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Grelha de correcção do exame de direito tributário - 2.

ª Chamada

Suponha que:

João e Maria, casados, adquiriram em finais de 2012 um imóvel no valor de 500.000


euros e um veículo automóvel novo no valor de 50.000.

Em Janeiro de 2014 foram notificados da decisão do Director de Finanças da área do


seu domicílio de que lhes havia sido fixado, para os anos de 2012, 2013 e 2014 um
rendimento tributável para efeitos de IRS de 150.000 euros em cada um dos referidos
anos, ao abrigo do disposto no artigo 89.º-A da Lei Geral Tributária, porquanto a
declaração de rendimentos que haviam apresentado em 2012 revelava um rendimento
liquido inferior em mais de 50% em relação ao rendimento padrão constante da tabela
do n.º 4 do mesmo artigo.

João e Maria pretendem contestar esta decisão.

- Como devem fazê-lo e de que prazo dispõem para o efeito? (1 v.)

Resposta:

- O meio processual adequado para reagir contra a decisão do Director de


Finanças de fixação da matéria tributável é o recurso para o tribunal
tributário de 1.ª instância (arts. 89.º-A n.º 7 e 8 da LGT e 146.º-B n.º 5 do
CPPT), a interpor no prazo de 10 dias contados da data de notificação da
decisão (art. 146.º-B n.º 2 do CPPT), em requerimento, não necessariamente
subscrito por advogado, no qual serão desde logo apresentados os meios de
prova.

- Que vícios da decisão podem, no caso concreto, invocar? (3 v)

Resposta:

- Fixação da matéria tributável por métodos indirectos ao abrigo do disposto


nos artigos 87.º, n.º 1 alínea d) e 89.º-A n.ºs 1,3 e 4 da LGT sem prévia audição
prévia dos sujeitos passivos, como imposto pelo art. 60.º, n.º 1, alínea d) da
LGT: vício de violação de lei (0,5 v.)

- A serem verdade os dados da hipótese há justificação legal para o recurso ao


método indirecto (art. 89.º-A n.º 1 da LGT). A quantificação a que a
Administração Tributária procedeu é, contudo, ilegal, por violação do disposto
no n.º 4 do artigo 89.º-a da LGT, já que que foi fixado, para os anos de 2012,
2013 e 2014 um rendimento tributável em sede de 150.000 euros quando o
rendimento padrão resultante da Tabela conduziria à fixação de um
rendimento tributável de 125.000 euros no ano de 2012 (20% de 500.000 –
imóvel – 50% de 50.000 – veículo automóvel) e nos anos seguintes, a admitir-
se que as mesmas manifestações de fortuna podem dar origem à fixação de
rendimento tributável por métodos indirectos em mais de um ano, haveria que
subtrair 5.000 euros, em cada um dos anos seguintes (correspondente ao
abatimento de 20% de 25.000 euros, relativo a 50% do valor da manifestação de
fortuna derivada da aquisição do veículo automóvel) – (2 v)

Importa, ainda, problematizar a possibilidade de a mesma manifestação de


fortuna poder dar origem à fixação de rendimento tributável pelo referido
método indirecto em mais de um ano. A orientação mais recente do STA,
acompanhada por alguma doutrina, mas que não é porém unânime, é em sentido
negativo (cfr. os Acórdãos do STA de 17/4/2013, rec. n.º 0433/13 e de
24/07/2013, rec. n.º 1203/13), mas a Administração tributária e outra parte da
doutrina, pronunciam-se no sentido de que pode haver tal fixação em até anos.
Devem admitir-se como igualmente válidas ambas as respostas, desde que
devidamente fundamentadas – (0,5 v)

- João e Maria alegam que no ano de 2012 contraíram um empréstimo bancário


no valor de 100.000 euros, sendo que o restante provém de poupanças que
acumularam ao longo dos anos. Esta alegação é relevante? Em caso afirmativo,
em que termos? (2 v)

Resposta:

A alegação, desde que acompanhada de prova adequada da contracção do


empréstimo, da existência de poupanças em valor suficiente suportar as
manifestações de fortuna e da mobilização de um e outras para as
aquisições realizadas em 2012 é relevante, nos termos do n.º 3 do art. 89.º-A
da LGT. – (1 v.)

Se tal alegação e prova for feita relativamente ao total dos montantes


empregues na aquisição dos bens que constituem manifestações de fortuna a
fixação da matéria tributável por métodos indirectos deixa de ter
justificação legal; se for apenas uma justificação parcial, relevará apenas no
cálculo do rendimento padrão a considerar, deduzindo-se aos valores de
aquisição o dos montantes justificados (Ac. do Pleno da Secção de
Contencioso Tributário do STA de 5/07/2012, rec. n.º 0358/12). – (1 v.)

Suponha agora que em Janeiro de 2014 João foi notificado de um projecto de reversão
de uma execução fiscal instaurada contra uma sociedade de que fora gerente por
dívidas de IRC (retenções na fonte a entidades não residentes) e coimas por falta de
entrega de prestações tributárias relativas aos anos de 2009 e 2010.
Em Fevereiro de 2014 foi citado para a execução fiscal, na qualidade de responsável
subsidiário.

João pretende reagir, através de oposição à execução fiscal, quer contra o despacho de
reversão, que considera ilegal pois não foi provada nem a insuficiência de bens da
sociedade devedora originária nem a sua culpa, quer contra as decisões
administrativas de aplicação de coimas à sociedade. Pode fazê-lo? Justifique a sua
resposta, indicando igualmente se para tal está em tempo (2v)

Resposta:

TEMPESTIVIDADE: O prazo de oposição é de 30 dias, a contar da citação


pessoal (ou da primeira penhora, não tendo havido citação pessoal) – art.
203.º n.º 1, alínea a) do CPPT. Supondo-se que a citação efectuada em
fevereiro de 2014 foi uma citação pessoal, a oposição será tempestiva se
tiver sido deduzida dentro desse prazo – (0,5 v)

ADEQUAÇÃO DO MEIO PROCESSUAL

A oposição é o meio processual adequado que o responsável subsidiário


questionar a legalidade do despacho de reversão, por vícios formais e
substanciais deste, invocando a sua ilegitimidade como executado por não
ser responsável pela dívida – art. 204.º n.º 1, alínea b) do CPPT. (1v)

A jurisprudência do STA tem admitido (cfr., entre outros, o ac. do STA de


14/04/2010, rec. n.º 064/10) que o responsável subsidiário possa igualmente
discutir na oposição, ao abrigo da alínea h) do n.º 1 do art. 204.º do CPPT, a
legalidade da decisão de aplicação da coima à sociedade, atento o princípio
da tutela jurisdicional efectiva e porque lhe é reconhecida legitimidade para
interpor recurso da decisão de aplicação da coima. (0,5v)

Suponha agora que o Governo pretende criar uma “taxa de residência”, no


valor de 1000 euros/ano, a cobrar aos estrangeiros residentes em Portugal que
aqui não aufiram rendimentos tributáveis em IRS, constituindo receita própria
dos municípios da área de residência dos sujeitos passivos.

O tributo em questão será verdadeiramente uma taxa? E será compatível com a


Constituição? Justifique devidamente a sua resposta. (2 v)

Resposta:

- Distinção entre imposto/taxa: unilateralidade do imposto/bilateralidade da


taxa (o seu pagamento confere o direito a uma contraprestação específica:
utilização concreta de um serviço público/utilização de um bem do domínio
público/remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos
particulares – art. 4.º, n.º 2 da LGT). Na hipótese, não há contraprestação
específica, haverá quando muito uma utilidade genérica derivada da
residência em território português. Irrelevância do “nomem iuris”
atribuído pelo legislador. – 1 v.

Conformidade à Constituição:

- Não sendo verdadeiramente uma taxa, mas um imposto, do ponto de vista


formal o Governo só o poderia criar se para tal autorizado pela Assembleia
da República: princípio da legalidade tributária (art. 165.º, n.º 1, alínea i) e
103.º n.º 2 da Constituição) – (0,5 v)

- Violação do princípio da igualdade (artigo 13.º da Constituição): (0,5v)

Discriminatório :a cobrar aos estrangeiros residentes em Portugal – o


critério da nacionalidade não é factor de diferenciação que legitima a
tributação

Imposto de prestação fixa – no valor de 1000 euros/ano,


independentemente da situação pessoal ou familiar de cada contribuinte -
violação do princípio da capacidade contributiva

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