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Olá!
Esta unidade tem como objetivo apresentar algumas formas de Estado, com ênfase no Estado moderno e a
relação com o Sistema democrático. A leitura deve ser realizada pensando o contexto histórico e as
transformações sociais, uma vez que os tópicos iniciais se remetem ao surgimento dos estados e da transição
para a era moderna. Além de outros tópicos, falaremos sobre os Sistemas democráticos e suas variáveis,
trazendo ao estudante a possibilidade de comparar o conteúdo com as informações e notícias atuais. Sugerimos
Bons estudos!
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1.0 Os tipos de Estados e a evolução histórica
Nina Ranieri (2019) afirma que durante toda a história da humanidade os Estados estiveram presentes em uma
parcela pequena da nossa narrativa. Para chegar a esta afirmação, a autora faz uma separação conceitual na qual
analisa o Estado a partir de quatro características. Segundo ela, uma organização deve ser considerada como
Estado se:
b) for autônoma;
c) for centralizada;
É importante, desde já, chamar a atenção do estudante que este critério adotado pela autora pode variar
bastante se comparado com outros teóricos de teoria do Estado e, inclusive, se percebermos que os elementos de
um Estado moderno serão outros mais específicos e que abarcam a complexidade do seu tempo.
De toda forma, se observarmos as formações sociais que buscaram instituir uma força orgânica, oriunda de
alguma manifestação política, e chamarmos esse ente de Estado, perceberemos outras formas de Estado mais
Para compreendermos o processo histórico do Estado e como ele chegou à forma moderna atual, buscaremos
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Fonte: Patrick Poendl, shutterstock, 2020
Assista aí
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1.1 Estado antigo
Ranieri (2019) cita como exemplos de Estados antigos o Egito a partir de 1500 a.C., a Pérsia do século V a.C.,
Os Estados mais antigos que a história relata foram os grandes impérios que se formaram no Oriente
desde 3.000 anos antes da era cristã. Os maiores e mais antigos foram os que se formaram na Baixa
Mesopotâmia, banhada pelas águas do Tigre e do Eufrates, e no Egito, banhado pelo Nilo. (SAHID,
2009, p. 101).
É em razão destes exemplos citados por Ranieri que Streck e Morais (2014) também chamam o Estado antigo
como oriental ou teocrático. Os referidos autores apontam que eram Estados em que a família, a religião, a força
Era um Estado que se organizava geralmente pela forma de governo monárquico, com reis, príncipes ou
imperadores, com uma noção de direito em face do Estado reduzida a quase nada, com uma estrutura social de
Enquanto organização burocrática, não havia divisões. Era um Estado unitário, em que as funções se misturavam
entre aqueles que recebiam mais poderes do soberano, quando este decidia por delegar algumas de suas funções.
A ideologia teocrática guiava não só as vidas particulares como também as relações estatais, que por sua vez
fundava o exercício da força e do governo na explicação divina. Era comum que os líderes dos Estados fossem
Maluf (2009) reforça uma ideia que nos parece coerente com os relatos históricos e que afasta qualquer
romantismo na análise do Estados antigos. O autor afirma que um traço comum da época era o conflito constante
entre as formações estatais, que se mantinham pela força das suas armas. Desses conflitos, um Estado anexava o
Outra característica que o autor aponta, e que decorre deste arranjo político, é que de maneira geral, no Estado
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1.2 Estado grego
Os Estado grego, também denominado de Estado helênico, pode ser colocado temporalmente entre os anos dos
séculos IX e IV a.C. A evolução e as alterações neste período foram grandes, o que necessita demarcar alguns
fatos para além das características gerais deste modelo de organização social e estatal de muita importância para
a sociedade ocidental.
A partir do século IX a.C., a Grécia era governada na forma monárquica e no modelo patriarcal. O Estado era
Uma característica que geralmente é imaginada pelos estudantes é que o Estado grego seria democrático. Esse
pensamento não pode ser assumido de forma literal, principalmente se o parâmetro do conceito de democracia
O Estado grego antigo, geralmente apontado como fonte da democracia, nunca chegou a ser um
Estado democrático na acepção do direito público moderno. O próprio Estado ateniense, no auge da
sua glória, sob a liderança de Péricles, apresentava, na sua população de meio milhão de habitantes,
cerca de 60% de escravos, sem direitos políticos de qualquer espécie, além de cerca de 20.000
Por outro lado, Lopes, Queiroz e Acca (2013) mostram como alguns elementos que hoje são símbolos da
democracia surgiram no Estado grego, como o julgamento realizado no júri, o qual é decidido por cidadãos e
demonstra a igualdade entre os pares, e a deliberação de decisões políticas em ambientes públicos, que
Nina Ranieri (2019), por sua vez, diz que as cidades-estados desenvolveram a democracia dos antigos, aquilo
que Said traz como o Conselho dos cidadãos, um autogoverno com decisões que eram tomadas na ágora, as
Os Estados-cidade, também conhecido como polis, passaram por transformações e assumiram formas diversas
de governo, até mesmo com a república democrática direta. De toda forma, a aristocracia sempre teve papel
importante nos governos gregos. A autora destaca que a forma de criação identitária do cidadão grego era
voltada para o passado, sendo que era necessário a manutenção do seu vínculo com a cidade, sem uma noção de
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Neste processo de evolução, Maluf (2009) aponta que no século IV o Estado ateniense editou seu conjunto de
leis, semelhante ao papel de uma Constituição, e instaurou a Assembleia dos Cidadãos, que passa a assumir o
principal papel político no Estado, o que trazia a substituição do Conselho de Anciãos, com características
nitidamente aristocráticas.
Outro traço marcante do Estado grego era a separação das leis e da esfera pública com a religião. Apesar de uma
narrativa mítica que inspirava o pensamento filosófico e político, as leis eram necessariamente pautadas em
A filosofia, por sua vez, que trouxe uma herança ao mundo ocidental imensurável, é um traço marcante do
Estado, inclusive com os pensadores sendo ouvidos pela população e pelos governantes à época.
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1.3 Estado romano
O Estado romano perdurou por longo período (754 a.C. a 565 d.C.) e teve grande importância no mundo
ocidental, inclusive com influência no mundo oriental, uma vez que o império romano conquistou território do
Roma passou por governos diversos neste período. Apesar de ser conhecido como período do Império Romano,
houve governos monárquicos, republicanos, principados e o imperial. Sahid Maluf (2009) traz que inicialmente o
Estado romano era monárquico, do tipo patriarcal, tendo evoluído da realeza hereditária para a república, com a
Ranieri (2019) diz que umas das razões da duração do Estado romano deveu-se à organização em bases
Importante neste cenário político é a forma com que os romanos aceitavam costumes locais como regras válidas,
ainda que os municípios incorporados ao império tivessem que se submeter ao poder central. Dessa forma foi
possível, ao contrário do que ocorreu ao povo do Estado grego, incorporar as pessoas dos locais dominados.
Neste sentido,
A partir do século III a.C., foram denominados municipia os territórios pertencentes a comunidades
de civitas. Às municipia eram impostos certos serviços e prestações (denominados munera capere) e
exigida a submissão às leis romanas, garantindo-se, contudo, certa autonomia, que se expressava
pela preservação de normas e costumes locais preexistentes. Tal garantia foi especialmente notada
no campo das relações privadas, mas também na organização administrativa. Esta, exercida pela
habitantes à cidadania romana, não incluía direitos políticos (em especial o direito de voto) até
O império romano conseguia concretizar as três formas de governos propostas por Aristóteles, sendo que a
realeza era formada pelos cônsules, a democracia pelos cidadãos em comícios e a aristocracia através do Senado.
Maluf também anota características importantes sobre os direitos e função do Estado romano:
O Estado romano, muito semelhante ao Estado grego, tinha suas características peculiares: distinguia
o direito da moral, limitando-se à segurança da ordem pública; a propriedade privada era um direito
quiritário que o Estado tinha empenho em garantir; o homem gozava de relativa liberdade em face
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do poder estatal, não sendo obrigado, praticamente, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei; o Estado era havido como nação organizada; a vontade nacional era a fonte legítima
O papel dos comícios, apesar de variar durante o império, no período republicano teve alguma importância,
tendo sido determinante na aprovação de algumas leis. Por outro lado, os magistrados representavam aqueles
que mais poderes políticos tinham em Roma, sendo as pessoas que realmente governavam o império.
formação do Direito enquanto ciência, bem como a origem dos institutos que são adotados hoje na esfera
jurídica. Anotamos aqui a importância de todo este período para a sociedade ocidental e aquele que deseja ser
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1.4 Estado medieval
O período medieval é compreendido entre os séculos X e XV, apesar da diferença das datas compreendidas
O Estado medieval teve três elementos presentes que o caracterizaram: o cristianismo, as invasões bárbaras e o
A igreja católica é sempre citada como um elemento político de grande influência na organização estatal durante
este período. O fato de ter sido uma organização que sobreviveu durante um momento em que os poderes
centralizados foram dissipados deu a ela uma vontade organizacional, perpassando de forma horizontal por
Assim, após as invasões bárbaras e dos povos árabes pelo Europa, e com o fim do império romano, faltaram
poderes políticos organizados e que conseguiram manter-se. Foi o que acabou por dar origem aos feudos.
Os feudos eram grandes porções de terras de propriedade do senhor feudal que tinham em sua extensão os
vassalos, que produziam nos feudos em troca do uso das terras e de proteção. A relação era, portanto,
estritamente contratual, na qual um cedia o uso das terras e proteção militar em troca de produção de alimentos
Desse processo histórico não é possível afirmar como cada feudo funcionava e como essa relação estatal se dava
além de tais elementos que se resumiam ao poder destes senhores feudais. De toda forma, um elemento do fim
da idade média que acabou sendo determinante para o modelo absolutista que seguirá é o fato de senhores
feudais terem realizado conquistas territoriais, anexando outros feudos aos seus e, assim, formando-se pequenos
reinos hereditários.
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1.5 Estado moderno
A modernidade é compreendida por muitos com a queda de Constantinopla em 1453 e por outros com a
conquista das Américas a partir de 1492. Destacamos que ambos os fatos históricos são de grande importância e
O primeiro deles abre a Europa para o oriente ao passo que acaba com o monopólio da rota comercia por
Veneza, enquanto o segundo abre para a Europa um mundo ainda inexplorado, com possibilidades ainda
Estes fatos vão ao encontro de um pensamento filosófico que retiraria Deus do centro das explicações e colocou
o homem racional como detentor do poder de explicar, dominar e até mudar a natureza. Ainda, encontra amparo
em uma nova classe social que estava em ascensão, a burguesia, que necessitava de um Estado que garantisse
segurança e previsibilidade nas relações militares e tributárias, para lograrem êxito em suas atividades.
Outro fator que deve ser pensado é o advento de teorias que consagraram a ideia de um Estado absolutista,
sendo destaque junto com as teorias contratualistas para a compreensão do Estado como temos hoje.
Assim, o poder dos senhores feudais decaiu, diretamente ameaçado pela extinção gradual da
servidão. O resultado disso foi o deslocamento da coerção política, em um sentido ascendente, rumo
a uma cúpula dotada de poder centralizado e militarizado: o Estado absolutista. (SOARES, 2011, p.
79).
Este Estado absolutista passa por algumas fases distintas, sendo que, se por um lado decorre de uma evolução
dos reinos feudais, por outras teorias foram sendo desenvolvidas e solidificadas pela Europa que exigiram
justificações dos reis. Neste sentido, as teorias expostas na Unidade II mostram como os contratualistas
Soares (2011) diz que este Estado moderno apresenta duas características marcantes em seu surgimento, ou o
que podemos anotar como a fase de transição, que são o aparato administrativo de forma burocrática, e que
presta alguns serviços públicos, e o monopólio legítimo da força que poderá ser exercido contra todos que
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Neste contexto, o pensamento liberal também está presente e é utilizado para justificar um Estado que detenha
este monopólio do poder para que o livre comércio seja exercido. Apesar de parecer paradoxal em um primeiro
momento, a burguesia percebe que somente com um Estado único e centralizado seria possível garantir
segurança e previsibilidade tributária para o exercício livre de suas atividades. Aqui o Estado moderno cumpre
um papel fundamental, que é afastar qualquer poder paralelo. Contudo, ele o faz sempre pautado em um
Destacamos que, em nossa visão, a Paz de Westphalia (em 1648) pode ser considerada o principal fato desta
transformação estatal eque solidifica os Estado e seus elementos da era moderna. Paz de Westphalia é o nome
dado aos tratados assinados após a Guerra dos Oitenta Anos e a Guerra dos Trinta Anos, em que Estados
Tal fato é de grande importância para o surgimento do Estado moderno, pois os tratados firmam a necessidade
de territórios para a formação de Estados, inclusive com a delimitação destes territórios e de quem os dominava.
Desta característica também resultou no reconhecimento de poderes políticos soberanos sobre cada território.
Com o acordo de não invasão entres os Estados, foi criado o princípio: hujus regio, ejus religio (na região deles, a
religião deles).
O Estado passa a ser uma pessoa artificial, e com essa entificação também surgem características comuns que
são identificadas pela Teoria Geral do Estado e que, apesar da divergência de nomenclatura de autor para autor,
geralmente se estruturam em três elementos: a população, o território e o governo soberano. Eis o advento o
Estado moderno.
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2.0 O Estado e seus elementos constitutivos
Conforme abordamos no tópico anterior, o Estado manifestou muitas formas de organização e de governo, sendo
certo que muito mudou para ser o que identificamos hoje. Por outro lado, é com o advento da modernidade e o
fim da Idade Média que o Estado toma a forma conceitual que adotamos na Teoria do Estado atual.
Apesar disso, alguns autores divergem quanto aos elementos que compõem o Estado e como encará-los. Por isso,
alertamos o estudante que faça uma leitura aprofundada sobre o tema que é cerne da disciplina. Por ora,
traremos a posição que compreendemos ser a mais acertada, e que sintetiza o que os principais autores
brasileiros concluem.
É importante perceber que esses elementos são essenciais para a constituição de um Estado, o que significa
afirmar que eles possuem implicações práticas no reconhecimento do organismo estatal, seja no âmbito interno
e externo. Ou seja, para que possamos chamar uma sociedade de Estado será necessária a cumulação
Antes de explicarmos cada um destes elementos, frisamos o que Soares (2011) traz sobre a personalidade
jurídica do Estado. A teoria que aborda tal concepção, de que o Estado é uma pessoa jurídica, foi inicialmente
concebida por Gierke, Gerber, Jellinek, entre outros. Nela, o Estado seria uma pessoa em si, que ganharia um
status jurídico em virtude de sua organização, com o elemento subjetivo composto pelo seu povo, em um
território delimitado que é a representação corpórea e o governo soberano que exerce a manifestação de
Por último, é necessário tomar nota que alguns autores acrescentam um quarto elemento para a constituição do
Estado. Nina Ranieri, por exemplo, considera que a finalidade é um outro elemento essencial na formação estatal.
Geralmente, os autores que buscam a finalidade como um elemento estão ligados a uma análise mais jurídica das
Essa finalidade é a própria fundamentação da existência e das ações da organização pública: é o fim para o qual o
Estado é criado e explica sua existência. Nina Ranieri afirma que “atualmente, a proteção da dignidade humana e
a promoção dos direitos fundamentais prevalecem como fins do Estado.” (RANIERI, 2019, p. 135).
Assista aí
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2.1 Território
Azambuja afirma que o território é o próprio corpo físico do estado, um espaço físico que o compõe. É a partir
deste limite que é, em regra, reconhecida a soberania estatal e suas relações jurídicas internas podem ser
formadas.
Faz-se importante perceber que o território é um dos principais critérios para adoção de uma lei. Ou seja, a regra
De início, o referido autor já nos aponta como é essencial o elemento territorial, e traz como um exemplo de
negação o que o povo judeu viveu até o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim, ainda que aquele povo tivesse
alguma forma de liderança com poderes políticos, a ausência de um território impedia-lhes de serem
Essa noção de território, enquanto elemento, surge com a organização westfaliana, como mencionamos
anteriormente. Dessa forma, o reconhecimento por meio de tratados entre os Estados de que há uma porção de
terras que pertence a um deles, e que o outro não o violará, é de grande importância para a compreensão desta
No plano da teoria do Estado, há relevância no estudo sobre as fronteiras, pois em muitos casos elas são
disputadas e podem ser alteradas (são as chamadas fronteiras vivas). Essas áreas de disputas geram tensões e
conflitos, inclusive com a possibilidade de surgir destes espaços geográficos fronteiriços um novo Estado.
Mário Lúcio Quintão Soares destaca duas características básicas do território estatal:
Uma zona geográfica fechada possibilita e estimula a criação e solidificação de uma entidade
sociopolítica hermética na qual a vizinhança atuará unindo para dentro e diferenciando para fora;
•A estabilidade: seus limites não se alteram com frequência e a sua população sedentária, submetida
a uma relativa semelhança de condições espaciais de ordenação e vida, pode superar disparidades
Esse território é, portanto, um pedaço físico de terra com seu subsolo e também a atmosfera que o cerca. Inclui-
se os rios, lagos e os mares, conforme tratados internacionais. Contudo, só a partir do momento que há a
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ocupação do ser humano sobre essas terras é que faz sentido mencionarmos que essa área é um elemento
estatal, pois é necessário que o poder soberano seja ali exercido, o que inclui a possibilidade de aplicação do
Antigamente falava-se que havia uma relação de propriedade entre o príncipe e o território. Hoje fala-se em uma
relação de imperium. Isso pelo poder que o Estado tem sobre seu povo. A teoria recebe crítica pelas exceções,
como os navios mercantes em alto mar, como aponta Azambuja, que também critica ao afirmar que não há nem
As sociedades e organizações humanas acabam se organizando por meio de relações de poderes, que se
manifestam em busca de uma ordem e algum nível de hierarquia. Esses poderes, por sua vez, são a dinâmica da
política, que é essa ordem do poder. É nessa política que surgem os governos soberanos. O governo estatal
possui uma força, uma coação irresistível em relação aos indivíduos e é independente em relação aos demais
E este poder soberano como elemento estatal exige que essa relação de poder esteja presente em um território
para identificarmos ali um Estado. Um exemplo de território que tem povo e governo mas que não é estado são
os estados-membros, uma vez que eles não possuem soberania, apenas autonomia.
A soberania, portanto, é o poder supremo do estado, que não tem poder semelhante em seu território
soberania interna
soberania externa
a relação do Estado com os demais Estados no âmbito internacional, apesar de a soberania ser indivisível,
cientificamente.
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2.3 Povo
complexidade, formam uma sociedade com funções e interesses diversos, mas que convergem para possuir um
mínimo de estabilização social. Há nesta relação entras as pessoas e o Estado um vínculo jurídico.
Alguns autores, como Azambuja (2008), diferenciam o povo da nação. Este último conceito remete a um
conjunto de pessoas com origem comum, unidos por um sentimento e aspirações comuns, um sentimento
Há países que abrigam várias nações, e nações divididas em mais de um país. Apesar do caráter idealista que o
termo nação pode ser compreendido, existem nações pelo mundo. E estes exemplos mostram que o elemento da
nação não está necessariamente ligado à identificação dos Estados, por isso Azambuja (2008) afirma que a nação
não é necessária para constituir o Estado, mas um elemento importante para a grandeza de um Estado.
O Princípio das nacionalidades, advindo pós revolução francesa, traz que toda nação teria o direito de se
tornar um estado. Contudo, a prática não mostrou êxito nesse princípio, ainda que na teoria seja muito aceito. A
dificuldade de se estabelecer realmente o que é uma nação e separar movimentos oportunistas de separação
Nina Ranieri afirma que “O Estado democrático, como tipo específico de Estado moderno, caracteriza-se por
associar a supremacia da vontade popular à garantia da liberdade e à igualdade de direitos” (RANIERI, 2019, p.
315).
É importante perceber que essa noção de Estado democrático parte de uma ideia de democracia liberal
enquanto elemento do Estado de direito. Enquanto isso as pessoas formam a soberania e a ideia de que a
população é livre e que são formalmente iguais, sendo que o direito deve ser aplicado igualmente a todos.
Esta concepção pode ser lida, revisitada, criticada e até ter nova significação de acordo com o paradigma estatal
que será conjugado, razão pela qual estes elementos podem ser ampliados e ressignificados.
Neste sentido, é comum vermos outros elementos que configurariam um Estado democrático, como o direito ao
voto, a cargos públicos, liberdade de manifestação e imprensa, além de instituições livres, independentes e, a
depender, autônomas.
No próximo tópico abordaremos modelos de democracia e traremos algumas reflexões, bem como trataremos
das Constituições na Unidade IV. Por isso alertamos ao estudante que visite estas partes para uma melhor
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3.0 Modelos de democracia
Mário Lúcio Quintão Soares (2011) traz a origem do termo do grego, demokratia, que remete ao período da
Grécia antiga e à participação direta daqueles que eram considerados cidadãos autônomos. Assim, a origem do
A democracia é vista, portanto, como o governo do povo e as possibilidades dos cidadãos participarem do
governo.
Fique de olho
Apesar de o termo democracia ser usado cotidianamente por acadêmicos, juristas, jornalistas,
cidadãos em seu cotidiano, há uma variação de significações que merecem atenção. Assim,
apesar da possibilidade da síntese apresentada acima, é sempre importante que o estudante
conheça diversas teorias sobre os sistemas democráticos.
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3.1 Democracia representativa
A democracia representativa é uma conquista das revoluções do final do Século XVIII, concebida como uma
forma de acabar com privilégios e não permitir um governo de poucos para poucos.
Neste sentido, o direito fundamental ao voto era importante para que o povo pudesse escolher quem o
representaria. James Madison ainda destaca que as eleições deveriam ser periódicas para que a soberania
John Stuart Mill (Ranieri, 2019) também escreveu sobre O Governo Representativo, em 1861, e cunhou o termo
O autor destacou que, além de não ser possível uma democracia direta em Estados que possuem mais que uma
cidade pequena, na representatividade deveria ser garantido que minorias pudessem se ver representadas, para
Dessa forma, a democracia representativa teria algumas características em comum para possibilitar a
participação popular e garantir também a representatividade das parcelas de pessoas e suas diferenças.
Podemos afirmar, assim, que a democracia é indireta, pois o governo é gerido por representantes, e que é
Devemos observar que, apesar de teoricamente a democracia representativa ter ganhado voz na transição para o
século XX, na prática ela não era aplicada, visto que poucos votavam no mundo ocidental. Apenas na
segunda metade do século é que a maioria dos países avançaram neste sentido.
Para ilustrar, vale destacar que no Brasil a mulher só passou a escolher seus representantes a partir da
Constituição de 1946, apesar de uma década antes ter tido o direito de voto na Constituição de 1934. Nos
Estados Unidos da América, por sua vez, os negros não votavam em sua totalidade até os movimentos civis da
década de 1960.
Outro ponto que merece ser pensado sobre a democracia representativa é que ela vem passando por crises.
Rousseau (Ranieri, 2019) afirmou que a democracia enquanto realizada por representantes deixa de ser um
autogoverno, uma vez que a vontade não se representa, mas só pode ser manifestada em sua plenitude se feita
diretamente. Essa perspectiva anuncia teoricamente aquilo que muitos autores têm chamado de crise de
A crise da democracia também ocorre de maneira constante na história da América Latina, incluindo aqui no
Brasil. Avritzer (2018) afirma que o valor que a sociedade brasileira dá à democracia é relativo aos valores e
prioridades dadas pelo governo. O governo que segue um caminho que destoa das forças políticas do momento
acaba sofrendo com instrumentos antidemocráticos. Tivemos a oportunidade de destacar como nossa história é
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pautada em medidas de exceção que suspendem os instrumentos democráticos, e como 21% da população
brasileira não tem aversão à ideia de uma intervenção militar para solucionar os problemas socioeconômicos de
No Brasil essa crise ficou evidencia desde as manifestações de julho de 2013, enquanto a população, de forma
geral, manifestou uma forte crítica ao sistema partidário, por não se sentir representada.
O modelo da democracia direta, em que os cidadãos possuem o direito de participar diretamente das instituições
públicas, pode ser percebido como uma forma que não mais existe nos Estados modernos, em virtude da
complexidade e do seu tamanho, mas também pode ser visto por meio de instrumentos de participação que vão
Esse modelo, na atualidade, surge como resultado da crise da democracia participativa e como uma crítica à
democracia apenas enquanto forma, e exige que nos instrumentos de governo seja efetivada a
Dessa forma, enquanto a democracia direta em sua essência era o exercício direto do governo pelos cidadãos
gregos, hoje os instrumentos de participação são implantados em graus, e possibilitam o cidadão de participar
O Brasil possui alguns mecanismos de participação direta do povo e, por mesclar a representatividade com estes
Podemos elencar algumas formas de participação do povo no governo brasileiro, como os orçamentos
participativos; o controle social da administração pública; os conselhos gestores como o de saúde, do meio
ambiente e de educação; o tribunal do Júri; a lei de acesso à informação e a lei de transparência, dentre outros.
A Constituição Federal, por meio do art. 14, deu destaque para três formas de participação direta que são o
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) explica que o plebiscito é uma consulta extraordinária para alteração de
medidas de base da ordem estatal, como formas de Estado ou de governo. Enquanto o referendo é o poder de
aprovar leis após elas terem sido feitas pelo poder legislativo, podendo ser também a extinção de uma lei.
A iniciativa popular de lei é uma maneira de, a partir de critérios formais, o próprio povo propor uma nova lei,
que será aprovada ou não pelo Poder Legislativo. No Brasil, o caso de destaque foi a famosa Lei da Ficha Limpa,
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3.3 Democracia deliberativa
Bittar (2016) afirma que a democracia liberal representativa se mostrou insuficiente e em crise. A falta de
de o sistema político se reinventar, e regimes políticos adotarem novos mecanismos de participação popular.
Vários autores da segunda metade do século XX e dos dias atuais se debruçam em debates sobre mecanismos e
procedimentos nos quais as pessoas poderiam efetivar a democracia: de terem participação, verem seus direitos
fundamentais serem garantidos na esfera pública e, como consequência, serem parte das decisões de interesse
social.
Na divisão de ondas geracionais de direitos humanos, essa democracia deliberativa entra como um dos direitos
essenciais de todos os indivíduos em face do Estado, que deve garantir formas de participação e de construção
dos projetos de vida por todos os cidadãos que compõe o Estado. É o sentido material da democracia sendo visto
Neste sentido, a democracia deliberativa não se dissocia da democracia participativa e possui instrumentos dela.
Todavia, ela valoriza o processo comunicativo e de amadurecimento da esfera pública. A democracia é vista para
Uma dessas teorias, que podemos chamar de prodimentalista (CRUZ, 2016), é defendida por Habermas. Ela
defende um processo comunicativo de deliberação que extrapole a mera formalidade da representatividade, que
seja uma busca contínua por mais legitimidade nos processos de criação das leis, da execução de políticas
Para o autor, o legislativo ainda cumpriria o papel de lugar para se estabelecer as normas que garantam a
participação de todos.
Robert Dahl (Ranieri, 2019), por sua vez, desenvolve uma teoria da poliarquia e destaca a accountability como
amadurecimento da democracia. O termo, que não possui uma tradução precisa no português, traz elementos do
que Robert Dahl quis trazer como poliarquia, que por sua vez seria a capacidade de uma sociedade
No Brasil, accountability tem sido associado à obrigação de transparência e prestação de contas dos agentes
públicos em suas ações, bem como a responsabilização efetiva por seus erros. Neste sentido, alguns
instrumentos conjugados trariam um grau maior de responsabilidade de todos os cidadãos pelo regime político
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Accountability vertical
Accountability horizontal
que seria a prestação de contas dos governantes aos órgãos de controle e às instituições criadas com tal objetivo.
A democracia deliberativa necessita dessa percepção de responsabilização para incluir todos nesse processo
democrático. É possível afirmar que nesta ótica a democracia não é apenas um conceito formal ou material, mas
Fique de olho
A noção de accountability não é encontrada facilmente em textos jurídicos. Apesar disso, a
administração pública vem estudando mecanismos que passam diretamente por regramentos
estatais e pelo direito. O estudante ligado na prática do Estado necessariamente terá de
perceber que mecanismos de accountability e compliance são centrais no debate atual.
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4.0 Representação política
Como trouxemos no tópico sobre a democracia, um dos modelos mais usuais de democracia adotados no mundo
moderno é o sistema representativo. Esse sistema passa por crises e críticas desde o momento que passou a ser
adotado. Contudo, ele se mostra como um mecanismo possível para que a soberania popular seja exercida com
um conteúdo mínimo.
A representação política não exclui as possibilidades e instrumentos de participação direta e deliberativa, mas
tem sido considerada como inevitável diante de um Estado tão plural e com a quantidade populacional que os
Na próxima unidade traremos os partidos políticos como institutos que foram criados juntamente com o avanço
pessoas por identificação de posições políticas e o fortalecimento das representatividades, enquanto, por outro
Nos sistemas de representação temos também as eleições que merecem um destaque em nossos estudos.
Assista aí
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4.1 As eleições
As eleições são os procedimentos para a escolha daqueles que representarão a vontade popular.
Como já abordamos, Madison dizia que não basta que tenhamos eleições: elas precisam ocorrer de forma
periódica, com a possibilidade de alternância do poder, com poderes e organizações diversas que possam
participar da esfera pública, com vistas a impedir uma hegemonia de um único pensamento de forma autoritária.
Streck e Morais (2014) apresentam três grandes sistemas eleitorais que são utilizados para a escolha dos
representantes populares, sendo que o ordenamento jurídico brasileiro adotou dois deles, razão pela qual vamos
O primeiro é o sistema majoritário, em que o cargo público será ocupado por aquele candidato que tiver mais
votos. Assim, este mecanismo privilegia a escolha a partir do conceito de maioria, em que aqueles que fazem
parte do maior grupo é que poderão escolher quem exercerá aquele posto político.
A depender de como o sistema se organizar, é possível encontrarmos mecanismos de escolha pela maioria
absoluta ou relativa. No caso da maioria absoluta, para ela ser alcançada é necessário que o candidato tenha um
total de votos maior do que 50%, razão pela qual é comum nestes sistemas eleitorais você ter segundo turno.
No Brasil, os cargos de presidente, governador, senadores e prefeitos de Municípios com mais de duzentos mil
eleitores, é necessário que ocorra a maioria absoluta dos votos válidos para estes cargos. Por tal razão, quando
não há essa maioria no primeiro turno, haverá um segundo turno eleitoral, entre os dois mais votados no
primeiro e, assim, necessariamente teremos uma maioria de votos válidos para um dos dois candidatos.
É importante perceber que este sistema compartilha com os eleitores a responsabilidade da escolha do
vencedor, ao passo que ao menos a metade deles terá escolhido aquele que assumirá os cargos de chefe do
executivo, já que tal posto não pode ser exercido senão por uma única pessoa, ao contrário do sistema
proporcional.
Por outro lado, é possível que as eleições se deem de forma proporcional, sistema este originário na Bélgica
(STRECK e MORAIS, 2014), que busca efetivar o princípio da pluralidade política ou partidária.
É certo que a sociedade é plural, John Rawls (2002) afirma que esta é uma premissa a qual todos os cientistas
políticos do mundo contemporâneo não podem fugir.Para construirmos uma sociedade que seja plural e
sociedade que possuam algum quantitativo mínimo em relação proporcional aos cargos disputados.
Neste sentido, considerando o caráter e a função do legislativo de representar a população, criar normas e
fiscalizar o representante da maioria, é que no sistema eleitoral brasileiro a escolha dos deputados e vereadores
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Veremos mais à frente que os partidos políticos e o sistema multipartidário que adotamos vai ao encontro desta
forma eleitoral por possibilitar que as pessoas se aglutinem em torno de uma legenda e consigam escolher
quantos representantes legislativos lhes forem proporcionais em relação à quantidade de cargos disponíveis.
É por isso que no art. 1º da Constituição Federal o Poder Constituinte deixou expresso que um dos fundamentos
representação política.
4.2 O voto
O tema do voto pode ser analisado de algumas formas diferentes, sendo possível encontrarmos três palavras
distintas que estão relacionadas ao ato de escolha dos representantes, mas que precisam ser separadas e
conceituadas adequadamente.
O voto também é dito como sufrágio ou escrutínio. Ocorre que o sufrágio é direito de votar e ser votado.
Assim, como regra geral, no Brasil todos os cidadãos possuem o direito ao sufrágio universal, cabendo algumas
exceções quanto a requisitos e impedimentos decorrentes do próprio texto constitucional, uma vez que trata-se
de um direito fundamental.
Sahid Maluf (2009) observa que a expressão universal é vista de uma forma relativa, e dirige-se a uma
universalidade de competências. Segundo ele, se levássemos à literalidade do termo, o Brasil não seria um país
com o sufrágio universal, pois estão excluídos desta classe de direitos os estrangeiros, os menores de 16 anos e
De toda forma, estas restrições se justificam dentro da lógica constitucional e direitos humanos atual, sendo
exceções aceitas nestes âmbitos argumentativos. A título de exemplo, o Brasil abarca como titular de direito ao
sufrágio os analfabetos desde o ano de 1985, o que demonstra a inclusão da diversidade e não exclusão por
critérios censitários.
Por outro lado, o escrutínio é a forma pela qual o voto se manifesta, o procedimento para que o voto seja
dado. No Brasil o voto é secreto, público e por meio das urnas eletrônicas.
Sob esta perspectiva jurídica, o voto é o exercício do sufrágio na sua modalidade ativa, que é votar, enquanto
O voto, enquanto a manifestação deste direito, carrega consigo um símbolo de lutas e um processo histórico
indissociável da democracia. A luta das mulheres pelo direito de votar pelo mundo, ou dos negros em países que
foram colonizados, são exemplos de como a democracia representativa, ainda que seja um parâmetro mínimo,
tardou a chegar nos países, ainda que apenas nos ocidentais considerados como democráticos.
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5.0 Alexis de Tocqueville e o regime democrático
Alexis de Tocqueville (1805-1859), francês, tem destaque teórico por ter conhecido os Estados Unidos da
América e, a partir de um olhar empírico, desenvolvido uma análise sobre a liberdade e a democracia na
América.
Desta perspectiva o autor compara os processos revolucionários e os sistemas políticos na Europa com a
Sua originalidade reside no fato de ter sido o empreendedor que, com meticulosa dedicação, soube
viajar, colher evidências, apontar diferenças comparativas com outros sistemas políticos e descrever
a América em seu nascimento, e a própria democracia americana (como modelo) em pleno berço de
crescimento. Sua tarefa foi a de beber na fonte límpida para dela descrever as delícias. (BITTAR,
2016, p. 261).
O autor usa de sua viagem para colher o máximo de informações e, ao descrever, também comparar a
democracia encontrada na américa com os problemas na Europa que dificultaram a consolidação de uma
Tocqueville (BITTAR, 2016) afirmou, assim, que para a democracia realmente acontecer é necessário que haja
liberdade, igualdade e soberania popular. Aqueles que fundaram as treze colônias e lutaram pela liberdade, até o
momento de formarem o federalismo, buscaram novos modelos, uma vontade de romper com as antigas
A igualdade aparece como condição para todos buscarem seus projetos de vida. O sentimento patriota aparece
com importância para Tocqueville, que apontou que a igualdade enquanto valor garantia, por outra via, a
Ao contrário dos modelos meramente teóricos, nos Estados Unidos da América há a percepção de que todos são
iguais e de que desse povo é que decorria a soberania enquanto poder político estatal. A manifestação do Estado,
de suas leis e de sua força extraí das pessoas, iguais entre si, a legitimidade para garantir a liberdade de todos. A
democracia exige, também, uma soberania justa, que não se paute em abusos, nem mesmo em nome de maiorias.
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Um outro ponto também observado pelo autor, e que difere o país dos outros na Europa, estaria ligado à menor
desigualdade de riquezas. Se para haver democracia é necessário garantir a igualdade, por outro lado a redução
das desigualdades, como na América do Norte, seria outro fator importante para o desenvolvimento democrático
neste Estado.
Tocqueville (BITTAR, 2016) tinha encontrado um país em que havia uma pluralidade ideológica, uma nação com
diversas associações cíveis que lutavam por seus direitos e representatividade, o que já indicava um grande
Na América, o povo nomeia aquele que faz a lei e aquele que a executa; ele mesmo constitui o júri
que pune as infrações à lei. Não apenas as instituições são democráticas, em seu princípio, mas
também em todos os seus desdobramentos. Assim, o povo nomeia diretamente seus representantes
e os escolhe em geral todos os anos, a fim de mantê-los mais ou menos em sua dependência. É, pois,
realmente o povo que dirige e, muito embora a forma do governo seja representativa, é evidente que
as opiniões, os preconceitos, os interesses, até as paixões do povo não podem encontrar obstáculos
De toda essa análise de Tocqueville, podemos afirmar que o autor teve grande relevância para o debate da
democracia. Por um lado, o autor teoriza e coloca suas hipóteses em escritos que fomentaram o debate sobre o
tema, por outro lado esse entendimento é realizado a partir de uma análise empírica que dá contornos únicos ao
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5.1 A crise da multidão: reivindicações globais de democracia
A multidão é composta por pobreza e amor, reproduzindo o comum, e carrega a possibilidade de atos
revolucionários. Só a multidão pode executar esse movimento. Essa multidão está no que Hardt e Negri
(MASCARO, 2019) chamam de império, e que a soberania muda de formato. Esse formato não exige mais um
território bem delimitado, nem uma bandeira, pois há uma difusão de forma global, muito em razão da
economia. Há nitidamente na análise dos autores que trazemos aqui uma problematização sobre os elementos
do Estado moderno, que foram colocados em xeque com a globalização e a cada dia mais com a informação
fluida.
“Já a multidão corresponde a uma nova forma de inteligência social que, para os que lhe são
exteriores, parece caótica, irracional e anárquica. Contudo, para os que dela participam, a multidão
se identifica com uma estrutura social que tende a preservar no mais alto grau a individualidade, a
de usufruto do poder social, desde a forma geral do Estado até formas específicas traduzidas em
Andityas Matos (2014) diz também que a multidão rompe a distinção nítida entre a esfera pública e privada. Por
um lado, mencionar a relação como pública permite ao Estado lançar mão de medidas de segurança e de exceção,
ou seja, que supostamente servem para resguardar o interesse público, para controlar a vida das pessoas até nas
instâncias mais íntimas e até mesmo biológicas. No outro lado, o privado se reduziria a instâncias econômicas,
que por sua vez carregam um símbolo de sagrado, de uma liberdade irrestrita.
O autor, ao trazer as ideias de Hardt e Negri, critica a estrutura do capitalismo, como algo que afasta a utopia de
algo realmente pluricultural, mas impõe um modelo único. Por isso uma ideia radical de multidão imporia um
rompimento com díades típicas dos estudos da Teoria do Estado, e colocaria o poder realmente na mão de uma
multidão de pessoas que não necessitam estar agrupadas e enquadradas: uma revolução que teria a capacidade
de romper arquétipos.
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5.2 As novas lutas políticas em rede (do biopoder à produção biopolítica –
Michael Hardt e Antônio Negri)
A ideia de multidão abordada por Hardt e Negri (MASCARO, 2019) ganha outro elemento que avança as
perspectivas de lutas por direitos ao inserir o termo rede. Mascaro (2019) mostra que, com o termo rede, os
autores buscam romper as ideias de massa, proletariado ou povo, pois compreende que essas classes acabam
Essa multidão, portanto, poderia ser encarada como uma rede, sempre em expansão possível, que consegue
abarcar as diferenças para um trabalho comum, costurando seus pontos de proximidade e convergência. É a
passagem da revolta para a possibilidade de institucionalizar a ação revolucionária. A nova forma de resistência.
Negri dá à multidão e à sua evolução, a partir da modernidade, a dimensão da carne, o que insere o debate na
questão da biopolítica e o biopoder. A multidão enquanto um corpo, que sofre as negativas de direitos, também é
aquele que busca romper as estruturas de forma revolucionária para suas novas formas de subjetividade, indo
É com a reflexão destes autores que propomos o pensar sobre a democracia e a luta por direitos em um mundo
plural e complexo.
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• refletir questões sobre a democracia e perceber que temos um modelo que parte da ideia de
representatividade.
• entender que a representatividade em um Estado plural busca ir além de políticos eleitos e alocar
porções que representam pessoas e ideologias em comum. Os partidos políticos têm papel importante
neste cenário e veremos no próximo capítulo.
• observar que, por outro lado, há uma nítida crise representatividade no Brasil e no mundo, o que força a
discussão de novos modelos que busquem uma participação direta e um debate enquanto construção de
decisões públicas.
• verificar como os procedimentos como as eleições e o sufrágio são imprescindíveis para os Estados
contemporâneos, assim como diversos mecanismos de atuação popular da administração pública.
• e, por último, compreender a noção de accountability, que concretiza a percepção de transparência
estatal e na responsabilização de todos aqueles que tomam decisões e utilizam de verbas públicas.
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Referências
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BITTAR, E. C. B. Teoria do estado: filosofia política e teoria da democracia. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2016.
CRUZ, A. R. S.; SILVA, G. F. Uma perspectiva levinasiana sobre Estado de exceção e invisibilidades. In: Amor e
justiça em Lévinas. Organizadores: Nilo Ribeiro Júnior et al. São Paulo: Perspectiva, 2018.
FERREIRA FILHO, M. G. Curso de direito constitucional. 40 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
LOPES, J. R. L; QUEIROZ, R. M. R.; ACCA, T. S. Curso de história do direito. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
MALUF, S. Teoria geral do estado. Atualização prof. Miguel Alfredo Malufe Neto. 29ª ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
MARQUES, L. M. B.; GOMES, F. M. Política de guerra e resistência: a emergência da multidão no estado de guerra
MATOS, A. S. M. C. A multidão contra o Estado: rumo a uma comunidade inapropriável. In: Revista Brasileira de
RANIERI, N. Teoria do Estado: do estado de direito ao estado democrático de direito. 2ª ed. Barueri: Manole,
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RAWLS, J. Uma teoria da justiça. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SOARES, M. L. Q. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.
STRECK, L. L.; MORAIS, J. L. B. Ciência política e teoria do estado. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2014.
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