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Duarte Januário Paiaia

As Necessidades
Educativas Especiais
Auditivas e Visuais
AS NECESSIDADES
EDUCATIVAS ESPECIAIS
AUDITIVAS E VISUAIS

Material de Estudo da Disciplina de NEE

DUARTE JANUÁRIO PAIAIA


Estudante de Geografia
Universidade Licungo – Quelimane
Moçambique
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1. As necessidades educativas especiais sensoriais auditivas e visuais

1.1. Conceitos básicos

Segundo SERRANO (2008), ”há uma necessidade educativa especial quando um


problema físico, sensorial, intelectual, emocional ou social afecta a aprendizagem ao
ponto de serem necessários acessos especiais ao currículo para que o aluno possa
receber uma educação apropriada.

Os alunos com necessidades educativas especiais são aqueles que, por exibirem
determinadas condições específicas, podem necessitar de apoio de serviços de educação
especial durante todo ou parte do seu percurso escolar, de forma a facilitar o seu
desenvolvimento académico, pessoal e sócio-emocional.” (CORREIA, 1997).

Necessidades Educativas Sensoriais: Enquadram-se neste grupo crianças e


adolescentes cujas capacidades visuais ou auditivas estão afectadas. O termo “sensorial”
remete-nos logo aos órgãos de sentido. Quanto aos problemas de visão podemos
considerar os cegos (não lhes é possível ler, e por isso utilizam o sistema Braille) e os
amblíopes (são capazes de ler dependendo do tamanho das letras). Relativamente aos
problemas de audição, temos os surdos (cuja perda auditiva é maior ou igual a 90
decibéis) e os hipoacústicos (cuja perda auditiva se situa entre os 26 e os 89 decibéis).

1.2. Deficiência auditiva


A deficiência auditiva é a incapacidade total ou parcial de audição. Se a incapacidade
for total o indivíduo designa-se como surdo, podendo ser classificado como pré-
linguístico (quando perde audição antes dos três anos e assim não consegue desenvolver
a fala) ou como pós-linguístico (quando perde audição depois dos três anos e ainda
conseguiu desenvolver a fala). Um indivíduo designa-se por hipoacústico se a sua
audição, ainda que deficiente é funcional no seu dia-a-dia, com ou sem aparelho
auditivo.
A chegada de uma criança desejada é um dos momentos mais felizes na vida dos
pais. Depois do nascimento da criança e o diagnóstico de saúde revelar que o bebé é
portador de deficiência auditiva para os pais ouvintes, torna-se num momento
angustiado e de grande inquietação. Apenas um pequeno número de crianças portadoras
de deficiência auditiva são concebidas por pais Surdos, concluindo-se que a maioria dos
Surdos é concebida por pais ouvintes. Há uma diferenciação entre deficiência auditiva
e Surdez (LANE, 1996).
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A deficiência auditiva é a carência de audição, a capacidade de ouvir é insuficiente


perante as tarefas realizadas pelo indivíduo (NIELSEN, 2003). Esta insuficiência é uma
lesão que se situa no ouvido e a criança torna-se inapta de ouvir os sons que o rodeia
(CORREIA, 2008).

1.2.1. Morfologia do ouvido humano

Tal como refere AFONSO (2008), para se entender melhor a deficiência auditiva deve-
se ter em conta a formação do ouvido do homem. O ouvido humano é constituído por
três partes: Ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. A parte externa do ouvido
envolve a orelha e o canal auditivo externo. Os músculos do martelo e do estribo atuam
como rudimentos protectores do ouvido. O ouvido interno trabalha como analisador
temporal.

Afonso (2008) afirma que o som é captado pelo ouvido externo, sendo amparado pela
orelha e canal auditivo externo. O som é alastrado à cadeia ossicular, até comparecer ao
ouvido interno, onde se situa o órgão de corte, com células sensoriais e de suporte
encontradas sobre a membrana essencial. Partindo da competência da acção da
constituição do ouvido humano e da audição, pode-se descrever a Surdez. Faz parte do
ouvido externo, o pavilhão auricular e o canal auditivo que tem funções de recolher e
encaminhar as ondas sonoras até ao tímpano.

A produção de cera dá-se no canal auditivo. A cera ajuda a reter partículas de pó,
sujidade e microorganismos. O ouvido médio é uma cavidade com ar, que fica atrás da
membrana do tímpano. A energia das ondas sonoras é transmitida, do ouvido externo
até à janela oval na cóclea que se encontra no ouvido interno. Essa transmissão de
energia é efetuada através de três ossos minúsculos (o martelo, a bigorna e o estribo).

No ouvido médio há um canal, em parte fibrocartilagíneo com o nome de trompa de


Eustáquio ligado à rinofaringe. A trompa de Eustáquio abre e fecha constantemente. A
membrana do tímpano é constituída por três camadas. A parcela superior da membrana
chama-se pars flácida e a inferior chama-se pars tensa. É na parte central da pars tensa
que se encontra a área vibrante activa. A membrana timpânica é uma estrutura auto-
regenrativa, sendo por isso capaz de corrigir um furo na sua estrutura. Os pequenos
ossos, as suas articulações e ligamentos são revestidos por uma mucosa e pode tornar-se
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mais ou menos tensa, pela acção de dois pequenos músculos, o do martelo e o do


estribo. Com este mecanismo é possível limitar a transmissão de energia para o interior
da cóclea. No ouvido interno, encontra-se a parte mais importante do ouvido periférico.
A cóclea, em forma de caracol tem a função de diferenciar e interpretar sons. Para além
da cóclea, o ouvido interno é constituído por um labirinto vestibular, constituído pelo
sáculo e pelo utrículo, que são os órgãos que informam o nosso cérebro sobre a posição
do corpo no espaço. O órgão de Corti que, aloja as células ciliadas, situa-se sobre a
membrana basilar e segue a estrutura em espiral da mesma. Existem dois tipos de
células ciliadas: as células ciliadas interiores e as exteriores. As células ciliadas internas
encontram-se distribuídas ao longo de uma fila com aproximadamente 3500 células.
Estas células recebem aproximadamente 95% das enervações das fibras do nervo
auditivo, sendo responsáveis pela produção da sensação de audição. Quando lesadas
provocam perdas auditivas acentuadas e irreversíveis.

Figura 1: Estrutura do ouvido humano

Fonte: Serrano, 2008.

1.2.2. Classificações da deficiência auditiva

A deficiência auditiva quanto a periodicidade é caracterizada por dois tipos: a


deficiência temporária (que pode ser ultrapassada com ajuda médica) e a deficiência
definitiva (que não consegue ser combatida com procedimentos médicos e a criança
tem de aprender a viver assim durante toda a sua vida).
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Temos três níveis distintos de deficiência auditiva. No primeiro nível temos a


transmissão (um problema que está centrado no ouvido externo), no segundo nível a
lesão encontra-se no ouvido interno e no terceiro nível lesões tanto no ouvido externo
como interno (NIELSEN, 2003).

Para medir a intensidade do som utiliza-se o Audiograma, que nos dá a frequência


através de um gráfico que regista a leitura em decibéis, os quais indicam o grau de
surdez da pessoa (Alvaraga, Martins, Varão & Serrano, 2001).

Existem quatro tipos de deficiência auditiva:

 Deficiência de condução, em que há uma dificuldade ou impedimento na


passagem de vibrações sonoras para o ouvido.
 Deficiência sensório-motora, que tem origem no ouvido interno e é
consequência de doenças ou malformações de origem hereditária.
Também pode ser provocada por factores tóxicos, traumas ou excessiva
exposição do ouvido a níveis elevados de poluição sonora. Normalmente
também é designada como surdez de percepção, nervosa ou de ouvido
interno.
 Deficiência mista, em que o ouvido médio ou interno sofre lesões ou
alterações que lhes estão associadas.
 Deficiência central, que tem origem numa disfunção ou mal desenvolvimento
das vias auditivas do sistema nervoso central.

Quanto a origem, a deficiência auditiva pode ser de dois tipos: congénita ou adquirida.

A surdez congénita pode ser consequência de factores hereditários (devido


unicamente a características transmitidas pelos genes), factores pré-natais (devido a
situações que ocorrem durante a gravidez, como resultado por exemplo de doenças que
afectam a mãe - rubéola, taxoplasmose, etc.), e factores peri-natais (consequência de
alterações durante o parto ou até às primeiras horas de vida do bebé, como por exemplo
falta de oxigénio no cérebro, peso reduzido, etc.).

A surdez adquirida é aquela que afecta as crianças com audição normal à


nascença e que pode ser provocada por lesões, como por exemplo traumas
acústicos devido a pancadas nos ouvidos, infecções virais (otites) ou então
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devido a toxicidade farmacológica, como por exemplo Ototoxitose (utilização


prolongada de antibióticos).

1.2.3. Níveis ou graus da deficiência auditiva

Os níveis de Surdez são vários e podem ser classificados dependendo da


intensidade da perda auditiva (AFONSO, 2008). Os autores ALMEIDA et al., (2004)
entendem por Surdez a perda total de audição. Empregando-se para os vários níveis as
designações de Surdez ligeira, modera, severa e profunda. Existem alguns autores,
nomeadamente, NUNES (1999) citado por AFONSO (2008) que referem que muitas
vezes há dificuldade em identificar o grau de Surdez que uma criança apresenta quando
esta ainda é muito pequena.

Segundo os investigadores acima referidos, ao aplicar o índice de Fletcher, já é possível


detectar o grau de Surdez que uma criança portadora de deficiência auditiva apresenta.
Este teste é feito em frequências de 500, 1000 e 2000 Hz (Hertz “Hz” é a unidade de
medida da frequência de um som e corresponde a um ciclo), com a média do limiar
auditivo.

As perdas auditivas inferiores a 25 dB, não interferem no desenvolvimento da aquisição


da linguagem, mas podem levar a algumas dificuldades de comunicação (NIELSEN,
2003). Com a deficiência auditiva leve, apesar de não apresentar grandes dificuldades
na aquisição da linguagem, a criança apresenta algumas lacunas na articulação, na
atenção, no ouvir e perceber a comunicação oral em meios muito ruidosos. Com a
deficiência auditiva moderada a fala dá-se com algum atraso. A criança revela falta de
atenção e compreensão a distâncias curtas, conversas em grupo (mais do que uma
pessoa a falar) e em sítios mais ruidosos, levando à alteração de voz e articulação. Com
o apoio precoce de técnicas especializadas a criança consegue chegar a um
desenvolvimento normal da linguagem.

Na deficiência auditiva severa há um difícil desenvolvimento da linguagem. Com a


ajuda de uma intervenção precoce a criança poderá ter uma articulação inteligível.
Consegue ouvir os sons próximos, identificar os sons do ambiente. Neste caso a criança
consegue diferenciar as vogais com amplificação sonora. Por último na deficiência
auditiva profunda a compreensão verbal da criança está dependente da leitura labial.
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Como a criança não consegue ouvir não usa a linguagem oral para comunicar mas sim a
língua gestual para comunicar (NIELSEN, 2003).

Quadro I – Classificação dos graus de surdez e respectiva percepção sonora de acordo


com a perda auditiva em dB

Intensidade (dB) Grau de surdez Percepção sonora


 A criança em ambientes ruidosos pode ter
dificuldades em entender mensagens;
 Não identifica totalmente os sons produzidos;
20 - 40 Ligeira  A utilização de prótese auditiva favorece uma
melhor percepção;
 Pode apresentar pequenas dificuldades
articulatórias.
 Só identifica palavras se forem produzidas em
voz alta;
 Uso de uma prótese auditiva para conseguir
perceber os sons;
40 - 60 Moderada  Pode não conseguir acompanhar uma
discussão em grupo;
 A articulação é bastante difícil;
 Linguagem expressiva oral limitada
 Consegue ouvir os sons próximos;
 Só consegue perceber algumas palavras se
60 - 90 Severa forem ditas lentamente;
 O processo de aquisição da linguagem oral
não é espontâneo.
 Não percebe a fala através da audição, mas
consegue perceber sons altos e vibrações;
>90 Profunda  Revela muitas limitações para a aquisição da
linguagem oral.

Fonte: Adaptado (ALMEIDA et al, 2004).


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1.2.4. Factores que levam à deficiência auditiva

Há muitos factores que levam ao aparecimento da deficiência auditiva ou surdez na


criança. Por exemplo, lesões que podem ocorrer antes do nascimento (pré natais) ou
depois do nascimento (pós natais). Das lesões pré natais advém a Surdez congénita que
pode ser originada por motivos ambientais ou hereditários. No caso ambiental, temos
infecções (como herpes, vírus, sífilis, entre outras) ou complicações que podem ocorrer
durante a gestação. Nos casos hereditários, estas podem ou não ser transmitidas
geneticamente da família. As perdas auditivas de grau variável podem surgir durante ou
logo após o parto.

As lesões pós natais levam a uma surdez adquirida. Um dos factores que leva a este tipo
de surdez é a meningite ou outras doenças contraídas durante a infância como: papeira,
sarampo ou tosse convulsa que nos dias de hoje já é possível combater recorrendo à
vacinação. Os ruídos muito altos, medicamentos e traumatismos cranianos graves
podem também causar Surdez (ALMEIDA, et al. 2004).

1.2.5. Integração e Inclusão dos deficientes auditivos em classes regulares

Capa e Rego, em 1999 assumem que a inclusão dos surdos no ensino regular obriga à
criação de condições que facilitem o desenvolvimento social e escolar do aluno,
situação esta que passa pela sensibilização de todos os elementos da comunidade escolar
e pelo desenvolvimento de um plano educativo individual, flexível e adequado a cada
aluno.

Segundo Lacerda ao se incluírem alunos surdos no ensino regular é “necessário garantir


a sua possibilidade de acesso aos conhecimentos que estão a ser trabalhados, além do
respeito pela sua condição sociolinguística e pelo seu modo peculiar de funcionamento”.
É então importante o reconhecimento de que estes alunos necessitam de apoio
específico, e assim precisam de ter acesso a apoios tecnológicos e humanos, de
forma permanente ou temporária. Só assim é possível garantir o desenvolvimento
escolar e social destes alunos.

1.2.6. Recursos auditivos que uma criança com problemas auditivo pode recorrer
Segundo NUNES (1999), a criança portadora de deficiência auditiva deve recorrer
ao uso de aparelhos auditivos o mais precocemente possível tanto para a adaptação
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destes, como para a aquisição da evolução da linguagem. A criança com ausência de


audição pode usar aparelhos auditivos desde os 6 meses de idade. Tudo isto vai
depender da idade que se detectou a ausência de audição, o tipo e o que provocou a
Surdez. A reabilitação auditiva da criança pode ser desenvolvida com o
uso de prótese auditiva ou com um implante cirúrgico.

Para HENRIQUES (2010:67), o objectivo da prótese auditiva é “ aproveitar a audição


residual de modo eficaz através de um mecanismo de amplificação”. NUNES (2003)
entende que para a criança portadora de deficiência auditiva ter uma boa adaptação à
prótese auditiva é muito importante haver clareza da fala, como também um nível
sonoro confortável.

O Implante Coclear é inserido por via da cirurgia. Este altera a energia sonora em
sinais eléctricos que, posteriormente, são interpretados no córtex auditivo ( BERRO et
al. 2008). O uso do implante coclear é a utilização de uma “ prótese auditiva
elétrica, complexa, que utiliza a estimulação direta do nervo auditivo, ultrapassando a
cóclea, para produzir sensações auditivas” (ALVES, & PACHECO, 2003:234).

Henriques (2010:75), define o implante coclear como “ um dispositivo electrónico


também conhecido como ouvido biónico, que estimula as células nervosas do ouvido
interno (células ciliadas), permitindo a transmissão do estímulo eléctrico através do
nervo auditivo até ao córtex cerebral onde será descodificado”. Para ALVES &
PACHECO (2003), os estudos realizados apontam que uma criança portadora de
deficiência auditiva adquirida ou congénita, bilateral, profunda ou severa, após os 18
meses de idade já pode levar um implante coclear. O primeiro implante coclear em
Portugal foi implantado num adulto em 1988 no centro Hospitalar de Coimbra e na
primeira criança no ano de 1992 também no mesmo centro hospitalar (HENRIQUES,
2010).

Fig. 2: Prótese auditiva analógica (lado esquerdo) e Prótese auditiva digital (lado direito).
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Figura 3: Implante Coclear

Fonte: http://Pixabay.com/pt.

1.3. Deficiência visual

Na óptica de CORREIA (2008), a Deficiência Visual diz respeito a “uma incapacidade


de visão significativa ou total que, mesmo depois de corrigida, afecta negativamente a
realização escolar da criança. O termo inclui dois grandes grupos de crianças – as
cegas e as portadoras de visão parcial ou reduzida.

A Deficiência Visual compreende as pessoas cegas e com baixa visão. Ou seja,


deficiência visual não é sinónimo de cego nem de baixa visão. Ambos os termos
possuem suas definições e características próprias.

A cegueira é entendida como a perda total da visão, até a ausência da percepção da luz.
Ela pode ocorrer desde o nascimento e, nesse caso, se classifica como congénita e ainda
pode ser adquirida ao longo da vida da pessoa – sendo, dessa forma, denominada como
adquirida. Conhecer a origem da cegueira pode ser importante para fins educacionais,
isso porque qualquer resquício de memória visual pode auxiliar o trabalho do professor
na alfabetização do estudante cego (AMIRALIAN, 1997).

A baixa visão pode ser compreendida como a alteração da capacidade funcional da


visão, decorrente de inúmeros factores isolados ou associados, tais como: baixa
acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais
e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho
visual do indivíduo (BRASIL, 2006:16).
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Inicialmente, a medicina teve uma preocupação em compreender o quanto uma pessoa


com deficiência visual poderia enxergar e, nesse sentido, foram desenvolvidas medidas
que informavam a capacidade visual das pessoas com deficiência visual (AMIRALIAN,
1997).

De acordo com o Ministério da Educação Português (2002), do ponto de vista clínico,


um indivíduo pode ser considerado deficiente visual quando apresenta significativas
limitações:

1) Na acuidade visual
2) No campo visual
 Acuidade visual entende-se como a capacidade que a pessoa tem para perceber
e discriminar pormenores de um objecto a uma determinada distância.
 Campo visual entende-se como a distância angular que o olho consegue
abranger, sendo o da pessoa normovisual de cerca de 180º sem mover a cabeça.

1.3.1. Cegueira e baixa visão


Deste modo, e tendo em conta a opinião de CORREIA (2008), dividimos a deficiência
visual em duas partes distintas:
Cegueira: Acuidade visual binocular corrigida entre 1/20 e 1/50 ou com um campo
visual com ângulo <10º (N=180º).
 Ausência total de visão ou simples percepção luminosa.
Baixa Visão: parcial (acuidade visual no melhor olho e com correcção entre 1/10 e
3/10 e sem problemas no campo visual).
 Residual (acuidade visual < 1/10 e um campo visual < ou = 20º).
 Apesar das limitações usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para o
planeamento e ou execução de uma tarefa.

1.3.2. Causas e formas de prevenção da deficiência visual

A prevenção da deficiência visual é papel de uma série de actores da sociedade, o que


inclui os agentes da saúde, assistentes sociais, professores, líderes da comunidade e
familiares (BRITO; VEITZMAN, 2000; RODRIGUES, 1997; TEMPORINI; KARA-
JOSÉ, 2004), até porque, segundo Brito e Veitzman (2000), no ano de 2000, já era
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possível prevenir 60% dos casos de deficiência visual – é possível que tal número tenha
aumentado ainda mais hoje, vinte anos depois da publicação desse estudo.

Logo, é primordial a realização tanto do aconselhamento genético quanto da vacinação


e o acompanhamento pré-natal (BRASIL, 2006; RODRIGUES, 1997), bem como o
acompanhamento de mulheres que estão dentro da idade esperada para gestação
(RODRIGUES, 1997). O aconselhamento genético é capaz de prevenir a retinite
pigmentosa (consiste em um conjunto de doenças hereditárias que acarretam a
degeneração da retina, ocasionando perda gradual da visão, ela não possui cura), o
glaucoma e a catarata congénita.

O exame pré-natal diminui o risco de má formação do bebê, uma vez que a gestação
será acompanhada. Quanto às causas congénitas de deficiência, a maioria delas é
proveniente de um ou mais dos seguintes factores: gestação precoce, desnutrição da
mãe, mãe usuária de drogas ou álcool, infecções durante a gravidez (rubéola, sífilis,
AIDS, toxoplasmose e citomegalovírus) (BRASIL, 2006); logo, é possível prevenir tais
situações se houver o acompanhamento adequado das mulheres com possibilidade de
gestação.

Há, também, cuidados durante o parto que podem evitar a deficiência visual, bem como
a vacinação da criança, que pode evitar doenças, como o sarampo e a meningite, as
quais podem causar deficiência visual. Por fim, por meio do diagnóstico precoce,
triagem em berçários, creches e pré-escola, é possível evitar o agravamento de quadros
de deficiência visual. Dessa forma, o professor possui um papel fundamental nessa
etapa da prevenção (BRASIL, 2006).

É também papel do professor, bem como dos pais, evitar acidentes que, por sua vez,
também podem causar deficiência visual. Quanto aos médicos, cabe a liderança de
programas de prevenção (RODRIGUES, 1997; TEMPORINI; KARA-JOSÉ, 2004),
sendo que a elaboração de tais programas demanda uma equipe multidisciplinar, o que
inclui, dentre outros, os professores (RODRIGUES, 1997). Diagnosticar precocemente
a deficiência visual é primordial para que o desenvolvimento da criança não seja
prejudicado (BRASIL, 2006). Sendo assim, cabe ao professor estar atento aos sinais que
podem estar relacionados a algum tipo de deficiência visual.
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1.3.3. Indicadores de possíveis problemas visuais


Em seguida apresentam-se indicadores de possíveis problemas de visão mencionados
por RUIZ, MOLINA, BUENO, & LARA (2003).

Na aparência dos olhos


 Vesguear (para dentro ou para fora), quando está cansado;
 Olhos ou pálpebras avermelhados;
 Olhos aquosos;
 Pálpebras afundadas;
 Treçolhos frequentes;
 Pupilas nubladas ou muito abertas;
 Olhos em constante movimento;
 Pálpebras caídas

No comportamento da criança
 Corpo rígido ao ler ou olhar para um objecto distante;
 Inclinar a cabeça para a frente ou para trás ao olhar para objectos distantes;
 Giro da cabeça para usar um só olho;
 Inclinação lateral da cabeça;
 Colocação da cabeça muito próximo do livro ao ler ou escrever, manter o
material muito perto ou muito longe;
 Franzir constantemente as sobrancelhas ao ler ou escrever;
 Piscar os olhos em excesso;
 Esfregar excessivamente os olhos;
 Fechar, cobrir uma vista ou inclinar a cabeça;
 Falta de gosto pela leitura ou falta de atenção;
 Fadiga incomum ao terminar uma tarefa visual;
 Uso do dedo ou lápis como guia;
 Não gosta, evita, pestaneja muito, tem dificuldade em actividades que requerem
a utilização da visão;
 Esbarra em objectos.
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Nas queixas da criança associadas ao uso dos olhos


 Dores de cabeça;
 Náuseas ou vertigens;
 Ardor ou coceira nos olhos;
 Visão turva a qualquer momento;
 Dores oculares.
Caso o professor perceba um ou mais desses sintomas ou comportamentos, faz-se
necessário informar a coordenação da escola, visando conversar com os pais e orientá-
los a procurar um oftalmologista. Além disso, também é importante que a escola e,
consequentemente, o docente orientem os familiares em relação à higiene e prevenção
de possíveis problemas oculares (BRASIL, 2001).

1.3.4. Como lidar com os portadores de deficiência visual


A Associação de Cegos Louis Braille enuncia algumas estratégias para lidar com
pessoas portadoras de deficiência visual, das quais destacamos:
Ofereça ajuda a uma pessoa cega se lhe parecer que ela está a necessitar. Só
deve agir com a sua concordância.
 Pergunte antes de agir. Se não sabe como ajudar, peça explicações de como
fazê-lo.
 Para guiar uma pessoa cega, esta deve segurar-lhe pelo braço, de preferência no
cotovelo ou no ombro. Não a pegue pelo braço: além de perigoso, pode assustá-
la. À medida que vai encontrando degraus e outros obstáculos, vá orientando.
Em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, coloque o
seu braço para trás de modo que a pessoa cega possa segui-lo.
 Ao sair de uma sala, informe o(a) cego(a); é desagradável para qualquer
pessoa falar para o vazio.
 Não evite palavras como "cego", "olhar" ou "ver", os (as) cegos(as) também as
usam.
 Ao explicar direcções para uma pessoa cega, seja o mais claro e específico
possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho.
Como algumas pessoas cegas não têm memória visual, não se esqueça de indicar
as distâncias em metros (por exemplo: "uns vinte metros para a frente"). Mas se
não sabe como orientar uma pessoa cega, diga algo do género: "eu gostaria de
ajudar, mas como é que devo descrever as coisas?", ele(a) lhe dirá.
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 Ao guiar um(a) cego(a) para uma cadeira, guie a sua mão para o encosto da
mesma, e informe, se a cadeira tem braços ou não.
 Num restaurante, é de boa educação que você leia o cardápio e os preços.
 Uma pessoa cega deve ser tratada com o mesmo respeito que os “não cegos”.

1.3.5. Materiais auxiliares para alunos com deficiência visual

Comprovada a baixa visão, alguns recursos ópticos podem auxiliar no aprendizado


desses estudantes (BRASIL, 2010). Entre esses recursos, temos aos óculos de vista, as
lupas, que auxiliam no aumento de letras e ilustrações.

Figura 4. Lupas

Fonte: BRASIL (2006).

Para os estudantes cegos, a principal via de apreensão de informações são os sentidos


remanescentes, geralmente o tato e a audição. Nesse sentido, como já foi exposto
anteriormente, no desenvolvimento de materiais adaptados, deve-se levar em
consideração essa informação.

O Sistema Braile é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da leitura e


escrita para esses estudantes. O material impresso em tinta, como os livros didácticos,
apostilas, devem ser adaptados e transcritos em braile, e as ilustrações devem ser
representadas em alto-relevo, explorando o sentido do tato (BRASIL, 2010).

A transcrição de um texto impresso para o braile pode se dar, principalmente, pelos


recursos reglete e pela máquina de escrever em braile. Embora o uso de tecnologias seja
hoje em dia bastante disseminado, é de fundamental importância explorar a leitura e a
escrita por meio do braile pelos meios convencionais.
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Figura 5: Prancheta de plástico com uma reglete de metal e uma punção azul (lado
esquerdo); Máquina de escrever em braile mecânica na cor cinza (lado direito).

Fonte: BRASIL (2010).

Incluir a pessoa com deficiência no ambiente social é uma perspectiva válida quando se
pensa que é no meio social que o desenvolvimento ocorre mais significativamente.
Porém, é nesse momento que a deficiência passa a se tornar uma realidade reforçada
pela ausência de estrutura para atender essas pessoas. E, no âmbito educacional, deve-se
priorizar a escolarização de todos os alunos (com e sem deficiência) no ambiente da
classe comum, sendo que é preciso contemplar as especificidades dos alunos com
deficiência para que eles consigam alcançar sucesso escolar. No Brasil, como já relatado
anteriormente, tal apoio acontece no contra-turno da classe comum, através do AEE.

A criança com deficiência visual, quando inicia suas actividades educacionais, pode
sofrer problemas relacionados à adaptação ao novo ambiente, principalmente se este não
estiver adaptado para atender suas necessidades. Entende-se que mais importante do que
incluir uma criança na sala de aula regular é incluir também todos os recursos
necessários para que ela desfrute das oportunidades como os demais estudantes.
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2. Conclusão

Contudo, podemos concluir que a deficiência visual caracteriza-se por uma limitação
sensorial no órgão da visão. As pessoas que possuíam tal limitação, ao longo da história,
foram tratadas com distinção, uma vez que suas características divergiam do “padrão”
da normalidade estabelecido socialmente. Nos dias atuais, pode-se observar certo
avanço no sentido de garantia de direitos sociais, colaborando para que não sofram mais
grandes e frequentes discriminações devido às suas especificidades.

Mas as maiores barreiras responsáveis pelas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com
deficiência visual estão na organização social. No caso, as barreiras arquitectónicas, que
dificultam a livre locomoção e mobilidade dessas pessoas; e, ainda, as barreiras
educacionais, nas quais estão as adaptações e o desenvolvimento de materiais que
garantam o acesso à leitura e à escrita.

A deficiência auditiva, quando acontece pode trazer consigo consequências sérias ao


desenvolvimento da criança. A integridade anatómica fisiológica do sistema auditivo é
um pré-requisito para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, pois o
desenvolvimento da linguagem de uma criança normal pode ser influenciado por
tendências, traços herdados e estímulos ambientais, existindo uma combinação de
estímulos ambientais e do potencial inato do desenvolvimento do individuo.

Portanto, dentro dos objectivos previamente traçados pode se afirmar que foram
concretizados uma vez que ao longo do trabalho é referido que dentro dos problemas
auditivos podemos encontrar varias fases que caracterizam esta perturbação sendo
necessária a aplicação de algumas estratégias que o grupo propôs para a minimização
deste tipo de perturbação na sala de aulas bem como na tomada de decisão sobre o
processo educativo. É importante salientar que o professor dentro do seu espírito
inclusivo deve assumir a heterogeneidade da classe para melhor levar a cabo as suas
actividades de docência.
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3. Referências Bibliográficas

AFONSO, Carlos. Reflexões sobre a surdez: A problemática específica da surdez. Vila


Nova de Gaia: Gailivro, 2008.

ALMEIDA, F., ANTUNES, I., CAEIRO, M., CUNHA, I., MONTEIRO, L.,
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