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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

MBA EM PLANEJAMENTO E CONTROLE DE OBRAS

LAÍS NÉRIS SOUSA QUEIROZ PINTO

DEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE CONTRATOS:


OBRA EM CONJUNTO HABITACIONAL NA CIDADE DE
GOVERNADOR VALADARES-MG

BELO HORIZONTE
2017
LAÍS NÉRIS SOUSA QUEIROZ PINTO

DEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE CONTRATOS:


OBRA EM CONJUNTO HABITACIONAL NA CIDADE DE
GOVERNADOR VALADARES-MG

Monografia apresentada ao curso de MBA em


Planejamento e Controle de Obras, da
Universidade Cidade de São Paulo, como
requisito parcial para obtenção do título de
Especialista.

BELO HORIZONTE
2017
LAÍS NÉRIS SOUSA QUEIROZ PINTO

DEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE CONTRATOS:


OBRA EM CONJUNTO HABITACIONAL NA CIDADE DE
GOVERNADOR VALADARES-MG

Monografia apresentada ao curso de MBA em


Planejamento e Controle de Obras, da
Universidade Cidade de São Paulo, como
requisito parcial para obtenção do título de
Especialista.

Área de concentração:
Data da apresentação:

Resultado:______________________

BANCA EXAMINADORA:

Prof.
Universidade Cidade de São Paulo ______________________________________

Prof.
Universidade Cidade de São Paulo ______________________________________
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, que me deu capacidade para chegar até aqui; aos meus pais,
por serem meus primeiros professores e maiores apoiadores; aos meus irmãos, parentes e
amigos, pela torcida, incentivo e afeto na busca da realização deste sonho.
Ao corpo docente do INBEC que me passou coragem e determinação na construção da
minha carreira.
A todos que, de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
“Se não conheces os teus contratos, não
conheces o teu negócio”.
(Autor desconhecido)
RESUMO

A má gestão de contratos tem se tornado um agravante cada vez maior no mundo dos
negócios, por isso, vê-se a importância de estudar as consequências da mesma, uma vez que
os contratos são considerados os alicerces das empresas, nos quais se baseiam a saúde
financeira dos empreendimentos. O mercado está em constante evolução, por isso, já existem
inúmeras ferramentas de gestão que o protegem de algumas armadilhas. Nesse sentido, é
importante e necessário analisar criteriosamente um contrato antes do mesmo ser fechado, ou
depois que firmado, possuir meios de acompanhamento para evitar consequências danosas,
não esperadas. Este estudo demonstra a importância das empresas possuírem Know-how sobre
este assunto e investir na expertise de seu corpo técnico, principalmente em fazer cumprir as
leis. Nessa direção, portanto, foram apresentadas ferramentas que podem ser adotadas a fim
de manterem o controle na gestão de contratos. Conclui-se, por fim, que as empresas mais
sólidas, diante das incertezas do mercado tão competitivo, são aquelas que avaliam e
acompanham melhor os seus contratos.

Palavras-chave: Gestão. Contratos. Construção Civil. Leis.


ABSTRACT

Mismanagement of contracts has become an increasing aggravating factor in the business


world, so we see the importance of studying the consequences of contract, since contracts are
considered the foundations of the companies, on which the Financial health of the enterprises.
The market is constantly evolving, so there are already numerous management tools that
protect you from some pitfalls. In this sense, it is important and necessary to carefully analyze
a contract before it is closed, or after it has been signed, to have accompanying means to
avoid harmful, unexpected consequences. This study demonstrates the importance of
companies possess know-how on this subject and invest in the expertise of their staff,
especially in enforcing the laws. In this direction, therefore, were presented tools that can be
adopted in order to maintain control in the management of contracts. Finally, it is concluded
that the most solid companies, given the uncertainties of the competitive market, are those
who evaluate and better follow their contracts.

Keywords: Management. Contracts. Construction. Laws.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Outubro/2013)............................ 35


Tabela 2 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Dezembro/2014)......................... 35
Tabela 3 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Dezembro/2016)......................... 35
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................9
1.1 Objetivos .........................................................................................................................................10
1.1.1 Objetivo geral................................................................................................................................10
1.1.2 Objetivos específicos .....................................................................................................................10
1.2 Justificativa .....................................................................................................................................10
1.3 Metodologia ....................................................................................................................................11
1.3.1 Estrutura do trabalho ...................................................................................................................11

2 CONTRATO ......................................................................................................................................13
2.1 A importância do contrato ............................................................................................................14
2.2 Estrutura do contrato ....................................................................................................................15
2.3 Assinatura do contrato...................................................................................................................16

3 TIPOS DE CONTRATOS ................................................................................................................18


3.1 Contratos administrativos .............................................................................................................19
3.1.1 Alterações nos contratos administrativos ....................................................................................22

4 GESTÃO DE CONTRATOS ...........................................................................................................24


4.1 As vantagens da gestão de contratos ............................................................................................25
4.2 Deficiências na gestão de contratos...............................................................................................26
4.3 Equilíbrio econômico-financeiro do contrato ..............................................................................28
4.4 O papel do gestor de contratos ......................................................................................................29

5 ESTUDO DE CASO : OBRA EM CONJUNTO HABITACIONAL ...........................................31


5.1 Métodos de trabalho adotado pela empresa ................................................................................31
5.2 Cláusulas que regem o contrato ....................................................................................................32
5.3 Análise da viabilidade do contrato ...............................................................................................34

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................38
6.1 Verificação dos objetivos ...............................................................................................................38
6.2 Conclusões e resultados .................................................................................................................38

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................40
9

1 INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre a gestão de contratos é fundamental, uma vez que mal geridos,
acarretam consequências danosas à organização, trazendo grandes prejuízos diante do
mercado no qual está inserida. Sendo assim, não raro, após sua assinatura, os contratos são
lembrados apenas em casos de problemas, dificuldades quanto ao cumprimento de suas
cláusulas ou nos momentos das renovações.
De acordo com Freitas (2009), a gestão de contratos vem para auxiliar as empresas a
aumentar este nível de controle (apud CORDEIRO, 2013). Para Demétrius (2016), muitos são
os esforços despendidos nas negociações de contratos, mas poucos são direcionados ao seu
controle. Percebem-se a falta de atenção quanto aos prazos de renovação, a ausência de
segurança na autorização de pagamentos, a indisponibilidade de armazenagem e o
desconhecimento quanto aos aditivos.
O presente estudo vem trazer ao conhecimento do leitor a importância dessa gestão e
usar como exemplo um contrato já existente, no qual será apontada sua viabilidade, adotando
as ferramentas de análise. Esta análise permite a gestão do ciclo de vida dos contratos
presentes nas organizações, desde o momento de sua assinatura até o seu distrato ou
encerramento, além do acompanhamento e controle do fluxo entre departamentos e/ou
fornecedores ou clientes com mensuração dos tempos de retorno e execução de tarefas
associadas ou delegadas.
A princípio, o estudo foi organizado em 3 (três) seções. A primeira apresenta a
fundamentação teórica pesquisada em bibliografias e leis a respeito do tema. A seguir, foi
feito um estudo sobre as vantagens de implantação da gestão de contratos. A última seção fica
a cargo do estudo de caso, com a análise da metodologia aplicada na gestão do contrato da
obra em um conjunto habitacional na cidade de Governador Valadares-MG.
10

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Estudar as consequências de uma má gestão de contratos.

1.1.2 Objetivos específicos

- Evidenciar os conceitos de gestão de contratos;


- Indicar ferramentas de gestão;
- Sugerir uma metodologia a ser aplicada nas organizações;
- Verificar o procedimento de contratos administrativos;
- Interpretar a influência das cláusulas contratuais;
- Reconhecer a viabilidade do contrato.

1.2 Justificativa

Segundo Santiago Júnior (2012), no âmbito empresarial da construção civil, percebe-


se a importância de uma boa gestão de contratos, visto que são eles que manterão a
sobrevivência no mercado competitivo e a tornará uma empresa sólida diante do cenário
econômico instável.
Vale ressaltar que é de suma importância para os empresários ter esse tipo de
conhecimento para implantar na empresa, diante dos benefícios que este controle gera. Além
disso, investir no conhecimento de seus colaboradores, agregando ainda mais valor, se
justifica pelo fato de muitas empresas terem o valor de mercado extremamente superior ao seu
valor patrimonial (PADGETT, 2012).
Diante disso, nota-se a necessidade de implantar uma metodologia ideal para
acompanhamento do contrato, a fim de verificar e reconhecer a viabilidade do contrato em
11

questão. Por isso, é proposta a análise de uma determinada obra, a fim de exemplificar na
prática os inúmeros conceitos que serão mencionados.
O grande benefício do estudo proposto está pautado principalmente no baixo custo e
facilidade de implantação, além disso, demonstra que o segredo está no cuidado e cautela na
análise de contratos e verificação de sua viabilidade. Com isso, espera-se alcançar uma maior
parcela do mercado, com contratos mais bem sucedidos, com qualidade, segurança, eficiência
e claro, maior retorno financeiro.

1.3 Metodologia

- Pesquisa em leis, livros, artigos científicos, teses de doutorado e dissertações de


mestrado;
- Tabulação e análise dos dados;
- Estudo de caso: Análise do contrato da obra em questão.

1.3.1 Estrutura do trabalho

O projeto foi desenvolvido em 4 (quatro) etapas:


 1ª Etapa: Levantamento bibliográfico
Estudo e desenvolvimento do trabalho envolvendo conceitos relacionados ao tema
proposto em busca de maior conhecimento.

 2ª Etapa: Demonstrar as vantagens e deficiências na gestão de contratos


Exemplifica de maneira clara a importância do estudo proposto e a interferência que o
mesmo causa em um empreendimento.

 3ª Etapa: Estudo de caso da obra proposta


Aplicação dos estudos e reconhecimento da deficiência na gestão de contratos e os
prejuízos que acarretam.
12

 4ª Etapa: Avaliação final sobre deficiência na gestão de contratos


As consequências de uma má gestão e a importância das empresas investirem neste
controle.
13

2 CONTRATO

A palavra contrato vem do latim contractus, que significa tratar com. Nada mais é do
que a junção de interesses de pessoas sobre determinada coisa. Segundo Ferreira (2014, p.31)
contrato é um “Acordo entre duas ou mais que entre si transferem direito ou se sujeitam a uma
obrigação”. Para tornar válido um contrato, as partes devem ser capazes, o objeto não pode
ser ilícito e a sua forma deve ser prescrita em lei.
Ainda, de acordo com Setti (2015) o conceito de contrato envolve a idéia de vínculo
jurídico transitório através do qual as partes contratantes se atam de tal modo que a cada qual
incumbe ônus e bônus recíproco.
O objeto de um contrato pode ser qualquer coisa ou serviço que não esteja fora da lei,
não agrida a moral nem os costumes de um grupo social. A causa para a elaboração de um
contrato é o motivo que os contratantes apresentam. Perde a causa o contrato que não cumpra
com os requisitos sociais que deve cumprir, quando seja fingida ou simulada sua necessidade.
Tendo por base Lôbo (2014), existem alguns princípios fundamentais do direito contratual,
que podem ser citados, são eles:
- Princípio da autonomia da vontade: nele se fundamenta a liberdade contratual dos
contratantes, consistindo no poder de estipular livremente, como melhor lhes convier,
mediante acordo de vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela
ordem jurídica;
- Princípio do consensualismo: segundo o qual o simples acordo de duas ou mais
vontades basta para gerar o contrato válido;
- Princípio da obrigatoriedade da convenção: pelo qual as estipulações feitas no
contrato deverão ser fielmente cumpridas (pacta sunt servanda), sob pena de execução
patrimonial contra o inadimplente;
- Princípio da relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual: visto que não
aproveita nem prejudica terceiros, vinculando exclusivamente as partes que nele intervierem;
- Princípio da boa fé: segundo ele, o sentido literal da linguagem não deverá
prevalecer sobre a intenção inferida da declaração de vontade das partes.
No entanto, muitas vezes estes princípios não são seguidos. Logo, existem contratos
mal elaborados, e que as empresas acabam tendo que atender e arcar com custos imprevistos,
que por sua vez, impactam diretamente o resultado esperado para determinado projeto.
14

2.1 A importância do contrato

De acordo com Choma (2007) conforme citado por Shimbo (2010), o mercado da
Construção Civil ainda sofre as consequências da informalidade, não só no que diz respeito ao
emprego de funcionários sem registro em carteira, mas também na falta de documentação dos
mais diversos tipos, como: procedimentos de execução, padrões de qualidade, metodologia
(própria) de planejamento e formalização das relações contratuais com os empreiteiros.
Assim, como é preciso encontrar tempo para efetuar o planejamento da obra, deve-se
formalizar o contrato com o empreiteiro antes que a equipe subcontratada comece a trabalhar,
caso contrário, a construtora estará aumentando a sua exposição a diversos riscos.
França (2013) afirma que o contrato proporciona à construtora uma segurança maior
em relação ao que foi contratado, possibilitando, muitas vezes, que o pagamento do
empreiteiro seja suspenso se ele não comprovar o pagamento de impostos e de encargos
trabalhistas de seus funcionários, ou se a obra estiver atrasada. Mas, para isso, é indispensável
que a construtora também cumpra com o que foi acordado.
Segundo o PMI (2013, p.380) “A natureza legal da relação contratual torna imperativo
que a equipe de gerenciamento do projeto esteja ciente das implicações legais das ações
adotadas na administração de qualquer contrato”.
Se a equipe de gestão da obra não tiver conhecimento pleno do contrato, pode oferecer
ao empreiteiro alguma margem para sua contestação. Por isso, o conhecimento do conteúdo
do contrato é fundamental, assim como das consequências que podem surgir pelo
descumprimento dos termos do acordo. Santana (2015) afirma que aquilo que foi estipulado
no termo assinado deve ser cobrado e monitorado tanto pelo gestor como pela equipe da obra.
Além disso, as alterações de contratos (alteração qualitativa) ou alteração nos
quantitativos (alteração quantitativa) de iniciativa da contratante, já na fase de execução ou
mesmo em consequência de outras alterações imprevisíveis acertadas por acordo entre
contratantes e contratadas, previstas na legislação, podem gerar os inevitáveis aditivos
contratuais, que vão requerer um cuidado maior no decorrer da vigência do contrato.
Portanto, para que o contrato seja elaborado corretamente, Santiago Júnior (2012)
defende a importância de haver integração entre o setor jurídico e o de engenharia. É
indispensável o auxílio de um advogado com experiência no mercado da construção civil. Os
custos com o auxílio profissional são muito menores que os passivos que podem ser
adquiridos por falhas nos contratos.
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2.2 Estrutura do contrato

O contrato firmado entre as partes deve ser o mais completo possível, deixando bem
claro o escopo dos serviços, as condições de prazo, a forma de pagamento, as obrigações das
partes, a documentação necessária, enfim, todos os aspectos da prestação dos serviços
contratados. Para Justen Filho (2014), a estrutura básica de um contrato contempla:
- Identificação das Partes;
- Objeto do Contrato;
- Especificações do Objeto do Contrato;
- Obrigações Gerais da Contratada;
- Obrigações Gerais da Contratante;
- Preços, Quantidade e Formas de Pagamento;
- Condições de Aceitação dos Serviços;
- Encargos Sociais;
- Retenções de Garantia;
- Condições para Rescisão do Contrato;
- Aceites e Disposições Gerais;
- Foro;
- Anexos.
Aprofundando ainda mais, a Lei 8.666/93 no artigo 55, contempla o que deve
estabelecer as cláusulas de um contrato:

I - o objeto e seus elementos característicos;


II - o regime de execução ou a forma de fornecimento;
III - o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do
reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do
adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
IV - os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de
observação e de recebimento definitivo, conforme o caso;
V - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional
programática e da categoria econômica;
VI - as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas;
VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os
valores das multas;
VIII - os casos de rescisão;
IX - o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão
administrativa prevista no art. 77 desta Lei;
X - as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando
for o caso;
XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao
convite e à proposta do licitante vencedor;
16

XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos


omissos;
XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em
compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de
habilitação e qualificação exigidas na licitação.

Contudo, a tarefa de elaborar o contrato administrativo não se encerra com a simples


leitura dos dispositivos da Lei e outras literaturas. Com efeito, Cabral (2015) alega que são
necessários alguns cuidados no momento da confecção tanto do edital convocatório quanto no
instrumento de contrato, para que sua execução ocorra sem sobressaltos ou contratempos.

2.3 Assinatura do contrato

Muitos empreiteiros não leem os contratos na hora de assinar, tratando apenas como
uma “formalidade”. Para muitos, vale o que foi “combinado”. Segundo Choma (2007) apud
Shimbo (2010), antes de assinar o contrato, é possível seguir um passo a passo que ajuda o
empreiteiro a rever as condições da obra para saber se realmente tem capacidade de executá-
la, e também, auxilia a construtora avaliar as condições da obra em relação ao cliente final.
Segue abaixo as recomendações a serem seguidas:
- Revise a proposta – rever com a equipe os custos, as necessidades de recursos,
confirmar preços com fornecedores;
- Reveja todas as plantas e relatórios – muitas vezes o empreiteiro (e até mesmo a
construtora) faz as estimativas de preços sem conhecer os projetos completos. Mas, antes de
assinar o contrato, essa revisão é fundamental;
- Reveja todas as especificações – além das plantas, o tipo de acabamento, as
solicitações e os critérios de medição são de fundamental importância. Assinar um contrato
antes de definir os detalhes do projeto é aceitar uma exposição muito grande ao risco;
- Visite o local da obra – alguns canteiros têm limitações sérias de espaço, obrigando o
empreiteiro (ou a construtora) a utilizar guindastes e gruas para mover o material. Problemas
com o acesso também afetam a produção e a logística do canteiro;
- Revise a programação de obra – se o empreiteiro fez algum cronograma estimativo
para orçar a obra, deve revisar as estimativas de tempo, para ter certeza de que é possível
concluir o contrato no prazo;
- Complete uma lista de checagem do projeto – o empreiteiro deve conferir se o
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contrato está claro no que diz respeito ao escopo, aos prazos, às exigências de materiais,
ferramentas, equipamentos e à segurança do trabalho, entre outros;
- Verifique recursos do projeto – o contratante tem os recursos financeiros para arcar
com a obra? E o empreiteiro tem recursos para mobilizar a sua equipe e mantê-la até (no
mínimo) a primeira medição?
- Leia todo o contrato – o contrato não é apenas uma formalidade, mas sim, uma
obrigação entre as partes; portanto, é necessário ler atentamente e procurar sempre a
orientação de um advogado;
- Execute o contrato – após toda essa revisão, o empreiteiro estará muito mais seguro
para executar o contrato.
Após seguir as recomendações supracitadas, pressupõe-se que o empreiteiro teve a
oportunidade de avaliar todas as condições e exigências contidas no contrato, e se mostra
ciente do preço e das condições, caso sejam viáveis, pode assumir o compromisso e assinar o
devido contrato.
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3 TIPOS DE CONTRATOS

A Lei nº 8.666, de 1993, no seu artigo 2º, parágrafo único, considera contrato “todo e
qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que
haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações
recíprocas, seja qual for a denominação utilizada”.
O contrato, independentemente de sua espécie, é caracterizado como negócio jurídico
com a finalidade de gerar obrigações entre as partes, afirma Lôbo (2014). Além disso, norteia
três princípios fundamentais: autonomia das vontades, supremacia da ordem pública e
obrigatoriedade.
Segundo Mello (2005) também citado por Di Pietro (2013), para que o contrato se
efetive, são necessários alguns requisitos como: existência de duas ou mais pessoas;
capacidade genérica para praticar os atos da vida civil; aptidão específica para contratar;
consentimento das partes contratantes; licitude do objeto do contrato; possibilidade física ou
jurídica do objeto do negócio jurídico; determinação do objeto do contrato; e economicidade
de seu objeto.
Granziera (2002) conforme citado por Ribeiro (2011) diz que são muitos os tipos de
contrato, podendo conter várias formas, como por exemplo, verbais ou escritos, por
instrumento público ou particular. Entretanto, será relevante para este estudo conceituar
contrato administrativo, caracterizado por ser escrito e público, visto ser o contrato firmado no
estudo de caso da obra em questão.
Portanto, tratando-se de contratos administrativos, podem-se citar de obra pública, de
serviço, de fornecimento ou de concessão. O Contrato de Obra Pública tem como finalidade a
construção, reforma, fabricação, recuperação, ampliação de determinado bem público,
podendo ser por Tarefa ou Empreitada, assim definidas (CUNHA, 2016):
- Tarefa: A tarefa é uma forma de contrato de obra pública comumente utilizada em
pequenas obras ou em uma parte de obras. A tarefa poderá prever o fornecimento de mão de
obra, equipamentos e até materiais. Sendo o valor considerado baixo não haverá necessidade
de se realizar licitação;
- Empreitada: Na empreitada, o particular assume o dever de realizar a obra pública
por sua conta e risco, com remuneração previamente ajustada. A remuneração na empreitada
poderá ser definida conforme o caso em:
Empreitada por Preço Unitário: Quando o preço é definido por unidades determinadas
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da obra;
Empreitada por Preço Global: Quando o preço ajustado leva em consideração a obra
como um todo, com possibilidade de reajustes;
Empreitada Integral: Quando preço ou remuneração se refere a todo o
empreendimento, em todas as suas etapas de obras, serviços e instalações.

3.1 Contratos administrativos

Os contratos administrativos podem ser definidos como aqueles ajustes celebrados


pela Administração Pública por meio de regras previamente estipuladas por esta, sob um
regime de Direito Público, visando à preservação dos interesses da coletividade. Toda vez que
a Administração Pública celebra com terceiros compromissos recíprocos, igualmente firma
contrato que é especificamente denominado de contrato administração (ANCHIETA, 2009
conforme citado por GONÇALVES, 2014).
Os contratos administrativos possuem características próprias que lhes distinguem dos
negócios jurídicos privados. Isso é assim porque são regidos principalmente por normas
publicistas, mas surgindo, ainda assim do gênero comum ao qual pertencem todos os
contratos.
Por fim, França (2013) conceitua o contrato administrativo como ajuste estabelecido
entre a Administração Pública e o particular regulado pelo direito público, tendo por objetivo
alguma atividade que de alguma forma atenda ao interesse público, nas condições fixadas pela
própria Administração Pública.
Medauar (2014) defende que tanto os contratos administrativos clássicos como os
novos tipos contratuais se incluem numa figura contratual chamada de módulo contratual,
principalmente se abandonar a concepção restrita de contrato, apenas centrada na autonomia
da vontade, na igualdade absoluta entre os contratantes e na imutabilidade da vontade inicial
das partes.
A teoria clássica dos contratos administrativos passou a ser mais enfocada a partir da
década de 70 e alguns elementos de elaboração passaram a ser questionados. De fato, a
participação da Administração Pública nesses ajustes, efetivamente, faz com que a esta, sejam
atribuídas prerrogativas, vantagens que não se estende aos particulares, que a colocam em
superioridade em relação a estes. Para Justen Filho (2014), tal superioridade não surge de
20

maneira gratuita, mas decorre da imperatividade dos interesses representados pela


Administração Pública e, particularmente os da coletividade.
Assim, as cláusulas dos contratos administrativos são unilateralmente elaboradas pelo
Poder Público, não interferindo o particular contratado de forma alguma. França (2013)
registra ainda que somente o Poder Público dispõe da prerrogativa de rescisão unilateral dos
contratos administrativos, invocando a exceção de contrato não cumprido, regra que não se
aplica ao particular contratado. Somente é atribuída à Administração a possibilidade de
aplicação unilateral de sanções e penalidades ao particular contratado, em vista do
descumprimento de suas obrigações.
Outro fato refere-se aos limites de acréscimos e supressão do objeto contrato fixados
na lei, pois o contrato fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os
acréscimos ou supressões nas obras, serviços e compras até vinte e cinco porcento do valor
inicial atualizado do contrato, e, no caso de reforma de edifício ou de equipamento, até
cinquenta porcento para seus acréscimos. Nenhum dos acréscimos ou supressão poderá
exceder esses limites, salvo supressões resultantes de acordo celebrado selado pelos
contratantes (conforme o segundo parágrafo, inciso II do art. 65, com a redação dada pela Lei
9.648/98).
À Administração é conferido o direito que é principalmente dever, de acompanhar e
fiscalizar toda execução do contrato administrativo. E, para tanto designa representante que
poderá determinar o que se fizer necessário para regularização de faltas e defeitos observados.
Entre essas, dispõe de cláusula que determina a inclusão de objeto com seus elementos
característicos, o regime de execução ou a forma de fornecimento, os prazos de início e
execução, de conclusão e entrega e o crédito pelo qual correrá a despesa. Essa última cláusula
evita que a Administração alegue, durante a execução do ajuste, a falta de verbas para
financiá-lo.
No que tange aos prazos para a execução do contrato, em primeiro lugar cumpre
chamar a atenção para o fato de que nenhum contrato administrativo poderá ser celebrado,
sem que deste, conste o prazo certo e determinado. Ainda estabelece o art. 57 (LF 8.666/93),
terceiro parágrafo, que a duração contratual ficará restrita à vigência dos respectivos créditos
orçamentários.
Com relação às alterações contratuais dos contratos administrativos é importante
salientar que devem ser produzidas mediante termos de aditamento e que deverá ser
acompanhado da sua respectiva realização.
21

As hipóteses de modificação dos ajustes firmados estão previstas no art. 65 da Lei de


Licitações 8.666/93 e quando se verifica qualquer alteração, deve ser obrigatoriamente
acompanhada das razões dos fundamentos que lhe deram origem. O grande objetivo é sempre
manter o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, o que representa um direito do
contratado, com respaldo constitucional.
Nos contratos, os interesses das partes envolvidas são divergentes, uma vez que, como
visto, enquanto o Poder Público procura o recebimento do objeto, na forma inicialmente
convencionada, o particular contratado almeja o recebimento do pagamento ajustado.
A inadimplência, inexecução ou descumprimento das cláusulas contratuais, seja
integral ou parcialmente, decorrente de ação ou omissão, culposa ou sem culpa, de qualquer
das partes, caracterizando o retardamento ou o não cumprimento do ajustado, enseja
responsabilidade para o inadimplente e, ainda, a rescisão contratual.
Pela inexecução poderá responder o inadimplente em caráter civil (com a obrigação de
reparar) e administrativo (com aplicação de sanções, suspensão provisória para licitar e
contratar com a administração e a declaração de idoneidade para contratar com a
administração, por prazo de dois anos, devendo ser requerida a reabilitação) (CABRAL,
2015).
Anchieta (2009) adverte que a atenção do gestor de contratos em obras públicas deve
ser redobrada, pois os princípios administrativos da publicidade, moralidade, eficiência, entre
outros, exigem a documentação acurada de eventos e procedimentos, conforme citado por
Gonçalves (2014). Além disso, o imperativo de adequação de todas as fases contratuais e
procedimentos de acompanhamento e execução às previsões do edital acrescem dificuldades,
ainda mais quando o gestor, responsável pelo acompanhamento e execução do contrato, não
participou da fase de discussão, elaboração e aprovação do edital, projeto básico, executivo,
memoriais e, finalmente, do contrato em si.
A Constituição Federal traz em seu art. 37, inciso XXI a licitação como um princípio
constitucional e em 1993 através da Lei Federal no 8.666, é instituído as normas gerais da
licitação e contratos administrativos.
Os contratos licitados, firmados com a administração pública, agregam uma profusão
de peculiaridades, decorrentes da legislação constitucional e administrativa. De acordo com
Cunha (2016) e o art. 3 da LF 8.666/93 “a licitação deve garantir a observância do princípio
da lei no que se refere à isonomia, à legalidade, à impessoalidade, à moralidade, à
publicidade, à probidade administrativa e à eficiência, entre outros”.
Em tais relações, destaca-se a supremacia do interesse público que frequentemente
22

subverte a ordem natural da execução das obrigações numa perspectiva isonômica, isto é, de
igualdade e paridade contratual que permeia os contratos entre particulares, mas não prevalece
nos contratos firmados com a administração pública.
Observa-se que nos contratos licitados, o quesito “satisfação do cliente” pode ser
mitigado, até como decorrência do princípio da impessoalidade que rege a administração
pública. Não se pode perder de vista que a possibilidade de aplicação autoexecutável de
penalidades por descumprimento parcial ou total de obrigações contratuais torna
imprescindível o melhor controle possível da execução dos contratos, para garantir o
recebimento integral das parcelas contratadas nas medições periódicas (FREITAS, 2009 apud
CORDEIRO, 2013).
Nesse sentido, o Poder Judiciário está repleto de causas, às vezes milionárias, de
construtoras que reclamam prejuízos havidos com o atraso ou negativa de pagamento de
parcelas devidas, em razão de controvérsias nas medições, ausência de documentação e
clareza de critérios, despreparo do gestor do contrato, entre outros.
A discussão judicial costuma durar muitos anos e não são raros os casos de
construtoras que faliram durante a espera. Contudo, mais uma vez, fica explícita a
importância de uma boa gestão de contratos, inclusive quando os mesmos são firmados com a
Administração Pública.

3.1.1 Alterações nos contratos administrativos

O contrato administrativo pode ser alterado em conformidade com o que dispõe o


artigo 65 da Lei n° 8.666/93, desde que sejam observados os pressupostos legais, quais sejam:
necessidade da administração, interesse público e motivação do ato, o qual tem que ser
justificado e aprovado pela autoridade competente. Há, também, regras estabelecidas que
limitam as alterações contratuais com o objetivo de evitar a fuga do processo licitatório e,
ainda, a proteger o interesse do particular contratado.
Há que se ressaltar que o objeto do contrato não pode ser alterado, e que se
descaracterizado, implicará no desrespeito aos princípios da igualdade, da competitividade
entre os licitantes e da obrigatoriedade da licitação. Ainda que as alterações contratuais sejam
permitidas, elas são sempre limitadas e devem ser vistas como exceção, razão pela qual deve a
Administração planejar os seus contratos adequadamente, realizando estudos prévios
23

consistentes para que os mesmos sejam executados nos exatos termos que as obrigações
contratuais foram avençadas inicialmente (LÔBO, 2014).
A alteração contratual deve pressupor alteração efetiva na demanda de interesse
público que se busca a atender com o contrato administrativo e não para a correção de falhas
substanciais provenientes de projetos básicos ou de termos de referência deficientes e
omissos.
Desse modo, o planejamento eficiente e adequado das licitações reduz,
significantemente, as demandas por alterações contratuais. Justen Filho (2014) cita que as
hipóteses de alteração do contrato administrativo são basicamente:
I – Alteração unilateral, determinada pela Administração;
II – Alteração por acordo entre as partes.
A Administração possui a prerrogativa de alterar o contrato unilateralmente, ou seja, o
contratado é obrigado a aceitar a alteração, garantido o equilíbrio econômico-financeiro do
contrato. Trata-se da aplicação de cláusula exorbitante, conforme dispõem os arts. 58, I e 65, I
“a” e “b” da Lei n º 8.666, de 1993.
24

4 GESTÃO DE CONTRATOS

De acordo com o dicionário Aurélio, define-se contrato como acordo ou convenção


para a execução de algo sob determinadas condições. Assim como gestão, é definida como
gerência, administração.
Logo, a gestão de contratos é o conjunto das técnicas, procedimentos, medidas e
controles que visam à administração correta e eficaz de todas as variáveis envolvidas na
contratação, desde a proposta negocial, passando pela negociação do contrato, discussão e
redação de cláusulas, cautelas na formalização do contrato, até a execução, acompanhamento
e entrega do trabalho – seja ele uma obra, um projeto, um serviço, ou qualquer outra prestação
de serviço (FREITAS, 2009 apud CORDEIRO, 2013).
Segundo Padgett (2012) “o segredo para gerenciar bem um projeto é ter expertise em
um método comprovado, estruturado e sistemático para definir, planejar e supervisionar
projetos complexos”.
Além disso, a gestão de contratos tem a função de garantir que tudo ocorra de forma
igual ou melhor que o previsto, desenvolver análise crítica do contrato e propor alterações ou
melhorias onde for necessário e se possível, também, deve providenciar condições para
comprovação do cumprimento das obrigações contratuais: vistorias, diários, fotografias, atas,
inventários, notas fiscais, certificados, e tudo que compõe o contrato.
O contrato é imprescindível para a concretização de um negócio, pois é nele que estão
descritos os interesses de ambas as partes. Portanto, o contrato é a base que alicerça a
construção das organizações, sendo definido também como o documento que criou o negócio,
o qual define os direitos e responsabilidades.
De acordo com o PMI (2013, p.124), “quando um projeto é feito sob contrato, as
cláusulas contratuais geralmente são restrições”. O problema nasce exatamente neste ponto,
onde as organizações focam seus esforços nas execuções dos projetos, e ignora a importância
de gerir o contrato, fator de extrema importância para a sobrevivência no mercado e a saúde
financeira da empresa.
A fim de manter ciência e controle dos contratos em geral, aconselha-se a implantação
de um sistema de gestão de contratos, permitindo o controle desde a sua confecção até seu
encerramento, envolvendo todas as fases do seu ciclo de vida. Santiago Júnior (2012) defende
que essa implantação se resume em três passos, sendo:
- Dispor de um corpo técnico para avalizar sua realização desde o início até a sua
25

conclusão;
- Utilizar um banco de dados comum para garantir a clareza de todas as informações
aos envolvidos no negócio;
- Definir perfis de risco para cada contrato e os enquadrarem de acordo com a sua
importância.
Vale ressaltar que não importa a quantidade de contratos que a empresa dispõe para
implantação deste sistema, o mesmo é de extrema importância e retorno, mesmo que seja para
gerir somente um único contrato, o qual consegue sim ganhos suficientes que justifique tais
investimentos.
É importante saber que a fiscalização de contratos não envolve somente a checagem de
averiguação para saber se ele foi cumprido, validando a entrega de serviços ou produtos, a
quantidade, qualidade, preços, condições e formas de pagamentos.
Também será verificada toda a rotina, desde um questionamento sobre a necessidade
ou não de adquirir um produto ou serviço, quantidade, preço, sugestões, elaboração e
alteração das cláusulas contratuais, até mesmo uma visão mais ampla de mercado para o
acompanhamento de aumentos e reduções de preços, indagando os motivos do aumento ou
então da diminuição do consumo, visando o aumento da eficiência e da eficácia da empresa,
otimizando assim os custos (ANCHIETA, 2009 conforme citado por GONÇALVES, 2014).
Santana (2015) define que os contratos são os reflexos dos negócios firmados,
podendo ser positivos ou negativos, isso será definido após uma boa análise dos mesmos,
nascendo assim a gestão dos contratos.

4.1 As vantagens da gestão de contratos

Uma boa gestão de contratos permite o controle, visando garantir os objetivos


desejáveis, a fim de evitar perda de receitas, de oportunidades e custos excessivos. Vale
ressaltar que por mais que o contrato seja muito bem negociado e escrito, pode se tornar
inútil, caso não seja gerido de forma adequada (DEMETRIUS, 2016).
Anchieta (2009) apud Gonçalves (2014) relata que a empresa precisa ter ciência e
controle de todos os contratos firmados, e sobre as exigências e compromissos que estes
representam para a organização. Uma boa gestão de contratos deve ser regida por princípios
de lealdade, eticidade e boa-fé. É importante ressaltar a clareza que essa boa gestão deve
26

causar, uma vez que seu gestor pode ser substituído, ou outros acontecimentos podem surgir
durante a vigência do contrato, isso evidenciará a organização da empresa.
Negócios significam relacionamentos, sejam eles com clientes, fornecedores, parceiros
e mesmo com órgãos públicos, como a Receita Federal — e, na maior parte dos casos, esses
relacionamentos precisam ser oficializados por meio de contratos. É nesse documento que
estão inseridas informações essenciais como prazos, valores, além de possíveis multas ou
sanções por descumprimento dos termos.
E, tão importante quanto fechar um contrato, é preciso saber gerenciá-los da melhor
maneira possível. Inúmeros são os benefícios acarretados pela gestão de contratos, segue
abaixo alguns citados por Freitas (2009) e revalidado por Cordeiro (2013):
- Acompanhamento da vigência dos contratos, podendo analisar com antecedência se é
viável renová-lo ou não, e não correr o risco de ser pego de surpresa;
- Padronização dos critérios de minuta da empresa conforme já analisado e aprovado
pelo departamento jurídico;
- Facilidade de identificação se o serviço ou o produto estiverem sido realizados e/ou
entregues dentro do prazo, sendo indicadores para a área financeira da empresa, criando assim
uma visibilidade para a liberação de pagamentos;
- Armazenamento e controle de documentos para serem consultados sempre que
precisar, visto que os mesmos fazem parte do processo de contratação como especificações e
cotações, que acabam ficando perdidas no decorrer do processo.
Com uma gestão de contratos, todas as áreas envolvidas no processo de contratação
terão mais comunicação entre si. A boa gestão de contratos é apenas uma das inúmeras
funções que fazem parte da rotina de um bom empreendedor.

4.2 Deficiências na gestão de contratos

O PMI (2013, p.357) define contrato como:


Os processos de gerenciamento das aquisições do projeto envolvem acordos,
incluindo contratos, que são documentos legais entre um comprador e um
fornecedor. Um contrato representa um acordo mútuo que obriga o fornecedor a
oferecer algo de valor (por exemplo, produtos, serviços ou resultados específicos) e
obriga o comprador a oferecer uma compensação monetária ou de outro tipo. O
acordo pode ser simples ou complexo, e pode refletir a simplicidade ou
complexidade dos resultados e do esforço necessário.
27

Em estudos realizados, concluíram-se que normalmente os contratos são mal geridos,


destacando-se a falta de integração de informações dos envolvidos na gestão dos mesmos.
A gestão de contratos envolve vários setores da empresa, desde o firmamento do
contrato até a conclusão do mesmo, e as deficiências são percebidas em diversas situações,
podendo citar como exemplo compras não recebidas, ou recebidas e não executadas, ou
executadas e não medidas, entre outros. A empresa deve ser analisada como um todo, para um
bom andamento e sucesso no fim de um contrato (CHOMA, 2007 apud SHIMBO, 2010).
É perceptível como que inúmeras empresas ainda se apresentem deficientes do ponto
de vista da gestão de contratos, nesse sentido, Granziera (2002) apud Ribeiro (2011) destaca
alguns fatores:
- Deve-se atentar à redação do contrato para garantir que eles sejam redigidos da
maneira mais clara e assertiva possível. Engana-se quem pensa que um bom contrato é apenas
aquele vantajoso financeiramente para o seu negócio: o importante é que o contrato, mesmo
quando se tratar de processos futuros, esteja alinhado às capacidades financeiras e técnicas da
sua empresa. Ou seja, não feche negócios que sua empresa não tenha capacidade de suprir,
não contrate serviços que seu negócio não é capaz de honrar;
- Discriminar de maneira clara as multas e penalidades referentes a quebras de termos
do contrato para ambas as partes, fazendo com que o contrato também seja uma garantia para
o seu negócio, lembrando que uma assistência jurídica pode fazer a diferença nessa hora;
- Organizar bem os contratos e a maneira que serão arquivados. É importante que eles
sejam localizados com rapidez e separados de acordo com sua natureza (contratos com
clientes, contratos com fornecedores, contratos com órgãos públicos, etc.) e por ordem de
duração, aqueles com vencimento em um mês, um semestre, um ano ou mais;
- Se atentar às garantias de flexibilidade, já que a maioria delas passam despercebidas,
pois é comum que um documento já preveja determinadas mudanças, como uma renovação
automática, aumento de tarifas após determinado prazo e mesmo a aplicação de multas
conforme atrasos. A maioria das empresas não tem noção exata de quando esses valores e
condições mudarão e nem se planejam de como a empresa reagirá a essas mudanças
(considerando elas positivas ou negativas).
Visto que tem sido disseminado o conceito e a importância da gestão de contratos, de
acordo com Padgett (2012), as empresas têm optado em ter como aliadas inovações da
informática, as quais acarretam inúmeros benefícios.
28

4.3 Equilíbrio econômico-financeiro do contrato

O princípio chave das relações contratuais entre contratantes e contratadas é o


equilíbrio econômico-financeiro, também chamado de equação financeira do contrato.
Caracterizada pela relação entre encargos da contratada e a remuneração da contratante que
devem ser mantidos por toda a vigência do contrato. Em vista disso, toda vez que um evento
novo vier a quebrar essa relação é necessário restabelecer o seu equilíbrio, para que nenhuma
das partes saia prejudicada, de forma que se o encargo sofrer aumento, a remuneração deverá
ser aumentada em igual proporção, conclui Giublin Neto (2013).
Observa-se que todos os elementos que integram um contrato, sendo eles:
especificações técnicas, os quantitativos e custos unitários constantes planilha do orçamento,
as leis sociais e encargos complementares utilizados, a composição do BDI (Bonificação de
Despesas Indiretas), preço global e o cronograma físico financeiro definido pelo prazo
estipulado na proposta, devem estar equilibrados, pois são eles que representam a equação
econômico-financeira inicial do contrato.
A questão que se coloca quando há um desequilíbrio nessa equação é saber quem o
provocou e quem vai suportar ou pagar os eventuais prejuízos que houver. É importante frisar
que o chamado “desequilíbrio econômico-financeiro do contrato” está referido unicamente a
essas condições iniciais acima referidas e não podem ser imputadas à eventual má gestão do
contrato.
Assim, por absurdo, seria ilógico se mantidas todas as condições iniciais estabelecidas,
a empresa tivesse tido um vultoso prejuízo por problemas de má gestão do contrato e viesse a
pleitear uma recomposição nos seus preços por desequilíbrio econômico-financeiro.
Como exemplo pode ser citado, se a empresa, previu uma determinada produtividade
de mão de obra, um determinado consumo de materiais e uma determinada quantidade de
horas de equipamento na composição dos custos unitários de um determinado serviço e se na
execução gastou mais horas de mão de obra, consumiu mais materiais ou mais horas de
equipamento por unidade de serviço, por falha ou incompetência na gestão de produção da
obra, não pode pleitear qualquer recomposição de preços alegando desequilíbrio econômico-
financeiro do contrato.
Outro exemplo é com relação a prazo de execução. Se o prazo foi estendido por culpa
exclusiva da má gestão da obra e por consequência resultou em um aumento expressivo dos
seus custos indiretos, principalmente nos gastos com a administração local, não pode ser
29

caracterizada uma situação passível de ser alegado um pedido de ressarcimento por


desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, a menos que seja por outros motivos
imprevisíveis ou por iniciativa ou culpa da contratante previstos na legislação.
Portanto a equação inicial significa que, antes de assinar o contrato, a proponente
estudou, analisou as condições e preços e concluiu-se que seja viável em executá-lo nas
condições de equilíbrio econômico-financeiro dos parâmetros citados inicialmente.

4.4 O papel do gestor de contratos

O gestor de contratos, primeiramente, deve ter conhecimento pleno e minucioso a


respeito do contrato, além disso, deve fiscalizar a solidez e segurança da obra, a qualidade dos
materiais, o atendimento dos prazos, o trabalho dos prestadores de serviço (que, muitas vezes,
não foi ele quem contratou), o cumprimento de encargos fiscais, trabalhistas e
previdenciários, o atendimento às normas de segurança do trabalho, a regularidade de
pagamentos, e tantos outros itens. O gestor deve não apenas verificar eventuais
desconformidades, mas também como atuar para que sejam corrigidas (CABRAL, 2015).
O enfrentamento de todos esses desafios e encargos é possível, contanto que o
profissional se prepare, não apenas para a constante evolução técnica das diversas áreas da
construção civil, mas também para as precauções contratuais e as técnicas de controle e
administração de contratos e relações contratuais.
Freitas (2009) apud Cordeiro (2013) acredita que um contrato claro, abrangente e bem
redigido, juntamente com procedimentos de controle, acompanhamento, registro e
documentação de tarefas e incidentes, constituem, sem dúvida, uma importante ferramenta
para que a conclusão bem sucedida de uma bela obra ou projeto seja coroado por bons
resultados financeiros e incremento do relacionamento com o cliente.
Diante do que foi relatado, vê-se a importância das organizações em dispor de bons
profissionais que desempenhem seus papéis com excelência, como aborda Santiago Júnior
(2012) “(...) para justificar o fato de muitas empresas terem um valor de mercado
extremamente superior ao seu valor patrimonial”. O autor completa ainda dizendo que “O
conhecimento se tornou o ativo mais importante, e indispensável, por ser a principal matéria-
prima com o qual todos trabalham, sendo assim mais valioso e poderoso que qualquer outro
ativo físico ou financeiro”.
30

O profissional da construção civil, notadamente o engenheiro e o arquiteto que


assumem a responsabilidade técnica têm sobre si pesado encargo técnico e jurídico (LÔBO,
2014). O encargo técnico dispensa mais comentários, pois o profissional é preparado para tais
desafios e os tem em foco, desde a formação acadêmica até o aprendizado da experiência,
acrescido da necessária atualização profissional, que deve ser contínua na carreira.
O encargo jurídico decorre da responsabilidade legal do profissional, nas esferas cível,
penal e administrativa, todas elas agravadas pelo fato de que o responsável técnico responde
não apenas por si, mas também sobre o serviço ou a obra integralmente considerados,
incluindo todos os fatores e colaboradores que concorrem para a execução.
31

5 ESTUDO DE CASO : OBRA EM CONJUNTO HABITACIONAL

Com o objetivo de exemplificar os estudos já abordados, a fim de obter uma


compreensão melhor do assunto, de uma maneira clara, simples e objetiva, é proposto um
estudo de caso, de forma simplificada, no qual será analisada somente a viabilidade do
contrato mediante análise de determinas cláusulas que o regem, contrato esse firmado entre a
Construtora Minas (nome fictício) e a Prefeitura Municipal, referente ao contrato da Obra de
Construção de Conjunto Habitacional no Bairro Altinópolis, no município de Governador
Valadares, caracterizada como uma obra pública.

5.1 Métodos de trabalho adotado pela empresa

A empresa em questão, ganhadora da licitação, classificada como empresa de médio


porte, implantou o sistema de gestão de contratos, a qual dispõe de um software para melhor
análise e acompanhamento de seus contratos.
Por se tratar de um amplo estudo, será abordado como foco quatro principais cláusulas
do contrato que gerou a abordagem deste assunto e consequências irreparáveis ao contrato
firmado inicialmente, que não foi gerido de forma adequada diante das alterações impostas
nos quesitos analisados, sendo eles: Preço, Prazo, Reajustamento e Medição/Pagamento.
É de extrema importância que cada profissional desenvolva sua própria técnica e
métodos de controle para o gerenciamento de seus contratos, mas é importante que deva se
enquadrar na Gestão de Contratos adotada pela empresa.
A adaptação dos princípios gerais à realidade pessoal do profissional está diretamente
relacionada à economia de tempo, que vem como decorrência da organização adequada de
providências, documentos e tarefas. A sistematização dos procedimentos é, sem dúvida, um
dos segredos da eficiência e segurança.
32

5.2 Cláusulas que regem o contrato

Por se tratar de um contrato administrativo, o início do processo se dá pela publicação


do edital, o qual foi apresentado uma minuta do contrato, contemplando todas as cláusulas
que vão regê-lo, desde a ordem de serviço (início da obra) até sua conclusão. Neste primeiro
processo já inicia a gestão de contratos, a qual já tem o objetivo de analisar as cláusulas de
grande impacto no decorrer da execução.
Primeiramente, foi analisado o preço, e nesse sentido, a planilha orçamentária deve ser
coerente com os preços praticados no mercado, e os serviços devem contemplar materiais,
mão de obra e demais valores que sejam inerentes à execução do serviço. É importante que
esteja citado de forma clara a data-base da planilha, mês de referência que foi baseado os
preços praticados e a porcentagem do BDI.
Em relação ao prazo, deve ser informado o prazo de execução e o de vigência, e a
partir de qual data o mesmo será contabilizado. Entende-se por duração ou prazo de vigência
o período em que os contratos firmados produzem direitos e obrigações para as partes
contratantes.
A regra geral, estabelecida pelo Caput do art. 57 da Lei nº 8.666, de 1993, é que os
contratos têm sua vigência atrelada ao exercício orçamentário, e, como sabemos, o exercício
orçamentário coincide com o ano civil, por força do disposto no art. 34 da Lei nº 4.320, de 17
de março de 1964.
Neste sentido é a lição doutrinária XII reproduzida abaixo: “Dispõe o caput do art. 57
da Lei nº 8.666/93 que a duração dos contratos por ela regidos ficará adstrita à vigência dos
respectivos créditos orçamentários”. Significa que a norma geral de vigência dos contratos
administrativos estabelece limite temporal para a sua execução: até 31 de dezembro do ano
em que é celebrado o contrato entre a Administração e o particular.
Contudo, a Advocacia-Geral da União, por meio da Orientação Normativa – ON/AGU
nº 39, abaixo reproduzida, entende que mesmo os contratos enquadrados no caput do art. 57
da lei nº 8.666, de 1993, podem estabelecer prazo de vigência que ultrapasse o exercício
financeiro em que são celebrados, bastando que a Administração, antes do encerramento do
exercício financeiro empenhe o valor integral do contrato, inscrevendo-o em restos a pagar os
valores correspondentes ao período de vigência contratual que se estenderem pelo ano
subsequente.
33

A vigência dos contratos regidos pelo art. 57, caput, da lei 8.666, de 1993, pode
ultrapassar o exercício financeiro em que celebrados, desde que as despesas a eles
referentes sejam integralmente empenhadas até 31 de dezembro, permitindo-se,
assim, sua inscrição em restos a pagar (BRASIL, Orientação normativa nᵒ 39, 2011).

Ou seja, “restos a pagar” são as despesas cuja obrigação de pagamento foi criada pelo
Estado em determinado exercício financeiro, mas não completaram todo o trâmite de
realização da despesa pública até 31 de dezembro. Isso significa que os créditos referentes à
despesa inscrita em “restos a pagar” têm sua vigência prorrogada para o exercício financeiro
seguinte, já que, embora estejam previstos na lei orçamentária anterior e sejam destinados a
cobrir despesas empenhadas durante o exercício pretérito, serão utilizados após 31 de
dezembro.
Nesse sentido, o artigo 68, do Decreto n° 93.872, de 23 de dezembro de 1986, que
regulamenta a legislação supracitada, dispõe textualmente que “a inscrição de despesas como
Restos a Pagar será automática, no encerramento do exercício financeiro (...) e terá validade
até 31 de dezembro do ano subsequente”.
Seguindo, sobre a cláusula de reajustamento, segundo a Lei 8.666/93, art. 40,
estabelece a obrigatoriedade de constar:
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção,
admitida a adoção de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para
apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data
do adimplemento de cada parcela.

Por fim, a cláusula de medição e pagamento, determinando as condições de pagamento


e seus critérios de atualização caso haja ausência de pagamento dentro do prazo fixado.
Tomando como base o contrato em questão, segue as quatro cláusulas:
- PREÇO: R$ X reais (Planilha orçamentária), com data-base em Outubro/2013 (mês
de referência do orçamento);
- PRAZO: 540 dias corridos contados da data de recebimento da Ordem de Serviço
(OS) com autorização para o início das atividades. Com prazo de vigência considerado 600
dias corridos, contados da data de assinatura deste contrato;
- REAJUSTAMENTO DE PREÇOS: As atividades executadas após decurso do prazo
de um ano contado do mês indicado como “lo” serão reajustados segundo o índice IGP-M,
publicado pela Revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas;
- MEDIÇÃO E PAGAMENTO: O contratante fará pagamentos mensais, tendo por
base a medição das atividades e quantidades efetivamente desempenhadas pela contratada.
Cada medição será formalizada e datada no último dia útil de cada mês e a fatura
respectivamente será formalizada e datada no último dia útil de cada mês e a fatura respectiva
34

será paga até vinte dias úteis do mês subsequente. A ausência de pagamento dentro do prazo
fixado importará sua atualização para a data de liquidação pela variação dos índices do INCP,
pro rata die.

5.3 Análise da viabilidade do contrato

O contrato em questão teve início dia 10 de dezembro de 2014, mediante sua


assinatura e recebimento da OS (Ordem de Serviço). Desde o começo de sua execução, foram
detectadas inúmeras divergências entre projetos, planilha orçamentária e memorial descritivo,
além das incompatibilidades entre projetos e detalhamentos insuficientes, com isso, gerou-se
então um mau planejamento da obra, acompanhado de mão de obra não qualificada.
Todas essas questões afetam diretamente o desenvolver do contrato, principalmente no
que tange a custos adicionais para o município e/ou estado, podendo o mesmo chegar até 50%
dependendo da tipologia (construção/reforma) da obra. Com esses resultados, torna-se clara a
necessidade de se planejar todas as etapas, desde a confecção dos projetos até a execução da
obra, e principalmente, o contrato, que foi o fato gerador desta questão.
Diante das inconformidades encontradas na execução do contrato em estudo, foi
preciso retornar ao contrato, observar e fazer cumprir as cláusulas nele constadas.
Nos quesitos preço e prazo, nota-se que a obra foi iniciada um ano e dois meses após a
data base do seu orçamento, portanto, os preços já estavam defasados, logo, a obra já devia ter
iniciado com reajuste em seus preços unitários, considerando a atualização entre out/2013 a
dez/2014, uma taxa de 4,61% de acordo com o índice IGP-M (índice adotado pelo contrato).
Além disso, considerando que os questionamentos de incompatibilidade na execução
da obra realizados desde o início do contrato permanecem até a presente data, a obra se
encontra paralisada desde o mês de agosto/2016 permanecendo até dezembro/2016 (atual data
que o trabalho está sendo desenvolvido).
Portanto, considerando a atualização dos preços até hoje, com período de
dezembro/2014 a dezembro/2016, tem-se uma taxa de 18,47% de reajuste de acordo com o
IGPM. Elevando assim o contrato de R$ X + (4,61% + 18,47%), um acréscimo de 23,08% do
seu valor original/licitado.
Segue abaixo planilha dos índices publicados pela FGV (Fundação Getúlio Vargas)
35

dos meses de referência. As porcentagens são calculadas da seguinte forma:


[(índice final/ índice inicial) -1 x100].

Tabela 1 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Outubro/2013)

Fonte: Portal IBRE – FGV

Tabela 2 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Dezembro/2014)

Fonte: Portal IBRE – FGV

Tabela 3 – Índice Geral de Preços Componentes – IGPM (Dezembro/2016)

Fonte: Portal IBRE – FGV

Esta porcentagem de 23,08% pode ser considerada uma porcentagem bem relevante
para acréscimo de valor de um contrato firmado em 2014 e que por falta de uma gestão
adequada levou a um aumento considerável. O Prof. Marçal comenta da seguinte maneira esse
reajuste:
O direito à manutenção do equilíbrio econômico-financeiro da contratação não
deriva de cláusula contratual nem de previsão no ato convocatório. Tem raiz
constitucional. Portanto, a ausência de previsão ou de autorização é irrelevante. São
36

inconstitucionais todos os dispositivos legais e regulamentares que pretendem


condicionar a sua concessão de reajustes de preços, recomposição de preços,
correção monetária a uma previsão no ato convocatório ou no contrato (JUSTEN
FILHO, 2014).

A previsão constitucional de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato tem a


finalidade precípua de evitar o enriquecimento sem causa, assegurando a equivalência entre o
encargo e a remuneração através do restabelecimento do equilíbrio contratual, porventura
alterado durante a sua execução. Segundo Silva (2015) "Assim como a lei coíbe a lesão (lesão
instantânea), não se pode permitir que a alteração do valor de uma das prestações, por
circunstâncias alheias à vontade das partes, subverta o equilíbrio do contrato".
Em concordância com Silva (2015), Mello (2005) apud Di Pietro (2013) afirma que “o
equilíbrio econômico-financeiro do contrato, equação intangível, tem previsão constitucional,
o que deve ser observando pela legislação infraconstitucional e pelos contratos firmados pela
Administração”.
Em relação ao pagamento das medições realizadas, não houve o cumprimento da
cláusula com o prazo determinado para o pagamento, logo, acarreta em juros com sua
atualização no dia em que houver a liquidação, visto que até o momento que este trabalho está
sendo desenvolvido, ainda há pendências financeiras em aberto, não sendo possível
demonstrar o cálculo do valor acrescido.
Ainda, a Administração Pública diante de tantas mudanças no cenário político, sofre a
interferência em seus contratos com a mudança de gestão, falta de fiscalização para
acompanhamento, equipe despreparada sem capacidade técnica, falta de pessoal para
desenvolver uma boa gestão de contratos, instabilidade do Governo em sempre implantar
novas leis, acarretando em aumento de impostos, interferindo diretamente no orçamento
inicial proposto no fechamento do contrato.
Como exemplo que demonstra a instabilidade do Governo, pode ser citada, a
suspensão da desoneração da folha de pagamento, isso significa que a partir do mês de janeiro
de 2016 empresas no ramo da engenharia civil começam a arcar com custo adicional de INSS,
a incidência de 20% nas folhas de pagamento de seus colaboradores, de acordo com a Lei nᵒ
13.161/2015, valor acrescido mas não previsto em orçamento inicial.
Mediante tantos desafios e com a falta de cumprimento das cláusulas firmadas em
contrato, percebe-se a ausência de uma gestão eficaz a fim de evitar esses problemas, o que
torna impossível o cumprimento do prazo inicialmente fixado, o qual deveria ter sido
concluído em junho/2016, mas teve que se estender pelo dobro do prazo inicial, acarretando
custos não previstos. Diante disso, vê-se a dificuldade de cumprimento do contrato firmado
37

inicialmente. Uma boa gestão de contratos já deve prever tudo isso desde o início, e
acompanhar e fazer cumprir as cláusulas constantes no contrato.
38

6 CONCLUSÃO

6.1 Verificação dos objetivos

Ao iniciar-se este estudo, tinha-se como objetivo estudar as consequências de uma má


gestão de contratos. A proposta de encontrar, por meio do levantamento bibliográfico
conceitos relacionados ao tema, métodos e técnicas que melhor se aplicam à gestão de
contratos, foi desenvolvida ao longo do trabalho, sendo contemplada nos capítulos dois, três e
quatro do mesmo.
A sugestão de realizar um estudo de caso para melhor compreensão, através de coleta
de dados, da apreciação dos mesmos, do direcionamento da pesquisa para itens considerados
de maior relevância, da análise e seleção da metodologia mais adequada de gestão, bem como
os resultados encontrados foram apresentados no capítulo cinco deste presente estudo.
O trabalho teve como objetivo demonstrar a importância de uma boa gestão de
contratos, visando uma melhora expressiva nos contratos, em geral, das empresas.

6.2 Conclusões e resultados

Em vista do exposto, conclui-se que o empresário deve gerir o ciclo de vida dos
contratos desde o momento da contratação até o seu distrato ou encerramento, os quais devem
estar regidos pelos princípios da lealdade, eticidade e boa-fé. Se algum momento dos
princípios anteriores forem violados, há a intervenção judicial.
Como pode ser visto, inúmeras leis regem os contratos administrativos e possuem
como premissa manter o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, conforme a Orientação
Normativa nº 22 da AGU e acórdão do TCU que dispõem do seguinte:

O reequilíbrio econômico-financeiro pode ser concedido a qualquer


tempo, independentemente de previsão contratual, desde que verificadas as
circunstâncias elencadas na letra “d” do inc. II do art. 65, da Lei nº 8.666, de 1993
(BRASIL, Orientação normativa nᵒ 22, 2009).
31. Observo, ainda, que o princípio da vinculação ao Edital não pode impedir o
reconhecimento da incidência de hipótese de necessidade de alteração das
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condições originais de pagamentos. Exatamente porque o próprio sistema


positivado vigente à época dos fatos ora enfocados – e também que passou a vigorar
como o advento da Lei n 8.666/93 – autoriza a modificação da avença original,
quando se fizer necessária a retomada do equilíbrio econômico-financeiro. Assim
sendo, há de se reconhecer que, nas situações em que se fizer necessária a
repactuação para restauração desse equilíbrio, o princípio da vinculação aos
termos do Edital cederá – obrigatoriamente – as normas que buscam preservar
a compatibilidade entre o conjunto de encargos impostos ao particular e a
remuneração (BRASIL, Acórdão nᵒ 313, 2002).

Ante o exposto, apesar da previsão legal de que os mecanismos e instrumentos de


reequilíbrio financeiro devam estar expressamente previstos nos contratos, uma vez que não
estejam contemplados, mesmo assim o reequilíbrio é válido, visto estar determinado na
constituição, sendo superior à previsão contratual.
Com o acompanhamento minucioso do contrato, o gestor certificará o cumprimento
das cláusulas pactuadas e, se necessário, fará ajustes durante a execução, sempre com a
formalização em aditivo das novas condições, considerando a importância de oficializar essas
alterações em tempo hábil, com o intuito de não acumular essas solicitações de ajustes,
tornando uma bola de neve, posteriormente, com o passar do tempo.
Com tantas interferências no atual cenário, o contrato em estudo tem se apresentado
inviável, diante de tantas mudanças e acréscimo financeiro gerado durante esses anos. Vale
considerar que tudo isso foi gerado por falta de planejamento e implantação de uma boa
gestão, a qual usufruiria de ferramentas para prever e impedir que tal situação atingisse esse
patamar.
Diante disso, percebe-se o quanto a implantação de um sistema de gestão de contratos
pode evitar situações prejudiciais e até mesmo irreversíveis, como a perda financeira e o
cancelamento de contratos. Por isso, antes de sua assinatura, é de extrema importância que o
mesmo seja analisado, questionado, revisado sempre que necessário para evitar o custo e o
desgaste de um processo judicial e demonstra e importância de controle no decorrer da sua
execução. Por fim, conclui-se que o gerenciamento dos contratos é uma poderosa arma para
evitar inúmeros problemas e fundamental para o êxito de uma organização.
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REFERÊNCIAS

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Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo,
1964, Legislação Federal e Marginália.

BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o Art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e
dá outras providências. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, 1993,
Legislação Federal e Marginália.

BRASIL. Lei n. 9.648, de 27 de maio de 1998. Altera dispositivos das Leis no 3.890-A, de
25 de abril de 1961, no 8.666, de 21 de junho de 1993, no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995,
no 9.074, de 7 de julho de 1995, no 9.427, de 26 de dezembro de 1996, e autoriza o Poder
Executivo a promover a reestruturação da Centrais Elétricas Brasileiras - ELETROBRÁS e de
suas subsidiárias e dá outras providências. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência,
São Paulo, 1998, Legislação Federal e Marginália.

BRASIL. Lei n. 13.161, de 31 de agosto de 2015. Altera as Leis nos 12.546, de 14 de


dezembro de 2011, quanto à contribuição previdenciária sobre a receita bruta, 12.780, de 9 de
janeiro de 2013, que dispõe sobre medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, dos
Jogos Olímpicos de 2016 e dos Jogos Paraolímpicos de 2016, 11.977, de 7 de julho de 2009, e
12.035, de 1o de outubro de 2009; e revoga dispositivos da Lei no 11.196, de 21 de novembro
de 2005, quanto à tributação de bebidas frias. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência,
São Paulo, 2015, Legislação Federal e Marginália.

BRASIL. Tribunal de Contas da União - Plenário. Reequilíbrio econômico-financeiro do


contrato ainda que contrário a cláusula do edital. Acórdão TCU n. 313. DOU, 09 set.
2002. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, 2002.
BRASIL. Decreto n. 93.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos
recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras
providências. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, 1986, Legislação
Federal e Marginália.

BRASIL. Advocacia-Geral da União. O reequilíbrio econômico-financeiro pode ser


concedido a qualquer tempo, independentemente de revisão contratual, desde que verificadas
as circunstâncias elencadas na letra “D” do inc. II do art. 65, da Lei nᵒ 8.666, de 1993.
Referência: art. 65, inc. II, letra "d", da Lei no 8.666, de 1993; Nota AGU/DECOR no
23/2006-AMD; Acórdão TCU 1.563/2004-Plenário. Orientação Normativa n. 22, 01 abr.
2009. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, 2009.

BRASIL. Advocacia-Geral da União. A vigência dos contratos regidos pelo art. 57, caput, da
lei 8.666, de 1993, pode ultrapassar o exercício financeiro em que celebrados, desde que as
despesas a eles referentes sejam integralmente empenhadas até 31 de dezembro, permitindo-
se, assim, sua inscrição em restos a pagar. Orientação Normativa n. 39, 13 dez.
2011. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, 2011.
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