O documento descreve as invasões holandesas no Nordeste brasileiro no século XVII. Os holandeses conquistaram Pernambuco em 1630 e praticaram atrocidades contra a população católica, como queimar igrejas e profanar imagens sagradas. Eles também se aliaram aos índios locais, que guiados pelos holandeses, mataram e roubaram muitos moradores católicos fugitivos. O documento fornece detalhes sobre as batalhas entre holandeses e portugueses e as crueldades come
Descrição original:
Ótimo texto! Bem documentado sobre a inssurreição Pernambucana
O documento descreve as invasões holandesas no Nordeste brasileiro no século XVII. Os holandeses conquistaram Pernambuco em 1630 e praticaram atrocidades contra a população católica, como queimar igrejas e profanar imagens sagradas. Eles também se aliaram aos índios locais, que guiados pelos holandeses, mataram e roubaram muitos moradores católicos fugitivos. O documento fornece detalhes sobre as batalhas entre holandeses e portugueses e as crueldades come
O documento descreve as invasões holandesas no Nordeste brasileiro no século XVII. Os holandeses conquistaram Pernambuco em 1630 e praticaram atrocidades contra a população católica, como queimar igrejas e profanar imagens sagradas. Eles também se aliaram aos índios locais, que guiados pelos holandeses, mataram e roubaram muitos moradores católicos fugitivos. O documento fornece detalhes sobre as batalhas entre holandeses e portugueses e as crueldades come
Um exemplo que nos estimula na luta contra o comunismo
A RESISTÊNCIA AO HEREJE
HOLANDÊS
Carlos Alberto Soares Corrêa
Um dos episódios mais gloriosos e talvez mais desconhecidos de nossa História é inegavelmente a Insurreição Pernambucana. Depois de arrancar à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo cerca de um terço das católicas nações européias, formadas ao longo de séculos pela Esposa de Cristo com tantos sacrifícios, a hidra protestante lançou seus olhares para a Terra de Santa Cruz. As invasões holandesas, com efeito, visaram em primeira plana a implantar em nossa Pátria a heresia de Lutero. Aqui praticaram os hereges batavos, ao longo de trinta anos, os mais abomináveis crimes contra a pacífica e indefesa população do Nordeste. A narração das crueldades cometidas em Cunhaú ou no Rio Grande não pode deixar de comover os mais insensíveis corações. Entretanto, tais crimes, que bradam ao céu e pedem a Deus vingança, são praticamente desconhecidos do grande público. Foram relegados ao esquecimento. Nossos compêndios de História não só a eles não se referem, mas até condenam aqueles que procuram ressaltar as sangrentas lutas travadas no Nordeste brasileiro e, pior ainda, pôr em relevo o aspecto religioso delas. Vejamos o que a este respeito diz um dos livros de História, distribuídos pela Campanha de Assistência ao Estudante (CASES) do Ministério de Educação e Cultura, no governo de Goulart. Trata-se do volume intitulado "As Invasões Holandesas", da Coleção "História Nova", n° 3, que, logo à página 7, afirma que "as invasões holandesas no Brasil são apresentadas, em nossa literatura didática, pela narrativa dos diversos choques bélicos que tiveram lugar no Nordeste brasileiro, por ocasião daquelas invasões. Esta maneira de abordar os holandeses no Brasil, não só nada tem a ver com a ciência histórica, como — o que é mais grave — procura desenvolver um certo tipo de patriotismo belicista, nada aconselhável para a nossa juventude. Os nossos fazedores de livros didáticos de História parecem insensíveis às transformações que ocorrem no mundo. Não veem que, graças aos esforços dos povos, procura-se eliminar no mundo as possibilidades de desencadeamento de novas guerras, luta-se para se estabelecer definitivamente a paz. Enquanto tudo isto ocorre, nossos livros didáticos insistem em narrar com minúcias as batalhas e, nas invasões holandesas, então, praticamente não conseguem sair disto. Querem inspirar sentimentos de brasilidade, através das guerras de que participamos". Mais adiante, à página 8, comenta escandalizado o referido livro que "um autor chega a chamar os holandeses de hereges". No presente artigo desejamos precisamente ressaltar o cunho nitidamente religioso daquelas lutas, descrevendo com bastante minúcia as execráveis crueldades praticadas pelos hereges flamengos contra a católica população do Nordeste, desde que verificaram que aquele povo, fiel aos ensinamentos da Santa Madre Igreja, desprezava ironicamente as pregações dos pastores protestantes.
7 MIL HOMENS CONTRA 700
Malograda a primeira invasão, na Bahia, resolveu a Holanda equipar uma nova e poderosa esquadra, para uma segunda tentativa de ocupar o Brasil, desta vez porém em Pernambuco. No dia 14 de fevereiro de 1630, esta grande esquadra apareceu diante de Olinda. Compunha-se de 70 navios, 3500 soldados, 3780 marinheiros e 1200 canhões. Vinha como comandante Hendrick Corneliszoon Lancq, como almirante Pieter Adrianszoon, como vice-almirante Justo Trapeu, e como comandante das tropas Diederick Van Weerdemburch. O general português Matias de Albuquerque preparou- se às pressas para defender a vila de Olinda, auxiliado pelos capitães Salvador de Azevedo, Pero da Cunha de Andrade, Ambrósio Machado de Carvalho e Roque de Barros Rêgo. O comandante português dispunha apenas de 700 homens que os referidos capitães tinham conseguido reunir. Em geral, eram eles moradores de Olinda ou de seus arredores, que pouco conheciam de tática militar. Os holandeses estavam muito bem equipados e dividiram-se em três esquadrões para atacar a famosa cidade pernambucana. Atravessaram o rio Doce e sem muita dificuldade chegaram às portas de Olinda. Após renhido combate, no qual os homens de Salvador de Azevedo demonstraram uma fibra admirável, os holandeses, muito superiores em número, ocuparam a cidade. Arrombaram as portas da igreja da Companhia de Jesus, onde haviam se escondido vários de nossos soldados, e ali quebraram as imagens, profanaram os vasos sagrados e roubaram peças de grande valor. Queimaram inúmeras casas e derrubaram outras para fazerem trincheiras com a madeira (vide "História da Guerra de Pernambuco e Feitos Memoráveis do Mestre de Campo João Fernandes Vieira", de Diogo Lopes de Santiago, edição da Secretaria do Interior, Recife, 1943, pp. 34 a 36). Matias de Albuquerque retirou-se com seus soldados para Recife. Esta cidade era defendida então por duas fortalezas. A 21 de fevereiro o inimigo atacou, à noite, a fortaleza da terra, defendida por apenas 26 homens. Os holandeses eram 800. Apesar desta flagrante desproporção numérica, os nacionais, com extraordinária bravura, expulsaram os invasores, que retornaram a Olinda, deixando 150 mortos no campo de batalha. Os flamengos voltaram a atacar aquela fortaleza, já bastante velha e desmantelada, e a 2 de março conquistaram-na. Pouco depois, rendia-se também a fortaleza do mar. Ficava assim Recife em poder dos hereges, que lá edificaram logo fortificações inexpugnáveis, preparando-se para conquistar os outros pontos estratégicos de Pernambuco. Matias de Albuquerque, por sua vez, construiu a uma légua de Olinda e Recife uma fortaleza com o fim de impedir que o inimigo avançasse pelo interior da capitania, conquistando seus ricos engenhos de açúcar. Aos poucos foram surgindo numerosas casas em torno da fortaleza, nascendo assim o Arraial do Bom Jesus. Matias de Albuquerque iniciou então as famosas guerrilhas, que causaram enormes danos ao adversário, impedindo que ele conquistasse logo, como pretendia, a próspera região. Com efeito, apesar de todo o poderio dos holandeses e da falta de recursos dos nossos, que não dispunham de um exército organizado, só depois de muitas lutas, em que os invasores sofreram grandes perdas e dispenderam quantias incalculáveis, é que conseguiram eles subjugar a gloriosa capitania estender suas conquistas até às outras regiões do Nordeste. Em fins de 1636, os holandeses já eram senhores de vários pontos estratégicos, como o posto dos Afogados, a Ilha de Itamaracá, as fortalezas do Rio Grande, Cabedelo, Pontal de Nazaré e Santo Antônio, a vila de Goiana, a Muribeca, a povoação de Santo Antônio e o Arraial do Bom Jesus. A ATROZ CRUELDADE DOS HEREGES INVASORES Logo após a rendição deste último arraial, os índios tapuias e potiguares aliaram-se aos holandeses. Guiavam-nos pelos matos. Cometeram então, índios e flamengos, os mais hediondos crimes contra a católica população do Nordeste. Com efeito, estes gentios, "esquecidos de que haviam sido criados entre nós e aos peitos da Santa Madre Igreja, com os quais se trabalhou tardos anos em os doutrinar na Santa Fé católica, vivendo eles dantes como animais brutos e havendo-os os portugueses conservado com tanto amor em suas aldeias, livrando-os de serem cativos, logo ao ponto se meteram com os holandeses com os quais saíam em tropas com suas armas, mostrando-lhes os caminhos que eles não sabiam e esquadrinhando os matos, por entre os quais muitos moradores estavam escondidos com suas famílias, e ali os matavam e roubavam, não perdoando a mulheres nem meninos, e fazendo com todo gênero de mulheres, assim eles, como os flamengos, outros desaforos. (...) Começaram os holandeses a entrar pela terra dentro com este favor dos índios, e chegaram às casas dos moradores, e em suspeitando que teriam dinheiros, ou joias de ouro ou prata, lhes levantavam falsos testemunhos e os acusavam de traidores e lhes davam cruéis tormentos, metendo-lhes os pés em azeite e breu fervendo, e a outros enforcando-os pelos braços ou pelos pés, e a outras metendo- lhes os dedos nos fechos das carabinas, que obrigados dos tormentos davam o que tinham e prometiam o que não tinham, e a muitos dos moradores enforcaram, degolaram e arcabuzaram" (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., pp. 117 e 118). A 2 de maio de 1636, o general holandês Sigismundo Van Schkoppe partiu de Serinhaém ou Vila Formosa, juntamente com os coronéis Articholsky e Guilherme Schotte. Levavam mil soldados e muitos índios. Flamengos e selvagens foram matando a todos que encontravam pelos caminhos. Começaram estas crueldades na própria Vila Formosa. Prenderam ali a dois nobres moradores, Jerônimo de Albuquerque e Francisco Rodrigues do Porto, juntamente com um filho deste último. Frigiram-lhes os pés em azeite fervendo e meteram por entre suas unhas agulhas em brasa. Tiraram-lhes a pele com cruéis açoites e pingaram alcatrão sobre a carne viva. Como os três heroicos prisioneiros resistissem a tão atrozes suplícios, enforcaram-nos. Continuaram os hereges a sua caminhada, chegando a Ipojuca, onde prenderam o Padre Pantaleão Alves, entregando-o aos tapuias, que o despedaçaram imediatamente. O referido Sacerdote preparava-se para a Missa, pois era dia santo. Vários fiéis que aguardavam o santo Sacrifício, tiveram a mesma sorte. Em Muribeca os indígenas mataram 8 homens, aos quais obrigaram a abrir as próprias sepulturas, lançando-os nelas ainda vivos. Prosseguiram estes ímpios em direção a Gurjaú, onde assassinaram várias crianças que arrancaram aos braços das próprias mães. Espetavam-nas em paus e as abriam pelas costas com as machadinhas que para isso lhes forneciam os hereges batavos. Os índios executavam estas desumanidades "à vista dos holandeses, que não se compadeciam de tanta inocência, antes faziam muita festa, fazendo estas e outras crueldades a sangue frio. Roubaram as igrejas, fazendo de seus ricos ornamentos caprazões de seus cavalos, bebendo pelos cálices sagrados, fazendo em pedaços as imagens de Nossa Senhora e dos Santos que tanto veneramos" (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., p. 130). Continuaram até a povoação de São Lourenço, onde prenderam a três jovens, um de 12 anos de idade, e os outros dois de 16 anos. "Arrancaram aos três as unhas e lhes quebraram os dentes; foram depois cruelmente açoitados, pingados e desconjuntados, que foi miserando espetáculo. Puseram a cada qual dos três entre duas tábuas, repassadas com muitos pregos e os algozes em cima, que lhes faziam entrar os pregos até as entranhas: eles muito constantes nestes tormentos chamavam por Deus e por sua Santíssima Mãe, e o que mais lhes aliviou foi pedir com muita instância os deixassem confessar, e por não poderem já andar, amarraram a cada um, uma corda ao pescoço até os dependurarem e acabarem de matar, arcabuzando-os" (Diogo Lopes de Santiago,. op. cit.., p. 134). Estes bárbaros hereges, não conseguindo a apostasia daquela gente tão fiel à Santa Igreja, vingavam-se assim covardemente, não poupando as mulheres, nem as crianças.
MAURÍCIO DE NASSAU, PERSEGUIDOR DOS RELIGIOSOS NO BRASIL
Enquanto perpetravam os holandeses tão nefandos crimes, resolveu a Companhia das Índias Ocidentais nomear um governador para as terras conquistadas. Foi escolhido para este cargo João Maurício, Conde de Nassau, que aqui chegou em janeiro de 1637. Logo tomou posse, na cidade de Recife, recebendo o longo título de "governador, capitão-general e almirante das forças de mar e terra da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais e dos territórios conquistados ou a conquistar pela mesma no Brasil". Em abril do ano seguinte, preparou Nassau uma esquadra de 35 navios e outras embarcações menores, e à frente de 3400 homens de guerra dirigiu-se para a Bahia de Todos os Santos. Julgava poder dominar facilmente a Bahia e estender logo para o sul do País as conquistas da Holanda. Mas o governador geral do Brasil, D. Pedro da Silva, resistiu-lhe com firmeza, obrigando-o a recuar. Nassau preparou um novo e violento ataque, enviando antes uma carta ao governador, na qual lhe dava três dias para que se rendesse. Caso contrário, viriam reforços de Pernambuco e ele seria passado a fio de espada, com toda a população. Respondeu D. Pedro da Silva "que as cidades de El-Rei não se rendiam senão com balas e com a espada na mão, e depois de muito sangue derramado". Travou-se duríssimo combate. Depois de três dias Nassau começou a retirar-se, deixando o campo de batalha coberto de cadáveres. Malograra seu sonho de poder conquistar de uma só vez o Brasil todo. Enfurecidos com este revés, o Conde e os demais dirigentes do Supremo Conselho de Recife publicaram um edital em que obrigavam todos os Religiosos, de qualquer Ordem, que vivessem nas terras sob o domínio da Holanda, a se retirarem para a Ilha de Itamaracá. Para lá foram levados Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos. Dois meses permaneceram ali aqueles Sacerdotes, divididos uns dos outros, sofrendo duras injúrias dos soldados flamengos, que nem sequer lhes forneciam o necessário para seu sustento. Depois de os maltratar impiedosamente, os holandeses "embarcaram-nos nas naus de uma frota que saiu de Recife, e nelas os soldados e marinheiros os acabaram de despojar de seus hábitos, e os deixaram quase despidos, e os foram deitar por umas praias desertas das Índias de Castela, e em outras partes diferentes com tanta descomodidade que muitos deles morreram" ("O Valeroso Lucideno e o Triunfo da Liberdade", de Frei Manoel Calado, vol. I, livro I, capítulo IV). Os moradores da capitania não se conformaram e foram pedir a Nassau que não expulsasse seus Religiosos. O Conde desculpou-se, dizendo que cumpria ordens vindas da Holanda, contra as quais não podia se insurgir.
"O POVO QUEIMAVA OS LIVROS PROTESTANTES COMO SERPENTES
VENENOSAS" Em dezembro de 1640, foi aclamado Rei de Portugal o Duque de Bragança, com o nome de D. João IV. Terminava assim o domínio espanhol iniciado em 1580. Em abril de 1641 chegou a Recife uma nau holandesa trazendo a auspiciosa notícia da aclamação do novo Rei e cartas em que se comunicava às autoridades portuguesas e holandesas no Brasil, que Portugal e Holanda haviam celebrado um tratado de paz por dez anos. Apesar destas tréguas, os holandeses atacavam os nossos na calada da noite, roubando- lhes o que tinham. Para acumular riquezas usavam de estratagemas revoltantes. Por exemplo, muitas vezes ordenavam às suas esposas que mandassem chamar a portugueses ou brasileiros de vida irrepreensível, sob o pretexto de com eles tratar de qualquer assunto sério. Às tantas chegavam os maridos com testemunhas, já estando tudo antes combinado, e acusavam de adultério os inocentes visitantes, que por isto eram obrigados a pagar grandes multas. Entre estas vítimas, encontravam-se, não raras vezes, Sacerdotes (vide "Castrioto Lusitano", de Frei Raphael de Jesus, livro V, capítulos 1 a VI). Com estes e outros embustes diabólicos, os hereges batavos foram acumulando riquezas ilícitas. Tomaram muitos mosteiros e igrejas. Proibiram as procissões públicas, as quais só autorizavam mediante enormes somas de dinheiro. Expulsaram e deportaram numerosos Sacerdotes, enquanto os ministros protestantes trabalhavam sem cessar para arrastar o povo fiel para as sendas do erro e do vício. Mas este povo, criado com o leite da verdadeira Igreja, "queimava os livros e cartilhas protestantes como se fossem serpentes venenosas" (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., p. 204). Maurício de Nassau, desrespeitando as tréguas, ocupou Sergipe, Ceará e Maranhão, reconhecendo depois ele próprio a deslealdade de sua conduta, em carta de 1° de julho de 1641, aos Estados Gerais. Afinal a Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais começou a desconfiar dele e por isso o Conde exonerou-se, regressando à Europa em maio de 1644. Com ele voltou à Holanda um pastor protestante chamado Vicente Soler, a fim de conseguir a expulsão de todos os Sacerdotes católicos que ainda viviam em Pernambuco.
O CRUEL E PÉRFIDO MASSACRE DE CUNHAÚ
O domingo 16 de julho de 1645, um grupo de holandeses, tapuias e potiguares, chefiado por um judeu chamado Jacob Rabbi, chegou à pequena povoação de Cunhaú, na capitania da Paraíba. O referido judeu, que ali foi cumprindo ordens dos membros do Supremo Conselho de Recife, avisou aos moradores daquela pequena aldeia que, após à missa, precisava tratar com todos de um importante assunto. Estando já aquele inocente povo reunido na igreja, a assistir o santo Sacrifício, ordena o ímpio Jacob aos seus que invadam o lugar sagrado e matem a todos. Flamengos, tapuias e potiguares lançam-se como cães raivosos contra aquela gente, trucidando a todos impiedosamente. O velho Pároco, Padre André do Soveral, mal teve tempo de exortar seus fiéis a se arrependerem de seus pecados, rezando em seguida, às pressas, o ofício da agonia. Era ele um "homem de 90 anos, varão de vida exemplar. Temeu que à crueldade se seguisse o desacato e virado para o gentio lhe disse na sua língua, em que era perito, que toda pessoa que nele tocasse, ou nas imagens e paramentos do altar, lhe ficaria tolhida a parte com que o fizesse" (Frei Raphael de Jesus, "Castrioto Lusitano, livro V, capítulos V e VI). Os tapuias, atemorizados com estas palavras, afastam-se do altar. Mas os potiguares, zombando deles, adiantam-se até o heroico Sacerdote, fazendo-o logo em pedaços. Coisa admirável, pouco depois secavam as mãos daqueles sacrílegos criminosos, os quais, atacados de raiva, vieram logo a morrer. Isto mostra a vileza dos hereges, que não tendo suficiente coragem para sozinhos realizarem seus execráveis desígnios, serviam-se dos instintos perversos de infelizes selvagens.
"MORREREMOS FIRMES NA SANTA FÉ CATÓLICA"
Três meses depois das atrocidades cometidas por ordem do capitão Jacob Rabbi em Cunhaú, chegou este com seus tapuias e potiguares à capitania do Rio Grande. Os habitantes daquela capitania já sabiam do ocorrido em Cunhaú. Temendo que o mesmo acontecesse em sua terra, um grupo de setenta homens decidiu construir uma paliçada de pau a pique, num lugar chamado Potengi. Ali se refugiaram estes valentes, com suas mulheres e filhos. Estava também entre eles o seu Vigário, o Padre Ambrósio Francisco Ferro. Pouco depois de ali se terem instalado, chegou àquele lugar o capitão israelita, com seus flamengos e índios. Com impressionante fingimento, disse-lhes que estava profundamente contrariado com o ocorrido em Cunhaú e que os dirigentes do Supremo Conselho de Recife iriam punir severamente os culpados. Afirmando isto, afastou-se. Aqueles bravos católicos sabiam que tudo aquilo não passava de vergonhosa hipocrisia. Quatro dias depois, voltou o pérfido capitão com seus cúmplices, e atacou durante longo tempo a paliçada. Mas os católicos reagiram, apesar de só disporem de 17 armas de fogo. Mataram 20 homens do inimigo. Este se viu obrigado a recuar, surpreso ante tamanha bravura. No dia imediato, voltou Jacob Rabbi, bem cedo, fingindo ainda amizade. Como os valentes portugueses e brasileiros não lhe dessem ouvidos, mandou buscar duas peças de artilharia para destruir a paliçada. Ao mesmo tempo, avisou aos nossos que, se não se rendessem, seriam todos degolados, sem distinção de sexo ou idade. Como já não possuíssem munições, aqueles infelizes renderam-se. Chegou nessa ocasião de Recife João Bolestrate, um dos três dirigentes do Supremo Conselho, ordenando que se matassem todos os homens e meninos de mais de sete anos. Prenderam logo os holandeses aos da paliçada e levaram parte deles para o porto de Uruaçú, a meia légua daquele local. Esperava-os ali Antônio Paroupaba com mais de 200 tapuias e potiguares. Estava ali também um pregador protestante que tudo fez para arrastar aqueles intrépidos soldados de Cristo para a heresia. Como desprezassem eles as abomináveis exortações do ministro enfureceram-se os holandeses. Despiram as inocentes vítimas, que de joelhos pediam perdão a Deus e protestavam "que morreriam firmes na santa Fé católica, crendo o que cria a Santa Madre Igreja de Roma". Com ódio satânico começaram os hereges a torturá-los lentamente, e depois de saciarem a sua sede de maldade, entregaram-nos aos selvagens, "que ainda vivos os foram fazendo em pedaços e nos corpos fizeram tais anatomias que são incríveis; arrancando a uns os olhos e tirando a outros as línguas e cortando as partes pudendas e metendo-lhes nas bocas" (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., pp. 441 e 442). Tornaram logo os holandeses à paliçada para conduzir ao martírio as outras vítimas que lá tinham ficado. Estes homens, sabendo que se aproximavam para eles a hora grandiosa da morte, despediram-se de suas mulheres e filhos, pedindo-lhes que os encomendassem a Deus. Pelo caminho, consolavam-se mutuamente e protestavam, sem cessar, fidelidade até a morte à Santa Igreja Católica. Isto, mais uma vez, enfureceu os hereges flamengos, que entregaram também estes aos indígenas, os quais cometeram então crimes tão hediondos, que nem podem ser narrados "sem faltar às leis da pudicícia, vergonha e modéstia" (op. cit.). "A um mancebo casado, por nome Antônio Baracho, amarraram a um tronco e depois de cruelmente atormentado e escarnecido, lhe cortaram a língua e a parte pudenda, trocando a infame desumanidade a cada uma das partes o lugar que lhes dera a natureza. Já seu corpo, pela matéria, não tinha parte sem ferida, e ainda assim se armou a atrocidade contra a harmonia da figura, denegrindo-lhe todo o corpo com ferros abrasados, e tirando-lhe o coração pelas costas, desejosos sem dúvida de verem o tamanho de um coração em que coube o sofrimento de tantos martírios" (Frei Raphael de Jesus, op. cit., livro VIII, capítulo XXXII). "A Mateus Moreira o abriram pelas costas e lhe tiraram o coração; e as últimas palavras que disse, estando neste martírio, foram louvar a Deus, dizendo: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento" (Frei Manoel Calado, op. cit., vol. II, livro IV, capítulo VI). "Ao Padre Vigário Ambrósio Francisco Ferro fizeram tais anatomias, e cousas, estando ainda vivo, que tenho pejo de escrevê-las" (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., p. 443).
OS PRÓPRIOS SELVAGENS SE COMPADECIAM DOS MÁRTIRES
Depois destas atrocidades, os próprios selvagens compadeceram-se de oito mancebos que ainda estavam vivos. Pediram aos holandeses que os poupassem. Responderam os hereges que só os poupariam se tomassem armas contra os portugueses. Disseram os destemidos jovens que já não queriam viver, depois de terem visto com seus próprios olhos o que haviam feito com seus pais, parentes e amigos. E concluíram que "as armas tomariam por seu Deus e por seu Rei e Pátria, contra eles, tiranos". Os holandeses atormentaram-nos até os matar, só ficando com vida um deles, chamado João Martins. Tentaram seduzi-lo, prometendo-lhe novamente a vida se tomasse armas contra a coroa portuguesa. Respondeu ele, com admirável firmeza: "Não me desampare Deus desta maneira! Essas tomei sempre contra tiranos e não contra minha Pátria e Rei" (op. cit., p. 447). Pediu-lhes, por fim, que o matassem logo, pois desejava receber sem demora a glória celeste da qual já gozavam seus companheiros. Em vários destes valorosos filhos da Santa Igreja encontraram os pérfidos hereges e selvagens, ao despirem-nos, ásperos cilícios. Frequentemente, faziam eles procissões, com um Crucifixo, na paliçada. Na véspera de sua morte, jejuaram a pão e água. O suplício destes heróis ocorreu no dia 3 de outubro de 1645. Pouco depois de seu hediondo crime, os holandeses retornaram às trincheiras, onde ainda encontraram as mulheres e filhos dos mortos. Ouvindo aquelas pobres viúvas as descrições que os próprios hereges faziam da morte de seus maridos, e querendo "lamentar com suspiros e lágrimas seus desventurados dias, estes tais lho não queriam consentir, e as fizeram calar, ora com ruins palavras, ora com pés e mãos, dando-lhes bofetadas e coices e ameaçando-as, que as haviam de matar se chorassem" (Frei Manoel Calado, op. cit., vol. II, livro IV, capítulo VI). Com terríveis ameaças, tentaram os hereges saciar sua vileza com aquelas míseras. Elas resistiram. Os flamengos vingaram-se então, matando muitas delas. Assim concluíram aqueles ímpios invasores o seu vergonhoso crime. * É lamentável que estes admiráveis exemplos de fortaleza e fidelidade à Santa Igreja e ao Príncipe legítimo permaneçam desconhecidos de nosso povo. Eles compõem uma das mais belas páginas de nossa História. Não se compreende, por outro lado, como há ainda quem elogie a administração dos holandeses no Brasil, apresentando-os como homens de bem, que só procuraram a grandeza de nossa Pátria. O exposto nos mostra exatamente o contrário. Que o exemplo destes heróis da Fé nos dê ânimo para enfrentar o inimigo muito mais terrível que ora nos ameaça, o comunismo.