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APRENDIZADO
Vamos começar com uma reflexão: como
aprendemos a nomear as coisas? Por volta do
primeiro ano de idade começamos a associar
certos objetos com diferentes sons: ao longo
do desenvolvimento do bebê, aprende-se
a relacionar palavras a certas pessoas, coisas,
Para saber mais
A Teoria das Molduras Relacionais (Relational
Frame Theory) busca compreender como se
dá o processo de aquisição de linguagem
e quais são as consequências desse processo
na vida das pessoas.
Sugestão de leitura: Hayes, Barnes-Holmes, Roche.
Relational Frame Theory: A Post-Skinnerian Account
of Human Language and Cognition. New York: Kluwer
Academic, 2001
AS TRÊS DIMENSÕES
Exames de imagem evoluíram
consideravelmente nos últimos anos.
Tal evolução nos permitiu sabermos
com muito mais propriedade o que acontece
no nosso cérebro quando sentimos dor.
Diversas regiões do cérebro se ativam
na experiência dolorosa. Na dor, há uma
integração entre áreas cerebrais relacionadas
às sensações corporais, às emoções,
ao planejamento, à memória. Melzack e
Casey, em 1968, dividiram a experiência de
dor em três aspectos: sensório-discriminativo
(sensação que percebemos no nosso corpo),
afetivo-motivacional (o aspecto desagradável
da dor, que motiva um comportamento de
defesa) e cognitivo-avaliativo (a interpretação
que fazemos a respeito do que estamos
sentido.
Tentando explicar de uma forma sintética
o modelo de Melzack e Casey: dor é algo que
a gente sente no corpo, discriminando suas
características (localização, intensidade, tipo
de sensação, entre outras). Dor também é algo
que nos afeta, no sentido de motivar um tipo
de comportamento que tem como objetivo
a auto-proteção (por exemplo, soltar da mão
um objeto quente). Por fim, dor também
é uma interpretação (cognição), em que eu
A DOR CRÔNICA
Sendo multidimensional e complexa, a dor é
muitas vezes um grande desafio no tratamento,
principalmente em casos crônicos.
Uma dor é considerada crônica quando
permanece mais tempo do que é esperado
para que haja a cura de determinada lesão.
Dor aguda é um alarme de nosso corpo,
indicando que há um perigo. Com a cura da
lesão, a tendência é o alarme desligar – a dor
some. O problema é que em alguns casos esse
alarme não desliga. Em pesquisas, geralmente
considera-se crônicas as dores que a pessoa
sente há mais de 3 ou 6 meses (há uma
variação em relação a essa linha de corte).
De qualquer forma, o importante é saber que
após alguns meses de dor, o próprio sistema
fica comprometido. E aí, a relação entre
sensação, pensamento e comportamento
fica ainda mais complexa. Só para termos um
último modelo explicativo sobre essa interação,
vejam a figura a seguir:
O MODELO DE MEDO-EVITAÇÃO
Essa imagem mostra uma parte do modelo
de medo-evitação, conforme proposto por
Vlayen, Crombez e Linton. Imagine que a
pessoa teve uma lesão e isso gerou uma
experiência de dor. A partir daí, ela começou
a pensar: “deve ser algo grave”, “não vou
conseguir melhorar”, “nunca mais vou ser o
mesmo” – nas teorias cognitivas, este padrão
de pensamento é chamado de catastrofização:
pensar que o pior vai acontecer e achar que
não será possível lidar com isso.
Uma consequência de pensamentos
catastróficos é ter medo de sentir dor.
E por ter medo de sentir mais dor, a
pessoa fica hipervigilante, ou seja, passa a
prestar mais atenção no local que costuma
sentir dor. Hipervigilância é um fenômeno
particularmente importante neste modelo,
já que dor e atenção estão intimamente
ligados (em poucas palavras: prestar mais
atenção na dor é sentir mais dor).
Outra consequência do medo de sentir mais
dor é evitar situações que potencialmente
causem dor. Isso gera outras duas
consequências: a pessoa passa a usar menos
a musculatura, gerando mais incapacidade
e descondicionamento físico. Além disso,
ao ter menos contato com outras pessoas
e situações que poderiam ser prazerosas
ou significativas, corre-se um risco maior
de desenvolvimento de depressão.
Referência: Crombez G, Eccleston C, Van
Damme S, Vlaeyen JW, Karoly P. Fear-avoidance
model of chronic pain: the next generation. The
Clinical journal of pain 2012;28(6):475-483
Para cada um dos pontos que citei aqui, havia
uma infinidade de assunto para falarmos,
mas me prometi que cada um dos ensaios
não teria muito mais do que mil palavras.
Para cumprir minha promessa, paro por aqui
e prometo voltar em um próximo ensaio com
mais informações e discussão sobre os pontos
levantados aqui.