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Amor, sem ele nada somos

Alex Cavalcante de Figueiredo1


1
Semana Teológica – CCS
engineeralexc@gmail.com

1. Introdução
Devo falar sobre o Amor, mas como usar palavras perecı́veis para falar do que é eterno?
Que Deus nos ajude... Assim, a estrutura a que me proponho buscará reconhecer a
humanidade apenas no amor, ”sem ele nada somos”. Defenderá também, o Amor como
não originado no próprio ser transitório, nós homens, mas no Ser de Deus como um
atributo inerente a sua liberdade...

2. O Amor procede de Deus


1 João 4.7-10, nosso pano de fundo.
Nosso Deus é um Deus que se compadece de sua criação. Um Deus em
movimento em busca de seu povo... chama Abraão, se torna um humilde recém-nascido
no estábulo... aceita morrer no Gólgota.
Sem qualquer necessidade escolhe sua criação como objeto de seu deleite. Aı́ está,
o Amor, que só pode ser concebido senão dentro do absoluto da liberdade divina. Este é
o Amor em sua perfeição, sem carecer de nada escolhe se deleitar em sua criação. Para o
louvor de sua glória... Ele será o seu Deus.
O verdadeiro Amor necessita desta liberdade, aliás só nasce nesta liberdade.
O Amor de Deus consiste em se inclinar. Esta é a sua natureza, a natureza do amor.
Se dá a sua criatura de tal modo a ponto de partilhar a sua decadência mais profunda. E o
verbo se fez carne.
É neste livre Amor que Ele está acima de tudo... o Deus altı́ssimo! (Is 57.15)
Se inclina a sua criatura, Graça, esta é o imenso poder de Deus tornando possı́vel
o que nos era impossı́vel. Um dom livremente concedido.
Toda obra de Deus carrega sua marca. “Ele quer nos fazer participar de sua vida,
a fim de que nos tornemos participantes de sua natureza divina.” (2 Pe 1.4)
Este livre movimento de Deus, apesar de nós, nos dá o poder de participar de sua
vida. Vida... a graça manifestada no Amor gerado em sua Liberdade.
Deus, relacionando-se com a pessoa de forma tão ı́ntima e penetrante, quer nos
dar algo peculiar, mas também lhe pede algo peculiar.
Ele a conforta, ergue e liberta, mas também a engaja, manda-a caminhar, usar a
Liberdade com a qual foi presenteada. Presenteada, vem do alto. Se Cristo vos libertar
verdadeiramente sereis livres.
Liberdade, atributo de Deus donde flui a voluntariedade do Amor. Aı́ está o
escândalo, o qual todo o mundo deve se deparar. “Pois o Amor de Cristo nos constrange,
julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram.” (2 Cor 5.14)
Escândalo, o criador que se dá a nós em Jesus Cristo através do Espı́rito Santo,
antes morto agora vive, agora terei de decidir. Eu creio!
Nesta condição surge a única resposta possı́vel a graça, mesmo que através de
gemidos inexprimı́veis. O Amor, este que não cabe em nossas definições, coisas eternas,
assim apenas o expressamos. As ações dos Santos no mundo, estes dos quais o mundo
não era digno.
O Amor, que me entrega ao comprometimento. Comprometimento, lindo e belo,
mas severo, edificante e assustador. É o comprometimento pelo Deus do Evangelho.
Frente a este comprometimento nos é dado e conhecidos os mandamentos. 1
Jo 4.11-21, o Amor lança fora o medo... E sabemos que todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles que amam a Deus.
Mandamentos agora dispostos a nossa frente, só nos resta cumprir ou não, aı́ está
posto o questionamento. Respondemos ou não de uma forma ou outra com o ato de nossa
existência. É a verdade que está posta a Igreja... pois quem come e bebe sem discernir o
corpo, come e bebe juı́zo para si.
Respondermos como estes amados de Deus exige tal cumprimento, como reflexo
ao seu Amor na liberdade. Mandamento este que exige como obediência o Amor. Este é
o cumprimento da lei, Amor a Deus e ao próximo.
Que se comprova palpavelmente, em cada uma de nossas decisões, se de fato,
através dos atos de nossa existência em relação ao nosso próximo, amamos a Deus.
Deus nos ama livremente e nada poderı́amos fazer se Ele não se aproximasse
de nós, inclusive com os mandamentos. Este cumprimento exige na verdade Amor
correspondido, tu me amas, apascenta as minhas ovelhas. (Jo 21.15)
Nos convida a amá-lo e ao próximo, exige o Amor para si e para o outro. Seu
mandamento não deixa de exigir o nosso coração. O dom que flui da liberdade, o Amor.
Só Deus é Amor e só Deus é Liberdade, por isso devemos buscar nEle aprender
sobre e outra. Deus é aquele que Ama na liberdade, manifestando-se inclusive na obra da
criação... criando na liberdade.

3. αγαπη
Agape no Novo Testamento denota o Amor tendo como impulso e origem a liberdade que
lhe foi dada, a origem não está em si mesma mas do alto.
Por isso falamos de eternidade com sotaque de transitoriedade, por isso o Amor é
demonstrado e não explicado. Amo demonstrando.
Liberdade, algo que em nós mesmos é totalmente estranho, é uma liberdade
totalmente nova para o outro. Liberdade para o outro, em função do outro. Esta liberdade
que nos foi presenteada não tem qualquer necessidade de amar o outro e também não o
faria, mas por ter recebido permissão de amá-lo, o ama.
Por ser livre para o outro o ama, não por necessidade para sua auto-realização. O
Amor gratuitamente nada quer dele, não quer ser gratificada, apenas quer estar ali para
ele.
Agape também é procurar o outro, mas não procurar de maneira interesseira.
Agape é paciente e benigno, não se ufana, não se ensoberbece não se conduz
inconvenientemente, não procura seus interesses, regozija-se com a verdade, tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta... sempre visando o outro.
Amor, o evento onde o grande Deus, na liberdade que lhe é originalmente própria,
se entregou para ser o Deus do pequeno humano, mas na qual também o pequeno ser
humano se prestou e se entregou, na liberdade que lhe foi dada por Deus, para ser o
humano do grande Deus.
O Agape só poderá ser recebido e posto em prática como presente, por quem quer
que seja, em Cristo Jesus. O Amor Agape está onde Cristo estiver, agir e falar.
EM Cristo, a aliança foi cumprida. Ali o Amor permanece. Jesus, o modelo de
humanidade, é o homem voltado para o próximo. Cristo só o é em função do outro...
Aı́ é demonstrado a diferença entre Jesus e os outros seres humanos. Diferença
fundamental, nenhum outro ser humano está aqui especificamente voltado para o outro.
A humanidade de Jesus consiste em ser para o homem. Em sua humanidade, Deus
manifesta que livremente decidiu fazer do homem o objeto de seu Amor. Assim, vemos
em Jesus a perfeita humanidade.
Ele veio para nos ensinar a humanidade, a verdadeira, que não existe separada da
existência de seu próximo. Aı́ está posto um erro conceitual, ver o homem em si por si.
E viu que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, desejável para dar
entendimento.
Superar a tentação de fé sozinho, na Igreja um deve servir o outro “segundo a
medida de fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12.3). Agora vemos o homem tal como
ele aparece à luz do homem Jesus. O homem foi feito para existir com seu próximo. Isso
é humanidade. O Amor nos abre esta possibilidade, agora também, o homem pode ser
por seu próximo.
O homem sem o próximo é completamente estranho ao homem Jesus e este não
poderia em nenhum caso ser seu salvador.
Pecado, postura que conduz o ser humano a sair do caminho que lhe foi indicado,
este Amor que nos é exigido. O Amor direcionado ao outro que frente ao nosso modelo,
arquétipo, nos devolve à humanidade.
Amor, sem ele nada somos.

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