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ITA T-19(​ Felipe Guimarães​) 

Introdução
Meu nome é Felipe, e sou da T-19 do ITA, ou seja, entrei lá em
2015 e me formei no final de 2019. Esse texto é um resumo sobre
minha experiência lá, onde vou tentar analisar os pontos
positivos e negativos de se estudar no ITA, para que outras
pessoas que queiram estudar lá possam tomar uma decisão mais
informada e consciente, visto que a própria escolha de se tentar
estudar para o vest
Um alerta é que esse é um texto de opinião minha e de alguns
colegas, apesar de eu estar como único autor. Então, como
sempre é bom lembrar, não use a nossa opinião como absoluta e
procure conversar com outras pessoas e obter o máximo de
informação possível de outras fontes. A ideia é simplesmente
escrever um texto que contenha todas as informações que eu
gostaria de ter lido seis anos atrás, quando decidi que iria fazer o
vestibular do ITA.
 

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Motivos para ir pro ITA


Nessa sessão, vou tentar colocar os principais motivos pelos
quais acho que vale a pena ir para o ITA, ou seja, os principais
pontos positivos da instituição comparada com outras
universidades de ponta no Brasil.

Carreira Militar
No ITA, existe a opção de seguir a carreira militar quando se
formar, ao invés de continuar como civil depois de fazer o CPOR.
Quando eu entrei, essa opção era feita no final do segundo ano
de curso, quando as vagas eram concorridas de acordo com as
notas dos alunos nesses primeiros dois anos. Atualmente essa
escolha é feita na inscrição do vestibular, em que as vagas são
concorridas de maneira separada.

Quando o(a) estudante vai para o terceiro ano e é optante, passa


a receber 6.500 reais por mês (verificar valor corrigido) e passa
a ir para as aulas de farda, além de algumas outras obrigações

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militares. Ao se formar, além do diploma de engenharia,


também obtém a patente de primeiro tenente e é alocado para
alguma OM da FAB para exercer sua função.

Ao meu ver, para uma pessoa que está decidida a ser militar, é
uma opção muito boa de carreira a se seguir, por já se formar
como primeiro tenente. Além disso, existe a possibilidade de
pagar uma multa (que é alta) e não ter que ficar os cinco anos
depois de se formar trabalhando na FAB, caso a pessoa queira
mudar de carreira e surja uma oportunidade muito boa.

obs: No site do ITA existe a página


http://www.ita.br/grad/vidamilitar,​ que contém algumas
informações (mas são bem poucas), caso queiram conferir mais
alguma coisa.

H-8
Esse item para mim é de longe o mais importante. É o maior
motivo de eu ter ido para o ITA e, caso ele de um ano para outro
acabasse, já seria motivo o suficiente para eu dizer com toda a

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certeza que não vale mais a pena estudar lá.

O H-8 é o alojamento dos alunos da graduação do ITA e é, na


minha opinião, o maior diferencial que o ITA tem em relação à
maioria das universidades de ponta do Brasil. Todas as pessoas
aprovadas no vestibular têm direito à moradia oferecida pelo
ITA (Detalhe: têm direito, não é obrigatório morar lá.), ficando
no alojamento para os alunos cujo nome é H-8. Para ficar nele,
paga-se uma taxa (que no ano que eu saí, estava em 90 reais por
mês). Além disso, não precisa pagar conta de água ou de luz,
existe uma lavanderia no alojamento mantida pelos alunos,
assim como a possibilidade de contratar serviço de limpeza,
internet oferecida pelos alunos a um preço muito barato, entre
outras coisas que existem lá também, como quadra esportiva,
piscina com churrasqueira, sala de jogos, de música, academia e
etc. E isso fica dentro do CTA, que é o campus militar onde fica o
ITA, ou seja, a segurança é muito boa também.

Mas o principal na minha opinião não são nem essas coisas,


sobretudo porque na prática a gente nem aproveita tudo tanto
assim. Tem muita gente lá que só entrou na piscina uma vez na

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vida hehe. O principal do H-8 na minha opinião é: a convivência


que você tem lá com as outras pessoas que estudam contigo, o
que viabiliza a existência de muitas iniciativas extracurriculares
de maneira muito orgânica, já que a gente só precisa sair do
quarto e andar por menos de 2 minutos pra fazer uma reunião
da ITAndroids, por exemplo (iniciativa de competição de robôs
do ITA). Além disso, também ajuda no próprio ITA em si, pois
fica muito fácil ajudar e ser ajudado pelos colegas devido à
convivência muito próxima. Eu, honestamente, me formei
carregado nas costas de muita gente. Mas também carreguei
alguns amiguinhos. E acho que essa proximidade é um
diferencial bem grande na faculdade. Conversando com pessoas
de outras universidades, fica evidente o quão mais unidas as
pessoas do ITA acabam ficando em relação às demais, o que
acaba gerando um networking mais robusto no futuro.

E por último, isso facilita bastante a vida de quem mora longe,


pois é conhecido que grande parte dos alunos e alunas do ITA
são nordestinos, e essa falta de preocupação com moradia pra
quem é de cidades tão distantes ajuda bastante. Em especial, o
custo de vida ridiculamente baixo é um diferencial muito grande

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pra quem é de baixa renda, já que apesar das taxas de moradia e


internet do H-8 serem muito baixas comparadas com o custo de
vida estudando em outros lugares, ainda existe a possibilidade
de isenção para quem não consegue pagar.

Enfim, acho que ficou bem claro que o H-8 foi o maior motivo
que eu tive para ir para o ITA, e que também acho ser o maior
diferencial da instituição. E como disse antes, se ele acabar, não
vejo mais motivos para estudar lá.

Nome de Prestígio
Esse item é um pouco controverso e eu não gostaria de falar
muito dele, mas acho que é algo que existe e não faria muito
sentido ignorar. O nome do ITA tem peso. Isso é um fato, apesar
de eu ter motivos para achar que é superestimado.

Para um cidadão comum, falar que estuda no ITA faz com que te
olhe de outras maneiras, e isso se dá principalmente pela
dificuldade de ser passar no vestibular, pois é conhecido que
muitas pessoas gastam muito tempo em cursinhos e se dedicam

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bastante para entrar no ITA, além do nível da prova ser bem


alto. Vou falar um pouco mais do vestibular mais pra frente, mas
não é o ponto agora. O importante é que isso por si só já é um
motivo que faz muita gente querer entrar no ITA, ter esse
prestígio social e também a possibilidade de abrir algumas
portas profissionais com o peso do diploma.

De fato, os engenheiros do ITA são muito bons na média. A


galera que conheci lá e convivi na minha turma é muito
inteligente e competente. Então esse prestígio também é
justificado pela reputação das pessoas que se formam lá. Não
significa que não existam engenheiros muito bons, ou até
melhores que os do ITA, formados em outras faculdades, mas eu
acho que é bem mais difícil achar um engenheiro tecnicamente
ruim formado no ITA.

Imersão nos cursos de aeronáutica e


aeroespacial
Eu não fiz nenhum desses cursos, mas acho que vale a pena falar
sobre isso baseado na opinião de alguns colegas, mas de

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maneira bem breve. Muitos professores desses cursos aqui no


ITA trabalham ou trabalharam em projetos da indústria
aeroespacial nacional, e acho que a experiência e imersão que se
tem no ITA para esses cursos é um diferencial bem grande em
relação a outras universidades, principalmente por não
existirem muitos outros lugares onde são oferecidos no Brasil.

Greve
Não tem greve.

Alguns pontos pessoais


Antes de falar dos motivos que são mais diretamente ligados ao
ITA em relação a outras universidades boas do Brasil, vou falar
primeiro de alguns pontos pessoais que podem afetar alguém
que esteja fazendo essa escolha e que eu gostaria de ter discutido
6 anos atrás também.

Você quer mesmo fazer engenharia?

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Mesmo em ambiente de cursinho IME/ITA, existe gente que não


tem certeza se quer ou não fazer engenharia. E depois que entra
pro ITA, acaba tendo certeza de que realmente não quer. Existe
uma misticidade em relação ao vestibular do ITA. Ele é um
desafio acadêmico muito difícil e acaba estimulando muita gente
a não só fazer, mas estudar pra ele e ser aprovado. Lembra um
pouco o ambiente de olimpíadas científicas no ensino médio,
como as OBF, OBM e etc, onde o que mais acaba motivando a
pessoa é aquela vontade de “ser bom”, junto com a falta de
preocupação com o futuro de entrar no ITA e se formar lá.

Mas apesar de muito se falar de pessoas que largaram uma


faculdade pra ir pro ITA, existem também as pessoas que
largaram o ITA e foram fazer engenharia em outro lugar, ou até
mesmo fazer outro curso, como medicina, matemática ou ciência
da computação (alguns exemplos que conheço). Mas querendo
ou não, essa “perda” de tempo que se tem no ITA antes de decidir
trocar para outra área talvez possa ser evitada pensando um
pouco melhor no que te leva a estudar e prestar o vestibular do
ITA. Se desafiar a ser aprovado no vestibular e estudar pra ele
por si só já é um bom desafio e provavelmente vai te preparar

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para ser aprovado em outros vestibulares brasileiros também.


Mas se não tem tanta certeza se quer fazer engenharia,
lembre-se que não tem nada de errado em passar na prova e ir
cursar outra coisa em outra universidade.

O ITA não é sua única opção na vida


Pra muita gente que está na jornada de estudar pro ITA, parece
que essa é a única opção de futuro que existe e que não existe
qualquer outro rumo que se poderia tomar. O ambiente de
cursinho preparatório acaba influenciando bastante nisso,
estimulando alunos a tentar por anos e anos. Eu não diria que o
motivo disso é fazer os cursinhos obterem lucro, já que
pré-IME/ITA não dá tanto dinheiro e boa parte dos alunos
dessas turmas têm bolsa. Acho que é algo mais da cultura do
vestibular para essas faculdades mesmo, mas não vou entrar
muito sobre isso em detalhes porque simplesmente não faço
ideia.

Porém, quando penso em oportunidades profissionais e no que


fazer depois que o ITA acaba, acabo vendo que no longo prazo,

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existem várias rotas que podem te fazer chegar num mesmo


objetivo, e que o ITA não necessariamente é a melhor rota a ser
escolhida, quanto mais a única.

No meu caso pessoal, eu fiz engenharia de computação no ITA. E


durante a faculdade, principalmente depois da metade, fiz
estágio em algumas empresas que considero muito boas e eram
meu objetivo profissional durante o curso. E nessas empresas,
conheci e conversei com pessoas de outras faculdades que,
obviamente, conseguiram estágios e empregos nos mesmos
lugares que eu almejava, além de terem em seus currículos
projetos e conquistas tão boas quanto as que eu consegui. A
conclusão à qual eu cheguei foi que existe muita gente boa que
não estudou no ITA e que dá pra chegar nos mesmos objetivos
profissionais que um bom engenheiro do ITA chega sem ter
passado pelo ITA. Como disse acima, para muita gente que está
nesse meio, parece que é a única opção de futuro que existe, mas
a gente acaba vivendo numa bolha e esquece que existe muita
gente por aí fazendo muita coisa boa também, e que só calhou de
não entrar nesse meio por qualquer motivo que seja.

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Então, antes de tomar esse tipo de decisão, recomendo pesquisar


bem as outras opções e fazer comparações realistas entre elas.
Ao ler esse texto por exemplo, você está aprendendo um pouco
mais sobre o ITA, apesar de ser um ponto de vista meu. Quanto
mais conhecimento obtiver, melhor. Procure sobre as outras
universidades de ponta do Brasil, como USP, Unicamp, UFMG,
UFRJ, UFPE e etc, e também procure opções no exterior caso
também esteja no seu alcance, pois a dedicação que alguns
alunos que estudam pro ITA desde o começo do ensino médio
colocam na preparação pro vestibular pode muito bem ser usada
para se conseguir vaga numa faculdade de ponta nos EUA, por
exemplo.

Motivos pra não ir pro ITA


Finalmente, nessa parte do texto, vou falar dos principais
motivos relacionados ao ITA em si que me fariam não querer
estudar lá em relação a outras universidades do Brasil. Vou
tentar focar em alguns pontos específicos e falar um pouco mais
de cada um deles em detalhe, mas sem seguir uma ordem

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específica, porque ela pode variar de pessoa pra pessoa.

Um detalhe que eu gostaria de ressaltar é que quando falei dos


pontos positivos, nenhum deles estava relacionado ao ITA como
uma instituição. Falei do H-8 e todos os benefícios, da
possibilidade de carreira militar e do networking e peso de
currículo que o nome do ITA pode trazer na vida da pessoa que
se formou lá. O problema é que parece que, pelo menos pra mim,
muito do valor que o ITA tem se dá muito mais pelos seus alunos
do que pelo modelo de ensino da instituição em si. As pessoas que
entram lá já são muito boas academicamente desde o início,
devido a todo o preparo que se tem para conseguir a aprovação.
Agora, eu vou infelizmente falar de algumas coisas do ITA e seu
modelo que pra mim são pontos negativos muito fortes e
impactaram bastante na minha experiência e na de amigos
meus.

Exame médico
Depois de passar do difícil vestibular, ainda existe uma “terceira
fase” que é o exame médico. A princípio, todos os alunos

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aprovados e matriculados no ITA, optantes ou não, são


matriculados também compulsoriamente no CPOR, para o qual
necessita ser aprovado num exame de inspeção de saúde, o que
envolve alguns exames médicos e psicológicos.

É de se esperar que nem todo mundo que passa no vestibular tem


a saúde em dia pra passar nessa inspeção, o que era o meu caso.
Eu sou surdo completamente do meu ouvido direito, devido a
uma meningite que tive quando criança, além de ter um sopro no
coração que descobri na própria inspeção de saúde. Com isso, eu
e alguns colegas da T-19 passamos por um processo trabalhoso
para conseguirmos ser matriculados no ITA sem fazer o CPOR
em 2015, quando só fui ser matriculado de fato quase no final do
primeiro semestre.

De um tempo pra cá, foi ficando mais difícil isso acontecer,


fazendo com que as pessoas que são reprovadas na inspeção de
saúde acabem entrando com mandados de segurança e
processos judiciais caros e cansativos para conseguirem
assegurar sua matrícula, tendo casos onde estudantes perderam
um ano de faculdade devido a problemas legais com isso.

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Geralmente a comunidade iteana apoia bastante esses alunos e


ajudam com tudo que é possível, mas é uma dor de cabeça que
considero completamente desnecessária e sem sentido de existir.

Assim como eu, tenho colegas que não tinham saúde o suficiente
pra passar nessa inspeção e nos formamos tranquilamente. A
gente não ter feito o CPOR resulta em praticamente nenhum
problema real para a FAB, seja financeiro ou administrativo.
Porém, os alunos mais recentes acabaram tendo muito mais
problema com isso, resultando em alguns simplesmente
desistirem da vaga e escolhendo ir pra outro lugar.

Apesar desse problema afetar uma parte pequena das pessoas


que entram, como acabou me afetando eu levo um pouco mais a
sério. E me deixa muito triste saber que o ITA perde alunos
muito bons devido à sua condição física e de saúde, levando mais
em conta o que está fora da cabeça da pessoa, sendo que o que
deveria importar para um engenheiro é o que tem dentro,
principalmente para um não optante.

Não tenho certeza se alguém realmente chegou a ficar sem a

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vaga nos últimos anos (tirando quem não quis passar por essa
dor de cabeça e desistiu), mas nada garante que isso se
mantenha nos próximos anos.

Estrutura acadêmica rígida


Esse ponto vai ser um pouco grande já que vou falar de várias
coisas específicas que se encaixam aqui. Mas todos entram no
mesmo conjunto de estarem relacionados com o modelo seguido
pelo ITA, que é bem diferente da maneira como uma
universidade comum funciona.

No ITA, diferente de uma universidade pública comum, você não


escolhe a grade de disciplinas que vai cursar num determinado
semestre. As matérias que vai cursar estão predefinidas e devem
ser todas feitas ao mesmo tempo na mesma etapa da graduação.

A partir do primeiro ano, temos o curso fundamental, que dura


dois anos e é igual para todos os alunos independente do curso
que vá fazer nos outros três anos. É onde se estuda, física,
cálculo, química e algumas matérias básicas de computação,

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estruturas e etc.

Nesse ponto, quero ressaltar um dos primeiros problemas do


modelo do ITA, que se mantém para todos os 5 anos de curso:
reprovar em uma matéria. Numa universidade comum, caso
você reprove numa matéria, você precisa fazer ela de novo como
é esperado. Mas isso não influencia nas matérias em que você foi
aprovado, só não podendo cursar matérias que dependem da
que você ainda não conseguiu passar. No ITA, se você reprovar
em uma matéria, tem que repetir um ano inteiro de curso,
fazendo de novo todas as matérias do semestre em que reprovou,
com a turma do ano seguinte, seguindo mais o modelo de uma
escola do que de uma universidade.

Claramente, isso gera uma uma pressão muito grande sobre os


alunos, pois é um modelo que te permite muito pouco o direito de
falhar. E sentir isso na pele lá dentro foi bem pior do que eu
imaginava olhando de fora. Além disso, houve a falta da
possibilidade de decidir por não cursar determinada matéria em
certa época da minha vida para focar em outras coisas.

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No ITA, para ser aprovado numa matéria, precisa-se de média


6.5/10 em duas provas e um exame final. Tem algumas
informações a mais aqui:
http://www.ita.br/grad/regimeescolar.​ Caso reprove em
alguma matéria com nota menor que 5, tem risco de
desligamento. Caso reprove em duas com nota entre 5 e 6.5, pode
fazer mais uma prova de segunda época e pegar dependência em
no máximo uma delas, caso não consiga a média, e cursar ela de
novo em regime especial no ano seguinte (correndo risco de
desligamento se falhar de novo).

No mesmo link acima tem a lista de coisas que podem acarretar


o desligamento de um aluno, como notas, faltas (no papel é
obrigatória a presença em todas as aulas, com 15% de faltas
justificadas permitidas).

Na minha opinião pessoal, essa rigidez acadêmica do ITA é


nociva psicologicamente. Nos primeiros anos da faculdade, afeta
menos pois como é novidade, acabamos conseguindo dar um
bom impulso e tentar levar numa boa. Mas dificilmente essa

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motivação dura 5 anos e chega um momento que a pressão


começa a ficar difícil de lidar. A faculdade não se resume só às
aulas ministradas no curso, é um momento ideal para se
experimentar outras atividades extracurriculares, como equipes
de competições e iniciativas, pesquisas, outros projetos e
estágios, e não ter essa flexibilidade com o currículo é um ponto
negativo.

Esse problema afetou diretamente a mim e a alguns amigos


durante o curso, em que tivemos alguns problemas grandes com
professores específicos, casos nos quais a situação estava
horrível e não havia a possibilidade de simplesmente reprovar
na matéria e fazer com outro professor depois. A situação de
lidar com professores ruins ou “terroristas” se agrava bastante
com essa limitação. Existem professores assim em qualquer
universidade, mas não ter a chance de falhar faz com que o
sacrifício psicológico seja muito pesado para algumas pessoas, e
talvez no fim não compense.

Um detalhe importante é que o ITA tem regras muito rígidas,


mas na prática muitos professores acabam afrouxando elas um

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pouco pra gente. Mas depender das regras não serem aplicadas
não é a mesma coisa delas não existirem. As faltas, por exemplo,
eram muito mais “liberadas” na época em que eu entrei, mas de
uma hora para outra dois colegas da minha turma foram
trancados por falta, sendo que antes isso era relevado. E como
essas regras sempre existiram, não nos dá o direito de reclamar
dessas punições, pois a qualquer momento alguém pode decidir
aplicá-las, e infelizmente com razão.

Outro ponto é que o ITA tem autonomia para alterar o currículo


do curso todo ano, e nem sempre esse poder é usado de maneira
a beneficiar os alunos, dependendo muito da vontade do
coordenador do curso e dos professores em geral. O caso recente
do curso de mecânica, que aumentou bastante a carga horária
de um ano para outro complicando bastante o tempo livre que os
alunos têm para fazer estágios e outras atividades
extracurriculares, me vem à memória.

Apesar dos planejamentos curriculares e administrativos


poderem ser altamente adaptáveis no ITA, na prática as pessoas
que tomam as decisões mudam muito pouco com o passar dos

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anos, de forma que demora bastante pra se atualizar em vários


aspectos (precisa-se aguardar que a maioria dos membros da
congregação que toma essas decisões mude de convicção, o que
acaba sendo mais fácil por troca de membros com o passar do
tempo do que por uma mudança de ponto de vista da pessoa,
principalmente num meio onde militares e civis estão
misturados). Olhando de dentro, dá a impressão de que as
outras universidades de ponta se atualizaram muito mais rápido
para seus alunos, impactado por isso e também pela questão do
ITA ser muito pequeno.

Além disso, existem as punições do ITA. E pequenos erros podem


ocasionar grandes punições. Quem é trancado perde qualquer
chance de fazer intercâmbios, além de ter uma relutância muito
grande da instituição em permitir que alunos com segunda
época ou dependência façam estágio sob o argumento de impedir
que os mesmos sejam desligados.

Voltando à explicação de como o ITA funciona, depois desses dois


anos, começam os 3 anos de curso profissional, onde você estuda
um dos seis cursos disponíveis de engenharia. Aqui entra um

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ponto que é muito importante também: o processo de troca de


curso no ITA.

Quando fazemos a inscrição no vestibular, colocamos a ordem de


preferência dos cursos que queremos fazer. Por exemplo, eu
queria fazer Engenharia de Computação, então na inscrição,
coloco-a como primeiro curso na prioridade. Claro que isso não
garante que eu vou estar nesse curso se for aprovado no
vestibular. Se tem 30 vagas em computação, e tem mais de 30
pessoas que tiraram nota maior que a minha no vestibular e
também colocaram computação com mais prioridade, não vai
ter vaga pra mim.

Mas ainda há a possibilidade de trocar de curso no final dos dois


primeiros anos, levando em conta a média obtida nos três
primeiros semestres. E as vagas que surgem de pessoas que
querem sair de computação podem ser ocupadas por pessoas que
estão em outros cursos, seguindo a prioridade baseada na nota.

O problema desse sistema é passar os dois primeiros anos do ITA


sem saber se vai conseguir ou não trocar para o curso que

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deseja. E passar os outros três anos fazendo um curso que não é


o que você quer trabalhar não é uma experiência boa, levando
algumas pessoas a irem para outra universidade nessa situação.
Apesar de ser um problema que não afeta todo mundo, nos casos
que afetam, geralmente envolvendo o curso de computação que
tem sido o mais concorrido nos últimos anos, faz muita diferença
na vida dos alunos envolvidos, podendo transformar a
experiência em algum muito frustrante.

Tamanho
Um ponto que não gostaria de deixar passar é que o ITA é
pequeno. E isso tem influência direta, porém não tão clara, na
experiência universitária que uma pessoa tem lá comparado com
outros lugares.

A cada ano, entram em média 120 alunos. Isso é menos que a


metade da escola onde fiz ensino médio. Comparado com os
milhares que entram na USP ou na UFRJ, por exemplo, é um
número risível, por mais que sirva para aumentar a sensação de
“ser especial” da galera que entra, já que é um grupo bem seleto

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de pessoas.

Ter poucos alunos fazem com que algumas coisas


extracurriculares sejam bem mais difíceis de se realizar, muito
pela falta de mão de obra em número mesmo. Mas também, o
ITA é um instituto só de engenharia, então acaba que não temos
contato com pessoas de outros cursos e outras áreas para fazer
projetos e iniciativas. As pessoas acabam pensando muito
parecido lá dentro, como engenheiros, e perdemos um pouco
dessa experiência que uma universidade maior pode oferecer.

E por fim, a vida social é bem prejudicada também. A vida


universitária faz falta, e conhecer gente diferente, de cursos
diferentes e opiniões diferentes no dia a dia, além das festas e
eventos universitários é uma experiência muito boa, e esse é o
melhor momento para tê-la. E sim, isso importa bastante. É
claro que existem festas universitárias e eventos pra ir em SJC,
mas no geral a vida social de um iteano médio morando no H-8
é bem ruim, assim como todo o cuidado psicológico e mental que
geralmente é negligenciado.

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Um ponto que gostaria de ressaltar também nesse tópico é o


próprio H-8. Como disse, é o principal motivo de eu ter escolhido
estudar lá e é também o de muita gente. Porém, os alunos
enquanto no ITA precisam lidar com uma pressão política muito
forte pelo fim do H-8, já que essa ideia de alojamento não é
desejável por unanimidade pelos militares da FAB. E algumas
decisões que aumentam bastante a pressão sobre os alunos (que
já não é baixa) são justificadas por parte do ITA com “mas você
tem alojamento e alimentação, então vocês têm que suportar
mais coisas mesmo”.

Pontos que foram mudando com o


passar do tempo
Uma dica que quero dar pra quem está querendo entrar no ITA e
que acho que deve ser seguida por todo mundo é: não se basear
tanto na experiência que outras turmas tiveram no passado. Isso
se dá porque existem coisas que mudam, e algumas para pior e
outras para melhor.

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O H-8, por exemplo, está muito melhor hoje em dia do que


quando entrei, muito pelo trabalho absurdo do CASD (centro
acadêmico) e por conquistas políticas que eles conseguiram. Mas
tem coisas que foram piorando pra minha turma em relação às
passadas.

O curso que fiz também é um outro ótimo exemplo. A experiência


que minha turma teve no curso de engenharia de computação foi
muito diferente (pro lado negativo) do que o de turmas
anteriores. Apesar de a gente ter feito o máximo para melhorar o
curso pras próximas turmas, ainda tem muitos pontos que ainda
deixam a desejar, mas espero que não seja tão ruim quanto foi
pra gente daqui pra frente.

A porcentagem de trancados e desligados aumentou (para a


T-18, 1/3 da turma trancou). O número de alunos fazendo
intercâmbio para 19 caiu de aproximadamente 40 para menos
de 20.

Então, aconselho quem quer ir para o ITA tomar muito cuidado

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com as expectativas criadas baseadas em experiências de


veteranos mais antigos. O ITA é subordinado à FAB, e tanto um
quanto o outro podem mudar em pouquíssimo tempo várias
regras para a graduação. Um exemplo disso é a mudança no
vestibular. Até pouco tempo atrás, não existia a separação de
vagas e nem as duas fases, e essa mudança foi uma surpresa. E
esse tipo de surpresa acontece internamente também.

Conclusão
Pensando na minha situação pessoal, a minha experiência com o
ITA no geral não valeu a pena. Como disse antes, é possível
chegar nos objetivos pessoais que eu tinha por outros caminhos,
assim como conheci muita gente de outras universidades que
conseguiram. Mas o principal é que a experiência em si foi
dolorosa, estressante e muito desgastante, e a frustração de
várias pessoas que chegaram no mesmo lugar que eu sem passar
pelo mesmo sofrimento foi bastante impactante nesses últimos
dois anos de faculdade. Se eu pudesse voltar atrás, teria ido pra
Unicamp, USP ou ficado na UFRJ em vez de ter gasto algum
tempo depois do ensino médio estudando pro vestibular do ITA.

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A sensação principal que eu tenho do ITA é que lá existem alunos


extraordinários, mas que o potencial de cada um deles é muito
mal aproveitado. A galera que entra lá já é muito boa desde a
época do vestibular, e sinto que não existe muita evolução
acadêmica a partir daí, pois parece que é uma luta de aluno
contra o ITA para conquistar o diploma. Ou seja, parece que
muita gente ali poderia estar aproveitando e crescendo muito
mais se estivesse em outro lugar e, como falei antes, chegar aos
mesmos objetivos profissionais depois de se formar, mas
passando por muito menos sofrimento.

Muito da parte mais valiosa que eu tiro da minha experiência do


ITA é justamente as pessoas que conheci e com quem convivi lá.
Conheci muita gente foda que me abriu a cabeça de onde eu
podia chegar e viver diariamente com essas pessoas por um
tempo realmente foi uma parte muito boa da minha graduação,
e esse é o maior impacto que essa experiência toda teve na minha
vida. Mas a instituição em si não teve tanto impacto positivo, e
sim negativo. O ITA é um ótimo lugar para ir se você não sabe
ainda muito bem o que fazer da vida, mas se tem certeza que

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quer fazer ciência da computação por exemplo, é melhor ir para


a Unicamp.

Mas não é porque não valeu a pena pra mim que não irá valer a
pena para você também. A minha experiência de ITA não é igual
a de outras pessoas. Tem gente que não se arrepende nem um
pouco e faria tudo de novo assim como tem gente que se
arrepende totalmente. O importante é que você tenha plena
consciência do que você está obtendo ao optar por ir estudar no
ITA para que não seja uma pessoa que se arrepende também.

E mesmo que acabe entrando e veja que não é o melhor para


você, a pressão para continuar no ITA ainda é muito grande.
Existe a pressão familiar e social, a pressão do tempo que se
gastou estudando para entrar e não querer que seja tudo em
vão, o orgulho próprio de querer ir até o final mesmo que esteja
muito ruim, e mesmo assim existem pessoas que frente a tudo
isso conseguem tomar a decisão de sair, e admiro bastante a
coragem delas, porque não é fácil.

Em síntese, informe-se e não seja radical nas suas escolhas. A

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vida pré-vestibular é uma etapa bem cansativa e ter dúvidas


sobre se a decisão que estamos tomando é realmente a certa
acaba não ajudando tanto na hora das provas. Mas use esse
texto como um conselho que eu gostaria de ter dado para mim
mesmo no passado, e por mais que pra mim já tenha passado
tudo e bola pra frente, me sinto bem deixando esses pensamentos
gravados para quem um dia precise deles.

 
 
 
 
 
 

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