensável para as atividades turísticas. A Floresta Estacional de alto porte, a
Caatinga Arbórea Aberta, as Lagoas Marginais e as florestas de Afloramentos
calcários são os biótopos que mais apresentaram aspectos de beleza cênica.

83
Tabela 12 - Valores dos indicadores usados na caracterização para educação
ambiental
Processos ambientais naturais Valores
observáveis/Belezacênica
X < 10%/ x< 10% 1
X = 10%ou x < 20%/x=10% ou x < 20% 2
X = 20% ou x < 50%/x=20% ou x < 50% 3
X > 50%/x > 50% 4

4.1.9 Determinação das zonas do Parque Estadual Mata Seca

A determinação das zonas foi feita a partir do decreto 84.017 de 21 de


setembro de 1979 e da avaliação da qualidade ambiental dos biótopos. De acordo
com o decreto e baseando-se na realidade do Parque as zonas propostas foram:
Zona intangível, Zona primitiva, Zona de uso extensivo, Zona de uso intensivo e
Zona de recuperação. A inclusão dos biótopos nessas zonas dependeu das médias
aritméticas finais obtidas a partir da soma das médias parciais dividida por seis.
Assim, as médias aritméticas foram usadas para o estabelecimento de uma relação
entre biótopos, intervalo de classes e tipos de zonas. Para Laponi (2000), citado por
Neves (2002), para a definição dos intervalos e das classes recomenda-se o
cálculo da raiz quadrada do número de biótopos analisados(tamanho da amostra).
No caso do Parque Estadual Mata Seca, não foi possível usar essa metodologia,
pois o resultado obtido não era compatível com a realidade dessa unidade de
conservação. Nesse caso, o número de classes e de intervalos foi definido com base
no decreto 84.017(Tabela 13).
Tabela 13 – relação entre as zonas e os intervalos de classes
ZONAS INTERVALOS CORES

ZONA INTANGÍVEL Maior média aritmética VERDE

ZONA PRIMITIVA Média aritmética alta AMARELO

ZONA DE USO EXTENSIVO Média aritmética intermediária AZUL

ZONA DE USO INTENSIVO Média aritmética intermediária LARANJA

ZONA DE RECUPERAÇÃO Menor média aritmética VERMELHO

84
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Delimitação e mapeamento final dos biótopos

O Norte de Minas Gerais destaca-se por apresentar uma grande diversidade


vegetacional que pode ser observada em mapeamentos de pequena escala. Assim,
ao analisar os últimos mapas da cobertura vegetal de Minas Gerais produzidos pelo
IEF, pode-se constatar essa realidade e ao mesmo tempo auferir a ocorrência das
principais fitofisionomias vegetais encontradas no Norte do Estado.
Em mapeamentos de biótopos com escalas maiores essa diversidade se
revela com mais intensidade, permitindo uma espacialização mais detalhada do
quadro vegetacional da região que está sendo analisada. Nessa perspectiva, nota-
se que mapa final de biótopos do Parque Estadual Mata Seca permitiu a obtenção
de um retrato bastante fiel da realidade ambiental dessa unidade de conservação
ao apresentar a hidrografia, os antropismos e principalmente as fitofisionomias da
área (Figura 7 encarte da próxima página).
Foram identificadas diversas fitofisionomias vegetais que comprovam que
essa porção do Estado de Minas Gerais apresenta um mosaico vegetacional
marcado pelo predomínio de Florestas Estacionais Deciduais de alto porte bastante
preservadas ou em estado nativo. Essa tipologia vegetal representa o maior maciço
de Mata Seca de alto porte do Norte de Minas e representa o mais importante
biótopo do Parque.
Também foram identificadas importantes áreas de Florestas Deciduais
Alteradas. Essas florestas correspondem ao biótopo das Florestas Alteradas que
também abrangem as áreas com Matas Ciliares secundárias. O processo de
regeneração da maioria dessas florestas foi iniciado há aproximadamente
dez/quinze anos. A pequena diferença de idade entre essas formações vegetais de
uma maneira geral não se manifestou em contrastes fisionômicos significativos.
Foram selecionados quatro pontos de amostras nesse biótopo e apenas um ponto
apresentou uma diferença mais significativa por tratar-se de uma Mata secundária
mais nova. Não foi feita nenhuma amostragem das Matas Ciliares porque essa
tipologia apresentou poucas áreas com alterações expressivas.

85
Figura 7 – Mapa de biótopos do Parque Estadual Mata Seca

86
A Caatinga Arbórea Aberta possui grande parte de sua extensão marcada pela
existência de afloramentos de calcários. A presença de árvores é mais freqüente
nas bordas dos afloramentos que se destacam por apresentarem um grande
número de espécies da família das cactáceas se desenvolvendo entre suas fendas.
Trata-se de um biótopo que vai merecer uma atenção muito especial na elaboração
do Plano de Manejo por tratar-se de um ecossistema que desempenha uma função
ecológica muito importante na região.
A Floresta Estacional de Afloramentos Calcários foi a tipologia florestal de
menor extensão no Parque Estadual Mata Seca. Mesmo não sendo uma mancha de
floresta nativa, essa tipologia também requer uma atenção especial por se encontrar
sobre um maciço calcário com relevo cárstico ainda desconhecido.
Também foram identificadas e mapeadas quatro Lagoas Marginais com
elevado grau de conservação e com grande parte de suas Matas Ciliares
preservadas. Essas lagoas marginais são biótopos que vão merecer uma atenção
muito especial no plano de manejo do Parque por exercerem um papel fundamental
na manutenção da biota do Rio São Francisco.
O Pivô Abandonado e o Pivô Cultivado estão entre as áreas que deverão ser
selecionadas para receber práticas voltadas para recomposição da vegetação
natural por tratarem-se de biótopos que destoam negativamente no cenário
ambiental do Parque.
Ao longo da década de 70 e após a implantação do Projeto Jaíba a região do
Parque Estadual Mata Seca sofreu os efeitos da expansão da agricultura irrigada no
Norte de Minas. Mesmo diante da pressão exercida pela constante busca pelo
aproveitamento dos solos férteis da região, a área onde hoje se encontra o Parque
Estadual Mata Seca teve grande parte dos maciços florestais estacionais
preservados até a publicação do decreto que criou essa unidade de conservação no
ano 2000.
A presença dessas Florestas Estacionais e as demais fitofisionomias
identificadas no mapeamento de biótopos mostram que ali há áreas de grande
interesse ambiental que precisam ser preservadas. Por outro lado, este trabalho
também evidencia a existência de biótopos em processo de regeneração ou com
altos índices de impactos antrópicos o que revela a importância do zoneamento
ambiental da área.
87
5.1.1 Biótopo 1- Florestas Alteradas

O biótopo Florestas Alteradas abrange as Florestas Estacionais Deciduais e


as Floretas Tropicais Perenifólias em regeneração. A área está localizada
principalmente na borda leste do Parque acompanhando a margem esquerda do Rio
São Francisco ( figura 8). Também ocorrem manchas de florestas na borda oeste,
área próxima a cidade de São João das Missões e em contato direto com as vias de
circulação mais movimentadas da região. Esse biótopo apresenta uma área muito
grande que abrange um percentual bastante significativo do Parque. Por isso foram
selecionados quatro pontos amostrais para a aplicação da planilha de caracterização
da área: pontos 1.1, 1.2, 1.3, e 1.4 (Figura 7).
Em todos esses pontos foram identificadas áreas de florestas em
regeneração que, em um passado não muito distante, foram usadas como
pastagens para o gado. Sabe-se que o processo de regeneração natural não
apresenta a mesma idade. No ponto 1.1( Tebela 14), a regeneração apresenta uma
idade de aproximadamente dez anos, enquanto os outros pontos (Tabelas 15,16 e
17) se encontram em trechos de florestas cujas idades são semelhantes e que
variam entre 10 e 15 anos.
As florestas Alteradas situadas na porção Norte do Parque (ponto 1.1)
apresentam um processo de regeneração mais recente, uma vez que essas áreas
mostram o predomínio de árvores de pequeno porte (2/5 metros) e a estratificação
não é muito significativa. Assim a estrutura dessa vegetação apresenta três estratos
com árvores entre 2 e 5 metros. A formação apresenta a predominância de
Angico(Anadenanthera sp), Caatingueira ( Caesalpinia pyramidalis), Pinhão-Manso
(Jatropha curcose ) e Arranha Gato(Acacia sp).
As outras áreas marcadas pela ocorrência de Florestas Alteradas apresentam
características fisionômicas semelhantes. A estrutura de vegetação é composta por
quatro estratos e as árvores apresentam porte médio com alturas variando entre 2 e
10 metros, sendo que a maioria esmagadora dos indivíduos arbóreos possui uma
altura situada entre seis e dois metros. Conforme a figura 9, a maioria das áreas
amostradas apresentaram árvores com dez metros. O ponto 1.2 apresentou um
elemento arbóreo com altura entre 11 e 15 metros. As espécies predominantes
nessas florestas secundárias são: Myracruodon urundeuva (Aroeia), Ageratum
88
conyzoides (São João),Trema micrantha (Periquiteira), Patagonula
bahiensis(Casquinha), Combretum sp ( Vaqueta)e Eupatorium sp (Mata pasto). A
Serrapilheira presente nessas áreas é mais abundante e desenvolvida do que a
observada na Floresta Alterada mais recente, o que comprova o fato dessas
florestas estarem em um estágio sucessional mais antigo. As Florestas Alteradas
localizadas na porção sul/ sudeste do Parque (Matas Ciliares em regeneração)
também estão em uma fase sucessional mais antiga e muitas vezes se confundem
com as matas nativas localizadas em áreas mais próximas do Rio São Francisco e
das Lagoas Marginais.
Os principais impactos ambientais observados nas Florestas Alteradas são a
criação de animais e a presença de trilhas, picadas e estradas vicinais. Mas
destacam-se que as queimadas no período de estiagem são constantes na região e
que esse problema representa uma das principais ameaças a essas florestas. Nesse
contexto, as florestas Ciliares alteradas é um caso à parte, pois sabe-se que
essas formações também sofrem a pressão de comunidades tradicionais do
município de Matias Cardoso (borda Leste). Essas populações costumam desmatar
essas florestas para a prática da pecuária e da agricultura de vazante.

89
Tabela 14 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste/Estrada para a Fazenda Ressaca

GPS/Área amostral 612984/ 8361331

Impactos ambientais Criação de gado, limite com áreas externas,


limite com vias.

Epífitas Ausentes

lianas Ausentes

Potencial para a presença de musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Caesalpinia pyramidales (Catingueira),


Anadenanthera sp (Angico), Jatropha curcos
(Pinhão-manso) e Acacia sp (Arranha gato)

Características da superfície Boa drenagem/Serrapilheira pouco


desenvolvida

Estruturas especiais Cupim

Número de pesquisas 4

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Alto

Número de estratos 3

Sucessão ecológica Intermediária

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

90
Tabela 15 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.2

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Entre o Pivô Abandonado e o Rio São


Francisco

GPS/Área amostral 613038/ 8357334

Impactos ambientais Criação de gado, limite com vias.

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Caesalpinia ferrea(Pau-Ferro), Ageratum


conyzoides (São João), Myracruodon
urundeuva (Aroeira).
Características da superfície Boa drenagem/Serrapilheira pouco
desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, teia de aranha.

Número de pesquisas 4

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Alto

Número de estratos 4

Sucessão ecológica Intermediária

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

91
Tabela 16– Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.3

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Oeste/ Margem direita da estrada para a Sede

GPS/Área amostral 0606917/ 8358025

Impactos ambientais Criação de gado, limite com vias.

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Trema micrantha (Periquiteira), Myracruodon


urundeuva (Aroeira), Ageratum conyzoides
(São João)

Características da superfície Drenagem moderada/ Serrapilheira pouco


desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, aranha, ninho.

Número de pesquisas 4

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Alto

Número de estratos 4

Sucessão ecológica Intermediária

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

92
Tabela 17 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.4

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Sudoeste/ limite com o pasto da Fazenda


Colonial

GPS/Área amostral 604749/ 8353011

Impactos ambientais Limite de via, limite com área externa, criação


de gado.

Epífitas Ausentes

Lianas Ocasional

Potencial para a presença de musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Patagonula bahiensis (Casquinha),


Myracruodon urundeuva (Aroeira), Cobretum
sp (Vaqueta).

Características da superfície Boa drenagem/ Serrapilheira desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, aranha.

Número de pesquisas 4

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Alto

Número de estratos 4

Sucessão ecológica Intermediária

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

93
Figura 8 – Localização e aspecto geral do biótopo 1
94
95
5.1.2 Biótopo 2 – Floresta Estacional Decidual de alto porte

A Floresta Estacional Decidual de alto porte é o biótopo de maior extensão do


Parque Estadual Mata Seca e está localizada em uma faixa contínua central que se
entende de Norte a Sul, abrangendo ainda trechos situados nas bordas Oeste e
Noroeste do Parque( Figura 10). Trata-se de uma formação vegetal de grande porte
considerada como um dos últimos e mais extensos maciços de Florestas
Estacionais Deciduais pouco antropizados ou nativos do Estado de Minas Gerais.
Foram selecionados três pontos de amostragem para a caracterização desse
biótopo: o ponto 2.1 localizado na porção Sul, enquanto os pontos 2.2 e 2.3
localizam-se nas áreas central e oeste do Parque, respectivamente. As
características fisionômicas desse biótopo são bastante semelhantes nos três
pontos amostrados(Tabelas 18,19 e 20) e destacam por apresentar árvores com
altura superior a 20 metros, a densidade elevada, a heterogeneidade de espécies e
a presença marcante das barrigudas (Cavanillesia arborea) com sua forma e porte
que impressionam e intrigam o imaginário.
A estrutura da vegetação é formada por seis estratos bem definidos e
apresentando árvores com alturas que variam entre 5 e 26 metros( Figura 11). No
extrato herbáceo, a presença de bromélias é significativa em todos os pontos
amostrados. Entretanto, deve-se destacar que esse estrato mostra-se desenvolvido
apenas no período de chuvas. Na estiagem, além das bromélias, observa-se apenas
alguns resquícios de ervas que proliferam apenas na presença de umidade no solo.
As espécies predominantes são: Anadenanthera sp (Angico), Tabebuia sp (Ipê-
amarelo) e Pseudobombax simplicifolia (Imbiruçu), Myracruodon urundeuva
(Aroeira), Bursera leptophoeus ( Imburana) e Patagonula bahiensis( Casquinha). As
lianas são muito comuns e as epífitas ausentes, os líquens e musgos são ausentes
no período de estiagem e ocorrem com freqüência nas chuvas.
A serrapilheira é bastante espessa nesse biótopo, apresentando uma camada
de folhagem e galhos que reflete o desenvolvimento da massa foliar e a total
deciduidade dessa vegetação no período seco. O estrato arbustivo mostrou-se
bastante desenvolvido com muitas espécies espinhentas com altura aproximada de
1,5 metros. Esse extrato torna o deslocamento muito difícil e muitas áreas são quase

96
que intransponíveis devido à presença marcante de exemplares de Unha de Gato
(Acacia sp)que formam um emaranhado de galhos delgados repletos de espinhos.
O estrato arbóreo é marcado pela predominância de árvores entre 10 e 26
metros, sendo que o estrato acima de 20 metros caracteriza-se pela presença de
indivíduos muito desenvolvidos da espécie Cavanillesia Arborea (Embaré) que
alcançam cerca de 25 metros de altura e cerca de 5 metros de diâmetro (a 1,5
metros acima do solo). A presença dessa espécie associada ao conjunto da área
arbórea faz com que a beleza cênica se destaque no contexto regional aumentando
a importância do biótopo.
No ponto 2.2 não foi observada a presença de Embaré. No estrato arbóreo
acima de seis metros, notou-se a presença de cactáceas de grande porte
entremeando as árvores. Foi observado um facheiro (Cereus sp) com cerca de 10
metros de altura.
O biótopo não apresenta impactos ambientais significativos, nota-se apenas
proximidade com as estradas e a presença de pequenas trilhas que recentemente
vêm sendo usadas para atividades de pesquisas.

97
Tabela 18 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – Floresta Decidual alto
porte 2.1
ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Sul/ Região da dolinas e dos Embarés


gigantes

GPS/Área amostral 608887/8750975

Impactos ambientais Ausentes

Epífitas Ausentes

Lianas Comuns

Potencial para a presença de Musgos Muito alto

Potencial para a presença de Líquens Muito alto

Espécies predominantes Caesalpinia pyramidalis (Catingueira),


Cavanillesia arbórea (Embaré), Patagonula
bahiensis(Casquinha), Myracruodon
urundeuva (Aroeira),

Características da superfície Boa drenagem/ Serrapilheira muito


desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, aranha, formiga, colméia, ninho.

Número de pesquisas 5

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito alto

Número de estratos 6

Sucessão ecológica Clímax

Número de aspectos de beleza cênica Muito Alto

98
Tabela 19 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – Floresta Decidual alto
porte 2.2

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste/ direita da estrada para Sede

GPS/Área amostral 0610600/ 8358198

Impactos ambientais Limite com vias

Epífitas Ausentes

Lianas Comuns

Potencial para a presença de Musgos Muito alto

Potencial para a presença de Líquens Muito alto

Espécies predominantes Patagonula bahiensis (Casquinha), Tabebuia


sp (Ipê Amarelo), Myracruodon urundeuva
(Aroeira).

Características da superfície Boa drenagem/Serrapilheira desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, aranha, formiga, ninho.

Número de pesquisas 5

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito alto

Número de estratos 6

Sucessão ecológica Clímax

Número de aspectos de beleza cênica Muito alto

99
Tabela 20 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – floresta Decidual alto
porte 2.3
TENS CARACTERÍSTICAS

Local Oeste/ Próximo da estrada da linha

GPS/Área amostral 605646/ 8355959

Impactos ambientais Limites com vias

Epífitas Ausentes

Lianas Comuns

Potencial para a presença de Musgos Muito alto

Potencial para a presença de Líquens Muito alto

Espécies predominantes Anadenanthera sp (Angico), Patagonula


bahiensis (Casquinha),Cobretum sp (Vaqueta),
Bursera leptophoeus(Imburana).

Características da superfície Boa drenagem/ Serrapilheira muito


desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, aranha, formiga, colméia, ninho.

Número de pesquisas 5

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito alto

Número de estratos 6

Sucessão ecológica Clímax

Número de aspectos de beleza cênica Muito Alto

100
Figura 10 – Localização e aspecto geral do biótopo 2
101
102
5.1.3 Biótopo 3- Floresta Estacional de Afloramentos Calcários

A Floresta Estadual de afloramentos calcários é um biótopo que se encontra


associado às encostas do Morro da Lavagem localizado na porção Nordeste do
Parque (Figura 12). As áreas mais íngremes do Morro da Lavagem apresentam um
solo litólico quase que totalmente desprovido de vegetação de maior porte. As
fendas existentes nos afloramentos calcários possibilitam o desenvolvimento de
cactáceas e alguns arbustos. Os terrenos mais aplainados eram usados como
pastagens há cerca de aproximadamente quinze anos. Hoje existe uma vegetação
secundária em regeneração, apresentando uma sucessão ecológica considerada
como intermediária.
A Floresta Estacional Decidual dos afloramentos possui médio porte e
apresenta quatro estratos formados por árvores cuja altura varia entre dois e dez
metros (Tabela 21). O estrato composto por árvores entre 6 e 10 metros é
insignificante e a maioria dos indivíduos arbóreos se encontra entre dois e cinco
metros de altura(Figura13). Nesse estrato, observam-se várias touceiras com
diversas ramificações da espécie Caesalpinia pyramidalis (Caatinga de Porco ou
catingueira). O estrato arbustivo é pouco desenvolvido e apresenta algumas
espécies esparsas entremeando as árvores. A serrapilheira é escassa e os
afloramentos calcários predominam na superfície do biótopo. A Caesalpinia
pyramidalis (Caatingueira), a Cobretum sp (Vaqueta), a Jatropha curcos (Pinhão-
manso) e a Cereus jamacaru (Mandacaru) o Mandacaru são as espécies
predominantes nessa formação vegetal.
As lianas são ausentes e os líquens e musgos só ocorrem no período de
chuvas. Os impactos ambientais são ausentes e o conjunto da vegetação formado
por árvores ressequidas e plantas xerófilas distribuídas ao longo das encostas
íngremes do Morro da Lavagem faz com que o número de elementos de beleza
cênica seja alto. Entretanto, deve-se ressaltar que a paisagem calcária do Morro da
Lavagem também apresenta uma caverna com diversas feições topográficas
características originadas da dissolução de rochas carbonáticas. O relevo cárstico
do Morro da Lavagem é pouco conhecido, pois ainda não foram desenvolvidos
estudos espeleológicos na área. As cavernas precisam ser topografadas e
estudadas para que os aspectos de beleza cênica sejam conhecidos e se possível
103
aproveitados pelo ecoturismo. A princípio, sabe-se que a entrada para os salões
principais da caverna é de difícil acesso.

104
Tabela 21 – Síntese com os dados coletados no biótopo 3 – floresta Decidual de
Afloramentos calcários

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste/ Morro da Lavagem

GPS/Área amostral 614334/ 8359694

Impactos ambientais Ausentes

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Cereu jamacaru (Mandacaru), Caesalpinia


pyramidalis (Caatingueira), Cobretum sp
(Vaqueta), Jatropha curcos (Pinhão-manso),
Myracruodon urudeuva (Aroeira).

Características da superfície Afloramento/ Serrapilheira pouco desenvolvida

Estruturas especiais Cupim

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Alto

Número de estratos 4

Sucessão ecológica Intermediária

Número de aspectos de beleza cênica alto

105
Figura 12 – Localização e aspecto geral do biótopo 3

106
107
5.1.4 Biótopo 4 – Floresta Tropical Perenifólia – Mata Ciliar

A Floresta Perenifólia ou Mata Ciliar destaca-se como uma formação vegetal


formada por árvores que mantêm a folhagem em um contexto climato-botânico
marcado pela deciduidade no período seco. O biótopo ocorre ao longo das margens
do Rio São Francisco e das Lagoas marginais localizadas na borda Leste do Parque
(Figura 14).
As Matas Ciliares da região possuem aspectos semelhantes, por isso a
amostragem foi realizada apenas na margem esquerda da Lagoa da Prata situada
no Nordeste da unidade de conservação. Essa fitofisionomia é marcada pelo
predomínio absoluto de Acacia farnesiana (Alagadiço ou Coronha), mas existem
outras espécies importantes como Shinopsis brasiliensis (Braúna) e Triplaris
sp(Pajeú)(Tabela 22).
A estrutura da vegetação apresenta quatro estratos com árvores entre dois e
dez metros que, juntamente com os arbustos e ervas rasteiras, formam um maciço
vegetal entrelaçado de grande importância para o equilíbrio das encostas do Rio
São Francisco e das Lagoas Marginais ( figura 15). O estrato arbóreo apresenta o
predomínio de árvores de médio e pequeno porte sendo que a maioria das espécies
é formada por indivíduos com alturas variando entre cinco e oito metros
aproximadamente. Os estratos arbustivo e herbáceo são bastante desenvolvidos. A
superfície é marcada por uma serrapilheira cujo desenvolvimento aumenta à
medida que se distancia do rio ou da lagoa marginal. Não se observam impactos
ambientais significativos mas foi notada a presença de lixo nas proximidades da
margem da lagoa. Isto se deve ao fato de o ponto amostrado estar próximo à Sede
da fazenda. Os musgos e líquens não foram encontrados, mas a presença de lianas
é significativa haja vista que os cipós contribuem muito para que as matas ciliares do
São Francisco tenham um aspecto denso e fechado.
Quanto à beleza cênica, as matas ciliares possuem aspectos muito
interessantes quando analisados em um conjunto vegetacional que possui
formações vegetais decíduas contíguas às formações perenifólias. No período de
seca, o verde das Matas Ciliares se destaca ao criar um intrigante contraste com as
Florestas Decíduas do entorno.

108
Tabela 22 – Síntese com os dados coletados no biótopo 4 – Floresta
Perenifólia/Mata Ciliar

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste do Parque / margem da Lagoa da


Prata

GPS/Área amostral 0614215/ 8358044

Impactos ambientais Lixo

Epífitas Ausentes

Lianas Comum

Potencial para a presença de Musgos Auto

Potencial para a presença de Líquens Auto

Espécies predominantes Acacia farnesiana (Coronha),Triplaris sp (Pau-


jeú), Shinopsis brasiliensis (Braúna)

Características da superfície Drenagem pobre/ Serrapilheira pouco


desenvolvida

Estruturas especiais Cupim, Aranha

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito alto

Número de estratos 4

Sucessão ecológica Clímax

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

109
Figura 14 – Localização e aspecto geral do biótopo 4
110
111
5.1.5 Biótopo 5 – Caatinga Arbórea Aberta – Furado

A Caatinga Arbórea Aberta é uma formação vegetal com características


únicas no contexto vegetacional do Parque Estadual Mata Seca. Trata-se de um
conjunto de grandes afloramentos calcários e solos litólicos sustentando uma
vegetação marcada pelo predomínio de cactáceas, gramíneas e bromélias, por
isso é também conhecida como Caatinga Arbórea Aberta sobre lajeamento
(BRANDÃO & NAIME,1998; BRANDÃO,2000). Outro aspecto marcante dessa
fitofisionomia é o fato de se encontrar sobre áreas que se alagam no período
chuvoso. Por essa razão a Caatinga Arbórea Aberta é regionalmente conhecida
como Furado (BRANDÃO et al, 1998).
Localizado na porção Norte do Parque(Figura 16), o biótopo funciona como
um encrave inserido dentro da Floresta Estacional de alto porte. Apresenta uma
estrutura vegetacional com três estratos (Tabela 23). O estrato arbóreo é pouco
representativo e se caracteriza por apresentar agrupamentos arbóreos esparsos e
formados quase que exclusivamente pelo Imbiruçu (Pseudobombax simplicifolia). O
Umbuzeiro (Spondias tuberosa ) e a Barriguda de Espinho ( Ceiba sp) também são
freqüentes. Esses indivíduos arbóreos não ultrapassam seis metros de altura. No
entorno dos afloramentos, observa-se um número de maior de árvores devido à
presença de um solo mais desenvolvido. As árvores do entorno chegam a
aproximadamente oito metros. O Embaré (Cavanillésia alborea) ocorre apenas no
contato entre a Caatinga Arbórea e a Floresta Decídua de Alto Porte.
Comforme a figura 17 o estrato arbustivo é mais significativo e conta com a
expressiva presença de cactáceas como o Facheiro (Pilocereus sp), o Quipá
(Opuntia sp) e o Coroa-de-Frade (Melanocactos sp). A presença de bromélias, como
o caroá ( Neoglaziovia variegata), também é marcante. O estrato herbáceo é
composto por diversas espécies efêmeras que se agrupam nas fendas existentes
entre as lajes ou nos montículos de terra e húmus que se acumulam sobre elas. No
período chuvoso quase toda a Caatinga Arbórea Aberta apresenta um estrato
herbáceo formado por um extenso tapete de flores brancas conhecidas na região
como cebolinhas. Os líquens e musgos não foram observados no período analisado.
Algumas das espécies da Caatinga Arbórea Aberta exercem uma função
ecológica muito importante, pois complementam a dieta da avifauna local que ali
112
também se nidifica. As depressões alagáveis também representam um elemento
que reforça a importância ecológica dos Furados, pois vêem-se esses locais como
espaços apropriados para a obtenção de água( BRANDÃO et al,1998).
A significativa presença de cactáceas sobre os afloramentos calcários da
Caatinga Arbórea Aberta representa um cenário singular que exerce um enorme
fascínio nas pessoas, pois a interação entre os diversos cactos e o lajeado forma
uma paisagem com muitos elementos de beleza cênica que aumentam a
importância do biótopo. Assim, a beleza cênica associada à função ecológica fazem
com que a área mereça uma atenção especial no futuro plano de manejo do
Parque.

113
Tabela 23 – Síntese com os dados coletados no biótopo 5 – Caatinga Arbórea
Aberta – Furado
ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Noroeste do Parque

GPS/Área amostral 608706/ 8358712

Impactos ambientais Criação de gado

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Baixo

Potencial para a presença de Líquens Baixo

Espécies predominantes Melanocactos sp (Coroa-de-Frade),


Pseudobombax simplicifolia (Imbiruçu),
Neoglaziovia variegata (Caroa), Pilocereus sp
(Facheiro), Spondias tuberosa (Umbuzeiro).

Características da superfície Drenagem pobre/ Afloramento

Estruturas especiais Aranha, Ninho, Colméia

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito alto

Número de estratos 3

Sucessão ecológica Clímax

Número de aspectos de beleza cênica Muito Alto

114
Figura 16 – Localização e aspecto geral do biótopo 5
115
116
5.1.6 Biótopo 6 – Lagoas Marginais

As lagoas marginais são de grande importância para a manutenção da


ictiofauna do Rio São Francisco, pois, ao se inundarem no período de chuvas,
recebem muitas espécies de peixes de piracema que procuram essas áreas para se
reproduzirem. No entanto, um número significativo de Lagoas Marginais do São
Francisco vêm sendo degradado pela destruição das Matas Ciliares. Além do mais,
a regularização da vazão do Rio com a implantação de usinas hidrelétricas fez com
que as áreas alagáveis diminuíssem, afetando o regime hidrológico das lagoas
(JIMÈNEZ-SEGURA et al, 2000).
No Parque Estadual Mata Seca existem quatro Lagoas Marginais: a Lagoa
da Picada, ao sul, a Lagoa Comprida, a sudeste, a Lagoa do Angical, a leste e a
Lagoa da Prata, a nordeste (Figura 18). Todas apresentam uma vegetação ciliar
em ótimo estado de preservação, o que favorece a estabilidade das encostas e
assegura o equilíbrio da interação solo/ambiente aquático. Essas lagoas foram
consideradas como um único biótopo, pois embora apresentem tamanhos diferentes
elas possuem características ambientais semelhantes. Assim, apenas uma lagoa foi
usada na amostragem( Tabela 24). Nesse caso, a lagoa escolhida foi a Lagoa da
Prata por ser a maior e também por apresentar uma localização que facilitou a
caracterização ambiental do biótopo.
Sabe-se que a pesca ilegal nas lagoas representa um dos grandes desafios
do Parque, pois as mesmas possuem um grande potencial pesqueiro, mas o único
impacto registrado na análise desse biótopo foi a retirada de água da lagoa para a
alimentação do pivô central. No entanto, deve-se ressaltar que esse problema
deixará de existir em breve, pois a última safra do Pivô Central aconteceu no ano de
2007.
Em relação às espécies predominantes o IEF(2000) constatou que a
ictiofauna das lagoas é marcada pela presença das principais espécies encontradas
no Rio São Francisco: Matrinchã (Brycon lundi), Surumbim (Pseudoplatystoma
corustans), Traíra (Hoplias malabaricus) e o Curimatá (Prochilodus vimboides).
Quanto às espécies vegetais predominantes, observam-se diversas espécies
de macrófitas aquáticas. Com destaque para a Taboa (Typha dominguensis) e a
Aguapé( Eichhornia crassipes).Para Prellvitz & Albertone (2004), as plantas
117
aquáticas ou macrófitas são muito importantes, pois além de serem fonte de
alimento, também funcionam como bioindicadoras e abrigo para peixes e
microorganismos. Portanto, as plantas aquáticas desempenham um importante
papel nos ecossistemas em que ocorrem e a sua presença reflete a boa qualidade
das águas e a diversidade biológica existente nas Lagoas Marginais do Parque
Estadual Mata Seca.
Pela grande diversidade biológica presente nas Lagoas Marginais, associada
à importante função ecológica que essas áreas desempenham no contexto
ambiental do Rio São Francisco constatou-se que esse biótopo possui um potencial
para pesquisas muito alto. Por fim, o número de aspectos de beleza cênica é alto, o
que representa um grande potencial para o turismo que deve ser implantado sob a
custódia de um bom plano de manejo.

118
Tabela 24 – Síntese com os dados coletados no biótopo 6 – Lagoas Marginais

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste do Parque / perto da Sede da


Fazenda

GPS/Área amostral 614432/8358009

Impactos ambientais Retirada de água para irrigação

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Muito baixo

Potencial para a presença de Líquens Muito baixo

Espécies predominantes Typha dominguensis( Taboa) ,Eichhornia


crassipes (Aguapé).

Características da superfície Água

Estruturas especiais Ausentes

Número de pesquisas 2

Potencial para pesquisas Muito alto

Número de processos naturais observáveis Muito Alto

Número de estratos 1

Sucessão ecológica Ausente

Número de aspectos de beleza cênica Muito Alto

119
Figura 18 – Localização e aspecto geral do biótopo 6
120
5.1.7 Biótopo 7 – Pivô Central Abandonado

A área está localizada a Nordeste do Parque ( figura 19) e representava um


dos locais destinados ao cultivo de culturas irrigadas na antiga Fazenda Lagoa da
Prata cujas terras foram incorporadas ao Parque Estadual Mata Seca, no ano 2000.
Trata-se de uma das áreas mais impactadas do Parque, pois além da flora exótica
representada pelo capim colonião, o local possui diversas vias e ainda está sendo
usado para a criação de gado e cavalo.
O predomínio absoluto do capim ( Tabela 25 e Figura 20) em toda a extensão
da área evidencia que a sucessão ecológica natural ainda não foi iniciada, pois a
presença das plantas exóticas tem dificultado instalação das espécies pioneiras.
Sabe-se que a sucessão vegetal é lenta e complexa e, em uma situação como a
encontrada no Pivô Abandonado, percebe-se que o processo se tornará ainda mais
complicado, pois demandará uma atenção muito especial das pessoas que
conduzirão a elaboração do plano de manejo do Parque, haja vista que a
recuperação da área deverá ser induzida.
É bem provável que, no futuro, o processo de recuperação dessa área vai
constituir uma importante ferramenta de conscientização para os visitantes do
Parque e a população do entorno, uma vez que permitirá a criação de uma
discussão que incorporará diversos elementos necessários a uma boa educação
ambiental em unidades de conservação. No caso específico do Parque Estadual
Mata Seca, qualquer discussão envolvendo os pivôs centrais deve incorporar o
processo histórico em que as atividades econômicas proporcionaram a
substituição da vegetação natural pelas culturas agrícolas, a questão da fertilidade
dos solos, a perda da biodiversidade e a importância da recuperação das áreas
degradadas para o contexto local e regional.

121
Tabela 25 – Síntese com os dados coletados no biótopo 7 – Pivô Abandonado

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste do Parque / próximo à Sede

GPS/Área amostral 612526/8357716

Impactos ambientais Criação de gado, limite com vias, flora exótica,


estrada.

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Muito baixo

Potencial para a presença de Líquens Muito baixo

Espécies predominantes Panicum maximum (Capim colonião)

Características da superfície Drenagem boa/ Serrapilheira pouco


desenvolvida

Estruturas especiais Ausentes

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Baixo

Número de estratos 1

Sucessão ecológica Muito alterado

Número de aspectos de beleza cênica Baixo

122
Figura 19 – Localização e aspecto geral do biótopo 7
123
124
5.1.8 Biótopo 8 – Pivô Cultivado

O Pivô Cultivado localiza-se a Nordeste do Parque e se encontra nas


proximidades da Sede da fazenda e ao lado do Pivô Abandonado( Figura 21).
Também representa um dos biótopos mais impactados do Parque, pois possui
diversas vias e é uma área que ainda está sendo usada para o cultivo de culturas
agrícolas como o feijão e o tomate(Tabela 26 e Figura 22). Embora o ano de 2007
tenha sido o ano da última safra das culturas acima citadas, o local, assim como a
área do Pivô Abandonado, vai demandar muito trabalho ao processo de
implementação do Parque, uma vez que o plano de manejo deverá estabelecer uma
série de medidas voltadas para a recuperação da área e essas medidas visam a
resultados a longo prazo. No entanto, ao longo do processo de recuperação, a área
poderá ser usada como espaço voltado para práticas de educação ambiental.
A área do Pivô Cultivado, assim como o Pivô Abandonado, possui um alto
potencial para pesquisas cientificas, pois os órgão gestores do Parque poderão
incorporar diversos projetos científicos que estabeleçam as ações necessárias ao
processo de recuperação das áreas degradadas e acompanhem o processo de
recuperação.
Por fim, o Pivô Cultivado e o Pivô Abandonado representam um dos grandes
desafios do Parque Estadual Mata Seca, pois além de serem locais muito
impactados, não possuem aspectos de beleza cênica, ao contrário, possuem muitos
elementos que degradam a paisagem da unidade de conservação. Assim, faz-se
necessário que o futuro plano de manejo estabeleça medidas imediatas que
minimizem esses problemas até que essas áreas sejam totalmente recuperadas.

125
Tabela 26 – Síntese com os dados coletados no biótopo 8 – Pivô Cultivado

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste do Parque / próximo a Sede do


Parque

GPS/Área amostral 613402/8358711

Impactos ambientais Estradas, flora exótica, limites com vias,erosão


laminar

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Muito baixo

Potencial para a presença de Líquens Muito baixo

Espécies predominantes Lycopersicon esculentum (tomate)

Características da superfície Boa drenagem

Estruturas especiais Ausentes

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Alto

Número de processos naturais observáveis Baixo

Número de estratos 1

Sucessão ecológica Muito alterado

Número de aspectos de beleza cênica Muito baixo

126
Figura 21 – Localização e aspecto geral do biótopo 8
127
128
5.1.9 Biótopo 9 – Sede

A Sede do Parque localiza-se a Nordeste e se encontra entre os dois pivôs


centrais do Parque (figura 23). A área se encontra bastante impactada, chegando a
apresentar aspectos de abandono. Assim, percebe-se muita sujeira, acúmulo de lixo,
criação de diversos animais, edificações e flora exótica.
O número de aspectos de beleza cênica é praticamente nulo em razão dos
impactos e da falta de melhoria nas construções presentes( Tabela 27). Entretanto,
todo esse quadro possui elementos que poderão ser aproveitados na oportunidade
em que será implantada a infra-estrutura do Parque. Os currais e os espaços para a
armazenagem de produtos deverão ser destruídos, mas existem edificações que,
com certeza, poderão ser aproveitadas na implantação da Sede administrativa e
dos espaços destinados ao recebimento de visitantes, turistas e pesquisadores
(Figura 24).
No entanto, as obras voltadas para o aproveitamento desse espaço deverão
ser pensadas levando-se em conta o fato de esse biótopo se encontrar nas
proximidades de outros biótopos como a Lagoa Marginal, a Floresta Perenifólia e a
Floresta Decidual de alto porte. O tipo de cobertura superficial a ser implantado na
área, as espécies a serem introduzidas, as cores das edificações, as vias de
circulação, por exemplo, são mudanças que devem acontecer com toda a
preocupação de não causar maiores impactos no entorno.

129
Tabela 27 – Síntese com os dados coletados no biótopo 9 – Sede

ITENS CARACTERÍSTICAS

Local Nordeste/ Sede da fazenda

GPS/Área amostral 613781/ 8357911

Impactos ambientais Edificações, flora exótica, criação de gado, lixo,


limite com vias.

Epífitas Ausentes

Lianas Ausentes

Potencial para a presença de Musgos Muito baixo

Potencial para a presença de Líquens Muito baixo

Espécies predominantes Ausente

Características da superfície Drenagem ruim/ solo exposto

Estruturas especiais Ausente

Número de pesquisas 1

Potencial para pesquisas Muito Baixo

Número de processos naturais observáveis Muito baixo

Número de estratos 1

Sucessão ecológica Muito alterado

Número de aspectos de beleza cênica Muito baixo

130
Figura 23 – Localização e aspecto geral do biótopo 9

131
132
5.2 Avaliação da qualidade ambiental dos biótopos

A avaliação ambiental dos biótopos baseou-se na análise dos indicadores e


médias parciais associados a cada critério de caracterização. Os valores atribuídos
aos indicadores foram obtidos através da interpretação dos dados presentes nas
tabelas-síntese de cada área. Esses valores foram usados para determinar as
médias parciais de cada critério em todos os biótopos. Através dessas médias
parciais obtiveram-se as médias aritméticas finais que determinaram o tipo de zona
em que cada biótopo se enquadrou e a sua respectiva função no contexto geral da
unidade de conservação.

5.2.1 Estado de conservação

A maioria dos biótopos do Parque Estadual Mata Seca se encontra em estado


de conservação satisfatório (Tabela 28) conforme os indicadores utilizados. Os
biótopos 2, 3, 4, 5 e 6 apresentaram os melhores estados de conservação, haja
vista que nessas áreas existem uma vegetação nativa ou com pequenas
interferências antrópicas. Assim, a Floresta Estacional Decidual de alto porte, a
Floresta Decidual de Afloramentos, a Floresta Tropical Perenifólia e a Caatinga
Arbórea Aberta são áreas muito preservadas e com impactos de menor magnitude.
O biótopo 1, Florestas Alteradas, vem em seguida apresentando impactos
relacionados à criação de gado e à presença de vias de circulação. Os pontos 1.2 e
1.3 desse biótopo (Tabelas 15 e 16) apresentaram um situação um pouco melhor
pois os impactos foram menores. O restante dos biótopos apresentou impactos
mais significativos. O biótopo 7, Pivô central abandonado, apresenta plantas
exóticas, vias e criação de animais. O Pivô Cultivado, biótopo 8, apresenta áreas
com erosão laminar, além de espécies exóticas e vias. O biótopo 9, Sede, é a área
mais impactada devido à presença de edificações, lixo, espécies exóticas e criação
de animais. No entanto, esse biótopo não apresentou áreas impermeabilizadas.

133
Tabela 28 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério estado de
conservação dos biótopos

Biótopos Edificações (Valores) Impactos (Valores) Média parcial

01 – Fl. Alteradas 1.1 4 2 3,0

01 – Fl. Alteradas1.2 4 3 3,5

01 – Fl. alteradas 1.3 4 3 3,5

01 – Fl. Alteradas 1.4 4 2 3,0

02 – Fl. Dec. A. P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A.P 2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 4 4 4,0

04 - Mata Ciliar 4 4 4,0

05 – Caat. Aberta 4 4 4,0

06 - LagoasMarginais 4 4 4,0

07 –Pivô Abandonado 4 1 2,5

08 – Pivô Cultivado 4 1 2,5

09 - Sede 3 1 2,0

134
5.2.2 Diversidade de ambientes

A análise da diversidade de ambientes considerou o potencial para o aumento


do número de habitats no período chuvoso e a estratificação da vegetação. O
potencial para o aumento do número de habitats no período chuvoso foi maior nos
biótopos em que o número de estratos e a riqueza de espécies foram maiores. O
estudo constatou que todas as fitofisionomias do Parque apresentam no mínimo
três estratos. A quantidade de estratos é de fundamental importância para a
existência de diferentes nichos ecológicos assegurando a presença de um número
maior de espécies.
O biótopo 2, Floresta Estacional de alto porte, apresentou a maior diversidade
de ambientes por tratar-se de uma formação vegetal com seis estratos bem
definidos e um elevado potencial para aumento do número de habitats no período
chuvoso. Os biótopos 1, 3 e 4 apresentaram uma situação intermediária. O biótopo
5, Caatinga Arbórea Aberta, é bastante preservado, mas apresentou uma pequena
diversidade de ambientes se considerado o pequeno número de estratos. A
presença dos lajeamentos nesse biótopo dificulta o desenvolvimento dos estratos
arbóreos.
Os biótopos restantes são bastante antropizados e apresentaram uma
diversidade de ambientes insignificante.

135
Tabela 29 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério diversidade
de ambientes dos biótopos

Biótopos Número de estratos Liquens/Musgos Média parcial


(Valores) (Valores)
01 – Fl. Alteradas 1.1 3 3 3,0

01 – Fl. Alteradas1.2 3 3 3,0

01 – Fl. alteradas 1.3 3 3 3,0

01 – Fl. Alteradas 1.4 3 3 3,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A . P2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 3 3 3,0

04 - Mata Ciliar 3 3 3,0

05 – Caat. Aberta 2 2 2,0

06 –LagoasMarginais 1 1 1,0

07 - Pivô abandonado 1 1 1,0

08 – Pivô Cultivado 1 1 1,0

09 - Sede 1 1 1,0

136
5.2.3 Função ecológica
A avaliação da função ecológica foi baseada nos estágios de sucessão
ecológica e nos tipos de cobertura das superfícies dos biótopos. De acordo com
Dajoz(1983), a sucessão ecológica define-se como um processo no qual as
comunidades se substituem em uma seqüência ordenada e gradual. Nesse
contexto, a sucessão ecológica divide-se em três fases: a inicial, a intermediária e o
clímax. A fase inicial conta com as espécies pioneiras que povoaram o solo
exposto. A fase intermediária conta com arbustos e árvores de pequeno porte e
médio porte. Na fase comunidade clímax, a vegetação se encontra em equilíbrio
com o meio ( DAJOZ,1983). Uma comunidade clímax ou uma comunidade vegetal
cuja sucessão se encontra avançada apresentam uma importante função
ecológica, pois constituem locais que fornecem os elementos necessários para
sucessão de outras áreas.
O tipo de cobertura do solo possui uma função ecológica importante porque a
estabilidade da superfície vai depender da existência de fatores que favoreçam o
equilíbrio na interação solo/atmosfera/biota. Nesse sentido, a presença de
vegetação reduz o escoamento superficial e favorece a infiltração da água no solo. A
serrapilheira incorpora nutrientes ao solo favorecendo o desenvolvimento da
vegetação. Os solos expostos, por outro lado, são desprotegidos e mais
susceptíveis à erosão.
O Parque Estadual Mata Seca possui uma expressiva área com vegetal
natural altamente preservada e com uma serrapilheira bastante desenvolvida.
Também apresenta áreas com comunidades vegetais intermediárias e com
cobertura superficial de serrapilheira considerável. Por outro lado, o Parque não
apresenta superfícies impermeabilizadas ou com solo exposto e degradado. Nesse
contexto, os biótopos 2, 3, 4, 5 e 6 apresentaram a valoração mais elevada por
conterem serrapilheiras desenvolvidas e por serem bastante preservados. O biótopo
1, Florestas Alteradas, apresentou uma valoração intermediária devido ao estado de
conservação da vegetação e a presença de serrapilheira. Os biótopos 7,8 e 9 se
destacaram por apresentar os menores valores, uma vez que estão muito
antropizados e não possuem vegetação natural original.

137
Tabela 30 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério função
ecológica dos biótopos

Biótopos Sucessão ecológica Tipo de cobertura Média parcial


(Valores) (Valores)
01 – Fl. Alteradas 1.1 3 3 3,0

01 – Fl. Alteradas1.2 3 3 3,0

01 – Fl. alteradas 1.3 3 3 3,0

01 – Fl. Alteradas 1.4 3 4 3,5

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A . P2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 3 3 3,0

04 - Mata Ciliar 3 4 3,5

05 – Caat. Aberta 4 4 4,0

06 - LagoasMarginais 4 1 2,5

07 - Pivô abandonado 1 1 1,0

08 – Pivô Cultivado 1 1 1,0

09 - Sede 1 1 1,0

138
5.2.4 Riqueza de espécies

A avaliação da riqueza de espécies baseou-se no número de espécies


vegetais predominantes e na presença das estruturas especiais. O número de
espécies predominantes reflete o estágio sucessional e a diversidade vegetal do
biótopo. Para Neves (2002), a presença de estruturas especiais como ninhos,
colméias e cupins revelam a existência de uma maior disponibilidade de alimento e
abrigo.
A maioria das fitofisionomias encontradas no Parque Estadual Mata Seca
apresenta muitas espécies predominantes. Até mesmo as formações vegetais que
se encontram em estágios sucessionais recentes apresentam um número razoável
de espécies nativas por área. As estruturas especiais, por outro lado, não
apresentaram um número muito significativo em todos os biótopos, pois a existência
desses atributos só é mais intensa nas formações vegetais nativas ou pouco
antropizadas.
O biótopo 2 apresentou a maior valoração no critério riqueza de espécies por
tratar-se de uma formação vegetal nativa ou pouco alterada. A variedade da flora
nesse biótopo impressiona e espécies como Anadenanthera sp (Angico), Tabebuia
sp (Ipê-amarelo) e Pseudobombax simplicifolia (Imbiruçu), Myracruodon urundeuva
(Aroeira), Bursera leptophoeus ( Imburana) e Patagonula bahiensis( Casquinha),
Goniorrhachis marginata (Itapicuru) ocorrem com muita freqüência. O biótopo 1,
Florestas Alteradas, ao lado dos biótopos 3, 4 e 5 vieram em seguida apresentando
valores intermediários. Os piores valores de riqueza de espécies ocorreram nos
biótopos 7, 8 e 9 por serem os mais impactados.

139
Tabela 31 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério riqueza de
espécies dos biótopos

Biótopos Espécies predominantes Estruturas especiais Média parcial


(Valores) (Valores)
01 – Fl. Alteradas 1.1 4 1 2,5

01 – Fl. Alteradas1.2 3 2 2,5

01 – Fl. alteradas 1.3 3 2 2,5

01 – Fl. Alteradas 1.4 4 2 3,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A . P2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 4 1 2,5

04 - Mata Ciliar 4 3 3,5

05 – Caat. Aberta 4 2 3,0

06 –LagoasMarginais 4 1 2,5

07 - Pivô abandonado 1 1 1,0

08 – Pivô Cultivado 1 1 1,0

09 - Sede 1 1 1,0

140
5.2.5 Potencial para a educação ambiental

A análise do potencial para educação ambiental foi baseada nos processos


ambientais naturais observáveis e no número de elementos de beleza cênica. Os
processos ambientais naturais observáveis correspondem a todos os fenômenos
não antrópicos que podem ser observados no ambiente. É um atributo que reflete o
nível de preservação, a importância e o número de elementos naturais que podem
ser identificados na dinâmica ambiental do ecossistema. É algo muito importante
para a educação ambiental, mas deve-se ressaltar que esse atributo também pode
ser analisado em uma perspectiva baseada na ação antrópica, ou seja, os
processos naturais podem ser avaliados de tal maneira que consideram-se as suas
mudanças em função das ações humanas. A beleza cênica é um componente da
paisagem que pode revelar a integridade dos ecossistemas e ao mesmo tempo
proporcionar sensações agradáveis às pessoas que os observam. Trata-se de
atributo de grande importância para a educação ambiental e para a atividade
turística.
O excelente estado de preservação da maioria das formações vegetais do
Parque Estadual Mata Seca faz com que essa unidade de conservação possua uma
quantidade significativa de processos naturais observáveis, além de diversos
elementos de beleza cênica. A deciduidade das folhas no período seco, o
revigoramento e a pujança do verde no período chuvoso, o espesso tapete de folhas
formando a serrapilheira na estiagem, a dinâmica hidrológica das lagoas marginais,
a grandeza dos Embarés, o jardim de cactos nos afloramentos do Furado, entre
outros fenômenos, comprovam a magnitude da beleza cênica e dos processos
naturais do Parque.
Nesse contexto, a Floresta Decídua de alto porte, a Caatinga Arbórea Aberta-
Furado e as Lagoas Marginais apresentam os maiores valores. Em seguida, a Mata
Ciliar e a Floresta de Afloramentos apresentaram valores consideráveis. As
Florestas Alteradas apresentaram valores pouco expressivos e os ambientes mais
antropizados como os Pivôs e a Sede se destacaram com os menores valores.

141
Tabela 32– Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério potencial
para a educação ambiental dos biótopos

Biótopos Processos ambientais Beleza cênica (Valores) Média parcial


(Valores)
01 – Fl. Alteradas 1.1 3 2 2,5

01 – Fl. Alteradas1.2 3 2 2,5

01 – Fl. alteradas 1.3 3 2 2,5

01 – Fl. Alteradas 1.4 3 2 2,5

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A . P2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 3 3 3,0

04 - Mata Ciliar 4 4 4,0

05 – Caat. Aberta 4 4 4,0

06 - LagoasMarginais 4 4 4,0

07 - Pivô abandonado 2 1 1,5

08 – Pivô Cultivado 2 1 1,5

09 - Sede 1 1 1,0

142
5.2.6 Atividade acadêmica

A avaliação da atividade acadêmica levou em consideração o potencial para


pesquisas científicas e o número de projetos sendo desenvolvidos na área. Existe
um número significativo de pesquisadores conduzindo importantes pesquisas no
Parque Estadual Mata Seca, mas devido à sua extensão territorial e diversidade de
ambientes, essa unidade de conservação ainda apresenta um imenso potencial
para estudos científicos. Esse potencial apresenta um imensurável leque de temas
que pode ser encontrado nas áreas preservadas ou nos ambientes antropizados.
Atualmente, a área tem-se destacado pela presença do Projeto Tropi Dry
formado por uma rede internacional de pesquisas voltadas para o estudo das
Florestas Decíduas no mundo e que tem o Parque Estadual Mata Seca como uma
das suas principais áreas de estudo. O projeto congrega diversos pesquisadores
brasileiros e estrangeiros que investigam diversos assuntos ligados à sucessão
ecológica da vegetação e sua interação com as comunidades de entorno. Contando
com os subprojetos do Tropi Dry, o IEF possui o registro de dezessete projetos de
pesquisas em andamento no Parque.
O biótopo 2, Floresta Estacional de alto porte, apresentou os maiores valores
por tratar-se de uma área bastante preservada, com muitos elementos naturais de
interesse científico e por apresentar um número significativo de registro de
atividades acadêmicas. O biótopo 1, florestas alteradas, apresentou valores
consideráveis por possuírem um grande potencial e por abrigarem diversos
projetos. Os biótopos 3, 4 , 5 e 6 (Floresta de Afloramentos, Floresta Perenifólia,
Caatinga Arbórea e as Lagoas Marginais) apresentaram valores baixos por não
possuírem muitos registros de atividades acadêmicas, mas deve-se ressaltar que
essas áreas possuem um imenso potencial para pesquisas científicas, por serem
ambientes que podem ser considerados como raros ou de grande importância
ecológica.
Para a Biodiversitas (2003), as Matas Secas do extremo Norte de Minas que
abrangem a área do Parque Estadual Mata Seca e os seus ecossistemas
associados são de importância biológica extrema e carecem de estudos científicos
aprofundados. De acordo com SCHARIOT e SEVILHA ( 2005), as Matas Secas do

143
Brasil como um todo precisam de estudos que possam ajudar a garantir a
preservação da sua rica biodiversidade.

144
Tabela 33 - Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério atividade
acadêmica nos biótopos

Biótopos Potencial para Registro de pesquisas Média parcial


pesquisas (Valores) (Valores)
01 – Fl. Alteradas 1.1 3 1 3,5

01 – Fl. Alteradas1.2 3 1 3,5

01 – Fl. alteradas 1.3 3 2 3,5

01 – Fl. Alteradas 1.4 3 1 3,5

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A . P2.2 4 4 4,0

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4 4 4,0

03 – Fl. de Afloram. 3 1 2,5

04 - Mata Ciliar 4 1 2,5

05 – Caat. Aberta 4 1 2,5

06 - LagoasMarginais 4 2 3,0

07 - Pivô abandonado 1 1 1,0

08 – Pivô Cultivado 1 1 1,0

09 - Sede 1 1 1,0

145
5.3 Classificação dos biótopos em zonas e os desafios do Parque Estadual
Mata Seca

O Parque Estadual Mata Seca destaca-se por abrigar a maior e mais


importante área contínua de Floresta Estacional Decidual de alto porte do Estado de
Minas Gerais que no contexto nacional evidencia-se como uma das mais relevantes
áreas de Matas Secas do Brasil. O zoneamento ambiental dessa unidade de
conservação comprovou essa realidade e ainda revelou a existência de uma extensa
faixa de Matas Ciliares preservadas, permeando grandes Lagoas Marginais e o Rio
São Francisco, além de Florestas Decíduas sobre afloramentos calcários e a
Caatinga Arbórea Aberta sobre os lajeamentos, ecossistema raríssimo que na
região é conhecido como Furado. Além do mais, o zoneamento revelou a
existência de grandes áreas formadas por Florestas Decíduas e perenifólias em
regeneração, além de áreas muito alteradas que precisam ser recuperadas.
A definição das zonas do Parque Estadual Mata Seca foi realizada através da
consideração dos aspectos legais definidos no Decreto n° 84.017 e também a partir
da classificação dos biótopos de acordo com os intervalos de classes propostos.
Foram definidos cinco intervalos correspondentes a cinco zonas: Zona Intangível,
Zona Primitiva, Zona de Uso Extensivo, Zona de Uso Intensivo e Zona de
Recuperação. Um dos aspectos mais marcantes desse zoneamento ambiental
refere-se ao fato de nenhum biótopo do Parque ter-se enquadrado nos parâmetros
correspondentes às Zonas de Uso Extensivo e Intensivo ( Figura 25 e Tabela 35).
O cálculo da amplitude existente entre os intervalos foi baseado em Laponi
(2000), citado por Neves (2002), que sugere que da média final máxima (valor 4,0)
se subtraia a média mínima (1,2). Posteriormente dividiu-se o valor encontrado pelo
número de classes. A amplitude encontrada foi 0,5. O valor inicial dos intervalos,
segundo Laponi (2000), citado por Neves (2002), deve ser inferior ao valor
encontrado entre os biótopos. Assim, estipulou-se o valor de 1,1 que adicionado ao
valor da amplitude (0,5) foi possível determinar os parâmetros de cada intervalo
conforme a tabela 34.

146
Tabela 34 – relação entre as zonas e os intervalos de classes
ZONAS INTERVALOS CORES

ZONA INTANGÍVEL X ≥ 3,1 VERDE

ZONA PRIMITIVA X ≥ 2,6 ou < 3,1 AMARELO

ZONA DE USO EXTENSIVO X ≥ 2,1 Ou < 2,6 AZUL

ZONA DE USO INTENSIVO X ≥ 1,6 Ou X < 2,1 LARANJA

ZONA DE RECUPERAÇÃO X < 1,6 VERMELHO

Os diversos biótopos da área se definiram apenas como Zona Intangível,


Zona Primitiva e Zona de Recuperação, o que comprova que essa unidade de
conservação possui remanescentes vegetacionais mais conservados apresentando
poucas áreas passíveis de serem submetidas a processos de recuperação mais
complexos (Tabela 35). Além do mais, constatou-se, através desse zoneamento,
que o Parque Estadual Mata Seca é uma “ilha de remanescentes florestais” cercada
por extensas áreas de pastagens, culturas agrícolas e matas secundárias muito
alteradas. Essa realidade ratifica a relevância da área como unidade de
conservação de importância biológica extrema que precisa ser preservada e
conhecida pela ciência. Além das zonas acima propostas, foi definida uma Zona
Especial de Amortecimento que abrange uma faixa de 10 Km de largura ao longo de
todo o entorno do Parque. Como pode se observar no mapa a Zona de
Amortecimento foi representada apenas por uma estreita faixa continua em contato
com o limite do Parque, porque a representação da área total dessa zona poderia
reduzir a qualidade da representação das zonas do interior da unidade de
conservação.

147
Figura 25 – Zoneamento ambiental do Parque Estadual Mata Seca

148
Tabela 35 – Classificação dos biótopos em zonas
Biótopos Média aritmética Zona

01 – Fl. Alteradas 1.1 2,9 Primitiva

01 – Fl. Alteradas 1.2 3,0 Primitiva

01 – Fl. alteradas 1.3 3,0 Primitiva

01 – Fl. Alteradas 1.4 3,0 Primitiva

02 – Fl. Dec. A .P 2.1 4,0 Intangível

02 – Fl. Dec. A . P 2.2 4,0 Intangível

02 – Fl. Dec. A .P 2.3 4,0 Intangível

03 – Fl. De Afloram. 3,0 Primitiva

04 - Mata Ciliar 3,4 Intangível

05 – Caat. Aberta 3,2 Intangível

06 - Lagoas Marginais 2,8 Primitiva

07 - Pivô abandonado 1,3 Recuperação

08 – Pivô Cultivado 1,3 Recuperação

09 - Sede 1,2 Recuperação

Ao analisar o percentual da área ocupada pelas zonas no Parque, nota-se


que a Zona Intangível ocupa 64,61 % da área de estudo (Figura 26). Se considerar
que essa zona representa um significativo remanescente vegetacional em ótimo
Estado de conservação e qualidade ambiental, recomenda-se que as ações
efetivadas pela administração da unidade sejam para preservação máxima do seu
ambiente natural, com a mitigação dos impactos e a criação de normas que
restringem a visitação pública em alguns pontos. Porém, é necessário que todas as
ações voltadas para a área sejam pensadas por considerar o fato de o biótopo se
encontrar em uma região marcada por baixíssimos indicadores socioeconômicos.

149
Nesse caso, é necessário pensar na possibilidade de se implantar alternativas
que possam conciliar a preservação e a geração de renda através mecanismos
sustentáveis que possam contribuir para a emancipação social e econômica da
região. No capítulo referente aos desafios serão apresentadas algumas sugestões
que podem auxiliar no sentido garantir o manejo sustentável nessa unidade de
conservação. O turismo ecocultural, por exemplo, surge como uma alternativa viável
que pode ser empregada para atender aos anseios dessa perspectiva.

Figura 26 - Área ocupada (%) em zonas no Parque Estadual Mata Seca

A Zona Primitiva também ocupa uma parcela bastante significativa da área


de estudo o que corresponde a 33.59% do Parque Estadual Mata Seca. Por tratar-se
uma área com qualidade ambiental considerável e que se encontra em processo de
regeneração natural recomenda-se que as ações a serem implantadas tenham como
objetivo assegurar a preservação e a manutenção dos mecanismos naturais
responsáveis pela dinâmica da sucessão ecológica em curso nas formações
vegetais encontradas nessa zona. Algumas medidas restritivas à visitação devem
ser implantadas, mas essa zona, assim como as outras, possui áreas que
apresentam um grande potencial para a educação ambiental e isso deve ser visto
com bons olhos para que no futuro o Parque possa ser usado como um importante
instrumento a serviço da construção de uma cidadania ambiental nas comunidades
do seu entorno.
A Zona de Recuperação corresponde à menor área do Parque Estadual Mata
Seca, o que não diminui a sua importância para o contexto ambiental da área. Ao

150
contrário, deve-se ressaltar que a Zona de Recuperação merece um tratamento
muito especial por abranger os biótopos que refletem as maiores alterações e
impactos sofridos pela cobertura vegetal original da área. Formada pela Sede da
fazenda, pelo Pivô Abandonado e pelo Pivô Central Cultivado, a Zona de
Recuperação cobre apenas 1,80% do Parque e, com certeza, vai exigir muito
trabalho do órgão gestor da unidade de conservação por tratar-se de uma área
extremamente alterada e que perdeu todas as características originais.
Por outro lado, sabe-se que todas as medidas a serem implantadas no
Parque dependem obviamente do processo de regularização fundiária e da
elaboração do plano de manejo. Mas recomenda-se que o processo de recuperação
das áreas degradadas do Parque Estadual Mata Seca já deve começar a ser
pensado. Nesse sentido, é necessário fortalecer as parcerias entre o Instituto
Estadual de Florestas (IEF) e instituições de ensino e pesquisa como a
Universidade Federal de Lavras (UFLA), a Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) e a Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG), uma vez que os
projetos de recuperação dos biótopos possam surgir desses convênios. Nesse
contexto, as instituições acima citadas podem ampliar os projetos já existentes na
área e criar outros que podem vincular bolsas de iniciação científica, dissertações e
teses ao processo de regeneração das áreas alteradas do Parque .
Para Neves (2002), nas áreas que serão necessárias à construção ou à
manutenção de edificações deve-se evitar a homogeneização do ambiente
limítrofe plantando diversas espécies herbáceas e arbustivas da flora local.
Nesse caso o biótopo representado pela Sede é o espaço que abrigará o maior
número de alterações voltadas para implantação de infra-estrutura necessária à
gestão do Parque, por isso é necessário que essa preocupação seja considerada
nessa área. Também deve-se ter a preocupação de não impermeabilizar as vias de
acesso e o fluxo de veículos deve ser limitado.
A implantação da Zona de Amortecimento surgiu da necessidade de se
apresentar uma ação mitigadora dos impactos advindos das áreas adjacentes. Essa
zona se justifica pela necessidade da unidade de conservação possuir uma área de
entorno que possa receber um monitoramento destinado à redução dos efeitos
negativos que as áreas externas exercem sobre a vegetação. Existem áreas em
que o limite do Parque com as áreas externas formam uma realidade ambiental
151
marcada por mudança muito abrupta. Nessas áreas esses efeitos negativos são
muito visíveis, sobretudo, o efeito de borda que proporciona o desenvolvimento de
espécies exóticas e o empobrecimento da flora original. Essa Zona de
Amortecimento deve ser monitorada constantemente visando a redução dos
impactos causados pelo efeito de borda. Aconselha-se que as bordas Sul e Sudeste
sejam constantemente vistoriadas para a retirada de espécies invasoras oriundas
das pastagens.
A questão do isolamento constitui uma ameaça ao equilíbrio da dinâmica
populacional das geobiocenoses existentes no Parque. Nesse sentido, faz-se
necessária a implantação de corredores ecológicos que promovam a conexão entre
a unidade de conservação e outras formações vegetais próximas ao entorno. O
problema é que o Parque se encontra quase que totalmente cercado por pastagens
e áreas de cultivo. Na borda Norte/Noroeste o Parque faz limite com áreas de
Florestas Decíduas secundárias. O maciço vegetacional bem preservado mais
próximo se encontra no Parque Estadual da Lagoa do Cajueiro, separado do Parque
Estadual Mata Seca pelo Rio São Francisco, a Leste. Nas bordas Sudeste, Sul e
Oeste existem extensas áreas de pastagens e cultivos agrícolas.
Por isso, recomenda-se o início de uma discussão acerca da possibilidade de
se implantar corredores ecológicos a partir da recuperação de áreas degradadas no
entorno. Sabe-se das dificuldades demandadas por um empreendimento dessa
natureza; deve-se pelo menos iniciar um debate sobre o assunto tendo em vista a
importância dos corredores ecológicos para o aumento da capacidade de suporte do
Parque . Caso essa idéia seja levada adiante, nota-se que a borda Sul/Sudoeste do
Parque será a área mais apropriada para uma conexão com outras formações
vegetais, uma vez que o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Reserva
Indígena Xacriabá se encontram nessa direção.

152
5.3.1 Os principais desafios do Parque Estadual Mata Seca

O zoneamento ambiental ao estabelecer a divisão da unidade de


conservação em diversos espaços com suas características geoambientais próprias
constitui-se como um trabalho de fundamental importância para a definição das
funções que o futuro plano de manejo determinará para o Parque Estadual Mata
Seca, entretanto deve-se ressaltar que existem muitos desafios a serem enfrentados
para que esse propósito seja alcançado.
As discussões sobre os desafios aqui apresentados foi norteada a partir de
cinco fatores:exaustivas análises de campo, acompanhamento da mídia, leitura de
textos, entrevistas e as impressões adquiridas pelo autor ao longo da sua vivência
na região. As informações referentes às negociações de compra das terras do
parque foram adquiridas em várias conversas realizadas com o gerente do parque, o
senhor José Luiz Vieira. Dentre os desafios considerados destacam-se o
desmatamento, a pesca e a caça predatórias, o pisoteio do gado, o impasse na
regularização fundiária, os incêndios, o isolamento do Parque, a implantação da
gestão participativa, dentre outros.
Os problemas relacionados ao desmatamento clandestino, à caça, à pesca e
ao pisoteio do gado no Parque Estadual Mata Seca são muitos comuns em outras
unidades de conservação do Brasil. Trata-se de um desafio que depende de outras
importantes questões a serem enfrentadas, tais como, a regularização fundiária, a
elaboração do plano de manejo e a implantação da infra-estrutura necessária ao
bom funcionamento do Parque. A solução para esses problemas também depende
da gestão participativa que se pretende implantar na unidade de conservação.
Nesse caso, recomenda-se que a futura gestão incorpore um plano de ação voltado
para a conscientização das comunidades de entorno sobre a importância da
preservação da flora e fauna do Parque ao mesmo tempo em que sejam oferecidas
as alternativas que possam gerar renda para essas populações.
Um dos mais importantes desafios a serem enfrentados refere-se à questão
da regularização fundiária e à elaboração do plano de manejo do Parque. A
negociação que envolve a compra das terras da unidade de conservação se
encontra emperrada devido ao fato de os valores oferecidos pelo IEF não terem sido
aceitos por um dos proprietários e é bem provável que o pagamento seja feito em
153
juízo, pois não se percebem mudanças no ponto de vista daquele que se opõe à
proposta do Estado.
O plano de manejo, por sua vez, encontra-se na dependência da
regularização fundiária e a sua elaboração será decisiva para o processo de
implementação do Parque Estadual Mata Seca. A definição e a caracterização
ambiental das zonas apresentadas neste trabalho têm como principal objetivo
subsidiar a elaboração desse plano de manejo que deve apresentar um criterioso
conjunto de normas que possam disciplinar as atribuições e o uso dos diversos
ambientes do Parque. Por fim, espera-se que este trabalho também possa chamar a
atenção para a necessidade de se apressar a solução dessas questões que
emperram regularização do Parque de modo que essa unidade de conservação seja
implementada e tenha a sua importante biodiversidade resguardada e protegida.
Nesse período de indefinição recomenda-se que sejam intensificadas as ações
voltadas para a preservação do Parque.
Sabe-se que uma das maiores preocupações desse Parque refere-se aos
riscos de incêndios nos períodos de secas. Na fase final de coleta de dados para a
dissertação a região conheceu um dos mais longos períodos de estiagem e isso
contribuiu para o aumento do número de focos de incêndios no Norte de Minas
ameaçando a biodiversidade não só do Parque Estadual Mata Seca, mas de
praticamente todas as unidades de conservação da região. Nesse sentido, é
necessário enfrentar esse problema que representa um dos mais sérios desafios do
Parque. A maioria dos incêndios que ocorre na região é criminosa e quase sempre
se iniciam em estradas. Assim, faz-se necessário criar mecanismos que possam
detectar e combater, no início, os incêndios com eficiência. Também deve-se criar
medidas punitivas e intensificar as ações conscientizadoras para evitar ou reduzir
os incêndios criminosos, além de alertar a população sobre os perigos que as
queimadas oferecem. Por fim, essa questão precisa ser enfrentada com muita
seriedade e compromisso com a preservação da área, pois trata-se de um problema
que sempre se repete nos períodos de estiagens prolongadas.
Dentre as medidas a serem implantadas para combater os focos de incêndio
recomenda-se a construção de duas torres de observação em dois pontos
estratégicos do Parque, ou seja, um na borda Sul e outro na borda Norte. Essas
torres devem possuir 25 metros, pois essa altura é suficiente para se observar focos
154
de incêndios em toda a extensão do Parque . Também recomenda-se a implantação
de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) de modo que o Parque disponha
de um banco de dados georreferenciados sobre fauna, flora, áreas degradadas,
focos de calor, número e tipo de infrações ambientais, pois essas informações são
fundamentais para subsidiar o plano de ação da unidade de conservação. Além
disso, é necessária a contratação de guardas-parques e pessoas para estarem
monitorando constantemente a situação do Parque por meio das torres de
observação.
Outro importante desafio do Parque Estadual Mata Seca diz respeito à
definição da gestão a ser adotada. Atualmente, discute-se muito a importância de
uma gestão democrática ou participativa que considere o envolvimento das
comunidades de entorno na elaboração do plano de manejo e na condução dos
mecanismos voltados para o desenvolvimento sustentável da região. Esse processo
tem dado certo na relação entre as populações de entorno e os órgãos gestores do
Parque Nacional do Caparaó no Leste de Minas. Para a Amda (2005), a gestão
participativa no Parque do Caparaó elevou a unidade de conservação ao status de
Parque modelo em Minas Gerais.
No caso do Parque Estadual Mata Seca, pretende-se aliar essa perspectiva
de gestão democrática a um amplo processo de gestão ambiental integrado que
contempla um mosaico formado por diversas unidades de conservação. Trata-se do
Projeto Mosaico Grande Sertão Veredas – Peruaçu, implantado pela Fundação Pró-
Natureza – FUNATURA em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a
Fundação Nacional do Meio Ambiente – FNMA. Esse projeto tem como objetivo
promover uma gestão participativa que envolve Organizações não governamentais,
comunidades rurais, iniciativa privada e o poder público na busca pelas ações que
assegurem a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável das
comunidades do entorno de treze unidades de conservação e uma reserva indígena
do Norte e Noroeste de Minas Gerais (FUNATURA, 2007). Pretende-se, de fato,
implantar um plano de desenvolvimento territorial de base conservacionista, voltado
para a geração de renda através do extrativismo e do turismo ecocultural. O último
diagnóstico de caracterização, realizado pelos órgãos ambientais vinculados ao
projeto, revelou que a região apresenta um grande potencial para essas atividades
econômicas (FUNATURA,2007). Trata-se de uma proposta extremamente
155
interessante, mas que vai encontrar muitas dificuldades para ser implantada nos
próximos anos.
Nesse sentido, o grande desafio referente à inserção do Parque Estadual
Mata Seca no Projeto Mosaico refere-se principalmente a cinco questões a serem
enfrentadas: a ausência de um plano de manejo, a falta de uma infra-estrutura
necessária para o funcionamento efetivo da unidade de conservação, a necessidade
de criação de mecanismos de gestão que possam unir os administradores, as
instituições públicas e privadas e as comunidades existentes na região do mosaico,
o isolamento do Parque no contexto territorial do mosaico e as péssimas condições
das estradas da região, principalmente, a BR 135 que liga Montalvânia a Belo
Horizonte.
Em virtude dos fatos acima apresentados, ressalta-se que a elaboração do
plano de manejo e a implantação da infra-estrutura no Parque devem ser projetos a
serem vistos com muita atenção pelo Governo Estadual para que o Parque tenha as
condições necessárias para uma gestão integrada e possa assegurar a preservação
da sua biodiversidade.
Quanto aos mecanismos de gestão integrada, aconselha-se o fortalecimento
do conselho consultivo do mosaico e a criação de grupos voltados para temas
específicos que proporcionem a integração de técnicos e entidades de classes com
associações comunitárias da região. Também é necessária a realização de
encontros periódicos junto às comunidades com o objetivo de mobilizar as
populações e promover a democratização dos conhecimentos necessários ao bom
andamento do projeto. Deve-se ressaltar que o sucesso dessa proposta depende
da criação de uma linha de ação fundamentada no extrativismo e no turismo
ecocultural que deve ser seguida por todos os membros do projeto
(FUNATURA,2007).
Nesse contexto, o Parque Estadual Mata Seca possui um potencial imenso
para o chamado turismo sertanejo, uma vertente do turismo ecocultural que tem
ganhado força no sertão nordestino nos últimos anos. Para Seabra (2003), o turismo
sertanejo caracteriza-se por apresentar atividades de lazer integradas com a
paisagem interiorana onde estão presentes o meio físico, a cultura local e a
participação da comunidade residente.

156
Dessa maneira propõe-se a criação de um pólo de turismo sertanejo voltado
para as comunidades rurais da região e para os aspectos de beleza cênica da
Caatinga Arbórea Aberta presente no Parque, pois trata-se de uma oportunidade
ímpar de se aproveitar o total desconhecimento da “minas sertaneja” que existe no
Estado e que possui inúmeros atrativos a serem aproveitados pelo turismo.
O isolamento do Parque Estadual Mata Seca é outro grande desafio a ser
enfrentado para assegurar a eficiência da gestão integrada do Projeto Mosaico. Na
verdade, deve-se ressaltar que o isolamento representa uma grande ameaça para a
preservação da biodiversidade dessa unidade de conservação, pois sabe-se que a
manutenção do equilíbrio das populações de remanescentes vegetacionais depende
da conexão com outras áreas que apresentam características florísticas
semelhantes. Para Araújo (2000), quanto mais isolado for o fragmento florestal,
menor será a possibilidade de conservação da biodiversidade.
Por isso, recomenda-se que sejam construídos os corredores ecológicos,
conectando o Parque às demais unidades de conservação do Projeto Mosaico.
Como o Parque se encontra quase que totalmente cercado por áreas de pastagens,
cultivos agrícolas e florestas alteradas a única alternativa a ser seguida para
resolver essa questão encontra-se na aquisição de terras para serem recuperadas e
transformadas em corredores ecológicos. Embora seja muito difícil tomar essa
decisão, as áreas recomendadas encontram-se nas bordas Sul e Sudoeste do
Parque e devem- se ligar à Reserva Indígena Xacriabá e ao Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu.
O isolamento também está relacionado ao problema do “efeito de borda. O
“efeito de borda” é o resultado da transição abrupta entre um ecossistema e os
ambientes ao seu redor. De acordo com Paciência & Prado (2004), essa transição
abrupta é capaz de proporcionar uma maior exposição aos ventos, aumento da
temperatura do ar e do solo e a diminuição da umidade da atmosfera local
provocando uma série de modificações bióticas que incluem, por exemplo,
proliferação de espécies adaptadas às novas condições ambientais.
O problema das condições precárias em que encontram as estradas de
acesso ao Parque representa um outro grande desafio não só para a gestão
integrada das unidades de conservação, mas também para o desenvolvimento do
Norte de Minas como um todo. A situação da BR 135 no trecho
157
Itacarambi/Montalvânia, por exemplo, é um absurdo que inviabiliza todo e qualquer
projeto de desenvolvimento regional no Norte do Estado. No período de chuvas, as
cidades de Manga e Montalvânia ficam praticamente isoladas devido às péssimas
condições da estrada. Portanto, é inconcebível que essa situação permaneça sem
que o poder público tome as devidas providências necessárias para a solução do
problema.
Dado o exposto, é indispensável que os parceiros do Projeto Mosaico se
unam a todos os setores da sociedade formando uma frente de reivindicações a
serem encaminhadas ao governo federal e estadual para que o problema seja
resolvido o mais rápido possível.

158
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de ocupação do Norte de Minas é antigo e a região foi submetida


à influência de diversas atividades econômicas que foram implantadas ao longo da
história. Nesse contexto, as áreas ocupadas pelas tipologias de Cerrado e pelas
Florestas Estacionais Deciduais foram substituídas pelas pastagens e culturas
agrícolas em um processo de expansão desenfreada da economia regional que não
se pautou em princípios conservacionistas. Como resultado o Norte de Minas
perdeu grande parte de sua cobertura vegetal original e hoje se encontra em um
momento chave em que a sociedade civil e o poder público terão de decidir sobre os
rumos a serem tomados nas próximas décadas. Nesse processo decisório não se
pode perder de vista a idéia de que todos os mecanismos econômicos até agora
implantados na região não foram suficientes para reduzir as imensas desigualdades
existentes entre o Norte de Minas e as demais regiões do Estado.
O mapeamento final de delimitação dos biótopos foi de grande importância
para a realização do zoneamento ambiental e definição das ações mitigadoras a
serem implantadas pelo Plano de Manejo do Parque Estadual Mata Seca. A
identificação e análise dos diversos biótopos nesse estudo também demonstrou a
importância do zoneamento para a correção de práticas incorretas e prejudiciais à
conservação ambiental ao mesmo tempo em que subsidiou a apresentação de
sugestões de manejo voltadas para o uso adequado dos recursos do Parque.
As Florestas Decíduas de alto porte, a Caatinga Arbórea Aberta sobre
lajeamento e as Florestas Perenifólias estão entre os principais remanescentes
vegetacionais nativos ou com pequenas alterações antrópicas que resistiram ao
avanço da agropecuária na região, o que evidencia a importância do Parque
Estadual Mata Seca no contexto regional uma vez que essa unidade de
conservação foi criada no ano 2000 com o objetivo de preservar essas áreas.
Mesmo diante da sua importância esse Parque ainda não foi regularizado, pois
ainda possui diversos desafios a serem enfrentados e superados para que essa
unidade de conservação possa assumir de fato a sua função definida pelos
dispositivos legais que a criaram. Assim, este trabalho surgiu da necessidade de
apresentar um zoneamento ambiental dentro de uma perspectiva voltada para a
contextualização dos diversos desafios ou problemas que afetam o Parque Estadual
159
Mata Seca e que, ao mesmo tempo, possa subsidiar a elaboração de um plano de
manejo que favorecerá a implementação efetiva dessa unidade de conservação.
Chegou-se à conclusão de que a elaboração do plano de manejo, a
regularização fundiária e a implantação da infra-estrutura serão desafios decisivos
para a solução dos grandes problemas que hoje afetam a integridade e o
funcionamento do Parque. Nesse sentido, os incêndios, o desmatamento, a caça e a
pesca predatórias, o pisoteio do gado, o isolamento da unidade de conservação, a
gestão a ser implantada, entre outros, são problemas que se apresentam como os
desafios a serem enfrentados uma vez que a solução para essas questões
beneficiará não só a unidade de conservação em si, mas também todo o contexto
social e econômico em que está inserido o Parque Estadual Mata Seca e o seu
entorno.
Ainda em relação aos desafios a serem enfrentados, acredita-se que os
órgãos gestores e as comunidades de entorno do Parque devem ter uma
preocupação especial com os focos de incêndios que freqüentemente ameaçam o
maciço florestal do Parque Estadual Mata Seca. Assim, é premente a necessidade
de se tomar medidas urgentes voltadas para o enfrentamento desse problema antes
mesmo da elaboração do plano de manejo e da implementação efetiva do Parque.
A mesma preocupação se estende ao fato dessa unidade de conservação não
possuir corredores ecológicos que possam dar suporte ao equilíbrio das
populações do Parque. A implantação desses corredores é uma recomendação a
ser seriamente pensada, pois o isolamento do Parque põe em risco toda a rica
biodiversidade dessa unidade de conservação.
Esse estudo também mostra a necessidade de se criar um debate amplo
envolvendo os diversos setores da sociedade, para que se estabeleçam medidas
voltadas para o desenvolvimento da economia regional sem que sejam atropelados
os princípios que regem o desenvolvimento de base sustentável. Nessa perspectiva
deve-se buscar os mecanismos sócio-econômicos que possam conciliar os diversos
interesses dentro de um processo harmônico voltado para o bem comum.
Em relação às considerações mais específicas constatou-se que o Parque
Estadual Mata Seca não possui Zonas de Uso Intensivo e Extensivo o que comprova
o fato dessa unidade de conservação apresentar remanescentes vegetacionais
bastante preservados. Também deve-se ressaltar que a realidade encontrada nesse
160
zoneamento é típica de unidades de conservação de áreas rurais, uma vez que nos
espaços urbanos os ecossistemas são mais alterados e apresentam maiores
possibilidades de possuírem Zonas de Uso Intensivo e Extensivo.
As zonas propostas revelam graus e tipos de impactos ambientais
diferenciados, o que exige medidas específicas para seu manejo. As Zonas de
Recuperação devem ser submetidas a um processo de recomposição da vegetação
natural baseado nas espécies nativas encontradas em outras zonas. A Zona
Primitiva apresenta um grande potencial para a prática da educação ambiental.
Devem ser criados projetos voltados para a inserção das comunidades de entorno
em todo o processo de preservação dos remanescentes florestais do Parque,
visando à criação de aliados e parceiros ativos na gestão integrada da unidade de
conservação. Nessa mesma perspectiva integradora e participativa inferiu-se que o
turismo sertanejo representa uma alternativa viável para o Parque Estadual Mata
Seca.
O turismo e a educação ambiental são os dois pilares de sustentação da
gestão integrada e participativa defendida pelo Projeto Mosaico Sertão Veredas –
Peruaçu, que além do Parque Estadual Mata Seca, abrange outras 12 unidades de
conservação e uma reserva indígena do Norte e Noroeste de Minas. Mas o sucesso
desse projeto não depende apenas da integração entre as comunidades de entorno,
entidades de classe, Instituições públicas e privadas e organizações não
governamentais, mas também da superação de uma série de desafios, tais como o
isolamento do Parque em relação às demais unidades de conservação do projeto, a
ausência de plano de manejo, a precariedade das estradas e a carência de infra-
estrutura do Parque .
Um dos aspectos mais marcantes deste trabalho, refere-se à diversidade e
ao alto nível de preservação dos biótopos identificados no Parque, o que confirma a
importância da preservação dos ecossistemas presentes nessa unidade de
conservação. Também deve-se ressaltar que a Floresta Estacional Decidual de alto
porte é o mais importante biótopo do Parque, haja vista que esse maciço florestal
cobre mais da metade da área da unidade de conservação e apresenta-se bastante
preservada. A Caatinga Arbórea Aberta sobre lajeamento destaca-se por revelar-se
como um dos principais atrativos do Parque em função da sua incrível beleza
cênica. Os Pivôs Centrais e as expressivas áreas com Florestas Decíduas em
161
regeneração chamam a atenção para a necessidade de criar projetos voltados para
a reconstituição da paisagem original da área. A quantidade, o tamanho e o alto
grau de preservação das Lagoas Marginais também devem ser ressaltados, pois
esses biótopos desempenham uma função ecológica primordial para o equilíbrio da
biota do Rio São Francisco.
Em resumo, o mapeamento e a caracterização dos biótopos poderão trazer
uma grande contribuição aos estudos sobre a dinâmica ecológica das Matas Secas
do Norte de Minas, pois trata-se de um estudo pioneiro que, com certeza, irá
fornecer subsídios para a implantação de futuros projetos científicos de caráter
sócio-ambiental voltados para a preservação das Florestas Decíduas da região e de
outras partes do Brasil.
Por fim, as discussões teóricas e as análises gerais realizadas neste
trabalho possibilitaram a constatação de que a questão da regularização fundiária
ou os principiais impactos ambientais da área formam uma realidade que pode ser
encontrada em Minas Gerais e em outras partes do Brasil. Assim, o trabalho
constitui um diagnóstico que poderá ser usado como parâmetro de análise da
situação de outras áreas protegidas ou subsidiar discussões envolvendo a
necessidade de criação de unidades de conservação em outras regiões. Além do
mais, a grande biodiversidade revelada nesse zoneamento chama a atenção para
a necessidade de se fazer uma discussão mais aprofundada sobre a situação das
Florestas Decíduas em Minas Gerais, haja vista que essas fitofisionomias se
encontram ameaçadas pelos interesses econômicos de grandes fazendeiros no
Norte de Minas. Por isso, faz-se necessário que a sociedade civil organizada e os
órgãos ambientais exerçam uma pressão sobre o legislativo mineiro para que sejam
criadas leis que assegurem a preservação das Matas Secas através da criação de
outras unidades de conservação e regularização das áreas protegidas já existentes.

162
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, G. Entidade defende exploração racional. Jornal de Notícias, Montes


Claros, p. 11, 08 jun. 2006.

ALENCAR, G. Exploração na mata seca ainda depende de lei. Hoje em Dia, Belo
Horizonte, 06 jun. 2007. Caderno Minas, p. 19.

ALENCAR, G. Mata Seca liberada para agricultura no NM. Jornal de Notícias,


Montes Claros, p. 10, 22 nov. 2006.

ALENCAR, G. Mata Seca põe fogo no conflito ambiental. Hoje em Dia, Belo
Horizonte, 05 jun. Seção Meio Ambiente, p. 6. 2006.

ALENCAR, G. Ruralistas ampliam pressão contra limitação de desmate na Mata


Seca. Hoje em Dia, Belo Horizonte, p. 18, 02 fev. 2007.

ALMEIDA, M. I. S. Algumas considerações sobre o papel do Estado na


reorganização do espaço Norte–Mineiro. Caderno Geográfico, Montes Claros, v. 1,
n. 3, p. 9-18,1999.

ANTUNES, F. Z. Caracterização Climática da Área Mineira da Sudene. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.181, p.15-19, 1994.

ARAÚJO, M. A. R. Conservação da Biodiersidade em MG: Em busca de uma


estratégia para o século XXI. Bahia: Unicentro Newton Paiva, 2000, 36p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6023 – Informação e


documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24p.

ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE DEFESA DO AMBIENTE – AMDA. A Compensação


Ambiental Compensa? Ambiente Hoje, Belo Horizonte, n. 128, p. 6-7 jul.2006.

ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE DEFESA DO AMBIENTE – AMDA. Panorama das


unidades de conservação em Minas. Ambiente Hoje, Belo Horizonte, n. 118, p. 4-7,
jul.2005.

ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE DEFESA DO AMBIENTE – AMDA. Preservação da


Mata Seca não está garantida. Ambiente Hoje, Belo Horizonte, m. 125, p. 2, 3, 6, 7,
Abr. 2006.

AYOADE, J. O. Introdução a climatologia para os trópicos. 4.ed. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 1996. 331p.

BEDÊ, C. L. et al. Manual para mapeamento de biótopos no Brasil – Base para um


planejamento ambiental eficiente. Belo Horizonte: Fundação Alexander Brandt,
1997. 146p.

163
BELÈM, R. A. Projeto Caminhadas no Parque: uma proposta de educação ambiental
para o Parque Municipal da Sapucaia – Montes Claros/ MG. 2002. 55f. Monografia
(Especialização em Geografia Ensino e Meio Ambiente) - Centro de Ciências
Humanas, Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, 2002.

BRANDÃO, M. Caatinga. In: MENDONÇA, M.; LINS, L. (Org.). Lista Vermelha das
Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Fundação Biodiversitas, 2000, p. 75-85.

BRANDÃO, M.; GAVILANES, M. Composição Florística das Áreas Recobertas pela


Caatinga na Área Mineira da Sudene. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 17,
n. 181, p. 20-32. 1994.

BRANDÃO, M. et al. “Furados”: Um novo Ecossistema de Grande Importância como


Suporte da Fauna Local e Regional da Região da Jaíba, MG. Daphne, Belo
Horizonte, v. 8, n. 3, p. 51-60, jul.1998.

BRANDÃO, M.; NAIME, U. J. Cobertura Vegetal Original dos Municípios de Jaíba,


Manga e Matias Cardoso, MG. Daphne, Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 7-13, abr. 1998.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.


Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 292p.

BRASIL. Decreto n.84.017 de 21 de setembro de 1979. Brasília: Congresso


Nacional, 1979.

BRASIL, E. Região Comemora Renovação de Deliberações da Mata Seca. O Norte


de Minas, Montes Claros, p. 02, 29 dez. 2005.

BRASIL. Lei do Sistema de Unidade de Conservação da Natureza, Lei nº 9985, 18


de julho de 2000. Congresso Nacional, 2000.

BRINA, A. E. Aspectos da dinâmica da vegetação associada a afloramentos


calcários na APA Carste de Lagoa Santa, MG. 1998. 168f. Dissertação (Mestrado
em Ecologia) - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 1998.

BRITO, F. A.; CAMARA, J. D. Democratização e Gestão Ambiental – Em busca do


desenvolvimento sustentável. Petrópoles: Vozes, 1998. 332.

CAMARGOS, M. N. Desafios da implementação do zoneamento ambiental:


preservação dos manguezais e exploração de seus recursos naturais por população
tradicional.Santos,7p.2005.Disponívelem:<www.ibap.org/10,bap/teses/marcelocamar
gos_tese.doc>>. Acesso em 07 mar. 2007.

CAMARGOS, R. Reservas naturais do Brasil: a transição dos conceitos. Belo


Horizonte: Ed. UFMG, 1999. 170p.

164
CARDOSO, G.G. Área de proteção ambiental (APA) São José: Bases para uma
gestão participativa. 2002. 87f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto
Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.

COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DO VALE DO SÃO FRANCISCO –


CODEVASF. Projeto Jaíba e Desenvolvimento Tecnológico – Recuperação de áreas
degradadas do semi-árido do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1997.

CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO, 1., 1997, Curitiba.


Evolução do conceito de área de proteção- oportunidades para o século XXI.
Curitiba: UNILIVRE, 1997.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1980.

CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (ORG). Geormofologia do Brasil. Rio de Janeiro:


Berthand Brasil, 2003, 392p.

DAJOZ, R. Ecologia Geral. Petrópoles: Vozes, 1983. 472p.

DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. Rio de janeiro: Bertrand


Brasil, 1998. 206p.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Sistema


Nacional de Classificação dos Solos. Brasília, 1999. 412 p.

EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS – EPAMIG.


Estudo de solos, clima e vegetação do município de Manga - MG. Belo Horizonte,
1990. 106p.

FIEMINO, H. Um projeto à procura de si. Estado de Minas, Belo Horizonte, 25 nov.


1996. Estado ecológico, Seção Identidade, p.3.

FONTES, R.; FONTES, M. Crescimento e desigualdade regional em Minas Gerais.


20 ed. Viçosa: Edição dos Autores, 2005. 465p.

FRANÇA, J. L.; VASCONCELOS, A. C. de. Manual para normalização de


publicações técnico-científicas. Colaboração: Maria Helena de Andrade Magalhães,
Stella Maris Borges. 8. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007. 255p.

FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS – CETEC. Diagnóstico


Ambiental de MG. Belo Horizonte, 1983, 158p.

FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS – CETEC. Geologia da


Área do Projeto Karst. Belo Horizonte,1978.

FUNDAÇÃO PRÓ-NATUREZA – FUNATURA. Relatório de Cumprimento do Objeto


Parcial – RCO: Projeto Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu MMA/FNMA – 106/2005.
Brasília, 2007, 67p.

165
GOLFARI et al. Zoneamento ecológico do estado de Minas Gerais para
reflorestamento. Belo Horizonte: PRODEPEF, 1975.

GOODLAND, R.; FERRI, MG. Ecologia do Cerrado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Enciclopédia


dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro, 1996.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Mapa da


vegetação brasileira. Rio de Janeiro, 2003. Escala 1: 1000.000. Disponível em:
<www.ibge.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Mapa de


Biomas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Escala 1:1000.000. Disponível em
<www.ibege.org.br>. Acesso em: 14 de setembro de 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Mapa dos


Solos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Escala 1:1000.000. Disponível em
<www.ibge.org.br>. Acesso em: 14 de setembro de 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Recursos


naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil. Rio de Janeiro, 1996. 208.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS


RENOVÁVEIS – IBAMA/ CPRN. Zoneamento ambiental de Lagoa Santa. Belo
Horizonte, 1997, 62P.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS


RENOVÁVEIS – IBAMA. Relatório Nacional do Brasil. Brasília, 1997.

INSTITUTO DE TERRAS DE MINAS GERAIS – ITER-MG. Ações Discriminatórias.


Belo Horizonte, p. 1-2, 2005. Disponível em <http://www.iter.mg.gov.br/> Acesso
em16 de junho de 2007.

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - IEF. Parque Estadual da Mata Seca.


Belo Horizonte, 2000, 25p.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE MINAS GERAIS – INDI.


Belo Horizonte: Departamento de Documentação e Informação do Município de
Manga. 2006. Disponível em < www.indi.org.mg.br>. Acesso em: 23 de outubro de
2007.

JIMENEZ-SEGURA, L. F. et al. As desovas dos peixes no alto médio São Francisco.


Belo Horizonte, p. 1-5. 2000. Disponível em
<http://www.lars2.org//uneditedpapers/jimenez.pdf>.

LEAL, I. et al. Ecologia e Conservação da Caatinga: uma introdução ao desafio.


Recife: UFPE, 2004. 882p.

166
LEITE, M. E.; PEREIRA, M. A. A Expansão Urbana de Montes Claros a Partir do
Processo de Industrialização. Leituras Geográficas sobre o Norte de Minas Gerais,
Montes Claros, v. 1, n. 1, p. 33-51, 2004.

LIMA, G. S.; RIBEIRO, G. A.; GONÇALVES, V. Avaliação da Efetividade de Manejo


das Unidades de Conservação de Proteção Integral em Minas Gerais. Revista
Árvore, Viçosa, v. 29, n. 4, p. 647-653, 2005.

MAPA geológico do estado de Minas Gerais. 1 mapa, color. Escala


1:1000.000.COMIG. Belo Horizonte, 2003. 1 CD-ROM.

MAZZINI, A. L. D. A. In: DICIONÁRIO Educativo de Termos Ambientais. Belo


Horizonte: O Lutador Editora, 2006. 533p.

MELO, D. R. As veredas dos planaltos do noroeste mineiro: caracterizações


pedológicas e aspectos morfológicos e evolutivos. 1992. 218f. Dissertação
(Mestrado em Geografia) - Instituto de Ciências Exatas, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro, 1992.

MELO, E. F. et aL. Zoneamento ambiental da APA Sagrisa-Pontão, 1. ED. Santa


Rosa: O Lutador Editora, 2006. 533p.

MINAS GERAIS. Deliberação Normativa n. 72 de 08 de setembro de 2004. Belo


Horizonte: Assembléia Legislativa, 2004.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL. Dicas para observação e registro


das características da árvore.Lisboa: Unidade de apoio a rede telemática educativa
– UARTE,2007. Disponível em < http://www.uarte.mct.pt/activ/dia-arvore/dicas.asp

NEVES, C. B. Zoneamento ambiental da estação ecológica da Universidade Federal


de Minas Gerais. 2002. 126f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de
Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.

PACIÊNCIA, M. L. B.; PRADO, J. Efeitos de borda sobre a comunidade de


pteridófitas na Mata Atlântica da região de Una, Sul da Bahia, Brasil. Revista Global
Bot, São Paulo, v. 27, n. 4, p. 641-653, out-dez. 2004.

PINTO, C. P.; MARTINS-NETO, M. (Org.). Bacia do São Francisco: geologia e


recursos naturais. Belo Horizonte: SBG/MG, 2001. 349p.

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS. Levantamento das Infrações autuadas pela


polícia ambiental na região do Parque Estadual Mata Seca no ano de 2005. Montes
Claros. 2007. 2p.

POMPEU, P. S. Efeitos das estações seca e chuvosa e da ausência de inundações


nas comunidades de peixes de três lagoas marginais do médio São Francisco. 1997.
72f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1997.

167
POSCMANN, M.; AMORIM, R. (Org.). Atlas da exclusão social do Brasil. São Paulo:
Cortez, 2003. 221p.

PRELLVITZ, L.J.; ALBERTONI, E. F. Caracterização Temporal da Comunidade de


Macroinvertebrados Associada a Salvinia SPP. (Salviniaceae) em um Arroio da
Planície Costeira de Rio Grande, RS. Acta Biológica Leopoldensia, São Leopoldo, v.
26, n. 2, p. 213-223, jul-dez. 2004.

RATTER, J. A. et al. Observation on forests of some mesotrophic soils in central


Brazil. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 47-58, 1978.

RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e


florísticos. Rio de Janeiro: Ãmbito Cultural Edições ltda, 1997.

ROMARIZ, D. Aspectos da vegetação do Brasil. São Paulo: Edição da autora, 1996.


60 p.

SAADI, A. A geomorfologia da Serra do Espinhaço e de suas margens. Geonomos –


Revista de Geociências, Belo Horizonte, v. 3, n.1, p. 41-63, mar. 1995.

SCHARIOT, A.; SEVILHA, A. C. Biodiversidade, estrutura e conservação de


Florestas Estacionais Deciduais no Cerrado. In: SCHARIOT, A.; SOUSA, J.C.;
FELFILI, J.M. (ed.). Ecologia, Biodiversidade e Conservação do Cerrado. Brasília:
Edição do autor, 2005.

SCOLFORO, J. R.; OLIVEIRA, A. D. Modelo fitogeográfico para áreas de


preservação permanente: um estudo da bacia hidrográfica do rio São Francisco,
MG. Lavras: Editora UFLA, 2005. 422p.

SANO, S; ALMEIDA. M. Cerrado: Ambiente e Flora. Planaltina: Embrapa – CPAC,


1998, 556 p.

SANTOS, A. S. R. dos. A beleza cênica como patrimônio nacional. O Estado de São


Paulo, São Paulo, 23 nov. 2004. Caderno Viagem, p.1.

SANTOS, M. D. dos. As Unidades de Conservação Ambiental da Região


Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1995. p. 192-193.

SEABRA, G. de F. O turismo sertanejo como alternativa econômica para o semi-


árido. Passo: Revista de Turismo y Patrimônio Cultural, Tenerife, v. 1, n. 2, p. 137-
143, 2003.

SILVA, A. B. Estudo hidrogeológico do aqüífero cárstico da região de Montes Claros


– Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1989.

SILVA, L. A.; SCARIOT, A. Comunidade Arbórea de uma Floresta Estacional


Decídua Sobre Afloramento Calcário na Bacia do Rio Paranâ. Revista Árvore,
Viçosa, v. 28, n. 1, p. 61-67. 2004.

168
SPOLADORE, A. et al. “A Escola Vai ao Parque”: a caminho da educação ambiental
– uma experiência bem sucedida. Caderno de Resumo do Simpósio Brasileiro de
Geografia Física Aplicada,Curitiba: Ed. UFPR, 1997. 208p.

TROPPMAIR, H. Biogeografia e Meio Ambiente. Rio Claro: Divisa, 2006. 206p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS – UFLA; INSTITUTO DE FLORESTAS –


IEF. Mapas e Inventário da flora natural e dos reflorestamentos de Minas Gerais.
Lavras: UFLA, 2006.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Avaliações prioritárias para a


conservação da biodiversidade da Caatinga. Brasília: MMA/ SBF, 2002. 36p.

169
170

Você também pode gostar