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escola-7-ano-contos-de-edgar-allan-poe

Publicado em NOVA ESCOLA 02 de Setembro | 2017

Língua Portuguesa

Literatura na escola - 7º
ano: Contos de Edgar
Allan Poe
novaescola

Objetivo(s)

- Estimular o gosto pela leitura;


- Desenvolver a competência leitora;
- Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso
crítico;
- Estabelecer relações entre o lido/vivido ou conhecido (conhecimento de
mundo);
- Exercitar os conhecimentos de foco narrativo na análise literária;
- Compreender as particularidades da narrativa fantástica.

Conteúdo(s)

- Foco narrativo;
- Análise literária;
- Gênero fantástico;
- Comentário;
- Paródia

Ano(s)

6º, 7º, 8º, 9º

Tempo estimado

Seis aulas

Material necessário
Livro Histórias extraordinárias. Edgar Allan Poe, 272 págs, Companhia das
Letras, tel (11) 3707-3500.

Este conteúdo é parte de uma série de sequências didáticas que formam um


programa de leitura para o Ensino Fundamental II. Clique aqui para acessar o
conteúdo completo.

Desenvolvimento

1ª etapa

Pergunte aos alunos se eles já ouviram falar do escritor Edgar Allan Poe e se
conhecem alguma obra que ele publicou. Conte à turma a história dele.

Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe. Fonte: Wikipedia

Poe nasceu em 1809 e morreu em 1849. Sua obra é vasta em qualidade


artística e transita por diversos gêneros. O autor escreveu desde poemas até
novelas, porém os contos são considerados a parte mais relevante de sua
obra. "Crimes na rua Morgue", short story de sua autoria, inaugura, em 1841,
o gênero policial. No entanto, o autor norte-americano pode ser considerado
um escritor fantástico antes de ser contista policial, pois suas obras vão muito
além de tramitações de crimes. Os crimes de Edgar Allan Poe costumam ser
envoltos em situações sobrenaturais, enigmáticas e misteriosas; causando
hesitação, curiosidade e aguçando a perspicácia de seus leitores.

2ª etapa

Peça aos alunos que observem o título Histórias extraordinárias e formulem


hipóteses em relação a ele. Observe que a capa contém a figura de um gato
preto e pergunte à turma o que esse animal sugere.
Faça uma leitura compartilhada do conto "O gato Preto" e depois recolha as
impressões gerais.

3ª etapa

Análise "O gato preto": comentário

Pergunte para a classe por que Edgar A. Poe escolheu um gato preto? Não
poderia ser qualquer outro animal?

O próprio narrador explicita, ao longo de sua narrativa, sua adoração pelos


animais. Releia para a sala:

"Gostava de modo especial dos animais, e meus pais permitiam-


me possuir grande variedade de bichos de estimação. Com eles,
gastava a maior parte de meu tempo e nunca me sentia tão feliz
como quando lhe dava comida e os acariciava[...]
Casei-me cedo e tive a felicidade de encontrar em minha mulher
um caráter não oposto ao meu.[...] Tínhamos pássaros, peixes
dourados, um lindo cachorro, coelhos, um macaquinho e um gato.
(Poe, E.A, p.70)"

Peça que os alunos formulem hipóteses oralmente para a escolha do gato


preto. Depois de discuta o tema com a classe, conte a eles algumas histórias
sobre as superstições envolvendo a figura do gato preto.

Gato preto

Gato preto. Foto: LUIS MORAIS

O grego Heródoto (484-425 a.C), considerado "o pai da História", afirmava


que os egípcios antigos eram "os mais escrupulosamente religiosos de todos
os homens". Entre eles, a religião estava presente em qualquer um dos
aspectos da vida, e na origem dos deuses encontrava-se razão para
divinização de diversos animais, entre os quais o crocodilo, o cão ou o gato,
este um animal doméstico que se transformou em cosmopolita porque é o
único felino que vive espontaneamente na residência dos homens.

Mas seus hábitos noturnos, decorrentes provavelmente da preferência pela


caça não só de ratos, como também de répteis, pequenas aves e até mesmo
a apanha de peixes, quando ela é possível, fizeram nascer e crescer na Idade
Média a idéia de que ele tinha parte com o demônio, principalmente se fosse
preto, porque essa era a cor que simbolizava as trevas onde o diabo vivia. E
essa crença chegou a tal ponto que o papa Inocêncio VIII (1432-1492) não
hesitou em incluí-lo na lista dos "mais procurados" pelo tribunal eclesiástico
conhecido como Inquisição, responsável pela condenação, mutilação e morte
de um número indeterminado de homens e mulheres acusados da prática de
bruxaria, feitiçaria ou heresia.

São muitas as histórias sobre a fama negativa dos gatos. Numa delas, diz-se
que em certa noite de 1560, um deles, de cor negra, foi perseguido a
pedradas por algumas pessoas. Machucado, ele procurou refúgio na casa de
uma velha senhora que costumava abrigar esses animais sem dono. No dia
seguinte, os moradores da Lincolnshire - cidade inglesa onde supostamente
ocorreu o caso - perceberam que a anciã também apareceu machucada,
surgindo daí a conclusão de que ela era uma bruxa, e de que a forma de gato
nada mais era que seu disfarce noturno. Também na França os gatos não
tinham boa vida. Mas em 1630 o rei Luis XIII (1601-1643) resolveu amenizar o
dia a dia desses felinos proibindo que fossem perseguidos. Uma outra
história conta que Charles I (1600-1649), rei da Inglaterra, acreditava que seu
gato preto lhe trazia boa sorte, e seu medo de perdê-lo era tanto que o
mantinha dia e noite sob vigilância. Um dia depois da morte do gato, ele foi
preso e em seguida executado.

Na mitologia escandinava, uma lenda sobre Freia, ou Freija, deusa do amor e


patrona da fecundidade, diz que sua carruagem era puxada por dois gatos
pretos que depois de servi-la por sete anos transformavam-se em feiticeiras.
Tempos depois, já na Idade Média, esses felinos foram associados ao
demônio, e por serem animais de atividade predominantemente noturna,
criaram em torno de si a ideia de que além de sobrenaturais e servidores de
bruxas, ou até mesmo as próprias bruxas, eram também possuidores de
poderes apavorantes e personificação do mal e do mistério, daí porque
qualquer coisa de ruim que acontecesse, a culpa lhes era sempre atribuída. A
história também revela que em tempos passados a punição por
determinados crimes incluía a extirpação da língua do condenado, sendo
esse órgão dado em seguida aos animais. Quem garante que não tenha se
originado daí a frase "O gato comeu sua língua?".

Muito embora os gatos domésticos não sejam mencionados na Bíblia, a lenda


assegura que eles foram criados quando em determinado momento a Arca
de Noé ficou infestada de ratos. Para resolver o problema, Noé ordenou que
o leão espirrasse, e foi desse espirro que se formou o gato.

http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?
idt=115930

Pergunte à turma se eles sabem o que é "superstição". Tente chegar, junto


com os alunos, a uma definição. Ex: Superstições são crenças sobre relações
de causa e efeito que não se adequam à lógica formal, nem ao pensamento
racional.

4ª etapa

Análise "O gato preto": foco narrativo

Pergunte à classe: Quem narra a história? É um narrador em 1ª pessoa ou em


3ª? Podemos confiar em tudo que ele diz?

Como vimos, o narrador é também personagem. É do seu ponto de vista que


tudo é visto e narrado. Sendo assim, narra de um centro fixo, limitado às suas
percepções, pensamentos, sentimentos, crenças, superstições e, quiçá,
delírios.

Releia com a classe fragmentos que possam nos levar a desconfiar do


narrador, como, por exemplo, a introdução do conto:

"PARA A NARRATIVA MUITO ESTRANHA, embora familiar, que ora


começo a escrever, não espero nem peço crédito. Louco, na
verdade, seria eu se o esperasse num caso em que meus sentidos
rejeitam seu próprio testemunho."

Em "O gato preto", o foco narrativo em 1ª pessoa foi importantíssimo para


acentuar o mistério que paira sobre a história. O leitor não dispõe de meios
para avaliar a veracidade do depoimento, já que tudo é contado pela ótica do
narrador, que, já na introdução do conto, aponta para uma ambivalência de
sua história: real ou irreal? Loucura ou verdade? Extraordinário ou
doméstico? É essa ambivalência um dos recursos da condução do conto para
o gênero fantástico.

5ª etapa

Análise "O gato preto": a narrativa fantástica

Defina o conceito de Fantástico para a turma.

Conceito de Fantástico
O poeta José Paulo Paes (1996), tradutor de Histórias extraordinárias, explica-
nos o que vem a ser uma narrativa fantástica:
Se você se der ao trabalho de ir até o dicionário para saber o que quer dizer
fantástico, vai verificar que essa palavra designa tudo quanto seja fantasioso,
fantasmagórico, mero produto da imaginação. Em suma, o oposto do real.
Real, por sua vez, não é apenas aquilo cuja existência pode ser comprovada
pelos nossos sentidos, mas sobretudo aquilo que ninguém põe em dúvida
seja verdadeiro.

Quando uma narrativa explora a oposição entre o real e o fantástico, diz-se


que é uma narrativa fantástica[...]

Num conto fantástico, em nenhum momento o leitor perde a noção da


realidade. Por não perdê-la é que lhe causa surpresa o acontecimento ou
acontecimentos estranhos, fora do comum ou aparentemente sobrenaturais
que de repente parecem desmentir a solidez do mundo real até então
descrito no conto. Nesse momento de surpresa e de perplexidade, está o
próprio sal da literatura fantástica. Daí um dos seus estudiosos, Tzvetan
Todorov, a ter definido como aquela que provoca, no espírito do leitor, uma
dúvida insolúvel entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural
para os estranhos fatos que ele narra.

In: Edgar Allan Poe ET alii. Histórias fantásticas. São Paulo: Átiva, 1996. P-3-4.

Pergunte a eles: Quais fatos fantásticos aparecem no conto?

Explore a mudança de comportamento narrador-personagem, o incêndio da


casa, a marca do gato enforcado na parede, a semelhança entre o novo gato
preto e o antigo, o emparedamento da esposa e o surgimento do gato dentro
da parede.

6ª etapa

Releituras de "O gato preto"

Se tiver acesso à Internet, assista com a turma a animação "O gato preto". Há,
no mesmo site, outras releituras do conto que podem ser mostradas aos
alunos.

Avaliação

Proponha aos estudantes uma avaliação por meio da escrita criativa. Peça
que os alunos criem uma paródia do conto "O gato preto", de Edgar Allan
Poe, na perspectiva do gato. Paródia A paródia é a criação de um texto a
partir de um bastante conhecido, ou seja, com base em um texto consagrado
alguém utiliza sua forma e rima para criar um novo texto cômico, irônico,
humorístico, zombeteiro ou contestador, dando um novo sentido ao texto.
Parte da intertextualidade, a paródia é um intertexto, ou seja, é um texto
resultante de um texto origem que pode ser escrito ou oral. Essa
intertextualidade também pode ocorrer em pinturas, no jornalismo e nas
publicidades. Fonte: http://www.alunosonline.com.br/portugues/parodia/
Objetivos: a) Desenvolver a habilidade de produzir uma paródia, de forma
coesa e coerente; b) Exercitar a habilidade de usar Foco Narrativo. Ofereça a
eles um fragmento inicial do texto (pode ser o fragmento abaixo ou um de
sua própria autoria) e peça que concluam a narrativa. A verdade de "O gato
preto" Vou contar uma história - e não se admire por isso, pois os animais
falam desde os tempos de Esopo. Não seria eu agora que me calaria diante
de fatos tão horrendos. A verdade é que sofri, não só por mim, mas pela
minha dona. Que mulher! Você já sabe, não preciso dizer o quanto ela era
dócil, o quanto tinha predileção por animais. Em nossa companhia, existiam
pássaros, peixes dourados, cachorro, coelhos, um macaquinho. Porém, eu
era o seu maior amor. Sim, ela me amava. - E ele? Quando fui morar naquele
mausoléu, recebi, no início, amor incondicional. Quer dizer, pensava que era.
Mal sabia eu que tudo não passava de uma grande cilada. - Uma cilada? Sim,
fazia parte de seu plano diabólico. Meus pelos se eriçam só de pensar que
um dia o amei. Caí na armadilha. Deu-me demonstrações de afeto, eu
acreditei. Vivia a seus pés, seguia-o a qualquer parte da casa. E não me diga
que era a bebida. Hoje eu sei que ele já era mau. O álcool só lhe deu coragem
para concretizar seu plano diabólico. - Conte-me tudo.

Créditos: Helena Weisz Formação: Mestre em Teoria Literária e Literatura


Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) Créditos: Regiane
Magalhães Boainain Formação: Mestre em Literatura e Crítica Literária pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP)

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