Você está na página 1de 226

1ª Edição

ISBN: 978-65-00-09634-7
DOMINANDO ELÉTRICA
CNPJ: 38.072.413/0001-54
Agradeço a Deus por tudo que Ele vem fazendo em minha vida e há de fazer. Esse
livro só saio por causa Dele. À Deus toda honra, toda glória, todo louvor, toda
gratidão e toda adoração.
Quero agradecer a quatro pessoas, as quais foram pilares para que eu pudesse
chegar onde estou. Minha mãe Ivete Bernardino, que esteve sempre ao meu lado,
me apoiando em tudo. Há minha tia Fátima Aguilella, que abriu as portas de sua
casa quando eu precisei estudar. Roberta Safira, que mudou meu modo de pensar
sobre o auto crescimento e Rita de Cassia, a qual me ensinou a importância da
leitura, mesmo que indiretamente. São pessoas que amo muito e que tenho uma
gratidão enorme por cada uma.
A meu pai Luiz Aguilella e as demais pessoas que me ajudaram de alguma forma
nessa caminhada.

“Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer


faça qualquer outra coisa, façam tudo para a
glória de Deus.”
1 Coríntios 10:31
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 09
O INÍCIO DA JORNADA ........................................................................................................................ 16
HORA DE APRENDER ........................................................................................................................... 21
ELETROMAGNETISMO BÁSICO ...................................................................................................... 21
NOVOS ENSINAMENTOS ..................................................................................................................... 54
MOTORES ELÉTRICOS .................................................................................................................... 54
CONTINUE APRENDENDO ................................................................................................................... 119
PRINCIPAIS DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................... 119
A VERDADEIRA JORNADA COMEÇA AGORA ....................................................................................... 155
DIAGRAMAS DE ACIONAMENTOS ELÉTRICOS .............................................................................. 155
Caro aluno, antes de começares a estudar, vou falar umas verdades logo de cara
para você. Esse livro não é de consultas, é um livro que conta a história de Sarah.
Como ela veio a aprender comandos elétricos em meio às suas dificuldades.
Se você tentar consultar algo, vai ficar perdido. Ele foi projetado para forçar você a
ler cada linha para assim, compreender e aprender comandos elétricos. Se pular um
parágrafo, vai se perder! Pegue uma caneta e um caderno para anotar, é a forma de
extrair o melhor que esse livro tem a lhe oferecer.
Esse livro é um passo a passo que tens em mãos para aprender comandos. Tem
mais de 120 imagens ilustrativas, tem modelo de orçamento, como aprender a fazer
seu primeiro comando, como precificar seu trabalho, como fazer a interpretação
correta de um comando entre outras coisas.
Todos os números são fictícios para ilustrações, a história não é baseada em fatos
reais. Mais uma vez, pegue papel e caneta, e bons estudos!
Luiz C. A. Aguilella

Possui histórico profissional na área, começando sua trajetória em 2005 como


rebobinador de motores. Sendo formado em Eletrotécnica em 2011e graduado
em Engenharia Elétrica com ênfase Industrial em 2017. Fundador da empresa
Dominando Elétrica em 2019.
No link abaixo, estará disponível para download um modelo de orçamento em
formato Word e três arquivos em PDF. Um passo a passo de como dimensionar
a partida direta, um para partida estrela-triângulo e outro para a partida
compensada.
Deixarei um e-mail para feedbacks tanto positivos como negativos sobre o livro
e para erros encontrados.

E-mail para feedbacks: ebook@dominandoeletrica.com.br

Link para download: clique aqui para download


CAPÍTULO 01
INTRODUÇÃO

Era por volta das 6h da manhã quando acabaram de chegar em uma pequena cidade situada a 90km
da capital de Goiás. Sarah desceu rápido do carro e correu em direção a um pequeno portão de
madeira. Abrindo -o, entrou em sua nova casa com o seu fiel escudeiro Ted, um cachorrinho vira -lata
branco com pintas pretas pelo corpo que foi dado a ela após ser achado na rua, ainda recém -nascido,
pelo seu pai.

Desbravando a casa para ver onde seria seu novo quarto, andava por cada cômodo lentamente,
observando com um olhar de esperança. Era uma casa humilde, de quatro cômodos, paredes um
pouco sujas, com rachaduras e algumas partes com reboco caindo.

― Sarahhhhhh!!! Sarahhhh!!! ― gritou sua mãe, chamando -a.


― Que foi mãe?!
― Vem pegar suas coisas aqui que eu e o rapaz já estamos tirando tudo do carro .

Ao cair da noite, já estava quase tudo arrumado. Não era muita coisa que aquela família possuía.
Tinha um fogão, uma geladeira, uma mesa de plás�co com duas cadeiras, um armarinho com sinais
de ferrugem, duas camas e um guarda -roupas – escorado na parede com calço de �jo lo – que elas
dividiam.

De repente, alguém bateu palmas no portão...

― Vai ver quem é, Sarah. Estou no banheiro!

Ela estava no seu quarto com seu fiel escudeiro. Saindo de lá, foi até o portão para ver quem era e,
já próxima à entrada de casa, percebeu que quem havia chegado era Rita, a amiga de sua mãe que
as �nha ajudado com a mudança.

― Oiii, tiaaa! ― falou Sarah, correndo para dar um abraço nela, a quem chamava
afetuosamente de �a. ― Venha, entre! Minha mãe está no banheiro .

9
No quarto, Sarah estava empolgada pelo dia seguinte, já que queria explorar a nova cidade. Olhando
para Ted, que estava deitado no pé de sua cama, falou:

― Ted, amanhã cedo vamos explorar a cidade, viu? Esteja preparado. Não vejo a hora de
andarmos e é bom que você ande também, que está precisando!

Após algumas horas, Rita se despede delas e vai embora. No dia seguinte, logo de manhã, Sarah
abordou sua mãe:

― Mãe, posso ir andar com o Ted?

― Não!

― Ah, mãe, é rápido! Só vou aqui pertinho e o Ted vai comigo. E outra: já tenho quase 15 anos
e já sei cuidar de mim, viu?!

Sua mãe estava lavando a louça nesse momento. De repente, parou o que estava fazendo e virou-se
para Sarah, que estava em pé na porta rumo à saída para o portão. Olhando bem para ela e franzindo
as sobrancelhas, depois de ficar alguns segundos em silêncio pensativa, apontou o dedo para a filha
falando:

― A senhorita pode ter quantos anos for! Se estiver debaixo do meu teto, quem manda sou
eu, entendeu? Quero você aqui antes do almoço!

Sarah pegou Ted, o prendeu na coleira e saiu para explorar os quarteirões perto de sua casa para ver
o que eles reservavam para ela. Passados alguns dias após Sarah ter feito o reconhecimento, já estava
familiarizada com a cidade.

Sua mãe já tinha arrumado uma escola para ela, pois Sarah iniciaria o ensino médio naquele ano. Era
uma menina dedicada nos estudos. Sempre recebia elogios de seus professores pelo seu esforço e
comportamento.

Num certo dia ao pôr do sol, Sarah estava voltando da pracinha perto de sua casa, uma das
descobertas de suas explorações à qual ia frequentemente com Ted. Quando passou pelo portão,
notou a porta um pouquinho aberta e que sua mãe estava conversando com alguém.

Com Ted na coleira e ao se aproximar da porta, viu pela fresta que era Rita conversando com sua
mãe. Ela notou uma expressão de tristeza em sua mãe, que estava de cabeça baixa. A amiga, ao seu
lado, parecia estar consolando. Falava que iria dar tudo certo, que era para ela ter fé, que aquela
situação iria passar. Sarah, então, viu sua mãe interromper Rita.

― Rita, não temos quase nada para comer! O dinheiro que ganho como faxineira mal dá pra
comer. Sinto muita falta do Beto... Ele era o meu chão. Já estou cansada! Como vou sair de
uma situação dessa, me diz?! Só tenho a quinta série! Como vou olhar nos olhos da minha
filha e falar que não consigo dar uma vida melhor para ela?

10
Rita, já tomada pela emoção e com os olhos lacrimejando, puxou-a gentilmente pela mão e a
envolveu em seus braços calorosamente.

Diante daquela fresta, vendo toda aquela situação, sentimentos começaram a emergir em Sarah.
Logo as lágrimas inundaram os seus olhos. Virando-se rapidamente para trás, começou a correr em
direção ao portão nem percebendo que saiu arrastando Ted pela coleira.

Sarah correu em direção à praça e, novamente ali, sentou-se no banco desolada, olhando para o
horizonte como se o tempo estivesse parado e um turbilhão de sentimentos invadisse sua mente.
Colocou os pés sobre o banco e curvou sua cabeça entre os joelhos.

Suas lágrimas já escorriam pelo rosto até cair no chão, enquanto o desespero a dominava. O ar em
sua volta estava denso. Ted estava sentado na sua frente, olhando para ela como se sentisse a dor
na alma da menina.

― Pai, preciso de você! Sinto tanto sua falta! Não tô aguentando mais! Me ajuda! Alguém,
por favor me ajuda! Não sei o que fazer, tô com medo!

Repentinamente, Sarah começou a escutar um som de latido, como se fosse um ruído bem longe.
Quando retomou a consciência do que havia ao seu redor, ergueu a cabeça e viu que era Ted que
estava latindo logo ali perto, ao lado de um poste de iluminação. Levantando-se com os olhos
vermelhos de tanto chorar, passou a mão em seu rosto para enxugar as lágrimas e caminhou em
direção ao seu amigo, percebendo algo estranho.

Aproximando-se de Ted, começou a escutar uns estalinhos e ver a lâmpada do poste piscando. Sarah,
parando e erguendo a cabeça, logo notou umas faíscas brancas saindo do fio. Sem entender o que
estava acontecendo, continuou ali, estática por alguns segundos, observando aqueles lampejos.

Algo novo começou a surgir no íntimo de Sarah como se dentro dela tivessem virado uma chave,
despertando alguma coisa. Num súbito retorno à realidade, percebendo que já tinha passado do
horário de estar em casa, Sarah pegou Ted e saiu correndo de volta com aquele sentimento de
curiosidade fluindo dentro de si.

Ao chegar em casa, Rita já tinha ido embora e sua mãe estava lavando a vasilha de água do Ted. Sua
mãe, como o esperado, vendo a chegada naquele horário, deu-lhe uma bronca. Sarah foi para o
quarto e deitou-se na cama.

Olhando para aquela lâmpada em seu teto, perguntas começaram a surgir em sua mente. “Por que
a lâmpada estava piscando?” e “o que eram aquelas faíscas?” eram as questões principais.

Questões para as quais ela não tinha resposta. Já exausta emocionalmente, Sarah acabou
adormecendo. Ao amanhecer, quando se levantou, foi direto ao banheiro tomar um banho. Ao ligar
o chuveiro, percebeu que a água não esquentava e, após o banho gelado, foi relatar o problema para
sua mãe.

― Mãe, acho que o chuveiro estragou! A água não tá esquentando.

11
― O que você fez com o chuveiro, menina?
― Fiz nada, uai! Só fui banhar.
― Mais tarde a Rita vem aqui e pergunto para ela se tem alguém que entende desse negócio
para vir ver ― disse sua mãe.

Como era previsto, Rita chegou para fazer uma visita a elas e levar alguns mantimentos. Conversando
sobre como as coisas estavam indo, a mãe de Sarah acabou tocando no assunto do chuveiro.

― Rita, acho que nosso chuveiro estragou. Não sei o que a Sarah fez lá. Você conhece alguém
que entende disso e pode ver?

― Sim! Tenho um amigo que entende dessas coisas. Vou pedir para ele vir amanhã cedo para
dar uma olhada para você.

Após algum tempo, Rita foi embora e a mãe de Sarah foi preparar a janta. No dia seguinte pela
manhã, Sarah estava varrendo a cozinha e escutou alguém batendo palmas no portão e chamando
por Rebeca.

― Mãe, deixa que vou ver quem é!


― Pois não, moço?!
― Bom dia! Eu me chamo Fábio, sou eletricista e vim a pedido da Rita. É aqui que mora a
Rebeca?
― Sim, só um momento que vou chamar minha mãe.

Rebeca, chegando ao portão, pediu para que o eletricista entrasse para ver o chuveiro. Já no
banheiro, Fábio notou algo errado.

― Olha, Rebeca, seu chuveiro queimou. Você está vendo aquele plug de tomada ali na parede?
Onde está ligando os fios do chuveiro. Aquilo não pode!

― Por que não pode? ― indagou Sarah.

― Não há tomadas residenciais que suportem a corrente elétrica exigida por um chuveiro
elétrico. Isso vai causar aquecimento na tomada ao ponto de ela derreter. Vai queimar o
chuveiro. Pode causar um curto-circuito e até mesmo um incêndio. Essa conexão tem que ser
feita direta. ― explicou Fábio.

― Moço, como faz para aprender sobre isso que o senhor está falando? ― perguntou Sarah.

― Deixa o rapaz trabalhar, Sarah. Fica incomodando com perguntas bobas...

― Não se preocupe, Rebeca, não tem problemas ela perguntar. Perguntar é bom. Certo, onde
fica o disjuntor da casa?

― Nem sei o que é isso! ― disse Rebeca.

― Vou no padrão lá fora, então, desligar, e vou arrumar esse chuveiro para vocês.

12
Após ter desligado o disjuntor e tirado a tomada que já estava começando a derreter, Fábio fez a
conexão direta dos fios do chuveiro. Descendo da escada, observou que Sarah havia ficado ali,
olhando atentamente tudo o que ocorria e o que ele fazia.

― Sarah, você tem interesse em saber quais os primeiros passos para iniciar sua jornada na
elétrica? E quais os cursos que te capacitam para exercer a função?

― Não sei! Estou curiosa para saber, na verdade. Mas não sei nem o que é isso e se é o que
quero.

Após a resposta de Sarah, Fábio notou a indecisão que ela tinha. Por alguns segundos, ficou pensativo
sobre o que poderia falar a ela.

― Olha, vou ter que trocar a resistência do chuveiro. Vou comprar uma nova e na parte da
tarde eu volto. Quando eu voltar, a gente conversa sobre isso. Depois que eu te mostrar a
estrada, cabe a você querer ou não andar por ela. ― disse à Sarah ― Ahhh! Mais um detalhe
para aguçar sua curiosidade que eu tinha esquecido. Por norma, há um item na NBR cinquenta
e quatro dez que proíbe o uso de tomadas em chuveiros. Não lembro de cabeça agora, mas
quando eu voltar te falo.

Depois daquela breve conversa com Sarah, Fábio foi embora e, à tarde, retornaria para trocar a
resistência. Quando ele foi embora, Sarah foi para seu quarto pensativa. Deitou-se na cama e
começou a roer as unhas pensando nas coisas que o eletricista tinha dito a ela. Sarah não sabia o que
queria, se iria gostar ou dar conta de prosseguir nessa nova jornada.

― Ted, quero muito ajudar a mamãe, quero dar uma vida diferente para ela. Fiquei muito
curiosa sobre a elétrica, mas não sei se vou dar conta, se é isso mesmo que eu quero para
minha vida. Ahhhhh, não sei que faço!

Já era por volta das 17h quando Fábio bateu palmas na casa de Rebeca para trocar a resistência do
chuveiro. Sarah estava no fundo do quintal brincando com Ted quando escutou as palmas e saiu
correndo para ver se era o eletricista que tinha chegado.

Sarah o chamou para entrar e Fábio se dirigiu até o banheiro para trocar a resistência. Após a troca,
testou o chuveiro para ver se estava tudo certo.

― Bom, o chuveiro agora está ok. Sempre que precisarem de alguém para fazer algo na
elétrica, chamem um profissional. Hoje em dia tem muito zé faísca ou predicista que pensa
que sabe fazer algo e só coloca a vida das pessoas em risco.

― Obrigado, Fábio. Quando chegamos já estava tudo assim. Também não entendemos nada
sobre isso. Quanto é o seu serviço? ― perguntou Rebeca.

― Não é nada! Rita me falou de vocês, que acabaram de chegar na cidade. Fica como um
sejam bem-vindas.

13
Sarah já estava agoniada, pois Fábio não havia tocado no assunto que lhe tinha prometido quando
voltasse. Rebeca o convidou para tomar um café. Nisso, Fábio pediu para Sarah sentar-se à mesa com
ele.

― Você quer saber mesmo sobre elétrica? Ahhh! Antes que me esqueça. Lembra que tinha
comentado sobre a norma do chuveiro pra você? Pois bem, até anotei aqui para não esquecer.
O item é o nove ponto cinco, ponto dois, ponto três da NBR cinquenta e quatro dez. Esse item
informa que a conexão de aquecedor elétrico de água ao ponto de utilização deve ser direta,
sem o uso de tomada.

― Entendi, e pra que serve essa norma? ― perguntou Sarah.

― Sarah, quando se fala em eletricidade ou qualquer assunto relacionado, o principal é a


segurança. Para os profissionais que atuam nessa área há recomendações, que são as NBR’s.

― A norma que eu tinha falado para você, que é a NBR cinquenta e quatro dez, estabelece
condições de segurança pra instalações elétricas de baixa tensão.

― É muita coisa que tenho que aprender para virar eletricista igual ao senhor? ― perguntou
Sarah.

― Olha, Sarah, a elétrica é um leque muito vasto de opções. Tem faculdade, cursos técnicos,
cursos profissionalizantes... É um mundo repleto de informações. É fácil se perder caso não
tenha um foco no que queira dominar. Muitos cursos andam de mãos dadas, cabe a você
decidir por qual caminho quer seguir.

Entre um gole e outro no café quentinho, Fábio continuou:

― Vou te informar sobre alguns cursos e depois vou te dar uma orientação sobre qual
caminho seguir. Sobre faculdade, friso a Engenharia Elétrica. Sobre cursos, bom... Tem
eletricista predial, técnico em eletrotécnica, CLP, comandos elétricos e... Deixa eu pensar... Ah
sim! Inversor de frequência. Acho que não esqueci nenhum.

― Nossa! É muita coisa, né?! Tenho que fazer todos?

― Depende de para qual caminho você quer ir. Vou separar em dois blocos os cursos para você
ter uma noção melhor. Para elétrica residencial, ahhh! Tem a NR-10 ainda!

― Sou obrigada a fazer tudo isso?

― Cada trajeto que seguir terá a linha de cursos necessários. Estudar nunca é demais, nunca
se esqueça disso! Voltando ao assunto dos cursos... Para a elétrica predial e comercial você
tem NR-10 e eletricista predial. Para industrial tem CLP, comandos elétricos, inversor de
frequência e eletrotécnica. Isso não é uma regra, é mais para você ter uma noção das coisas.

Nesse instante, Sarah estava paralisada, escutando cada palavra atentamente.

14
― Para finalizar, recomendo você iniciar pela NR-10. Ela é focada em segurança. Se gostar, vá
para eletricista predial e a partir daí você escolhe seu rumo. A faculdade recomendo depois
que tiver feito eletrotécnica. Vai conseguir extrair melhor o potencial dela. Isso que estou te
falando não é uma verdade absoluta, é apenas minha opinião e foi o caminho que percorri.

Depois de toda explicação dada a Sarah sobre os caminhos que ela poderia seguir, Fábio deixou com
sua mãe o endereço de um local que fornecia curso de NR-10 na cidade e se despediu delas. Naquela
noite, Sarah foi dormir tentando digerir todas aquelas informações recebidas. Era um mundo recém-
descoberto que ainda gerava muitas dúvidas.

No outro dia, Rebeca levou Sarah até o local para se informar sobre o curso de NR-10. Sarah ficou
animada com o curso, mas triste, ao mesmo tempo, por não terem dinheiro para pagá-lo. Rebeca,
vendo o quanto a filha queria fazer o curso, decidiu falar com Rita para pedir ajuda.

Quando Rebeca relatou toda a história para Rita, ela se dispôs a ajudar Sarah com o curso. Como as
aulas da Sarah iniciariam somente em um mês, ela teria tempo suficiente de fazer o curso e tomar a
decisão de seguir ou não por essa trajetória.

15
CAPÍTULO 02
O INÍCIO DA JORNADA

Rebeca ficou muito grata por Rita ajudá-las, pois as economias, que já não eram muitas, foram gastas
com a mudança em busca de uma vida melhor, já que, após o incidente ocorrido com Beto, Rebeca
não quis ficar mais onde viviam.

Empolgada para iniciar o curso de NR-10, Sarah não via a hora da semana terminar para iniciar o
curso. Chegado o dia, Sarah foi para a aula. Passadas algumas horas, ela voltou do curso muito
animada e foi correndo contar para sua mãe.

― Mãe, gostei muito da primeira aula! Mostraram algumas fotos de acidentes com elétrica e
pessoas mortas. Não tive coragem de olhar! Mas gostei muito mesmo da aula.

― Filha, é isso mesmo que quer? Você tem certeza? Eu preferiria que você estudasse algo
melhor! Isso não é para mulheres, filha!

― Mãe, já decidi! Vou terminar o curso!

Passados alguns dias, Sarah finalizou o curso. Por ter ob�do a melhor nota na avaliação final, ganhou
uma surpresa da ins�tuição. Quando Rebeca chegou, Sarah foi correndo contar a ela a novidade.

― Mãe!!! Mãe!!! Ganhei uma bolsa para fazer outro curso.

― Ahn?! Que curso, menina? Desembucha logo!

― Ganhei uma bolsa de eletricista predial de dois meses. O curso vai ser à tarde. Como vou
estudar de manhã, não vai ter problema. Você tem que assinar uma declaração para eu poder
fazer o curso porque sou de menor ainda. Por favor, mãe, assina?!

― Não sei, Sarah. Vou pensar no seu caso até amanhã. Vai arrumar seu quarto!

16
De tanto Sarah insistir para sua mãe assinar a declaração, Rebeca acabou cedendo e o curso se iniciou
com uma aluna mais do que empolgada. No decorrer desses dois meses até o dia da conclusão do
curso, Sarah havia aprendido sobre os conceitos fundamentais da elétrica, execução e reparos, entre
outras coisas.

Em seu aniversário, Sarah tinha ganhado de Rita um alicate amperímetro e um pequeno estojo com
algumas ferramentas básicas para iniciar seus trabalhos. Ela estava animada, tinha acabado de
finalizar o curso e já queria trabalhar na área.

Começou a procurar trabalho, mas a vida logo tratou de apresentar alguns obstáculos a ela. Por mais
que ela procurasse, nenhuma empresa dava oportunidades a ela. Sarah era muito jovem, havia
recentemente completado 15 anos, era mulher e não tinha experiência.

Passadas algumas semanas de procura sem sucesso, Sarah estava triste e desanimada, pensando que
tinha errado em sua escolha. Vendo a tristeza da filha, Rebeca resolveu chamar Fábio para poder
conversar com ela. Quando ele veio na parte da manhã fazer uma visita a Sarah, ela estava na escola
e sua mãe aproveitou a ausência da garota para contar o que ocorreu com ela.

Quando chegou do colégio, Sarah encontrou Fábio na cozinha junto com Rebeca, que estava
preparando o almoço, e ficou feliz em revê-lo depois de tanto tempo.

― Sarah, sua mãe me contou que está tendo problemas em arrumar trabalho e que anda triste
por isso. Deixa te falar algumas coisas... Dificuldades sempre vão existir. Não pode desistir ou
desanimar no primeiro obstáculo. Você é muito nova ainda, tem uma longa jornada pela
frente. E outra, não há só trabalho de carteira assinada. Você pode empreender também.
Trabalhar por contra própria e, quem sabe, até abrir uma empresa.

― Estou insegura para trabalhar por conta própria. Tenho medo de não conseguir fazer o
serviço e vergonha de falar com as pessoas. ― disse Sarah.

― Se não nos expormos ao medo e o enfrentarmos, sempre seremos dominados. Ser refém do
medo nos priva de muitas coisas na vida, principalmente do nosso crescimento e das
oportunidades. Você tem apenas duas escolhas: ficar choramingando, se vitimizando, deixar
o medo tomar o controle de suas ações e continuar como está, ou encarar suas
responsabilidades e ser responsável pelas suas ações.

― Pensei que fazendo o curso eu iria crescer rápido, mas foi só uma ilusão. É tudo muito difícil.
Tô me sentindo uma inútil.

― Olha, caso sua mãe aceite, tenho uma proposta para você que vai ajudar. Você pode ficar
por um tempo comigo, estagiando na parte da tarde. Além de pegar experiência, vou te
ensinar algumas coisas sobre empreender... Ahhh! Um detalhe: sem remuneração! ― disse
Fábio.

17
Rebeca ficou de pensar sobre a ideia proposta por Fábio. Após ele ter ido embora, ela se decidiu a
conversar com Rita primeiro, para ver se o eletricista era confiável, pois, enquanto o conhecia há
pouco tempo, Rita já era amiga dele de longa data.

Após alguns dias, Rebeca já havia conversado com Rita sobre o assunto. Recebeu da amiga boas
referências sobre Fábio. Mesmo não remunerada, Sarah queria aprender mais e ganhar experiência.
Então Rebeca aceitou a proposta, desde que Sarah não faltasse às aulas da escola e antes das 17h
estivesse em casa.

Acertados os detalhes, Fábio ficou de passar depois do almoço para levar Sarah ao seu primeiro dia
de estágio. Ele iria instalar uma partida direta em um hotel. Quando Fábio chegou, Sarah já o
aguardava ansiosamente.

― Preparada? Hoje vamos instalar uma partida direta em um cliente. O que vamos fazer faz
parte de um curso de área industrial, sabe qual é?

― Sim, comandos elétricos, né? Ouvi falar dele no curso que fiz.

Depois de algumas horas no cliente, terminaram a montagem da partida direta. Sarah ficou
encantada com o comando. Queria muito aprender comandos elétricos, mas na cidade não tinha o
curso. Foi quando Fábio falou algo para ela que soou como música aos seus ouvidos.

― Quer realmente aprender comandos?

― Muito!

― Pois bem... Amanhã vamos fazer uma visita técnica em um condomínio. Leve caderno e
umas canetas para você anotar. Vou te ensinar o que sei sobre comandos elétricos.

Sarah chegou muito empolgada em casa com o seu primeiro dia de estágio. Enquanto sua mãe estava
dando banho em Ted, ela contava as novidades com brilho nos olhos. Estava começando a ganhar
experiências e aprender coisas novas – principalmente para que, no futuro, pudesse ajudar sua mãe.

No outro dia, como Fábio havia falado, foram a um condomínio. No decorrer do caminho, Fábio
instruiu Sarah a respeito do que ela iria aprender em comandos elétricos.

― Sarah, para aprender comandos, antes você precisa aprender algumas coisas para ter um
melhor aproveitamento. Podemos dividir comandos em três blocos: carga, circuito de força e
outro de controle. O circuito de força é onde as cargas se encontram, tipo motores elétricos.
O circuito de controle é a lógica por trás dos acionamentos dessas cargas e a carga em si é o
estudo dos motores. Entendeu, Sarah, as diferenças?

― Entendi. Então tenho que aprender a lógica do comando primeiro?

― Não. Primeiro você tem que estudar a carga, o motor elétrico. Entenda como ele funciona
primeiro, veja suas características e depois, sim, vá para o circuito de força e depois comando.

18
― Então o que devo primeiro aprender é motores elétricos, depois circuito de força e por
último comandos?

― Quase isso Sarah! Abra o porta-luvas e pegue uma folha que está aí. Eu anotei o seu roteiro
de aprendizado para não esquecer nada.

― Entendi. Pelo que você escreveu, vou aprender primeiro eletromagnetismo básico. Depois
motores elétricos. Os principais dispositivos de proteção e os diagramas elétricos.

― Isso! Já escreve em seu caderno tudo! Já estamos chegando. Hoje vamos falar com o
proprietário da casa. Vamos elaborar um orçamento e amanhã vamos dar início na sua
jornada.

Quando chegaram, Fábio foi conversar com o cliente. A casa já estava pronta para receber a fiação
elétrica. Após alguns minutos de conversa, o cliente informou que não tinha nenhum projeto elétrico
da casa.

― Sarah, vem aqui! Acompanha o cliente. Faz um desenho da casa e o levantamento de carga.
Anota onde vai ficar os interruptores, tomadas, se é dupla ou não, anota tudo.

Após ter anotado todas as informações necessárias para a realização do projeto e orçamento,
retornaram para casa.

― Sabe fazer orçamento? ― perguntou Fábio.

― Uai! Não é só contar os pontos e passar o preço na hora para o cliente?

― Não exatamente! Quando você faz isso, passa a impressão de amadorismo. Há uma
exceção à regra. Quando o serviço é pequeno pode dar o preço na hora. Sabe dar preço em
seus serviços?

― Sei ligar uma tomada, isso ajuda?

― Já vi que vai me dar muito trabalho. Acho que você deveria é me pagar para te ensinar!
Mais pra frente vou te dar um modelo de orçamento. Uma base para você saber quanto cobrar
pelo seu serviço.

Fábio deixou Sarah em casa e foi embora elaborar o orçamento para seu cliente. No dia seguinte
iriam em uma serralheria a uns 5km da cidade. Quando entrou na cozinha, Rita estava com Rebeca,
conversando. Toda animada Sarah foi contar nas novidades para elas.

― Aproveita muito essa oportunidade Sarah. Mesmo que não esteja ganhando nada agora.
No momento o que importa é o conhecimento que está tendo. Não é demérito você, mesmo
com o curso, estar estagiando sem ganhar nada. Tenha sempre humildade! ― disse Rita.

― Pode deixar, tia! Depois ele vai me ensinar a fazer orçamento e como vou cobrar pelo meu
serviço. Ahh! Amanhã vamos numa serralheria.

19
― Fábio é muito gente boa e inteligente. Siga os conselhos dele e anote tudo. ― disse Rita.

― Mas é para estudar também, Sarah. Se você começar ir mal na escola, te quebro no pau e
te tiro dessa brincadeira sua, entendeu?

― Estou me dedicando, mãe!

Chamando Ted, Sarah foi para seu quarto enquanto Rebeca ainda ficou algum tempo conversando
com Rita antes de ir embora. Ao amanhecer, Sarah foi para a escola e Rita para sua diária de faxineira.

20
CAPÍTULO 03
HORA DE APRENDER
ELETROMAGNETISMO BÁSICO

Logo após o almoço, Fábio passou na casa de Sarah para buscá-la e irem a serralheria aonde iriam
fazer uma visita-técnica.

― Sarah, vamos iniciar seu treinamento por eletromagnetismo básico. É fundamental que
saiba ao menos o básico para que entenda o funcionamento dos motores elétricos. Presta
atenção no que vou te falar! Anote tudo! Se só ficar escutando, vai esquecer tudo que eu falar.

― Tá! Já tô com meus cadernos para anotar tudo.

― Abra o porta-luvas e pegue duas folhas que estão aí. Fiz alguns desenhos para você
entender minha explicação. Boa parte vai ser desenhado à mão, outras digitadas, então se
acostume com os meus desenhos. Vamos começar a falar sobre o magnetismo. A maior parte
dos equipamentos atuais dependem direta ou indiretamente do magnetismo. Sem
magnetismo, nada elétrico existiria.

― De onde surgiu o magnetismo? ― perguntou Sarah.

― Pelo que a história nos conta, surgiu na Ásia Menor. Numa região chamada Magnésia, no
oeste da Turquia. Lá, os gregos acharam umas pedras que atraiam pedaços de ferro. O nome
da região deu origem ao termo magnetismo.

Fábio gostou do interesse de Sarah e da sua curiosidade.

― Agora, Sarah, vamos falar sobre os imãs. Na folha, tem um imã e um ímã elementar. Dá
uma olhada neles. Todo ímã tem dois pólos, norte e sul. Nas suas extremidades há uma maior
interação magnética.

21
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.
― Entendi, então, se eu quebrar ele no polo norte, vou ficar com dois nortes?

― Não exatamente. Olha o desenho do ímã elementar. Esse nome se dá porque, mesmo
quebrando em inúmeros pedaços até chegar na última molécula, que é o ímã elementar, vão
existir dois pólos.

VISÃO DE SARAH.

― Na outra folha, está o desenho da Terra. O cientista inglês William Gilbert, por volta de
1600 a.C., afirmou que a Terra se comportava como um gigantesco imã. O legal é que, se você
pegar uma bússola, o Norte dela vai apontar para o Sul da terra.

22
VISÃO DE SARAH.

Como já estavam próximos de chegar à serralheria, Fábio interrompeu as explicações. Ao chegarem,


foram conversar com o cliente. Na serralheria, havia um equipamento para cortar troncos de árvores.
Devido ao quadro de comando ser antigo e quase sem manutenções preventivas, acabou sendo
danificado por um curto interno.

Uma contatora do comando estrela triângulo travou criando um curto-circuito, o que fez o quadro
pegar fogo. Fábio foi coletar informações para desenvolver um novo projeto de comandos elétricos
para o equipamento. Sarah ainda não entendia como pegar as informações, então só acompanhou.
Após pegar todas as informações necessárias, voltaram para a cidade.

― Quando chegar ao final do seu treinamento comigo, será capaz de desenvolver comandos
assim. Mas, até lá, anote tudo e preste muita atenção. Até chegarmos na cidade, dá tempo
de te ensinar mais um pouco. Vou falar sobre campo magnético de um ímã. Tem uma folha
com um imã e linhas em volta dele, dê uma olhada.

Sarah observava atentamente os desenhos e ouvia tudo com cuidado.

― Campo magnético é a região ao redor do ímã, onde ocorre uma força magnética de atração
ou repulsão. Essas linhas que você está vendo são conhecidas como indução magnética ou
fluxo magnético.

VISÃO DE SARAH
23
VISÃO DE SARAH.

― Por ser algo invisível aos nossos olhos, convencionou-se que o sentido das linhas é o
seguinte: sai do pólo norte e entra no pólo sul, e sai do sul e entra no norte por dentro do ímã.

Sarah sequer piscava. Anotava com afinco e parecia correr contra o ritmo da fala.

― Vai anotando Sarah, depois você passa a limpo as anotações. Anota o que vou falar agora
sobre algumas características das linhas de campo. Escreve aí! Primeiro: são sempre linhas
fechadas, saem e voltam a um mesmo ponto. Segundo: as linhas nunca se cruzam. Terceiro:
fora do ímã, as linhas saem do pólo norte e se dirigem para o polo sul.

― Pera aí! Tá falando muito rápido!

― Certo, então já pega o quarto aí: dentro do ímã, as linhas são orientadas do pólo sul para o
polo norte. Quinto: saem e entram na direção perpendicular às superfícies dos polos. Último:
nos pólos, a concentração das linhas é maior, fazendo com que o campo fique mais intenso.
Alguma dúvida até aqui?

― Não! ― respondeu Sarah, muito obstinada.

― Legal! Agora vou te falar um pouco sobre a interação magnética entre ímãs. Aqui não há
mistério, na verdade nem tem muito o que falar. O desenho na folha já é autoexplicativo. Ímãs
do mesmo nome se repelem e de nomes opostos se atraem.

24
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Vamos para o último tópico de hoje que já estamos quase chegando e ainda vou deixar
você em sua casa antes de resolver umas pendências pessoais. O assunto final é campo
magnético uniforme. Pega a folha que está desenhado um ímã em forma de ferradura, ou U,
se achar melhor. Você está vendo onde as linhas de indução são retas, paralelas igualmente
espaçadas e orientadas?

25
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Sim!

― Então! O campo magnético uniforme é aquele em que o vetor de indução que é o B tem o
mesmo módulo, a mesma direção e o mesmo sentido em todos os pontos.

― Deixa ver se entendi, tá? Uniforme porque o módulo e as setinhas das linhas de campo
estão indo para a mesma direção? ― perguntou Sarah.

― Sim, e paralelamente espaçadas. Na prática, não há um campo uniforme assim. Se você


observar no outro desenho, nas bordas do campo onde as linhas estão um pouco curvadas,
isso se chama espraiamento.

VISÃO DE SARAH.

26
― Bom, Sarah, finalizamos por hoje. Depois em casa vou preparar a outra parte. Está
gostando? Alguma dúvida?

― Estou sim, está fácil até agora. Mesmo os desenhos não sendo os melhores, dá para
entender.

― Para a sua informação, minha jovem, quando escrevemos ou desenhamos algo no papel,
nosso cérebro absorve melhor o conteúdo, viu?!

Chegando em casa, Sarah foi cuidar dos seus afazeres. Sua mãe ainda não tinha chegado e Fábio foi
resolver suas questões pessoas. Entrando pela noite, Sarah estava reflexiva em seu quarto com Ted,
a quem amava muito, pois foi seu pai, que não estava mais entre elas, quem tinha dado a ela. Beto
já tinha falecido há quase um ano.

― Ted, sinto muita falta do papai. Mas um dia darei uma vida boa para mamãe e ajudarei
muitas pessoas. Você vai ver!

Como era sexta-feira, Fábio passaria só na segunda-feira. Nesse dia ele não tinha trabalho, apenas
iria ver o preço de alguns materiais para fazer o orçamento. Fábio gostava de tirar os finais de semana
para a família, evitando trabalhar. Só em casos de urgência ele renunciava à regra.

Na segunda-feira, Fábio passou na casa de Sarah para buscá-la no horário combinado.

― Você nunca se atrasa não? ― perguntou Sarah.

― Deixa eu te explicar uma coisa, anota aí! Quando alguém se atrasa, está desrespeitando o
tempo do outro. Ser pontual é respeitar a outra pessoa e o tempo dela. Tempo é a coisa mais valiosa
desse mundo.

― Uai! Desculpa aí, então!

― Já vi que tem muito o que aprender, mocinha, mas cola em mim que é sucesso. Hoje só vou
ver o preço de uns materiais. Até lá, já está na hora do lanche e nessa parada de tempo te
ensino mais.

Passando algumas horas, Fábio levou Sarah para lanchar e aproveitou o momento para ensiná-la mais
um pouco.

― Morar em cidade pequena às vezes quebra as pernas. Algumas coisas são muito caras, é
doido! Pega suas coisas lá e vamos estudar. Vamos falar de fluxo magnético e agora vão entrar
fórmulas matemáticas. Até esqueci: volta lá no carro e pega as folhas que está no porta-luvas,
fazendo o favor!

Sarah seguiu as instruções como foi dito e voltou com os papéis cheios de mais rabiscos.

27
― Aqui! Essa folha! Dê uma olhada na fórmula ― disse Fábio.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― O fluxo magnético é o conjunto das linhas que saem do pólo norte e vai para o sul. O fluxo é
simbolizado pela letra grega fi. O fi determina a quantidade de linhas de campo que atinge uma área.
Isso perpendicularmente!

A menina olhava para tudo e parecia, ao mesmo tempo, entusiasmada e hesitante.

― Como o fluxo magnético é uma grandeza, Sarah, ele pode ser medido. No SI que é um
Sistema Internacional de medidas, a unidade de medida é Weber. Cada weber corresponde a
um vezes dez elevado a oito linhas de campo magnético. Confuso ou entendendo algo, Sarah?

― Vai ter muita conta de matemática difícil?

― Não! Mas é bom ter uma boa base matemática. Aproveita bem a escola pra aprender,
certo? Nessa outra folha, tem três desenhos. A, B e C. No A, o vetor n está inclinado em relação
ao vetor B. Quando isso acontecer, vai passar menos linhas de campo. No desenho B, o ângulo
é zero, então o fluxo é máximo e no C, o ângulo é noventa graus, com isso não vai atravessar
nada. ― explicou Fábio.

28
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Qual é o objetivo desses desenhos? ― Perguntou Sarah.

― Para você entender o que vou falar agora, que é sobre um esquema de alternador, você
precisava entender como funciona o fluxo magnético. Olha aqui... Está vendo esse esquema?
Essa armadura é como os vetores acima. Conforme ele gira, tem o surgimento de uma tensão
e a cada giro o ciclo altera. Tá vendo as alterações no gráfico? ― perguntou Fábio.

VISÃO DE SARAH.
VISÃO DE SARAH

― Entendi! A tensão vai até o coletor, né?

29
― Sim! Essa foi uma explicação básica para você poder entender como surge a tensão no
alternador e sobre o fluxo magnético. Com o tempo, você pode buscar em livros o
aprofundamento desses assuntos. Estudar nunca é demais.

Sarah parecia concordar com essa visão. Especialmente desde que viu sua mãe naquela situação
triste, passou a enxergar os estudos com outros olhos.

― Bom... Vou ver aqui o que ainda tem para falar... Ah, sim! Densidade do fluxo magnético!
A densidade de fluxo magnético é o fluxo magnético por unidade de área de uma seção
perpendicular ao sentido do fluxo magnético. Meio doido isso, né?! Às vezes vão aparecer uns
nomes meio estranhos, mas não se preocupe: o importante é você entender o contexto.

VISÃO DE SARAH
VISÃO DE SARAH.
― O símbolo da densidade é B... Na fórmula que você está vendo, nota que tem um T? Esse T
é chamado tesla, que até tinha esquecido de mencionar na fórmula anterior. Porque a unidade
B é webers por metro quadrado e um weber por metro quadrado é chamado tesla.

Fábio era um tutor empolgado. Vendo o interesse e as anotações frenéticas de Sarah, não diminuiu
o ritmo:

― Está vendo esse imã com umas setas com B nelas? Esse B é uma grandeza vetorial. Onde
as linhas de campo são mais próximas umas das outras, B terá alto valor; onde são afastadas,
B será pequeno.

30
VISÃO DE SARAH.

― Agora vem algo legal! Vou te falar um pouco sobre permeabilidade magnética. A
permeabilidade magnética é a capacidade que um material tem de deixar as linhas de campo
atravessarem ele. O vidro ou o cobre não são magnéticos. Se você colocar eles na região onde
há linhas de campo, mal vai notar a alteração das linhas. Já os materiais magnéticos, como
ferro doce, retêm uma maior concentração de linhas magnéticas. Assim percorrem no ferro
ao invés de distorcerem pelo ar como está vendo no desenho.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

31
― Quando você quer blindar um instrumento elétrico que é muito sensível e ele não pode ser
afetado por algum campo magnético, é feito dessa forma aí que você está vendo no desenho.
― informou Fábio.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Se tiver um monte de matérias com a mesma dimensão física, a intensidade das linhas vai
variar. Essa variação nós chamamos de permeabilidade magnética. Pra você ter uma ideia,
tem o vácuo, né? Pega ele como base para você entender. Materiais não magnéticos têm a
sua permeabilidade próxima do vácuo. Os que têm um pouco abaixo do vácuo são
diamagnéticos e o que são milhares de vezes acima do vácuo são ferromagnéticos.

― Que legal! Muita informação para anotar. Minha mão está doendo já. Espero entender
minha letra depois.

― Ao menos você está evitando minha fadiga de ficar repetindo. Pede mais um suco de laranja
e vamos descansar uns 5 minutinhos, ok? Está gostando, Sarah, do ensinamento? Ou está
difícil? Esse é só o início... O divertido está mais pra frente.

― Estou sim, está começando a ficar mais legal. No começo é meio chatinho, mas preciso
aprender, né? Paciência... E você vai me dar o certificado?

― Deixa te falar minha opinião sobre certificados. Certificado é bom? Sim! Certificado define
um profissional? Não! Muita gente é fissurada em certificado, empilha trocentos certificados
e não domina nada, só para inflar o ego. Não é o certificado que vai te classificar como um
mal profissional ou bom e sim sua capacidade de solucionar problemas. Foque no
aprendizado, aprenda e principalmente, pratique!

Tudo aquilo parecia fazer muito sentido pra Sarah.

32
― Conhecimento não é poder, Sarah! Você pode ser um gênio, mas, se não executar, nada
vai adiantar. Grave isso em seu coração, minha jovem.

― Entendi. Conhecimento mais execução é igual a sucesso!

― É! Mas tem uns outros ingredientes também. No decorrer da sua caminhada, você vai
aprendendo. Deixa eu beber uma água aqui que minha boca já está seca igual língua de
papagaio!

Depois de uns longos goles, Fábio já parecia capaz de dar mais uma série imensa de lições.

― Retomando o assunto! Na folha, tem a permeabilidade no vácuo e a relação da


permeabilidade de um dado material com a permeabilidade relativa.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Vamos para a relutância magnética agora, que nada mais é que a tentativa ou oposição de
estabelecer um fluxo magnético no seu interior. ― explicou Fábio.

33
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Só tem que prestar atenção a um detalhe. A relutância é inversamente proporcional à área.


Se você aumentar a área, reduz a relutância, causando o aumento no fluxo magnético. O
mesmo acontece para a permeabilidade magnética: a relutância é inversamente proporcional
a ela. Quanto maior a permeabilidade, menor a relutância.

― Então se tiver dois matérias de permeabilidades diferentes, as linhas de campo vão para o
de menor permeabilidade? ― perguntou Sarah.

― Exatamente! Uai, tá ficando esperta, hein?! Gostei de ver!

Os olhos de Fábio até brilharam, verdadeiramente feliz em ver a evolução rápida de Sarah.

― Bom, agora vamos mudar um pouco, vou falar sobre eletromagnetismo... O


eletromagnetismo é o estudo da coexistência entre as forças da eletricidade e do magnetismo
como um fenômeno único. Resumindo, onde tiver movimento de cargas elétricas, o
magnetismo vai estar presente. Só um adendo rápido: não tem muito que falar aí. Agora irei
falar do campo magnético de uma corrente elétrica.

Sarah também ficou muito motivada ao ver a reação animada de Fábio e se mostrava cada vez mais
determinada.

― Se pegarmos uma bússola e colocar ela perto de um fio que conduz corrente elétrica, a
agulha da bússola sofrerá uma deflexão. Um movimento indicando que ali no fio há um campo
magnético ― continuou Fábio. ― Se a corrente for intensa, o movimento da agulha será
maior. Isso acaba ocorrendo porque o campo depende da intensidade da corrente. Se a
corrente inverte, a agulha inverte, pois o campo depende da corrente. Lembrando, a agulha
se move por causa do campo.

34
― A elétrica é mesmo incrível! ― exclamou Sarah.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― É verdade! E quem descobriu o que acabei de te explicar foi o físico dinamarquês Hans
Oersted, em 1820.

― Como você consegue me falar tudo isso? ― perguntou Sarah.

― Simples, Sarah, quando alguém domina muito um assunto e gosta de transmitir


conhecimento, se torna fácil ensiná-lo. Pois quanto mais você ensina, mais aprende.

― Quando eu crescer, quero ser igual você.

― Estude muito e pratique. Nunca tenha medo de transmitir seu conhecimento para as
pessoas. Entregue tudo o que sabe. Quando faz isso, você aprende muito mais. Sempre tenha
humildade de reconhecer que você nunca sabe tudo e que sempre tem alguém melhor que
você, ok?

Parecia o tipo de ensinamento que Sarah levaria mesmo para a vida. Ela, inclusive, tomou nota
também desse ensinamento.

― Vamos seguir adiante, então, para campo magnético de um condutor retilíneo. O campo
produzido pela corrente elétrica no fio depende basicamente de dois fatores, Sarah: a
intensidade da corrente elétrica e a distância do fio. Por um lado, quanto maior a corrente,
maior o campo, certo? Por outro lado, quanto maior a distância do fio, menor o campo
magnético. E as linhas de campo são concêntricas e orientadas. Tendo o centro o próprio fio,
como está vendo no desenho.

35
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― E como eu vou saber o sentido das linhas de campo, se não dá para ver?

― Boa pergunta, minha jovem! Creio que o senhor André Ampère teve a mesma dúvida que
você. Por isso que ele criou a regra da mão direita. Considerando o sentido convencional da
corrente elétrica.

36
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Não olhe com essa cara de desdenho para meu desenho, não. Mais bonito que isso é
impossível!

― Falei nada, uai!

― O polegar indica o sentido da corrente e os outros dedos indica o sentido do campo


magnético. Vamos fazer uma analogia agora para você entender o sentido das linhas de
campo ou vetor perpendicular a um plano. Pegue essa folha, levante ela na altura dos seus
olhos e estique o braço. Sabe o que é uma flecha de índio, né? Pois bem, se você atirar a flecha
no sentido da folha, ela vai entrar na folha e você vai ver somente a parte de trás dela, certo?

37
― Sim!

― Esse é o sentido da corrente entrando no plano que você está vendo no desenho com um X
no meio.

VISÃO DE SARAH.

― Agora, se o índio ficou grilado com você por ter atirado a flecha nele, ele manda outra de
lá para cá em você. Você vai ver a ponta da flecha, certo? Esse é o sentido do campo quando
a corrente está saindo do plano.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.
― Conseguiu entender?

38
― A regra da mão direita é para ver o sentido da corrente elétrica e o sentido das linhas de
campo, certo? E a flecha para ver o sentido das linhas de campo em modo vetor? ― perguntou
Sarah.

― Isso! Vejo futuro em você, hein?! Nossa, nem vi a hora passar! Vamos embora senão sua
mãe vai me engolir vivo se eu chegar depois das dezessete com você lá.

Fábio levou Sarah para sua casa e informou que, no dia seguinte, iriam levar o orçamento da casa do
condômino para o cliente. Quando chegou em casa, Sarah pegou Ted e foi andar com ele na praça
um pouco para refrescar as ideias. Ao voltar, já encontrou sua mãe em casa.

― Filha, como está o aprendizado com o Fábio? Ele está te tratando bem?

― Estou aprendendo muito com ele, mãe. Ele é muito legal comigo, não se preocupe.

― Filha, aproveita muito. Porque não está fácil para a gente, estou trabalhando em 3 casas
para sustentar a gente. Já que foi esse o caminho que quis, aproveita cada segundo, cada
oportunidade.

― Eu juro para você, mãe, que um dia vou te dar uma vida diferente dessa. Vou ajudar muitas
pessoas ainda.

― Eu acredito em você, filha!

Depois de algumas horas, Sarah foi deitar para ir dormir. Mas algo a incomodava, ela não sabia o que
era. Queria fazer algo grande, queria ajudar as pessoas, sua mãe, mas não sabia o que fazer. Não
sabia o que pensar sobre tal futuro e, nesse processo de reflexão, acabou sendo dominada pelo sono.
No dia seguinte, Sarah já tinha voltado da escola quando Fábio apareceu.

― Sarah! Sarah! ― gritou Fábio, chamando a menina no lado externo do portão.

― Indoooo!

Sarah entrou no carro e seguiram para o condomínio, onde Fábio iria entregar o orçamento
pessoalmente ao seu cliente.

― Bom, pega aqui na mochila um modelo de orçamento. Na ida falarei um pouquinho sobre
ele. Não tem muito o que falar, já é autoexplicativo. Preferi imprimir e te dar uma cópia que é
melhor do que te falar. Sabe mexer com computador?

― Sei um pouco, mas estou aprendendo na escola.

― Muito bem! Em pleno dois mil e onze é muito importante você ter conhecimento em
informática. Cada dia mais ir aprendendo porque novos softwares vão surgindo. Se não souber
mexer, vai perder dinheiro.

― Uai! Se você tem computador em casa, porque não imprime os desenhos pra mim?

39
― Primeiro, porque iria ficar muito fácil para você. Segundo e o mais importante: você aprende
algo escrevendo à mão. Só ver não retém em sua memória por muito tempo a informação.
Quando escrevemos no papel ou desenhamos algo, a retenção da informação dura muito mais
e você aprende. Mas voltando ao assunto do orçamento... Só muda onde está sublinhado.
Preenche os dados onde estão os Xs, certo? Antes de falar sobre a logo, deixa eu te fazer uma
pergunta. Você já pensou em abrir seu próprio negócio ou pretende trabalhar para os outros?

40
VISÃO DE SARAH.

41
VISÃO DE SARAH.

42
VISÃO DE SARAH.

43
― Nunca pensei sobre isso. Sou muito nova ainda...

― Sarah, quanto mais nova, melhor é, que tem mais tempo de errar e corrigir depois. E há
duas coisas que podem te dar liberdade financeira: empreender ou ser um investidor. Fora
isso, esquece. O caminho do empreendedorismo é o caminho mais rápido, teoricamente. Isso
não quer dizer que você abre uma empresa hoje e amanhã está rica. Depende de vários
fatores...

― Eu não sei ainda. Não conheço nada disso. Mas vou pensar sobre trabalhar como
autônoma.

― Pense sobre isso! Sobre a logo, caso queira empreender, vai precisar de um nome para sua
empresa. Já estamos chegando, mas na volta falo mais um pouquinho sobre a logo para você.

Fábio pediu para Sarah esperar no carro, que logo voltaria. Só iria entregar o orçamento nas mãos do
cliente e iria para uma indústria ver uma máquina de britadeira para analisar seu painel de comandos
elétricos. Passados alguns minutos, Fábio retornou para ir com Sarah à indústria.

― Vamos na indústria ver uma máquina. Cliente quer que eu analise um quadro de comandos
antigo de uma britadeira. E vai abrindo a mente, viu? Já dizia em provérbios que quem anda
com sábio, ficará sábio e quem anda com tolo será destruído. Vai anotando os pontos
importantes. Queria eu na sua idade ter alguém para me instruir assim. ― disse Fábio, um
tanto nostálgico. ― Se for criar uma empresa, crie um nome que condiz com que vai fazer. Um
nome que chame a atenção, encante, que fique gravado na mente do cliente. Não um nome
cagado que ninguém consegue entender ou que tenha seu nome no meio, viu?!

― Entendi, vou pensar sobre essas coisas que você está me falando depois. Sou muita grata
por estar me ensinando...

― Sempre seja grata as pessoas que te ajudam. Mas voltando ao orçamento... No item seis,
você vai especificar o que vai fazer. Se é só mão de obra ou se tem equipamentos que vai
vender ou se é um trabalho fechado só com o valor total. Recomendo que coloque o valor total
sem especificar cada item. Caso for embutir o equipamento no orçamento, coloque de dez a
trinta por cento sobre o valor total do equipamento. Mais que isso, vai perder o cliente.

― Não entendi essa última parte.

― Exemplo: na casa que acabamos de sair agora, fiz o orçamento e pedi dois mil reais só de
mão de obra. E os materiais ficam por conta do cliente. Caso o cliente fale para eu comprar os
equipamentos, eu vou comprar. Se uma tomada custa dez reais, eu jogo trinta por cento em
cima do preço da tomada. O valor total da tomada vai ficar treze reais, faz isso para todos os
itens e coloca o valor total no item seis do orçamento. Coloca todos os equipamentos que vai
comprar. Mas sem listar o preço de cada um: o preço você coloca no total.

― Entendi!

44
― Mais para frente, vou te ensinar uns dois meios de precificar seu trabalho e, com o tempo,
você vai ajustando ao seu uso. Estamos chegando já.

Chegando na indústria, Fábio aguardou um pouco até o responsável pela manutenção chegar. Depois
de alguns minutos, foram recebidos pelo cliente que os levou até o quadro de comando da britadeira.

Conversando com o cliente sobre o funcionamento do equipamento por alguns minutos, coletou
algumas informações e saíram.

― Sarah, ainda temos um tempo. Vamos lanchar e depois te levo para casa. Você viu aquele
emaranhado de cabos no painel? Estava uma bagunça! ― exclamou Fábio.

― Eu vi e não entendi nada. Fio para tudo que é lado...

― Não se preocupe: no futuro, vai entender e desenvolver projetos. Apenas se esforce, estude,
busque conhecimento e pratique. Ali eu vou ter que fazer um retrofit. Retrofit é uma melhoria
em algo antigo. Vou ter que refazer todo aquele sistema.

― Como vai fazer isso? ― perguntou Sarah.

― Por sorte eles ainda têm o projeto, aí fica mais tranquilo. Só seguir o projeto. Caso não
tivesse, era mais complicado. Teria que analisar todo o quadro, todo o funcionamento da
máquina, e desenvolver o projeto. Quando chegarmos à panificadora, vou te passar mais um
pouco de conteúdo. Já está quase acabando a primeira parte, que é eletromagnetismo básico.
― completou Fábio ― Depois vai ficar mais legal, porque vai aprender sobre motores. Hoje
você teve muita informação, hein, Sarah?! Digamos que uma overdose de informações...

― Estou com minha mão doendo de tanto escrever. Espero que eu entenda minha letra,
escrever dentro de um carro não é fácil...

― Todos querem ser importantes, ganhar dinheiro, mais ninguém quer pagar o preço. Todos
só querem! Só querem! Só querem! Parecem um bando de parasitas. Mas não querem pagar
o preço. Existe uma lei imutável que está na Bíblia, você colhe o que planta. Hoje você está
plantando a semente do conhecimento. Lá na frente ela vai te dar bons frutos. Pega essa
mochila aí e suas coisas e vamos tomar um café ― disse Fábio. ― Pede aí o que você quer,
porque agora o bicho vai pegar. Vamos falar de campo magnético de um solenóide.

― Não há muito que comentar sobre solenóide. Basicamente é uma bobina que consiste em
um fio enrolado várias vezes em forma cilíndrica. Pois, nesse formato de enrolamento, o
campo produzido pela corrente será muito maior.

45
VISÃO DE SARAH.

― A intensidade do campo depende de umas coisinhas, como as dimensões da bobina, o


número de espiras e o comprimento e o material de que é feito o núcleo, se é ar ou ferro, e a
intensidade da corrente. Pouca coisa, né? Ahhh! Nos solenoides com núcleo de ferro, o campo
é mais intenso do que com núcleo de ar. Sabe o porquê disso, Sarah?

― Deixa eu pensar! Pelo que você já me ensinou, a permeabilidade do ferro é muito alta, e do
ar não. Com isso, o campo tem facilidade de passar pelo núcleo do solenoide, é isso?

― Muito bem! Continue assim que logo, logo vai estar desenvolvendo projetos e fazendo
manutenções por aí com sua empresa. Nunca pare de desenvolver sua mente. O próximo
assunto é meio complicadinho, mas não é um bicho de sete cabeças. Tentei desenhar uma
mão. Espero que entenda.

― É... Ainda bem que não é desenhista, senão ia passar fome.

― Uai! Perdendo o medo, já? ― falou bem-humorado ― Bora continuar que agora vou falar
da força eletromagnética sobre um condutor retilíneo. Olha, esse é o penúltimo assunto.
Depois acaba essa fase e iremos para a segunda. Lembra do imã em formato de U ou
ferradura? Se pegarmos ele e colocarmos um fio entre seus pólos ligado a uma fonte, haverá
uma corrente elétrica, uma força e um campo magnético, certo?

― Como surge essa força? ― perguntou Sarah.

46
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Essa vou deixar para você pesquisar, mas só para você ter uma noção. Quando duas cargas
estão em movimento temos o surgimento de uma força. Uma dica: se lembra do campo
magnético, corrente elétrica, prótons, elétrons e cargas? É por aí. Para conseguirmos
compreender o sentido da força magnética, vamos usar a regra da mão esquerda. Não é a
mesma que você viu da mão direita que era para ver o sentido da corrente. A da esquerda é
para ver o sentido da força magnética. Essa regra é chamada de Fleming, idealizada pelo físico
John Fleming. Como você pode ver no desenho, não é a melhor mão do mundo, mas dá para
entender.

VISÃO DE SARAH.

47
VISÃO DE SARAH
― O polegar indica corrente elétrica, o indicador na direção do campo magnético e o dedo
médio irá apontar a direção da força, desde que esses dedos façam um ângulo de noventa
graus entre si. Torce os dedos aí, Sarah, e tenta fazer.

― Ahh! Difícil isso! Não consigo.

― Tá devagar mesmo, hein?! Uma dica caso esqueça das iniciais: só lembrar da polícia dos
Estados Unidos, FBI, e tudo certo! E não esquecendo! O sentido dessa força é para cargas
positivas; se for negativa, a direção é a mesma, mas a força será contrária.

Sarah continuava anotando freneticamente e tentando fazer os movimentos corretos.

― Sabe que, quando uma corrente percorre um condutor, há uma força exercida sobre ele.
Essa força não age na direção dos pólos do ímã, mas na direção perpendicular às linhas de
campo magnético ― explica Fábio. ― Anota tudo e presta atenção, porque esse assunto
requer um pouco de atenção. É muita mão envolvida.

― Haja mão e caderno para tanta informação. Quero mais suco! ― exclamou Sarah,
levantando para ir buscar mais bebida.

Depois de uma pausa sobre os ensinamentos, Fábio voltou a instruir Sarah. Estava quase na hora de
irem embora, mas ele queria terminar o conteúdo da primeira fase.

― Vamos que vamos que quero terminar isso hoje! Agora preste atenção no que vou falar
para não se perder. Caso a corrente se inverta, a direção da força B continua a mesma. Mas a
força F exercida sobre o condutor inverte. Falando em modo experimental. Se aumentar a
intensidade da corrente, aumenta a intensidade da força F exercida sobre o condutor. Ficou
confuso? Entendeu? Isso é só o começo, depois piora.

― Entendi, eu acho. Mas em casa dou uma revisada e qualquer coisa depois te pergunto
novamente.

― Isso! Tem que praticar... Pega o desenho e refaz. Lê umas cinquenta vezes. Quando você lê,
já absorve dez por cento do conteúdo, só de escutar já é mais vinte por cento e por aí vai.
Campo com maior intensidade, provoca uma intensidade de maior força. Assim, dá pra
comprovar que, se o comprimento L ativo do condutor for maior, a intensidade da força sobre
ele será maior. E a força eletromagnética exercida sobre um condutor também depende do
ângulo entre direção da corrente e a direção do vetor densidade de campo. É como você vê no
desenho. E para achar o módulo do vetor a gente usa essa forma aí.

48
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Nossa, Fábio! Como você sabe tudo isso?

― Ensinando! Quando você ensina para os outros por muito tempo, você acaba dominando o
conteúdo. Mas cuidado com um detalhe! Não é porque já domina ou sabe muito que deve
parar de estudar.

― Caraca! Também quero ensinar as pessoas assim.

― Estude, aplique, tenha resultados e ensine e não vai ter problemas nisso. Bora continuar
que já está acabando. Agora vou falar sobre intensidade do campo. Pensa comigo: em uma
dada bobina permanece uma corrente elétrica constante. Se mudarmos só o núcleo do

49
material, haverá uma alteração no fluxo desse material. Isso se dá devido à permeabilidade,
como já vimos antes. Sendo assim, chamamos de vetor magnético indutor ou vetor força
magnética H o campo induzido gerado pela corrente elétrica na bobina. E não importa a
permeabilidade magnética do material do núcleo. O legal é que a força magnética é
independente do tipo de material do núcleo. Ela é determinada apenas pelo número de
espiras, pela intensidade da corrente e pelo comprimento do núcleo.

VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Nessa equação que você está vendo na folha, quanto maior a permeabilidade, maior a
densidade do fluxo induzido no material. E o vetor campo magnético também é dado por ela.
E fim! Aeee! Acabou a primeira fase de seu ensinamento, Sarah! Nem acreditava que você
conseguiria seguir o ritmo tão puxado. Parabéns, Sarah! Você foi fantástica!

― Obrigada mesmo! Tô muito feliz, aprendi muito com você. Sou muito grata por isso. Um dia
vou te contratar para trabalhar na minha empresa.

50
― Isso aí, mocinha, pense grande. Falando em pensar grande, deixa eu te falar uma coisa
muito importante? Mas pega suas coisas e vamos. No caminho te falo já que estamos
atrasados.

Sarah estava muito radiante por estar adquirindo muito conhecimento com Fábio, mas ainda havia
um longo caminho para aquela moça de um olhar esperançoso vindo do interior de Goiás.

― É... Depois te falo, que já recebeu informações demais por hoje.

Chegando em casa, Sarah se despediu e foi correndo contar para sua mãe as novidades do
aprendizado com o Fábio. Quando Sarah entrou na cozinha, viu Rita, que estava conversando com
sua mãe.

― Tiaaa!

Rita notou a alegria de Sarah ao ir contando para ela as coisas que aprendia com Fábio. Mesmo não
ganhando nada, estava muito feliz em aprender. Estava amando tudo aquilo que estava acontecendo.

― Fico muito feliz, Sarah, que esteja aproveitando ao máximo. Procure sempre ter uma mente
aberta.

― Precisamos é de dinheiro! E não estou vendo isso dar dinheiro ― falou Rebeca
interrompendo Rita.

― Tenha paciência, Rebeca, precisamos primeiro plantar para depois colher. E olha só: tenho
uma novidade para você, Sarah. Tem uma amiga minha que quer colocar umas tomadas e
umas lâmpadas. Falei de você e no começo ela não queria. Ficou insegura pela Sarah ser muito
novinha e não ter feito nenhum trabalho. Mas pedi para ela dar uma chance.

― Que legal! Onde é? Nossa! Me deu um medo agora... Será que consigo, tia?

― Não se preocupe, vou com você até lá. É só fazer o que aprendeu no seu curso. Se tiver
dúvidas, não tem problema você falar pro cliente que vai voltar no dia seguinte depois de ver
o que precisa ser feito. Amanhã cedo passo aqui, mas hoje já vou indo que tenho uns
compromissos ainda.

― Tá bem, vou esperar a senhora, então. Vou dar uma volta com Ted um pouquinho e depois
volto a estudar.

― Andar nada! Antes vai arrumar seu quarto mocinha. ― interrompeu Rebeca.

Rita já foi se despedindo delas pra ir embora. Passado algum tempo, Sarah arrumou seu quarto e foi
passear um pouco com Ted. Ao chegar em casa após o passeio, foi lavar a louça.

― Hoje nem vou estudar porque tô preocupada com amanhã, Ted. Será que vou conseguir
fazer o serviço? Nem sei o preço que vou dar, vou tentar dormir senão vou ficar doida. Vem,
Ted, bora dormir.

51
No outro dia de manhã, quando sua mãe levantou, Sarah já estava acordada andando pela casa, pois
era seu primeiro trabalho de verdade depois de fazer o curso. Era sua primeira experiência, a primeira
vez que iria ganhar algum dinheiro.

― Tá parecendo um peru doido, menina. Não para de andar pra cima e pra baixo.

― Tô nervosa, mãe!

― Saaarah! ― gritou Rita no portão.

Sarah pegou sua bolsa que tinha ganhado de Rita e foram para o cliente. Chegando lá, Rita a
apresentou e a cliente foi mostrar o que queria. A instalação de uma lâmpada e uma tomada num
quartinho que iria virar dispensa.

― Consegue fazer? ― perguntou a cliente.

― Sim! Não é complicado.

― Pois bem, aqui está o que você precisa. Meu marido comprou isso há uns dias, olha aí se é
o que precisa. Mas, antes de começar, quanto vai ficar o trabalho?

Sarah ficou alguns segundos paralisada pela pergunta. Sem saber o que falar olhando para a sacola
na mão. Com um imenso frio na barriga, levantou a cabeça e olhando para a cliente.

― Dez reais o serviço!

― Tudo bem, pode fazer.

― Sarah, como tenho um compromisso, vou indo viu? ― falou Rita.

― Tudo bem, tia. Terminando aqui eu vou pra casa.

Após quase uma hora, Sarah terminou de instalar a iluminação e uma tomada na dispensa. Recebeu
e foi para casa com uma alegria muito grande, pois era a primeira vez na vida dela que tinha ganhado
dinheiro com seu próprio esforço.

Chegando em casa, Sarah foi direto a sua mãe para mostrar sua recompensa por ter feito o trabalho.
Sarah é uma pessoa humilde e generosa, que procura sempre ajudar as pessoas ao seu redor. Quando
recebeu sua primeira nota de dez reais, correu para dar a sua mãe.

― Olha, mãe, o que consegui com o meu primeiro trabalho!

― Só isso que deu?

― Sim! Eu ainda não sei cobrar. O Fábio ia me ensinar, mas ele viajou. Mas pode ficar pra
senhora, mãe. Quero ajudar na casa também.

― Não, filha. Pega aqui e vai comprar um sorvete para você e leva o Ted pra passear.

52
Sarah pegou Ted e foi na sorveteria perto de sua casa. Quando estava pedindo o sorvete, escutou o
dono falando que precisava instalar um ventilador de parede. Mas Sarah ficou com vergonha de falar
que sabia instalar. Seu medo de não conseguir a dominava naquele momento.

Na volta, ficou pensando no ventilador. Chateada por não ter falando nada, pensou em diversas vezes
em voltar para falar com o dono, só que o medo era maior.

Ao chegar ao portão, Sarah parou e ficou olhando para sua casa pensando no quanto queria ter uma
vida diferente. Como se instintivamente algo puxasse ela de volta para a sorveteria, por um instante
a coragem tomou conta dela e ela voltou. Foi até o dono e falou que tinha ouvido sem querer a
conversa e que dava conta de montar o ventilador.

O dono, por fim, informou que havia acabado de fechar com um outro eletricista. Se ela tivesse
falando um pouco antes, teria fechado com ela. Sarah agradeceu e foi embora triste: paralisada pelo
seu medo, perdeu um serviço.

Após o ocorrido, passou uma semana desde que Sarah tinha visto Fábio pela última vez. Já pensava
que ele não iria mais ensiná-la. Fábio não tinha dado mais notícias desde sua viagem.

53
CAPÍTULO 04
NOVOS ENSINAMENTOS
MOTORES ELÉTRICOS

Quando Sarah chegou em casa, foi guardar sua mochila pra ir almoçar. Escutando alguém chamando
seu nome no portão, percebeu que era Fábio.

― Vivo ainda, moço?

― Tive uns imprevistos. Já está com as baterias recarregadas? Amanhã passo aí, pode ser?

― Sim, bora que quero aprender. Não é todo dia que tenho um mentor.

Tendo Fábio falado com ela, se re�rou e foi embora enquanto Sarah voltou para a cozinha para
almoçar. Ela estava animada, pois no dia seguinte sua jornada iria recomeçar e agora em uma nova
fase de aprendizagem.

Não demorou muito para as horas passarem até o cair da noite. No dia seguinte, passado o tempo
da escola, já estava em casa esperando por Fábio. Estava ansiosa para saber o que iria aprender de
novo, quando escutou a buzina do carro.

― Já vaaaai!

― Animada para hoje? ― perguntou Fábio.

― Sim! O que vamos fazer hoje?

― Lembra da serralheria que deu curto no quadro da máquina? Vamos para lá! Eu já tinha
montado o quadro em casa e iniciado a montagem ontem. Não deu para passar na sua casa
porque estava uma correria só lá. Hoje está mais tranquilo, só faltam alguns ajustes.

― Poxa, perdi a melhor parte?

54
― Não se preocupe que outras oportunidades vão aparecer. Amanhã trago o esboço do
diagrama para você ver, tá? Já pega seu caderno aí e vamos começar. Não temos tempo
para perder. Vamos iniciar com motores elétricos a sua nova jornada de aprendizagem. Ahh!
Antes que me esqueça, Sarah, pega aí no porta-luvas as folhas, como de costume. E mais
uma coisa: tem um presente aí para você. Pode pegar.

― Que legal, uma Bíblia! Muito obrigada! Amei!

― Quando a gente fala da palavra de Deus, o povo só falta se matar por causa de religião e
se esquecem de Deus. Eu quero que leia ela, estude ela, aprenda com a Palavra. Ela transforma
vidas.

― Nunca li, mas acredito em Deus. E por onde eu começo a ler?

― Comece por Mateus para você aprender os ensinamentos de Jesus. Todo dia você lê um
capítulo, vai anotando o que mais te chamou a atenção ou circulando na própria Bíblia.
Acabou, passa para outro livro. Depois te falo mais, isso aí é um manual de vida. Siga ela é vai
evitar muitos problemas.

― Tudo bem, vou ler ela e falar para a mamãe ler também comigo.

― Isso aí! Agora voltando ao seu aprendizado... Os motores elétricos, como você já viu, são
equipamentos destinados a transformar energia elétrica em outras formas de energia.
Principalmente energia mecânicas. Seu funcionamento é baseado no princípio de indução
eletromagnética. Nesse processo de conversão o ideal é que não houvesse perdas; no entanto,
na conversão ocorre perdas por aquecimento, por atritos de componentes, histerese, falta de
manutenção e assim por diante.

― Isso são todos os motores que você vai me falar?

VISÃO DE SARAH.

55
VISÃO DE SARAH
― Essa é a família dos motores elétricos. Vou falar sobre alguns com você. Há muitos motores,
não tem como falar de tudo. Vou falar dos mais importantes que há na indústria. Vou procurar
focar nas coisas mais importantes, porque máquinas elétricas é um campo muito profundo.
Não conseguiria te explicar tudo e mesmo assim você não precisa de todas as informações. É
preciso ter foco, ir na informação certa, naquilo que vai te ajudar a seguir seu caminho, e não
tentar abraçar o mundo com tanta informação que nem vai te ajudar, e sim só te atrapalhar.

― Pois é, e qual vamos ver agora?

― O que vou abordar é sobre motores assíncronos ou indução, que são os mais utilizadas na
indústria. E o primeiro que vamos falar é do motor de indução trifásico ou mit, abreviado,
famoso gaiola de esquilo. Já estamos chegando, mas na volta eu falo sobre ele. Agora vamos
só fazer uns testes para ver se está tudo certo com o painel.

Ao chegarem, Fábio foi fazer alguns testes de funcionamento para ver se estava tudo certo com o
quadro. Fizeram alguns testes com troncos de árvores e o sistema de comandos estava funcionando
perfeitamente. Não era um quadro robusto. Após algum tempo fazendo medições de tensão,
corrente, sinalização e sincronização, tudo estava pronto. O equipamento voltou a funcionar a todo
vapor.

― Foi coisa básica isso, mesmo porque eu já montei o quadro em casa. Só vim conectar os
cabos e fazer alguns ajustes e testes. No mais, é isso. Agora, se fosse alguma máquina
complexa, exigiria tipos extras de procedimento.

― Você tem uma oficina em casa de montar quadros?

― Não, quando precisa eu monto os quadros em casa. Melhor e mais prático. Vamos embora
que aqui já finalizou. Hoje era só isso que eu tinha para fazer. Amanhã vamos fazer a
instalação lá na casa do condomínio.

― Sobre comandos, se for para fazer um projeto, eu vou ao local e vejo o que o cliente quer,
desenho o diagrama, monto o quadro em casa e levo para montar no local? ― perguntou
Sarah.

― Falando a grosso modo, sim. Importante é você saber qual é a carga que vai ter naquele
local para depois saber qual o comando que essa carga vai exigir. Exemplo: se eu tenho um
motor de cem cv, tenho que fazer todo um estudo dele, do que ele vai fazer, qual seu torque,
qual comando vou precisar para suportar um motor desse porte entre outras coisas. Isso com
tempo você vai entendendo. Pegue a base primeiro, entendendo o funcionamento da carga.
Você acaba tendo uma visão ampla do problema e, assim, facilitando o entendimento para
resolvê-lo. Mas vamos voltar ao seu aprendizado, senão nem vai dar tempo de falar muita
coisa hoje. Vou falar só de duas coisas muito importantes: o estator e o rotor. O resto, como
ventoinha e rolamento, isso não tem mistério.

56
Como de costume, a pressa de Sarah em anotar não parou Fábio, que continuou:

― Tem a carcaça, né? Aquela parte pintada que você vê do motor que é a estrutura de suporte
do conjunto interno. Já internamente tem um núcleo de chapas. Essas chapas são tratadas
termicamente para reduzir ao mínimo as perdas no ferro. E para não gerar corrente de
Foucault... E, por último, os enrolamentos trifásicos. Que são três conjuntos iguais de bobinas,
um para cada fase, formando assim um sistema trifásico. Caraca! Falei tanto que minha boca
espumou. Vamos tomar um suco ali...

No caminho duma lanchonete, eles continuaram a conversa:

― Compreendeu? As coisas que te falei lá no início são o primeiro passo para entender esse
novo degrau em que estamos. Assim vai indo... Quando mal perceber, já montou uma grande
escada rumo ao topo.

― Entendi!

VISÃO DE SARAH.

― Certo, já o rotor tem um eixo que transmite a potência mecânica desenvolvida pelo motor.
Tratado termicamente também para não empenar e nem ter fadiga. Tem núcleo de chapas
igual o estator e barras e anéis de curto-circuito.

57
― Fadiga? ― perguntou Sarah.

― É que o motor fica cansado de trabalhar, aí tem que descansar.

― Engraçadinho!

― Brincadeiras à parte, eles fazem testes para verificar o comportamento do equipamento


em uso extremo. Isso não vem ao caso para nós, porque isso é feito em laboratório por
fabricantes. Agora vamos falar um pouco sobre o princípio de funcionamento do motor mit.
Falando de um modo simples, o funcionamento dele é baseado no princípio de acoplamento
eletromagnético entre estator e rotor. Pois há uma interação eletromagnética entre o campo
girante do estator e as correntes induzidas nas barras do rotor. Quando estas são cortadas
pelo campo girante...

― Não entendi essa parte do cortadas pelo campo ― falou Sarah.

― Putz! Me deu um branco agora! Me lembra depois que vou trazer a explicação para você.

― É a idade ― disse Sarah, rindo.

― Gracinha! Mas, continuando, essa composição entre os dois campos resulta em uma força
de origem magnética que gera um conjugado no eixo do motor. Tentando assim fazer com
que o rotor gire no sentido do campo girante. Se o conjugado criado for suficiente para vencer
o conjugado resistente aplicado no eixo, o rotor começa a girar.

― Que legal! Resumindo, a corrente que o motor recebe provoca dois campos, um no estator
e outro no rotor. Desses dois campos surge uma força que é o conjugado, que precisa vencer
a resistência do conjugado da carga para girar o rotor? ― perguntou Sarah.

― É bem isso, Sarah, falando por alto. É interessante perceber que, ao redor dos enrolamentos
do motor, o campo magnético circula nas bobinas de acordo com a forma de onda trifásica
aplicada. Pode ver aí no gráfico que desenhei.

58
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Nota que, quando está a noventa graus, o campo magnético tá intenso na fase R e menos
intenso e com polaridade oposta nas fases S e T. E, quando estiver a cento e vinte graus à
frente, será intenso na fase S e menos intenso na fase R e T, ambos com polaridades opostas
a S. No outro desenho, você pode ver o campo girante produzido por cada fase. Isso nos mostra
a orientação do campo magnético por uma fase separada, à circular uma corrente defasada
de cento e vinte graus. Cada fase ligada a uma bobina produz um campo magnético na mesma
proporção da intensidade da fase, de acordo com o gráfico senoidal que você viu. Quando uma
está no máximo, as outras estão menores e com polaridades contrárias. Conseguindo
entender Sarah?

― Como é feita essa defasagem de cento e vinte graus? ― perguntou Sarah.

― Boa pergunta! O estator já é projetado estrategicamente para causar essa defasagem.


Senão, o motor não iria funcionar. A cento e vinte graus adiante da fase S, ela vai atingir o
valor máximo, enquanto R e T terão valores menores. Mais cento e vinte graus e a fase T atinge
seu valor máximo enquanto as outras fases terão seus valores menores. E assim vai se
repetindo esse ciclo. Você percebe claramente que há um campo magnético produzido pela
corrente nas bobinas que gira ― informou Fábio. ― Esses campos criados no estator induzem
no rotor gaiola correntes que geram um campo magnético, cuja polaridade é oposta ao campo
original no estator. A tendência é o rotor tentar acompanhar o movimento circular do campo
criado no estator. Mais para frente, você vai entender isso quando inverter a rotação do
motor. Você vai estar invertendo o campo no estator fazendo com que o rotor acompanhe o
sentido do campo.

― Que legal, não entendia o porquê no curso o professor mudava a ligação de um motor e ele
girava ao contrário. Bom saber agora o porquê ele faz isso.

59
― É isso aí, as coisas vão se encaixando... Por isso que falo para você dominar a base. Tendo
a base, você construiu um castelo. Você tendo o domínio da base, consegue resolver coisas
complexas.

― Agora vou falar sobre umas coisas legais que é sobre velocidade síncrona, escorregamento,
velocidade nominal e por aí vai. São legais esses assuntos. Você vai gostar. Lembrando: vai ter
continha de matemática.

― Depois que você falou que ia ter contas de matemática, comecei estudar mais matemática.

― Parabéns, Sarah, negócio é esse: sempre antever o problema, se preparar sempre. Se tiver
essa mentalidade, vai sair na frente de muitas pessoas. Galera hoje em dia quer tudo na boca.
Mudar exige esforço e muitos não querem isso, preferem ficar na mediocridade e ficar só
reclamando. Vamos lá, vou falar sobre velocidade síncrona. Ixiii! Pensando bem, vou não.
Vamos é embora que já estamos atrasados. Sua mãe não vai gostar nada se começar a chegar
atrasada. Bora, pega as coisas! Vou pagar a conta.

Fábio pagou o lanche e foi levar Sarah para sua casa. Já eram quase seis horas da tarde. Ficaram tão
entretidos no estudo que nem viram a hora passar. No caminho, Fábio avisou Sarah que amanhã iria
passar na sua casa para irem à casa do condômino fazer a instalação elétrica de lá.

Quando Sarah chegou em casa, foi ver sua mãe. Rebeca estava muito estressada naquele momento.
Percebendo que Sarah havia chegado atrasada, deu uma grande bronca nela ao ponto de falar
algumas palavras inapropriadas.

Triste, Sarah foi para seu quarto onde Ted estava dormindo. Ali ela ficou com ele até adormecer.
Sarah acordou com sua mãe chamando para jantar e notou que ela já estava calma nesse momento.
Após a janta, foi banhar para ir dormir. Ainda estava chateada com o ocorrido.

No dia seguinte, já com o ocorrido deixado para trás, se despediu da sua mãe e foi para a escola.
Passadas algumas horas, retornou e aguardou Fábio para irem ao condomínio. Logo ela escutou uma
buzina: era Fábio chamando.

― Animada para hoje?

― Não muito.

― O que foi?

― Por mais que me esforce, minha mãe não reconhece isso. Só fica me maltratando.

― Tenha fé que as coisas vão mudar e, quando mudarem, sua mãe vai ser a primeira a
perceber. Está sendo difícil para ela também esse momento. Tenha paciência com sua mãe
que ela está tentando fazer o melhor para você. Mas do jeito dela. Você já começou a ler a
Bíblia?

― Ainda não, não entendi muito bem ela.

60
― Olha, vou te explicar rapidinho. Vai ver que é fácil de entender para começar a ler. A Bíblia
são vários livros reunidos. Provérbio é um livro, João é outro livro, Gênesis é outro livro, cada
nome é um livro. Quando você abre em um livro, tem uns números grande e outros
pequenininhos, né? Pois bem: os números grandes são os capítulos e os pequenos são os
versículos. Se eu falar “Sarah, abre a Bíblia em Provérbios capítulo um, versículo seis”, você já
entendeu, né?

― Ahhh, agora sim!

― Comece a ler. A Bíblia é um manual de vida. Você vai aprender muito com ela. Vai entender
o quanto Deus é grandioso em nossas vidas. Agora vamos ver velocidade síncrona a qual é
definida pela velocidade de rotação do campo girante, que depende do número de pólos do
motor e da frequência da rede em hertz. Os enrolamentos podem ser construídos com um ou
mais pares de pólos, que se distribuem alternadamente um norte e um sul ao longo da
periferia do núcleo magnético.

― Que legal, já estamos vendo coisas mais difíceis. Você falando assim, parece a primeira
matéria de imãs que vimos. Realmente faz sentido o saber a base que você tanto fala.

― Esse é o negócio: entender a base que o resto vai embora. O campo girante percorre um
par de pólos a cada ciclo. Olha na folha as fórmulas e vê como elas são lindas.

VISÃO DE SARAH.

61
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Não entendi esses pares de pólos.

― Já já vai entender. Os números de pólos do motor sempre serão pares para formar os pares
de pólos. É como você viu na tabela que fiz. Só lembrando, um rotor de um motor de indução
em carga jamais gira com velocidade síncrona, viu? Devido ao escorregamento do motor.
Veremos ele mais pra frente. Agora vem a parte que vai entender o porquê fala par de pólos.
Um par de pólos é obtido pela montagem de três bobinas no estator. Lembra das bobinas que
falei no funcionamento do mit? Pois bem, elas são colocadas a cento e vinte graus no espaço
e alimentadas por um sistema trifásico.

― A montagem das bobinas assim é para montar os polos, certo?

― Sim, e esse é de dois pólos. O de quatro pólos ou dois pares de pólos é montado sobre o
estator. Dois conjuntos de três bobinas defasadas de sessenta graus no espaço, e cada
conjunto é alimentado pelo sistema trifásico. Agora vamos falar do escorregamento. O
carinha que não deixa o rotor girar em velocidade assíncrona ou a velocidade real do campo
girante. Bom... Na verdade, falaremos na volta, que agora estamos chegando.

Sarah e Fábio chegaram ao local para iniciarem as instalações elétricas na residência localizada em
um condomínio. Consultaram o projeto que Fábio tinha feito e iniciaram a passagem dos fios entre
outras coisas. Ao passar de algumas horas, quase finalizaram a passagem dos fios. Como já estava no
final do dia, deixaram para finalizar no outro dia a fiação.

― Dia foi puxado, hein? Mas bem produtivo e legal, né? ― disse Sarah.

― Sim, quando se ama o que faz é prazeroso trabalhar. Muitas das vezes nem percebemos o
cansaço. Mas vamos voltar a falar do seu estudo que tem muita coisa pela frente. Ia falar
sobre o que mesmo? Até esqueci!

62
― Deixa eu ver aqui que tenho anotado. Humm! Gente! Mal tô entendendo minha letra, tá
fácil não! Se eu consegui entender minha letra, vai falar sobre escorregamento.

― Certo, vamos lá. Ahh! Lembrei de uma coisa sobre velocidade síncrona que acho que não te
falei. A velocidade do mit é diretamente proporcional à frequência e inversamente
proporcional aos polos.

― Oi?!

― Tipo, se eu abaixo a frequência, a velocidade síncrona vai baixar também. E quanto mais
pólos o motor tem, mais baixa será a velocidade síncrona.

― Ahh! Agora entendi. Tem hora que você acha que sei tudo, né? Fala mais simples aí!

― Vai se acostumando que o negócio é louco mesmo. Sobre o escorregamento, é a diferença


da velocidade síncrona com a velocidade nominal do motor. Alguns fatores fazem com que a
velocidade real no eixo do motor deixa de ser a mesma do campo girante. Fatores como carga
e atritos mecânicos causam o famoso escorregamento. Lembra da tabela que você viu? Vou
te dar um exemplo. Tem um motor de quatro polos, né? A velocidade síncrona dele é de mil e
oitocentos pela tabela, mas na placa do motor está mil setecentos e quarenta. Essa é a
velocidade nominal no eixo. Isso deve dar acho que três por cento. Isso é o escorregamento.
Na folha você tem a fórmula do escorregamento.

― Entendi, que legal! Então a velocidade síncrona é a velocidade real do campo girante. A
velocidade nominal é a que tem no eixo do motor, aquela que aparece na plaquinha do motor,
e a diferença entre os dois é o escorregamento?

63
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Bingo! Isso mesmo. ― respondeu Fábio. ― Geralmente o escorregamento de um motor
fica entre três a seis por cento. Lembrando que quanto maior a porcentagem, mais a
velocidade síncrona será afetada negativamente. E para finalizarmos por hoje, que já estou
sugado mentalmente, vou falar brevemente sobre a velocidade nominal, que nada mais é do
que o rpm do motor, aquela que está impressa na placa. Não podemos esquecer que a
velocidade nominal precisa do escorregamento e da velocidade síncrona. E, para acharmos o
rpm, só utilizarmos essa fórmula que está vendo.

VISÃO DE SARAH.

64
VISÃO DE SARAH
― Pronto, chega por hoje senão já já nem consigo pensar mais. Estou exausto!

― Realmente hoje o dia foi produtivo. E andou bem rápido na passagem de fios, né?!

― Sim, quando se tem o projeto e sabe o que fazer, a coisa anda rápido. Bom, chegamos!
Amanhã passo aí novamente.

Sarah desceu do carro e entrou para casa. Já na cozinha, percebeu sua mãe ainda não tinha chegado.
Mesmo cansada, foi lavar a louça, deu comida para o Ted e foi banhar. Depois, foi dormir um pouco.

Quando Sarah acordou e voltou à cozinha, sua mãe já estava preparando a janta. Após alguns minutos
de conversa, Rebeca informou que tinha um serviço para Sarah.

― Olha, onde eu faço diária, o dono da casa falou que o chuveiro dele estava com problemas.
Falei que você entendia disso. Ele pediu para ir lá depois ver. Mas vê se agora aprende a
cobrar, viu?!

― Tá bom! Depois vou lá. Amanhã vou ver com Fábio como eu cobro.

Depois de algum tempo conversando com sua mãe, Sarah foi para o quarto com Ted para arrumar
suas coisas. No dia seguinte, Sarah foi para a escola. Ela estava prestes a entrar de férias. Rebeca foi
para seu trabalho de diarista. No fim da manhã, Sarah já estava em casa esperando Fábio, que logo
chegou.

― Fábio, preciso da sua ajuda!

― Que foi que está elétrica aí?

― Tenho um serviço para ver onde minha mãe trabalha. Só que não sei dar preço. A última
vez que fui instalar uma tomada, cobrei dez reais. Quase apanhei da minha mãe.

― Normal, de início a gente se perde mesmo. Não sabemos dar preço para o nosso próprio
serviço. Fiquei de te ensinar e acabei esquecendo. Vamos fazer assim: na ida agora vou falar
duas formas de colocar preço em seus serviços. São os dois mais usados. Não significa que é
uma regra ou que só existem esses dois ou um é melhor que o outro. Apenas vou abordá-los
porque gosto desses modelos. O primeiro é o por ponto, não tem muito segredo. O que seria
o ponto? Tomada, interruptor, chuveiro e por aí vai. Geralmente o preço por ponto é
recomendado para trabalhos simples.

― Como assim?

― Exemplo: a casa tem cinco interruptores, um chuveiro e cinco tomadas. Tudo daria onze
pontos, certo? Se você cobra quinze reais o ponto, tudo daria cento e sessenta e cinco reais.

― Ponto de interruptor e luminária são pontos diferentes ou é o mesmo ponto? ― perguntou


Sarah.

65
― Boa pergunta. Essa é uma dúvida comum no início. Tem duas situações aí: quando você vai
instalar o interruptor com a luminária e quando vai trocar só a luminária. Em ambos os casos,
você considera somente um ponto.

― Entendi, e com os cabos passados ou não? E o quadro, cobro separado pela montagem?

― Hoje você veio carregada de perguntas, hein?! Isso é bom! Vamos lá: em instalações novas,
tem que entender que vai fazer o orçamento para entregar tudo ao cliente. Por pontos já dá
o valor observando tudo isso. Se seu ponto é quinze reais, ele tem que abordar o quadro
pronto, os cabos passados junto com as tomadas e interruptores instalados.

― Entendi, então por ponto já é tudo completo. No exemplo que você deu, é cento e sessenta
e cinco reais com tudo feito, né?

― Exatamente! Só um detalhe importante. Lembra do modelo de orçamento que te passei?


No item seis, caso o cliente não peça para você incluir os materiais no orçamento, pois é ele
quem vai comprar, você não vai detalhar cada tomada e cada interruptor que vai instalar. Só
coloca o valor total da mão-de-obra. Você vai só colocar as unidades de quantas tomadas,
interruptores e chuveiros quando você for comprar os matérias. Aí vai usar os trinta por cento
em cima e tal, igual já te expliquei anteriormente. Fez isso, aí você fala pro cliente que esse é
seu valor fechado para fazer toda a instalação elétrica. O valor por ponto só fica na sua
cabeça. Porque se você falar pro cliente o valor de cada ponto ou colocar no orçamento, ele
vai procurar outro eletricista para comparar e ficar com o mais barato.

― E se for só uma tomada? ― perguntou Sarah.

― Mesma situação... Analisa a tomada. Se for fácil, informa que cobra X por ser uma troca
simples; se for mais difícil, fala que o valor é Y por ser de difícil troca. Sempre valorize o seu
trabalho para o cliente mesmo que seja fácil. Nunca transmita que algo é facinho demais.
Claro que não vai mentir também ou enganar o cliente. Isso acaba desvalorizando sua mão-
de-obra. Entendeu tudo sobre o cobrar por ponto? Isso você vai melhorando com o tempo, é
só para você ter uma base no início para dar seu preço.

― Entendi. E como sei que não está muito barato e nem muito caro?

― Simples: pesquisa quanto os eletricistas estão cobrando por ponto. Liga para eles, pergunta
paras as pessoas, faz essa pesquisa. Tenha ao menos uma média em mente. Exemplo: se a
média é vinte reais, como você não tem experiência e ninguém conhece seu trabalho, comece
com vinte reais e com o tempo você sobe esse valor. Mas entenda uma coisa: para subir esse
valor, já tenha clientes e seja diferenciada no seu trabalho. Caso contrário, não vai conseguir
subir o preço.

― Entendi, e qual é a média daqui?

66
― Aqui o pessoal que conheço cobra vinte reais. Eu cobro mais pelo tempo de atuação e
clientes que já tenho. Agora vamos para o próximo. Esse é o por hora e é mais complicadinho
de explicar. Mas é interessante também. Na verdade, esse vou ter que deixar para amanhã
porque preciso fazer umas continhas e agora vai ficar ruim. Amanhã trago para você, tudo
bem?

― Tá bom, ao menos já tenho uma noção de preços.

― Tem uma folha com umas fórmulas escrito rendimento. Pega ela que vou falar para você
sobre isso antes de chegarmos.

VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH.

― Como você já sabe, o motor elétrico absorve energia elétrica da rede e a transforma em
energia mecânica disponível no eixo, certo? O rendimento é a eficiência que é feito a
transformação em porcentagens. Na transformação que o motor faz de energia elétrica para
energia mecânica, há perdas nesse processo, perdas no ferro, perdas mecânicas, perdas por
aquecimento entre outras. Não há como transformar cem por cento de energia absorvida da
rede para cem por cento de energia mecânica. Por isso nas placas há o rendimento do motor.
Para você saber o quanto ele é bom ou não nessa transformação, falando a grosso modo. O
rendimento é a relação entre a potência de entrada e a potência de saída como viste aí nas
fórmulas. Você pode tanto achar o rendimento quanto as perdas. Só cuidado que uma é para
motor trifásico e outro monofásico.

67
― Isso é o que?

― Isso aí é o cosseno. É o fator de potência do motor. Já já vamos falar dele e você vai entender
melhor. Na placa está escrito FP. No mais, é isso. Alguma dúvida?

― Minha mão está doendo. Está bom por enquanto de conteúdo. Estamos chegando
também... Aguento mais não.

Fábio e Sarah chegaram à residência em que estavam trabalhando na parte elétrica. Já estavam
finalizando a passagem de cabos nos conduítes embutidos na laje para depois colocarem as tomadas,
entre outras coisas.

Passadas algumas horas, finalizaram toda a parte de passagem de cabos. Como estava já na hora de
irem embora, ficou como pendência para o dia seguinte finalizar as outras atividades restantes.

― Simbora que ainda hoje quero falar sobre fator de potência para você. No caminho até a
sua casa deve dar tempo de falar sobre isso. Vê se a folha está na mochila ou guardada no
carro. Tem umas fórmulas nela. Porque, antes de falar sobre o fator propriamente dito, vou
fazer uma abordagem rápida sobre o triângulo de potência para você entender melhor o fator
de potência. Para corrente alternada a potência é dada pelo produto entre tensão e corrente.
Ela é composta pela potência ativa, que o símbolo é P, e potência reativa, com o símbolo Q.
Sendo que ambas formam a potência aparente, símbolo S. Vou falar de cada uma tá? Já achou
a folha?

― Sim! Essas, né?

― Isso! Vou começar falando da potência aparente. Ela corresponde ao total da potência
entregue para o consumo, e é expressa em VA. Tem um desenho de um copo de coca aí que
explica bem isso.

VISÃO DE SARAH.

68
― A outra é a potência ativa, sendo sua unidade de medida em watt. Essa é a parcela que
realiza o trabalho, ou seja, que é transformada em energia. Essa potência multiplicada pelo
tempo em horas representa a energia ativa consumida pela carga, que é a faturada pela
concessionária.

VISÃO DE SARAH.

― Conseguiu entender aí nas fórmulas que fiz?

― Sim, o do copo é bem esclarecedor, até agora é de fácil entendimento. Os desenhos estão
ajudando mesmo você sendo péssimo desenhista.

― Valem ouro esses desenhos! Agora vem a parte que falei do fator de potência. É bem legal
o triângulo de potência quando você o vê por um todo. A carga reativa é a parcela de potência
aparente que não realiza trabalho. “Como assim, Fábio?” Ela é apenas transferida e
armazenada nos elementos passivos, como os capacitores e indutores dos circuitos. Ahh!
Detalhe: o motor precisa dela para magnetizar seu enrolamento. Só para isso que serve e mais
nada. Ela não pode ser faturada pela concessionária, mas seu consumo acima dos limites
definidos pela ANEEL pode gerar multas.

69
― O que é ANEEL?

― É a Agência Nacional de Energia Elétrica. É ela que atua no setor elétrico para
desenvolvimento.

― Qual o nome disso aqui mesmo?

VISÃO DE SARAH.

70
― Esse aí é o fator de potência, conhecido também como ângulo fi. Vamos falar agora dele. É
a diferença do ângulo em graus da onda de tensão com relação a onda de corrente. Como
pode ver no gráfico, essa diferença ocorre somente se tivermos no circuito cargas indutivas,
capacitivas ou mistas. Para cargas puramente resistivas não ocorre a defasagem. Porque
nesse caso o fator de potência é igual a um.

VISÃO DE SARAH.
― Como tinha falado anteriormente, o motor precisa da potência reativa para magnetização.
Porém ela não produz trabalho. A relação entre potência ativa e a aparente se chama fator
de potência. Se não me engano, o próximo assunto é leitura de placas. Mas vai ficar pra
manhã. Por hoje chega que tô exausto mentalmente. Entendeu tudo?

― Sim, até que não está difícil, mas vou dar uma revisada em casa. Estou com dor de cabeça.

― Certo, vou deixar você na sua casa e vou embora descansar. Hoje foi osso!

Quando Sarah chegou em casa, Rebeca estava tapando uns buracos que Ted tinha feito no fundo do
quintal e brigando com ele. Sarah deixou suas coisas no quarto e pegou Ted para dar banho nele.

― Sarah, quando é que você vai ver o chuveiro do cara? Fica enrolando aí e perde o trabalho.
Você já tem muito dinheiro pra tá recusando serviço, né?!

― Depois da manhã eu vou, mãe, certeza. Amanhã o Fábio deve terminar a casa e depois é
feriado. Não vou ter aula, aí eu vou cedo.

― Tem que ganhar dinheiro. Não sei pra que ficar trabalhando de graça para os outros.

Sarah terminou de dar banho em Ted e foi tomar um banho. Estava cansada. Estudar de manhã, fazer
o estágio a tarde e ajudar sua mãe, estava deixando-a cansada e a rotina começou a desgastá-la.

71
No dia seguinte, após chegar da escola, Sarah foi almoçar e aguardou Fábio. Pelo dia corrido de
estudar e estagiar, quase não saia mais para passear com Ted. Iam mais aos finais de semana. Não
demorou muito e Fábio chegou.

― Bora que tem muita coisa para fazermos e quero terminar hoje. Amanhã quero descansar
e nem quero ver sua cara.

― Amanhã nem ia dar mesmo. Vou fazer um serviço ali e quero descansar que estou cansada.
Estou enrolada nos estudos e já estou exausta só de pensar.

― Quem te falou que seria fácil? Tudo na vida tem que se pagar um preço. Ou você paga para
viver uma vida medíocre ou paga para viver uma vida plena. A escolha é sua. Ahh! Pega dentro
da bolsa a folha com um passo a passo para você calcular a sua hora. Está bem legal e
detalhado. Não tem erro!

72
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

73
― Que legal, bem interessante isso. Então no primeiro eu devo imaginar um valor por mês? E
o que é esse negócio aqui de carga tributária?

― Vamos lá... Vou explicar o processo. Primeiramente tem que saber o quanto quer ganhar
por mês. Hoje o salário mínimo está em quinhentos e quarenta e cinco, se não me engano. Se
quiser ganhar por mês mil reais, você anota aí mil reais. Essa carga tributária é coisa do
governo e por enquanto você não precisa entender. Você só precisa usar esses trinta por cento,
igual à continha. Depois você vai para o próximo passo, que é descobrir a hora. Como
autônomo é difícil trabalhar todo dia as horas cheias, quer dizer, oito horas por dia. Mas, para
ter uma base, você usa como se trabalhasse oito horas por dia.

― Então vamos colocar que você trabalhe duzentas horas por mês, fazendo a conta, chega no
valor da sua hora trabalha.

― Então esse é o valor que devo cobrar por hora?

― Vai ser, mas ainda faltam só mais umas coisinhas que é o terceiro passo. Lá tem os custos
fixos, que é água, luz e telefone. Essas coisas que você usa em casa para auxiliar no seu
trabalho.

― O que é custo fixo?

― Custo fixo é aquilo que é cobrado seu todo mês. Você sabe que todo mês aquele valor vai
bater na porta da sua casa, luz e água são isso. Todo mês você tem que pagar eles. E tem outro
custo também além desse. É o chamado custo variável, que você não o tem todo dia, mas sabe
que ele vai aparecer, tipo ferramentas, papéis que precisa comprar... Não é algo fixo, ele varia.
Até esqueci de colocar aí. No quarto passo divide a soma dos custos fixo pela hora trabalhado.
O resultado você soma com a hora, igual está na conta.

74
VISÃO DE SARAH.

― O próximo é interessante porque você não vai trabalhar só para pagar conta. Precisa ter
uma margem de lucro. Só não extrapola muito, tá? Entre dez e vinte por cento está legal.
Porque, se colocar muito baixa, não vai ganhar nada; se colocar muito alta, sua hora vai ficar
cara e ninguém vai querer pagar por ela.

― Entendi. Aí é só cobrar esse valor considerando o lucro. Se o serviço demora duas horas, é
duas vezes a hora?

― Sim, aí você me pergunta: como sei quantas horas leva um serviço? Aí te respondo: não sei!
Isso varia e vai ser no erro e acerto que vai conseguir ter essa noção. Mas, com a experiência,
vai ajustando isso. Agora já posso te soltar por aí que se vira sozinha com os preços, né?

― Sim! Obrigada. Agora consigo dar preço nos meus trabalhos, assim espero!

― Certo, continuando com seus ensinamentos... Sobre o que eu ia falar mesmo? Até esqueci.
Era grau de proteção?

― Pera, deixa eu ver aqui que anotei separado. Era sobre leitura de placa de motores.

― Ahh, sim! Dê uma olhada na pasta e vê se acha umas folhas. Uma tem a xerox de uma placa
de motor e nas outras estão a descrição de cada coisa. Eu não ia falar um a um nem ferrando

75
para você. Mesmo que sei eu falasse tudo isso, iria demorar uma vida. Então digitei, e é auto
explicativo. Se tiver alguma dúvida, é só perguntar pra minha jovem pessoa.

76
VISÃO DE SARAH.

77
VISÃO DE SARAH.

78
VISÃO DE SARAH.

79
― Realmente é muita coisa, mas em casa vou dar uma olhada nisso.

― A placa de identificação contém informações das características construtivas e de


desempenho que são definidas pela norma NBR setenta noventa e quatro. Não tem segredo.
Já estamos chegando... Vamos terminar hoje essa casa. Na parte da manhã já adiantei muito
porque amanhã só quero relaxar os esqueletos.

Quando chegaram ao condomínio, logo iniciaram o restante do serviço para que desse tempo de
terminar tudo naquele dia. Fábio colocou Sarah para montar o quadro elétrico e foi fazer outras
coisas.

Ao passar de algum tempo, Sarah foi testar o quadro e, quando ligou o disjuntor das tomadas da
cozinha, desligou na hora. Tentou novamente e a mesma coisa. Chamou Fábio e falou para ele o
ocorrido. Fábio instruiu Sarah a verificar os locais de emenda.

Quando foi correr o circuito, viu que ligou por falta de atenção o neutro com a fase numa das
emendas de derivação do circuito. Após corrigir o problema, tudo se normalizou. Ao decorrer das
horas, terminaram tudo o que tinha que ser feito. Testaram tudo na presença do cliente e depois se
prepararam para irem embora.

― Por hoje chega. Fizemos o que já tinha que ser feito. Sorte nossa que você não conseguiu
colocar fogo na casa, né, mocinha? Senão nosso descanso amanhã tinha ido pro beleléu.

― Desculpa, foi uma falta de atenção. Minha cabeça anda congestionada de tanta coisa.

― Não tem nada, só entender que a eletricidade raras vezes te dá uma segunda chance. Deixa
só finalizar um conteúdo que ficou para hoje. Pega na bolsa a folha que fala de grau de
proteção. O grau de proteção indica o índice de proteção conforme a NBR sessenta e um,
quarenta e seis. Preste atenção no desenho que o primeiro algarismo se refere à proteção
contra objetos sólidos. Já o segundo número é para proteção contra líquidos. Os motores que
são instalados ao tempo, a norma prevê uma letra W entre as letras IP e os algoritmos. Tipo,
fica IPW cinquenta e cinco. Esses motores são próprios para ficar no relento do tempo.

80
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Algo importante também é a classe de isolamento do motor. Elas estão relacionadas com
o isolamento e as bobinas dos motores. Isso é o máximo que um motor pode alcançar em sua
temperatura para não queimar ― lembrou Fábio.

― Esses valores de temperaturas são medidos em graus celsius. É dado por letras e cada letra
indica um valor de classe de isolamento conforme vê aí na tabela. Essa tabela é para motores
abaixo de quinhentos cvs ― informou Fábio. ― Essa tabela que está vendo só é válida para

81
ambientes que estão instalados os motores até quarenta graus celsius. Acima disso não vale
mais, e é normalizada pela ABNT na norma EB cento e vinte.

VISÃO DE SARAH.

― E é só isso, não tem muito que explicar, não. Só ver a tabela mesmo. Por hoje chega de
conteúdo.

― Vimos muita coisa já... Amanhã vou me organizar com todos esses conteúdos. Só uma
pergunta, Fábio: por que está me ensinado assim? E de graça ainda?

― De graça não é, né? Você me ajuda. E por que te ensino assim? Bom, devemos passar tudo
o que sabemos para as outras pessoas, tudo mesmo. Não devemos ter medo de ensinar ou
transmitir tudo que sabemos. E eu adoro pessoas que querem crescer. Pessoas mesquinhas
que tem medo de passar tudo que sabem com medo que roubem delas suas ideias ou a que
copiem são tudo um bando de fracos. E outra: gosto de ensinar e amo ver as pessoas
crescerem. Quero que todas cresçam. Jovens como você precisam de experiência, precisam ser
orientados, precisam transformar essa energia em liberdade pessoal, financeira, seja lá qual
for sua liberdade que procura. Apenas precisam de uma direção e eu gosto de dar essa direção.

― Entendi, muito obrigada por me ensinar e me orientar.

― Sempre é bom ajudar quem precisa. Você já leu a Bíblia?

― Não, vou começar a ler hoje.

― Certo, ali está seu manual de vida. Tem um versículo em João oito, trinta e dois que fala “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Muitas coisas pensamos que sejam
corretas, mas não são... Por isso a importância de lermos a Bíblia.

― Legal! Hoje sem falta vou iniciar a leitura.

82
― Isso aí, e o próximo assunto será, se não me engano, fechamento de motores. É bem legal
essa parte. Mas quem vai sofrer sou eu, porque tem bastante desenhos nessa parte para eu
fazer. Só falar iria te deixar confusa. Já estamos chegando, não sei se vai ter algo depois do
feriado. Até agora não tenho nada em vista, mas qualquer coisa passo aí.

Chegando em casa, Sarah foi ajudar sua mãe a arrumar algumas coisas e depois foi passear com Ted
um pouco. Quase não estava andando com ele. No outro dia iria na casa do cliente e organizar suas
coisas pendentes. Após esses afazeres, Sarah foi jantar para ir dormir, pois estava muita cansada.

No dia seguinte, logo de manhã, Sarah foi tomar café e depois iniciar seu primeiro contato com a
leitura da Bíblia. Depois da leitura, arrumou suas coisas e foi com sua mãe na casa do cliente. Ao
chegar, sua mãe a apresentou ao cliente.

Olhando meio desconfiado para aquela garotinha, ficou meio relutante em deixar ela fazer o serviço.

― Eu preciso que veja meu chuveiro que está com problemas e instalar um ventilador de teto.
Você dá conta de fazer isso? ― perguntou o cliente.

― Consigo, sim. O senhor me mostra onde é eu vou ver qual é o problema.

― É a primeira vez que vejo uma mulher mexer com isso, e ainda por cima uma menina. Não
deveria estar em outro serviço não? Fazendo cabelo, unhas, coisas mais leves...

― Minha filha dá conta sim! Só mostrar para ela. E, se estiver algum problema, pode tirar da
minha diária o valor. ― disse Rebeca.

O cliente levou Sarah até o chuveiro e mostrou onde seria a instalação do ventilador. O problema do
chuveiro era o mesmo que ocorrera em sua casa. A novidade era o ventilador. Sarah tinha montado
uma vez só em seu curso e ficou com medo de não dar conta.

― Qual valor do seu trabalho para fazer esses dois serviços? ― perguntou o cliente.

Sarah ficou pensativa, pois ela sabia que o chuveiro era um ponto e iria cobrar vinte reais por ele. Já
o ventilador não tinha ideia do valor a cobrar. Não tinha como ela cobrar por hora naquele momento,
já que não tinha visto direito o que Fábio havia falado para ela sobre cobrar por hora.

― Cobro cinquenta reais!

― Se quiser, te pago trinta reais. Nem sei se vai dar conta de fazer esse serviço. Estou te dando
ele porque a sua mãe trabalha aqui.

― Tudo bem!

Por Sarah não ter experiência e ter deixado sua insegurança transparecer, não conseguiu mostrar
valor em seu serviço. Com isso, não conseguiu quebrar a objeção do argumento do cliente. Indo
arrumar o chuveiro primeiro, já sabia o que tinha que fazer e tinha mais confiança devido a ter
vivenciado esse problema em sua casa e no curso ter visto a necessidade de ligar direto.

83
Terminando o chuveiro, foi montar o ventilador. O local já estava pronto, era só montar o ventilador
e fixar ele no teto e passar a fiação. No momento da montagem, Sarah se atrapalhou, não estava
conseguindo montar o ventilador. Montou algumas vezes errado as pás do ventilador.

Sarah passou algumas horas com dificuldade mesmo acompanhando o diagrama do ventilador. Com
muito custo, conseguiu montar o ventilador e instalá-lo. Após todo esse longo trabalho, recebeu e
voltou para sua casa.

Estava feliz por ter conseguido terminar o trabalho, mas triste pelo modo que foi tratada. Como já
estava na parte da tarde, Sarah resolveu descansar para depois ir arrumar suas coisas. Não estava
com cabeça praquilo no momento.

Ao acordar, foi organizar seus estudos, passar a limpo o que tinha escrito com Fábio.

― É, Ted, não é fácil! Nem sei porque vim para essa área. Mas gosto tanto da elétrica! Espero
que melhorem as coisas...

Após Sarah ter organizado suas coisas, foi entregar o dinheiro que tinha recebido do trabalho para
sua mãe. Rebeca percebeu que sua filha tinha ficado triste com o modo que foi tratada.

― Filha, você está bem?

― Sim, mãe, já estou bem. Vim te entregar o dinheiro.

― Me dá só a metade, filha, e guarde o resto para quando precisar.

Com uma conversa breve, Sarah voltou para o quarto e depois de um tempo foi dormir, pois no outro
dia tinha aula. Ao acordar de manhã, foi tomar café e ler a Bíblia para ir à escola. Quando voltou da
escola, já deixou sua mochila no jeito, pois Fábio iria passar lá.

Passada uma hora, Sarah escutou a buzina na frente de sua casa. Era Fábio já esperando.

― Preparada pra hoje?

― Sim! Mas por que você está de bermuda? Vai trabalhar assim?

― Hoje não tenho nenhum trabalho. Estou aguardando as peças chegar daquela britadeira
ainda. Como vou ter que fazer uma viagem logo, logo, vou adiantar algumas coisas com você.
Vamos pra lanchonete da praça e vamos estudar lá.

― Tudo bem!

― Como foi a experiência no cliente?

― Poxa, fiquei nervosa. Me atrapalhei para instalar o ventilador, demorei que só, mas
consegui. Cara ainda ficou duvidando de mim, falou que meu preço estava caro também...

84
― Entendo, infelizmente você vai ser muito discriminada. Principalmente por ser mulher e
trabalhar onde praticamente só tem homem. Mas nunca deixe isso te afetar, tenha fé e
acredite no seu potencial. Pessoas assim são mortas internamente. Mas quanto cobrou?

― Cobrei cinquenta reais. Vinte o chuveiro e trinta o ventilador, mas ele achou caro e quis só
pagar trinta. Como preciso, eu peguei.

― Fez por ponto, né? Assim, Sarah, como você é nova ainda, o cliente monta em cima se
deixar. Você tem que ter personalidade e mostrar a ele valor no que vai fazer, a importância
da segurança que ele vai ter. Resumindo, os benefícios ao fazer isso e os prejuízos caso não
faça. Ter personalidade é não aceitar tudo que o cliente impõe. Esse negócio de falar que o
cliente sempre tem razão é balela, nem sempre ele tem. O cliente não entende o que você vai
fazer, e se soubesse não tinha te chamado. Explique o problema como se o cliente fosse burro,
não entendesse nada. Não use termo técnicos, explique no linguajar que ele entenda, mostre
que você tem autoridade sobre o que fala.

― Entendi, mas já aprendi a lição. Sobre o preço, fiz certo?

― Não! Mas com tempo você vai aprendendo e ajustando. Para algumas coisas, o valor é
diferente, tipo, para o chuveiro, se é uma manutenção ou a instalação dele é separadamente,
é um valor. Você poderia cobrar trinta reais, por exemplo. Já o ventilador, analisa a
dificuldade, o ambiente onde vai ser instalado, se é um ventilador mais simples, mais complexo
e o tempo que vai demorar em média. Por exemplo, nesse poderia ter cobrado cinquenta reais.
Se estiver com muita dúvida sobre pontos, cobra por hora. Você vai ter sua hora independente
do problema e dificuldade. Apenas explique para o cliente que trabalha com hora. Não vai
ficar enrolando também só para ganhar tempo que isso é ser mau caráter. Profissionais assim,
se posso falar que é profissional, não passa no filtro do tempo. Não vão pra frente, vão morrer
miseráveis na vida, real e espiritualmente.

― Como assim espiritualmente?

― Quando você engana as pessoas, Sarah, e não tem Deus no coração, você não tem os
princípios bíblicos. Na primeira carta aos coríntios, capítulo seis versículo nove, se não me
engano, fala “vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus?”. Tá tudo na
Bíblia!

― Quais seriam esses princípios? ― perguntou Sarah.

― Princípio é algo que não muda, não importa em que lugar ou planeta esteja. Aquilo vai ter
o mesmo sentimento para você. O caráter é um, não importa onde esteja, e não tem como
camuflar seu caráter por muito tempo. Princípio da semeadura e colheita é outro. Entenda: o
que plantar você vai colher! O fruto que está plantado agora é a dedicação, o esforço para
aprender algo. Isso, lá na frente, vai te dar bons frutos. Continue lendo a Bíblia e vai entender
mais. Pegue suas coisas e vamos. Hoje o assunto vai ser legal.

85
― O que vamos ver hoje de legal?

― Bora sentar ali... Hoje vamos ver fechamento de motores de seis, nove e doze terminais.

― Deixa eu só pegar meu caderno aqui e as canetas e simbora ― disse Sarah.

― Pois bem, vamos iniciar com motor de seis pontas. O mais tranquilo entre os três motores
que falei e o mais encontrado nas indústrias. Eles proporcionam ligação em duzentos e vinte
volts ou trezentos e oitenta volts e uma única velocidade. As ligações das bobinas podem ser
ligadas em estrela ou triângulo. Olha aqui nas folhas... Fiz os desenhos para você entender
melhor o que estou falando.

VISÃO DE SARAH.

― No desenho que está vendo, a ligação está em duzentos e vinte volts, que é a menor tensão.
Seus terminais estão ligados em triângulo. Já na ligação de trezentos e oitenta volts, está
ligado em estrela que é a maior tensão. Seus terminais estão ligados em estrela. Lembrando
que as bobina dos motores são feitas para rodar na menor tensão ― informou Fábio.

― Não entendi. Por que trezentos e oitenta, então? A rede não tem só duzentos e vinte
trifásico? Como vou ligar ele em trezentos e oitenta, então?

― Então, vamos por partes. Primeiro, sobre as redes elétricas. Você tem duzentos e vinte
trifásica e trezentos e oitenta trifásico, isso depende da configuração do transformador. Não
vamos entrar nessa parte ― informou Fábio. ― Segundo, o motor deve primeiro partir em

86
estrela, sempre na maior tensão. Pois como pode ver na imagem, em estrela a tensão de linha
é igual a tensão de fase dividida por raiz de três. Se você liga o motor em trezentos e oitenta
volts, você vai ter na bobina duzentos e vinte volts. Isso em uma rede de duzentos e vinte
trifásico. Depois o motor passa para triângulo, recebendo assim a tensão de duzentos e vinte
volts nas bobinas. Sendo tensão de linha é igual tensão de fase.

VISÃO DE SARAH.

― Se for uma rede de trezentos e oitenta volts, você vai ligar ele em seiscentos e sessenta
VISÃO DE SARAH
volts. Motor roda só na menor tensão.

― Deixa eu ver se entendi... Existe rede de duzentos e vinte trifásica e de trezentos e oitenta
trifásica, né? E o motor deve ser ligado na maior tensão em estrela e depois passa para a
menor tensão que é triângulo, certo? E como vou fazer essa mudança?

― Bem isso, além das bobinas serem feitas para trabalhar com a menor tensão, tem outras
coisas importantes também. Você vai ver isso quando for aprender o comando estrela
triângulo. É ela quem faz essa mudança.

― Entendi. No desenho tem duzentos e vinte volts e trezentos e oitenta. Mas a rede é uma
tensão ou outra, não tenho duas redes com duzentos e vinte e trezentos e oitenta volts juntas.
Não entendi essa parte.

87
― Olha, presta atenção. Se eu tenho uma rede de duzentos e vinte trifásica e vou ligar o motor
em trezentos e oitenta. Não significa que preciso ter essa tensão para o motor, eu liguei em
trezentos e oitenta, mas qual é a tensão máxima da rede? Não é duzentos e vinte volts? Então
o motor vai receber essa tensão. Não é que você fechou em trezentos e oitenta que o motor
vai criar essa tensão. Com isso a tensão que era de duzentos e vinte volts, ela vai para cento e
vinte sete volts. Quando voltar para estrela, volta para os duzentos e vinte volts.

― Ahh, sim! Essa complicou um pouco mais até agora.

― Agora que está começando a ficar legal. Fechamos o de seis pontas, né? Agora que você
entendeu, para os demais é a mesma coisa, só aumenta a tensão e o número de terminais.
Mas o conceito é o mesmo. Vamos para os motores de nove pontas, conhecido também como
ligação série paralelo. Pois seu enrolamento é dividido em duas partes. Presta atenção agora,
Sarah, para você não se confundir. O conceito desse é o mesmo de seis pontas, a diferença que
esse é, digamos, um motor especial. Para situações específicas em que precisa de duas tensões
no motor. Isso acaba fazendo com que ele tenha dois pares de enrolamento. Internamente o
fabricante fecha três terminais sobrando assim só nove para ser fechados. Agora quero sua
atenção, para você entender. Vou fazer uma analogia em bloco. O motor de nove pontas tem
dois blocos. Ligando esses dois blocos em série, cada bloco ficará com a metade da tensão de
fase nominal do motor. Caso os dois blocos sejam interligados em paralelo, o motor poderá
ser alimentado com tensão igual à metade da tensão anterior sem que se altere a tensão
aplicada a cada bobina. Tem basicamente dois tipos de religações para estes motores, estrela
e duplo estrela. Esse é um tipo e o outro é triângulo e duplo triângulo. Está entendendo? Está
muda aí, e, se não perguntar, vou entender que está tudo ok.

― Estou prestando atenção no que você fala e copiando, aí fica difícil pensar. Mas depois vou
estudar mais isso e, se tiver alguma dúvida, te pergunto. Porque se paro de copiar e presto
atenção em você, não copio e depois não vou ter como estudar.

― Certo! Como você pode ver no desenho, temos a ligação série paralelo em triângulo e duplo
triângulo. Esse motor tem o enrolamento para tensões duzentos e vinte, trezentos e oitenta,
para quatrocentos e quarenta, seiscentos e sessenta ou, para alguns casos que a rede é
duzentos e vinte, a tensão do motor é duzentos e vinte, quatrocentos e quarenta.

88
VISÃO DE SARAH.

― Já a ligação em série paralela estrela e duplo estrela é para motores com enrolamento em
duzentos e vinte, trezentos e oitenta, quatrocentos e quarenta, setecentos e sessenta,
trezentos e oitenta e para setecentos e sessenta ― informou Fábio. ― Como pode ver na
imagem, mesmo princípio do de seis pontas.

VISÃO DE SARAH.

89
― Mas se eu tenho setecentos e sessenta volts na tensão de linha sendo estrela, em cima da
bobina não deveria ser quatrocentos e quarenta? ― perguntou Sarah.

― Vamos lá, você esqueceu de uma coisa. Lembra quando fez seu curso e o professor falou de
circuitos série e paralelo? Pois bem, lembra que eu sempre falo?

― Esqueci agora ― respondeu Sarah.

― Bora estudar mais, né?! Tem que praticar sempre, porque o que não se pratica, se esquece.
Eu sempre te falo para entender a base. Isso aí no motor é a base. A bobina está em série,
então a tensão se divide, duzentos e vinte para cada. Porque você pode aplicar essa tensão de
quatrocentos e quarenta?

― Porque é um circuito série?

― Também! Mas qual o outro elemento que o circuito que você treinou lá tinha?

― Resistência!

― Isso! Já em corrente alternada, temos a impedância. Bobinas em série, a impedância dobra.

― O que é impedância?

― Isso vou deixar para você estudar depois senão vou perder o foco aqui. Vamos ver o motor
de doze pontas. Os motores de doze pontas não têm ligação interna igual ao de nove pontas.
O que possibilita a ligação do motor em quatro tipos. Em duzentos e vinte, trezentos e oitenta,
quatrocentos e quarenta e setecentos e sessenta. Mas toma cuidado só com um detalhe: a
ligação em setecentos e sessenta é só para a partida. A ligação para duzentos e vinte deverá
ser em duplo triângulo e a ligação para setecentos e sessenta em estrela bobina em série. A
ligação para trezentos e oitenta em dupla estrela e para quatrocentos e quarenta em triângulo
em série. Olhando os desenhos fica melhor para você entender. Só falando assim não vai
entender, então pega cada desenho e analisa com o que falei. O motor de doze pontas é
tranquilo também, lembra do conceito que te falei de série e paralelo do motor de nove pontas.

90
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH.

91
VISÃO DE SARAH
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH.

92
― Tudo está interligado e tudo é a base que vem estudando. Claro que pode se aprofundar
mais... Aqui eu estou te dando os tijolos para construir a base, e não o prédio pronto. Só com
tijolo você não constrói nada. Precisa de outras habilidades, outros conhecimentos mais
profundos. Mas, com o que te passei, já tem o caminho para seguir e ir atrás das outras coisas
que faltam.

― Verdade. Fico bem feliz por isso. ― falou Sarah, em tom de gratidão.

― Agora vamos para o mim. Não o mim ser índio, mas o mim de motor de indução monofásico.
Vamos abordar isso agora. Na forma construtiva dele não vou dar ênfase. A diferença é que
vai ter um capacitor para o motor obter maior ângulo entre as correntes dos enrolamentos
auxiliares e principal. E é elevado o torque de partida. Outro é o centrífugo, que é o conjunto
responsável pelo chaveamento do enrolamento auxiliar durante a partida. De resto, melhor
entender o funcionamento dele.

― Espera só um pouco aí que minha mão está doendo e a cada dia minha letra piora de tanto
que tenho que escrever rápido.

― Pense pelo lado bom. Ninguém nesse mundo não vai ser mais rápida que você na hora de
escrever.

― Engraçadinho!

― Vamos fazer um intervalo de cinco minutos, pede um suco de laranja lá para mim e vê o
que você quer e traz pra gente.

Passados alguns minutos do intervalo que Fábio tinha prometido, os dois voltaram para os estudos
novamente.

― Depois de esticar as canelas um pouco e comer, voltemos ao que interessa. Vou falar agora
sobre o funcionamento do mim. Os motores monofásicos são motores de pequena e média
potência, geralmente menores que cinco cv. São chamados de monofásico porque os seus
enrolamentos de campo são ligados diretamente a uma fonte monofásica.

― Não posso ligar eles em trifásico?

― Não, eles são alternativas justamente para lugares que não tem alimentação trifásicas. São
motores com mais usabilidade em condomínio, residências, oficinas e zonas rurais. Presta
atenção agora que você vai entender por que não pode. O motor monofásico só tem uma fase
de alimentação. Com isso, não possui um campo girante igual ao motor trifásico, mas um
campo magnético pulsante.

― Por ser campo pulsante, isso impede que tenham torque de partida. Para solucionar esse
problema, utiliza um enrolamento auxiliar ao qual é ligado um capacitor em série com a
bobina.

93
― Então o capacitor vira uma segunda bobina para ajudar o motor a girar? ― perguntou
Sarah.

― Quase isso. O motor monofásico tem uma bobina principal e uma auxiliar, lembra? A função
do capacitor é causar uma defasagem na corrente, fazendo assim o motor funcionar bifásico.
O dispositivo centrífugo que falei, ele é uma chave mecânica ligado em série com o capacitor
de partida. Ela serve para desligar o enrolamento auxiliar após o motor atingir certa
velocidade.

― Por que ele desliga a bobina auxiliar?

― Me dá as folhas da pasta ― disse Fábio. ― Olha o diagrama que fiz que vai entender melhor
sobre o assunto. Tem que desligar a bobina auxiliar senão ela vai queimar e danificar o motor.
Ela é projetada apenas para auxiliar o motor na partida, após isso tem que ser desligada.

VISÃO DE SARAH.

― Entendi. O capacitor faz a defasagem entre a principal e a auxiliar e depois ela tem que ser
desligada, certo?

― Isso, como os dois enrolamentos, na construção do motor estão separados de noventa


graus. A diferença de fase de noventa graus da corrente produzirá um único campo magnético,
uniforme e girante. Com isso o motor é arrastado como se estivesse em uma rede trifásica. O
conjugado de partida pode atingir até quatro vezes o valor do conjugado nominal. E o sentido
de rotação se dá quando a ligação da bobina auxiliar é invertida, trocando a numeração seis
pela cinco na rede. Alguns motores novos vêm com marcação cinco e oito. Entendido?

94
― Sim, é quase a mesma coisa que pegar um motor trifásico e usar só uma bobina dele. A
diferença que vou ter que usar uma bobina auxiliar para ajudar na partida e um capacitor para
causar defasagem.

― Bem isso, jovem... Quanto mais você vai aprendendo, mais tranquilo de assimilar as coisas
fica. Agora vou falar de alguns modelos diferentes do mim. Vou falar sobre os cinco que
provavelmente são os mais usados, que é o por fase auxiliar, com capacitor de partida,
capacitor permanente, dois capacitores e, por último, os de polo sombreado. Vou começar
pelo motor monofásico de fase auxiliar, também conhecido por fase dividida. Tendo assim um
enrolamento principal, que é a bobina de trabalho e uma auxiliar, que é a de partida. O fio do
enrolamento principal é mais grosso que o do enrolamento auxiliar. O enrolamento auxiliar
tem maior resistência e menor reatância ou igual a do principal. Isso causa uma defasagem
de noventa graus. No desenho você pode observar o esquema. O enrolamento auxiliar cria um
deslocamento de fase que produz o torque necessário para a rotação inicial e aceleração.

VISÃO DE SARAH.

― A defasagem entre os enrolamentos vai ter como consequência campos magnéticos


também defasados entre si. Com essa defasagem, vai criar um campo pulsante que vai
provocar a indução magnética no rotor e força ele a acompanhar a rotação desse campo,
fazendo o motor girar.

95
― Tenho mesmo que aprender isso? Onde vou usar esse conhecimento?

― Para você entender como o motor gira, a composição interna, o que a tensão e a corrente
provocam, entre outras coisas... Na prática, provavelmente não usará muito esse
conhecimento, mas é importante você saber isso. É igual plano de saúde: você não sabe
quando vai usar, mas sabe que é necessário ter para alguma emergência. Certos conteúdos
de comandos são assim também... Se você quer se tornar um profissional diferenciado, precisa
ter conhecimento técnico. Claro que estou falando de motores, pois eles são os caras de maior
importância em comandos. Se eu falasse para você sobre processamento digital, qual valor
isso teria? Nenhum!

― Entendi.

― Onde eu parei mesmo? Ahh, sim! E quando esses motores atingem certa velocidade, é
acionado a centrífuga para desligar o enrolamento auxiliar. A corrente de partida dele é
aproximadamente cinco vezes maior que a nominal. Esses motores são encontrados
comercialmente com dois, quatro e seis terminais. Os de dois terminais são construídos para
funcionar somente em cento e vinte sete e duzentos e vinte volts, e não podem inverter a
rotação. No mais é só isso, não tem muito que falar não. Os próximos seguem a mesma linha:
entendeu um, praticamente os outros ficam tranquilos de compreender. Para não perdermos
muito tempo, quero finalizar esse assunto antes de irmos embora. Já está quase acabando,
vou falar agora com capacitor de partida. A única diferença desse pro que eu acabei de falar,
é o capacitor que é ligado em paralelo com o enrolamento auxiliar, como você pode ver no
desenho que fiz.

VISÃO DE SARAH.

96
― A função do capacitor é a combinação de sua impedância e a impedância do enrolamento
auxiliar. Defasar em aproximadamente noventa graus a corrente do enrolamento principal da
auxiliar, produzindo o campo girante ideal para a produção de torque elevado.

― Parece que, para os motores monofásico, tudo gira em torno de fazer com que a fase fique
defasada em noventa graus, para ter um campo e assim ter um torque, né?

― Bem isso, Sarah. Como falei, entendeu o primeiro, o resto segue a mesma linha de
raciocínio. Muda pouquíssima coisa. Lembrando que esse também tem a chave centrífugo
para desligar o enrolamento auxiliar com o capacitor. Esse motor é bom porque tem torque
elevado e ruim por ter baixo fator de potência. Próximo da lista é o com capacitor permanente.
Ele diferencia do anterior só por não ter o centrífugo como você pode ver no meu belo desenho
que fiz aí.

― Belo, é? ― disse Sarah, ao que Fábio reagiu com uma cara de desaprovação, mas com um
risinho contido ao fundo.

VISÃO DE SARAH.

― Pelo capacitor ser permanente, o motor tem dois enrolamentos com características
semelhantes que ficam ligados à rede o tempo todo em que o motor está ligado. Podemos
falar que tem dois enrolamentos: o principal e o principal dois que tem o capacitor em série
como vimos no desenho. Voltamos de novo ao que estou falando há horas sobre os motores

97
monofásicos. A bendita defasagem de noventa graus causada pelo capacitor... Como o
capacitor não desliga, podemos considerar que o motor trabalha com duas fases para
determinar a corrente de carga. Sobre o de capacitor permanente é só isso. Vamos para o de
dois capacitores que esse cara utiliza das mesmas vantagens dos dois anteriores. Diferença é
que aqui vão ser usado dois capacitores na partida como você pode ver.

VISÃO DE SARAH.

― Um deles é um capacitor eletrolítico de partida cerca de dez a vinte vezes o valor do


capacitor de funcionamento que é desligado por uma chave centrífuga.

― Então um ajuda na partida e o outro permanece ligado?

― Isso mesmo! O próximo e último a ser abordado, e depois dele vamos embora, é o de pólos
sombreados ou conhecido também como campo distorcido e motor de pólo ranhurado. Entre
todos os monofásicos que vimos, esse é o mais simples, confiável e econômico por mais que o
nome seja estranho. Só bota medo pelo nome mesmo. Existem trocentos motores desse tipo
e uma das formas mais comuns é o de pólos salientes. Cada polo tem seu lado abraçado por
uma espira de cobre em curto-circuito como você vê na folha.

98
VISÃO DE SARAH.

― A corrente induzida nessa bobina faz com que o fluxo que atravessa sofra um atraso em
relação ao fluxo da parte não abraçada por ela. O resultado disso é semelhante a um campo
girante que move na direção da parte não abraçada para a abraçada.

― Abraçado que você fala é onde a bobina está enrolada?

― Isso mesmo. Esse esquema é feito para produzir um torque no motor. O sentido da rotação
depende do lado que fica a parte enrolada do motor. Assim apresentando um único sentido
de rotação.

― Então esse não tem como inverter a rotação nos fios?

― Nos fios, não, mas você pode mudar a posição do eixo do motor em relação ao estator que
vai mudar o sentido. Finalizamos essa parte do motor monofásico. Deixa eu ver que horas são
para ver se dá tempo de falar como você faz o fechamento deles. É... Ainda dá tempo, temos
alguns minutinhos ainda e a parte de fechamento é rápida.

― Espera! Deixa eu ir no banheiro rapidinho que estou apertada.

Passados alguns minutos de pausa para esticarem as pernas, pois já haviam horas que estavam ali
estudando, retomaram os estudos para irem embora, pois já estava quase na hora de Sarah estar em
casa.

― Aqui não tem mistério. O motor monofásico só tem duas tensões que é o cento e vinte sete
volts e o duzentos e vinte volts. Diferença é que tem motor com dois terminais, outros com
quatro e seis terminais. Se não me engano, eu desenhei as ligações. Me dá a bolsa aí e deixa

99
eu ver se coloquei elas aqui. Ahhh, sim, aqui está! Toma! Como pode ver no desenho, o
primeiro que vou falar é o de dois terminais. Nem tem o que falar dele praticamente. Ele só
aceita um valor de tensão e não tem como reverter o sentido de giro dele.

VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH.

100
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― O de quatro terminais já aceita cento e vinte sete e duzentos e vinte volts, porém você ainda
não consegue inverter a rotação desse motor também. O único em que pode ser invertida a
rotação é o de seis terminais. Claro que ele não pode inverter o sentido de rotação ligado igual
ao trifásico. Você precisa desligar ele e inverter os terminais da bobina auxiliar que são os
números cinco e seis. Em alguns mais novos vem com o número oito no lugar do cinco. O
desenho de ligação já é autoexplicativo. E pronto. Terminamos toda essa parte de motores.
Foi bem puxado, né?

― Vimos muita coisa mesmo. Já nem tenho mão mais e minha letra só piora. Triste vida...

― Vai se acostumando que depois piora. Bora que já estou exausto de tanto falar. Maxilar já
está doendo. Nem lembro qual é o próximo assunto, mas em casa eu vejo. Não tenho nada
para amanhã até o momento. Caso não apareça, vamos continuar o mesmo processo. A gente
vem aqui na parte da tarde e estudamos mais.

― Falta muita coisa para terminar comandos ainda?

― Creio que já estamos quase na metade do seu aprendizado, vamos dizer assim. Você precisa
comprar um celular para ficar mais fácil falar com você.

― Não tenho dinheiro, os serviços que fiz cobrei errado e o que peguei dei para minha mãe
pra ajudar ela.

― Não se preocupe que logo logo vai ter dinheiro. Estou te ensinando a pescar, não vou pescar
por você. Já dizia em Provérbios que o dinheiro ganho com desonestidade diminuirá, mas
quem o ajunta aos poucos terá cada vez mais. De pouco em pouco você vai juntando. Vai
pedindo sabedoria a Deus para te ajudar a administrar o dinheiro que ganha.

― Tá!

Deixando Sarah em sua casa, Fábio foi para casa descansar do dia de professor que teve. Sarah
conversou rapidamente com sua mãe e foi dormir. Estava com muita dor de cabeça e exausta
mentalmente pelo tanto de conteúdo que tinha absorvido.

101
Quando Sarah acordou, já tinha passado do jantar. Sua mãe estava lavando louça quando foi comer
algo.

― Oi, mãe, o que tem para comer?

― Tem língua, quer?

― Não! Quero arroz e feijão, que estou cansada ainda. Credo, parece que nem dormi! Ted,
Ted, vem aqui rapaz! Mal falei com você hoje, né? Mamãe só tá o pó e queria dormir uma
semana seguida.

― Uai, não foi você que quis isso? Agora aguenta! Vai comer logo que já está tarde e isso não
é hora de jantar. As coisas estão no fogão... Esquenta antes de comer.

Depois que Sarah jantou, foi para seu quarto organizar suas coisas para o dia seguinte.

― Nossa, Ted, tenho um monte de coisas para copiar e estudar. Tenho que pensar em um jeito
de começar a ganhar mais clientes. Fiz só dois trabalhos, a coisa não está andando. Esse final
de semana vou organizar os estudos. Pensando aqui que seria bom ter algo pra prática, né?
Ter um computador iria ajudar muito. Um celular também! Tudo que tenho são cinco reais.
Poxa! Não consigo pensar em nada e não tenho muita experiência. Na verdade, não tenho é
nada. Vou ir dormir senão vou ficar doida aqui que amanhã tenho aula.

Quando levantou, Sarah tomou café e foi ler a Bíblia para ir à escola. Umas horas depois, retornou e
foi almoçar para aguardar Fábio. Não demorou muito e ela escutou uma buzina na porta da casa.

― Booora, menina!

― O que temos para hoje?

― Hoje vamos voltar para a agradável praça. Debaixo daquela gostosa sombra de árvore que
tem lá para estudarmos.

― Resumindo, não temos nada, né?

― De trabalho, não. Até agora não obtive mais notícias da britadeira. Porém, tenho uma
ótima notícia. Bem provável que vamos ter nos próximos dias um projeto para desenvolver em
campo. Ainda estou vendo com o pessoal da manutenção como vai ser.

― Dessa vez vai me levar para aprender, né?

― Vou sim, e caso consiga fechar o projeto você vai aprender muito. Só que talvez não entenda
algumas coisas de início porque são coisas mais avançadas já. Mas não tem problema, porque
só a experiência que vai pegar já é ótima... E sua mãe, está bem? Como está por lá?

― Está bem, mas ando vendo minha mãe pouco. De manhã vou para a escola, à tarde tô com
você e, quando chego, já quero ir dormir. Ando cansada com tudo isso. Pensei que seria mais
tranquilo a elétrica.

102
― Vida de autônomo não é fácil, Sarah. Você não vai ficar rica e ganha o suficiente para viver.
Por isso que te falo para pensar em algo. Principalmente que utiliza esses três pilares que é o
que gosta de fazer, que esteja relacionado com à área que gosta e que possa gerar dinheiro.
Isso tudo tem que gerar valor para as pessoas. Sem isso, esquece!

― Pois é, estava pensando nisso esses dias, mas nada veio à cabeça. Chega dá até um
desânimo... Sem dinheiro, não estou tendo tempo de procurar clientes... Tem hora que dá
vontade de desistir e ir procurar trabalho em alguma loja ou supermercado.

― Não desanime que é pior. Tem que persistir, que é a persistência que separa os homens das
crianças. Os fracassados logo arrumam uma desculpa e param no meio do caminho e depois
ficam de mimimi colocando a culpa nos outros. Uma dica que dou: sempre que você chegar
do estágio, se não tiver nada para fazer, vá caminhar. Pega essa rotina de todo dia caminhar.
Fazer exercícios é muito bom e sempre que estamos caminhando novas ideias surgem. Comigo
é batata. Se eu precisar pensar em algo ou ter uma ideia, é só eu ir caminhar que magicamente
ela surge na minha cabeça. Magicamente não... Sempre atribuo as minhas ideias vindas de
Deus. Ele quem me fornece elas.

― Vou fazer isso. Eu já peguei o jeito de todo dia de manhã antes de ir para a aula de ler a
Bíblia. Vai ser legal a caminhada e vou levar o Ted comigo.

― Boa ideia! E, sobre a Bíblia, está conseguindo entender?

― Não muito. Estou lendo Mateus e vendo a história de Jesus. É linda! Tem muita coisa que
não entendo também.

― É normal. Você não tem instrução, assimilar fica difícil. Continue lendo, procure uma igreja
para entender mais da palavra. Mas sempre o seu foco deve ser na palavra.

― Tá! Vou fazer isso.

― Vamos para nossa querida mesa de plástico. O bom que o tempo hoje está bom, meio
nublado. Quando o sol está estalando mamonas é tenso estudar assim. Hoje deve render
nossos estudos.

― Né?! Amo quando o tempo está assim!

― Então vamos aproveitar esse tempo. Hoje vou falar sobre transformadores para você. O
básico deles... E creio que terminamos essa parte de motores elétricos hoje. Vou falar sobre
transformadores para comando, aqueles pequenos, não os grandões de distribuição que você
vê aí nos postes. Vou focar só no que importa mesmo nele que é o núcleo o qual constitui o
circuito magnético do transformador. Ele é formado por laminados. Ahh, e toma os desenhos
dessa parte. Como pode ver, essas lâminas são de chapas metálicas de aço silício. O legal delas
é que tem a propriedade de perder o magnetismo quando você desliga o transformador e
quando liga ela magnetiza rapidão também.

103
VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― E um detalhe sobre essas lâminas: elas variam de acordo com o tamanho e tipo de núcleo.
Quanto mais finas, melhores serão. Geralmente você vai encontrar o núcleo em forma de
coluna ou anel, núcleo encouraçado. São laminados isolados para evitar as perdas por
histerese e perdas por correntes parasitas denominadas de perdas no ferro.

― O que é corrente parasita?

― Vou falar sobre isso mais a frente, para não perdermos o foco. E a bobina que é para gerar
um campo magnético enrolada em formato circular ou quadrada. A bobina que recebe a
alimentação da rede é chamada de primária e a que é ligada a carga de secundaria.

― Espera um pouco aí, deixa só eu ir pegar uma água ― disse Sarah.

― Traz um pouco para mim.

Sarah atendeu ao pedido em alguns segundos.

― Obrigado! Quando começo a falar muito, preciso de água senão a boca fica seca e
espumando igual cachorro raivoso. Noventa por cento do tempo é só eu falando mesmo.

― Você está ditando trocentas coisas pra mim, não consigo pensar e escrever ao mesmo
tempo. Pego os pontos mais importantes que tenho dúvida. Em casa que consigo estudar com
calma tudo que me falou. Isso quando entendo minha letra...

104
― Não temos muito tempo. Minha ideia era passar o conteúdo pra você em um mês, mas não
sei se vai dar tempo. Se sair aquele projeto que te falei, provável que vamos ter que
interromper as aulas até terminarmos ele.

― Tendi! Espero aprender bastante lá.

― Vai sim. Bora continuar aqui que o tempo corre. Onde parei mesmo? Esqueci!

― Estava falando que primário é onde entra a tensão e saída é onde liga a carga.

― Isso mesmo! Na parte construtiva, as duas, no geral, são parecidas. O que muda é a seção
do fio e o número de espiras. Basicamente é isso a constituição do transformador. Pelo menos
as coisas mais importantes. Agora vem a parte para você entender o funcionamento dele, por
que entra duzentos e vinte e sai vinte e quatro volts, essas coisas... O transformador, agora
falando em um modo geral, é um equipamento que permite elevar ou abaixar a tensão. O
funcionamento dele se baseia nos fundamentos do eletromagnetismo. Vou falar só o básico
porque, se aprofundar sobre o tema, vai fugir do objeto. Mesmo assim não tenho tempo para
aprofundar isso agora. Sejamos honestos. Mas nos fundamentos eu vou destacar três leis que
aí, se no futuro você quiser se aprofundar, já tem noção de por onde começar. A primeira
começa com a experiência de OersTed em que todo condutor percorrido por uma corrente
elétrica cria em torno de si um campo magnético. A segunda é de Faraday que mostra que
todo condutor mergulhado em um campo magnético variável terá em seus terminais uma
força eletromotriz induzida. Por fim a de Lenz, em que a corrente que aparece em um circuito
elétrico fechado em função de uma força eletromotriz induzida tem sentido tal a anular a
causa que lhe deu origem.

― Toma aqui e bebe, que já já está espumando igual cachorro raivoso ― disse Sarah.

― Ficar falando por horas não é mole. Ao menos estou aprendendo também passando
conteúdo para você. Quando vou preparar algo, consulto os livros que tenho entre outras
coisas, escrevo e tals. Isso faz com que eu aprenda mais ainda e se torna divertido. ― falou
Fábio, um tanto feliz ― Já sabemos que se movimentar um campo magnético diante de um
condutor surge uma corrente induzida. Sendo assim, um campo magnético variável produz
fluxo magnético variável que é responsável pela corrente induzida. Ufa! A mágica vem agora:
se liga no que vou falar que isso é muito da hora. Lembra das leis que citei, né? Vou falar e
você vai me dizer qual dessas leis é, beleza?

― Tá, mais fala devagar pra eu conseguir prestar mais atenção.

― Certo! Quando aplicamos uma tensão alternada... Ahh!, tem que ser alternada, viu?
Corrente continua não faz porra nenhuma, e por que não faz nada?

― Pelo que vi até agora, é porque, pra gerar um campo variável, só a corrente alternada faz
isso. A corrente contínua iria passar pelo enrolamento como se fosse um condutor normal. É
isso?

105
― Isso mesmo! Aprendendo bem, né? Anda estudando em casa também?

― Quase nada, ando muito cansada. Nunca tinha entrado numa rotina dessa. Mas vou fazer
as caminhadas para ver se melhoro.

― Continuemos! Onde eu parei mesmo? Ahh, sim! Quando aplicamos uma tensão alternada
no enrolamento primário do transformador, sendo que o circuito do primário é um circuito
fechado como pode ver aí no desenho.

VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Bom, nesse circuito aparece uma corrente que chamamos de corrente de excitação, criando
assim um fluxo circulando pelo caminho de menor relutância oferecida pelo núcleo. E cortando
o enrolamento do secundário. Das três leis que te falei, qual se encaixa nessa descrição?

― É a primeira do experimento lá... Não sei falar o nome do cara. Mas ele fala que quando
uma corrente percorre um condutor cria um campo.

― OersTed, esse mesmo! Sendo a corrente alternada, o fluxo produzido será alternado
provocando no enrolamento secundário o aparecimento de uma força eletromotriz induzida.
Qual é essa lei Sarah?

― De Lenz? A de Lenz fala que mergulhar em um campo variável terá uma força eletromotriz
induzida, né?

― A lei está certa, você só trocou o nome: não é a de Lenz essa, e sim do Faraday.

― Verdade!

106
― Esse fluxo variável, quando atinge o núcleo interno, gera no secundário uma tensão
alternada nesse enrolamento por causa da indução magnética. Como viu aí, a tensão que
aparece no secundário por causa do fluxo do primário recebe o nome de tensão induzida.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― O legal disso tudo é que os dois primários são separados, né? Só tem tensão no secundário
por causa do campo gerado pelo primário ― disse Sarah.

― Sim, a transferência de energia se dá pelas linhas de força magnéticas do primário. Que é


proporcional ao número de linhas que corta a bobina do secundária. Por isso que o secundário
e primário são montados no núcleo de material ferromagnético. Para ajudar nessa
transferência de energia entra em ação o núcleo. Ele tem a função de diminuir a dispersão do
campo magnético melhorando a conexão entre o primário e secundário. Agora vem o bom,
que é a relação de transformação. Vai entender o porquê de entrar duzentos e vinte e sair
cento e vinte e sete volts. A relação de transformação assim propriamente dita se dá entre a
relação de tensão aplicada ao primário e a tensão induzida no secundário. Essa relação está
ligada ao número de espiras do primário e do secundário. No desenho que você vê, o primário
tem duzentas espiras e o secundário tem quatrocentas espiras. Sendo assim, a tensão do
secundário será o dobro.

107
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH

VISÃO DE SARAH.

― Você pode notar que na relação da tensão do primário e secundário quanto às espiras tem
o mesmo resultado de dois para um. O modo que você lê isso é: saem dois para cada um que
entra. Essa relação que vê é a relação de transformação. Caso não tenhas o número de
espediras dos enrolamentos, você pode calcular por essa fórmula.

108
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH
― Só te lembrando que essa equação está adaptada para receber gauss e centímetro
quadrado. Que são encontrados em tabelas e chapas de núcleos. Por isso esse número cheio
de zeros.

― Espera um pouco... Deixa eu ir no banheiro rapidinho.

― Tá, eu vou buscar algo para gente comer e beber. Essa coxinha está com uma cara estranha,
mas a fome é quem manda.

― Nem quero, vou ficar só no suco mesmo. Parece de ontem isso ― disse Sarah.

― Dá nada não. Ah, olha! Aqui vai uma coisa importante. A relação entre números de espiras
e tensão é diretamente proporcional. A relação entre número de espiras e corrente é
inversamente proporcional. A relação entre corrente e tensão está associada à potência
aparente do transformador, que deve ser a mesma para primário e secundário tirando as
perdas claro. Quando a gente fala em relação de transformação para transformadores,
levamos em conta três grupos que são os transformadores elevador, o abaixador e o isolador
de tensão. O mais importante era você entender a relação de transformação. Porque os grupos
são tranquilos... Rapaz, essa coxinha não bateu muito bem no meu estômago, não!

― Como meu pai falava, tu é igual peixe: morre pela boca ― disse Sarah

― Sábio homem! Vamos terminar logo isso, espero que dê tempo. O primeiro do grupo que
vamos abordar é o elevador. Não há mistério, bem tranquilos eles... O elevador é um
transformador com relação de transformação menos que um devido ao fato de que o número
de espiras do secundário é maior que do primário. Dessa forma a tensão do secundário será

109
maior que a do primário. No desenho você pode notar que a relação dele é um pra cinco. Viu
que não tem mistério?!

VISÃO DE SARAH.
― O abaixador é o inverso: a relação é maior que um. A tensão no secundário é menor que no
primário. O desenho já é autoexplicativo. Rapaz, minha barriga não está legal... Sarah,
seguinte, vou falar o isolador e vamos embora. O isolador tem relação um, pois o número de

110
espiras é igual no primário e secundário. A tensão é a mesma coisa. Esses transformadores
são muito usados para a proteção de equipamentos em laboratórios porque ele isola
eletricamente o aparelho da rede elétrica.

VISÃO DE SARAH.

― Sarah, vamos embora e rápido senão vou fazer algo que não devo aqui. Caraca! Que
coxinha lascada...

― Falo nada pra você ― disse Sarah.

― Vou deixar você em casa rapidão e correr pra minha. Amanhã vou ligar pra ter informações
sobre a máquina de peneirar areia. Povo da indústria é muito enrolado. Mas, se der certo, lá
é jogo rápido.

111
― É complicado para montar o quadro?

― Não, é uma partida estrela-triângulo. Só ligar o motor que vai acionar um motor de peneirar
areia. Antes da viagem o que tenho no momento de trabalho é esse. Estou vendo o projeto em
uma indústria também. Devo ir lá semana que vem para ver o que eles querem de fato.

― Acha que dá tempo de você terminar de me ensinar?

― Dá sim! Para finalizarmos a segunda parte, só falta eu falar das ligações dos
transformadores para comandos. Depois só abordar alguns dispositivos de proteção e os
diagramas. Aí você estará livre de mim.

Ao chegar em casa, Sarah foi tomar um banho e dormir um pouco. Sua mãe ainda não tinha chegado
do trabalho de diarista. Ao acordar, Rebeca já estava em casa. Conversou um pouco com ela e foi dar
uma volta com Ted na praça como de costume.

― Vem, Ted, bora sentar ali que preciso ver o que tenho pra fazer. Preciso me planejar, criar
o hábito de estudar mais. Já caminho e leio a Bíblia. Mas preciso melhorar ainda, fora que
tenho que ganhar dinheiro. Preciso pensar em algo. Tô parecendo doida conversando com
você, né, Ted?!

Passado um tempo, Sarah voltou para sua casa e foi organizar seu material de estudo. Não tinha
muita coisa... Sem livros, uma apostila do curso que tinha feito e as anotações que fazia com Fábio.
Sarah se virava como podia naquele momento.

No dia seguinte, Sarah se levantou cedo, tomou café e foi ler a Bíblia. Estava dando seus primeiros
passos no conhecer da palavra de Deus. Terminando, foi para a escola e, ao chegar da aula, almoçou
e aguardou Fábio. Uma hora depois e nada do Fábio aparecer.

― Mãe, acho que Fábio não vem hoje. Ele não estava bem do estômago.

― Então vai caçar o que fazer, menina. Aproveita esse tempo livre.

― Já sei! Vou dar uma volta para ver se acho algumas construções e vou oferecer meu serviço.

Sarah se arrumou e foi andar pela cidade, que não era muito grande. Por volta de 20 mil habitantes.
Andando debaixo de um sol escaldante, passou por um bairro que estava em crescimento. Foi o único
lugar em que encontrou quatro casas sendo construídas.

Passou em cada uma e, engolindo sua vergonha, se apresentou. Só em uma, um senhor pediu seu
telefone. Como Sarah não tinha nenhum número de telefone. Acabou voltando para casa.

― Me sinto toscada desse sol. Mãe, preciso de uma coisa!

― Tem dinheiro não!

― Preciso de um celular, mãe. Sem celular, não consigo deixar meu contato pra alguém me
ligar pra trabalho.

112
― Hm... Vou ver com a Rita se ela sabe de alguém que tenha um simplesinho para vender.

Sarah foi ajudar sua mãe nos afazeres e depois foi estudar e revisar alguns assuntos que estava vendo
com Fábio. O dia correu que ela nem percebeu e logo foi dormir. No dia seguinte, acordou atrasada
para a escola. Mal tomou café e saiu correndo. Quando voltou, aguardou Fábio, que logo apareceu.

― Ainda vivo?

― Ontem ainda não estava bem. Abençoada coxinha. Vou parar de comer essas frituras. Só
me ferro!

― Que temos para hoje?

― O pessoal da máquina de peneirar areia desistiu de fazer o retrofit por agora. Quando
resolverem, vão entrar em contato. Mas tenho uma boa notícia. Vamos em uma marmoraria.
Um cliente está com um problema em uma de suas esteiras. O motor anda aquecendo muito
e parando. Vamos lá fazer uma visita técnica. E já sabe né? Como de lei, já pega as folhas aí
que estamos muito atrasados. Vou finalizar a segunda parte para iniciarmos a penúltima.

― Já estava com saudades de escravizar minha mão na escrita ― disse Sarah.

― Não seja por isso: vamos começar. Vou falar um pouco das correntes parasitas, como já
tinha mencionado anteriormente. Elas também são chamadas de correntes de Foucault.
Quem descobriu isso foi o físico francês Jean Leais Foucault. Você sabe que o núcleo é feito de
material condutor e mergulhado em um campo magnético deverá induzir forças
eletromotrizes. De quem é essa lei?

― Lei de Faraday, né?

― Isso mesmo. Considerando o núcleo um circuito fechado, aparece a corrente parasita. E


como o fluxo magnético é responsável pela indução magnética, produz corrente induzida
nesse núcleo de ferro. Produzindo, assim, campo magnéticos contrários ao campo que deu
origem a essas correntes. Quanto menos a resistência do núcleo, maiores os efeitos
provocados pelas correntes de Foucault. Que são perdas de rendimento e aquecimento.

― Será que é isso que está tendo lá na marmoraria?

― Não sei, mas precisa ser analisado tudo. Lá vamos ver o que está acontecendo. Para
minimizar esse problema, as empresas usam núcleo maciço nos transformadores. São chapas
de ferro magnético, de espessura reduzida e isoladas eletricamente uma da outra. E também
montadas em forma de núcleos. Por elas estarem isoladas eletricamente, não facilitam a
circulação das correntes parasitas, reduzindo assim o aquecimento e a influência negativa do
campo magnético dessa origem. Entendeu, Sarah?

― Sim!

113
― Seguimos... Vou falar da ligação de transformador monofásico com três fios. Um
transformador que tem no primário três fios é denominado derivação central. Conhecido
também de tap. Você pode alimentar ele com duzentos e vinte volts ou cento e dez volts.
Depende da posição do tap.

― O que é tap?

― O tap é uma chave que permite dividir o primário em duas partes. Na posição cento e dez
volts, a chave fecha os contatos centro direita. Na posição duzentos e vinte volts, fecha os
contatos centro esquerda. Na folha que pegou tem o desenho que fiz para você entender
melhor.

VISÃO DE SARAH.
― Ahh, aquela chavinha que escolhemos a tensão dos aparelhos é isso, então?

― Sim! A maioria dos aparelhos tem um mini transformador com taps para selecionar a
tensão desejada. Agora preste atenção, Sarah. Nunca, nunca mesmo inverta as ligações do
primário pelas do secundário. Você já viu sobre as características dos transformadores, né? Se
você tem um transformador abaixador, duzentos e vinte volts e sai vinte e quatro volts. Se
você inverter isso e ligar na rede os vinte e quatro volts. Vai sair dez vezes mais a tensão. Tendo
assim na saída dois mil e quatrocentos volts. Olha o perigo!

― Nossa! Que diferença...

114
― Por isso deve tomar cuidado. Para finalizar essa segunda parte, vou fechar com a ligação
do transformador monofásico de quatro fios. Espero que dê tempo. Na verdade, nem vai dar
tempo. Já estamos chegando, na volta eu finalizo.

Ao chegar na marmoraria, Fábio foi recebido pelo responsável pelo local que logo foi mostrar para
ele a esteira que está dando problemas.

― Olha, essa esteira que transporta algumas peças de mármores que são cortadas. Ela é
ligada cedo e só para no final do expediente. Só que não demora muito e ela fica parando ―
disse o cliente.

― Tem muita poeira aqui? Onde está o motor? ― perguntou Fábio.

― Até que não. É esse aqui!

― É só ele para essa esteira? São pedaços de mármores muito grandes que a esteira
transporta?

― Só esse motor. Não! São pedaços pequenos. O motor comporta bem.

― Onde é o quadro do motor?

― Venha, vou mostrar.

― Vai observando como faz, Sarah.

― Tá!

― Aqui está. Deixa eu abrir ele. ― disse o rapaz da marmoraria.

― Certo. Precisamos fazer alguns testes e fazer uma limpeza no motor. Está com uma crosta
de sujeira nele. Isso pode estar afetando a ventilação dele.

― Me manda o orçamento pelo e-mail. Assim que aprovar, te ligo para vir. Como é caso de
urgência, deve ser aprovado rápido.

Fábio ainda passou alguns minutos conversando com o cliente e se retirou da marmoraria. Iria deixar
Sarah mais cedo em sua casa, pois tinha outros compromissos pessoais.

― Sarah, como é algo de urgência, provavelmente hoje ainda eles me ligam e amanhã já
começamos aqui. Deve demorar uns dois dias esse trampo. Hoje vou te levar mais cedo que
tenho umas coisas para resolver.

― Entendi. Vamos limpar o motor e fazer o que mais?

― Limpar, fazer medição, correr o cabeamento. Vou trazer o megômetro também.

― O que é um megômetro?

115
― É um aparelho para medir resistência. Para fazer testes de isolação. Vou utilizar ele para
ver a resistência dos cabos desse motor.

― Que legal... Nunca tinha visto falar disso.

― Ainda tem muito que aprender. Falar em aprender, vamos dar continuidade para encerrar
isso. Era ligação de motor de quatro pontas, né?

― Motor?

― Motor não, transformador.

― Isso mesmo.

― Certo! O transformador que possui no primário quatro fios é constituído de dois


enrolamentos de cento e dez volts entre si. E a ordem de início e fim de cada enrolamento deve
ser obedecida para evitar danos ao equipamento. Está com as folhas? Pega aí e dê uma olhada
nos de quatro fios o esquema de ligação.

VISÃO DE SARAH.
― Se você comparar esse desenho que fiz do transformador, vai entender bem. Você
comparando o diagrama e esse desenho, pode notar que a ligação em cento e dez volts, as
bobinas estão em paralelo... Isso de modo que o início da primeira está conectado com o início
da segunda. E as de duzentos e vinte volts ficam em série. Sendo o fim da primeira conectado
com o início da segunda.

116
VISÃO DE SARAH.

― Por ter mais fios, ele requer uma atenção maior na hora de ligar.

― São sempre essas cores nos fios? ― perguntou Sarah.

― Não! Isso depende do modelo do transformador.

― E como vou saber se não estiver identificado?

― Você vai testar. Pega um multímetro e coloca na escala de ohms. Um exemplo: o lado A
tem três pontas e o lado B tem duas pontas. Pega o lado B e mede em escala de resistência.
Se deu uma resistência de um ohm, beleza, anota. Agora vai no lado A. Pega as pontas e mede
a resistência entre si. Se a média da resistência entre elas deu cinquenta ohms. O lado A é o
primário, a entrada da rede e o lado B é a saída.

― Então o primário sempre vai ter a maior resistência e o secundário a menor resistência? ―
perguntou Sarah.

― Isso mesmo! E na maioria das vezes, o secundário tem os fios mais grossos e o primário
mais finos.

― E, no primário, como vou saber qual fio ligar em duzentos e vinte e cento e vinte sete volts?

― Acho que essa visita técnica te inspirou, hein?! Tá metralhando nas perguntas. Outro
exemplo: vamos supor que você identificou o primário. No primário tem três fios: o central é
preto, um do lado esquerdo branco e o da direita vermelho. Pega o multímetro em escala de
resistência e mede o fio preto com o vermelho, deu dez ohms e o preto com o branco deu vinte
ohms. O preto com branco, você liga na rede. Que vai ser cento e vinte sete volts. O vermelho
e branco é duzentos e vinte volts.

― E se eu errar, não vai dar curto na minha cara, não?

117
― Vai! Mas, por segurança, coloca uma lâmpada em série com o fio de teste. Se der curto, a
lâmpada vai acender e não vai acontecer nada. Se acertar, a lâmpada vai permanecer
apagada. É um sistema de segurança.

― Entendi.

― Finalmente terminamos a segunda etapa. Já viu eletromagnetismo básico e máquinas


elétricas. O próximo é dispositivo de proteção. Passou rápido esse tempo, né? Misericórdia!

― Verdade! Já tô ninja na escrita rápida. Só preciso aprender a traduzir agora minha letra.

― Até o final você aprende. Amanhã já esteja preparada, porque vai ser correria. Além do
conteúdo, vai ser puxado na marmoraria. Tenho plena certeza que eles vão entrar em
contato... Deixar você agora e vou resolver umas coisas, tá?

― Fábio, você sabe quem tem algum celular para vender? Pode ser o mais simplesinho
possível.

― Vou ver e te falo. É até bom ter um, vai facilitar muito nossa comunicação. E até para você
poder trabalhar. Sem telefone, como vai receber ligação de cliente, né?

― Por isso que quero um, só que barato. A gente não tem dinheiro não.

― Não se preocupe...

Fábio deixou Sarah em casa e foi embora. Ao chegar, Rebeca logo mandou Sarah dar banho no Ted e
depois ir ao mercado comprar algumas coisas. Ela cumpriu os pedidos de sua mãe e, ao voltar, foi
estudar. Após algumas horas, acabou adormecendo.

118
CAPÍTULO 05
CONTINUE APRENDENDO
PRINCIPAIS DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO

― Sarah! Sarah! Acorda, vamos! Vai se atrasar.

Sarah acordou com sua mãe chamando. Se arrumou rápido e foi para a escola. Algumas horas depois,
já estava em casa aguardando Fábio, que não demorou.

― Bora que hoje temos muita coisa para fazer. Já fui lá na parte da manhã e fiz uma limpeza
no quadro de comandos. Só limpei mesmo, e hoje à tarde você vai fazer a limpeza do motor e
eu vou fazer o teste de resistência nos cabos.

― Estagiar à tarde com você só é ruim nesse ponto. Perco algumas coisas.

― Perdeu nada de mais não, só fiz limpeza mesmo e acabei tendo que ver outra coisa. Bom,
hoje na ida vamos falar sobre fusíveis. Já pega seu caderno e as folhas no porta-malas.

― Porta-malas?!

― Porta-luvas, às vezes confundo. Bom... O fusível industrial tem como principal característica
a proteção contra curto-circuito. Para proteção dos equipamentos e cabos. O fusível é
composto basicamente de três elementos: um corpo de material sólido, normalmente
porcelana, um indicador de queima e dois contatos externos para conexão dos circuitos.
Internamente o elo fusível é envolvido por uma areia quartzo com finalidade de interromper o
arco voltaico. No desenho você pode ver a forma dos contatos, que são dois tipos: virola e
faca.

119
VISÃO DE SARAH.

― O que é esse elo fusível?

― Boa pergunta. Elo é uma das coisas mais importantes do fusível. É o material condutor de
corrente elétrica e de baixo ponto de fusão. O que isso quer dizer? Caso tenha um curto no
sistema, esse elo entra em ponto de fusão e se rompe, protegendo o circuito.

VISÃO DE SARAH.

― Como viu, na imagem do elo fusível tem um elo de queima também. Quando ocorre a
queima desse fusível, o elo se rompe e desprende a espoleta, tornando-o visível. Não são todos
que tem esse indicador. Os fusíveis tem umas características importantes a serem levadas em
conta. Corrente nominal e tensão nominal. É a tensão e corrente que ele suporta trabalhar

120
sem queimar. Agora se liga em duas informações. A limitação de corrente e a capacidade de
ruptura. A limitação de corrente é o valor máximo que o fusível suporta em ação. É
denominado de corrente de corte In. E a capacidade de ruptura é a capacidade que o fusível
tem de proteger com segurança o circuito. É o ponto de fusão do elo, representado por um
valor numérico acompanhado pelas letras KA, que significa kiloampère. Algo importante
também, que se deve levar em consideração, é a categoria de emprego dos fusíveis. Essa é
uma classificação quanto à faixa de interrupção, utilizada pela norma IEC. Eles definem duas
letras para isso... A primeira é para faixa de interrupção, ou seja, qual o tipo de sobrecorrente
que fará o fusível atual. A segunda letra é para a categoria de utilização, para indicar qual
equipamento o fusível vai proteger. Deixei digitado as letras.

VISÃO DE SARAH.

― Muita coisa para saber como usar um fusível.

― Por isso a importância de estudar. E ainda tem outras coisas que vamos ver. Como está
chegando, vou falar só sobre esse tópico, que é a classificação do tipo de fusíveis quanto ao
seu tipo de ação. Basicamente existem três classificações para fusíveis, que são de ação rápida
ou normal, ultra rápido e de retardo. Essas necessidades de fusíveis surgiram em consequência
da existência das cargas resistivas, indutivas e capacitivas. Fora as eletrônicas. Cada um no
seu quadrado. O de ação rápido é mais utilizado na eletrônica, em circuitos sensíveis. O de
ação normal... Bem, sua atuação é mediana. Tem o objetivo de proteger circuitos

121
eletroeletrônicos. Utilizado também em circuitos com baixa indutância. O de ação ultra rápido
é para circuitos eletrônicos também com alta sensibilidade. A ação retardo é usado quando a
corrente de partida é várias vezes superior à corrente de regime. São basicamente circuitos
indutivos e capacitivos de cargas de motores, transformadores e capacitores. Só para fechar,
na volta vou comentar os tipos de fusíveis. Tem vários tipos, muitos mesmo. Mas vou abordar
dois tipos, os principais. Tipo D, conhecido como Diazed, e o NH.

Ao chegarem à marmoraria, já iniciaram os trabalhos. Fábio pediu para Sarah limpar o motor e
verificar a informação do IP na placa.

― Sarah, vai limpando o motor e vê o IP dele, se é adequado para esse tipo de trabalho. Eu
vou conversar com o responsável ali rapidinho.

Passados alguns minutos, Fábio retornou até onde Sarah estava, e ela estava finalizando a limpeza
do motor.

― O dono me passou uma informação importante. Esse problema no motor começou quando
eles instalaram mais uns motores. Qual é o IP aí, Sarah?

― É IP cinquenta e cinco!

― E o que você me diz sobre isso? Está correta a proteção para esse motor?

― Pelo que lembro, está tudo correto. Contra sujeiras e água.

― Certo. Então por problemas de ventilação não é. Vamos ligar ele e fazer a medição das
fases.

― Esse bicho está com um barulho estranho. Tá escutando, Sarah?

― Sim! O que será?

― Deve ser rolamento. Acho que esses caras mal dão manutenção nesses motores. Deixa eu
medir a tensão. Aqui é trezentos e oitenta, melhor eu medir. Anota o que eu falar. Trezentos
e setenta cinco volts, trezentos e quarenta e sete volts e trezentos e trinta volts. Sarah, a
alimentação desse motor é trezentos e oitenta. Você vendo esses números, qual sua análise?

― Está bem diferente... Não deveria estar tudo igual?

― Não iguais, mas próximos. Aqui pode estar nosso problema. Está tendo um desequilíbrio
de fases. Vou fazer uma conta rápida aqui e vamos ver quantos porcento isso está
desequilibrado. Me dá o papel e a caneta. Pera aí rapidão. Pega a folha e olha essa conta.

122
VISÃO DE SARAH.

― Essa conta é para ver quanto o sistema de alimentação está desequilibrado. O máximo para
um motor elétrico é de dez por cento. Está bem próximo do tolerável. Já encontramos o
primeiro problema.

― Sempre que eu for ver se a alimentação está desequilibrada, faço isso?

― Sim, para sistemas trifásicos. Vai lá no carro e pega o megômetro pra mim, Sarah. Vamos
fazer o teste nos cabos.

Fazendo o teste de resistência nos cabos, Fábio detectou que, em uma das fases, a resistência estava
muito baixa. Percorrendo os cabos, encontraram um cabo na calha com a isolação comprometida.
Passou os problemas para o responsável. Foi acordado que, de início, Fábio levaria o motor para a
troca dos rolamentos e trocaria o cabo.

Sobre o desequilíbrio de fases, precisaria de um maior estudo. Como o cliente não queria isso por
enquanto, Fábio iria resolver esses dois problemas e analisar o funcionamento do motor, para ver
como iria se comportar com o novo cabeamento e a troca dos rolamentos.

― Sarah, vamos levar esse motor num lugar ali de rebobinamento para troca desses
rolamentos e amanhã vamos voltar para instalar ele e trocar o cabo. Vou desligar o disjuntor
e você desconecta os cabos aí. Deixa tudo marcadinho para não ter problemas depois.

123
Não demorou muito tempo e Sarah já tinha preparado o motor para ser levado. Colocaram ele no
caro e foram levá-lo à oficina de rebobinamento de motores.

― Gostou da prática hoje?

― Gostei muito. Só de ter aprendido a identificar esses problemas, já valeu o aprendizado.

― Então vamos continuar nosso assunto que o tempo ruge. Tinha parado na classificação de
fusíveis, né?

― Sim!

― Certo! Existem trocentos tipos de fusíveis, mas vou abordar somente dois, que são os mais
usados em comandos: o fusível diazed ou tipo D e o NH. O tipo D é encontrado no modo
normal, retardo, rápido ou ultra rápido. É constituído de um corpo de cerâmica cilíndrico e
cônico. E dentro dele, onde está o elo fusível, é preenchido com uma areia de quartzo de fina
granulação. Essa areia tem a função de extinguir o arco quando o elo se rompe. No desenho
que fiz, você pode ver como ele é.

VISÃO DE SARAH.
― Os contatos são em forma de virola. E no interior dele tem uma espoleta colorida que indica
a capacidade nominal dele em amperes. Quando atuado, a espoleta é liberada do seu
compartimento, indicando a queima do fusível. Uma vez queimado, o fusível é descartado. Na
tabela que fiz, você pode ver a relação de cores e amperagem.

124
VISÃO DE SARAH.

― Vou falar rapidinho do que ele é constituído, pois isso não tem relevância no momento. O
importante é você entender o funcionamento dele. Ele tem uma base para suporte, onde tem
os bornes. Um parafuso de ajuste, anel de proteção, o fusível, a tampa, uma cobertura de
proteção e uma chave de plástico para retirá-lo. O fusível tipo D é para correntes entre dois a
cem amperes. Você vai ver agora, no NH, que as correntes vão bem além dos cem ampères. E
ambos atendem a norma NBR onze oitocentos e quarenta quatro. A capacidade de
interrupção deles é alta, em torno de cento e vinte KA até seiscentos e noventa volts e cem KA
até duzentos e cinquenta volts em corrente contínua.

Sarah escrevia rapidamente, sem sequer piscar, e Fábio continuava:

― Os fusíveis NH tem o elo envolvidos por um corpo de cerâmica que tem a forma retangular
ou quadrada. É também preenchido pela areia de quartzo. Os seus contatos são do tipo faca.
Opa, já estamos chegando, só finalizar o que estava falando... Esses fusíveis reúnem
características de retardo para correntes de sobrecarga e de fusível rápido para correntes de
curto circuito. São apropriados também a circuitos sujeitos a sobrecargas de curta duração,
tipo partida de motores. Sarah, me espera no carro que só vou falar para os meninos pegarem
o motor e já volto.

― Tá bom. Já aproveito para descansar as mãos.

― Pronto, vamos embora. Voltando ao assunto... Alguns desse tem espoleta de cor também
que representa a corrente nominal. Possui categoria gL barra gG. Lembra dessa categoria?

― Sim! Fusível para cabos em geral e para curto e sobrecarga.

125
― Isso! No desenho maravilhoso que fiz, você pode ver como ele é. Claro que esses desenhos
são só para você ter uma ideia das coisas. Você vai ter que se aprofundar mais. Esse
ensinamento é para te dar uma base, um pilar. Depois você caça seu rumo.

― Não vai pensando que isso vai te deixar o caralhão em comandos. Depois desse
ensinamento, você já vai saber o que procurar para se aprofundar. Nenhum curso vai te deixar
foda. Mas vai encurtar e muito seu caminho.

VISÃO DE SARAH.

― Entendi. Depois que aprender com você, vou ver o que fazer. Preciso primeiro ganhar
dinheiro. Ver como vou fazer isso.

― Até lá já vai ter uma boa noção de como fazer isso. A composição dos fusíveis NH são bem
básicos, só tem uma base de suporte, o fusível e um punho para retirar ele do suporte. Na
tabela que fiz, você pode ver os tamanhos dele e a faixa de corrente.

VISÃO DE SARAH.

126
― Para finalizar hoje, para não forçar muito que já parece que está quase dormindo. Vou falar
só dos sinalizadores que é coisa rápida. Os sinalizadores são equipamentos com a finalidade
de finalizar um status de um equipamento. Pode ser uma buzina, campainha, sinaleiros
luminosos, audiovisuais, etc. Tem de diversas cores e modelos. Lembrando que suas cores são
padronizadas pela norma IEC setenta e três. A simbologia você pode ver na tabela que fiz.

VISÃO DE SARAH.

― Os sinalizadores luminosos são os mais utilizados em painéis de comandos elétricos. Tem


uma folha que digitei descrevendo as condições dos sinalizadores e cores. Procura nesse bolo
de folhas que está na sua mão.

127
VISÃO DE SARAH.

― Os sinalizadores intermitentes são usados para situações de atenção mais urgentes. Tendo
seu brilho mais forte. E por fim as sinalizações sonoras, que nada mais é que as buzinas e
campainhas. Só um detalhe, esse som devem estar entre mil e três mil hertz. E pronto, Sarah,
por hoje chega, né?

― Hoje foi tenso. Ainda bem que estamos chegando. Quero banhar e dormir. Cansada!

― Amanhã cedo o pessoal vai dar um grau no motor e, depois do almoço, passo aqui e vamos.
Você religa o motor e eu vou trocar o cabo. Na parte da tarde mesmo terminamos. Vamos
testar e ver se o problema acaba.

Fábio deixou Sarah em casa e foi embora. Sua mãe ainda não tinha chegado, então Sarah arrumou
algo para comer e depois foi tomar banho para dormir um pouco. Quando acordou, estava tarde da
noite e sua mãe já tinha jantado. Após algum tempo, foi estudar os conteúdos que tinha visto com
Fábio e passar a limpo algumas coisas para ir dormir.

No dia seguinte, levantou mais cedo. Foi preparar o café e ler a Bíblia, o livro de Mateus, para depois
se arrumar e ir à escola. Ao retornar da escola, arrumou suas coisas e ficou aguardando Fábio, que
chegou em poucos minutos.

― Sarahhhhh! Sarahhhh!

― Indo!

128
― Bora que o dia vai ser corrido hoje. Vamos pegar o motor e passar o cabo hoje. Na parte da
tarde já finalizamos tudo mesmo. Como de costume, vamos iniciar seu aprendizado. Pega as
folhas no porta-luvas. Hoje vai aprender sobre numeração de contatos. Presta atenção que
isso é importante. Se não entender bem esse conceito, pode se atrapalhar na hora de montar
os diagramas de comando.

― Ontem estava dando uma revisada e passando umas coisas a limpo. Já vamos para quase
um mês nessa toada. Parece que tem um século já ― disse Sarah.

― Normal, mas já estamos acabando. Os circuitos elétricos de comandos são representados


através de diagramas esquemáticos. Em que posição dos elementos de circuito evidencia o
funcionamento e não sua posição dentro do quadro. Só um detalhe aqui, Sarah... Tem que
tomar cuidado na interpretação dos diagramas, pois os elementos que estão lado a lado no
diagrama podem estar distantes dentro do painel.

― Elementos?

― Sim, os símbolos dos componentes. Os contatos dos diagramas elétricos recebem


nomenclaturas especiais. Os contatos de força de dispositivos trifásicos por exemplo, recebem
números de um a seis. Sendo que os números pares representam a saída e os ímpares a
entrada de alimentação. A entrada ainda recebe a letra L e as saídas, a letra T. E as fases
recebem os números um, dois e três. Pega a folha que descreve a simbologia geral de bornes.

VISÃO DE SARAH.

129
― Atenção aqui! Os contatos de comando recebem dois números. O primeiro dígito sempre é
o número de sequência e o segundo é o número da função. O número de sequência serve para
diferenciar os contatos de um mesmo dispositivo, em ordem crescente. Os bornes de entrada
e saída dos contatos devem receber o mesmo número de sequência. Entendendo, Sarah?

― Acho que sim!

― Se tiver dúvida, pergunta. Já vai ter uns exemplos com desenho que fiz. Isso vai facilitar
para você. Falei do número de sequência que é para diferenciar. Agora o número de função é
sempre o mesmo para os mesmos tipos de contato. Como vimos, os números de borne de
entrada vai ser sempre impar e os de saída sempre pares. Os de contato de ação imediato,
como os de relés, chaves fim-de-curso, recebem nos contatos a numeração um e dois para
contatos fechados que tem uma nomenclatura de NC e NF. E três e quatro para contatos
abertos NA e NO. E um, dois e três para contatos reservas.

― O que são essas siglas?

― Pega o desenho dos contatos de ação imediata e vê o significado. O NF por exemplo é o


contato fechado. Se você ligar um cabo de fase nele. Vai passar corrente direta. O NA já é um
contato aberto. Pode ligar um cabo de fase nele que não irá passar nada. Vai precisar mudar
o estado dele de NA para NF para passar corrente.

VISÃO DE SARAH.

130
― Agora que teve uma visão geral de como funciona a simbologia e as nomenclaturas, vou
dar uma passada nos principais contatos que tem nos diagramas de comando. Se você souber
esses, Sarah, já vai conseguir fazer muita coisa. Vamos começar com o contato de retardo por
efeito térmico, pneumático ou acionamento eletrônico recebem os números cinco e seis para
contatos fechados e sete e oito para contatos abertos. E os contatos cinco, seis e oito para
comutação, sendo o cinco o comum. Vai acompanhando nos desenhos para entender melhor.

VISÃO DE SARAH.
.

― Os fusíveis não tem muito o que falar. Apenas são designados pela letra F e os bornes não
tem nomenclaturas, como pode ver.

VISÃO DE SARAH.

131
― É tanta coisa que já vimos... Tudo para montar uma partida ― disse Sarah.

― E eu estou abordando as coisas mais importantes. Se for estudar, e vai ter que estudar mais
afundo comandos, aí sim vai ver o que é bom. Porque só isso não vai te deixar boa não. Seria
muita irresponsabilidade minha falar que esse treinamento que estou te dando já resolveria
sua vida. Eu só estou apontando o caminho e dando as instruções. Depois que eu te ensinar,
vai praticar, procurar serviços, vai fazer cursos... Não vai pensando que só isso aqui e já tá
tudo certo. Não seja cabeçuda. Já estamos chegando... Deixa eu ir lá buscar o motor e já volto.

Fábio voltou em menos de um minuto.

― Pronto! Deram uma geral top nele. Agora só ligar ele e trocar o cabo e deixar ele trabalhar
para ver se vai ter algum problema. A parte de desbalanceamento, os caras não vão mexer
com isso agora... Continuemos! O relé térmico, eu gosto de colocar a nomenclatura dele de
RT. Os bornes de força seguem a sequência que já vimos por padrão. Só vai mudar os contatos
que levam o número nove como número de sequência. O contato fechado, como pode ver no
desenho, serve para proteção. Já o aberto para alarme, que aciona um sinalizador luminoso
ou algo sonoro.

VISÃO DE SARAH.

132
― Os disjuntores são designados pela letra Q e normalmente não possuem contatos auxiliares.
Alguns modelos possuem bloco de contatos. Mas seguem o mesmo padrão de contatos e
contatoras.

VISÃO DE SARAH.

― Os contatores são designados pela letra K. Algumas pessoas usam a letra C. Não importa
qual vai usar, desde que, no descritivo de simbologia do projeto, você fale o que significa ela.
Os bornes dos contatos auxiliares seguem o número de sequência e normalmente são
numerados de forma que o primeiro seja NA. Depois vem todos os contatos NF e por último os
contatos NA restantes.

― Por que tem número treze e quatorze e um quarenta e três, quarenta e quatro? ―
perguntou Sarah.

― Sarah, quantos contatos você vê aí na simbologia de comandos?

133
VISÃO DE SARAH.

― Quatro!

― Pois bem, o primeiro número é a sequência de contatos. Se tem quatro, vai ser um, dois, três,
quatro e por aí em diante. Já o segundo número diz respeito se está aberto ou fechado. Lembra
que quando é um e dois, o contato é fechado? Se o contato é um e dois, então a numeração vai
ficar vinte um e vinte dois fechado.

― Entendi.

― Temporizadores recebem a designação de KT ou TP, eu gosto do TP. Cada tipo de


temporizador recebe um símbolo diferente da bobina. As chaves de comando manual e de
acionamento mecânico e sensores que são chaves manuais e chaves fim de curso, normalmente
levam a designação S ou Sw, mas pode ser encontrado como B para botoeiras de emergência.

134
VISÃO DE SARAH.

― Geralmente são contatos comuns com a indicação do tipo de acionamento e os números dos
bornes levam a mesma nomenclatura dos contatos de contatores. Já os sinalizadores são
chamados de H e seus bornes são numerados como X um e X dois. Essa parte encerramos. Na
volta, vemos a parte de botões, que já chegamos. Vamos lá, Sarah, resolver logo isso... Vou
chamar alguém para me ajudar aqui com o motor. Já vai levando as ferramentas lá pra dentro.

135
VISÃO DE SARAH.

Levando o motor para dentro, Sarah foi ligando enquanto Fábio desconectava o cabo do quadro de
distribuição. Passado um tempo, já com o cabo trocado e o motor colocado em seu devido lugar,
ligaram a máquina e a deixaram funcionar.

― Até o momento está tudo ok. A gente vai embora e qualquer coisa vocês nos ligam ― disse
Fábio. ― Bora Sarah, pega as ferramentas e vamos. Por hoje está tudo certo. Na volta agora,
vou falar sobre botões de comando elétrico. Os botões nada mais são do que um interruptor de
circuito ou um acionador. O acionamento do botão é feito pelo operador do equipamento. No
mercado existe uma infinidade de modelos que podem variar de tamanho, modelo, cor,
qualidade, proteção de acionamento, etc. Os botões são acoplados aos painéis ou caixas que
protegem seus contatos. Há dois tipos de botões no mercado: de impulso e com retenção. O de
impulso, na hora que você o aperta, os contatos dele mudam; quando solta, os contatos voltam
à origem. Já o de retenção, quando você aperta os contatos mudam e continuam mesmo
soltando ele. Para que os contatos voltem à origem, você precisa novamente acionar ele. Você
pode ver no desenho a forma dos dois contatos.

136
VISÃO DE SARAH.

― O acionamento desses botões pode ocorrer de várias formas. Pulsador simples, pulsador tipo
cogumelo, comutador simples e comutador por chave... Quanto aos elementos de contatos, são
possíveis uma série de combinações. Claro, de acordo com cada fabricante.

VISÃO DE SARAH.

― O desenho que está vendo é uma das inúmeras possibilidades. Tem também os botões
seletores que são chaves de acionamento giratórios que possuem duas ou mais posições de
repouso. Como falei, no mercado há zilhões de botões. Estou passando nos pontos essenciais
para você. É impossível eu conseguir abordar tudo com você. Pega a base que o resto fica
tranquilo. E, para essa enorme gama de botões, de alguma forma tinha que ter alguma
identificação, que é o código de cores. Entendendo, Sarah? Se não falar nada, vou entender que
está entendendo e vou falar igual doido até espumar a boca... Os botões são fabricados segundo
as especificações das normas NR vinte e seis e NR doze. Para não virar bagunça. Na tabelinha
que fiz, tem as cores e indicações.

137
VISÃO DE SARAH.

― Escrevendo dentro de um carro e rápido, fica difícil de pensar. Mais quando surge uma dúvida
grande, eu pergunto. Quando chego em casa, vou estudar e, se tiver alguma dúvida, vou
perguntar pra você depois.

― Certo, se tiver dúvidas, pergunte mesmo. Estamos chegando na reta final desse módulo. E
uma das coisas importantes, a que poucos dão atenção, é a contatora. Vou falar um pouco dela
agora, creio que não vai dar tempo de falar tudo. Os contatores são dispositivos de manobras
mecânicas, acionados eletricamente, constituídos para uma elevada frequência de operações,
e cuja o arco que produz no liga e desliga, é extinto no ar. Os contatores são constituídos de um
grande número de peças, porém, vou falar dos mais importantes. Esses você deve prestar
atenção. E vamos começar pelos contatos. Que são os responsáveis por interromper a ligação
do circuito. São construídos de pastilhas e suporte. Podem ser fixos ou móveis, simples ou em
ponte. Os contatos móveis, como vê no desenho, sempre vão ser acionados por um eletroímã
pressionados por molas.

138
VISÃO DE SARAH.

― Os contatos fixos é parte de um elemento de contato fixado à carcaça do contator. Já na


outra extremidade oposta do corpo, onde estão os contatos fixados, são colocados os bornes
de fixação. Destinados à interligação do contato com outros auxiliares. Vamos ver o sistema de
acionamento dela, que pode ser feito por corrente contínua ou alternada. Para o acionamento
em CA, há anéis de curto-circuito que fica no núcleo fixo do contator evitando ruídos por meio
da passagem de corrente alternada. Um entreferro reduz a remanência após a interrupção da
tensão de comando e evita o colamento do núcleo.

― O que é remanência? ― perguntou Sarah.

―Resumindo para você. Remanência é uma indução magnética que permanece no circuito
mesmo após você desligar o circuito da carga, ou seja, remover o campo magnético externo.
Após você desligar ela, os contatos voltam ao estado de origem pelas molas de compressão. Já
o acionamento por CC não possui esses anéis de curto-circuito. Mas possui uma bobina de
enrolamento com uma derivação na qual uma das derivações serve para o atracamento e a
outra para manutenção. Um contato NF é inserido no contato da bobina e tem a função de
curto-circuitar parte do enrolamento durante a etapa do atracamento. Olha na folha o que
acabei de falar.

139
VISÃO DE SARAH.

― O enrolamento com derivação tem a função de reduzir a potência absorvida pela bobina
após o fechamento do contator, evitando o superaquecimento ou até a queima da bobina. O
núcleo é maciço, pois sendo de uma corrente constante, o fluxo também será. Fazendo com que
não tenha força eletromotriz no núcleo e nem circulação de correntes parasitas. Viu que sempre
tem algo relacionado ao que já vimos lá atrás?

― Sim! Por isso você repete tanto para aprender a base. Já ando até sonhando com essa frase
de tanto que você fala.

― Bom que já sabe. Esses sistemas de acionamentos com corrente contínua são recomendados
para aplicações em circuitos onde os demais equipamentos de comando são sensíveis aos
efeitos de tensões induzidas pelo campo magnético da corrente alternada. Os componentes que
mais se enquadram nessa descrição são os microcontroladores, que são empregados nos CLPs.
Já fica a dica, que é um curso que vai ter que fazer também. Opa, estamos chegando... Para
amanhã, não temos nada previsto. Mas fica em alerta que, mesmo se não tiver, passo aqui para
irmos na praça estudar. Já está indo para um mês seu treinamento. Já viu muita coisa né?

― Sim! Com o curso de eletricista e o que me ensinou, já vai ajudar muito. Só vou precisar
praticar.

140
― É praticando que se aprende. Até amanhã. Ahh, pera aí que já tava esquecendo! Pega aqui.
Tem duzentos e cinquenta reais. É pelo trabalho na marmoraria. Pega e compra um celular para
você. Falou que precisava de um para os clientes te ligarem.

― Nossa! Muito obrigada! Nunca peguei em tanto dinheiro assim na vida.

― Não se preocupe que isso não vai ser nada no futuro. Se você souber administrar... Tem uma
passagem na Bíblia, em Mateus, capítulo vinte e cinco, versículo vinte e um, que fala: “sobre o
pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei”. Tudo que ganhar, retribua de volta para Deus. Pois
nada aqui nos pertence, você só está agradecendo pelo pão que recebe. De o que seu coração
achar melhor, mas dê de coração e Deus vai te abençoar muito.

― Como assim? Não entendi.

― De todo dinheiro que ganhar, dê o dízimo, ou oferta, ou faz uma doação. Ajude o necessitado.
Um exemplo: desse dinheiro que te dei, pode tirar dez reais, ou vinte ou cinco. Mas que seja de
coração e doe na igreja ou compre alimento e doe para quem precisa. É simples: não seja
egoísta e ajude alguém. Você não tem noção do sentimento que tem quando ajuda alguém
quem precisa.

― Tá bom, farei isso.

― Só mais uma coisa... Compra o celular e vê mais o que pode te ajudar no seu trabalho e
desenvolvimento. Faz uma lista do que precisa e corre atrás dela. Até amanhã!

Fábio deixou Sarah em casa e foi embora. Entrando no portão toda alegre, já correu para ver sua mãe
e contar a novidade para ela. Ao chegar, encontrou Rita conversando com Rebeca.

― Mãe! Hoje recebi duzentos e cinquenta reais do meu trabalho com o Fábio. Agora consigo
comprar o celular. Vamos, tia, também?

― Feliz por você, Sarah! De pouco em pouco, você vai ganhando seu dinheirinho. Vamos sim!
― disse Rita.

― Amanhã, a gente vai comprar esse celular para você. Assim para de encher o saco...

― Vou levar vocês numa loja legal que tem vários celulares e são baratos ― disse Rita.

― Combinado, tia. Amanhã à tarde.

Passadas algumas horas, Rita foi embora e Sarah foi ajudar sua mãe na cozinha com o jantar. Logo
após, foi para seu quarto com Ted para arrumar algumas roupas e ir dormir. Quando Sarah acordou,
fez as coisas às quais já tinha se habituado de manhã e foi para a escola. Retornou um pouco atrasada
para o almoço.

Quando estava terminando de almoçar, escutou uma buzina e era Fábio. Rita foi pedir para esperar
um pouquinho que Sarah já estava indo.

141
― Bora, menina, que hoje temos muito que estudar. Hoje não temos nada, vamos para a
praça...

― Meu almoço está na goela ainda. Hoje quando chegar, vou comprar meu celular.

― Bora indo. Tá animada?

― Muito. Que me aconselha a fazer depois que eu tiver o celular, para tentar arrumar clientes?

― Primeiro, você faz seu cartão de visita. Segundo, vai nessas construções, que aqui estão
construindo bastante casas, entrega seus cartões, conversa com os pedreiros. Terceiro, pega o
número dos arquitetos e engenheiros civis que estão nas placas e liga para todos. Futuramente,
compre um computador, coloque internet e vá estudar. Leia livros, sempre busque
conhecimento, e o mais importante: pratique!

― Depois que me ensinar, vou começar a correr atrás dessas coisas.

― Ahh! Um detalhe, Sarah, leve isso para tua vida: aprenda a vender. Se não souber vender, vai
ter muitas dificuldades. Vamos lá para nosso banco do conhecimento. Essa enorme árvore nessa
praça ajuda muito com essa sombra. Hoje daremos continuidade ao assunto da contatora.
Agora vamos falar da bobina… A bobina representa a entrada de controle da contatora. Quando
você liga ela em uma fonte de tensão, circula uma corrente que cria um campo magnético que
envolve o núcleo do ferro. Só tem que tomar cuidado com a tensão de uso dela. Que pode ser
alternada ou corrente contínua. O consumo dela é baixo. No momento da energização, ocorre
um pico de aproximadamente dez vezes a corrente de retenção. Já o núcleo de ferro é o
responsável pela construção das linhas de força do campo magnético criado pela bobina,
evitando assim que elas se dispersem. O núcleo é feito de lâminas de ferro sobrepostos, isoladas
entre si. Nos contatos com acionamento em corrente alternada é inserido ao núcleo fixo um
anel metálico nos polos magnéticos. Esse anel é denominado de anel de defasagem ou anel de
curto-circuito. Esse anel fica sob a ação do campo magnético e sua função é evitar que ocorra
ruídos e trepidações. Vê aí no desenho...

142
VISÃO DE SARAH.

― Agora vem algo importante: o funcionamento dela. É tranquilo… A contatora tem dois
núcleos, o fixo e o móvel. A bobina fica no fixo. E ambos os núcleos têm contatos. Quando você
alimenta a bobina com uma tensão, ela forma um campo magnético no núcleo fixo. Com isso,
acaba atraindo o núcleo móvel, encostando os contatos do núcleo móvel com o fixo. Quando
você desenergiza a bobina, o campo magnético acaba e o contato móvel volta ao seu estado de
origem através da mola que separa o contato fixo do móvel. Agora vamos para a categoria de
emprego dos contatos. Isso é importante saber, pois, na hora que for dimensionar, vai precisar
disso. As cargas elétricas conectadas a um circuito elétrico, apresentam características elétricas
distintas. Podemos classificar em três tipos, que vamos ver agora. Cargas indutivas, como
motores elétricos. Cargas resistivas, como chuveiro, forno elétrico, etc. E cargas capacitivas,
encontradas nos capacitores. Tem que saber qual tipo de carga para ver qual categoria vai ser
a contatora. E não acabou ainda. Há diversas categorias de empregos, segundo a norma IEC
novecentos e quarenta sete que regulamenta. Só que agora é a categoria que define a
capacidade de manobra de uma determinada contatora.

― Muitos detalhes, né? E quando vou aprender a montar os comandos? ― perguntou Sarah.

― Detalhes que fazem toda a diferença. Próxima etapa já vai aprender e também é a última. Aí
encerramos tudo. A primeira categoria é a AC um, aplicada para aparelhos AC com fator de
potência acima ou igual a zero noventa e cinto. É para manobras leves com cargas ôhmicas ou
pouca indutância. Já a AC dois deve ser utilizada para motores com manobras leves e pode ser

143
usada para controlar partidas e desligamento com regime e frenagem por contracorrente.
Também para motores de anéis coletores. Tá entendendo Sarah? Já tô aqui quase uma hora
falando sozinho.

― Eu tenho facilidade em aprender. Não to achando muito difícil, só tem bastante detalhe.
Mass em casa eu reviso. E, se tiver algo que realmente não entendo, vou perguntar.

― Levar dúvidas para casa pode te complicar. Fica esperta com isso. Continuando... AC três se
aplica a motores de indução gaiola de esquilo, com interrupção com o motor em regime. No
fechamento o contator suporta uma corrente de partida que é de cinco a sete vezes a corrente
nominal do motor. Por isso é importante saber dimensionar a contatora correta para evitar
problemas futuros e desgastes desnecessários do equipamento. A AC quatro já é para manobras
pesadas, como partida de motor em plena carga. Paradas por contracorrente, reversão em
plena carga, etc. Esses quatro tipos são para contatoras AC. Agora vou falar das CC. DC um é
para aparelhos com constante de tempo igual ou inferior a um milissegundo. Como cargas
ôhmicas ou indutivas. A DC dois e três devem ser usadas para acionamento de motores de
corrente contínua com excitação do tipo paralelo. Tipo o shunt. A DC quatro e cinco são
categorias aplicadas para partidas de motores CC com excitação em série. E, por fim, tem a
categoria de emprego para circuitos de comandos. E, para a corrente alternada, temos a AC
doze é para acionar cargas resistivas e cargas em estado sólido com isolamento por meio de
acopladores ópticos. A AC treze é para controle de cargas de estado sólido com transformadores
de isolação. A AC catorze é para pequenas cargas eletromagnéticas, cargas abaixo de setenta
e dois VA. Já a AC quinze é para cargas eletromagnéticas acima de setenta e dois VA. E para as
de corrente contínua temos DC doze para carga resistivas e cargas de estado sólido com
isolamento através de acoplamento óptico. A DC treze para acionamento de eletroímãs e a DC
quatorze para controle de pequenas cargas eletromagnéticas. Com isso finalizamos as
contatoras. A cereja do bolo está nessa folha, de como dimensionar ela, só seguir os passos que
estão aí...

144
VISÃO DE SARAH.

― Vamos dar uma pausa de uns dez minutos. Vamos comer algo que estou com fome e depois
voltamos. Vamos ver disjuntores agora.

― Depois de encher o bucho, bora continuar. Agora vamos falar sobre os disjuntores, que são
dispositivos de manobras e proteção, capazes de estabelecer, conduzir e interromper
correntes em condições normais do circuito. Assim também como as de curto-circuito ou de
sobrecargas. De acordo com sua forma construtiva, os disjuntores podem acumular várias
funções tais como proteção contra sobrecargas, curto-circuito, comando funcional,
seccionamento de emergência e proteção contra contato direto. O disjuntor tem alguns
parâmetros importantes de serem vistos. E um deles é a corrente nominal do disjuntor. É
aquela que pode circular permanentemente pelo disjuntor. A tensão nominal é a que se refere
à capacidade de interrupção e as demais características do disjuntor. Não vai me instalar um

145
disjuntor com tensão diferente da rede. A capacidade nominal de curto-circuito é a corrente
máxima presumida de interrupção, de valor eficaz, que o disjuntor pode interromper. Os
disjuntores termomagnéticos operam com as suas curvas de características térmicas, que é a
curva T e os magnéticos na curva M. Dá uma olhada no desenho.

VISÃO DE SARAH.

― Falar em desenho, eu imprimi as curvas. Não dava para desenhar. O que não dá para
desenhar, eu imprimo.

― Eu me pergunto porque você não imprimiu todos os desenhos para mim. Fica fazendo eu
tentar adivinhar que desenho é aquele que tu fez.

146
― Gracinha tu, né? Desenho muito bem por sinal, e outra: me ajuda a explicar para você o
conteúdo. Pois, quando desenho, estou aprendendo, e é pra você fazer a mesma coisa.
Redesenhando, vai notar o quanto seu aprendizado vai melhorar. Os disjuntores podem ser
fabricados em quatros diferentes tipos: os somente térmicos, que são aqueles que dispõem de
somente uma unidade de proteção térmica de sobrecarga. Os magnéticos que já dispõem de
proteção térmica e outra magnética de curto-circuito. Esse é o mais usado. O disjuntor
termomagnético limitados que são aqueles que tem proteção térmica e magnética. Ele é capaz
de interromper as elevadas correntes de curto-circuito antes de atingirem o seu valor de pico.
Tem os sem ajustes, que já vem com ajuste pré-definido e os de ajuste externo. Neste último
é você quem faz o ajuste. Já estamos quase acabando a parte dos disjuntores e espero que dê
tempo de falar o que falta. Vou comentar sobre seus elementos de proteção... O disjuntor
térmico é constituído de um elemento bimetálico que constitui de duas lâminas de metal,
tendo elas diferentes coeficientes de dilatação térmicas. Quando essas lâminas recebem uma
determinada quantidade de calor, as lâminas se curvam. Com isso, provoca o desligamento
da barra de disparo, que destrava o mecanismo que mantém a continuidade do circuito.
Assim, a alavanca do disjuntor assume a posição de disparo internamente para ligado e
desligado. No desenho, você pode ver a reação das lâminas quando expostas a uma
determinada temperatura. A proteção térmica tem como função principal a de proteger os
condutores contra sobreaquecimentos provocadas pelas instalações.

VISÃO DE SARAH.

147
― Já os disjuntores magnéticos são constituídos de uma bobina, que, quando atravessada por
uma determinada corrente de valor superior ao estabelecido para a unidade, ele desarma. A
proteção magnética tem como função principal a proteção do sistema elétrico contra curto-
circuito. Os disjuntores magnéticos apresentam um erro de operação que varia mais ou menos
em dez por cento do valor de ajuste. E os disjuntores termomagnéticos, que levam as funções
dos dois anteriores que falamos. Agora vem algo interessante, que são as curvas de disparo
ou desarme, que são B, C e D. Essas são as mais usuais. Vê se estão na bolsa as folhas, não
lembro se deixei no carro ou ficou em casa. Ando meio esquecido... ― disse Fábio.

― Aqui não está, vou ver se está no carro ― disse Sarah. ― Achei! Tava no porta-luvas.

― Certo, vamos iniciar. A curva de ruptura dos disjuntores é o tempo em que os disjuntores
suportam uma corrente acima da corrente nominal por determinado tempo. Para cada carga
fica estipulado uma curva de ruptura para o disjuntor. Essas curvas foram separadas em
categorias, sendo as mais importante as curvas B, C e D. O disjuntor de curva B possui curva
de ruptura entre três a cinco vezes o valor da corrente nominal. Dando por exemplo um
disjuntor de dez amperes que atuaria devido sua curva, uma corrente de pico entre trinta a
cinquenta amperes. Esses disjuntores são utilizados em redes de baixa intensidade, ou seja, de
baixa demanda de corrente de curto-circuito. Em instalações elétricas residenciais, como
chuveiros e cargas resistivas. Essa imagem mostra o gráfico da curva B do disjuntor.

VISÃO DE SARAH.

148
― Os disjuntores de curva C possuem curva de ruptura entre cinco a dez vezes o valor da
corrente nominal. Pegando o mesmo exemplo do disjuntor de dez amperes, ele atuaria num
pico de corrente entre cinquenta e cem amperes. Esses disjuntores são utilizados em redes de
média intensidade, como ligação de bobinas, ar-condicionado, motores de pequeno porte,
sistema de comandos, etc. Os disjuntores de curva C são usados normalmente para cargas
indutivas. Pode ver pela imagem que a curva dele já é bem diferente do B.

VISÃO DE SARAH.

― E, para finalizarmos essa parte de disjuntores e irmos embora, faltou só a curva D. A curva D
possui curva de ruptura de dez a vinte vezes o valor da corrente nominal. Ou seja, se pegarmos
o exemplo do disjuntor de dez amperes, ele vai atuar num pico de cem a duzentos amperes. Eles
são utilizados em redes de alta intensidade, ou seja, de alta demanda de curto-circuito. E onde
a corrente de partida é muito acentuada como os transformadores, motores de grande porte,
entre outros. Vê aí no desenho sua curva...

149
VISÃO DE SARAH.

― Acabou? ― perguntou Sarah.

― Sim, por hoje chega. Passei a boa parte da tarde falando, quase já não consigo mexer a boca.
Bora que quero ir pra casa. Arruma as coisas aí que vou acertar o lanche.

― Que maravilha, já não aguento mais escrever. Não vejo a hora de chegar em casa para ir
comprar o celular.

― Bora então! E sua mãe, parou de pegar no seu pé?

― Parou um pouco.

― Quando você começar a ter resultados, ela vai parar. Até lá, trabalhe muito e não absorva
as coisas negativas. Mesmo ela falando alguma coisa que não goste, é sua mãe e deve respeitar
ela enquanto estiver debaixo do teto dela. Tem um versículo que gosto dele que está em Êxodo,
capítulo vinte, versículo doze, que diz: “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa
na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá”. Devemos honrar nossos pais não importa o que haja
e com isso, teremos vida longa nesta terra em que apenas estamos de passagem, mas onde
temos propósitos a cumprir.

― Legal! Eu ainda estou lendo Mateus. Tem algumas coisas que não entendo.

150
― É normal, por isso que falo para procurar uma igreja e começar a frequentar. Você vai
aprender muito. Amanhã também não tem nada programado, mas passo no mesmo horário.
Se não tiver nada, voltamos pra praça.

Fábio deixou Sarah em casa e vou embora. Quando entrou, encontro Rita e Rebeca conversando.
Sarah já chegou animada para irem comprar o celular. Ficaram um pouco conversando e foram visitar
algumas lojas para comprarem o celular. Passadas algumas horas, retornaram para casa.

Sarah tinha comprado seu primeiro celular e estava muito feliz por sua conquista. Empolgada, passou
o resto da noite mexendo no celular até ir dormir. Ao levantar, Sarah fez seu matinal e foi para a
escola. Ao retornar, foi almoçar e aguardar Fábio que logo apareceu.

― Boraaaa!

― Olha que comprei!

― Finalmente o celular! Agora posso te ligar, né? E isso vai ser ótimo para você procurar
trabalho. Agora podem te ligar. Agora é criar os cartões de visita. Já pensou no nome ou em
algo? E bora para a velha e conhecida praça. Trampo só amanhã.

― Não pensei em nada. Queria dar aulas igual a você.

― Ensinar é bom. Mas antes de ensinar, precisa ter ao menos um pouco de experiência. Começa
a pegar serviços, ganhar um pouquinho de rodagem. Ai sim você começar a ensinar, não precisa
ser a pessoa mais foda e técnica do mundo. Faça algo ou ajude a melhorar a vida de alguém
verdadeiramente e já vai estar ensinado.

― Vou pensar em um nome para colocar no cartão.

― Certo, hoje vamos finalizar a terceira parte e irmos para a última. Caraca! Mês tá voando,
né? Já quase um mês que estamos nessa jornada.

― Sim, aprendi muita coisa. Nem acredito que entrei nessa, mesmo com medo. E ainda tenho.

― Normal, depois piora. Pega as coisas aí e bora para nosso banco da sabedoria. Já dizia
Salomão: “Procure obter sabedoria, use tudo o que você possui para adquirir entendimento,
dedique alta estima à Sabedoria, e ela o exaltará”. Em resumo, estude, busque ficar com
pessoas mais inteligentes que você, busque conhecimento.

― Legal, sabe bastante da Bíblia, né? Eu gosto de estudar. Quando conseguir comprar o
computador, vai ficar melhor para estudar.

― Algum tempo já de aprendizado e leitura. Pega as coisas e bora, que vamos ver relé térmico.
Deixa eu pedir um suco pra gente… Vamos lá... O relé térmico é um dispositivo que atua pelo
efeito térmico provocado pela corrente elétrica, protegendo componentes da carga quando as
sobrecorrentes ocorrem durante o seu funcionamento, permanecendo por tempo excessivo. No
desenho, você vê o símbolo de potência e o símbolo de comandos.

151
VISÃO DE SARAH.

― Não entendi, ele tem dois símbolos?

― O símbolo em que está escrito potência é o símbolo que vai no diagrama de força, o do relé
térmico. O do comando é seu acionamento, tipo contato auxiliar. O elemento básico do relé
térmico é o bimetal. Esse bimetal é composto, geralmente, por dois tipos diferentes de metais,
que são o ferro e o níquel, sobreposto e soltado. Por causa do coeficiente de dilatação, se o par
metálico for submetido a uma temperatura elevada, um dos metais do par vai se dilatar mais
do que o outro. Por estarem soldados, o de menor coeficiente, vai provocar o encurvamento do
conjunto para o lado. Igual tu vê ai no desenho na folha.

152
VISÃO DE SARAH.

― Esse movimento de curva é usado para disparar um gatilho ou abrir um circuito. Em circuitos
trifásicos, é utilizado um conjunto de três bimetálicos para a proteção de todas as fases.

― A parte da frente dele contém algumas coisas importantes de você saber. Tem os contatos
auxiliares, que é o símbolo que você ficou em dúvida. O contato auxiliar é o que vai no comando
para desligar o circuito ou ligar algum sinalizador de falha.

― Tem o ajuste de corrente a qual faz a regulagem da corrente máxima solicitada pela carga
que poderá circular no circuito. O botão de rearme, para quando ele desarmar, você rearmar. E
o botão de teste, para testar se ele está normal.

― Os relés térmicos podem ser diretos, indiretos, com retenção e sem retenção. Os diretos são
aquecidos pela passagem de corrente de carga pelo bimetal. Se deu sobrecarga, a lâmina vai
curvar e desarmar.

― Os relés térmicos indiretos são aquecidos por um elemento aquecedor indireto que transmite
calor ao bimetal e faz o relé desarmar. O relé com retenção possui dispositivos que travam os
contatos na posição de desligado, após sua atuação. Para voltar ao normal, é necessário o
operar ir até o relé e soltar a trava manualmente.

153
― E o sem retenção, que depois que esfria as lâminas, ele volta a funcionar. Ahh! Tem mais um
que lembrei agora, o relé térmico compensado, ele possui internamente um elemento que
compensa as variações da temperatura ambiente.

― Tem uns acessórios que você usa como identificadores para os fios, que são umas plaquinhas
de plásticos numeradas e adesivos na porta para identificar a tensão daquele quadro. Acho que
não esqueci mais nada. A última parte, vamos falar de diagramas, como você elabora um
comando.

― Que legal, melhor parte. Nossa, aprendi muita coisa nessas semanas.

― Putz! Esqueci de uma coisa, isso vamos ter que ver depois. Que é o temporizador para a
comutação do estrela-triângulo. Vamos embora, e outra, amanhã é sábado. Só segunda agora,
bom que consigo te ligar agora.

Chegando em casa, Sarah foi dar banho em Ted para depois levar ele para passear. Já havia alguns
dias que ela não andava com ele pelo tempo corrido. Depois do banho, passaram na sorveteria e
foram para a pracinha perto de sua casa. Quando Sarah sentou no banco, recordou que ali foi onde
tudo tinha começado. Lembranças do pai veio à mente e logo um sentimento de saudades á tomou
conta.

Não demorou muito para Sarah voltar para casa, cabisbaixa e com os pensamentos longe,
esquecendo que até mesmo tinha ido dar uma volta com Ted para relaxar a mente. Chegando em
casa, após a janta foi dormir. Nesse final de semana, Sarah passou tentando pensar em um nome
para o cartão de visita, passando a limpo o que tinha aprendido com Fábio e ajudando sua mãe em
casa.

154
CAPÍTULO 06
A VERDADEIRA JORNADA
COMEÇA AGORA
DIAGRAMAS DE ACIONAMENTOS ELÉTRICOS

Na segunda, levantou sendo, fez o que já �nha criado um hábito para ela, que era a leitura da Bíblia
e foi para a escola. Ao retornar, recebeu uma ligação de Fábio que iria se atrasar. Passado o tempo
aguardando, Fábio chegou.

― Bora mulher! Já estou até atrasado. Vamos ali numa fábrica caseira de biscoitos fazer um
orçamento para uma partida direta para uma cisterna.

― Que legal. Até comprei mais folhas para escrever, já to quase uma máquina de escrever.

― Já está escrevendo igual médico, é um avanço. Mas vamos ao que interessa, na ida, vou falar
o que faltou eu finalizar no capítulo anterior que é o relé temporizador ou relé de tempo. Ele faz
a contagem de tempo para a comutação de estrela para triângulo. Eles possuem- terminais A
um e A dois, onde são energizados.

155
VISÃO DE SARAH.

― Quando energizados, contam um tempo e atuam. Há um circuito eletrônico dentro dele que
faz essa contagem para acionar os contatos dele. No meu lindo desenho você pode ver a face
dele e o símbolo que representa ele. Esse atua quando é energizado, tem outros modelos que é
chamado de temporizador de retardo na desenergização.

156
― Ele atua só quando é desenergizado, já o do estrela-triângulo atua na energização. O ponto
comum é o quinze que recebe energia e o dezesseis e dezoito, utiliza conforme a necessidade
do comando.

― Não entendi, tem que energizar o A um, o A dois e o quinze?

― O A um e A dois são para a alimentação do temporizador, já o quinze é para fazer a lógica


de comando. Conforme a necessidade do comando. Você vai entender isso quando eu explicar
a estrela-triângulo.

― Entendi!

― Agora sim acabou. Vou falar rapidinho, creio que dá tempo, dos diagramas elétricos. São
quatro, sendo eles o funcional, multifilar, unifilar e trifilar. É importante você entender cada um.
Esses diagramas são esquemas elétricos com a finalidade de ilustrar um sistema elétrico.

― Com isso, facilitando sua interpretação, tendo objetivos de funcionamentos sequências dos
circuitos, representação dos componentes e funções, e permite uma rápida localização dos
componentes. Vou começar a falar do diagrama funcional.

― Esse tipo de diagrama é o tipo de representação mais próximo possível dos componentes do
circuito. É viável para pequenos esquemas de ligação e tem fins mais didáticos como pode ver
no desenho.

157
VISÃO DE SARAH.

― O segundo é o multifilar, que representa o diagrama onde os circuitos de força e comando


são juntos. Muitas das vezes seus contatos são próximos um dos outros, tanto força quanto
comando, dificultando o entendimento como pode ver no desenho.

158
VISÃO DE SARAH.

― O terceiro é unifilar, o mais simplificado. Como se tivesse somente uma linha e focado
somente nos principais componentes do circuito. Mais usado para circuitos grandes e complexo.

159
VISÃO DE SARAH.

― Por último o trifilar, mais usado em comandos elétricos. Ele representa os circuitos de força
e comandos de forma separada. Facilitando o entendimento da sua leitura, é o que vamos usar
para você aprender. Esse está representado por uma partida direta. É a primeira que vai
aprender.

160
VISÃO DE SARAH.

― Tranquilo até aqui? ― perguntou Fábio.

― Sim. Achei o funcional mais legal, que é mais fácil entender.

― Chegamos, vamos lá ver o que realmente o cliente quer e já fazer um esboço do problema.

Logo que chegaram, ficaram na recepção aguardando o responsável da empresa para atendê-los. Ao
chegar, acompanharam o cliente até o local onde estava uma cisterna.

― Como você pode observar, estou com essa bomba manual de aríete. Queremos automatizar
essa captação de água da cisterna, para uma caixa d’água. Aumentamos algumas coisas aqui
na empresa e a demanda de água subiu, principalmente para a limpeza ― disse o cliente.

161
― Vocês já têm motor bomba? ― perguntou Fábio.

― Sim, toda a parte de tubulação e bomba está ok. Só falta a parte de acionamento dela ―
disse o cliente.

― Posso ver ele? ― perguntou Fábio.

― Claro! Vamos no almoxarifado, que vou mostrar ele ― disse o cliente.

― Sarah, anota os dados de placa dele ― disse Fábio.

― O quadro vai ficar perto, uns dez metros da bomba, ta tranquilo. Material vocês têm? ―
perguntou Fábio.

― Não, inclui tudo e me manda o orçamento com o preço cheio ― disse o cliente.

― Certo! Anotou tudo Sarah? Se já, vamos embora. A rede que vai alimentar é duzentos e vinte
trifásico? ― perguntou Fábio.

― Já sim! ― disse Sarah.

― Duzentos e vinte trifásico ― disse o cliente.

Após alguns minutos de conversa com o cliente, Fábio pegou algumas informações da empresa para
preencher o orçamento e saíram.

― Pegou o jeito da coisa Sarah de como faz uma análise do problema?

― Quando a gente chega no local, a gente pede pro responsável falar o que ele quer. Depois ir
até o local para ver, depois ver o motor e anotar os dados. Ver a tensão que vai alimentar o
quadro e a distância até o motor. Ver qual o motor, para saber qual partida usar, certo? ―
perguntou Sarah.

― Muito bem! Você vê se ele já tem o material ou vai querer que inclui também. Vê se o motor
vai iniciar com carga ou não. Ali como era uma bomba d’água e motor de três CV. Já dava para
saber qual partida usar. Mas para saber a partida que usar, tem que saber todos esses dados.

― Principalmente, a tensão de uso do motor, distância do motor do quadro de alimentação, se


o motor vai iniciar com carga ou não. Depois disso, você vai decidir qual a melhor partida para
aquela situação.

― Ahh! Mas um detalhe, bora ver se você lembra, qual tipo de malha vai nesse comando, aberta
ou fechada?

― Quê!? Você não falou nada disso ainda.

162
― Não falei? Uai! Tinha certeza que tinha falado, muita coisa na cabeça, acabo esquecendo o
que falei e não falei. Há quatro possibilidades de cenários que os acionamentos podem ser
aplicados. Além da tecnologia disponível e grau de necessidade de controle e comando.

― Podendo ser de simples comando, em malha aberta ou fechada, e com controle em malha
aberta ou fechada. Presta atenção aqui, os acionamentos sem sinal de medição ou
monitoramento da saída, é um sistema de malha aberta. Se precisar medir alguma grandeza
da saída como temperatura, velocidade, vazão, entre outros, ou até mesmo monitorar o estado
da carga, é malha fechada.

― O de controle em malha aberta ou fechada é os motores acionados por inversor de frequência


ou CLPs que são os controladores lógicos programáveis. Esses sistemas atuam de forma a
melhorar a performance do sistema, controlando as variáveis do motor. E se precisar monitorar
algo, malha fechada, senão, malha aberta.

― Entendeu agora Sarah?

― Entendi. Então o acionamento da bomba d’água vai ser em malha fechada, porque vai ser
controlada pelo sensor, é isso mesmo?

― Isso mesmo, se fosse o operador que tivesse que ligar e desligar a bomba, era malha aberta,
como é um sensor que vai fazer isso, é malha fechada.

― Por que tenho que saber se é malha aberta ou fechada, ou é controle ou comando?

― Em um projeto, você tem que especificar isso. E se tiver um problema em alguma parte, e for
malha fechada, vai parar todo o sistema. Sendo especificado, vai facilitar a leitura do projeto e
a encontrar o problema mais rápido. Vai facilitar o melhoramento do acionamento se for malha
aberta.

― Entendi. Agora, com o exemplo na prática, aprendi.

― Certo, eu vou usar essa partida para estudarmos. Que vai ser a primeira partida a ser
estudada, a partida direta. Hoje vou fazer o projeto e ver os equipamentos que vai precisar,
amanhã cedo vou orçar o valor de tudo e depois enviar o orçamento para eles.

― Vamos parar nessa padaria e comer, estou com fome. Já aproveitamos e vemos algumas
coisas, tempo é o ativo mais valioso desse mundo. E você, que fez de bom no final de semana?

― Eu tava tentando pensar em um nome para colocar no cartão e ver os lugares que iria,
organizei meus matérias, estudei um pouco e ajude a mamãe em alguns afazeres de casa. E dei
algumas voltas com o Ted.

― Que show! Pede algo para comer lá. Você pegou as folhas no porta-luvas? ― perguntou
Fábio.

― Não, só a mochila.

163
― Tá, traz as coisas que vou pegar as folhas.

― Já escolheu algum nome, Sarah?

― Ainda não, tava pensando em praticando elétrica, ensinando comandos, escola para elétrica.
É difícil escolher um nome.

― Bom, esses nomes, não me agrada. Melhorzinho desses aí é a escola para elétrica. Vou te
ajudar, até amanhã vejo se penso em algo.

― Bora pro conteúdo que já está nos finalmente. Já falei sobre os tipos de diagramas né,
unifilar, multifilar, funcional, putz, deu um branco, esqueci o outro.

― Trifilhar ― disse Sarah.

― Isso mesmo. Agora vou falar sobre a lógica de comando, preste bem atenção, se você
entender isso, vai te ajudar muito a compreender os diagramas. Esse conceito de lógica é
construído a partir de funções lógicas binárias e teoremas da álgebra de boole.

― O que é binário e álgebra?

― Não se preocupe com isso, no futuro você estuda sobre esse assunto. O importante agora é
você entender o conceito. No futuro pega livros a respeito disso e estuda, se achar necessário.
Conhecimento demais nunca é ruim, desde que você faça uso dele para algo. Só ter
conhecimento sem uso, se torna um conhecimento inútil.

― As três que vamos ver é a função AND que significa E, a função OR que significa OU e a função
NOT que significa NÃO. Tem outras derivadas delas, mas não vem ao caso agora. Você
entendendo essas, já vai saber desenvolver um diagrama em uma capacidade de mais de
sessenta por cento. O resto é você pensar, usar o raciocínio lógico, resumindo, usar seu cérebro.

― Vamos começar com a OR, como pode ver no desenho que fiz, a OR significa, ou a tensão
pode passar pelo botão S um ou pelo S dois. Basta que um dos dois botões esteja acionados
para que a lâmpada acenda ou até mesmo os dois botões estejam acionados. Como pode ver
na tabela verdade, onde está S um, tem zero, zero, um, um. O zero quer dizer que o botão S um
não está acionado e o um quer dizer que o botão está acionando.

164
VISÃO DE SARAH.

― Onde está o L, é a saída, onde está zero, não tem energia, onde está um, tem energia.
Entendeu, Sarah?

― Pra lâmpada acender, eu apenas preciso que ou um botão ou outro esteja apertado, né? Isso
que significa OR.

― Exatamente, e observe que eles ficam em paralelo, lembra os circuitos em paralelos. O OR é


praticamente o selo de contato que vai ver mais à frente. Ou a tensão passa pelo botão para
acionar a bobina da contatora ou passa pelo contato auxiliar da contatora.

― O próximo é o AND, que é representado também pela letra E. Esse já é um circuito em série,
como pode ver no desenho. Para ele funcionar, preciso que tenha duas condições iguais. Como
assim, Fábio? Preciso ter dois botões acionados. Se eu tiver só um, não vai adiantar. Se você
observar a tabela, onde está o L da lâmpada, só onde tem um, um, que ligou ela. Isso em
comandos, é o que chamamos de intertravamento, vai ver também sobre ele mais à frente.

165
VISÃO DE SARAH.

― E a última, o NOT, que é o inverso. A lâmpada vai ser ligada só se o botão não for acionado.
Lembrando, esse botão é do tino NF, então quando acionado, ele fica NA. Pode ver na tabela,
que quando está em zero, que significa que ele não foi acionado, a lâmpada está ligada. E
quando ele é acionado, ficando em um, a lâmpada apaga.

166
VISÃO SARAH.

― Essas são as três principais que você tem que entender seu funcionamento. Jaja você vai ver
alguns conceitos básicos de manobra de comando que vai facilitar o entendimento da lógica.
Pois vai ficar melhor você associar um com outro.

― Entendi, vou estudar com calma eles. Vou precisar de um computador para estudar. Preciso
começar a achar clientes logo.

― Vamos indo, por hoje chega. Vou enviar cedo o orçamento para a empresa. Se der tudo certo,
vai ser muito bom para você aprender na prática. Se não formos fazer o trampo lá amanhã,
vamos para a praça estudar a primeira partida, que é a partida direta. E vai ser em cima dessa
que passei o orçamento. Só acertar o lanche e vamos.

― Bora, vou deixar tu em casa e vou desenvolver esse orçamento para enviar logo. Vou te
ensinar a base com três diagramas elétricos, partida direta, estrela-triângulo e partida
compensada. São as três partidas base, não vai ficar decorando diagramas. Você tem que
aprender a desenvolver cada um. Mas para saber desenvolver, tem que partir de algum lugar.

― Você não vai sair daqui sabendo tudo que é partida, isso leva tempo, prática, estudo,
treinamento. Eu seria muito escroto se falasse para você que iria sair daqui sabendo tudo. Isso
que to te ensinando Sarah, é uma base, uma direção ordenada. Tem muito que caminhar ainda,
mas para andar, precisa iniciar.

167
― Fábio, não esquece de me ajudar com o nome depois. Já sei o que vou fazer depois do cartão.
Vou sair visitando as obras, ligando pros engenheiros civis e arquitetos. Tem mais alguma coisa
que posso fazer?

― Vejamos! Tem que estar na internet, cria uma página no facebook. Por isso falei da
importância de saber mexer no computador e na internet. Anuncia seus serviços, tira foto,
coloca na página. Uma das coisas mais importantes que vou te falar agora. Preste bem atenção,
que isso vai te ajudar muito.

― Desenvolva constantemente a habilidade de vender, por é aqui que vai te gerar grana.
Aprenda a se comunicar bem, a conversar, pois aqui você vai fazer mais contatos e com isso,
mais vendas. E saber administrar seu dinheiro, nada adianta saber vender ou se comunicar,
senão sabe administrar seu dinheiro. Vai torrar tudo e nada vai construir.

― O resto com o tempo você vai aprendendo, você é nova, aplicando essas coisas, já vai estar
na frente de muita gente. E a parte técnica, vai estudando, praticando e com o tempo, vai
transformar seu conhecimento em liberdade. Amanhã no mesmo horário e bat-caverna.

Fábio deixou Sarah em casa e foi elaborar o projeto para no dia seguinte, pela manhã, precificar o
material. Enquanto Sarah foi arrumar algumas coisas para sua mãe na cozinha e depois ir caminhar
com o Ted. Hábito a qual ela estava tentando ter.

Voltando de sua caminhada, foi banhar e pensar em um nome para colocar no cartão de visitas e
repassar a limpo algumas coisas. Passados algumas horas, Sarah já estava indo dormir quando teve
uma ideia.

― Ted, pensei em um nome legal, amanhã vou falar com o Fábio. Acho que ele vai gostar. Nem
queria ir pra aula, queria resolver logo essas coisas. Mas bora dormir que amanhã tem chão.

Ao acordar, Sarah foi fazer o café e ler a Bíblia. Após o banho, foi para a escola. Chegando a hora do
almoço, já estava em casa aguardando Fábio, pois a escola tinha liberado a turma dela mais cedo.
Não demorou muito e ele apareceu.

― Bora! Que estou aguardando só a ligação de confirmação, assim espero. Bora pra praça, já
fiz o dimensionamento da partida e o orçamento enviei pra ele. Vou usar ele para te ensinar
hoje ainda. O que temos para ver, vai ser rápido, aí vai ficar só as três partidas, ou duas né. Que
a direta quero já ver hoje com você.

― Legal, tomara que dê tudo certo para irmos fazer. Ahh, antes que eu esqueça, tive uma ideia
de um nome pro cartão.

― Putz! Até esqueci de pensar em algo para te ajudar Sarah. Mas no que pensou?

― Que tal Dominando Elétrica?

168
― Show, gostei. Com isso, você já pode mandar fazer os cartões. Vou recomendar algumas
coisas, presta bem atenção. Ano passado, o governo criou o MEI, é o microempreendedor
individual. Depois, você vai pesquisar sobre ele, e vai abrir um CNPJ, para que serve esse CNPJ?
Para dar vida a sua empresa.

― Através dele você pode emitir nota fiscal de serviço, venda, essas coisas. Vai ser sua missão,
pesquisar sobre isso. Abre o MEI no site do governo, é cinco minutos e está feito. Eu vou deixar
umas informações e você corre atrás depois. Quando for abrir o MEI, vai pedir um número, que
é onde vão se basear em sua atividade de trabalho.

― Para não ter dúvidas, o de instalação elétrica e manutenção é chamado de CNAE quarenta e
três vinte e um, traço cinco. Porque abrir um MEI? Porque você pode prestar serviços para
empresas e emitir notas fiscais para elas.

― Nossa, tô entendo nada. Muita coisa...

― É porque você nunca ouviu falar disso, Sarah, só anota e, quando for pesquisar, vai fazer
sentido. Cria os cartões com esse nome que você escolheu. Vai no site do governo, que é o portal
do empreendedor, quando pedir qual é o número de sua atividade, você coloca a que te passei.
Feito isso, você vai na prefeitura aqui e fala que quer tirar a inscrição municipal. Lá eles vão te
ajudar, fala que é para emitir nota fiscal de serviço, a NFs.

― A princípio, faz isso. Busca pesquisar sobre o que te falei. Esse é o primeiro passo para você
criar responsabilidade e saber que tem uma empresa a gerir. E cria uma logo, na gráfica, eles
te orientam lá. Pede para fazerem uns cinquenta cartões de início que está bom. Pega as folhas
no porta-luvas e vamos para nosso velho e agradável banco.

― Vamos ver conceitos básicos em manobras de motores, para facilitar a leitura e compreensão
gráfica de um circuito elétrico. E isso é de extrema importância você conhecer os componentes
básicos dos comandos e também sua finalidade. Pega a folha aqui como desenho, é o selo. O
contato de selo é sempre ligado em paralelo com o contato de fechamento da botoeira.

169
VISÃO DE SARAH.

― Sua finalidade é manter a corrente circulando pelo contator, mesmo após o operador ter
retirado o dedo da botoeira. Isso te lembra algo Sarah que vimos ontem?

― Parece com o Ou né? A lógica de um ou outro está acionado para a lâmpada acender.

― Exatamente! Tem o selo com dois contatos também. Como pode ver no desenho.

VISÃO DE SARAH.

170
― Agora um dos conceitos importantes e realmente ele é muito importante. O intertravamento
através da ligação dos contatos auxiliares nas linhas principais do acionamento da bobina do
contator. Se eu ligar um motor e não quero que alguém chegue lá e aperte o botão para
reversão, sendo que ele já está ligado. Uso o intertravamento igual está no desenho. O
intertravamento é para que eu não acione duas coisas ao mesmo tempo.

VISÃO DE SARAH.

― Uma coisa que você não deve fazer é circuito paralelo ao intertravamento, igual veres no
desenho. Porque senão, vai perder a proteção do intertravamento, vai anular ele, como se você
fizesse um jamper. Tomar cuidado com isso.

171
VISÃO DE SARAH.

― Tem também o intertravamento em série, como pode veres. Na mesma linha da bobina,
geralmente mais usados quando acionado altas cargas com altas correntes. Um sistema de
proteção. Por isso que falo para treinar seu pensamento lógico. Chega em casa e vai refazendo
isso, quando aprender o diagrama da partida direta. Vai implementando, criando sistema de
proteção para ir treinando e entendo como funciona.

172
VISÃO DE SARAH.

― Ligamento condicionado é outro conceito bom de ser aprendido. O contato NA do K dois,


antes do contator K um, significa que K um, só pode ser operado apenas quando K dois estiver
fechado. Assim obriga o funcionamento de K um só se K dois estiver fechado.

― Ahh! Algo muito importante também para a proteção do sistema, em um diagrama de


comandos, os contatos do relé térmico e as botoeiras de desligamento devem estar em série.
Como pode ver no desenho, é bom que se inicie a linha com esses dispositivos de segurança.

173
VISÃO DE SARAH.

― E por fim, tem o intertravamento por botoeiras, mas um detalhe: não recomenda usar
intertravamento com botoeiras em motores com cargas pesadas. Para dar certo o
intertravamento, é bom que os contatos estejam invertidos na botoeira.

VISÃO DE SARAH.

― O que é esses pontinhos atravessados no desenho?

174
― Isso indica que a botoeira tem um bloco de contatos. Pode ser um bloco NA e NF e o outro
NF e NA. Quando você a aperta, os contatos invertem. O que era NA para a ficar NF e assim por
diante. Quando achar um diagrama com esses pontos, significa que os contatos fazer parte
daquela botoeira.

― Acho que entendi. Vou estudar mais eles e preciso praticar também.

― No futuro, monta um kit para você praticar. Estuda a teoria também que é de suma
importância, as duas tem que estar juntas. Não existe essa de só teoria ou só pratica. E para
finalizar, uma coisa muito importante, que a IEC sessenta novecentos e quarenta sete traço
quatro que regulamenta. Que é as coordenadas de proteção.

― A montagem de diagramas deve atender a um dos tipos de coordenadas de proteção


aplicadas aos dispositivos de seccionamento, proteção e comutação. O primeiro, tipo um, é sem
riscos para as pessoas e instalações, ou seja, desligamento seguro da corrente de curto-circuito.
O conjunto estará incapaz de continuar funcionando após o desligamento, permitindo danos ao
contator e ao relé térmico ou outros dispositivos.

― A coordenada tipo dois, é sem riscos para as pessoas e instalações, ou seja, desligamento
seguro da corrente de curto-circuito. Não podendo haver danos ao relé térmico ou outros
dispositivos, com exceção de leve fundição dos contatos e estes permitem fácil separação sem
deformação significativa.

― A diferença entre um e outro é a parte de dano que o circuito leva. Em comandos, usamos o
tipo dois de coordenada. Não se esqueça, temos que proteger a instalação e as pessoas, e ainda
não ter os equipamentos todos danificados por completo.

― E como eu sei que estou usando o tipo dois ou tipo um no diagrama que eu criar? ―
perguntou Sarah.

― Analise se os dispositivos que você está dimensionando, vai proteger todo o sistema,
desarmando, isso sendo bem dimensionado, ou se der um curto-circuito, vai chegar até o motor
danificando tudo. Eu ia entrar direto em partida direta, mas vou fazer uma coisa melhor. É
muito importante você saber analisar um local para instalar o motor, caso o cliente precise de
orientação. Isso diferencia muito o profissional.

― Os motores elétricos devem ser instalados em locais de fácil acesso para inspeções e
manutenção. Se o ambiente for úmido, corrosivo ou ter algum tipo de substância que podem
danificar o motor, é importante assegurar o correto grau de proteção, o IP do motor.

― Onde existir vapores, gases ou poeiras inflamáveis ou combustíveis, onde pode ter o risco de
explodir ou pegar fogo, deve ser de acordo com as normas IEC sessenta zero setenta e nove
traço catorze, NBR cinquenta e quatro dezoito, VDE cento e sessenta e cinto.

175
― Em nenhuma circunstância os motores poderão ser cobertos por caixas ou outras coberturas
que possam impedir ou diminuir o sistema de ventilação e ou a livre circulação do ar durante
seu funcionamento, entendeu?

― Entendi, muita coisa para tomar cuidado né?

― Sim, tem outras coisas também, só que é impossível abordar tudo agora para você, com o
tempo, vai estudando e aperfeiçoando, isso faz a diferença de um excelente profissional que
ganha bem, de um mediano que só reclama.

― Outro detalhe importante também a se levar em consideração, é a queda de tensão. Do


disjuntor geral do circuito do motor, até o motor, deve ser de no máximo dois por cento essa
queda. E pela NBR setenta noventa e quatro, o motor deve funcionar satisfatoriamente com dez
por cento da variação da tensão, na frequência nominal. Lembra do motor que pegamos que
estava, senão me engano com oito por cento de variação de tensão?

― Já estava quase no limite então né? ― perguntou Sarah.

― Sim, essas coisas diminuem muito a vida útil do motor. Para você ver, se a queda de tensão
ultrapassa os valores aceitos pelas normas, acarretará na instabilidade do comando, que
provoca ricochete e arco elétrico. Causando colamento de contatos e queimas de bobina dos
contatores. O que mais causa queda de tensão é corrente de partida muito elevada, por isso a
partir de sete CV e meio tem que usar algum tipo de partida indireta, partidas longas,
condutores e transformadores subdimensionados e linhas muito extensas.

― O que é uma partida indireta?

― Uma partida indireta é um sistema que possibilita a redução do pico de corrente no momento
da partida do motor. Partidas como estrela-triângulo, compensada é indireta, a partida direta,
já é direta.

― Entendi, vamos dar uma parada, quero ir no banheiro. E minha mão está doendo.

― Certo, vou pegar algo para comermos enquanto isso.

― Agora que já está mais descansada e de barriga cheia, bora para a partida direta, senão nem
dá tempo de terminar hoje. Tempo anda meio acelerado aqui. Antes de jogar a partida no seu
colo, vamos passar pelo conceito de como construir um diagrama de comando. Vamos começar
pelo comando, porque é o mais complicado, o de força, é tranquilo. O de comando é onde está
toda a lógica de funcionamento.

― O ponto central é fazer o comando acionar a bobina da contatora, toda a lógica é voltada
para ela, claro que, com as devidas proteções. Quando você pensa em desenvolver um
diagrama, você pensa em linhas. Isso mesmo, linhas que você vai desenhando. E tanto para a
leitura de diagramas quanto para criar diagramas, você vai seguir uma regrinha.

176
― Está vendo esse diagrama de comando da partida direta, presta atenção em duas coisas.
Está vendo essa bolinha no início da linha? Todo diagrama precisa de uma alimentação, uma
tensão para funcionar. Sempre inicie com uma fase e nunca com neutro se for monofásico o
circuito. O L indica a fase ou sinal de mais que é o positivo da corrente continua, e você vai fazer
a leitura do diagrama sempre de início dessa linha para baixo, na vertical e depois para a direita
ou em horizontal. Tanto para criar o diagrama como para leitura. Sempre vai ser assim em
diagramas de comandos elétricos.

VISÃO DE SARAH.

177
VISÃO DE SARAH.

― Pega uma folha em branco que está dentro da minha bolsa, que vai ficar melhor para você.
Desenha a bolinha e uma linha até ligar a bobina da contatora. Lembra do símbolo da bobina
da contatora né?

― Sim!

― Assim? E depois que sai da bobina?

178
VISÃO DE SARAH.

― Se for um circuito monofásico, na saída é o neutro. Você inicia com a fase no L até a entrada
da bobina e na saída é o neutro. Se for duzentos e vinte, é a outra fase que você liga aí. Se for
corrente contínua, liga o positivo. Nunca vai fazer o diagrama com neutro em tensão alternada
e nunca vai usar o negativo em corrente continua, sempre o positivo e a fase para fazer todo o
diagrama. Na saída, que é após a bobina, ou após uma lâmpada de sinalização, usa o outro
cabo da rede.

― Você pode ver que a bobina está ligada direta na rede né? Isso quer dizer que o motor está
ligado direto, vai ficar ligado até acontecer algo. Para você poder ligar, precisa de um botão.
Nessa linha que você criou, coloca um botão nela.

179
VISÃO DE SARAH.

― Certo, agora se você apertar esse botão, o motor vai ligar, porém, se você soltar o botão, vai
desligar ele novamente. Nesse caso, o que precisa ser feio para que quando você apertar o
botão e soltar, ele permaneça ligado?

― Peraí que eu sei, tá na ponta da língua. Ahh, lembrei! O selo né? Fica do lado na botoeira,
igual a lógica do OU que me falou. Nossa, faz sentido as coisas mesmo.

― Isso, ele fica em paralelo com a botoeira. Como te falei, é importante seguir o passo a passo.
Se pular etapas, vai ficar difícil evoluir o aprendizado. Agora desenha ele.

180
VISÃO DE SARAH.

― Viu que seu diagrama está tomando forma? Agora você já tem uma partida de motor. E eu
apertar o botão e soltar, ele vai permanecer ligado. E depois disso Sarah, o que vem?

― Preciso desligar o motor né? Então o botão de desliga.

― Certo, e já desenha também o que vem depois da botoeira de desliga.

― Vem o relé térmico né?

― Não, pensa ai!

― Não lembro.

― A botoeira de emergência Sarah. Ela vem antes ou depois do botão desliga?

― Ahh, sim, antes do botão desliga?

― Isso! Agora desenha e me mostra.

181
VISÃO DE SARAH.

― Agora só falta o relé térmico né? ― perguntou Sarah.

― Quase, falta só mais uma coisa! inicia sempre com a proteção no circuito de comando. Depois
do ponto do L, coloca um disjuntor se for monofásico circuito do comando ou um disjuntor
bipolar se for bifásico. Ou um fusível para a mesma situação do disjuntor. Para o circuito de
comando, até cinco amperes está ótimo! E depois disso você desenhou seu primeiro diagrama
de partida direta. Faz ele aí e dê uma olhada em como ficou.

182
VISÃO DE SARAH.

― Olhou bem? Entendeu como é criar um diagrama. Esse é bem simples, mais os complexos é
a mesma lógica. Tudo vai iniciar por uma linha e depois você vai fazendo as lógicas com os
símbolos dos contatos. Você pode notar que a linha principal está tudo em série. Sempre será
assim. Quando você criar uma linha, vai colocar todos os dispositivos de segurança em série
com a linha que vai na bobina.

― Claro que vai ter momentos que vai precisar fazer algo em paralelo, como selo.

― Entendi, muito legal. Aqui tem as lógicas E e OU que você falou né.

― Sim, a AND e OR. Mas ainda falta uma coisa aí Sarah. Sabe o que é? Olha bem pra ele!

183
Visão de Sarah.

― Não sei! Eu posso ligar e desligar ele, tem o relé térmico, tem o botão de emergência. Não
sei o que falta. O que tá faltando?

― A numeração dos contatos e nomenclatura né Sarah. Como vai saber o que é o que aí.

― Ahh sim, verdade. Poxa, esqueci, não lembro os números agora.

― Bora estudar mais em. Os contatos abertos é três e quatro e o fechado é um e dois. Contatora
é K um, o botão de emergência é B zero e o de desligar S zero e o de ligar S um. O relé térmico
é RT.

― Tinha esquecido, é muita coisa. E agora, está tudo certo?

184
VISÃO DE SARAH.

― Agora sim Sarah, parabéns! Você criou seu primeiro diagrama de comandos elétricos, a
partida direta. Essa é a partida mais básica que você verá, claro que aí falta a parte de
sinalização. Mas jaja vamos ver isso. Agora vamos ver o circuito de força. Esse é mais tranquilo.
É a mesma lógica, você cria e faz a leitura na vertical, do ponto de alimentação para baixo.

― Só que agora a alimentação é trifásica, R S T. Faz o mesmo processo, só que você vai usar o
fusível. O disjuntor vamos ver depois. No diagrama de força, para a proteção e acionamento
dele, o que precisa?

― Fusível, contatora e o relé térmico?

185
― Isso mesmo, agora desenha o diagrama de força. E vê senão esquece das nomenclaturas
nessa vez. Já ia esquecendo de novo né?

VISÃO DE SARAH.

― Muito bem! Você precisa conhecer bem as nomenclaturas e a simbologia dos contatos. Isso
vai te ajudar muito na hora de criar os diagramas. O resto é lógica, é brincar com o diagrama.
Tem um programinha chamado cad simu, foi criando a pouco tempo. Mais é uma mão na roda.
Quando você comprar o computador, baixe ele. Vai te ajudar a simular os diagramas,
facilitando você identificar se tem erro ou de fato fez tudo certo.

― Primeira coisa que vou fazer é comprar um computador. To precisando para estudar.

― Já coloca seu primeiro objetivo a ser alcançado, comprar o computador. Depois que você
criou o diagrama, entendeu como ele funciona. E claro, esse é o básico dos básicos, você precisa
saber dimensionar os equipamentos de segurança. Você não pode pegar qualquer contatora,
qualquer relé térmico e jogar no circuito de força.

186
― E o dimensionamento, você vai fazer só para a parte de força, a parte de comando não
necessita. Pois são na maioria, contatos auxiliares e alguns dispositivos de segurança. E a
corrente que passa pelo comando é muito baixa também. E a maioria dos comandos em
indústrias é feita em vinte e quatro volts. Sua preocupação no dimensionamento tem que ser
no comando de força.

― Sempre que for fazer o dimensionamento de qualquer partida, use o diagrama unifilar. Muito
mais fácil para você ter uma visão da corrente circulando pelo circuito. Me dá a folha que vou
desenhar rápido o unifilar da partida direta para te explicar.

VISÃO DE SARAH.

― Você está vendo o In? Essa é a corrente nominal que vai passar por todos os componentes.
Só que além dessa corrente, tem a corrente de pico, o Ip, é aquela quando o motor é ligado. A
partida direta tem uma corrente de pico de até dez vezes o valor da corrente nominal.

187
― Por isso a NBR cinquenta e quatro dez, recomenda que para partidas de motores alimentados
pela rede pública de baixa tensão com potência acima de cinco CV, seja consultado a
concessionária local de fornecimento de energia.

― Eu digitei para você, um passo a passo de como dimensionar uma partida direta. Não tem
erro, é só seguir a receita de bolo. Está dentro da pasta, ficou no carro. Vou lá pegar.

― Da uma lida na folha que vou buscar um refri pra gente beber.

188
VISÃO DE SARAH.

189
VISÃO DE SARAH.

190
― Pra finalizar, opa tão me ligando!

― Maravilha! Aprovaram o orçamento. Amanhã cedo vou comprar os materiais e montar o


quadro. A tarde passo na sua casa e vamos instalar a partida lá. Olhou bem, entendeu as etapas
aí? Vamos pegar os dados do motor que eu dimensionei e vamos aplicar nesse passo a passo
como exemplo para ficar claro para você.

― Pega uma folha e vai só colocando os dados, tipo, a primeira etapa é a coleta dos dados. Só
coloca primeira etapa e pega os dados. Vai se guiando por esse modelo. Vamos lá, pega os
dados que você tinha copiado da placa e vamos começar. Já anota o que a primeira etapa pede.

VISÃO DE SARAH.

― Muito bem Sarah, agora você vai trabalhar com esses dados. Agora vai para a segunda
etapa.

― Fábio, o que faz eu escolher o fusível tipo D ou NH?

― Bora estudar mais Sarah. Já viu sobre fusíveis né. O diazed tem até cem amperes e sua
capacidade de interrupção de curto-circuito, o KA dele, não é tão alto. Já o NH, passa dos cem
amperes e o KA deles é bem alto.

― Entendi. E esse gráfico, não entendi ele.

191
― Pelo que vi você escolheu o tipo D, eu to sem catalogo, mais vai dar para você entender. Após
a escolha do fusível, como escolheu tipo D, você vai no catálogo do fabricante e acha o gráfico
correspondente a ele. Quando achar o gráfico, vai ter algo parecido com o que você está vendo
aí. Na vertical escrito tempo de fusão e na horizontal, corrente.

― Esse tempo de fusão é o Tp, tempo de partida do motor. No nosso caso, é cinco segundos.
Então como pode ver, já deixei lá na bolinha circulado os cinco segundos. Mas pode ser uma
partida com sete segundos, aí você vai anotar lá sete segundos. Por isso precisamos do Tp, para
isso. Na horizontal, é o Ip que calculamos, nesse caso deu sessenta e um amperes.

― Depois de anotar o número da corrente, você vai traçar uma linha para que se cruzem, como
está essa linha pontilhada. Está vendo onde está circulado, escrito encontro. Esse joelho vai
estar sobre alguma linha. Nesse caso, está sobre dezesseis e vinte amperes. É um exemplo, pois
o fusível que dimensionei, deu esse valor, coloquei aí para você entender.

― Nunca escolha um valor de fusível abaixo do joelho. Vamos ver se entendeu mesmo, qual
desses dois vai escolher?

― O de vinte e cinco amperes? ― perguntou Sarah.

― Isso mesmo. Continua dimensionado.

192
VISÃO DE SARAH.

VISÃO DE SARAH.

― Fábio, na etapa três, a letra d até a f. É só por catálogo?

193
― Sim, anota que eu sei quais os valores, mas isso você acha no catálogo do fabricante sobre
contatoras. Letra d, é cinquenta mil manobras, a letra e, é NA e NF. Agora, na letra f, há um
detalhe. E é agora que você tem que prestar atenção. Qual foi a corrente do fusível escolhido?

― Foi o de vinte e cinco amperes ― disse Sarah.

― Pois bem, no catálogo, encontramos uma contatora de doze amperes. E a contatora que
achamos, lá fala que para uma proteção de coordenada tipo dois, o fusível máximo suportado
é um de vinte e cinto amperes. Você entendeu?

― No que eu dimensionei, deu um fusível de vinte e cinco amperes. No catálogo que você viu a
contatora, fala que ela precisa de um fusível de no máximo vinte e cinco amperes para ter uma
coordenada tipo dois, então o fusível que dimensionei, está ok? E se o que eu dimensionei,
passar dos vinte e cinco amperes que está no catálogo? ― perguntou Sarah.

VISÃO DE SARAH.

― Caso o que você dimensionou, seja maior, você vai escolher uma contatora que suporte a
corrente do seu fusível. Um exemplo, suponhamos que o fusível que você dimensionou deu
trinta amperes, a contatora de doze amperes não serviria. A próxima, senão me engano que a
contatora suporta uma corrente de fusível de trinta, é a contatora de dezoito amperes, você
teria que escolher ela.

― Entendi.

― Agora é só escolher o relé térmico. Como ele vai ser igual a corrente da contatora, que deu,
bora arredondar, dez amperes. No catálogo, a faixa de ajuste tem que estar entre esses dez
amperes Sarah. Para esse, a faixa de ajuste que vi era de oito amperes à doze e meio. E o fusível
para atender a coordenação tipo dois era de vinte e cinco amperes, está ok então esse relé
térmico.

194
VISÃO DE SARAH.

― Ótimo Sarah, você acabou de dimensionar sua primeira partida direta. Agora, vou falar como
dimensionar o disjuntor, caso não use o fusível. Como você viu, os disjuntores têm curvas, B, C
e D. Lembra que já viu?

― Eu vi, só não entendi como faz a leitura daquele gráfico.

― Agora vai aprender a ler. Preste atenção aqui para você não se confundir, dimensionamento
com fusíveis está OK. Agora se você optar um disjuntor, não vai precisar ver o tipo de
coordenada, como o fusível exige, o disjuntor já faz isso. Lembrando, só para o disjuntor que
você não precisa procurar no catálogo o tipo de coordenada para a contatora e o relé térmico.
Somente para fusíveis, isso tem que está claro para você.

― Há praticamente três modelos de disjuntores, o disjuntor motor, o de caixa moldada e o DIN.


Para essa aplicação, vamos usar o DIN, pois o disjuntor motor estava muito caro e o de caixa
moldado é usado em sua maior parte, na indústria. Cada disjuntor tem uma curva de atuação,
se você dimensionar a curva errada, vai ficar desarmando. Para essa aplicação, qual disjuntor
e curva você escolheria?

― Corrente nominal do motor deu dez amperes arredondando. Qual o próximo disjuntor que
tem?

― O de dezesseis amperes Sarah.

― Pegaria esse e uma curva D, para motores.

― Vamos ver se o de curva D ou o C nos satisfaz. Lembra que o curva C possui uma curva de
ruptura de cinco a dez vezes o valor da corrente nominal e o de curva D de dez a vinte. O
disjuntor vai disparar quando a corrente chegar entre esses valores, como assim Fábio? Vou
colocar um exemplo para você entender melhor.

195
― Vamos começar com o de curva C, escreve no seu caderno dimensionamento de disjuntor
para comando de força. Me dá o caderno, deixa eu fazer rapidão aqui que fica melhor de te
explicar, não vai precisar nem do gráfico para você entender.

VISÃO DE SARAH.

― Você está vendo esse gráfico? É um gráfico genérico só para você entender, ele é parecido
com as outras curvas B, C e D dos disjuntores. A parte onde está riscada escrita atuação térmica,
ele vai disparar por aquecimento. Já onde está com uns pontinhos, escrito atuação por corrente
ou magnético, vai atuar quando tiver um curto-circuito ou pico de corrente. Vamos começar
com a curva C.

― A curva C, sabemos que é cinco a dez vezes o valor de In do disjuntor. Escolhemos um disjuntor
de dezesseis amperes, certo? Pode ver aí do lado do gráfico que multipliquei cinco por dezesseis

196
e dez por dezesseis. Com isso, já temos a faixa de ruptura do disjuntor, como pode ver onde está
escrito corrente. Onde está oitenta e cento e sessenta amperes. Qual era o valor do Ip?

― Setenta e seis amperes ― disse Sarah.

― Percebeu que meu Ip que é setenta e seis é menor que oitenta amperes? Isso significa que
quando eu ligar o motor, vou ter um pico de corrente de setenta e seis amperes, mas meu
disjuntor não vai desarmar. Porque o limite mínimo que ele suporta de um pico de corrente, é
de oitenta amperes para o disparo magnético.

― Como eu sei se ele vai atuar ou não com o pico de corrente do motor? ― perguntou Sarah.

― Está vendo a corrente de oitenta amperes que está na faixa de ruptura de cinco? Se o pico
de corrente do motor passar de oitenta amperes até cento e sessenta, vai disparar o disjuntor
na hora. Passar de cento e sessenta, vai torrar tudo. O nosso motor tem um pico de corrente de
setenta e seis amperes, certo?

― Sim, calma, deixa ver se entendi. Se o meu Ip atingir essa faixa que é de oitenta a cento e
sessenta amperes, o disjuntor vai desarmar?

― Isso mesmo Sarah.

― Então esse disjuntor de dezesseis amperes, curva C é o ideal para a partida de comandos? ―
perguntou Sarah.

― Vamos ver o de curva D. Já de cara se você multiplicar dezesseis por dez e dezesseis por vinte,
já percebeu que setenta e seis ficou muito distante dos cento e sessenta amperes. Se você pega
o de curva D, vai ficar superdimensionado. Então nosso vencedor é o de curva C.

― Entendi, nossa! Muita coisa que tenho que saber. Esse passo a passo vai me ajudar muito.

― Para partidas direta sim, tem trocentos mil tipos de partidas, o que sua imaginação conseguir
criar. O importante é saber como dimensiona as coisas. A partida estrela-triângulo não é muito
diferente não. Agora sim a partida está completa. Toda dimensionada, bora que estou cansado
mentalmente e sua mão já deve estar uma maravilha.

― Vou praticar mais, agora já tenho muita coisa para estudar. Só vou no banheiro e vamos.

Depois que Fábio passou todo o conteúdo de como desenvolver um diagrama e dimensionar cada
componente para a partida, foram embora. Sarah chegou em casa, deixou suas coisas no quarto e foi
ajudar sua mãe na cozinha. Passou um tempinho e foi passear com o Ted. Ao voltar, foi revisar o
conteúdo visto, fazer a tarefa das sinaleiras e passar algumas coisas a limpo até ir dormir.

No dia seguinte, foi para a aula. Na hora do almoço já estava em casa aguardando Fábio, que não
demorou muito para chegar.

197
― Bora que hoje tem muito trabalho. Depois de quase trinta dias, sua mão vai ter descanso
hoje. Hoje não terá conteúdo. Só vamos instalar a partida e vou te deixar na sua casa e vou
resolver umas coisas.

― Que foi que não vai ter conteúdo?

― Amanhã vou finalizar seu aprendizado. Vou abordar na parte da tarde com você as duas
partidas restantes que falei que iria ver com você. A estrela-triângulo e a compensada, que são
a base para você entender a parte de dimensionamento que falta. Depois é praticar, Sarah, ficar
fazendo diagramas, inventando, criando e praticar... Lembra que tinha falando para você que
tinha uma viagem importante e queria terminar antes da viagem?

― Lembro sim, então quer dizer que amanhã é nosso último dia juntos?

― É sim, e, na parte de comandos, você vai estar livre para começar a dar seus primeiros passos.
E vai ter tempo também de correr atrás de trabalho agora. Amanhã é quinta-feira. Viajo na
segunda ou ao menos quero ir na segunda já

― Fiz sim, só não sei se está certo.

― Amanhã vou mostrar como dimensiona as partidas de estrela-triângulo e compensada. Vou


trazer elas prontas, você vai aprender a fazer a leitura. Na partida direta, você aprendeu a criar.
Precisa saber ler também. Estuda as simbologias, vai facilitar muito sua vida na hora da leitura.
Chegando lá, vou fixar o quadro e vou subir na caixa para colocar os sensores. Você vai passar
os cabos do quadro até o motor, faz a ligação de duzentos e vinte trifásico. Depois vai no painel
e conecta os cabos no borne, já deixa tudo arrumado.

― Se chegarmos mais cedo, bom que já vou na gráfica ver os cartões. Semana que vem, já quero
ir nas obras e começar a fazer ligações. Já estamos chegando, quero até lá pelas quatro horas,
ter terminado.

Ao chegarem na fábrica, logo iniciaram as atividades. Fábio foi fixar o quadro de comandos, enquanto
Sarah foi passar os cabos via tubulação subterrânea.

― Sarah, vou fazer os furos na caixa, pega os sensores e liga nesses bornes aqui. Conforme está
enumerado. Liga e testa o comando levantando a boia e baixando. Motor tem que ligar e
desligar, não vai ter modo manual, só automático. Qualquer coisa, o diagrama está na porta.
Testa tudo certinho, mede a corrente, confere na placa. Não esqueça de virar a válvula para
teste. Senão vai jogar água lá pra caixa.

Seguindo as orientações de Fábio, Sarah executou tudo, fez os testes e depois foi ajudar Fábio a
passar os cabos dos sensores. Depois de uma hora e pouco, tudo estava pronto. Tudo funcionando e
testado. Chamaram o responsável para conferir tudo. Após uma breve conversa, foram embora.
Fábio deixou Sarah em casa e foi resolver algumas pendências pessoais na rua.

198
Sarah aproveitou o tempo que chegou mais cedo e foi na gráfica. Pediu para fazerem cinquenta
cartões de visita com o nome e criarem uma logo para ela. Em sete dias ficaria pronto. Quando voltou
para casa, sua mãe já tinha chegado.

― Amanhã é meu último dia com Fábio, mãe. Depois vou ter que procurar trabalho. Hoje fui na
gráfica fazer uns cartões com o dinheiro que tinha sobrado.

― É bom trabalhar mesmo para ganhar dinheiro, já tem quinze anos... Já pode trabalhar, só
não sei ainda porque foi escolher trabalhar com isso.

― Porque eu gosto, mãe. Vou banhar o Ted e vou deitar um pouco, que estou cansada.

Sarah acordou com o despertador tocando, já era de manhã. Estava tão cansada que nem consegui
acordar para a janta. Levantou, preparou o café, leu a Bíblia e foi para a escola. Ao retornar meio dia,
preparou suas coisas e estava aguardando Fábio. Depois de uma hora, Fábio chegou.

― Pensei que nem ia vir mais, já ia te ligar... ― disse Sarah.

― Tava resolvendo umas coisas e acabou enrolando. Mas bora que hoje é o dia de eu me livrar
de você.

― Engraçadinho...

― Já pega as folhas no porta-luvas e já dá uma olhada nelas que vão ser o que vamos estudar
hoje.

199
VISÃO DE SARAH.

200
VISÃO DE SARAH.

201
VISÃO DE SARAH.

202
VISÃO DE SARAH.

― Nossa, que diferença da partida direta! Entendi nada aqui....

― Quando começar a fazer a leitura com calma, vai entender. Como te falei, é prática. Você
não vai aprender tudo aqui comigo não, e nem tem como. Te ensinei a base, como prosseguir,
porque nem em cursos vai conseguir ver tudo, apenas vai ter um direcionamento, um atalho
para aprender mais rápido... Vamos para nosso cantinho dos estudos. Leva as coisas que vou
pegar uma água ― disse Fábio. ― Antes de entrar na leitura do diagrama, vou passar umas
informações importantes para você. A estrela-triângulo é indicada para partidas sem carga. O
motor vai partir ligado em estrela, isso proporciona uma maior impedância e menor tensão nas
bobinas. Isso faz com que a corrente de partida juntamente com seu conjugado diminua. Ela
tem algumas vantagens e desvantagens como todas as outras partidas. As vantagens são que
ela é muito utilizada, e, devido ao baixo custo, não tem limite de manobras, os componentes
ocupam pouco espaço e a mais importante, a corrente de partida fica reduzida
aproximadamente um terço da nominal. As desvantagens é que não pode partir com carga. Na
partida, não pode fazer a comutação antes dos noventa por cento da velocidade nominal, senão
vai ter problemas o motor. Tem as tensões especificas para poder ser ligada. Vamos para a
leitura, começando pelo diagrama de força, que é mais tranquilo. A diferença aqui é que vamos

203
ter três contatoras, para estar fazendo o fechamento de estrela para triângulo. Sempre que for
fazer a leitura do diagrama e a execução dele, vai marcando com uma caneta marca texto as
linhas que já executou, para não se perder. Como pode ver, a primeira parte que passa pelo relé
térmico, é uma partida direta, o que muda é a ligação das outras duas contatoras. Quando você
aciona o motor, a contatora K um aciona juntamente com a K três, fazendo a conexão estrela.
Você já viu que a estrela reduz a tensão. Nesse caso, vai ter uma redução de trinta e três por
cento da corrente de pico e não dá nominal do motor.

VISÃO DE SARAH.

― Depois de dez segundos, o temporizador vai abrir K três e fechar o K dois, fazendo assim a
conexão para triângulo. A contatora K um sempre vai ficar acionada, quem vai comutar, vai ser

204
as outras duas. Só toma cuidado na saída da contatora k dois, se você inverter os fios, vai dar
problema. Por isso é importante a numeração nesse momento. Olha, para você ver, quando
você liga o motor, k um energiza os terminais um, dois e três. A contatora k três fecha os
terminais quatro, cinco e seis. Fazendo assim a conexão estrela. Quando o temporizador
comuta. K um permanece do mesmo jeito e a K dois fecha, um com seis, dois com quatro e três
com cinco. Passando a triângulo... Conseguiu entender?

― Com o marca-texto, fica fácil seguir as linhas e entender onde estão as ligações. Essa ligação
foi o que a gente viu para motor de seis terminais, né? ― perguntou Sarah.

― Exatamente! Vamos para o circuito de comando agora, faz a mesma coisa. Vai descendo as
linhas com o marcador, executou o comando, passa o marcador. Se você pegar a primeira linha
até a bobina de k um. É uma partida direta. Está vendo o selo? O elemento diferente aí é o
temporizador conectado junto à bobina de K um. Para assim que o motor ligar, ele já energiza
e começa contar o tempo para a comutação. Que é de dez segundos.

205
VISÃO DE SARAH.

― Olha o intertravamento na linha de k dois e k três. Lembra que K dois e K três não podem ser
acionadas juntas, senão dá curto. Onde está T um NF e T um NA, é para fazer a comutação entre
as duas. Botão liga, desliga, isso você já viu na partida direta. Essa aqui é com uma fonte de
vinte e quatro volts. Não muda nada. Estude bem essas três partidas, depois começa a criar
outros tipos. Agora vamos ver como dimensiona ela, não muda muita coisa da partida direta
não. O modo de dimensionar o disjuntor é o mesmo para a partida direta. Agora vamos só com
os fusíveis. Ahh! Sobre o temporizador, ele tem três numerações, quinze, que é o comum,
dezesseis e dezoito. Esses dois últimos que vão comutar. O NF que você está vendo na linha do
K três, é o quinze com dezesseis. Enquanto na linha do k dois, está NA, quinze dezoito. Quando

206
ele comuta, abre o dezesseis e fecha o dezoito. Vamos usar novamente o diagrama unifilar para
representar o diagrama, facilitando a leitura. Como pode ver, há três correntes, Ik um, Ik dois e
Ik três.

VISÃO DE SARAH.

― Sabemos que K um e K dois, vão ficar ligadas depois da comutação. Eu fiz um roteiro para
você dimensionar ela. Para facilitar sua vida novamente. Dá uma olhada... Da partida direta
para esse, vai mudar só umas coisinhas mínimas.

207
VISÃO DE SARAH.

208
VISÃO DE SARAH.

209
VISÃO DE SARAH.

― Conseguiu entender?

― Mudou alguns cálculos... Na parte da das contatores e fusíveis.

― Isso mesmo. Vamos fazer igual você dimensionou na partida direta. Etapa por etapa. E a
primeira etapa já é a coleta de dados. Anota esses dados aqui que peguei. Só um detalhe hora
que for anotar para estrela-triângulo. Você vai anotar a maior tensão. Tipo, se for duzentos e
vinte, trezentos e oitenta, pega trezentos e oitenta. Se for trezentos e oitenta, quatrocentos e
quarenta, pega o quatrocentos e quarenta. Sempre a maior tensão. Isso somente para partida
estrela-triângulo. Para direta não, partida direta é a tensão de linha que vai pegar.

VISÃO DE SARAH.

210
― Muito bem, de posse dos dados corretamente, agora vai para a etapa dois. Diferente da
partida direta, agora você tem que usar o zero virgula trinta e três, que é a parte de redução de
trinta e três porcento. No gráfico, o fusível vai ser de vinte e cinto amperes. Vai fazendo as
etapas agora.

― Fábio, na etapa dois, letra d, não bateu a condição. O fusível que deu no gráfico foi de vinte
e cinco amperes. Na condição, o fusível tinha que ser maior que vinte e seis amperes.

― Agora você pega o próximo, que é de trinta amperes.

VISÃO DE SARAH.

211
VISÃO DE SARAH.

― Agora está correto. Na etapa três, tem outro detalhe para você prestar atenção. A corrente
de K um é igual a corrente de K dois. E a corrente de K três, bem, é só dela mesmo.

― Fábio, qual é a letra e?

― Em uma partida estrela-triângulo, normalmente a K um tem que ter dois contatos NA, para
K dois e K três, um contato NA e outro NF. E outra coisa: a condição de coordenada tipo dois,
você verifica só para a K um e K dois. A K três não precisa, pois ela só participa da partida e não
permanece ligada. Para essa, a contatora é de dezoito amperes, Sarah. E ela exige um fusível
para coordenação tipo dois de no máximo trinta amperes. Qual foi o valor do fusível escolhido?

― Foi de trinta amperes. Então podemos usar ele? ― perguntou Sarah.

― Podemos sim, ele está na faixa.

212
VISÃO DE SARAH.

― Muito bem! Agora só falta a última etapa. Que é o relé térmico. O relé vai ficar na faixa de
dez à quinze amperes. Esse relé térmico precisa de um fusível de no máximo trinta e cinco
amperes. Como o que a gente selecionou foi de trinta, está ok, então, esse relé.

VISÃO DE SARAH.

213
― Parabéns, Sarah, fez o dimensionamento correto de uma partida estrela-triângulo. Uma
partida considerada difícil de entender no início. Com esse passo a passo fica fácil, né? Alguma
dúvida sobre o que viu?

― Ajuda muito sim. Até agora não, mas vou ter na prática.

― Isso é normal… É na prática que vão surgir muitas dúvidas e nela você vai aprender muito
também. É nos problemas que crescemos. Vamos fazer uma pausa para ver a última partida e
irmos embora.

― Chegou o momento Sarah, da última partida e a mais complicadinha. Vamos usar o roteiro
de cálculo também, para facilitar sua vida. Não vou entrar em muitos detalhes matemáticos.
Nesse primeiro momento, quero que entenda o dimensionamento, futuramente, você se
aprofunda nessa questão.

― A partida compensada tem algumas vantagens em relação à partida estrela-triângulo. O


motor não precisa ter múltiplas tensões e nem várias pontas de ligação. Basta ter a condição
de ser ligado diretamente na tensão nominal da rede. Quem vai reduzir a tensão é o
autotransformador.

― Mais nem tudo são flores neh? Ela tem um limite de manobras, se você tiver manobras em
seguida, vai sobreaquecer o autotransformador, podendo queima-lo. Por isso é bom analisar
quantas manobras vai ter por hora. Geralmente os autotransformadores tem dez manobras por
hora. O custo é alto devido ao trafo. E essa partida é recomendada para motores de quinze CV
pra cima. No desenho, pode ver a belezura.

214
VISÃO DE SARAH.

215
VISÃO DE SARAH.

― Mais uma vez, na parte de força, a primeira linha é uma partida direta. Fusível, contatora e
relé térmico. Reparou que as três partidas, se iniciaram assim? E depois a lógica se estendeu
para a direita. Isso é valido para o comando também.

― E onde estão as porcentagens, é o autotransformador. Essa porcentagem é os tap que é


ligado o comando de força, realizando os fechamentos pelas contatoras.

216
VISÃO DE SARAH.

― Mesmo esquema de leitura, vai correndo o marcador por cada fio. Isso é primordial na
leitura, quando se está iniciando no aprendizado. Principalmente na hora de executar. Nunca
me vá montar um diagrama, sem ele no papel. Se for só na cabeça, vai dar merda.

― Vamos analisar o circuito de comando. Olhando assim, parece um monte de linha. Sem saber
o que é o que. Pega o marcador e vai descendo a linha. Se você observar, tensão para no botão
S um. Quando você aperta S um, a tensão vai passar por ele, pelo contato do temporizador e
acionar K três. Quando K três aciona, vai fechar o contato dele, treze e quatorze. A tensão vai
passar por esse contato e vai acionar o sinalizador e a contatora K dois. Está conseguindo
acompanhar?

217
VISÃO DE SARAH.

― Sim!

― Quando K dois é acionada, fecha o contato dela lá em cima, o treze e catorze e o outro, um
pouquinho abaixo, o quarenta e três, quarenta e quatro. Assim, energiza o temporizador. O
temporizador vai contar quinze segundos e vai mudar o seu contato, abrindo K três e fechando
K um. E quando K um é acionado, o intertravamento, que é o contato de K um na linha de K dois
abre, tirando assim, K dois e ficando só K um em funcionamento.

― Esse é o funcionamento dela. Agora vamos para a parte de dimensionamento dela. Vai ter
que ter bastante atenção. A sequência do passo a passo é o mesmo da partida direta e estrela-

218
triângulo. Apenas vai ter mais cálculos. Vamos iniciar com o velho e bom amigo, o diagrama
unifilar.

VISÃO DE SARAH.

― Também fiz o roteiro para facilitar sua vida. Como você já utilizou ele para duas partidas,
agora já está bem mais fácil entender ele. Já dá uma olhada nele, e vamos usar agora um motor
de cinquenta CV, com tensão de duzentos e vinte volts. Ahh, um detalhe, a potência do
autotransformador deve ser igual ou maior que a do motor.

219
VISÃO DE SARAH.

220
VISÃO DE SARAH.

221
VISÃO DE SARAH.

222
― Visto o diagrama unifilar e com o roteiro em mãos, é hora de começar a dimensionar ela. Faz
o mesmo processo que fez nas duas partidas anteriores. Na primeira etapa agora, além das
informações já necessárias da placa, você vai colocar os tap que vai usar no autotransformador.
Vamos usar oitenta porcento. Os mais comuns são os de oitenta e sessenta e cinco porcento, já
até deixei uma tabela para você consultar.

VISÃO DE SARAH.

― Essa tabela vai te auxiliar na escolha do fator de redução K. Se você escolheu um tap de
oitenta porcento, o fator K vai ser de zero virgula oitenta. Agora vai para a etapa dois. Só seguir
a formula que não tem erro.

223
VISÃO DE SARAH.

― Sarah, nesse caso, a corrente de partida desse motor foi para setecentos e trinta seis
amperes. O fusível tipo D já não vai atender nossas necessidades. Agora vamos ter que usar o
fusível NH. Para a leitura da curva, é a mesma coisa da leitura do tipo D, mesma coisinha.
Quando fiz em casa, o fusível ficou entre cento e sessenta amperes e duzentos amperes. Já sabe
qual pegar.

― Na etapa três, deve tomar alguns cuidados. Que é na hora de dimensionar a contatora. Para
K um não tem mistério. A corrente tem que ser igual ou maior que a nominal do motor. E não
esqueça da coordenada tipo dois. Essa contatora exige um fusível máximo de até duzentos e
cinquenta amperes. Então está OK, pois o fusível que você calculou, deu duzentos amperes. Para

224
K dois e K três, não precisa da coordenação tipo dois. Porque quem vai receber a corrente
nominal é somente a K um. As outras duas vão servir para o trafo amenizar a partida e vão sair.

― Percebe que na K dois, a corrente que circula nela depende do tap em que ela está ligada.
Tanto K dois como K três. E essa constante que você viu na formula, que é o K, é o zero virgula
oito. Escolhido a contatora de cento e oitenta amperes e com a coordenada tipo dois Ok. Bora
para a última parte.

VISÃO DE SARAH.

― Muito bem Sarah, agora a última etapa, essa não tem mistério. Que é a escolha do relé
térmico. Que vai ter uma faixa de ajusta entre cento e quarenta amperes a duzentos e quinze
amperes. O fusível máximo suportado por ele é mais de trezentos amperes. Está ok.

225
VISÃO DE SARAH.

― Com isso finalizamos seu treinamento Sarah. Espero que tenha aprendido bastante com isso.
Foi algo que fiz pensando no seu direcionamento futuro. Algo não complicado, mas que desse
a você um conhecimento suficiente para trilhar seu caminho na elétrica. Isso não vai deixar você
já desenvolvendo tudo, como falei.

― Sou muito grata a você por ter me ensinado. Da até um frio na barriga de saber que agora
vou iniciar sozinha.

― Ninguém caminha sozinho, lembra dos networkings. Você tem meu telefone, vai conhecer
outras pessoas. Trabalhe bastante, se esforce. Não deixa o medo te paralisar, ou se tiver dúvidas
de algo, busque aprender sobre aquilo. Sempre procure evoluir, estude sobre vendas,
comunicação e como administrar seu dinheiro. Continue sendo uma boa pessoa, humilde,
dedicada. Leia a bíblia, ande nos caminhos certos e as coisas vão fluir para você. Agora bora
que finalizamos.

― Obrigada por tudo!

Fábio a deixou em casa, se despediu e foi embora. Rebeca já estava em casa quando ela chegou.
Estava com um brilho nos olhos por ter finalizado seu aprendizado e com muita vontade de iniciar
sua jornada em busca de seus sonhos. Correu para contar a sua mãe suas ideias para começar colocar
em prática na segunda-feira, em busca de transformar seu conhecimento em liberdade financeira.

226

Você também pode gostar