Cura após aborto

a misericórdia de Deus para você.

Traduzido do original em inglês
Healing after abortion: God’s mercy is for you,
por David Powlison
Copyright ©2008 Christian Counseling & Educational Foundation.

Publicado por New Growth Press,

Greensboro,
NC 27404

Copyright © 2016 Editora Fiel

Primeira Edição em Português: 2018

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER

MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Diretor: James Richard Denham III

Editor: Tiago J. Santos Filho
Coordenação Editorial: Renata do Espírito Santo
Tradução: D&D Traduções
Revisão: D&D Traduções
Diagramação: Wirley Correa - Layout
Capa: Wirley Correa - Layout
Ebook: João Fernandes
ISBN: 978-85-8132-506-4
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

P888c Powlison, David, 1953-

Cura após aborto : a misericórdia de Deus para você /
David Powlison . – São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.
2Mb ; ePUB
Tradução de: aling after abortion:
God's mercy is for you.

ISBN 978-85-8132-506-4

1. Aborto – Aspectos psicológicos. 2. Aborto – Aspectos religiosos – Cristianismo. 3.

Aconselhamento sobre aborto. I. Título. II. Série.
CDD:
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APRESENTAÇÃO DA SÉRIE
Gilson Santos

Jay Adams, teólogo e conselheiro norte-americano, nascido em 1929, foi

professor de Poimênica no Seminário Teológico de Westminster, em
Filadélfia, no estado de Pensilvânia, Estados Unidos. Adams é um respeitado
escritor e pregador, genuinamente evangélico e conservador. Enquanto
lecionava sobre a teoria e a prática do pastoreio do rebanho de Cristo, ele viu-
se na necessidade de construir uma teoria básica do aconselhamento pastoral.
Rememorando a sua trajetória, Adams nos informa que, tal como muitos
pastores, não foi muito o que aprendeu no seminário sobre a arte de
aconselhar. Desiludido com suas iniciativas de encaminhar ovelhas para
especialistas, ele buscou assumir um papel pastoral mais assertivo e
biblicamente orientado no contexto de aconselhamento.
Em seus esforços, crendo na veracidade e eficácia da Bíblia, Adams
estabeleceu como objetivo salvaguardar a responsabilidade moral dos
aconselhandos, entendendo que muitas abordagens terapêuticas e poimênicas
a comprometiam. Em seu elevado senso de respeito e reverência às
Escrituras, Adams reconheceu que a Bíblia é fonte legítima, relevante e rica
para o aconselhamento. Ele propôs que, em vez de ceder e transferir a tarefa a
especialistas embebidos em seus dogmas humanistas, os ministros do
evangelho, assim outros obreiros cristãos vocacionados por Deus para
socorrer pessoas em aflição, devem ser estimulados a reassumir seus
privilégios e responsabilidades. Inserido em uma tradição que tendia a
valorizar fortemente as dimensões públicas do ministério pastoral, Adams
fincou posição por retomar o prestígio das dimensões pessoais e privativas do
ministério cristão, sobretudo o aconselhamento. Nisto seu esforço se revelou
de importância capital. De fato, basta examinar a matriz primária do
ministério cristão, que é a própria pessoa de Jesus Cristo, para concluir que,
diminuir a importância e lugar do ministério pessoal trata-se de uma distorção
grave na história da igreja. Adams defende, assim, que conselheiros cristãos
qualificados, adequadamente treinados nas Escrituras, são competentes para
aconselhar.
Adams também assumiu com seriedade as implicações do conceito cristão
de pecado para o aconselhamento. Em resumo, ele propõe que o cristianismo
não pode contemplar uma psicopatologia que prescinda de um entendimento
bíblico dos efeitos da Queda, e da pervasiva influência que o pecado exerce
no psiquismo dos seres humanos. Por esta razão, a abordagem que ele propôs
chamou-se inicialmente de “Aconselhamento Noutético”. O termo noutético
é derivado de uma palavra grega, amplamente utilizada no texto
neotestamentário, que significa “por em mente” – formado de nous [mente]
e tithemi [por]. O uso de nouthetéo nos escritos paulinos sempre aparece
estritamente associado a uma intenção pedagógica. O aconselhamento
noutético seria então aquele que direciona, ensina, exorta e confronta o
aconselhando com os princípios bíblicos. De acordo com a noutética, o
aconselhamento se dá em confrontação com a Palavra de Deus. Visando não
apenas uma mudança comportamental, ele objetiva a inteira transformação da
cosmovisão, oferecendo as “lentes da Escritura” ao aconselhando. Num
momento posterior, esta abordagem passou a denominar-se exclusivamente
“Aconselhamento Bíblico”.
Sobre estas bases, em 1968 Jay Adams deu início, no Seminário Teológico
de Westminster, em Filadélfia, ao CCEF - Christian Counseling and
Education Foundation (Fundação para Educação e Aconselhamento Cristão),
inaugurando um novo momento na história do aconselhamento cristão.
Adams lançou os principais conceitos de sua teoria de aconselhamento na
obra “O Conselheiro Capaz” (Competent to Counsel), publicado em 1970; a
metodologia foi condensada no “Manual do Conselheiro Capaz”, publicado
em 1973. No Brasil, a Editora Fiel foi pioneira na publicação dessas duas
obras; a primeira edição de “Conselheiro Capaz” em português foi publicada
em 1977 e o volume com a metodologia publicado posteriormente. Adams
também foi preletor em uma das primeiras conferências da Editora Fiel no
Brasil direcionada a pastores e líderes.
O legado de Adams no CCEF foi recebido e levado adiante por novas
gerações. Estas procuraram manter-se alinhadas com o núcleo central de sua
proposta, ao mesmo tempo em que revisaram aspectos vulneráveis, e
defrontaram-se com algumas de suas tensões ou limites. Alguns destes novos
líderes e conselheiros notabilizaram-se. Estes empenharam-se por um foco
mais direcionado ao ser do que no fazer, colocando grande ênfase nas
dinâmicas do coração, particularmente no problema da idolatria. Também
procuraram combinar o enfoque no pecado com uma teologia do sofrimento.
Procuram oferecer considerações ao social e ao biológico, com novos
enfoques para as enfermidades, inclusive para o uso de medicamentos. É
igualmente notável a ênfase no aspecto relacional do aconselhamento na
abordagem desses novos líderes. Alguns estudiosos do movimento ainda
apontam uma maior abertura e espírito irênico dessas gerações sucedâneas,
particularmente em sua confrontação com outras abordagens poimênicas ou
terapêuticas.
A Editora Fiel vem novamente oferecer a sua contribuição ao
aconselhamento bíblico, desta vez colocando em português esta série que
enfoca vários temas desafiantes à presente geração. A série original em inglês
já se aproxima de três dezenas de livretos. Este que o leitor tem em suas mãos
é um deles. Tais temas inserem-se no cenário com o qual o pastor e
conselheiro cristão defronta-se cotidianamente. Os autores da série pretendem
oferecer um material útil, biblicamente respaldado, simples e prático, que
responda às demandas comuns nos settings, relações e sessões de
aconselhamento cristão. Se este material, que representa esforços das
gerações mais recentes do aconselhamento bíblico, puder ajudá-lo em seus
desafios pessoais em tais áreas, ou ainda em seu ministério pessoal, então os
editores podem dizer que atingiram o seu objetivo.
Boa leitura!
Gilson Carlos de Souza Santos é pastor da Igreja Batista da Graça, em São
José dos Campos, possui bacharelado em Teologia e graduação em
Psicologia, e dirige o Instituto Poimênica cujo alvo é oferecer apoio e
promoção à poimênica cristã.
Introdução
Se você está lendo este livreto, provavelmente você passou por um aborto e
está tendo dificuldades por conta disso. A turbulência que está
experimentando é chamada às vezes de "síndrome pós-aborto". Mas você não
tem necessidade de um termo técnico para descrever o que está sentindo.
Você está passando pelas lutas de uma mulher que sofreu um aborto e que
sente no coração o que aconteceu. Essas são lutas sinceras — os sentimentos
de culpa, os arrependimentos, a depressão, o coração partido, a tristeza. Para
muitas mulheres, esses sentimentos se tornam ainda mais intensos quando se
está próximo da data em que foi realizado o aborto.
Talvez você também esteja tendo outros tipos de reações. Provavelmente
está apenas se sentindo anestesiada. Você não sabe como encarar o que
ocorreu, então tenta evitar pensar no assunto. Ou talvez esteja sentindo raiva,
ou mesmo uma sensação de ter sido traída. Outras pessoas — seus amigos,
namorado, pais, esposo — podem estar envolvidas em sua decisão. Talvez
você sinta que eles enganaram você. Agora você está tendo dificuldade em
confiar nas pessoas. O aborto a levou à dor e a relacionamentos abalados.
A última coisa que talvez você queira fazer agora é considerar o que Deus
tem a dizer a você. Mas ele é aquele que pode ajudá-la. Deus, na Bíblia, traz
esperança para cada aspecto da dor que está sentindo:
Você está com medo de encarar o que aconteceu? A misericórdia de Deus
lhe convida a confessar a ele.
Você sente vergonha e culpa? Deus lhe oferece perdão.
Sente-se arrependida? Seu Redentor é especialista em reconstruir vidas
destruídas e fazê-las frutíferas.
Parece que essa dor não vai embora? Deus é um refúgio para os
quebrantados e desamparados.
Independentemente das emoções e reações que você tenha, o Deus vivo está
interessado em lutar por você. Ele sabe como você se sente em sua fraqueza,
mas ele faz mais do que só compadecer-se de você. Jesus traz para sua vida
misericórdia, esperança e transformação. Como isso acontece? Continue
lendo, e deixe entrar em seu coração a ternura do Deus que está conosco nas
turbulências da vida.

O Silêncio rodeia o aborto

Já percebeu o silêncio que rodeia o aborto? Ninguém fala sobre ele na mesa
de jantar. As pessoas falam tranquilamente sobre suas lutas com doenças,
relacionamentos, filhos e trabalho. Elas talvez até falem sobre sua visão
religiosa, moral e política a respeito do aborto. Mas poucas pessoas falam de
sua própria experiência com o aborto. Por quê? Porque instantaneamente o
aborto é visto com vergonha. De onde vem esse sentimento? E o que você faz
com ele agora que é parte de sua vida?
Suas emoções e sentimentos revelam o que está acontecendo dentro de
você. Não importa como você veja o aborto intelectualmente, a vergonha
dentro de você lhe diz que, lá no fundo, você sabe que fez algo errado. Se
você sempre apoiou o direito de uma mulher realizar o aborto, talvez esteja se
sentindo surpresa com esses sentimentos. Para quem você pode contar sobre
isso? Todos que você conhece acham que fez a melhor escolha, mas você
está lutando com sentimentos que não desaparecem.
Ou talvez você sempre acreditou que o aborto fosse errado, mas por conta
do medo e da vergonha
de sua gravidez, acabou fazendo exatamente o oposto. Com quem você pode
conversar? Todas as pessoas que você conhece ficariam chocadas e perplexas
em saber o que você fez. Ficar em silêncio parece muito mais fácil.

Substitua o silêncio por confissão

O problema do silêncio é que aquilo que você mantém escondido fica cada
vez mais obscuro, confuso e ameaçador com o passar do tempo. Talvez você
já tenha notado isso acontecendo. Você precisa trazer seu aborto às claras
através de uma confissão. Mas para quem você confessará? E quem tem o
poder de perdoá-la? Essas perguntas só podem ser respondidas no contexto
de seu relacionamento com Deus.
Porque Deus a criou, você deve responder a ele. Deus pode medir o peso
dos muitos fatores que afetaram sua decisão. Ele viu a situação difícil em que
você estava, e ele entende a pressão que você sofreu. Ainda assim, Deus vê
além de todos os tons de cinza, todas as situações extenuantes, todas as
racionalizações. Apesar de você ter encarado uma circunstância difícil, vendo
pela perspectiva final de Deus, seu aborto foi uma coisa ou outra: ou uma boa
decisão, da qual você pode se orgulhar, ou uma má decisão, para a qual você
precisa da misericórdia Dele.
Por isso, ponha de lado todas as razões de seu aborto — sua idade, seus
planos escolares, seus problemas financeiros, como sua gravidez aconteceu, a
pressão de seu companheiro e/ou família, a vergonha que teve da gravidez —
e pergunte a si mesma: O que Deus pensa sobre o meu aborto? A verdade é
que Deus é contrário a que se tire a vida inocente do corpo de uma pessoa
que foi feita para cuidar e nutrir essa vida. Assim como Deus criou você, ele
criou a vida que você carregou (Sl 139:13-16). O poder de vida ou morte
pertence a ele apenas. Não é direito nosso tirar uma vida inocente, não
importando o quão inconveniente ou não desejada ela seja.
Mas o Deus que nos vê claramente é cheio de misericórdia. Ele não deseja
que você viva o resto da sua vida cheia de culpa, remorso e de um silêncio
vergonhoso. Ele deseja que você encare a gravidade do que ocorreu para que
se volte para ele e encontre misericórdia. Ele quer que esse momento seja um
divisor de águas em sua vida — o momento em que você se rende e acaba
por ser encontrada pelo amor e pela misericórdia dele. Tiago 4:6 explica esse
momento desta maneira: “Deus se opõe aos orgulhosos” (aqueles que não
admitem a necessidade que têm), “mas concede graça aos humildes”
(aqueles que reconhecem sua necessidade). Na verdade, nesse mesmo verso,
Tiago quer dizer que Deus “nos dá mais graça”. Não importa a gravidade do
problema – a graça pode ir mais fundo, mais alto e mais longe.
Deus Vai Ao Encontro Da Sua Confissão Com Misericórdia
Deus a encontra exatamente onde você está — em seu silêncio, em sua
humilhação, em sua culpa e em sua vergonha. Por toda a Bíblia, Deus faz a
promessa de que aquele que vai até ele e pede por misericórdia não será
envergonhado. Ele diz: “Não tenha medo; você não sofrerá vergonha. Não
tema o constrangimento; você não será humilhada. Você esquecerá a
vergonha de sua juventude” (Is 54:4).
Deus a convida a sair de seu esconderijo e a conversar honestamente com
ele. Ele lhe dá razões poderosas para não ter medo e para esquecer a
vergonha do que fez. Essas razões não estão em seus ombros. Você se
esquecerá de sua vergonha por conta de quem Deus é e daquilo que ele fez
por você. Deus é o seu Redentor (Is 54:5). Um redentor entra pessoalmente
em uma situação dolorosa e obscura e a reverte. Ele transforma o mal em
bem. Ele transforma a escuridão em luz. Onde há vergonha, ele traz
misericórdia. E quando a misericórdia dele entra em sua vida, gratidão e
coragem substituem a vergonha.
E como Deus faz isso? Ele veio na pessoa de Jesus para redimir este mundo
— para redimir você. Ele entrou em nossa tristeza, pecado, doenças e dor e
colocou tudo sobre si mesmo. Ele morreu em uma cruz pelos seus pecados,
incluindo este que pesa sobre você agora. A promessa da misericórdia de
Deus está sobre o corpo abatido de seu Filho. A morte de Jesus é a sua
garantia de que, quando você vem até Deus e lhe confessa seus pecados, você
receberá misericórdia. O evangelho de Jesus Cristo é para aqueles que têm
consciência e admitem seus pecados (1 Jo 1:8-9).
Jesus não vai ao encontro de sua confissão com desprezo, censura,
julgamento ou condenação; e sim com perdão e bondade. A morte e
ressurreição de Jesus lhe garantem que Deus aceitará sua confissão e irá lhe
conceder perdão e proteção.
Porque Jesus pagou o preço dos seus pecados com a morte dele, você pode
pedir a Deus que a liberte e a proteja de ficar presa em um redemoinho de
vergonha e escuridão. Davi expressa esse sentimento da seguinte maneira: “A
ti, Senhor, elevo a minha alma. Em ti confio, ó meu Deus. Não deixes que eu
seja humilhado [...] Nenhum dos que esperam em ti ficará decepcionado” (Sl
25:1-3).
A vergonha faz com que você se sinta desprotegida, vulnerável e temerosa
de humilhação ao aparecer em público. Davi conhece esse sentimento, então
ele implora a Deus, “Guarda a minha vida e livra-me! Não me deixes
decepcionado, pois eu me refugio em ti” (Sl 25:20).

Deus vai redimir sua vida

Quando você se refugia em Deus, ele não apenas a liberta da culpa e da
vergonha, mas também reconstrói sua vida destruída. É fácil pensar que, por
causa de seu aborto, de alguma forma você perdeu o melhor de Deus para sua
vida. É verdade que o aborto tem consequências. Mas lembre-se do que
Corrie ten Boom, sobrevivente do Holocausto, disse certa vez: “Não há poço
algum tão profundo que o amor de Deus não possa alcançar”.
Milhares de anos atrás, Deus enviou seu povo para o exílio por causa dos
pecados deles. Mas eles não ficaram no exílio para sempre. Apesar dos
pecados, Deus disse ao seu povo: “‘Porque sou eu que conheço os planos
que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de
lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro’” (Jr 29:11).
Essas palavras também foram escritas para ajudar você. Deus tem um futuro
para você. A morte e a ressurreição de Jesus são sua garantia de que você
viverá eternamente com ele no céu. E Deus tem planos para você — planos
para o resto da sua vida, para abençoá-la e para fazer de você uma bênção
para outros.
É assim que Deus trabalha. Ele toma os corações quebrantados, os redime e
os torna frutíferos no seu Reino. Ele fez de Pedro, que o negou três vezes, um
dos pilares da igreja primitiva. Ele transformou Paulo, um homem que
assassinou muitos cristãos, em um missionário que trouxe a mensagem do
amor de Deus para o mundo então conhecido.
Ele também quer transformá-la em uma mulher que vai levar o perdão e a
esperança que você recebeu dele para outras pessoas. Talvez haja
consequências em sua vida por causa de seu aborto, mas elas vão cooperar
com os bons propósitos finais de Deus para a sua vida. Sua experiência vai
ser a porta que Deus vai usar para lhe dar um ministério frutífero que irá
abençoar outros.
Após confessar seu pecado a Deus, você não está mais debaixo de seu
julgamento. Deus pôs seu julgamento em Jesus. O mal visitou Jesus. Porque
seu julgamento foi posto sobre Cristo, você já não está mais condenada.
Então você pode se libertar do medo de que Deus irá puni-la ou de que ele
“se vingará” de você. E pode, com esperança, ver como Deus quer usá-la
para amar outros.
Estratégias práticas para a mudança
Acreditar no perdão, na aceitação e nos bons planos de Deus para você não
é algo que você faz apenas uma vez. Você precisa se lembrar e depender do
amor e perdão de Deus todos os dias, e então seguir em frente com fé. Aqui
estão algumas coisas que vão ajudá-la a lembrar do perdão de Deus, a
depender dele para se fortalecer e a andar pela fé.

Elabore sua própria liturgia

Quando aconselho aqueles que lutam com sentimentos profundos de
vergonha, culpa e remorso, eu geralmente sugiro que eles elaborem sua
liturgia pessoal. Fazer isso vai ajudá-la a pensar exatamente naquilo que vai
confessar a Deus e lhe dará palavras concretas para expressar sua mágoa e
dor quanto ao seu aborto. Eu adaptei essa liturgia da oração vespertina de
confissão geral do Livro de Oração Comum. Quando seus pensamentos e
sentimentos estão caóticos, essas palavras servem como um guia, um canal
para chegar à honestidade.
Use esta oração para expressar a gravidade do que aconteceu e para lembrá-
la de que as misericórdias de Deus são mais profundas do que aquilo que
você fez ou falhou em fazer. Leia essa oração e então reescreva-a usando suas
próprias palavras, a fim de poder expressar sua história para Deus.
Todo-Poderoso e mui misericordioso Pai, eu errei e me desviei dos Teus caminhos como uma
ovelha perdida.
Perceba que você está falando com alguém que é todo-poderoso e
misericordioso. Substitua a frase por como exatamente você se desviou do
caminho de Deus: “Em meu aborto; em minha imoralidade; ao ceder à
pressão dos outros; vivendo a minha vida de acordo com a minha própria
vontade; vivendo por conveniência; em não querer contrariar minha
educação, meu trabalho e minha carreira; em não querer encarar o fato de ser
uma mãe solteira”.
Eu segui demais os desejos do meu próprio coração.
Talvez você diga algo parecido com isso: “Parecia ser a decisão certa.
Parecia ser a única decisão possível. Parecia ser o que eu precisava fazer. Eu
achei que aquilo que todos me sugeriram era realmente o que eu devia fazer.
Eu me vi sem opções, mas ainda assim eu vejo agora que segui demais os
desejos do meu coração.”
Eu tenho ofendido a tua santa lei.
Quais leis de Deus você ofendeu? Mantenha seu foco naquelas sobre amor,
fidelidade e proteção à vida. Para ajudar, procure esses versos na Bíblia:
Is 49:14-16; Rm 13:9-10.
Eu não fiz aquilo que deveria ter feito, e eu fiz aquilo que não deveria ter feito. Eu não tenho
qualquer ânimo em mim.
Essas são palavras sérias e duras. São palavras graves. Sinta o peso delas,
mas continue lembrando quem é sua única ajuda e esperança.
Mas, ó Senhor, tenha misericórdia de mim, miserável pecadora. Livra-me da tua ira, Senhor,
eu que confessei meus erros. Restaura-me quando eu me voltar a ti, de acordo com as
promessas que o Senhor me fez em Cristo Jesus, meu Senhor.
A beleza do evangelho é que a nossa confissão está sempre ligada à
promessa da misericórdia de Deus. Quais são as promessas de Deus para
você? Aqui estão algumas para você levar no coração:

“Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13:5). Imagine: você nunca será
abandonada.

“O Senhor te abençoe e te guarde” (Nm 6:24). Imagine: Deus promete fazer o bem
para você, mantê-la sob os cuidados dele e protegê-la.

“O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça” (Nm 6:25).
Imagine: o Senhor promete iluminá-la com seu rosto resplandecente e ser
verdadeiramente bom para você.
“O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz” (Nm 6:26). Imagine: Ele promete
lhe dar paz e nunca se afastar de você.
 “Senhor, Senhor, Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e
fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o
pecado” (Êx 34:6-7). Volte-se para Deus com honestidade, e ele será todas essas
coisas para você. Imagine: alguém que é fiel, que nunca irá trai-la. Imagine: alguém
cujo amor é constante e comprometido. Imagine: aquele que poderia condená-la
resolve ser misericordioso e perdoador. Porque Deus é todas essas coisas, você pode
se voltar para ele honestamente.
“Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’”
(2Co 1:20). Jesus realiza todas essas promessas e mais. Porque Jesus a amou ao
máximo, foi para a cruz e pôs a sua culpa e vergonha sobre ele, você pode trazer
seus pecados à luz dele. Você pode pedir misericórdia a Deus porque ele promete ser
misericordioso com você. Você pode pedir hoje. Você pode pedir todo dia. Peça.

Conceda, ó Pai misericordioso, no nome de Jesus, que a partir daqui eu viva uma vida
reta, limpa e de acordo com o teu coração, para a glória do teu santo nome.
Você não apenas pode pedir perdão honestamente para Deus, como também
pode pedir forças para superar os desafios da vida:

“Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de

recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da
necessidade” (Hb 4:16). Perceba que Deus promete ajudá-la exatamente nas
situações em que você tem mais dificuldade, no seu tempo de necessidade.

“Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la
até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6). Mesmo quando a estrada parece difícil, Deus
continuará trabalhando em você.

E quando você vir Jesus face a face, você será mudada radicalmente para
ser eternamente como ele e para amá-lo. Então pense: como o amor de Deus
irá transformá-la para que você seja uma bênção para outros? Como a
gratidão sincera pelo perdão de Deus muda a sua vida? De que forma o poder
dele pode mudar sua vida? Pergunte-lhe sobre isso. Pergunte todos os dias.
Quando você for orar, lembre-se de que Deus promete misericórdia quando
você confessa seus pecados. Deus não deseja a morte de um pecador. Deus
deseja que você se volte para ele, e então, nas palavras da liturgia, “Ele
perdoa e absolve todos aqueles que verdadeiramente se arrependem”. “Se
arrepender” é um grande passo para se voltar para Deus. Quando você vai
até Deus com tudo o que você fez de errado em uma mão, e estendendo a
outra para alcançar misericórdia dele, você será curada. Deus diz, “Eu vi os
seus caminhos, mas vou curá-lo; eu o guiarei e tornarei a dar-lhe consolo”
(Is 57:18).

Confie no caráter de Deus

Algumas mulheres que passaram pelo aborto lutam com questões sobre
onde está o seu bebê agora. Essas são perguntas com as quais pensadores
cristãos já lidaram ao longo da história. Eu não posso prometer ter todas as
respostas para isso, mas há duas coisas importantes sobre as quais você
precisa refletir.
Primeiro, a resposta mais fundamentalmente sensata para essas perguntas é:
“Eu não sei. Eu não posso saber. Eu sei que Deus é bom. Eu sei que Deus é
misericordioso. Eu sei que os caminhos dele são mais altos que os meus. Mas
eu não sei.” Sua única opção é viver com o “eu não sei”, enquanto sua
confiança na bondade, no amor e na misericórdia de Deus cresce e se torna
mais profunda.
Saber que você louva o Senhor dos céus e da terra, que é completamente
justo e completamente misericordioso, que trabalha para redimi-la, irá enchê-
la com a segurança de que você pode confiar plenamente no caráter dele.
Você pode confiar que tudo o que Deus faz expressa perfeita justiça e perfeita
misericórdia.
Segundo, às vezes mulheres são encorajadas a criar um relacionamento
fantasioso com seu filho — dar um nome, imaginar que ele ou ela está em um
lugar melhor e talvez até conversar com seu bebê e pedir-lhe perdão. Ligada a
isso está a tentação de imaginar como poderia ter sido o futuro – como seriam
os primeiros passos, o primeiro dia de aula, a formatura do ensino médio, o
aniversário de vinte e um anos — e de viver em um mundo irreal. Mas Deus
não é um Deus de fantasias. Ele é um Deus de realidade. Por isso, o tempo
que você passa falando com seu filho ou imaginando o que ele ou ela poderia
ter feito é, na verdade, tempo perdido. Você está tentando lidar com sua dor
através da vivência em um mundo imaginário ao invés de ir até o Deus real
que lhe oferece misericórdia, perdão e esperança reais.
O resumo de tudo isso é o seguinte: Deus é maior que você, seu filho e seu
aborto, e ele planejará a sua vida para o bem. Você é chamada a confiar que a
mão que controla o volante do universo é uma boa mão. Sua paz e descanso
não virão de saber todas as respostas ou de sonhar fantasiosamente sobre
aquilo que não sabe. A paz virá quando você confiar que Deus é por você e
que ele é completamente confiável.

Encontre uma pessoa misericordiosa

Deus não deseja que você passe por essa luta profunda sozinha. Você
quebrou o silêncio que rodeia seu aborto através da sua confissão a Deus;
agora tome o próximo passo e encontre alguém com quem conversar sobre o
seu aborto — alguém que irá lembrá-la da misericórdia de Deus por você. A
misericórdia de Deus não se expressa apenas de forma individual, mas
através da comunhão com o povo de Deus. Torne-se parte da comunidade de
Deus e compartilhe a sua luta com uma ou duas pessoas em quem você
confia.
Não permita que seus sentimentos de vergonha a impeçam de trazer às
claras seu aborto e de receber a misericórdia de Deus e de outros.
Obviamente, você deve estar atenta a quem contar sobre o seu aborto. Você
não precisa contar sobre esse pecado a todos que você conhece, assim como
não precisa contar para todo mundo sobre qualquer outro pecado. Encontre
ao menos uma pessoa que a ouvirá, que a lembrará da promessa do perdão de
Deus e que irá orar com e por você.

Seja uma pessoa misericordiosa

 Uma das muitas maneiras que Deus usa para transformar o mal em bem é
fazendo de você uma pessoa verdadeiramente útil para outras que estão
pensando em realizar o aborto ou que estão sofrendo depois de passarem por
um. Pense em tudo que você tem a oferecer para outras mulheres. Você sabe
exatamente como elas se sentem. Você sabe como é a sedução do aborto.
Você sabe como é a luta com a culpa, o silêncio, a raiva e o remorso. Você
sabe onde a esperança está — em Jesus. Você pode se tornar aquela criação
especial de Deus — uma pessoa que é ao mesmo tempo compassiva e
realista. De certa forma, você pode se tornar um instrumento de Deus. Ele irá
usá-la na vida de outras porque você está se tornando cada dia mais parecida
com ele! Fique atenta às oportunidades de se colocar ao lado de mulheres que
vivem a luta que você viveu. Com a sua experiência, você poderá confrontá-
las com a verdade de Deus e confortá-las com a misericórdia de Deus de uma
maneira que poucas pessoas podem.
Seu aborto trouxe uma grande tristeza para sua vida, mas Deus tem poder
para redimi-la e para transformá-la em uma mulher que o ama e que leva o
amor dele para outras pessoas. Quando você se volta para Deus em confissão
e pede a ele por misericórdia, ele promete fazer “infinitamente mais do que
tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em
nós” (Ef 3:20).
 Simples, Prático, Bíblico
Abordando temas como divórcio, suicídio, homossexualidade, transtorno
bipolar, depressão, pais solteiros e outros, os livros da série Aconselhamento
oferecem orientação bíblica para pastores e conselheiros que lidam com esses
assuntos difíceis em seus ministérios, e para pessoas que experimentam essas
situações de lutas e sofrimento em seus diversos contextos de vida. Leia-os,
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