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06/11/2020 Espiritismo: reencarnação e cristianismo - Presbíteros

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Espiritismo: reencarnação gostado do

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Posted by Presbíteros | maio 31, 2010 | Apologética | contribuir para a
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«Como se diz, os primeiros cristãos professavam a também mais
teoria da reencarnação. Foi somente em 533, num sobre a
sínodo de Constantinopla, que a Igreja Associação
imprudentemente a condenou, introduzindo a idéia Presbíteros
do inferno. acessando os
nossos boletins.
Que houve propriamente nesse concílio de
Constantinopla? »

Em resposta, analisaremos primeiramente a doutrina


das antigas fontes do Cristianismo no tocante à
reencarnação; a seguir, deter-nos-emos sobre o
citado sínodo de Constantinopla.

I. Antigos documentos cristãos e reencarnação

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1. Sagrada Escritura. Nem o Velho nem o Novo


Testamento dão testemunho que de algum modo
insinue a doutrina da reencarnação. Ao contrário, a
Escritura professa categoricamente uma só existência
do homem sobre a terra, após a qual cada um é
de nitivamente julgado: «Foi estabelecido, para os
homens, morrer uma só vez; depois do que, há o
julgamento» (Hebr 9,27). Ao bom ladrão arrependido
dizia Jesus: «Hoje mesmo estarás comigo no paraíso»
(Le 23,43).

Os principais textos bíblicos concernentes a este


assunto (Mt 11,14; 17,12; Jo 1,21; 3,3; 9,1-3) já foram
considerados em «P.R.» 3/1957, qu. 8. Dispensamo-
nos, pois, de os analisar novamente aqui, e passamos
ao testemunho dos antigos escritores cristãos.

2. Os Padres da Igreja. Os adeptos da reencarnação


não raro proferem a rmações como a seguinte:

«A Igreja primitiva não repele absolutamente o


ensino reencarnacionista. Os primeiros padres e,
entre eles, S. Clemente de Alexandria, S. Jeronimo e
Ru no, a rmam que ele era ensinado como verdade
tradicional a um certo número de iniciados»
(Campos-Vergal, Reencarnação ou Pluralidade das
Existências. S. Paulo 1936, 41).

Contudo os autores desta e de semelhantes


proposições não tratam de as comprovar citando os
textos sobre os quais se apoiam; é o que tira a
autoridade a tais assertivas.

Quem, ao contrário, investiga diretamente as obras


dos antigos escritores da Igreja, chega a conclusão
bem diferente da do trecho acima transcrito.
Percorramos, portanto, os escritos dos principais
Padres citados pelos reencarnacionistas modernos.

S. Ireneu († 202) rejeitava explicitamente a tese da


reencarnação, lembrando que em nossa memória
não nos ca vestígio algum de existências anteriores;
de outro lado, advertia, a fé cristã ensina a
ressurreição da carne, a qual é incompatível com a

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reencarnação das almas em novos corpos (cf. Adv.


haer. II 33).

Tertuliano († 220), usando do seu estilo mordaz,


opunha-se ao reencarnacionismo em famosa
passagem («De anima» 28-35), que assim se pode
resumir:

Pitágoras, que a rma lembrar-se das suas anteriores


existências, é vergonhosamente mentiroso:
asseverava, por exemplo, ter tomado parte na guerra
de Troia; como explicar então que, depois, se tenha
mostrado tão pouco valente? Pois, fugindo da guerra,
não veio ele à Itália? E, se em vida anterior foi,
segundo a rmava, o pescador Pirro, como se lhe
justi cará a aversão pelo peixe? (Sabe-se que
Pitágoras nunca comia peixe). E Empédocles? Não
pretendeu ser peixe numa existência anterior? Deve
ser por isso que se atirou na cratera de um vulcão:
com certeza quis ser frito. É tão absurda a migração
das almas para corpos de animais que nem os
próprios herejes ousaram defendê-la. – Tertuliano
a rmava outrossim que a reencarnação contraria a
noção de justiça de Deus, a qual exige que a punição
afete o próprio corpo que cometeu o pecado, e não
algum outro.

Clemente de Alexandria († 215) tinha a doutrina da


reencarnação na conta de arbitrária, pois nem as
reminiscências nô-la atestam nem a fé cristã.

«Se tivéssemos existido antes de vir a este mundo,


deveríamos agora saber onde estávamos, assim
como o modo e o motivo pelos quais viemos a este
mundo» (Eclogae XVII). Clemente notava que nunca a
Igreja professara tal doutrina, a qual só fôra
sustentada por conventículos de herejes ditos
«gnósticos» (Basilidianos e Marcionitas).

São Gregório de Nissa († 394) é explicitamente citado


pelos reencarnacionistas como adepto de sua
doutrina. Quem, porém, examina os escritos deste
autor, veri ca que Gregôrio considera a reencarnação
como fábula injuriosa à dignidade humana, pois não
hesita em atribuir ao homem, ao animal irracional

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(ave, peixe, rã…) e à planta o mesmo princípio vital (cf.


«De hominis opi cio» 28).

Se, não obstante, os reencarnacionistas modernos


apelam para a autoridade de S. Gregório de Nissa,
isto se deve ao fato de que em alguns pontos foi
discípulo de Orígenes (do qual falaremos no § 2
destaresposta).

São Jerônimo († 421) é por vezes nominalmente


citado em favor da reencarnação. Contudo seria difícil
ou impossível justi car essa «procura de patrocínio»
em S. Jerônimo, pois o S. Doutor se pronunciou
diretamente contrário à teoria, e isto… precisamente
ao comentar o texto (muito caro aos
reencarnacionistas) de Mt 11, 14, em que São João
Batista é designado como Elias:

«João é chamado Elias, observa S. Jerônimo, não


segundo a mentalidade de tolos lósofos e de alguns
herejes, que introduzem a doutrina da
metempsicose, mas pelo fato de ter ele vindo cheio
da fôrça e do zelo de Elias, como atesta outra
passagem do Evangelho» (cf. Lc 1,17).

Sto. Agostinho († 430) é tido por Allan Kardec como


um dos maiores divulgadores do espiritismo, pois,
conforme o Codi cador, terá sido adepto da
reencarnação. Na verdade, Sto. Agostinho, no livro X
c. 30 «De civitate Dei», mostra conhecer as doutrinas
reencarnacionistas de Platão, Plotino e Por rio, que
ele assim comenta:

«Se julgamos ser indigno corrigir o pensamento de


Platão, por que então Por rio modi cou a sua
doutrina em mais de um ponto, e em pontos que não
são de pequenas conseqüências? É certíssimo que
Platão ensinou que as almas dos homens retornam
até mesmo para animar corpos de animais. Esta
opinião foi também adotada por Plotino, mestre de
Por rio. Mas não lhe agradou, e com muita razão. É
verdade que Por rio admitiu que as almas entram
em sempre novos corpos: ele, de um lado, sentia
vergonha em admitir que sua mãe pudesse algum dia
carregar às costas o lho, se lhe acontecesse reen-

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carnar-se no corpo de uma mula; mas, de outro lado,


não tinha vergonha em acreditar que a mãe pudesse
transformar-se numa jovem e desposar o seu próprio
lho! Oh, quanto mais nobre é a fé que os santos e
verazes anjos ensinaram, fé que os Profetas dirigidos
pelo Espírito de Deus anunciaram, … fé que os
Apóstolos apregoaram por todo o orbe! Quanto mais
nobre é crer que as almas voltam uma só vez aos
seus próprios corpos (no momento da ressurreição
nal) do que admitir que elas tomem tantas vezes
sempre novos corpos!» (De civitate Dei X 30).

Considerações análogas se poderiam multiplicar caso


se quisesse continuar a percorrer a antiga literatura
cristã. Isto escaparia, porém, ao intento do presente
artigo. Os dizeres de Sto. Agostinho, fazendo eco à
sentença de escritores mais antigos, principalmente
dos mais evocados pelos reencarnacionistas, já
bastam para mostrar que vão seria procurar nos
Padres da Igreja tutela e autoridade para a doutrina
da reencarnação. Quem, com sinceridade, observa a
documentação patrística, é levado a concluir que na
realidade a Igreja antiga, longe de ensinar a
reencarnação, se lhe opôs abertamente.

Eis, porém, que a história registra o caso de Orígenes,


do Origenismo e do Concilio de Constantinopla (543),
caso assaz controvertido, ao qual devemos agora
voltar a nossa atenção.

II. Orígenes, Origenismo e Constantinopla

É o nome de Orígenes que por excelência dá ocasião


a que alguns escritores modernos asseverem, terem
os antigos cristãos admitido a doutrina da
reencarnação, prosseguindo destarte uma tradição
pré-cristã. Será preciso, portanto, considerar antes do
mais:

1. Quem era Orígenes?

Orígenes (185-254) foi mestre de famosa Escola


Catequética ou Teológica de Alexandria (Egito) numa
época em que os autores cristãos começavam a
confrontar a revelação do Evangelho com as teses da

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sabedoria humana anterior a Cristo. As fórmulas


o ciais de fé da Igreja eram então muito concisas; a
teologia (ou seja, a penetração lógica e sistemática
das proposições reveladas) ainda estava em seus
primórdios; em conseqüência, cava margem assaz
ampla para que o estudioso arquitetasse teorias e
propusesse sentenças destinadas a elucidar, na
medida do possível, os artigos da fé. Orígenes
entregou-se a tal tarefa, servindo-se da loso a de
seu tempo e, em particular, da loso a platônica. Ao
realizar isso, o mestre fazia questão de distinguir
explicitamente entre proposições dogmáticas, per-
tencentes ao patrimônio da fé e da Igreja, e
proposições hipotéticas, que ele formulava em seu
nome pessoal, à guisa de sugestões, para penetrar o
sentido das verdades dogmáticas; além disto,
professava submissão ao magistério da Igreja caso
esta rejeitasse alguma das teses de Orígenes.

Ora, entre as suas proposições pessoais, Orígenes


formulou algumas que de fato vieram a ser
repudiadas pelo magistério eclesiástico.

Assim, inspirando-se no platonismo, derivava a


palavra grega «psyché» (alma) de «psychos» (frio), e
admitia que as almas humanas, unidas à matéria tais
como elas atualmente se acham, são o produto de
um resfriamento do fervor de espíritos que Deus
criou todos iguais e destinados a viver fora do corpo;
a encarnação das almas, portanto, e a criação do
mundo material dever-se-iam a um abuso da
liberdade ou a um pecado dos espíritos primitivos,
que Deus terá punido ligando tais espíritos à matéria.
Banidos do céu e encarcerados no corpo, estes
sofrem aqui a justa sanção e se vão puri cando a m
de voltar a Deus; após a vida presente, alguns ainda
precisarão de ser puri cados pelo fogo em sua
existência póstuma, mas na etapa nal da história
todos serão salvos e recuperarão o seu lugar junto a
Deus; o mundo visível terá então preenchido o seu
papel e será aniquilado.

Note-se bem: o alexandrino propunha tais idéias


como hipóteses, e hipóteses sobre as quais a Igreja
não se tinha pronunciado (justamente porque

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pronunciamentos sobre tais assuntos ainda não


haviam sido necessários); não havia, pois, da parte de
Orígenes a intenção de se afastar do ensinamento
comum da Igreja a m de constituir uma escola
teológica própria ou uma heresia («heresia» implica
em obstinação consciente contra o magistério da
Igreja).

2. A desgraça de Orígenes, porém, foi ter tido muitos


discípulos e admiradores … Estes atribuíram valor
dogmático às proposições do mestre, mesmo depois
que o magistério da Igreja as declarou contrárias aos
ensinamentos da fé.

Ê preciso observar outrossim o seguinte: o mestre


alexandrino admitiu como possível a preexistência
das almas humanas. Ora esta não implica
necesariamente em reencarnação; signi ca apenas
que, antes de se unir ao corpo, a alma humana viveu
algum tempo fora da matéria; encarnou-se depois… ;
dai não se segue que se deva encarnar mais de uma
vez (o que seria a reencarnação propriamente dita).

Aliás, Orígenes se pronunciou diretamente contrário


à doutrina da reencarnação… Com efeito; em certa
passagem de suas obras, considera a teoria do
gnóstico Basílides, o qual queria basear a
reencarnação nas palavras de S. Paulo: «Vivi outrora
sem lei…» (Rom 7,9). Observa então Orígenes:
Basilides não percebeu que a palavra «outrora» não
se refere a uma vida anterior de S. Paulo, mas apenas
a um período anterior da existência terrestre que o
Apóstolo estava vivendo; assim, concluía o
alexandrino, «Basílides rebaixou a doutrina do
Apóstolo ao plano das fábulas ineptas e ímpias» (cf.
In Rom VII).

Contudo os discípulos de Orígenes professaram


como verdade de fé não somente a preexistência das
almas (delicadamente insinuada por Orígenes), mas
também a reencarnação (que o alexandrino não
chegou de modo nenhum a propor, nem como
hipótese).

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Os principais defensores destas idéias, os chamados


«origenistas», foram monges que viveram no Egito,
na Palestina e na Síria nos séc. IV/VI. Esses monges,
como se compreende, levando vida muito retirada,
entregue ao trabalho manual e à oração, eram pouco
versados no estudo e na teologia; admiravam
Orígenes principalmente por causa dos seus escritos
de ascética e mística, disciplinas em que o ale-
xandrino mostrou realmente ter autoridade); não
tendo, porém, cabedal para distinguir entre
proposições categóricas e meras hipóteses do
mestre, os origenistas professavam cegamente como
dogma tudo que liam nos escritos de Orígenes; pode-
se mesmo dizer que eram tanto mais fanáticos e
buliçosos quanto mais simples e ignorantes.

A tese da reencarnacão, desde que começou a ser


sustentada pelos origenistas, encontrou decididos
oponentes entre os escritores cristãos mesmos, que
a tinham como contrária à fé. Um dos testemunhos
mais claros é o de Enéias de Gaza († 518), autor do
«Diálogo sobre a imortalidade da alma e a
ressurreição», em que se lê o seguinte raciocinio:

«Quando castigo meu lho ou meu servo, antes de


lhe in igir a punição, repito-lhe várias vezes o motivo
pelo qual o castigo, e recomendo-lhe que não o
esqueça para que não recaia na mesma falta. Sendo
assim, Deus, que estipula… os supremos castigos,
não haveria de esclarecer os culpados a respeito do
motivo pelo qual Ele os castiga? Haveria de lhes
subtrair a recordação de suas faltas, dando-lhes ao
mesmo tempo a experimentar muito vivamente as
suas penas? Para que serviria o castigo se não fosse
acompanhado da recordação da culpa? Só
contribuiria para irritar o réu e levá-lo à demência.
Uma tal vitima não teria o direito de acusar o seu juiz
por ser punida sem ter consciência de haver
cometido alguma falta?» (ed. Migne gr. t. LXXXV 871).

Sem nos demorar sobre este e outros testemunhos


anti-reencarnacionistas do séc. V, passamos
imediatamente à fase culminante da luta origenista.

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Na realidade, a corrente dos origenistas ou o


origenismo na primeira metade do séc.VI provocou
famosa celeuma teológica.

Como se terá desenrolado?

3. No início do séc. VI estava o origenismo muito em


voga nos mosteiros da Palestina, tendo como
principal centro de propagação o cenóbio dito da
«Nova Laura», ao sul de Belém: aí gozavam de apreço
as doutrinas referentes à preexistência das almas, à
reencarnação e à restauração de todas as criaturas
na ordem inicial ou na bem-aventurança celeste.

Em 531, o abade São Sabas, que, com seus 92 anos


de idade, se opunha enérgicamente ao origenismo,
foi a Constantinopla pedir a proteção do Imperador
para a Palestina devastada pelos samaritanos, assim
como a expulsão dos monges origenistas. Contudo
alguns dos monges que o acompanhavam,
sustentaram em Constantinopla opiniões origenistas;
regressou à Palestina, para aí morrer aos 5 de de-
zembro de 532.

Após a morte de S. Sabas, a propaganda origenista


recrudesceu, invadindo até mesmo o mosteiro do
falecido abade (o cenóbio da «Grande Laura»); em
conseqüência, o novo abade, Gelásio, expulsou do
mosteiro quarenta monges. Estes, unidos aos da
Nova Laura, não hesitaram em tentar tomar de
assalto a Grande Laura. Por essa época, os
origenistas (pelo fato de combater uma famosa
heresia cristológica dita «mono sitismo») gozavam de
prestígio mesmo em Constantinopla, tendo sido dois
dentre eles nomeados bispos: Teodoro Askidas, para
a sede de Cesaréia na Capadócia; e Domiciano, para a
de Ancira.

Com o passar do tempo, a controvérsia entre os


monges da Palestina se tornava cada vez mais acesa,
exigindo em breve a intervenção de instancia
superior. Foi o que se deu em 539 num sínodo
reunido em Gaza, o origenismo foi denunciado ao
legado papal Pelágio. Este voltou a Constantinopla na
companhia de monges de Jerusalém encarregados

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pelo Patriarca desta cidade de pedir ao Imperador o


seu pronunciamento contra o origenismo. A petição
foi de fato transmitida, logrando o almejado êxito:
Justiniano, Imperador, comprazia-se em disputas
teológicas; de bom grado, portanto, escreveu um
tratado contra Orígenes, de tom extremamente
violento, equiparando as sentenças do alexandrino
aos erros dos pagãos, maniqueus e arianos; concluía
com uma série de dez anátemas contra Orígenes, dos
quais especial atenção merecem os seguintes:

«1. Se alguém disser ou julgar que as almas humanas


existiam anteriormente, como espíritos ou poderes
sagrados, os quais, desviando-se da visão de Deus, se
deixaram arrastar ao mal e por este motivo perderam
o amor a Deus, foram chamados almas e relegados
para dentro de um corpo à guisa de punição, seja
anátema.

5. Se alguém disser ou julgar que, por ocasião da


ressurreição, os corpos humanos ressuscitarão em
forma de esfera, sem semelhança com o corpo que
atualmente temos, seja anátema.

9. Se alguém disser ou julgar que a pena dos


demônios ou dos ímpios não será eterna, mas terá
m, e que se dará uma restauração («apokatástasis»,
reabilitação) dos demônios, seja anátema.»

Os outros anátemas interessam menos, pois se


referem a erros cristológicos.

Justiniano em 543 enviou o seu tratado com os


anátemas ao Patriarca Menas de Constantinopla, a
m de que este também condenasse Orígenes e
obtivesse dos bispos vizinhos e dos abades de
mosteiros próximos igual pronunciamento.

Assim intimado, Menas reuniu logo o chamado


«sínodo permanente» (conselho episcopal) de
Constantinopla, o qual, por sua vez, redigiu e
promulgou quinze anátemas contra Orígenes, dos
quais os quatro primeiros nos interessam de perto:

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«1. Se alguém crer na fabulosa preexistência das


almas e na repudiável reabilitação das mesmas (que
é geralmente associada àquela), seja anátema.

2. Se alguém disser que os espíritos racionais foram


todos criados independentemente da matéria e
alheios ao corpo, e que vários deles rejeitaram a
visão de Deus, entregando-se a atos ilícitos, cada qual
seguindo suas más inclinações, de modo que foram
unidos a corpos, uns mais, outros menos perfeitos,
seja anátema.

3. Se alguém disser que o sol, a lua e as estrelas


pertencem ao conjunto dos sêres racionais e que se
tornaram o que eles hoje são por se terem voltado
para o mal, seja anátema.

4. Se alguém disser que os seres racionais nos quais


o amor a Deus se arrefeceu, se ocultaram dentro de
corpos grosseiros como são os nossos, e foram em
conseqüência chamados homens, ao passo que
aqueles que atingiram o último grau do mal tiveram
como partilha corpos frios e tenebrosos, tornando-se
o que chamamos demônios e espíritos maus, seja
anátema».

O papa Vigílio e os demais Patriarcas deram a sua


aprovação a esses anátemas. Como se vê, tal
condenação foi promulgada por um sínodo local de
Constantinopla reunido em 543, e não, como se
costuma dizer, pelo II concílio ecumênico de
Constantinopla, o qual só se realizou em 553. Neste
concílio ecumênico, a questão da preexistência e da
sorte póstuma das almas humanas não voltou à
baila; verdade é que Orígenes aí foi condenado
juntamente com alguns herejes por causa de erros
cristológicos (cf. anátema XI proferido pelo mencio-
nado concílio ecumênico). Os historiadores recentes
rejeitam a opinião de autores mais antigos segundo
os quais o II concílio ecumênico de Constantinopla se
teria ocupado com a doutrina origenística
concernente à preexistência das almas.

Em todo e qualquer caso, não houve condenação de


Orígenes em 533, como a rmam certos escritores

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reencarnacionistas modernos, os quais por sua


pouca meticulosidade se mostram destituidos de
autoridade para tratar do assunto.

4. Na verdade, a doutrina da reencarnação deve ser


tida como positivamente condenada pela Igreja não
somente na base dos testemunhos dos Padres
anteriormente citados neste artigo (os quais re-
presentam o magistério ordinário da Igreja), mas
principalmente por efeito das declarações explícitas
do II concílio ecumênico de Lião (1274): «As almas…
são imediatamente recebidas no céu», e do concílio
ecumênico de Florença (1439): «As almas… passam
imediatamente para o inferno a m de aí receber a
punição» (Denzinger, Enchiridion 464. 693).

Quanto à doutrina do inferno, ela está contida na


Sagrada Escritura e sempre foi professada pelos
cristãos; cf. «P. R.» 371957, qu. 5. Errôneo, portanto,
seria dizer que ela se deve a algum concilio do séc. VI.

5. Em conclusão, observamos o seguinte:

a) a doutrina da reencarnação nunca foi comum, nem


é primitiva, na Igreja Católica (atestam-no os
depoimentos dos antigos escritores cristãos aqui
citados);

b) após Orígenes (séc. III), ela foi professada por


grupos particulares de monges orientais, pouco
versados em Teologia, os quais se prevaleciam de
a rmações daquele mestre alexandrino, exagerando-
as (daí a designação de «origenistas»);

c) mesmo dentro da corrente origenista, a teoria da


reencarnação não teve a voga que tiveram, por
exemplo, as teses da preexistência das almas e da
restauração de todas as criaturas na bem-aventu-
rança inicial;

d) por isto as condenações proferidas por bispos e


sínodos no séc. VI sobre o orígenísmo versaram
explícitamente sobre as doutrinas da preexistência e
da restauração das almas (o que naturalmente im-
plica na condenação da própria tese da

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reencarnação, na medida em que esta tese depende


daquelas doutrinas e era professada pelos
orígenístas);

e) a doutrina da reencarnação foi rejeitada não


somente pelo magistério ordinário da Igreja desde os
tempos patrístícos, mas também pelo magistério
extraordinário nos concílios ecuménicos de Lião II
(1274) e de Florença (1439).

D. Estêvão Bettencourt O. S. B.

Fonte: Revista Pergunte e Responderemos, 051 –


1962

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