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INSETOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA REVISÃO DA LITERATURA

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Rosilaine Wardenski Taís Rabetti Giannella


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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3

INSETOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA REVISÃO DA LITERATURA

Rosilaine de Fátima Wardenski (NUTES/UFRJ – Bolsista CAPES)

Tais Rabetti Giannella (NUTES/UFRJ)

Resumo: Considerando a influência dos insetos nos ecossistemas e a necessidade de


promover uma aprendizagem que estimule a compreensão dos alunos sobre a importância
desses animais, este trabalho apresenta uma revisão da literatura visando identificar como o
tema vem sendo trabalhado no ensino de ciências. Para isso, realizou-se um levantamento de
artigos em revistas de ensino classificadas nos estratos A1, A2 e B1 da CAPES. Foram
analisados 13 trabalhos, categorizados em dois diferentes grupos: 1) artigos que identificam
concepções acerca dos insetos e do processo de aprendizagem do tema, tanto apresentadas por
professores e alunos, quanto contidas em materiais didáticos; 2) artigos que relatam o
desenvolvimento e/ou implementação de estratégias didáticas voltadas para a temática
insetos. Os resultados desta análise podem contribuir para o planejamento de atividades
educativas para tratar acerca desses animais no ensino de ciências.
Palavras-chave: revisão da literatura, insetos, ensino de ciências.

Introdução

Na literatura, tanto em trabalhos da área de ciências biológicas, quanto naqueles


relacionados ao ensino de ciências, diversos autores ressaltam a importância econômica e
ecológica dos insetos, que pode ser evidenciada por diferentes fatores. Segundo Ruppert e
Barnes (2005), esses animais são os mais abundantes e diversificados da terra,
compreendendo cerca de 70% das espécies animais conhecidas, e sendo facilmente
encontrados no nosso cotidiano.
Esses seres tem um importante papel no controle ecológico, tendo em vista serem os
principais responsáveis pela dispersão dos grãos de pólen, contribuindo assim, para a
produção de muitas colheitas agrícolas (RAVEN, 2001). Além disso, fornecem para o homem
produtos de valor comercial, servem de alimento para diversos animais, e ainda atuam no
controle biológico de pragas (ALMEIDA et al, 2008; SANTOS; SOUTO, 2011). Por outro
lado, os insetos causam diversos problemas, tanto nas áreas agrícolas, por provocar sérios
danos às plantações, conhecidas como pragas vegetais (ALMEIDA et al, 2008; NEVES et al,
2005), quanto na área médica, tendo em vista que muitos deles são transmissores de doenças
ou parasitas (ALMEIDA et al, 2008).
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Esse caráter nocivo dos insetos é frequentemente lembrado pela maior parte da
população, e muitos trabalhos na literatura destacam a ocorrência de um imaginário negativo
sobre esses animais (ALMEIDA et al, 2008; REZENDE; STRUCHINER, 2009). Diante deste
cenário, é papel da educação estimular a reflexão e o conhecimento acerca dos insetos e de
suas funções ecológicas, a fim de auxiliar na compreensão do papel deste grupo no ambiente,
assim como mudar as relações humanas com ele (PEREIRA, 2013). Entretanto, diversos
autores afirmam que, no ensino de ciências e biologia, os insetos são tratados de forma
isolada, fragmentada e memorística, focando-se apenas nas descrições morfológicas e
taxonômicas (GRUZMAN, 2003; PEREIRA, 2013; TRINDADE et al, 2013). Devido a isso,
faz-se necessário buscar alternativas para abordar esses animais a partir de um enfoque mais
relacional, e menos antropocêntrico (TRINDADE et al, 2012).
Tendo em vista que o desenvolvimento de estratégias didáticas com esta abordagem
pode constituir um desafio para professores e pesquisadores, este trabalho apresenta uma
revisão da literatura com o objetivo de identificar como a temática „insetos‟ vem sendo
abordada no ensino de ciências. Acredita-se que esta revisão poderá contribuir com o
conhecimento sobre a pesquisa e o desenvolvimento de processos e materiais educativos que
desmistifiquem o imaginário negativo acerca desses animais.

Metodologia

Os artigos analisados neste estudo foram selecionados a partir de um levantamento nos


periódicos de extratos A1, A2 e B1 da área de ensino com base na classificação Qualis 2014
da Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de nível superior (CAPES).
Para a busca, foram utilizados os termos “inseto”, “insetos”, e seus equivalentes em
inglês e espanhol, em todos os campos dos periódicos. A busca resultou em 288 trabalhos, dos
quais 256 foram excluídos após a leitura do título, por não terem relação com o ensino. Os
resumos dos 32 artigos resultantes foram submetidos a uma leitura prévia e a um processo de
filtragem com base em critérios de inclusão e descarte para obter um conjunto final contendo
apenas aqueles relevantes para o presente trabalho. Os critérios de inclusão foram: artigos
completos disponíveis, artigos voltados diretamente para o ensino do tema insetos; ou artigos
voltados para discussões recorrentes no ensino de ciências (como a investigação científica),
mas que foram realizados no contexto da implementação de atividades envolvendo esses

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animais. Com base nesta busca, foram selecionados 13 trabalhos, cuja análise e categorização
foi feita a posteriori, tendo como base os dados encontrados.
Esses trabalhos foram classificados em dois diferentes grupos, de acordo com os
conteúdos neles encontrados: 1) artigos que identificam concepções acerca dos insetos e do
processo de aprendizagem do tema, tanto apresentadas por professores e alunos, quanto
contidas em materiais didáticos; 2) artigos que relatam o desenvolvimento e/ou
implementação de estratégias didáticas voltadas para a temática insetos.

Resultados e Discussão

Os 13 trabalhos selecionados estão apresentados no quadro 1 por ordem cronológica


de publicação, juntamente com seus respectivos códigos de identificação.

Quadro 1: Artigos selecionados por ordem cronológica de apresentação com seus respectivos
códigos

Cód. Título Autor (es)/ano

T1 Os feromônios e o ensino de química Quadros (1998)

T2 A interferência da urbanização na sobrevivência das espécies de Ribeiro e Parente


formigas: uma experiência com pesquisa no ensino de ciências (2006)

T3 Re/production of science process skills and a scientific ethos in an early Kirsch (2007)
childhood classroom

T4 Desenvolvimento do conteúdo sobre os insetos nos livros didáticos de Almeida et al (2008)


ciências

T5 Uma proposta pedagógica para a produção e utilização de materiais Rezende e Struchiner


audiovisuais no ensino de ciências: análise de um vídeo sobre (2009)
entomologia

T6 Controlando la enfermedad de chagas desde la escuela: módulos Crocco et al (2010).


educativos

T7 Um estudo das representações sociais de estudantes do ensino médio Trindade et al (2012)


sobre os insetos

T8 A quantidade de milho influencia na proliferação de gorgulho? Parente et al (2015)


Aspectos teóricos que subsidiam o processo de construção de dados em
uma investigação

T9 Dime cómo comes y te diré quién eres: una experiencia didáctica para Baranzelli et al
conocer los aparatos bucales de los insectos. (2014)

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T10 Difficulty of science and biology teachers to teach entomology in Cajaíba (2014)
elementary and high schools in the state of Para, Northern Brazil

T11 Crianças pequenas no processo de significação sobre borboletas: como Dominguez e


utilizam as linguagens? Trivelato (2014)

T12 El mês de la entomologia: acercando el laboratorio de investigación Fischbein et al (2015)


científica a las escuelas de nível inicial de la Patagonia

T13 Aproximación y diffusion de la enfermedad de chagas en dos Leon et al (2015).


comunidades de Mexico por médio de colecciones entomológicas
creadas com los Estudiantes de primaria

Concepções acerca dos insetos e da aprendizagem do tema, apresentadas por professores


e alunos e contidas em materiais didáticos

Neste grupo, estão reunidos artigos que analisam materiais didáticos relacionados aos
insetos (T4 e T5), concepções e representações de alunos acerca desses animais (T7 e T11), e
percepções de professores sobre o processo de aprendizagem deste tema (T10). Esses artigos
nos ajudam a identificar quais os principais desafios enfrentados no processo de ensino-
aprendizagem sobre a temática dos insetos, relacionados aos conhecimentos e percepções da
população acerca desses animais
Entre esses trabalhos, T4 e T11 se concentraram principalmente nos aspectos
morfológicos dos insetos. Em T4, por exemplo, os autores afirmam que, como os professores
se baseiam muito em livros e materiais didáticos ao planejar as aulas, se as abordagens
contidas neles apresentarem problemas, isso pode se refletir na sua prática didática, e
portanto, deve-se buscar alternativas para tratar o tema com os alunos. Alguns exemplos de
informações importantes que segundo os autores estavam ausentes em alguns livros são: os
diferentes tipos de asas, a divisão do corpo em três partes, (cabeça, tórax e abdome); a
presença de duas antenas com função sensorial; três pares de patas podendo ter formatos
variados conforme a função desempenhada por elas para auxiliar na sobrevivência do animal;
aparelhos bucais diferentes adaptados a alimentação do inseto; e quantidade de asas variando
de um a dois pares, sendo distintas nas diferentes espécies (ALMEIDA et al, 2008).
Já em T11, as autoras apontam a presença de algumas concepções peculiares por parte
de alunos da educação infantil acerca da morfologia de borboletas, como por exemplo, no
caso de um aluno que as representou em seus desenhos de forma antropomorfizada, contendo
pernas e rostos humanos. Esse estudo foi realizado tendo como contexto um projeto educativo
para tratar desses animais, e segundo os autores (DOMINGUES; TRIVELATTO, 2014), essas
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percepções podem constituir um desafio para os professores no momento de se ensinar acerca


dos insetos.
Enquanto isso, os trabalhos T5 e T7 destacam a ocorrência de um imaginário negativo
acerca dos insetos. Para Trindade et al (2012), esse imaginário é culturalmente difundido, e
por isso, sua desmistificação é necessária para que os estudantes possam compreender a
importância ecológica desses seres.
Em T5, por exemplo, Rezende e Struchiner (2009) descrevem a análise de um vídeo
produzido a partir de uma pesquisa cujos resultados apontam que os alunos normalmente só
percebem os aspectos danosos desses animais. Para eles, essa visão é encontrada também no
telejornalismo, na ficção comercial e em grande parte dos documentários educativos. De
maneira semelhante, em T7 são descritas algumas representações sociais construídas por
estudantes do ensino médio com relação aos insetos, analisando também as possíveis
influências das instâncias culturais e do conhecimento popular na formação das
representações identificadas. Segundo Trindade et al (2012) esse quadro provavelmente
aumentou gradativamente com o tempo, pois muitos insetos prejudicam interesses humanos
quando causam danos às culturas agrícolas, alimentos armazenados, vestuários e construções,
e outros atuam como transmissores de doenças que afetam o homem e os animais domésticos.
De acordo com Trindade et al (2012) mesmo as visões apreciativas acerca dos insetos,
quando existentes, podiam constituir um problema e um desafio no ensino de ciências. Isso
porque, embora alguns sujeitos expressassem concepções relacionadas à importância desses
animais para os ecossistemas e para o equilíbrio ambiental, eles não percebiam o ser humano
como parte desse equilíbrio. Um indicativo disso é que alguns alunos afirmaram que, embora
causem prejuízos ao homem, os insetos “são importantes para a natureza” (TRINDADE et al,
2012). Nesse sentido, os autores sugerem a necessidade de estabelecer, no ensino de Ciências/
Biologia, um enfoque mais relacional, de forma que seja possível evitar o estudo dos insetos
de forma isolada, fragmentada e memorística. Ressalta-se a importância de se pensar numa
atividade educativa que busque alternativas para representar os insetos tentando significá-los
em seu próprio ambiente, e não numa representação antropocêntrica em que a imagem dos
insetos estará ligada a conceitos exteriores a eles e a preconceitos históricos consolidados que
os desvalorizam (TRINDADE et al, 2012). Essa necessidade é apontada por diversos autores
na literatura (DEMOLINER, 2005; LIMA, 2012; PEREIRA, 2013), considerando que a
maneira como os indivíduos identificam, categorizam e classificam o mundo natural e

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compreendem as relações ecológicas influencia suas percepções e emoções com relação aos
animais (LIMA, 2012).
Além disso, encontramos em T10, um estudo focado nas percepções explicitadas por
professores de ciências e biologia sobre o ensino do tema insetos, incluindo os desafios
enfrentados por eles. Para os autores, é importante conhecer essas dificuldades a fim de
superá-las e oferecer aos alunos melhores fontes para refletir acerca dos insetos, considerando
a diversidade desses animais, sua importância ecológica e ambiental, e o fato de que são
vistos pela maior parte da população como seres que causam apenas prejuízos aos seres
humanos. Segundo Cajaíba (2010), os professores destacam a superlotação das turmas, o
baixo conhecimento sobre o assunto, o desinteresse dos estudantes, e a falta de laboratórios e
equipamentos para trabalhos de campo, o que resulta em uma abordagem superficial do tema.
Estes resultados devem ser levados em consideração no momento de planejar e implementar
atividades ou materiais educativos voltados para o ensino do tema „insetos‟.

Desenvolvimento e/ou implementação de estratégias didáticas voltadas para a temática


‘insetos’

Neste tópico, reunimos as estratégias educativas relatadas nos trabalhos T1, T2, T3,
T6, T8, T9, T12 e T13. Esses artigos apontam iniciativas de desenvolvimento e/ou
implementação de propostas pedagógicas para trabalhar o tema insetos, descrevendo
detalhadamente as atividades realizadas, incluindo tanto os objetivos de ensino/aprendizagem,
quanto as estratégias utilizadas para alcançá-los.
Analisando esses artigos, percebemos que as estratégias didáticas relatadas tinham
diferentes objetivos com relação à aprendizagem dos alunos. Nas atividades descritas em T6,
T9, T12 e T13, o foco estava diretamente na aprendizagem sobre insetos. Para os autores
desses trabalhos, é necessário abordar esses animais, devido à sua abundância, e sua
conseqüente influência no nosso cotidiano. Em T13, por exemplo, Leon et al (2015) realizam
um trabalho motivado pela alta incidência da doença de Chagas nas áreas rurais do México.
Segundo os autores, é necessário que a população conheça seus vetores, tendo em vista evitar
tanto a doença, quanto a eliminação de outros insetos que podem ser úteis no ambiente.
Por outro lado, as atividades descritas em T1, T2, T3 e T8 não tinham como foco
principal os conhecimentos dos alunos acerca dos insetos ou a aprendizagem no tema, mas
tinham esses animais como pano de fundo. Isso porque, os objetivos apontados pelos autores
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estavam relacionados ao desenvolvimento de habilidades de investigação científica (KIRSCH,


2007; PARENTE et al, 2007; QUADROS, 1998; RIBEIRO; PARENTE, 2006). Nesses
quatro trabalhos os insetos foram escolhidos como modelo por serem abundantes em qualquer
ambiente e fáceis de coletar. Ressalta-se que esses animais apresentam grande potencial como
recurso didático em experimentos, como aqueles relacionados à ecologia de populações
(RIBEIRO; PARENTE, 2006)
No trabalho descrito por Kirch (2007), por exemplo, a autora utilizou a análise da
conversação articulada com a teoria da atividade cultural e histórica de Vygotsky, a fim de
analisar como ocorre o processo de investigação científica entre alunos, e entre eles e seus
professores enquanto estudavam os insetos. O contexto deste estudo foi uma unidade na qual
os alunos realizaram atividades como coletar insetos, identificar os indivíduos coletados,
observar o ciclo de vida, identificar partes do corpo, e comparar e contrastar a estrutura
corporal e as necessidades alimentares dos grupos estudados. Ao final, os estudantes deveriam
planejar e realizar experimentos que respondessem a questões formuladas acerca dos insetos
que eles próprios encontraram em amostras de solo retiradas do quintal da escola.
Em todos esses trabalhos, podemos encontrar a utilização de diferentes estratégias
educativas, como: a) apresentação expositiva acompanhada de discussões entre alunos e
professores (T1, T3, T6, T8, T9, T12 e T13); b) atividades de investigação científica (T2, T3,
T8 e T12); c) observação de estruturas dos insetos por meio de lupas ou microscópios (T2 e
T9); d) montagem de caixas entomológicas (T9 e T13); e e) utilização de jogo educativo (T9).
Ressalta-se que, na maior parte desses artigos (T6, T9, T12 e T13), essas estratégias
foram propostas justamente para superar lacunas identificadas na literatura com relação ao
conhecimento dos alunos acerca dos insetos. Alguns desses problemas tinham natureza
semelhante àquelas encontradas no primeiro tópico desse trabalho; morfológicas, ambientais,
ou referentes à sua relação com o homem. Por outro lado, também foram abordadas questões
relacionadas à identificação dos insetos e o caráter nocivo que podem apresentar, por
exemplo, na transmissão de doenças.
A apresentação expositiva acompanhada de discussões entre alunos e professores foi
a estratégia mais apontada nos artigos (T1, T3 ,T6, T8, T9, T12 e T13). Em todos esses
trabalhos, essa estratégia tinha como objetivo servir de base para a realização de outras
atividades educativas, sendo, portanto, um momento também de diálogo entre alunos e
professores. Para ilustrar essa estratégia, utilizo como exemplo os trabalhos T6 e T12, já que
nestes, a descrição da atividade teve maior destaque.
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Em T6, por exemplo, essa estratégia foi utilizada para estimular o desenvolvimento de
noções básicas e conceitos fundamentais para residentes de áreas endêmicas da doença de
chagas. Apresentou-se uma introdução sobre a enfermidade, se desenvolveram conceitos
relacionados às características do vetor (refúgios e lugares onde podem ser frequentemente
encontrados, fatores que favorecem a sua presença nos domicílios, e informações sobre
hábitos alimentares), sintomas da doença e suas formas de transmissão (CROCCO et al,
2010).
Já em T12, os autores relatam ter utilizado uma apresentação oral e ilustrada pra
introduzir o desenvolvimento de diversas atividades relacionadas ao “mês da entomologia”
junto a alunos e professores de escolas públicas. Assim, foram apresentados três conceitos-
chaves da entomologia: i) o que são os insetos e quais são suas características mais notáveis;
ii) a notável abundância e diversidade deste grupo animal (evolução, ecologia e diversidade;
iii) o que estudam e como trabalham os entomólogos (a formação de perguntas, a
experimentação e as ferramentas utilizadas para responder a essas questões). Durante essa
exposição foi estimulada a participação dos alunos por meio de perguntas e discussões.
Alguns trabalhos (T2, T3, T8 e T12), relatam a utilização da investigação científica
para estudar uma ou mais questões específicas relativas aos insetos. Nestes trabalhos, são
descritos o processo de escolha do tema, as reflexões realizadas, os procedimentos adotados e
aspectos que deveriam ter sido mais bem planejados durante o delineamento da pesquisa. Para
Fischbein et al (2012), a investigação científica pode motivar os alunos a analisar as questões
propostas de maneira mais objetiva, eliminando preconceitos previamente existentes. Devido
a isso, consideramos que esta pode ser uma estratégia útil para fazer os alunos refletirem
acerca da utilidade dos insetos e superarem o imaginário negativo desses animais, que é
recorrente na nossa cultura. Para isso, destaca-se que eles terão a oportunidade de analisar,
estabelecer relações, tirar suas conclusões, e elaborar novos questionamentos acerca das
funções dos insetos no ambiente (DEMOLINER, 2005).
Um exemplo de uso dessa estratégia é T8. Neste caso, Parente et al (2015) descrevem
a elaboração e realização, junto a alunos do ensino fundamental, de um experimento utilizado
para estudar acerca da influência da quantidade de milho para a proliferação de gorgulhos.
Ao descreverem os procedimentos, os autores afirmam que foram utilizados cinco potes com
diferentes quantidades de milho (200g, 300g, 400g, 500g e 600 g). Posteriormente, após o
questionamento de uma estudante sobre o motivo para essa diferença, iniciaram uma
discussão com os alunos para o levantamento de hipóteses, propondo o experimento para os
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estudantes. Os autores afirmam ainda que os conhecimentos teóricos poderiam ter servido
como subsídios para definir as questões procedimentais. Ao estudar o ciclo de vida dos
gorgulhos, por exemplo, (incluindo o número de ovos depositados, a existência de
canibalismo entre os indivíduos recém-eclodidos, e o tempo de maturação dos ovos), podia-se
definir o tempo de intervalo entre as contagens. Além disso, são coletadas informações acerca
das condições ideais para a proliferação dos indivíduos, tais como temperatura, Ph e
luminosidade.
Em alguns trabalhos, percebemos também a observação de estruturas dos insetos por
meio de lupas ou microscópios (T2 e T9), o que foi apontado como uma estratégia eficiente.
Em T2, os alunos desenharam formigas coletadas antes e depois da observação e, segundo os
autores, nos desenhos feitos previamente, os alunos demonstraram diferentes concepções
quanto a caracteres morfológicos, como ausência da cintura, número excessivo ou insuficiente
de pernas, ausência de antenas e divisão incompleta do corpo, clara semelhança com outros
tipos de insetos, e presença de antropomorfização: faces com olhos e bocas humanos e coroas
em formigas rainhas. Já Baranzelli et al (2014), defende em T9, que o uso de lupas permitiu
visualizar estruturas muito pequenas e difíceis de detectar a olho nu, e a incorporação de uma
escala de observação diferente das conhecidas pelas crianças despertou sua curiosidade e
permitiu exercitar a motricidade fina.
A montagem de caixas entomológicas foi observada nos trabalhos T9 e T13, sendo
que em T13, esta foi a atividade central. Neste trabalho, os autores descrevem a construção de
duas coleções entomológicas por alunos do ensino fundamental, com a ajuda dos pais,
professores e pesquisadores. Segundo eles, o objetivo desta atividade foi estimular a correta
identificação dos vetores do Trypanossoma cruzi (protozoário causador da doença de chagas).
Como apontado, a importância deste trabalho consiste tanto nos problemas causados pela
doença de chagas para a saúde pública, como quanto na visão negativa que a população
possui acerca dos insetos devido ao fato de muitos deles causarem doenças. Sendo assim,
pretende-se que os alunos, pais, professores e a comunidade de maneira geral, possa
identificar os insetos transmissores da doença, para se proteger deles, e também para evitar o
ataque a insetos inofensivos, que podem ser importantes para o meio ambiente (LEON et al,
2013).
Além disso, em T9 foi relatada a utilização de jogo educativo. Neste caso, foi
realizada uma corrida de revezamento, onde os alunos, separados em dois grupos rivais,
simularam distintos insetos, providos dos acessórios análogos a cada aparelho bucal
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apresentados anteriormente em aula. Em cada rodada, os participantes deveriam “comer” a


maior quantidade de alimento no menor tempo possível e transferir o “aparato bucal” para seu
companheiro. Com o aparelho mastigador, típico do gafanhoto, representado por uma tesoura,
os alunos deveriam cortar folhas de papel e depositá-las em uma bandeja. Utilizando um
canudo, imitando as mariposas, ou com suas próprias línguas, simulando abelhas, os alunos
deveriam sugar ou lamber o suco de vasos que representavam flores. Com uma esponja e com
uma seringa, representando respectivamente o aparato bucal da mosca e do mosquito, os
alunos deveriam transferir o líquido de um recipiente para o outro. O grupo ganhador era
aquele que conseguiu “comer” a maior quantidade de alimentos com todos os aparatos bucais.
Segundo Baranzelli et al (2014), esta atividade permitiu aos alunos aprender de forma ativa
como funcionam os diferentes aparelhos bucais nos distintos grupos de insetos, além de
incentivar a atividade independente e dinâmica, e potencializar a comunicação e o trabalho
em grupo.

Conclusões

Este trabalho apresenta um levantamento feito para analisar como a temática insetos
vem sendo trabalhada no ensino de ciências. Com relação às percepções e conhecimentos
sobre esses animais, foram encontradas algumas lacunas nas informações acerca da sua
morfologia. Um exemplo disso são aquelas encontradas em livros didáticos, indicando a
necessidade de realizar atividades que vão além dos materiais tradicionalmente utilizados pela
escola.
Além disso, em parte desses estudos, os sujeitos demonstraram não compreender o
papel ecológico dos insetos. Já em outros trabalhos destacou-se que, embora fossem
conscientes de que os esses seres participam de funções importantes para o ambiente, os
sujeitos não conseguiam relacionar essa importância com sua própria sobrevivência, devido á
visão de que nós (seres humanos) somos separados da “natureza”. Segundo Pereira (2013),
esse quadro encontra-se fortemente relacionado com uma visão antropocêntrica e utilitarista
dos recursos naturais. Essa visão é um desafio para o ensino de ciências, tendo em vista que
constitui o reflexo de um imaginário culturalmente difundido, e portanto, difícil de ser
superado (PEREIRA, 2013).
Essa cultura, que encontra-se relacionada á uma visão antropocêntrica dos recursos
naturais, foi outra questão abordada nos artigos analisados. Isso pode ser explicado pelo fato
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de os indivíduos apresentarem a tendência de construir representações dos animais e outros


seres vivos mais próximas de características afetivas, dificilmente recorrendo a critérios
científicos para identificá-los (Pereira, 2013).
Devido a essa ampla gama de questões, as abordagens pedagógicas encontradas para
ensinar acerca dos insetos, podiam ter como foco tanto suas características como grupo
taxonômico, quanto sua importância ecológica, quanto a relação direta desses animais com os
seres humanos. Para a implementação desses trabalhos foram utilizadas diversas estratégias
educativas, que buscavam proporcionar ao aluno a possibilidade de relacionar as informações
com questões ambientais ou investigativas importantes, por meio de atividades ativas de
aprendizagem. Isso pode ser percebido porque, mesmo naqueles artigos que descreveram a
utilização de apresentação ou aula expositiva, essa estratégia foi realizada de maneira
dialógica com os alunos, buscando mobilizar suas concepções iniciais e despertar a
curiosidade, para servirem de base e apoio para outras atividades.
Considerando os usos desses resultados para o desenvolvimento de materiais ou
atividades educativas envolvendo os insetos, destacamos a necessidade de abordar as funções
desses animais de forma contextualizada, possibilitando aos alunos compreender o papel
ecológico dos insetos, e diminuindo a visão de que esses animais trazem apenas prejuízos.

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