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Acórdãos TRE Acórdão do Tribunal da Relação de

Évora
Processo: 405/19.3T8FAR.E1
Relator: JOSÉ MANUEL BARATA
Descritores: PRINCÍPIO DA IGUALDADE
JUNÇÃO DE DOCUMENTOS NA AUDIÊNCIA
Data do Acordão: 11-02-2021
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Sumário: I.- O princípio da igualdade de armas, tal como o do contraditório,
constitui manifestação do princípio geral da igualdade das partes, que
implica a paridade simétrica das posições das partes perante o tribunal –
artigo 4.º CPC.
II.- Se o tribunal admitiu um documento para prova da tese da ré e não
admite um documento que se refere à mesma matéria controvertida em
discussão na audiência de julgamento, viola o princípio da igualdade
substancial das partes, designadamente quanto ao uso de meios de defesa,
preconizado pelo artigo 4.º do CPC.
(Sumário do Relator)
Decisão Texto Integral:
Procº 405/19.3T8FAR.E1

Acordam os Juízes da 2ª Secção Cível do Tribunal da


Relação de Évora

Recorrentes: (…) – Edição de Publicações, Lda.

Recorridos: (…) – Engenharia e Construção, Lda.


*
No Tribunal Judicial da Comarca de Faro, Juízo Central
Cível de Faro - Juiz 2, foi proposta ação declarativa de
condenação por (…) – Edição de Publicações, Lda.,
contra (…) – Engenharia e Construção, Lda. tendo
sido realizado julgamento e proferida sentença, da qual
recorreram autora e ré.
Contudo, previamente, em sede de audiência de
julgamento, a ré requereu a junção de um documento,
que não foi admitido, tendo a autora recorrido também
desta decisão, pelo que previamente à apreciação dos
recursos da decisão final importa apreciar o recurso
interlocutório
O despacho proferido em audiência é o seguinte:
“Relativamente ao documento de fls. 840 e repetido a fls. 848, o Tribunal não admite
a sua junção aos autos, em virtude de entender que está em causa um depoimento por
escrito, que não foi solicitado nos autos, nem determinado pelo Tribunal, para além de
a sua junção ser extemporânea e o Tribunal entender que não deverá determinar a
junção oficiosa, ao abrigo do disposto no artigo 411.º do C.P.C., considerando o acima
referido.
Quanto aos documentos de fls. 822 a 829 e 840 verso, por poderem vir a assumir
relevância para a boa decisão da causa, nos termos do disposto no artigo 411.º do
C.P.C., admito a sua junção aos autos.
Notifique.”
*
Não se conformando com o decidido, a (…), Lda.
recorreu do despacho, formulando as seguintes
conclusões, que delimitam o objeto do recurso, sem
prejuízo das questões de conhecimento oficioso, artigos
608º/2, 609º, 635º/4, 639º e 663º/2 do CPC:
A) Juntos pelas partes dois documentos, um por cada
uma delas, em que ambos são comunicações de
terceiros, não intervenientes processuais, dirigidas aos
legais representantes daquelas, tendo por objeto
aspetos da obra discutida nos autos, não pode um deles
não ser aceite por se tratar de um depoimento por
escrito não solicitado nos autos, nem determinado pelo
Tribunal, e o outro não merecer igual qualificação;
B) Relativamente a esses mesmos documentos, ambos
juntos no mesmo momento processual (resposta com
apreciação a documentos juntos aos autos por iniciativa
do Tribunal), não pode um ser considerado
extemporâneo, e o outro não merecer igual
qualificação;
C) A circunstância do Tribunal ordenar a junção de
documentos ao abrigo do disposto no artigo 411.º do
CPC radica num juízo de valor de que os mesmos
podem ter relevância para a boa decisão da causa;
D) Assim sendo, não pode ser fundamento para a não
junção oficiosa, ao abrigo daquele normativo, a
circunstância do documento que se pretende juntar ser
um depoimento por escrito não solicitado nos autos,
nem determinado pelo Tribunal, e a sua junção ser
extemporânea;
E) O tratamento dado pelo Tribunal nas situações
supra descritas em A) e B), constitui violação do
princípio da igualdade das partes, o qual deve nortear
toda a atividade processual;
F) Sendo efetuada a junção de documentos pelas
partes, no mesmo momento processual, e tendo esses
mesmos documentos iguais características formais e
substanciais, têm ambos que ser aceites, ou ambos não
aceites, sempre com igualdade de fundamentos para
uma ou outra decisão;
G) Ao proferir o despacho recorrido pela forma como
o fez, o Tribunal a quo violou o disposto nos artigos 4.º
e 411.º do CPC.

*
Foram dispensados os vistos.
*
A questão que importa decidir é a de saber se o
despacho em crise violou o princípio da igualdade das
partes e o direito à prova.
*
A matéria de facto a considerar é a que consta do
relatório inicial, bem como:
1.- O documento que a recorrente/autora requereu
juntar aos autos e cuja junção foi indeferida, sendo do
seguinte teor:
“Caro Sr. (…)
Conforme solicitado, informamos que fornecemos à empresa (…),
Lda. para a sua obra sita em Vilamoura – Algarve, três
encomendas de pedra calcária, na variante Cabela de Veado que
foram fabricados/transformados pela nossa empresa segundo as
vossas medidas e especificações, para revestimentos interiores e
exteriores.
A pedra calcária, na designação “Cabeça de Veado” é uma
pedra branca que nestas encomendas levaram um areado que é
utilizado em revestimentos exteriores, horizontais ou verticais,
pela nobreza do produto e pela sua durabilidade.
Recordamos que a grande maioria dos monumentos em Portugal
são revestidos e até construídos em pedra calcária.
Nomeadamente o Mosteiro da Batalha, o de Alcobaça,
Jerónimos são alguns dos exemplos das várias centenas de edifícios
estatais e privados existentes em Portugal com recurso a este
material.
Os problemas que surgiram na vossa encomenda já foram
analisados e a causa identificada foi a deficiente aplicação dos
mesmos. A aplicação da cola foi feita em apenas dois ou três
pontos da peça, e não houve um barramento uniforme da cola,
como é hábito. Mais informamos também que o processo de
aplicação bem como a cola a ser utilizada foi explicado por nós
ao empreiteiro.
Com os melhores cumprimentos.”
2.- A recorrida também requereu a junção de um
documento no mesmo momento processual,
documento cuja junção foi deferida e que é do seguinte
teor:
“Exmos. Senhores.
Os nossos melhores cumprimentos,
Somos por este meio a informar que realizamos no lote 69 –
(…) em Vilamoura, trabalhos de impermeabilização para
empresa (…) – Engenharia e Construção, Lda.
Estes trabalhos foram realizados segundo as melhores práticas de
impermeabilização e usando materiais de qualidade.
Voltámos a realizar trabalhos de impermeabilização na mesma
obra para a empresa (…) – Unipessoal, Lda.
Estes trabalhos foram realizados devido a danos provocados na
impermeabilização com a substituição dos
pavimentos/revestimentos existentes.
Mais informamos que todos os terraços foram testados com água
(Teste Hidrostático) após ambas as intervenções.
Com os melhores cumprimentos.”
3.- Na ação a autora pediu que seja:
i. declarado resolvido o contrato de empreitada celebrado entre as
partes;
ii. a Ré condenada a restituir à Autora a quantia de €
85.000,00, resultante de trabalhos pagos e não realizados;
iii. a Ré condenada a pagar à Autora a quantia de €
280.000,00, a título de indemnização pelos demais danos
patrimoniais sofridos em consequência do incumprimento da Ré,
sendo € 160.000,00 pela privação do uso do imóvel e €
120.000,00 de indemnização para reparação dos defeitos da
obra.
A R. contestou e reconveio pedindo a condenação da autora no
pagamento da quantia de € 67.396,11.
***
Conhecendo.
O thema decidendum que parece perfunctoriamente estar
em causa na presente ação é um contrato de
empreitada, neste âmbito, ocorre normalmente uma
diferente interpretação das partes relativamente aos
trabalhos efetuados e não efetuados, a qualidade e
perfeição desses trabalhos, etc.
Na fase de julgamento, as partes exibem e produzem as
provas de que dispõem para sustentar as respetivas
teses, quer para a qualificação da relação jurídica que se
estabeleceu quer para sustentar as suas posições
factuais.
É neste âmbito que se inscreve o requerimento para
junção do documento e o despacho que o apreciou.
No documento, cuja junção não foi admitida, estão em
causa questões relativas a revestimentos exteriores,
horizontais ou verticais, fornecendo-se informação acerca
da sua qualidade e modo de aplicação, tendo o tribunal
entendido que estas informações constituíam um
depoimento por escrito que não havia sido solicitado
pelo tribunal e, por isso, foi indeferida a sua junção.
Contudo, no mesmo momento processual do
julgamento, a parte contrária havia também solicitado a
junção de um documento cuja junção foi admitida, por
poder vir a assumir relevância para a boa decisão da
causa, nos termos do disposto no art.º 411.º do CPC,
documento que se referia exatamente ao mesmo
conjunto de factos.
Neste documento também se discorria acerca de
substituição e impermeabilização de pavimentos e revestimentos.
A recorrente insurge-se contra esta diferença de
apreciação de dois requerimentos substancialmente
idênticos, mas que mereceram apreciação oposta pelo
tribunal, invocando a violação do princípio ínsito no
artigo 4.º do CPC – igualdade das partes.
Logo, não está sequer em causa saber se o documento
foi apresentado no momento processualmente
adequado e se interessa à boa decisão da causa.
A questão é anterior a esta apreciação porque se
circunscreve em saber se o tribunal, neste momento
processual, garantiu um estatuto de igualdade
substancial das partes, designadamente no uso de meios
de defesa, como obriga o citado preceito.
O princípio da igualdade das partes é fonte do
subprincípio do contraditório e encontra consagração
no artigo 4.º do CPC: O tribunal deve assegurar, ao longo de
todo o processo, um estatuto de igualdade substancial das partes,
designadamente no exercício de faculdades, no uso de meios de
defesa e na aplicação de cominações ou de sanções processuais.
Daqui deriva também o princípio da igualdade de
armas que impõe o equilíbrio entre as partes ao logo de
todo o processo, na perspetiva de permitir às partes
idênticas oportunidades para expor as suas razões e
convencer o tribunal a proferir uma decisão que lhes
seja favorável.
Como é evidente, também aqui a igualdade entre as
partes nunca poderá atingir o absoluto, como o
reconhece Lebre de Freitas, in Introdução ao Processo
Civil, Conceito e Princípios Gerais à Luz do Código
Revisto, Ed. 1996, pág. 105, “O princípio da igualdade de
armas, tal como o do contraditório, constitui
manifestação do princípio mais geral da igualdade das
partes, que implica a paridade simétrica das suas
posições perante o tribunal. No que particularmente
lhe respeita, impõe o equilíbrio entre as partes ao longo
de todo o processo, na perspetiva dos meios
processuais de que dispõem para apresentar e fazer
vingar as respetivas teses: não implicando uma
identidade formal absoluta de todos os meios, que a
diversidade das posições das partes possibilita, exige,
porém, a identidade de faculdades e meios de defesa
processuais das partes e a sua sujeição a ónus e
cominações idênticos, sempre que a sua posição
perante o processo é equiparável, e um jogo de
compensações gerador do equilíbrio global do
processo, quando a desigualdade intrínseca de certas
posições processuais leva a atribuir a uma parte meios
processuais não atribuíveis à outra.”
Entendimento que mantém no CPC Anotado, Vol. 1.º,
4ª Ed., 2018, pág. 33 em anotação ao artigo 4.º: “é da
natureza do próprio processo alguma diversidade das
posições das partes (…), à ideia de identidade formal
absoluta de meios e efeitos substitui-se a de um jogo de
compensações gerador do equilíbrio global do
processo, sempre que a desigualdade objetiva intrínseca
de certas posições processuais leve a atribuir a uma
parte meios ou sujeitá-la a efeitos não atribuíveis à
outra”.
Também Teixeira de Sousa nos Estudos Sobre o Novo
Processo Civil, 2ª Ed., 1997, pág. 42 ensina que “Um
primeiro problema suscitado pelo artigo 3.º-A (atual
artigo 4.º) e pela referida igualdade substancial entre as
partes é o de que nem sempre é viável assegurar essa
igualdade. Em certos casos, não é possível ultrapassar
certas diferenças substanciais na posição processual das
partes; noutras hipóteses não é possível afastar certas
igualdades formais impostas pela lei.
A posição processual das partes é, em muitos dos seus
aspetos, substancialmente distinta. Por exemplo: o
autor escolhe, normalmente segundo o seu arbítrio, o
momento da propositura da ação e o réu tem sempre
um prazo limitado para apresentação da sua defesa (…)
o que origina uma desigualdade substancial entre as
partes a favor do autor.”
Noutra vertente, os princípios da igualdade de armas e
das partes, não se pode confundir com uma atitude
assistencialista do tribunal relativamente à parte mais
fraca.
Se o juiz entender que, para cumprir o dever de
procurar a verdade material e não apenas a verdade
processual ou formal, decidir ouvir uma testemunha ou
mandar juntar um documento que, afinal, favorece a
parte mais forte, mesmo assim está obrigado a mandar
produzir tal prova.
Isto significa, como sublinha Teixeira de Sousa, ob. cit.,
pág. 44, que “a expressão do princípio da igualdade
deve ser procurada fora daqueles poderes instrutórios
ou inquisitórios, o que de modo algum exclui um amplo
campo de aplicação desse princípio. Esta aplicação
verifica-se tanto no conteúdo positivo, que impõe ao
tribunal um dever de construir a igualdade das partes,
como no conteúdo negativo, que o proíbe de originar,
pela sua conduta, uma desigualdade entre as partes.”
Regressando agora ao caso dos autos, confrontamo-nos
com o facto de estar em discussão na audiência
factualidade relativa a pavimentos e revestimentos, que
terão sido aplicados na obra em questão.
A ré requereu então a junção de um documento para
prova da matéria em apreciação, junção que foi
admitida por relevante para a boa decisão da causa.
Do mesmo passo, a autora requereu também a junção
de um documento para prova da sua tese quanto à
mesma factualidade.
Este documento não foi admitido, porque, no entender
do tribunal se tratava de um depoimento “por escrito,
que não foi solicitado nos autos, nem determinado pelo
Tribunal, para além de a sua junção ser extemporânea e
o Tribunal entender que não deverá determinar a
junção oficiosa, ao abrigo do disposto no artigo 411.º
do CPC”.
Ora, parece quase uma evidência que ambos os
documentos se referem à mesma questão controvertida
que se discutia na audiência, o que implica um efeito
quase direto do despacho que admitiu a junção do
primeiro documento, o oferecido pela ré, e obriga à
admissão do documento do mesmo teor cuja junção foi
pedida pela autora.
O tribunal já havia apreciado a pertinência,
tempestividade e necessidade do primeiro documento
para a defesa da tese da ré, o que tem como
consequência dever esta apreciação ser exatamente a
mesma quanto à pertinência, tempestividade e
necessidade da junção do documento da autora, porque
também procura defender a sua tese nos mesmos
moldes em que o fez a ré e sobre o mesmo conjunto de
factos.
De outo modo, a igualdade das partes não é
conseguida, porque o princípio fica carente de
conteúdo substancial no sentido positivo (dever de
promover a igualdade) e negativo (proibição de originar
desigualdade), como acima referido.
O que equivale a dizer que foi violado o princípio da
igualdade das partes, na vertente do uso de meios iguais
de defesa.
Com efeito, com a admissão da junção do documento
em causa, o tribunal não fica colocado na posição
assistencialista acima referida, nem a posição das partes
é de tal forma distinta que impeça o tribunal de garantir
a igualdade de armas, nem tal lhe é imposto pela lei.
Assim sendo, mostrando-se violado o princípio da
igualdade de armas e da igualdade das partes,
preconizado pelo artigo 4.º do CPC, a decisão é nula, o
que implica a nulidade dos atos subsequentes, onde se
inclui a sentença e atos subsequentes, nos termos do
artigo 195.º/2, do CPC: Quando um ato tenha de ser
anulado, anulam-se também os termos subsequentes que dele
dependam absolutamente; (…) como é o caso da sentença
que não apreciou toda a prova oferecida em
julgamento.
Em consequência, a apreciação das restantes questões
suscitadas fica prejudicada, porque os atos praticados
após o indeferimento do requerimento de prova terão
de ser anulados e substituídos por outros que incluam o
documento em causa oferecido pela autora, bem como
a produção de outras eventuais provas que o tribunal
considere úteis à descoberta da verdade, em função da
junção do documento.
No mesmo sentido, Ac. TCAS de 21-09-2017, Procº
305/16.9BELSB:
I. - O princípio da igualdade de armas impõe o equilíbrio entre as partes ao longo de
todo o processo, na perspetiva dos meios processuais de que dispõem para apresentar e
fazer vingar as respetivas teses: não implicando uma identidade formal absoluta de
todos os meios, que a diversidade das posições das partes impossibilita, exige, porém, a
identidade de faculdades e meios de defesa processuais das partes e a sua sujeição a ónus
e cominações idênticas, sempre que a sua posição perante o processo é equiparável, e um
jogo de compensações gerador do equilíbrio global do processo, quando a desigualdade
objetiva intrínseca de certas posições processuais leva a atribuir a uma parte meios
processuais não atribuíveis à outra.
II.- Há que previamente determinar se as situações devem ser consideradas iguais ou
desiguais para depois lhes dar o mesmo ou diverso tratamento. Há que surpreender a
ratio do tratamento jurídico. Daí a indispensável conexão entre o critério material que
vai qualificar o igual e o fim visado no tratamento jurídico, que terá de ser razoável e
suficiente. Tudo para evitar o arbítrio: tudo o que é injusto, desconexo e violador do
fim. (…)
Quanto à junção de documentos em audiência, cfr. Ac.
TRP de 02-07-2020, Paulo Duarte Teixeira, Procº
285/14.5TVPRT.P1:
I- A junção de documentos no decurso da audiência pressupõe, além do mais, a
existência de uma ocorrência posterior fundada.
IV – (…) os documentos devem ser juntos ao abrigo do principio do inquisitório se o
interesse destes para a decisão da causa for superior às desvantagens provocadas na sua
tramitação e afectação do direito de defesa da parte contrária.
V - A utilização desse poder dever não afecta a independência do tribunal, pois, este
desconhece e é alheio aos efeitos concretos da decisão; exerce um poder dever e visa
carrear para os autos todos os elementos para uma decisão conforme com a realidade.

E Ac. TRE de 18-01-2021, Tomé de Carvalho, Procº


2130/17.0T8EVR-B.E1:
1 – Só devem ser admitidos aos autos documentos para fazer prova de fundamentos da
acção ou da defesa e não quaisquer outros irrelevantes para a boa decisão da causa.
2 – A admissão de documentos é baseada num juízo de prognose abstracto e o que
importa nessa avaliação é que os elementos juntos tenham potencial relevância para
prova de factos objecto do litígio.
3 – Os documentos devem ser apresentados, em princípio, com os articulados em que
são alegados factos, embora ainda possam ser juntos, sem outros entraves, até 20 dias
antes da audiência final, sujeitando-se a parte apenas ao pagamento de uma multa, tal
resulta do texto do n.º 2 do artigo 423.º do Código de Processo Civil. Fora deste limite
temporal a respectiva admissão tem de resultar de superveniência objectiva ou subjectiva
ou por via de necessidade de ocorrência posterior.
***
Sumário:
(…)

***
DECISÃO.
Em face do exposto, a 2ª Secção Cível do Tribunal da
Relação de Évora julga a apelação da recorrente (…),
Lda. procedente, quanto ao despacho que indeferiu a
junção de um documento em audiência de julgamento,
e anula-se este despacho que deve ser substituído por
outro que o admita, bem como a produção de outras
eventuais provas que o tribunal considere úteis à
descoberta da verdade, em função da junção do
documento.
Anulam-se, em consequência, todos os atos processuais
subsequentes, onde se inclui a sentença proferida.
Custas pela recorrida – artigo 527.º CPC
Notifique.
***
Évora, 11-02-2021
José Manuel Barata (relator)
Conceição Ferreira
Emília Ramos Costa

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