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A Lei Antimanicomial e o
Trabalho de Psicólogos em
Instituições de Saúde Mental

Legal changes and the practice of


psychologists in mental health institutions

Tatiana Camargo de
Sant’Anna & Valéria
Cristina de Albuquerque
Brito

Universidade
Católica de Brasília
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (3), 368-383


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PROFISSÃO, 2006, 26 (3), 368-383

Resumo: Com o objetivo de clarificar o impacto da lei antimanicomial


sobre o trabalho do psicólogo em instituições de saúde mental, este texto
apresenta uma pesquisa qualitativa, realizada com profissionais que atuam
no contexto público e privado do sistema de saúde em Brasília.A análise
das entrevistas, efetuada a partir do conceito de papel proposto por J. L.
Moreno, aponta diferenças no discurso dos profissionais da área pública e
privada e revela que as diferenças podem ser compreendidas com base
na cultura profissional das instituições em que estão inseridos. Discutem-
se as implicações dos resultados para a efetiva implementação dos
princípios da lei antimanicomial e a participação das entidades de ensino
na formação continuada dos profissionais em Psicologia.
Palavras-chave: Psicologia, loucura, lei antimanicomial, instituição.

Abstract: This qualitative research investigates the impact of a legal change


concerning the treatment of mental patients in the practice of psychologists
in Brasília, Brazil. The interview analysis is based on the concept of role
developed by J. L. Moreno and compares the individual and collective
dimensions of psychologists who work in public and private mental
institutions. The differences between private and public psychologists’
discourses are attributed to the collective dimensions regarding their
professional culture. Considering these results we discuss the obstacles to
the effective implementation of the new law and the university participation
in the continuous education of psychologists.
Key words: Psychology, mental health, mental patients’ rights, institutions.

A loucura intriga e fascina alguns, e assusta e apresenta uma pesquisa qualitativa desenvolvida
afasta outros. No decorrer da história ocidental, com o objetivo de compreender e discutir como
profissionais de diversas áreas do os psicólogos de Brasília, especificamente,
conhecimento estudam e tratam os loucos em entendem e desempenham suas funções em
espaços delimitados. A partir da segunda instituições de saúde mental.
metade do século XX, psicólogos se integram
às instituições de saúde mental, enfrentando, No decorrer do presente texto, empregaremos
criando e reproduzindo desafios que começam os termos louco e loucura para evidenciar o
na escolha de uma orientação teórica e foco interpessoal que sumimos na
desembocam em sua atuação cotidiana. compreensão do fenômeno. Nomes técnicos,
Considerando que lei antimanicomial, tais como alienado, doente mental, psicótico
promulgada em 2001, pretendeu instaurar ou portador de transtornos mentais refletem a
mudanças na concepção do tratamento da trajetória do trato com a loucura em diferentes
loucura, cabe questionar como os psicólogos discursos teóricos (Pessoti, 1995). Por outro lado,
inseridos no sistema de saúde entendem e o termo louco remete a um papel social
desenvolvem seu trabalho nesse novo constituído e reconhecido historicamente
contexto. No intuito de contribuir para a também, mas não apenas, pelo discurso
discussão sobre o tema, o presente artigo científico.
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A Lei Antimanicomial e o Trabalho de Psicólogos em Instituições de Saúde Mental

O conjunto de teorias e métodos psicológicos participação das instituições de ensino


que descreve e trata da loucura é amplo e universitário na formação e aperfeiçoamento
variado. Em termos gerais, a Psicologia de profissionais da área.
compreende a loucura como alteração mental,
como sofrimento psíquico, como uma Loucura e doença mental
desorganização das relações ou da
personalidade. Via de regra, as diferentes Considerar o louco como uma pessoa que
teorias associam o sofrimento, a necessita ser compreendida e tratada em sua
desorganização psicológica, à condição de vida totalidade e respeitada como cidadã é uma
social do indivíduo, às suas relações com a conquista recente. Desde meados do século
Considerar o louco família e outros grupos e com suas próprias XVII, proliferam locais “especiais” a fim de
como uma pessoa experiências. Em meio à multiplicidade de “acolher” os que estavam à margem da
que necessita ser
compreendida e abordagens, os profissionais de Psicologia têm sociedade. Com o objetivo maior de promover
tratada em sua dificuldade em estabelecer os princípios que o bem-estar da burguesia, tais instituições
totalidade e devem ser aplicados no cuidado com os reuniam aqueles que incomodavam por seus
respeitada como
cidadã é uma loucos, no que tange ao aspecto psíquico, à atos contrários aos padrões de conduta social
conquista recente. história de vida, à cultura em que se encontra (Pessotti, 2001). Os locais especializados em
inserido, etc. Ademais, como membro do tratar especificamente os alienados, os loucos,
sistema de saúde, psicólogos devem trabalhar proliferaram no século XIX, com duas
em redes, em equipes interdisciplinares, características básicas: estratégia médica e
possibilitando trocas, ações coletivas e precaução social. Ao médico alienista, o
integradas, com o desafio de evitar o psiquiatra, foi dado o poder para afirmar a
isolamento e a superposição de ações de verdade sobre a doença, visto que detinha um
ciências distintas (Ribeiro, 1998). saber sobre a mesma, e, em conseqüência,
um total poder sobre o dito “doente”. Alçado
Para compreender como os psicólogos de ao posto de “mestre da loucura”, o médico
nossa comunidade atuam e em que medida adquiriu status diferenciado entre os demais
a lei antimanicomial influi sobre seu trabalho, encarregados dos loucos nos hospícios, como
inicialmente traçamos um breve histórico do detentor do saber sobre a loucura, que só ele
tratamento dispensado aos loucos na dominava e apaziguava (Foucault, 1997).
sociedade ocidental e apresentamos algumas
reflexões sobre as limitações que tal histórico O saber e poder da intervenção médica sobre
interpõe à intervenção psicológica junto aos os loucos nos manicômios começou a ser
pacientes de instituições de saúde mental. desmitificada, inicialmente, frente à
necessidade de se diminuir a superlotação dos
Na seqüência, empregamos o conceito de manicômios devido ao aumento de
papel (Moreno, 1979) como recurso teórico internações, ao custo da loucura para os cofres
para descrever as dimensões coletivas e públicos. As soluções propostas foram manter
individuais e o processo de desenvolvimento o “doente” junto à família e a criação de
da ação dos profissionais de Psicologia e colônias agrícolas anexas aos asilos, ou seja,
descrevemos as estratégias de pesquisa. Os propostas voltadas para solucionar os problemas
resultados descrevem a experiência de do Estado e da sociedade, e não para
profissionais em instituições de saúde pública beneficiar os internos (Pessotti, 2001).
e privada e são discutidos em termos de
elementos individuais e coletivos na Somente no século XX, surgiu na Itália um
construção do papel de psicólogo. Finalizando, movimento de demolição do aparato
apresentamos algumas reflexões sobre a manicomial que extinguia o modo violento e

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humilhante de tratar os internos, voltado para O papel do psicólogo na


a construção de novos espaços e formas de instituição psiquiátrica
lidar com a loucura. Liderado por Franco
Basaglia, esse movimento originou mudanças
Usualmente, o termo papel é empregado para
polêmicas e gerou iniciativas similares em
evidenciar a importância da ação de
outros países. No Brasil, as idéias de Basaglia
determinado agente, e, assim, poderíamos
inspiraram o movimento dos trabalhadores em Usualmente, o
considerar que a lei antimanicomial amplia o termo papel é
saúde mental, em 1978, o Projeto de Lei do empregado para
papel dos psicólogos em instituições de saúde
Deputado Paulo Delgado, nos anos 80, e, após evidenciar a
mental. No entanto, as mudanças na
doze anos tramitando na Câmara, a Lei Federal importância da
concepção da profissão de psicólogo, nas ação de
nº10.216/01, de abril de 2001. Conhecida determinado
últimas décadas, geraram uma ampliação das
como lei antimanicomial, essa legislação tem agente, e, assim,
áreas e das maneiras de atuar de psicólogos
como objetivo redirecionar o modelo de poderíamos
em diversas instâncias, o que acarreta uma considerar que a
assistência psiquiátrica brasileiro visando a lei antimanicomial
diversidade de definições possíveis sobre o
garantir aos internos em instituições de saúde amplia o papel
papel do psicólogo na sociedade (Bock, 1993).
mental melhores condições de saúde, além dos psicólogos em
Assim, o termo papel é, em si, pouco descritivo instituições de
de direitos de cidadania (Santos et al., 2000). saúde mental.
e pode mais facilmente mascarar do que
A Lei prevê a proteção dos indivíduos “[...]
evidenciar e distinguir as ações esperadas e
acometidos de transtorno mental” (Lei
concretamente realizadas.
nº10.216/01, art.1); são seus direitos: terem
acesso ao melhor sistema de saúde, serem O termo papel é largamente empregado, mas
tratados com humanidade e respeito “[...] poucas vezes definido como um conceito.
visando a alcançar sua recuperação pela Várias teorias, em diferentes áreas do
inserção na família, no trabalho e na conhecimento, empregam o termo, mas este
comunidade” (Lei nº 10.216/01, art.2, pode referir-se a conceitos diferentes. No
parágrafo único). Nesse contexto, pode-se presente trabalho, papel é definido como a
prever que os psicólogos que trabalham em representação simbólica das formas funcionais
instituições de saúde mental atuariam que a pessoa assume em uma situação
interdisciplinarmente, integrando equipes de específica, percebida pelo indivíduo e pelos
profissionais de áreas diversas, serviço social, outros (Moreno, 1961, citado por Cukier,
Antropologia, Medicina, etc. O trabalho 2002). O conceito, na forma como foi
integrado, marcado por reciprocidade e desenvolvido pelo criador do psicodrama, J.
enriquecimento mútuo bem como pela L. Moreno, descreve a dimensão inter-
democratização, favoreceria a compreensão relacional das ações humanas e seu caráter
do indivíduo portador de transtorno mental, a simultaneamente coletivo e individual,
loucura, como fenômeno complexo que histórico e livre. No desempenho de um
demanda vários saberes no trato com o determinado papel, a pessoa integra, em uma
mesmo indivíduo (Vasconcelos, 2000). O relação específica, elementos que constituiu
profissional de Psicologia atuaria como agente em sua participação na cultura às suas
de reintegração na vida do louco, características pessoais, de modo que, quanto
desvinculando-o da instituição, viabilizando o mais desenvolvido um papel, mais livre é a
resgate da cidadania, combatendo a manifestação daquela pessoa quando o
cronificação, tentando evitar novas crises e desempenha.
demonstrando que o louco tem direito a buscar
e realizar seus desejos, como o de estudar, Os papéis desenvolvem-se em três etapas:
trabalhar, ter e conquistar seus direitos plenos role-taking, tomada de papel; role-playing,
(Ribeiro, 1998). desempenho de papel, e role-creating, criação
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A Lei Antimanicomial e o Trabalho de Psicólogos em Instituições de Saúde Mental

de papel (Cukier, 2002). Por tomada de papel, metodologia qualitativa (Kude, 1997; Brito,
entende-se estar em um papel na própria vida, 2002), a presente pesquisa investiga como os
nos limites de seu contexto, que é psicólogos que atuam em instituições de saúde
relativamente coercitivo e imperativo, como, mental compreendem seu trabalho após a lei
por exemplo, ser mãe, pai, policial, etc. antimanicomial. A pesquisa qualitativa, sendo
Desempenhar um papel é personalizar os primariamente naturalística, permite que o
costumes sociais, que têm ou, pelo menos, tema seja investigado em profundidade, nas
aparentam ter, forma finalizada. Em um estágio condições em que concretamente ocorre. A
mais desenvolvido, a pessoa amplia e situação de pesquisa mantém-se complexa e
aprofunda os limites do papel e desempenha- multifacetada, permitindo uma compreensão
o de maneira mais livre, mais criativa. mais ampla e detalhada, uma convivência
entre pesquisadores e participantes em que
Nessa perspectiva, para compreender o papel as dimensões verbais e não-verbais da
do psicólogo na instituição psiquiátrica, é experiência se integram. Sob um referencial
necessário considerar que suas ações se qualitativo, o recorte que permite identificar
inserem na história de sua profissão, na dimensões novas sobre o tema é feito durante
história das instituições psiquiátricas e da a interação e nas reflexões que subsidiam as
loucura, e incluem as características pessoais discussões, e não na escolha do método; assim,
de cada profissional e da instituição em que contradições e superposições são mais
está inserido, em uma combinação dinâmica facilmente identificadas do que em estudos
que não se atualiza imediatamente a partir do tipo misto ou quantitativo (Denzin e
de uma lei. Lincoln, 2003).

Método Para tanto, foram realizadas, em setembro de


2003, entrevistas semi-estruturadas com um
A Lei nº 10.216 não versa especificamente psicólogo que trabalha em instituições de saúde
sobre a atuação do psicólogo, mas assegura, mental pública e com uma psicóloga que atua
no art. 4, 2º parágrafo: “O tratamento em em uma instituição privada em Brasília-DF. As
regime de internação será estruturado de autoras não mantiveram ou mantêm contatos
forma a oferecer assistência integral à pessoa profissionais ou pessoais com os entrevistados.
portadora de transtornos mentais, incluindo A escolha das instituições baseou-se na
serviços médicos, de assistência social, proximidade com o centro da cidade, e a
psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros.” seleção de profissionais foi feita pela instituição
O texto da Lei prevê a atuação do profissional em função de sua disponibilidade de tempo.
de Psicologia nas instituições de saúde mental, As entrevistas, com duração média de uma
mas não descreve seu campo de atuação e hora, foram realizadas na própria instituição,
nem sua relação com os demais profissionais. registradas com gravador e transcritas na
Considerando a pluralidade de teorias e íntegra. A análise das transcrições, segundo
práticas no campo da Psicologia e as variadas categorias criadas para reunir aspectos pessoais
concepções sobre a loucura que mantiveram e coletivos, foi realizada em duas etapas. Na
as instituições de saúde mental como espaços primeira, as duas autoras selecionaram,
de exclusão, cabe questionar o impacto da individualmente, trechos representativos de
lei antimanicomial sobre os psicólogos que dimensões pessoais e coletivas e redigiram
atuam nessas instituições. comentários sobre cada um deles. Na
seqüência, comparamos as seleções individuais
Tomando como referencial o conceito e compusemos a seleção final de trechos de
moreniano de papel e empregando cada entrevista, integrando observações da

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primeira autora sobre o local de trabalho dos de psicólogo, propriamente dito. Fragmentos
participantes e uma síntese dos comentários das entrevistas são citados, no corpo do
independentes. trabalho, a título de ilustração, e, visando a
manter um tratamento personalizado sem,
Resultados contudo, comprometer os princípios de
confidencialidade, atribuímos nomes fictícios
Seguindo os princípios da pesquisa qualitativa aos entrevistados.
(Turato, 2003), que visam a privilegiar a
pluralidade de enfoques na descrição de um O entrevistado na instituição pública, um
mesmo fenômeno, esta seção reúne dados homem na faixa dos trinta anos, que
coletados junto aos profissionais, observações denominaremos Júlio, apresentou-se como
da primeira autora sobre o local de trabalho “farmacêutico, bioquímico, psicólogo e
dos mesmos e a análise da fachada das psicanalista”, e informou que estava na
“Em saúde mental,
instituições visitadas. instituição há nove anos, sendo sete no
geralmente a
hospital-dia e dois, no ambulatório. gente divide o
A lei antimanicomial é o produto de uma luta Considerando a faixa etária, ele acompanhou paciente, mais
neurótico,
que envolveu diversos estratos sociais (Amarante a discussão do projeto da lei antimanicomial
paciente mais
& Rottelli, 1992) e pode ser tomada como ainda no período universitário, no entanto, sua com
síntese do que a sociedade brasileira propõe descrição da trajetória de estudos inclui funcionamento
psicótico, e aí
como tratamento da loucura. Visando a disciplinas biológicas e um treino em uma
esse trabalho é
compreender como os psicólogos se posicionam teoria psicológica específica (psicanálise) além terapeuticamente
frente a tal proposta e considerando que “todo da graduação em Psicologia. Assim, o papel né, as questões da
vida cotidiana de
papel é a fusão de elementos particulares e de psicólogo se dilui entre outros, em uma
cada um deles e
coletivos; é composto de duas partes – seus combinação que pode tanto facilitar o diálogo trabalha em grupo
denominadores coletivos e seus diferenciais na equipe quanto dificultar a definição do como um
crescimento
individuais” (Moreno, 1979, p.69), âmbito de sua atuação.
mesmo desse
identificamos, nas entrevistas, concepções dos grupo, que eles
profissionais acerca de seu trabalho e da “Em saúde mental, geralmente a gente divide possam então, em
pouco tempo,
instituição em que atuam e elementos da o paciente, mais neurótico, paciente mais com
reestabelecer um
trajetória pessoal e institucional de cada um que funcionamento psicótico, e aí esse trabalho é pouco um
revelam as tensões envolvidas na definição e terapeuticamente né, as questões da vida funcionamento
mais saudável, né,
execução dos serviços psicológicos na instituição cotidiana de cada um deles e trabalha em grupo
em suas vidas.”
psiquiátrica. como um crescimento mesmo desse grupo, que
eles possam então, em pouco tempo,
Esses fragmentos reunidos permitem comparar reestabelecer um pouco um funcionamento
o impacto do encontro com cada um desses mais saudável, né, em suas vidas.” A descrição
profissionais e verificar como a instituição em que Júlio apresenta em relação à saúde mental
que trabalham amplia ou limita a possibilidade é feita em termos patológicos, ele descreve a
de realização do que entendem como suas doença. Na descrição, emprega uma
atribuições no cuidado com os loucos. classificação típica da teoria que adota, a
psicanálise, mas toma-a para “dividir”, propor
Profissional em instituição formas distintas de tratamento, sem menção
pública: dimensão pessoal a aspectos da história e do contexto do louco.
Em relação ao papel do psicólogo, Júlio
Entendemos, como elementos pessoais, dados entende que seu trabalho deve ser integrado
biográficos, a concepção de saúde-doença ao de outros profissionais da equipe e inclui a
mental do entrevistado e a definição do papel compreensão do sofrimento dentro do
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contexto específico da pessoa que sofre. “(...) se da longa tramitação no Congresso, refere-
eu acredito que o trabalho do psicólogo numa se ao autor do Projeto de Lei e à diminuição
instituição, e aí não necessariamente nessa de leitos: “Eu acho que foi um avanço. Ela se
instituição, em qualquer instituição de saúde estendeu à tramitação por vários anos e com
mental, é um trabalho de cuidar do sofrimento muita pressão de ambas as partes (...)” “(...)
psíquico do sujeito, é um trabalho que permite fazer pressão pra que se modificasse o conteúdo
fazer uma articulação desse sujeito com a sua da Lei, dos movimentos da antipsiquiatria ou
contingência de vida e de poder trazer, mais do atendimento de depressão. E ela tem avanços
pra perto, significações simbólicas de um significativos, principalmente em relação aos
adoecimento que, dentro da visão da leitos(...)” “(...)uma perspectiva de redução, da
psiquiatria, não tá preocupada com isso, nem redução dos leitos de internação (...)”
dentro da visão do serviço social, nem da
enfermagem, e aí tem mais a nutrição, tem A Lei permanece como pano de fundo que
outras modalidades, outras disciplinas, ah não afeta diretamente sua atuação e nem
instituição, aqui, ela é multidisciplinar e trabalha mesmo a da instituição, que, no seu entender,
em equipe, equipe de vários profissionais que atende aos princípios que nortearam a reforma
assistiam um determinado grupo(...).” psiquiátrica: “o instituto tem uma característica
de um atendimento humanizado, que tem
Dessa maneira, percebemos que Júlio como princípio um atendimento
compreende teoricamente o papel do multidisciplinar, um atendimento que é baseado
psicólogo no âmbito institucional e clínico, em princípios terapêuticos, e aí, não só
porém, talvez por questões individuais ou medicamentosos, mas também terapêuticos,
institucionais, limita-se a desenvolver seu sociopráticos. Práticas sociais, práticas de
trabalho clinicamente, sem interação com cidadania e também das psicoterapias. Então,
outros profissionais. efetivamente não nos modificou (a Lei), pois
nós já estávamos trabalhando com essas
Profissional em instituição vertentes que estão na Lei Paulo Delgado (...)”.
pública: dimensão coletiva
Apesar de afirmar que a instituição atende os
Segundo a definição moreniana de papel e princípios da Lei, aponta deficiências na
seguindo uma linha de pesquisa sobre os localização, nos recursos materiais e nas
profissionais que atuam em saúde mental práticas da mesma: “(...) Nós não temos as
(Hong, 2001) que compreende a atuação salas adequadas para o público de terapia, às
vezes não temos nem cadeiras, tem que
desses profissionais como resultante da
transportar eles totalmente pro outro lado
combinação de elementos da cultura
também, acesso aos pacientes, porque aqui tem
profissional com elementos da cultura
linhas de ônibus, mas são quatro linhas de
institucional, definimos, como elementos
ônibus ao dia, além do nosso ônibus, aqui os
coletivos do papel do psicólogo, as referências
pacientes tem acesso precário”. “(...) é, nós
dos entrevistados à lei antimanicomial, à
temos muito pouco material lúdico, quase nada
instituição em que trabalham e ao trabalho
de material psicológico, nós podíamos produzir
que desempenham junto aos usuários mais teoricamente se tivesse mais condições.
(“pacientes”). Produzir textos, organizar congressos, organizar
encontros, inclusive até com psicólogos da
Júlio só menciona a lei antimanicomial quando própria instituição. Todo mundo tá muito
questionado diretamente, e demonstra um assoberbado de trabalho, então, não permite
conhecimento de “senso comum”; lembra- essas trocas de informações científicas para
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nossa profissão. Eu acho que isso são condições e fica restrito a uma atuação como técnico,
materiais que a gente não tem.” auxiliar do médico.

De fato, a instituição localiza-se a cerca de 40 Profissional da instituição


km do centro da cidade, em uma área rural, privada: dimensão pessoal
de difícil acesso por transporte coletivo.
Ocupa uma área extensa de terreno, e é
A entrevistada da instituição privada, que
subdividida em várias unidades, o que dificulta
denominamos Julieta, está na faixa dos
o relacionamento entre os profissionais que
cinqüenta anos, intitula-se “socióloga e
desempenham atividades distintas. A primeira
psicóloga, com formação em psicanálise.” “A
pesquisadora esteve no local por três vezes
gente trabalhava na Universidade de Brasília,
antes de realizar a entrevista, e, em algumas
com atendimentos a psicóticos. Depois
unidades, não encontrou nem profissionais
resolvemos criar um espaço de atendimento a
nem usuários. Mesmo que exista a disposição
essas pessoas.” Descreve-se como “(...)uma
para atender os princípios de inclusão que
das pessoas que fundou (a instituição) há doze
inspiraram a Lei, as condições físicas dificultam
anos.” Julieta acompanhou os movimentos
a inter-relação entre profissionais e usuários,
que levaram ao projeto da lei antimanicomial,
e praticamente impedem a relação destes com
desde o período da graduação, e sua inserção
a comunidade.
profissional deu continuidade aos estudos e
práticas que desenvolvia durante o curso.
No que se refere ao trabalho que desenvolve,
Júlio afirma:”(...) nós precisamos de outras
Sobre sua concepção de saúde-doença mental,
condições físicas, essas condições aqui são “(...)
Julieta disse: “(...) particularmente, considero
precárias, e nós temos um número muito particularmente,
a doença um momento infeliz. As coisas são considero a
pequeno de profissionais dentro da demanda
tão transbordantes, os afetos, os incômodos, doença um
que nos é exigida.” E completa: “O paciente momento infeliz. As
os sentidos, e ele não consegue realmente se
chegando, ele faz sua inscrição, e aí ele vai fazer coisas são tão
organizar, então, esse momento, pra mim, é o transbordantes, os
uma entrevista com os psiquiatras pra ver pra
adoecimento. Fora isso, há pessoas que têm afetos, os
que lado ele vai se encaminhar, se é um paciente incômodos, os
um processo, que deliram, têm alucinações
de ambulatório, se é um paciente de hospital- sentidos, e ele não
visuais, auditivas, mas que nem por isso são consegue
dia, se precisa de uma indicação, se não precisa
incapazes de conviver bem com a gente (...).” realmente se
de medicação, aí ele precisa de organizar, então,
Julieta acrescenta que são pessoas capazes,
acompanhamento psiquiátrico, quando há uma esse momento,
com condições de convivência “harmoniosa” pra mim, é o
demanda do atendimento de psicologia, então,
com a sociedade, enfatiza a importância de adoecimento.
ele é encaminhado ao serviço de psicologia.” Fora isso, há
os profissionais que trabalham com essa
Júlio considera suas condições de trabalho pessoas que têm
população (loucos) acreditarem em sua um processo, que
precárias, do ponto de vista relacional, parece
inserção social, reorganização. Demonstra deliram, têm
sentir-se isolado e sobrecarregado e, alucinações
sobretudo, entende sua atuação como também perceber o louco como um indivíduo visuais, auditivas,
conseqüência de uma decisão médica. A que sofre, doente, doença descrita como surto, mas que nem por
delírios e alucinações que remetem à noção isso são incapazes
forma como Júlio descreve seu trabalho pouco de conviver bem
difere do modo tradicional, manicomial, de de doença mental como patologia, “entidades com a gente (...).”
compreender e tratar a loucura como uma mórbidas distintas”, reduzindo o sofrimento
doença mental, um domínio médico individual a uma abordagem médica que
(Foucault, 1997; Pessoti, 2001), e, nesse favorece o negativismo (Doron & Parrot, 1998).
sentido, o psicólogo perde sua especificidade Julieta entende, entretanto, que a doença
como membro de uma equipe multidisciplinar pode ser positiva:“(...) a quebra do sujeito num
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quadro de psicose se dá justamente porque é No que tange à instituição, Julieta hesita entre
necessária. A gente tenta ver, é levado a achar caracterizá-la como centro de convivência e
que a crise é um fracasso do trabalho, um hospital-dia. “Aqui a gente trabalha na forma
fracasso de direção. E não só é inevitável como de atendimento de hospital-dia. Não é bem
“Aqui é uma
instituição aberta, também, às vezes, muito necessário.” “(...) essa hospital. Na verdade, é um centro de
o paciente é até subjetividade que ele consegue construir é convivência aonde os pacientes vem para passar
estimulado a vir, a muito precária. Então, no momento em que o dia, e, à noite, fim de semana, eles estão em
família traz, mas o
trabalho todo se isso já não funciona mais, ele precisa entrar casa com a família.” O hospital seria um local
desenvolve para em crise pra poder se organizar, reorganizar em que os doentes permanecem nos leitos e
ele possa vir e num delírio e outras partes que dêem a ele centro de convivência, seriam os CAPES.
possa ficar aqui
voluntariamente. mais possibilidades de subjetivação (...).” Sendo assim, Julieta se divide entre esses dois
Mas ele pode sair “Então a gente tem que ver a crise por esse significados, pois a instituição não se caracteriza
na hora que bem lado também, como possibilidades de criação como CAPES e nem como hospital-dia.
entender, a não
ser aqueles de reconstrução da subjetividade.”
pacientes que “Aqui é uma instituição aberta, o paciente é
estão em quadro Julieta demonstra entender o momento de até estimulado a vir, a família traz, mas o
de crise e não têm trabalho todo se desenvolve para ele possa vir
condições de “crise” como temporário, mas seus efeitos
andar sozinhos na parecem definitivos. Ela considera a crise como e possa ficar aqui voluntariamente. Mas ele pode
rua, os menores de uma “quebra”, ou seja, considera que a pessoa sair na hora que bem entender, a não ser
idade, e com aqueles pacientes que estão em quadro de crise
problemas que os que enfrenta uma crise altera ou perde
impeçam de estar aspectos que não podem ser recuperados. Esse e não têm condições de andar sozinhos na rua,
circulando pela trecho evidencia uma concepção estrutural que os menores de idade, e com problemas que os
cidade. Lá fora, impeçam de estar circulando pela cidade. Lá
eles podem andar atribui ao louco uma essência distinta daquela
e sair.” dos indivíduos normais. O louco é um homem fora, eles podem andar e sair.” A instituição
“quebrado”, menor. localiza-se em uma área urbana, é cercada por
lojas, consultórios e escritórios, próximo a
prédios residenciais, o que possibilita a
Profissional da instituição convivência entre usuários e a população em
privada: dimensão coletiva geral. “As pessoas não vêm todos os dias. Em
média, todo dia, a gente tem... por volta de
Julieta relata e descreve a lei antimanicomial trinta, trinta e cinco pessoas.” Apesar de a
de maneira crítica, demonstrando instituição ser pequena, com poucos pacientes,
conhecimento sobre a mesma e sobre sua o trabalho desenvolvido inclui a preocupação
importância, mas questiona sua eficácia em com a cidadania, a valorização e a inclusão
relação às instituições e aos programas: “Eu social dos usuários.
acho que até, em termos de Lei, que, se ela
for de fato aplicada, faz muito bem, o problema Julieta acredita que o funcionamento da
é que nós temos um arcabouço de leis em instituição se norteie pela lei antimanicomial,
todas as áreas, muito interessantes até do ponto na medida em que a equipe multidisciplinar
de vista da construção de uma sociedade divide responsabilidades, tem oportunidade
democrática. Mas os programas não vão poder para troca de experiências e treinamento
funcionar, então, o que aconteceu esse tempo continuado. “(...) nós temos uma equipe de
todo passado antes da aprovação da Lei pra quinze profissionais de nível superior, médicos,
cá, muita coisa mudou completamente(...) (...) psicólogos, artista plástico, bailarino, uma
por que mudou tão pouca coisa? Por que dava variedade grande. Além do pessoal de apoio, a
muito trabalho um hospital psiquiátrico, uma gente tem uns trinta funcionários no total. (...)
instituição psiquiátrica, hospital fechado (...).” são profissionais que são muito exigidos, é um
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trabalho muito duro, é um trabalho que a Julieta demonstra claramente sua adesão a um
pessoa... Só de supervisão, por semana, a gente determinado discurso psicológico, a psicanálise,
tem três horas, mais duas horas de reunião que, mais do que qualquer lei, constitui-se
clínica, além do trabalho com os pacientes; em parâmetro para definir e desenvolver seu
são cinco horas dedicadas a isso, é um trabalho trabalho. Como dirigente da instituição, Julieta
de formação permanente, é uma mão-de-obra também lança mão de sua adesão a um
difícil de se formar (...).” conjunto de teorias para definir a composição
e relacionamento entre os membros da
Embora empregue termos que remetem à equipe. No discurso de Julieta, os elementos
noção de doença, Julieta entende que o da cultura profissional, sua concepção sobre
psicólogo tem um amplo espectro de atuação loucura, sobre os métodos de tratamento e as
junto ao usuário e sua família, e trabalha junto funções do psicólogo em uma instituição de
a outros profissionais: “(...) o psicólogo, aqui, saúde mental harmonizam-se com elementos
é um terapeuta, então, ele faz desde da cultura institucional, com o que a instituição
atendimentos individuais, com a família, espera e promove no cotidiano.
acompanhamento familiar. (...) dependendo de
A fala de Julieta mostra que ela entende que
cada caso, os grupos de psicoterapia trabalham
a instituição em que trabalha oferece as
também junto com os outros funcionários da
condições necessárias para desenvolver seu
equipe. Tem a arte-terapia, com o artista plástico
trabalho da maneira que considera mais
que coordena esse grupo. Você tem os
coerente com sua escolha teórica. Como co-
terapeutas, que são todos os psicólogos, e os
fundadora e uma das dirigentes da instituição,
médicos também. Então, o terapeuta é bastante
Julieta tem liberdade de ação suficiente para
exigido nesse ponto de vista. Tem o grupo, tem
desempenhar o papel de psicóloga segundo
o individual, tem a família, e dá pra ter a
sua orientação teórica e inspirada pelas
convivência do dia a dia do paciente, lidar com
premissas da lei antimanicomial.
a crise.”
Discussão
Julieta defende a necessidade de o profissional
se atualizar, estudar sobre a população que
Tendo em vista a literatura estudada e as
está atendendo e salienta que a experiência entrevistas realizadas a respeito do tema
institucional é distinta e mais difícil do que a proposto neste estudo: compreender o papel
de consultório.“(...)ele tem que ter uma boa dos(as) psicólogos(as) em instituições de saúde
noção de psicopatologia, de diagnóstico. Tem mental após a lei antimanicomial, propomos
que ter bastante cuidado, ele faz de tudo, o discutir alguns aspectos importantes a respeito
psicólogo tem uma formação muito rica, da Lei nº 10.216/01, suas propostas e
porque, depois de trabalhar aqui, o consultório, concretizações, e o papel do psicólogo, se
ele tira de letra, ele aprende a saber o que fazer este tem conquistado o seu lugar, não somente
com o paciente, com o médico, com a rede. em instituições mas também nas questões que
Você tem que saber se articular com toda essa permeiam a saúde mental, questões que são
engenharia pra poder conseguir fazer realmente relacionadas aos indivíduos, às instituições e à
seu trabalho, e a gente tem um sociedade como um todo: pré-conceitos,
comprometimento muito grande com a medos e leis.
psicanálise. Então, tem outra coisa que é a
pessoa ter que fazer sua análise pessoal e ter Outrossim, procuramos identificar as
que participar da supervisão e ter que aprender dificuldades de profissionais que atuam em
a falar dos riscos do trabalho.” contextos distintos para pôr em prática
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A Lei Antimanicomial e o Trabalho de Psicólogos em Instituições de Saúde Mental

preceitos comuns, as políticas públicas como determinantes ou desencadeadoras da


definidas pela Lei nº 10.216/01. Cabe ressaltar doença mental ou propiciadoras de saúde
que, tratando-se de um estudo qualitativo, tal mental, isto é, da possibilidade de realização
discussão procura aprofundar a compreensão pessoal do indivíduo em todos os aspectos de
sobre os resultados sem propor sua sua capacidade (Bock, 1997). Dessa maneira,
generalização. “Pesquisadores qualitativos a Psicologia entende o sofrimento psíquico
podem isolar populações-alvo, mostrar os como uma representação da cultura em que
efeitos imediatos de certos programas em tais as pessoas estão inseridas.
grupos e identificar os empecilhos que operam
contra as mudanças políticas nesses contextos” Atualmente, a Psicologia é composta por
(Denzin & Lincoln, 2003, p. 37). A diversas teorias e campos de atuação que se
complexidade das diferenças regionais no expandem. É difícil isolar um único objeto de
Brasil e o histórico específico do movimento estudo específico, pois algumas áreas tendem
antimanicomial em diferentes comunidades a adotar uma visão genética, enquanto outras
deve ser considerado o pano de fundo para se preocupam mais com a influência das
avaliar a especificidade da experiência dos relações sociais. Nesse contexto, os psicólogos
profissionais entrevistados no presente estudo. têm dificuldade em colocar-se em relação tanto
Refletimos, em termos gerais, sobre a prática às abordagens biológicas quanto às humanistas
de psicólogos em instituição de saúde mental, (Doron & Parrot, 1998).
mas entendemos que esse é um cenário
O texto legislativo não adota uma perspectiva
comum, no qual se desenrolam histórias
teórica específica; assim, a fundamentação
singulares. Júlio e Julieta desenvolvem seu
teórica dos psicólogos em instituições de saúde
trabalho no contexto de uma cidade, uma
mental é uma escolha individual. Essa
comunidade, e as instituições em que atuam
afirmativa fica claramente demonstrada no
têm histórias articuladas a esse contexto, que
discurso dos dois participantes da pesquisa:
pode ou não ter conexões com o de outras
Júlio refere-se à formação “humanística” e
cidades ou comunidades. Nosso recorte
pretende identificar o impacto da lei “psicanalítica” em combinação com a
antimanicomial na atuação de psicólogos no “ biológica”, enquanto Julieta adota as
contexto das instituições estudadas, mas não perspectivas “psicanalítica” e “social”. A
consideramos as mesmas como combinação de perspectivas ancoradas em
representativas do conjunto das instituições premissas diferentes, apresentada por Júlio,
de saúde mental de Brasília, nem do Brasil. parece dificultar uma atuação autônoma em
Contudo, pretendemos que nossa relação ao profissional da Medicina. A
interpretação sobre o discurso desses articulação entre dimensões intrapsíquicas e
profissionais propicie a identificação de socioculturais explicitada no discurso de Julieta
entraves à concretização dos princípios da permite uma diferenciação em relação ao saber
política de saúde mental vigente. do médico, com ênfase na colaboração entre
conhecimentos. Uma compreensão
Em linhas gerais, a Psicologia compreende a consistente e articulada sobre saúde mental
doença mental como um sofrimento psíquico parece ser fundamental para que os psicólogos
em que há uma desorganização da exerçam seu papel em instituições
personalidade do indivíduo, associada à psiquiátricas. Uma posição mais clara e
condição de vida social deste juntamente à consistente em termos teóricos facilita um
sua família, seus grupos e experiências desenvolvimento de papel simultaneamente
significativas e sua estrutura psíquica, em que autônomo e integrado ao de outros
condições externas devem ser entendidas profissionais.
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As diferenças entre as concepções teóricas são, diversos edifícios, um para esquizofrênicos, outro
contudo, insuficientes para compreender o papel para os serviços administrativos e outro para
profissional de Júlio e Julieta nas instituições em locais de trabalho com os doentes (Pessotti,
que atuam. Como ficou explícito nas entrevistas, 1996). Entendemos que a permanência de tal
diferenças individuais existem, e os profissionais arquitetura nessa instituição, no século XXI, é
entrevistados trazem, para seu trabalho, sua índice da permanência do modelo manicomial,
trajetória de vida e de formação profissional que não permite troca entre os profissionais das
singular. Entretanto, a dimensão coletiva mais diversas áreas. Se os edifícios estão distantes uns
concreta - a instituição em que trabalham - e dos outros, como observamos nessa instituição,
não a mais abstrata - o texto da Lei e como o e, em cada um deles, há um responsável por
compreendem dentro de suas perspectivas determinado setor de atendimento, a
teóricas – emerge como o foco das diferenças comunicação e a troca de saberes são mais
em termos das ações que atribuem ao psicólogo, difíceis e dependem de um esforço adicional
ou seja, compreendemos as diferenças nas ações dos profissionais para realizar-se.
que executam como resultado da adesão às
normas e regras das instituições pública e privada, Sendo assim, é de se esperar que o discurso
à importância diferenciada que atribuem ao mais tradicional e socialmente valorizado, o
trabalho em equipe, ao atendimento discurso médico, prevaleça na ausência de trocas
psicoterápico do louco, às relações entre equipe de informações, de convivência entre
e família do usuário e à integração do louco à profissionais de áreas distintas. Se a instituição é
sociedade. médica, a tarefa dos profissionais “não-médicos”
se limita a reeducar o usuário, garantindo a
No que concerne às instituições psiquiátricas, manutenção da instituição. Como assinala
tradicionalmente, os psicólogos são – assim como Foucault (1997), a ênfase da atuação desses
outros profissionais não-médicos - considerados profissionais é fazer com que o “alienado”
auxiliares, na medida em que a loucura entendida respeite as normas e seja desencorajado a realizar
como doença seria domínio do saber médico. condutas inconvenientes. A dimensão do cuidado
Em estudos sobre os profissionais de saúde propriamente dito, que inclui a compreensão
mental, identifica-se que a cultura institucional conjunta dos elementos complexos da história
se combina à cultura profissional da equipe dos usuários e a ação conjunta dos profissionais
multidisciplinar, de modo que a posição de cada no desenvolvimento dos recursos que ensejem
profissional mantém uma diferenciação mudanças, fica obscurecida, e a
hierárquica entre médicos e demais profissionais interdisciplinariedade permanece apenas como
de nível superior (Hong, 2003). um ideal.

O modelo manicomial persiste em nossa Por outro lado, a instituição privada localiza-se
sociedade, e ainda se faz presente na observação na área central da cidade (Plano Piloto), em uma
das instituições estudadas. Na instituição pública, pequena área comercial, facilitando o acesso dos
o modelo manicomial pode ser observado tanto usuários e as trocas de diferentes saberes.
no discurso do entrevistado quanto na Atendendo um número reduzido de pessoas,
localização da mesma e na disposição dos integrada ao espaço urbano, essa instituição
edifícios. Localizada em uma áreaa originalmente acompanha as características de outras
rural, distante do centro da cidade e dividida instituições de saúde, é mais uma clínica do que
em unidades isoladas, essa instituição nos remete um hospital, um asilo. Assim, suas características
ao século XVIII e XIX, quando os manicômios físicas facilitam a des-estigmatização tanto de
foram instalados em locais longínquos, sem usuários como de profissionais, e são mais
contato com o exterior, e eram compostos por propícias à interdisciplinariedade.
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A Lei Antimanicomial e o Trabalho de Psicólogos em Instituições de Saúde Mental

Reunidos em um espaço pequeno, os de estrutura convencional (manicomial),


profissionais convivem mais intensamente, mesmo pretendendo atuar com base na Lei
têm mais oportunidades de troca e de ação nº 10.216/01, Júlio se vê impedido por conta
conjunta no cotidiano, e os saberes das “condições materiais.” Por outro lado,
diferenciados se entrecruzam com mais Julieta, talvez por ser uma das fundadoras da
facilidade. A prevalência do discurso médico instituição privada, demonstra uma relação
– em especial, nesses tempos de tanta mais estreita e coerente entre a estrutura da
divulgação dos psicotrópicos – talvez não seja instituição e o trabalho desenvolvido. No
eliminada, mas, certamente, é mais discutida. entanto, os dois profissionais mostram-se
Infelizmente, sendo de caráter privado, essa atrelados às políticas existentes,
instituição atinge apenas pequenas faixas da governamentais e institucionais. A dimensão
população e reproduz também, no âmbito da pessoal, a face mais externa do papel, muda
saúde mental, a desigualdade no acesso aos individualmente, mas o núcleo central, a
serviços de saúde. prescrição social que distingue o papel social
de psicólogo só se transforma em ações
As entrevistas também apontam diferenças no coletivas.
discurso da profissional da área privada em
relação ao do profissional da área pública. Um Ainda que com diferentes níveis de reflexão,
dos aspectos mais distintivos é a ausência de os profissionais entrevistados demonstraram
uma elaboração por parte do profissional da conhecer a lei antimanicomial, mas
área pública a respeito da loucura. Por um questionamos em que medida se mantêm
lado, a profissional da área privada define a atualizados com relação ao conjunto da
loucura como “quebra”, “momento infeliz”, legislação. Entendemos que a informação
“doença”, ou seja, oscila entre uma concepção contínua sobre essas e outras leis na área de
estrutural e outra contingencial, saúde é de suma importância para que os
demonstrando, portanto, as variações teóricas profissionais atuem como cidadãos
no âmbito da Psicologia (Pessotti, 1996). participativos, e não apenas como executores
das políticas públicas. Como categoria
O silêncio do profissional da instituição pública, profissional, nós, psicólogos, precisamos ser
por seu turno, pode ser entendido como uma críticos em relação à situação atual para
dificuldade desse profissional em definir a reivindicar melhores condições de trabalho e
natureza – seja estrutural ou contingencial - nos fazermos presentes nas diferentes
do fenômeno com que se propõe a trabalhar, modalidades de atendimento ao sofrimento
a loucura. Ainda que a justaposição de humano.
premissas na concepção de loucura possa
acarretar dificuldades para construir um Acreditamos que a lei antimanicomial seja
projeto individual de intervenção, por outro extremamente importante, pois sua elaboração
lado, possibilita o diálogo com outros e seu surgimento são resultados de mudanças
profissionais, abre caminho para a sociais, mas as ações governamentais devem
interdisciplinariedade. A ausência de uma ou continuar, pois, se a lei antimanicomial versa
mais concepções sobre a loucura no discurso sobre a interdisciplinaridade na internação,
de Júlio é mais preocupante porque acreditamos que esse princípio deve ser
demonstra o isolamento, uma alienação em estendido ao serviço ambulatorial, aos centros
relação à equipe e aos usuários. Assim, a de convivência. Entretanto, se a política
indicação para intervenção, dimensão crucial governamental fica restrita ao âmbito
do papel de psicólogo, fica à mercê do legislativo, sua eficácia como agente de
psiquiatra, ou seja, dentro de uma instituição mudança é reduzida. As instituições e a

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sociedade permanecem pouco informadas legislativa, parece ter incorporado seus


sobre o papel do psicólogo na instituição de princípios desde o início, e não como resultado
saúde mental. da sua promulgação, em 2001. Assim, o nível
de desenvolvimento do papel de psicólogo
A lei antimanicomial propõe a surge como indicativo da adesão institucional
interdisciplinariedade, inclui o atendimento aos princípios da lei antimanicomial, que, no
psicológico entre as modalidades de caso em estudo, é a instituição privada.
intervenção em instituições de saúde mental,
mas não esclarece seu papel. As condições As políticas públicas de saúde constituem um
físicas e o discurso dos profissionais participantes conjunto de medidas em vários âmbitos, e a
desse estudo demonstram que o modelo entrada em vigor da lei antimanicomial é um
manicomial ainda persiste, e que um trabalho marco importante, mas não suficiente para
realmente interdisciplinar é um desafio que criar as condições de um atendimento
ultrapassa o cumprimento da Lei. As condições genuinamente interdisciplinar, voltado para o
concretas de trabalho surgem como elemento cuidado integral do louco. Nossa pesquisa
decisivo para compreender como o papel de mostra que o desenvolvimento do papel de
psicólogo se institui e se desenvolve nas psicólogo na instituição de saúde mental é um
instituições psiquiátricas. fenômeno complexo, que transcende o
conhecimento e a adesão pessoal às políticas
Em condições de trabalho mais favoráveis, governamentais. Mais do que seu regime
Julieta mostra consciência em relação aos jurídico, público ou privado, é a adesão da
limites e possibilidades de sua atuação; instituição a um modelo mais ou menos
poderíamos considerar que seu papel manicomial que propicia o trabalho
profissional se desenvolve entre as fases de genuinamente interdisciplinar.
desempenho (role-playing) e criação (role-
creating). Por outro lado, Júlio enfrenta maiores O papel de psicólogo é forjado na formação
desafios em termos de definição da pessoal, mas realiza-se como ação articulada,
especificidade do trabalho como psicólogo na coletiva. Pesquisas que investiguem sob que
instituição; o papel de psicólogo está pouco condições atuam os psicólogos e em que
diferenciado em relação a outros, e podemos medida os princípios que defendemos como
situar seu papel profissional em um estágio categoria, em um sistema de saúde de
inicial de desenvolvimento (role-taking). qualidade para todos, são efetivamente
Compreendemos essas diferenças em termos praticados no cotidiano de nossa atuação
de desenvolvimento de papel menos como profissional podem contribuir para o
decorrência de elementos individuais, como aprimoramento de nossa formação como
tempo de atuação ou de orientação teórica, e agentes de mudança social.
mais como relativos ao contexto de atuação,
às características das instituições em que Considerações finais
trabalham.
Aplicada à investigação do impacto de políticas
No presente estudo, a lei antimanicomial públicas, a pesquisa qualitativa possibilita
parece ter tido um impacto limitado na ampliar a compreensão sobre o alcance e os
mudança das situações concretas de trabalho entraves às mudanças efetivas. Em artigo
do psicólogo que atua na instituição mais recente, um consultor do Banco Mundial (Rist,
tradicional, a pública. A instituição privada, 2003) destaca que a implementação,
fundada no período de discussão que manutenção e avaliação de políticas públicas
desembocou na aprovação da mudança nas áreas sociais são temas complexos e
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A Lei Antimanicomial e o Trabalho de Psicólogos em Instituições de Saúde Mental

discute o potencial da pesquisa qualitativa para Por outro lado, consideramos que as mudanças
colaborar nesses diferentes momentos. sociais incluem a formação profissional, na
Podemos considerar a presente pesquisa como medida em que a educação também deve fazer
um recurso de acompanhamento do impacto parte do conjunto das políticas públicas na área
de uma política pública, a lei antimanicomial, de saúde. Pesquisas sobre o perfil de outras
relativa à atuação de psicólogos que trabalham categorias que atuam na área de saúde (Bravo,
Entendemos que em instituições psiquiátricas. 2004; Hong, 2004; Souza, 2003) ressaltam que
os movimentos
sociais, idealmente
a formação profissional, tanto na graduação
associados a A sociedade organizada foi eficiente para lutar como na pós-graduação, constituem-se em
entidades de pelas mudanças legislativas, mas parece não momentos privilegiados para o desenvolvimento
classe dos
profissionais da ter o mesmo sucesso no que diz respeito à sua dos conhecimentos e habilidades requeridas
área de saúde, implementação. O panorama que traçamos para a atuação interdisciplinar. No que tange
têm muito a ao papel de psicólogo que atua em instituição
aqui permite identificar a grande relevância da
contribuir para que
as instituições lei antimanicomial em termos sociais, mas as de saúde mental, consideramos que cursos de
ampliem e diferenças no desempenho e no graduação e pós-graduação devem considerar
aprofundem as
desenvolvimento do papel de psicólogo na as instituições de saúde mental como parte do
mudanças, no
sentido de instituição psiquiátrica parecem estar mais sistema de saúde mais amplo e promover
promover um associadas às condições de trabalho e à reflexões e atividades práticas que configurem
atendimento
interdisciplinar
formação teórica, e estas não parecem ter sido o papel de psicólogo em instituição de saúde
efetivo aos usuários afetadas pela mudança legislativa. A Lei, sem mental como uma modalidade específica de
da instituição e à dúvida, mudou o perfil das instituições psicólogo da saúde, e, em conseqüência, do
integração do
louco ao contexto
psiquiátricas, mas algumas de suas papel do psicoterapeuta e dos outros
social. características persistem como entraves para a profissionais de saúde.
realização dos princípios que prescrevem.
As mudanças nas políticas públicas em saúde
A pesquisa sobre os limites e possibilidades do mental, que incluem a lei antimanicomial, são
papel de psicólogo permite evidenciar as frutos de um extenso e longo trabalho de uma
contradições entre os princípios que o conjunto variedade de movimentos sociais, contudo, a
da sociedade estabeleceu por meio da participação da comunidade acadêmica é muito
legislação e as condições oferecidas para que limitada (Paulin e Turato, 2004). Neste artigo,
os mesmos sejam concretizados. Como descrevemos alguns aspectos que apontam as
adverte Bravo (2004, p.194), em tese sobre vicissitudes do desenvolvimento do papel dos
presos psiquiátricos, “sem considerar a psicólogos que atuam em instituições de saúde
dimensão sociopolítica, corre-se o risco de, a mental pós lei antimanicomial e apresentamos
partir de um discurso amparado em novos a graduação como momento privilegiado para
disfarces teóricos, epistemológicos ou técnicos, lançar as bases para que esse papel possa ser
continuar reproduzindo um tipo de prática que desempenhado em consonância com os
mantenha os mesmos conteúdos ideológicos.” princípios que levaram às mudanças legislativas.
Entendemos que os movimentos sociais, Entendemos que outras pesquisas qualitativas,
idealmente associados a entidades de classe especialmente as que envolvem equipes
dos profissionais da área de saúde, têm muito interdisciplinares, podem contribuir para o
a contribuir para que as instituições ampliem e desenvolvimento de políticas públicas articuladas
aprofundem as mudanças, no sentido de que permitam a concretização de uma
promover um atendimento interdisciplinar compreensão mais ampla da loucura e de um
efetivo aos usuários da instituição e à integração tratamento realmente humano e inclusivo do
do louco ao contexto social. louco.

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Tatiana Camargo de Sant’Anna


Psicóloga. Estudo desenvolvido durante o período em que a primeira autora era aluna de graduação de
Psicologia da Universidade Católica de Brasília.
SHIGS 706 Bloco C casa 03, CEP: 70350-753– Brasília – DF. Tel.: (61) 32423374.
E-mail: tatysantanna@gmail.com

Valéria Cristina de Albuquerque Brito


psicóloga, Doutora em Psicologia, Professora da Universidade Católica de Brasília

Recebido 17/06/05 Reformulado 06/06/06 Aprovado 08/06/06

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