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Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
1
Ronaldo Alves Belém
Belo Horizonte
Instituto de Geociências da UFMG
2008
2
A meu pai José Alves Belém e à minha mãe Maria de Lourdes Alves pois a vitória
materializada neste trabalho só foi possível graças à trajetória de lutas que eles
trilharam em prol do meu crescimento pessoal e profissional
À memória de meu grande irmão José Alves Belém Filho a quem eu sempre serei
grato por sua influência na minha iniciação ao hábito de ler
3
AGRADECIMENTOS
À professora Vilma Lúcia Macagnan Carvalho por ter me ajudado a aceitar e a levar
a diante o grande desafio que esse mestrado representava. Sem o seu apoio,
compreensão e incentivo não seria possível a concretização desse trabalho;
Ao professor Celso Baeta Neves por suas sugestões e palavras de incentivo para
esse trabalho;
Ao professor Oswaldo Bueno Amorim Filho: a cada conquista não posso esquecer
do entusiasmo e encantamento que o seu grande exemplo desperta em nós;
Ao Zé Luís, Gerente do Parque Estadual Mata Seca. Com toda a minha sinceridade:
Muito obrigado por tudo e saiba eu não tenho palavras que possam expressar a
grandeza da gratidão que eu devo a você;
À Maísa Araujo: pela amizade, apoio e por todo seu empenho na elaboração dos
mapas;
4
Ao Instituto Estadual de Floresta – IEF/MG por todo apoio a esse trabalho e
principalmente pela concessão do material digital que permitiu a elaboração dos
mapas;
Aos amigos Guilherme, Wellington e Adriana Angélica pelo apoio, incentivo e grande
amizade;
À Diza pela amizade, apoio, incentivo e por me abrir as portas da sua casa em Belo
Horizonte;
Aos meus colegas de curso: Mariana Mungai, Karina Dal Pont, Cristiane, Renata
Silvano, Wanderson, Angela Andréa, Maíra, Álvaro, Luciana Alt, Vanessa Link,
Morel, Gizele e Marcela Scott;
Aos meus amigos e colegas de trabalho no Colégio Delta: Sônia, Janine, Talita,
Sílvia, Elaine, Jurandir e Kênia. Muito obrigado por tudo;
Aos meus alunos do Colégio Delta e Escola Estadual Augusta Valle pelo incentivo,
amizade e compreensão nos momentos difíceis;
5
Maravilhosa de fato
A beleza cíclica que aos olhos cativa
Ora seca, murcha, em pedaços
Ora verde, exuberante e viva
6
RESUMO
8
ABSTRACT
The State Park Dry Forest is located in the municipality of Manga, north of the
state of Minas Gerais and vegetation mosaic presents a very complex due to the
diversity of plant formations found within its limits. Apart from the various vegetable
formation biome Caatinga the Park also has areas of artificial pastures, patches of
deciduous forests Forests changed in different successional stages and Ponds banks
of great importance to the biota of the river San Francisco. The area is suffering
various types of human pressures such as the practice of irrigated agriculture, fires,
illegal charcoal, to trample of livestock, fishing and hunting predatory. This study
sought to make an environmental zoning that could subsidize the implementation of
the conservation unit, in addition to contributing to the discussion of the challenges
that arise as an area of protection is fully implemented. This zoning was conducted
through a methodology that is based on the mapping of biotopes. They were
identified and mapped nine biotopes noting that the conservation unit gives an
expressive variety of environments. Later a characterization was accomplished
through a planilhamento and description of the sample areas of biotopes. The
Seasonal Forest Deciduous of high size, the Caatinga forest Open and Banks forest
stood out by presenting a good state of repair and an advanced process of ecological
succession. The Ponds Banks and Forest of appear showed up quite preserved and
with few impacts. The biotope Forests Altered presented as to trample impacts of
cattle and the effect of edge. The Headquarters, the Pivot Cultivated in Pivot
abandoned biotopes were more impacted. The identification and valuation of
biotopes, using degrees of relevance and ecological indicators led to the
establishment of special zones for the area. The park was divided into three zones,
namely: Intangible Zone, Zone early in the Recovery Zone. The Zone Intangible has
the best environmental quality of the unit for storage, occupying 64.61% of its
extension, which reinforces its importance in the conservation of the area and
indicates the need for actions aimed at their protection. The early Zone occupies
33.59% of the unit of conservation and presented a considerable environmental
quality. However, this area covers areas that require actions that ensure the full and
balanced regeneration of forests existing there. The Zone of Recovery occupies a
9
lesser extent within the conservation unit (1.80%) showing the high environmental
quality of the park as a whole. However, it should be emphasized that the Zone of
Recovery deserves a very special treatment by cover biotopes that reflect the major
changes and impacts suffered by the original vegetation of the area. Finally, the
paper discusses the solution to the problems that threaten the preservation of natural
resources of the park from a perspective that considers the socioeconomic and
cultural context of the region to attain the real purposes of environmental zoning is to
ensure that the environmental quality of resources water and soil conservation and
biodiversity, ensuring sustainable development and improvement of living conditions
of the population.
10
LISTA DE FIGURAS
11
LISTA DE TABELAS
12
29 - Valoração dos indicadores e médias da Diversidade de ambientes -- 136
30 - Valoração dos indicadores e médias da Função ecológica -------------- 138
31 - Valoração dos indicadores e médias da Riqueza de espécies --------- 140
32 - Valoração dos indicadores e médias da Educação ambiental ---------- 142
33 - Valoração dos indicadores e médias da Atividade acadêmica ---------- 145
34 - Relação entre as zonas e os intervalos de classes------------------------ 147
35 - Classificação dos biótopos em zonas ----------------------------------------- 149
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
15
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
1.INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 19
2. REFERENCIAL TEÓRICO---------------------------------------------------------------- 23
2.1 Zoneamento ambiental -------------------------------------------------------------- 36
2.2 Mapeamento de biótopos ----------------------------------------------------------- 39
3. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA---------------------- 57
3.1 Processo de ocupação e uso do solo do Norte de Minas ------------------ 59
3.2 O Município de Manga no contexto do fisiográfico do Norte de Minas 61
3.2.1 Geologia -------------------------------------------------------------------------- 62
3.2.2 Geomorfologia ------------------------------------------------------------------ 64
3.2.3 Pedologia ------------------------------------------------------------------------ 64
3.2.4 Clima ------------------------------------------------------------------------------ 65
3.2.5 Vegetação ----------------------------------------------------------------------- 66
3.2.6 Hidrografia ----------------------------------------------------------------------- 70
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS--------------------------------------------- 71
4.1 Mapeamento de biótopos ---------------------------------------------------------- 71
4.1.1 Atividade preliminar ----------------------------------------------------------- 72
4.1.2 Revisão teórica------------------------------------------------------------------ 72
4.1.2.1 Análise cartográfica e aerofotogramétrica --------------------- 72
4.1.3 Elaboração do mapa preliminar -------------------------------------------- 73
4.1.4 Elaboração do mapa final ---------------------------------------------------- 73
4.1.5 Caracterização dos biótopos ------------------------------------------------ 74
16
4.1.6 Elaboração das tabelas-síntese com dados das planilhas ---------- 77
4.1.7 Definição dos critérios e indicadores de caracterização ------------- 77
4.1.7.1 Definição da escala de valores para cada indicador ------ 78
4.1.8 Os critérios e indicadores dos biótopos ---------------------------------- 78
4.1.8.1 Estado de conservação ------------------------------------------- 78
4.1.8.2 Riqueza de espécies ---------------------------------------------- 79
4.1.8.3 Diversidade de ambientes --------------------------------------- 80
4.1.8.4 Função ecológica---------------------------------------------------- 81
4.1.8.5 Atividade acadêmica ---------------------------------------------- 82
4.1.8.6 Potencial para educação ambiental --------------------------- 83
4.1.9 Determinação das zonas do Parque Estadual Mata Seca --------- 84
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES-------------------------------------------------------- 85
5.1 Delimitação e mapeamento final de biótopos --------------------------------- 85
5.1.1 Biótopo 1 Florestas alteradas ----------------------------------------------- 88
5.1.2 Biótopo 2 Floresta Estacional Decidual de alto porte ---------------- 96
5.1.3 Biótopo 3 Floresta Estacional de afloramentos ------------------------ 103
5.1.4 Biótopo 4 Floresta Perenifólia – Mata ciliar ----------------------------- 108
5.1.5 Biótopo 5 Caatinga Arbórea Aberta – Furado -------------------------- 112
5.1.6 Biótopo 6 Lagoas Marginais ------------------------------------------------ 117
5.1.7 Biótopo 7 Pivô Abandonado ------------------------------------------------ 121
5.1.8 Biótopo 8 Pivô Cultivado ----------------------------------------------------- 125
5.1.9 Biótopo 9 Sede ----------------------------------------------------------------- 129
5.2 Avaliação da qualidade ambiental dos biótopos ------------------------------ 133
5.2.1 Estado de conservação ------------------------------------------------------ 133
5.2.2 Diversidade de ambientes --------------------------------------------------- 135
5.2.3 Função ecológica--------------------------------------------------------------- 137
5.2.4 Riqueza de espécies ---------------------------------------------------------- 139
5.2.5 Potencial para educação ambiental --------------------------------------- 141
5.2.6 Atividade acadêmica ---------------------------------------------------------- 143
5.3 Classificação dos biótopos em zonas e os desafios do Parque 146
Estadual Mata Seca
5.3.1 Os principais desafios do Parque Estadual Mata Seca -------------- 153
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------- 159
17
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------- 163
18
1. INTRODUÇÃO
19
Unidades de Conservação da região através do Sistema de Áreas Protegidas do
Jaíba – SAP, ainda não foram cumpridas.
O Parque Estadual Mata Seca enfrenta sérios problemas como as
queimadas, o desmatamento clandestino, o pastoreio do gado, a presença de um
pivô central em funcionamento dentro de seus limites, a caça e a pesca predatórias.
Esses problemas são típicos das unidades de conservação do nosso Estado e a
presença dos mesmos se explica, principalmente, pelo fato do poder público ter
criado as áreas protegidas e não ter promovido a criação dos mecanismos
necessários para implementação efetiva das unidades de conservação. Em outras
palavras, essas unidades de conservação existem porque os decretos que
asseguram a sua existência legal foram assinados, mas elas precisam
urgentemente de um plano de manejo e da regularização de suas terras para que
deixem de ser simples “parques de papel” ( GONÇALVES et al,2005).
No caso do Parque Estadual Mata Seca, as suas terras faziam parte de
quatro fazendas e o processo de regularização fundiária dessa unidade de
conservação está paralisado em função de uma disputa judicial provocada pelo fato
de um dos proprietários não ter aceitado a proposta de compra oferecida pelo
Instituto Estadual de Florestas-IEF em 2007. Por isso, ainda existe um pivô central
sendo usado para o cultivo de tomate dentro dos limites do Parque e a presença do
gado pastando por toda a extensão da área é uma constante. A informação do IEF
é que a última safra do tomate acontecerá em 2007 e que o arrendamento das
terras para pecuaristas estará proibido em 2008. Por outro lado, não se sabe ao
certo quando o Parque não mais enfrentará problemas relacionados às
comunidades de entorno que freqüentemente desmatam e usam as terras próximas
ao Rio São Francisco e às lagoas marginais para a prática da pecuária e da
agricultura de vazante. Também existem registros de problemas relacionados à caça
e à pesca predatórias dentro dos limites do Parque e de seu entorno. É bem
provável que todos esses problemas sejão solucionados com a regularização
fundiária e com a criação de um plano de manejo que garantirá a implementação
efetiva do Parque.
No entanto, é importante ressaltar que a regularização fundiária das unidades
de conservação de Minas Gerais já é em si um grande desafio a ser enfrentado
pelo poder público, uma vez que tem sido muito difícil a alocação dos recursos
20
necessários para a solução desse problema. O mecanismo de compensação
ambiental que determina que 0,5 % do custo de implantação de empreendimentos
nocivos ao meio ambiente seja aplicado na regularização das unidades de
conservação, representa uma esperança. O problema é que ainda não se observa
eficiência nas regras que estabelecem a aplicação dos recursos.
A solução definitiva para os problemas das unidades de conservação passa
pela definição da questão fundiária, mas essa não é a única questão a ser
enfrentada. Independente de qualquer decisão tomada pelo Estado para regularizar
as terras das unidades de conservação, o quadro socioambiental das mesmas
precisa ser conhecido e mapeado em sua totalidade, a fim de que o poder público
possa ter elementos para a elaboração de um plano de manejo que irá determinar o
destino e o uso de todos os seus recursos ambientais.
De acordo com essa perspectiva de análise, a não regularização fundiária e a
ausência de um plano de manejo dificultam a implementação do Parque Estadual
Mata Seca e acentuam todos os problemas que afetam essa unidade de
conservação, pondo em risco a preservação da rica biodiversidade encontrada na
área. Mas faz-se necessário que esse Parque seja antes de tudo mapeado,
conhecido e analisado dentro de um contexto socioeconômico e cultural. Nesse
sentido, este trabalho tem como objetivo fazer um zoneamento ambiental
como subsídio à elaboração de um plano de manejo que irá promover a
implementação do Parque Estadual Mata Seca e instituir o uso adequado dos
diversos recursos ambientais dessa unidade de conservação. Entretanto,
pretende-se apresentar o zoneamento ambiental como o centro de uma discussão
sobre os desafios sociais, ambientais e econômicos que precisam ser enfrentados
para garantir que as unidades de conservação cumpram os papéis determinados
pelas categorias de manejo de uma maneira equilibrada e sem conflitos.
Esse zoneamento ambiental será realizado através de uma metodologia que
se baseia no mapeamento de biótopos. O biótopo é a expressão espacial de uma
biocenose que abrange elementos bióticos e abióticos em interdependência. Assim,
o trabalho se propõe a identificar, caracterizar e mapear os diferentes biótopos
visando a criação das zonas nas quais o poder público estabelecerá os
regimes de uso e o manejo que garantirá a efetiva implementação do Parque
Estadual Mata Seca. Deve-se ressaltar que esse Parque destaca-se por
21
apresentar um dos mais expressivos remanescentes pouco alterados ou nativos de
Floresta Estacional Decidual de alto porte no Estado de Minas Gerais. Sabe-se que
as Florestas Estacionais Deciduais são pouco conhecidas, enquanto que as
pressões antrópicas através do carvoejamento e expansão da agropecuária
devastam imensas áreas de vegetação nativa. Por isso, o trabalho pretende
atender à necessidade de novas pesquisas sobre essa importante formação
vegetal, criando subsídios que possam adiantar o processo de implantação do
Parque Estadual Mata Seca e de outras unidades de conservação nas áreas de
ocorrência de remanescentes de Matas Secas no Estado.
Por fim, toda essa problemática apresentada e as outras questões que serão
reveladas pelo zoneamento representam os desafios que precisam ser superados
para garantir que o Parque Estadual Mata Seca assuma de fato a função que a sua
categoria de manejo estabelece.
22
2. REFERENCIAL TEÓRICO: O PARQUE ESTADUAL MATA SECA NO
CONTEXTO DOS GRANDES DESAFIOS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E
DAS FLORESTAS ESTACIONAIS DECIDUAIS DO BRASIL
23
No Brasil, a discussão sobre a criação de Unidades de Conservação
também pode ser considerada como antiga, pois José Bonifácio, no início do século
XIX, sugeriu a criação de um setor específico que cuidasse da conservação das
florestas ( BRITO & CÂMARA, 1998). Para Camargos (2001), no final do século XIX,
André Rebouças propôs a criação dos Parques Nacionais de Sete Quedas e da Ilha
do Bananal baseando-se no modelo estabelecido nos Estados Unidos, mas não
conseguiu viabilizar o seu projeto. As unidades de conservação só vieram ganhar
destaque no Brasil a partir de 1937, quando foi criado o primeiro Parque Nacional
brasileiro – o Itatiaia, localizado entre os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Em Minas Gerais, o Parque Estadual do Rio Doce, criado em 1944, destaca-se
como o primeiro Parque criado pelo poder público Estadual. No entanto, vale
ressaltar que o número de Unidades de Conservação criadas no Brasil aumentou
principalmente a partir da década de 1960.
Em 1972, realizou-se em Estocolmo, na Suécia, a Conferência da ONU
sobre o ambiente humano que gerou a declaração sobre o Meio Ambiente. Em
sintonia com o avanço da consciência ambiental no mundo, surge no Brasil em 1973
o primeiro órgão de política ambiental do país: a Secretaria Especial de Meio
Ambiente (SEMA). Em 31 de agosto de 1981, foi sancionada a Lei n. 6938, que
dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos. Para
Brito & Câmara (1998), esse documento foi considerado um avanço na história do
meio ambiente do Brasil, pois demonstrou que a classe política brasileira evoluiu no
tocante ao trato com as questões ambientais do país. Em 1988, houve a
promulgação da primeira constituição brasileira a dar destaque sobre a questão
ambiental. Assim, toda a legislação sobre o meio ambiente passa a ter apoio na
Constituição, no Título VIII/Capítulo VI – do Meio Ambiente, que, no Artigo 225,
Parágrafo III determina incumbir ao poder público –
24
Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992. Nos anos posteriores a esse evento
constata-se o amadurecimento da consciência ambiental em todos os setores da
sociedade brasileira. Em conseqüência, as autoridades passam a ver a criação de
unidades de conservação como uma das principais estratégias encontradas para
minimizar a interferência antrópica sobre os ecossistemas naturais. De acordo com
Cardoso (2002), no início da década de 1990, o poder público federal, através do
Projeto de Lei 2.892/92, propôs a criação do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), criando as condições necessárias para que os diversos
setores da sociedade civil pudessem discutir os objetivos da conservação numa
perspectiva aplicável à realidade brasileira. Depois de um longo período de debates
envolvendo diversos interesses, promulgou-se a Lei 9.985 de 18 de julho de 2000,
instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que
estabelece critérios e normas para a criação, implementação e gestão das Unidades
de Conservação (CARDOSO, 2002).
As unidades de conservação são definidas por Camargos (1999, p. 25),
como
1
www.ief-mg.org.mg.br
26
unidades de Conservação é que elas não proíbem que o seu proprietário utilize a
sua propriedade no atendimento de sua função econômica Geralmente ocupam as
áreas de entorno dos Parques Nacionais com o objetivo de resguardar os atributos
naturais dos mesmos. A APA do Peruaçu e a APA da Serra do Cipó, ambas em
Minas Gerais, são dois importantes exemplos desse tipo de Unidade de
Conservação.
3.Reserva Extrativista (RESEX). São áreas de domínio público constituídas por
ecossistemas modificados, podendo incluir também ecossistemas naturais ou
cultivados. São ocupadas por populações tradicionalmente extrativistas, cuja
subsistência baseia-se na coleta de produtos da biota nativa. São Unidades de
Conservação de uso direto. Praticam a exploração auto-sustentável e conservação
dos recursos naturais renováveis por populações extrativistas. Como exemplo,
destaca-se a Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, no Acre.
4.Florestas Nacionais (FLONAS). São áreas com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e têm como objetivo a produção econômica
sustentável de madeira e outros produtos vegetais, a proteção de recursos
hídricos, a pesquisa cientifica - especialmente de métodos de exploração
sustentada das florestas.
5.Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). São categorias que
possibilitam aos proprietários institucionalizarem a criação de reservas naturais em
sua propriedades. O Parque do Caraça em Minas Gerais é exemplo desse tipo de
Unidade de Conservação.
6.Reservas Biológicas (REBIOS). São áreas que têm a finalidade de resguardar
atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da flora, da fauna
e das belezas naturais. Essa categoria de Unidade de Conservação é bastante
restritiva, pois são áreas que possuem ecossistemas relevantes ou características
naturais de importância científica nacional. Nas Reservas Biológicas, não é
permitido o acesso ao público, devido ao fato de elas conterem ecossistemas ou
comunidades frágeis.
7.estação Ecológica. São áreas representativas de ecossistemas brasileiros,
destinados à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção
do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação ambiental.
27
Esse grande número de categorias de manejo para as unidades de
conservação brasileiras se deve ao fato do país possuir dimensões continentais e
por ser um dos maiores detentores de biodiversidade no mundo. Proteger e garantir
o uso sustentável desse riquíssimo patrimônio natural representa um dos maiores
desafios nesse século XXI. O Congresso Mundial de Áreas Protegidas, organizado
pela União Mundial pela Natureza (IUCN), em 1992, estabeleceu que cada país
tivesse 10% de seu território como unidade de conservação (AMDA, 2005).
O conjunto formado por unidades de conservação federais e estaduais do
Brasil soma 133.210.655 hectares de áreas protegidas, o que corresponde a 15,64%
do território brasileiro. Para Rylands & Brandon (2005), além das unidades de
conservação federais e estaduais, existem outros tipos de áreas protegidas que
fazem importantes contribuições ao contexto socioambiental brasileiro. As reservas
indígenas, por exemplo, destacam-se como as mais relevantes. Conforme esses
autores, o Brasil é constituído de 441áreas indígenas que correspondem a 11,80%
do território brasileiro. A maioria dessas áreas já foi demarcada, mas ainda existem
outros muitos territórios sob avaliação dos órgãos públicos responsáveis pela
questão indígena.
Deve-se frisar que ainda existem as áreas verdes municipais e das
instituições de pesquisa e organizações não governamentais que não foram
consideradas no cálculo do percentual do território brasileiro que se encontra
protegido pelas unidades de conservação. Mas não restam dúvidas de que a
cobertura do território brasileiro pelas unidades de conservação é ainda insuficiente
se consideradas a riqueza da biodiversidade brasileira, o grau de ameaça dos
ecossistemas e o tamanho do território. Assim, esses números precisam aumentar
e os problemas das atuais áreas protegidas precisam ser resolvidos com urgência.
A busca pela solução desses inúmeros problemas é aqui entendida como o
conjunto de desafios das unidades de conservação brasileiras, uma vez que se
apresentam como algo que instiga a capacidade de encontrar alternativas ou
caminhos viáveis às situações vigentes.
Portanto, sabe-se que parte relativamente pequena dos ecossistemas
brasileiros se encontra em unidades de conservação de diferentes categorias de
manejo e, mesmo assim, a maioria dessas áreas protegidas não tem conseguido
cumprir as funções para as quais elas foram criadas e não estão garantindo a
28
preservação das riquezas naturais do país. Isto se deve à existência de muitas
unidades de conservação que ainda não foram efetivamente implementadas, o que
favorece a intensificação dos problemas que ameaçam a preservação dos recursos
naturais. Todos esses problemas constituem o conjunto de desafios que o poder
público e a sociedade civil precisam enfrentar para acelerar o processo de
implementação das unidades de conservação e assegurar a preservação dos
ecossistemas do país.
A situação de Minas Gerais reflete fielmente a realidade nacional, pois o
Estado possui um grande número de áreas protegidas à mercê dos inúmeros
problemas relacionados à não regularização das unidades de conservação. E
quando se analisa a questão do Parque Estadual Mata Seca no contexto da
preservação das Florestas Estacionais do Norte de Minas Gerais depara-se com
uma realidade complexa marcada por problemas que envolvem diversos atores
como o poder público, as organizações não governamentais, os empresários, os
produtores rurais e as populações tradicionais. Peculiaridades à parte, a situação do
Parque Estadual Mata Seca pode ser usada como base para uma discussão
acerca dos problemas ou desafios das unidades de conservação de Minas Gerais e
do Brasil como um todo, pois trata-se de uma realidade que apresenta problemas
comuns às demais situações encontradas no país. Dentre esses desafios
destacam-se a carência de recursos para a regularização fundiária das unidades de
conservação, a ausência de estudos voltados para o conhecimento das ações
necessárias nas unidades de conservação, a ausência de plano de manejo, a falta
de pesquisas destinadas à caracterização da biodiversidade dos ecossistemas, a
existência de comunidades tradicionais de entorno que fazem uso dos recursos das
unidades de conservação, a precariedade socioeconômica dessas comunidades
tradicionais e a existência de produtores rurais que vêem as unidades de
conservação como um empecilho aos seus interesses econômicos.
Para o IBAMA (1997), a falta de recursos para a regularização fundiária
das unidades de conservação representa um dos grandes desafios a serem
enfrentados pelos órgãos gestores do meio ambiente no Brasil. Provavelmente, esse
seja um dos mais sérios problemas das áreas protegidas, uma vez que as terras
não sendo regularizadas tem-se o desencadeamento de uma série de conflitos
envolvendo o uso dos recursos naturais das unidades de conservação. De acordo
29
com a AMDA (2005), o problema da não regularização fundiária é um dos grandes
obstáculos da manutenção das unidades de conservação de Minas Gerais, pois o
fato de o poder público não ser o dono das terras impede que os órgãos gestores e
fiscalizadores executem as suas atribuições para impedir que as unidades de
conservação sejam afetadas pelas pressões antrópicas. No caso do Parque
Estadual Mata Seca, essa unidade de conservação foi criada através da junção de
áreas que pertenciam a quatro fazendas. Descumprindo as determinações do SNUC
(2000), esse Parque ainda possui áreas sendo usadas para o cultivo de culturas
agrícolas como o feijão e o tomate. Além do mais, os proprietários também
arrendam as terras do Parque para criadores de gado da região, deixando o
Instituto Estadual de Florestas - IEF (gestor da unidade de conservação) em uma
situação muita delicada no que diz respeito à execução da fiscalização e repressão
às irregularidades presentes na área.
Mas é importante ressaltar que o próprio SNUC instituiu um mecanismo
voltado para a arrecadação de recursos destinados à regularização fundiária e à
estruturação das unidades de conservação. Esse mecanismo é a compensação
ambiental que estabelece que todo empreendimento que cause impactos ambientais
negativos e não mitigáveis destine no mínimo 0,5 % dos custos de implantação do
empreendimento para a solução dos problemas relacionados à não regularização
fundiária das unidades de conservação. Para a AMDA (2006), a aplicação dos
recursos da compensação ambiental para aquisição de terras pelo Estado
representa um desafio difícil, devido ao fato de esse processo depender de trâmites
legais muitos burocráticos. Assim, a compensação ambiental tem gerado muita
polêmica e muitos questionamentos têm sido feitos para averiguar a viabilidade e a
credibilidade desse instrumento. Nessa perspectiva questiona-se até que ponto
vale a pena permitir a aprovação de determinado empreendimento sabendo que os
recursos obtidos pela compensação não pagam os danos ao meio ambiente, uma
vez que é muito difícil estipular valor para o patrimônio ambiental. O certo é que os
recursos oriundos da compensação ambiental já estão sendo empregados em
algumas unidades de conservação de Minas Gerais. O Parque Nacional do
Caparaó, por exemplo, tem feito obras de infra-estrutura com recursos desse
mecanismo.
30
No tocante à questão da regularização fundiária do Parque Estadual
Mata Seca e das demais áreas protegidas da Região de Jaíba, o IEF dispõe de
outro mecanismo voltado para a obtenção de recursos. Na aprovação da Etapa 2 do
Projeto Jaíba, ficou acertado que 25 % dos recursos obtidos com a venda dos lotes
seriam aplicados no cumprimento de condicionantes ambientais como a
regularização fundiária das unidades de conservação da região(AMDA 2006). O
processo de compra de terras pelo Estado é muito complexo e exige o cumprimento
de uma série de etapas compostas por estudos técnicos conhecidos como ações
discriminatórias que têm como finalidade a identificação e a separação das terras
públicas das particulares. A parceria entre o Instituto de Terras de Minas Gerais –
ITER e o Instituto Estadual de Florestas – IEF realizou diversas ações
discriminatórias no Norte de Minas em 2006, trazendo uma esperança positiva no
que diz respeito ao processo de regularização das unidades de conservação da
região (ITER, 2006). Nessa perspectiva, em meados de 2007, o IEF deu início ao
pagamento das terras das unidades de conservação do Norte de Minas, pondo fim
a uma espera de cerca de dez anos.
Nesse sentido, a regularização fundiária do Parque Estadual Mata Seca
se encontra bastante avançada uma vez que os limites do Parque já foram
reconhecidos e georreferenciados pelo IEF/ITER e as negociações com os
proprietários já foram feitas, inclusive com o pagamento a três dos quatro
proprietários das áreas que abrangem o Parque . O proprietário que era o detentor
da maioria das terras não aceitou a proposta do IEF por acreditar que o preço
oferecido não corresponde ao que ele acredita ser o verdadeiro valor do imóvel. Na
verdade, o proprietário encomendou um inventário para calcular o valor comercial
das madeiras existentes nas terras e quer que esse valor seja levado em
consideração na avaliação feita pelo IEF. Em situações como essas, o IEF faz o
depósito em juízo e espera que a justiça dê o parecer final. Ainda não se sabe o
tempo necessário para o desenrolar dessa questão. O certo é que os trâmites
judiciais relacionados às questões fundiárias não se resolvem em pouco tempo, o
que poderá comprometer a implementação do Parque Estadual Mata Seca,
permitindo que as atuais pressões antrópicas do Parque continuem ameaçando a
biodiversidade dessa unidade de conservação.
31
No mais, não se vislumbra uma solução definitiva para a questão fundiária
das unidades de conservação brasileiras em um curto espaço de tempo, haja vista
que a questão é complexa e não existe nenhuma pressão da sociedade civil para
acelerar o processo de liberação das verbas necessárias para a implantação das
áreas protegidas. A questão está totalmente dependente da vontade política e da
pressão das organizações não governamentais, o que faz com que a lentidão seja
uma conseqüência natural de todo o processo. Essa situação se torna preocupante
à medida que se tem conhecimento de que o Brasil possui um grande número de
unidades conservação federais e estaduais e a maioria delas não possui sua
situação fundiária resolvida e está à mercê das pressões antrópicas que aumentam
a cada dia. Como pode-se observar na tabela 1, o Brasil possui 111 unidades de
conservação integral federais, 367 unidades de conservação de proteção integral
estaduais, 141 unidades de conservação de uso sustentável federais e 295
unidades de conservação de uso sustentável estaduais.
32
TABELA 1 - Número e área total das diferentes unidades de conservação estaduais e federais no
Brasil
UNIDADES DE N° ÁREA UNIDADES DE N° ÁREA
CONSERVAÇÃO (Hectares) CONSERVAÇÃO (Hectare)
FEDERAIS ESTADUAIS
33
de conservação de uso sustentável federais, 41 unidades de conservação de
proteção integral estaduais e 27 unidades de conservação de uso sustentável
estaduais, o que equivale a uma superfície de aproximadamente 2,60 milhões de
hectares, ou 4,46 % do território mineiro. Desse total, apenas cerca de 10% das
terras encontram-se regularizadas (AMDA, 2005). A não regularização dessas
terras provoca constantes conflitos com proprietários e usuários das áreas
protegidas favorecendo a intensificação de problemas como as queimadas, a caça
predatória, o pastoreio e o carvoejamento.
34
TABELA 2 - Número e área total das diferentes unidades de conservação estaduais e federais em Minas Gerais
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO N° ÁREA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO N° ÁREA
FEDERAIS (Hectares) ESTADUAIS
(Hectare)
36
consiste em dividir o território em zonas nas quais são autorizadas determinadas
atividades e interditadas outras ( MAZZINI,2006).
De acordo com Melo et al (2004), o zoneamento ambiental é de
fundamental importância para a proteção dos ecossistemas, uma vez que permite
conhecer a real situação dos ambientes, possibilitando assim o uso adequado das
áreas em questão. Para Camargos (2005), o zoneamento ambiental permite a
criação de diferentes tipos de zonas, nas quais o poder público estabelece regimes
especiais de uso, gozo e fruição da propriedade com o objetivo de melhorar e
recuperar a qualidade ambiental e o bem-estar da população. Conforme Melo et al
(2004), o zoneamento ambiental é o planejamento da ocupação do espaço de
acordo com suas características e potencialidades. Rocha (1995)2, citado por
Martins et al (2005), define o zoneamento ambiental como a divisão de uma área
em partes homogêneas com características fisiográficas e ecológicas
semelhantes, nas quais se autorizam determinados usos e interditam outros. De
acordo com o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e a
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRN (1997), o zoneamento
ambiental pode ser definido como um processo responsável pela criação de áreas
que expressam espacialmente as características de seus recursos naturais,
culturais, sociais e econômicos constituindo, assim, uma unidade ambiental onde a
homogeneidade e heterogeneidade internas são indissociáveis. Em outras palavras,
o zoneamento ambiental produz zonas ambientais com peculiaridades de natureza
biótica e abiótica e com características decorrentes dos processos de uso e
ocupação do solo (IBAMA/CPRN,1997).
De acordo com a Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu 2° Artigo,
Parágrafo XVI, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (BRASIL, 2000), o zoneamento ambiental é
2
ROCHA, J.S.M. da ; APA de Ozório – Morro da Borússia. Osório: Prefeitura Municipal de Osório, 1995.188p
37
Esse mesmo decreto determina os tipos de zonas a serem criadas: zona
intangível, zona primitiva, zona de uso extensivo, zona de uso intensivo, zona
histórico-cultural, zona de recuperação e zona de uso especial ( BRASIL, 2000).
O Decreto 4297 de 10 de julho de 2002 estabelece os critérios para o
zoneamento ecológico-econômico – ZEE do Brasil, ou seja, um zoneamento de
abrangência nacional. Mas Camargos (2005) ressalta que as expressões
zoneamento ambiental e zoneamento ecológico-econômico devem ser entendidas
como sinônimas. Nesse sentido, a definição legal de zoneamento ambiental
encontra-se no Artigo 2º do referido decreto que o descreve como sendo
40
o sistema biocenose não é simplesmente superposto ao sistema
biótopo, pois eles estão conectados pelos fluxos de matéria e de
energia e, constituem, em um nível superior e mais complexo um
novo sistema ecossistema. Em outros termos o ecossistema é um
sistema de ecossistemas (PASSOS, 1988,p.113)
41
Essa última definição foi usada neste trabalho por ser considerada a
mais apropriada para os geógrafos, uma vez que considera o biótopo como um
complexo sistema que integra os seres vivos e o seu componente espacial. A partir
dessa definição, percebe-se que o zoneamento ambiental realizado através da
metodologia de mapeamento de biótopos é provavelmente a mais apropriada para
as unidades de conservação, para que, ao usar o biótopo como unidade espacial
das zonas, o trabalho final assuma um caráter de detalhamento e diversidade
indispensáveis para um plano de manejo eficiente. Como o Parque Estadual Mata
Seca se encontra em uma área de transição entre biomas e o seu quadro
vegetacional é marcado por uma grande diversidade de fitofisionomias, acredita-se
que a metodologia de mapeamento de biótopos é a mais adequada para o
zoneamento ambiental dessa unidade de conservação.
O zoneamento ambiental também ganha importância à medida que esse
tipo de trabalho exige a elaboração de uma caracterização prévia da área a ser
zoneada. E essa caracterização define-se como um trabalho amplo e complexo uma
vez que apresenta aspectos ambientais e também reflexões relativas às questões
ambientais em um contexto científico, social, político e econômico.
A caracterização da vegetação representa um dos mais importantes
componentes dessa discussão porque a caracterização dos biótopos leva em
consideração as tipologias de cobertura vegetal ou fitofisionomias, as espécies
vegetais predominantes, os aspectos relevantes para abrigo e alimentação para a
fauna, o estado de conservação, a capacidade de regeneração e os problemas que
socioambientais que afetam essas formações vegetais como um todo.
E, ao se caracterizar uma vegetação, deve-se fazer uma discussão prévia
envolvendo a questão da nomenclatura, por tratar-se de um componente
indispensável e de fundamental importância para qualquer debate sério sobre os
aspectos vegetacionais. Na verdade, é necessário que se saiba antes de tudo o que
se está caracterizando, de modo que exista mais clareza e objetividade na
discussão.
A padronização da nomenclatura vegetacional, a princípio, pode ser
considerada como uma questão puramente acadêmica cuja importância se restringe
apenas ao âmbito das discussões científicas. No entanto, essa discussão ao ser
incorporada a um zoneamento ambiental em áreas naturais valoriza em muito o
42
trabalho, pois faz com que, para o zoneamento, haja uma discussão bastante
embasada e consistente sobre vegetação. Trata-se de uma tarefa muito difícil, pois
diversos autores usam critérios e escalas distintas. Para Sano & Almeida (1998), os
termos formação, forma e fitofisionomia podem ser considerados como sinônimos.
Quanto aos critérios usados para diferenciar as fitofisionomias, esses autores
consideram a fisionomia, a estrutura, a fenologia, o solo e a flora. De acordo com a
terminologia usada por Sano & Almeida (1998), o bioma Cerrado possui 11 tipos
fitofisionômicos distribuídos em três grupos vegetacionais: as formações florestais
(Mata Ciliar, Mata Seca ou Floresta Estacional Decidual e o Cerradão) as formações
savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque Cerrado, Palmeiral e Vereda) e as
campestres (Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre).
Como pode se perceber, a Floresta Estacional Decidual é uma
fitofisionomia florestal que pode ser encontrada no Cerrado (SANO & ALMEIDA,
1998). Entretanto, diversos estudos atestam a existência de Florestas Estacionais
em outros biomas como a Caatinga e a Mata Atlântica (IBGE,1997; SCARIOT &
SEVILHA, 2005; UFLA, 2006). De acordo com BRANDÃO (2000), o bioma Caatinga
no Norte de Minas apresenta 6 tipos fitofisionômicos distribuídos em dois grupos: as
formações florestais e as formações arbustivas. As formações florestais são
representadas pela Floresta Semi-Decídua (restrita às margens dos rios), Floresta
Decidual, Caatinga Arbórea Densa e Caatinga Arbórea Aberta. As formações
arbustivas são representadas pela Caatinga Arbustiva e pela Caatinga Hiperxerófila
(BRANDÃO, 2000). Portanto, a Floresta Estacional Decidual ou Mata Seca está
presente em, no mínimo, três biomas brasileiros. Assim, são encontradas em
diversos Estados do território nacional, estando associadas a diferentes regimes de
estacionalidade, em volume de precipitação e temperatura, topografia e
características físicas e químicas dos solos (SCARIOT & SEVILHA, 2005).
A Floresta Estacional Decidual caracteriza-se por apresentar um ritmo
estacional que se reflete pela queda de folhas durante o período seco (BELÉM,
2002). Essa fitofisionomia ocorre em áreas que se caracterizam por apresentar
“duas estações climáticas bem definidas, uma chuvosa seguida por outra com longo
período biologicamente seco, apresentando o estrato arbóreo predominantemente
caducifólio, com mais de 50% dos indivíduos desprovidos de folhagem na época
desfavorável” (IBGE, 1996, p.113). A UFLA-IEF (2006) considera como deciduais
43
aquelas florestas onde os indivíduos desprovidos de folhas, durante a estação seca,
representam mais de 70%( figura 1). Em seus estudos na bacia do Rio Paranã,
Goiás, Schariot & Sevilha (2005) constataram que o percentual de indivíduos
desprovidos de folhagem no período seco superou 90%. O fator determinante para a
ocorrência dessa formação vegetal possivelmente está ligado às condições edáficas
locais (GOODLAND e FERRI, 1979). Para Belém (2002), a ocorrência da Floresta
Estacional está vinculada à associação solo - de origem calcária - e clima tropical
semi-úmido ou semi-árido.
De acordo com Schariot & Sevilha (2005), a existência de tipos
diferenciados de Florestas Estacionais está condicionada às variações climáticas,
edáficas e topográficas. Brandão (2000) reconhece a existência de dois tipos
básicos de Florestas Decíduas: a Mata Seca dos Neossolos Litólicos com substrato
calcário ou ardósia e a Mata Seca de alto porte associada a Latossolos Vermelhos
eutróficos. A primeira formação apresenta porte mediano, com raríssimas epífitas e
poucas lianas.
A outra forma de Floresta Decidual, por outro lado, destaca-se pelo porte
bastante desenvolvido, pelos troncos grossos e pelas inúmeras trepadeiras
(BRANDÃO, 2000). Embora ocorram variações florísticas nas diferentes tipologias,
algumas espécies ocorrem na maioria das formações da Mata Seca, tais como
Anandenanthera macrocarpa (Angico), Cedrela fissilis (Cedro), Myracruodom
urundeuva (Aroeira), Apuleia molaris (Garapa), Cavanillesia arbórea (Embaré),
Ceiba ventricosa (Barriguda de espinho), Aspidosperma populifolium (Pereiro),
Bauhinia forticata (Mororó), Bursera leptophoeus (Imburana), Enterolobium
contortisiliquum (Tamboril) Sterculia striata (Chichá) (BRANDÃO &
GAVILANES,1994).
44
Figura 1 – A deciduidade da Floresta Estacional Decidual no Parque Estadual Mata Seca
45
Em Montes Claros, por exemplo, existe o predomínio de Cerrado típico
(sentido restrito). Nos morros e serras calcárias que margeiam esse Cerrado típico
observam-se as Florestas Decíduas de afloramentos. Muitas pessoas se referem a
essas fitofisionomias do calcário simplesmente como vegetação de transição. Essa
definição não é apropriada porque essas Florestas Decíduas também são
encontradas em áreas muito distantes da verdadeira área de transição (Norte de
Minas). Em Sete Lagoas e Cordisburgo (região central de Minas Gerais), por
exemplo, existem Florestas Decíduas sobre afloramentos que se assemelham em
muito com as Florestas Decíduas das serras calcárias de Montes Claros. Essa
questão da transição precisa ser repensada em todos os sentidos.
Dentro dessa discussão sobre a nomenclatura, a UFLA-IEF (2006) defende
a idéia de que no extremo Norte de Minas Gerais (bioma Caatinga), a Floresta
Estacional Decidual e a Caatinga Arbórea têm a mesma identidade. Assim, nessa
região, as Florestas Decíduas podem ser consideradas como Caatingas Arbóreas.
Esta idéia pode ser constatada no mapa da vegetação de Minas Gerais elaborado
pela parceria UFLA-IEF em 2006 (figura 2). O mesmo não pode ser dito para as
Florestas Decíduas que estão inseridas nos biomas Cerrado e Mata Atlântica, pois
nesses domínios são denominadas apenas como Matas Secas ou Florestas
Estacionais (UFLA-IEF, 2006). Lembrando que Brandão (2000) reconhece a Floresta
Estacional e a Caatinga Arbórea como duas fitofisionomias distintas no Norte de
Minas.
46
Figura 2 – Mapa da vegetação do Norte de Minas
47
Para Leal et al (2004), a Caatinga, enquanto bioma, pode ser definida como
um conjunto de formações que pode ser caracterizadas como florestas arbóreas ou
arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos, muitos dos
quais apresentam espinhos e algumas características xerofíticas. Compreende um
mosaico vegetacional bastante diversificado e formado por fisionomias muito
variadas. Assim, a Caatinga possui formações que variam de florestas altas e secas
com até 15-20 metros de altura; a Caatinga Arbórea típica de solos mais férteis (a
verdadeira caatinga dos índios Tupi); até afloramentos de rochas com arbustos
baixos esparsos e espalhados, com cactos e bromeliáceas nas fendas (LEAL et al,
2004). Depois de discutir a evolução dos termos usados para a definição das
diversas tipologias da Caatinga, Leal et al (2004) consideram a Caatinga como um
domínio formado por treze fitofisionomias distintas. Nessa classificação, o Norte de
Minas abrange manchas de Caatinga Arbórea Alta sustentada por um substrato
formado por rochas calcárias do grupo Bambuí ou rochas cristalinas do Pré-
cambriano (LEAL et al, 2004). Na concepção de Rizzini (1997), a caatinga também
apresenta um caráter heterogêneo:
48
Quanto à preservação, as Florestas Estacionais Deciduais se encontram
bastante ameaçadas pela expansão do carvoejamento e da agropecuária no Norte
do Estado de Minas Gerais. Essa ameaça, ao se inserir dentro de um embate
marcado por diversos interesses pelas áreas de Matas Secas, representa um dos
mais importantes desafios para o Parque Estadual Mata Seca e para as Florestas
Estacionais Deciduais encontradas em unidades de conservação ou não. Em função
do potencial madeireiro e dos ricos solos encontrados em grande parte das áreas
de Florestas Estacionais, essa ameaça se estende a todas as manchas de Matas
Secas do Estado e se encontram dentro de um complexo jogo de interesses que
envolvem poder público, ambientalistas, comunidades tradicionais, pecuaristas,
carvoeiros e grandes produtores rurais. Recentemente, a sociedade rural do Norte
de Minas com o apoio da bancada norte-mineira na Assembléia Legislativa
conseguiu revogar a Deliberação Normativa 72(DN 72)3 do IEF que permite a
alteração de apenas 20% da área total das propriedades rurais em que ocorrem
Mata Seca em fase primária. Em outras palavras, nas propriedades com Mata Seca
primária, o proprietário não poderia desmatar um percentual superior a 20%. De
acordo com essa deliberação, a supressão dos demais estágios sucessionais da
Mata Seca seria permitida em até 60%.
A DN 72 foi criada com o objetivo de proteger os últimos remanescentes de
Florestas Decíduas no Estado e a sua consolidação iria favorecer a criação de
novas unidades de conservação em área de Matas Secas em Minas Gerais. Os
ruralistas argumentam que a DN 72 poderia colocar 40 mil empregos em risco
(ALENCAR, 2006,2007; BRASIL,2005). No entanto, não aconteceu algum
esclarecimento sobre o tipo de emprego que está sendo colocado em questão, o
que pode favorecer o surgimento de dúvidas sobre a legalidade das atividades que
estão sendo defendidas. De acordo com a AMDA (2005, P.9), “não existem estudos
técnicos que apontem ser a substituição da floresta por atividades econômicas, mais
vantajosa para a sociedade, do que serviços ambientais por ela gerados”.
Após a revogação da DN 72, foi iniciado um novo debate voltado para a
determinação dos novos mecanismos legais para as matas secas. Recentemente, o
Governador do Estado negociou com os ruralistas e determinou que a reserva legal
das áreas de Matas Secas seja fixada em apenas 30% e o desmate em 70%
3
Art. 2º Parágrafo único da Deliberação Normativa número 72
49
(ALENCAR,2007). No entanto, essa nova determinação precisa ser transformada
em lei e isso depende de uma aprovação na Assembléia Legislativa. Toda essa
situação mostra o quanto determinados grupos econômicos são organizados e fortes
na luta pela defesa de seus interesses no Norte de Minas. Ao mesmo tempo, mostra
a fragilidade da sociedade civil – instituição formada por cidadãos que deveriam se
unir em prol da defesa dos interesses da maioria. Mas infelizmente, a realidade é
essa e esses empresários e pecuaristas não têm encontrado muitas dificuldades
para fazer valer suas vontades, uma vez que apenas uma ONG da região (CAA -
Centro de Agricultura Alternativa) e alguns membros do Copam-Norte se mostraram
totalmente contra as mudanças na Deliberação 72. A maioria dos deputados
representantes do Norte de Minas apoiou a decisão do governador devido à pressão
que os ruralistas exerceram sobre eles. Mas se a sociedade civil tivesse feito o
mesmo que os ruralistas, o resultado da decisão do executivo poderia ter sido
diferente.
Em relação às pesquisas específicas sobre as Matas Secas, Schariot &
Sevilha(2005) constataram que faltam estudos detalhados sobre a distribuição e a
caracterização dos fatores abióticos determinantes da ocorrência de Florestas
Estacionais Deciduais no Brasil. Para a Biodiversitas (2005), as Florestas
Estacionais Deciduais de Minas Gerais são pouco conhecidas, enquanto que as
pressões antrópicas através do carvoejamento, reflorestamento e expansão
agropecuária devastaram imensas áreas de vegetação nativa. Portanto, essa falta
de conhecimento sobre as Matas Secas favorece os mecanismos depredadores e
a perda da biodiversidade. Conforme a tabela 3, devido a esses processos, há treze
espécies vegetais ameaçadas segundo a lista do COMPAM/MG encontradas em
Florestas Estacionais Deciduais de Minas Gerais.
50
Tabela 3 – Espécies da Floresta Estacional Decidual ameaçadas de extinção em Minas Gerais
Espécie Nome popular Grau de ameaça Critério
População em declínio,
Destruição do habitat,coleta
Myracruodon rundeuva Aroeira Vulnerável
predatória e presença na
lista do Ibama
População em declínio,
Astronium fraxinifollium Gonçalo Vulnerável Destruição do habitat e
coleta predatória
População em declínio,
Bumelia sartorum Quixabeira Vulnerável Destruição do habitat, coleta
predatória e lista do Ibama
População em declínio,
Lychnophora evicoides Candeia Vulnerável Destruição do habitat e
coleta predatória
Lista do Ibama, população
em declínio, coleta
Shinopsis brasiliensis Braúna Em perigo
predatória e destruição do
habitat
Destruição do habitat,
Annona spinescens Araticum de espinho Vulnerável população em declínio e
distribuição restrita.
Destruição do habitat,
Bougainvillea fasciculata Bouganvile Vulnerável população em declínio e
distribuição restrita.
Destruição do habitat,
51
comprova a riqueza da biodiversidade das Florestas Decíduas do extremo Norte de
Minas Gerais.
A Fundação Biodiversitas, que participou do trabalho realizado pelo
Ministério do Meio Ambiente, também realizou um levantamento das áreas
prioritárias para a conservação em Minas Gerais e identificou 86 áreas prioritárias
para a conservação da biodiversidade. Como pode ser observado na figura 3 as
Florestas Estacionais Norte-Mineiras da margem esquerda do Rio São Francisco
(que inclui a área do Parque Estadual Mata Seca) foram consideradas como áreas
de importância biológica extrema, o que reflete a notória relevância desses
ecossistemas.
O Estado de Minas Gerais possui 50 unidades de conservação de proteção
integral (federais e estaduais). Desse total, 10 unidades de conservação abrangem
áreas de Florestas Estacionais Deciduais. Essas unidades somam 194.160
hectares de áreas protegidas. No entanto, como se pode observar na tabela 4,
esses números não referem-se apenas às Florestas Decíduas, mas também a
outras fitofisionomias, o que fortalece a necessidade de criação de novas unidades
de conservação nas áreas de Matas Secas. Ainda em relação a esse levantamento,
essas Matas Secas carecem de investigação científica e uma maior proteção
através da criação de novas unidades de conservação e a implementação das já
existentes (BIODIVERSITAS, 2003).
52
Figura 3 – Mapa das áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade em Minas Gerais
53
Percebe-se que a preocupação com a preservação das Matas Secas
aumentou recentemente, haja vista que grande parte das áreas protegidas
apresentadas na tabela anterior foram criadas nos últimos dez anos. No entanto, é
necessário aumentar a fiscalização e apressar a implementação das unidades de
conservação já existentes.
Tabela 4 – Unidades de Conservação de proteção integral em áreas de Floresta Estacional Decidual em Minas Gerais
Parque Reserv Refugio
Parque Parque Reserv
Parque Parque Parque Parque Naciona a da Vida
Estadual Estadua a
Estadual Estadual Estadual Estadual l biológic Silvestr
Nome do l da biológic
Lagoa do Verde da Mata Caminhos Caverna a do e
Sumidour Lapa a Serra
Cajueiro Grande Seca dos Gerais s do Jaíba Pandeir
o Grande Azul
Peruaçu os
Área
20.500 25.570 10.281 53.264 1.300 7.000 56.648 7.285 6.210 6.102
(Hectare)
Espinosa, Januária
Matias
Matias Matias Monte Azul, Lagoa Montes e Januári
Municípios Manga Jaíba Cardos
Cardoso Cardoso Gameleira e Santa Claros Itacara a
o
Mamonas mbi
Floresta Floresta
Floresta Floresta Floresta
Floresta Floresta estacion Floresta estacio
estacion estacional estacio
Floresta estacional Floresta estacio al estacio nal
al decidual, nal
estaciona decidual,Cerr escional nal decidual nal decidua
decidual, Caatinga decidua
Fitofisiono l decidual ado Sensu decidual e decidua , decidua l,
caatinga arbórea, le
-mias e stricto, Cerrado le Cerrado le cerrado
arborea Floresta Caating
Caatinga Floresta Sensu Cerrado Sensu caating Sensu
e semi- a
árbórea semi-decídua Stricto Sensu Stricto, a Stricto e
caatinga decídua(al arbórea
(aluvial) Stricto ecótono arborea ecótono
arbustiva uvial) .
s. s
Fonte: www.ief-mg.org.br
54
as queimadas e a existência de espécies ameaçadas de extinção fortalecem a
importância da preservação dessas formações vegetais. Nesse contexto, o Parque
Estadual Mata Seca representa uma das mais importantes áreas com manchas de
Florestas Decíduas do Estado e a sua implementação vai significar um grande
exemplo a ser seguido para assegurar a preservação das Matas Secas de Minas
Gerais e do Brasil.
Cerrado Mata
Campo Campo Mata Floresta
Nome Campo Senso Cerradão Vereda Semi-
Rupestre Cerrado Seca Ombrófila
Stricto Decídua
3.872.31 2.040.92
Área (Hectare) 617.234 1.501.475 5.560.615 355.011 406.887 5.222.583 224.503
8 0
Percentual no
6,58 1,04 2,55 9,45 0,60 0,69 3,46 8,87 0,38
estado
Fonte: Mapeamento e inventário da flora nativa e dos reflorestamentos de Minas Gerais – UFLA/IEF(2006)
56
3. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
57
Figura 4 – Localização do Parque Estadual Mata Seca
58
3.1 Processo de ocupação e uso do solo do Norte de Minas Gerais
59
como Januária, Pirapora, São Romão e Manga constituíram as áreas de maior
dinamismo no comércio regional.
No final do século XIX, as cidades ribeirinhas entram em decadência e
Montes Claros ganha importância, tornando-se o principal núcleo urbano do Norte
de Minas (LEITE & PEREIRA, 2004). Os estudos de Leite & Pereira (2004)
constataram que até meados da década de 1970 a economia do Norte de Minas era
totalmente baseada na agricultura, no comércio e principalmente na pecuária. A
maioria das cidades destacava-se como centros produtores de gado de corte. No
entanto, a partir das ações da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –
SUDENE na região, algumas cidades, com destaque para Montes Claros, passam
por um surto de industrialização que desencadeia profundas transformações em
sua estrutura social e econômica.
Para Almeida (1999), o Norte de Minas, em relação a outras regiões do
Estado, tem se mantido desde a época da colonização como uma região vazia
econômica e demograficamente. Assim, em função do agravamento dos
desequilíbrios regionais e o acelerado desenvolvimento de regiões como o Sul e o
Triângulo Mineiro, houve uma maior mobilização de diferentes grupos sociais e
políticos em busca de uma solução para os problemas da porção Norte do Estado.
A SUDENE, criada em 1959, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais
no país, implantou dois distritos industriais na Região: o de Pirapora e o de Montes
Claros.
Na mesma perspectiva de busca pela superação dos desequilíbrios regionais,
o Estado inicia o processo de ocupação das Matas Secas da região de Jaíba, até
então composta por terras devolutas. Assim, através de um processo que tinha
como objetivo a reorganização da agricultura do Vale do São Francisco, foi criada
em 1975 a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco –
CODEVASF que através de projetos de irrigação promoveu uma grande
transformação nas forças produtivas e nas relações de produção do semi-árido
norte-mineiro (ALMEIDA, 1999).
Abrangendo os municípios de Jaíba e Matias Cardoso, o Projeto Jaíba foi
implantado no final dos anos 70 e destaca-se como o maior empreendimento
voltado para o desenvolvimento agroindustrial da região. Trata-se de um projeto que
desencadeou um expressivo avanço no agronegócio do Norte de Minas, uma vez
60
que promoveu o início de uma grande corrida pela agricultura irrigada que se
refletiu na proliferação de pivôs centrais ao longo das margens do Rio São
Francisco, Verde Grande e Gorutuba. No entanto, esses empreendimentos não
apresentaram nenhuma preocupação com o meio ambiente, o que resultou em
grandes impactos ambientais na região como um todo (FIRMINO,1996). Assim, a
escalada de desmatamento na região do Projeto Jaíba se estendeu até a margem
esquerda do São Francisco, fazendo com que grandes áreas de Florestas Decíduas
também fossem destruídas nos municípios de Januária, Itacarambi, Manga e
Montalvânia. A vegetação do Parque Estadual Mata Seca representa um dos
últimos remanescentes das imensas áreas de Florestas Decíduas que cobriam a
região.
Apesar de todos esses esforços, o Norte de Minas Gerais continua
apresentando sérios problemas econômicos e sociais, uma vez que a região
destaca-se ao lado do Vale do Jequitinhonha como uma das áreas mais pobres do
Estado. Em seus estudos que resultaram na produção do Atlas da Exclusão Social
do Brasil, Pochmann & Amorim (2003) constataram que grande parte dos
municípios da região apresenta péssimos indicadores sociais e estão entre os mais
carentes de Minas Gerais. Para Fontes & Fontes (2005), o Estado de Minas Gerais
apresenta um importante papel na economia e política nacional. No entanto,
apresenta uma economia dual com regiões alcançando alto desenvolvimento,
enquanto que, em outras, predominam o atraso econômico e a penúria.
61
bastante diversificado e integrado constituindo, assim, uma grande variedade de
geobiocenoses ou ecossistemas.
3.2.1 Geologia
62
Figura 5 – Mapa geológico da região do Parque Estadual Mata Seca
63
3.2.2 Geomorfologia
3.2.3 Pedologia
3.2.4 Clima
3.2.5 Vegetação
4
Informe repassado por José Luís (técnico do IEF) em um trabalho de campo realizado em março de
2006.
67
em Neossolos Flúvicos eutróficos de textura argilosa, o que leva essas áreas a
serem desmatadas para a prática da agricultura de vazante. Entretanto, Matas
Ciliares possuem Estatuto de Área de Proteção de Permanente (APPs) e de acordo
com a legislação ambiental não devem ser desmatadas. No Parque Estadual Mata
Seca existem importantes manchas de Florestas Perenifólias encontradas nas
margens do Rio São Francisco e no entorno das Lagoas Marginais.
Outra fitofisionomia de destaque na área do Parque é a Caatinga Arbórea
Aberta sobre afloramento calcário em forma de lajeamento. Essa fitofisionomia
localiza-se geralmente em depressões alagáveis por ocasião das chuvas e recebe
localmente o nome de “Furados” (BRANDÃO et al, 1998). Os “Furados” estão sendo
considerados como um novo ecossistema. Para Brandão et al.(1998), os “Furados”
são de grande importância para a dinâmica ecológica local e regional pois trata-se
de um ecossistema que possui diversos frutos que complementam a dieta dos
animais locais, sobretudo, da avifauna, que ali também constrói os seus ninhos. O
estrato arbóreo da Caatinga Arbórea Aberta sobre afloramento calcário possui
agrupamentos arbóreos esparsos. Conforme a figura 6 no período de chuvas o
“Furado” apresenta também um tapete herbáceo denso e entrecortado por grandes
afloramentos de calcário e manchas de cactáceas com a presença de espécies
como Cereus jamacaru (mandacaru), Melocactus sp.(coroa-de-frade), Opuntia sp.
(palma), Pilocereus sp.(Xique-Xique), entre outras (BRANDÃO et al. 1998;
BRANDÃO & NAIME,1998).
68
Figura 6 – O tapete herbáceo do “Furado” no período de chuvas
69
Estacional ocorre nos afloramentos calcários do Morro da Lavagem, localizado a
Nordeste da área de estudo.
A região também possui áreas de Florestas Decíduas Alteradas e em
diferentes estágios sucessionais, além dos Carrascais ou Carrascos. O Carrasco é
uma vegetação típica de áreas degradadas do semi-árido do Norte de Minas e é
composta por espécies pioneiras de baixo porte, nunca maiores que 1,5 a 2 m de
altura (CODEVASF,1997).
3.2.6 Hidrografia
70
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
71
4.1.1 Atividades preliminares
Os trabalhos preliminares foram iniciados com a escolha da área de estudo e
com os primeiros trabalhos de campo voltados para reconhecimento do Parque
Estadual Mata Seca. Os trabalhos de campo foram realizados com o objetivo de
identificar os principais biótopos da área de estudo em períodos distintos: no período
de chuvas e no período de estiagem.
Essa etapa teve como objetivo fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema
proposto, visando adquirir a base conceitual necessária ao trabalho. Na revisão
bibliográfica, buscou-se fazer algumas leituras visando obter um maior
embasamento teórico sobre o tema a ser abordado no trabalho. O material
consultado constou de livros, artigos científicos, monografias, teses, dissertações,
jornais e mapas.
72
4.1.3 Elaboração do mapa preliminar
5
O mapa se encontra na forma de encarte de modo que ele possa ser manuseado ao longo da
leitura do capítulo 5.
73
4.1.5 Caracterização dos biótopos
74
A medição das árvores foi feita através de um método divulgado pelo
Programa Internet na Escola, do Ministério da Educação de Portugal6.Trata-se de
um método simples baseado na sobreposição de uma régua sobre uma árvore.
Nesse processo é necessário que uma pessoa, com uma régua na mão, estique o
braço em direção à árvore que deve ser medida. O medidor deve apontar a régua
em direção à árvore de modo que ele veja a régua e a árvore sobrepostos e do
mesmo tamanho. Uma outra pessoa deve encostar no tronco da árvore. Em
seguida, quem estiver com a régua na mão deve rodá-la com firmeza, nunca
deslocando a base da régua da base do tronco, até que a régua fique na horizontal.
Posteriormente, quem está encostado na árvore deve andar para o lado até chegar
ao ponto que coincide com a ponta da régua. Quando isso acontecer a pessoa pára
de andar e marca a sua posição no chão. A seguir mede-se a distância desde o
tronco até o local marcado no chão. A medida encontrada é a altura da árvore. Ao
obter a altura de uma árvore pode-se determinar a altura das outras por
aproximação.
6
http://www.uarte.mct.pt/activ/dia-arvore/dicas.asp
75
Tabela 6 - Planilha para mapeamento de biótopos
PLANILHA PARA MAPEAMENTO DE BIÓTOPOS
Tipo de biótopo: Código: Folha:
Unidade Espacial Área (m²): Área Livre (%): Área Construída (%):
(1, 2, 3, 4,5,6)
Deciduidade Potencial para a Presença de
Presença de Líquens Ruderais
Presença de Epífitas Presença de Lianas Presença de
Clareiras
Árvores Mortas Em pé Caídas
ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO
ESTRUTURA DO SOLO
Grau de Permeabilidade Tipos de Superfície sem
Drenagem Erosão
vegetação
Alto Pobre Não Visível Pedras
Médio Moderada Erosivo Solo Exposto
Baixo Boa Muito Erosivo Serrapilheira
Observações sobre a superfície: Estruturas Especiais: Água
Asfalto
Calçamento
IMPACTOS AMBIENTAIS / USOS E MANEJOS
FUNÇÃO ECOLÓGICA
Reservatórios de Água
Espécies Frutíferas Bromélias
Temporários
Berçário de Espécies Rios / Lagoas Grau de Conservação
* A= Abundante (> 50%) C= Comum (10 a 50%) O= Ocasional (5 a 10%) MB= Muito Baixo B=Baixo
R= Rara (< 5%) AU= Ausente TF= Total Final Al= Alto MA= Muito Alto
FONTE: Adaptada de BEDÊ et al (1997) e NEVES (2002)
76
4.1.6 Elaboração das tabela-síntese com os dados das planilhas
De acordo com Bedê et al (1997) quase sempre são desejadas várias funções
para uma mesma área de estudos, o que faz com que os objetivos do trabalho
sejam bem claros de modo a direcionar o processo de avaliação a ser executado.
Assim, para se atingir os objetivos propostos deve-se pensar em critérios e
indicadores adequados, visando atingir uma avaliação capaz de subsidiar a escolha
das funções certas para os biótopos encontrados na área de estudo. Os critérios
correspondem ao aspecto central da caracterização dos biótopos que deve ser feita
a partir da análise dos indicadores ou parâmetros usados para analisar os critérios
nos biótopos. Nesse contexto, a caracterização levou em conta seis critérios. Sendo
que cada critério contou com dois indicadores:
a) Estado de conservação - Indicadores: interferências antrópicas e edificações.
b)Riqueza de espécies – Indicadores: espécies predominantes e estruturas
especiais.
c)Diversidade de ambientes – Indicadores: número de estratos e potencial para
ampliação do número de habitats no período chuvoso.
d)Função ecológica – Indicadores: características superficiais e estágios
sucessionais.
e)Atividade acadêmica – Indicadores: potencial para pesquisas e registro de
projetos.
f)Potencial para a educação ambiental – Indicadores: beleza cênica e processos
ambientais observáveis.
77
4.1.7.1 Definição da escala de valores para cada indicador
4.1.8.1Estado de conservação
78
Tabela – 7 Valores dos indicadores usados na caracterização do critério estado de
conservação
79
Tabela 8 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério riqueza de
espécies
80
Tabela 9 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério diversidade
de ambientes
81
Tabela 10 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério função
ecológica
82
Tabela 11 - Valores dos indicadores usados na caracterização do critério atividade
acadêmica
83
Tabela 12 - Valores dos indicadores usados na caracterização para educação
ambiental
Processos ambientais naturais Valores
observáveis/Belezacênica
X < 10%/ x< 10% 1
X = 10%ou x < 20%/x=10% ou x < 20% 2
X = 20% ou x < 50%/x=20% ou x < 50% 3
X > 50%/x > 50% 4
84
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
85
Figura 7 – Mapa de biótopos do Parque Estadual Mata Seca
86
A Caatinga Arbórea Aberta possui grande parte de sua extensão marcada pela
existência de afloramentos de calcários. A presença de árvores é mais freqüente
nas bordas dos afloramentos que se destacam por apresentarem um grande
número de espécies da família das cactáceas se desenvolvendo entre suas fendas.
Trata-se de um biótopo que vai merecer uma atenção muito especial na elaboração
do Plano de Manejo por tratar-se de um ecossistema que desempenha uma função
ecológica muito importante na região.
A Floresta Estacional de Afloramentos Calcários foi a tipologia florestal de
menor extensão no Parque Estadual Mata Seca. Mesmo não sendo uma mancha de
floresta nativa, essa tipologia também requer uma atenção especial por se encontrar
sobre um maciço calcário com relevo cárstico ainda desconhecido.
Também foram identificadas e mapeadas quatro Lagoas Marginais com
elevado grau de conservação e com grande parte de suas Matas Ciliares
preservadas. Essas lagoas marginais são biótopos que vão merecer uma atenção
muito especial no plano de manejo do Parque por exercerem um papel fundamental
na manutenção da biota do Rio São Francisco.
O Pivô Abandonado e o Pivô Cultivado estão entre as áreas que deverão ser
selecionadas para receber práticas voltadas para recomposição da vegetação
natural por tratarem-se de biótopos que destoam negativamente no cenário
ambiental do Parque.
Ao longo da década de 70 e após a implantação do Projeto Jaíba a região do
Parque Estadual Mata Seca sofreu os efeitos da expansão da agricultura irrigada no
Norte de Minas. Mesmo diante da pressão exercida pela constante busca pelo
aproveitamento dos solos férteis da região, a área onde hoje se encontra o Parque
Estadual Mata Seca teve grande parte dos maciços florestais estacionais
preservados até a publicação do decreto que criou essa unidade de conservação no
ano 2000.
A presença dessas Florestas Estacionais e as demais fitofisionomias
identificadas no mapeamento de biótopos mostram que ali há áreas de grande
interesse ambiental que precisam ser preservadas. Por outro lado, este trabalho
também evidencia a existência de biótopos em processo de regeneração ou com
altos índices de impactos antrópicos o que revela a importância do zoneamento
ambiental da área.
87
5.1.1 Biótopo 1- Florestas Alteradas
89
Tabela 14 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
lianas Ausentes
Número de pesquisas 4
Número de estratos 3
90
Tabela 15 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.2
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 4
Número de estratos 4
91
Tabela 16– Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.3
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 4
Número de estratos 4
92
Tabela 17 – Síntese com os dados coletados no biótopo 1 – florestas Alteradas 1.4
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ocasional
Número de pesquisas 4
Número de estratos 4
93
Figura 8 – Localização e aspecto geral do biótopo 1
94
95
5.1.2 Biótopo 2 – Floresta Estacional Decidual de alto porte
96
que intransponíveis devido à presença marcante de exemplares de Unha de Gato
(Acacia sp)que formam um emaranhado de galhos delgados repletos de espinhos.
O estrato arbóreo é marcado pela predominância de árvores entre 10 e 26
metros, sendo que o estrato acima de 20 metros caracteriza-se pela presença de
indivíduos muito desenvolvidos da espécie Cavanillesia Arborea (Embaré) que
alcançam cerca de 25 metros de altura e cerca de 5 metros de diâmetro (a 1,5
metros acima do solo). A presença dessa espécie associada ao conjunto da área
arbórea faz com que a beleza cênica se destaque no contexto regional aumentando
a importância do biótopo.
No ponto 2.2 não foi observada a presença de Embaré. No estrato arbóreo
acima de seis metros, notou-se a presença de cactáceas de grande porte
entremeando as árvores. Foi observado um facheiro (Cereus sp) com cerca de 10
metros de altura.
O biótopo não apresenta impactos ambientais significativos, nota-se apenas
proximidade com as estradas e a presença de pequenas trilhas que recentemente
vêm sendo usadas para atividades de pesquisas.
97
Tabela 18 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – Floresta Decidual alto
porte 2.1
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Comuns
Número de pesquisas 5
Número de estratos 6
98
Tabela 19 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – Floresta Decidual alto
porte 2.2
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Comuns
Número de pesquisas 5
Número de estratos 6
99
Tabela 20 – Síntese com os dados coletados no biótopo 2 – floresta Decidual alto
porte 2.3
TENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Comuns
Número de pesquisas 5
Número de estratos 6
100
Figura 10 – Localização e aspecto geral do biótopo 2
101
102
5.1.3 Biótopo 3- Floresta Estacional de Afloramentos Calcários
104
Tabela 21 – Síntese com os dados coletados no biótopo 3 – floresta Decidual de
Afloramentos calcários
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 1
Número de estratos 4
105
Figura 12 – Localização e aspecto geral do biótopo 3
106
107
5.1.4 Biótopo 4 – Floresta Tropical Perenifólia – Mata Ciliar
108
Tabela 22 – Síntese com os dados coletados no biótopo 4 – Floresta
Perenifólia/Mata Ciliar
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Comum
Número de pesquisas 1
Número de estratos 4
109
Figura 14 – Localização e aspecto geral do biótopo 4
110
111
5.1.5 Biótopo 5 – Caatinga Arbórea Aberta – Furado
113
Tabela 23 – Síntese com os dados coletados no biótopo 5 – Caatinga Arbórea
Aberta – Furado
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 1
Número de estratos 3
114
Figura 16 – Localização e aspecto geral do biótopo 5
115
116
5.1.6 Biótopo 6 – Lagoas Marginais
118
Tabela 24 – Síntese com os dados coletados no biótopo 6 – Lagoas Marginais
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 2
Número de estratos 1
119
Figura 18 – Localização e aspecto geral do biótopo 6
120
5.1.7 Biótopo 7 – Pivô Central Abandonado
121
Tabela 25 – Síntese com os dados coletados no biótopo 7 – Pivô Abandonado
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 1
Número de estratos 1
122
Figura 19 – Localização e aspecto geral do biótopo 7
123
124
5.1.8 Biótopo 8 – Pivô Cultivado
125
Tabela 26 – Síntese com os dados coletados no biótopo 8 – Pivô Cultivado
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 1
Número de estratos 1
126
Figura 21 – Localização e aspecto geral do biótopo 8
127
128
5.1.9 Biótopo 9 – Sede
129
Tabela 27 – Síntese com os dados coletados no biótopo 9 – Sede
ITENS CARACTERÍSTICAS
Epífitas Ausentes
Lianas Ausentes
Número de pesquisas 1
Número de estratos 1
130
Figura 23 – Localização e aspecto geral do biótopo 9
131
132
5.2 Avaliação da qualidade ambiental dos biótopos
133
Tabela 28 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério estado de
conservação dos biótopos
06 - LagoasMarginais 4 4 4,0
09 - Sede 3 1 2,0
134
5.2.2 Diversidade de ambientes
135
Tabela 29 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério diversidade
de ambientes dos biótopos
06 –LagoasMarginais 1 1 1,0
09 - Sede 1 1 1,0
136
5.2.3 Função ecológica
A avaliação da função ecológica foi baseada nos estágios de sucessão
ecológica e nos tipos de cobertura das superfícies dos biótopos. De acordo com
Dajoz(1983), a sucessão ecológica define-se como um processo no qual as
comunidades se substituem em uma seqüência ordenada e gradual. Nesse
contexto, a sucessão ecológica divide-se em três fases: a inicial, a intermediária e o
clímax. A fase inicial conta com as espécies pioneiras que povoaram o solo
exposto. A fase intermediária conta com arbustos e árvores de pequeno porte e
médio porte. Na fase comunidade clímax, a vegetação se encontra em equilíbrio
com o meio ( DAJOZ,1983). Uma comunidade clímax ou uma comunidade vegetal
cuja sucessão se encontra avançada apresentam uma importante função
ecológica, pois constituem locais que fornecem os elementos necessários para
sucessão de outras áreas.
O tipo de cobertura do solo possui uma função ecológica importante porque a
estabilidade da superfície vai depender da existência de fatores que favoreçam o
equilíbrio na interação solo/atmosfera/biota. Nesse sentido, a presença de
vegetação reduz o escoamento superficial e favorece a infiltração da água no solo. A
serrapilheira incorpora nutrientes ao solo favorecendo o desenvolvimento da
vegetação. Os solos expostos, por outro lado, são desprotegidos e mais
susceptíveis à erosão.
O Parque Estadual Mata Seca possui uma expressiva área com vegetal
natural altamente preservada e com uma serrapilheira bastante desenvolvida.
Também apresenta áreas com comunidades vegetais intermediárias e com
cobertura superficial de serrapilheira considerável. Por outro lado, o Parque não
apresenta superfícies impermeabilizadas ou com solo exposto e degradado. Nesse
contexto, os biótopos 2, 3, 4, 5 e 6 apresentaram a valoração mais elevada por
conterem serrapilheiras desenvolvidas e por serem bastante preservados. O biótopo
1, Florestas Alteradas, apresentou uma valoração intermediária devido ao estado de
conservação da vegetação e a presença de serrapilheira. Os biótopos 7,8 e 9 se
destacaram por apresentar os menores valores, uma vez que estão muito
antropizados e não possuem vegetação natural original.
137
Tabela 30 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério função
ecológica dos biótopos
06 - LagoasMarginais 4 1 2,5
09 - Sede 1 1 1,0
138
5.2.4 Riqueza de espécies
139
Tabela 31 – Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério riqueza de
espécies dos biótopos
06 –LagoasMarginais 4 1 2,5
09 - Sede 1 1 1,0
140
5.2.5 Potencial para a educação ambiental
141
Tabela 32– Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério potencial
para a educação ambiental dos biótopos
06 - LagoasMarginais 4 4 4,0
09 - Sede 1 1 1,0
142
5.2.6 Atividade acadêmica
143
Brasil como um todo precisam de estudos que possam ajudar a garantir a
preservação da sua rica biodiversidade.
144
Tabela 33 - Valoração dos indicadores e médias parciais para o critério atividade
acadêmica nos biótopos
06 - LagoasMarginais 4 2 3,0
09 - Sede 1 1 1,0
145
5.3 Classificação dos biótopos em zonas e os desafios do Parque Estadual
Mata Seca
146
Tabela 34 – relação entre as zonas e os intervalos de classes
ZONAS INTERVALOS CORES
147
Figura 25 – Zoneamento ambiental do Parque Estadual Mata Seca
148
Tabela 35 – Classificação dos biótopos em zonas
Biótopos Média aritmética Zona
149
Nesse caso, é necessário pensar na possibilidade de se implantar alternativas
que possam conciliar a preservação e a geração de renda através mecanismos
sustentáveis que possam contribuir para a emancipação social e econômica da
região. No capítulo referente aos desafios serão apresentadas algumas sugestões
que podem auxiliar no sentido garantir o manejo sustentável nessa unidade de
conservação. O turismo ecocultural, por exemplo, surge como uma alternativa viável
que pode ser empregada para atender aos anseios dessa perspectiva.
150
contrário, deve-se ressaltar que a Zona de Recuperação merece um tratamento
muito especial por abranger os biótopos que refletem as maiores alterações e
impactos sofridos pela cobertura vegetal original da área. Formada pela Sede da
fazenda, pelo Pivô Abandonado e pelo Pivô Central Cultivado, a Zona de
Recuperação cobre apenas 1,80% do Parque e, com certeza, vai exigir muito
trabalho do órgão gestor da unidade de conservação por tratar-se de uma área
extremamente alterada e que perdeu todas as características originais.
Por outro lado, sabe-se que todas as medidas a serem implantadas no
Parque dependem obviamente do processo de regularização fundiária e da
elaboração do plano de manejo. Mas recomenda-se que o processo de recuperação
das áreas degradadas do Parque Estadual Mata Seca já deve começar a ser
pensado. Nesse sentido, é necessário fortalecer as parcerias entre o Instituto
Estadual de Florestas (IEF) e instituições de ensino e pesquisa como a
Universidade Federal de Lavras (UFLA), a Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) e a Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG), uma vez que os
projetos de recuperação dos biótopos possam surgir desses convênios. Nesse
contexto, as instituições acima citadas podem ampliar os projetos já existentes na
área e criar outros que podem vincular bolsas de iniciação científica, dissertações e
teses ao processo de regeneração das áreas alteradas do Parque .
Para Neves (2002), nas áreas que serão necessárias à construção ou à
manutenção de edificações deve-se evitar a homogeneização do ambiente
limítrofe plantando diversas espécies herbáceas e arbustivas da flora local.
Nesse caso o biótopo representado pela Sede é o espaço que abrigará o maior
número de alterações voltadas para implantação de infra-estrutura necessária à
gestão do Parque, por isso é necessário que essa preocupação seja considerada
nessa área. Também deve-se ter a preocupação de não impermeabilizar as vias de
acesso e o fluxo de veículos deve ser limitado.
A implantação da Zona de Amortecimento surgiu da necessidade de se
apresentar uma ação mitigadora dos impactos advindos das áreas adjacentes. Essa
zona se justifica pela necessidade da unidade de conservação possuir uma área de
entorno que possa receber um monitoramento destinado à redução dos efeitos
negativos que as áreas externas exercem sobre a vegetação. Existem áreas em
que o limite do Parque com as áreas externas formam uma realidade ambiental
151
marcada por mudança muito abrupta. Nessas áreas esses efeitos negativos são
muito visíveis, sobretudo, o efeito de borda que proporciona o desenvolvimento de
espécies exóticas e o empobrecimento da flora original. Essa Zona de
Amortecimento deve ser monitorada constantemente visando a redução dos
impactos causados pelo efeito de borda. Aconselha-se que as bordas Sul e Sudeste
sejam constantemente vistoriadas para a retirada de espécies invasoras oriundas
das pastagens.
A questão do isolamento constitui uma ameaça ao equilíbrio da dinâmica
populacional das geobiocenoses existentes no Parque. Nesse sentido, faz-se
necessária a implantação de corredores ecológicos que promovam a conexão entre
a unidade de conservação e outras formações vegetais próximas ao entorno. O
problema é que o Parque se encontra quase que totalmente cercado por pastagens
e áreas de cultivo. Na borda Norte/Noroeste o Parque faz limite com áreas de
Florestas Decíduas secundárias. O maciço vegetacional bem preservado mais
próximo se encontra no Parque Estadual da Lagoa do Cajueiro, separado do Parque
Estadual Mata Seca pelo Rio São Francisco, a Leste. Nas bordas Sudeste, Sul e
Oeste existem extensas áreas de pastagens e cultivos agrícolas.
Por isso, recomenda-se o início de uma discussão acerca da possibilidade de
se implantar corredores ecológicos a partir da recuperação de áreas degradadas no
entorno. Sabe-se das dificuldades demandadas por um empreendimento dessa
natureza; deve-se pelo menos iniciar um debate sobre o assunto tendo em vista a
importância dos corredores ecológicos para o aumento da capacidade de suporte do
Parque . Caso essa idéia seja levada adiante, nota-se que a borda Sul/Sudoeste do
Parque será a área mais apropriada para uma conexão com outras formações
vegetais, uma vez que o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Reserva
Indígena Xacriabá se encontram nessa direção.
152
5.3.1 Os principais desafios do Parque Estadual Mata Seca
156
Dessa maneira propõe-se a criação de um pólo de turismo sertanejo voltado
para as comunidades rurais da região e para os aspectos de beleza cênica da
Caatinga Arbórea Aberta presente no Parque, pois trata-se de uma oportunidade
ímpar de se aproveitar o total desconhecimento da “minas sertaneja” que existe no
Estado e que possui inúmeros atrativos a serem aproveitados pelo turismo.
O isolamento do Parque Estadual Mata Seca é outro grande desafio a ser
enfrentado para assegurar a eficiência da gestão integrada do Projeto Mosaico. Na
verdade, deve-se ressaltar que o isolamento representa uma grande ameaça para a
preservação da biodiversidade dessa unidade de conservação, pois sabe-se que a
manutenção do equilíbrio das populações de remanescentes vegetacionais depende
da conexão com outras áreas que apresentam características florísticas
semelhantes. Para Araújo (2000), quanto mais isolado for o fragmento florestal,
menor será a possibilidade de conservação da biodiversidade.
Por isso, recomenda-se que sejam construídos os corredores ecológicos,
conectando o Parque às demais unidades de conservação do Projeto Mosaico.
Como o Parque se encontra quase que totalmente cercado por áreas de pastagens,
cultivos agrícolas e florestas alteradas a única alternativa a ser seguida para
resolver essa questão encontra-se na aquisição de terras para serem recuperadas e
transformadas em corredores ecológicos. Embora seja muito difícil tomar essa
decisão, as áreas recomendadas encontram-se nas bordas Sul e Sudoeste do
Parque e devem- se ligar à Reserva Indígena Xacriabá e ao Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu.
O isolamento também está relacionado ao problema do “efeito de borda. O
“efeito de borda” é o resultado da transição abrupta entre um ecossistema e os
ambientes ao seu redor. De acordo com Paciência & Prado (2004), essa transição
abrupta é capaz de proporcionar uma maior exposição aos ventos, aumento da
temperatura do ar e do solo e a diminuição da umidade da atmosfera local
provocando uma série de modificações bióticas que incluem, por exemplo,
proliferação de espécies adaptadas às novas condições ambientais.
O problema das condições precárias em que encontram as estradas de
acesso ao Parque representa um outro grande desafio não só para a gestão
integrada das unidades de conservação, mas também para o desenvolvimento do
Norte de Minas como um todo. A situação da BR 135 no trecho
157
Itacarambi/Montalvânia, por exemplo, é um absurdo que inviabiliza todo e qualquer
projeto de desenvolvimento regional no Norte do Estado. No período de chuvas, as
cidades de Manga e Montalvânia ficam praticamente isoladas devido às péssimas
condições da estrada. Portanto, é inconcebível que essa situação permaneça sem
que o poder público tome as devidas providências necessárias para a solução do
problema.
Dado o exposto, é indispensável que os parceiros do Projeto Mosaico se
unam a todos os setores da sociedade formando uma frente de reivindicações a
serem encaminhadas ao governo federal e estadual para que o problema seja
resolvido o mais rápido possível.
158
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
162
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, G. Exploração na mata seca ainda depende de lei. Hoje em Dia, Belo
Horizonte, 06 jun. 2007. Caderno Minas, p. 19.
ALENCAR, G. Mata Seca põe fogo no conflito ambiental. Hoje em Dia, Belo
Horizonte, 05 jun. Seção Meio Ambiente, p. 6. 2006.
163
BELÈM, R. A. Projeto Caminhadas no Parque: uma proposta de educação ambiental
para o Parque Municipal da Sapucaia – Montes Claros/ MG. 2002. 55f. Monografia
(Especialização em Geografia Ensino e Meio Ambiente) - Centro de Ciências
Humanas, Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, 2002.
BRANDÃO, M. Caatinga. In: MENDONÇA, M.; LINS, L. (Org.). Lista Vermelha das
Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Fundação Biodiversitas, 2000, p. 75-85.
164
CARDOSO, G.G. Área de proteção ambiental (APA) São José: Bases para uma
gestão participativa. 2002. 87f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto
Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.
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