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Inovações no ensino de ciências e saúde: análise das experiências de professores universitários com o uso de tecnologias da informação e comunicação em suas
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Apreciação analítica de ambientes construtivistas de aprendizagem baseados nas novas tecnologias de informação e comunicação na área das ciências da saúde. View
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All content following this page was uploaded by Rosilaine Wardenski on 30 November 2019.
Introdução
Esse caráter nocivo dos insetos é frequentemente lembrado pela maior parte da
população, e muitos trabalhos na literatura destacam a ocorrência de um imaginário negativo
sobre esses animais (ALMEIDA et al, 2008; REZENDE; STRUCHINER, 2009). Diante deste
cenário, é papel da educação estimular a reflexão e o conhecimento acerca dos insetos e de
suas funções ecológicas, a fim de auxiliar na compreensão do papel deste grupo no ambiente,
assim como mudar as relações humanas com ele (PEREIRA, 2013). Entretanto, diversos
autores afirmam que, no ensino de ciências e biologia, os insetos são tratados de forma
isolada, fragmentada e memorística, focando-se apenas nas descrições morfológicas e
taxonômicas (GRUZMAN, 2003; PEREIRA, 2013; TRINDADE et al, 2013). Devido a isso,
faz-se necessário buscar alternativas para abordar esses animais a partir de um enfoque mais
relacional, e menos antropocêntrico (TRINDADE et al, 2012).
Tendo em vista que o desenvolvimento de estratégias didáticas com esta abordagem
pode constituir um desafio para professores e pesquisadores, este trabalho apresenta uma
revisão da literatura com o objetivo de identificar como a temática „insetos‟ vem sendo
abordada no ensino de ciências. Acredita-se que esta revisão poderá contribuir com o
conhecimento sobre a pesquisa e o desenvolvimento de processos e materiais educativos que
desmistifiquem o imaginário negativo acerca desses animais.
Metodologia
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animais. Com base nesta busca, foram selecionados 13 trabalhos, cuja análise e categorização
foi feita a posteriori, tendo como base os dados encontrados.
Esses trabalhos foram classificados em dois diferentes grupos, de acordo com os
conteúdos neles encontrados: 1) artigos que identificam concepções acerca dos insetos e do
processo de aprendizagem do tema, tanto apresentadas por professores e alunos, quanto
contidas em materiais didáticos; 2) artigos que relatam o desenvolvimento e/ou
implementação de estratégias didáticas voltadas para a temática insetos.
Resultados e Discussão
Quadro 1: Artigos selecionados por ordem cronológica de apresentação com seus respectivos
códigos
T3 Re/production of science process skills and a scientific ethos in an early Kirsch (2007)
childhood classroom
T9 Dime cómo comes y te diré quién eres: una experiencia didáctica para Baranzelli et al
conocer los aparatos bucales de los insectos. (2014)
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T10 Difficulty of science and biology teachers to teach entomology in Cajaíba (2014)
elementary and high schools in the state of Para, Northern Brazil
Neste grupo, estão reunidos artigos que analisam materiais didáticos relacionados aos
insetos (T4 e T5), concepções e representações de alunos acerca desses animais (T7 e T11), e
percepções de professores sobre o processo de aprendizagem deste tema (T10). Esses artigos
nos ajudam a identificar quais os principais desafios enfrentados no processo de ensino-
aprendizagem sobre a temática dos insetos, relacionados aos conhecimentos e percepções da
população acerca desses animais
Entre esses trabalhos, T4 e T11 se concentraram principalmente nos aspectos
morfológicos dos insetos. Em T4, por exemplo, os autores afirmam que, como os professores
se baseiam muito em livros e materiais didáticos ao planejar as aulas, se as abordagens
contidas neles apresentarem problemas, isso pode se refletir na sua prática didática, e
portanto, deve-se buscar alternativas para tratar o tema com os alunos. Alguns exemplos de
informações importantes que segundo os autores estavam ausentes em alguns livros são: os
diferentes tipos de asas, a divisão do corpo em três partes, (cabeça, tórax e abdome); a
presença de duas antenas com função sensorial; três pares de patas podendo ter formatos
variados conforme a função desempenhada por elas para auxiliar na sobrevivência do animal;
aparelhos bucais diferentes adaptados a alimentação do inseto; e quantidade de asas variando
de um a dois pares, sendo distintas nas diferentes espécies (ALMEIDA et al, 2008).
Já em T11, as autoras apontam a presença de algumas concepções peculiares por parte
de alunos da educação infantil acerca da morfologia de borboletas, como por exemplo, no
caso de um aluno que as representou em seus desenhos de forma antropomorfizada, contendo
pernas e rostos humanos. Esse estudo foi realizado tendo como contexto um projeto educativo
para tratar desses animais, e segundo os autores (DOMINGUES; TRIVELATTO, 2014), essas
998
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compreendem as relações ecológicas influencia suas percepções e emoções com relação aos
animais (LIMA, 2012).
Além disso, encontramos em T10, um estudo focado nas percepções explicitadas por
professores de ciências e biologia sobre o ensino do tema insetos, incluindo os desafios
enfrentados por eles. Para os autores, é importante conhecer essas dificuldades a fim de
superá-las e oferecer aos alunos melhores fontes para refletir acerca dos insetos, considerando
a diversidade desses animais, sua importância ecológica e ambiental, e o fato de que são
vistos pela maior parte da população como seres que causam apenas prejuízos aos seres
humanos. Segundo Cajaíba (2010), os professores destacam a superlotação das turmas, o
baixo conhecimento sobre o assunto, o desinteresse dos estudantes, e a falta de laboratórios e
equipamentos para trabalhos de campo, o que resulta em uma abordagem superficial do tema.
Estes resultados devem ser levados em consideração no momento de planejar e implementar
atividades ou materiais educativos voltados para o ensino do tema „insetos‟.
Neste tópico, reunimos as estratégias educativas relatadas nos trabalhos T1, T2, T3,
T6, T8, T9, T12 e T13. Esses artigos apontam iniciativas de desenvolvimento e/ou
implementação de propostas pedagógicas para trabalhar o tema insetos, descrevendo
detalhadamente as atividades realizadas, incluindo tanto os objetivos de ensino/aprendizagem,
quanto as estratégias utilizadas para alcançá-los.
Analisando esses artigos, percebemos que as estratégias didáticas relatadas tinham
diferentes objetivos com relação à aprendizagem dos alunos. Nas atividades descritas em T6,
T9, T12 e T13, o foco estava diretamente na aprendizagem sobre insetos. Para os autores
desses trabalhos, é necessário abordar esses animais, devido à sua abundância, e sua
conseqüente influência no nosso cotidiano. Em T13, por exemplo, Leon et al (2015) realizam
um trabalho motivado pela alta incidência da doença de Chagas nas áreas rurais do México.
Segundo os autores, é necessário que a população conheça seus vetores, tendo em vista evitar
tanto a doença, quanto a eliminação de outros insetos que podem ser úteis no ambiente.
Por outro lado, as atividades descritas em T1, T2, T3 e T8 não tinham como foco
principal os conhecimentos dos alunos acerca dos insetos ou a aprendizagem no tema, mas
tinham esses animais como pano de fundo. Isso porque, os objetivos apontados pelos autores
1000
Em T6, por exemplo, essa estratégia foi utilizada para estimular o desenvolvimento de
noções básicas e conceitos fundamentais para residentes de áreas endêmicas da doença de
chagas. Apresentou-se uma introdução sobre a enfermidade, se desenvolveram conceitos
relacionados às características do vetor (refúgios e lugares onde podem ser frequentemente
encontrados, fatores que favorecem a sua presença nos domicílios, e informações sobre
hábitos alimentares), sintomas da doença e suas formas de transmissão (CROCCO et al,
2010).
Já em T12, os autores relatam ter utilizado uma apresentação oral e ilustrada pra
introduzir o desenvolvimento de diversas atividades relacionadas ao “mês da entomologia”
junto a alunos e professores de escolas públicas. Assim, foram apresentados três conceitos-
chaves da entomologia: i) o que são os insetos e quais são suas características mais notáveis;
ii) a notável abundância e diversidade deste grupo animal (evolução, ecologia e diversidade;
iii) o que estudam e como trabalham os entomólogos (a formação de perguntas, a
experimentação e as ferramentas utilizadas para responder a essas questões). Durante essa
exposição foi estimulada a participação dos alunos por meio de perguntas e discussões.
Alguns trabalhos (T2, T3, T8 e T12), relatam a utilização da investigação científica
para estudar uma ou mais questões específicas relativas aos insetos. Nestes trabalhos, são
descritos o processo de escolha do tema, as reflexões realizadas, os procedimentos adotados e
aspectos que deveriam ter sido mais bem planejados durante o delineamento da pesquisa. Para
Fischbein et al (2012), a investigação científica pode motivar os alunos a analisar as questões
propostas de maneira mais objetiva, eliminando preconceitos previamente existentes. Devido
a isso, consideramos que esta pode ser uma estratégia útil para fazer os alunos refletirem
acerca da utilidade dos insetos e superarem o imaginário negativo desses animais, que é
recorrente na nossa cultura. Para isso, destaca-se que eles terão a oportunidade de analisar,
estabelecer relações, tirar suas conclusões, e elaborar novos questionamentos acerca das
funções dos insetos no ambiente (DEMOLINER, 2005).
Um exemplo de uso dessa estratégia é T8. Neste caso, Parente et al (2015) descrevem
a elaboração e realização, junto a alunos do ensino fundamental, de um experimento utilizado
para estudar acerca da influência da quantidade de milho para a proliferação de gorgulhos.
Ao descreverem os procedimentos, os autores afirmam que foram utilizados cinco potes com
diferentes quantidades de milho (200g, 300g, 400g, 500g e 600 g). Posteriormente, após o
questionamento de uma estudante sobre o motivo para essa diferença, iniciaram uma
discussão com os alunos para o levantamento de hipóteses, propondo o experimento para os
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estudantes. Os autores afirmam ainda que os conhecimentos teóricos poderiam ter servido
como subsídios para definir as questões procedimentais. Ao estudar o ciclo de vida dos
gorgulhos, por exemplo, (incluindo o número de ovos depositados, a existência de
canibalismo entre os indivíduos recém-eclodidos, e o tempo de maturação dos ovos), podia-se
definir o tempo de intervalo entre as contagens. Além disso, são coletadas informações acerca
das condições ideais para a proliferação dos indivíduos, tais como temperatura, Ph e
luminosidade.
Em alguns trabalhos, percebemos também a observação de estruturas dos insetos por
meio de lupas ou microscópios (T2 e T9), o que foi apontado como uma estratégia eficiente.
Em T2, os alunos desenharam formigas coletadas antes e depois da observação e, segundo os
autores, nos desenhos feitos previamente, os alunos demonstraram diferentes concepções
quanto a caracteres morfológicos, como ausência da cintura, número excessivo ou insuficiente
de pernas, ausência de antenas e divisão incompleta do corpo, clara semelhança com outros
tipos de insetos, e presença de antropomorfização: faces com olhos e bocas humanos e coroas
em formigas rainhas. Já Baranzelli et al (2014), defende em T9, que o uso de lupas permitiu
visualizar estruturas muito pequenas e difíceis de detectar a olho nu, e a incorporação de uma
escala de observação diferente das conhecidas pelas crianças despertou sua curiosidade e
permitiu exercitar a motricidade fina.
A montagem de caixas entomológicas foi observada nos trabalhos T9 e T13, sendo
que em T13, esta foi a atividade central. Neste trabalho, os autores descrevem a construção de
duas coleções entomológicas por alunos do ensino fundamental, com a ajuda dos pais,
professores e pesquisadores. Segundo eles, o objetivo desta atividade foi estimular a correta
identificação dos vetores do Trypanossoma cruzi (protozoário causador da doença de chagas).
Como apontado, a importância deste trabalho consiste tanto nos problemas causados pela
doença de chagas para a saúde pública, como quanto na visão negativa que a população
possui acerca dos insetos devido ao fato de muitos deles causarem doenças. Sendo assim,
pretende-se que os alunos, pais, professores e a comunidade de maneira geral, possa
identificar os insetos transmissores da doença, para se proteger deles, e também para evitar o
ataque a insetos inofensivos, que podem ser importantes para o meio ambiente (LEON et al,
2013).
Além disso, em T9 foi relatada a utilização de jogo educativo. Neste caso, foi
realizada uma corrida de revezamento, onde os alunos, separados em dois grupos rivais,
simularam distintos insetos, providos dos acessórios análogos a cada aparelho bucal
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Conclusões
Este trabalho apresenta um levantamento feito para analisar como a temática insetos
vem sendo trabalhada no ensino de ciências. Com relação às percepções e conhecimentos
sobre esses animais, foram encontradas algumas lacunas nas informações acerca da sua
morfologia. Um exemplo disso são aquelas encontradas em livros didáticos, indicando a
necessidade de realizar atividades que vão além dos materiais tradicionalmente utilizados pela
escola.
Além disso, em parte desses estudos, os sujeitos demonstraram não compreender o
papel ecológico dos insetos. Já em outros trabalhos destacou-se que, embora fossem
conscientes de que os esses seres participam de funções importantes para o ambiente, os
sujeitos não conseguiam relacionar essa importância com sua própria sobrevivência, devido á
visão de que nós (seres humanos) somos separados da “natureza”. Segundo Pereira (2013),
esse quadro encontra-se fortemente relacionado com uma visão antropocêntrica e utilitarista
dos recursos naturais. Essa visão é um desafio para o ensino de ciências, tendo em vista que
constitui o reflexo de um imaginário culturalmente difundido, e portanto, difícil de ser
superado (PEREIRA, 2013).
Essa cultura, que encontra-se relacionada á uma visão antropocêntrica dos recursos
naturais, foi outra questão abordada nos artigos analisados. Isso pode ser explicado pelo fato
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