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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

BACHARELADO EM PSICOLOGIA

DUPLA: DÉBORA BRANDÃO E GUSTAVO BUENOS

REFLEXÃO SOBRE PSICOTERAPIA DE GRUPO E PSICANÁLISE

A terapia em grupo pode sim ser uma pratica possível dentro da psicanálise, uma
vez que o indivíduo é atravessado pela representação e expressão da coletividade, ou
seja, não é constituído por um núcleo individual mas na e pela relação do eu com o
outro. Nossa subjetividade é construída no e pelo atravessamento do social, politico,
econômico, religioso entre outros aspectos, e, é importante fazer a ressalva que até para
termos civilização se faz necessário esse convívio com o social.
A dinâmica da terapia em grupo pode ser muito rica, pois ela oferta não somente
a escuta do outro, mas também, a possibilidade de se identificar, e de certa forma de
autoconhecimento. Uma vez que o convívio social é indispensável em nosso cotidiano,
saber como nós afetamos os outros, e de como os outros nos percebem a partir de seus
pontos de vistas é algo que pode gerar reflexões e auxiliar bastante na forma que nos
colocamos. Pois quando falamos alguma coisa, partimos de um ponto no qual nem
todos ao nosso entorno veem essa questão da mesma maneira, saber como nossa fala
impacta em um contexto de grupo, nos faz repensar se o que foi dito teve assertividade e
precisão.
Através de uma perspectiva psicanalítica, podemos compreender que o EU só
existe em relação ao OUTRO, sendo assim não é possível desassociar um do outro, uma
vez que nossa estrutura psíquica se constitui por meio dessa relação. Até mesmo o
superego pode ser compreendido como algo que se volta para as experiências em grupo
até então já vivenciadas pelo sujeito, para que assim a noção do que é culturalmente e
moralmente aceito exista. A partir disso podemos perceber como o contato com o social
nos molda de certa forma, seja na construção do nosso desejo ou no freio dos nossos
impulsos primários.
Alguns teóricos de viés psicanalítico abordam questões acerca das inter-relações
grupais e os atravessamentos do inconsciente. Como Pichon-Rivière, que trouxe grandes
contribuições para a compreensão do funcionamento dos grupos, fez da psicanálise e da
psicologia social duas bases teóricas. A obra de Pichon traz uma forma diferente de
compreender a vida, enxergando os grupos de forma dialética. Em sua teoria, o termo
dialética se refere tanto à natureza do ser humano como também o seu pensar, sua teoria
partindo da ideia de movimento e transformação contínua do sujeito, dos seus vínculos e
de seu modo de operar na realidade. A partir disso, começou a se ter uma nova maneira
de se intervir nos grupos.
Pichon estabelece que num grupo há dois princípios organizadores, são eles: o
vínculo e a tarefa. O vínculo é uma estrutura complexa de relação que vai sendo
internalizada e que possibilita ao sujeito construir uma forma de interpretar a realidade
própria de cada um. Na vivência com os outros nós nos constituímos por meio de uma
história vincular que vai se tecendo nessa relação.
É a partir desses dois princípios organizadores de grupo que podemos entender
que desenvolvimento da teoria de Pichon, que postula os chamados grupos operativos.
Para ele, o grupo é um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por constantes de
tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, propõe-se, explícita
ou implicitamente, a uma tarefa, que constitui sua finalidade. No entanto, não basta que
haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa, é preciso que essas
pessoas façam parte de uma estrutura dinâmica chamada vínculo. Logo, o grupo
operativo é considerado como uma estrutura operativa que possibilita aos integrantes
meios para que eles entendam como se relacionam com os outros (GAYOTTO, [1992]).

Além disso, um conceito importante para a psicanálise, a transferência, também


é possível de se estudar na psicoterapia de grupo, apesar da complexidade, devido a
diversidade de “mundos subjetivos”. Ainda assim a intervenção pode se tornar
enriquecedora diante da dinâmica de semelhanças e diferenças apresentadas pelo grupo.
Segundo, Anzieu (1993)

[...] toda vida de grupo se encontra presa a uma trama simbólica que o faz
perdurar e, sendo assim, qualquer grupo humano é resultante de uma tópica
subjetiva. Essa tópica seria projetada sobre o grupo por cada membro. Levando
em conta a transferência, ela não só ocorre em direção ao psicoterapeuta ou
psicanalista, como também de uma maneira cruzada entre os diversos membros
do grupo da mesma forma que a contratransferência. Dessa maneira, todos os
pacientes, além de transferirem, também poderiam responder com a
contratransferência (apud BARROS, 2015, p. 83)

REFERÊNCIAS

Ávila, Lazslo. Grupos - a perspectiva psicanalítica. Disponível em:


<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
24902007000100003>. Acesso em: 21 de julho de 2020

Bastos, Alice. A técnica de grupos operativos a luz de Pichon-Revière e Henri Wallon.


Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
88092010000100010>. Acesso em 22 de julho de 2020.

Barros, Leonardo. Transferência em psicoterapia de grupo de orientação analítica.


Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
58352015000100007>. Acesso em: 22 de julho de 2020

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