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Querido diário...

Sexta-feira, 12 de março de 2021

Tal como a Mariana de Rosa minha irmã Rosa, a minha mãe engravidou recentemente
e foi um choque. Porém, ao contrário dela, fiquei super feliz, porque era uma coisa que
queria há muito tempo. No início, foi demasiado estranho, toda a gente estava diferente e
só queriam saber do bebé, ele era mesmo o centro das atenções e parecia que o mundo
girava à sua volta.
Sabes, querido diário, como fui durante treze anos filha única, estava habituada a ser
o centro das atenções e era muito mimada pelos meus pais e pela minha avó, mas, com a
chegada dele, tudo mudou e achei momentaneamente que tinha ficado para segundo plano,
enfim, senti-me completamente preterida, posta de lado…
Eram delírios da minha cabeça, pois um filho é insubstituível e o amor é partilhado de
igual forma, querido diário!
Passado três meses do nascimento do meu irmão, a minha avó faleceu, tal como a avó
Lídia da Mariana. E mais um detalhe, uma coincidência com este livro que me marcou
sobremaneira, definitivamente, identifico-me muito com a protagonista.
Confesso-te, meu confidente, a minha avó também adorava contar histórias e parecia
estar sempre feliz. Na verdade, teve uma vida muito dura, mas acabou por ser
recompensada, já que, nos seus últimos anos de vida, esteve sempre rodeada de gente que a
amava e queria o seu bem. Deus levou para o céu uma das pessoas que mais amava no
mundo e presenteou-me com o ser mais importante da minha vida, num curto espaço de
três meses. Um irmão é das melhores coisas que existe, e não demorou muito até que
percebesse isso. Sabes, é uma enorme responsabilidade e nunca queremos que nada de mal
lhe aconteça, protegemo-lo com unhas e dentes, como se de vidro se tratasse e se partisse
ou riscasse ao mínimo toque.
Olho para trás…
Cresceu tão rápido!
Ainda há pouco tempo, estava eu a entrar no quarto de hospital, a ver a minha mãe
deitada na cama com aquela bata em tom cerúleo, pouco elegante, rodeada de máquinas
com luzinhas multicores… Mal entrei, os meus olhos foram ao seu encontro e delinearam a
imagem de uma linda mulher, despenteada, é certo, talvez menos cuidada do que era
habitual. Mesmo ao seu lado, num berço transparente com pigmentação ténue, espreitava
um ser pequenino. Era o meu irmão!
De olhinhos fechados, algo ruborizados, jazia deitado com um gorro na cabeça.
Naquele instante, explodiu um certo furor, tal como se tratasse de um amor à primeira vista.
Senti uma conexão descomunal! Aquele meio metro de gente e uma vontade enorme
cresceu dentro de mim. Teria sempre de o amparar…
Queres saber a melhor, querido diário?
Agora, está um autêntico gigante! Já fez um ano, já anda, um genuíno papagaio na
fala, só faz diabruras, puxa-me os cabelos e rasga-me os trabalhos...
Apesar de todas essas travessuras, amo-o incondicionalmente. É uma sensação tão
boa vê-lo crescer!
Às vezes, alardeia um crescimento demasiado rápido e foge-me, pássaro que
velozmente esvoaça em debandada no caminho da vida...

Com amor, Anaiza

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