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RESULTADOS

Para a criação e consolidação deste artigo de revisão, foram coletadas


informações bibliográficas de artigos de revistas científicas e estudos acerca
dos temas Mycobacterium leprae e Hanseníase. As fontes foram trabalhos
realizados no período entre 2017 e 2019, em plataformas de pesquisas
científicas, como Scielo e Google Acadêmico, com predominância da língua
portuguesa.
Confirma-se que a busca ativa por pacientes índices, bem como
rastreamento das ligações sociais do indivíduo (familiares e comunidade no
geral) com consequentes diagnósticos precoces, são maneiras eficazes de
diminuir a disseminação da Mycobacterium leprae. De modo que, com
diagnóstico e posterior início do tratamento, há a redução da transmissão da
doença.
Quanto à introdução da terapia pós- exposição, é realizada
quimioterapia com administração de anti-hansênicos, com esquemas de terapia
variando em tipos de medicamento e período de administração. Outrossim, há
fortes evidências de que esta introdução de quimioprofilaxia pós- exposição
com o fármaco rifampicina, gera um potencial de proteção à indivíduos
expostos.
Ainda, de modo profilático, quanto à vacina, indivíduos com hanseníase
que receberam a vacina BCG na infância, foram revacinados a fim de
experienciar pesquisas que afirmam que múltiplas vacinações da BCG
promoveriam extra-proteção contra o M. leprae. Porém, não houve eficácia
contra a turbeculoso, além de outros estudos indicarem que a revacinação
pode acelerar a infecção.
Por fim, também há estudo que aponta a disponibilidade de novas
tecnologias de indutores de T-helper 1 para uso em vacinas contra
Mycobacterium. Esses indutores aumentariam as respostas das células T,
coligando técnicas imunológicas e moleculares, para geração de células T
específicas capazes de rastrear fragmentos genético da bactéria, sendo uma
possibilidade de futura profilaxia vacinal contra hanseniase.
DISCUSSÃO

1. Aspectos gerais do Mycobacterium Leprae

Em 1873, o médico norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen


descobriu o agente causador da Lepra, o bacilo Mycobacterium leprae, quando
demonstrou a existência científica do caráter infectocontagioso da doença. Em
sua homenagem, na década de 70, a então Lepra passou a ser denominada de
Hanseníase, ou ainda, de mal de Hansen. (1)

O M. leprae é uma actinobactéria, conhecida como agente etiológico da


Hanseníase, pertencente ao reino Monera, ordem Actinomycetales, família
Mycobacteriaceae, do gênero Mycobacterium. Caracteriza-se como um
parasita intracelular obrigatório, produzindo lesões cutâneas e neurológicas.
Durante o curso da infecção, o M. leprae infecta macrófagos e gera uma
resposta inflamatória (granulomatosa), bem como, células do sistema nervoso
periférico, ocasionando inflamação (neurite) e consequentes danos aos nervos
periféricos. (1)

São bactérias aeróbicas, imóveis, com reprodução binária lenta e que se


dividem apenas a cada 12 dias, altamente patogênicas, mas geralmente só
afetam indivíduos imunocomprometidos, permanecendo assintomáticas em
grande parte da população. Caracterizam-se pela sua álcool-ácido resistência o
que impede a sua coloração pela técnica de Gram normalmente utilizada para
outras bactérias, devido ao alto teor de lipídeos na parede celular. Coram-se
através da coloração de ZiehlNeelsen à frio, adquirindo uma tonalidade
avermelhada. (1)

O M. leprae apresenta um período de incubação longo, que dura em


média de 2 a 7 anos, podendo ocorrer em períodos mais curtos, de 7 meses,
como também mais longos, de 10 anos. A temperatura ótima de crescimento é
em torno de 20ºC, tendo menor viabilidade com o aumento dessa temperatura,
motivo pelo qual, 15 acredita-se que a bactéria habita regiões mais frias do
corpo como a mucosa nasal. Fora do hospedeiro, em fragmentos de biópsia, o
bacilo pode sobreviver por cerca de 10 dias em uma temperatura de 4ºC, mas
ao ser submetido a processos de esterilização, como autoclavação e
pasteurização, pode ser eliminado. Não se reproduz em meios de cultura,
como outras micobactérias, restringindo-se a inoculação em algumas espécies
de modelos vivos de animais. (1)

O exame baciloscópico do raspado intradérmico é o método mais


utilizado pela facilidade na execução, pouco invasivo e de baixo custo. Ele é
solicitado pelo médico para diagnóstico diferencial, ou com suspeita de recidiva
da doença (BRASIL, 2010). A baciloscopia compreende raspado dérmico de
lesão, lóbulos das orelhas e cotovelos, realizada através do método de Ziehl-
Neelsen, a qual avalia os índices baciloscópico e morfológico. (2)
O índice baciloscópico evidencia o número de bacilos em uma escala
logarítmica entre 0 e 6+, onde os multibacilares é positiva, favorecendo no
diagnóstico; os paucibacilares é regularmente negativa. O percentual de
bacilos íntegros em relação ao total dos bacilos examinados constata
viabilidade bacilar. Os íntegros, ou seja, viáveis, evidenciam-se totalmente
corados em vermelho e manifestam nos casos sem tratamento ou recidivas. Os
fragmentados destacam pequenas falhas na parede e os granulosos, grandes
falhas revelando, respectivamente, fragmentos ou pontos corados em
vermelho. São inviáveis e observados em pacientes tratados (LASTÓRIA et al.,
2012; BARRETO, 2014).
(2)

Referências
1 - Pessoa, Márcia Maria Solino Freitas de Souza. Hanseníase no Brasil: uma
revisão literária, nos anos de 2014 a 2019.
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/9491/1/Hanseniase_Pess
oa_2019.pdf
2 - Ocorrência da hanseníase no Brasil e os principais métodos de diagnósticos
laboratoriais
MOTA, M. S. A.; VILA NOVA, V. A.; ANDRADE, S. P.; SILVA, B. L. B.;
FERREIRA, D. O.
http://sustenere.co/index.php/sciresalutis/article/view/SPC22369600.2017.002.0
002/1080
2. Relevância clínica, importância e limitações do estudo

A busca ativa de casos envolve alcançar contatos de pacientes-índice e


examiná-los quanto a sinais de hanseníase. Contribui para o diagnóstico
precoce e é, portanto, um meio eficaz de reduzir o risco de incapacidade em
pacientes com hanseníase e de coibir a transmissão de M. leprae. 1 A triagem
deve ser restrita às pessoas cujo contato com o paciente índice durou muitas
2
horas por semana durante um período de vários meses. O rastreamento de
contato pode ser restrito a membros da família ou incluir vizinhos ou contatos
sociais do paciente índice, dependendo dos recursos disponíveis, fatores
epidemiológicos locais e o grau de estigma na comunidade. O rastreamento do
contato deve ser realizado o mais rápido possível após a confirmação da
hanseníase em um paciente índice e após o primeiro mês de tratamento com
MDT. 3
Com relação à quimioterapia pós-exposição, vários medicamentos anti-
hansênicos administrados em diferentes combinações e regimes foram
testados em ensaios clínicos quanto à sua capacidade de reduzir o risco de
contatos desenvolverem a doença.4 A evidência mais robusta até o momento
confirmando o potencial protetor da quimioprofilaxia pós-exposição em contatos
de pacientes índice vem de um estudo randomizado, duplo-cego e controlado
por placebo em Bangladesh, no qual uma única dose de rifampicina
administrada a contatos de pacientes com hanseníase reduziu o incidência de
hanseníase entre os contatos em 57% (IC 95%: 33-72%) nos primeiros 2 anos
do estudo.5 Vacinação com Bacille Calmette-Guérin (BCG) ao nascimento ou
mais tarde também demonstrou fornecer um certo grau de proteção contra a
6 7
hanseníase que aumenta o efeito protetor da rifampicina em dose única. O
estudo de Bangladesh mostrou que a rifampicina em dose única administrada a
contatos de pacientes com índice de hanseníase que receberam BCG na
infância reduziu o risco de hanseníase entre os contatos em 80% (IC 95%: 50–
92%). 36
Em alguns países, pacientes com hanseníase vacinados com BCG na
infância foram revacinados com BCG com base nas evidências de vários
estudos de que a vacinação múltipla com BCG pode aumentar a proteção
contra M. leprae. 35,46
Essa estratégia, no entanto, não foi eficaz contra a
52-54
tuberculose e as diretrizes da OMS não apoiam a revacinação BCG.
Alguns estudos até sugerem que a vacinação ou revacinação BCG pode
39,55
acelerar o aparecimento da hanseníase PB.
Adjuvantes indutores de Th1 inovadores já estão disponíveis para uso
57
em vacinas contra tuberculose e toda uma nova geração de adjuvantes
capazes de aumentar as respostas das células T está agora em estágios
56
avançados de desenvolvimento. Uma nova estratégia para produzir uma
nova geração de vacinas contra hanseníase combina técnicas imunológicas e
58,59
moleculares. As células T específicas do antígeno têm sido usadas para
rastrear centenas de M. leprae fragmentos de genes para uso potencial em
uma vacina. 58

Referências
1 Smith CS, Noordeen SK, Richardus JH, et al. Uma estratégia para
interromper a transmissão da hanseníase. Lancet Infect Dis 2014; 14 ( 2): 96-8.
2 Moet FJ, Pahan D, Schuring RP, Oskam L, Richardus JH. Distância
física, relação genética, idade e classificação da hanseníase são fatores de
risco independentes para hanseníase em contatos de pacientes com
hanseníase. J Infect Dis 2006; 193 ( 3): 346-53.
3 QUEM. Estratégia Global para a Hanseníase 2016 - 2020. Acelerando
em direção a um mundo sem hanseníase. Genebra: Organização Mundial da
Saúde, 2016.
4 Bakker MI, Hatta M, Kwenang A, et al. Prevenção da hanseníase com
rifampicina como quimioprofilaxia. Am J Trop Med Hyg 2005; 72 ( 4): 443-8
5 Moet FJ, Oskam L, Faber R, Pahan D, Richardus JH. Um estudo sobre
transmissão e um ensaio de quimioprofilaxia em contatos de pacientes com
hanseníase: desenho, metodologia e achados de recrutamento do COLEP.
Lepr Rev 2004; 75 ( 4): 376-88.
6 Karonga Prevention Trial Group. Ensaio controlado randomizado de
BCG único, BCG repetido ou BCG combinado e morto Mycobacterium leprae
vacina para a prevenção da lepra e da tuberculose no Malawi. Lanceta 1996;
348 ( 9019): 17-24.
7 Moet FJ, Pahan D, Schuring RP, Oskam L, Richardus JH. Distância
física, relação genética, idade e classificação da hanseníase são fatores de
risco independentes para hanseníase em contatos de pacientes com
hanseníase. J Infect Dis 2006; 193 ( 3): 346-53.
36 Schuring RP, Richardus JH, Pahan D, Oskam L. efeito protetor da
combinação de vacinação BCG e profilaxia com rifampicina na prevenção da
hanseníase. Vacina 2009; 27 ( 50): 7125-8.
57 van Dissel JT, Joosten SA, Hoff ST, et al. Um novo sistema adjuvante
lipossomal, CAF01, promove uma vida longa Mycobacterium tuberculosis-
respostas específicas de células T em humanos. Vacina 2014; 32 ( 52): 7098-
107.
56 Reed SG, Orr MT, Fox CB. Principais papéis dos adjuvantes nas vacinas
modernas. Nat Med 2013; 19 ( 12): 1597-608
58 Duthie MS, Goto W, Ireton GC, et al. Respostas de células T antígeno-
específicas de pacientes com hanseníase. Clin Vaccine Immunol 2008; 15
( 11): 1659-65.
59 Duthie MS, Reece ST, Lahiri R, et al. As respostas celulares e humorais
específicas do antígeno são induzidas por via intradérmica Mycobacterium
leprae infecção da orelha do rato. Infect Immun 2007; 75 ( 11): 5290-7.
35 Karonga Prevention Trial Group. Ensaio controlado randomizado de BCG
único, BCG repetido ou BCG combinado e morto Mycobacterium leprae vacina
para a prevenção da lepra e da tuberculose no Malawi. Lanceta 1996; 348
( 9019): 17-24.
46 Convit J, Sampson C, Zuniga M, et al. Ensaio imunoprofilático com
combinação Mycobacterium leprae / Vacina BCG contra hanseníase:
resultados preliminares. Lanceta 1992; 339 ( 8791): 446-50.
52 Barreto ML, Pereira SM, Ferreira AA. Vacina BCG: eficácia e indicações
para vacinação e revacinação. J Pediatr (Rio J) 2006; 82 ( 3 Suplemento): S45-
54.
54 Anônimo. Programa global de tuberculose e programa global de vacinas.
Declaração sobre a revacinação BCG para a prevenção da tuberculose. Wkly
Epidemiol Rec 1995; 70 ( 32): 229-31.
39 Richardus RA, Butlin CR, Alam K, Kundu K, Geluk A, Richardus JH.
Manifestações clínicas da hanseníase após a vacinação com BCG: um estudo
observacional em Bangladesh. Vacina 2015; 33 ( 13): 1562-7.
55 Duppre NC, Camacho LA, Sales AM, et al. Impacto da soropositividade
para PGL-I no efeito protetor da vacinação BCG entre contatos com
hanseníase: um estudo de coorte. PLoS Negl Trop Dis 2012; 6 ( 6): e1711.

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