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07/11/2020 Politicamente Correto: Na Polónia, o aborto choca com o ultraconservadorismo – Jornal Universitário do Porto

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POLÍTICA • POLITICAMENTE CORRETO

POLITICAMENTE
CORRETO: NA
POLÓNIA, O
ABORTO CHOCA
COM O
ULTRACONSERVAD
ORISMO
 5 Nov 2020 14:26  0 Comentários

A nova lei que criminaliza o aborto em caso


de malformação fetal foi aprovada na
Polónia e resultou em imensas
manifestações. O país apresenta uma das

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populações mais religiosas da Europa, e,


em época de ultraconservadorismo no
governo, os médicos detêm liberdade para
     
negarem a realização do aborto legal ou
mesmo a prescrição de métodos
contracetivos
Por Amanda Silva

Ilustração: Soraia
Ramalho

A 22 de outubro, na Polónia, foi aprovada uma lei


que criminaliza o aborto em caso de malformação
grave do feto, com o argumento de que seria
inconstitucional. De acordo com o New York Times,
só no ano passado, 1074 abortos foram
feitos se enquadrarem nesse tipo de casos,
representando 97% das interrupções de gravidez
praticadas no país – agora ilegais.

A legislação sobre o aborto na Polónia já


era considerada uma das mais restritivas da Europa.
Antes da aprovação da nova lei, que não pode ser
contestada, o país permitia abortos apenas em caso
de anormalidades fetais, ameaça à saúde da mulher
ou em caso de incesto ou violação. Muitas mulheres
polacas já realizavam abortos fora do
país, ou procediam à intervenção
médica ilegalmente. Mesmo nos casos do aborto
permitido por lei, as mulheres enfrentavam longas
esperas e médicos que se recusavam a realizar o
procedimento, uma vez que estes profissionais
detêm liberdade para negarem a realização do
aborto legal ou mesmo a prescrição de métodos
contracetivos por motivos religiosos.

A Polónia, de maioria católica, apresenta uma das


populações mais religiosas da Europa. Quem está a
favor da nova restrição afirma que a medida foi

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promulgada em defesa dos fetos diagnosticados com


Síndrome de Down. Em resposta, os opositores
alegam que manter as gravidezes de fetos com

malformação 
poderá colocar
 a vida
 da mãe em 

risco.

Julia Przylebska, presidente da corte


constitucional polaca, alegou que a permissão do
aborto em casos de malformação fetal permite
“práticas eugénicas em relação ao nascituro,
negando-lhe o respeito e proteção da dignidade
humana”. A presidente afirmou que iria contra os
preceitos de garantia e proteção da vida que prevê a
Constituição polaca.

A nova legislação foi incentivada pelo partido


ultracatólico nacionalista Lei e Justiça (PiS), mas os
119 deputados, a maioria do PiS, já
tinham apresentado a moção no Tribunal
Constitucional em dezembro do ano passado.

Entre os protestos
caseiros e a reação fora
de portas 
A decisão polaca sobre o aborto foi condenada por
vários grupos europeus de defesa dos direitos
humanos. Entre os vinte e sete membros da União
Europeia, Malta é o único país a proibir totalmente a
interrupção da gestação.

A medida foi imediatamente criticada também pela


comissária para os Direitos Humanos do Conselho
da Europa, Dunja Mijatovic. No seu perfil de
Twitter, a comissária afirma que “eliminar as razões
para quase todos os abortos legais na Polónia é
praticamente igual a bani-los e violar os direitos
humanos”, pois resultaria em mais abortos ilegais
para quem tem condições monetárias
e em sofrimento para as mulheres mais pobres.

Os protestos ainda não conheceram fim e


são protagonizados, também, por incidentes
violentos. No dia em que a medida foi
anunciada, reuniram-se manifestantes em Varsóvia
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em frente à casa de Jaroslaw Kaczynski, o vice-


primeiro-ministro e representante do PiS. A
polícia recorreu ao gás pimenta para dispersar a
 
multidão, detendo 
quinze  
pessoas. No mesmo dia, 

ocorreram também protestos mais pequenos noutras


cidades, como Cracóvia, Lodz e Szczecin, e
ainda noutras cidades europeias, como Barcelona e
Viena.

Nas manifestações de menor


dimensão, também foram registadas situações
violentas. Após Kaczynski ter incentivado os seus
apoiantes a saírem às ruas para defender as
igrejas, militantes da extrema–direita, integrantes
do All-Polish Youth, atacaram mulheres que
protestavam em locais como Wroclaw, Poznan
e Bialystok.

No dia 31 de outubro, a manifestação somou mais de


100 mil pessoas, a maior desde a quinta-feira em que
a medida foi aprovada. Os manifestantes carregavam
cartazes com frases como “tu não tens de andar
sozinha” ou “Deus é mulher”, além de placas com o
sinal de um raio, símbolo dos protestos.

A Polónia havia restringido aglomerações para no


máximo cinco pessoas, devido aos elevados índices
de contágio pelo novo coronavírus. A procuradoria-
geral polaca já reagiu, afirmando que iria processar
os organizadores por “ameaças epidemiológicas”,
crime que pode resultar até oito anos de prisão.

O ultraconservadorismo
reinante na Polónia 
O presidente Andrzej Duda, reeleito em julho deste
ano, é ultraconservador, eurocético e integrante do
partido Lei e Justiça (PiS). Possui uma agenda de
reformas que, desde 2015, afastam a Polónia das
premissas da União Europeia. Foi nesse mesmo
ano que o PiS chegou pela primeira vez ao poder
executivo do país. Desde
então, demonstrou uma postura que o diferenciava
da centro-direita, sendo crítico de minorias,
como os imigrantes e a comunidade LGBT+. A

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vitória do partido nas eleições parlamentares de


2019 permitiu uma maioria no Parlamento, sem
necessidade de coligações.
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Apesar das eleições presidenciais deste ano terem


demonstrado força por parte da oposição – tendo
sido uma das mais disputadas nos 30 anos da
democracia do país, após a queda do comunismo –,
o atual presidente ganhou com uma diferença de
500.000 votos do seu rival direto, Rafal Trzaskoyski,
candidato do partido Coalizão Cívica (KO), de
centro-direita e europeísta. Com o
triunfo de Andrzej Duda, o ultraconservadorismo
renovou ainda mais o seu fôlego na Polónia.

Os atritos entre a Polónia e a União Europeia são de


um longo historial, chegando a estar em cima da
mesa a possível saída do país da união. Desde 2017,
a Polónia vigorou uma reforma judicial que trouxe
polêmicas a Bruxelas: trata-se de uma medida para
ter mais controlo sobre os juízes nomeados para o
Supremo Tribunal. De acordo com a União Europeia
e críticos da reforma, a medida põe em causa a
separação de poderes e o Estado de Direito, além
de mostrar uma visão
conflituosa em questões ambientais, de política
migratória e de direitos humanos.

Presidente polaco recua


após dias de protestos 
Ainda na quinta-feira passada, a 29 de
outubro, Andrzej Duda afirmou em entrevista à
rádio RMF–FM que “a lei não pode exigir esse tipo
de heroísmo de uma mulher”, ao referir-se à atual
proibição. Em aparente discordância com a ala
ultraconservadora, argumentou que as próprias
mulheres deveriam ter o direito de abortar em caso
de fetos com malformação.

Chegou a prometer, no dia seguinte, que iniciaria um


projeto de lei para reintroduzir a possibilidade de
interrupção da gravidez na situação de “alta
probabilidade de morte da criança” ou “doença
incurável que levará à morte inevitável e

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direta”. Entretanto, as declarações contrastam com


a sua reação inicial, quando congratulou o tribunal e
enfatizou a sua opinião contra o aborto em
  
quaisquer circunstâncias.   

Segundo sondagens da Onet.pl na semana em que a


medida foi decretada, 66% dos polacos discorda
da decisão do Tribunal Constitucional e 69% são a
favor de um referendo sobre a questão.

Artigo da autoria de Amanda Ribeiro. Revisto por


Pedro Valente Lima.

Este artigo é da total responsabilidade da APA –


Academia de Política Apartidária

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locais de distribuição habitual e a todas aquelas que, às


10 da manhã ou 4 da madrugada, pretendam inteirar-se
do melhor e do pior que se faz nas políticas educativas e
sociais, bem como na Academia, na cidade, no país e no

mundo.     

DIREÇÃO NJAP
presidente Gonçalo Norton Lages
vice-presidente Pedro Ferreirinha
vogal JUP Mariana Durães
vogal galerias Lara Lopes
vogal Águas Furtadas Bernardo Machado
vogal publicidade Maria Filipa Albergaria
tesoureira Ana Regina Ramos

CONSELHO FISCAL
presidente Jéssica Maciel
1.º secretário Bárbara Baltarejo
2.º secretário Joana Magalhães

ASSEMBLEIA GERAL
presidente Rui Oliveira
1.º secretário Catarina Vasconcelos
2.º secretário Érica Teixeira

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cultura Inês Sincero, Nina Muschketat e Fernando Costa
política José Diogo Milheiro e Marco Matos
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