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Benjamim é um romance que conta a história de um modelo que se apaixona por uma
garota chamada Ariela. Essa jovem moça aos olhos de Benjamim, se parece muito um antigo
amor do protagonista, Castana Beatriz. Tal semelhança leva o personagem a pensar que Ariela
é filha da, então falecida, Castana.
O protagonista da história é Benjamim Zambraia, um ex modelo que vive com um
dinheiro que possui no banco e de alguns trabalhos que ainda faz. Algumas de suas
características físicas são apresentadas no primeiro capítulo do romance: “Se uma câmera
focalizasse Benjamim na hora do almoço, captaria um homem longilíneo, um pouco curvado,
com vestígios de atletismo, de cabelos brancos mas bastos, prejudicado por uma barba de sete
dias […]” (BUARQUE. p.10. 1995).
Benjamim tem uma forte relação com o passado e isso influencia no desenvolvimento
do personagem. O autor cita inúmeras vezes uma namorada antiga de Benjamim que se chama
Castana Beatriz e o estopim para essas memórias é Ariela Masé, uma moça que Benjamim
conhece em um restaurante. A aparência de Ariela Masé é tão semelhante a de Castana, que
Benjamim pensa que Ariela é filha de Castana. O momento é narrado pelo autor da seguinte
maneira: “E quando ela acaba de passar, o sorriso não é mais dela, é de outra mulher que
Benjamim fica aflito para recordar, como uma palavra que temos na ponta da língua e nos
escapa.” (BUARQUE, p. 15. 1995).
Esse momento de reminscência do personagem determina o conflito principal do
protagonista. Banjamim, por achar que Ariela é filha de um amor que acredita estar morto, se
encontra, muitas vezes, em momentos de aflição. Um trecho que mostra esse tipo de
comportamento pode ser encontrado no capítulo cinco:
“Empolgado, ele disse que se sentia sem graça, que vivia trancado no quarto, que só
ia ao cinema para rever filmes antigos, e mais, disse que não se lembrava da ultima
vez que beijara uma mulher, sem contar as putas. Ariela repetia ‘não faz mal’, ‘não
“Na sua mesa encontrara um pires om azeitona e uma tulipa de chope cuja espuma
cedeu, e que parece sobra de outro freguês. […] Interessa-se pelo casal que toma
café três mesas adiante, ele olhando para a fronte dela e ela para dentro da xícara.
[…] Não o impressionam os lábios nem a língua e os dentes que mal se vêem, mas a
lacuna, o vão o abismo dentro daquela boca, que completa a superfície do rosto pela
sua negação, como uma pausa no meio da música.” (BUARQUE. P 13 – 15. 1995).
“Em seguida ele diz alguma coisa que faz a mulher soltar uma gargalhada, jogando
para trás a cabeça cheia de cachos castanhos. Sempre rindo, ela sonda sua bolsa que
é quase uma mochila e exibe-lhe de longe, sublinhando com a unha, um segredo na
sua identidade, por exemplo o nome exdrúxulo do pai, a cidadezinha natal ou a
verdadeira idade (vinte e cinco anos, vinte e quatro, vinte e seis) […] Quando eles se
levantam, a estatura da moça surpreende Benjamim: dona de coxas muito longas, ela
sobrepuja amigo em meio palmo.” (BUARQUE. p.14, 15.1995).
Depois dessa útima parte, a narrativa se transforma em uma extensa analepse, que
dura o romance inteiro até o final, que culmina, justamente no evento que inicia o livro.
Segundo Yves Reuter, esse tipo de narrativa é chamada de narração ulterio, pois o narrador
expõe o que acontece anteriormente , num passado mais ou menos longínquo (2004).
Além desse recurso, o autor utiliza mais analepses durante a diegese com o intuito de
traçar um paralelo entre o que está acontecendo naquele momento e o passado do
personagens. O fragmento a seguir mostra como isso acontece na diegese:
“Ariela Masé já saiu com Zorza uma dúzia de ocasiões, mas esta é a primeira vez em
que o observa de perfil. Conheceu-o há três meses, quando entrou numa agência de
carros para espairecer, e encantou-se com um modelo japonês. Zorza apresentou-se
como gerente de vendas e, mesmo avisado de que ela nem sonhava possuir um carro
zero-quilômetro, dispôs-se a atendê-la como a um cliente vip, nas palavras dele. […]
Não viu malícia ou galanteio na solicitude de Zorza, embora admitisse que ele lhe
era simpático havia algum tempo, pois a bem da verdade já o conhecia através da
vitrine. Mas Ariela ainda se recuperava de uma perda recente, muito dolorosa, e
mesmo aceitando o convite de Zorza para um almoço, excluiu qualquer perigo de
novo envolvimento afetivo. No dia seguinte Zorza mal tocou no estrogonofe de
camarão, consagrado que estava a Ariela. No segundo almoço Zorza ofereceu a
Ariela um relógio com corrente de lápis-lazúli. Não permitiu que ela lhe
agradecesse, porque era uma mera lembrancinha; tocou seu braço e, encarando-a,
contou quanto tirava por mês na agência de automóveis” (BUARQUE, p. 43, 44.
1995).
Nesse trecho, é possível perceber que a narração dos fatos foi interrompida. O
narrador deixa de expor os fatos da diagese por um breve momento pra comentar sobre o que
estava acontecendo, quando ele diz “exceto nos filmes de amor, e nem sempre mesmo nos
filmes de amor porque ali, quando cessa o diálogo, o diretor sempre coloca uma música.”
No romance, é possível destacar alguns espaços onde acontece mais de um evento, ou
é utilizado mais de uma vez na narrativa. O apartamento de Benjamim é o espaço que mais se
destaca no romance. É possível dizer que o apartamento é um espaço atópico, pois, na maioria
das vezes, os personagens vivem eventos no mínimo desconfortáveis. O fragmento a seguir
mostra um desses momentos:
“quando Castana Beatriz entrou pela primeira vez no apartamento, olhou a Pedra a
poucos metros da janela e achou aquilo horroroso; disse que a sala era escura,
abafada, úmida, disse que o quarto dele era bolorento, disse que não ficaria ali por
nada neste mundo e, por falar essas coisas em tom esganiçado, ainda se irritou com a
própria voz, que a Pedra reverberava.” (BUARQUE, p 58. 1995)
REFERÊNCIAS