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Impactos em

Ambiente Aquático
Material Teórico
Impacto Ambiental

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Victor Carrozza Barcellini

Revisão Textual:
Profa. Dra. Silvia Albert
Impacto Ambiental

• Conceitos e Definições de Impactos


• Aspecto Ambiental
• Processos Ambientais
• Avaliação de Impacto Ambiental
• Funções e Serviços Ecossistêmicos

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender o que é um impacto, aspectos e processos ambientais
e as diversas formas de como avaliar estes impactos. Por fim, é
apresentada uma breve introdução sobre Serviços Ecossistêmicos.
Esse complemento à disciplina, tem o objetivo de atualizar o aluno
sobre uma nova abordagem nas discussões e avaliações sobre
impactos em ecossistemas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
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as redes sociais.

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de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Impacto Ambiental

Contextualização
Como visto nas unidades anteriores dessa disciplina, o ambiente é dinâmico.
Fluxos de energia e matéria, teias de relações intra e interespecíficas são algumas
das facetas dos processos naturais que ocorrem em qualquer ecossistema, natural,
alterado ou degradado. Uma das maneiras de se estudar os impactos ambientais é
entender como as ações humanas afetam os processos naturais.
Explor

Mas a final, o que é e como se define um impacto ambiental?

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Conceitos e Definições de Impactos
Muitas são as definições de impacto ambiental encontradas na literatura e nas
legislações ambientais de cada país, quase todas elas, largamente, concordantes
quanto a seus elementos básicos como:
• O efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem (WESTMAN, 1985);
• A mudança em um parâmetro ambiental, em um determinado período e em uma
determinada área, que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação
que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada (WATHERN, 1988);
• Qualquer alteração no meio ambiente, em um ou mais de seus componentes
provocada por ação humana (MOREIRA, 1992);
• Conjunto das alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas em parâmetros
ambientais e sociais, em determinado tempo e em determinada área, resultantes
da realização de um projeto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse
período de tempo e nessa área, se esse projeto não viesse a ter lugar (legislação
Portuguesa);
• No Brasil, a definição legal é do CONAMA nº 01/1986, art. 1º: Qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas, que direta ou indiretamente afetem:
I. a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II. as atividades sociais e econômicas;
III. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
IV. a qualidade dos recursos ambientais.

Segundo Sánchez (2008), salta aos olhos, no caso brasileiro, a impropriedade


dessa definição, que se trata, na verdade, de uma definição de poluição (como
vimos na unidade anterior), como se observa pela menção a “qualquer forma de
matéria ou energia” como fator responsável pela “alteração das propriedades
físicas, químicas ou biológicas” do ambiente.

Na sequência, o autor (SÁNCHEZ, op. cit) lista uma série de características do


conceito de impacto ambiental quando comparado ao de poluição:
• Impacto ambiental é um conceito mais amplo e substancialmente distinto
de poluição;
• Enquanto poluição tem somente uma conotação negativa, impacto ambiental
pode ser benéfico ou adverso (positivo ou negativo);
• Poluição refere-se à matéria ou energia, ou seja, grandezas físicas que podem
ser medidas e para as quais podem-se estabelecer padrões (níveis admissíveis
de emissão, de concentração ou intensidade);

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UNIDADE Impacto Ambiental

• Várias ações humanas causam significativo impacto ambiental sem que


estejam fundamentalmente associados à emissão de poluentes (por exemplo,
a construção de um parque de geradores eólicos);
• Toda poluição (ou seja, emissão de matéria ou energia além da capacidade
assimilativa do meio) causa impacto ambiental, mas nem todo impacto
ambiental tem a poluição como causa.

A possibilidade de ocorrerem impactos ambientais positivos é uma noção


que deve ser bem assimilada. Um projeto que envolva a coleta e o tratamento
de esgotos resultará em melhoria da qualidade das águas, em recuperação do
ambiente aquático e em efeitos benéficos sobre a saúde pública. Se um impacto
é uma alteração do meio ambiente provocada por ação humana, então, é claro,
que tal alteração pode ser benéfica ou adversa. Mais que isso, um projeto típico
de engenharia, trará diversas alterações, algumas negativas, outras positivas, e
isso deverá ser considerado quando se prepara um estudo de impacto ambiental
(SÁNCHEZ, 2008).

O autor ainda descreve em seu livro que impacto ambiental pode ser causado
por uma ação humana que implique:
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo de:
»» supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação;
»» destruição completa de habitats (por exemplo, aterramento de um mangue);
»» destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo, escavações);
»» supressão de elementos significativos do ambiente construído;
»» supressão de referências físicas à memória (por exemplo, locais sagrados);
»» supressão de elementos ou componentes valorizados do ambiente (por
exemplo, cavernas, paisagens notáveis).
2. Inserção de certos elementos no ambiente, a exemplo de:
»» introdução de uma vvespécie exótica;
»» introdução de componentes construídos (por exemplo, barragens, rodovias
e edifícios).
3. Sobrecarga (introdução de fatores de estresse, além da capacidade de
suporte do meio, gerando desequilíbrio), a exemplo de:
»» qualquer poluente;
»» introdução de uma espécie exótica;
»» redução do habitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada espécie;
»» aumento da demanda por bens e serviços públicos.

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Assim, de acordo com essas considerações, o conceito de impacto ambiental
proposto no livro do Luis Enrique Sánchez: Avaliação de Impacto Ambiental –
Conceitos e métodos (literatura básica dessa unidade) define impacto ambiental
como uma “alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de
processos naturais ou sociais provocadas por ação humana” (SÁNCHEZ,
2008). Tal definição, ao trabalhar sob a ótica dos processos ambientais, tenta
refletir o caráter dinâmico do ambiente.

Impacto ambiental é, claramente, o resultado de uma ação humana, que é sua


causa. Não se deve, portanto, confundir a causa com a consequência. Uma rodovia
não é impacto ambiental; uma rodovia causa impactos ambientais. Da mesma
forma, um reflorestamento com espécies nativas não é um impacto ambiental
benéfico, mas uma ação (humana) que tem o propósito de atingir certos objetivos
ambientais, como a proteção do solo e dos recursos hídricos ou a recriação do
habitat da vida selvagem.

De acordo com o autor Henriques (1991), os impactos das atividades humanas


nos recursos hídricos, são resultados de:
• Alterações da quantidade de água dos fluxos das várias componentes do ciclo
hidrológico (precipitação, infiltração, escoamento superficial e subterrâneo
e evapotranspiração), incluindo as modificações do uso do solo das bacias
hidrográficas, provocando o eventual agravamento da ocorrência e da
magnitude de cheias e secas;
• Alterações nos processos geomorfológicos de erosão, transporte sólido e
sedimentação, provocando modificações nos cursos de água e na respectiva
capacidade de vazão;
• Alterações da qualidade da água (parâmetros físico-químicos, químicos e
biológicos) dos meios hídricos superficiais e subterrâneos.

Aspecto Ambiental
Aspecto ambiental pode ser entendido como o mecanismo através do qual
uma ação humana causa um impacto ambiental (SÁNCHEZ, 2008). Tal
definição requer explicação e exemplificação. Situações tipicamente descritas
como aspectos ambientais são a emissão de poluentes e a geração de resíduos.
Produzir efluentes líquidos, poluentes atmosféricos, resíduos sólidos, ruídos ou
vibrações não é o objetivo das atividades humanas, mas esses aspectos estão,
indissociavelmente, ligados aos processos produtivos. São assim, elementos, ou
partes dessas atividades ou produtos ou serviços. Aqueles elementos que podem
interagir com o ambiente são chamados de aspectos ambientais. Outros aspectos

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UNIDADE Impacto Ambiental

ambientais típicos são aqueles ligados ao consumo de recursos naturais. Ao


consumir água (recurso renovável), reduz-se sua disponibilidade para outros usos ou
para suas funções ecológicas. Ao consumir combustíveis fósseis, seu estoque (finito)
é reduzido. Exemplos desta cadeia de relações (atividades – aspectos - impactos)
são dados no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1 – Exemplos de relações atividade – aspecto - impacto ambiental


Ações humanas Aspectos Ambientais Impactos Ambientais
Lavagem de roupa consumo de água redução da disponibilidade hídrica
Lavagem de louça lançamento de água com detergentes eutrofização
Cozimento de pão em forno à lenha emissão de gases e partículas deterioração da qualidade do ar
Armazenamento de combustíveis vazamento contaminação do solo e água subterrânea
emissão de ruídos incômodo aos vizinhos
Transporte de cargas por caminhão aumento do tráfego maior frequência de congestionamentos
emissão de gases e partículas deterioração da qualidade do ar
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Sánchez (2008)

Evidentemente, conforme observado, uma mesma ação pode levar a vários as-
pectos ambientais e, por conseguinte, causar diversos impactos ambientais. Da
mesma forma, um determinado impacto ambiental pode ter várias causas.

Processos Ambientais
O ambiente é dinâmico. Fluxos de energia e matéria, teias de relações intra e
interespecíficas são alguns dos processos naturais que ocorrem em qualquer ecos-
sistema, natural, alterado ou degradado (conforme já estudamos nas unidades an-
teriores desta disciplina). Uma das maneiras de se estudar os impactos ambientais
é entender como as ações humanas afetam estes processos naturais.

Observe o exemplo a seguir, retirado do livro (SÁNCHEZ, 2008, pg. 34-36), a


respeito de processos erosivos:
(...) A erosão é um fenômeno (processo) que afeta toda a superfície da
Terra. Sua intensidade varia dependendo de fatores, como clima, tipo de
solo, declividade e cobertura vegetal. Em climas úmidos, há formação de
solos espessos e cobertura vegetal que tende a cobrir toda a superfície; já
em climas áridos, a vegetação é mais rala e os solos mais rasos; nesses
casos, a erosão eólica é intensa. Em climas tropicais, ocorrem chuvas
intensas (ou seja, grandes quantidades de água em curto período de tempo),
de grande potencial erosivo. Por sua vez, escarpas íngremes estão mais
sujeitas à ação erosiva da chuva do que vertentes suaves. Assim, a erosão
natural varia em intensidade e pode ser medida em termos de massa de
solo perdida por unidade de área e por intervalo de tempo (t/ha/ano). A
ação humana interfere no processo erosivo, em geral, tornando-o mais
intenso. A substituição de uma floresta por uma cultura, assim como a
abertura de uma estrada ou de uma mina, são ações que expõem o solo

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desprovido de sua proteção vegetal natural à ação da chuva e do vento,
aumentando as taxas de erosão. Portanto, não é correto afirmar que a
construção de uma estrada, a abertura de uma mina, ou a derrubada de
uma floresta causam erosão, haja vista que processos erosivos já atuavam
antes. O que essas ações fazem é intensificar a erosão, acelerando um
processo natural (Figura 1).

Figura 1 – Solo que apresenta sinais de erosão


Fonte: Wikimedia Commons

Outra consequência da erosão é o assoreamento de corpos d’água. Parte dos


sedimentos transportados por ação das águas fica retido no fundo de rios e lagos.
Estudos feitos em um lago de várzea de um afluente do rio Madeira, em Rondônia,
mostraram que, entre os anos de 1875 e 1961, a taxa de sedimentação média era
de 0,12 g/cm2/ano, mas, a partir desse período, com a construção da rodovia BR-
364, o desmatamento progressivo nessa bacia hidrográfica e a mineração aluvionar
de cassiterita, a taxa de sedimentação aumentou exponencialmente para atingir um
valor dez vezes maior em 1985 (FORSBERG et al., 1989) (...).

Esse exemplo ilustra que ações como remoção da vegetação nativa também
afetam outros processos, além do processo erosivo. A infiltração de água no solo
é mais um dos processos modificados pela retirada de vegetação. Nesse caso, o
processo é retardado, ou seja, ao invés de se infiltrar e alimentar os reservatórios
subterrâneos, uma proporção maior da água de chuva escoa superficialmente,
aumentando o volume de água nos rios. Estudos realizados na Amazônia pelos
autores Barbosa e Fearnside (2000) mostraram que o escoamento superficial
aumentou quase três vezes em Roraima, onde a floresta foi substituída por
pastagem, e até 30 vezes em Rondônia, em situação similar. Neste último caso, sob
cobertura vegetal, apenas 2,2% da chuva escoava superficialmente, mas, em áreas
de pasto, o escoamento subiu para 49,8%. Além de acelerar a erosão, o aumento

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UNIDADE Impacto Ambiental

do escoamento superficial acarreta maior frequência e intensidade das inundações,


outro processo do meio físico modificado por ações humanas.

Fornasari Filho et al. (1992) apresentam uma lista de processos do meio físico
que usualmente são alterados por atividades humanas (Quadro 2), a seguir.

Quadro 2. Exemplos de processos ambientais físicos e ecológicos


Processos geológicos de superfície
Erosão
Movimentação de massa (escorregamento)
afundamentos cársticos
Processos hidrológicos
Transporte de poluentes nas águas
Eutrofização de corpos d'água
Acúmulo de poluentes nos sedimentos
Inundações
deposição de sedimentos em rios e lagos
Inundações
deposição de sedimentos em rios e lagos
Processos hidrogeológicos
Difusão de poluentes na água subterrânea
Recarga de aquíferos
Processos atmosféricos
Transporte e difusão de poluentes gasosos
Propagação de ondas elásticas
Processos ecológicos
Biodegradação de matéria orgânica em corpos d'água
Bioacumulação de matais pesados
Successão ecológica
Ciclagem de nutrientes
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de Fornasari Filho et al. (1992)

Avaliação de Impacto Ambiental


O significado e o objetivo da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) prestam-se
a inúmeras interpretações. Sem dúvida, seu sentido depende da perspectiva, do
ponto de vista e do propósito de avaliar impactos. As principais definições de AIA
são transcritas a seguir:
• Atividade que visa identificar, prever, interpretar e comunicar informações
sobre as consequências de uma determinada ação sobre a saúde e o bem-estar
humanos (MUNN, 1975);

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• Procedimento para encorajar as pessoas encarregadas da tomada de decisões
a levar em conta os possíveis efeitos de investimentos em projetos de desenvol-
vimento sobre a qualidade ambiental e a produtividade dos recursos naturais e
um instrumento para a coleta e a organização dos dados que os planejadores
necessitam para fazer com que os projetos de desenvolvimento sejam mais
sustentáveis e ambientalmente menos agressivos (HORBERRY, 1984);
• Instrumento de política ambiental, formado por um conjunto de procedimentos,
capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático
dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou
política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de
forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por
eles sejam considerados (MOREIRA, 1992);
• A apreciação oficial dos prováveis efeitos ambientais de uma política, programa
ou projeto; alternativas à proposta; e medidas a serem adotadas para proteger
o ambiente (GILPIN, 1995);
• Um processo sistemático que examina antecipadamente as consequências
ambientais de ações humanas (GLASSON;THERIVEL;CHADWICK, 1999);
• O processo de identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos relevantes de
ordem biofísica, social ou outros de projetos ou atividades antes que decisões
importantes sejam tomadas (IAIA, 1999).

Embora com diferentes formulações, esses conceitos diferem pouco em sua


essência. A avaliação de Impacto Ambiental é apresentada, seja como instrumento,
seja como procedimento (ou ambos), visando antever as possíveis consequências
de uma decisão.

O caráter prévio e preventivo da AIA predomina na literatura, mas também se


pode encontrar referências à avaliação de impactos em ações ou eventos passados,
por exemplo, depois de um acidente envolvendo a liberação de alguma substância
química. Embora a noção de impacto ambiental envolvida em tais avaliações seja
fundamentalmente a mesma daquela da AIA preventiva, o objetivo do estudo não é
o mesmo, nem o foco das investigações. Nesse caso, a preocupação é com os danos
causados, ou seja, os impactos negativos. É claro que também os procedimentos de
investigação são diferentes, pois não se trata de antecipar uma situação futura, mas
de tentar medir o dano ambiental e, ocasionalmente, de valorar economicamente
as perdas.

De acordo com Sánchez (2008), AIA será sempre referida como esse exercício
prospectivo, antecipatório, prévio e preventivo. O outro significado será entendido
como a atividade de avaliação do dano ambiental. Uma preocupa-se com o futuro,
outra, com o passado e o presente. Ambas têm um procedimento comum, que é a
comparação entre duas situações: na avaliação do dano ambiental, busca-se fazer a
comparação entre a situação atual do ambiente e aquela que se supõe ter existido

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UNIDADE Impacto Ambiental

em algum momento do passado. Na avaliação de impacto ambiental, parte-se da


descrição dessa situação atual do ambiente para fazer uma projeção de sua situação
futura com e sem o projeto em análise. É claro que, em ambos os casos, é necessário
o conhecimento da situação atual do ambiente. Denomina-se diagnóstico ambiental
a descrição das condições ambientais existentes em determinada área no momento
presente. A abrangência e a profundidade do diagnóstico ambiental dependerão
dos objetivos e do escopo dos estudos.

A seguir, será brevemente apresentado um tema de recente e profunda reflexão sobre


Explor

avaliação de impactos ambientais em ecossistemas. No mundo, em diversos países, já se


utilizam algumas técnicas de avaliação de impactos, por meio das alterações dos serviços
provindos dos ecossistemas. Conforme dito, o tema é bem extenso e de caráter reflexivo.
Será apresentado brevemente, a seguir, algumas ideias, como forma de complementar esta
disciplina e atualizar você, estudante, sobre as discussões mais recentes a respeito da análise
de impactos em ecossistemas.
Caso tenha interesse de se aprofundar ainda mais neste tema tão interessante, recomenda-se
a leitura das citações utilizadas na seção a seguir, e a pesquisa de mais fontes que, com certeza,
irão contribuir para sua formação, melhor desempenho e maior aprendizado. Boa Leitura!

Funções e Serviços Ecossistêmicos


Ressalta-se que é crescente na comunidade científica o interesse no estudo das
funções e Serviços Ecossistêmicos (SE) como forma de compreender os impactos
negativos da degradação dos ecossistemas ao bem-estar das populações humanas e
na forma como essas mudanças podem afetar os fluxos dos serviços ecossistêmicos
(DE GROOT et al., 2002; ANDRADE; ROMEIRO, 2009; EIGENBROD et al.,
2010; HACKBART, 2012). O conceito de serviços ecossistêmicos desenvolvido
pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA) é o mais utilizado atualmente, pois
pressupõe que exista uma interação dinâmica entre as pessoas e os ecossistemas,
onde as condições humanas impulsionam as mudanças nos ecossistemas, tanto de
forma direta quanto indireta (MEA, 2005). Este conceito, utilizado pela MEA (op.
cit.), segue a definição de COSTANZA et al. (1997) na inclusão dos ecossistemas
como fontes de serviços ecossistêmicos.

Neste sentido, os serviços ecossistêmicos que estão diretamente relacionados à


água podem ser bons indicadores de perturbações causadas por ações humanas,
uma vez que a água é o elemento de melhor conectividade dentro de uma paisagem
e que conduz o fluxo de matéria e energia (GERGEL et al., 2002). Além disso,
a água revela um estado momentâneo da perturbação, já que a mobilidade e
sua dinâmica de renovação são intensas. Ao mesmo tempo, a água disponibiliza
inúmeros usos para a sociedade, pois pode ser utilizada como matéria-prima em
diversas atividades produtivas, propiciar práticas de esporte e lazer, além de receber
e reciclar matéria e energia. Por isso, os serviços ecossistêmicos relacionados à
água são considerados bons indicadores instantâneos de perturbações antrópicas.

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Serviços ecossistêmicos (SE)
De acordo com o relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005),
os serviços ecossistêmicos seriam os benefícios provindos dos ecossistemas.
Esta avaliação busca analisar o impacto das alterações dos ecossistemas sobre o
bem-estar humano, ressaltando que os ecossistemas vêm sendo modificados não
apenas em sua estrutura e sistemas (tais como habitats), mas também as funções
e processos. Por fim, neste relatório (MEA, op. cit.) é realizada a classificação dos
serviços ecossistêmicos em:
• Serviços de provisão: são os produtos obtidos diretamente dos ecossistemas
para a utilização humana. Como por exemplo, a obtenção de comida, água,
madeira combustíveis, etc.
• Serviços de regulação: são os benefícios humanos obtidos pelos processos
de regulação dos processos ecossistêmicos, como a regulação climática,
purificação da água, etc.
• Serviços culturais: são os benefícios não materiais obtidos dos ecossistemas
que proporcionam um enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo,
reflexão, recreação e experiências estéticas.
• Serviços de suporte: esta categoria engloba todos os serviços necessários para
a produção de todos os outros serviços ecossistêmicos (provisão, regulação e
culturais, conforme exemplos apresentados na Figura 2).

PROVISÃO REGULAÇÃO CULTURAIS


• Alimentos • Regulação do clima • Espiritualidade
• Água • Controle de doenças • Lazer
• Lenha • Controle de enchentes • Insipiração
• Fibras • Purificação de água • Educação
• Princípios ativos • Simbolismos
• Recursos genéticos

SUPORTE
Formação de solos
Produção primária
Ciclagem de nutrientes

Figura 2 – Exemplo de Serviços e funções ecossistêmicas


Fonte: Avaliação Ecossistêmica do Cinturão Verde de São Paulo

Os serviços ecossistêmicos, em última instância, são fluxos de energia, matéria


e informação provindos dos ecossistemas que, quando associados aos demais
tipos de capitais (manufaturado, social e humano) produzem o bem-estar humano
(ANDRADE; ROMEIRO, 2009).

Assim para facilitar nosso entendimento, vejamos o Quadro 3, a seguir, em que


foram identificadas as principais funções e serviços ecossistêmicos fornecidos por
estuários e manguezais (BARCELLINI, 2016).

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UNIDADE Impacto Ambiental

Quadro 3. Principais funções e serviços ecossistêmicos que são fornecidos por estuários e manguezais, descritos
em Barcellini (2016), organizados de acordo com a classificação proposta por De Groot et al. (2002).
Função Serviços
Regulação atmosférica1 6 Influência no clima
Transporte
Regulação hídrica 13
Drenagem e irrigação natural
Abastecimento de água (recarga do aquífero)
Manutenção da produtividade primária
Manutenção da biodiversidade
Regulação Regulação de nutrientes 1 4 5
Filtração
Absorção e imobilização de elementos químicos
Prevenção de distúrbios 1 3 Prevenção contra inundações e tempestades
Proteção da linha de costa contra erosão e
Formação e Retenção de solo e sedimento assoreamento
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Acúmulo e estabilização de solos


Aporte de matéria orgânica
Viveiros 1 2 4 5
Alimento para biota aquática

Habitat Área de abrigo, reprodução e desenvolvimento de


espécies marinhas, estuarinas, liminicas e terrestres,
Refúgio e Berçário 1 2 5 além de aves migratórias
Manutenção da biodiversidade
Aporte de matéria orgânica
Fonte de proteína
Alimento 1 2 3 4 5 6 Pesca
Alimento para biota aquática
Produção
Manutenção da biodiversidade
Matéria-Prima 1356
Madeira, fibra e produtos florestais
Recursos ornamentais 1 Manutenção da biodiversidade
Recursos genéticos e medicinais 1 6 Plantas medicinais
Recreação 1 2 3 4 5 6 Ecoturismo
Aspecto estético 1 Apelo paisagístico e auto valor cênico
Cultural e artístico 1 Objetos da natureza, símbolos e folclores
Ciência e educação 1 5 6 Oportunidade de estudo e pesquisa
Espiritual 1
Religioso
Fonte: 1. De Groot et al. (2002); 2. Coelho Junior; Schaeffer-Novelli, 2000; 3. Baan, 1997;
4. Araújo; Calado, 2008; 5. Constanza et al., 1997; 6. Spaninks; Beukering, 1997.

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O Quadro 3, apresentado, nos faz refletir sobre quantas funções e serviços ecos-
sistêmicos, de diversos ambientes (aquáticos e terrestres) em todo o planeta, o
homem pode influenciar, através de atividades realizadas sem o devido cuidado,
conhecimento e um bom planejamento.

Espera-se que esta disciplina tenha feito você refletir sobre os diferentes am-
bientes aquáticos que existem no mundo, sobre a forma como os diversos compo-
nentes de um ecossistema se relacionam, sejam por relações tróficas, ciclagens de
nutrientes e diversos outros processos que, conforme vimos, podem ser alterados,
prejudicados e até mesmo degradados, se não houver uma boa capacidade de ges-
tão dos envolvidos.

O profissional que lida com o meio ambiente, tem que estar ciente de todas
as relações que suas atividades podem impactar, para assim realizar um bom
diagnóstico e um bom planejamento de suas atividades.

19
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UNIDADE Impacto Ambiental

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)
https://youtu.be/vth0uslLexw
Serviços Ecossistêmicos
https://youtu.be/xqAKdKUCCa0
Serviços Ambientais
https://youtu.be/bVnp1c_M62M
Serviços ecossistêmicos marinhos - Alexander Turra
https://youtu.be/tITs_yJHoOc

 Leitura
A typology for the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods and services
DE GROOT, R.; WILSON, M.A.; BOUMANS, ROELOF M.J. 2002. A typology for
the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods and services.
Ecological Economics 41: 393-408. 2002.
https://goo.gl/hRWhNa
Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005) – Original (inglês):
https://goo.gl/hpfmEE
Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005) – versão português:
https://goo.gl/M6MggN

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Referências
ANDRADE, D.C.; ROMEIRO, A.R. Capital natural, serviços ecossistêmicos
e sistema econômico: rumo a uma “Economia dos Ecossistemas”. Texto para
Discussão. IE/UNICAMP, n. 159. ISSN 0103-9466. 2009.

BARBOSA, R.I.; FEARNSIDE, P.M. Erosão do solo na Amazônia: estudo de caso


na região Apiaú, Roraima, Brasil. Acta Amazonica, v.30, n.4, p.601-613, 2000.

BARCELLINI, V.C. Valoração econômica dos impactos da alteração da


qualidade da água sobre a produção pesqueira do complexo estuarino de
Santos, São Vicente e Bertioga, litoral de São Paulo/Brasil. Dissertação
de Mestrado. 2016. Dissertação de mestrado (Análise Ambiental Integrada) -
Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema, p.90, 2016.

COSTANZA, R.; D’ARGE, R.; DE GROOT, R.; FARBER, S.; GRASSO, M.;
HANNON, B.; LIMBURG, K.; NAEEM, S.; O’NEILL, R.V.; PARUELO, J.;
RASKIN, R.G.; SUTTON, P.; VAN DEN BELT, M. The value of the world’s
ecosystem services and natural capital. Nature, v. 387, p. 253–260. 1997.

DAILY, G. Nature’s services: societal dependence on natural ecosystem. Island


Press, Washington, DC. 1997.

DE GROOT, R.; WILSON, M.A.; BOUMANS, ROELOF M.J. 2002. A typology


for the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods
and services. Ecological Economics 41: 393-408. 2002.

EIGENBROD, F.; ARMSWORTH, P.R.; ANDERSON, B.J.; HEINEMEYER, A.;


GILLINGS, S.; ROY, D.B.; THOMAS, C.D.; GASTON, K.J. Error propagation
associated with benefits transfer-based mapping of ecosystem services.
Biological Conservation 143: 2487-2493. 2010.

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