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CORRESPONDÊNCIA
––––––––
TOMO II
SÃO VICENTE DE PAULO
PARIS
LIVRARIA LECOFFRE. J. GABALDA, EDITOR
90, RUA BONAPARTE, 90
1921
NIHIL OBSTAT
Clemente VIDAL, Padre da Missão.
Emílio NEVEUT, Padre da Missão.
IMPRIMATUR
Paris, 19 de novembro de 1919.
Ed. THOMAS,
Vigário Geral.
ABREVIAÇÕES E NOTAS
–––––––
C. aut. – Carta autógrafa, i. é, toda inteira das mãos de São Vicente de Paulo.
C. as. – Carta assinada, i. é, escrita por um de seus secretários e assinada por São
Vicente de Paulo.
i.p.d.l.M – indigno padre da Missão (l, por causa do francês de la, em português, da).
N. do T. – Nota do Tradutor.
Recebi três cartas vossas esta semana. Senti com isto tal consolação que só Deus
a pode exprimir, ele que é o único capaz de me concedê-la. Mas esta consolação aqui e
ali sofre algum intervalo, quando me falais do estado de vossa enfermidade. Peço-vos,
Senhora, fazê-lo sempre. E quando estiverdes em condição, deverá ser-vos enviada uma
liteira, para viajar para aqui. Fazei também o possível para vos curar.
Visto que estes senhores1 querem tratar do negócio por escrito, fá-lo-eis, in
nomine Domini, mandando redigir o tratado em vosso nome, como diretora das Filhas
da Caridade, servas dos pobres doentes dos hospitais e das paróquias, sob o beneplácito
do Superior Geral da Congregação dos Padres da Missão, diretor das referidas Filhas da
Caridade. E onde se faz menção, no seu pequeno regulamento, que elas dependerão,
[naquilo que não diz respeito]2 ao hospital, dos superiores de Paris, podereis deixar
expresso o nome do dito superior.
No caso de vos pedirem as cartas de ereção desta instituição, direis que não há
outras, a não ser a do poder concedido ao referido superior, diretor das Confrarias da
.
Carta 417. – Manuscrito São Paulo, p. 60.
11
Os Administradores do hospital de Angers.
22
O Manuscrito São Paulo omitiu evidentemente algumas palavras; as que acrescentamos dão sentido à frase. De
resto, eis o artigo do regulamento: “elas obedecerão aos seus superiores daqui, no que toca à disciplina e conduta
interna, e aos senhores Administradores, nas coisas externas referentes ao regimento do hospital quanto à assistência
aos pobres, e à superiora delas quanto à execução do referido regimento e, em geral, a tudo que ela lhes ordenar”.
Caridade, como se faz em toda parte, especialmente nessa diocese, em Bourgneuf 3, nas
terras, parece-me, de Madade Goussault. Contudo, não estou bem certo disto no caso de
Richelieu, na diocese de Poitiers.
Fareis bem em mandar chamar as Irmãs de Richelieu 4, o quanto antes, uma vez
que, cessando o contágio por aí, elas recomeçarão a trabalhar.
Oram a Deus por vós em vários lugares de Paris. Todos se interessam pela vossa
saúde, não imaginais até que ponto!
14 de janeiro de 1640.
Senhora,
Meu Deus, Senhora, obrigais-me a escrever-vos com urgência. Como não? Vós
não me informais sobre o estado de vossa doença. Suplico-vos, Senhora, fazê-lo com
exatidão, para que vos envie uma liteira, quando estiverdes em condição de regressar
daí, tão logo vossa indisposição o permitir. Oh! como vossa presença é necessária aqui,
não apenas para vossas filhas, que estão muito bem, mas também para os negócios
gerais da Caridade!
A assembleia geral das Damas do Hospital Geral se realizou quinta-feira
passada. Madame Princesa1 e madame Duquesa de Aiguillon honraram-na com sua
presença. Jamais vi o grupo tão numeroso e com tanta modéstia, ao mesmo tempo. Nela
ficou resolvido receber todas as crianças expostas. Ficai sabendo, Senhora, que nela não
fostes esquecida.
Comuniquei-vos que seria bom, como diretora das pobres camponesas Filhas da
Caridade, as coloqueis sob o beneplácito do Superior Geral da Congregação das
referidas Filhas2. Mas vos rogo, Senhora, fazê-lo quanto antes e partir de Angers
44
Ele era, como Luís Abelly, Vigário Geral de Francisco Fouquet, Bispo de Bayonne.
.
Carta 419. – Manuscrito São Paulo, p. 62.
11
Carlota Margarida de Montmorency, mulher de Henrique II de Bourbon, primeiro príncipe da família, príncipe de
Condé, Duque de Enghien, par e Grão-Mestre da França. Esta caridosa princesa, mãe do grande Condé, perdeu seu
marido a 26 de dezembro de 1646 e morreu em Châtillon-sur- Loing a 2 de dezembro de 1650.
2
Ver carta 417.
3
O tratado foi assinado no dia primeiro de fevereiro.
4
Bárbara Angiboust e Luísa. São Vicente queria dar-lhes a consolação de rever Luísa de Marillac.
2
imediatamente depois de aprovar os artigos, que vos peço redigir o mais depressa
possível3.
Escrevo ao padre Lambert vos envie vossas filhas de Richelieu 4. Mas se tudo
estiver pronto para o vosso retorno, não as espereis. Enviai-lhes antes alguém, para vos
irem esperar em Tours, se julgardes que não possam encontrar-vos em Angers.
Senhora,
.
Carta 420. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1
O original traz a partícula francesa que e não de. Ficando assim, a frase não tem sentido. Não poderíamos afirmar
que nossa mudança corresponde bem ao pensamento de São Vicente. Com efeito, pode ser que o Santo, por distração,
tenha deixado o membro da frase inacabado. Nesta hipótese, seria necessário deixar o que e acrescentar algumas
palavras depois de les maítres de l’hôpital (os donos do hospital).
2
Os Administradores do hospital. São Vicente os chama ora de donos do hospital (maítres de l’hôpital, ora de pais
dos pobres ( pères des pauvres ).
1
2
421. – A LUÍSA DE MARILLAC
Senhora,
Senhora,
Senhor Padre,
Senhor Padre,
.
Carta 424. – C. aut. – Dossiê de Turim, original. O assunto tratado nesta carta é tão delicado que tivemos de omitir
alguns tópicos.
Jacques Tholard, nascido em Auxerre, a 10 de junho de 1615, foi recebido na Congregação da Missão a 20 de
novembro de 1638 e ordenado sacerdote a 17 de dezembro de 1639. Morreu depois de 1671. Mostrou durante toda a
sua vida, por onde passou, as qualidades de um excelente missionário. Foi colocado em Annecy (1640-1646),
Tréguier, onde foi superior (1648- 1653), Troyes (1658-1660), São Lázaro, Fontenebleau e outras casas. A província
da França e a de Lyon o tiveram como Visitador no generalato do Padre Renê Alméras.
Conheço um santo eclesiástico que jamais ou raramente atende confissões sem
cair nestas fragilidades. Contudo, jamais se acusa em confissão, a não ser na confissão
anual, na qual se acusa, não da substancia da coisa, mas de não ter detestado bastante o
prazer que a miserável carcaça experimenta nisso e pelo temor de que sua vontade tenha
contribuído de algum modo nesse ato. E se credes em mim, senhor Padre, não vos
confessareis jamais, a não ser na mesma ocasião e da mesma maneira como ele, que é
um dos melhores e mais fervorosos eclesiásticos que conheço na terra. E mais, é
reconhecido por todo mundo como tal.
Certo, mas não é o meu caso. Ele dispõe de algum sinal, talvez, pelo qual
reconhece que não tinha liberdade quando foi levado pela violência da natureza. Mas eu
não estou nesse caso, pois me parece que eu poderia evitar isso.
Não, senhor Padre, não o creiais. Esses movimentos e seu efeito não dependem
de vossa vontade. E ela não poderia impedi-los, na agitação da natureza. Por
conseguinte, a coisa não é voluntária em vós, como nem também nele, e em ninguém
mais...
Sim, mas não seria melhor abster-me totalmente de atender confissão? Ó Jesus!
De modo algum. Deus vos chamou para a vocação em que estais. Nela vos abençoou e
conservou. Dilatastes muito, por este meio, o império de Deus e salvastes numerosas
almas. Continuareis a fazer tudo isto com mais graça e êxito, como espero.
Ó Jesus, senhor Padre, como poderíeis reparar o desagrado e o prejuízo para a
glória de Deus e às almas que resgatou com seu precioso sangue, se abandonardes o que
fazeis? Lembrai-vos, senhor Padre, que só se colhem rosas em meio a espinhos e não se
fazem ações heroicas de virtude a não ser na fraqueza. São Paulo não abandonou a obra
de Deus porque padecia de tentações. Nem abandonamos o cristianismo porque nele
sofremos grandes e horríveis provações. E nem podemos deixar de viver pelo fato de
que nossa vida reside na concupiscência da carne, na concupiscência dos olhos e no
orgulho da riqueza...
Será bom passar por cima destes assuntos do modo mais ligeiro possível. É a
primeira advertência que se faz, comumente, e que não se fique angustiado com isto...
Eis, senhor Padre, o que vos devo dizer diante de Deus e dentro da doutrina e
dos ensinamentos dos santos. Não vos preocupeis com o que, segundo dizeis, vossos
confessores vos dizem sobre este assunto. Eles não estão bastante esclarecidos e não
têm suficiente experiência disto. Não vos confesseis disto de modo algum, a não ser da
maneira como vos disse. Ofereço-me para responder diante de Deus por vós, de quem
sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Cf 1 Jo 2,16 (N.do T.)
.
Carta 425. – C. aut. – Original com as Filhas da Caridade da Rua Monceau, em Paris.
Senhora,
Vicente de Paulo.
Bárbara Angiboust, da casa de Richelieu.
Para a direção do hospital de Angers ( ver a carta 481 e, na correspondência autografada de Luísa de Marillac, as
cartas 103 e 108).
La Villette se situava então, como La Chapelle, fora de Paris. Hoje, são dois populosos quarteirões da capital.
.
Carta 426. – Manuscrito São Paulo, p. 63.
Senhora,
Recebi vossa carta de 27 do mês passado. Ela me trouxe tanta consolação que
nada depois foi capaz de me contristar. Bendito seja Deus porque estais agora melhor de
saúde e porque estais planejando vosso retorno! Oh! como sereis bem recebida e com
que ansiedade vos aguardam! Louvo a Deus porque as damas dessa cidade dão prova de
aceitar o exercício da Caridade do Hospital Geral e lhe peço pelo êxito deste santo
empreendimento, em sua honra. Não vos enviei os relatórios das damas daqui,
Senhora? Penso tê-lo feito e espero já os tenhais recebido. Do contrário, enviá-los-emos
quando de vosso regresso. Não deixeis de pô-los em prática. Fazemos assim com
frequência com as Caridades do interior. O tempo é pouco para mandar-vos fazer uma
cópia. O mensageiro parte dentro de quatro dias.
Vossas filhas se comportam bem, graças a Deus. Recebemos mais duas que
poderemos ajuntar às outras, com dois dias. Há muito tempo estamos adiando,
esperando vossa volta. Estas boas jovens de Lorena estão muito ansiosas.
Estou esperando para dentro de seis horas a filha do senhor Cornuel 2. Ele deixou
uma renda de seis mil libras para os condenados às galés. Trataremos da maneira como
dar assistência a eles3.
Admiro-me por nada dizerdes de vossas filhas de Richelieu. Elas vos foram
encontrar.
Muito bem! Termino com novas ações de graças a Deus, pois, por sua graça,
bem cedo nos veremos.
Enquanto espero este abençoado dia, sou no amor de Nosso Senhor...
Fundaram em Angers uma associação de Damas da Caridade ao modelo da de Paris.
22
Claudio Cornuel, antigo intendente das finanças do Tribunal de Contas.
33
São Vicente teve muito trabalho para conseguir esta herança, reivindicada pelos herdeiros. Ele suplicou, insistiu,
pediu a intervenção de Mateus Molé, então Procurador Geral. Conseguiu, afinal, que um capital capaz de assegurar a
renda de seis mil libras fosse entregue nas mãos deste último e administrado por ele e seus sucessores no cargo. Desta
renda serão tirados os fundos necessários para a manutenção das Filhas da Caridade a serviço dos pobres forçados e
para remunerar condignamente os padres de Saint-Nicolas que desempenhavam as funções de capelães (Cf. Abelly,
op. cit. , t I, cap. XXVIII. P. 128).
.
Carta 427. – Abelly, op. cit. 1. II, cap. XI, sec. I, 1ª Ed.
meia em favor dos doentes que para lá enviamos. Como, no meio deles, há cerca de
oitenta mais doentes que os outros, damos-lhes soja, carne e pão.
Senhor Padre,
.
Carta 428. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
Nome de leitura duvidosa.
22
Richard Germain, nascido em Vaudry (Calvados). Entrou, já padre, na Congregação da Missão a 22 de junho de
1639, com a idade de 36 anos, colocado em Roma (1642-1643).
33
Jean Guérin, nascido em Remíremont. Foi recebido na Congregação da Missão a 4 de fevereiro de 1639, com a
idade de 21 anos. Não confundi-lo com Jean Guérin, superior de Annecy, nem com Juliano Guérin, que exercerá mais
tarde seu apostolado na Tunísia, entre os escravos.
44
Nome de leitura duvidosa. Não encontramos nem este nome, nem outro semelhante no catálogo da Congregação
da Missão.
55
Traduzimos assim o nome francês “quatre mendiànts”, dado a quatro espécies de frutas secas: figos, avelãs
graúdas, uvas e amêndoas. Era quaresma, por isso São Vicente não alude a carnes, nem a ovos.
66
João Louistre, nascido em Mantes. Ingressou na Congregação da Missão a 14 de março de 1837, com a idade de 24
anos. Fez os votos a 14 de março de 1642. Havia um Irmão Coadjutor com o mesmo nome.
77
Seine-et-Oise.
429. – PADRE ROUSSEL1 A SÃO VICENTE
Soubestes da morte do padre de Montevit3 que tínheis enviado para aqui. Sofreu
muito na sua longa doença. Posso dizer sem mentir que jamais vi tão grande e serena
paciência como a sua. Jamais lhe ouvimos palavra que denotasse a menor impaciência.
Suas conversas exalavam uma piedade fora do comum. O médico nos disse várias vezes
que jamais tratara paciente mais obediente e simples. Comungou muito frequentemente
durante a doença, além das vezes que o fez em forma de viático. Seu delírio de oito dias
inteiros não o impediu de receber lucidamente a Unção dos Enfermos, pois ele
recobrou os sentidos, quando lhe administraram este sacramento e voltou logo após ao
estado anterior depois de recebê-lo. Enfim, ele morreu como desejo e peço a Deus
morrer.
Os dois cabidos de Bar honraram seus funerais, assim como os padres
agostinianos. Mas a maior honra é que para o seu enterro foram uns seiscentos a
setecentos pobres que acompanhavam o corpo, todos com vela na mão e que choravam
como se estivessem no enterro do próprio pai. Os pobres realmente lhe deviam este
reconhecimento: ele tinha contraído a doença curando-lhes as enfermidades e
aliviando-lhes a pobreza. Estava sempre no meio deles e só respirava seus ares
empestados. Ouvia-lhes as confissões com tanta assiduidade, de manhã e de tarde, que
jamais pude convencê-lo de fazer ao menos uma vez um passeio para descanso.
Fizemos enterrá-lo junto ao confessionário no qual pegou a doença e fez a bela
colheita dos méritos de que agora goza no céu.
Dois dias antes de sua morte, seu coirmão padre caiu doente com uma febre
contínua que o manteve em perigo de morte por oito dias. Está agora passando bem.
Sua doença foi consequência de trabalho demais, de demasiada e assídua presença
entre os pobres. Na véspera do Natal, ficou 24 horas sem comer e dormir. Só deixou o
confessionário para celebrar a missa.
Nossos congregados são maleáveis e dóceis em tudo, exceto nas advertências
para repousar um pouco. Creem que seus corpos não são de carne ou que suas vidas
não devem durar mais que um ano.
Quanto ao irmão4, é um moço extremamente piedoso. Serviu a estes dois padres
com aquela paciência e assiduidade que os doentes mais exigentes o poderiam desejar.
.
Carta 429. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI.sec.I, 1ª ed., p.384. O original desta carta estava em 1747 no seminário
de Toul (Collet, op. cit.., 1ª Ed., t. I, p. 299, em nota).
11
Jacques Roussel, nascido em Nevers a 2 de fevereiro de 1598, foi recebido na Companhia de Jesus a 5 de agosto
de 1614. Foi professor de gramática, de humanidades e de retórica e quatro vezes reitor, particularmente em Bar-le-
Duc. Morreu em Autun, a 20 de janeiro de 1647.
22
São Vicente recebeu esta carta entre 21 e 28 de fevereiro (Cf. cartas 428 e 433).
33
Germano de Montevit, nascido em Cambernon (Manche). Foi recebido na Congregação da Missão a 19 de abril de
1638, com a idade de 26 anos. Morreu em Bar-le-Duc, a 19 de janeiro de 1640.
44
O Irmão Davi Levasseur.
430. – UM PADRE DA MISSÃO A SÃO VICENTE
Bendito seja nosso divino Salvador que nos trouxe felizmente vossos caros
filhos, para sua maior glória e para a salvação de muitos.
Todos se alegraram em Nosso Senhor, mas com certeza o senhor Bispo de
Genebra2 e eu experimentamos indizível consolação. Parece-nos serem nossos
verdadeiros irmãos, com os quais sentimos perfeita união de coração, assim como eles
conosco, em santa simplicidade, franqueza e confiança. Conversei com eles e eles
comigo, como se fosse entre filhas da Visitação. Têm todos grande bondade e candura.
O terceiro e o quinto 3 precisam de ajuda para sair um pouco de si mesmos. Di-lo-ei ao
.
Carta 430. – Abelly, op. cit, 1. II, cap. XI, sec. I, 1 ed., p. 380.
11
Esta carta foi escrita em 1640 por um missionário que acabava de chegar a Saint-Mihiel, onde já estava em março
do mesmo ano (Abelly, ibid ).
.
Carta 431. – Santa Joana-Francisca Frémyot de Chantal, sua vida e obras, t. VIII, p. 222, carta1671.
11
Os missionários de Annecy tinham partido a 29 de janeiro para o local do seu destino (Cf. carta 423).
22
Justo Guérin, nascido em 1578, em Tramoyes (Ain) e recebido nos Barnabitas, a 10 de dezembro de 1599, foi
eleito Bispo de Genebra em 1639. Morreu a 3 de novembro de 1645 ( Vida de Dom Justo Guérin, religioso
barnabita, da Congregação de São Paulo, bispo e príncipe de Genebra, por Dom Maurício Arpaud, Annecy, 1678,
in-8.
33
Jacques Tholard e Estêvão Bourdet.
superior4 que é verdadeiramente um homem capaz de tanta responsabilidade. O senhor
Padre Escart é um santo.
Distribuí para cada um uma tarefa religiosa. Faço tudo isto e o farei sempre,
com a ajuda de Deus, com grande amor, para vos obedecer, meu caríssimo padre, e
para nossa mútua consolação. Com efeito, há muito a falar a estas queridas almas. O
bom padre [Duhamel] me declarou muito singelamente suas dificuldades. É um
coração virtuoso, equilibrado nos juízos, mas terá dificuldades para perseverar. Pedi-
lhe com insistência não pensar nem em sair, nem em permanecer, mas se aplicar
judiciosamente à obra de Deus, abandonar-se generosamente e confiar na Providência.
Estimaria muito que se firmasse, pois inspira bastante esperança.
Enfim, todos são amáveis, foram motivo de muita edificação nesta cidade, nos
três dias que aqui estiveram. Assemelham-se muito ao espírito do meu caríssimo Pai.
[fevereiro de 16401]
Senhor Padre,
apresentamos, quando da proposta que sua bondade nos fez. Aguardaremos com afeto
os favores que nos faz esperar.
44
Bernardo Codoing.
.
Carta 432. – Manuscrito São Paulo, p. 33. Este manuscrito acrescenta uma frase que omitimos, porque pertence à
carta 213.
11
Em fevereiro de 1640, São Vicente aguardava Luísa de Marillac, então em Angers, para tratar com ela da obra dos
forçados que ia ser confiada às Filhas da Caridade (Cf. Carta 426, nota 3). Nenhuma outra data convém melhor a esta
carta da qual o Manuscrito São Paulo nos conservou o trecho acima.
.
Carta 433. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
28 de fevereiro.
22
Secretário de propaganda.
Louvo a Deus, além disso, pela caridade que ele prestou por vosso intermédio ao
senhor Cônego de Notre-Dame da Rotunda3. Penso que é necessário satisfazê-lo da
maneira como desejar, na questão de que me falais, se for consideravelmente útil. No
início, a gente se acomoda da maneira como é possível. Mas, se as condições vos
parecerem prejudiciais, ó Jesus, senhor Padre, ele não levará a mal se lhe disserdes com
sinceridade o que podemos e o que não podemos.
Seria muito de se desejar que o negócio de Sainte-Bibiane 4 tenha êxito. Mas a
coisa é por demais difícil: Notre-Dame de Loreto Marquesana 5 é cara e mais ainda o
palácio onde mora o Cardeal Bichi 6. Não sei o que vos dizer sobre a pequena igreja de
Saint-Jean7, porque não me dizeis o preço. Quanto ao preço de Notre-Dame de Loreto e
o do palácio de Bichi, estão acima de nossas forças. Não convém pensar na ajuda que
propondes a respeito do palácio. Volto ao que vos escrevi sobre uma pequena casa bem
arejada, não muito distante do Vaticano, que poderíamos, contudo, aumentar com o
tempo. E mesmo se não fosse tão próxima deste santo lugar e ali não houvesse igreja,
não importaria. Com efeito, não trabalhando em Roma, podemos passar sem igreja.
Bastará uma pequena capela, a não ser que haja possibilidade, com o tempo, de
trabalhar com os ordinandos. Mas cada coisa a seu tempo. Atualmente, somos
encarregados de todos aqueles do reino da França que recebem as ordens nesta cidade.
Não vos digo nada sobre nossa principal questão, a não ser que me encontro em
perplexidades diante das dúvidas que me sobrevêm e a resolução a tomar sobre a última
maneira que vos propus. Primeiramente, se bastaria um voto de estabilidade. Para a
observância da pobreza e da obediência, fulminaríamos a excomunhão, solenemente,
num certo dia do ano, durante o (ao qual todos seriam obrigados a comparecer e
entregar nas mãos do superior o que tiverem) contra os que guardarem dinheiro, à parte,
consigo mesmos ou alhures. Assim procedem os Cartuchos. Faríamos o mesmo com os
desobedientes. Outra alternativa seria, em vez de excomunhão, mandar fazer juramento
solene, todos os anos, de observar a regra da pobreza, da castidade e da obediência.
Suplico-vos, senhor Padre, informar-vos com o R. P. assistente8 a fim de saber se apenas
o voto de estabilidade bastaria para constituir no estado religioso. Todo mundo aqui tem
tanta aversão a este estado que faz dó. Se, não obstante, ele for julgado útil e
conveniente, será preciso fazê-lo. A religião cristã era outrora contestada em toda parte.
E, no entanto, era o corpo místico de Jesus Cristo. Bem-aventurados aqueles que,
confusione contempta, [desprezando a humilhação], abraçam este estado.
O estado eclesiástico secular recebe muito de Deus, neste momento. Dizem que
nossa humilde Companhia contribuiu muito para isto, por causa do trabalho com os
ordinandos e com o grupo dos eclesiásticos de Paris. Há muita gente qualificada que
33
O Panteão atual. O cabido da Rotunda existe ainda.
44
Igreja edificada no IVº século no local ocupado, outrora, dizem, pela casa de Santa Bibiana, não longe da porta
San-Lorenzo.
55
Igreja construída em 1507, pela Confraria dos Padeiros, ao norte do fórum de Trajano. O santuário tão conhecido
de Notre-Dame de Loreto fica em Marches. Daí a palavra Marquesana, empregada aqui por São Vicente.
66
Antigo Núncio na França.
77
Havia em Roma várias igrejas com este nome. Pensamos que aqui se trata da igreja de São João diante da Porta
Latina, edificada em 772, perto do lugar onde, conforme a tradição, São João Evangelista foi mergulhado numa
caldeira de óleo fervendo.
88
O assistente francês da Companhia de Jesus.
abraça, no presente, este estado. O Senhor de La Marguerie 9, antes primeiro presidente
da província, se fez simples padre, há apenas dez dias. Temos, entre os ordinandos, um
Conselheiro do grande Conselho e um chefe do Tribunal de Contas – que quer
permanecer como tal1010– que se tornam simples padres, por devoção; o Senhor de
Mégrigny, advogado geral no Tribunal de Impostos1111, se retirou com o senhor
Brandon1212 para Saint-Maur1313, com o mesmo intuito. Nós não pudemos recebê-lo em
nossa casa por seis meses, conforme pedia, por causa da regra que temos, como sabeis,
entre nós, de não admitir conosco senão as pessoas que desejam pertencer à Companhia,
exceto os que querem fazer o retiro espiritual, por dez dias.
Que vos direi da conversa que tivestes com o senhor Embaixador 1414, a respeito
do prelado italiano de que me faláveis, a não ser que estabelecemos como regra e nos
mantemos na prática exata, pela misericórdia de Deus, de jamais nos imiscuir nos
negócios do Estado, e de nem mesmo falar sobre eles1515. E isto, pelas seguintes razões:
1º: Porque quod supra nos nihil ad nos (não temos nada a ver com o que está
acima de nós).
2º: Porque não compete a pobres padres, como nós, intrometer-nos e nem falar a
não ser das coisas que dizem respeito a nossa vocação.
3º: Porque os negócios dos príncipes são mistérios, que devemos respeitar e não
investigar ou esquadrinhar.
4°: Porque a maior parte das pessoas ofende a Deus, ao fazer juízo sobre as
coisas feitas pelos outros, em especial pelos grandes, sem conhecer as razões pelas quais
fazem o que fazem. Com efeito, quem ignora os princípios que comandam certos atos,
que conclusão pode deles tirar?
5º: As ações a empreender são problemáticas, a não ser as que a Sagrada
Escritura determina. Fora disto, ninguém tem o dogma da infalibilidade em suas
opiniões. Sendo isto verdade, como de fato o é, não é grande temeridade julgar as
opiniões e as ações dos outros?
6º: O Filho de Deus, modelo pelo qual devemos pautar nossa vida, se calou
sobre o governo dos príncipes, embora pagãos e idólatras.
7º: Nosso Senhor instruiu os apóstolos para não se imiscuirem com curiosidade,
não somente nos negócios dos príncipes, mas também nos de uma pessoa particular. Ele
99
Elias Laisné, Senhor de La Marguerie.
1010
Thomás le Gauffre, nascido em Grand-Lucé (Sarthe), recebido como auditor no Tribunal de Contas em 1628 e
Conselheiro-chefe em 1636, falecido em 1645. Era amigo de Claudio Bernard, cujas obras de caridade ele continuou,
e de Jean Jacques Olier a quem muitíssimo ajudou na evangelização do Canadá.
1111
Francisco Voysin, Senhor de Villebourg, nascido a 14 de março de 1613, admitido como Conselheiro no
Conselho-Mor a 22 de fevereiro de 1638, morto de apoplexia, a 19 de abril de 1660. Legou cerca de 100000 escudos
para o Hospital Geral.
1212
Feliberto Brandon, Senhor du Laurent, admitido como Conselheiro no Parlamento, a 18 de fevereiro de 1622.
Deixou este cargo depois da morte de sua mulher Maria de Ligny, sobrinha do Chanceler Séguier, para entrar no
estado eclesiástico, a conselho do Padre Condren. Foi um dos fundadores do seminário São Sulpício. Feito Bispo de
Périgueux em 1648, depois de recusar a diocese de Babylone, que lhe propunha São Vicente. Ocupou a Sé de
Périgueux até a morte, em 11 de julho de 1652. Suas relações com o abade de Saint-Cyran não lhe afetaram a
ortodoxia.
1313
Saint-Maur-les-Fossés (Seine), onde os Beneditinos de Saint-Maur possuíam uma abadia.
1414
Francisco Annibal, Duque d’Estrées, Conde de Nanteuil-le-Haudoin, Par e Marechal de França.
1515
São Vicente só saiu desta prática para tentar remediar as misérias sem número da política de Mazarino (Nota do
tradutor: ele reflete a mentalidade do tempo e uma certa teologia da “sacralidade” do poder e da autoridade).
disse a um deles, falando de um outro: si eum volo manere, quid ad te? (se quero que
ele permaneça, que te importa?).
Por todas estas razões e uma infinidade de outras, suplico-vos, senhor Padre,
manter-vos em nossa pequena prática de jamais nos entreter, menos ainda de nos
intrometer, nem por palavras, nem por escrito nos negócios dos príncipes. Dai a
conhecer ao senhor Embaixador, se vos fizer a honra de vos falar sobre isso, que tal é a
prática de nossa pequena Companhia. Suplicai-lhe vos desculpe se, ao vos honrar,
abrindo-se a vós, lhe referistes os sentimentos do público sobre o negócio do qual vos
falava e fostes além do que devemos, seguindo nossas pequenas regras. E para vos
firmar cada vez mais na observância exata desta pequena regra, peço-vos, senhor Padre,
no dia seguinte ao recebimento desta, ou quanto mais cedo após, fazer a oração sobre
esta matéria, atento aos pontos acima e pedir a Deus para a Companhia a graça de ser
sempre fiel à observância desta pequena regra.
Não é necessário mandar-me alguma resposta sobre este assunto. Estou certo de
que estais de acordo com tudo que vos estou dizendo e que vale a pena observar esta
prática.
Logo que obtiverdes a faculdade de fundar nossa casa, enviar-vos-ei o padre e o
clérigo que pedis. Se comprardes uma casa por três a quatro mil libras somente, deveis
enviar-nos a cópia do contrato, assinada e selada, nos devidos termos, a fim de servir de
garantia para aqueles que nos fornecerão o dinheiro, e para saldarmos a letra de câmbio
que tirareis em nosso nome, dentro do espaço de um mês do recebimento da letra.
Quanto a este jovem piemontês, nós o receberemos e o faremos estudar, se no-lo
enviardes e o julgardes apto para ser um bom missionário.
Envio-vos uma procuração do senhor Padre Dehorgny, comendador do Espírito-
Santo de Toul, para resignar a casa em favor da Companhia causa unionis1616 (por
causa da união). Segue junto um atestado do senhor Vigário Geral de Toul, para o
mesmo fim.
Suplico-vos, senhor Padre, trabalhar nesta questão com vossa habitual prudência
e diligência. O senhor Padre Le Bret vos relatará a dificuldade por que passa este
negócio, por causa da oposição que tendes motivo de temer da parte do comando geral
do Espírito-Santo1717.
Termino a presente para ir ver o bom Padre Renar, que manda chamar-me. Ele
está grave e perigosamente doente.
Deus dispôs do nosso bom padre de Montevit, que vós conhecestes no
seminário. Sua morte aconteceu em Bar-le-Duc, com fama de santidade, no colégio dos
Jesuítas. Eles nos fizeram a caridade de o acolher na casa deles, junto com os outros
padres, enquanto ele trabalhava para alimentar corporal e espiritualmente quinhentos ou
seiscentos pobres. Estes últimos o acompanharam até o túmulo, dois a dois, vela na
mão, chorando como se o morto fosse o próprio pai. O R. P. escreveu-me coisas
admiráveis sobre o fato1818. O senhor Padre Boucher está no seu lugar e caiu também
doente, por causa do grande trabalho que assumiu no meio dos pobres. Nosso Irmão
1616
Ver carta 293, nota 1.
1717
Estêvão Vaius, bispo in partibus de Cyrène, grão-mestre da Ordem do Espírito-Santo.
1818
Trata-se da carta 429.
Mateus voltou ontem à tarde de Metz, Toul e Verdun, tendo enviado sua encomenda a
Nancy. Continuamos a dar assistência a esse pobre povo, com quinhentas libras por
mês, a cada uma das referidas cidades. Infelizmente, senhor Padre, receio muito não
poder continuar por muito tempo. É tanta a dificuldade de arranjar 2500 libras todos os
meses1919.
Recomendo a vossas orações nosso falecido e nosso doente, como também as
necessidades dos nossos pobres. Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso
muito humilde servo,
Alinhavei, às pressas, o que o senhor Dom Ingoli pede. Mas está tão mal que
tenho vergonha de vo-lo enviar. Peço-vos, senhor Padre, corrigi-lo e entregar-lho,
assegurando-o de minha obediência.
Senhor Padre,
1919
O Irmão Mateus Régnard fez cinquenta e três viagens a Lorena, levando de cada vez somas variando de 20.000 a
50.000 libras, espreitado por bandos de ladrões atentos à sua passagem e cientes do que levava. Sempre chegou ao
seu destino com seu tesouro. Sua companhia era considerada uma salvaguarda. A Condessa de Montgomery, que
hesitava em fazer a viagem de Metz a Verdun, só se decidiu depois de conseguir o Irmão Mateus como
acompanhante no caminho. A rainha Ana d’Austria escutava com prazer, dos próprios lábios do irmão, o relato de
suas aventuras. Ele deixou por escrito o relatório, hoje perdido, de dezoito perigos dos quais escapou (collet, op. cit.,
t. I, p. 319, em nota).
.
Carta 434. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
A questão dos votos.
22
O Cardeal Richelieu.
coisas estiver um pouco mudado, ele poderá escrever a respeito. Não deixareis, contudo,
de propor a questão como é, cujo projeto vos peço mandar-me.
Quanto ao segundo ponto, estou muito contente com o que o senhor Padre Le
Bret, segundo me dizeis, tratou com o vice-gerente e penso ser bom não perder tempo
com isso.
Quanto às igrejas e ao alojamento, nós somos muito pobres para pensar em
Notre-Dame de Loreto. Penso ser necessário ater-nos ao que vos escrevi: comprar uma
pequena casa, a preço módico, contanto que haja um jardim e num local onde seja
possível expandir, com o tempo.
Meu Deus! Que faremos quanto ao câmbio? Vou procurar saber se é possível
enviar o dinheiro por algum navio de Marselha. Fazei o mesmo.
Vejo grandes dificuldades na oferta da Rotunda. Agradecei com afeto a este
senhor que no-la fez.
Escrever-vos-ei em seguida sobre os pareceres a respeito dos casamentos
inválidos.
Suplico-vos, entretanto, comunicar ao senhor Cardeal Bagni o que tive a ventura
de lhe dizer de outra vez: espero que ele aprovará um dia o que lhe pedimos.
E agora vos rogo, senhor Padre, como fiz na carta anterior, observar com
exatidão nosso pequeno regulamento de não nos entreter sobre questões de Estado e de
mortificar a curiosidade de saber e se entreter sobre negócios do mundo. Um de nossos
irmãos que vai e vem, levando dinheiro para os pobres de Lorena, me disse ficar
encantado e cheio de alegria quando está aqui, por jamais ouvir falar de notícias de fora.
Ele fica muito espantado com o uso contrário, nas comunidades religiosas por onde
passa. O senhor Padre Coudray me escreveu a mesma coisa de Toul, e que é preciso
manter esta prática preciosa e observá-la.
Bom dia, senhor Padre, sou v. s.
Na última distribuição de pão que fizemos, estavam presentes mil cento e trinta
e dois pobres, sem contar os doentes, muito numerosos e que nós assistimos com
alimentação e remédios adequados. Todos rezam pelos benfeitores com tão grande
sentimento de gratidão que chegam alguns a chorar de ternura, até mesmo ricos que se
tocam com isto. Não creio que estas pessoas por quem se oferecem a Deus tantas e tão
.
Carta 435. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. XI, sec. I, 1º ed., p. 380.
11
O que escreveu a carta 430.
frequentes preces, venham a se perder. O pessoal da cidade louva muito estas
caridades e diz altamente que vários teriam morrido sem estes socorros, expressando
publicamente o reconhecimento que têm para convosco.
Um pobre suíço abjurou, há alguns dias, sua heresia e depois de ter recebido os
sacramentos, morreu muito cristãmente.
[Antes de 1642]
À pergunta que lhe foi feita se há lugar, no fim das missões, para solicitar
testemunhos do trabalho realizado e dos frutos obtidos, o Santo responde:
“... que fariam bem em nada pedir. Basta que Deus lhes tenha conhecido as boas
obras e que os pobres tenham sido aliviados, sem querer levantar outros testemunhos1.
Senhora,
.
Carta 436. – Collet, op. cit., t. I, p. 292.
11
Collet anota que São Vicente mudou de opinião depois, e remete quanto a isto, a uma carta de 21 de janeiro de
1642.
.
Carta 437. – C. aut. – Original em Paris, na casa das Filhas da Caridade da rua du Fauconnier, 11.
11
Datas da instituição dos Meninos Expostos e do casamento de Michel Le Gras.
22
Estas palavras e a assinatura foram inabilmente cortadas quando quiseram reduzir o original às dimensões do
quadro que o contém.
Vicente de Paulo.
Vendo as cartas que chegam da Lorena, enviadas por vós ao senhor Padre N., e
que ele me mostrou, preciso confessar-vos que não pude lê-las sem derramar lágrimas,
e com tal abundância que fui obrigado a interromper várias vezes a leitura. Louvo a
nosso bom Deus pela sua paterna providência sobre suas criaturas e rogo-lhe continue
a dispensar suas graças sobre os vossos padres que se dedicam a essa tarefa divina.
Resta-me a tristeza de ver esses obreiros caridosos conquistando o céu e levando tantos
outros a conquistá-lo, enquanto eu, em minha miséria, nada faço a não ser rastejar
sobre a terra como um animal inútil.
Senhora,
Não me lembrei ontem, quando vos disse que iria hoje a vossa casa 2, que tinha
ordem do senhor Arcebispo3 de me encontrar hoje com Madame Duquesa de Aiguillon
em Rueil, juntamente com o senhor de Saint-Leu 4. Vede o que for melhor, ou dar outra
ordem às filhas ou que vá falar-lhes o senhor Padre Dehorgny ou o Padre Soufliers, e
qual dos dois. Desejo-vos bom dia e sou, Senhora, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
.
Carta 438. – Abelly op. cit. 1.II, cap. XI, sec. I, 1º ed., p. 378.
11
Tempo durante o qual os padres da Missão se aplicaram ao socorro da devastada Lorena.
.
Carta 439. – C. aut. – Original com as Filhas da Caridade de Saint-Méen.
11
O lugar das palavras “Quinta-feira de manhã” e a presença simultânea em Paris de Jean Dehorgny e Francisco
Soufliers não permitem colocar esta carta fora desta data.
22
Provavelmente para fazer a conferência.
33
João Francisco de Gondi.
44
André du Saussay.
440. – A LUÍSA DE MARILLAC
Senhora,
Vicente de Paulo.
Senhora,
Não me dissestes onde se encontra o senhor Padre de Vause. Não vos parece
conveniente o convidemos para vir almoçar aqui em casa? Gostaria que preparásseis
.
Carta 440. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
O lugar assinalado, “São Lázaro”, não permite recuar a carta para antes de 1639. Por outro lado, esta carta é
anterior à morte de Adriano Le Bon, Prior de São Lázaro.
22
Adriano Le Bon.
33
Luís é uma moeda antiga.
.
Carta 441. – C. aut. Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Antes de 1639, as irmãs ainda não estavam em Richelieu. Em 1641, irmã Perrete já fazia parte da comunidade.
esse encontro para quinta-feira. Se não for possível, vou procurar vê-lo na sua própria
residência.
Será bom dizer a essa filha de Angers venha direto para aqui. Talvez ela não
encontrasse prontas as de Richelieu, ou estas já teriam partido.
Vi ontem a sobrinha de nossa irmã Henriette 2. Já que as coisas aconteceram
desta maneira, é bom fazer uma experiência com ela. Escreverei ao senhor Bispo de
Beauvais3, no caso de levarem-na à justiça.
Não tenho mais nem congestão, nem febre, pois assim apraz a Deus. Vou sair
logo agora. Procurarei ter a ventura de vos ver, num dia desta semana.
Vosso servo,
Vicente de Paulo.
[Cerca de 16402]
Entre as pessoas que fizeram sua confissão geral posso afirmar-vos que havia
mais de 1500 que jamais tinham feito uma boa confissão. Além disso, a maior parte
tinha permanecido na miséria de enormes pecados, durante dez, vinte e trinta anos, os
quais declararam singelamente que nunca os teriam confessado a seus pastores e
confessores ordinários. A ignorância era grande. Mas ainda maior a malícia. A
vergonha que tinham de declarar seus pecados chegava a tal ponto que alguns deles
não se decidiam a expô-los, nem mesmo nas confissões gerais feitas aos missionários.
Mas afinal, tocados vivamente pelo que ouviam nos sermões e nos catecismos,
acabavam se rendendo, e revelavam com sinceridade suas faltas, com gemidos e
lágrimas.
22
Irmã Perrete, que foi mais tarde colocada em Cerqueuse (Calvados). “É uma filha muito boa, escrevia dela Luísa
de Marillac (Cartas, 1. 328); nunca existiu mais submissão, pelo menos, não maior”
33
Agostinho Potier.
.
Carta 442. – Abelly op. cit., 1,II, cap. I, sec. I 1ºed., p.2.
11
“Um eclesiástico de condição e virtuoso, que tinha assistido e mesmo trabalhado”, diz Abelly, na missão cujos
frutos descreve, acontecida num grande povoado de Anjou.
22
Abelly escrevia em 1664 que esta carta remontava a “mais de 20 anos”.
.
Carta 443. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Madame,
Vicente de Paulo.
Terei a honra de vos avisar, quando for o tempo, para que vossa caridade tenha a
bondade de ir ver esses senhores, dos quais vos mandarei a lista.
44
Na obra da assistência à nobreza lorenense refugiada em Paris, São Vicente teve como principal auxiliar o barão de
Renty, um cristão como poucos se encontram. Foi muito feliz a ideia do Santo de levar, pelos seus pares, ajuda aos
nobres reduzidos à indigência, sem recorrer às Damas da Caridade, já muito sobrecarregadas. Resolveu-se, logo na
primeira assembleia, estabelecer o número e a qualidade dos nobres lorenenses necessitados, refugiados em Paris. O
Senhor de Renty fez a pesquisa. As reuniões se faziam em São Lázaro, no primeiro domingo de cada mês. Elas
continuaram até o fim das perturbações, durante cerca de sete anos, sempre com o mesmo zelo e o mesmo êxito. Sete
ou oito nobres fidalgos participavam delas. Eles iam pessoalmente levar aos refugiados os socorros e uma palavra de
consolação. Quando a paz permitiu aos nobres voltarem às suas terras, a assembleia os ajudou com suas esmolas a
fazer a viagem e a subsistir, durante algum tempo (Cf Abelly, op. cit., t.I, cap. XXXV, p. 167; Maynard, op. cit., t.IV,
p. 128).
55
Comissários nomeados pelo rei, depois da Declaração de 19 de abril de 1639, para procederem à procura, taxa, e
liquidação dos direitos de amortização.
66
Jacques-Raoul de la Guibourgère, nascido em 1589, era viúvo de Yvonne de Charette e pai de vários filhos quando
recebeu as ordens sagradas. Subiu, em 1631, à sede episcopal de Saintes, ocupada antes pelo seu tio. Passou depois
para Maillezais e enfim para La Rochelle, quando a sede episcopal foi transferida para lá. Poucos bispos foram tão
intimamente ligados a São Vicente quanto ele. Morreu em 1661.
445. – A JEAN DE FONTENEIL
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
Não sou capaz de vos agradecer com suficiente humildade e afeição pelas
inigualáveis bondades que incessantemente dispensais aos nossos missionários e a mim.
Rogo a Nosso Senhor o faça por mim, minha querida Madre, e que seja ele vossa
.
Carta 445. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
Benoît Bécu.
22
Sainte-Livrade é hoje sede central da região, em Lot-et-Garonne.
.
Carta 446. – C. aut. – Original no convento da Visitação de Montluel.
recompensa. Vós lhe forneceis móveis, minha cara Madre: praza à bondade de Deus
seja ele mesmo a mobília e o ornato precioso de vossa querida alma, para que brilhe
como um sol, no céu como na terra!
Estamos em dívida, como sempre, e em falta, por não vos ter escrito, há mais
tempo. A única causa, me parece, é a espera para vos escrever sobre a última resolução
a respeito da questão do visitador, e isso, de semana em semana. Mas [as dificuldades] 1
e a importância da questão manterão ainda em suspenso o andamento do caso, por oito
ou dez dias somente2.
Pensamos que é conveniente, entretanto, dizer-vos, minha cara Madre, que o
senhor Comendador vos enviará o senhor Padre Roton, seu capelão, dentro de dez ou
doze dias, no mais tardar, com a última deliberação que deve tomar com Sua
Excelência, o senhor Arcebispo de Sens. Como o dito senhor Comendador vos explicará
sucintamente o estado da coisa, não vos direi nada sobre isso a não ser: 1º que
conhecemos cada vez mais a utilidade do visitador, para uma visita em caso de
necessidade; 2º que pensamos ser conveniente tenha ele o poder que os santos cânones
atribuem a um visitador, independentemente dos Ordinários, e use dele, sem, contudo,
mudar nada nas regras, com todo respeito, ponderação e deferência possíveis; 3º que se
vós, minha querida Madre, escreverdes aos... (vereis?) que eles agiram da mesma
maneira, ou, pelo menos, alguns que conheço, com a Congregação das Filhas de Notre-
Dame3, a respeito do boato de uma bula que sua fundadora mandou escrever sobre
alguma coisa referente ao fato em questão; 4º que o remédio único é que...; 5º que é
mais oportuno deixar as coisas como estão e entregá-las à conduta da Santa Providência
do que proceder de outro modo; 6º que nossa digna Madre é a única pessoa à qual,
pensamos, Nosso Senhor dará a conhecer sua santa vontade, como fundadora desta
santa ordem. Sua divina bondade comunica às pessoas com essa qualidade as luzes
importantes sobre a obra que lhes confiou.
Eis, minha querida Madre, os meus pontos de vista, que vou antes conferir com
muito cuidado com o senhor Arcebispo de Sens4.
Fiz a visita na cidade e nos subúrbios 5. Vou fazer-vos um relato de como vão as
coisas, na carta que vos enviarei pelo senhor Padre Roton.
Volto aos vossos missionários6. Dir-vos-ei, minha querida Madre, que me parece
que Deus vos deu de imediato um discernimento tão claro como se os tivésseis educado.
Ó minha querida Madre! Vós sois minha mãe e a deles, e como os considero felizes por
estarem convosco. Sou igualmente feliz, pois vossa caridade me cerca de tanta bondade,
11
Palavras de leitura duvidosa.
22
São Vicente, o Comendador de Sillery e Octave Saint-Lary de Bellegarde, Arcebispo de Sens, tinham a missão de
estudar em conjunto duas questões de muita importância para a Ordem da Visitação: se convinha nomear Visitadores
e, no caso, como delimitar-lhes os poderes.
33
As irmãs hospitaleiras da Caridade de Notre-Dame, fundadas em Paris, em 1624, pela Madre Francisca da Cruz. A
autoridade eclesiástica, antes de aprovar-lhes as constituições, tinha confiado o exame delas a São Vicente, ao Padre
Binet e ao Padre Vigier.
44
Procuraram tornar ilegíveis no original, sobrecarregando-o de rabiscos, as linhas que precedem, desde L’unique
cause, si me semble (A única causa, me parece...). Omitimos duas passagens que não fomos capazes de decifrar.
55
Nos mosteiros da cidade e do entorno.
66
Os padres da Missão de Annecy.
a mim, que sou no amor de Nosso Senhor, minha muito digna Madre, vosso muito
humilde e muito obediente servo,
Vicente de Paulo.
Viva Jesus!
Recebemos vossa carta de 14 de maio com muito atraso. Crede que o afeto e o
desejo que Deus nos deu de querer bem e prestar serviços a vossos caros filhos não
produzem [efeito] algum comparável ao nosso amor. Gostaríamos de ter o poder de
fazer mais. Mas eles são tão bons que fazem caso de pouca coisa. De resto, a santa
edificação e a utilidade de suas vidas, os trabalhos contínuos para a maior glória de
Deus e o proveito das almas levam a dizer a cada um que são enviados de Deus e que o
Padre Codoing tem o espírito de Deus.
Nosso bom padre, o senhor Comendador2, me escreve que, se for preciso,
cuidará que a casa de Troyes envie ainda dois padres e um irmão. Deus sabe como o
bom coração do senhor Bispo de Genebra3 o aceitará. Esta diocese, com efeito, tem
quatrocentas e cinquenta e cinco paróquias católicas e cento e quarenta e cinco com os
hereges, seiscentas no total, grandes paróquias e muito populosas. Por isso, o senhor
Padre Codoing fala que seriam necessarios quatro anos para percorrê-la. Vede, meu
caríssimo Padre, se o reforço da equipe não seria bem empregado. Vossos caros filhos
estão extasiados por encontrar um povo tão bem disposto. Glória seja dada à
Santíssima Trindade! Oh! como é grande a coroa que vos está preparada, meu
caríssimo Padre, e ao nosso caríssimo Pai, o senhor Comendador, pelo bom uso que
faz desses fiéis obreiros!
Penso que esta missão daqui levará mais almas para o paraíso do que várias
outras, pela graça de Deus.
.
Carta 447. – Santa Joana Francisca Frémoyt de Chantal, sua vida e suas obras, t. VIII, p. 282, carta 1709.
11
Esta carta responde à de 14 de maio.
22
O comendador de Sillery.
33
Justo Guérin.
448. – A LUÍS LEBRETON
Senhor Padre,
.
Carta 448. – Dossiê de Turim, original.
11
O pontificado de Urbano VIII (1623-1644).
22
Julio Mazarino, nascido em Pescina, nos Abruzes, em 1602, tinha, na juventude, estudado na Espanha e servido no
exército do Papa. Logo ao ingressar no estado eclesiástico (1632), foi investido de cargos importantes. Vice-legado
de Avinhão (1634) e depois Núncio na França (1634-1636), demonstrou nestas funções a habilidade e a
maleabilidade dos mais finos diplomatas. Antes de morrer, Richelieu o recomendou ao rei Luís XIII.
Que vos direi sobre a proposta de Dom Ingoli 3? Nada, por certo, senhor Padre, a
não ser que a acolho com toda a reverência e humildade possíveis, como vinda de Deus.
Faremos o possível para atendê-la. Mas não temos em nenhuma das duas companhias
ninguém do Condado de Avinhão. Não obstante, parece-me ser absolutamente
necessário que o bispo e os dois que o devem acompanhar sejam da mesma companhia.
Celebrei a santa missa depois do que ficou escrito acima. Eis o pensamento que
me sobreveio: como o poder de enviar ad gentes pertence na terra só a Sua Santidade,
ele pode por conseguinte enviar qualquer eclesiástico por toda a terra, para a glória de
Deus e a salvação das almas, e todos lhe devem obediência. Segundo esta máxima,
verdadeira a meu ver, ofereci a Deus esta pequena Companhia, que se coloca em
disponibilidade para com sua Divina Majestade, no sentido de ir para onde Sua
Santidade o ordenar.
Creio porém, como vós, ser necessário que Sua Santidade haja por bem que a
direção e a disciplina dos enviados pertença ao Superior Geral, com a faculdade de
chamar de volta e de enviar outros no lugar. Tudo isso, contudo, de tal sorte que sejam,
em relação a Sua Santidade, como os servidores do Evangelho em relação ao seu patrão,
se Sua Santidade disser: Ide para lá, serão obrigados a ir; Vinde para aqui, eles virão;
Fazei isso, e eles serão obrigados a fazê-lo4.
Temos poucos na Companhia com os talentos necessários a uma missão de tal
importância. Mas há alguns5, pela graça de Deus.
Não pude falar com Sua Eminência6 sobre o negócio do Padre Le Bret.
Entender-me-ei com a Madame Duquesa de Aiguillon, sua sobrinha. Saúdo o padre Le
Bret com todo respeito possível e sou muito humilde servidor dele e vosso,
Vicente de Paulo.
Junho de 1640.
33
Pensamos que se trata aqui da Missão da Pérsia. Foi realmente em junho de 1640 que o novo Bispo de Babilônia,
Jean Duval, com o nome religioso de Bernardo de Santa Tereza, da ordem dos Carmelitas descalços, deixou a França
com destino a Ispahan, aonde chegou a 7 de julho com três religiosos de sua ordem. Monsenhor Ingoli, secretário da
Propaganda, tinha pedido a São Vicente para dar ao prelado dois auxiliares.
44
Alusão ás palavras do centurião a Jesus, no evangelho de Mateus (Cf Mt 8,9) (nota do tradutor).
55
São Vicente tem em vista especialmente, cremos, o Padre Lambert aux Coutaux, que ele proporá, por exemplo,
mais tarde, para a coadjutoria de Babilônia.
66
O Cardeal de Richelieu.
.
Carta 449. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. I, sec. II, § 4, 1ªed., p. 34.
Prouvesse a Deus pudésseis ver o íntimo do meu coração. Na verdade eu vos
amo e honro com toda a extensão de meu afeto. Eu me confesso o maior devedor de
todos os homens do mundo à vossa caridade, pelos grandes benefícios e pelos frutos
que os senhores padres missionários, vossos queridos filhos em Deus, produzem em
nossa diocese. Eles são tais que não consigo exprimi-los e só poderão acreditar neles
quem os vir. Fui testemunha ocular deles, por ocasião da visita que comecei depois da
Páscoa. Todos os amam, lhes querem bem e os louvam a uma só voz. Na verdade,
senhor Padre, a doutrina deles é santa, como a sua maneira de viver. Dão a todos
grande motivo de edificação, por sua vida irrepreensível.
Terminada a missão numa aldeia, partem para outra e o povo os acompanha,
derramando lágrimas e dizendo: “Ó bom Deus! Que faremos nós? Nossos bons padres
vão embora”, e por muitos dias vão ainda procurá-los em outras aldeias.
Pessoas de outras dioceses vêm se confessar com eles e acontecem admiráveis
conversões por meio deles. Seu superior 1 tem grandes dons de Deus e um maravilhoso
zelo pela sua glória e pela salvação das almas. Prega com grande fervor e fruto. Com
certeza, somos extremamente reconhecidos ao senhor Comendador de Sillery por ter
provido ao seu sustento. Oh! como é admirável a divina Providência por ter inspirado
suavemente, no coração deste bom senhor, arranjar-nos esses obreiros evangélicos!
Foi o bom Deus que fez tudo isso, sem intervenção de persuasão humana alguma,
levando em conta nossa necessidade e a má vizinhança em que estamos da infeliz
cidade de Genebra.
Senhora,
V. D.
11
Bernardo Codoing.
.
Carta 450. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Datas extremas da permanência de Luísa de Marillac em La Chapelle.
451. – SANTA JOANA DE CHANTAL A SÃO VICENTE
Meu Deus! Meu verdadeiro e muito querido Padre, seria possível que meu Deus
me fizesse a graça de vos trazer por esses nossos lados! Seria a maior consolação que
poderia receber neste mundo. E me parece que seria por uma especial misericórdia de
Deus para com minha alma. Ficaria aliviada de modo inigualável, a meu ver, acima de
qualquer sofrimento interior de que padeço, há mais de quatro anos, e que me serve de
martírio.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
padre da Missão.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 456. – Original com os padres da Missão da casa Saint-Sylvestre, em Roma.
.
1,1
O presidente Trélon, sobrinho do Comendador de Sillery (Cf. 1, 452).
22
Os arquivos dos padres da Missão possuem ainda vários destes recibos, todos do ano de 1647.
essa instrução: devem seguir inteiramente a ordem que vos foi dada pelo referido
Senhor de Villarceux; e peçam recibo de tudo que derem, porque precisamos estar
seguros de que não se desvie, nem se aplique em outras partes um centavo sequer, seja
qual for o pretexto.
Enviar-me-eis, por favor, pelo ir. Mateus, uma cópia dos documentos, assinada
pelo Senhor de Villarceux e de seu oficialato, se o houver. Comunicai-me igualmente,
todos os meses, as somas que tiverdes distribuído ou dado ordem para distribuir em
outras partes. Jamais se viu ordem mais rigorosa, que se exige e se quer observada.
Não me dizeis nada sobre o número dos pobres dos campos, migrados para a
cidade e arredores, para os quais fazeis a distribuição. Todos os meses apresento às
generosas Damas o que se faz nos outros lugares. Só de Toul não pude fazê-lo, desde há
muito. Isso lhes dá grande satisfação. No sábado passado, empregamos duas ou três
horas examinando as outras cartas, com indizível consolação da parte delas.
Eis, senhor Padre, o que vos tenho a dizer no momento. Peço-vos cuidar de
vossa saúde. E isto vos peço com todo afeto que me é possível em Nosso Senhor. No
seu amor e de sua santa Mãe, sou, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
.
Carta 457. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
O R. P. Roussel.
22
Davi Levasseur, Irmão Coadjutor, nascido em Dancé (Orne) em 1608, recebido na Congregação de Missão a 2 de
janeiro de 1638. A carta 429 faz um belo elogio dele.
Antes de partir, pedi recibo de todo dinheiro que tiverdes dado às religiosas e
entregai-os ao Padre Dupuis. Despedi-vos do senhor governador3, dos senhores
presidente da câmara4 e de seus almotacéis, assim como de outros principais habitantes.
Apresentai-lhes e recomendai-lhes o senhor Padre Dupuis. Quanto ao senhor Padre
Batista5, conversaremos aqui, onde vos espero com o coração que Nosso Senhor
conhece, no amor do qual e no de sua santa Mãe, sou vosso servo,
Vicente de Paulo.
Senhora,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 459. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
choque entre estas duas pessoas! Que faremos diante disso? Não viria a propósito
convencer aos dois de sua falta e especialmente ao Padre Benoit1, aproveitando a
ocasião para fazer uma conferência sobre a importância de jamais falar das pessoas com
os externos, nem das coisas que se passam na comunidade? Foi a causa do que
aconteceu em La Rose. O monsenhor Vigário-geral, ao que me disse o senhor Padre
Savinier, com seus pequenos artificios utilizados para se insinuar nos espíritos, neles
penetrar e tornar-se necessário a eles, fez com que ele 2 procedesse assim e que as coisas
chegassem a tal ponto. Oh! não, nunca se deve falar fora do que acontece dentro de
casa. Não será bom, no final da conferência, que obtenhais uma promessa pública de
toda a comunidade, no sentido de que ela se dê a Deus para proceder deste modo?
O Padre Savinier está aqui. Presto-lhe a melhor acolhida 3 que posso. Tem grande
vontade de voltar para o lugar donde veio e passar na casa dele 4. Manifestei-lhe os
inconvenientes de uma e outra coisa e me mantenho firme. Veremos.
Que faremos entretanto em favor desse lugar5? Vejo claro que é necessário outro
superior6 e um padre no lugar do Padre Gautier7. Temos um, na medida, para o caso.
Que vos parece se colocarmos o Padre Cuissot nesse lugar, para a direção e o
Padre Chiroye8 em Luçon9? Estou achando difícil fazer de outro modo. Uma palavra
sobre o vosso parecer, por obséquio.
Há duas coisas a considerar aqui: 1º, se o Padre Chiroye tem o dom de direção;
2º, se o Padre Thibault 1010 terá o espírito de submissão. No momento, ele o demonstra
em relação ao padre Cuissot. Está satisfeito e em bom estado de espírito. Rogo-vos
dizer-me vosso sentimento, o mais breve possível. Nesse caso, o Padre Benoit voltaria
para Richelieu, ou vos enviaria algum outro.
Escrevo ao Padre Cuissot que tome trezentas libras de empréstimo, para sua
mobília. Pagá-las-emos aqui, na entrega do documento. Segundo vosso desejo, o que
seria realmente necessário para os três? Pierre Rogue, o pastor que esteve aqui 1111, é o
11
Benoît Bécu.
22
Benoît Bécu.
33
São Vicente diz textualmente: “Je lui fais la meilleure Chère”. Pierre Coste coloca em nota chère, accueil
(acolhida).
44
Ele era de Clermont-Ferrand e vinha de La Rose.
55
La Rose.
66
Para substituir Benoît Bécu.
77
Denis Gautier, natural de Langres, recebido na Congregação da Missão com a idade de vinte e nove anos, superior
em Richelieu de 1642 a 1646 e de 1648 a 1649.
88
Jacques Chiroye, nascido em Auppegard (Seine-inferieure), a 14 de março de 1614. Ingressou na Congregação da
Missão a 25 de junho de 1638, adimitido aos votos a 9 de março de 1660, superior em Luçon (1640-1650, 1654-1660,
1662-1666) e em Crécy (1660-1662), falecido a 7 de janeiro de 1689.
99
Uma das cláusulas contidas no contrato de fundação do estabelecimento de Richelieu rezava que três padres desta
casa iriam à diocese de Luçon “quatro vezes no ano, nas estações mais propícias” e aí trabalhariam “seis semanas, a
cada vez” (Cf. carta 287). Pouco tempo depois São Vicente achou melhor estabelecer, em Lunçon mesmo, uma casa
distinta da de Richelieu, tendo Gilberto Cuissot como superior. Os missionários se contentaram no início com uma
casa alugada. A instalação não tinha terminado, quando São Vicente escreveu esta carta. Uma doação do Cardeal
Richelieu, seu fundador e benfeitor, permitiu-lhes a compra do edifício Pont-de-Vie, em dezembro de 1641 (ver na
Revue du Bas-Poitou, 1911, pp. 33-50, o artigo de F. Charpentier, Saint Vincent de Paul em Bas-Poitou).
1010
Jean Thibault, nascido em Paris, em 1615, recebido na Congregação da Missão a 29 de julho de 1638. Os temores
do Santo tinham fundamento. Jean Thibault não tinha espírito de submissão. Foi chamado de volta para Paris pouco
depois e deixou a Companhia em 1642. É preciso não confundi-lo com Luís Thibault, futuro superior de Saint-Méen,
que soube merecer por sua conduta os elogios do Santo.
1111
Provavelmente como doméstico.
mesmo que está em Richelieu? Estimaria muito que ele quisesse ficar por lá, e penso ser
isto necessário para ele, pois as pessoas que ele for procurar hão de mantê-lo na pequena
vaidade do seu espírito. Vê-lo-eis .
O senhor Bispo de Tours1212 se queixa comigo, porque fizeram pregação em
favor de pessoas que se dizem possessas em Chinon, e que ele afirma não o serem. E
não aprova sejam tratados como tais1313. Não soube o que dizer-lhe, a não ser que iria
examinar o caso. Peço-vos informar-me e dizer à Companhia que não diga nada e não
faça coisa alguma contra o parecer expresso por ele. Com efeito, o juízo sobre esses
casos pertence a ele, e ninguém pode fazer exorcismos numa diocese, sem a permissão
do bispo.
Quanto a esta jovem, todas as informações a seu respeito me levam a desconfiar
do seu espírito. Lamento esteja ela em Richelieu. Se ela não tem moradia em Chinon e
nem parente disposto a cuidar dela, in nomine Domini, penso que será preciso enviá-la
para aqui.
A Senhora Le Gras gostaria que désseis um giro por Angers, para visitar suas
filhas, sob forma de visita1414. Poderíeis alegar como motivo nossos negócios em Pont
de Cé1515 e a renda ou os auxílios que nos são devidos nesse lugar 1616. Poderíeis ir ver o
senhor Abade de Vaux, grande servo de Deus, e que tem igual caridade para com estas
filhas. É o Vigário-geral.
Podeis falar com cada uma em particular e depois fazer-lhes uma conferência,
sem que o pareça. Talvez bastasse desta vez a conversa particular.
Mandaram dizer-me que os Administradores do Hospital Geral fizeram para elas
vestidos de tecido mais bonito. Vede isto, e se não seria melhor colocar nossa irmã
Bárbara em Angers como superiora. E também se não convém mandar de volta para
Paris Madame Turgis, e a irmã Isabela, superiora das filhas, sempre doente, para
Richelieu, onde o clima melhor poderia restabelecê-la1717. É o pensamento da Senhora
Le Gras.
Quanto ao meu, é de vos querer mais que a mim mesmo, um milhão de vezes, e
de ser, em Nosso Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
1212
Bertrand d’Eschaux (14 de outubro de 1618-21 de maio de 1641). A diocese era então governada pelo coadjutor
do arcebispo, Victor le Bouthillier.
1313
Pressionadas por Pierre Barré, pároco de Saint-Jacques de Chinon, cujo nome está implicado na história das
religiosas de Loudun, das quais fez o exorcismo, várias mulheres aceitaram fazer o papel de possessas, para dar mais
peso, formulando-as em nome do demônio, a odiosas acusações contra Sansterre, pároco de Saint-Louand, e contra o
Padre Gilloire. Pedro Barré não recuou diante de nada: mentiras, trapaças, sacrilégios, valia tudo, para ele. O
coadjutor de Tour não se deixou enganar. Preso e julgado em 1638, o impostor foi encerrado num mosteiro de Mans,
para o resto de seus dias. Suas cúmplices foram objeto de medidas severas, que colocaram um ponto final nos seus
escândalos (Cf. Dumoustier, Essai sur l’histoire de la ville de Chinon, Chinon, 1809, in-12, pp. 131-141).
1414
As palavras “visitar” e “visita” têm aqui dois sentidos diferentes. O que São Vicente pede a Lambert aux
Couteaux é que, fazendo de conta que se trata de uma simples visita, ele faça discretamente a visita canônica às irmãs
de Angers, como era uso nas comunidades.
1515
Pequena cidade pitoresca sobre o rio Loire, perto de Angers, formada por ilhotas ligadas por pontes e estendendo-
se sobre as duas margens. Sua grande importância estratégica lhe valeu a honra de vários eventos.
1616
Os impostos das “Pontes-de-Cé” estavam arrendados por 1800 libras, a 19 de junho de 1638, dia em que foram
deixados para a Congregação da Missão, em favor da casa de Troyes, pelo comendador de Sillery (Arch. Nat. S.
6712).
1717
A mudança da irmã Isabela só aconteceu entre os meses de agosto e outubro de 1641.
O Padre Dehorgny voltou ontem da visita à Companhia, em Lorena. Deus
abençoou muito sua viagem. Encontrou as coisas em bom estado, graças a Deus, a não
ser em Toul, onde o senhor Padre [Colée 1818] exerce sempre a paciência do bom Padre
du Coudray. Ó senhor Padre, como a Companhia deve se humilhar e louvar a Deus, por
este mistério, e pedir-lhe a graça de cumpri-lo bem! Vou providenciar a cópia das cartas
que o Padre Dehorgny me escreveu sobre o trabalho dos missionários e vos enviá-las.
Nosso Senhor protege nosso Irmão Mateus com uma proteção muito especial,
enquanto permite que a maior parte das pessoas seja roubada naquela região, às vezes
diante dos olhos dele, embora ele vá para lá todos os meses com 2500 libras. No último
mês, levava doze mil, sendo o excedente para o socorro a religiosos e religiosas que
morrem de fome por aquelas bandas.
Desde dois a três meses, Deus me dá a graça de reunir algumas pessoas de
condição desta cidade, para a assistência à nobreza daqueles lados. Sua providência nos
fornece seis mil libras por mês, ou um pouco mais, para este fim. Em nome de Deus,
senhor Padre, rezemos e nos humilhemos muito. Suplico-vos ajudar nisto a um pobre
Gascão1919.
1818
O nome no original foi tão bem rasurado que se tornou ilegível.
1919
Alguns pretenderam, no decorrer do século XIX, contrariando a tradição constante e unânime, que a Espanha é o
país natal de São Vicente. Todos os documentos são concordes com a tradição. Na carta 575, o próprio São Vicente
declara que é francês. Aqui, ele se diz gascão. Em uma de suas cartas, ele roga a Luísa de Marillac apresente suas
homenagens a Madame Ventadour, Marquesa de Pouy, “como a sua única dama, da qual a Providência o tornou
súbdito por nascimento”. Uma escritura, de 04 de setembro de 1626, com sua assinatura, começa com as seguintes
palavras: “Esteve presente Vicente de Paulo..., natural da paróquia de Poy, diocese d’Acqs (Dax), na Gasconha”. Em
sua conferência aos missionários de 02 de maio de 1659, ele fala de uma viagem a Poy, “o lugar de onde eu sou”. O
Bispo de Dax é seu bispo. È assim que ele o chama sempre. As cartas da tonsura o dizem nascido “na paróquia de
Pouy, diocese de Dax”. No século XVII, mostrava-se em Pouy e se honrava com religioso culto a casa onde nasceu.
Fizeram o impossível para conservá-la. A morada antiga caía em ruínas. Empregaram ao menos todos os esforços
para salvar o quarto onde o Santo veio ao mundo. Quando o tempo levou a cabo sua obra de destruição, construíram
uma capela sobre o quarto do nascimento. (Ver l’Histoire de la maison de Ranquine avant le XIX siècle no Bulletin
de la Société de Borda, ano 1906, p. 337 e seg.). Os Papas (breve da beatificação e bula da canonização), as
biografias do Santo, exceto alguns escritores espanhóis do século XIX, todos, a uma só voz, afirmam que São Vicente
nasceu na aldeia de Pouy, na diocese de Dax. Não há verdade histórica mais solidamente fundamentada.
.
Carta 460. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
Pedro Escart, nascido na Suíça, no Cantão de Valais, em 1612. Entrara na Congregação da Missão a 6 de março de
1637 e fora admitido ao sacerdócio no ano seguinte. Foi colocado em Annecy desde a fundação da Casa e transferido
mais tarde para Richelieu. No início de sua permanência em Annecy, causou boa impressão a Santa Joana de Chantal,
que dizia dele: “O Padre Escart é um santo”. Padre Escart era de fato virtuoso, zeloso e muito austero. Teria
continuado no agrado se Santa Chantal, se tivesse sabido guardar a moderação no seu zelo, suportar mais
pacientemente os defeitos dos outros e julgar com mais equidade seus coirmãos, sobretudo os seus superiores. Seu
temperamento o levou a extremos. Num acesso de loucura, matou um de seus amigos e morreu em Roma, onde fora
pedir a absolvição deste homicídio.
Senhor Padre,
22
Primeira Carta aos Coríntios, 7, 29 e primeiro livro dos Reis, 19, 7.
33
São Francisco de Sales.
44
Rm 10, 2.
55
Rm 11,33.
Senhor declara que a ociosidade e o comprazimento de Madalena lhe são mais
agradáveis do que o zelo menos discreto de Santa Marta!
Dir-me-eis, talvez, que há diferença entre escutar Nosso Senhor, como
Madalena, e escutar nossas ternurazinhas, como fazemos. Meu Deus, senhor Padre,
como poderíamos saber se não foi o próprio Nosso Senhor que inspirou o pensamento
da viagem dos dois de que me falais e dos pequenos refrigérios que tomam? De uma
coisa estou bem seguro, senhor Padre: diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum6
(Tudo redunda em bem, para os que amam a Deus), e não duvido que essas mesmas
pessoas amem muito a Deus. Como teriam eles deixado os parentes, os amigos, os seus
bens e todas as satisfações que tinham em tudo isso, para procurar a pobre ovelha
desgarrada nestas montanhas, se não amassem a Deus! E se o amor de Deus está neles,
como não julgar que Deus lhes inspira o que fazem ou deixam de fazer, e que tudo o
que fazem é para o bem, assim como o que deixam de fazer. Em nome de Deus, senhor
Padre, entremos nestes verdadeiros sentimentos e nestas práticas. Temamos que o
espírito maligno não pretenda, pelo excesso de nosso zelo, levar-nos à falta de respeito
com nossos superiores, e de caridade devida aos nossos iguais. É nisto que terminam, de
ordinário, nossos zelos menos discretos. É esta a vantagem que deles tira o espírito
maligno. Por esta razão vos suplico, senhor Padre, em nome de Nosso Senhor,
trabalhemos para nos libertar de nossos zelos, especialmente os que afrontam o respeito,
a estima e a caridade. E porque me parece que o espírito maligno tem essa pretensão
sobre vós e sobre mim, apliquemo-nos a humilhar nosso espírito, a interpretar bem o
modo de agir de nosso próximo e a suportá-lo nas suas pequenas enfermidades.
Sim, mas se o suporto, adeus nossos pequenos regulamentos, ninguém guardará
mais nenhum. E sabeis , me direis vós, que me encarregastes de velar para que sejam
observados.
Respondo à primeira dificuldade, o aniquilamento da observância dos
regulamentos: bastar-nos-á informar o superior, com o respeito e a devida reverência, as
faltas observadas e os consequentes inconvenientes e esperar que Nosso Senhor dê
provimento. Isto pode acontecer na próxima visita, na qual se devem relatar as faltas da
comunidade em geral e de cada pessoa em particular, até mesmo as do superior,
especialmente a falta de zelo pela observância dos regulamentos. Pode-se igualmente
notificar ao Superior Geral. Depois disso, ficar em paz, confiando na providência de
Nosso Senhor, quer pela mudança dos ofícios ou mesmo porque os próprios detentores
deles mudarão de atitude, seja depois de algum retiro ou então de alguma oração, na
qual Deus lhes comunicará luz e força para corrigir as faltas, em resumo, entregar tudo à
divina Providência e ficar em paz.
Quanto à segunda objeção: vossa responsabilidade em velar pelo regulamento.
Dir-vos-ei, senhor Padre, que é verdade. Mas isso se deve entender no sentido de velar
conforme a maneira explicada acima: avisar ao superior com espírito de humildade, de
mansidão, de respeito e de caridade, depois disso, se ele não der remédio, informar ao
Superior Geral.
Foi o que fizestes, mas com impetuosidade de espírito, com aspereza e até
azedume. Contra isto, devemos estar atentos, senhor Padre, em tudo que fizermos: non
66
Rm 8, 28.
enim in commotione Dominus, sed in spiritu lenitatis 7 (O Senhor não está no furacão,
mas na brisa leve). Se, depois de tudo isso as coisas continuarem como antes, fiquemos
em paz. É o que vos peço, senhor Padre.
Espero, no fim do outono, ir visitar-vos e falaremos disso mais particularmente,
como também da viagem que me propondes. Rogo, entretanto, a Nosso Senhor seja a
alegria e a paz de vosso coração.
Eia, pois, senhor Padre, preciso terminar dizendo-vos de novo que vos quero
mais que a mim mesmo. Tenho perfeita confiança em que, depois de terdes honrado de
modo particular, a humildade e a mansidão de Nosso Senhor, durante algum tempo, por
afetos, por atos adequados deste espírito de mansidão e de humildade, tornar-vos-eis,
com a graça de Deus, um homem totalmente apostólico. É o que lhe peço com todo
afeto possível, eu que sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso humilde e
muito obediente servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
77
1 Rs 19, 11.
.
Carta 461. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
Escrevo ao Padre Escart e se puder o farei ao Padre Duhamel 1. Falo ao primeiro,
com todos os detalhes, sobre o que me escrevestes, e o que ele próprio escreveu, logo
depois. É um homem cheio do espírito de Deus, mas áspero em seu zelo, como me
dizeis. Escrevo-lhe de tal modo que espero faça ele progresso na mansidão e na
humildade. Igualmente espero que Deus restitua as forças do corpo ao Padre Tholard,
continue concedendo as do espírito ao Padre Duhamel2, sirva-se utilmente do Padre
Bourdet e enfim que nosso Irmão Francisco3 trabalhe bem. São as preces que faço a
Deus, senhor Padre.
Que vos direi dos ordinandos, senhor Padre? Fico contente por vos terdes
oferecido para fazer a despesa da primeira ordenação. Mas penso que é preciso aceitar o
que o senhor Bispo de Genebra4 propõe: obrigá-los a dar um florim por dia, cada um, se
isto bastar, tudo contado e descontado.
Suporão que a despesa dos ordinandos de Paris fica por vinte soldos ao dia. Ela
abrange a necessária despesa de um maior número de irmãos, a linha, os pequenos
gastos, a troca das roupas. A grande dificuldade está na mobília. Seriam necessárias
para isso duas ou três mil libras.
O senhor Comendador5 me dizia dias atrás que não lhe agradaria nos déssemos a
liberdade de opor dificuldades aos senhores Prelados sobre o que pensam para o bem de
suas dioceses. Referia-se ao vosso intento de ir encontrar-vos com os ilustres senhores
do senado6, a respeito das dificuldades por eles levantadas, e vos dispor a não continuar
vossas missões, se não concordassem, embora o senhor Bispo fosse de parecer
contrário. Ele me diria sem dúvida a mesma coisa, se soubesse que teríeis feito
dificuldade ao senhor Bispo, por ele mandar os ordinandos pagarem a despesa de um
florim cada um ao dia, sem o consentimento do sínodo e do senado. Reconhece que isto
é um sinal de vossa prudência, mas que é preciso agir de modo mais simples. Com
efeito, os ordinandos não ficarão onerados por dar dez ou doze florins, pela alimentação,
durante a ordenação. Se os exercícios dos ordinandos forem segundo Deus, porque não
custearem eles sua alimentação, enquanto recebem este benefício do seu prelado?
Parece-me, senhor Padre, que faríeis bem submetendo-vos nisto ao pensamento
do referido senhor, como também em tudo mais que não altera nosso pequeno Instituto.
Temo que o alterariam as confissões na cidade. Isso é diretamente contrário ao nosso
pequeno Instituto. Nossa digna Madre7 levará8 o senhor Bispo, com suavidade, a
compreender tudo isso, se vos aprouver falar com ela a respeito, como jungo
conveniênte. E estou certo de que sua bondade concordará com isso.
Não acho que seja necessário excluir Annecy do benefício da missão. Se Nosso
Senhor inspirar ao senhor Bispo o desejo dela, julgo que é preciso fazê-la. Mas, antes,
11
Jean Duhamel era de Paris. Seu nome não figura nos registros de pessoal da Congregação da Missão, onde ele
permaneceu muito pouco tempo. Seu testamento, de 18 de abril de 1643 (Arch. Nat. M211, liasse 1), mostra que
lamentou vivamente sua saída e suas faltas.
22
Estava sendo tentado de deixar a Congregação da Missão, da qual veio realmente a se desligar, antes do fim do ano.
33
Vários irmãos coadjutores tinham esse nome. Não sabemos a quem aplicá-lo aqui.
44
Justo Guérin.
55
O comendador de Sillery.
66
O senado de Chambéry.
77
Santa Chantal.
88
Texto do manuscrito: “lui fera entendre” (lhe fará entender).
depois ou fora dela, estimo que não convém pregar e nem confessar na cidade. É deste
modo que se deve entender a regra de não trabalhar nas cidades, porque, de fato, isto
acabaria nos impedindo, com o tempo, de ir aos campos.
Meu Deus, senhor Padre, como estou aflito com vossa indisposição! E como
desejo que se encontre alguma casa ou um terreno para edificá-la, num lugar melhor da
cidade, como o arrabalde mais alto, onde estão os Capuchinhos9, ao que me parece!
Sendo assim, ó meu Jesus! É preciso deixar de pensar em se estabelecer noutra
cidade. Ficaríamos muito longe para prestar serviço à diocese. Pedirei entretanto ao
senhor Comendador que escreva ao senhor Comendador de Annecy 1010, que faz a
caridade de vos hospedar, para agradecer-lhe.
Não vejo segurança em tratar com Sua Excelência, o Senhor de Nemours 1111. É
um jovem príncipe. Uma e outra qualidade o impedem. Nosso Senhor vos mostrará, se
lhe aprouver, outra possibilidade. A extensão territorial do Estado do rei vai até perto de
Genebra. Talvez se encontre alguma vantagem dentro dos seus limites, com o tempo,
quando a Companhia trabalhar por aqueles lados.
Com muito prazer aprovo, senhor Padre, a aquisição dos leitos portáteis, como
me comunicais. Haverá algo a censurar, segundo o mundo. Mas onde é urgente a
necessidade, não há lei nem razão que o impeça. Como subsistir nessas montanhas, sem
leito, durante o inverno? Faltando isso, os missionários teriam de morrer ou abandonar a
missão, especialmente no inverno.
É preciso descobrir com criatividade como um mulo poderia bastar para isso e
nisso está a dificuldade.
No começo da Missão, procedíamos do mesmo modo. Mas abandonamos este
aparato, por ser supérfluo, e os embaraços, com ele, muito grandes: um cavalo não
bastava para uma pequena charrete ligeira de que dispúnhamos. Vem-me ao espírito que
poderíeis mandar transportar os móveis de um lugar para outro pelo carreto ou pelos
mulos que alugareis para isso. Mas para isso será bom trabalhar em lugares vizinhos e
escolher uma área da diocese, no começo do ano, para trabalhar sempre nela. Resultará
daí a comodidade do transporte fácil dos móveis de um lugar para outro, e ainda o fato
de encontrar assim o pessoal bem preparado, por causa da proximidade dos locais da
missão. Fizemos assim este ano no vale de Montmorency 1212. Não poderíeis imaginar,
senhor Padre, quanto o povo aproveita mais, nem quanto os missionários ficam mais
aliviados e progridem por este meio.
99
Desde a chegada a Annecy, os missionários encontraram hospitalidade junto a Jacques de Cordon, comendador de
Compesière. O Bispo de Genebra e Santa Joana de Chantal tinham contribuído pela metade com o mobiliário. O
comendador de Sillery lhes deu 3.000 libras, a 26 de janeiro de 1640, para a compra e o mobiliário de uma casa em
Annecy.
1010
Jacques Cordon, grande benfeitor dos missionários de Annecy. Fundou várias missões, a 24 de setembro de 1641,
em favor das paróquias que dependiam de suas comendadorias (Arch. Nat. S 6715-6716). Sua vida foi publicada em
Lyon em 1663 pelo Padre Calemard (Histoire de la vie d’illustre F. Jacques de Cordon d’Eviev, in-4º).
1111
Charles-Amédée de Savoie, Duque de Nemours, nascido em 1624, um dos principais adversários de Mazarino
durante a Fronda. Morreu em Paris a 30 de julho de 1652, ferido de morte num duelo com o Duque Beaufort, seu
cunhado.
1212
Vale outrora famoso por sua fertilidade em frutas de toda espécie. Na extremidade dele, sobre uma colina, se
ergue a pequena cidade de Montmorency (Seine-et-Oise).
É conveniente, para trabalhar deste modo, que o senhor Bispo escolha as áreas
da diocese onde quer o trabalho, e não mais mudar tanto de área, como tem feito.
Desejo fazer esta recomendação por toda parte.
Quanto às missas a mandar celebrar nessa região, é pena, senhor Padre, bem que
eu o desejaria. Mas na verdade não encontro meio para isso. Com efeito, além de não
ver ninguém disposto a isso, a miséria do século arrefeceu muito as esmolas e as
retribuições de missas. Suplico-vos garantir ao senhor Bispo que consideraria como
misericórdia de Deus a ocasião de prestar serviço nesse caso, se ela se apresentasse,
como também em todas as coisas em que lhe aprouver honrar-me com suas ordens. Não
há criatura no mundo sobre a qual tenha maior poder do que sobre mim.
Duas palavras sobre o negócio do vosso irmão. Fiz o possível junto ao senhor
Bullion1313 e ao senhor Tubeuf1414 em favor do caso. Foi em vão. Há apenas cerca de
um mês, um jovem advogado de Agen, presente ainda na cidade, recebeu a última
recusa. Há seis dias, ele esteve aqui e me disse que vosso irmão devia ficar satisfeito,
porque fizeram, no caso, tudo o que foi possível. O Senhor de Bullion disse que, se o
Rei quisesse dar atenção a esta espécie de prejuízos, sofridos por pessoas particulares a
seu serviço, a metade de sua renda não bastaria.
Que vos direi sobre nossas pequenas notícias? Há boa saúde na casa, graças a
Deus, e na Companhia por toda parte, exceto o Padre Jegat e o Padre Bastien 1515 em
Richelieu. O primeiro começa a melhorar.
O seminário1616 vai cada vez melhor, graças a Deus. O Padre Dufestel, superior
em Troyes, pediu-me que consinta seja nele admitido com o Padre Perceval, que veio
anteontem para isso. Entrarão amanhã, à tarde. O Padre Savinier nele também se
encontra.
As esmolas para Lorena continuam chegando sempre, pela misericórdia de
Deus. Estão sendo contempladas as cidades de Toul, Metz, Verdun, Nancy e Bar,
também Saint-Mihiel e Pont-à-Mousson, onde a miséria era tão grande que não se pode
imaginar. O Padre Dehorgny acaba de visitar os missionários presentes nesses lugares.
Ele me relata coisas incríveis, que causam tristeza: o povo comia até cobras.
Deus nos deu a graça de servir-se também desta Companhia para dar assistência
aos religiosos e religiosas. O rei concede 45.000 libras para isso, para serem distribuídas
por mim, segundo a ordem do senhor intendente da justiça.
Nesta cidade, Deus nos concedeu igualmente a misericórdia de organizar um
pequeno grupo de pessoas de condição para dar assistência à nobreza de Lorena e a
outras pessoas de condição nela presentes. Eia pois, senhor Padre, é tempo de terminar,
com o pedido humilde que vos faço de cuidar de vossa saúde e da saúde da comunidade.
1313
Claudio de Bullion, Marquês de Gallardon, com muito cartaz junto a Henrique IV e Luís XIII, foi encarregado no
tempo desses dois monarcas de missões diplomáticas muito delicadas. Depois de ter sido referendário (1605),
conselheiro ordinário de Estado, superintendente das finanças (1632), enfim ministro da justiça do rei, obteve do
Parlamento de Paris, em fevereiro de 1636, um ofício de presidente-magistrado, que Luís XIII criara expressamente
para ele. Morreu de apoplexia a 22 de dezembro de 1640.
1414
Jacques Tubeuf, presidente do Tribunal de Contas a 14 de novembro de 1643, superintendente e controlador geral
das finanças da rainha Ana d’Austria, falecido em Paris a 10 de agosto de 1670, com a idade de 64 anos.
1515
Sebastião Nodo.
1616
Trata-se do Seminário de Renovação, chamado também de Segundo Seminário, só para padres, depois de certo
tempo de trabalho. O documento 104 do tomo XIII, Ata de Assembleia de 1651, reunida em São Lázaro, faz alusão a
este seminário (XIII, 327).
Lembrai-vos de minhas misérias diante de Deus, para que se digne ter
misericórdia de mim!
Sou, no seu amor, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Vicente de Paulo,
padre da Missão.
O Padre Dufestel, superior dos padres da Missão em Troyes, pediu para entrar
no seminário, onde se encontra atualmente com o Padre Perceval.
Envio-vos o recibo dos cem escudos do senhor Bispo de Alet.
Senhor Padre,
.
Carta 462. – Dossiê de Turim, original.
11
Bertrando Jegat, nascido em Vannes, em 1610, ordenado padre a 20 de setembro de 1636, recebido na
Congregação da Missão a 09 de outubro de 1638.
22
Sebastião Nodo.
33
Superior da casa de Luçon.
44
Esta moça chegou a derramar sangue de um frango na toalha do altar-mor da igreja Saint-Jacques, para tecer um
romance nada honroso para o Padre Gilloire. Desmascarada sua impostura, foi presa em Chinon.
55
Carta de 24 de julho.
66
Victor Le Bouthillier.
convenientes são os meios mais eficazes para isso. O Padre Savinier 7 ficou tão tocado
sexta-feira à noite, pela conferência feita aqui, que disse jamais ter ouvido algo que o
tenha tanto sensibilizado. Oh! como espero que a comunidade tire proveito disso. E
como espero encontrá-la em bom estado na próxima visita, lá pelo final, ou no começo
de outono, se Nosso Senhor me der essa graça!
Falei a Madame Duquesa8 deste sepultamento na igreja.
Bom dia, senhor Padre. Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde
servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
464. – A N***
Senhor,
Vicente de Paulo.
.
Carta 464. – Dossiê de Turim, cópia do século XVII ou XVIII.
11
A Madre Françoise-Elisabeth Phelippeaux de Pontchartrain, superiora do convento da Visitação de Saint-Denis.
22
Claude Phelippeaux, filha de Paulo, Senhor de Pontchartrain, secretário de Estado, e de Ana de Beauharnais,
esposa de Pierre de Hodicq, Senhor de Marly-la-Ville, admitido no Parlamento como Conselheiro a 26 de março de
1621, posteriormente presidente dos Inquéritos.
33
Texto original: “J’adresse” (Eu dirijo).
465. – A SANTA JOANA DE CHANTAL
.
Carta 465. – C. aut. – Original no convento da Visitação de Perigueux.
11
A Madre Helena Angélica Lhuillier.
22
Entre os conventos da Visitação, somente os dois mosteiros de Paris desejavam, como São Vicente, a instituição de
um Visitador.
33
Octave de Saint-Lary de Bellegarde (14 de novembro de 1626-26 de julho de 1646).
44
O Cardeal Richelieu.
Jesus! Minha querida Madre, o que estou a dizer?! Para onde foi o meu espírito,
dizendo-vos o que acabo de dizer-vos? Na verdade, parece que, se acato na vontade, não
o faço no juízo. Ó meu bom Deus! Certamente e inteiramente com a única intenção do
beneplácito de Deus, ao qual submeto minha vontade e o meu juízo, não duvidando que
isto é da vontade de Deus, uma vez que é da vontade de nossa digna Madre, que é de tal
modo nossa Madre que é a minha única, que eu honro e à qual quero tão bem e com
mais ternura do que jamais uma criança amou e honrou sua mãe, depois de Nosso
Senhor. E me parece que chega isso a tal ponto que tenho bastante estima e amor para
partilhá-los com todo mundo, sem exagero.
É portanto neste espírito de infância, minha querida madre, que vos falo e que
vos agradeço sempre todas as caridades que dispensais, como mãe extremosa, a vossos
caros filhos missionários e sou, no amor de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe, vosso
muito humilde e obediente filho e servo,
Vicente de Paulo.
[1640].
Senhor
Tolosa, 16401.
Não posso deixar que retornem para junto de vós estes dois missionários 2 que
nos enviastes, sem vos agradecer, como faço com todo meu coração, pelos grandes
serviços que prestaram a Deus, em minha diocese. Não saberia descrever-vos os
trabalhos que tiveram nem os frutos produzidos, pelos quais vos devo particular
reconhecimento, pois foi para aliviar-me que se deram tanto ao trabalho. Um deles
dominou de tal modo a língua desta região que suscitou a admiração dos que a falam e
se mostrou infatigável no trabalho. Quando estiverem mais descansados, suplico-vos
que os mandeis de volta, porque me disponho a mandar realizar os exercícios dos
ordinandos, e ainda preciso deles para isso. Tudo resultará na glória de Deus, se nos
ajudardes.
Senhor Padre,
.
Carta 467. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 8, 1ª ed., p. 52.
11
A carta é anterior a 26 de agosto (Ver carta 475).
22
Roberto de Sergis e Nicolau Durot.
.
Carta 468. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
O martirológio romano assinala três santos com o nome Venerando: 25 de maio, São Venerando, diácono
martirizado na diocese de Evreux; 18 de junho, São Venerando, bispo e confessor; 14 de novembro, são Venerando,
mártir, em Troyes. La vie des bienheureux martyrs Saint Mauxe et Saint Vénérand, patrons du diocese d’Evreux,
tinha sido publicada em Ruão, em 1614.
22
Dom Scotti.
33
Não temos mais nenhuma das cartas que São Vicente escreveu a Luís Lebreton entre 01 de junho e 09 de agosto. É
numa dessas cartas perdidas, em várias talvez, que ele expõe as razões de que fala aqui.
Saldamos a letra de câmbio de trezentas libras, pagando cento e cinquenta a mais
pelo câmbio.
Volto ao pensamento que já vos tinha escrito, que é de fazer o bom propósito no
primeiro ano de seminário, os votos simples, no fim do segundo, e um voto solene de
terminar nossos dias na Companhia, longos anos depois de ter nela entrado4.
Fico contente por ter o R. P. assistente 5 dito que isso não nos torna religiosos.
Examinai-o com exatidão.
Espero cartas vossas com resposta em relação a uma quantidade de coisas sobre
que vos escrevi6: a união da casa Saint-Esprit de Toul, a dos dois priorados na diocese
de Langres, as questões concernentes a um mosteiro de Saint-François a ser colocado
sob a direção do senhor Arcebispo de Paris7. Peço-vos uma dispensa nos termos em que
vos escreveu o Padre Soufliers e o testemunho in forma pauperum8, e sou, no amor de
Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Acabo de receber neste momento a carta que escreveis ao senhor Abade de Vaux
e concordo com ela. Apenas parece-me que teria sido a ocasião de lhe dizer que se esses
44
As palavras un solennel de e longues années après être entrés (um solene de e longos anos depois de ter nela
entrado), foram riscadas no texto original, mas, ao que parece, depois da redação da carta, porque a tinta é diferente.
55
O Padre Charlet, assistente francês dos jesuítas.
66
Não temos mais a carta ou as cartas que tratam do segundo e do terceiro ponto.
77
João Francisco de Gondi.
88
Quando as pessoas sem condição de pagar os direitos costumeiros pedem à Cúria em Roma uma dispensa de
parentesco para fins de matrimônio, esta dispensa é expedida in forma pauperum (na forma própria para os pobres).
Elas então só pagam uma parte dos gastos ordinários ou não pagam nada.
99
Pernambuco, no Brasil. As Américas eram outrora conhecidas pelo nome de Índias ocidentais.
1010
A Congregação de Santa Genoveva requeria em Roma a renovação dos poderes do Cardeal de La Rochefoucauld
e um indulto que permitisse ao Padre Faure continuar no cargo de Superior Geral.
.
Carta 469. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta parece que deva ser colocada antes da carta 473.
senhores desejam a cláusula relativa a mandar embora, é justo se coloque a de chamar
de volta as Irmãs, quando for julgado conveniente2.
É um caso sério que se queixem por toda parte de que peguem do que é
destinado aos doentes. É preciso fazer uma regra segundo a qual não poderão, sob
pretexto algum, alimentar-se do que é destinado aos pobres.
Consolar-me-íeis se expressásseis minhas recomendações e minhas escusas ao
Abade de Vaux por não lhe ter escrito, e lhe dissésseis que o farei na próxima mala
postal.
Bom dia, Senhora. Sou v. s.,
V. D.
Não recebestes uma carta que vos enviei de nossas irmãs de Richelieu que vos
comunicam, como faz o Padre Lambert a mim, que há duas jovens de lá se apresentando
para entrar nas Filhas da Caridade?
Senhor Padre,
L. de M.
Senhor Padre,
.
Carta 471. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
São Vicente de Paulo conhecia, havia muito tempo, Claude-Marguerite de Gondi, irmã de Felipe Emanuel de
Gondi, antigo general das galeras, e viúva de Florimond d’Halluin, Marquês de Maignelay, que ela tinha desposado a
07 de janeiro de 1588. O marido foi assassinado três anos após o casamento. O filho morreu na flor da idade. A filha
levava uma vida infeliz junto a um marido que a brutalizava sem piedade, o Conde de Candale, filho mais velho do
Duque de Epernon. Contrariada por sua família, em seu atrativo pela vida religiosa, a Marquesa de Maignelay ficou
no mundo e se dedicou ao serviço dos pobres. Henrique IV a chamava de a sábia marquesa. A rainha Maria de
Médicis fazia dela por vezes a distribuidora de suas esmolas. Todos os dias, numerosos mendigos assediavam a porta
da casa onde morava, na Rua Saint-Honoré. Frequentava assiduamente os hospitais, as prisões, as igrejas, os
conventos. Colaborou na criação do Convento de la Madeleine, se encarregou da pensão de dezesseis religiosas e
deixou recursos para a continuação dessa obra de caridade depois de sua morte. Capuchinhas, Carmelitas, as Filhas
da Providência, os Oratorianos e a igreja da sua paróquia tiveram parte em sua generosidade. São Vicente não ficou
esquecido. Deu-lhe de seu tempo, de sua atividade, de seu dinheiro. Ajudou-o em todas as suas obras, em particular
na dos ordinandos. Certa manhã, ao acordar, percebendo que não enxergava mais, cantou o Te Deum em ação de
graças. Morreu a 26 de agosto de 1650 e foi sepultada na capela das Capuchinhas, revestida com o hábito delas. (La
Vie admirable de très Haute Dame Charlotte-Marguerite de Gondy, Marquise de Maignelais, pelo Padre Marc de
Bauduen, Paris, 1666, in-12).
22
Nanteuil-le-Haudouin (Oise).
minha casa, com este objetivo, e de comprar para mim seis livretos da fundação da
Caridade3. Eu vos devo muitos outros. É para enviá-los ao nosso pároco de Halluin 4,
donde chegamos, e a alguns outros da região que tentam reestabelecer essa devoção
nas nossas vilas, onde fora interrompida pela guerra. Todo mundo se lembra muito
bem, e com razão, de todas as caridades que vossos padres fizeram, com tanta
utilidade.
Suplico-vos ter parte em vossas santas orações, eu e minha filha.
Somos, senhor Padre, vossa muito humilde e muito obediente filha e serva,
Margarida de Gondy.
Senhor Padre,
Acabo de receber vossa carta. Peço-vos perdão se sou tão importuna. Mas a
necessidade de nossa Caridade1 é urgente, pois a nossa servente é tão caridosa que
embora seja paga até o dia 06 do próximo mês, quer deixar-nos no último dia deste, e
eu não queria segurá-la uma hora sequer, se ela não quiser. Desde a Páscoa tivemos,
graças a Deus, poucos pobres, no máximo doze. Creio que hoje são nove e, durante
tempos, muito menos. Pagamos cem libras de salário. Os remédios e a lavagem de
roupa se fazem aqui. É uma boa jovem que mantenho para fazer as caridades que não
posso fazer, não as tendo no coração, como deveria. Na realidade, não as faço, pois
minhas forças estão definhando. Se esta jovem que teremos, por vosso intermédio, é
boa moça, procuraremos hospedá-la sem custo algum e ficarei aliviada da falta da que
tenho. Se não souber fazer sangria, não tem importância, poderá aprendê-lo. A que
tínhamos aprendeu em pouco tempo. Ademais, nós temos um cirurgião.
Se vos aprouver que esse homem leve uma palavra vossa à Senhora Le Gras e
lhe envie a presente carta, ela poderia nos dar a resposta.
Termino como comecei, pedindo-vos perdão e suplicando que tenha parte em
vossas santas orações, sendo, senhor Padre, vossa muito humilde e obediente filha e
serva,
Margarida de Gondy.
33
Não resta exemplar algum conhecido deste opúsculo.
44
Comuna do cantão de Tourcoing (Norte).
55
Esta carta precedeu de poucos dias a carta 480.
.
Carta 472. – C. aut.– Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
A Caridade de Nanteuil-le-Haudouin.
Tarde de 26 de agosto [16402].
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
padre da Missão.
Meu Deus, minha querida Madre, como se enternece meu coração ao ver a
bondade com que vossa incomparável caridade procede com vossos pobres filhos, os
missionários! Ó Jesus! Como são felizes e como espero que isso lhes há de valer! Em
nome de Nosso Senhor, minha digna Madre, continuai com esta mesma caridade para
com eles. Continuai, também, para com vosso insignificante filho e servo, com a parte
que a bondade do mesmo Senhor lhe deu, em vosso coração.
Escrevi longa carta ao Padre Escart, há mais ou menos um mês 1, sobre o que
vossa caridade me fez a honra de dizer que lhe devia escrever. Espero que tenha
recebido a carta e que ela tenha produzido efeito no seu espírito, se a tentação não tiver
deixado em sua imaginação impressões fortes demais. O motivo da visita a sua irmã é
considerável. Mas como isso vai contra uma máxima que temos de não visitar nossos
parentes, peço-lhe adiá-la até alguma ocasião em que possa ir até lá, quando estiver em
viagem, na ida ou na volta.
O que o Padre Tholard me escreve sobre sua tentação acontece de ordinário a
muitos, quando começam a se aplicar ao atendimento de confissões. Pouco a pouco, ela
vai passando, e temos por máxima não deixar de prosseguir, seja qual for o efeito
negativo da tentação, durante a confissão.
.
Carta 474. – C. aut. – Original no mosteiro da Visitação de Annecy.
11
A 25 de julho.
Quanto ao Padre Duhamel, escrevo-lhe que, se ele julgar que a residência em
Roma com um de nossos missionários 2 ou em Alet com os que ali estão 3 não lhe trará
descanso, in nomine Domini, volte para a casa dele, nesta cidade 4. Depois de passar
algum tempo em sua casa, veremos o que fazer. Tem o espírito naturalmente inquieto, e
jamais encontrará sossego, em qualquer condição em que estiver. Uma bondosa e santa
Senhora, [na qual5] tinha grande confiança6, me disse, antes de morrer, que ele se
perderia, se abandonasse a vocação. Não penso tenha ela querido dizer que fosse pelo
vício, mas por tropeços em que previa que acabaria caindo.
Que direi ao vosso caro coração, a respeito do senhor Comendador7, minha
querida Madre? Ó Jesus! Ele não tem o menor ressentimento do mundo, digo, o menor,
pelo que vossa caridade escreveu a respeito do visitador 8, e com toda a verdade, minha
digníssima Madre, asseguro-vos a mesma coisa quanto a mim, em particular. O motivo
disto é que nem ele e nem eu, que só buscávamos a vontade de Deus, acreditando que
ela nos seria manifestada, a nós dois, pela de nossa digna Madre, posso assegurar-vos,
minha amabilíssima e querida Madre, que não tivemos o menor pensamento do mundo
contrário ao vosso, digo-vos, o menor. E penso, minha querida Madre, que posso
garantir a mesma coisa da Madre da cidade9 e ficamos de tal modo em paz, como se o
próprio Nosso Senhor nos tivesse dito o que nos escreveis. E isso me fez ver que em
tudo não procuramos senão a mais pura glória de Deus. Desde que estou no mundo,
jamais vi ou senti em mim tão grande submissão do entendimento e da vontade do que
nessa ocasião. Ó minha querida e muito amável Madre, como sois soberanamente nossa
digna e muito amada Madre! Não, isso chega a tal ponto que não há palavra para vo-lo
exprimir. Só Nosso Senhor é capaz de vo-lo fazer sentir no vosso coração.
A reverenda Madre da Trindade escrevia, dias atrás, há apenas três dias, penso
eu, que ela julga a coisa necessária e que espera que ela aconteça. Direi apenas, ao
ouvido do coração de minha digna Madre, que ela diz que Nosso Senhor a fez ver algo
sobre isso1010.
Eis, minha digníssima e mais amável e amada Madre (não sou capaz de exprimi-
lo), o que direi no presente a vossa caridade. Ó Jesus! Estou me lembrando de que omito
a resposta ao que vossa caridade me diz, que aspiramos unir ao mesmo tempo a
perfeição eclesiástica e a religiosa. Oh! Não, minha querida Madre, somos pequenos
demais para isso. Mas é verdade que estamos nos desdobrando para encontrar um meio
de nos perpetuar em nossa vocação. Direi as razões, em outra ocasião, à minha querida
22
Luís Lebreton.
33
Antônio Lucas e Estêvão Blatiron. Este último tinha vindo para Alet em 1639, com Nicolau Pavillon.
44
Em Paris.
55
No texto original está escrito “ao qual”.
66
Madame Goussault.
77
O comendador de Sillery.
88
Estas palavras “a respeito do Visitador” (em francês “touchant le visiteur”) foram rabiscadas no original. É
profundamente lamentável que, para eliminar todo vestígio de desacordo entre Santa Chantal e São Vicente sobre esta
questão, se tenha querido colocar os editores das cartas do Santo na impossibilidade de ler o que ele escreveu sobre o
caso, nesta carta e alhures. Essa diferença não diminui contudo, em nada, a santidade de um e de outro, e não vemos
que sua divulgação possa causar prejuízo a quem quer que seja.
99
Irmã Maria Angélica Lhuillier.
1010
Omitimos aqui quatro linhas do original totalmente ilegíveis por causa dos rabiscos.
Madre, e os diversos pensamentos que nos sobrevêm quanto a isso, a fim de obter
vossos bons e santos conselhos.
Sou, entretanto, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde e muito
obediente servo,
Vicente de Paulo,
padre da Missão.
Em nome de Deus, minha digna Madre, que o último ponto de minha carta seja
dito unicamente ao coração de minha Madre e a nenhum outro.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Suplico-vos, senhor Padre, dizer à comunidade que jamais fale a alguém sobre
isto. Comunicá-lo-eis, contudo, a nossa digna Madre e pedir-lhe-eis que nos ajude a
agradecer a Deus.
44
Santa Joana de Chantal.
55
O comendador de Sillery.
66
Justo Guérin, Bispo de Genebra.
77
Pareceria, conforme estas palavras, que Bernardo Codoing teria feito durante algum tempo o seminário de
renovação, isto é, teria deixado por algum tempo seus trabalhos, para se aplicar, em São Lázaro, sob a direção do
padre encarregado dos jovens seminaristas, a sua própria perfeição.
88
Rm 11, 33.
Entreguei as 300 libras de que me falastes a um estudante, conforme vossa
ordem. 500 libras se destinam ao filho de Madame de Menthon, que está na Academia.
Eu vos envio sua carta, para recebê-las de Madame sua mãe; entreguei igualmente
quinze pistolas ao ecônomo de Santa Maria da cidade9, de acordo com vossa carta.
Comunicai-me quando as receberdes, ou se já recebestes estas somas.
Senhor Padre,
99
O primeiro mosteiro da Visitação.
.
Carta 476. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
25 de julho.
regra que temos e que se observa com fidelidade, pela graça de Deus, tudo pesado, digo,
não julgo conveniente que vades expressamente para isso. Pelo contrário, é melhor
esperar uma ocasião que a Providência vos disporá. Então, a caminho, podereis visitar
vossos parentes.
Sim, mas talvez, me diríeis vós, eu poderia reconduzir esta querida irmã ao seio
da Igreja. Tendes razão, senhor Padre, de dizer talvez, porque há motivo para dúvidas.
Pensando levar-lhe por vós mesmo algum proveito, quem sabe causeis prejuízo para vós
mesmo. Nosso Senhor via os parentes em Nazaré necessitados de um socorro para a
própria salvação, aos quais talvez pudesse ser de algum proveito. Preferiu contudo
deixá-los expostos ao perigo, de preferência a visitá-los, vendo que isso não agradaria a
seu Pai, e querendo dar este exemplo à posteridade e ensinar a sua Igreja o que é preciso
fazer em semelhante caso. Tenho admirado muito a prática desse exemplo de Nosso
Senhor em São Francisco Xavier, que passou muito perto dos seus, dirigindo-se para as
Índias, sem os visitar.
Eis, entretanto, o que podereis fazer: escrevei aos padres Capuchinhos de Sião e
rogai-lhes para irem ver vossa irmã e os outros parentes vossos, e fazerem o possível
para reconduzir à Igreja essa irmã e promoverem uma confissão geral para os outros
parentes. E poderíeis escrever a todos eles uma carta, e pedir-lhes que aproveitem a
graça que lhes será proporcionada por esses bons padres.
Eis, caro Padre Escart, o que vos direi para o presente. Desejo infinitamente nos
coloquemos inteiramente no estado de despojamento dos apegos de tudo que não é
Deus, e que só nos afeiçoemos às coisas, se for por Deus e segundo Deus. Procuremos,
primeiramente, estabelecer seu reino em nós, e depois nos outros. É o que vos peço
suplicar-lhe para mim, que sou, no seu amor, [senhor2], vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo,
padre indigno da Missão.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
padre da Missão.
11
Adágio escolástico muito conhecido. O sentido é: O hábito embota a sensibilidade passiva.
22
Na comuna de Béon (Yonne).
33
Aqui o Santo rabiscou as palavras seguintes: mas se a tentação. Não importa tão pouco dizer que vós vos.
478. – A MARQUESA DE MAIGNELAY A SÃO VICENTE
Senhor Padre,
Deus nos enviou como servidora para a nossa Caridade uma viúva desse
arrabalde. Faremos a experiência, porque ela conhece a área. Julguei que seria bom
ver o que ela sabe fazer. Não precisais dar-vos ao trabalho de nos enviar aquela a
respeito da qual tanto vos importunei: sei que vossa caridade me perdoará e me fará a
de rezar por minhas necessidades, que, pela graça de Deus, não são pequenas. Mas em
qualquer estado que eu esteja, sou, senhor Padre, vossa muito humilde e muito
obediente filha e serva,
Margarida de Gondy.
29 de agosto de [16401].
Senhora,
Recebi vossa carta2 esta manhã antes de escrever a minha e antes da Madame
Marquesa3 ver as vossas e as minhas, porque ao chegar nosso Irmão ela já partira.
Podereis, entretanto, mandar esta bondosa filha fazer o retiro e em Lorena.
Senhora,
.
Carta 478. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta parece estar em seu lugar perto das cartas 471 e 480.
.
Carta 479. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 2.
22
A carta 478.
33
A Marquesa de Maignelay.
.
Carta 480. – C. aut. – Original com as Filhas da Caridade do hospital com termas de Bourbon-e’Archambault.
11
A morte do Marquês de Fors, de que se trata nesta carta, aconteceu no mês de agosto de 1640. Por outro lado, a
carta 479, sendo de quarta-feira, 29 de agosto, ou de quinta, 30 de agosto, a presente, com data de quinta-feira, não
pode ser, se levarmos em conta o conteúdo, senão do dia 30.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Acabo de escrever a Madame Marquesa de Maignelay e de lhe enviar vossas
duas cartas de ontem e de hoje. Retenho aqui a filha até que obtenha resposta sobre se
ela poderá fazer cinco ou seis dias de retiro.
Perdi ontem nosso dia, porque fui visitar Madame Duquesa de Aiguillon e
Madame du Vigean2, pela morte do filho desta última 3. O pessoal da referida dama me
veio buscar para isso. Mas achei que Nosso Senhor fizera o ofício de consolador da mãe
de modo sobrenatural. Jamais vi imagem da força de Deus na aflição, como nesta
bondosa dama.
Isso e um negócio de importância que temos me tiram muito tempo de nossa
visita. Temo não esteja acabada de hoje, quinta-feira, até oito dias. Por conseguinte,
receio muito ser necessário chegar até a uma quinzena.
Esta filha vos levará a presente, depois de eu ter a resposta da Madame
Marquesa4, que ela também vos fará ver.
Quanto a mim, sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde e muito
obediente servo,
Vicente de Paulo.
Folgo muito que espereis alguma coisa desta boa lorenense e que a façais entrar
em retiro e fiqueis com ela. Temo seja ela um pouco preguiçosa.
Senhora,
22
Ana de Neubourg, esposa de Francisco Poussart de Fors, primeiro, barão, depois, Marquês du Vigean. A bela
baronesa- assim a denomina Voiture- era intimamente ligada à Duquesa de Aiguillon. Os inimigos de Richelieu
espalharam sobre as duas amigas os boatos mais infamantes (Cf. Les Historiettes de Tallemant des Réaux, Paris,
1833-1835, 6vol., in-8, t. II, p. 32; Recueil des chansons historiques, t. I, p. 149, ms da Biblioteca do Arsenal).
Voiture descreveu a magnífica casa de lazer que ela possuía em Barre, perto de Montmorency ( Oeuvres, Paris, 1858,
in-8º, p. 96).
33
Madame du Vigean tinha dois filhos e duas filhas, Ana e Marta. O mais velho, o Marquês de Fors, oficial corajoso
e até temerário, duas vezes preso pelos inimigos e duas vezes solto, acabava de sucumbir no cerco de Arras, com a
idade de apenas vinte anos. Sua morte comoveu o poeta Desmarets, que o chorou em longa elegia ( Oeuvres
poétiques, Paris, 1641, in-4, pp.18-21). O jovem irmão do marquês morreu assassinado em circunstâncias jamais
esclarecidas. Ana tornou-se Duquesa de Richelieu pelo seu casamento com um sobrinho-neto do Cardeal ministro.
Marta, depois de ter ocupado com brilho seu lugar no mundo, onde ela se divertia e divertia, tomou, apesar da
resistência da mãe, o véu das Carmelitas no convento da Rua Saint-Jacques, em Paris, e se tornou irmã Marta de
Jesus. São Vicente previra sua entrada para o claustro e lha tinha anunciado, num tempo em que ela não pensava
senão nos prazeres mundanos. Toda perturbada pela profecia de um homem, cujo poder junto a Deus ela conhecia,
suplicara-lhe, em vão, bem entendido, não rezasse nessa intenção. Ela mesma deu testemunho da autenticidade do
fato, numa declaração assinada de próprio punho (Cf. V. Cousin, Madame de Longueville, Paris, 1859, in-8, pp. 196-
203 e pp. 456-475; Collet op. cit., t. II, p. 516; deposição do Irmão Chollier no processo de beatificação).
44
A Marquesa de Maignelay.
.
Carta 481. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta se situa entre as cartas 469 e 482.
Eis duas jovens de Richelieu que a Providência vos envia. (Seria [bom] começar
a iniciá-las no retiro, já amanhã). Penso chamar Luísa e Bárbara2, se esta não for
necessária em Angers. Falaremos sobre isso. E se eu puder, irei encontrar-vos
imediatamente depois do almoço, para voltar para a assembleia.
Bom dia, Senhora. Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso servo muito humilde,
V. D.
Senhora,
22
Bárbara Angiboust, então em Richelieu.
.
Carta 482. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 4.
22
Mateus Molé.
3
São Vicente andava à procura de outra Casa-Mãe para as Filhas da Caridade.
4
A visita de São Lázaro, iniciada desde 26 de agosto (Cf. carta 473).
3
4
483. – A LUÍSA DE MARILLAC
[16401].
Senhora,
Vejo muito bem que é necessário estar com vossas filhas, quinta-feira, nos
Meninos [Expostos]. Mas não sei se terei alguns momentos para tratar do regulamento.
Veremos. Podereis chamá-las para esse dia, por favor, ou para a sexta-feira, o que me
será menos incômodo.
Boa noite, Senhora. Sou v. s.
V. D.
Enviai-me amanhã de manhã uma de vossas filhas, por favor, para a resposta
sobre a carroça.
Senhora,
.
Carta 484. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1
Acabo de ler a ordem do dia que me entregastes e achei-a boa. O que me levava
a um parecer diferente era que não distinguia, em meu espírito, os ofícios das Irmãs. Eis
como penso que ficaria bem: as Irmãs de La Chapelle e do Hospital-Geral podem
observá-la tal qual; as das paróquias, dos Meninos 2 e dos forçados terão em vista
observá-la nos seus ofícios, com certa flexibilidade. A das irmãs das paróquias está
bastante bem especificada. No final, acrescentareis às linhas relativas aos ofícios na casa
dos Meninos Expostos, o que julgardes conveniente; e, na casa dos forçados, o que é
próprio das Irmãs dos forçados. Mas, neste último caso, é bom saber o que elas fazem,
antes de acrescentá-lo.
Fareis hoje o adendo ao que diz respeito aos Meninos, e mo enviareis. Examiná-
o-ei esta noite3.
Penso que a Providência quer que não vades hoje aos Meninos, o Senhor de
Vincy precisa de sua carroça, e temo voltar, amanhã, dos Meninos, muito tarde, e muito
febril depois das palestras. Poderíeis adiar para sexta-feira e chamar as Irmãs, amanhã,
para a vossa casa, em La Chapelle, para onde me dirigirei? Se isso contraria vossas
ordens já comunicadas, não tenhais dificuldade em tomar outra carroça emprestada e ir
hoje mesmo.
Irei amanhã aos Meninos, se Deus quiser.
Bom dia, Senhora. Devolvei-me esta tarde a referida ordem do dia.
21
Em sua conferência de 19 de julho de 1640, o Santo tinha anunciado às irmãs sua intenção de mandar redigir
regulamentos especiais para as irmãs da Casa-Mãe, do Hospital-Geral, das paróquias, dos Meninos Expostos e dos
Galés. Luísa de Marillac pôs-se à obra, em seguida. Talvez mesmo seu trabalho já tivesse sido começado. Esta carta
parece posterior de um dia, em relação à precedente.
2
Os Meninos Expostos.
3
Temos ainda diversas observações de Luísa de Marillac sobre as regras comuns e as regras particulares das irmãs
dos Meninos Expostos, do Hospital-Geral, dos Galés, dos hospitais e das paróquias, um regulamento para as irmãs
dos Meninos Expostos, um outro para as irmãs dos hospitais, um terceiro para os ofícios da Casa-Mãe (Cf. Pensées
de Louise de Marillac).
3
.
Carta 485. – Original na Visitação de Troyes.
Nossa Madre superiora de Santa Maria1 me disse, minha querida Madre, que ela
escreveu para vós a nova vida do falecido senhor Comendador de Sillery. Deus dispôs
dele no dia de São Cipriano, a 26 de setembro, entre meio dia e uma hora, de uma
maneira muito preciosa.
No começo de sua doença, tinha, durante os acessos, pequena perbutbação com
idéias fixas, que apareciam apenas em algumas ações infantis, em certas ocasiões.
Seis dias antes da morte, ficou tão lúcido, firme e suave como jamais o víramos,
e assim permaneceu até a hora bem-aventurada em que partiu para Deus, com uma
plenitude do espírito de Deus, uma contínua submissão a sua vontade, admirável a meus
olhos2.
Ele fez a confissão quase geral das maiores faltas de sua vida ao senhor Pároco
da paróquia3 e comungou publicamente de suas mãos, como viático, no mesmo sexto
dia antes da morte.
Seis horas antes de morrer, foi acometido de dificuldade de expectoração e
pequeno estertor. Aceitou a Unção dos Enfermos, que me dissera lhe fosse conferida
quando a julgasse a hora4. Recebeu este sacramento com profunda devoção, firme e ao
mesmo tempo terna. Começou e continuou a fazer atos de fé, de esperança, de caridade,
de contrição, de agradecimento ao seu bom anjo por toda assistência que lhe dera na
vida, pediu-lhe perdão do mau uso que dela fizera e lhe suplicou assisti-lo, na derradeira
ação que lhe restava fazer. Rendeu muitas vezes graças a Deus pela escolha que fizera
de sua Santa Mãe, pelas graças que lhe dera, e a ela mesma, por todas as graças que ela
lhe tinha obtido, em especial a de tê-lo recebido como seu escravo. Agradeceu a Deus
pela entrega de São João à Santa Virgem e da Santa Virgem a São João. Agradeceu-lhe,
além disso, várias vezes, pela Encarnação, pela vida e morte de Nosso Senhor e por nos
ter deixado seu corpo da terra, para nos unir a ele, e mais, pelo fato de que seu reino
jamais teria fim, pedindo-lhe perdão pelo mau uso que fizera de todos esses divinos
mistérios.
Agradeceu em seguida ao Espírito Santo por todas as inspirações que lhe tinha
concedido e lhe pediu perdão do mau uso que delas fizera. Agradeceu ao Pai Eterno
pela existência que lhe dera e à divina Trindade pela glória que possui. Suplicou-lhe que
a difundisse, assim como também a glória dada a Nosso Senhor, à Santa Virgem, aos
anjos e aos santos, em especial ao nosso bem-aventurado Pai5. Agradeceu além disso a
Deus por tê-lo tirado da massa corrompida do mundo, há oito ou dez anos, e por tê-lo
feito viver uma vida de maior recolhimento. Agradeceu-lhe também pela glória
concedida a São João, patrono de sua Ordem e a todos os bem-aventurados religiosos,
pedindo perdão por não ter vivido nela como verdadeiro religioso. Em meio a tudo isso,
que às vezes repetia, fazia frequentes atos de desejo de ver a Deus, com estas palavras
11
Maria Angélica Lhuillier.
22
São Vicente escrevera aqui as palavras: às seis horas ele comungou, que ele riscou depois.
33
Nicolau Masure, pároco de Saint-Paul.
44
No original francês, o sacramento da Unção dos Enfermos aparece na denominação antiga de Exrema-Unção que a
teologia posterior corrigiu para Unção dos Enfermos (N. do T.).
55
São Francisco de Sales.
de São Paulo: Cupio dissolvi et esse cum Christo 6; veni, Domine, veni et noli tardare
(Meu desejo é partir e estar com Cristo; vem, Senhor, vem e não tardes mais).
Uma hora antes de morrer, mandou chamar o Senhor de Cordes, um de seus três
executores testamentários7, e fê-lo distribuir aos seus servidores, em dinheiro, o que lhes
tinha legado em seu testamento, unindo-se à divisão das vestes de Nosso Senhor, antes
de sua agonia. Deu-lhes a todos sua bênção e rezou alguns Miserere (Salmo: “Senhor,
tende piedade”). Enfim, entregou a sua bem-aventurada alma a Deus, com grande
serenidade.
Eis, minha querida Madre, a ordem seguida pela bondade de Deus, na conduta
deste seu servo, que tinha em vós uma confiança única e que vós amáveis e
consideráveis tanto diante de Deus.
Pedi-lhe a bênção para vós, minha querida Madre, como fiz para Santa Maria e
para nós. Ó Deus! Minha cara Madre, como ele vo-la deu de bom coração e como falava
de vossa caridade com uma estima e confiança unicamente filial! A que testemunhou
para comigo é para mim de singular consolação e esperança de que me obterá
misericórdia diante de Deus.
Desejou, durante estas seis horas, que eu estivesse sempre a seu lado, de tal sorte
que não podia suportar passasse eu para um outro quarto, nem mesmo que recebesse
recados. Quis que almoçasse junto ao seu leito, cerca de meia hora antes de sua morte. E
aí está, minha cara Madre, em resumo, o que se passou por ocasião da partida desse
bem-aventurado servo de Deus.
Temia-se que, após sua morte, sua Ordem viesse a provocar tumulto 8. Mas não o
fizeram. Ao contrário, tudo aconteceu com igual paz e serenidade, como se fosse com
filhos seus. Seus executores testamentários apareceram todos ao mesmo tempo e
puseram tudo em ordem.
No dia seguinte, à tarde, o levaram para o cemitério, conforme o desejo dos
parentes, porque ele tinha deixado ordem, no seu testamento, no sentido de que seus
funerais se fizessem sem pompa e sem brasões. Durante o cortejo fúnebre, ouvia
pessoas dizendo: Ó meu Deus! O que perdem hoje os pobres! E outros: Oh! ele recebe
hoje no céu o bem que fez para os pobres9!
Os comentários hoje em Paris são sobre sua bela morte e o modo como dispôs
dos seus bens, que todos louvam, com exceção daqueles que ambicionavam alguma
coisa. Doou cem mil francos para sua Ordem1010, para nós, o que o Padre Dufestel vos
pode ter dito. Fez dos pobres do Hospital Geral seus herdeiros.
66
Fl 1, 23.
77
Os dois outros eram o presidente Trélon, seu sobrinho, e o senhor Desbordes, auditor de contas.
88
A Ordem de Malta teria desejado uma maior parte nas liberalidades testamentárias de Brulart de Sillery.
99
O cronista dos mosteiros da Visitação nos fornece outros detalhes sobre as exéquias de Noël Brulart de Sillery.
Lemos no seu manuscrito, citado pelo autor da vida do comendador, p. 225: “No dia seguinte a sua morte, em torno
das seis horas da tarde, todos os eclesiásticos de Saint-Paul, com uma vela na mão, foram buscar seu corpo e o
transportaram sem pompa para a paróquia, porque assim tinha ordenado. Terminadas as orações ordinárias, o mesmo
cortejo fúnebre trouxe o corpo para a nossa igreja (igreja da Visitação), onde devia ser enterrado. Estava descoberto e
com a casula. As lágrimas dos estudantes que sustentava e o grito dos pobres que alimentava se faziam ouvir de todos
os lados. Os senhores padres da Missão participaram do ofício religioso, celebrado pelo próprio São Vicente, que fez
em seguida o elogio do defunto, mas sem subir ao púlpito”. O senhor Padre Sillery foi sepultado debaixo da capela
dedicada a São Francisco de Sales. Um epitáfio gravado no mármore, em cima do jazigo, recordava suas virtudes,
seus títulos e seus serviços. Em 1835, o corpo foi transportado para o novo convento das Visitandinas, na Rua Neuve-
Saint-Etienne-du Mont, posteriormente rua d’ Enfer. A antiga capela da Visitação se tornara templo protestante.
Esquecia-me de dizer que deixou cinquenta mil libras para um pobre sobrinho
seu a fim de comprar um ofício no Parlamento ou no grande conselho, com a condição
de reversão em favor do Hospital Geral, caso ele não o fizesse, e para um outro, 1500
libras de renda, com a condição também de reversão para o referido Hospital 1111. Não
contemplou de modo algum os visitadores das duas Ordens que conheceis.
Quanto a mim, resta-me o reconhecimento dos infinitos favores que devemos a
vossa caridade, à qual renovo a oferta de minha obediência e sou, no amor de Nosso
Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Não podendo escrever a nossas queridas Madres de Santa Maria 1212, suplico a
vossa caridade mostrar-lhes a presente.
Senhor Padre,
1010
Brulart de Sillery legara para o Conselho da Ordem 80.000 libras, além das 24.000 que ele lhe devia por ter
obtido a permissão de fazer testamento.
1111
Sobre as disposições testamentárias do comendador de Sillery, ver Contribuition à l’Histoire du monastère de la
Visitation Sainte-Marie du faubourg Saint-Antoine au XVIIe siècle, por Fosseyeux no Bulletin de la Société de
l’Histoire de Paris et de l’ile de France, 1910, p. 200.
1212
As irmãs da Visitação de Troyes.
.
Carta 486. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta e a seguinte, que lhe dá resposta, foram escritas entre a morte do Comendador de Sillery (26 de setembro
de 1640) e o retorno de Angers de Madame Turgis, que estava em Paris a 03 de outubro de 1640 ( Cartas de Luísa de
Marillac, carta 30). Ora, entre essas duas datas só há uma terça-feira, e essa terça-feira é o dia 02 de outubro, data da
resposta a esta carta.
22
Um menino exposto.
33
Acordar (accorder), acertar por acordo.
isto, creio ser preciso exigir uma boa soma, ou então, senhor Padre, antes desta
exigência, pedir-lhes que eles mesmos decidam a taxa a pagar.
Peço-vos, por favor, dar-vos ao trabalho de me comunicar tudo isso, sem
deferência por ninguém, pois o senhor Le Roy colocou tudo isso inteiramente aos meus
cuidados.
Entendo agir sempre nesta obra sob vossa obediência, vós que tendes o encargo
das damas, as quais gostaria de ver reunidas todas as semanas, em casa. Se estiverdes
de acordo, depois das decisões que me comunicardes, avisá-las-ei para virem aqui para
a resolução desta questão.
Doutra forma, poderíeis dar-vos ao trabalho de dizer a nossa irmã que as avise
para virem aqui, amanhã, quarta-feira, às onze horas, quando o senhor Bret deve vir
buscar a resposta que espero de vossa caridade.
Madame Turgis chegou. Pergunto-vos se concordais que a boa irmã que trouxe
com ela faça o retiro aqui, com aquela que falou convosco em Santa-Maria, ou na casa
do falecido senhor Padre Comendador4.
Falei à irmã de Saint-Germain que não podiamos manter em casa pessoas
descontentes ou que desedifiquem as outras irmãs. Se ela quisesse ficar, era preciso
mudar esse comportamento e não fizesse caso de ir servir os pobres, ao menos por
vários anos.
Nosso dinheiro esta todo em moeda da França, e muito pouco em peso de ouro.
Desejo muito que Deus queira dele servi-se, se for sua santa vontade.
Estive com Madame Villeneuve. Disse-me que lhe falaram de uma casa em La
Chapelle. Não sei se não é a nossa. Se vos apraz pensar nisso, creio seria necessário
vos digamos todos os incômodos e o que poderia ser remediado, antes de sair, para não
termos arrependimento.
Peço à bondade de Deus nada impeça seus desígnios e que eu seja
verdadeiramente, senhor Padre, vossa muito obediente filha e serva,
L. de M.
Senhora,
44
O comendador de Sillery.
.
Carta 487. – C. aut. – Original com os padres da Missão de Lujan (República da Argentina).
11
Ver carta 486, nota 1.
Meu pensamento é o vosso no tocante à diligência a tomar em relação à mãe e
madrasta dessa criança. Fazei-lhe as propostas de que me falais, se as damas forem
desse parecer. Podeis solicitá-las que se reúnam para isso.
Estou indo a Rueil e não poderei estar presente.
Será bom, como dizeis, que as damas se reúnam todas as semanas.
Estou contente com a volta de Madame Turgis e lhe mando meu bom dia.
Fareis bem em mandar as duas filhas fazer o retiro e em sondar o dono de vosso
alojamento se ele colocar a casa à venda. Anteontem, informei-me se há alguma em La
Chapelle e solicitei a uma pessoa ficasse de sobreaviso.
Cuidai de vossa saúde, rogo-vos o quanto posso, e sou, no amor de Nosso
Senhor, Senhora, vosso servo,
Vicente de Paulo.
Outubro de 1640.
.
Carta 488. – Reg. 2, p. 261.
11
Jr. 1, 6.
22
2 Co 12, 9.
33
Seu predecessor à frente da casa de Luçon.
44
Samson Le Soudier.
489. – A LUÍS LEBRETON
.
Carta 489. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
Monsenhor Scotti.
22
O Padre Charlet, assistente francês dos jesuítas.
33
São Vicente não queria fazer de sua Congregação uma ordem religiosa. Roma, os bispos e a maior parte dos seus
padres se opunham a isso. Por outro lado, ele sentia necessidade de estimular à perfeição os membros que a
compunham e impedir as deserções, introduzindo os votos de pobreza, castidade, obediência e estabilidade. Mas estas
duas aspirações não seriam contraditórias? Compreendem-se as hesitações do Santo num tempo em que a atenção dos
teólogos não se voltava ainda para a questão de saber em que consiste formalmente a essência do estado religioso.
Para ser religioso, não bastava fazer os votos comumente chamados de votos de religião. Era necessário fazê-los
diante de uma pessoa que tivesse missão de aceitá-los em nome do Instituto e da Igreja. É por falta desta última
condição que os membros da Congregação da Missão, como declarou Alexandre VII (Breve Ex comissa Nobis nas
Acta apostolica, p. 16), permaneciam do clero secular. (Foi sobretudo a Congregação da Missão com seu caráter de
secularidade e votos não religiosos que provocou a reflexão de teólogos e canonistas que desembocou na categoria
jurídica das chamadas Sociedades de Vida Apostólica- Nota do Tradutor).
mais gente, a não ser em favor de bispados mais próximos, ou no caso de haver meio de
trabalhar com os ordinandos, ou nos retiros espirituais.
Enviei-vos o testemunho da pobreza das pessoas das quais vos escreveu o Padre
Sourfliers4. Elas são de Hay, diocese de Paris. Aqui está um outro, em favor das pessoas
da diocese de Poitiers, das quais vos escreveu o Padre Perdu, ou melhor, eu por ele. Não
me lembro do grau de impedimento.
Agradeço-vos muito humildemente a atenção muito fiel que tivestes no caso das
religiosas de Chanteloup5, do qual vos escreveu o senhor Padre Féret 6. Um padre
gascão, que foi a Roma buscar as bulas do senhor bispo nomeado de Comminges 7,
recebeu pedido neste sentido. Podeis dizer-lhe o estado em que está a negociação e a
recomendação que vos fiz de nela trabalhar. Se ele quiser juntar-se convosco ou fazer
algo por sua conta, agireis com ele conforme vossa caridade ordinária. Se esses
senhores tivessem sabido que tomaríeis o caso tão a peito e trabalharíeis nele tão
eficazmente, não teriam solicitado ninguém, a não ser vós.
Muito vos agradeço também pelo que fizestes em favor do senhor Comendador
Padre Harque. O mal que disseram dele convosco não é verdade. O falecido prior mor
da França8 o empregava na administração de seus bens e de sua casa. Ele sempre se
comportou em verdade com zelo, inteligência, e ele lhe aumentou a renda. A ordem é
muito correta neste ponto e, no entanto, nunca chegou ao conhecimento dele queixa
alguma. De resto é homem de piedade e não deixa dia algum de celebrar a santa missa.
Se algum religioso disse algo dele, é talvez porque estiveram envolvidos em algum
processo com ele, por causa da proximidade ou mescla de seus bens. Os processos
acarretam sempre alienação de algum bem e menos estima. O senhor Comendador de
Sillery tinha grande estima dele e de sua piedade. E sempre me pareceu partidário dos
interesses de Deus, em tudo.
Meu Deus, senhor Padre, não haveria meio de acertar a data com esses dois
priorados de Langres e, entretanto, dar-lhes garantia em caso de morte? É difícil obter o
consentimento dos abades, Sua Excelência o senhor príncipe9 e Sua Eminência o senhor
Cardeal. Embora eu tenha proposto o expediente que me sugeristes, a renúncia, no
intervalo, em favor de alguém da Companhia, o personagem não deu resposta a respeito.
Teme talvez a infidelidade do outro ou a morte. Muitos acidentes aconteceram em uma
44
Para reduzir as despesas no tribunal de Roma. Estas pessoas pediam dispensa para casamento.
55
Chanteloup está hoje em Seine-et-Marne, na comuna de Lagny. Havia lá um priorado conventual de religiosas
beneditinas.
66
Hipólito Féret, doutor em teologia, nascido em Pontoise. Ele se tornará vigário geral de Alet, de Paris, e pároco de
Saint-Nicolas-du-chardonet.
77
Hugues de Labatut, nomeado em 1637, falecido a 10 de fevereiro de 1644. A região de Comminges estende-se até
Haute-Garonne e Gers.
88
Guilherme de Meaux-Boisboudran.
99
Armando de Bourbon, príncipe de Conti, irmão do grande Condé, nascido em Paris a 11 de outubro de 1629, é o
cabeça do ramo dos Conti. Seu pai, que o destinava ao estado eclesiástico, conseguiu lhe dessem grande número de
abadias, entre outras as de Saint-Denis, de Cluny, de Lérins e de Molesme. As armas o atraíram mais do que a Igreja.
Sua paixão pela Duquesa de Longueville o arrastou para as intrigas da Fronda. Depois de o mandar prender na prisão
de Vincennes, o Cardeal Mazarino lhe deu em casamento sua sobrinha Ana Martinozzi. O príncipe tornou-se
Governador da Guiana (1654), general dos exércitos na Catalunha, onde conquistou várias cidades, grão-mestre da
casa do rei e Governador do Languedoc (1660). Morreu a 21 de fevereiro de 1666. Sua virtuosa esposa soube
reconduzi-lo a Deus e até mesmo inspirar-lhe grande piedade. Consagrava todos os dias duas horas à oração. Amigo
de São Vicente, ofereceu-lhe mais uma vez seus serviços e fez questão de assistir aos seus funerais.
comunidade, desse modo. A dignidade de teologal e a paróquia de Luçon foram
subtraídas daquela comunidade por essa maneira.
Nosso seminário está crescendo sempre, pela misericórdia de Deus, em número
e em virtude. O resto da Companhia está muito bem, graças a Deus. As diligências em
prol da Lorena ainda continuam e a assistência aos pobres, também. Temos aqui dez mil
libras para enviar para lá, tão logo o Irmão Mateus1010 tenha terminado o seu retiro.
Deus chamou a si o Comendador de Sillery. Morreu santamente, como viveu
depois que se retirou dos embaraços do mundo. Deixou para a Companhia, em favor do
seminário, oitenta mil libras, além das fundações de Genebra e Troyes.
A falecida Madame Duquesa de Ventadour1111 deixou quarenta mil libras para a
fundação de uma missão, e uma pessoa que não quer ser conhecida nos enviou, dias
atrás, vinte e cinco mil libras; a finalidade, dizia ela, é no sentido de que praza a Deus
que a Companhia continue no espírito que tem no presente. Ó senhor Padre, como Deus
é bom e como são admiráveis os filtros do seu amor! Rogo-vos orar a Deus por todas
essas pessoas e nos ajudar a obter a graça de pôr em prática a intenção dessa boa alma
que é de condição mediana.
Estou indo a Rueil para tentar cumprimentar a S. E. 1212 se o puder, e se dispuser
de espaço e tempo, dir-lhe-ei uma palavra sobre o negócio do Padre Le Bret, o qual
saúdo com todo respeito e afeto possível. E sou, dele e vosso, servo,
Vicente de Paulo.
09 de outubro de 1640.
1010
Mateus Régnard.
1111
Catarina Suzana de Thémines de Monluc, filha de Antônio, Marquês de Thémines e Suzana de Monluc, esposa de
Charles de Lévis, Duque de Ventadour, era Marquesa de Pouy, Cauna, Thétieu, Buglose e outros lugares, hoje
situados nas Landes. Era uma das grandes benfeitoras do santuário de Notre-Dame de Buglose (Arc. Nat. S. 6703).
Testemunha dos grandes frutos obtidos por toda parte pelos filhos de São Vicente, desejava tê-los em suas terras.
Para este fim, legava ao Santo 40.000 libras, em seu testamento de 08 de setembro de 1634, para a fundação em
Cauna de uma casa de missão, composta de seis padres (Reg. dos estabelecimentos, Arquivos da Missão). O projeto
não aconteceu, provavelmente porque o Santo nunca pôde obter a soma legada.
1212
O Cardeal Richelieu.
.
Carta 490. – Reg. 2, p. 34.
11
Nicolau Pavillon, Bispo de Alet.
Desfrutai bem desta ventura, senhor Padre, in nomine Domini. Aspirai sempre e
sem descanso por vos formar à luz deste modelo e vos tornareis cada vez mais um bom
missionário. Lembrai-vos de que, na vida espiritual, os inícios contam pouco. O que tem
mais valor é a caminhada e o fim. Judas começara bem, mas terminou mal. São Paulo
terminou bem, embora tenha começado mal. A perfeição consiste na perseverança
invariável na aquisição das virtudes e no progresso nelas, porque nos caminhos de Deus
não avançar é recuar. O homem, com efeito, jamais permanece no mesmo estado e os
predestinados, como diz o Espirito Santo, ibunt de virtute in virtutem2 (caminham de
virtude em virtude).
Ora, o meio para isso, senhor Padre, é o contínuo reconhecimento das
misericórdias e bondades de Deus para conosco, acompanhado do temor contínuo de
nos tornarmos indignos de seus favores e de decair da fidelidade aos nossos pequenos
exercícios de piedade, em especial aos da oração, da presença de Deus, dos exames de
consciência, da leitura espiritual e de alguns atos diários de caridade, de mortificação,
de humildade e simplicidade.
Espero, senhor Padre, que o exato uso destas coisas nos tornará enfim bons
missionários, segundo o coração de Deus.
22
Sl 84, 8.
.
Carta 491. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1 1
Esta carta, escrita num domingo, perto do inverno, entre a morte do Comendador de Sillery (26 de setembro de
1640) e a carta 494 (01 de novembro de 1640), só pode ser de 30 de setembro, 07, 14, 21 ou 28 de outubro. Se
compararmos o que diz aqui o Santo sobre o estado de sua saúde com que escreve a 01 de novembro, somos
inclinados a preferir o domingo mais próximo de dia de Todos os Santos.
22
Chaire, traz o texto. Em nota, Pierre Coste corrige o descuido do Santo: chaise, cadeira (chaire=púlpito!).
Acabo de fazer a proposta ao Padre Dehorgny, caso venhamos a precisar dele.
Ele prevê que sim. Dentro de dois ou três dias, dar-vos-ei a solução, se não encontrardes
outra melhor, embora, diante de Deus, não veja nada mais seguro.
Pela misericórdia de Deus, pagamos este ano uma dívida de dez mil libras, ou
antes, de quinze, aproximadamente3. Espero que aquilo que a Providência nos deu pelo
senhor Comendador4 nos impedirá de endividar-nos, a não ser no caso da casa que
precisamos comprar para as filhas5.
Eis uma carta que um bom eclesiástico me escreve de Sedan. Vede se nos é
possível enviar alguma excelente filha. Trata-se de uma nova comunidade cristã. O
senhor Duque e a madame Duquesa se tornaram católicos, há pouco. Há noventa anos, a
heresia ergueu seu trono sobre aquele principado 6. Oh! como desejaria estivésseis com
boa saúde! Mas qual! Está aí o inverno. Nem pensar nisso.
Ele escreve a Margarida de Saint-Paul. Não lhe entregarei a carta antes de vos
ver. Se Bárbara, de Richelieu, estivesse aqui, seria a solução. Pensai um pouco nisto e
em vossa saúde.
Sou no amor de Nosso Senhor, Senhora, vosso humilde servo,
Vicente de Paulo.
Outubro de 1640.
Senhor Padre,
Vós nos ligastes tão estreitamente a uma dívida de gratidão, socorrendo, como
fizestes, a indigência e a necessidade extrema de nossos pobres, mendigos,
envergonhados e doentes e, de modo particular, os pobres mosteiros religiosos desta
cidade, que seríamos ingratos se demorássemos mais tempo sem vos testemunhar os
sentimentos que tudo isso despertou em nós.
Podemos garantir-vos que as esmolas que enviastes para aqui não podiam ser
mais bem distribuídas e empregadas do que em favor de nossos pobres, que aqui são
33
Era sem dúvida para pagar dívidas oriundas da aquisição de São Lázaro.
44
O Comendador de Sillery.
55
As Filhas da Caridade.
66
Em 1555, Sedam tinha passado para a Reforma com o seu senhor Henri-Robert de la Marck. A abjuração de
Frederico Maurício de la Tour d’Auvergne, Duque de Bouillon (1634), e seu casamento com Eleonora Catarina de
Bergh, filha de Frederico, Governador de Frise, e uma das primeiras damas da Caridade, foram as principais causas
do retorna à fé católica dessa antiga cidade.
.
Carta 492. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI, sec. I, 1ª ed., p. 376.
muito numerosos, e, sobretudo, em favor das religiosas. Estas ultimas estão destituídas
de qualquer socorro humano. Algumas não desfrutam de suas pequenas rendas desde
que a guerra começou e outras não recebem mais nada das pessoas de recurso da
cidade que antes lhes davam esmola, porque lhes tiraram os meios de o fazer.
Sentimo-nos assim obrigados a vos suplicar, como fazemos humildemente,
senhor Padre, que queirais continuar, tanto para com os referidos pobres como para os
mosteiros desta cidade, com as mesmas ajudas que até aqui nos destes. É motivo de
grande mérito para os que fazem tão boa obra, e para vós, senhor Padre, que a dirigis
e administrais com tanta prudência e inteligência. Conquistareis com isso grande
recompensa no céu.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhora,
.
Carta 493. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
O nome do destinatário desta carta não está no original. O conteúdo permite decifrá-lo.
22
Francisco Sublet des Noyers, Secretário de Estado.
33
O Santo repetiu por distração as palavras “um relatório” par mémoire antes e depois das palavras “ao Senhor des
Noyers”.
44
O Cardeal Richelieu.
.
Carta 494. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta se situa entre as cartas 491 (28 de outubro de 1640) e 509 (07 de fevereiro de 1641).
Minha febrezinha me obriga a ficar em casa.
Saí terça-feira passada pensando ir ver-vos, mas me senti pior. Entretanto, uma
quantidade de coisas exigiriam de mim ir estar convosco. Há uma pequena casa em La
Villete2, numa área de apenas uma eira, com o prédio e o jardim. Pertence à paróquia de
La Villete e depende daqui quanto à renda anual3 e à justiça. É a última da aldeia
daquele lado e do lado da igreja, da qual não está tão longe quanto a vossa casa. Falam
de quatro ou cinco mil francos. Há um corpo central de um edifício ou dois, com
ventilação pelo lado e atrás. Só há isso à venda em La Villete. Vede o que vos parece.
As damas dessa paróquia4 se queixam de Maria e dos seus modos de agir.
Desejam uma outra. Como despedi-la e quem enviar?
Quem destinais para Sedan? Urgem comigo para terem uma Irmã. Escrevi que
talvez ireis até lá. Mas como vos expor a tanto perigo nesta estação do ano?
Não sei o que vos dizer desta jovem de Angers, a não ser que há algo que não
vos convém, uma vez que não pratica uma coisa tão importante como a uniformidade no
traje5. Penso, contudo, ser necessário esperar um pouco.
O vosso filho poderá ser da missão de Mont-le-Héry6.
Madame Duquesa de Aiguillon deve ir ver-vos na primeira ocasião. Suplico-vos
manter as coisas no estado que lhe agrade aos olhos. Ela falará com o senhor procurador
geral7 para vos desobrigar das crianças desmamadas.
Sou, no amor de Nosso Senhor, v. s.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
22
Então, pequena comuna, hoje, bairro de Paris.
33
Renda que certos bens deviam aos senhores dos quais dependiam.
44
Saint-Laurent.
55
A uniformidade do hábito não era o único obstáculo à perseverança das postulantes angevinas. O clima de Paris
não lhes era favorável. Luísa de Marillac o constata em uma carta ao Abade de Vaux que queria encaminhar para a
Companhia das Filhas da Caridade duas moças de Angers (angevinas): “Espero, escrevia ela, (carta 44), que elas
ficarão livres das debilidades a que estão sujeitas as jovens de Angers, que vêm para esta região. Nossa irmã Maria
que trouxe comigo será, creio eu, o começo das que terão ânimo e saúde. As duas últimas que vieram antes dela
ficaram doentes de enfermidades incuráveis desde que chegaram. Foram definhando sempre aqui e agora estão no
leito de morte. São as duas Perrine”.
66
Hoje Montlhéry, em Seine-et-Oise.
77
Mateus Molé.
.
Carta 495. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Recebi vossa carta. Li-a e reli-a com consolação, vendo a delicadeza de vossa
consciência. Por outro lado, com pesar, porque não vos submeteis ao conselho deste
santo prelado1 e ao que vos disse relativamente aos maus sentimentos que vos sobrevêm
durante as confissões.
Em nome de Nosso Senhor, senhor Padre, atende-vos com firmeza ao que vos
dissemos. Por quem poderíeis discernir melhor a vontade de Deus do que por este santo
prelado e, se a santa humildade me permitir, por aquele que é o intérprete da vontade de
Deus sobre vós?
Ó Jesus, senhor Padre, longe de vós! Não reflitais mais sobre isso, do mesmo
modo que sobre os impulsos de gula, como também sobre os pensamentos que vos
ocorrem (às vezes) sobre o casamento, nem sobre as tentações de desespero. Tudo isso
não é nada mais do que exercícios para vossa purificação, iluminação e perfeição, e para
que possais ter compaixão daqueles que virdes em semelhante situação. Meu Deus!
senhor Padre, é um desígnio de Deus que os que devem ajudar espiritualmente os outros
caiam em todas as tentações do espírito e do corpo que podem atormentar as outras
pessoas.
Submetei, portanto, vosso juízo ao que o senhor bispo e eu vos dissemos, por
favor, e não fiqueis refletindo, nem vos acuseis dessas coisas em confissão. Desprezai
estas sugestões malignas e a malignidade de seu autor, o diabo. Permanecei na alegria e
humilhai-vos quanto vos for possível. De ordinário, Deus permite estas coisas para vos
libertar de algum secreto orgulho e para suscitar em nós a santa humildade. Isso irá
diminuindo à medida que fordes humilhando vosso entendimento, e passará quando
tiverdes feito progresso notável nesta virtude. Trabalhai muito, portanto, na aquisição
desta virtude.
Nenhuma regra obriga sob pena de pecado, se a substância do ato de
transgressão não é por si mesma pecado, ou se não ocorre desprezo, mau exemplo ou
desobediência, quando a coisa for ordenada em virtude da santa obediência. Mas
procedemos bem tornando-nos exatos em tudo, na missão e em casa.
Quanto à genuflexão nos quartos, basta fazê-las nos grandes intervalos e não
todas as vezes que se entra ou se sai, e isto, no local onde se dorme.
Quanto às vossas cartas, ser-me-ão sempre muito queridas. Penso que podem ser
um pouco mais breves e escritas em pequenos períodos, para eu poder colocar a
resposta à margem.
Minhas pequenas enfermidades de febre quartã me impediram de escrever a
Madame vossa mãe. Fá-lo-ei e lhe enviarei os livros que me assinalastes.
Eia, senhor Padre, termino dizendo que sinto inexprimível consolação a vosso
respeito. Vê-lo-eis diante de Deus, em cujo amor e no de sua Santa Mãe sou, senhor
Padre, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
11
Justo Guérin, Bispo de Genebra.
496. – A LUÍS LEBRETON
Senhor Padre,
.
Carta 496. – Dossiê de Turim, original.
11
O Cardeal Richelieu.
22
Urbano VIII.
33
Um outro Papa.
44
No entorno de Roma, terras incultas se estendiam ao longe, num raio de vinte quilômetros ou mais. Esta vasta
solidão, cheia de pastagens, era, durante o inverno o ponto de encontro de um grande número de pastores, que
retomavam, na volta da primavera, o caminho para suas regiões. Ocupando-se dessa pobre gente abandonada, privada
de missas e dos sacramentos, Luís Lebreton enfrentara uma obra muito penosa e muito meritória, inteiramente de
acordo com o fim de seu Instituto.
55
Lc 7,22.
Quanto aos nossos senhores bispos, submetemo-nos à obediência para com eles,
como os servos do Evangelho a seu senhor, quando se tratar de nossas funções externas,
assim como as punições por faltas exteriores, fora de casa. O senhor Bispo de Meaux 6
quis submissão a ele nas faltas internas em casa, em três casos: o de assassinato, de
mutilação de membros de alguém da Companhia e de libertinagem dentro de casa. No
que diz respeito à disciplina doméstica, ao governo da Congregação, à escolha e
demissão dos oficiais, à transferência de um lugar para outro e à visita canônica, tudo
isso dependerá do Superior Geral. Que vos parece de tudo isso?
Trabalhamos para obter do Superior Geral do Espírito Santo7 de aquém
montanhas o consentimento para a união. Envio-vos uma procuração daquele que dele
recebeu provisão, para poder resignar em favor do Padre Dehorgny8. Peço-vos
providenciar para que seja aceita o mais depressa possível e seja expedida a criação da
pensão de cem escudos que ele reservou para si. Estamos de acordo com a cidade de
Toul, embora a coisa ainda não tenha sido passada por escrito. Peço-vos, senhor Padre,
não perder tempo nisso e não dizer a quem quer que seja o que vos escrevi a respeito da
carta que me enviastes para informação de Sua Santidade, nem o que me prometeram.
Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
11
Santa Chantal.
22
Lc 10,16.
33
Justo Guérin, Bispo de Genebra.
adquiri-lo se não o tivésseis. Rogai a Deus por mim, por favor, que não o tenho de
modo algum para o meu progresso na virtude, a fim de que ele mo conceda.
Sou, em seu amor, e no de sua Santa Mãe, vosso muito humilde e obediente
servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Suplico-vos, senhor Padre, fazer algumas orações sobre o que vos digo e
comunicar-me as resoluções que Nosso Senhor vos conceder a respeito.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
.
Carta 498. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
11
Ele deixara sua magnífica residência no final do mês de julho de 1632, para morar numa casa vizinha do primeiro
mosteiro da Visitação, com a intenção de acompanhar nele os exercícios de piedade das religiosas. Reservara-se para
este fim, na igreja do mosteiro, a primeira capela à direita, logo na entrada.
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
Senhora,
.
Carta 499. – Manuscrito São Paulo, p.22.
11
Ver nota 2.
22
Foi a 29 de novembro de 1633. Esta carta seria portanto, se Luísa de Marillac não comete um erro, de 28 de
novembro de 1638, 1639 ou 1640. A terceira data é a única possível, pois que São Vicente estava ausente de Paris a
28 de novembro de 1638 e a 28 de novembro de 1639.
.
Carta 500. – Manuscrito São Paulo, p. 22.
11
Esta carta responde à carta 499, depois da qual foi escrita.
501. – A LUÍSA DE MARILLAC
Senhora,
Vicente de Paulo.
Dezembro de 1640.
.
Carta 501. – Dossiê da Missão, original.
11
Ver nota 4.
22
As Crianças Expostas.
33
Uma assembleia das damas da Caridade.
44
Nas cartas seguintes o próprio São Vicente procurará conformar-se ao conselho que dá aqui a Luísa de Marillac,
mas o antigo hábito às vezes acaba prevalecendo.
.
Carta 502. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI, sec. I, 1ª ed., p. 379.
do coração, já pleno de amor e de piedade, para prosseguir com vossa benignidade
para com quinhentos pobres que morreriam em poucas horas se, por infelicidade, esse
alívio lhes viesse a faltar. Suplicamos vossa bondade não permitir esse extremo, mas
nos dar as migalhas do que as outras cidades tiverem de supérfluo. Não fareis somente
caridade para com nossos pobres, mas os tirareis das garras da morte e nos tornareis
estreitamente devedores e agradecidos.
Senhora,
V. D.
.
Carta 503. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Quando São Vicente escrevia esta carta, havia entre as Filhas da Caridade uma irmã enviada de Richelieu. Lambert
aux Couteaux era superior da casa fundada nessa cidade e São Vicente pensava na mudança da Casa-Mãe das irmãs.
Estes três detalhes nos levam a adotar a data aproximativa acima. É mais provável a data de 1641 que a de 1640.
22
Provavelmente as Confrarias da Caridade.
33
Lambert aux Couteaux ficou em Richelieu até 1642.
44
Muito provavelmente uma casa proposta a Luísa de Marillac, para ela e sua pequena comunidade.
.
Carta 504. – Carta assinalada num catálogo do senhor Charavay, comerciante de autógrafos em Paris. O original,
todo da mão do Santo, compreende duas páginas de textos in-12.
Vicente de Paulo deseja saber o número das crianças expostas e se é possível
conseguir amas-de-leite ao preço de que falou. Isso daria ânimo a todo mundo.
14 de janeiro de [16412].
Senhor Padre,
.
Carta 505. – Dossiê da Turim, cópia do século XVII ou XVIII.
11
Charles Ozenne, nascido em Nibas (Somme) a 15 de abril de 1613, foi ordenado padre em 1637 e recebido na
Congregação da Missão a 10 de junho de 1638. Colocado na casa de Troyes depois do Seminário Interno, nela fez os
votos a 29 de agosto de 1642 e foi nomeado superior em 1644. Foi de lá que São Vicente o retirou em 1653, para
confiar-lhe a direção da Missão da Polônia. “É, dizia ele, um homem de Deus, zeloso e desapegado, que tem o dom
para conduzir e conquistar os corações das pessoas de dentro e de fora”. Infelizmente, a carreira deste excelente
missionário foi curta. Morreu em Varsóvia, a 14 de agosto de 1658 (Notices, t. III, pp. 148-154).
22
O copista escreveu 14 de janeiro de 1740. O “7” é evidentemente consequência de distração e o “zero”, de má
leitura. A morte de Roberto de Sergis, que a carta 475, de 26 de agosto de 1640, supõe ainda em vida, se dera muito
recentemente, a 03 de fevereiro de 1641(Cf. 1. 507).
33
Superior da casa de Troyes.
44
Essa carta, enviada a todas as casas da Companhia, não nos foi conservada. Nada sabemos sobre os últimos
momentos do Padre Robert de Sergis.
55
René de Breslay, Bispo de Troyes.
66
Sobre a pensão anual devida a São Vicente quer pelo Bispo de Troyes, quer pelo comendador de Sillery, ver a carta
292, nota 1.
O senhor Padre du Coudray não está ainda de volta. Estou muito preocupado,
pois que deveria estar aqui há dez dias.
Temos aqui um de vossos parentes, chamado Heurtel 7, que quer doar-se a Nosso
Senhor em nossa pequena Companhia. Saúdo o Padre Dufestel e o abraço em espírito
com toda a humildade e afeição possível, como faço como os outros de vossa família.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e muito
obediente servo,
Vicente de Paulo.
Senhora,
V. D.
77
Francisco Heurtel nasceu em Nibas (Somme) em 1621. Entrou na Congregação da Missão a 26 de novembro de
1640 e fez os votos a 01 de dezembro de 1642. Foi ordenado padre em 1645.
.
Carta 506. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta é muito provavelmente da quinta-feira precedente ao dia em que foi escrita a carta 509.
22
Pierre Colombert. Foi pároco de Saint-Germain-l’Auxerrois, de 16 de março de 1636 a 06 de julho de 1657.
507. – A LUÍS LEBRETON
Senhor Padre,
55
Os Padres do Oratório.
66
No seminário de Ruão só eram recebidos jovens, com a idade de ao menos quatorze anos. São Vicente retorna em
outra parte (carta 709) sobre o reduzido número de padres que saíam deste seminário (Ver excelente obra de M.
Degret, Histoire des seminaires français jusqu’ à la Révolution, Paris, 1912, 2 vol., in-12, t. I, p. 86). Os seminários
de Agen e de Bordéus estavam vazios.
77
São Vicente não era tão contrário à admissão de meninos nos seminários. Ele mesmo recebeu alguns durante sua
vida, quer nos Bons-Enfants, quer no seminário São Carlos. Instruído, porém, pela experiência de que este meio era
insuficiente para alcançar a reforma do clero e porque dava poucos resultados, e ainda, porque eram resultados
tardios, estimava com razão que a preparação remota não devia conduzir à negligência da preparação próxima dos
que estavam prestes a receber as ordens, ou as tinham já recebido. E quando os recursos não davam para levar tudo
em frente, era melhor empreender o mais urgente.
88
Em Morangis (Seine-et-Oise).
99
Domingos Séguier, Bispo de Meaux, tinha requisitado os padres da Missão para Crécy.
1010
Jacques Raoul, Senhor de la Guibourgère.
e tenham sido instruídos no seminário; para os beneficiários em atividade, os exercícios
espirituais. Praza à divina bondade nos conceda sua graça para isso!
A Companhia está crescendo em número e em virtude, pela misericórdia de
Deus, como cada um reconhece e me pareceu nas visitas. Só eu, miserável, vou-me
sobrecarregando de novas iniquidades e abominações. Ó senhor Padre, como Deus é
misericordioso em me suportar com tanta paciência e longanimidade e como sou
mesquinho e miserável por abusar tanto de sua misericórdia! Suplico-vos, senhor Padre,
me recomendeis frequentemente à sua divina Majestade.
As esmolas para Lorena continuam sempre, pela misericórdia de Deus. Nosso
Irmão Mateus leva para lá, todos os meses, duas mil e quinhentas libras para os pobres e
cerca de quarenta e cinco mil libras para os religiosos e religiosas. E temos hoje a
assembleia para a assistência à pobre nobreza refugiada, para a qual distribuímos, no
mês passado, mil e tantas libras e espero distribuir outro tanto hoje.
Deus dispôs de nosso bom Padre de Sergis. Sobre ele vos escrevo em carta à
parte.
Eis nossas pequenas notícias. Recebo sempre as vossas com consolação. Sou, no
amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Se depois que a pessoa, a quem o senhor Bispo de Genebra escreve, tiver visto o
que ele diz desta pequena Companhia, estiver aberta a prestar este serviço, quid (que tal)
se lhe pedis emprestada a carta, para apresentá-la a Sua Excelência, Dom Ingoli, e aos
que julgardes conveniente?
06 de fevereiro de 1641.
Senhora,
.
Carta 509. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta é da quinta-feira que precede a carta 512, datada de 09 de fevereiro.
22
Maria Joly. Era apreciada pelas damas de Saint-Germain-l’Auxerrois, que viam com pesar sua partida, mas não
ousavam resistir à vontade de São Vicente. Tiravam-lhe Maria Joly e lhes deixavam uma irmã que lhes não satisfazia.
Compreendem-se as suas queixas.
33
Saint-Etienne-du-Mont, paróquia de Paris.
Vicente de Paulo.
Senhora,
Penso, Senhora, que não me fiz entender bem, no tocante à Irmã a se enviar a
Saint-Germain. Escrevi-vos que estas damas pedem de volta a que lhes tirastes e
colocastes em Saint-Etienne. Compete a vós verificar se lhes podeis devolvê-las ou
mandar-lhes alguma outra que tenha experiência semelhante à dela. Com efeito,
enviando-lhes hoje a primeira, o senhor Pároco2 me disse ontem que vos mandaria
Maria de volta, hoje mesmo3.
Na verdade, a necessidade que temos das Irmãs mais dotadas me toca até o
fundo do coração.
Quanto à residência nessa paróquia, é preciso, a qualquer preço, ter uma de
aluguel, esperando a ocasião de comprar uma outra, o que não acontece todos os dias,
pelo menos quando se trata da que se precisa.
Vejo que vos deixais tomar por sentimentos humanos logo que me vedes doente,
pensando que está tudo perdido, por falta de uma casa. Ó mulher de fé apoucada e de
fraca acolhida à conduta e ao exemplo de J. C.! O Salvador do mundo, quanto ao bem
de toda a Igreja, se dirige ao seu Pai, quando estão em jogo regras e acomodamentos.
Ora, quando está em jogo um punhado de filhas que ele evidentemente suscitou e
congregou, pensais que nos vai faltar!
Vamos, Senhora, humilhai-vos muito diante de Deus, em cujo amor sou v. s.
V. D.
Fizeram-me uma sangria hoje, mas estou bem melhor, graças a Deus!
Senhora,
Bendito seja Deus por ter a Irmã Maria2 tomado a decisão! Tudo para o maior
bem, pois que estimais que a de Beauvais 3 tem as qualidades que a capacitam para o
trabalho de Saint-Germain4. In nomine Domini, enviai-a, por favor.
O Irmão Jordano5, que eu pensava enviar a Montmorency amanhã, se encontra
indisposto.
Vossa ama-de-leite servirá, entretanto, a vossas criancinhas durante sete ou oito
dias, por favor.
Perdi o relatório que me enviastes para a assembleia 6. Rogo-vos dar-vos ao
trabalho de me enviar um outro.
Desejo-vos um bom dia e paz de espírito.
Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso servo,
V. de Paulo.
Senhor Padre,
Enfim está aqui nossa boa Irmã Maria, plena de boa vontade. Julgo-a um pouco
cansada do trabalho que teve nos últimos oito dias. Receio muito por ela ir sozinha, e
por não se encontrar mais com suas irmãs. Mas está disposta, sem murmurar e sem que
a mudança lhe suscite pretexto para faltar à obediência. Deixa somente transparecer
grande temor.
Quanto a mim, porém, sou menos sábia. De fato, a resolução que me parecia
terdes tomado de jamais enviar uma Irmã sozinha, se me fixou tão fortemente no
espírito que me parece necessário enviar alguma outra com ela. Ela pode vir a adoecer
a caminho ou, estando lá, podem surgir pessoas más que pensem mal dela e lhe causem
desgosto.
E como ninguém é insensível, e não é pouca coisa ver essas Irmãs abandonarem
tudo, ela pode ficar muito triste e, sem como aliviar o espírito, há que se temer venha a
11
Carta escrita depois da carta 510 e antes da 512.
22
Maria Joly.
33
Provavelmente irmã Francisca Carcireux, originária de Beauvais.
44
Saint-Germain-l’Auxerrois.
55
Jean Jourdain, o primeiro Irmão Coadjutor da Missão.
66
A assembleia das damas da Caridade.
.
Carta 512. – Arq. da Missão, cópia do original autógrafo.
cair no desânimo. Temo igualmente seja isto nocivo para as outras. Diriam que não há
muita preocupação com as Irmãs, pois que as deixam partir sozinhas.
Tudo pesado, senhor Padre, tomo a liberdade de vos suplicar penseis nisso, e se
não há um meio de ela servir de exemplo às outras, para encorajá-las.
A viagem não nos custará muito. Além dos dez escudos que trouxe, há oito dias,
trouxe outro tanto, ontem.
Quanto às despesas, já que elas se alimentam com sobriedade, creio que o
pouco dado a uma ajudará a outra a viver, e além disso, elas trabalharão para ganhar
o resto. Com efeito, embora ela tivesse muito trabalhado e muitos doentes em Saint-
Germain, não deixava de lavar roupa para os outros, ganhando assim alguma coisa.
Pensava, senhor Padre, se o aprovardes, dar-lhe como companheira nossa irmã
Clara, cheia de vigor físico. É aquela que foi estar convosco em Santa Maria,
juntamente com sua mãe, para ser admitida. É de temperamento suave, e penso que se
darão bem, juntas.
Suplico-vos muito humildemente dar-vos ao trabalho de me comunicar se
aceitais que assim seja e o dia em que poderão partir, e se não seria preciso reservar-
lhes o lugar no coche.
Sinto-me aborrecida por vos incomodar em vossa enfermidade, cuja cura
suplico ao bom Deus, e sou, senhor Padre, vossa humilde filha e grata serva,
L. de M.
Fevereiro de 1641.
A irmã que vos proponho ir com a irmã Maria Joly sabe ler; ela poderia dar
aulas às mocinhas pobres. Se vossa caridade pensar em outra Irmã, seria possível dizer
o nome? Haveria meio de dar uma companheira a nossa boa irmã Maria?
Senhora,
Aprovo vossa intenção de enviar as duas Irmãs, contanto que a segunda saiba
dar aulas. E é disto que duvido. Ser-vos-á bom instruí-la.
Outra dificuldade é o sustento delas. Se esta Irmã não é capaz de dar aulas, não
seria melhor enviar para lá uma outra menos necessária nessa cidade?
.
Carta 513. – Arq. da Missão, cópia do original autógrafo.
11
Esta carta responde à precedente, depois da qual foi escrita.
Bom dia, Senhora. Estou passando bem, graças a Deus, e sou vosso muito
humilde servo,
Vicente de Paulo.
[Fevereiro de 16411].
Antes de 16501.
Nosso bom Deus quis acrescentar à consolação que sua bondade me dispensou
com a vossa caridade, mostrando-me, num outro caso, que sua providência não
abandona os pecadores. Com efeito, enviou-me Madame de Marillac 2 para me dizer que
pensava estar eu adoentada e me suplicava dizer-lho com toda a liberdade, para me
prestar a ajuda que madame sua mãe 3 me havia oferecido, de enviar todos os anos uma
certa importância. Declarei-lhe com toda a simplicidade o meu incômodo e que não
teria necessidade de nada se meu filho tivesse algum emprego.
.
Carta 514. – Original no Hospital do Bon-Secours, em Metz.
11
Esta carta parece posterior, em alguns dias, à carta 512.
22
Eleonora Catarina Fébronie de Bergh, casada a 01 de fevereiro de 1634 com Frederico Maurício, Duque de
Bouillon, falecida a 14 de julho de 1657, aos 42 anos. Contribuiu com suas liberalidades para o estabelecimento das
Filhas da Caridade em Sedan.
33
Maria Joly.
.
Carta 515. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data do casamento de Michel Le Gras.
22
Esposa de Michel de Marillac, Conselheiro do Parlamento.
33
Ou antes, sua sogra, viúva de Renê de Marillac, então no Carmelo.
Desejou estar convosco para tratar deste assunto, mas tínheis saído. Queria
saber de vós, senhor Padre, como o senhor Bispo de Beauvais 4 recebera a proposta que
ela lhe fizera e a opinião dele a esse respeito. Considerando que ela não sabe a
maneira como lhe falar disso e como ele deve partir amanhã ou depois, ela e eu vos
suplicamos muito humildemente dar-vos ao trabalho de lhe escrever uma palavra sobre
este assunto, digo, a Madame de Marillac, se julgardes conveniente. Fez questão disso,
temendo que tivésseis algo a me dizer que me pudesse contristar.
Não sei se é meu orgulho que me aflige pelo incômodo que causo aos outros.
Deveria estar bem melhor, pois que tenho a honra de ser, senhor Padre, vossa muito
humilde filha e muito grata serva,
L. de M.
Senhora,
44
Agostinho Potier.
.
Carta 516. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
O lugar dado às palavras” manhã de sábado”, no cabeçalho da carta indica que não foi escrita antes de 1639. Por
outro lado, depois de 1641 as irmãs não estavam mais em La Chapelle.
22
Carta aos Efésios, capítulo 5.
Tendes o espírito muito pouco confiante. Tende confiança que Nosso Senhor
cumprirá seus desígnios sobre vosso filho.
É preciso manter para com Angers o que prometestes, embora, no momento, seja
contra vosso sentimento.
Se puder, irei amanhã a La Chapelle ou mandarei alguém.
Bom dia, Senhora. Sou v. s.
V. D.
Senhora,
.
Carta 517. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta precede de poucos dias a carta 518.
22
Convento fundado em 1612, na paróquia Saint-Jacques, pela Senhora Lhuillier, viúva de Cláudio Le Roux.
.
Carta 518. – Original no Berço de São Vicente de Paulo.
11
Esta carta foi escrita quatro dias antes da carta 519.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Penso que não deveis temer o que me dizeis desta jovem. Peço-vos, por isto,
salvo melhor juízo vosso, escrever a Madame Chaumont que vo-la envie, ou comunicá-
lo oralmente à sua funcionária da portaria. Foi, com efeito, o que lhe escrevi, isto é, caso
estivésseis de acordo, se ela fosse deixar a jovem na cidade, mandaríamos buscá-la. Do
contrário, parece-me que seria bom mandar dizer à porteira que lhe envie uma carta a
Saint-Germain. Quanto à pensão, poderíeis mandar dizer a Madame Marquesa2 que
recebereis o que lhe aprouver.
Aqui está uma carta de Madame Le Roux que espera ir fazer o retiro convosco,
segunda-feira, juntamente com Madame Lotin. Vossa saúde vos permitirá entregar-vos
a isso, Senhora? Meu resfriado parece ter melhorado, dando-me a esperança de poder
assistir à assembleia na próxima sexta-feira. Rogo-vos recomendá-la a Nosso Senhor,
em cujo amor sou vosso servo,
V. D.
Senhora,
22
Madame Chaumont.
.
Carta 519. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Uma frase da carta dá a entender que foi escrita durante a quaresma. O conjunto só se pode aplicar ao ano 1641.
22
A Duquesa de Aiguillon, presidente da Caridade estabelecida na paróquia São Sulpício.
33
A paróquia São Sulpício superava as outras paróquias da capital em extensão e em má reputação (Cf. Faillon, op.
cit., t. II, p. 12).
Penso que faríeis bem em enviar Joana4 para Saint-Germain5.
Madames Le Roux e Lotin pressionam no sentido de começar amanhã o seu
retiro convosco. Que vos parece, Senhora? A segunda costuma comer carne.
Ser-me-á difícil estar convosco, por causa do meu incômodo. Será preciso que
elas venham aqui.
Fareis o que vos for possível no caso de Saint-Jacques e dos condenados às
galés.
Vou insistir com o Padre Lambet, no caso das Irmãs.
Quanto ao negócio de Angers, esqueci-me ontem de dizer uma palavra ao
Senhor de Cordes. Vamos ver. Poderíeis excusar-me, no caso dos papéis, em razão da
minha pequena indisposição.
Importa continuar rezando para conseguir a casa. Por ela não me aflijo tanto; no
presente, importa estabelecer-vos aqui por meio de um aluguel. Ó Jesus! Senhora, vossa
causa não depende de uma casa, mas sim da continuação da bênção de Deus sobre a
obra.
Vou perguntar ao Padre du Coudray se ele conhece moças com qualidades em
Lorena e pedir-lhe escreva para todo lugar. É uma ideia que me vem, no momento.
Mandai-me quanto antes vossa opinião sobre essas damas e o seu retiro.
Bom dia, Senhora. Sou vosso s.
V. D.
Senhora,
Pensei em mandar copiar e cotejar os papéis de Angers. Será feito dentro de dois
dias.
Gostaria de ver a carta que vos escreveu o senhor Abade de Vaux.
Estou passando bem, graças a Deus.
Sou, no amor de Nosso Senhor, minha Senhora, vosso muito humilde e
obediente servo,
44
Jeanne Lepeintre.
55
Saint-Germain-en-Laye.
.
Carta 520. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data da entrada das Filhas da Caridade para o hospital de Angers.
Vicente de Paulo.
[Depois de 16371].
Senhora,
V. D. P.
1641.
.
Carta 521. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
A casa de Richelieu foi fundada em 1638.
.
Carta 522. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, 1ª ed., p. 50.
.
Carta 523. – Original em Turim, na casa central das Filhas da Caridade.
11
24 de março.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
22
Jacques Soudier.
.
Carta 524. – Dossiê dos padres da Missão, cópia do século XVIII.
11
31 de março.
22
Sobremaneira, sobremodo.
porque vos considero não somente útil ao senhor Bispo de Bayonne 3, mas também
necessário, especialmente no estado em que se encontra. Que contas daríeis a Deus se,
por falta de vossa assistência, este bom prelado abandonasse sua cara esposa (a
diocese), que vos quer tanto bem?
Os humildes pensamentos que vos proponho e que submeto aos vossos, não os
ousaria dizer senão a poucos eclesiásticos, porque há poucos, parece-me, a quem Deus
preveniu com a graça de não valorizar os interesses materiais. E vós sois, assim o julgo,
um daqueles que jamais vi com tão grande desinteresse. E o que me leva a pensar que
não me engano é que reflito nisso há muito tempo e que o senhor Bispo de Bayonne vos
poderá testemunhar que, seja o que for me tenha ele dito a respeito, não ousava então
dizer-vos o que vos digo agora. E posso garantir-vos, como o faço diante de Deus, que
nenhum motivo humano me impele a dizer-vos isto, mas unicamente o interesse de
Deus e o bem de sua Igreja. Mas como sou um pobre roceiro e guardador de porcos e, o
que é pior, a mais abominável e detestável de todas as criaturas do mundo, peço-vos não
ter consideração alguma com o que vos digo, se não vos parecer conforme à vontade de
Deus, em cujo amor e no de Jesus Cristo sou, senhor Padre, vosso humilde e muito
obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
V. D.
33
Francisco Fouquet.
.
Carta 525. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Duração da permanência da irmã Maria Joly em Sedan. A carta mais parece de 1641.
22
Maria Joly.
526. – LUÍSA DE MARILLAC A SÃO VICENTE
[16411].
Senhor Padre,
Envio-vos uma carta da Irmã Aimée, de Troyes, que seus irmãos não quiseram
levar. Suplico-vos muito humildemente o favor de me dizer quando essa senhora de que
ela fala deve regressar e se lhe devo dar dinheiro e quanto para as despesas e para o
lugar na diligência.
Pensando que Deus me daria hoje a oportunidade de falar convosco, pus-me a
examinar as reiteradas faltas que cometo. Pareceu-me também, meu muito honrado
Pai, que (esta oportunidade) deve dar a conhecer à vossa caridade quanto preciso ser
ajudada, para cumprir a santíssima vontade de Deus, pois de mim nada há que esperar,
absolutamente nada, a não ser o que vós fizerdes a honra de ordenar, porque, disso,
parece-me, nosso bom Deus me concede a graça de lembrar-me.
Uma das coisas mais urgentes para mim é vos pedir conselho sobre como agir
com nossa boa irmã Bárbara e vos dizer que ela precisa muito falar convosco. Creio
que ela não ficará satisfeita enquanto não o conseguir. Se puderdes ir a La Chapelle
neste sábado, far-nos-íeis grande favor.
Temo muito que nossa Irmã Margarida, a senhorita2, acabe ficando
desequilibrada. Estimaria muito se não fosse incômodo, me permitísseis falar, a tempo,
convosco, sobre isso.
Vossa caridade poderia, por obséquio, lembrar-se das anotações que me
prometeu, para me ajudar a falar às nossas Irmãs, duas ou três vezes por semana,
procurando animá-las? Sinto que mereço grandes castigos pelas faltas que cometem.
Pedi a Deus uma outra pessoa que possa servi-las melhor, suplico-vos com lágrimas
nos olhos. Há tantos anos Deus me dá a graça de falar-me através de vós e ainda sou o
que sou! Invocai, por favor, sua misericórdia sobre minha pobre alma, que ele colocou
em vossas mãos, a fim de ser para sempre, senhor Padre, vossa muito humilde e grata
filha e serva,
L. de Marillac.
Quinta-feira.
.
Carta 526. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita quando a Casa-Mãe ainda estava em La Chapelle e depois do chamado da Irmã Bárbara da
casa de Richelieu, nos primeiros tempos da permanência de Margarida de Turenne na Casa-Mãe.
22
Provavelmente Margarida de Turenne, parente do pároco de Saché.
527. – A LUÍSA DE MARILLAC
[1641].
Penso, Senhora, que fareis bem em dar o que for preciso para a vossa Irmã 1
poder voltar. Encaminhai-a para Madame Gouault que se encontra na casa do seu filho
comerciante, na Rua Saint-Honoré.
Não me é possível estar disponível para as nossas Irmãs, antes do fim da
próxima semana. Temos assembléias, todos os dias, daqui até quarta-feira. Depois disso,
falarei com Bárbara. Estando as coisas no ponto em que estão, é preciso colocar esta
filha em algum outro lugar. Quanto a essa senhorita, o que estais pensando para ela?
Falarei com o senhor Guilloire sobre a Senhora Constância. Será bom,
entretanto, orientar Madame Bélot2. Não vos parece, porém, que Madame Turgis possa
substituir-vos? Seria bom dar-lhe crédito entre as Irmãs, se a julgardes apta.
Quanto a vós, Senhora, em nome de Deus, perdoai-me se não puder falar
convosco tão cedo. Fá-lo-ei logo que me for possível. Sou, no amor de Nosso Senhor, v.
s.
V. D.
[16411].
Esta Irmã se decidiu, enfim, a ir para Saint-Côme2, embora diga, em seu humor
flutuante, que não ficará lá por muito tempo. Foi bom, seu tio era igual a ela.
O Padre Dehorgny me comunicou, há dois ou três dias, que não estão muito
contentes com nossa Irmã Jeanne, lá nos condenados às galés. Quem lhe falou sobre
isso foi o padre de Saint-Nicolas3. Sendo assim, é preciso retirá-la quanto antes possível.
Não sei se este ofício estará acima das forças de nossa irmã Bárbara Angiboust4.
.
Carta 527. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original. Esta carta responde à precedente, depois da qual São
Vicente a escreveu.
11
Irmã Aimée.
22
Talvez Maria Le Maistre, esposa de Martin Bélot, diarista que tinha seu domicílio na paróquia Saint-Nicolas-du-
Chardonnet, rua des Rats. Posteriormente Rua d’Arras.
.
Carta 528. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ano em que Bárbara Angiboust foi servir aos galés.
22
Paróquia de Paris.
33
Jorge Froger, pároco de Saint-Nicolas-du-Chardonnet. Sabe-se que o clero de Saint-Nicolas-du-Chardonnet era
encarregado da Capelania dos galés.
44
Ela se fez notar nele, como em toda parte, por sua grande caridade e inalterável paciência. Acontecia de os galés,
descontentes com o que se lhes servia, jogarem por terra sua refeição. Bárbara se inclinava, recolhia o pão, a carne, e
Espero estar convosco, se Deus quiser, amanhã. Louvo a Deus, pois estais
passando bem.
Fiquei muito edificado com esta senhorita de Arras. Quando ela irá começar o
retiro? Tem muita vida interior. Não sei se será muito ativa. Se não, Nosso Senhor a
ajudará.
Bendito seja Deus, Senhora, por tudo que lhe aprouve operar em vós, no vosso
retiro e por ter-me privado da consolação de estar aí convosco!
Estou passando bastante bem, graças a Deus, e em condição de vos oferecer
amanhã a Nosso Senhor, no novo estado exterior e interior no qual o amor divino vos
colocou1. Ele supre e realiza divinamente o que os homens não podem humanamente
depois de limpar os alimentos, os apresentava de novo aos forçados, com o rosto sempre sorridente.
.
Carta 529. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 2.
22
Margarida de Turenne recebeu o hábito das Filhas da Caridade no dia de Pentecostes do ano 1641, ou em dia
próximo desta festa (carta de sua mãe conservada nos arquivos das Filhas da Caridade).
33
Talvez Francisca Noret, que estava em Liancourt.
44
Nanteuil-le-Haudoin (Oise). Esta localidade tinha por Senhor (Proprietário) Charles de Shomberg, duque de
Halwin e Marechal de França.
55
Jeanne Lepeintre.
.
Carta 530. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Bárbara Bailly diz em suas notas que Luísa de Marillac revestiu o hábito da Filha da Caridade num dia de
Pentecostes e adoeceu de tal forma que lhe foi preciso retomar sua touca. A irmã de Geoffre coloca o fato em 1639,
fazer. Talvez tenha ele permitido expressamente a minha ausência para eu não meter a
minha foice na sua seara. Suplico-lhe vos anime plenamente com seu espírito, assim
como vossas duas filhas e vossos doentes.
Fareis bem em despedir esta jovem de Angers depois das festas, o mais cedo
possível. Veremos depois a ação de Nosso Senhor em vós. E o céu há de olhar para vós,
amanhã, revestida com o hábito exterior de penitência, que ocupou o vosso espírito e o
dela, durante muito tempo, por sua misericórdia, em cujo amor sou vosso servo...
V. D.
20 de julho de 1641.
Senhor Padre,
Recebi a carta que vos aprouve dar-me a honra de escrever-me. Não vos dei
resposta logo ao recebê-la, por causa do embaraço em que estava. Vossa caridade me
perdoará, por favor, e haverá por bem que o Padre Duchesne vos leve a resposta de viva
voz. Ele vai encontrar-vos juntamente com o padre decano de Saint-Frambourg 2 para a
questão de que se trata. Suplico-vos muito humildemente, senhor Padre, assistir a ele
com vossos conselhos e vossa proteção.
Se julgardes diante de Deus que nossa pobre e humilde Companhia pode prestar
algum pequeno serviço a sua divina Majestade em vossa cidade, o referido senhor
decano e ele vos relatarão o estado em que se encontra o negócio.
Quanto a mim, suplico-vos aceitar a reiterada oferta de minha obediência e sou,
no amor de Nosso Senhor, senhor Padre,...
conforme “várias confrontações” (Cartas de São Vicente de Paulo a Luísa de Marillac, p. 218, nota). Não sabemos
que confrontações teve em vista. Mas duvidamos muito que antes da entrada das Filhas da Caridade para o hospital
de Angers, Luísa de Marillac tenha tido angevinas em sua comunidade. Em sua correspondência e na de São Vicente,
nunca se fala de irmãs angevinas antes do dia 01 de dezembro de 1640.
.
Carta 531. – Reg. I, fº 21 vº – o copista nota que o original traz a escrita de São Vicente.
11
Jean Deslyons, nascido em Pontoise, em 1615, tomara posse do decanato e da teologal de Senlis a 11 de setembro
de 1638, e recebera o capelo em Sorbona, a 05 de junho de 1640. Deixou-se levar pelas ideias jansenistas e nelas
perseverou, apesar dos esforços feitos por São Vicente para ele voltar atrás. O que é mais lamentável é que ele era um
homem virtuoso, de vasta erudição e conquistara a estima de todos que o conheciam. Era apaixonado pelos antigos
usos da Igreja, que ele desejava estabelecer. Devem-se a ele obras muito apreciadas. Morreu em Senlis a 26 de março
de 1700.
22
Hoje, Villers-Saint-Frambourg. Essa paróquia tinha por decano, desde 02 de abril de 1637, Felipe Robin,
Conselheiro no presidial de Senlis.
.
Carta 532. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
Senhor Padre,
Envio-vos uma carta de nossa boa irmã de Sedan1. Suplico-vos tenha a bondade
de lê-la e a caridade de lhe proporcionar algum consolo. Li para as nossas irmãs tudo
que poderia encorajá-las com o seu exemplo. Elas me pareciam como soldados –
segundo se diz - ao soar o alarme, principalmente a irmã Henriqueta. Embora esteja
em retiro, preferiria partir hoje em vez de amanhã. Se julgardes conveniente que eu
escreva a Madame de Bouillon, conforme o desejo dela, poderia vossa caridade, por
favor, avisar-me? Espero, também, tenhais a bondade de me receber, ao menos no
sábado ou domingo, ajudando-me a me preparar para os meus 51 anos que vou iniciar
segunda-feira, dia de Santa Clara2, se Deus me der a graça de viver até lá.
O senhor Pároco de Saint-Germain-l’Auxerrois mandou perguntar-me se uma
senhora poderia vir aqui fazer o seu retiro. Seu marido talvez deva fazê-lo convosco.
São pessoas, como disseram, que sofreram muito, mas não sei o nome delas. Respondi-
lhe que lhe darei a resposta amanhã, depois de vo-lo ter comunicado.
Tende a bondade, por favor, de me orientar sobre o que lhe dizer e de vos
lembrar que sou, senhor Padre, vossa muito humilde e grata filha e serva,
L. de M.
11
Maria Joly.
22
12 de agosto.
33
Foi a 12 de agosto de 1641 que Luísa de Marillac iniciou seus 51 anos.
44
Margarida Lauraine.
55
Crianças expostas.
.
Carta 533. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta responde à precedente, sobre cujo original ela vem escrita logo depois.
Duas ou três palavras, apenas, porque estou com pressa. Estou satisfeito com o
que a irmã Maria vos escreve. É perigoso escrever-lhe (agora). Aguardemos um pouco
até que eu esteja com o capelão do senhor Conde.
Penso que não há inconveniente em receber esta senhora depois de ela vos ter
informado seu nome e seus predicados. Nada sei sobre o seu marido.
Será difícil para o Padre Soufliers atender vossas filhas amanhã. Pedirei ao Padre
Dehorgny que o faça, ou a algum outro.
Vou a Nanterre amanhã pela manhã, se Deus quiser, e espero estar de volta
domingo à noite. Depois desta viagem teremos a satisfação de estar convosco.
Comunicai-me o que a Madame Duquesa de Maignelay [diz 2] a respeito de uma
professora para aquele lugar.
Bom dia, Senhora. Sou vosso muito humilde servo.
Senhora,
22
Palavra esquecida, no original.
.
Carta 534. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1 1
Esta carta deve, ao que parece, ser colocada próxima da carta 537. Ela é do tempo em que as irmãs tinham a Casa-
Mãe ainda em La Chapelle.
22
Jeanne Lepeintre.
33
O traje das primeiras Filhas da Caridade, quase todas originárias das cercanias de Paris, era o que elas vestiam
quando se apresentavam a Luísa de Marillac para fazer parte da pequena comunidade. As que vinham de mais longe
se vestiam, por motivo de uniformidade, como as camponesas do entorno de Paris: um vestido cinza, muito
semelhante ao que as Irmãs usam ainda hoje (o Padre Pierre Coste escreve no século XX, na década de 20), uma gola
menos comprida que a atual, e se cobriam com uma touquinha. As Filhas da Caridade eram e deviam permanecer, no
pensar do Santo fundador, como filhas do campo (camponesas, aldeãs). Ele as queria seculares e não religiosas.
Consequentemente, entendia que se trajassem como “as mulheres comuns”, segundo sua própria expressão.
Entretanto, como a touquinha protegia mal da temperatura, o Santo permitiu em 1646 às mais franzinas, em particular
a Jeanne Lepeintre que padecia de um incômodo nos olhos, acrescentar à touca, como fazia bom número de
camponesas, a corneta branca, pedaço de tecido sem goma, levantado na frente e caído dos dois lados. O uso da
corneta se generalizou, e Edme Jolly, terceiro Superior Geral, o tornou obrigatório em 1685, para remediar ao que
poderia haver de chocante numa comunidade na disparidade de toucado. A corneta começou a aumentar na segunda
metade do século XVIII. No século XIX, permitiu-se a goma, para lhe dar mais consistência. Luísa de Marillac não se
trajava como suas filhas. Ela vestia, com permissão de São Vicente, o traje em uso entre as viúvas consagradas à
piedade.
44
Talvez Ana Hardemont.
55
Provavelmente Perrette, sobrinha da irmã Henriqueta Gesseaume.
Espero ir quinta-feira a La Chapelle. Se pedirdes a Madame Caregré, filha do
Senhor de La Bistrade, que vos pegue em sua carruagem, podeis dizer-lhe que irei até lá
entre duas e três horas do mesmo dia, pois a deixara em dúvida. Sou vosso muito
humilde servo,
V. D.
Senhora,
.
Carta 535. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta tem seu lugar entre a chegada da irmã Elisabeth Martin a Richelieu (o mais cedo, em julho de 1641) e a
compra da nova Casa-Mãe das irmãs, em frente a São Lázaro (setembro de 1641).
22
São Vicente voltava de Richelieu.
33
Elisabeth Martin.
44
A casa de Richelieu.
55
Talvez Luísa, que tinha sido enviada para Richelieu com a irmã Bárbara Angiboust, quando da fundação. “Minha
filha, escrevia-lhe Luísa de Marillac em 1639 (carta 11), fazei-vos um pouco de violência. Que proveito podeis ter ao
fazerdes, sem permissão, visitas e peregrinações e ao quererdes em tudo viver segundo vossa vontade? ...Creio que a
causa da maior parte de vossas faltas... é que tendes dinheiro e sempre gostastes de tê-lo”.
66
Em sua classe escolar.
77
Ela era superiora em Angers, antes de ir para Richelieu.
Madame Duquesa de Aiguillon me falou ontem que a proposta que Madame de
Lamoignon8 lhe fez de pôr a juros as 45.000 libras, e alugar por enquanto uma casa, lhe
agrada9.
Encontrar-nos-emos com as damas de ofício, sábado à tarde. Obséquio avisá-las
e também adiar a assembleia das filhas até a próxima semana, por causa do embaraço
que esse meu retorno me traz.
Quanto a vós, terei a ventura de vos ver quanto antes possível e sou v.s.
V. D.
Senhora,
Vicente de Paulo,
i. p.d.M.
88
Madame de Lamoignon tinha o nome de Maria de Landes como nome de nascimento. Casou-se a 10 de junho de
1597 com Chrétien de Lamoignon, presidente de capelo, no Parlamento de Paris. Desta união nasceram o célebre
Guilherme de Lomoignon, primeiro presidente no mesmo Parlamento, e Madalena de Lamoignon, muito conhecida
por sua piedade e dedicação para com os infelizes. A mãe, no dizer do próprio São Francisco de Sales, era uma das
mulheres mais santas do seu tempo. Entre as damas da Caridade, das quais se tornou presidente depois de Madame
Souscarrière, foi uma das que melhor ajudaram São Vicente. Seu nome merece figurar ao lado dos nomes de Madame
Goussault e da Duquesa de Aiguillon. “O pai dos pobres vai ver a mãe deles”, diziam ao ver o Santo entrar em sua
casa. Nunca deixava de participar do ofício divino do cabido dos cônegos. Certo dia veio a desfalecer e então se
deram conta de que ela usava um cilício e uma cinta com pontas de ferro agudas que a feriam cruelmente. Morreu a
21 de dezembro de 1651, com a idade de setenta e cinco anos. Os pobres de sua paróquia não permitiram que
transportassem seu corpo para a igreja dos franciscanos de Saint-Denis, onde estava enterrado seu marido (Bibl. Nac.,
ff 32. 785).
99
Para fazer dela a Casa-Mãe das Filhas da Caridade.
.
Carta 536. – C. aut. – Original no hospital geral de Evreux.
11
Esta carta precede, em muito poucos dias, a compra da nova Casa-Mãe das irmãs, perto de São Lázaro.
22
Esposa de Jean Maretz, proprietário da casa.
537. – A LUÍSA DE MARILLAC
V. D.
09 de setembro de 1641.
Meu Deus! Como estou alegre por tudo que o Padre Dehorgny me disse e
escreveu sobre vós! Mas fiquei igualmente aflito por causa de vossa indisposição e das
dificuldades que tendes em algumas ocasiões com a pessoa que vós sabeis 1. Em nome
.
Carta 537. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 4.
22
O original está danificado neste lugar e em vários outros.
33
Por causa de sua maneira de se cobrir com a touca.
44
A escritura da venda foi passada a 06 de setembro de 1641, diante de Guilherme Le Roux e Estêvão Paisant,
notários, entre Jean Maretz, burguês de Paris, e Maria Sadot, sua mulher, de uma parte, e, da outra parte, a
Congregação da Missão, representada por São Vicente de Paulo, Antônio Portail, Antônio Lucas, Jean Dehorgny,
Francisco Soufliers, Leonardo Boucher e Renato Almeras. Falava de “duas casas contiguas uma à outra, situadas no
bairro St-Denis, bem em frente da igreja de São Lázaro, na avenida (grande rue), constando uma delas de uma adega,
duas salas inferiores, quatro quartos, dos quais um ao lado do outro, no primeiro andar, e dois outros lambrisados, e
um “galtas”(?), um estábulo, um pátio murado e um poço de tamanho médio, no referido pátio; a outra casa
constando de uma sala inferior, cozinha ao lado, um quarto grande, dois quartos lambrisados e um celeiro em cima,
coberturas de telha, um portão largo servindo de entrada para as duas casas, na extremidade das referidas duas casas;
ao lado, depois do dito portão largo, está um pequeno alpendre, em forma de dossel, coberto de ardósia, dependente
dessas casas, com um jardim atrás, tudo cercado de muros”. O Santo pagou em dinheiro aos vendedores 6.600 libras,
e se comprometeu a pagar cada ano 300 libras, renda das 5.400 libras que lhe restava a pagar. A nova casa das irmãs
foi aumentada com o tempo. São Vicente tornou a vendê-la em 1653 a Luísa de Marillac (Arq. Nac. S 6.608).
.
Carta 538. – Reg. 2, p. 263.
11
Provavelmente Antônio Lucas.
de Deus, senhor Padre, poupai vossa pobre vida. Contentai-vos com consumi-la pouco a
pouco pelo seu divino amor. Ela não é vossa, é do autor da vida, por cujo amor deveis
conservá-la até que ele vo-la peça, se é que não se apresente a ocasião de entregar-lha,
como aconteceu com um bom padre de oitenta anos que acabam de martirizar na
Inglaterra, com suplício cruel2. Arrancaram-lhe o coração, estando ele já meio
estrangulado. Antes de executá-lo, disseram-lhe que, se aceitasse renunciar a sua
religião, poupar-lhe-iam a vida; ao que respondeu que se tivesse mil vidas, daria todas
de coração por amor a Jesus Cristo, pelo qual morria. Digo-vos isto com lágrimas nos
olhos, ao ver a felicidade deste santo sacerdote em contraste com o meu apego a minha
miserável carcaça.
[16411].
Recebi hoje a carta que vossa bondade me escreveu, com o endereço de nossa
Madre do subúrbio2. Como resposta, dir-vos-ei, minha cara Madre, que rendo graças a
Deus por todas as graças que ele concede a nossos pobres missionários, a partir das
informações que vossa caridade permite que eles lhe dêem. Rogo a Deus também os
torne dignos da continuação da mesma graça, pelo bom uso dela, que desejo
ardentemente que eles façam. Em nome de Nosso Senhor, minha digna Madre,
continuai a fazer-lhes a mesma caridade.
Tratarei de obedecer-vos quanto à visita do subúrbio, colocando as coisas em
ordem, da maneira como vossa caridade desejar, se pedirdes a Nosso Senhor me
conceda partilhar da firmeza e mansidão, com que vos agraciou! Oh! como vosso bom
anjo nos ajudaria sobremaneira nisso, se vós, minha cara Madre, lho pedirdes!
Nossa querida Madre da cidade 3 parece ter o espírito de Deus em sua conduta.
Nossa cara irmã Angélica4 vive, para com ela, em suas enfermidades, numa humildade e
cordialidade que me edificam. Oh! como desejo esta mesma bênção para todas as
22
Guilherme Webster, ou Ward, martirizado em Londres, a 26 de julho de 1641. Sobre a morte deste heroico mártir,
ler a Histoire de la persécution présente em Angleterre”, pelo Senhor de Marsys, 1646.
.
Carta 539. – Processo de beatificação de Santa Joana de Chantal, parte compulsiva, fº 138, cópia.
1 1
. Esta carta é posterior ao estabelecimento dos missionários em Annecy (1640) à disposição da Madre Lhuillier (16
de maio de 1641) e anterior à última viagem de Santa Chantal (fim de julho de 1641). Não está, portanto, em seu
lugar aqui. Infelizmente, é tarde demais para inseri-la em sua ordem cronológica.
22
Ana Margarida Guérin (24 de maio de 1640 – 21 de maio de 1643). Esta carta não chegou até nós.
33
A Madre Luísa Eugênia de Fontaines, eleita a 16 de maio de 1641. O primeiro mosteiro permaneceu sob sua
direção durante trinta e três anos. Ela o deixou em 1644, para ir estabelecer a reforma na Abadia de la Perrine, perto
de Mans. Voltou a Paris para trabalhar no diretório da Abadia de Port-Royal. Morreu a 29 de setembro de 1694, com
a idade de oitenta e seis anos. “Deus sempre abençoou sua conduta e empreendimentos”, diz o livro das profissões
(Arq. Nac. LL 1718).
44
Helena Angélica Lhuillier.
ordens! É uma admirável harmonia aos olhos de Deus, motivo de grande edificação para
todos que o vêem.
Boa noite, minha cara Madre. Sou, no amor de Nosso Senhor, muito humilde e
muito obediente servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
L de M.
11 de setembro de [16411].
Destinatário: Ao senhor Padre Vicente.
Senhor Padre,
.
Carta 540. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data marcada no dorso do original.
.
Carta 541. – Pérmartin, op. cit., t. I, p. 375, carta 333.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Rendo graças a Deus por todas as graças que ele vos concede e peço-lhe
abençoe, cada vez mais, vossa querida comunidade, vossa pessoa e vossos trabalhos.
Podeis garantir a nossa querida e honoratíssima Madre de Blonay 1 que eu acatei com
respeito e inteira submissão as razões que ela alega para o pronto retorno de nossa digna
Madre2, e que não será por mim que o senhor Bispo de Genebra 3 e ela não tenham a
satisfação que desejam nisto como em todas as coisas. Saúdo-a com o mais humilde
respeito possível e me recomendo a suas santas orações.
Entregamos trezentas libras correspondentes ao trimestre de outubro, cinquenta
escudos ao senhor Châtillon e outros cinquenta ao senhor Monnellet. Enviaremos as
outras na ocasião por vós marcada, uma vez que nos dizeis para fazer assim.
O Padre Dehorgny nos cumulou de consolação, relatando-nos o bom e amável
estado da comunidade e os grandes frutos que produz4. Ó senhor Padre, agradeço a Deus
com muita humildade por tudo isso e lhe peço continue a dispensar-vos a mesma graça!
Persisto sempre no pensamento de que não é conveniente receber senão padres e
pessoas com ordens sacras, não para ensinar-lhes as ciências sagradas, mas o uso delas,
do modo como se faz com os ordinandos.
O que desejastes da parte de Roma aconteceu, pela graça de Deus. Sua Santidade
nos permitiu alugar ou comprar uma casa, nela morar e exercer nossas funções em favor
do povo e dos eclesiásticos, segundo nosso Instituto, com a condição de dependermos
do Cardeal Vigário e do vice-gerente5, no que tange às funções relativas ao próximo, e
do Superior Geral da Companhia, no que diz respeito a sua disciplina interna. Esta
permissão concedida foi acompanhada do testemunho dos frutos operados pelo Padre
Lebreton, que Deus abençoa largamente6.
Dispomo-nos a enviar para lá duas ou três pessoas da Companhia, neste mês de
outubro. Rogo-vos, senhor Padre, ajudar-nos a agradecer a Deus por tudo isso.
Saúdo muito humildemente vossa querida comunidade e me recomendo com
toda humildade a vossas preces e às dela. Sou...
V. P.
[16411].
11
Pequena comuna de Indre-et-Loire, perto de Chinon. Trata-se aqui, não de Filhas da Caridade, colocadas em Saché,
mas de irmãs originárias desta localidade. Eram cinco em Paris, a 17 de setembro de 1641: Luísa Rideau, Margarida
de Turenne, Perrine, Andréia e Renata.
22
Restam-nos várias cartas do padre de Mondion, pároco de Saché (Arq. das Filhas da Caridade). Se a carta de que
fala São Vicente for deste número, só pode ser a de 17 de setembro de 1641, dirigida à irmã Luísa Rideau.
.
Carta 543. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ao que tudo parece, esta carta foi escrita pouco tempo depois da carta 534.
.
Carta 544. – Abelly, op. cit., 1.I, cap. XXVI, fim, p. 122.
solidamente virtuoso, é preciso tomar boas resoluções práticas sobre atos particulares de
virtude e ser fiel depois em cumpri-las. Sem isto, nós o seremos com frequência apenas
na imaginação.
05 de outubro de 1641.
São Vicente de Paulo dá a Antonio Portail notícias de São Lázaro e das outras
casas da Companhia.
Senhora,
Fiquei muito satisfeito com o relatório que me enviastes ontem à noite, com
respeito à senhora dos forçados. Foi resolvido ontem que eu deveria estar com o senhor
Accar2, para saber mais particularmente dele quais as funções que pretende para essa
Senhora. Enviei o Padre Dehorgny com essa finalidade e aguardo a resposta dele. Não
fui pessoalmente, porque me propus fazer um pequeno retiro em preparação para o
jubileu, e o comecei hoje. Recomendo-o às vossas orações.
Recebi hoje a carta da Madame Marquesa de Maignelay. Ela aguarda as filhas.
Quando lhas enviareis? É preciso reservar lugar no coche de Soissons3.
Esqueci-me de falar com a jardineira a respeito de vossa porta 4. Mandarei
alguém falar com ela. Mandei também dizer-lhe que não ceda a ninguém o quarto vazio
de que dispõe. Neste caso, Madame Lhoste poderá ficar nele.
Um Senhor de Fontenay5 falou ontem maravilhas em louvor de vossas pobres
filhas. Conversaremos depois do retiro sobre a maneira como poderão ganhar o jubileu 6,
como também vós, de quem sou, no amor de Nosso Senhor, v. s.
.
Carta 545. – O original, composto de três páginas in-4º, escritas de próprio punho por São Vicente, pertenceu ao
Marquês de Gerbéviller.
.
Carta 546. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita durante um ano jubilar, depois da compra da nova Casa-Mãe, entre as fundações de Fontenay
e de Nanteuil-le-Haudouin (Oise).
22
Administrador da casa dos forçados.
33
Para as irmãs destinadas a Nanteuil-le-Haudouin.
44
A porta da nova Casa-Mãe da Rua do Faubourg-Saint-Denis.
55
Fontenay-aux-Roses.
66
São Vicente fez para as irmãs, a 15 de outubro, a conferência que anuncia aqui.
V. D.
09 de outubro de 1641.
Senhor Padre,
.
Carta 547. – Manuscrito da Câmara dos Deputados, p. 137.
.
Carta 548. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Ver nota 4.
me obriga a vos pedir humildemente perdão, como também de uma infinidade de outras
faltas que cometi para convosco, e a suplicar-vos assistir-me com vossas santas
orações para a minha correção no futuro.
Sinto muito reconhecimento para com a caridade dos que vos disseram algum
bem de mim e especialmente a Sua Excelência o senhor Bourlemont 2 e ao senhor Padre
Perrochel. Entretanto, posso garantir-vos que, por minhas misérias e indolência, estou
num estado mais digno de compaixão do que de admiração. Espero, entretanto, que, em
meio a tudo isso, a bondade divina, tendo em vista seu amor mais do que as minhas
ofensas, me fará misericórdia, se vos dignastes lembrar-vos algumas vezes de mim e
solicitá-la em meu favor.
Meu primo Bourdin ainda não me falou da intenção de fazer seu retiro, e eu
julguei não dever dar sobre isso a primeira palavra, mas aguardar que ele dê abertura
neste sentido, para que possa colocar-lhe o negócio a sua inteira disposição. Depois,
quem sou eu para encontrar algo a censurar nele e dizer-lhe que se liberte de tão longo
cativeiro e de tantas indolências que lhe dou ocasião de padecer comigo?
Tenho muitos agradecimentos a vos fazer pela lembrança que tivestes do
negócio do meu pai, e por falar dele com a Madame Duquesa 3. Espero que, se Deus
não fizer com que ela acolha o oferecimento desta recomendação, ele lhe dê a graça de
sofrer e fazer bom uso dessa perda. Isso, porém, não diminuirá minha confiança em
recorrer a esse mesmo crédito que tendes junto dela, em favor de um empreendimento
que diz respeito a esta pobre e miserável diocese. Tenho conhecimento de que o senhor
Marechal de Brezé4 virá até Catalunha, na qualidade de vice-rei. Como teremos a
honra de estar na sua vizinhança, desejaríamos também sentir-lhe as vantagens,
preservando os lugares pertencentes à diocese das tropas militares. É possível
consegui-lo mediante uma carta dirigida a ele, suplicando-lhe este favor, confiada a
Madame Duquesa, que no-la enviaria para lhe ser entregue. Com efeito, posso
asseverar-vos, senhor Padre, que corremos o perigo, se a proteção divina não nos
socorrer, de ficarmos reluzidos à mendicidade, o que me obriga a recorrer a vossa
intercessão.
Se não temesse ser por demais importuno convosco, lembrar-vos-ia a esperança
que vos aprouve dar-me, há algum tempo, de falar de nossa penúria a Sua Eminência 5,
quando se apresentasse a ocasião de estar com ele, com a finalidade de moderar a
nossa taxa, a mais alta, pelo que vejo, da província. Com efeito, elevaram-na a mil
escudos, enquanto o Senhor de Narbona6 com renda de sua diocese cinco ou seis vezes
maior, paga apenas a taxa de dois mil. Vede a proporção. E isto, num tempo em que a
diocese é a mais miserável e a mais atribulada, não só da província, mas de toda
França. Oh! Deus seja para sempre bendito, ele que nos dá e nos tira como e quando
lhe apraz.
22
Cláudio d’Anglure, Conde de Bourlemont.
33
A Duquesa de Aiguillon.
44
O Marechal Urbano de Maillé, Marquês de Brezé, cunhado de Richelieu, fizera a campanha do Piemonte, fora
comandante-em-chefe do exército da Alemanha, desempenhara as funções de embaixador na Suécia e na Holanda, e
governara Calais e Anjou. Tornou-se vice-rei da Catalunha em 1641, e morreu a 13 de fevereiro de 1650, com seus
cinquenta e quatro anos.
55
Cardeal Richelieu.
66
Cláudio de Rebé (1628-1659).
Oh! Por certo, estimo muito os Padres Blatiron e Lucas, cuja caridade eu
exerço pelo suporte de minhas enfermidades. Rogo a Nosso Senhor seja sua
recompensa. Não digo nada a respeito deles, pois eles mesmos se encarregam de vos
dar as informações. Apenas acrescento que eles se aplicam à perfeição do seu estado,
na medida da graça de Deus e dos diversos caminhos com que os conduz pela mão.
Não posso exprimir-vos o reconhecimento de que vos sou devedor, por querer
acrescentar ao presente número deles, alguns outros que vos apraz nos preparar, com a
capacidade e a virtude requerida no cultivo deste campo. Estou à procura de algum
lugar cômodo para eles ficarem, e quando tudo estiver pronto, avisar-vos-ei para
mandá-los partir.
A extrema ignorância dos que pretendem receber as sagradas ordens e a pouca
esperança de que adquiram mais capacidade para o futuro obrigou-me a chamá-los a
Alet e mantê-los aqui, por quanto tempo for necessário, para ensinar-lhes o pouco
requerido para admiti-los.
Estou empregando neste trabalho o Padre Blatiron e algum outro eclesiástico
que temos à mão, para contribuir para esse pequeno desígnio, que não é, por assim
dizer, mais do que um simples ensaio, que recomendo a vossos santos sacrifícios.
Prestar-vos-ei conta do acontecimento.
Penso vos ter comunicado que lancei os olhos sobre a paróquia de Alet com a
intenção de uni-la, segundo vosso beneplácito, à Missão, quando ela estiver em meu
poder. O meio para isso seria ter a inteira disposição do arquidiaconado. Ora, o
senhor Padre de Saint-Martin, tem pretensão sobre ele, em razão de um indulto. Mas
sempre me disse que disporia dele em nosso proveito. Entretanto, ele me escreveu, há
poucos dias, a carta que vos envio, pela qual ele parece pedir compensação. Uma
palavra vossa sobre a primeira observação o levará a se explicar a esse respeito. Ele já
tem a responsabilidade de uma pensão para o capelão do Senhor des Noyers e aquele
que... de intenção, não quereria abandonar seu pretendido direito a não ser a troco de
uma compensação. Vede, senhor Padre, se poderia eu satisfazer a tanta gente. Temo
que ele tenha sido incitado a esta reclamação, não a partir de iniciativa própria, mas
pelo senhor Camus, como me diz. Meu Deus, senhor Padre, perdoai-me tanta
importunação.
Bendigo a Deus, de todo meu coração, pelo progresso que vos dignastes
comunicar-me de vossa querida Companhia e lhe peço tornar-me partícipe dos
preciosos serviços que lhe prestais, para suprir minha negligência, permanecendo
sempre, em seu amor, senhor Padre, vosso muito humilde e muito afeiçoado servo,
Senhor Padre,
Esqueci-me de vos dizer que Madame Traversay me pediu para vos lembrar do
documento dos galés a ser levado ao senhor Procurador Geral 2 e que uma das Irmãs
que devem fazer hoje a confissão do jubileu é a da Normandia, da região de um pobre
homenzinho. Ele está hoje no seminário3 e com sua bondade e simplicidade levou-a
algumas vezes a tomar algumas resoluções. Anteontem de manhã ele lhe disse que vai
falar com ela. Não ousei permiti-lho sem vossa ordem. Ele lhe deu também algumas
estampas, mas penso que foi porque não tinha onde guardá-las. Guardei-as comigo,
esperando vossa ordem.
Peço-vos muito humildemente, senhor Padre, prestar atenção no que o senhor
Abade de Vaux me comunica sobre o estabelecimento das religiosas de Santa Genoveva
e se não será conveniente propor aos senhores Administradores que peçam ao senhor
Bispo de Angers4 aprove o serviço e a residência de nossas Irmãs no hospital. Podereis
escusar-vos de não lhe ter falado antes: tratava-se, primeiramente, de uma experiência,
e isto com o temor de que os reverendos padres pensassem em fazer delas religiosas.
Com efeito, receio, agora que nossa irmã Elisabeth 5 não está mais lá, não se
deixassem as outras facilmente levar por esta persuasão.
Atendamos também, por favor, a que só há seis filhas de serviço, estando a
sétima doente, e que nem os senhores Administradores, nem as filhas reclamam uma
outra, nem mesmo o senhor Abade de Vaux.
Poderia também vossa caridade me instruir sobre o que dizer-lhe a respeito da
Madame de Vertus6? O mensageiro parte hoje. Sou, senhor Padre, vossa muita grata
filha e serva,
L. de M.
Manhã de sábado.
.
Carta 549. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 7.
22
Blaise Méliand (1641- 1650).
33
Juliano Guérin, natural de Lacelle (Orne), vivera algum tempo no exército antes de abraçar o estado eclesiástico. A
entrada do seu irmão na Congregação da Missão deixava livre a paróquia de Saint-Manvieu, que ele administrou
durante três meses. Deixou-a com a idade de trinta e cinco anos, para ir para São Lázaro, onde foi recebido a 30 de
janeiro de 1640. Em 1641, ele foi socorrer as desventuradas populações de Lorena. Sua saúde ficou afetada e foi
enviado para Richelieu, onde fez os votos a 14 de junho de 1642. As missões que pregou na diocese de Saintes em
1643 e 1644 tiveram grande êxito. Foi nele que São Vicente pensou, em 1645, para ir lançar os fundamentos da
Missão de Tunis. O valente missionário morreu nesta cidade a 13 de maio de 1648. Sua biografia foi publicada no t.
III das Notices, p. 57-82.
44
Cláudio de Rueil (1626-1649).
55
Elisabeth Martin.
66
Catarina Fouquet, viúva de Cláudio da Bretanha, Conde de Vertus e de Goëllo, primeiro barão de Bretanha,
Conselheiro de Estado, morto em Paris a 06 de agosto de 1637. Ela morreu nesta última cidade, a 10 de maio de
1670, com a idade de oitenta anos.
Apraz-vos, por caridade, nos comunicar a hora em que nossas irmãs irão a La
Chapelle? Tive ontem a felicidade de estar com Madame Chantal 7. Não sei o que vosso
bom Deus fará de mim, que sou tão infiel e cheia de pecados.
Senhor Padre,
77
Santa Chantal chegara a Paris a 04 de outubro. Deixou a capital a 11 de novembro.
.
Carta 550. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta responde à carta 549. São Vicente escreveu-a no espaço branco deixado por Luísa de Marillac, no
cabeçalho de sua carta.
22
Cláudio de Rueil (A frase do original é difícil e obscura; a tradução é interpretação nossa - Nota do Tradutor).
33
Os Administradores do hospital de Angers.
44
Madame de Vertus.
55
As irmãs não tinham, portanto, deixado La Chapelle em outubro de 1641. Compreende-se, dados os trabalhos de
arrumação que se deviam fazer na nova casa.
.
Carta 551. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Entre 1636 e 1641, datas extremas da permanência das irmãs em La Chapelle, só houve dois jubileus, um em 1636;
o outro em 1641. A menção da Senhora du Mée nos faz preferir 1641 a 1636.
Quase todas dizem que estão dispostas a fazer sua confissão. A Irmã Bárbara
gostaria também de fazê-la, em função do jubileu, esta semana, pois ela não se
encontrava com muito bom humor na semana passada. Peço dizer-me se concordais
que todas se dirijam até La Chapelle: receberíeis as que julgarsseis conveniente; ou se
devo enviar as que se dizem bem dispostas, ficando as outras em casa. É necessário,
creio eu, possa falar convosco, antes de enviar alguma para a Senhora du Mée2.
Sou, senhor Padre, vossa muito humilde e muito grata filha e serva,
L. de M.
Todas gostariam muito mais de ir, temendo não poder estar convosco uma outra
vez.
Outubro de 1641.
553. – A N******
Temos por máxima trabalhar a serviço do povo, sob o beneplácito dos senhores
párocos, e de jamais ir contra os seus sentimentos. Na entrada e saída de cada missão,
lhes pedimos a bênção, em espírito de obediência.
22
Dama da Caridade (no original, o verbo da frase final “avant que d’envoyer”... parece sem objeto direto. O tradutor
interpretou o sentido da frase – Nota do Tradutor).
.
Carta 552. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 4, 1ª ed., p. 35.
.
Carta 553. – Abelly, op. cit., 1. III, cap. XIV, p. 232.
***
554. – A LUÍSA DE MARILLAC
Rendo graças a Deus por vossa melhor disposição, Senhora, e lhe peço vos
fortaleça cada vez mais. Se eu puder, terei hoje a honra de estar convosco, ou ao menos
amanhã.
Esta jovem de Lucé1, que veio anteontem, me parece apta, se tiver saúde
conveniente. Seu pai diz que ela não tem doença. Resolvei como vos aprouver.
Sou v. s.
V. D.
Vicente de Paulo,
.
Carta 544. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Muitas localidades trazem este nome. A menos afastada de Paris esta situada perto de Chartres.
.
Carta 555. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Nada, no corpo da carta, permite precisar-lhe o ano. Há razão para crer que ela é do tempo em que São Vicente
andava ocupado em aliviar as ruínas acumuladas pelos exércitos na Lorena (1639-1650) e ele mesmo escrevia sua
correspondência sem ajuda de secretário (antes de 1645).
22
São Vicente acrescenta aqui “Monsieur” (Senhor) por distração.
padre da Missão.
.
Carta 556. – C. aut. – Original na Visitação de Troyes.
11
Ana Margarida Guérin, religiosa do primeiro mosteiro, enviada ao segundo quando da sua fundação. Foi colocada,
mais tarde, à frente do estabelecimento de Ruão e do terceiro mosteiro de Paris, onde morreu a 24 de janeiro de 1669,
com a idade de 67 anos.
22
Santa Chantal.
33
Ana Teresa de Préchonnet.
que dedico uma incomparável estima e que desejaria ver de volta a sua morada 4, se não
temesse desejar algo contra a vontade de Deus, que vos governa com muito particular
providência.
O que me faz moderar a afeição por demais sensível que teria com vosso retorno
foi a nossa leitura do refeitório, esses dias passados. Narrava que um padre jesuíta
espanhol, que envelhecera em numerosos e assinalados serviços prestados a Deus nas
Índias, insistiu com seus superiores que lhe fosse permitido voltar, para morrer em seu
país, e ali não fazer nada mais a não ser preparar-se para bem morrer. Foi-lhe dada a
permissão e ele voltou ao país. Estando um dia em oração aos pés do crucifixo, ouviu
interiormente uma censura tão severa de que tinha feito mal em abandonar a nova
Igreja, cuja fundação ele viera ajudar, que não teve mais paz, enquanto seus superiores,
não o mandaram de volta. Lá chegando, recomeçou a trabalhar com todo ardor
permitido por sua avançada idade, e morreu enfim como vivera, em odor de santidade.
Este é o motivo, minha cara Madre, que me leva a oferecer a Deus a
disponibilidade de vossa pessoa para qualquer lugar, e em submissão ao modo como ele
julgar mais conveniente para a sua glória.
Disseram-nos que o senhor Bispo de Troyes5 está doente. Meu Deus, minha cara
Madre, como isto me sensibilizou. Peço a Nosso Senhor, de todo coração, conserve este
santo prelado e o santifique cada vez mais!
Faço-lhe a mesma prece por vós, minha cara Madre, a quem recomendo este
pobre miserável, o maior de todos os pecadores. Faço igualmente o mesmo por esta
pobre pequena Companhia. Sou, no amor de Nosso Senhor, e de sua Santa Mãe, minha
cara Madre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
19 de novembro de 1641.
Eis algumas notícias que vos entristecerão. Nosso Senhor dispôs do seu servo, o
Padre Lebreton1, voltando da missão de Óstia, para onde fora no mês de outubro. É um
tempo de muito contágio para os que saem de Roma, vão até Ostia e voltam a Roma.
44
Provavelmente Paris, onde nascera e se tinham decorrido os primeiros anos de sua vida religiosa. Ela permaneceu
em Troyes até a morte em 1647.
55
René de Breslay. Ele morrera a 02 de novembro.
.
Carta 557. – Manuscrito de Lyon.
11
A 19 de outubro.
Várias pessoas me falam das maravilhas dos grandes trabalhos que realizou naquela
região e das bênçãos que Nosso Senhor lhe concedeu. O senhor Cônego Le Bret me
escreve que os senhores Cardeais Barberini2 e Lenti3 o choraram, como também
Monsenhor vice-gerente de Roma4.
Ele obtivera a permissão de se estabelecer naquela cidade, na esperança de
instaurar nela os exercícios espirituais dos ordinandos. É juízo comum que não se deve
deixar de enviar para lá alguém para levar a cabo o estabelecimento, e parece que a
Providência vos tem em vista para isso. Digo-o ao pé do ouvido do vosso coração, sem
dizê-lo a ninguém. Enviar-vos-ei as instruções cabíveis. Ah! senhor Padre, como há
grande motivo para esperar, com o favor de Deus, que nos confiem os ministérios de
que deram esperança ao Padre Lebreton, no qual, falando humanamente, perdemos
muito! Mas, com toda a certeza, parece-me que este santo homem fará mais no céu em
nosso favor do que faria na terra, e que será como uma vítima oferecida a Deus e
consumida pelo bem da Igreja. Intercederá por nós no céu e obterá as bênçãos
necessárias para este empreendimento. Se eu puder, anexarei ao pacote uma cópia da
permissão para o nosso estabelecimento.
Poderá haver dificuldade quanto à língua, que ele sabia como o francês. Mas
Deus vos dará a graça, sendo do seu agrado, de vos fazer entender pelos estrangeiros,
como o concedeu a São Vicente Ferrer, se os pecados do pior dos Vicentes e de todos os
homens do mundo não o impedirem.
Envio-vos as cartas de nossa Irmã Maria, que julguei acertado dever abrir.
Depois de lê-las, dobrá-las-eis, por favor, num envelope e acrescentareis duas linhas de
vossa mão para essas senhoras, onde conste que eu as abri, porque é costume entre nós
ver as cartas que as filhas escrevem e as que lhes são escritas.
As damas de ofício virão segunda-feira.
Tratarei de estar com Madame de la Pompe, indo ao subúrbio Saint-Germain
esta tarde.
Farei o que puder para essa senhora e falarei sobre ela com Madame de la
Pompe. Mas não sei como proceder nisso.
Bom dia, Senhora. Cuide de vossa saúde. Sou, no amor de Nosso Senhor, v. s.
22
A família Barberini tinha então três de seus membros no Sacro Colégio: Antônio, capuchinho, irmão de Urbano
VIII, Antônio e Francisco, seus sobrinhos.
33
Marcel Lenti, Bispo de Palestrina (1629), de Tusculum (1629-1639), de Porto (1639-1641) e de Ostia (1641-1652),
falecido a 19 de abril de 1652.
44
João Batista Altieri.
.
Carta 558. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Datas extremas da permanência de Maria Joly em Sedan.
V. D.
07 de dezembro de 1641.
Dizeis-me que ireis colocar o dinheiro a juros, nas mãos do senhor Conde de N.;
isto me dá motivo para dizer-vos, senhor Padre, que tenho dificuldade em aceitá-lo.
Parece-me que teria sido mais conveniente comprar ou mandar construir uma casa. Sei
muito bem que há algo a censurar até nisso. Mas se me tivésseis escrito vossa intenção e
vossas razões, tê-las-ia pensado diante de Deus, como procurei fazer com as do
contrato, mas tarde demais. Teria sido conveniente me tivésseis comunicado uma e
outra proposta e em seguida as razões pró e contra para eu firmar meu juízo. Tive
grande dificuldade em consentir em algumas cláusulas por demais rudes do contrato.
Por esta razão vos peço, senhor Padre, jamais fazer coisa semelhante sem me escrever.
Teria sido bom me tivésseis dito a maneira como desejáveis proceder quanto ao
seminário que começastes. Parece-me que vos tinham sugerido enviar-me o projeto
antes de concluir o negócio. É o que sempre praticaram todos da Companhia e o que se
pratica em toda companhia bem regrada.
Objetar-me-eis que demoro muito, que esperais algumas vezes seis meses por
uma resposta que se poderia dar em um mês e, que neste ínterim, ocasiões se perdem e
as coisas não andam. A isso respondo, senhor Padre, que é verdade que demoro muito a
responder e a fazer as coisas. Contudo, ainda não vi jamais algum negócio prejudicado
pela minha lentidão. Tudo se fez a seu tempo, com as intenções e precauções
necessárias. Contudo, proponho-me, para o futuro, responder-vos com mais prontidão,
depois de receber vossas cartas e ter considerado a coisa diante de Deus, que é muito
honrado quando se emprega tempo para se refletir maduramente nas questões que dizem
respeito ao seu serviço, como são todas as que tratamos. Portanto, corrigir-vos-eis, por
favor, de vossa precipitação em resolver e fazer as coisas, e eu trabalharei para me
corrigir de minha lentidão.
Suplico-vos de novo, em nome de Deus, me comunicar todas as coisas, com os
prós e os contras das que são mais importantes, tendo o cuidado de não acrescentar, não
subtrair ou mudar nada em nossa maneira de viver e de fazer alguma coisa de
importância, sem antes me escrever e ter minha resposta. Oh! como o bom Padre
Lebreton praticou perfeitamente isso e como Deus abençoou-lhe a conduta!
Ousaria dizer-vos sem corar de vergonha, senhor Padre? Não há remédio,
preciso fazê-lo: repassando todas as coisas principais acontecidas na Companhia,
parece-me, e é fácil demonstrá-lo, que, se tivessem sido feitas antes do seu tempo, não
Carta 559 – Reg. 2, p. 222.
teriam tido êxito. Digo-o de todas, sem excetuar uma sequer. Por causa disso, tenho uma
devoção particular em seguir passo a passo a adorável Providência de Deus. E a única
consolação que tenho é que me parece que foi unicamente Nosso Senhor que fez e faz
incessantemente as coisas desta pequena Companhia. Em nome de Deus, senhor Padre,
encerremo-nos neste espírito, na confiança de que Nosso Senhor fará o que quiser seja
feito entre nós. É o que espero de sua bondade e da atenção que prestareis à muito
humilde e afeiçoada prece que vos faço pelo amor de Nosso Senhor...
14 de dezembro de 1641.
Senhor Padre,
.
Carta 560. – Reg. 2, p. 98.
11
Lambert Aux Couteaux era picardo (da Picardia).
.
Carta 561. – C. aut. – Original comunicado pelo Padre Heudre, padre da Missão.
11
Santa Joana de Chantal, falecida santamente em Moulins, a 13 de dezembro, um mês depois de ter deixado Paris.
22
Leão Bouthillier, Conde de Chavigny e de Besançois, parente de Jean-Jacques Olier, nascera em Paris, a 28 de
março de 1608. Embora designado pelo próprio Luís XIII para fazer parte do Conselho da Regência, foi afastado por
Mazarino. Ele se colocou do lado dos príncipes durante as turbulências da Fronda. Sua piedade, aliás sincera, se
aliava ao amor dos prazeres. Morreu em Paris, a 11 de outubro de 1652. Sua mulher, Ana Phelippeaux, foi uma
ardorosa jansenista.
33
O corpo de Santa Joana de Chantal foi embalsamado e exposto durante dois dias na capela da Visitação de
Moulins. Depois, foi transportado secretamente para Annecy, para junto do corpo de São Francisco de Sales,
conforme o desejo expresso pela santa, durante sua vida.
Peço-vos, senhor Padre, transmitir a nossa cara Madre de Blonay a certeza disso, como
já o fiz para com o senhor Bispo de Genebra 4, pela carta que acompanha a presente.
Dizei também a todas as nossas caras Irmãs de um e de outro mosteiro 5 que nossas
queridas Irmãs daqui farão o possível para o mesmo fim.
Aprouve a sua digna bondade, digo, à nossa digna Madre, em suas duas últimas
viagens6, legar seu coração a esse mosteiro 7. Nossa Madre8 envia uma cópia do
documento de sua vontade ao senhor bispo, com plena confiança de que ele confirmará
a intenção de nossa digna Madre9. Suplico-vos, senhor Padre, falar disso com ele.
Minhas duas cartas anteriores vos tornaram ciente da necessidade que a
Providência tem de vós em Roma e como nos dispúnhamos a vos enviar para lá 1010,
enviando o Padre Dufestel e o Padre Grimal 1111 para o vosso lugar. Terei inúmeras
coisas a vos dizer sobre isso, além de tudo que vos disse. Fá-lo-ei na próxima ocasião.
Sou, entretanto, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
[Dezembro de 16411].
Senhor Padre,
44
Justo Guérin.
55
Os dois mosteiros de Annecy.
66
Em 1636 e 1641.
77
Santa Joana, de início, recusara por humildade doar seu coração ao primeiro mosteiro de Paris. Este coração,
pensava ela, não vale a pena ser conservado. Mas quando lhe observaram que a presença do seu coração em Paris e
de seu corpo em Annecy contribuiria para a união dos dois mosteiros, consentiu em redigir o ato de doação (Cf.
Bougaud, Histoire de Sainte Chantal, 8ª ed., Paris, 1874, 2 vol., in-12, t. II, p. 461). O texto da doação foi publicado
por Henri de Maupas, op. cit., p. 240. O original pertencia, em 1874, ao senhor Conde de Hauterive, antigo chefe de
divisão no ministério dos negócios estrangeiros (Cf. Bougaud, ibid., p. 462, em nota).
88
Luísa Eugênia de Fonteines, superiora do primeiro mosteiro de Paris.
99
Os desejos da Santa não foram respeitados. A Duquesa de Montmorency não consentiu em doar o corpo ao
primeiro mosteiro de Annecy, a não ser com a condição de ficar com o coração em Moulins. A preciosa relíquia foi
colocada sobre um altar, no quarto da Santa, bem junto ao leito em que falecera (Cf. Bougaud, ibid, p. 584).
1010
Primeira redação: “vos enviar para lá, para nos representar em Roma”.
1111
Francisco Grimal, nascido em Paris, a 06 de março de 1605, começou seu seminário interno a 06 de junho de
1640 e fez os votos a 09 de outubro de 1646. Prestou grandes serviços à Congregação, quer como superior das casas
de Crécy (1645-1646), Sedan (1646-1648), Montmirail (1648-1649, 1654-1655), Agen (1650-1651), quer como
segundo assistente de São Vicente (1652), quer mesmo em postos mais modestos, em Fontenebleau e outros lugares.
A introdução dos votos na Companhia respondia aos seus desejos. Aceitou de boa vontade esta medida e se esforçou
por torná-la aceita em torno dele.
.
Carta 562. – Dossiê da Missão, cópia tirada no mosteiro da Visitação de Annecy, sobre o original autógrafo que foi
trocado, por volta de 1880, por um autógrafo de São Francisco de Sales.
11
O que se diz aqui da visão do coração de Santa Chantal não nos permite atribuir outra data a esta carta.
Recebi anteontem a carta que me responde ao que escrevi a respeito de Roma.
Dir-vos-ei, como resposta, que julgo bem consideráveis as razões que me apresentais
para adiar a viagem para depois da Páscoa. Mas há inconveniente em diferir para tanto
tempo. O Papa, o Cardeal Lenti, decano dos cardeais e um outro bom e virtuoso
eclesiástico, que pensam nos exercícios dos ordinandos, podem morrer durante esse
tempo. Se isso acontecesse, uma boa obra poderia perder-se ou correr grande risco.
Tratarei de vos enviar o mais cedo possível o Padre Dufestel ou o Padre Grimal, com
um outro a mais, a fim de os instruirdes durante doze ou quinze dias. Darei ordem
igualmente aos outros de partirem, o mais cedo possível, para esperarem em Marselha.
Dir-vos-ei, entretanto, senhor Padre, que duvido seja conveniente fornecer aos
vossos seminaristas textos escritos para eles estudarem. Há livros suficientes, mais
extensos ou mais breves para esse fim. O principal é que possam repetir bem o que foi
ensinado. O melhor método que experimentei para isso é adotar um casuísta, explicar-
lhes um ou dois capítulos ao mesmo tempo, de cor, e mandá-los, a cada um, recitar de
cor a outra lição. Fazendo isto várias vezes, o assunto se grava e permanece para sempre
na memória. Devem ser explicadas as dificuldades levantadas.
Procedemos assim com os casos de consciência e com as controvérsias. E
obtivemos êxitos maravilhosos. Depois, sabemos bem que os textos escritos não são
relidos. E o que é mal é que apelam para estes textos e não exercem suficientemente a
memória para guardar o assunto. De que servem, vos pergunto, para um doutor, seus
escritos, depois de terem feito seus estudos? Para nada, com certeza, a não ser para
recorrerem eventualmente a eles. Ora, há tantos autores atualmente, com índices tão
bem feitos, que é só escolher um bom casuísta para a ele recorrer em caso de
necessidade. Sendo assim, vos suplico, senhor Padre, atenção para entrar nesta prática
que acabo de vos expor.
Não duvidais tenha eu sentido uma dor muito sensível com a morte de nossa
digna Madre. Foi porém do agrado de Deus consolar-me com a visão de seu encontro
com nosso bem-aventurado Pai2 e dos dois com Deus, logo que soube da notícia e
depois de um ato de contrição que fiz, no instante após ter lido a carta pela qual me
comunicavam o estado extremo de sua doença.
A mesma coisa me foi mostrada, se não me engano, na primeira missa que
celebrei por ela, após a notícia de sua morte3. Seja isto dito somente ao bom senhor
Padre Codoing, por favor, e aos nossos padres, que abraço em espírito, a cada um, com
a maior afeição e humildade a mim possível.
Senhor Padre,
22
São Francisco de Sales.
33
São Vicente deixou, escrito do próprio punho, um testemunho da visão de que fala aqui.
.
Carta 563. – Original em Nîmes, com as Filhas da Caridade da Rua des Greffes, 12.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
O homem que me entregou vossa carta de 30 de dezembro chegou apenas ontem
à noite. Fiquei muito contristado vendo vossos sofrimentos e consolado pela esperança
de vos ver, bem depressa. Com efeito, tendo considerado tudo que me comunicais, é
conveniente que volteis o mais depressa possível. Enviaremos alguém em vosso lugar,
ou dareis a ordem que me sugeris. Proporei quanto antes a questão a essas senhoras e
vos darei a resposta pelo vosso portador, o mais breve possível. Entretanto, mantende-
vos na alegria. Agradecei e apresentai minhas escusas ao Revmo. Padre Reitor pela
carta que teve a caridade de me escrever e por ser eu tão mesquinho que não lhe posso
escrever, no momento. O! se tivésseis algum alerta a me fazer a respeito da
possíbilidade de deixardes totalmente a cidade, sem que alguém fique em vosso lugar,
fá-lo-eis quanto antes. O que me dizeis, isto é, que vossa ausência poupará sessenta
libras por mês aos pobres, me sensibiliza. Mas Deus sabe quanto enternecido ficarei ao
vos abraçar em vossa chegada e quanto sou, em seu amor, senhor Padre, vosso muito
humilde servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhora,
Vicente de Paulo.
.
Carta 564. – Gossin, op. cit., p. 494, conforme o original que lhe foi comunicado pelo Padre Le Vayer du Boulay,
pároco de Gangesle-Roi.
11
O convento da Visitação.
565. – A BERNARDO CODOING, SUPERIOR, EM ANNECY
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
22 de janeiro de 1642.
.
Carta 565. – Original na biblioteca pública e universitária de Genebra, ms. sup. 360.
11
Ele era superior lá.
22
Jean de Montereil ou Montreuil, cônego de Toul e secretário do príncipe de Conti, acabava de aceitar as funções de
secretário do Marquês de Fontenay-Mareuil, embaixador de Roma. De lá foi para a Inglaterra como secretário de
embaixada e pouco depois nomeado representante do governo na Escócia. Tornou-se membro da Academia Francesa.
Publicaram alguns de seus escritos. Morreu a 27 de abril de 1651, com a idade de apenas trinta e sete anos.
33
O Marquês de Fontenay-Mareuil.
44
Célebre banqueiro.
55
O original está estragado neste lugar.
.
Carta 566. – Trecho citado no depoimento do Irmão Pierre Chollier, testemunha 102 no processo de beatificação de
São Vicente.
... Abraço em espírito toda a casa com o coração pleno da consciência de minha
indignidade para servi-los como merecem e, no entanto, cheio de afeição...
Ó senhor Padre, quantas almas vão para o paraíso pela pobreza! Desde que
cheguei a Lorena, assisti a mais de mil pobres em sua morte. Todos se mostravam
perfeitamente dispostos. São os numerosos intercessores no céu, em favor dos seus
benfeitores.
Senhora,
.
Carta 567. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI, sec. I, 1ª ed., p. 377.
11
Foi entre 1639 e 1643 que vários grupos de missionários percorreram a Lorena à procura das misérias, para
distribuir os socorros. Depois de 1643, São Vicente se serviu quase exclusivamente do Irmão Mateus Régnard, para
levar as esmolas (Cf. Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI, sec. I, 1ª ed., p. 388).
.
Carta 568. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 5.
22
Cláudio de Lorena, Duque de Chavreuse.
Disse ontem à Senhora de Lamoignon 3 que a assembleia4 se realizará hoje em
Santa Maria da cidade, onde necessariamente eu tenho o que fazer.
Tereis muitas outras querelas da parte das oficiais da Caridade, se continuardes
em vida, como espero. Falaram-nos na pregação ontem, na oração fúnebre da falecida
Madame Chantal, que uma de suas religiosas lhe atiçara injúrias vinte anos a fio 5. Ó
Senhora, como custa caro fazer o bem no espírito de Jesus Cristo!
Bom dia. Sou v. s.
V. D.
Senhor Padre,
33
Madalena de Lamoignon nasceu em Paris, a 14 de setembro de 1608, filha de Chrétien de Lamoignon, presidente
magistrado no Parlamento de Paris, e de Maria de Landes, que a iniciou desde a infância, na prática da caridade. A
mãe e a filha rivalizavam na dedicação aos miseráveis. Iam frequentemente visitá-los em casa, pensavam-lhes as
feridas, limpavam-lhes os quartos, arrumavam seus leitos, distribuíam-lhes vestes, roupas de cama, alimentos,
dinheiro. São Vicente de Paulo dizia da Senhora Lamoignom que ela era tão pressurosa nas obras de caridade que
ninguém conseguia acompanhá-la. Ela deixou seu nome em todas as caridades que o Santo fundou e tomou parte
ativa em todas. Morreu a 14 de abril de 1687, com seus 79 anos. Sua vida foi escrita pelo P. d’Orleans ( Vie de
Mademoiselle de Lamoignon, Bibl. Nac., ms. fr. 23895) e pela Senhora Luísa Masson (Madeleine de Lamoignon,
Lyon, 1846, in-12). O abade Carron reservou-lhe um lugar na Vie des dames françaises qui ont été les plus celèbres
dans le XVII siècle par leur piété et leur dévouement pour les pauvres, 2ª ed., Louvain, 1826, in-8º.
44
A assembleia das Damas da Caridade.
55
Foi Monsenhor de Maupas, então bispo nomeado de Puy, mais tarde Bispo de Evreux, que pregou em Paris em
1642 a oração fúnebre de Santa Chantal, cuja vida ele devia escrever.
.
Carta 569. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Jean Guérin, nascido em Lacelle (Orne) em 1594. Entrou na Congregação da Missão a 07 de novembro de 1639.
Fez os votos em Annecy, a 04 de agosto de 1642. Foi nomeado superior no mês seguinte e continuou a dirigir a casa
até sua morte, em 06 de março de 1653. São Vicente escrevia alguns dias após seu falecimento: “Deus sempre
abençoou a conduta e os trabalhos desse seu servo, sempre estimado pelos de dentro e os de fora da família”. Sua
biografia foi publicada no t. III das Notices, pp. 23-28.
22
Justo Guérin, Bispo de Genebra.
obediência especiais para com nossos senhores prelados. O falecido senhor Bispo de
Troyes3 o honrava com sua benevolência a tal ponto que é impossível traduzi-la.
Certifique igualmente a comunidade que ele dirige com mansidão, caridade,
sabedoria e também com firmeza em relação ao fim a que tendemos e que governou tão
bem a família de Troyes4 que os internos e os externos exprimem seus aplausos, mais do
que posso dizer.
Quanto a ele, dir-lhe-eis, por favor, que lhe peço aceitar vossos ordenamentos
com respeito ao seminário, a instrução sobre os textos para o ensino 5, o procedimento
com o Padre Escart e de modo geral em relação a todas as coisas, até que receba outra
ordem nossa sobre as dificuldades que se apresentarem. Peço a ele me informar de tudo
e nada mudar sem antes me comunicar.
Tomei conhecimento das razões pelas quais fizestes determinadas coisas,
conforme dissestes ao Padre Dehorgny. Embora saiba muito bem que nada fizestes
inconsideradamente, penso contudo, senhor Padre, que é conveniente nos aviseis sobre
as coisas principais, antes de fazê-las, não somente quanto ao essencial, mas também
quanto às circunstâncias, ut simus unanimes in eodem spiritu6 (para que sejamos
unânimes num só espírito). Eu vo-lo suplico, em nome de Nosso Senhor. Tende
confiança que as coisas de Deus não se perdem de ordinário por tomarmos mais tempo
para examiná-las e recomendar-lhas em nossas orações. Muito pelo contrário, tudo sai
melhor7.
Só pude arranjar dois terços dos quarenta e seis escudos de intenções de missas,
que o senhor Bispo de Genebra deseja enviar-vos, em prol dos exercícios espirituais. Eu
os envio para o senhor Mascarini e o senhor Lumague, em Lyon, que lhos fornecerá
para remetê-los ao referido senhor Bispo. Disporá deles como lhe aprouver, enquanto
vamos ver se conseguimos algo mais de outra fonte, para lhe enviar.
Suplico-vos, senhor Padre, certificá-lo do meu respeito e que segui sua ordem,
conforme me comunicastes, e vou defendê-la junto a nossa mui cara Madre Superiora
da Visitação8, a respeito [do coração] de nossa digna Madre9. E ainda, que disse ontem à
Madre Superiora daqui que ela contribuiria mais para a glória desta bem-aventurada
alma, entrando nos sentimentos do seu coração todo amoroso e amável do que insistindo
na posse do mesmo coração. Sustentarei este discurso, porque o tenho assim no espírito
e no coração, certo de que o senhor Bispo de Genebra é o intérprete da vontade de Deus
nisso e é este o seu parecer.
Estas filhas têm um pouco de dificuldade em se render a isso e gostariam muito
fosse do agrado do dito senhor Bispo que se partilhasse com elas esse tesouro. Sua
providência muito santa e paternal saberá bem como prover a isso. Espero que,
33
Renê de Breslay.
44
De 1639 a 1642.
55
Texto das aulas.
66
Fl 1,27.
77
O original está arruinado numa distância de vários centímetros. A reconstituição do texto não comporta dificuldade
alguma.
88
Luísa Eugênia de Fonteines.
99
Santa Chantal.
enquanto as pessoas da atual direção estiverem no poder, elas se conterão. Mas temo
muito que, com o tempo, esta casa não se mantenha na mesma disposição1010.
Depois de escrita a presente carta, o senhor Lumague acaba de me dizer que
Nosso Senhor dispôs de nosso Santo Padre, o Papa1111. Esta notícia me deixou perplexo
durante seis horas: devemos mandar os da Companhia partir para Roma? Mas acabamos
nos decidindo: eles partirão depois de amanhã, 03 de fevereiro1212. Estarão em Lyon dez
ou doze dias depois e em Marselha lá pelo dia dezessete. Para ali deve dirigir-se o
secretário do senhor embaixador de Roma1313. Desejo muito que chegueis lá ao mesmo
tempo, para partir com ele, o que não será pequena vantagem. Em nome de Deus,
senhor Padre, fazei o que puder para isso.
Estamos enviando o Padre Germano e o Irmão Martin 1414. Um e outro são muito
afeiçoados e inteiramente apegados a sua vocação. O primeiro tem o espírito suave, é de
vida interior, obediente, regular, transparente, de bom relacionamento e muito simples.
O outro é cândido, simples, manso, obediente, regular, tem estudos de filosofia e de
teologia. Desta última, defendeu teses, há apenas três dias, e foi abençoado. É excelente
catequista, prega bem, tem dom para os exercícios dos ordinandos, embora tenha apenas
22 anos. Enviamo-vos, além dos dois, um irmão, boa pessoa, dócil, regular, embora
tenha entrado, há pouco tempo, na Companhia. Estou na dúvida se vos envio ainda um
padre a mais e um clérigo, os dois de notável virtude: o primeiro, de muita vida interior,
bom catequista e muito bom pregador; o segundo, de observância regular, de vida
interior, simples, e é filósofo. Veremos se nos será possível vo-los enviar.
Mandarei pagar aqui o trimestre de janeiro ao Senhor Delorme, se já não o
fizeram conforme ordem minha. Há alguma dificuldade na letra de câmbio. Mas será
superada pela quitação com este bom homem, enfermo e quase paralítico em seu leito.
Envio cento e cinco libras que recebereis do senhor Lumague em Lyon. Enviá-
las-eis ao Padre Dufestel, para ele entregá-las ao senhor Bispo de Genebra, em favor dos
seus exercitantes (trata-se dos retiros ou exercícios espirituais - N.T.). Parte delas me
foram dadas de esmola. Envio-vos também quarenta libras pelo referido senhor. Ser-
vos-ão entregues em Lyon para a vossa viagem para Marselha. Será preciso deduzir
desta soma o que deve ser pago ao portador expresso da presente carta. Em Marselha,
1010
Já deixamos assinalado em nota (carta 561, nota 9), que o coração não saiu de Moulins, onde a santa morreu.
1111
Era rebate falso. Urbano VIII morreu a 29 de julho de 1644.
1212
A carta está datada de 31 de janeiro. São Vicente a terminou a 01 de fevereiro.
1313
Jean de Montreuil, secretário do Marquês de Fonteney-Mareuil.
1414
Jean Martin, nascido em Paris a 10 de maio de 1620, não atingira ainda seus 22 anos. Pertencia à Congregação da
Missão desde 09 de outubro de 1638. Alguém escreveu que São Vicente o enviara à missão de Saint-Germain-en-
Laye, na qualidade de catequista e que tivera o delfim entre seus ouvintes. Não é isto possível, pois a missão de Saint-
Germain aconteceu alguns meses antes de sua entrada em São Lázaro. Ordenado padre em Roma, a 25 de abril de
1645, foi, no ano seguinte, enviado para Gênova, a fim de iniciar ali um novo estabelecimento. São Vicente não teve
talvez missionário mais dotado para arrastar as multidões e converter as almas. Em 1654, Jean Martin foi chamado de
volta para a França e colocado em Sedan, na qualidade de superior e pároco. Em 1655, São Vicente o enviou para
Turim, para dirigir um novo estabelecimento fundado pelo piedoso Marquês de Pianezze, primeiro ministro de
Estado. Lá, como em Gênova e Sedan, o zelo missionário venceu a resistência dos corações mais endurecidos.
Mereceu ser chamado de Apóstolo do Piemonte, e seus coirmãos receberam o nome de Padri santi (Padres santos).
Renê Almeras lhe ofereceu em 1665 a direção da casa de Roma. Foi para ele um bem penoso sacrifício. Jean Martin
se resignou. Foi enviado para Gênova em 1670, para Turim, em 1674, para Roma, em 1677, para Perúsia, em 1680,
para Roma, em 1681, sempre na qualidade de superior. Foi nesta última cidade que ele morreu, a 17 de fevereiro de
1694. Temos a notícia manuscrita sobre ele, escrita por um contemporâneo. Foi publicada, com alguns retoques, no t.
I das Notices, pp. 269-372.
dirigir-vos-eis ao juiz de Forbin, lugar tenente geral das galeras, que vos encaminhará
para onde a comunidade vai se hospedar. Se ela já tiver partido, aproveitando os ventos
favoráveis e a comodidade de que falei, ele vos ajudará a encontrar algum navio, e, se
for o caso, dar-vos-á dinheiro para a viagem, se precisardes.
Eis, senhor Padre, o que vos posso dizer no momento. Abraço-vos, como ao
Padre Dufestel e toda a comunidade, com a maior ternura e a humildade possíveis. Sou,
no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
Estou com tanta pressa que não posso escrever ao Padre Dufestel. Que ele me
perdoe, por favor.
Senhor Padre,
.
Carta 570. – Dossiê da Missão, cópia tirada do original do senhor Charavay.
11
Antônio Barberini.
22
O Cardeal Richelieu.
33
Justo Guérin.
44
O Cardeal Richelieu não era bem visto pela corte romana para que sua intervenção pudesse ser de alguma utilidade
para o Bispo de Genebra.
55
O Marquês de Fonteney-Mareuil.
O bom Padre Thévenin, pároco de Saint-Etienne, no Delfinado, me escreveu
várias cartas, todas no intuito de trabalhar para erigir um seminário de padres para as
paróquias e outros benefícios. Pressiona-me com uma quantidade de razões, apelando
até para os juízos de Deus. Ele esteve convosco no Delfinado 6 e em Annecy, e conosco
aqui. Gostaria muito que vos désseis ao trabalho de estar com ele, de passagem, e de lhe
entregar minhas cartas. Entre estas, há uma letra de câmbio, a fim de que ele pegue, em
Lyon, com os senhores Mascarini e Lumague, 250 libras, que ele me diz ter gasto para
vir estar conosco. Insiste comigo para abandonar nosso projeto das missões, a fim de
assumir o que propõe. Não teria eu dificuldade em fazê-lo, se isto fosse do agrado de
Nosso Senhor. Mas a Companhia foi aprovada pela Santa Sé, que tem infalibilidade
para a aprovação das Ordens que apraz a Deus instituir, segundo o que ouvi do Padre
Duval. Em segundo lugar, a máxima dos Santos é que quando uma coisa foi bem
decidida diante de Deus, depois de muitas orações e conselhos tomados, é preciso
rejeitar e considerar como tentação tudo o que se propuser contra. Em terceiro lugar,
enfim, tendo sido do agrado de Deus conceder uma aprovação universal às missões, de
tal modo que por toda parte todos começam a tomar gosto por elas e muitos a trabalhar
nelas com as bênçãos da misericórdia de Deus, parece-me que seria necessário quase
um anjo do céu para nos persuadir de que é vontade de Deus deixemos esta obra, para
assumirmos outra que já se tentou em diversos lugares, sem êxito.
Como entretanto o concílio de Trento recomenda os seminários, demo-nos a
Deus para prestar-lhe serviço também nisso, por toda parte onde pudermos. Começastes
em Annecy. O senhor Bispo de Alet 7, que tem nossos padres, faz o mesmo. O senhor
Bispo de Saintes8 tem a mesma intenção. Em Paris, vamos começar uma experiência
com doze e para ela o senhor Cardeal nos ajuda com mil escudos9.
O Padre Thévenin gostaria que a coisa fosse mais rápida. Mas parece que os
negócios de Deus se fazem pouco a pouco e quase imperceptivelmente e que seu
espírito não é impetuoso, nem intempestivo. Escrevi-vos acima, pedindo-vos para ir vê-
lo. Pensei porém, depois, que não há necessidade e bastar-vos-á enviar-lhe minhas
cartas.
Folgo em saber, senhor Padre, que vossa natureza venceu aqueles movimentos
de ardorosa urgência, sentidos no começo, em relação a Roma. Ao contrário,
experimentais agora sentimentos de temor. Será então o puro amor de Deus que vos
conduzirá até lá. Ele realizará sua obra por vós. Ide pois, senhor Padre, in nomine
66
Bernardo Codoing tinha outrora pregado missão por lá.
77
Nicolau Pavillon começara seu seminário pouco tempo após sua chegada em Alet. Nele recebia jovens e até padres
ordenados, sem saber uma palavra em latim (Cf. Degert, op. cit., t. I, p. 197).
88
Jacques Raoul, Bispo de Saintes, pensava, desde o ano de 1633, no estabelecimento de um seminário em sua
diocese. Só pôde realizar seu projeto em 1644 (C.f Luís Audiat, São Vincente de Paulo e sua congregação em Saintes
e Rochefort, Paris, 1885, in-8º).
99
Foi, segundo o testemunho de Abelly (op. cit., t. I, cap. XXXI, p. 146), pelo ano de 1636 que São Vicente erigiu,
no colégio dos Bons-Enfants, um seminário, onde adolescentes fizeram os estudos de humanidades. Tocado pelo que
lhe disse o Santo sobre a necessidade de os clérigos, já de ordem sacra ou prestes a recebê-las, se exercitarem durante
um ou dois anos nas virtudes e funções do seu estado, Richelieu lhe concedeu mil escudos em 1642, para o sustento
de doze eclesiásticos. A estes doze, vieram ajuntar-se outros que pagavam pensão. Os seminaristas bem cedo se
tornaram tão numerosos que são Vicente teve de retirar dos Bons-Enfants os que faziam humanidades e transferi-los
para um edifício situado no extremo do recinto de São Lázaro. Assim começou o seminário São Carlos. O seminário
dos Bons-Enfants passou, portanto, por três fases sucessivas: a primeira de 1636 a 1642, a segunda de 1642 a 1645, e
a terceira de 1645 a 1791.
Domini (em nome do Senhor), nesta confiança. Escrevei-me com frequência e sobre
todas as coisas. Escolhei um lugar bem sadio para a vossa habitação em Roma. A carta
do Cardeal Mazarino foi escrita com capricho!
Sou, senhor Padre, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 571. – C. aut. – O original desta carta foi posto à venda pelo senhor Charavay, que lhe publica o texto num
dos seus catálogos.
11
Em Seine-et-Marne.
22
Gastão de Renty, nascido em 1611 em Bény-Bocage (Calvados), era, diz Abelly (op. cit.,1. II, p. 365), “tão nobre
pela virtude quanto pelo nascimento”. Depois de ter guerreado na Lorena, à frente de uma companhia de cavaleiros,
fixou-se em Paris, colocou-se sob a direção do Padre Condren, entregou-se às práticas de piedade e às obras de
caridade. A recitação do ofício divino, a oração, os exames de consciência ocupavam uma parte do seu dia.
Levantava-se de noite para recitar as Matinas. Um dia por semana era consagrado à visita dos doentes da Casa da
Caridade, aos quais instruía e consolava. Um outro dia, à visita dos hospitais. Visitava os pobres nas suas casas com
as irmãs da paróquia Saint-Paul. Os ingleses refugiados na França por causa da sua fé, os lorenenses advindos a Paris,
à procura de segurança que não tinham em sua região, os cativos da Barbaria, os forçados de Marselha, os
missionários do Levante encontraram nele um generoso benfeitor. O doutor Burnet, Bispo de Salisbúria, disse “que
deviam colocá-lo com justiça entre os maiores modelos que a França produziu” no século XVII (Collet, op. cit., t. I,
p. 215, nota). Um tal homem não podia deixar de ter relacionamentos frequentes com São Vicente. Já dissemos que
ele foi o principal auxiliar do Santo na assistência aos nobres lorenenses refugiados em Paris. Encontrasse ele
pecadores desejosos de se converter, aconselhava-os a ir fazer retiro em São Lázaro. O piedoso e caridoso barão
morreu a 24 de abril de 1648, com a idade de trinta e oito anos. O Padre Saint-Jure escreveu sua vida ( La vie de
Monsieur de Renty, Paris, 1651, in-8º).
33
Domingos Séguier.
44
Fontaine-Essarts, lugarejo da comuna de Courbetaux (Marne), ao lado de Montmirail.
572. – A LUÍSA DE MARILLAC
Senhora,
Eu vos prestarei serviço, se puder. Mas, no que toca ao negócio dos Padres da
Missão, peço-vos deixá-lo nas mãos de Deus e da justiça. Prefiro vê-los fora de vossa
cidade a vê-los nela pelo favor e autoridade dos homens.
Senhora,
Vicente de Paulo.
.
Carta 575. – Conhecemos o rascunho e o texto definitivo desta carta, ambos escritos da mão de São Vicente e
datados, o primeiro, de 17 de março; o segundo, do dia seguinte. Este último documento pertence aos padres da
Missão e Turim. O outro se encontra na Catedral de Bogotá (Colômbia).
parecer contrário a essas exposições orais. Dos cinco, dois são estimados como os mais
sábios da Companhia. Eis as razões:
A primeira vem da própria ciência que desejamos transmitir, a qual será mais
segura se for a de um autor aprovado, do que a de escritos de um particular.
Em segundo lugar, da parte dos prelados e do público, que darão preferência a
um autor aprovado, mais que aos escritos de um jovem que não deu prova de sua
ciência nos bancos das escolas.
Em terceiro lugar vem o interesse da Companhia. Ela dispõe de mais pessoas
que poderão utilmente explicar um autor, do que de gente para ditar textos. E ainda, pela
razão de que não se exporia à censura de suas lições e não atrairia sobre si, inveja do
que poderia fazer.
Em quarto lugar vem o lado dos que ensinam. Ser-lhes-á mais útil explicar um
autor do que compor textos, se não os tirar, como fizestes, de Bonacina 1 ou de algum
outro autor. Neste caso, ao descobrirem o autor, zombarão do professor. Quanto a tirar
de sua cabeça, é preciso ser professor de teologia para isso, ou ter capacidade suficiente
e empregar muitíssimo tempo na consulta aos autores e fazer apenas isto. E então, adeus
à solicitude por fazer os seminaristas repetirem o conteúdo, no que consiste o fruto
principal. E adeus ainda ao cuidado da vida espiritual e a tudo mais. Se vosso espírito
foi capaz de tudo isto até o presente, resta saber se o será com o tempo. Em todo caso,
se o puderdes, nem todo mundo tem a força de espírito que Nosso Senhor vos possa ter
dado, para bastar a tudo isso.
Em quinto lugar, temos o lado dos seminaristas, que podem ser ou não teólogos.
Se o forem, não entrarão no seminário para aprender a moral, mas antes a piedade e as
outras coisas que lhes convêm, do mesmo modo que os licenciados em teologia pela
Sorbona não entraram nos exercícios dos ordinandos para aprender a doutrina neles
ensinada, mas para se tornarem melhores. Se não forem teólogos, contentar-se-ão alguns
com os textos ditados, como se faz de ordinário na Sorbona. E o mestre que os ensina
julgará ter feito o bastante, entregando-lhes textos, e ter trabalhado o suficiente,
compondo-os e lhos entregando. Queira Deus neles pensem depois! E se são ignorantes,
como acontece com a maior parte dessa condição, meu Deus! senhor Padre, de que lhes
servirá vos tenha entregue a tanto trabalho por eles? Não valeria mais a pena empregar o
tempo interpretando-lhes bem, levando-os a aprender de cor e, depois, a repetir um
autor, do que perder o tempo compondo-lhes textos por escrito, uma vez que todo
proveito para eles consiste em fazê-los aprender de cor e a dar conta do que
aprenderam?
Objetar-se-á que os discípulos serão tentados a ir embora se não lhes for
ministrado algo da própria lavra e que não conceberão boa opinião do mestre. Talvez
fosse verdade, se não houvesse outros atrativos no seminário. Mas nele tendes o da
piedade, se for do agrado de Deus saiam dele homens verdadeiramente piedosos. No
11
Martin Bonacina, nascido em Milão por volta de 1585, é um dos príncipes da teologia moral. Lecionou por três
anos direito canônico e civil no seminário de sua terra natal e foi depois reitor do Colégio Suíço. Seu mérito granjeou-
lhe a nomeação por Fernando II como Conde palatino e cavalheiro da Toison d’Or (do Velocíno de Ouro). Sagrado
Bispo de Útica, morreu enquanto se dirigia para a corte de Viena, aonde Urbano VIII o enviava como Núncio (1631).
Escreveu um compêndio de teologia moral (Lyon, 1624, 2 vol., in-fº), que já tinha dezoito edições em 1754, e
diversos tratados de direito, dogma e moral.
seminário, tereis ainda o canto, as conferências, as cerimônias, a instrução para a
catequese e a pregação e sobretudo o bom odor transpirado da vida edificante dos que
forem educados neste estilo, e a procura deles para os ministérios e trabalhos.
A Conferência dos externos, que vem fazer palestras em São Lázaro, faz
profissão de tratar os assuntos com muita simplicidade. Tão logo venha alguém a aduzir
mais teorização e ornar a linguagem, imediatamente me trazem queixas, no sentido de
remediar a isso. E o primeiro a fazê-lo é o senhor Padre Tristan, doutor em teologia 2,
pertencente à agremiação. E, no entanto, Nosso Senhor permite que todos desejem fazer
parte dela. O último admitido foi o senhor Abade de Saint-Floran, Conselheiro do
Parlamento.
Crede, senhor Padre, que o espírito de Nosso Senhor não é um espírito de porte a
realizar as coisas para angariar estima, e me parece que o da Missão deve buscar sua
grandeza na humildade, e sua reputação no amor da própria abjeção.
Já se disse que é mais fácil compor e ditar do que explicar um autor. Se o é para
vós, ainda bem. Mas a razão me parece ir contra este modo de ver. Há muito maior
dificuldade em pensar as matérias, estudar os autores, compor na mente a doutrina e
traduzi-las pessoalmente por escrito, para depois ditá-la e explicá-la, do que
simplesmente explicá-la.
Disseram também que as coisas se aprendem escrevendo. Seria de se desejar que
o fosse. Mas os que escrevem na Sorbona ensejam a oportunidade de se verificar o
contrário. É verdade que um pequeno número [de assuntos se assimilam melhor, mas
outros muitos nem são assimilados, nem se fixam na memória3].
Objetar-se-á que os mestres se tornarão, por este meio, mais sábios, porque
estudarão as matérias a fundo e lerão vários autores para esse fim. Certo, mas eles não
poderão portanto fazer outra coisa a não ser estudar e compor textos. Sendo assim,
quem ministrará aos seminaristas instruções sobre assuntos de vida interior? Quem os
exercitará nas sagradas cerimônias? Quem os ensinará a dar catecismo e a pregar e
quem os ajudará a observar a regularidade? Será necessário muita gente para cada
seminário. Quem os sustentará e o que será das missões?
Dir-me-eis que tudo isso não deixa de ser feito em Annecy, por apenas uma
pessoa. É verdade. Mas nem todos os lugares e nem todos os missionários são iguais, e
acresce que estamos apenas começando.
Alega-se, enfim, o exemplo dos RR. PP. Jesuítas e da Universidade de Paris.
Mas não é o mesmo caso. Eles fazem profissão pública de ensinar as ciências e
precisam de reputação. No seminário, porém, a maior necessidade é de piedade e de
ciência mediana, com a inteligência do canto, das cerimônias, da pregação e da
catequese, mais do que muita doutrinação.
Que diremos das universidades da Espanha, onde não se sabe o que é ditar nas
aulas e se contentam com as explanações? Contudo, todos estão de acordo em que eles
são teólogos mais profundos do que os de outras partes.
22
Claude Tristan, Senhor de Maisoncelles, cônego, arcediago-mor e Vigário Geral de Beauvais, durante quarenta
anos. Sua recusa de assinar o formulário lhe valeu em 1666 a exclusão do coro e a privação dos frutos de sua
prebenda. Morreu a 29 de junho de 1692.
33
Completamos esta frase acompanhando Jean Bonnet, Superior Geral da Missão, o qual, na circular de 10 de
dezembro de 1727, cita a maior parte desta carta.
Além de tudo, se fôssemos introduzir agora este método de tudo compor e ditar,
veríeis em breve dizer-se que para termos homens capazes para isso, seria necessário
termos colégios e nos entregar ao ensino. Ó Jesus, senhor Padre! Se isto acontece, o que
seria do povo pobre?
Todas essas considerações fazem com que continuemos a explicar Biensfeld 4,
como tínhamos começado a fazê-lo, com a bênção de Deus, e me levam a suplicar-vos,
senhor Padre, a permanecer nesta prática, como também a submeter vossos
pensamentos às determinações que se tomarem aqui. Digo-vos, não somente em relação
a este ponto, mas em todas as coisas, e de nada fazer de importante sem me escrever e
sem antes receber a resposta.
Vede, senhor Padre, vós e eu nos deixamos levar demais por nossas opiniões.
Estais entretanto num lugar onde se impõe uma maravilhosa discrição e circunspecção.
Sempre ouvi dizer que os italianos são o povo mais cauteloso do mundo e que mais
desconfiam das pessoas muito apressadas. A discrição, a paciência e a mansidão
conseguem tudo com eles, com o tempo. E como sabem que nós franceses vamos
depressa demais, deixam-nos muito tempo no meio da rua, sem nos dar atenção.
Em nome de Deus, senhor Padre, preste atenção nisso. Atenção também para
jamais passar por cima das ordens que receberdes de nós, como fizestes com relação ao
Padre Thévenin. Com que tranquilidade de consciência poderíeis, senhor Padre, ficar
com o que eu enviava para ele? Dizeis que é um maluco e que pediu esmola pelo
caminho e gastou pouco. Que o seja. Mas deveríeis ter refletido que eu tinha alguma
razão particular para agir assim e pensar que talvez esse dinheiro não era daqui; como
de fato não é. Em nome de Deus, senhor Padre, prestai atenção nisso e convençamo-nos
de que estaremos fazendo sempre a vontade de Deus, e de que Ele fará a nossa, quando
fizermos a de nossos superiores. Cairemos em milhares de inconvenientes e desordens,
se procedermos de outra forma.
Escrevei-me sobre todas as coisas e vos prometo dar a resposta por todos os
portadores ordinários, ou pelo menos de 15 em 15 dias. E o que tiverdes de me
informar, seja enviado a mim, pessoalmente, por favor.
Além das cartas que escrevererdes sobre assuntos particulares, escrever-me-eis
uma outra que eu possa mostrar aos coirmãos.
Além disto, é bom que envieis uma carta ao senhor Montmaur, referendário, que
nos deu assistência nessa ocasião. Se a coisa tiver êxito, temos motivo para esperar que
nos continuará sua caridade. Vossa carta se empenhe em agradecer-lhe e lhe peça leve a
bem que lhe presteis conta do estado de vossos negócios, de tempos a tempos.
Será conveniente também escrever de vez em quando à Madame Duquesa de
Aiguillon e à Madame Presidente de Herse, que nos fizeram também caridade, nessa
ocasião. Mas não faleis de umas ou outras pessoas a quem quer que seja, por favor, e
enviai-me vossas cartas abertas.
Veja, senhor Padre, escrevi-vos sobre muitas coisas. Mas a quem poderia eu
falar com toda simplicidade e com total confiança, a não ser a um outro eu mesmo, a
44
Pierre Biensfeld, nascido em Biensfeld (Luxemburgo) por volta de 1540, morreu de peste a 24 de novembro de
1598. Deixou várias obras de teologia e direito canônico. São Vicente tem em vista sem dúvida seu Enchiridion
Theologiae Pastoralis, editado em Treves em 1591 e em 1602 e depois em Douai em 1630 e 1636, com notas de
François Sylvius. Esta obra mereceu os elogios do sínodo reunido em Malines, em 1607.
quem quero bem, mais do que a mim mesmo? Oh! Com certeza, abrir-vos-ei sempre
meu coração e não reservarei coisa alguma ao vos falar, porque conheço o fundo do
vosso coração e a caridade que Nosso Senhor vos inspirou para comigo.
Sou, no amor do mesmo Senhor, vosso e de vossa comunidade, que abraço em
espírito, prostrado aos vossos pés, senhor Padre, muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
SEGUNDA REDAÇÃO
Senhor Padre,
55
Esta objeção é na realidade a segunda.
Objeta-se, enfim, que é este o uso dos RR. PP. Jesuítas e das universidades.
Distingo entre as universidades. Não se dita em toda a Espanha, onde há tão grandes
teólogos. E depois, não é o mesmo caso. Essas instituições, na França, fazem profissão
de ensinar as letras.
Asseguro-vos, senhor Padre, que, se entrarmos neste espírito, vereis em breve
propostas, na Companhia, de que será preciso assumir colégios e ensino público, a fim
de ter homens mais sábios para ensinar esses seminaristas. Se fosse assim, meu Deus!
senhor Padre, que seria do pobre povo do [campo 6] e em que tipo de espírito
entraríamos, querendo nos emparelhar com estas grandes instituições? Onde estaria a
santa humildade, na qual foi do agrado de Deus conceber, gerar e educar esta pequena
Companhia, até o presente?
Posto tudo isto, senhor Padre, em nome de Deus, nunca mais façais esta
proposta. Sede firmemente fiel a todas as decisões tomadas aqui, sobre todos os
assuntos. Nada façais sem nos escrever, nem antes de receber nossa resposta. Digo,
nada que tenha alguma importância. Lembrai-vos, por favor, do que vos escrevi em
Annecy.
Tenho muito a vos dizer sobre o que fizestes a respeito desse bom padre do
Delfinado. Fica para outra vez, se Deus quiser.
Escrevei-nos, com frequência, e, de três em três meses, ao Senhor de Montmaur,
referendário, que nos ajuda em vosso sustento, e às Madames Duquesas de Aiguillon e
de Herse, também.
Escrever-nos-eis, a nós, pessoalmente, uma carta fazendo menção das coisas
reservadas e uma outra que se possa mostrar aos outros. Quanto às cartas ao Senhor de
Montmaur e às Madames, serão para agradecer-lhes sua assistência, certificá-los de
vossas preces, dizer-lhes, resumidamente o estado da comunidade, o que se pode
esperar a respeito dos ordinandos, rogando-lhes continuem com a boa vontade de que
dão mostras para com esse estabelecimento. Nenhum deles deseja que se propague a
caridade que nos têm feito.
Espero escrever-vos de 15 em 15 dias e, talvez, a cada portador ordinário.
Quando me escreverdes, e a coisa o exigir, escrevereis, por favor, tudo a mim, não a
outros, para mo dizerem.
Eis tudo que tenho a vos dizer no presente. Resta-me abraçar vossa querida
comunidade. Como faço, prostrado em espírito a seus pés e aos vossos. Sou, no amor de
Nosso Senhor e de sua Santa Mãe, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente
servo,
66
Texto original: Companhia. Evidentemente, trata-se de uma distração. No francês, “Compagnie” (Companhia) por
“Campagnie” (Campo).
.
Carta 576. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
São Lázaro, 25 de março de 1642.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
O zelo dos vossos padres, unido ao exemplo de sua piedade, operou tal mudança
de vida nos meus camponeses que os vizinhos quase não os reconhecem. Quanto a mim,
confesso que não os reconheço mais e não consigo tirar de mim a persuasão de que
Deus me enviou uma nova colônia de pessoal para povoar minha aldeia. Vossos padres
encontraram apenas espíritos rudes, cuja transformação só seria possível com a graça
que acompanha vossos obreiros, especialmente estes daqui, que tivestes a bondade de
enviar para a conversão deste povo e a minha. É fruto da misericórdia de Deus e da
conduta de vossa prudência enviar-nos homens conformes com as nossas necessidades.
Depois dos agradecimentos que vos faço, só nos resta oferecer a Deus ardentes
preces, para que cumule de bênçãos vossa Companhia, que estimo ser hoje na sua
Igreja uma das mais úteis à sua glória. Fico, contudo, no temor de que esse pobre povo,
se não tiver um bom pastor que o mantenha nas boas resoluções tomadas nas missões,
que lhe foram tão úteis, venha a cair facilmente no pecado da omissão, esquecendo ou
negligenciando a prática do que lhe foi tão judiciosamente ensinado. Já que não
quisestes dar-lhe um pároco, creio que, tendo-o engendrado de novo em Nosso Senhor,
sois obrigado ao menos a conseguir-lhe algum com vossas orações, o que vos suplico
de todo meu coração.
11
Fontaine- Essarts.
.
Carta 577. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, §VII, 1ª ed., p. 45.
11
Localidade de Yonne. Bernardo Prévost era Conselheiro do Grande Conselho.
578. – MADAME DE SAINT-CYR-LES-COLONS1 A SÃO VICENTE
1642.
1642.
Senhor Padre,
11
Cristóvão d’Authier de Sisgau, nascido em Marselha, a 06 de abril de 1609, obteve, jovem ainda, um benefício na
Abadia de São Vítor. Foi ordenado padre, em junho de 1633, e recebeu, alguns dias depois, o capelo de doutor. Em
1634, o Arcebispo de Aix lhe confiou, a ele e aos que se uniram a ele para pregar missões, a capela de Notre-Dame
de Beauvesez. No ano seguinte, ele aprovava o novo Instituto com o título de Congregação dos Clérigos da Missão,
que mudou em 1638 pelo de Congregação dos Missionários do Clero. Os Missionários do Clero se estabeleceram em
Brignole e em Marselha e foram chamados em Valença (1639) para dirigir o seminário dos ordinandos. Em Senlis,
confiaram-lhes a paróquia Sainte-Geneviève (1640). Urbano VIII reconheceu esta sociedade pelo breve de 04 de
junho de 1644, e Inocêncio X mudou o seu nome, a 20 de novembro de 1647, para o de Congregação do Santo
Sacramento para a direção das Missões e dos Seminários. Seus membros, desde então, foram chamados de Padres
Missionários da Congregação do Santo Sacramento. Cristóvão d’Authier foi nomeado, em 1644, reitor dos dois
colégios apostólicos de Avinhão, e depois bispo titular de Belém. Foi sagrado em Roma, a 26 de março de 1651.
Ficou nessa cidade durante os anos de 1652, 1653 e parte do ano de 1654, e voltou para a França, onde continuou a
dirigir sua Congregação. Morreu em Valência, a 17 de setembro de 1667.
Sobre as tentativas de união de seu Instituto com o de São Vicente, eis o que lemos nos Anais dos Padres
do Santo Sacramento (Ms. conservado na biblioteca dos Padres Beneditinos de Marselha, antes de sua expulsão): “Na
volta da primeira viagem do Padre de Sisgau a Roma, quando tinha sua Congregação apenas na mente, algumas
pessoas de piedade lhe inspiraram ir a Paris para ver a possibilidade de se unir a Vicente de Paulo, que acabava de
erigir uma, quase semelhante, com o nome de Missão. Foi então, por este motivo, permanecer alguns meses, como
desconhecido, em sua casa de Paris chamada Bons-Enfants, para ver se poderiam juntos entrar em acordo e se os seus
fins eram semelhantes. Não tendo reconhecido naquela ocasião a vontade de Deus, começaram novas tentativas este
ano (1642), no tempo de uma jovem religiosa de extraordinária virtude e cuja santidade mereceu, depois de sua
morte, que o R. P. de la Rivière, da Ordem dos Meninos, lhe publicasse a vida. Esta piedosa religiosa era da cidade de
Valença e chamavam-na comumente de Irmã Maria. Mostrou ao Padre d’Authier que ele devia unir-se a São Vicente
de Paulo e a fazer destes dois corpos um só, para melhor realizar na Igreja as santas intenções que Deus lhes
inspirava. Falou-lhe com tanto vigor desta união e dos sinais de que Deus o queria, que o Padre d’Authier, que fazia
profissão de desapego, se rendeu a esta proposta. A Providência, para melhor provar seu desinteresse, permitiu que,
neste mesmo tempo, quatro ou cinco missionários do Padre Vicente passassem por Valência, voltando de uma missão
que acabavam de pregar, e o fossem saudar no seminário, para lhe falar sobre isso. O Padre d’Authier os recebeu com
toda amizade possível, e depois de conversar com o chefe do grupo, chamado Codoing, lhe deu a conhecer que não
seria por ele que esta união não fosse levada a cabo, pois que nela reconheceu a maior glória de Deus e a utilidade da
Igreja. Chegando a Paris, o Padre Codoing comunicou os entendimentos ao Padre Vicente, o qual escreveu ao Padre
de Sisgau uma carta, de 22 de abril de 1642, para certificá-lo de que não estava menos disposto do que ele a essa
união. O Padre d’Authier foi a Paris, algum tempo depois, para este assunto. O que deteve a conclusão deste negócio
foi que o Padre Vicente não queria embaraçar-se com a responsabilidade das paróquias e nem dos seminários de
nossa Congregação, nem permitir que os missionários usassem punhos e golas semelhantes aos dos eclesiásticos que
viviam no mundo”.
Esta narrativa parece exata, salvo em dois pontos: Bernardo Codoing não foi a Paris e os obstáculos ao
projeto provinham menos dos punhos e golas do que das exigências do Padre d’Authier a respeito da fusão das regras
e constituições, e de sua pretensão de se tornar coadjutor de São Vicente, com futura sucessão.
As duas Congregações trabalharam em conjunto, em 1643, nas galeras de Marselha. Houve depois entre
elas ligeiros desencontros. Os padres do senhor Padre d’Authier tentaram impedir o estabelecimento dos padres da
Missão em Roma. Por outro lado, a semelhança dos nomes tendo dado ocasião a desagradáveis equívocos, São
Vicente fez algumas tentativas no sentido de obter que os missionários do Santo Sacramento não usassem mais o
título de missionários.
A vida de Cristóvão d’Authier de Sisgau foi escrita por Nicolau Borelli, padre de sua Congregação.
22
Os padres de Cristóvão d’Authier.
espírito maligno. Fiz um retiro espiritual expressamente sobre isso, em Soissons, para
que Deus me livrasse do espírito de complacência e do afobamento que me ocupavam
neste negócio. E aprouve a Deus escutar-me; por sua misericórdia, libertou-me de um e
de outro, e concedeu-me a graça de passar para disposições de espírito contrárias. Penso
que, se Deus concede alguma bênção à Missão e que eu lhe seja menos motivo de
escândalo, devo atribuí-lo, depois de Deus, a isso. Desejo permanecer na prática de nada
concluir nem empreender, enquanto estiver nestes ardores de esperança, em vista de
grandes bens.
Termino, entretanto, saudando a pequena comunidade e sou vosso servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
33
Bernardo Codoing ainda não estava em Roma quando São Vicente escrevia esta carta. Chegou lá no dia 08 de abril.
.
Carta 581. – Dossiê de Turim, original.
19 de abril1.
Senhor Padre,
11
Uma certa mão, que não a do secretário, escreveu no dorso da carta: 19 de abril de 1640. E é a data seguida pelo
registro 2, p. 98. Não nos é possível adotá-la, pois Jacques Chiroye só foi nomeado superior do estabelecimento de
Luçon mais tarde, a 06 de outubro de 1640 (Cf. carta 488). Jean Dehorgny foi enviado em viagem de visitas para o
lado de Lorena, em 1640. Visitou talvez outras casas no correr do ano de 1641 ou 1642. Em abril de 1643, partira
para a Itália, de onde só voltou definitivamente em dezembro de 1653.
.
Carta 582. – C. aut. – Original em Paris, com as Filhas da Caridade da Rua Pierre-Nicole, 9.
11
Francisco Duval, Marquês de Fonteney-Mareuil.
22
Talvez os priorados da diocese de Langres, de que se trata em outras cartas.
33
O Cardeal Richelieu.
44
O mosteiro de Saint-Eutrope (Cf. carta 594).
55
Provável expressão da jurisprudência eclesiástica do tempo, hoje fora de uso, ao que nos consta, indicativa de
discrição e segredo.
66
Esta pessoa fizera voto de entrar no Carmelo.
77
Jean-Jacques Lafon. Morreu em Senlis, pároco de Sainte-Geneviève.
nos enviou um jovem eclesiástico de sua casa para os exercícios dos ordinandos e
mandou-me dizer que estaria comigo em breve, para falar de um negócio importante
que exigiria tempo de minha parte, e isto, antes de sua partida para uma longa viagem.
Respondi-lhe que seria bem-vindo e disporíamos do tempo que lhe aprouvesse.
Comunicou-me depois que não faria mais a viagem e não me disse uma palavra sobre o
negócio de que trataria comigo. Isto não me impediu de escrever ao Padre Authier que
eu recebera com alegria a disponibilidade para a união, acontecida em vossa entrevista,
da qual me escreveis, e que ele me achará sempre disposto para isso.
Escrevi a mesma coisa à Irmã Maria 8 e a sua companheira que tiveram a
bondade de me escrever sobre o caso. Não se sabe se esta mudança do Padre Le Bégue,
superior da casa deles em Senlis, não procede do fato de ele ter visto a possibilidade de
se estabelecer definitivamente em Senlis9, dada a dificuldade que fizemos, junto ao
senhor Bispo de Senlis, de aceitar a melhor paróquia de sua diocese 1010, que nos oferece
para nela nos estabelecer. Falou-me disso com tanto ardor, a ponto de afirmar que se
poria de joelhos para mo suplicar, se dependesse apenas disso.
Ora, nossa dificuldade no caso está exatamente na que sempre fizemos, como
sabeis, em assumir paróquias, exceto a de Richelieu 1111. Tudo isso vos faz ver que é
conveniente usar de discrição nesse negócio.
Escrevi ao Padre Germano para partir na primeira oportunidade.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Minha mui cara Madre sabe que sou todo de Santa Maria e dela. Mas não sou
seu pai espiritual, a não ser na medida em que é da casa de Paris. Além do mais, temo
muito não estar de volta de uma viagem que me proponho fazer, com a ajuda de Deus,
se um pequeno incômodo meu mo permitir.
Se estiver de volta, ou se não fizer a viagem, e minha cara Madre tiver permissão
para isso, tratarei de lhe prestar este pequeno serviço. E Deus sabe com que coração o
farei e quanto sou, no amor de Nosso Senhor, minha cara Madre, seu muito humilde e
obediente servo,
88
Maria de Valência.
99
Nicolau Sanguin.
1010
A paróquia Sainte-Geneviève de Senlis. Ela foi dada aos padres de Cristóvão d’Authier.
1111
Foi preciso toda a autoridade do Cardeal Richelieu para fazê-lo aceitá-la.
.
Carta 583. – Original comunicado pelo senhor Barão de Bich, de Aosta.
11
Esta carta deve ser aproximada, parece, da carta 585.
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Maio de 1642.
Querida Madre,
.
Carta 584. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. III, sec. V, p. 266.
.
Carta 585. – C. aut. – Original na Bibl. Nac., n. a. f. 22.819.
11
Esta proposta é, ao que parece, aquela à qual o Santo responde, na carta 583.
impossibilidade, dedicar-me-ia a vós, à maneira como vós e vossa santa comunidade me
faz a caridade de desejar. O embaraço em que estou e que aumenta todos os dias, as
indisposições que me acometem, com minha idade, me levam a suplicar-vos, muito
humildemente, minha cara Madre, escusar-me por ser indigno da graça que vós e vossa
santa comunidade me ofereceis, garantindo-vos que, embora não vos sirva da maneira
como propondes, fá-lo-ei de outra forma que me ordenardes.
Sou vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
Excelentíssimo Senhor,
Senhor Padre,
.
Carta 586. – Reg. I, fº 70 – O copista nota que o original era da mão de São Vicente.
***
11
Muito provavelmente o Duque de Liancourt, que fazia parte da sociedade formada para socorrer a pobre nobreza
lorenense, refugiada em Paris e que tinha o direito ao título monsenhor (traduzimos por Excelentíssimo Senhor – N.
T.)
22
A obra da nobreza de Lorena, fundada em 1640, durou cerca de oito anos (Abelly, op. cit., 1. I, cap. XXXV, p.
168).
.
Carta 587. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta precede de bem pouco tempo a carta que Luísa de Marillac dirigia, a 05 de julho de 1642, a Jeanne
Lepeintre (Cartas de Luísa de Marillac, l. 64).
Madame Belot prevê que a questão da irmã Ana será desgastante e teme que
haja processo, porque parece que o senhor du Ruisseau e os principais moradores 2
querem que ela fique lá. Ela acredita que o seu irmão, executor do testamento da
pessoa que fez a fundação, e seus herdeiros se colocarão contra. E que este ponto de
honra os levará a se desentenderem uns com os outros. Não vos seria possível, senhor
Padre, mandar alguém falar com o senhor pároco, ao qual ela disse que eu não achava
bom fosse ele a sua casa e que ela falasse com ele e com o senhor du Ruisseau? Não
creio queiram eles fazer algo contra o que lhes propuserdes. Tenho um grande desgosto
de não ter desconfiado suficientemente deste lastimável espírito.
Nossa Irmã Ana, da paróquia São Sulpício, também lorenense, veio estar
comigo anteontem para me pedir a retirasse de lá, pelas seguintes razões: ela tem lá
dificuldades e contradições demais. É verdade que esses senhores que se imiscuem
nessa Caridade as menosprezam muito. Suspeito que esta Irmã de Fontenay lhe tenha
falado ou mandado falar algo, pois está empenhada em retirar de lá alguma outra com
ela.
Madame d’Humières3 está resolvida a esperar vossa disponibilidade para fazer
sua confissão. Disse-lhe que não estáveis passando bem. Ela não desiste de esperar que
possa ser um dos dias da próxima semana. Gostaria de poder ter certeza disso amanhã.
Dizei-me, por favor, o que devo fazer com nossa irmã Ana de São Sulpício.
Parece-me que ela tem muita pressa.
Somos muito felizes por vos ter dado o bom Deus um coração de pai para nos
tolerar, a mim, em particular, que sou, senhor Padre, vossa humilde filha e serva
agradecida,
L. de M.
22
De Fonteney-aux-Roses (Seine). Embora as Filhas da Caridade se tenham estabelecido nesta localidade em 1642, o
ato de fundação data de 11 de novembro de 1650 (Arq. Nac. S 6.187). Um legado importante feito pelo senhor
Béguin para a fundação de duas irmãs consolidou a obra começada.
33
Provavelmente Isabel Phelippeaux, casada em julho de 1627 com Luís de Crevant, Marquês d’Humières.
.
Carta 588. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta responde à precedente. Foi escrita no lado reservado ao endereço.
22
Irmã Ana, de Fontenay.
Preciso de alguns dias para me purgar. Depois disso, veremos o dia em que
poderemos prestar esse pequeno serviço a essa senhora3.
Boa noite, Senhora. Sou v. s.
V. D.
25 de maio de 1642.
Não posso explicar-vos a consolação que vossas duas cartas de deram, a não ser
vos dizendo que, desde que estou na Companhia, não me lembro ter recebido uma só,
tão profunda quanto esta. Chego a temer tê-la deixado ocupar-me o espírito por duas ou
três horas, diversas vezes, durante um quarto de hora, a cada vez. Ó senhor Padre, como
as abominações de minha vida me afligem à vista dessa misericórdia de Deus sobre a
Companhia1!
Aprovo inteiramente o que dissestes a Dom Ingoli sobre os poucos operários que
somos e a obrigação que temos para com nossos senhores bispos circa missiones
faciendas (a respeito de missões a se realizarem) e que isso nos tira, no presente, o meio
de nos prevalecer da graça que sua bondade nos oferece de mediar junto à sagrada
Congregação de Propaganda Fide (da Propagação da Fé) sua proteção para a
Companhia.
Penso, senhor Padre, que faríeis bem em não ir mais longe e conduzir vosso
modo de proceder junto dele sobre essa base. Certificai-o, como lhe disse pelo Padre
Lebreton, de que eu creio, uma vez que somente Sua Santidade pode enviar ad gentes
(para missões além-fronteiras), que todos os eclesiásticos são obrigados a obedecer-lhe,
quando os mandar partir para esse fim. A pequena Companhia foi educada nesta
disposição de partir com toda boa vontade, deixando tudo, quando aprouver a Sua
Santidade enviá-la a capite ad calcem (do primeiro ao último) para aquelas regiões.
Praza Deus, senhor Padre, nos torne dignos de empregar nossas vidas, como Nosso
Senhor, na salvação dessas pobres criaturas isoladas de qualquer assistência.
Trabalhai esse assunto segundo vossa prudência ordinária.
1642.
33
Madame d’Humières.
.
Carta 589. – Reg. 2, pp. 33 e 76.
11
Termina aqui o primeiro fragmento.
.
Carta 590. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. IV, sec. IV, 1ª ed., p. 285.
Os frutos produzidos pelos que fazem convosco os exercícios do retiro espiritual
espalham por toda parte um tal odor, que despertam no espírito de muitos o desejo de
irem eles próprios colhê-los na árvore. Vendo assim um dos meus parentes próximos
nesta boa vontade, julguei não poder fazer melhor por ele do que vos suplicar,
humildemente, tenhais a bondade de recebê-lo, para fazer em vossa casa os exercícios
do retiro espiritual, do qual espera luz e graça para a conduta do resto de sua vida.
1642.
Senhor Padre,
Desde os vários anos em que esta pobre cidade tem sido afligida pela peste, pela
guerra e pela fome, o que a reduziu à extrema carência em que se encontra, em vez de
conforto, só recebemos os rigores da parte dos credores e as crueldades dos soldados,
que levaram à força o pouco de pão que tínhamos. Desta sorte, parecia que o céu não
usava senão de severidade para conosco, quando um de vossos filhos em Nosso Senhor,
chegando aqui carregado de esmolas, suavizou generosamente o excesso de nossos
males e levantou nossa esperança na misericórdia do bom Deus.
Já que nossos pecados provocaram sua cólera, beijamos, humildemente a mão
que os pune, mas acolhemos também os efeitos de sua divina suavidade, com
extraordinários sentimentos de gratidão. Bendizemos os instrumentos de sua infinita
clemência, tanto os que nos aliviam com tão oportuna caridade, quanto os que no-la
procuram e distribuem, especialmente a vós, senhor Padre, que sabemos ser, depois de
Deus, o principal autor de tão grande bem.
Dizer-vos que tudo foi bem aplicado em favor deste pobre lugar, onde os mais
afortunados estão reduzidos a nada, é o que fará o missionário que nos enviastes, com
menos estresse próprio do que nós. Ele viu nossa desolação, e vos verei diante de Deus
a gratidão eterna que temos para convosco, por nos terdes socorrido nessa situação.
.
Carta 591. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XI, sec. I,1ª ed., p. 385.
.
Carta 592. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
A queda do forro do teto de que se trata aqui aconteceu em 1642, na véspera de Pentecostes (Cf. Cartas de Luísa de
Marillac, 1.64 e 102; conferência de 20 de junho de 1642 para as irmãs).
Meu Deus, Senhora, como fiquei pasmo, esta manhã, quando o Padre Portail me
relatou o acidente ocorrido em vossa casa. Comuniquei-o à Companhia2 e lhe disse o
que falou Nosso Senhor aos que o interrogavam a respeito dos que foram soterrados
pelas ruínas da queda da torre de Jericó. Não acontecera isso por causa dos pecados
daquelas pessoas, nem pelos dos seus pais e mães, mas para manifestar a glória de Deus.
Digo-vos a mesma coisa, com toda a certeza, Senhora. O acidente sobreveio não
por causa de vossos pecados, nem pelos de nossas caras Irmãs, mas para nos lembrar, a
nós que assim o entendemos, de que devemos viver tão santamente, que não sejamos
surpreendidos pela morte. Tendes, nessa oportunidade, um novo motivo para amar a
Deus, mais do que nunca, pois vos preservou como a pupila do seus olhos, num
acidente no qual ficaríeis esmagadas sob as ruínas, se Deus não tivesse desviado o
golpe, por sua amável providência. Rendemos graças a Deus por tudo.
Em breve, com a ajuda de Deus, espero ter a felicidade de vos ver aqui, se
vierdes para as vésperas, ou em vossa casa.
Envio-vos, entretanto, estas linhas, para vos saudar e vos dar bom dia, de
antemão.
Sou v. s.
V. D.
22
São Vicente fez mais tarde diante de suas filhas o relato deste acidente (conferência de 13 de fevereiro de 1646).
Luísa de Marillac consignou por escrito as reflexões que lhe sobrevieram nessa ocasião (Pensamentos, p. 186).
.
Carta 593. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita pouco tempo após a carta 587 e talvez na véspera da viagem de São Vicente a Richelieu, por
volta de 10 de junho. Entre cada questão, Luísa de Marillac deixou um espaço em branco para as respostas. São
Vicente preferiu escrevê-las nas margens das duas primeiras páginas. As iniciais P(pergunta) e R(resposta) foram
acrescentadas para tornar a carta mais inteligível.
22
Gillette Joly, irmã de Maria Joly.
33
Irmã Bárbara Angiboust.
44
Depois de algum tempo de permanência em Paris, dirigiram-se para Marselha.
P. – Será necessário conversar com o senhor Procurador Geral 5 a respeito da
proibição de sair, feita por ele à nossa Irmã Henriqueta?
R. – Sim.
P. – Não se poderia dar uma ordem para que nossas Irmãs de São Sulpício não
fiquem tão sobrecarregadas com a distribuição dos remédios, tendo de levá-los a
indivíduos que não são atendidos pela Caridade, recebendo ordem de cinco ou seis
pessoas? Isso, e mais o pouco caso que delas fazem, as contínuas suspeitas de que
padecem, as desanimam. Não haveria também algum meio de fazê-las mudar de
quarto?
R. – Farei com que Madame Duquesa6 fique ciente disso, na minha volta, a não
ser que prefirais falar-lhe vós mesma.
P. – Como farei para tirar de lá a Irmã Ana?
R. – Vós o vereis.
P. – Quando Madame Chanceler for a Fontenay, seria conveniente dizer-lhe
alguma coisa? E como falarei com a Irmã Ana? No tempo em que eu estiver no
Crianças Expostas, não seria melhor que ela fosse para lá, em vez de ficar em casa,
com perigo de aprontar ali alguma confusão?
R. – Será preciso relembrar esta viagem à Madame Chanceler e levar essa filha
para o Crianças Expostas.
P. – Quem colocar no lugar dela, Jeanne Lepeintre?
R. – Enviar Jeanne Lepeintre, etc.
P. – Deveríamos então falar-lhe do toucado? Se ela aceitar, com a condição de
poder usar uma touca, por causa de uma doença na vista, poder-lhe-á ser concedido
que use uma de estamenha preta? Ou trazemos a Irmã Perrette de Saint-Germain 7, por
causa do atrito com o pároco, do qual é preciso falar?
R. – Propor-lhe este tipo de toucado. Entretanto, não mexer tão cedo com Saint-
Germain.
P. – Como proceder com irmãs que, ao menor descontentamento, falam em ir
embora?
R. – Na primeira conferência que lhes fizer, trataremos de remediar a esse
defeito, se Deus quiser.
P. – Deverei falar com Madame Lhoste da necessidade que vamos ter do seu
quarto, caso venham para cá todas as crianças com suas amas? Ela não o ocupa, há
quase um mês, porque não mandaram colocar persianas nas janelas.
R. – Seria bom.
P. – Poderão as amas comprar ou alugar uma casa para as crianças, durante
vossa ausência?
R. – Como quiserem.
P. – Deveríamos reunir todas as Irmãs para que, conversando juntas,
familiarmente, se encorajem umas às outras e reconheçam as faltas que cometem, tanto
55
Blaise Méliand (1641-1650).
66
A Duquesa de Aiguillon.
77
Saint-Germain-em-Laye.
no serviço aos pobres, quanto no comportamento com as Damas, e na cordialidade
entre elas?
R. – Experimentai fazê-lo, se vos parece oportuno.
P. – Devemos, e quando, admitir as duas jovens que se apresentam,
especialmente a de Madame Henriqueta?
R. – Quando julgardes oportuno.
P. – O Crianças Expostas tem pão demais, no momento. Poderíamos pegar
alguns para nós, ou seria preciso falar antes com as Damas ou pelo menos com
Madame Duquesa?
R. – Falar com Madame Duquesa.
P. – Se as amas e as crianças vierem para cá, farão suas despesas à parte, ou
agiremos como em La Chapelle, para evitar reclamações sobre o que poderia ser
tirado por uns e por outros?
R. – Sou de opinião que façam as próprias despesas.
P. – Se for preciso algum conserto na lareira que o Padre Portail já viu,
poderemos mandar fazê-lo?
R. – Sim, se vos apraz. Mandaremos pagá-lo.
P. – A quem me dirigir, se surgir alguma dificuldade? No caso, seja ele avisado
para não condescender com os meus sentimentos ou desejo de melhorias, mas para
ater-se inteiramente à conduta de Deus, pela pessoa de nosso muito honrado Superior.
R. – Ao Padre Portail. Falarei com ele.
P. – O senhor Conde de Lannoy8 quer ter a certeza de que lhe será enviada a
ajuda solicitada.
R. – Tende a bondade de propô-lo a Madame Herse, pois me esqueci de falar-
lhe sobre isso.
P. – Madame de Beaufort 9 pergunta como comportar-se com os tesoureiros da
paróquia Santo Estêvão. Eles querem assistir, como corporação, à prestação de contas
da tesoureira e à eleição dos novos membros da Diretoria, ou, pelo menos, que seja
nomeado por eles um procurador da Caridade para assistir aos referidos atos.
R. – Ela fará bem em protelar a reunião até que esse tesoureiro tenha terminado
o seu tempo.
P. – Suplico-vos humildemente, senhor Padre, se for possível, tenha eu a honra
de falar convosco aqui em casa, para que todas as nossas Irmãs da casa recebam o
estímulo para procederem bem, mediante a felicidade de vossa santa bênção. Ficai
certo de que temos grande necessidade dela. Gostaria muito de saber qual a hora
melhor para vós. E também de que soubésseis quanta apreensão me causa vossa
viagem, a fim de que, diante de Deus, consoleis o coração de vossa pobre filha e muito
grata serva.
L. de M.
88
Charles de Lannoy, Governador de Montreuil-sur-Mer (Pas-de-Calais), falecido em 1649. Deixaram-no esperar
muito tempo. As irmãs só se estabeleceram em Montreuil em 1647.
99
Presidente da Confraria de Saint-Etienne-du-Mont, paróquia de Paris.
Tarde de terça-feira.
R. – Ao cair da noite, tratarei de ir até vossa casa. Mas vos digo, contudo, que
sois uma mulher de fé muito fraca e que sou vosso servo,
V. D.
Senhor Padre,
Julgo não ser conveniente que penseis, para o presente, na proposta de Saint-
Yves . Dou-vos os motivos.
1
.
Carta 594. – Pérmartin, op. cit., t. I, p. 408, carta 355. Ele teve em mãos o original que o senhor Charavay colocou à
venda.
11
Os bretões tinham obtido de Roma, há dois séculos, uma igreja paroquial e um hospital, que dedicaram a Saint-
Yves. Por falta de recursos, a Confraria Saint-Yves, administradora desse patrimônio, uniu-se mais tarde à Confraria
de São Luís de França, da qual dependiam a igreja e o hospital desse nome. Desta fusão nasceu a Congregação de
São Luís e Saint-Yves. O hospital Saint-Yves não tardou a ser supresso. A paróquia continuou a existir até 1824, sob a
direção de um titular, nomeado pela Congregação de São Luís. A igreja Saint-Yves, situada no Campo de Marte, era
a antiga igreja de Santo André de Monterariis que remontava no mínimo ao século XI... Bernardo Codoing teria
desejado que a paróquia Saint-Yves fosse desligada de São Luis e atribuída à Congregação da Missão.
22
É na dataria de Roma que se emitem as expedições para os benefícios consistoriais, as dispensas e outros atos do
mesmo gênero. O datário é o primeiro oficial.
33
Os dois priorados de Langres.
O senhor Abade de Saint-Denis, capelão da rainha, pertencente a nossa
Conferência de São Lázaro, é um dos mais capazes e virtuosos eclesiásticos desse
reino4, foi nomeado Bispo de Puy, na Auvérnia, há sete ou oito meses. Suplico-vos,
senhor Padre, empenhar-vos no sentido de agilizar a expedição de suas bulas.
O senhor de Saint-Aignan, nosso benfeitor, vos relatará, um desses dias, como o
mal em Saint-Eutrope é maior do que diz o papel. Peço-vos continuar a agir secreta e
eficazmente, como também na expedição da dispensa. Tratando-se de voto simples e in
foro interno (no foro interno), não precisa haver atestações públicas5.
O Padre Germano não vos deu dinheiro suficiente para vossa subsistência e
acomodação. Aguardando até que vo-lo envie, tomai emprestado, nas melhores
condições possíveis, com o senhor Marchand. Ele me deu a honra de dizer-me que vos
fornecerá o que precisardes.
Abraço os Padres Germano e Ploesquellec6, a todos os Irmãos7 e a vós, senhor
Padre, com ternura inimaginável. Sou, de todos, no amor de Nosso Senhor...
595. – A UM BISPO1
Recebi, em Richelieu, aonde fui fazer uma viagem da qual cheguei de volta
recentemente2, a carta com que teve a bondade de me honrar. Antes de partir, dei ordem
para retirarem uma carta que o Senhor de Liancourt me prometera, para vo-la enviar
juntamente com a que ele já tinha enviado ao senhor Embaixador 3. Entretanto, resolvi,
ao voltar, pedir a Madame Duquesa que ela mesma escrevesse, como de fato lhe pedi.
Visto, porém, que ela se escusou, escrevi ao senhor de Saingui, Secretário de Estado,
que ocupa o departamento de Roma e se acha na corte, usando da precaução que vós,
senhor Bispo, tínheis desejado, isto é, que ele evite falar disso. Aguardo sua resposta.
A confiança com que me honra me garante a de que ele honrará o silêncio de
Nosso Senhor e que, se for o caso de escrever, ele o fará. Logo que eu receber-lhe a
resposta, avisar-vos-ei, senhor Bispo. Fico pesaroso por não ter ainda a felicidade de vos
servir com prontidão e mais eficazmente. Meu Deus! senhor Bispo, como me sentiria
44
Henrique Cauchon de Maupas du Tour, membro da Conferência das Terças-Feiras, ocupou a sede episcopal de Puy
de 1641 a 1661, e a de Evreux, de 1661 a 12 de agosto de 1680, dia de sua morte. Orador de renome, pregou a oração
fúnebre de Santa Chantal e de São Vicente. Devemos-lhe uma vida de São Francisco de Sales e uma outra de Santa
Chantal. Foi um dos dois bispos que aprovaram a Vida de São Vicente, por Abelly.
55
Ver carta 582, nota 5; carta 633, nota geral.
66
Guilherme de Ploesquellec, nascido em Plourivo (Côtes –du-Nord), em 1614, foi recebido na Congregação da
Missão a 13 de julho de 1641 e admitido aos votos, em Paris, em 1647. Ficou muito pouco tempo em Roma. Talvez o
tivessem escolhido na esperança de que pudesse prestar serviço em Saint-Yves.
77
O Irmão Martin, clérigo, e o Irmão Francisco.
.
Carta 595. – Pérmartin, op. cit., p. 409, 1. 356.
11
Talvez o Bispo de Puy.
22
A viagem a Richelieu se situa entre 07 e 20 de junho. O Santo fora fazer lá a visita do estabelecimento de sua
Congregação.
33
O Marquês de Fonteney-Mareuil.
feliz, se fosse do agrado de Deus me dar a graça de vos poder prestar algum pequeno
serviço em minha vida, em reconhecimentos das dívidas infinitas que temos para com
vossa bondade, sem igual sobre a terra! Sou indigno desta graça de Deus. Não deixarei,
entretanto, de lha pedir, e durante toda a minha vida lhe pedirei vos conserve por longos
anos, para o bem de sua Igreja. Que ele me torne digno de ser, em seu amor e no de sua
Santa Mãe...
1642.
1642.
Os trabalhos dos missionários obtiveram tal sucesso que as próprias populações lhes foram
agradecer.
1642.
Chamei vossos missionários para esta cidade, para descansarem alguns dias.
Com efeito, eles trabalham, há cinco meses, com tal assiduidade que me admiro como
puderam aguentar. Estive pessoalmente in loco para buscá-los.
Senhor Padre,
.
Carta 600. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Francisca Noret.
22
Jean Thibault, padre da Missão.
deixam para depois a preocupação com o agir e proceder bem. A mim me parece que,
como preparação para um bom retiro, deveriam antes, depois de se terem deixado cair
em certo relaxamento, como acontece frequentemente, começar a proceder melhor. O
retiro lhes seria proposto depois, logo que fosse possível realizá-lo. E isto é mais difícil
para nós do que para as religiosas, porque temos de substituir por outras as que saem
para o retiro.
Penso, senhor Padre, que para remediar com prontidão à desordem das irmãs
da São Sulpício, seria melhor enviar logo a Irmã Henriqueta e chamar a Irmã Catarina
para fazer seu retiro e mantê-la aqui, adiando para depois o retiro da Irmã Henriqueta.
Receio com efeito que suas pequenas desordens continuem. Tenha vossa caridade a
bondade de me responder a tudo isso e me perdoar tudo que vos comunico, talvez fora
de propósito, e dar-me vossa santa bênção como sendo, senhor Padre, vossa muito
humilde e muito agradecida filha e serva,
L. de M.
Penso como vós, Senhora, que não há nada a temer de nossa Irmã Francisca 2.
Faça como julgardes conveniente.
Não estou sabendo de queixas de suas filhas, por não as deixardes falar com
pessoas de espiritualidade.
Avisarei ao Padre Portail sobre o assunto de ontem e sobre o assunto dos retiros.
Na minha volta, com a ajuda de Deus, conversaremos sobre tudo e me indicareis tudo
de que for preciso avisá-lo.
Fareis bem em avisar quanto antes Henriqueta e mandar vir Catarina.
Ficai em paz a respeito das pequenas dificuldades de que me falastes ontem.
Tenho experiência, de cerca de 25 anos, a respeito do rumo que deve tomar a direção
interna e externa, e dos inconvenientes de ambas. Informar-vos-ei sobre tudo isso.
Cuidai de vossa saúde e de vos manter na alegria.
E rezai por mim, que sou...
33
As palavras “06 de julho”, “domingo” e o conteúdo indicam com certeza o ano 1642.
.
Carta 601. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Esta carta responde à precedente, à qual sucede no original.
22
A Irmã Francisca Noret.
V. D.
Senhor Padre,
.
Carta 602. – C. aut. – A primeira folha do original se encontra na Casa-Mãe dos padres da Missão, a segunda no
British Museum, Foreing Private Letters 22.488, fº 14.
11
O Santo fazia pela terceira vez a visita do convento das Ursulinas dessa cidade (Cf. Collet, op. cit., t. I, p. 358).
22
Ver carta 559.
33
A Duquesa de Aiguillon.
francos para os exercitantes, na razão de dois por dia ao longo de todo o ano. Envio-vos
seiscentas libras para isso. Vossa renda daqui remonta a 2.500 libras, no presente. Não
sei o que valerão em Roma, no futuro, essas 1.500 ou 1.600 libras.
Enviei-vos a letra de câmbio da Madame Duquesa de Aiguillon, de seis mil
novecentas e tantas libras, que podereis aplicar em alguma instituição de crédito, como
vos disse, a não ser que se apresente alguma casa para comprar a crédito, e acomodá-la
ao nosso uso, ou que se realize com o tempo o negócio de Saint-Yves. Vê-lo-eis e me
comunicareis tudo, por favor. É preciso segredo a respeito desse dinheiro, temendo que
vo-lo...4. Penso igualmente não ser conveniente divulgar ainda a fundação, se julgardes
que, em virtude da aversão que antes poderiam ter contra a referida Madame5, fizessem
dificuldades para apresentar os ordinandos. Isto é de grande importância. O Padre du
Coudray [pensa] que isso não o impedirá. Podereis sondar em segredo a opinião de
nossos amigos íntimos e escrever à Madame uma carta de agradecimento e total
reconhecimento. Essa fundação vem de um voto por ela feito, pela saúde de S. E.,
quando estava doente6. Por esta razão, podeis pensar que não há de lhe faltar a
recomendação do senhor Núncio7, quando de sua volta, para a finalidade de que me
falastes e para o negócio de Saint-Yves. Fazei aí algum exercício de piedade para
agradecer a Deus pela graça por ele dispensada ao vosso estabelecimento.
Não deixeis de equilibrar as despesas e os projetos. É tudo com que podeis
contar. Ela fez outras fundações em várias partes, e não acrescenta nada mais, nem S.
E., ao que deram. E quanto a colocar seu brasão de armas, ficai certo de que essa
vaidade não o toca.
Podeis assumir o encargo de examinar os padres e pregar-lhes um pequeno
retiro. Se, com o tempo, se verificar que a pouca renda de que dispondes não o permite
mais, in nomine Domini (em nome do Senhor), rogareis Aquele que provê às
necessidades das pequenas moscas lance os olhos de sua providência sobre vós, e
tomareis então conselho do que devereis fazer. Podereis igualmente assumir o cuidado
da visita aos pobres. Esta Companhia tem, como Nosso Senhor, o cuidado espiritual e
temporal dos pobres doentes.
Eu vos escrevi muitas vezes que faríeis bem em tomar como colaborador um
padre italiano. O que trabalhou com o Padre Lebreton me parece mais adequado do que
qualquer outro. Escrevi-vos também que seria bom chamar esse bom bretão ao qual
escrevi. Oh! como me parece gente boa e de bom espírito! Abraço-o em espírito com
mui grande ternura, como as primícias da bênção de Deus sobre vosso estabelecimento.
Ficaria também muito consolado se esse outro do Padre Lebreton tivesse vocação para
isso. Seria bom, outrossim, conseguir um Irmão italiano e, se for preciso, enviar-vos-ei
um outro daqui, no lugar de Francisco8 ou com ele.
44
A frase está no fim da página. Está inacabada no original.
55
Por causa do seu tio, o Cardeal Richelieu.
66
O Cardeal padecia da doença que devia levá-lo à morte, a 04 de dezembro. Dois abscessos foram detectados no
ápice pulmonar, depois da cicatrização de uma úlcera no braço.
77
Jerônimo Grimaldi, Arcebispo de Selêucia, nascido em Gênova, em 1597, Vice-legado de Romanha, em 1625,
Governador de Roma, em 1628, Núncio na França, a 02 de março de 1641. Tornou-se Cardeal em 1643, Arcebispo
de Aix, em 1648. Morreu nessa última cidade a 04 de novembro de 1685.
88
Ignoramos de qual Irmão Coadjutor se trata. Muitos tinham esse nome.
Dai-me um pouco de tempo [para examinar9] se nos devemos vestir aí à italiana.
Há prós e contras, e em quantidade. Veremos.
Não vejo esperança alguma de união com os padres da Provença 1010, se não vier
de Sua Santidade, quando pedirem sua aprovação 1111. Ele ordenou aos Beneditinos
reformados da Bretanha1212 e aos de Lorena1313 que se unissem com a Congregação de
Saint-Maur, a da França1414. E deu certo. A Santa Sé sabe, por experiência, os estranhos
atritos que ocorrem entre duas [Ordens]1515 que trazem um mesmo nome e entre os que
dispõem dos mesmos1616 meios para chegar ao mesmo fim. No momento em que
vos falo, o Padre Portail, que representa o superior em Paris, me comunica que um
muito bom e excelente eclesiástico que se apresenta em nossa casa em Paris, lhe disse
que, se não o recebermos, por causa do senhor Bispo de Puy1717, ao qual nós o cedemos,
e com receio de lhe desagradar, ele irá para o seminário que os senhores Padres Olier,
de Fose1818, Brandon e alguns outros1919 estão iniciando, em Vaugirard2020, donde estão
vindo para São Sulpício, de cuja paróquia se têm ocupado 2121. Um outro daqui, ao se
apresentar, me disse muito simplesmente que, se não o aceitarmos, irá procurar esses
missionários da Provença, em Senlis. Podeis imaginar com que espírito vos digo isto,
afirmando-vos que rogo a Deus várias vezes, todos os dias, os abençoe e os faça crescer,
e nos aniquile se não o servirmos na fidelidade ao desígnio que tem sobre nós. Meu
Deus! senhor Padre, como nos importará pouco, quando estivermos no céu, se aprouver
a Deus dar-me a graça de chegar lá, por quem Nosso Senhor seja glorificado, conquanto
seja glorificado! Oh! com toda a certeza, lá não haverá nem meum, nem tuum (nem
meu, nem teu).
Não sei se o Padre Lucas fez o que lhe escrevestes. Ele está em missão. Na sua
volta e na minha, dentro de quatro ou cinco dias, falarei com ele, se Deus quiser.
99
A frase do original está incompleta.
1010
Os padres de Cristóvão d’Authier.
1111
Obtiveram-na a 04 de junho de 1644.
1212
A reforma fora implantada nos conventos beneditinos da Bretanha, no início do século XVII, sob o impulso de
alguns monges de Marmoutiers que se retiraram para o priorado de Lehon-sur-Rance, perto de Dinan. Os dez
mosteiros que a tinham adotado se uniram à Congregação de Saint-Maur, em 1628, por ordem de Urbano VIII.
1313
A Congregação de Saint-Vanne nascera da reforma introduzida em Lorena pelo Cardeal Charles de Lorena,
legado a latere, e fora solenemente aprovada pelo breve de 07 de abril de 1604.
1414
A Congregação de Saint-Maur, oriunda da Congregação de Saint-Vanne, sobretudo sob o impulso de Gregório
Tarrise, e aprovada pelo breve de 17 de maio de 1621, possuía em 1640 quase todas as grandes abadias da Ordem de
São Bento (Cf. Dom Paulo Denis, Le cardinal de Richelieu et la reforme des monastères bénédictins, Paris, 1913, in-
8º).
1515
Cremos ser esta a palavra do original, estragado nesse lugar.
1616
Aqui se interrompe a parte da carta conservada nos arquivos da Missão. A palavra “même” (mesma) está repetida
no início da segunda folha.
1717
Henrique de Maupas.
1818
O Abade de Saint-Volusien de Foix, Francisco Estêvão de Caulet, que se tornou Bispo de Pamiers.
1919
Du Ferrier, de Bassancourt, Amelotte e Houmain.
2020
Era então uma comuna do subúrbio de Paris. Jean-Jacques Olier se retirara para ali, em dezembro de 1641, com
seus dois primeiros companheiros, Caulet e du Ferrier, e ali começara seu seminário, primeiro, numa casa pobre,
situada perto da igreja, depois, num edifício mais confortável.
2121
A paróquia de São Sulpício era então muito extensa. Seus limites circundavam a atual sexta circunscrição
administrativa, exceto uma pequena parte, englobada pelas paróquias Saint-Cosme e Saint-André-des-Arts, toda a
sétima circunscrição e uma boa parte da décima quinta. Sua população era considerável e passava por uma das menos
religiosas da capital. A paróquia de São Sulpício foi oferecida a Jean-Jacques Olier por Juliano de Fiesque, seu
predecessor, e aceita a 25 de junho, às instâncias de São Vicente. O novo pastor só tomou posse depois de ter
recebido de Roma suas cartas de provisão.
Poderíeis tomar o empréstimo para vossa despesa na razão de 500 libras por
trimestre. Tenho dúvidas de que vos concedam durante muito tempo as 2.500 libras por
ano dos coches de Soissons, que vos são dadas 2222. Os arrendamentos destes tipos de
bens diminuem notavelmente de preço. As rendas que temos de Chartres valerão menos,
este ano, em torno da metade. As misérias públicas e a diminuição da população estão
causando esta baixa.
Eu vos tenho escrito muito longamente sobre o negócio de Saint-Yves2323.
Penso que será conveniente fazer missão nas cidades sede de diocese, pela razão
que vos escrevi há tempos em Genebra2424. Quando resolvemos em nossa primeira
fundação que não trabalharíamos nas cidades episcopais, tratava-se de pregações e
confissões ordinárias, como fazem as Ordens em suas casas e em outras Igrejas. Não
pensávamos, na ocasião, em excluir delas as missões2525. Acabamos de pregá-las em
Alet e em Luçon.
Será bom comprar um cálice de prata e honrar a pobreza de Nosso Senhor nos
paramentos, como fazemos em São Lázaro.
Continuaremos a saldar todas as letras de câmbio aqui. Para o futuro, vamos ver.
Aí está a resposta exata a todos os pontos por vós levantados e a muito humilde
prece que vos faço de zelar por vossa saúde e pela da comunidade. Abraço a todos em
espírito, prostrado aos pés de cada um, com uma ternura de coração que não sou capaz
de vos exprimir, maior ainda agora, quando me dizeis que nada fareis sem a devida
ordem e que vos propondes ir piano , piano. Ó senhor Padre, como meu coração ficou
alegre com isso. Lembrai-vos, senhor Padre, que a maneira de fazer com que uma
árvore cresça bem alto é cortar-lhe os ramos e que os animais que se alimentam demais,
quando jovens, se extenuam. Oh! como Nosso Senhor nos deu uma grande lição, em
não se apressar no pouco que quis realizar, em comparação com os apóstolos e com o
que poderia fazer, e quando buscava ocultar-se nas horas em que a multidão mais se
aglomerava para segui-lo! Em nome de Deus, senhor Padre, se a necessidade nos obriga
a apressar-nos, que o seja lentamente, como diz o sábio provérbio. Creio também que
devemos ter devoção de não nos mostrar tanto, por escritos, pelos impressos e
relacionamentos (digo-o com respeito ao público; já é bastante em relação à vida
interna), como o devemos fazer pelas boas obras. Mais cedo ou mais tarde, elas falarão
de modo muito mais eloquente do que tudo que fizermos para firmar nossa presença e
nos pôr em evidência.
Não pude deixar de vos dizer essas últimas palavras, em razão do que dissestes
sobre o vosso pensamento de mandar imprimir o relatório do senhor Bispo de
Bayone2626, a respeito da maneira de ser do seu seminário.
Termino recomendando-me a vossas preces, e sou, no amor de Nosso Senhor,
senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
2222
É provavelmente com as rendas dos coches de Soissons que a Duquesa de Aiguillon contava pagar uma parte da
soma prometida à casa de Roma, pelo contrato de 04 de julho de 1642.
2323
Ver carta 594.
2424
Ou, antes, em Annecy, cidade da diocese de Genebra.
2525
Ver, a respeito, a evolução do pensamento de São Vicente (Cf. todo o capítulo 2 de “Um Místico da Missão,
2001, Belo Horizonte, Padre Getúlio Mota Grossi” – N. do T.).
2626
Francisco Fouquet.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
Penso ser melhor que escrevais ao senhor Bispo de Meaux e lhe agradeçais por
vos ter escrito com tanta bondade e estímulo, e lhe aviseis do caso desse ministro.
Mandai-me a carta, e eu lha enviarei.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
1642.
Nesta diocese o Clero está sem disciplina, o povo sem temor de Deus e os
padres sem devoção e sem caridade, os púlpitos sem pregadores, a ciência sem honra,
o vício sem castigo. O interesse particular fala alto, de modo ordinário, no santuário.
Os mais escandalosos são os mais poderosos e a carne e o sangue como que
suplantaram o Evangelho e o espírito de Jesus Cristo. Estou certo de que sereis
solicitado, por vós mesmo, a prestar socorro a esta diocese, sabendo de sua
necessidade. Quis novit utrum ad regnum idcirco veneris, ut in tali tempore parareris 2?
(Quem sabe se não foste elevado à realeza em vista desta circunstância).
A circunstância é digna de vossa caridade, se for do vosso agrado a humilde
prece que vos faço de nela pensar seriamente diante de Nosso Senhor, como vinda de
um de vossos primeiros filhos3.
Senhora,
.
Carta 607. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. II, sec. I, 1ª ed., p. 213.
11
“Um eclesiástico, nobre por nascimento, e célebre por sua piedade, cônego de uma igreja catedral”, diz Abelly.
22
Est 4,14. Alusão à influência que tinha São Vicente sobre a Rainha Ana d’Àustria.
33
Um dos primeiros membros da Conferência das Terças-Feiras.
.
Carta 608. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Tempo durante o qual Madame de Souscarrière foi presidente das Damas da Caridade.
Mandei dizer ontem à noite a Madame de Souscarrière que lhe pedia antecipasse
a assembleia de amanhã, quinta-feira, para hoje.
A pessoa com quem falei não lhe transmitiu o recado, de sorte que a assembleia
se realizará amanhã: trata-se da assembleia das quatorze, que não pode ser adiada,
porque o grupo anterior e o novo grupo eleito devem reunir-se e foram avisados para
este fim2. Sendo assim, vede bem, Senhora, que não podendo estar em dois lugares ao
mesmo tempo, sou obrigado a preferir a primeira assembleia indicada, a das quatorze.
Peço-vos humildemente por isto adiar a vossa para a sexta-feira próxima e contra-avisar
vossas filhas3.
Gostaria de saber também se a febre vos deixou. Oh! como ajuntais grandes
tesouros no céu, sofrendo e agindo!
Desejo-vos uma boa tarde e uma boa noite e sou, no amor de Nosso Senhor,
Senhora, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
22
Quatorze Damas eram mais particularmente encarregadas no Hospital Geral das obras de misericórdia espiritual.
Elas visitavam os doentes para confortá-los e instruí-los. Eram eleitas de três em três meses, por ocasião das quatro
têmporas, em Assembleia Geral. “O Padre Vicente, narra Abelly (op. cit., 1. II, cap. XXIX, p. 138), reunia tanto as
que deixavam o cargo como as que estavam entrando, juntamente com as oficiais da Confraria, na sala delas, perto do
Hospital Geral. As que saíam relatavam como tinham procedido e os frutos obtidos com a bênção de Deus... O Padre
Vicente apoiava com seu parecer, quando julgava necessário, o que era preciso continuar...”
33
Algumas Filhas da Caridade das outras casas de Paris e dos arredores vinham sempre às conferências de São
Vicente feitas na casa de Luísa de Marillac.
.
Carta 609. – Bulletin de la Societé de l’Histoire de Paris et de l’Ile-de-France, 07 de outubro de 1883, p. 141. O
original, todo da mão do Santo, pertencia então ao baronete senhor Thomas Philipps, de Chenttenham (Inglaterra).
palestras e presidir às partilhas, sem empregar nisso outras pessoas: conheço por
experiência as consequências disso.
Madame Duquesa de Aiguillon, além da fundação de Roma, fez uma outra de
mil libras de renda com os recursos dos coches de Orléans, para a manutenção de três
missionários em Notre-Dame de la Rose, para prestarem serviço à diocese de Condom,
da qual ela tem a propriedade, como da diocese de Angenois 1. Mandamos partir os três
missionários dessa fundação, sob a direção do Padre Soufliers, há dois dias.
O Cônego de Saint-Aignan está em dificuldade com o negócio de Saint-
Eutrope2. Ser-vos-ia possível obter um breve para se contratarem juízes in partibus
(regiões fora de Roma, sobretudo de infiéis), sem que isto se divulgue? Se o
conseguirdes, seria necessário providenciar a nomeação dos senhores Bispos de
Beauvais3, de Meaux4 e de Senlis5. Tome as medidas neste sentido, de tal sorte que não
apareça abertamente que vos ocupais disso.
Recomendo-vos novamente a dispensa do voto das Carmelitas 6 e a questão do
senhor Bispo de Puy7.
Começa a surgir aqui a inveja, por causa do ofício que vos dão motivo de
esperar aí8, e temo por isso, sem saber a que atribuir a razão da queixa que certas
pessoas religiosas fazem de nós. A caridade, a humildade e a paciência dissiparão essas
nuvens, como espero.
Endereçai para mim as cartas dos membros da casa que escreverem a alguém da
Companhia na França, por favor.
Obséquio, também, não comentar o assunto com pessoa alguma do mundo.
Abraço vossa comunidade com toda afeição e humildade possível e sou, no amor
de Nosso Senhor, vosso muito humilde e obediente servo,
11
O contrato de fundação foi assinado a 04 de julho de 1642. A Duquesa de Aiguillon, Condessa d’Agenois e
Condomois, doava 13.500 libras e pedia em contrapartida que: 1º, as missões, até ali limitadas ao ducado de
Aiguillon, se estendessem a todas as terras que dependiam dela em Agenois e Condomois; 2º, os ordinandos dos
mesmos lugares fossem acolhidos na casa dos padres da Missão, para nela receberem a instrução necessária. Os de
Condomois seriam custeados pelo Bispo de Condom, até que os missionários tivessem nessa diocese um fundo, uma
casa e móveis; 3º, todos os anos, em caráter perpétuo, fosse celebrado um serviço religioso completo ou uma missa
por ela e seu tio, o Cardeal Richelieu (Arq. Nac. MM 534). Esta fundação elevava para sete o número dos
missionários.
22
Ver carta 582.
33
Agostinho Potier.
44
Domingos Séguier.
55
Nicolau Sanguin.
66
Ver carta 594.
77
Henrique de Maupas.
88
O ministério junto aos ordinandos.
610. – A FRANCISCO DUFESTEL
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
[01 de setembro2].
77
Guilherme Delattre, nascido em Amiens, recebido na Congregação da Missão a 10 de agosto de 1642, com a idade
de 32 anos, superior em Cahors (1644-1646), La Rose (1646-1648), Agen (1648-1650), falecido em Bordéus em
1650.
88
João Batista Gilles, da diocese de Avranches, reitor e professor de filosofia no Colégio de Lisieux, situado na Rua
Beauvais, em Paris, foi recebido na Congregação da Missão, a 28 de novembro de 1642, e fez os votos a 11 de
outubro de 1645. Depois de o ter colocado algum tempo no seminário de Cahors, São Vicente lhe confiou a cadeira
de moral, em São Lázaro. Quando o Núncio lhe pediu apresentasse um candidato para Coadjutoria de Babilônia, o
nome de Joaõ Batista Gilles lhe veio ao espírito. Na segunda Assembleia Geral, da qual fazia parte, o Padre João
Batista tomou parte no debate sobre os votos, cuja manutenção ele defendeu. Seu ímpeto ardoroso contra as doutrinas
jansenistas se manifestava sobretudo nas aulas e palestras aos ordinandos. Mas sua insistência em atacá-los corria o
risco de produzir um efeito contrário ao esperado. São Vicente o percebeu, e o afastou de São Lázaro em 1651. João
Batista Gilles dirigiu por pouco tempo a casa de Crécy, onde morreu a 22 de agosto de 1652. Deram-lhe um lugar
merecido na coleção das Notices, t. III, pp. 110-114. Seu testamento, de 30 de abril de 1643, revela a alta estima que
tinha para com São Vicente (Arq. Nac. M 211, maço I).
99
Ele estava numa turnê de visitas em Lorena.
1010
Jean de Lingendes (1642-1650).
.
Carta 611. – Abelly, op. cit., 1. III, cap. III, sec. III, 1ª ed., p. 23.
11
Abelly não dá o nome do destinatário. Contenta-se com dizer que as cartas 32, 53 e 611 foram dirigidas à mesma
pessoa.
22
Ver nota 3.
Agradeço-vos a participação na devoção ao meu santo patrono 3, e rogo a Deus
conceda a vossa fé o que minha miséria é indigna de obter para vós. Pedi-lhe, por favor,
por minha falta de devoção, causada por falta de preparação. Estive embaraçado em
negócios a manhã toda, sem poder fazer senão um pouco de oração e ainda assim com
muitas distrações. Julgai por aí o que deveis esperar de minhas preces neste santo dia.
Isto, porém, não me desalenta, porque ponho minha confiança em Deus, e não, com
certeza, em minha preparação, nem em todos os meus recursos. Desejo-vos o mesmo,
de todo meu coração, pois o trono da bondade e das misericórdias de Deus se ergue
sobre o fundamento de nossas misérias. Confiemos, portanto, inteiramente em sua
bondade e jamais seremos confundidos, como nos garante por sua Palavra.
Senhor Padre,
Senhor Padre,
Recebi vossa carta e a que escreveis ao Padre Thibault, e vos agradeço muito
humildemente pelas advertências.
Rendo graças a Deus pela prática de visitar todas as semanas a cada um em seu
quarto, e pelo demais. Ó senhor Padre, como fico alegre com isso! Continuai-a, por
favor. Mas antes de introduzir algum costume de importância, peço-vos avisar-me,
conforme a ordem que acabo de dar à Companhia, que teve de mudar algo no hábito de
fazer visitas à igreja. Não posso deixar de vos tornar a dizer que estou muito contente
com a prática de que me falais.
Fico admirado ao extremo com o que me dizeis do Padre T[hibault]. Ontem de
manhã ele insistiu comigo para permitir-lhe uma viagem a Luçon 1. Não sei em que
ocupá-lo. Não tem espírito de obediência, nem o de comando, e tem uma paixão
inimaginável por comandar. Ontem, à noite, no tempo de silêncio, queixava-se comigo
de que não lhe confiava ofício algum. Disse-lhe que esta disposição de espírito me
atemorizava; só o espírito maligno poderia sugeri-la e era contrária aos demais da
Companhia. Nela, os que detêm cargos de comando pedem para serem depostos e tenho
dificuldade para encontrar entre os outros, em certas ocasiões, quem queira a
responsabilidade do superiorato. Posto isto, penso que ele acompanhará M. N., que
acabou saindo da Companhia, como outros também, que não conheceis, dos quais dois
estão instando para voltar. Mas isso não é conveniente, pois um só deles estragou três
ou quatro.
.
Carta 613. – Pérmartin, op. cit., t. I, p. 420, 1. 364.
11
O Padre Thibault estava nessa cidade antes de ser chamado para Paris.
Uma coisa me consola. É que dificilmente um espírito orgulhoso poderá
permanecer na Companhia. As faltas cometidas por aquele de que falamos, o s.
T[hibault], são notáveis.
Tratarei de enviar-vos brevemente a estampa que pedis. Dizei-me, eu vos
suplico, se não tendes confiança nas bênçãos de Deus sobre os trabalhos de vós três,
aguardando até vos enviarmos socorro. Peço-vos não vos comprometer com a alta
sociedade e abraçar, de minha parte, os Padres Le Boysne 2 e Bonaflos3, aos quais
abraço, prostrado em espírito a seus pés, e aos vossos, de quem sou...
Deus abençoa a missão de Roma. Recomeçam a preparar alguns ordinandos que
recebem as ordens extra tempora (fora do tempo).
[16421].
A Senhora Le Gras terá a bondade de me avisar, por obséquio, quem ela vai
enviar para Saint-Germain2, se mandar nossa Irmã Perrette para Fontenay3.
Disse a Jeanne4, de Saint-Germain, que peça perdão à comunidade, por ter vindo
de lá sem permissão5. Ela pede para fazer o retiro. Perece-me que será bom lhe dar a
licença.
Pedem uma Irmã em São Sulpício para trabalhar no lugar de nossa Irmã de
Champigny6, doente, pois as outras duas não podem bastar para quarenta doentes muito
distantes. A doente começa a melhorar. A Irmã permanecerá lá por pouco tempo.
Propõem também que a chamemos para respirar o ar livre e acabar de se curar de uma
diarréia.
Madame Duquesa de Aiguillon irá até vós quinta-feira próxima. Será preciso
convocar para aí nossas três viúvas7. Devo falar antes com Madame Traversay.
Perdi vossa carta e não sei se vos devo responder alguma outra coisa.
22
Leonardo Le Boysne, nascido em La Chapelle-Janson (Ille-et-Vilaine), recebido em São Lázaro a 06 de maio de
1638. De Luçon, foi para Richelieu, e depois, em setembro de 1645, para Saint-Méen, onde morreu, a 25 de fevereiro
de 1670. Padre, dos mais edificantes, mereceu o elogio dele feito pelo Padre Alméras, Superior Geral, na circular de
13 de março de 1670: “Acabamos de perder um tesouro oculto de graça e santidade... Distinguia-se pela piedade, pela
mortificação, a mansidão, a regularidade, a obediência e pelo bom exemplo, mas particularmente pela humildade e a
caridade. Julgo-me feliz por ter feito meu Seminário com ele... Era um missionário muito virtuoso e dos mais
completos da Companhia”. Sua notícia nos foi conservada nos manuscritos de Lyon, pp. 234-237.
33
Jacques Bonaflos, nascido em Saint-Flour , em 1611, recebido na Congregação da Missão, a 22 de agosto de 1639.
É a primeira e última vez que encontramos seu nome.
.
Carta 614. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta parece preceder de poucos dias a carta 615.
22
Saint-Germain-em-Laye.
33
Fontenay-aux-Roses.
44
Jeanne Lepeintre.
55
Lemos em uma carta de Luísa de Marillac, de 05 de julho de 1642 (C. 64), que Jeanne Lepeintre tinha grande
desejo de ir a Paris.
66
Provavelmente Champigny-sur-Marne (Seine).
77
Talvez Madames de Herse, de Souscarrière e de Romily.
615. – A LUÍSA DE MARILLAC
[16421].
Já que tendes motivos para colocar Perrette em Fontenay, fá-lo-eis, por favor, e
enviareis a Irmã de Normandia para a Irmã Henriqueta, e a outra de que me falais, para
São Sulpício. Enviareis a de Mans para o lugar de Perrette. Não tendes outra, além da de
Saint-Etienne, para enviar a São Sulpício? Servir-vos-eis dela, contudo, como vos
aprouver.
Peço-vos escrever a Madame Traversay que lhe suplico tenha a bondade de vir
até aqui, amanhã ou depois, e veremos com ela o que é preciso fazer para a contra-
ordem da quinta-feira a Madame Souscarrière. Falaremos da visita das crianças2.
Boa noite, Senhora. Sou vosso servo,
V. D.
.
Carta 615. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta parece dever ser aproximada das cartas 614 e 617.
22
Entregues às amas de leite.
.
Carta 616. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta se situa poucos dias antes da carta 617.
22
Madame Liancourt.
33
Jean Thibault.
617. – A LUÍSA DE MARILLAC
[setembro de 16421].
Eis-vos, pois, a dois dias de vossa partida. Não pude ter a felicidade de estar
convosco ontem à noite. Voltei tarde demais, por culpa minha. Eia pois, Senhora, peço a
Nosso Senhor abençoe vossa viagem2 e que vos conceda seu espírito para agir em
sintonia com ele.
Com referência à Companhia das Damas, nada há que mereça vos seja dito, a
não ser que a Providência as leva a voltar os olhos para esse subúrbio, com interesse
numa casa3, pelo menos a algumas, e que a Senhora du Mée se propõe ir visitar as
crianças4 do lado da Normandia. Quem lhe dar neste caso (como acompanhante)?
Ninguém? Ela não tem preferência quanto a isto. Vede, contudo, do lado das Irmãs.
Parece-me que não há muito com que vos preocupar. A de lá vos bastará. Em nome de
Deus, Senhora, não vos apresseis. Se Madame 5 achar bom e vós puderdes ir visitar as
Caridades dessas aldeias, poupai lá vossa fala. É pelo muito falar que temo por vós, em
vossas visitas.
Em nome de Deus, Senhora, tende cuidado com vossa saúde e vivei com alegria.
Peço a Nosso Senhor vos dê ele próprio sua santa bênção, enquanto vo-la darei da parte
dele, na santa missa. Teria dificuldade em ir ter convosco, por causa do embaraço em
que estou, tendo de escrever para vários lugares.
Bom dia, Senhora. Rogai a Deus por mim que sou, no amor de Nosso Senhor, v.
s.,
V. D.
20 de setembro de 1642.
Senhor Padre,
11
Cf. c. 125, n. 13.
22
Jean Guérin.
O Padre Dufestel tem insistido várias vezes comigo para depô-lo e colocar outro
em seu lugar. O testemunho que ele e o Padre Lambert deram de vós me leva a suplicar-
vos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sirvais à comunidade em seu lugar.
Deus lhe abençoou a conduta, lá onde foi superior. Peço-vos chamá-lo para o vosso
conselho e pedir-lhe o parecer em todas as coisas de importância. E peço a ele fazer esta
caridade para com a comunidade. Espero que ele o fará, com bom proveito. E já que é
conveniente formar duas pessoas para servirem de conselheiros junto aos superiores,
convidareis o Padre Escart, este ano, para isso.
Embora, segundo as regras da Companhia, o superior não seja obrigado a seguir
a pluralidade das opiniões e as coisas propostas se devam resolver entre Deus e ele –
com a condição de responder, na visita, pelo resultado do que tiver feito contra o
sentimento de seu conselho – tereis, contudo, um grande respeito pelos pareceres do
Padre Dufestel, como estou certo de que o tereis.
E como estou com pressa para terminar e não posso dar-vos por mim mesmo
instruções particulares referentes à conduta que deveis ter, peço ao Padre Dufestel que o
faça. Vai aqui apenas uma recomendação. O superior deve ser firme quanto ao fim, e
humilde e suave quanto aos meios; cheio de força na observância das regras e santos
costumes da Companhia, mas afável quanto aos meios de fazê-las observar. E como só
o espírito de Jesus Cristo é o verdadeiro diretor das almas, peço a sua divina Majestade
vos conceda o seu espírito, para a vossa direção e a da comunidade e sou, em seu amor e
no de sua Santa Mãe, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Senhora,
.
Carta 620. – Dossiê da Missão, cópia tirada do original em poder do abade Dufourny, pároco de Ponthoile
(Somme).
No momento, não teríamos condição de vos enviar ninguém para a visita às
Caridades. Nossa comunidade se encontra em retiro. Fica para uma outra vez, se for
necessário, depois que Madame1 vos tiver levado aos devidos locais e ali tiverdes feito o
que vossa saúde vos permitir fazer. Suplico-vos não falar além de vossas forças nesses
referidos lugares.
Madame Turgis não me falou do que me dizeis a respeito do envio da Irmã
Jeanne, de Saint-Germain, à Senhora du Mée, para a visita das crianças. Parece-me que
ela trabalhará bem. Em todo caso, mandarei dizer-lhe que não a envie logo, se é que já
não o fez.
Certificai a Senhora de Ligny que rezarei pela alma da falecida senhora sua mãe
e por ela.
Não vos apresseis tanto, quando vossa saúde estiver melhor por aí.
Direi ao senhor Vacherot (?) o que me pedis.
Saúdo muito humildemente ao Senhor e a Madame de Liancourt e sou, no amor
de Nosso Senhor, Senhora, vosso servo,
Vicente de Paulo.
Senhora,
Está aqui uma jovem senhora que o Padre du Chesne me encaminhou de Crécy,
para lhe arranjar alguma condição de servir como arrumadeira de quarto ou em alguma
outra coisa. Não sei a quem dirigi-la. Peço-vos dar-lhe algum rumo neste sentido. É de
se desejar que ela fique com pessoas de bem.
Desejo-vos um bom dia e sou, no amor de Nosso Senhor, vosso servo,
Vicente de Paulo.
11
Madame de Liancourt.
.
Carta 621. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Datas extremas da permanência de Pierre du Chesne em Crécy.
.
Carta 622. – Gossin, op. cit., p. 450, conforme com o original comunicado pelo abade de Labouderie.
Senhores Padres,
[Outubro de 16421].
Senhor Padre,
11
Nicolau Rose, nascido em Transloy (Passo de Calais), em 1616, recebido como padre na Congregação da Missão, a
07 de dezembro de 1641, superior em Troyes, de 1653 a 1657.
22
Jean Pascal Goret.
33
Jean Skuddie substituiu Nicolau Rose.
44
A 07 de outubro.
.
Carta 623. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Ver carta 622.
Recebi apenas uma carta, desde há seis ou sete dias, que faça menção de vossa
ordem, relativa à partida dos senhores Padres Brunet e Blatiron para Roma, e que eles
cumpriram ao mesmo tempo e pontualmente2.
Confesso-vos, senhor Padre, que fiquei um pouco penalizado, vendo-me privado
de tão excelentes operários, num tempo em que mais falta me faziam. Mas como a
Providência assim o dispôs para o bem da Igreja universal, aceito-o com todo meu
coração. No mais, senhor Padre, agradeço-vos humildemente por tê-los cedido para
mim, até o presente, e vos suplico perdoar-me as minhas faltas cometidas para com
eles, e minha pouca fidelidade à promessa que vos fiz de colocá-los logo em condição
de viver na observância mais exata das suas regras. Embora tenha havido alguns
motivos para isso, não foram assim consideráveis em face da ordem dada por vós.
Espero, depois de ter feito penitência por esta falta e por tantas outras, que tereis
compaixão de nossa necessidade, segundo a palavra que tivestes a bondade de nos dar.
Esperamos aqui, a cada dia, o senhor Bispo de Angers 3 para nos consolar desta
perda, com sua presença, como também me sinto consolado por vossa bondade me ter
sinalizado com nova esperança. São novos favores que acumulais para comigo, além de
tantos outros, e que me comprometem a permanecer, no amor de nosso caro Salvador e
de sua Santa Mãe...
É o senhor Bispo de Alet.
Bendito seja Deus, Senhora, pelo que encontrastes em vosso filho! Peço-lhe de
todo meu coração modele o coração dele segundo o do seu Filho, e o vosso, em relação
ao vosso filho, segundo o coração dele (Deus Pai) em relação ao seu Filho Nosso
Senhor.
Já que tendes bastante confiança no senhor Dandilly, não vejo inconveniente em
que lhe entregueis as duas mil libras. Se não conseguirdes colocar o restante, talvez
possamos anexá-lo a todos e cada um dos nossos bens e vos hipotecar o pagamento do
22
O autor da Vida de Dom Pavillon, editada em 1738, pretendeu (t. I, p. 40), que o próprio Bispo de Alet tenha
pedido a saída de Estêvão Blatiron e Jean Brunet, que julgava incapazes de ensinar a teologia aos clérigos de sua
diocese. Raymond Bonnal dá uma outra razão, a saber, a impossibilidade em que se achava São Vicente de satisfazer
às exigências de Nicolau Pavillon, que queria dois missionários a mais (Cf. Raymond Bonnal nas dioceses de
Pamiers e Alet , pelo Abade Benjamin Mayran, Foix, 1914, in-8º, p. 34). A carta do Bispo de Alet nos ajuda a
restabelecer a verdade.
33
Claude du Rueil (1626-1649).
.
Carta 624. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita depois da transferência da casa das Irmãs para defronte de São Lázaro (1645), quando Jean
Dehorgny estava em Paris (1641-1643, 1653-1660). O que se diz de Michel Le Gras nos leva a preferir o período de
1641 a 1643.
preço de renda, sobre uma casa daqui, quase à frente da vossa, alugada por cem
escudos. Digo-o no caso em que não encontrardes onde colocá-lo e se estiverdes de
acordo. Seria para o reembolso de um homem que recebeu de nós esta casa.
Quanto aos exercícios de que me fazeis menção, conversaremos depois. O Padre
Dehorgny irá logo dar-vos notícias de vossas filhas de Saint-Cloud2.
Adeus, Senhora. Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
22
Em nenhuma parte na correspondência de São Vicente e de Luísa de Marillac vemos que tenha havido um
estabelecimento das Filhas da Caridade em Saint-Cloud. Tratar-se-ia aqui de membros da Companhia da Caridade
estabelecida em Saint-Cloud ou de Irmãs oriundas do mesmo lugar?
.
Carta 625. – O original, roubado da casa de São Lázaro em 1789, quando do saque dessa casa, foi para a coleção do
convencional Boissy d’Anglas. Foi posto a venda em Paris, no hotel Drouot, a 13 de junho de 1914, pelos cuidados
do senhor Kra, perito, com quem pudemos tirar uma cópia.
11
Provavelmente o seminário de Vannes (Cf. 1. 660).
22
Jean Skuddie, nascido em Cork (Irlanda), recebido na Congregação da Missão a 09 de outubro de 1638, com a
idade de 29 anos, ordenado padre em dezembro de 1640, falecido antes de 1646.
33
Jean Pascal Goret.
44
Carta 622.
Envio-vos cartas do senhor Núncio5.
Acabamos de realizar uma assembleia de alguns superiores próximos daqui e
dos mais antigos da casa, os superiores de Richelieu 6, dos Bons-Enfants7, de Troyes8, de
Toul9 e de Crécy1010, com os Padres Portail, du Coudray, Lucas, Alméras e Boucher.
Durou dez dias. Examinamos as regras que redigimos, e concluímos as principais.
Deputamos os Padres Portail, du Coudray, Dehorgny e Lambert para examinar e
concluir as demais1111. Determinamos a forma a seguir nas assembleias gerais e
colocamos em prática o que restava fazer na Companhia1212. Enviar-vos-ei tudo isso, a
fim de dar-nos vosso parecer. Nada introduzimos de novo, ou muito pouca coisa, como
dar assistentes ao Superior Geral1313. Assim, poderei morrer, quando for do agrado de
Deus não mais suportar as abominações de minha vida. Não vos chamamos, nem o
Padre Guérin, superior de Annecy, nem o Padre Soufliers 1414, porque todos acabais
apenas de ser colocados nos ofícios que tendes, acrescendo que tomamos esta resolução
no curto período de três dias, por ocasião da presença desses Padres aqui. Sois o
primeiro e o único a quem dou esta notícia. Honrareis o silêncio de Nosso Senhor nisto,
por favor, com quem quer que seja, por um motivo especial que eu tenho comigo.
Abraço, prostrado em espírito, vossa pequena comunidade e vos peço abraçar
todos de minha parte e lhes pedir perdão por ser eu tão mesquinho que não lhes pude
escrever, e sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
[Outubro de 16421].
Olier.
[1642 ou 16431].
Senhor Padre,
L. de M.
Senhor Padre,
.
Carta 627. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 2.
22
Jeanne Dalmagne, primeiramente irmã rodeira do Carmelo, foi recebida nas Filhas da Caridade a 25 de março de
1638, colocada em Nanteuil-le-Haudouin (Oise) em junho de 1642, admitida aos votos a 25 de março de 1643. Foi
chamada para Paris no mesmo ano, por motivo de saúde, e morreu a 25 de março de 1644, aos trinta e três anos de
idade.
.
Carta 628. – Original com os padres da Missão de Oria (Itália).
Meu Deus, senhor Padre, como minha alma está consolada pela bênção que sua
divina Majestade se digna dispensar a vossa missão, pela fortaleza que vos comunica
para sustentar tão grande trabalho e pela vida angélica que levam o Senhor e a Madame
de Varize1! Por tudo isto, rendo graças a Deus e lhe peço vos fortifique cada vez mais, e
seja a santificação e a glória do Senhor e Madame Varize. Mas, meu Deus! senhor
Padre, como esta consolação vem mesclada de aflição, pela doença do Padre Roussel 2.
Ó Senhor! Bendito seja Deus, cui sic placuit! (a quem assim aprouve!) não parece ser
possível trazê-lo para aqui neste estado, dada a natureza de sua doença, a estação do
tempo e a distância. Enviar-vos-ei nosso Irmão Arnaldo 3, se lhe permitir sua
indisposição. Não posso enviar-vos o Alexandre4, porque temos conosco doentes os
Padres Bécu e Prevost5.
Não deveis também ir começar sozinho a missão em Marchenoir 6; isso vos
pesaria demais. Ó Jesus! senhor Padre, é melhor adiá-la para um tempo em que nos for
possível enviar-vos o socorro que não podemos mandar-vos no momento, pois todos os
que poderiam ajudar-vos estão em missão. Se o senhor Arcediago de Dunois pudesse
fazer esta boa obra, in nomine Domini, poderíeis acompanhá-lo. Fora disso, eu vos
peço, senhor Padre, diferir a coisa e nada poupar na doença do Padre Roussel, que eu
saúdo muito humildemente e lhe peço, em nome de Jesus Cristo, fazer o possível para
melhorar. Não agradeço ao Senhor e a Madame Varize pela incomparável caridade que
exercem para com o Padre Roussel: só Deus é digno deste agradecimento e de ser a
recompensa deles. Renovo-lhes agora a oferta de minha obediência.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso humilde e obediente servo,
Senhor Padre,
11
Varize, pequena comuna de Eure-et-Loire. Madame de Varize chamou para lá as Filhas da Caridade, em 1651 ou
1652.
22
Este nome não se encontra nos antigos catálogos do pessoal.
33
Guilherme Arnaldo, nascido em Embrun (Altos Alpes), recebido em São Lázaro a 27 de abril de 1642, com a idade
de vinte e sete anos.
44
Alexandre Veronne.
55
O Padre Prévost, diz mais a frente São Vicente (carta 631), era “sábio, homem habilidoso nos negócios”. Nos
antigos catálogos do pessoal, não encontramos outro Prévost a não ser Nicolau Prévost, ingressado na Congregação
da Missão em 1646 e falecido em Madagascar, em setembro de 1656.
66
Centro administrativo do Cantão da Circunscrição administrativa de Blois (Loir-et-Cher).
.
Carta 629. – C. aut. – Original na biblioteca pública e universitária de Genebra (ms. fr. 197 f.), que o adquiriu em
1824, em troca de um autógrafo de Calvino.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Não vos escrevo há 15 dias. Recebi, desde então, duas cartas vossas do lugar
onde pregastes a primeira missão. Deram-me motivo para agradecer a Deus, pela
bênção de sua bondade nesta ocasião. Não pude impedir-me de comunicá-lo à pequena
família, na partilha de oração, em especial na reconciliação acontecida, que me parece
um milagre, tendo em vista o temperamento da região. Tenho um pouco menos
facilidade para entender o italiano. Mas já que isto ajuda a facilitar-vos o estilo, in
nomine Domini! Não sei se Madame Duquesa1, vossa fundadora, o compreende. Eu a
consolo algumas vezes, mostrando-lhe vossas cartas. Quando houver algo de particular,
especialmente aquilo que diz respeito às pessoas da comunidade, poreis num bilhete à
parte.
Enviei-vos as cartas de recomendação do senhor Núncio2 ao senhor Cardeal de
Saint-Onuphrio3 e ao senhor vice-gerente. Peço-vos comunicar-me o efeito delas.
Vossa penúltima carta, como a que a precede e a última, me mostram alguma
mudança de vossa conduta, com relação aos ordinandos e exercitantes, sob o pretexto de
que esses senhores Prelados deixaram cada um com a liberdade de ir ou não ir (para as
instruções e retiros). Sobre isso vos direi que me parece teríeis feito bem em continuar
do modo como a Providência de Deus estava dispondo, que requeria talvez este ato de
paciência e de submissão, para atrair a abundância de sua graça sobre vós.
Teria sido melhor pregar missões em lugares mais humildes e a dos pastores
teria contribuído para isso. Tenho duas ou três razões para tanto: uma é que Nosso
Senhor humilha para exaltar, prova com sofrimentos interiores e exteriores para nos
trazer a paz. Ele deseja frequentemente as coisas mais do que nós. Mas quer levar-nos a
merecer a graça de as fazer, mediante várias práticas de virtude, e a suplicá-la com
muitas orações.
A segunda razão é que é conveniente que vossos principais planos, todos em
favor de Roma, se executem com paciência e longanimidade. Em Roma, os espíritos são
pacientes, observadores da conduta dos homens. E como são sólidos, têm dificuldade
para confiar coisas de importância a pessoas que seguem e se apegam a segundas
inspirações, algumas vezes com prejuízo das primeiras. Oh! como são pacientes e
longânimes e como amam a paciência, e a perseverança nos primeiros planos!
A terceira razão vem do lado de cá, onde a pessoa de que vos falei e um prelado
amigo nosso viram algo em que se deveria pensar, nesta mudança de procedimento.
Além disso, enquanto vamos passo a passo em nossos planos, Deus suscita outros que
vão realizando o que antes pedia de nós.
Aceitai, por obséquio, que eu vos diga, senhor Padre, que sempre notei este
defeito em nós dois, de seguir facilmente e de nos apegar às vezes muito fortemente a
nossas novas imaginações. Isto me fez impor-me o jugo de nada fazer de importante
11
A Duquesa de Aiguillon.
22
Jerônimo Grimaldi.
33
Francisco Antônio Barberini, irmão de Urbano VIII, da ordem dos Capuchinhos, nascido em Florença, em 1569,
criado Cardeal em 1624, religioso de piedade e caridade exemplares. Embora tivesse trocado, há tempos, seu título de
Saint- Onuphre pelo de Sainte-Marie-au-delà-du-Tibre, continuavam a chamá-lo de Cardeal de Saint-Onuphre.
Morreu em 1646.
sem conselho. E Deus me dá todos os dias novas luzes sobre a importância de agir
assim e maior empenho em nada fazer a não ser assim. Em nome de Deus, senhor
Padre, nada façais de importante, nem, sobretudo, nada de novo, sem antes me avisar,
para eu vos dar meu parecer. Vejo uma quantidade de razões que poderíeis alegar em
contrário. Mas crede, senhor Padre, que eu as vejo todas daqui e tenho razões para
responder a todas, e experiências que meus sessenta e dois anos e minhas próprias faltas
me deram4, e que não vos serão inúteis.
As duas principais razões que vos levaram a agir assim são as seguintes: a
primeira, a de que vos falei, isto é, que não podíeis fazer as duas coisas ao mesmo
tempo – pregar a missão e deixar pessoas capazes com os ordinandos. Quanto a isso, já
vos disse que teria sido melhor fazer missões em lugares mais humildes, como a dos
pastores. Acresce que Deus abençoa sempre melhor os inícios mais humildes do que os
que levantam muito barulho e publicam nosso committimus5.
A segunda razão é que, pregando as missões e atendendo os ordinandos de
Velletri6 com êxito, o senhor Cardeal Lenti tiraria daí motivo para valorizar a
Companhia e para mandar anular o decreto dos ordinandos. Dir-vos-ei que isso poderia
acontecer. Mas como me pareceu contrário à simplicidade cristã e ao que me parece que
Deus pede de nós, sempre fugi de realizar ações de piedade num lugar para me tornar
recomendável noutro, exceto uma vez em que fizemos a missão num lugar, para atrair
sobre nós a consideração do falecido senhor primeiro presidente de Paris 7, com quem
tínhamos que tratar.
Deus permitiu que tudo tivesse efeito contrário, pois a Companhia ali deixou
transparecer, mais do que em nenhum outro lugar, a pobreza e a miséria dos espíritos
dos seus membros. E foi preciso que eu lá voltasse depois da missão, para pedir perdão
a um padre, de joelhos, por uma ofensa que um da Companhia lhe fizera. Nosso Senhor
me deu a conhecer com evidência, nesta ocasião, por experiência, aquilo em que até
então acreditara na teoria: Deus pede de nós que jamais façamos algum bem num lugar
para nos tornar recomendáveis em outros, mas visemos somente a ele diretamente,
imediatamente e sem rodeios, em todas as ações, e nos deixemos conduzir por sua mão
paternal.
Escrevi-vos sobre os nossos votos e esqueci-me de vos dizer que é livre aos que
já estão na Companhia o fazê-los ou não. É decisão que diz respeito aos que vierem no
futuro. A maior parte dos que estão convosco já os fizeram e não há necessidade de lhes
falar disso. Penso que apenas o padre Ploesquellec não os fez8. Administrareis isso com
vossa prudência ordinária, em relação aos que se apresentarem no futuro.
Não sei se os seis clérigos, de que me falais que estão se apresentando, são
padres ou estão prestes a sê-lo. Neste último caso, in nomine Domini. Mas se são
44
São Vicente tinha escrito antes: que meus sessenta e dois anos me deram. Ele riscou me deram para acrescentar e
minhas próprias faltas.
55
Privilégio concedido a certas pessoas ou agremiações de não poderem ser citadas a não ser diante do Parlamento.
66
Cidade situada a algumas léguas de Roma.
77
Nicolau Le Jay, barão de Tilly, nomeado primeiro presidente do Parlamento de Paris, em 1630, falecido em 1640.
88
Ele os fez em 1647.
meninos, lembrai-vos, senhor Padre, de que não podemos contar aqui a não ser com o
que vos foi prometido pela fundação, e com isso, ajustai vossas contas.
Recebi as indulgências e o altar privilegiado para La Rose.
Estou preocupado com o acúmulo de trabalho que tendes, e temo não vos
sobrecarregueis o espírito e o corpo além de suas forças. Em nome de Deus, senhor
Padre, poupai-vos.
Sou, em seu amor, v. s.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 630. – O original, propriedade do príncipe de Ligne, se encontra no castelo de Beloeil, na Bélgica.
11
Pierre Nivelle (1637-1661).
22
O Cardeal Richelieu, anteriormente Bispo de Luçon.
Destinatário: Ao senhor Padre Chiroye, superior dos padres da Missão de
Luçon, em Luçon.
28 de novembro de 1642.
Senhor Padre,
.
Carta 631. – O original, todo da mão do Santo, foi posto a venda em Londres, a 08 de março de 1858, e depois
ficou com o senhor Charavay. Tiramos de empréstimo do catálogo do Sr. Charavay o início desta carta, até as
palavras “e vós sabeis que” (et vous savez que), e a última frase. O resto, do registro 2, pp. 23 e 49.
11
O senhor Charavay garante que a carta foi endereçada a Francisco Dufestel, padre da Missão, em Brest. Ele leu
mal. Dufestel estava no seminário de Annecy.
22
No Colégio de Lisieux, em Paris.
33
Luís Gonzalez, provincial de Portugal, despachou do Instituto vários dos seus coirmãos que murmuravam porque
os empregavam na edificação do Colégio de Coimbra (História de Santo Inácio de Loyola e da Companhia de Jesus,
pelo R. P. Daniel Bartoli, Paris, 1844, 2 vol. in-8º, t. II, p. 85). Teria São Vicente feito alusão a este episódio?
632. – BERNARDO CODOING, SUPERIOR EM ROMA, A SÃO VICENTE
Roma, 1642.
Pregamos uma missão num lugar cujo nome omitiremos. Um povoado fechado,
composto de três mil almas, ou cerca disso, no caminho de Roma para Nápoles.
Durante o mês da missão, encontramos misérias e desordens espantosas. A maior parte
dos homens e das mulheres não sabiam nem o Pai-Nosso, nem o Creio-em-Deus-Pai e
muito menos as outras coisas necessárias à salvação. Havia lá inúmeras inimizades
inveteradas. As blasfêmias eram comuns, blasfêmias de causar horror. Várias pessoas
de toda sorte de condição viviam no concubinato. Várias mulheres da vida e devassas
corrompiam a juventude.
Com tudo isso, encontramos grandes oposições e resistências, e o espírito
maligno nos aprontou ataques violentos, do próprio lado daqueles que mais deviam
apoiar-nos. Enfim, essa missão foi um sofrimento quase contínuo para nós. Não havia
humildade capaz de ganhar o coração dessas pessoas, pois elas julgavam que lhes feria
a honra deixarem-se instruir e se converterem. Não havia meio de fazer as pazes com
elas, a não ser deixando de pregar e confessar. Contudo, depois de 15 dias de
paciência e perseverança, nos exercícios ordinários das missões, estes povos
começaram a abrir os olhos e a reconhecer suas desordens. E no final, a graça de Deus
produziu ali grandes frutos. Aconteceram grandes reconciliações. As inimizades se
apagaram, e as blasfêmias cessaram. Quatro moças devassas se converteram. Entre os
concubinos, um dos mais obstinados, que vivia, há doze anos, em adultério público e
causava muita desordem na sua família e escândalo no povoado, se converteu,
abandonou o pecado e suprimiu-lhe a ocasião. Um outro grande fruto, entre todos os
outros que ordinariamente se colhem nas missões, foi deixarem um pecado abominável,
cujo nome não se diz, ao qual estavam extraordinariamente sujeitos.
A comunhão geral se realizou com muito boas disposições, e todos ficaram
emocionados ao ouvir o choro e o gemido, e ao ver as lágrimas das almas convertidas.
Enfim, apesar de todos os esforços do espírito maligno, esta missão terminou
com grandes bênçãos.
.
Carta 632. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. III, § I, 1ª ed., p. 58.
.
Carta 633. – O original era da mão do Santo. Foi posto a venda por Charavay. Não tendo podido encontrá-lo,
tiramos nosso texto de Pérmartin, op. cit., t. I, l 373, exceto a parte compreendida entre as palavras Fiz alguma
proposta e Fazem-nos a ameaça de que M. N., que foi extraída de um fac-símile do original, conservado na Casa-
Mãe dos padres da Missão. Estes últimos têm ainda em seus arquivos uma folha isolada que pertencia, cremos, a esta
carta e na qual se encontra:
1º Uma nota sobre o conteúdo da carta: “Importância de limpar a Companhia dos incorrigíveis. O Padre
Vicente prefere expor-se a vários perigos a conservar tais pessoas. Excelente em sua firmeza, sabedoria, desapego,
etc.”
2º O endereço, da mão do Santo: “Ao senhor Padre Codoing, superior dos padres da Congregação da
Missão de Roma, em Roma.”
Paris, 25 de dezembro de 1642.
1111
Charles de la Porte, Duque de Meilleraye, nascido em 1602, deveu sua rápida fortuna, tanto à proteção do Cardeal
de Richelieu, seu primo, quanto ao seu valor pessoal. Foi nomeado grão-mestre da artilharia em 1634, Marechal de
França em 1637, superintendente das finanças em 1648, duque e par em 1663. Foi ele que sugeriu a São Vicente o
pensamento de enviar missionários a Madagascar. Morreu em Paris, a 08 de fevereiro de 1664.
1212
A Duquesa de Aiguillon.
1313
O Governador da Bretanha tinha o direito de dispor da igreja Saint-Yves.
14 14
O Cardeal Richelieu.
1515
Henrique de Gondi, Bispo de Paris (1598-1622), primeiro Cardeal de Retz e chefe do Conselho do Rei, tinha
morrido no acampamento do Rei, diante de Béziers, no mês de agosto de 1622, com a idade de 52 anos. Porque São
Vicente o recomenda, a 25 de dezembro de 1642, às orações do Padre Codoing? O fato é tão estranho que somos
levados a nos perguntar se esta frase reproduz fielmente o original.
634. – A PIERRE DU CHESNE
Senhor Padre,
A graça de nosso Senhor esteja sempre convosco!
Não duvido que o assunto da presente carta vos cause de início desgosto e tristeza,
uma vez que ela é destinada a vos dar notícia da perda de nosso bom Padre Pillé, perda
que eu senti tão vivamente como nenhuma outra, porque eu o considerava como a
felicidade e a benção da Missão. Temos, no entanto, motivo para nos consolar, pela
certeza que nos resta de que não o perdemos de vista. A vida santa que ele levou e sua
morte feliz dão testemunho de que ele agora está no céu e, portanto, de que ele está mais
presente a nós e é mais capaz de fazer à Companhia um bem maior do que nunca. As
duas conferências que fizemos sobre suas virtudes o atestam amplamente, como
podereis ver pelo resumo que vos estamos enviando.
Mas antes de iniciar-lhe o relato, peço-vos considerar que ainda que eu descrevesse
por extenso tudo que me foi referido, seja de viva voz seja por escrito, não poderíeis
com tudo isso conhecer toda a vida deste grande homem, porque não fomos ainda
informados de uma quantidade de coisas notáveis que se poderia dizer dele,
particularmente do que se passou antes de sua entrada na Companhia.
Todas as suas ações são como pedras preciosas que merecem ser
cuidadosamente recolhidas e conservadas. Esperamos fazê-lo com o tempo, se Deus
quiser, mediante a assistência divina. No presente, contentar-me-ei com a amostragem
de algumas, a fim de que com estas possais avaliar as demais.
Para proceder com a ordem e com a simplicidade ordinária da Missão, começo a
dizer que o Padre Pillé se chamava Jean e era natural de Ferrières, diocese de Sens 1. Seu
pai e sua mãe eram virtuosos e tementes a Deus. Isto ficou evidente no cuidado todo
especial de educá-lo na virtude e no temor de Deus. Desde a infância, deu provas da
escolha e dos desígnios da Providência divina sobre ele. Com efeito, sentindo, desde
então, o coração ardendo do desejo de se consagrar a seu serviço de um modo todo
particular, concebeu o desejo de buscar os meios para isso. Vendo que a ciência era uma
ajuda não pequena para a virtude, ele se propôs prover-se dela. Como seus pais não
queriam que ele estudasse, decidiu ir morar em Paris, para ter mais oportunidade de
fazer seus estudos. Vendo, um dia, que seu pai ia a esta cidade com a charrete carregada
de mercadorias, subiu disfarçadamente nela e se escondeu debaixo do feno, temendo
fosse descoberto e despachado de volta para casa. E se deu tão bem que chegou a Paris,
onde encontrou meio de se entregar aos estudos. Empregou fielmente nisso o tempo
possível, crescendo na ciência e na virtude. Frequentava os sacramentos, fugia das más
companhias e só encontrava prazer em estar com o bom Deus que o destinava a ser seu
ministro. O Senhor lhe concedeu profundo apreço ao estado eclesiástico, no qual entrou,
ardendo do desejo de trabalhar pela salvação do próximo. Foi ordenado padre como
pertencente a Saint-Nicolas-des-Champs2, onde foi motivo de grande edificação.
.
Carta 634. – C. as.– Dossiê da Missão, original. Esta carta foi enviada a todas as casas da Companhia.
11
Ferrières-Gâtinais, hoje sede do cantão de Loiret.
22
Paróquia de Paris.
O Pe. Gallemant, doutor da Sorbona e homem de vida santa, vendo o zelo com
que o bom servo de Deus agia na salvação das almas e que nada melhor pedia do que
trabalhar, o fez seu vigário em Notre-Dame de Vertus 3, onde não trabalhou menos do
que antes, exercendo as funções de pároco.
Com isso, o mesmo Pe. Gallemant que não podia, por motivos muito justos
residir na paróquia, passou com confiança toda responsabilidade para ele. Aprouve
porém a Deus dispor do senhor seu tio sacerdote, Pároco de Ferrières, ao qual ele
sucedeu. E foi ali que este bom servo de Deus aprofundou a consciência da obrigação
que tinha um pastor de procurar a salvação das almas a ele confiadas.
Quem seria capaz de dizer a devoção e o fervor com que ele desempenhava a
função de pároco? Em nada se poupava, seja no púlpito, seja no confessionário, seja em
outra ocupação. Em tudo Deus lhe concedia graças e bênçãos, especialmente na direção
das consciências.
Quando sua enfermidade, iniciada desde então, não lhe permitia pregar ou dar
catecismo, ele o fazia por meio dos padres franciscanos ou outros religiosos, aos quais
dava instrução a respeito de tudo o que havia a fazer, em favor dos seus paroquianos.
Todo seu cuidado paternal e seu raro exemplo não impediram que, nos primeiros
anos, ele fosse caluniado, provado e perseguido por suas próprias ovelhas,
particularmente por um certo justiceiro do lugar, e até pelos próprios religiosos.
Moveram-lhe um processo por ter estabelecido lá a Confraria do Rosário. É incrível
quanta dificuldade suportou e quanta constância demonstrou, ao mesmo tempo. Um
outro que não tivesse sua virtude teria abandonado tudo. Mas ele, como bom pastor, se
manteve sempre firme, e acabou vitorioso sobre os inimigos.
Mas, o que é mais ainda, conquistou-lhes depois tão bem o coração que não
havia ninguém mais tarde que não amasse e não o estimasse como um homem de Deus.
Contudo, vencendo os adversários, ele perdeu a saúde e adquiriu uma doença
corporal que o fez sofrer e definhar até a morte. Em compensação, tornou-se mais sadio
e mais forte na alma. E isto ficou evidente nas raras virtudes que o viram praticar
depois, com maior perfeição.
Entre outras coisas, era um grande amante do asseio na igreja. Não suportava nela
sujeira alguma. Viram-no muitas vezes passar momentos depois do almoço a arrumar a
igreja e os paramentos. Velava também com grande cuidado para que o serviço divino
se realizasse com a decência requerida. Ele próprio assumia a tarefa de ensinar o canto.
Não podia tolerar nenhuma imodéstia na igreja. Tão logo o viam chegar, todos se
colocavam no devido lugar. Enfim, podia dizer com toda razão: zelus domus Dei
comedit me4 (O zelo de tua casa me devorou).
A casa dele era um albergue para os pobres em trânsito, e nela ele os agasalhava.
Tinha todo prazer em receber os religiosos, particularmente os franciscanos, que ele
acolhia como anjos enviados por Deus. Era bonito vê-lo caminhar ao encontro deles,
recebê-los de braços abertos com tal efusão de coração que se poderia dizer que os
conduzia na palma das mãos. Enfim, cumpria para com eles todas as atribuições de um
hospedeiro muito atencioso e caridoso. Providenciava de ordinário uma pessoa que os
33
Em Aubervilliers (Seine).
44
Jo 2,7
conduzia às casas para pedirem esmolas. Ajudava-os a guardar as provisões em sua
casa, servindo-lhes como verdadeiro pai.
Nosso Senhor lhe dera a graça de uma maravilhosa compaixão para com os pobres.
Distribuía amplamente esmola duas vezes na semana. Mas jamais dava esmola corporal
sem acrescentar a espiritual, por alguma boa palavra de edificação. Tão logo soubesse
da notícia de algum doente, viam-no, a este caridoso pastor, deixar todos os trabalhos e
até mesmo o descanso para ir socorrê-lo. Como sua enfermidade o levasse a temer não
pudesse desempenhar bem o seu ofício de pároco, pois tinha apenas um vigário,
providenciou um outro, embora não fosse obrigado a isso de modo algum. Com efeito,
era suficiente apenas um porque ele não deixava de trabalhar, por si mesmo, em tudo
aquilo que lhe fosse possível. Enfim, se pela obra se conhece a excelência do obreiro,
basta apenas lembrar que a paróquia de Ferrières, no começo, era uma terra inculta.
Quando a deixou, encontraram-na tão bem cultivada que eu não sei se havia alguma que
o fosse melhor, numa palavra, podemos dizer que era um pastor bonus.
Eu iria muito longe, se quisesse descer aos pormenores de sua santa vida como
pároco. No entanto, ele se considerava sempre um servo inútil, julgando ter os ombros
muito frágeis para suportar um fardo tão pesado como o de um pároco. Assim, acabou
renunciando à paróquia, temendo o juízo de Deus. Mas antes de deixá-la, fez duas
coisas. A primeira foi que, embora pudesse dizer quid potui facere vineae meae et non
feci5 (o que poderia eu ter feito para a minha vinha e que não fiz?), contudo mandou
pregar missão na paróquia, e nela todos os paroquianos fizeram sua confissão geral. A
Confraria da Caridade foi instituída e todas as desavenças foram apaziguadas. Até uma
grande parte dos antigos religiosos fizeram a confissão geral. Em segundo lugar,
providenciou para a paróquia um excelente sucessor: um irmão seu que ele tinha
educado e mandara estudar para esse fim. Assim ele tinha motivo de viver com a
consciência tranquila, porque seu irmão foi e é ainda um dos melhores párocos que eu
conheço.
Tendo provido a sua paróquia, o Padre Pillé resolveu entrar em nossa
congregação. Já tinha idade e estava doente. Embora eu tivesse escrúpulo de receber na
Companhia párocos que trabalhavam bem em suas paróquias, sua virtude e santidade e
ao mesmo tempo sua grande instância e perseverança em no-lo pedir tiveram tanto
poder sobre mim que, depois de tê-lo feito postular durante tanto tempo, eu o admiti
enfim no número dos nossos missionários. Entrou em nossa Companhia no mês de
setembro no ano de 1630, com o desejo de consumir o resto de seus dias nos exercícios
da Missão. Aprouve, porém, a sabedoria divina, que queria nos pregasse ele pela
paciência, deter o curso e a impetuosidade de seu zelo, com sua enfermidade. Ela
continuou a afligi-lo e o impediu de realizar as funções da Missão da maneira como
teria desejado. Contudo, ele pregou algumas missões, como vamos dizer adiante,
falando das virtudes que o vimos praticar desde que tivemos a felicidade de tê-lo
conosco. Eram virtudes raras e eminentes. Entre outras, realçamos as seguintes.
A primeira é o amor que tinha a Deus. Um tal amor que o fazia palpitar e como
que perder o fôlego, aspirando por ele noite e dia. Falava constantemente de sua
grandeza e dos privilégios que acompanham aqueles que o servem. Lembrava como
55
Is 5,4
Deus é fiel aos que só lhe procuram agradar e quanto ama os que o amam e glorifica
aqueles que o glorificam. Quem quisesse alegrá-lo, era só falar-lhe de Deus. Este amor
o tornava muito afeiçoado às coisas concernentes ao serviço divino. Tinha um elevado
apreço a todos os ordenamentos da Igreja, com um singular prazer nas cerimônias, nas
rubricas, no canto gregoriano, na música, etc. Não deixava de lamentar muito a
ignorância e o escândalo dos padres e sua negligência em observar as rubricas, em
praticar as cerimônias e em manter limpas as igrejas. Dizia frequentemente: “penso que
não há mais fé no mundo. Os pregadores não pregam as verdades do evangelho. O
pobre povo tem fome da palavra de Deus e deixam-no morrer de fome por falta de
assistência. Parvuli petierunt panem, et non est qui frangat eis 6 (os pobres pediram pão,
e não há que lhos parta).
Era muito exato na recitação do breviário. Ao cair doente, ficava triste se não
pudesse rezá-lo. Embora sua enfermidade fosse tal que lhe permitisse dispensar-se dele,
contudo, ele o rezava frequentemente com prejuízo de sua saúde com tanta devoção que
chegava a chorar. Tinha sempre nos lábios algum versículo do profeta Davi,
principalmente aquele que o víamos repetir com frequência: Domine, dilexi decorem
domus tuae26 (Senhor, amei a beleza da tua casa). Mostrava assim quanto amor ele
tinha às coisas de nossa religião. Quando cumpria a principal, a Santa Missa, era com tal
devoção que transmitia o amor de Deus a todos que o viam. Viram-no frequentemente
chorar de devoção durante a celebração. Só deixava de celebrar quando a doença o
impedia. Chegaram a vê-lo tão fraco no altar e com tanta dor de estômago, que
pensavam fosse ele desfalecer. A tristeza que tinha ao tomar os remédios era porque o
impediam de celebrar. Um mês antes de sua morte viram-no ajudar a missa sem quase
poder se manter. Tinha uma grande devoção ao Santíssimo Sacramento do altar. Fazia
continuamente atos de fé sobre este mistério e experimentava fervorosas aspirações,
dizendo às vezes entre lágrimas: “Meu salvador, não vos conhecem, não têm fé, etc.”.
Desta grande caridade nascia um tão grande desejo da salvação das almas que
estava pronto a todo o sacrifício para a salvação de apenas uma. Com efeito, quando se
tratou de ir para a missão e sua enfermidade lho permitiu, sabe Deus que ele não se
poupou de modo algum. Embora precisasse mais de repouso do que de trabalho,
contudo, trabalhava além de suas forças. Pregou três ou quatro missões, nas quais os
que foram enviados com ele disseram que jamais tinham visto um missionário trabalhar
a tal ponto. Era o primeiro no confessionário. Ficaria contente de passar ali o dia inteiro
sem comer, se a obediência não moderasse o seu zelo. Na quarta missão, as forças do
corpo lhe faltaram totalmente, de tal sorte que foi preciso trazê-lo de volta. Foi nesse
tempo que começou suas queixas, dizendo que era inútil para a casa, para a qual
trouxera apenas incômodo. Era essa a sua fala mais comum. “Meu Deus, dizia um dia
chorando a um de nossos irmãos, lá estão as almas de irmãos nossos que caem no
inferno, por falta de instrução, enquanto eu estou aqui sem fazer nada!”.
No que diz respeito à devoção e firmeza na sua vocação, era algo inexprimível, e
só ele mesmo poderia revelar seus sentimentos. Ficava como que fora de si mesmo
sempre que lhe tocavam no assunto. Pode-se constatar isso numa resposta que ele deu a
66
Lm 4,4
26
Sl 26,8
um de nossos irmãos clérigos que lhe perguntava como estava passando. O senhor
Padre. Pillé lhe respondeu que ele era inútil, que ele estava sendo pesado para a casa. O
clérigo, por fora do que ele pensava, lhe diz: “ Mas como senhor Padre, estaríeis
querendo ir embora?” Foi-lhe como um golpe de punhal. Jamais lhe teriam podido tocar
num ponto tão doloroso. “Ó meu irmão, lhe disse ele com lágrimas nos olhos, livre-me
Deus de ter esse pensamento! Se me colocarem para fora da casa por uma porta, entrarei
pela outra, ou antes, morrerei na soleira”. Apreciava e amava tudo que pertencia à
Missão, fosse coisa pequena ou de maior importância. Tinha uma devoção muito
sensível para com o Seminário. Alegrava-se quando podia prestar-lhe algum serviço,
como escrever em grandes letras os nomes de nossos irmãos, transcrever escritos, colar
estampas sobre cartões, etc. Quando o falecido padre de la Salle, então diretor do
seminário, o chamava para atender as confissões dos seminaristas, fazia-o com indizível
alegria. Ouviram-no dizer frequentemente: “Se tivesse um pouco de saúde, insistiria
para ser admitido no número dos seminaristas para servir e obedecer como o menor de
todos. Não o podendo, com grande pesar meu, trato de suprir esta falta com estes
pequenos serviços”. Dizia frequentemente aos nossos irmãos do seminário: “Ó como
sois felizes por ter tão bela ocasião de trabalhar na própria perfeição! Nós não a
tivemos, em nosso tempo! Coragem, portanto, meus irmãos! Tudo depende de vós”. Um
dia, um de nossos irmãos se recomendou às suas orações. Ele lhe disse que fazia a ronda
todos os dias, querendo dizer com isso, que rezava por cada um em particular,
começando do mais antigo da Companhia até o mais novo.
Quem quisesse alegrar o Padre Pillé era só falar-lhe sobre os frutos das missões
e dos bons operários da Companhia. Mas se quisesse entristecê-lo, era só lembrar-lhe a
saída de algum. “Meu Deus, disse um dia a esse respeito, em que estão pensando esses
infelizes? Quanto a mim penso que estão cegos. Enganam-se ao pensar que terão êxito
fora da Missão. Não sabem eles que, saindo, são como peixes fora d’água e como
membros separados do corpo, que não podem mais participar dos influxos da cabeça?
Oh! como são dignos de compaixão!”. Mas quando lhe diziam que alguém acabava de
ser recebido na Companhia, seu coração ficava arrebatado e transportado de alegria. E
por mais doente que estivesse, não conseguia impedir que esses sentimentos
transparecessem fora: no seu corpo que vibrava, no semblante que repentinamente se
iluminava, nas mãos que ele erguia e juntava em forma de prece, nos braços com que
abraçava cordialmente seu novo irmão, nos olhos, que derramavam lágrimas de júbilo, e
sobre tudo na língua, que não podendo moderar o impulso do coração, proferia palavras
tão fervorosas, tão cheias de poder, de veemência e de vivacidade, que o Espírito Santo
parecia estar em sua boca em forma de línguas de fogo. “A Missão, dizia ele, é o
espírito dos primeiros cristãos. É uma vida toda apostólica. É o soberano e último meio
que Deus encontrou para reformar a sua Igreja. Parece-me que sua bondade, sua
sabedoria e sua onipotência se esgotaram nessa obra-prima de suas mãos. Oh! como sua
Providência tem grandes desígnios sobre a Missão! Oh! veremos grandes coisas! Oh!
que felicidade ser missionário! Como sou feliz por pertencer ao número deles e ao
mesmo tempo infeliz por ser tão inútil e tão pesado à Missão! Etc.” Dizia a mesma coisa
e mais ainda, sempre que lhe falavam do assunto da Missão, particularmente no leito de
morte. Não conseguia impedir-se de falar sobre ela a todos que o vinham ver e com
ardor e veemência jamais vistos, de tal maneira que não tinha forças e palavras a não ser
para expressá-lo. E o melhor, penso eu, é que dizia tudo isso como sentia no coração,
pois teria escrúpulo de consciência de dizer a menor coisa contra a simplicidade e com
exagero. Sabeis que não costumo exagerar as coisas, mas posso garantir-vos que me
seria impossível poder exprimir-vos os elevados sentimentos que ele tinha da Missão e
que tudo que eu disse não é nada em relação ao que falta dizer. Deste modo, é melhor,
no presente, contentar-me com admirá-lo e vos deixar imaginá-lo. Dir-vos-ei somente
que quanto mais ele ia realçando a grandeza de nosso Instituto e exagerando os baixos
sentimentos sobre si mesmo, tanto mais me parecia grande em santidade e útil a toda
nossa comunidade, de tal modo que não podia impedir-me de dizer frequentemente e em
alta voz: “ O senhor Padre Pillé, só com o seu não - fazer e o seu padecer, fazia mais
para Deus e para a casa do que eu e toda a nossa Companhia agindo e trabalhando sem
cessar”.
Sua humildade era muito grande e muito profunda. O que acabamos de dizer
sobre a baixa estima que tinha de sua pessoa é uma prova bastante evidente. Era tal sua
humildade que embora lhe tenha dito várias vezes estimar como uma grande bênção tê-
lo em nossa companhia, não se deixava, contudo, convencer. Assim, viveu sempre
nestes baixos sentimentos sobre si mesmo, dizendo, em todas as ocasiões que ele era
inútil para a casa, que se julgava indigno de estar nela, que era um peso para a casa e
que não merecia o menor dos bons serviços que lhe prestavam, mesmo em suas
enfermidades.
Não se contentava de ter esta humildade no coração e nos lábios. Cuidava, por
todos os meios, de colocá-la em prática nas ações, oferecendo-se com este intuito, para
prestar serviços nas coisas menores e mais simples da casa. Entre outras coisas, é de
notar-se que foi, um dia, enviado para ajudar nosso Irmão Alexandre, então despenseiro.
Ele o fez de tão bom coração que o próprio Irmão nos disse que jamais vira igual
submissão de vontade e de juízo, pois ele lhe obedecia como se fosse apenas um jovem,
ele que era padre há muito tempo e de idade avançada.
Suplicou, um dia, com insistência a um de nossos irmãos da cozinha adverti-lo
de suas faltas. Ajudava com frequência ao cozinheiro em tudo que podia e nos serviços
mais baixos e desprezíveis. Assumia o trabalho de ensinar o canto aos seminaristas
menores, embora fosse por eles não pouco atormentado. Sua humildade apareceu ainda
no fato de não ousar dar seu parecer sobre assunto algum, qualquer que fosse
principalmente se se tratasse de ciência, pois se julgava ignorante. Dizia, um dia, a um
de nossos irmãos que era inapto para qualquer ministério da Missão, por causa de sua
incapacidade. Dizia, ainda, que era incapaz de conduzir um grupo de ordinandos, o que,
no entanto, faziam,na ocasião, irmãos nossos, simples clérigos. Contentava-se com
organizar as cadeiras dos senhores ordinandos, dizendo que era este o serviço que lhes
podia prestar, embora na verdade fosse bastante capaz e experimentado nos assuntos
tratados. E o que é mais notável, é que essas palavras eram na verdade o reflexo dos
sentimentos do seu coração. Nisto consiste a verdadeira humildade.
Sua obediência não era menor do que a sua humildade. Nada fazia sem
permissão, embora já fosse antigo na casa. Fazia questão de pedir licença aos superiores
para as menores coisas. Aceitava com total indiferença tudo que lhe dessem, fosse bem
ou mal preparado, mesmo quando lhe causasse repugnância e aversão. Quando os
seminaristas menores lhe pediam alguma coisa, ficava preocupado por não saber se
tinham permissão. Esta grande obediência o levava a ter uma maravilhosa
condescendência para com seus iguais e mesmo para com seus inferiores. Jamais
contradizia alguém. Aceitava participar de qualquer assunto, com quanto fosse de
edificação, e deixava fácil e prontamente o que estava fazendo para se aplicar a outra
coisa que lhe pedissem. E o que é mais perfeito é que obedecia em tudo com submissão
de juízo. Disso davam testemunho os atos heroicos de que vamos logo tratar, de tal
forma que podemos dizer: Factus est obediens usque ad mortem 27(Fez-se obediente até
a morte).
Sua paciência foi heroica. Jamais demonstrou o menor sinal de impaciência.
Bendizia a Deus nos sofrimentos frequentemente tão atrozes que inspirava piedade a
todo mundo. Dir-se-ia a cada momento que ia entregar o seu espírito. Apesar de tudo
isso, não deixava de permanecer alegre e sempre igual a si mesmo. Este pobre homem
não podia levantar-se de manhã sem aumentar sua indisposição nem se vestir sozinho, a
não ser com muita dificuldade. No entanto não deixava de participar da oração com a
maior frequência possível, embora tivesse grande necessidade de repouso, pois quase
não dormia durante a noite, por causa da tosse. Enfim, seu zelo o levava a fazer mais do
que podia. Por causa disso, viram-no frequentemente cair sobre a escada sem poder se
sustentar nem se levantar. Não se contentava com as cruzes que Deus lhe enviava. Ele
próprio se infligia alguns sofrimentos, macerando sua carne, não obstante suas grandes
enfermidades, ora com jejuns, ora com outras austeridades, como se pode presumir a
partir de uma disciplina ensanguentada, encontrada em sua cama, após sua morte. Era
enfim, um homem de dor e ao mesmo tempo um exemplo de paciência. Embora tenha
sempre parecido tal para todos, é preciso reconhecer que no leito de morte o era de um
modo particular. Parecia que a paciência estava como que em seu trono triunfando dos
sofrimentos e das dores. Seus males eram maiores do que nunca e suas forças muito
frágeis. Mas sua paciência aumentava cada vez mais. Não somente suportava de coração
e com submissão à vontade de Deus os próprios sofrimentos, mas se alegrava com eles e
desejava sofrer mais ainda por Nosso Senhor e pelo próximo. É o que o fazia dizer
repetidamente com tanta feição: Domine, bonum mihi quia humiliasti me (Senhor, foi
bom pra mim o ter-me humilhado). Bendito sejais, oh meu Deus! Como sois bom! Absit
mihi gloriare nisi in cruce Domini Nostri Jesu Christi 28! Etc. (longe de mim gloriar-me
a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!).
Possuía a virtude da pobreza no mais alto grau. Não tinha apego algum às coisas
da terra. Comprazia-se com ser tratado como pobre e em servir-se das coisas mais
pobres. Chegava a ponto de recolher o que encontrava, se pudesse servir para alguma
coisa, como um pedaço de papelão, de madeira, uma pequena agulha. No que diz
respeito às coisas que estavam a seu uso, era muito cuidadoso em conservá-las. Ele
mesmo remendava suas roupas, reparava o breviário que tinha sempre algo a consertar.
Usava luneta com uma lente quebrada; jamais o convenceram de trocar por uma outra.
De tal modo tinha renunciado a propriedade das que usava, que tinha escrúpulo de as
27
Fl 2,8
28
Gl 6,14
dar aos outros ,a não ser com licença,por menor que fossem, embora fosse muito liberal.
Soube que agiu assim até no leito de morte. Um sobrinho seu, nosso Irmão Bonichon 29,
tendo lhe pedido apenas alguns pequenos manuscritos de devoção para aprender a
adquirir a perfeição, este pobre homem lhos recusou, dizendo-lhe que fosse apresentá-
los ao superior e ele próprio lhos pedisse. Não era menos consciencioso quando se
tratava de receber o que lhe queriam dar. Fazia questão de obter a permissão para aceitar
um pequeno livro, uma imagem de papel ou coisa semelhante. Embora essas coisas
pareçam pequenas no juízo dos homens, o espírito com que ele as fazia as tornava
grandes aos olhos de Deus e dos anjos.
Era de uma grande simplicidade, não a rústica ou simplória, mas a santa
simplicidade da pomba, que lhe aperfeiçoava as outras virtudes. Sua caridade era
simples, sua humildade, simples, sua obediência, simples, sua paciência, simples e
assim as outras virtudes. Nele não havia nenhuma mescla de respeito humano, de
simulação, artifício ou astúcia. Isso fazia com que, embora fosse muito judicioso, se
deixasse conduzir como uma criança. Acreditava em quase tudo que lhe diziam, mesmo
como brincadeira, e se dispunha a fazer tudo que quisessem dele. Passava com
frequência o recreio com os seminaristas menores e conversava com eles com
simplicidade, como se fosse criança como eles. Esta simplicidade o tornava amável e
amado por todos, mas principalmente por Deus, que sem dúvida se comunicava
ordinariamente com ele, de um modo todo particular, pois que cum simplicibus est
sermocinatio ejus30 (com os simples é a sua conversação). Não é de admirar, pois, se ele
parecia sempre um homem interior, fervoroso e só aspirando a Deus.
Sua aplicação ao trabalho era maravilhosa. Ainda que sua indisposição o
tornasse muito fraco e débil e que o trabalho incomodasse, jamais o viam ocioso. Estava
sempre em atividade, tendo como uma de suas máximas que a ociosidade é mãe de
todos os vícios, como disse um dia a um de nossos irmãos que lhe perguntou porque
trabalhava tanto. A maior parte das vezes reparava os missais e os breviários, escrevia
as cerimônias e outras coisas da casa. Ia até mesmo ao jardim para trabalhar, e agachado
no chão arrancava as ervas más, carregava lenha e água para a cozinha, lavava louça,
isto tão espontaneamente, que edificava os que o viam.
Quando a enfermidade o obrigava a ficar de cama, encontrava ainda meio de
trabalhar, seja lendo, seja escrevendo ou costurando, e sobre tudo rezando. Fazia então
particularmente orações jaculatórias com tanta assiduidade e ardor que tocava e
inflamava os que o percebiam.
Quanto à castidade, ele a possuía em grau muito eminente e creio que usou todas
as precauções imagináveis para conservá-la integralmente. Os pequenos escritos sobre
este assunto, que foram encontrados depois de sua morte em sua bolsa, dão suficiente
testemunho disso. Tudo indica que ele os praticava pontualmente, embora fossem muito
difíceis de colocar em prática. Eram certos meios soberanos para conservar a castidade.
Isso mostra claramente que nosso Irmão Alexandre, enfermeiro, não deixava de ter
29
Nicolau Bonichon, clérigo, nascido em Ferrières-Gâtinais a 30 de julho de 1619. Entrou em São Lázaro a 24 de
setembro de 1641. Fez os votos a 9 de junho de 1644 e foi ordenado padre a 21 de setembro de 1647. Foi colocado
mais tarde na casa de Cahors. Um outro sobrinho do Padre Pillé, Cristóvão Bonichon , entrou na Congregação da
Missão em 1645, na qualidade de Irmão Coadjutor.
30
Pr 3,32
razão ao dizer abertamente na conferência que ele tinha notado em seu corpo sinais de
uma castidade virginal. No entanto seu temperamento natural parecia ser inteiramente
contrário a isso; donde se conclui que ele teve de suportar grandes combates e
conquistar grandes vitórias, para impedir que esse tesouro lhe fosse roubado.
Sua mortificação não apareceu apenas no combate aos movimentos carnais, que
ele reprimia tão bem, mas ainda em relação a outras dificuldades, tanto interiores quanto
exteriores. Já se viu por acaso um homem deste porte, mais mortificado do que ele na
vista, no ouvido, no gosto e nos outros sentidos, e sobre tudo na língua, no juízo e na
vontade? Deixo-vos imaginar. Mas para melhor conhecer a excelência desta virtude
nele, é preciso lembrar que era naturalmente impetuoso, arrebatado, colérico e ávido de
ouvir e saber, etc. Contudo dominava tão bem as inclinações e as paixões que sempre
pareceu ser naturalmente tranquilo, suave, indiferente e bonachão. Mas tudo isso era
graça divina, e virtude que ele adquiriu à custa de se mortificar. Numa palavra, pode-se
dizer com verdade que sua vida foi uma contínua mortificação como se a Deus
aprouvesse vê-lo assim, no uso das mortificações, como um outro Jó. O Senhor não se
contentou somente com suas mortificações ordinárias, mas lhe permitiu a ocasião de
algumas extraordinárias. Pode-se perceber isso particularmente quando vemos que
depois de lhe ter dado, de um lado, um grande conhecimento do valor e da beleza das
almas e a grande necessidade que tem do auxílio da Missão, e por um outro lado, um
desejo insaciável e incrível de trabalhar nelas sem cessar para sua salvação, tirou-lhe
quase ao mesmo tempo os meios de realizar estes santos desígnios, permitindo-lhe uma
enfermidade no corpo que o atormentou quase continuamente, e uma outra maior, no
espírito: a persuasão de ser inútil e pesado à casa, fruto de sua grande humildade, como
já dissemos. Para vos fazer uma ideia de algum modo desta mortificação heroica, basta
representar-vos um homem faminto continuamente diante de uma mesa coberta de toda
a espécie de carnes apetitosas, nas quais não pudesse tocar por estar acorrentado. Sua
mortificação era mais ou menos isso e até maior, ao menos porque era de maior
duração. Entretanto, embora sua humildade o tenha levado a algumas pequenas e
amorosas queixas de suas dores, podemos dizer dele o que o Espírito Santo diz de Jó: In
his omnibus non peccavit31 (Em tudo isso não pecou). Antes, em tudo ele se purificou
como ouro na fornalha porque em tudo isso permanecia inteiramente resignado à
vontade de Deus, o que não podia ocultar por causa dos frequentes atos dessa virtude
que o viam fazer com tanto fervor.
Embora já tenha feito menção de sua grande devoção, não posso, entretanto,
impedir-me de dizer mais uma palavra. É inacreditável quanto era devoto de todas as
coisas santas que a igreja aconselha ou aprova, como a água benta, o agnus Dei, o
rosário, as relíquias, as indulgências e outras semelhantes. Era também muito devoto
dos Santos e dos Anjos. Tinha particularmente três devoções. A primeira, ao seu anjo da
guarda, que honrava todos os dias de modo especial. Tinha grande confiança nele,
suplicando por seu intermédio os frutos das orações que de ordinário lhe fazia. É
provável que o contemplava frequentemente com os olhos do espírito, como fazia Santa
Francisca com seu anjo, com os olhos do corpo, e lhe falava familiarmente e com
grande reverência. A segunda, e maior, era à Santa Virgem. Mas ser-me-ia impossível
31
Jó 1,22
exprimi-lo, seria preciso escutá-lo a ele próprio, falando dessa devoção. O que dizia dela
era capaz de despertá-la nos outros, particularmente quando se tratava de sua Imaculada
Conceição, do poder que tinha junto ao seu filho, e dos grandes milagres que fazia em
favor de tantas pessoas. Mas o principal é que lhe imitava as virtudes e exortava aos
outros a fazer o mesmo. Creio que esta devoção foi uma das principais causas de sua
castidade, da qual falamos, e da Virgem lhe conceder tudo que pedia. Por isso, tinha
uma grande confiança nela, particularmente no leito de morte, como eu mesmo notei
várias vezes, entre outras, quando pronunciava estas palavras: In te, Domina, speravi;
non confundar in aeternum, quia non solum sperantem, sed etiam desperantem adjuvas
(Esperei em ti, Senhora, jamais serei confundido, porque proteges não somente ao que
tem esperança, mas também o que está em desespero).
Mas sua principal devoção era à paixão de Nosso Senhor. Nela pensava todos os
dias e quase todas as horas, sempre com o sentimento de compaixão, de admiração e
agradecimento. Frequentes vezes, não conseguia impedir a manifestação interior desses
sentimentos, como em aspirações, suspiros e lágrimas. Isso o levava a dizer com
frequência que aquele que não agradece, todos os dias, a Nosso Senhor Jesus Cristo por
sua paixão, perde o seu dia. É também por isso que em sua última enfermidade beijava
repetidas vezes, com muita devoção, e até com lágrimas o crucifixo que tinha sempre
perto dele no leito. Quem poderia relatar os belos colóquios desses momentos no
coração e nos lábios? Quem poderia exprimir o sentimento com que dizia: O bone Jesu,
qui mortuus es pro me, quis mihi tribuat ut moriar pro te! Salve, crux pretiosa, suscipe
discipulum Chirsti ac per te me recipiat qui per te moriens me redemit! (Ó bom Jesus,
que morreste por mim, quem me daria a graça de morrer por ti! Salve, ó cruz preciosa,
recebe o discípulo de Cristo, e por ti me receba quem morrendo em ti me redimiu!).
Vicente de Paulo.
Indigno padre da Missão.
.
Carta 635. – Coleção de processos de beatificação.
advogados; fora disso, não. Somente os membros do corpo da comunidade são
animados pela influência do espírito do mesmo corpo.
Quando digo que é preciso ser invariável quanto ao fim e suave quanto aos meios,
estou vos indicando a alma da boa conduta. Uma coisa sem a oura estraga tudo. Ó,
senhor Padre, como a participação na mansidão e na humildade do coração de Nosso
Senhor exprime vivamente a figura de Nosso Senhor e a de sua boa conduta, sobretudo
se a firmeza estiver presente, sem a qual vejo que a maior parte das comunidades que
caem no relaxamento chegam a isso pela excessiva indulgência dos superiores! Sede,
pois, firme, senhor Padre; de início, admito que contristareis os espíritos, mas depois
terão mais confiança em vós. Fora disso um dia estareis exposto ao desprezo deles. Sede
exato em acolher a comunicação do seu interior todos os meses. Rogo à Companhia
afeiçoar-se a esta santa prática e a todas as outras. O que digo à Companhia e a vós,
senhor Padre, sobre este ponto, quero dizer da observância de todas as nossas pequenas
regras, sobretudo a da caridade mútua. Como somente o espírito
de Nosso Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro diretor das almas, peço a sua divina
Majestade vos comunique o seu espírito para vossa direção particular e para direção da
comunidade. Meu Deus! senhor Padre, como sou tão miserável para me atrever à
ousadia de vos dizer estas coisas que eu mesmo não pratico? Vossa caridade me
perdoará, por favor, e suplicará a Deus por mim, que sou o mais miserável dos homens,
mas que ouso esperar corrigir-me, se for ajudado pelas vossas orações e pelas de vossa
pequena comunidade, à qual me recomendo, e sou, no amor de Nosso Senhor, vosso
muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Abraço-vos com toda a ternura de minha alma, considerando a vossa como uma
vítima oferecida continuamente à glória de seu soberano Senhor, e que trabalha em sua
própria perfeição e para a salvação do próximo. Meu Deus, senhor Padre, como são
felizes aqueles que se entregam a Deus sem reserva para fazer as obras que Jesus Cristo
fez e para praticar as virtudes que praticou, como a pobreza, a obediência, a humildade,
a paciência, o zelo e todas as outras! É desta maneira que se tornam verdadeiros
discípulos de um tal mestre. Vivem puramente do seu espírito e espalham, com o odor
.
Carta 636. – Cartas escolhidas de São Vicente de Paulo ( arquivo da Missão), carta 36.
de sua vida divina, o mérito de suas santas ações, em favor da edificação das almas
pelas quais morreu e ressuscitou. Se ,portanto, vos considero como um de seus bons
servidores, não tenho motivo para vos querer bem e vos estimar nele, e para implorar
com frequência, como faço, que continue concedendo-vos as graças para lhe serdes fiel
até a consumação dos séculos e para serdes enfim, coroado de glória na eternidade? São
estes os anseios do meu coração para a felicidade do vosso.
Senhor Padre,
Eis uma carta de nossa Irmã Jeanne, de Issy 2. Vereis o que ela fez a respeito da
cópia da quitação que lhe pedem. Penso, senhor Padre, que seria bom regularizar este
negócio quanto antes.
O senhor Pároco de Baron3 espera obter uma Filha da Caridade depois da festa
da Candelária, e esperamos que a Providência divina inspire a vossa caridade mandar-
nos avisar. Nossas Irmãs acreditam, tanto quanto eu, que este benefício, que nos tem
sido adiado por tanto tempo, é uma punição pelo mau uso que fizemos do passado, do
qual nos arrependemos, reconhecendo não podermos no futuro fazer melhor, sem uma
grande ajuda de vosso caridade, da qual sou, senhor Padre, uma pobre e humilde filha,
e muito agradecida serva,
L. de M.
Dia de Santo Antão.
.
Carta 637. – C. aut.– Dossiês das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta parece deva aproximar-se da carta 641.
22
No entorno de Paris.
33
Localidade da circunscrição de Senlis (Oise).
.
Carta 638. – C. aut.– Dossiê das Filhas da Caridade, original.
[25 de janeiro de 16431]
Senhor Padre,
Senhor Padre,
11
Data acrescentada no dorso do original.
22
Comuna do entorno de Paris.
33
Fontenay-Roses (Seine).
44
Esta conferência nos foi conservada.
.
Carta 639. – C. aut. Dossiê da Missão, original.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Recebi duas cartas vossas ao mesmo tempo, uma de oito e outra de quatorze do
mês passado. Não darei resposta à primeira, a não ser vos dizendo, em poucas palavras,
que respeito o primeiro artigo concernente ao meio de consolidar a Companhia com a
promessa de pagar a despesa feita, em caso de sairmos, sendo a isto obrigado ... .
Entretanto a experiência do seminário instituído em Ruão pelo falecido senhor Cardeal
de Joyeuse, onde se estabelece a obrigação e se dá uma garantia de pagar a pensão, em
caso de não permanência na vocação, nos faz ver que este meio é inútil e que não
remediou a todas as desordens precedentes.
Quanto à segunda questão, o caso das paróquias, estamos rezando a Deus
incessantemente para isso, depois de quatro ou cinco conferências feitas sobre isso, sem
chegarmos a uma solução nem para afirmativa, nem para negativa. Não deixaremos de
fornecer menos bons párocos à Igreja, pelos nossos seminários, do que pela própria
Companhia, como espero, no caso de nos decidirmos pela exclusão, depois de muitas
orações e conferências. Ficai certo, senhor Padre, de que não poderíeis alegar nenhuma
razão, nem a favor nem contra, que já não tenha sido examinada e considerada pela
Companhia, desde o longo tempo em que ela pensa nisso e nas outras coisas que vossa
primeira carta contém. Por isso vos suplico fiqueis tranquilo quanto a isso, como
também no que diz respeito ao negócio da Barbaria. Quanto a esta, não vos direi outra
coisa, a não ser que nosso pensamento não exclui, nem faz coisa alguma contra as
Ordens da Redenção e dos Maturinos. Estamos apenas vendo se existe algum meio de
a pequena Companhia fazer uma espécie de missão de tempos em tempos entre esses
pobres escravos.
Para isso, tomaríamos como pretexto, a fim de viabilizar a primeira tentativa, o
resgate que tentaríamos fazer de um pequeno número de escravos. A
Providência parece chamar-nos para isso e para nos sentir em dívida com dezoito que
perderam a fé. Sobre esses dezoito, prometi mandar partir o Padre du Coudray dentro de
cinco ou seis dias, para Marselha, onde, trabalhando com os forçados, redigirá a minuta
do contrato.
Adoro a Providência Divina sobre o que vós me dizeis, senhor Padre, na segunda
carta, e louvo a Deus por ter o senhor Cardeal de Lenti pensado em um seminário. Ó
O mal estado do original não nos permite ler a palavra que se encontrava neste lugar.
Francisco, Duque de Joyeuse, nascido a 24 de 1562, ocupou sucessivamente as sedes de Narbona (1582-1598), de
Tolosa ( 1598-1605) e de Ruão ( 1605-1615). Foi feito Cardeal a 12 de dezembro de 1583 e tomou posse de seu título
a 7 de janeiro de 1590.
A Ordem da Redenção ou das Mercês foi fundada no século XIII por São Pedro Nolasco para o resgate dos
escravos. O padre João Batista Gonzalez introduziu nela a reforma no fim do século XVI.
A Ordem dos Maturinos remontava ao século XII e tinha por fundadores São João da Mata e São Félix de Valois.
Tirava o seu nome do convento de Paris, construído sobre o terreno de uma antiga capela dedicada a São Maturino.
Chamavam-na de Ordem dos Trinitários. A reforma , começada em 1573, estendeu-se a toda a Ordem por Urbano
VIII em 1635.
Leonor d’Estampes de Valençay.
Félix Vialart, bispo de Châlons, era filho de Madame de Herse, uma das colaboradoras mais generosas e mais
devotadas a São Vicente. Nasceu em Paris a 5 de setembro de 1613. Desde 1640, quando ainda estava nos seus 28
anos, foi escolhido como sucessor de Henrique Clausse para a sede de Châlon. Fundou um seminário, reformou o
clero, organizou as Missões, socorreu aos necessitados. Mas, como Nicolau Pavillon, deixou-se contaminar pelas
ideias jansenistas. Foi isto uma mancha incômoda num episcopado tão pleno e tão fecundo. Félix Vialart morreu a 10
de junho de 1680 (Cf. La vie de Messire Félix Vialart de Herse, Utrecht, 1738, in-16).
senhor Padre, quanto bem a fazer, se aprouver a Deus abençoar esta boa obra!
Acabamos de enviar esta manhã dois seminaristas em missão, na Champanha, e amanhã
ou depois enviaremos sete ou oito, em dois grupos. Os que voltaram, há pouco, de lá,
trabalharam muito bem e os que enviamos aos senhores Bispos de Reims e de Chalons
para serem seus auxiliares se portam igualmente muito bem. Meu Deus, senhor Padre,
como estou contente com vos ver trabalhando no meio dos pastores e dos incuráveis!
Penso que fazeis bem em dar assistência aos ordinandos. Todos reconhecem aqui que o
bem que se faz hoje em Paris provém principalmente disso.
Estava a ponto de vos enviar os senhores Padres Blatiron e Brunet. Mas como
me dizeis que não vos envie ninguém, si anona non sit duplicata (se os recursos não
forem duplicados), destinei o primeiro para Saintes e o segundo para outro lugar. Ainda
não temos o contrato de vossa fundação. Dão-nos esperança de recebê-lo dentro de três
dias e posso vos garantir que não perco tempo em solicitá-lo. Logo que o obtivermos,
trataremos de deduzir o que vos é devido. Pago, entretanto, as trinta e sete pistolas que
me dizeis ter tomado de empréstimo, além das cem que pagamos e as que vos disse que
podeis obter com o senhor Marchand, que são outras cem.
Meu Deus, senhor Padre, como me sinto consolado por vos ter dado Nosso
Senhor esses dois bons eclesiásticos italianos! Suplico-vos, senhor Padre, dizer ao Padre
Boulier e a eles que os abraço prostrado em espírito a seus pés, e que vou agora celebrar
a Santa Missa a fim de que praza a Deus torná-los segundo seu coração. Será bom,
como me dizeis, formá-los na vida interior. Sem isto uma pessoa bem cedo acaba vendo
logo chegar ao fim o seu fervor.
Saúdo também o resto da comunidade prostrado igualmente em espírito a seus
pés, e lhes suplico muito humildemente perdoar-me por não poder escrever a todos. Oh!
como tenho necessidade de vossa tolerância e da tolerância deles! Eu vo-las peço,
senhor Padre, com toda a humildade e afeto que me é possível, e recomendo a vossas
orações um retiro que espero começar pelo final da próxima semana, assim como a
revisão de nossas pequenas regras comuns que vos enviarei depois.
Não posso agradecer-vos tão humilde e afetuosamente como gostaria, pelo fato
de me dizerdes que estais pronto a abandonar vossos pensamentos sobre as coisas que
me comunicais. Podeis estar seguro, senhor Padre, que não decidimos nem executamos
nada senão depois de muitas comunicações e trocas de ideias com pessoas de insigne
piedade. Permaneceremos sempre do clero secular, com a ajuda de Deus, e na
disposição de servidores devotados em relação aos nossos senhores Prelados.
O que vos disse outrora das...
Sou, no seu amor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
Do resto da frase é possível discernir apenas certas palavras isoladas, como convenientes, espero, Deus, que será o
elo de.
Destinatário: Ao senhor Padre Codoing, superior dos Padres da Missão de
Roma, em Roma.
Senhor Padre,
L. de M.
Fevereiro de 1643.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
.
Carta 642. – C. aut. – Dossiê de Turim, original.
Um rasgão subtraiu o destinatário da carta. O conteúdo indica que ela foi dirigida a um padre da casa de Annecy,
muito provavelmente a Pedro Escart, que recebe em outras cartas conselhos semelhantes aos que o Santo dá aqui.
Linguagem do silogismo da lógica aristotélica, o qual consta de uma proposição chamada maior (ex.: Todo homem
é mortal), de outra chamada menor (ex.: Pedro é homem) e de uma conclusão (ex.: Logo, Pedro é mortal). N. do T..
São Francisco de Sales.
Jean Guérin acabava de substituir Francisco Dufestel.
643. – PADRE PIERRE FOURNIER1 A SÃO VICENTE
Nancy, 1643.
Vossa caridade é tão grande que todo mundo a ela recorre. Todos vos
consideram aqui como o asilo dos pobres aflitos. Por isso vários se apresentam a mim
para encaminhá-los a vós, e assim possam sentir os efeitos de vossa bondade. Aqui
estão dois cuja virtude e qualidade excitarão com razão vosso coração caridoso a
assisti-los.
Senhor Padre,
99
Jean Candelou, nascido em Fabrezan (Aude), recebido em São Lázaro a seis de abril de 1640, com a idade de 23
anos.
1010
Os Padres Du Coudray, Candelou, Boucher e Brunet se entregaram ao trabalho logo ao chegar a Marselha, em
colaboração com oito padres da congregação do padre d’Authier. A seis de março, o senhor bispo Dom Gault já
podia escrever à Duquesa de Aiguillon: “foi a vinda desses senhores padres que me determinou totalmente a decidir
esta missão, que talvez eu tivesse adiado para outro tempo. Não vos posso dizer, Madame, quantas bênçãos estes
pobres forçados invocam sobre aqueles que lhes proporcionaram um socorro tão salutar...”. Como as galeras
deveriam logo partir de Marselha, o bispo acrescentava aos missionários alguns Jesuítas e Oratorianos. A missão
durou vinte dias. Havia três padres em cada navio. Dom Gault se distinguia entre todos pelo seu zelo. Ele ia de galera
em galera pregando, catequizando, confessando, tendo para todos uma palavra de consolação. Todos os forçados
católicos cumpriram seus deveres, exceto cinco ou seis. Houve batismos de turcos, abjurações de hereges, inúmeras
conversões. “As galeras mudaram tanto, escreve Belsunce (L’antiquité de l’Église de Marseille et la succesion de ses
évêques, Marselha, 1747-1751, 3 vol. In-4º, t. III, p. 411), que as compararam a claustros”. ( Ver Saint Vincent de
Paul et ses oeuvres à Marseille por H. Simard, Lião, 1894, in-8º, p. 60-67; Abelly op. cit., 1. II, cap. I. sec. II, §4, PP.
35-38)
pobres galés, e deste modo conquistar o direito de ficar por lá e comportando-se à
maneira dos que vieram do Canadá 1111. Não podemos encontrar meio mais eficaz para
mostrar a beleza e a santidade da Igreja católica do que o da hospitalidade exercida para
com os doentes. Rogo-vos recomendar isso a Deus sem fazer comentários a respeito.
Saúdo a comunidade, prostrado em espírito aos seus pés, e sou, senhor Padre,
vosso muito humilde servo.
Vicente de Paulo
i.p. da Missão
O pensamento que Nosso Senhor nos deu de não trabalhar nas cidades não foi
nunca para excluir delas as missões, se bem me lembro, mas somente de nelas não
pregar, nem catequizar ou confessar, de modo ordinário em nossas missões ou em
outras ocasiões, a fim de ficarmos livres e prontos para o povo pobre. Vós o fizestes
assim.
1643.
1111
Foi ainda graças à iniciativa inteligente e à caridade generosa da Duquesa de Aiguillon que o Hospital Geral de
Québec foi fundado. As Ursulinas e as hospitaleiras francesas serviam nele. Elas tinham conquistado as simpatias dos
indígenas por, sua dedicação para com os doentes e seu heroísmo por ocasião de uma epidemia ( Histoire de l’Hôtel-
Dieu de Québec [por irmã Francisca Suchereau de Saint-Ignace], Montauban, 1751, in-12).
.
Carta 645. – Abelly, op. cit., 1. II. Cap. XI. Sec.I, 1ª Ed., p. 382.
646. – A JEAN MARTIN1
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
Creio ter havido algum impedimento, pois que Madame de Lamoignon não me
enviou sua carroça. Isto me faz suplicar-vos humildemente, senhor Padre, não falar da
dúvida sobre aquilo que dei às Irmãs quando de sua partida, porque me permaneceu
.
Carta 646. – O texto desta carta foi tirado de um fac-símile, publicado em The autograph Souvenir de Netherclift,
Londres, 1865. O original foi posto à venda pela casa Charavay, a 3 de fevereiro de 1845. Pertencia em 1865 ao
senhor O’Callaghan.
11
Jovem padre de 25 anos, nascido (Charente-Inférieure), recebido na Congregação da Missão a 20 de maio de 1643.
Não confundi-lo com um outro Jean Martin, que foi muito tempo superior da casa de Turim.
22
Juliano Guérin.
33
Jacques Raoul.
44
Palavras apagadas no original.
Carta 647. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
sempre no espírito ter- lhes dado cinquenta escudos, e porque não me veio ao
pensamento outra coisa se não a incerteza do que elas tinham. Suplico-vos
humildemente que só isso seja levado em conta. Era minha intenção dizer-vos diante
das damas, como sou obrigada, e de me declarar, senhor Padre, vossa muito humilde e
muito indigna filha e serva,
L. de M.
Destinatário: Ao senhor Padre Vicente.
Senhor Padre,
L. de M.
Destinatário: Para entregar ao próprio Padre Vicente.
1643.
.
Carta 648. – C. aut.– Dossiê das Filhas da Caridade, original.
.
Carta 649. – Abelly, op. cit. 1. II, cap. II, sec. I, 1ª ed., p. 214.
650. – A BERNARDO CODOING, SUPERIOR EM ROMA
27 de fevereiro de 1643.
10 de março de 1643.
Ó senhor Padre, como peço a Deus de coração por vós e por todos os vossos, a
fim de que praza a sua divina bondade fazer que não tenhais senão um só coração e uma
só alma! A caridade é o cimento que liga as comunidades a Deus e as pessoas entre si,
de tal maneira que, quem contribui para a união dos corações de uma companhia, a liga
indissoluvelmente a Deus. Praza a sua infinita bondade animar-vos com o amor que ele
tem para com isso!
.
Carta 650. – Reg. 2, pp. 29 e 267.
11
Jean Bagot, da Companhia de Jesus, nasceu em Rennes a 2 de julho de 1591 e morreu aos 23 de agosto de 1664.
Dirigiu o colégio de Clermont e foi por pouco tempo confessor de Luís XIV. O piedoso e célebre Boudon o
considerava como um dos homens mais santos e sábios do seu século. Devemos a Jean Bagot várias obras de
teologia. A mais famosa é a Défense du droit episcopal et de la liberté des fidèles touchant les messes et les
confessions d’obligation, Paris, 1655, in-8º, que foi censurado a 7 de abril de 1657 pela Assembleia do clero da
França (ver La vie des Saints de Bretagne por dom Lobinau, ed. Tresvaux, Paris, 1836-1839, 6 vol. In-8º, t. II, pp.
344-350).
.
Carta 651. – Reg. 2, p. 34.
652. – A FRANCISCO DUFESTEL
10 de março de 1643.
Vicente de Paulo fala de cinco religiosos prontos para embarcar nas galeras para
o resgate dos cativos.
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 652. – O senhor Charavay registra esta carta em um de seus catálogos. Diz-nos que São Vicente escreveu de
próprio punho as três páginas in-4º que a compõem.
.
Carta 653. – Dossiê da Missão, cópia tirada do original na casa do abade Eglée, cônego titular de Notre-Dame de
Paris. O original era da mão de São Vicente.
11
Tempo durante o qual funcionou a obra das Damas da Caridade de Lorena.
.
Carta 654. – Tivemos sob nossos olhos apenas uma cópia muito imperfeita, tirada do original do senhor Charavay.
dizeis nas duas e em especial por terdes tido a felicidade de prestar reverência ao senhor
Cardeal Lenti e por tudo que S. E. vos disse, como também por terdes começado o
seminário para os diáconos e os subdiáconos que o senhor Cardeal Lenti vos enviou.
Dir-vos-ei que entrevejo os frutos que me dizeis poderão dele provir, se aprouver a
Deus abençoá-lo, como lhe peço com todo o meu coração, e lhe ofereço todas as
palpitações deste meu coração como outras tantas orações jaculatórias a lhe pedirem
sem cessar esta graça.
Quanto ao negócio de Saint-Yves, não vejo muita coisa a se esperar no presente,
por causa da oposição que fazem os Padres do Oratório a respeito de Saint-Louis 1, pelo
seu padre Geral2, confessor do senhor irmão do rei3, ao qual a pessoa a quem falei disso4
não quer desagradar. Não direis isto a ninguém no mundo. Veremos com o tempo.
Mostrei vossas cartas, como faço de ordinário, à Madame vossa fundadora 5.
Quando houver alguma coisa de particular, dir-me-eis por meio de um bilhete à parte.
Eis a resposta à segunda carta. Ela me fala longamente de Saint-Yves e de
alguma missão na Bretanha. Só posso dizer-vos o que vos disse sobre este assunto, a
saber, que a pessoa a quem falei disso se afasta de mim por esse motivo, e que temos
alguns bretões em nosso seminário, se a coisa fosse urgente. Fora disso, omnia tempus
habent ( cada coisa tem o seu tempo).
Sou inteiramente a favor de vosso parecer, senhor Padre, que é preciso
consagrar-nos decididamente aos seminários. Com isto as missões terão mais êxito.
Somos obrigados a ir começar o de Cahors6 depois da Páscoa, e os senhores Bispos de
Mende7 e o de Angoulême8 nos pressionam no sentido de pregar missão em suas
dioceses ao mesmo tempo, o que nos é impossível se Deus não nos ajudar. Estamos
mandando a todos que dispõem de meios para isso que paguem a pensão. Estão dando
duzentas libras, ou ao menos oitenta escudos. Penso como vós que é preciso agir desse
modo em toda parte.
No primeiro dia disponível escreverei ao Padre Soufliers o que me dizeis em
relação a Agen9. Esperarei o que a Madame Duquesa1010 me disser sobre o seminário de
Richelieu e os ordinandos de Poitiers.
11
A confraria de São Luís dos Franceses, em Roma.
22
Francisco Bourgoing, predecessor de São Vicente na paróquia de Clichy.
33
Gastão, Duque de Orleans.
44
Provavelmente o Conde de Brienne.
55
A Duquesas de Aiguillon.
66
O contrato de fundação fora assinado no dia 4 de janeiro precedente. O pessoal da casa de Cahors deveria
compreender logo de início três padres e dois irmãos com o encargo de pregar missões, instruir os clérigos da diocese
que se apresentassem, manter gratuitamente três seminaristas escolhidos pelo Bispo e receber durante dez dias para os
exercícios espirituais, na época das ordenações, os clérigos chamados às ordens sacras. O Bispo de Cahors dava-lhes
por pensão as rendas dos priorados de la Vaurette e Balaguier e prometia acrescentar logo oitocentas libras, com a
condição de que, na ocasião do aumento, viesse um quarto padre ajuntar-se aos outros três e que o número dos
clérigos admitidos nos seminários, a título gratuito, passasse de três para seis. Os três padres da Missão prometidos
chegaram a Cahors a 12 de junho de 1643. O senhor Padre Adriano Foissac escreveu a história deste estabelecimento
(Le premier grand séminaire de Cahors et les prêtres de la Mission, Cahors, 1911, in-8º). Nós nos inspiraremos
frequentemente em seu trabalho, que está bem documentado.
77
Sylvestre de Crusy (1628-1659).
88
Jacques du Perron (1637-1646).
99
Ou antes para La Rose, na diocese de Agen. O Padre Soufliers era superior da casa erigida nesta localidade.
1010
A Duquesa de Aiguillon.
Folgo com o que me dizeis, a saber, que o Papa 1111 [admite] 1212 a união das
paróquias ao seminário, pagando a componenda 1313. O senhor Bispo de Saintes 1414 me
pede isso pela carta que dele recebi ontem. Explicai-me, entretanto, por favor, a
condição de que me falais– o pagamento da componenda– a quanto monta e também
se estas paróquias são dirigidas pelos padres do seminário.
Não tenho a honra de conhecer o Senhor de Vanury. Levarei em consideração,
entretanto, a proposta que me apresentais a respeito dele. Quanto à paróquia do senhor
Cardeal Lenti, se tivermos coirmãos disponíveis e suposto que ela esteja em alguma
cidade pequena, in nomine Domini, seria preciso pensar nisso. Mas se puderdes
suspender a negociação, tereis a oportunidade, entretanto, de ver e me comunicar o
estado do local, o número dos comungantes e quantas pessoas poderia isso inquietar,
depois de pregardes missão no referido lugar.
Quanto à dispensa do voto eu vos devolvi a que me enviaste, e comuniquei que
esta boa alma tem apenas cerca de trinta e seis anos1515. Quanto à doença que a
constrange a comer carne, trata-se de um enfraquecimento da natureza em virtude de
uma contínua agitação do seu espírito e das preocupações que os negócios lhe causaram.
Suplico-vos, senhor Padre, empenhar-vos nisso.
A absolvição ou a dispensa que se vos pedia em favor do herege convertido, que
foi um cátaro1616, será solicitada em Roma por ele mesmo; e já partiu para lá.
Mandarei refazer e assinar pelo padre Callon a carta que deve escrever ao senhor
Abade de Aumale1717. Se o negócio de Saint-Yves avançasse, nós lhe mandaríamos
escrever por intermédio de pessoas de importância. Se este negócio se concluir,
suprimiríeis a alma da coisa, omitindo o assunto do seminário. O que se dirá em razão
da mudança deste rumo?
Já que o irmão do Irmão Martinho vos é útil e pensais fazer dele um bom rapaz,
in nomine Domini, ficai com ele.
Trataremos de obter a carta do Cardeal Mazarino na maneira como pedis, e vos
enviarei o livro latino dos ordinandos por meio do Padre Dehorgny, que espero mandar
partir na Páscoa para ir visitar as pobres e pequenas famílias de Nosso Senhor.
Pensaremos no que me dizeis, isto é, ser conveniente que o Geral tenha a
faculdade de aplicar os bens de uma casa em outra. Procurai o parecer dele, se isto é de
desejar-se e se há algum precedente.
Mandarei redigir de ora em diante os memoriais em latim, antes de vos solicitar
que obtenhais o que eles deverão conter.
Eis as palavras da senhora do voto, relativas à sua indisposição: esta
enfermidade é antes uma fraqueza e delicadeza de temperamento, que impede esta
1111
Urbano VIII.
1212
O texto da cópia em francês traz o verbo “admire”– admira – em vez de [admet]– admite.
1313
Pagamento ao Papa por favores obtidos dele.
1414
Jacques Raoul de la Guibourgère.
1515
Ver carta 633, nota geral.
1616
Nome trazido, desde os primeiros séculos da Igreja, por várias espécies de hereges e ultimamente pelos puritanos,
seita protestante da Inglaterra.
1717
Edmundo ou Amado du Broc du Nozet.
mulher de poder fazer seis dias seguidos de jejum, sem ficar doente de uma enfermidade
particular.
Comunicar-me-eis, por favor, o nome da paróquia de Vannes da qual me falais,
para que eu possa cuidar de estabelecer lá um seminário.
Resta-me agora responder ao que me falais a respeito de M... 1818 e, a seu
respeito, da tolerância com os díscolos1919. Que faríeis, senhor Padre, de uma pessoa
que tivesse feito o possível, desde alguns anos, para afastar da casa todos aqueles que
conheceu, e que efetivamente desencaminhou quatro ou cinco dos mais capazes de
servir e triunfou em um ano sobre os melhores da Companhia; uma pessoa, cujo
espírito, se não está inteiramente corrompido, está muito transtornado; faz o que pode
para conseguir seus intentos, não somente com palavras mas também por escrito, em se
tratando de ausentes? Eis o que ele diz a um senhor... 2020: “Ainda está no cueiro2121?
Não pensa mais no que lhe disse, isto é, que se ele levantar o estandarte, eu baterei o
tambor por toda parte? E tais e tais não tomarão partido? E vós, [senhor Padre], quereis
que vos envie tecido dessa região para fazer um capuz para os vossos votos (que ele fez
a seis ou sete anos)?”. E em seguida lhe comunica os defeitos corporais das mulheres da
região, que a maior parte dos homens entram na igreja pelo claustro e que as mulheres
são tão feias que ele não teve dificuldade para fazer um sinal da cruz e espantar a
tentação. Escreve isso, do lugar onde pregou missão, a um outro que está a 150 léguas
longe dele.
Que faríeis vós... pois ele tem ainda... desde que saiu, e causou tal divisão na
família de... que foi preciso contratar novos servidores2222 e tudo isso no momento em
que ele me dava as maiores esperanças. Ó senhor Padre, Deus nos guarde de vo-lo
enviar e a vós de o receber! Ele arrasaria logo vosso estabelecimento ou o transtornaria
muito.
Vós me dizeis que é preciso suportar essas pessoas, neste começo em que a
Companhia precisa tanto de pessoal e que depois de algum tempo poder-se-ia limpá-la.
É verdade, senhor Padre, que a Companhia precisa de pessoal. Mas é melhor ter menos
gente do que ter muitos desordeiros e difíceis, com tal procedimento. Dez bons farão
mais para Deus do que cem deste teor. Limpemos, senhor Padre, limpemos a
Companhia dessas pessoas profanas que não são agradáveis aos olhos de Deus, e ele a
aumentará e abençoará. Querendo Deus fazer perecer cerca de três mil homens que
tinham adorado o bezerro de ouro e querendo Moisés impedi-lo com suas preces, Deus
lhe respondeu: Dimite me ut irascatur furor meus contra eos faciamque te in gentem
magnam2323 (Deixai-me acender meu furor contra eles e eu farei de ti um grande povo).
Assim, senhor Padre, diminuir o número dos que ofendem a Deus numa Companhia é
aumentar a mesma Companhia, em virtude e em número, uma vez que as pessoas
procuram as Companhias virtuosas e com boa ordem. Oh! Nosso Senhor sabia bem o
1818
O copista não soube ler o nome.
1919
Díscolo, pessoa com quem é difícil conviver (desordeiro, insubordinado, brigão, dissidente etc).
2020
O nome estava provavelmente rabiscado no original.
2121
A expressão francesa “avoir encore le béguin” que traduzimos por “ainda está no cueiro”, se diz de uma pessoa
inexperiente ou ignorante como uma criança.
2222
O copista ficou embaraçado para ler esta frase.
2323
Ex 32,10.
que dizia quando falava que malum pecus inficit omne pecus2424!(uma ovelha
contaminada corrompe todo o rebanho). Basta um homem como esse, senhor Padre,
para perturbar uma Companhia. A dos Mathurinos reformados está numa desolação
extrema e ameaçada de extinção, ou total ou parcial, por causa de um espírito profano,
desordeiro e incorrigível, cheio de artifícios2525!
Rogo a Deus, senhor Padre, esclareça e ilumine vosso entendimento para
compreender a importância que há para a glória de Deus, para a santificação da
Companhia e para o bem da Igreja, não toleremos nela pessoas que não agem bem, pois
chegaria um tempo em que não o poderíamos fazer, quando o quiséssemos.
Sim, mas ele se mandará e se porá a escrever e causar estragos à Companhia. –
Ele não nos fará maior mal do que o que Deus permitir que nos faça, e o mal que nos
fizer se transformará em bem para nós. Depois, não seríamos indignos de servir a Deus
em nossa condição, se, para impedir que uma pessoa nos faça mal, aceitemos que ela
transtorne o serviço e a glória de Deus entre nós? Lembrai-vos, senhor Padre, que a
decadência da maior parte das comunidades é devida à apatia dos superiores em manter
a devida firmeza, e por não limpá-las dos desordeiros e incorrigíveis.
Termino recomendando-me a vossas fervorosas preces e às da comunidade e
sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
Indigno padre da Missão..
Senhor Padre,
2424
São Vicente se equivoca. Esta sentença não é de Nosso Senhor, nem mesmo está na Sagrada Escritura.
2525
O Santo tem provavelmente em vista Alexis Berger, um dos principais cabeças da oposição ao Geral dos
Maturinos, Luís Petit. Sobre as desordens escandalosas de que esta Congregação dava então um triste espetáculo,
encontram-se detalhes instrutivos em Paul Deslandres, L’Ordre des Trinitaires pour le rachat des captifs, Tolosa,
1903, 2 vol. In-8º, t. I, p. 244 e seg.
.
Carta 655. – C. aut. – O texto foi tirado diretamente do original em poder do senhor Charavay.
Vicente de Paulo
indigno padre da Missão.
Bendito seja Deus, Senhora, por todas as coisas que me dizeis: o estado de nossa
cara Irmã de Nanteuil2, o que o bom senhor Pároco de Saché 3 vos comunica, a jovem
que a providência vos trouxe e, enfim, o baixo sentimento que Nosso Senhor vos dá de
vós mesma!
Não é conveniente que enviemos alguém daqui para Nanteuil. Basta que nossa
cara Irmã Elisabeth vá até lá, se lhe for cômodo.
Vede o uso que fez nossa digna Madre de Chantal dos impropérios 4 que lhe
assacou uma jovem egressa. Oh! como sois feliz de ter a ocasião de mostrar ao céu e à
terra o uso que fazeis dessa injúria! Não é justo que reconheçais o bom Deus na pessoa
desta jovem que ele vos enviou, por algum ato notável de aceitação do seu beneplácito
tal como neste caso?
Agradecei a Deus também pelo sentimento que vos dá de vós mesma e tende
confiança que sua bondade suprirá a minha ausência. Entregai-vos a ele para isso.
Falaremos disso no primeiro encontro e trataremos desta jovem que eu saúdo como
saúdo também a Luísa.
Se não estou enganado, estais certa em vossa conduta para com o vosso filho.
Não tenho mais nenhuma febre. Tenho motivo para temer que eu não banque um
pouco demais o delicado neste resfriado.
Sou obrigado a sair amanhã para estar com a rainha em Val-de-Grâce5, depois do
almoço. Feito isto, retiro-me para minha toca e me reservarei para estar convosco
quando estiver totalmente pronto para sair. Estive convosco e com vossas filhas hoje,
.
Carta 656. – Dossiê da Missão, original.
11
Ver nota 2.
22
Jeanne Dalmagne, então em Nanteuil-le-Haudouin, onde acabava de cair doente. Ao receber a carta de São
Vicente, Luísa de Marillac comunicou à doente que lhe enviaria a Irmã Elisabeth Martin: “nossa Irmã Elisabeth irá
vos assegurar da afeição de todas as nossas Irmãs e do desejo que vos lembreis delas no céu, quando Deus vos tiver
feito misericórdia” (Carta 97). Jeanne Dalmagne não chegara a esse ponto. “Irei embora daqui convosco”, disse ela
ao ver a Irmã Elisabeth. De fato, recobrou as forças e ficou logo em condição de ser transportada numa liteira até
Paris. Ela foi definhando ainda até cerca de um ano e morreu a 25 de março de 1644.
33
O Padre Mondion.
44
Impropérios– em francês impropères– censuras injuriosas.
55
Antiga residência de Petit-Bourbon. Ana d’Áustria tinha levado para lá as Beneditinas de Bièvre, que ela ia visitar
frequentemente e cumulava de generosas doações. A seu desejo, o próprio Luís XIV lançou , a 01 de abril de 1645, a
primeira pedra fundamental da igreja. Legou-lhes o seu coração e as relíquias do seu oratório.
em espírito, na Santa Missa, com a consolação que Nosso Senhor sabe, em cujo amor
sou v. s.
V. D.
Vicente de Paulo.
Destinatária: A Senhora Le Gras.
.
Carta 657. – C. aut. – Original na casa central das Filhas da Caridade do Rio de Janeiro.
11
Pensamos que a frase relativa a Michel Le Gras não pode ter sido escrita antes de 1638 ou depois de 1649.
22
Lc 9,50
33
Provavelmente o pároco de Saint- Laurent, Padre Lestocq.
44
Perto de Corbeil (Seine-et-Oise).
.
Carta 658. – C. aut. – Dossiê da Missão, original. Esta carta foi reproduzida em numerosos exemplares pela
iniciativa de uma loja maçônica, com este cabeçalho: “Cartas e peças autógrafas de São Vicente de Paulo, da qual a
R de seus discípulos ordenou a litografia em dupla expedição, uma em fac-símile, a outra em escrita cursiva, depois
da doação que lhe foi feita dela pelo f Le Bouillé de São Gervásio. Paris, 19 de julho de 1823”. Este trabalho
contém um formigueiro de pecados de leitura.
Recebi vossa carta do dia 10 do mês passado com as do senhor Vigário Geral de
Óstia, do senhor Marchand e do Senhor de Luzarches. Como resposta, vos direi que vos
enviei uma procuração para comprar uma casa e nos comprometer com o pagamento da
renda de seis mil escudos. Pensar em ter uma de sessenta mil libras, como vos
aconselham, ó Jesus, não estamos em condição disso, senhor Padre. As sessenta mil
libras de que me falais são destinadas, pelo falecido S. E. 1, para Richelieu, e nem os
executores testamentários, nem os herdeiros consentirão jamais seja esta soma desviada
para outro lugar ou para outro fim.
Embora o Padre Blatiron estivesse em Richelieu, não deixei de lhe comunicar
que parta para Lyon, a 3 de maio, onde o Padre Dehorgny, que irá vos visitar, o tomará
consigo, assim como ao Padre Brunet, em Marselha 2. Ele vos levará os dois e trará de
volta o Padre Germano.
Entreguei a Madame Duquesa de Aiguillon as cartas que lhe escrevestes, assim
como as que me escrevestes. Estive com ela ontem e não... 3 sobre isso. Temo muito que
o estado dos negócios não leve o rei a se apoderar daquela soma. Fique isso entre nós!
Quando digo daquela soma, estou falando do dinheiro que S. E. deixou. Dominus
providebit (O Senhor Deus cuidará).
O extraordinário embaraço em que me encontro me impede de dar resposta a
todos esses senhores. Espero fazê-lo ao Vigário Geral de Dom Lenti e a esses outros
senhores.
Já vos disse muitas vezes que o negócio da Barbária 4 não se faz às nossas custas,
nem o de Cahors.
Desejo que vosso estabelecimento não seja luxuoso, nem ostensivo. As obras de
Deus não se fazem desta maneira, ao contrário das do mundo.
Se puderdes desfazer-vos, sem que se note, da proposta de receber este bom
senhor em vossa casa, fareis bem. Pensava ter-vos dito que é preciso ter por máxima
não se imiscuir em tais compromissos com outras pessoas, seja qual for o pretexto,
porque raramente é possível manter a caridade nesses casos, não tanto por causa dos
patrões, quanto por causa dos empregados.
Se o projeto dos Vescovandi5 tiver êxito, será um grande negócio. Os que foram
elevados aqui a esta dignidade chamam a atenção entre os outros prelados, de tal sorte
que todo mundo, até o rei, notam que são diferentes. É o que levou Sua Majestade a me
comunicar por seu confessor6 que eu lhe envie a lista dos que me parecem capazes deste
ministério7.
11
O Cardeal de Richelieu.
22
Ele trabalhava nas galeras com o padre Francisco du Coudray.
33
Segue uma palavra ilegível no original.
44
Ver carta 639.
55
Os que devem ser elevados ao episcopado.
66
Jacques Dinet, jesuíta. Ele tinha substituído, junto ao rei, no mês de março, seu coirmão o Padre Sirmond, cuja
surdez o colocara na necessidade de renunciar às suas funções. Nascido em Moulins em 1580, recebido na
Companhia de Jesus em 1604, o Padre Dinet desempenhou sucessivamente as funções de reitor em Orleans, Tours,
Reims, Paris e se tornou provincial da França e da Champanha. Morreu de hidropisia a 22 de dezembro de 1653,
alguns meses depois de ter sido nomeado confessor de Luís XIV.
77
Eis em que termos o Padre Dinet fala deste fato em Idée d’une belle mort ou d’une mort chrétienne dans le récit de
la fin heureuse de Louis XIII, Paris, 1656, in-fº, p. 14: “Como algumas dioceses estavam vacantes e ele tinha intenção
de provê-las com homens dignos, encarregou-me de pensar nisso e de me comunicar a respeito com pessoas
Eis, senhor Padre, o que vos tenho a dizer no presente. Sou, no amor de Nosso
Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
Os negócios públicos que me têm ocupado desde alguns dias, durante os quais
me encontro afastado da visita de minha diocese, me tiraram a ocasião de me
comunicar com vossos missionários até na sexta-feira em que eles se deram ao trabalho
de vir a Mercuès1. E isso me impede de falar convosco sobre eles. Dir-vos-ei somente
que eles promoveram o retiro dos ordinandos que eu admiti às ordens no sábado, na
hora de costume, com grande fruto e edificação de toda a cidade. O Padre Dufestel,
com o qual me entretive, me parece um homem reto, com grandes qualidades. Ele me
declarou, o que já vos disse várias vezes, que este estabelecimento era um dos mais
importantes que tendes e que possivelmente tereis no reino da França2.
Meu encarregado de negócios me comunica que os de Santa Genoveva, por
intermédio da Madame, esposa do Chanceler, conseguiram passar para o Senhor de
Fouquet a relatoria da questão, contrariando dois decretos pelos quais o Senhor de La
Ferté continuaria como relator deste negócio que me é muito caro, como sabeis. Por
essa razão, vos suplico, em nome de Deus, continuar para conosco vossa assistência
assim como em favor de nossos bons religiosos, etc.
Soube que o senhor Bispo de Sarlat3 continua sendo preceptor do rei, o que sem
dúvida é um ofício bastante aquém de sua dignidade. Enquanto isso, sua diocese, uma
das mais perdidas da cristandade, fica abandonada. Prestaríeis um grande serviço a
inteligentes e zelosas pelos interesses de Deus, jesuítas ou não, e particularmente com o reverendo Padre Vicente de
Paulo, Superior Geral da Missão, e de lhe oferecer uma lista, na qual seriam relacionados de acordo com a capacidade
e o mérito”. Ver ainda Abelly, op. cit. 1. I, cap. XXVII, p.125. O fato era muito recente, quando São Vicente escrevia
esta carta.
.
Carta 659. – Arquivo da diocese de Cahors, caderno, cópia. Este caderno contém quarenta e quatro cartas de Alain
de Solminihac a São Vicente, copiadas no século XVIII, antes do envio dos originais para Roma, por ocasião do
processo dos escritos do santo Bispo de Cahors. Agradecemos aqui ao senhor Cônego Albe, que consentiu
generosamente em no-lo informar.
11
Hoje centro adminitrativo de um cantão nos arredores de Cahors.
22
Os primeiros seminaristas chegaram dia 15 de junho de 1643, três dias depois dos padres da Missão. Eles se
estabeleceram em la Chantrerie, casa do cabido da catedral, que servia de morada para o bispo em 1791 e foi
demolida no século XIX.
33
Jean de Lingendes. Ocupou a sede de Sarlat de 1642 a 1650.
Deus, se aceitásseis dizer uma palavra sobre isso ao senhor Bispo de Beauvais 4, para
mandar dar-lhe ordem de vir cumprir sua obrigação. Do contrário, que se faça outra
provisão deste bispado. A diocese de Périgueux está também numa grande desolação e
parece que não vai demorar muito a ficar vacante 5. Rogo-vos também, se julgardes
conveniente, dar a entender a Sua Eminência que é muito importante se providencie
uma pessoa que tenha todas as qualidades requeridas, para colocá-la à frente de uma
diocese de tal importância, muito arruinada. Há muito tempo tinha falado ao senhor
Cardeal6 para colocar lá o Padre Brandon7, que me parecia apto para reformá-la. E o
Senhor des Noyers me dera esperança, em minha última viagem à corte, de que isso se
realizaria.
Sou, etc.
Senhor Padre,
33
1 Co 1,27
44
Luís Messier, nascido em Paris em 1573. Foi pároco da paróquia Saint-Landry de setembro de 1598 até o mês de
abril de 1664, decano da faculdade de teologia, sênior da casa e sociedade da Sorbona. Morreu a 15 de novembro de
1666. Deixou-se levar pelas ideias jansenistas. Luís Messier, seu irmão, era arcediago de Beauvais.
senhor Cardeal Barbarin5 e da resolução que tomastes a respeito da paróquia da diocese
do senhor Cardeal Lenti. Meu Deus! senhor Padre, como estou com vergonha por não
lhe ter escrito e nem ter respondido a seu Vigário Geral! O embaraço em que me
encontro, desde há algum tempo, e minha indesculpável miséria mo impediram.
Aprouve a Deus dispor de nosso bondoso rei no dia em que ele nascera, há trinta
e três anos. Sua Majestade (Luís XIII) desejou que eu o assistisse em sua morte
juntamente com os senhores Bispos de Lisieux 6 e de Meaux, seu primeiro capelão 7,
assim como o R. P. Dinet, seu confessor8. Desde que estou neste mundo, jamais vi uma
pessoa morrendo mais cristãmente. Há cerca de quinze dias, mandou recomendar-me
fosse estar com ele. Como tivesse melhorado no dia seguinte, voltei para casa. Tornou a
me chamar, há três dias, durante os quais Nosso Senhor me deu a graça de permanecer
junto dele. Nunca vi maior elevação de espírito a Deus, mais tranquilidade, maior temor
das menores sombras de pecado, mais bondade, mais clarividência de juízo em uma
pessoa desta condição. Anteontem, os médicos, vendo-o em sono torporoso e de olhos
virados, temeram que fosse morrer e o disseram ao padre confessor. Este o acordou logo
e lhe disse que os médicos julgavam ter chegado a hora de fazer a recomendação de sua
alma a Deus. Imediatamente, este espírito, cheio do de Deus, abraçou terna e
longamente este bom padre e lhe agradeceu a boa notícia que lhe dera. Logo depois,
elevando os olhos e os braços para o céu, rezou o Te Deum laudamus (Nós te louvamos,
Senhor) e o terminou com tanto fervor que só a lembrança disso me enternece
profundamente, na hora mesmo em que vos falo9.
Como o sino me chama e me impede de falar mais sobre ele, termino
recomendando-o às vossas orações e às da comunidade.
Podeis dizer ao R. P. assistente dos jesuítas1010 que o R. P. Dinet fez tanto bem
ao lado deste príncipe, que Sua Majestade e toda a corte ficaram muito edificados. Ó
senhor Padre, como esse Reverendo Padre é um grande servo de Deus!
Sua Majestade doou seu coração a esta santa Companhia para ser sepultado em
São Luís1111 com o da rainha-mãe. Quanto a mim, eu vos dou o meu, eu que sou, no
55
Já dissemos que o Sacro Colégio contava três cardeais com este nome, um irmão e dois sobrinhos de Urbano VIII,
a saber: Francisco Antônio, Cardeal de Saint-Onuphre; Antônio, comumente conhecido pelo nome de Cardeal
Antônio, e Francisco. Trata-se provavelmente deste último, Francisco Barberini, nascido em Florença em 1597, feito
Cardeal pouco depois da elevação do seu tio, legado a latere na França, depois, no começo de 1626, na Espanha.
Refugiou-se na França com seus irmãos, quando Inocêncio X quis exigir deles a prestação de contas das dilapidações
de que se tornaram culpados sob Papado de Urbano VIII, e recebeu a mais cordial hospitalidade, embora se tenha
mostrado, durante a vida de seu tio, mais favorável aos interesses da Espanha do que aos da França.
66
Felipe Cospéan.
77
Domingos Séguier.
88
Eis o que diz o Reverendo Padre Dinet a respeito da presença do Santo junto do príncipe moribundo (Op. cit. P.44):
“O Padre Vicente veio também por duas vezes, conforme o desejo da rainha, manifestado ao rei. Mas este grande
príncipe não consentiu, a não ser com a condição de que seu confessor não fizesse objeção, de tal modo mantinha ele
o seu espírito presente a tudo que se passava em torno. Essa excelente princesa foi tão bondosa que quis dar-se ao
trabalho de me comunicar isso todas as vezes. Eu ficava cheio de admiração e me sentia obrigado a não somente
render-lhe meus agradecimentos, como também muito humildemente pedir-lhe as suas graças.”
99
O piedoso monarca deixou em testamento para o Santo 24.000 libras em favor de uma fundação de duas missões
que seis missionários deveriam pregar cada ano, durante dez anos, na cidade de Sedan. Colocou, além disso, a sua
disposição e à do R. P. Dinet a soma de 46.000 libras, 40.000 para serem empregadas em favor dos pobres do campo,
parte em missões, parte em esmolas, e 6.000 para o regaste dos escravos franceses cativos na Argélia.
1010
O Padre Estêvão Charlet, assistente da França (1627-1646).
1111
Casa professa dos padres jesuítas. O estado de deterioração da igreja Saint-Paul fez com que o serviço paroquial
fosse transferido em 1802 para as igrejas dos jesuítas, que tomou então o nome de igreja Saint-Paul - Saint-Louis.
amor de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe, senhor Padre, vosso muito humilde e
obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão..
Vieram dizer-me que a Madame Duquesa não assinou o contrato e que não está
em condição de assiná-lo, por alguns dias.
João Batista Gault, bispo de Marselha2, acaba de entregar sua bela alma a Deus.
“Falta-nos ainda uma missão a pregar em uma galera, não mais para este ano. O
trabalho é grande. Mas o que nos ajuda muito a suportá-lo é a transformação notável
observada nesses pobres forçados, o que nos dá a maior satisfação possível. Ontem eu
dava catecismo para sete turcos de diversas galeras, que mandei vir para aqui. Deus,
por sua misericórdia, queira abençoar este trabalho, que eu recomendo a vossos santos
sacrifícios. Um outro turco doente foi batizado na galera. Além desses turcos,
converteram-se cerca de trinta hereges que fizeram abjuração.”
Senhor Padre,
.
Carta 661. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. I, sec. II, § 4, 1º ed.
11
Ver nota 2.
22
Nasceu em Tours, a 26 de dezembro de 1593. Foi recebido no Oratório a 10 de junho de 1618. Foi sucessivamente
professor, missionário, pároco e foi sagrado Bispo de Marselha a 05 de outubro de 1642. Chegou a esta cidade em
janeiro de 1643 e nela morreu a 23 de maio, depois de ter dado, neste curto lapso de tempo, mil provas de santidade e
zelo apostólico. Os milagres se multiplicaram a tal ponto em seu túmulo que a Assembleia do Clero da França pediu
para ele, em 1646, as honras da Beatificação. O processo canônico, interrompido com as turbulências da revolução,
foi retomado no século XIX (La Vie de Messire J. B. Gault, pelo Padre Francisco Marchetty, Paris, 1650, in-4º).
.
Carta 662. – Pémartin, op. cit., t. I, p. 454, 1. 391. Pémartin tirou o seu texto do original, posto à venda por
Charavay a 27 de abril de 1864.
Recebi ontem a dispensa dos votos1 e vossa carta que a acompanhava. Agradeço-
vos muito humildemente.
Admiro-me por não me comunicardes que recebestes a procuração que vos
enviei para comprar parceladamente a casa em que morais 2, nem a que vos escrevi
depois para comprar também por meio de renda anual e perpétua, na razão de duzentas
libras, o edifício de que me falais. A Duquesa de Aiguillon é de parecer favorável a este
último. Tendes razão em adiar os exercícios das Têmporas 3 para os ordinandos até que
possais comprá-lo, pois que não tendes capela, nem outros espaços necessários. Tome,
portanto, providência, senhor Padre. Eu ratificarei o que fizerdes.
O senhor Cardeal Mazarino me prometeu escrever ao senhor Cardeal Ginetti 4, e
hoje espero estar com o senhor Chavigny em função da carta do rei para Roma. Amanhã
estarei com o senhor Núncio5. A Madame Duquesa escrever-lhe-á também.
Nosso negócio das cinco mil libras não foi ainda assinado6. Será assinado, espero
eu, proximamente.
Aí está o padre Dehorgny convosco. Dir-lhe-eis, por favor, que o Padre Le
Bègue me falou que os superiores de sua Companhia 7 lhe escreveram que desejariam
fosse o Padre Authier coadjutor do Superior Geral e que entrassem em acordo ou
mesmo lhe dessem a direção de suas casas. Excluo a primeira proposta, por varias
razões, e também a segunda, a não ser com a condição de que o Superior Geral mande
visitar todos os anos essas casas, constitua nelas superiores e transfira as pessoas, se não
acharem melhor que ele seja um dos assistentes do Geral. Uma palavra sobre o parecer
dele e sobre o vosso, por favor, a respeito disso.
Termino saudando-vos aos dois com toda humildade e afeição que me é
possível, prostrado em espírito aos vossos pés. Sou no amor de Nosso Senhor...
11
Para a pessoa de que se trata na carta 594.
22
No começo de sua permanência em Roma, Bernardo Codoing morava numa pequena casa em Pont-Sixte, onde
talvez ainda estivesse em 1643.
33
Trata-se dos três dias de orações e abstinência prescritos pela Igreja nas quartas, sextas e sábados da primeira
semana de cada estação.
44
Martio Ginetti, nomeado Cardeal a 19 de janeiro de 1626, posteriormente legado em Ferrara, legado a latere na
Alemanha, Bispo de Albano, de Sabine, de Porto, Cardeal-vigário, falecido como subdecano do Sacro Colégio, a 01
de março de 1671, com a idade de 86 anos.
55
Jerônimo Grimaldi, Arcebispo de Selêucia.
66
Ver carta 660.
77
A Congregação de Cristóvão d’Authier de Sisgau.
.
Carta 663. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. I, sec. II, § 4, 1ºed., p.30.
Deus lhes concede aos trabalhos. Não posso dar-vos graças proporcionais às dívidas
de gratidão.
1643.
.
Carta 665. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. II, sec. V, 1ºed., p. 235.
.
Carta 666. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. II, sec. V, 1ºed., p. 235.
parte. Mas agora que a Conferência sentiu-lhe os vantajosos efeitos, ela os estima e os
encarece a tal ponto que ela não encontra palavras para vos exprimir os próprios
sentimentos.
1643.
Senhor Padre,
.
Carta 667. – Abelly, op. cit., 1.II, cap. II, sec. V, 1ºed., p. 235.
.
Carta 668. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
Madame Pelletier acaba de sair daqui. Veio dizer-me que o senhor Abade
Buzay era coadjutor do senhor Arcebispo e que logo pensou em meu filho. Sem nada
1
dizer-me, falou dele ao R. Padre Emanuel 2. Ele disse a ela para saber de mim se eu
gostaria que o apresentasse para servir ao referido senhor Buzay, não sei se como
esmoler, ou numa outra função mais apropriada a ele. Ora, como isso não veio de mim,
de modo algum, pensei, senhor Padre, que eu não deveria deixar de tomar a liberdade
de vos perguntar como me conduzir nesse caso. Se o julgardes viável, suplico-vos muito
humildemente fazer-nos a caridade de nos ajudar nisso. Creio que, se meu filho, tivesse
alguma tendência para a melancolia, que seria, a meu ver, a causa de suas aflições,
estas últimas desapareceriam. Ele sempre me pareceu ter temor de Deus e vontade de
cumprir fielmente o que lhe for confiado. Se quiserdes que tenha a honra de vos falar
sobre este assunto, praza a vossa caridade dar-se ao trabalho de me comunicar, e crer-
me senhor Padre, vossa muito grata filha e serva,
L. de M.
08 de junho de [1643 ]. 3
Senhor Padre,
1
Francisco Paulo de Gondi, abade de Buzay, filho de Felipe Emanuel de Gondi, general das Galeras, e de Francisca
Margarida de Silly, foi nomeado, a 13 de junho de 1643, coadjutor de seu tio, João Francisco de Gondi, Arcebispo de
Paris, e sagrado a 31 de janeiro de 1644. Embora tivesse tomado parte ativa nas turbulências da Fronda, a rainha, sem
dúvida, para conquistá-lo, obteve-lhe a 19 de fevereiro de 1652, o chapéu cardinalício. Mazarino, descontente com
sua influência e suas manobras, mandou prendê-lo na prisão de Vincennes. Feito Arcebispo de Paris com a morte de
seu tio e consequentemente tornando-se mais perigoso para o primeiro ministro, o Cardeal de Retz foi transferido
para o castelo de Nantes, donde ele fugiu e foi para a Espanha e depois para a Itália. Em Roma, os Padres da Missão,
sob a ordem do soberano Pontífice, lhe deram hospitalidade em sua casa. Faltou pouco para Mazarino fazer cair sobre
São Vicente e a sua Congregação todo o peso de sua cólera. Com o advento de Alexandre VII, que lhe era menos
favorável do que Inocêncio X, o Cardeal de Retz deixou Roma e empreendeu uma longa viagem pelo Condado
Francês, pela Alemanha, pela Bélgica e pela Holanda. A morte de Mazarino abriu-lhe as portas de sua pátria. Voltou
para a França em 1662, renunciou ao arcebispado de Paris e recebeu em troca a Abadia de Saint-Denis. A idade e
aprovação o tornaram mais ajuizado. Ninguém reconheceria o prelado ambicioso, leviano e irrequieto que tinha
sublevado Paris e feito tremer o poderoso Mazarino, no homem tranquilo, aplicado, caridoso de costume simples,
solícito por fazer economia a fim de poder pagar seus numerosos credores, até mesmo piedoso durante os quatro
últimos anos de sua vida. Morreu a 24 de agosto de 1679. Como escritor, o Cardeal de Retz é conhecido sobretudo
por suas Mémoires.
22
O R. P. Felipe Emanuel de Gondi, do Oratório, pai do abade de Buzay.
33
Data acrescentada no dorso do original.
.
Carta 669. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Luísa Goulas, esposa de Pierre Sublet, Senhor de Romilly, Conselheiro do rei e tesoureiro geral das guerras.
22
Pierre Séguier.
fez, e de avisá-las por quem farão redigir o alvará e quem deve apresentá-lo, o senhor
Chanceler ou Madame de Brienne4.
O senhor Chanceler ofereceu também às referidas damas expedir um decreto,
para que se sirvam de uma parte da soma das crianças pobres em favor de suas
necessidades presentes. Poderíeis dizer-lhes, por obséquio, qual soma pedir?
As mesmas damas temem que Madame de Lamoignon tenha estragado tudo,
falando ao Senhor de Nesmond5, e vos suplicam falar prontamente disso à rainha, com
temor de que Sua Majestade seja prevenida por algum outro, e vos lembrar de mostrar-
lhe que o povo terá como grande gratificação a diminuição que o rei fará sobre o porte
de grãos, conforme Madame Romilly já vos disse.
Disse ao Padre Portail que vossa caridade pediu-nos deixássemos a assembleia
para o domingo. Ele houve por bem vos propor o assunto: a importância de observar o
que está no diretório da maneira de viver das Filhas da Caridade, fazendo a leitura
dele6. Parece-me muito importante preveni-las de que um bom meio de se habituar à
prática do diretório é que cada irmã das paróquias, e uma de cada casa, façam um
relatório sobre isso em todas as assembleias, todas ou uma parte delas cada vez.
Também, senhor Padre, se julgardes conveniente, nos fareis a caridade em cada
conferência de nos ministrar instrução sobre um ou dois pontos de nosso modo de vida.
Se quiserdes que todas nós façamos oração pela assembleia, poderia vossa caridade
determinar-lhe os pontos, para que os enviemos às nossas irmãs, alertando-as para
isso? Irei amanhã, bem cedo, saber o que for de vosso agrado dizer-me sobre todos
esses assuntos.
Permiti-me suplicar-vos vos lembreis no santo altar das minhas necessidades,
especialmente do que me torna tão criminosa diante de Deus, que me impede de ter
total confiança na sua santíssima providência e me torna indigna de me declarar,
senhor Padre, vossa filha, embora por sua bondade eu seja vossa gratíssima serva.
L. de M.
12 de junho [1643 ]. 7
33
O que Luísa de Marillac chama de castelo de Bicêtre era um vasto edifício construído por Luís XIII no local do
antigo castelo real, para dar asilo aos oficiais e aos soldados inválidos. Depois da morte do monarca, o projeto foi
abandonado e o edifício ficou vazio.
44
Luísa de Béon, filha de Bernardo de Béon, intendente de Saintonge, de Angoulême e da região de Aunis, e de
Luísa de Luxembourg-Brienne, esposa de Henrique Augusto de Loménie, Conde de Brienne, secretário de estado.
Era uma dama da Caridade muito devotada a São Vicente e a suas obras. Morreu a 2 de setembro de 1665.
55
Francisco Teodoro de Nesmond, Senhor de Saint-Dyzan, presidente, com barrete de magistrado, no Parlamento de
Paris, desde 20 de dezembro de 1636. Tornou-se depois superintendente da casa do príncipe de Condé, primeiro
presidente do Parlamento e morreu a 25 de novembro de 1664 com a idade de sessenta e seis anos. Do seu casamento
com Ana de Lamoignon, irmã do célebre magistrado, teve quatro filhos e uma filha. Um de seus filhos ocupou a sede
episcopal de Bayeux.
66
São Vicente fez sua conferência a 14 de junho, sobre o assunto proposto por Antônio Portail.
77
Data acrescentada no dorso do original.
.
Carta 670. – C. aut. – Arquivo do seminário de São Sulpício, original.
[Paris, junho de 16431]
Senhor Padre,
Rogo a Nosso Senhor que viva em vós para o triunfo da Igreja sobre o cinismo
do século.
Esqueci-me ontem de vos falar sobre o principal assunto que me levou até vós:
fazer-vos algumas queixas sobre o maior escândalo acontecido na Igreja de Deus desde
há muito tempo. Trata-se de um pároco2 que, perto de Paris, foi açoitado e ferido a
pauladas pelo senhor de sua aldeia3, na presença de seus paroquianos e na porta da
igreja com a maior infâmia e humilhação possível para o estado eclesiástico 4. O
pároco é uma pessoa de grande integridade e igual capacidade, que tem testemunhos
muito autênticos de uma e outra coisa, e que merece ser apoiado por sua pessoa como
pelo seu caráter.
Penso, senhor Padre, que nesta abordagem da regência da rainha, se ela quiser
obrigar este cavalheiro a uma satisfação pública ou infligir-lhe uma punição temporal,
ela repararia muito a autoridade da Igreja e reprimiria muita ousadia e insolência que
a nobreza costuma exercer contra a Igreja, desprezando e violando impunemente todos
os seus direitos como num tempo de libertinagem e de reinado da impiedade. Pedi
ontem ao senhor Bispo de Puy5, que teve a bondade de vir estar comigo, falasse disso
ao senhor Bispo de Beauvais6, para providenciar remédio para este mal que se tornou
público e de que a corte já está ciente. Ela espera somente as ordens de Sua Majestade
para dar a conhecer o empenho que ela tem em punir esta espécie de crime.
Este bom padre não pode facilmente coligir as provas para acionar a justiça,
porque o senhor está presente no lugar, e isto intimida os espectadores do ultraje.
Alguns vieram estar comigo em segredo para me perguntar se deveriam depor em
justiça o que sabiam sobre tal atentado que lhes causara tanta comiseração. Animei-os
a cumprir com seu dever, como também ao senhor pároco. Ele ainda estava lívido e
fora solicitado, por sua vez, a não levar o caso para frente. Teme uma previsível
punição que ele não poderia evitar neste santo reino de piedade. Pessoas de grande
peso e de altíssimo mérito, que ouviram falar do que aconteceu, se manifestaram no
sentido de que este bom padre não deveria intimidar-se nem calar-se. Está em jogo o
interesse universal da Igreja. Viria muito a propósito que, no advento da regência da
rainha, pudessem todos presenciar um castigo público e uma punição exemplar de um
sacrilégio tão odiento, a fim de devolver a paz e a tranquilidade para a Igreja, neste
11
Ver nota 4.
22
Gervásio Bigeon, pároco de Arcueil, doutor em teologia.
33
Teodoro de Berziau.
44
Por ter impedido o juiz senhorial de presidir a prestação de contas de seus tesoureiros, Gervásio Bigeon recebeu de
Teodoro de Berziau, a 30 de maio de 1643, dez ou doze cacetadas, que o feriram na cabeça, e esporadas que lhe
rasgaram as vestes. A questão foi levada ao Parlamento e atraiu a atenção da Assembleia do Clero que dirigiu à
rainha, em 1645, severas advertências.
55
Henrique de Maupas, Bispo de Puy e primeiro capelão da rainha.
66
Agostinho Potier, Bispo de Beauvais, capelão-mor de Ana d’Áustria.
assunto, por todo o resto de sua regência e redimir a Igreja do vexame e da opressão
em que vivem os párocos, nas regiões afastadas da corte, onde os padres não têm boca
para se queixarem e só parecem ter ombros para sofrer.
Todos os senhores bispos têm grande interesse nisso e sentem, pelos seus
párocos, um frêmito de indignação diante desta opressão, sem lhe poder dar remédio.
Sabeis disso melhor do que todos, vós que fostes testemunha ocular de todos esses
males, no ministério das missões no campo. Frequentemente Deus despertou em vosso
coração gemidos de compaixão diante desses males, assim como o desejo de lhes dar
remédio, se vos fosse possível. Ele agora coloca em vossas mãos a autoridade para
fazê-lo7. Senhor Padre, o que não teríeis feito naquele tempo quando esses males vos
eram tão sensíveis? O que não gostaríeis de fazer, tendo agora o poder que Deus vos
dá, do qual podeis tão eficazmente utilizar para a glória de Deus e para o bem da
Igreja? O grande mestre e sapientíssimo senhor dos conselhos quis fazê-lo passar por
tudo isso, para vos tornar mais sensível aos males do seu clero e aos seus gemidos, sob
a opressão em que se encontra. Onde está o homem, dizíeis vós, capaz de nos libertar?
Onde está aquele a quem Deus dará este zelo e esta autoridade? Debuit per omnia
nobis assimilari ut misericors fieret8 (Convinha em tudo tornar-se semelhante a nós
para se tornar misericordioso). Nosso Senhor passou por isso. Padeceu na
enfermidade, para ter compaixão de nós. Em sua glória e em seu reino, assentado à
direita de Deus, lembra-se de nossas misérias e nos assiste com sua proteção, sua força
e sua graça.
É o que vos pede, senhor Padre, a Igreja, a porção mais humilde do clero, a
saber, os párocos, e sobre tudo, eu, de mãos postas em favor deles, eu que tenho a
honra de ser um de seus coirmãos. Sofro com eles e, por vossa graça, estive em muitas
regiões, de tal sorte que pude tomar conhecimento dos sofrimentos e dos males que
padecem, longe de Paris. Lanço-me a vossos pés, com esse bom pároco, e vos peço a
graça, agora que estais livre das cadeias em que estamos cativos: lembrai-vos de nós,
quando estiverdes em vosso reino. Utilizo-me dos termos da Escritura e daqueles desses
pobres cativos diante de José, o qual, por sua fidelidade, mereceu com justiça chegar
onde estais, para a redenção do povo, para o sustento de seus irmãos, e para a grande
alegria e glória de seu pai Jacó.
Espero tudo isso de vossa pessoa, a saber: o alívio da Igreja, a liberdade dos
padres e a maior glória de Deus Pai, no qual sou, por Jesus Cristo Nosso Senhor, vosso
muito humilde e muito obediente servo9,
Olier.
77
São Vicente acabava de ser nomeado pela rainha membro do Conselho de Consciência.
88
Hb 2,17.
99
Apesar das prementes diligências de São Vicente, nenhuma sansão foi aplicada até 1646. A pedido da Assembleia
do Clero de França, o Arcebispo de Paris infligiu a Teodoro de Berziau as penas canônicas ( Processos verbais da
assembleia de 1645, 29 de dezembro de 1645, 09 de fevereiro, 03 de março, 14, 18,19 e 20 de abril e 1646).
671. – SYLVESTRE DE CRUSY DE MARCILLAC, BISPO DE MENDE, A SÃO
VICENTE
1643.
Senhor Padre,
.
Carta 671. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 3, 1ºed., p. 31.
11
A missão foi realizada depois da Páscoa (Cf. carta 654).
.
Carta 672. – C. aut. – Original na biblioteca minicipal de Lille, ms 986, fº 750.
Jamais fui tão digno de compaixão e tive mais necessidade de orações do que
agora, no meu novo ministério1. Espero não o seja por longo tempo. Rogai a Deus por
mim.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde servo.
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
Vistes, por uma de minhas cartas, que vos escreveram sobre o negócio de la
Vaurette sem que eu o soubesse e sem necessidade1. Fiquei muito aborrecido, pois não
quero recorrer a vós a não ser quando se tratar de algo que não poderíamos resolver
sem vós. Pelo contrário, gostaria de aliviar-vos com todo o meu possível. O Padre
Dufestel acertou com o senhor intendente no sentido de obter-lhe assistência. Disto é
que precisamos. Com efeito, em se tratando de direito, Delom não tem nenhum.
Suplico-vos não me queirais jamais em Paris, pois ela é para mim pior que um
purgatório. Se soubésseis da necessidade de minha presença em minha diocese, não me
aconselharíeis jamais ausentar-me dela. Ousaria dizer-vos que essa presença é de
algum modo útil para o serviço do Rei; pelo menos o tem sido até o momento, por
causa da desordem de Villefranche2, na qual sem mim esta região teria caído.
De resto, permiti-me dizer-vos que fiquei extremamente surpreso por ter visto
em vossa carta que tínheis apresentado uma petição à Rainha, escrita e assinada de
vosso próprio punho, no interesse do primeiro canonicato vacante, quando do feliz
advento do Rei à coroa, em favor de um oficial meu. Foi por acaso possível fazer isso
11
Depois da morte do rei Luís XIII, a rainha Ana d’Áustria tinha instituído, como um ministério dos negócios
eclesiásticos, um Conselho de Consciência cuja presidência ela se reservara e para o qual chamara o Cardeal
Mazarino, o Chanceler Séguier, os bispos de Beauvais e de Lisieux, Jacques Charton, penitenciário-mor de Paris, e
Vicente de Paulo. Este último teria sido colocado como coordenador do conselho, no dizer de Madame de Motteville
(Memórias de Madame de Motteville, ed. Riaux, Paris, 1855, 4 vol. In-8º, t. I, p. 167) e de um outro escritor
assinalado por Collet (op. cit., t. I, p. 365, nota), que duvida não sem motivo, da exatidão do fato. Os biógrafos do
Santo nos disseram com que desinteresse ele cumpriu suas honrosas funções, quão grande foi o bem que daí resultou
para o clero da França e que força de caráter lhe foi preciso para opor os direitos da justiça e o interesse da religião
aos caprichos de Mazarino, que atendia com muita frequência apenas ao seu interesse político. Cansado das
resistências que encontrava no seio do conselho, o poderoso ministro acabou por não mais reuni-lo a não ser em raras
ocasiões e com intenção de excluir o Santo que não fazia mais parte dele no fim de 1652. O pouco que nos resta da
correspondência do Santo com o Cardeal nos mostra que, durante os dez anos que durou sua função, Vicente de Paulo
não negligenciou ocasião alguma de afastar os indignos do episcopado e dos benefícios, e de trabalhar para a
manutenção da fé e da disciplina.
.
Carta 673. – Arquivo da diocese de Cahors, caderno, cópia.
11
A união ao seminário do priorado secular de Notre-Dame de Lugan ou de la Vaurette, em Bas-Quercy, remontava a
6 de outubro de 1638. Levantaram oposição contra essa medida.
22
Alusão à revolta de camponeses, provocada em 1637 por impostos excessivos.
sem violentar ou até mesmo sem forçar vosso natural, permiti-me vos diga mais:
deveríeis vós ter feito isso? Pela honra de Deus, administrai melhor a afeição da
Rainha por vossa Congregação e por vossos bons amigos. Deixai isso para quando se
tratar de negócios importantes e para os quais os favores e a proteção de Sua
Majestade forem necessários. Temo muito que a consideração para comigo serviu de
motivo para isso. Ficaria muito aborrecido se de fato o fosse. Garanto-vos que, se eu
soubesse que o meu oficial se tivesse servido de meu nome para vos obrigar a isso,
seria um motivo suficiente para dispensá-lo. Por isso vos rogo em nome de Deus que de
ora em diante nada façais, em favor de quem quer que seja, por consideração a minha
pessoa, se não receberdes de minha parte uma carta expressamente para isso.
Espero não sejais importunado por mim, exceto no caso de nossos bons
religiosos, os quais vos recomendo com todo o meu coração. É em favor deles que eu
gostaria de angariar o apoio da Rainha se fosse necessário, e pedir o vosso auxílio, não
para pedir um canonicato. Esta diligência é digna de vós e da piedade da Rainha.
Conjuro-vos, pois, conceder-lhes vossa assistência e ao padre de Recules, deputado
deles, que irá a Paris para esses negócios.
Folgo muito que o Padre Authier chegue até aí para tentar esta união que me
parece desejada por Deus. Asseguro-vos que, se eu pudesse deixar minha diocese, não
haveria motivo mais forte para me levar até aí do que para promovê-la. Entretanto não
sou digno disso. Peço-vos faleis com o senhor Arcebispo de Arles 3 a fim de que, caso
ele tenha alguma dificuldade, ela venha a dissipar-se com o parecer do referido padre.
Vou comunicar ao Padre Authier meus sentimentos a respeito.
Devo dizer-vos que vossos pobres missionários e seminaristas pensaram que
seriam todos imolados em holocausto a Nosso Senhor, no sábado passado: às oito da
noite, pegou fogo num forno de um burguês, contíguo à porta do seminário onde havia
um depósito de treze pilhas de lenha. Ele foi atingido pelas chamas e causou um
fogaréu tão grande durante toda a noite que foi um milagre não ter sido o seminário
reduzido a cinzas. Teria isto acontecido sem os imensos socorros e esforços para deter
o fogo. O senhor Padre Dufestel teve êxito com as medidas tomadas. Mas não foi sem
grande temor pelo qual o pessoal foi recompensado, e sem algum tonel de vinho dado a
beber aos que apagavam as chamas.
Há em nosso seminário quatorze jovens eclesiásticos que se portam bem.
Lamento apenas não estejam eles alojados em lugar mais amplo e próximo de uma
igreja onde exerceriam suas funções. Não podemos remediá-lo no presente e, por isso,
é preciso ter paciência. Peço-vos não me deis resposta quando vos escrevo, a não ser
que haja grande necessidade e que tenhais tempo para isso. Sei muito bem quão pouco
tempo tendes e por esse motivo me compadeço convosco. Reservai-o, portanto, para os
negócios de grande importância, e crede-me, senhor Padre, vosso muito humilde e
muito afeiçoado servo,
Alain,
Bispo de Cahors.
33
Jean Jaubert de Barrault.
674 – A BERNARDO CODOING, SUPERIOR, EM ROMA
10 de julho de 1463.
Senhor Padre,
Já vos falei que o que me escreveis sobre a sede do Superior Geral em Roma
apresenta dificuldades muito grandes. Vedes as dificuldades do lado de lá. Eu as vejo
como vós e mais as de toda a Companhia. Há diferença entre os pontos de vista de um
particular e os de um Superior Geral. O primeiro vê apenas e só considera as coisas que
lhe foram confiadas e tem a graça própria para isso. A bondade de Deus a concede ao
Geral em vista de toda a Companhia. Não é que o particular não veja as mesmas coisas
que o Geral e talvez até mais. Mas a humildade deve levá-lo a desconfiar disso, e o
Geral deve ter a confiança de que, como Deus lhe proporcionou a graça desta vocação,
ele lhe dará a graça de escolher o que for melhor para a Companhia, de modo especial
nas coisas de grande peso em que pensa há muito tempo e pelas quais está rezando. Não
é que ele não possa enganar-se, e que o inferior não possa talvez discernir melhor. Mas
este não deve ter a presunção disso, nem resistir contra o que o Superior Geral pensa ser
melhor diante de Deus. Portanto, não falemos mais sobre isso, senhor Padre, eu vos
peço, mas oremos muito a Deus por isso e nos humilhemos muito. Deus não permitirá
que a coisa deixe de se realizar em seu devido tempo, se o tiver por agradável, como
espero.
Carta 674. – Dossiê dos padres da Missão, cópia tirada do original em poder do senhor Charavay.
.
Carta 675. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Francisco Lefèvre de Caumartin (1618-1652).
A providência de Deus me fez encontrar em Santa Maria do subúrbio como
também aqui no mosteiro da cidade, o primeiro para vós, nossa cara Irmã Maria Cecília 2
e nossa e vossa cara Irmã rodeira3, que diz não haver no mundo superiora comparável a
sua. Meu Deus, minha cara Madre, como isto aumentou a estima e a afeição que, como
sabeis, o bom Deus me deu para convosco! E como esta filha está a ponto de partir e eu
não posso dizer-vos mais alguma coisa sobre isso, termino recomendando-vos orar pelo
número infinito das abominações de minha vida, a fim de que seja do agrado da
misericórdia de Deus ter piedade de mim, que ele fez, por sua graça e no seu amor e no
de toda a vossa santa comunidade, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Não posso deixar de dizer-vos o que vossa Irmã rodeira acaba de me responder.
Eu lhe disse: “Minha Irmã, se eu escrever a nossa Madre que me falastes muito mal
dela, diríeis que eu menti?”– “Sim”, respondeu-me.
Senhor Arcebispo,
Quem vai levar-vos a presente carta tem a honra de falar com a rainha, e quem
vai acompanhá-lo vos dirá algo de particular que vos importa saber, com respeito à
questão de Louviers3. Suplico-vos muito humildemente, senhor Arcebispo, escutá-lo
22
Maria Cecília Baillon.
33
Talvez Maria Catarina Bassecole, a qual, quando da fundação do mosteiro de Amiens, se dispunha a ser a irmã
rodeira.
44
Mosteiro fundado em setembro de 1640. Ana Maria Alméras, irmã de Renato Alméras, era do número das irmãs
fundadoras. Foi colocada, em 1652, à frente da pequena comunidade.
.
Carta 676. – C. aut. – O original pertence às Filhas da Caridade da Rua Caulaincourt, 33, Paris.
11
O nome do destinatário é dado por Gossin (Saint Vincent de Paul peint par ses écrits, p. 480), que teve em mãos o
original quando a folha sobre a qual se encontrava o destinatário ainda não se tinha perdido.
22
Ver nota 3.
33
São Vicente entende falar muito provavelmente das religiosas que renovaram no mosteiro Saint-Louis de Louviers
as desordens de Loudun. O negócio se arrastou de 1643 até 1647. Depois do inquérito canônico feito pela autoridade
diocesana (março de 1643) teve lugar o inquérito dos comissários da corte, confiado a Charles de Montchal, assistido
por Jacques Charton, penitenciário de Paris, Samuel Martineau, doutor em teologia, e o Senhor de Morangis,
Conselheiro do rei, e médicos de Ruão (agosto e setembro de 1643). Depois do relatório dos inquisidores, que era
pesado para os acusados, o Parlamento de Ruão avocou para si o negócio. A principal acusada, Madalena Bavent,
irmã rodeira, fez revelações horríveis sobre as infâmias, os sacrilégios e os atos de magia e de feitiçaria nos quais se
tinham imiscuído várias pessoas com ela, das quais três padres: David, antigo diretor das religiosas, Mathurin Picard,
pároco de Mesnil-Jourdain, e Boullé, vigário deste último. A 21 de agosto de 1647, Boullé foi condenado a ser
sobre isso e permitir seja eu sempre o que Nosso Senhor me deu a graça de ser, a saber,
senhor Arcebispo, vosso muito humilde e obediente servo.
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
No momento da Revolução, contava quinze casas e vinte e seis colégios distribuídos em três províncias, com Casa-
Mãe em Paris.
8,8
Pierre de Bérulle nasceu no castelo de Sérilly, perto de Troyes a 14 de fevereiro de 1575. Pouco depois de sua
ordenação sacerdotal em 1599, foi nomeado capelão do rei. Seu talento nas controvérsias lhe pemitiu reconduzir ao
seio da Igreja vários grandes personagens, entre outros o Conde de Laval, o barão de Salignac e um presidente no
Parlamento de Pau. Foi encarregado pelo rei da honrosa missão de conduzir até a Inglaterra Henriqueta de França,
filha de Henrique IV que ia desposar o príncipe de Galles. Ele estabeleceu os Carmelitas na França em 1603, com a
ajuda de Michel de Marillac, ministro da justiça, e de Madame Acarie, e fundou em 1611 a Congregação do Oratório,
da qual foi o primeiro superior. Sua influência sobre o clero foi considerável. Soube agrupar em torno dele os padres
mais virtuosos e eminentes de Paris. Foi junto dele que São Vicente, desde a sua chegada nessa cidade, foi buscar
ajuda e conselho. Abelly pretende mesmo que ele morou cerca de dois anos em sua casa. Temos, porém, razões para
reduzir estes dois anos a quatro ou cinco meses no máximo. Que São Vicente aceite a paróquia de Clichy, ou entre
como preceptor na família dos Gondi; que ele se retire para longe em Châtillon-les-Dombes, ou que retome o seu
lugar junto do General das galeras, reconhecemos sempre a intervenção de Pierre de Bérulle. Gostaríamos de poder
dizer que suas relações permaneceram sempre as mesmas. Pierre de Bérulle não viu com bons olhos o nascimento da
Congregação da Missão. Esforçou-se mesmo por lhe impedir a aprovação em Roma, como sabemos por uma de suas
cartas ao Padre Bertin. Escreveu-lhe em 1628, falando do novo instituto: “O desígnio que me dizeis ser o daqueles
que solicitam o negócio das missões por diversos caminhos e, a meu ver oblíquos, o devem tornar suspeito e nos
obrigar a sair fora da discrição e da simplicidade na qual estimo a propósito permanecer na conduta dos negócios de
Deus” ( Arquivo da Missão, conforme Arquivo Nacional, M 216, segundo pacote, caderno do P. Bertin, p. 26, onde
não se encontra mais este documento). Pierre de Bérulle era então Cardeal há um ano. Morreu a 02 de outubro de
1629. Sua vida foi escrita pelo P. Cloyseault, da qual o P. Ingold publicou o manuscrito em 1880 na Bibliothèque
Oratorienne, por Tabaraud (Paris, 1817, 2 vol. in-8º), Marquês de Caraccioli (Paris, 1764, in-12) e o abade Houssaye
(Paris, 1874-1875, 3 vol. in-8º).
99
A conselho do Cardeal Tarugy, Arcebispo de Avinhão, o P. Romillion adotou as regras do Oratório de Roma,
depois de sua separação de César de Bus. Seus padres eram então apenas doze. Multiplicaram-se logo a ponto de
chegarem a dirigir nove estabelecimentos. A fusão de sua congregação com o Oratório da França lhe foi pedida pelo
P. de Bérulle. Ele aceitou sob pressão dos seus e os artigos da união foram assinados em Tours a 21 de setembro de
1619.
.
Carta 678. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Respondo a duas de vossas cartas, uma para mim, de quatro de agosto, a outra
para o Padre Lambert, de dez do mesmo mês.
Liquidamos a letra de câmbio de 3.000 libras que sacastes contra nós.
Disse-vos1 e torno a dizer-vos que é preciso suspender a resolução, assim como a
execução da sede do Geral, e isso por razões muito importantes. Peço-vos, senhor
Padre, ficar por aí.
O que me divide ao meio o espírito, no presente, é o ciúme de sua própria
autoridade e a dependência em relação a eles que têm os nossos senhores Prelados, que
dirão e farão a mesma coisa do lado de cá que vós apreendeis do lado de lá. A próxima
congregação resolverá isso. Neste ínterim, oremos a Deus. Se aprouver à justiça de
Deus suportar-me na terra até lá, direi os meus pensamentos sobre isso, se me conceder
o tempo para isso, e os mandarei colocar por escrito.
Entreguemos, entretanto, isso à conduta da sábia Providência de Deus. Tenho
uma devoção especial em segui-la, e a experiência me faz ver que ela faz tudo na
Companhia e que nossas providências o impedem. É neste espírito que jamais fiz ou
disse alguma coisa para nos recomendar, pelo que me consta, e que não me apressarei
no sentido de obter do senhor Arcebispo de Reims 2 a carta para Dom Ingoli, relativa à
bênção que Nosso Senhor concedeu à missão de Sedan3.
Falei ao Senhor de Brienne sobre o negócio de Saint-Yves. Disse-me que fará o
que puder para isso e que procure saber convosco como proceder para trabalhar neste
negócio. Isto não impedirá que penseis nessa pequena igreja paroquial, se tiverdes
algum alojamento anexo. De outra forma, não vejo nisso grande vantagem. A
multiplicidade das casas torna-se um embaraço e ocasião de murmuração. Se a coisa for
necessária, é preciso ir em frente e deixar que falem o que quiserem.
Falei ao senhor Cônego de Saint-Aignan para resignar nas mãos de um particular
da Companhia. Não respondeu nada.
O negócio de Richelieu está parado. Foi-nos necessário fazer muitas concessões,
por causa das grandes dívidas desta sucessão e do humor daqueles com quem tínhamos
que nos entender.
Estarei atento ao que me escreveis sobre o seminário de Agen4. Existe algum
espírito de divisão naquela casa que sempre a perturbou e a perturba no momento, mais
do que nunca. Escrevi ontem ao senhor Padre Soufliers para ir substituir o Padre
Dufestel em Cahors, e ao Padre Dufestel para ficar no lugar dele. As outras casas não
nos deram tanto trabalho.
Rogo-vos, senhor Padre, pedir a Deus por aquela casa e por este miserável
pecador, que abusa tanto de sua misericórdia e que é, no amor de Nosso Senhor, senhor
Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
11
Ver carta 674.
22
Léonor d’Estampes de Valençay.
33
Missão fundada por Luís XIII (Cf. carta 660, nota 10).
44
Ou antes de La Rose, na diocese de Agen.
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Vicente de Paulo.
.
Carta 679. – C. aut. – Original com a Senhora d’Alaincourt, em Cambrai.
11
A carta é posterior à fundação do mosteiro de Saint-Denis (29 de junho de 1639), anterior à morte do Bispo de
Beauvais, Agostinho Potier (20 de junho de 1650), e do tempo em que Helena Angélica Lhuillier era simples irmã do
primeiro mosteiro de Paris (1641-1644).
22
As irmãs da Visitação.
33
Agostinho Potier, membro do Conselho de Consciência.
44
Saint-Germain-en-Laye.
55
Luísa Eugênia de Fonteines.
680. – A BERNARDO CODOING
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Apresentai minhas excusas, por favor, aos senhores Padres Brunet e Blatiron,
pois as dificuldades em que me encontro me impedem de lhes dar resposta. Abraço os
44
O Santo não executara seu projeto de enviá-lo para a Barbaria. Depois de vários meses de trabalhos frutuosos nas
galeras de Marselha, Francisco du Coudray voltara a Paris, onde assinou, a 25 de julho, o contrato de fundação da
casa de Marselha.
55
Eles se faziam denominar por Missionários do Clero.
66
Melchior Mitte de Miolans, Marquês de Saint-Chamont, Senhor de Chevrières. Foi enviado a Roma na qualidade
de embaixador extraordinário e morreu em Paris, a 10 de setembro de 1649.
77
O priorado Saint-Nicolas e Champvant, na diocese de Poitiers, permaneceu unido à Congregação da Missão até a
grande Revolução. Estêvão Blatiron foi o primeiro titular dele. Champvant faz hoje parte da comuna de Chaveignes
(Indre-et-Loire).
88
O Bispo de Toul acabava de morrer e pensavam em dar a sede vacante ao senhor Padre Le Bret.
dois, prostrado em espírito aos seus pés e aos vossos, assim como aos de todos os outros
da comunidade, a cujas preces me recomendo.
Sedan, 1643.
Dir-vos-ei, senhor Padre, que, desde que foi do agrado de Deus constituir a
pequena Companhia da Missão, ela não trabalhou de maneira mais útil e mais
necessária do que o faz aqui2. Os hereges continuam a se edificarem e assistirem às
pregações, das quais se gabam muito. Quanto aos católicos, é preciso trabalhar com
eles como com pessoas totalmente novas. Com efeito, desde há quatro ou cinco anos em
que a pregação é livre nesta cidade, não se falou nela a não ser de controvérsias e
muito pouco de práticas e exercícios de religião e de piedade. Muitos declararam
francamente que não acreditavam fosse necessário confessar todos os pecados. Os
mesmos abusos se cometiam no uso da sagrada comunhão, etc. Desta maneira, foi-nos
preciso começar a instruí-los sobre os princípios elementares da religião. É verdade
que isto não aconteceu sem muita consolação, na medida em que escutavam com prazer
o que se lhes dizia, e o praticavam com fidelidade. Não seriam capazes de admirar
suficientemente a graça que Deus lhes deu, nem como fazer para se tornarem
agradecidos por ela ao ponto que desejavam.
Senhor Padre,
.
Carta 681. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 5, 1ªed., p. 38.
11
Guilherme Gallais, nascido em Plouguenast (Côtes-du-Nord), recebido na Congregação da Missão a 07 de abril de
1639, com a idade de 24 anos, ordenado padre em 1641, admitido aos votos em 1645, superior em Sedan (1643-
1644), em Crécy (1644-1645), em Mans (1645-1647). Era um missionário de grande talento.
22
A 07 de maio de 1643, chegaram a Sedan, conduzidos por Guilherme Gallais, seu superior, quatro padres da
Missão, Jacques Lesage, Evrard Gobert, Jean Alain e F. Firmin. A 08 de setembro, Guilherme Gallais tomava posse
da paróquia. Cedendo-a à Congregação da Missão, Renato Luís de Fiquelmont, abade de Mouzon, que era o
colatário, impusera duas condições: a primeira, que os abades de Mouzon permaneceriam como párocos primitivos de
Sedan e teriam o direito de cantar a missa solene na igreja, duas vezes ao ano, nos dias do seu agrado, com todos os
atributos de honra devidos ao pároco. A segunda, que, se os padres da Missão viessem a se retirar, os abades de
Mouzon recuperariam os direitos de colatários. O contrato de estabelecimento elevava a sete o número de padres e a
dois o de irmãos. Quatro padres deviam atuar nas Soberanias de Sedan, Raucourt e Saint-Manges, para nelas pregar
missões. Aos outros três era confiado o cuidado da paróquia de Sedan.
.
Carta 682. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Recebi e perdi vossa última carta. Eu a recebi há três dias e ela me dá motivo
para render graças a Deus pela bênção que ele concede a vosso retiro e para suplicá-lo
conceda a todos a graça de serem bem fiéis às resoluções tomadas.
Não me lembro do que me dizeis em vossa carta, a não ser que julgais que a
paróquia a vós oferecida não vos convém. Disse-vos várias vezes que fiqueis com a casa
de duas mil libras.
Assinamos ontem a fundação de soma igual feita pela Madame Duquesa de
Aguillon, e hoje julgarão se nos tirarão isso e o resto destas fundações, diante da
instância feita pelo senhor Duque de Bellegarde 1, no sentido de que o rei lhe dê os
coches da França, que ele sustenta pertencer-lhe. Escrevi a respeito ontem à rainha.
Veremos.
O Senhor de Saint-Chamont, que viaja como embaixador para Roma, nos fez a
honra de nos visitar e de nos oferecer sua benevolência e sua proteção. Vós o visitareis
cuidadosamente logo que chegar, o que não acontecerá logo.
O senhor Cardeal Grimaldi voltará bem cedo para Roma. Será bom fazer-lhe a
mesma coisa. Quanto à sede do Geral, há muitas coisas a dizer a respeito do lugar em
que me escreveis seria conveniente que ela se estabelecesse. Nós o veremos.
Espero que me liberem bem cedo para ir ver-vos, se for do agrado de Deus
suportar-me na terra. Falaremos então sobre isso mais profundamente. Importa não dar
mais atenção à união de Saint-Yves. Tememos despertar emulação entre a santa
Congregação do Oratório e a nossa humilde Companhia.
Nada vos direi sobre o bispado de Babilônia. O senhor que me levava a falar
disso, frequentemente, não me diz mais palavra alguma sobre isso.
É preciso não se desligar da espera de solicitação, nem da espera da união do
priorado de Dyé2 que nos oferece o senhor Cônego de Saint-Aignan. Todas as coisas
acontecem no tempo certo e oportuno, não antes e nem depois. Os padres jesuítas, seja
qual for a dificuldade que encontrem lá, para as uniões, não deixam de procurar obter as
resignações aqui.
Pensais vós ter grande dificuldade para a aprovação de nossas regras aí, se nós
vo-las enviarmos?
Não sei donde me vem o impulso que experimento de vos aconselhar a fazer
profissão, como procuro fazer, de não entrar em nenhuma intriga, nem no embaraço de
coisas temporais exteriores. Oh! que exemplo nos deixou Nosso Senhor de uma e outra
coisa! Estou renunciando a toda e qualquer ocupação a não ser o cuidado da Companhia
e das coisas eclesiásticas e religiosas. Ajudai-me, senhor Padre, com vossas orações
para este fim, e alcançar de Deus não me permita fazer coisa alguma a não ser em sua
presença e tendo em vista sua santa vontade. Ó Deus! senhor Padre, peço com empenho
a cada um de vossa pequena comunidade a visita das sete igrejas, por uma vez, a fim de
11
Roger de Saint-Lary, Duque de Bellegarde, antigo favorito de Henrique III e antigo superintendente da casa Gaston,
Duque de Orleans. Comprometido com a revolta de seu senhor, ele o acompanhou ao exílio e voltou com ele para a
França no decorrer do ano de 1634. Resignou em 1639 em favor de Cinq-Mars o seu cargo de escudeiro-mor e
morreu sete anos depois.
22
Localidade do entorno de Tonnerre (Yonne).
que apraza à misericórdia de Deus perdoar-me as abominações da minha vida passada e
da presente e me dê a graça que acabo de pedir-vos lhe solicite em meu favor. Sou, no
amor de Nosso Senhor, e de toda a vossa pequena comunidade, que saúdo prostrado em
espírito a seus pés e aos vossos, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Ajudado por seus Vigários Gerais, trabalha do melhor modo possível para o bem
de sua diocese, “mas com pouco sucesso, por causa do grande e inexplicável número de
padres ignorantes e viciados que compõem o meu clero, e que não podem corrigir-se,
nem por palavras, nem pelos exemplos. Sinto horror quando penso que em minha
diocese há quase sete mil padres beberrões ou impudicos que sobem todos os dias ao
altar e que não têm vocação alguma”.
Os padres da Missão são muito necessários nessa diocese. Com efeito, nos
lugares onde antes trabalharam, não se encontra mais feiticeiro algum, nem feiticeira.
É o fruto dos catecismos e das confissões gerais por toda parte. Colocam o povo em tão
bom estado que o diabo não os pode iludir com sortilégios, como faz com aqueles que
se aviltam na ignorância e no pecado.
.
Carta 683. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. II, sec. I, 1ª ed., p. 214.
.
Carta 684. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 8, 1ª ed., p. 49.
11
Abelly declara que esta carta de Anne de Murviel, morto em 1652, foi escrita alguns anos depois de 1632.
.
Carta 685. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data acrescentada no dorso do original.
Senhor Padre,
Dei esperança a Senhora Viole de que ela poderia falar convosco aqui amanhã,
na hora melhor para vós, e que para isso ela venha já de manhã para voltar só a noite.
Envio-vos uma carta que o senhor Padre Compaing me entregou para que a
vísseis, dizendo-me que conheceis bem esse negócio.
Suplico ao nosso bom Deus dar-vos novas forças e saúde, para a sua glória, e
sou, senhor Padre, vossa muito humilde e grata filha e serva,
L. de M.
Senhor Padre,
Ouso tomar a liberdade, pela glória de Jesus Cristo e pelo serviço de seus
membros, de vos suplicar, se vossa comodidade o permitir, tenha a bondade de vir
estimular nossas damas da Caridade, que se reúnem hoje de modo extraordinário para
refletirem na conveniência de irem elas próprias servir aos pobres e de cumprir o
regulamento da confraria, ao qual até o presente não se tinham submetido. Eu vos
conjuro que não me recuseis esta graça, em nome de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe,
em cujo amor sou, senhor Padre, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Olier.
Carta 686. – C. aut. – Arq. do seminário de São Sulpício, original.
.
Carta 687. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. II, sec. V, 1ª ed., p. 234.
Dezembro de 1643.
Senhor,
.
Carta 688. – C. aut. – Dossiê da Missão, minuta.
11
Jean Bécu, superior da casa de Toul.
22
Charles Chrétien de Gournay, morto a 14 de setembro de 1637.
33
Mestre Domingos Thouvignon.
44
Vignier, barão de Ricey.
depois de ter ouvido os magistrados e os almotacéis da cidade de Toul. O Conselho
dispôs que o rei seria solicitado no sentido de escrever a Sua Santidade para a união
dessa casa ao referido seminário de padres.
4ª, em consequência dessa determinação do Conselho, encaminharam o
requerimento a Roma, onde se trabalha ainda pela referida união, contraditada pelo
Comendador da Ordem do Espírito Santo de Roma5, que pretende ter jurisdição sobre
essa casa.
5ª, neste ínterim, o Conselho achou por bem entregar para um membro da
Missão a provisão da referida comendadoria, tanto pelo rei, quanto pelo dito
6
Comendador de Roma.
6ª, aquele que recebeu a provisão da comendadoria transigiu com os dois
religiosos que restavam na referida casa, a respeito de suas pensões. Desta maneira, eles
consentiram com a união da comendadoria à Congregação da Missão, e esta transação
está registrada no Parlamento de Metz.
7ª, além do direito dos citados religiosos, temos ainda o direito de um que foi
contemplado por aquele que se diz Geral do Espírito Santo na França7.
Eis, prezado senhor, o estado da questão, e o motivo pelo qual nós estamos na
casa Espírito Santo em Toul, e do qual podeis ter conhecimento por outros.
É a resposta às objeções que fizeram contra nós.
Disseram que o Bispo não nos poderia ter introduzido nela, em virtude da regra:
Regularia regularibus et saecularia saecularibus (As coisas religiosas, com os
religiosos, e as coisas seculares, com os seculares).– Respondemos que os cânones
permitem aos bispos colocar padres seculares onde não existem religiosos da Ordem.
Disseram-vos, prezado senhor, que os bens da casa Espírito Santo pertencem aos
pobres e que foi fundada para a assistência aos pobres ...8.
Senhor Padre,
55
O grão-mestre da Ordem do Espírito Santo era então Estêvão Vaius, bispo in partibus de Cirene.
66
Jean Dehorgny.
77
Olivier de la Trau, Senhor de la Terrade.
88
O texto termina aí.
.
Carta 689. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Deffita, advogado do Parlamento de Paris.
22
Omer Talon, nascido em Saint-Quentin, admitido como advogado geral do Parlamento a 15 de novembro de 1631,
falecido a 29 de dezembro de 1652, com a idade de 57 anos. Publicaram suas Mémoires em 1732. Sua vida foi escrita
pelo Abade Hubert Mailfait (Un Magistrat de l’ancien regime: Omer Talon, sa vie et ses oeuvres, Paris, 1902, in-8).
ofertas feitas aos portadores de trigo e que, se aumentar o número dos que deverão
pedi-lo, as crianças perderão esse auxílio.
Madame de Liacourt também me disse, senhor Padre, que vos falasse das
pensões dos monges leigos que percebe cada abadia3, porque desejava propor à rainha
que (essas pensões) passem para os inválidos. Se julgardes que ela não o deve fazer,
procurai, por favor, torná-la ciente disso. E procurai pensar diante de Deus como
poderia eu ser-lhe fiel, como me sinto obrigada a sê-lo, deixando de ter como única
diretiva a minha vontade própria, pois me parece vivê-la em tudo, o que é para mim um
grande obstáculo à realização da vontade de Deus, pela qual sou, senhor Padre, vossa
muito agradecida e indigna filha,
L. de Marillac.
16 de dezembro de [16434].
690. – A UM BISPO
.
Carta 691. – Abelly, op. cit., t. III, cap. XI, sec. IV, p. 142.
11
Resulta do que diz Abelly que esta carta acompanhou de bem perto a carta 690.
22
O Conselho de Consciência.
.
Carta 692. – Abely, op. cit., 1. II, cap. IV, sec. IV, 1ª ed., p. 285.
Este bom religioso1 tem grande necessidade, por diversos motivos que ele vos
poderá dizer, de corrigir sua vida, até aqui bastante desregrada, com prejuízo das
almas que ele tem sob sua conduta. Aconselharam-no a retirar-se para vossa casa,
como a um lugar de segurança para as almas, e de orientação para recolocá-las no
caminho do dever. Peço-vos com muita insistência fazer-lhe a caridade de o receber e
de nada esquecer a respeito de tudo que julgardes próprio para reconquistá-lo para
Deus.
11
Pároco de uma paróquia, membro da Ordem à qual pertencia que escreve a carta.
.
Carta 693. – C. aut. – Dossiê das Filhas da caridade, original.
11
O texto, bastante obscuro, trata, a nosso ver, da mudança de irmãs (filhas), de um lugar para outro, uma questão
administrativa interna que provocava às vezes protesto ou causava descontentamento (Nota do Tradutor).
22
Madame Séguier.
.
Carta 694. – O senhor Charavay faz alusão a esta carta em um de seus catálogos. Diz-nos que está assinada e consta
de uma página in-4º.
11
Esta carta data do tempo em que o Padre Faure era superior da Congregação de Santa Genoveva (1634-1640 e
1643-1644).
.
Carta 695. – Gossin, op. cit., p. 483 e seg., conforme original comunicado pelo Senhor de Monmerqué. O texto foi,
em algumas partes, muito mal lido e sua reconstituição é por vezes bastante difícil.
Senhor Padre,
Bendito seja o nosso bom Deus, por cuja vontade estais doente! Entretanto, ele
quer também que, por seu amor, tenhais com vosso corpo a mesma caridade que teríeis
com o de um pobre. Ouso mesmo afirmar, meu muito honrado Pai, que Deus assim o
quer absolutamente. Aproveitai, pois, esta ocasião, vo-lo peço, e perdoai a excessiva
liberdade que tomo, como interessada pela glória de Deus.
Madames Traversay, Romilly, Fortia e Viole estão muito aflitas com o caso da
senhorita Serquemann e tinham vindo dizer-vos, senhor Padre, que o senhor Lavocat as
havia intimado a comparecer perante a Câmara, aonde também fizera ir a referida
senhorita. Mostrou-se muito contrariado porque seu parecer não fora seguido. Estava
persuadido de que a senhorita tinha razão para se queixar e queria que ela falasse às
aludidas senhoras tudo o que tinha dito somente a ele, em particular.
Em primeiro lugar, disse ela que fora realizado numa carruagem um conselho
de três pessoas, das quais uma éreis vós, senhor Padre, e as outras, as Madames
Traversay e Romilly. Neste conselho, decidistes levar as crianças para o campo e
impedir o senhor Pelletier2 de continuar suas esmolas.
O que as referidas senhoras escutavam, o dito senhor Pelletier escrevia na
presença da senhorita e esperava a resposta, a qual, disse ela, foi também redigida por
escrito. Ela pedia a seu sobrinho para adiar por oito dias a entrega do dinheiro. Isso
não está no que foi escrito.
Ao ser interrogada sobre quem lhe confiara este segredo, a senhorita disse que
fora um anjo, e que o diria ainda, por que éreis apenas três.
O senhor Lavocat disse também às senhoras que, depois de estar convosco,
esteve com o senhor primeiro presidente3 e este lhe disse que não tinha dado crédito a
tudo que lhe tínheis dito e que esta senhorita lhe falara que sabíeis muito bem do
projeto dessas senhoras, embora lhe dissésseis o contrário. E é isto que aborrece o
senhor Lavocat. Ele diz que é preciso não mais falar em levar as crianças e não recusar
as esmolas de que ela dispunha para esse fim.
A senhorita armou um escândalo junto ao senhor Pelletier, dizendo que o
mandará levar as crianças até a porta de sua casa. Dá a entender que lhe prometeram
a fundação, e o senhor presidente, uma hospedaria, mas que as madames impedem esta
boa obra. Queixa-se muito por não terdes querido falar com ela, embora se tenha
encontrado convosco com muita dificuldade, dia de Reis. Queixa-se igualmente de que
o senhor Pelletier recusou-se formalmente a recebê-la e lhe mandou dizer que tinha
destinado cem libras para pagar as mensalidades das crianças que ele mantinha, mas
não pretendia continuar mais. Queixou-se amargamente, dizendo-se muito endividada.
11
Francisco Lavocat, tendo morrido em 1646, as palavras “quinta-feira, 14 de janeiro” limitam nossa escolha aos
anos 1638 e 1644. Os fatos assinalados na carta não se explicariam em 1638, uma vez que as Damas da Caridade só
em 1640 deixaram a direção da creche para a obra dos Meninos Abandonados.
22
Nicolau le Pelletier, sobrinho de Madame Goussault, Senhor de Château-Poissy e de la Houssaye, contador.
Recebeu o hábito eclesiástico depois da morte de sua mulher, Catarina Vialart, e foi ordenado padre a 27 de fevereiro
de 1652. Estava ainda vivo a 26 de julho de 1675.
33
Mateus Molé.
O senhor presidente lhe disse para apresentar um requerimento e que ele o
deferiria. As crianças não sairiam de sua guarda, ainda que isso lhe custasse o mínimo
de três mil libras, como fiança. Essas senhoras creem perdida a reputação da sua
companhia. Afligem-se por vos ver envolvido nessa questão e pedem algum remédio
para este mal.
Esqueci-me de dizer-vos, senhor Padre, que ontem Madame Traversay, vendo-se
forçada a dar alguma satisfação ao senhor Lavocat e para acalmar um pouco a
senhorita, mandou um recado à Senhora Romilly no sentido de dizer ao senhor seu
sobrinho o que o seu anjo da guarda lhe inspirasse. Esta manhã, estando ele à mesa,
ela lhe disse: “Venho dizer-vos que façais pelo negócio da Casa de Caridade tudo que
Deus vos inspirar”. Encarregaram-me também de dizer-vos, senhor Padre, que julgam
necessário um encontro do senhor Lavocat com o senhor Pelletier, na presença de
algumas senhoras da Companhia e da Senhorita Sequermann, a fim de que ele seja
testemunha da vontade do referido benfeitor, o qual há de sustentar-lhe não ter tido
jamais intenção de fazer uma fundação, nem de continuar para sempre com sua
contribuição.
Com isso o senhor Lavocat ficará ciente de que as outras coisas que a senhorita
adiantou são antes fruto do seu desejo do que de um sólido motivo para esperar uma
fundação. Mas é inimaginável o crédito que este bom primeiro presidente dá a esta
mulher. Ele é tal que o senhor Lavocat e as mães da Casa de Caridade são
constrangidos a dizer que precisam dela.
A intenção dessas senhoras, com essas negociações, é fazer com que o senhor
Lavocat possa informar o senhor juiz sobre a verdade nessa questão. Suplicam-vos,
senhor Padre, se puderdes, lhes deis amanhã alguma orientação. Se o senhor Pelletier
não estivesse doente, elas vos proporiam fosse ele mesmo estar com o senhor primeiro
presidente.
Espero que nosso bom Deus possa tirar sua glória desta desagradável situação.
Assim lhe peço com todo o meu coração e também vos conceda saúde para enfrentar
este problema.
Espero outrossim de vossa bondade ser ajudada, fazendo-me participar dos
vossos sofrimentos e santos sacrifícios, visto não ignorardes minhas necessidades.
Sou, senhor Padre, vossa mui grata filha e humilde serva,
Luísa de Marillac.
[Janeiro de 15441].
Senhor Padre,
.
Carta 696. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta tem o seu lugar ao lado da carta 695.
Caso aproveis que o senhor Lavocat vá procurar o senhor Pelletier, conforme
vos disse, suplico-vos humildemente indiqueis as senhoras da Companhia que deveriam
estar presentes. Madames Traversay e Romilly são as que estão mais envolvidas na
questão. Não seria bom fossem algumas outras com elas?
Penso que vosso resfriado se curaria mais depressa se fôsseis deitar um pouco
mais cedo à noite. O excesso de trabalho e o ficar acordado até mais tarde aquecem o
sangue. Peço a Deus que vos manifeste a sua vontade neste particular e nela sou,
senhor Padre, vossa muito humilde filha e grata serva.
A sangria de ontem quase me curou por completo, graças a Deus.
L. de Marillac.
Janeiro de 1644.
Embora eu já vos tenha agradecido pelo envio dos padres, vossos missionários,
para esta diocese, julguei que não deveria deixar ir a carta de nossa pequena
Conferência, sem acompanhá-la com estas demonstrações, apesar de muito fracas, dos
vivos sentimentos de gratidão que tenho pelo grande fruto que esta diocese recebe da
caridade que nos fizestes, dando-nos vossos operários. Minha consolação seria,
contudo, muito imperfeita, senhor Padre, se não completásseis esta felicidade, aliás
passageira, com uma Missão estável e permanente nesta diocese, que dela precisa
muito mais do que outras. Quando souber que estiverdes em condição de nos conceder
este favor, trabalharei aqui a fim de encontrar os meios para fundar este
estabelecimento, do qual espero Deus receberá muita glória, e a Igreja, grandes
benefícios na salvação das almas, que é a única coisa que vos propusestes como fim de
todas as vossas ações.
Senhor Padre,
.
Carta 697. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 8, 1ª ed., p. 51.
.
Carta 698. – Arq. Da diocese de Cahors, caderno, cópia.
Logo que recebi vossa carta, mandei o Padre Dufestel 1 partir. Ele foi se
encontrar com o prior da Abadia de Chancelade, e ambos foram juntos até a Abadia de
Saint-Pardoux2, onde transmitiram as informações, conforme a intenção de Sua
Majestade, e as quais vos envio. Vereis por elas que o que vos dissera é inevitável. A
Rainha fará bem em prover esta casa de uma priora vinda de uma comunidade
devidamente reformada. De outro modo, não se estabelecerá nela jamais, por outro
meio, a regularidade. Vereis como esta jovem religiosa que pedem como coadjutora
não quis nem mesmo dizer sua idade3.
Nosso seminário vai bem, graças a Deus, com grande proveito e edificação de
toda a minha diocese. O Padre Gilles o dirigia bem. Todavia, como é vontade vossa
retirá-lo, todos aqueles que enviardes serão bem vindos. O que tenho a dizer-vos a
respeito é que este seminário é de grande importância, como vos disse várias vezes, a
fim de que coloqueis sempre nele pessoas com as qualidades requeridas para bem
governá-lo.
Eu já tinha sabido, por meio de um dos vossos, da morte de Saint-Cyran e
admirei a providência de Deus por tê-lo levado em meio à borrasca levantada a
respeito dele. Espero que Deus a acalme, embora se encontrem pessoas que fazem
profissão de manter sua doutrina...
Não deixarei de ir ao Pouget 4, de acordo com a ordem da rainha, logo que
estiver em condições de ir a cavalo, pois não estou podendo ir de carruagem.
Entretanto folgaria muito vos aprouvesse levar ao conhecimento de Sua Majestade que
não posso fazer a visita sem as suas ordens a não ser no que diz respeito à clausura,
pois a visita não seria de minha jurisdição. Assim, se Sua Majestade quiser que eu
informe sobre o estado do mosteiro, tenha a bondade de me enviar suas ordens para
isso. Dir-vos-ei de antemão que esta casa se encontra, há muitos anos, em muito má
reputação em toda a diocese e regiões vizinhas e que de tempos em tempos
aconteceram nela grandes escândalos...
Pela primeira vez, é verdade, é necessário trazer uma priora de uma outra casa
reformada. Sua Majestade poderia mandar trazê-la do mosteiro de Cahors, onde a
reforma está bem implantada, motivo de grande satisfação de minha parte.
Eis o que vos posso dizer, de modo geral, dessa casa. Louvo a Deus pelo
desígnio da rainha de prover com bons superiores os mosteiros cuja nomeação depende
de Sua Majestade. Deus a abençoará na medida de seu zelo pelas coisas que se referem
a sua glória e ao seu serviço.
Sou sempre, senhor Padre, etc.
Alain,
11
Superior do seminário de Cahors.
22
Saint-Pardoux-la-Chapelle, hoje sede administrativa de cantão na Dordogne.
33
Catarina Pot de Rhodes, priora do mosteiro das Dominicanas estabelecido em Saint-Pardoux, com a idade de 87
anos, tinha perdido, a 05 de julho de 1643, sua irmã Catarina de Rhodes, que era também sua subpriora. Para garantir
o lugar que esta última ocupava para um membro de sua família, pedira como coadjutora sua sobrinha Gasparde de
Rhodes, religiosa professa do mesmo convento, então com seus 24 anos.
44
Mosteiro das Clarissas, fundado perto de Casteulnau-de-Montratier (Lot) no século XIV pelo legado Bertrand du
Pouget, Cardeal-bispo de Óstia.
Bispo de Cahors.
Estou montando a cavalo para levar aos vossos missionários que trabalham em
Blanzac2 o dinheiro que me mandastes para as necessidades deles. Permiti-me, por
favor, seja de novo importuno convosco, reiterando-vos minhas muito humildes preces
em favor desta pobre e desolada diocese, que vos suplica obreiros estáveis para
socorrê-la em suas necessidades espirituais. Elas são extremas. Contudo, a situação
não é irremediável, se houver pessoas que tenham o zelo e a caridade desinteressada
como os da casa de São Lázaro, para trabalhar com zelo em favor dela. Sei muito bem,
senhor Padre, que a Providência poderá se servir de mil outros meios para isso,
quando for do seu agrado. Mas parece claramente que ela lançou os olhos sobre vós e
que vos escolheu entre vários milhares para socorrer não somente todas as dioceses
pobres do reino, mas principalmente aquelas que parecem estar abandonadas por
todos.
Senhor Padre,
.
Carta 700. – C. aut. – Original na Biblioteca da Sociedade Histórica da Pensilvânia, em Filadélfia, coleção Dreer.
Dizem por aqui que a Companhia não faz nada em Roma. Comunicai-me os seus
trabalhos com os ordinandos e com os retiros espirituais, e qual o número com que
trabalha de ordinário.
O senhor Cônego Le Bret parte dentro de quatro dias. Ele nos prometeu maior
afeição e proteção do que nunca, em especial com relação ao Saint-Esprit de Toul.
Peço-vos ir vê-lo frequentemente e confidencialmente. Há algum projeto envolvendo o
seu nome para aquela diocese1. Mas não digais isto a ninguém, por favor.
Jamais se viu aqui tanta regularidade, tanta união e cordialidade, como no
presente. Parece um pequeno paraíso. Mas a calmaria extraordinária, de ordinário, é
véspera de alguma tempestade.
O senhor Padre de Bolonha2 recusa seu bispado, pela impossibilidade de pagar
vinte e três mil libras que lhe pedem em Roma. Si quid potes, adjuva illum (Se puderdes
algo, ajudai-o).
Não foi do agrado de Deus tenhamos as boas graças do senhor embaixador de
Veneza, que vai residir por algum tempo em Roma. Visitai-o, contudo, com todo o
cuidado.
O senhor Bispo de Beauvais3 nos recusou as dimissórias de Carcireux4 com
dívida para a Companhia. Estou pedindo a Dom Chauvel conceder-lha. Tornar-nos-
emos devedores para com ele.
Abraço com ternura toda a vossa família, desde o último dos irmãos até vós,
prostrado em espíritos aos vossos pés e aos deles e sou vosso muito humilde e muito
obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
11
Ver carta 680, nota 7.
22
Francisco Perrochel.
33
Agostinho Potier.
44
Paulo Carcireux, nascido em Beauvais, entrou na Congregação da Missão a 27 de julho de 1640, com a idade de 20
anos, e fez os votos a 20 de março de 1644. Foi ordenado padre em 1645.
55
Esta palavra resulta, muito provavelmente, de uma distração, pois, nas cartas seguintes, o Santo continua dando a
Bernardo Codoing o título de superior da casa de Roma.
.
Carta 701. – Reg. 2, p. 194.
13 de fevereiro de 1644.
1644.
Estais fazendo o bem por toda a parte e prestais grandes serviços a Deus, à
Igreja e à santa religião. Venho de Tonnerre, onde estive com vossos caros filhos, os
Padres da Missão, dirigidos por um homem de Deus. Importa-me confessar, senhor
Padre, que todos esses bons eclesiásticos operam maravilhas por sua doutrina e por
seus bons exemplos. Reconciliam muitas almas com Deus e com o próximo.
1644.
Peço a Deus vos prolongue os dias e os anos para sua glória e para o bem do
próximo, pelo qual trabalhais incessantemente. Está aqui uma pessoa digna de vossa
caridade que encaminho para vós. Trata-se de um pajem do príncipe de Talmond 1 que
até o momento foi educado no calvinismo e se dirigiu a mim, querendo se converter.
Não me julgando com capacidade suficiente para tão boa obra, tenho a ousadia de
encaminhá-lo para vós como àquele a quem Deus concede graças muito particulares e
muito preciosas para a sua glória e para a salvação dos pecadores e desviados. Tende
a caridade, portanto, meu muito honrado pai, em Nosso Senhor, de acolhê-lo e abraçá-
66
O registro 2 acrescenta: “Esta carta foi escrita de próprio punho (a mão do Santo) e não tem outra conclusão”.
.
Carta 702. – Abbely, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 7, 1ª ed., p. 46.
11
Vigário Geral da Abadia de Moutiers-Saint-Jean.
.
Carta 703. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. 4, sec. 4, 1ª ed., p. 285.
11
Henrique, Senhor de la Trémoille, Duque de Thouars, par de França, príncipe de Tarente e de Talmond, Conde de
Laval, nascido em 1599, falecido a 21 de janeiro de 1674, com 75 anos.
lo como a uma pobre ovelha desgarrada que busca para onde fugir e salvar-se das
garras do lobo.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
[16431 ou depois].
A respeito do que me perguntais, se poderíeis usar uma sotaina curta para visitar
as galeras, dir-vos-ei que um autor moderno, tendo composto um livro no qual, entre
outras coisas, permite o uso das sotainas curtas, especialmente para ir ao campo, uma
comunidade daqui de Paris vai escrever contra isso, não podendo suportar que os padres
se permitam esse uso. Se me disserdes que alguns prelados e alguns outros padres
adotam esse uso, dir-vos-ei, quanto a isso, senhor Padre, que eles têm o poder de fazer
como lhes apraz, pois reside neles o poder de fazer as leis, digo isso dos bispos. Mas
quanto a nós, que Deus, por sua bondade, escolheu para prestar algum pequeno serviço
à Igreja na pessoa dos senhores eclesiásticos como procuramos fazer, pela misericórdia
de Deus, penso que devemos nos abster desse uso. Convém, senhor Padre, que nos
empenhemos em honrar, de todos os modos possíveis, o estado e a ordem da Igreja. Por
esta razão, peço-vos, em nome de Nosso Senhor, não pensar nisso.
.
Carta 705. – Reg. 2, p. 143.
11
Data da fundação do estabelecimento.
706. – UM MEMBRO DA CONFERÊNCIA DE ANGOULÊME A SÃO
VICENTE
1644.
Nossa Conferência julgou que não devia diferir por mais tempo prestar-vos seus
deveres de gratidão e testemunhar-vos que ela não se reconhece digna da honra que lhe
fazeis, tomando parte no que interessa ao seu progresso e perfeição. Suplico-vos
humildemente, senhor Padre, permitir-lhe vos reconheça por seu avô, pois Deus se
serviu de um de vossos filhos para fazê-la vir à luz e que acrescenteis ao primeiro favor
o de considerá-la não como uma estranha, mas como vossa neta, e de fazer com que
essa bela e ilustre Conferência de Paris, vossa filha mais velha, não desdenhe o tê-la
como sua irmã, embora inferior em tudo.
14 de abril de 1644.
Senhor Padre,
.
Carta 706. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. III, sec. V, 1ª ed., p. 267.
.
Carta 707. – C. aut. – Original comunicado pelo Senhor d’Aussonville, membro da Academia Francesa.
11
Seminário de formação para missionários.
Padre, jamais percebi melhor a vaidade de um agir em contrário, nem compreendi
melhor o sentido dessas palavras: Deus arranca a vinha que ele não plantou2.
Abraço a comunidade prostrado em espírito a seus pés e aos vossos, e sou vosso
muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
.
Carta 708. – Arquivo da diocese de Cahors, caderno, cópia.
11
Centro administrativo de cantão, na circunscrição de Figeac (Lot).
converteram, e outras estão de tal modo abaladas, que estão dependendo apenas de
uma certa esperança do restabelecimento da prédica. Desde há pouco, recebi cinco
convertidos nessa cidade e na vizinhança. Os meus missionários receberam dois, e um
dos meus vigários forâneos, um outro. Alguns deram a palavra de que vão abjurar a
heresia em minhas mãos, dentro de dois ou três dias. Enfim, espero que bem cedo ela
cairá por terra, com a assistência do senhor Chanceler, a qual peço-vos dizer-lhe que
lhe suplico, em nome de Deus, pois se trata da salvação de uma quantidade de almas,
pelas quais ele responderia no dia do juízo. Não se prenda ele ao espírito da Senhora
de Bouillon, transtornado por essa heresia. Não se trata, no caso, de uma questão de
Estado, mas de satisfazer o espírito de uma senhorita que parece não ter outra paixão a
não ser a do retorno da prédica. Far-me-eis o obséquio, quando estiverdes com a
rainha, de lhe dizer que suplico ainda, de novo, a Sua Majestade, para dar ordem ao
senhor Chanceler de confirmar o decreto. Eu vos dirijo este pedido tanto mais à
vontade, quanto mais se trata de uma questão importante para a glória de Deus e muito
especialmente para o bem de minha diocese.
No momento em que termino a presente, um de nossos pobres transviados veio
lançar-se entre nossos braços, e eu acabo de recebê-lo solenemente na Igreja.
Alain,
Bispo de Cahors.
Senhor Padre,
711. – A UM RELIGIOSO
23 de junho de 1644.
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
.
Carta 712. – C. aut. – Arquivo do ministério da guerra, t. LXXXV, fº 140, original.
11
Superior geral da Congregação dos Agostinianos, na França. Embora o nome do destinatário não esteja indicado no
original, o conteúdo da carta permite-nos adivinhá-lo.
22
Pierre Séguier.
33
O Cardeal de la Rochefoulcault tinha dado sua demissão, a 03 de fevereiro. Ela foi aceita pelo rei a 30 de junho.
44
A intervenção de São Vicente na demissão do Cardeal de la Rochefoucault consta na Gallia christiana, t. VII, col.
779: O rei admitiu a resignação nas condições desejadas pelo Cardeal, por meio de um rescrito de 30 de junho de
1644, com o máximo empenho de São Vicente de Paulo, o qual, tendo eliminado as dificuldades, o apressou.
.
Carta 713. – Arquivo da diocese de Cahors, caderno, cópia.
Não sei como puderam espalhar em Paris o boato de que eu tinha morrido, pois
fiz a minha visita pastoral durante toda esta primavera, em perfeita saúde, exceto
quatro ou cinco dias em que fiquei indisposto por causa dos maus ares da casa onde
ficamos hospedados.
Temo estar fazendo demais o que me aconselhais e desejaria muito tomásseis
para vós as advertências que me dirigis sobre esse assunto1.
A determinação que nos destes no sentido do estabelecimento da reforma de
Chancelade na Abadia de Foix é o fruto de vossa afeição para conosco, pela qual vos
rendo mil graças, rogando-vos no-la continue, assim como vossa assistência nessa
questão. Os antigos religiosos se opuseram ao restabelecimento dos nossos, ali
estabelecidos pelo senhor Arcebispo de Tolosa2 apesar da oposição deles... Meu
Vigário Geral, presente em Foix na ocasião do restabelecimento e que ainda está em
Tolosa, me escreveu que mandará vir para Paris a ata do senhor Arcebispo, para ser
confirmada por decreto do conselho, etc.
Sou, senhor Padre,...
Senhor Padre,
Peço-vos muito humildemente perdão por vos importunar. Mas o temor que
tenho de ofender a Deus, por estar durante mais tempo sem comungar, não podendo
fazê-lo sem anter ter a honra de falar convosco, faz com que eu tome a liberdade de vos
comunicar esta situação, suplicando-vos, pelo amor de Deus, acreditar que fiz o
possível para vencer o temor, que ontem me conteve, de receber a comunhão. Sabeis
que isso não me ocorre, de modo ordinário, e que sou, senhor Padre, vossa muito grata
e muito indigna filha e serva,
L. de M.
11
Vicente de Paulo provavelmente tinha aconselhado ao Bispo de Cahors de se poupar, para não comprometer sua
saúde.
22
Charles de Montchal.
1
Carta 714. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1
As palavras “quinta-feira, 30 de junho”, a impressão do selo, em cera, representando um coração sobre o qual
aparece Nosso Senhor crucificado, a expressão do início “senhor Padre”, sugerem essa data. Não encontramos este
selo em nenhuma das cartas anteriores ao ano 1644. Por outro lado, a partir de 1650, Luísa de Marillac chama sempre
são Vicente de “Meu muito honrado Pai” na introdução das cartas.
715. – A BERNARDO CODOING, SUPERIOR EM ROMA
09 de julho de 1644.
Os que conhecem bem a questão dos irmãos em uma companhia estimam que
fizemos muito ao introduzi-los e conservá-los no uso de seu hábito curto, de maneira a
não pensarem no comprido, por várias e importantes razões. Confesso que há alguma
razão particular para se usar de outra forma na Itália, embora eu não considere o hábito
comprido muito mais eficaz para os impedir do mal. Meus Deus! senhor Padre, em que
espécie de desordem vemos cair os irmãos religiosos que pedem esmolas sozinhos na
cidade! Em nome de Deus, senhor Padre, tentemos todos os meios imagináveis antes de
introduzir uma prática geral para uma casa e para um lugar particular. Examinaremos
isso com o tempo1.
Dizeis que se vossa renda vier a faltar ou diminuir, em razão da revenda dos
coches pelo rei, a casa de São Lázaro deve fazer empréstimo e hipoteca, para vos dar
condição de subsistência, tanto porque não lhe faltará assistência em Paris, como
também porque não é conveniente que ela seja tão rica. Com efeito, se o fosse, aqueles
que outrora pretenderam reivindicá-la para si, ressuscitariam seus desejos.
Respondo, primeiramente, que ninguém nos dá assistência. Imaginam que
estamos na opulência por mais que digamos o contrário. Em segundo lugar, se nos
sobrecarregarmos com empréstimos, os mal intencionados tirariam daí motivos para nos
denunciar aos poderes. Em terceiro lugar, não é justo empenhar os bens que pertencem
originariamente a esta casa, para favorecer o estabelecimento da casa de Roma. Oh!
não, senhor Padre, importa não pensar nisso, nem ir depressa demais. As obras de Deus
não caminham deste modo. Elas se fazem por si mesmas, e aquelas em que ele não toma
parte, perecem logo. Digo-vos isto com frequência, e vossa piedade o suportará, por
favor. Ficai certo de que não experimento maior consolação na obra de nossa vocação
do que ao pensar que temos seguido a ordem da santa Providência, que quer tempo para
a produção de suas obras. Vamos com calma em nossas pretensões.
15 de julho de 1644.
.
Carta 716. – Reg. 2, p. 21.
11
Francisco Antônio Barberini.
assim o fosse, ó Deus, senhor Padre, seria melhor nos encerrar em nossa pequena
concha. Não permita Deus que motivo algum humano nos faça afrouxar em qualquer
negócio que seja, e que se julgue de Deus! A máxima deixada por aqueles que Deus
chamou a alguma nova obra é de não mudar nada sob pretexto de qualquer vantagem
que seja. O bem-aventurado Bispo de Genebra insiste nisso com suas queridas filhas. A
natureza tem seus modos de agir, a arte tem suas regras e a Santa Sé, suas precauções.
Quando os Papas aprovam as ordens e lhes conferem o poder de fazer estatutos,
colocam, entre outras condições, a seguinte: aprovam as regras que essas ordens
fizerem, conquanto não sejam contrárias aos fins do Instituto. Sendo assim, importa
guardar-nos de tratar com quem quer que seja, nem com qualquer vantagem possível, se
as condições não forem conformes com nosso modo de vida.
Senhor Padre,
.
Carta 717. – C. aut. – Biblioteca do Instituto, fundos Godefroy 273, fº 234.
11
Luís, Senhor de Pernes, barão de Rochefort.
Sou-vos muito grato pelas ofertas que fizestes a minha mãe2, há algum tempo, no
sentido de me conseguir um decreto do conselho sobre a união das paróquias. Aceito,
se vos apraz, estas ofertas, e as terei como graça. Limito-me agora a menos do que traz
o decreto obtido para o Delfinado, como vos dirá minha mãe, e julguei dever fazê-lo
assim, no momento, esperando, com o tempo, fazer o resto.
Senhor Padre,
22
Madame de Herse.
.
Carta 718. – C. aut. – Original comunicado pelo senhor Pároco de São Vicente de Paulo, em Lyon.
11
Transporte feito pelos recoveiros, o preço ou o contrato desse transporte.
o que dizer-vos a não ser que os votos dos carmelitas descalços 2 e os dos bernardinos3
não impediram a divisão dos generalatos da Espanha e da Itália e que há muita coisa a
pensar sobre isso e eu o farei. E vos peço, entretanto, ficar tranquilo a esse respeito.
Ficai, porém, certo de que pensarei nisso e analisarei as vantagens e os inconvenientes,
por muitas vezes, em meu espírito. Mas se o Padre Dehorgny e vós quiserdes fazer o
mesmo, nós o examinaremos diante de Deus, no amor do qual sou, de um e de outro,
senhor Padre, muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
i.p.da Missão.
Vicente de Paulo,
i.p. da Missão.
06 de agosto de 1644.
Vejo, por vossa carta do dia 10, ainda um novo projeto de educar, em
humanidades, jovens até a idade de 18 anos, e que abandonais o projeto do seminário
dos eclesiásticos, como também as propostas que visam beneficiar a juventude da
Catalunha. Dir-vos-ei, senhor Padre, sobre isto o que vos disse em outras vezes. Temo
que andeis depressa demais em todas as coisas. É também o pensamento dos externos,
que conhecem vossos procedimentos aí. Não vos ocultarei o que um senhor de condição
me disse pessoalmente. Isto acontece porque estais continuamente a ocupar vosso
espírito com pensamentos e meios de progredir, e vos apressais na execução. E quando
empreendeis algo que não dá o resultado por vós desejado, falais em mudar, às
primeiras dificuldades que se apresentam. Em nome de Deus, senhor Padre, pensai nisso
e no que vos disse em outras ocasiões, e não vos deixeis levar pela impetuosidade dos
movimentos do espírito. O que de ordinário nos engana é a aparência de bem, segundo a
razão humana, que jamais atinge, ou raramente, a divina. Já vos disse outras vezes,
senhor Padre, que as coisas de Deus se fazem por si mesmas e que a verdadeira
sabedoria consiste em seguir a Providência, passo a passo. E ficai certo da verdade de
uma máxima que parece um paradoxo: Quem se apressa recua, nas coisas de Deus.
Agosto de 1644.
44
O prior dos dominicanos ou dos jacobinos reformados de Paris (Cf. carta 553).
.
Carta 720. – Reg. 2, p. 227.
.
Carta 721. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. II, § 4, 1ª ed., p. 35.
Vossos missionários continuam a enriquecer cada vez mais o paraíso com almas
que colocam em estado de salvação, ensinando-lhes o caminho e fornecendo-lhes os
meios para lá chegar, com suas instruções, catecismos, exortações, pregações e
administração dos sacramentos, com a vida edificante que levam e os bons exemplos
que dão em todos os lugares onde pregam missões. Uma única coisa eu lamento, é que
o número deles é muito pequeno em face da vasta extensão de nossa diocese, que
contém quinhentas e oitenta e cinco paróquias. Meu Deus! se Deus me der a graça,
antes de morrer, de vê-los percorrer todos os lugares desta diocese, direi com toda a
verdade e de todo o meu coração, com uma consolação toda especial de minha alma:
Nunc dimittis servum tuum, Domine, secundum verbum tuum in pace 1 (Agora, Senhor,
podes despedir em paz o teu servo segundo a tua palavra).
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
Senhor Arcebispo,
Vicente de Paulo,
Padre da Missão.
Senhor Padre,
A confiança que nosso bom Deus pôs em meu coração para com vossa caridade
supera o temor que, com justiça, deveria ter de tornar-me importuna, por suplicar-vos
muito humildemente que vos lembreis de que se aproxima o tempo do cumprimento de
um artigo, contido no relatório que vos entreguei, antes de vossa partida. Quero
lembrar-vos também, senhor Padre, o desejo do senhor Guillou, a respeito do hospital
onde se encontra a Madame sua irmã. Temo que ele se sinta ofendido, se não lhe
retornado para encontrar o dito Padre Vicente de Paulo em Paris, para lhe prestar conta, o qual em seguida no-lo teria
reenviado, com poder de tratar conosco, como consta da carta a nós dirigida de Paris, de 21 deste mês, cujo teor se
segue.”
22
Depois de ter reproduzido toda a carta, o Prelado continua: “Depois da tal carta, o Padre Lambert aux Couteaux,
nos tendo dito que fora encarregado pelo referido Padre Vicente e por toda a Congregação para resolver tudo conosco
e tendo prometido mandar ratificar o que tratarmos com ele, foi resolvido o que se segue: manter na cidade de Sedan
um pároco, sete outros padres da Missão e dois irmãos, junto com um vigário ou outro padre da confiança deles e
aprovado por nós ou por nossos Vigários Gerais para prestar serviço em Balan, dos quais oito padres, quatro ao
menos ficarão em Sedan, para ali desempenhar as funções curiais, pregar, catequizar e fazer missão. Os outros quatro,
que serão aplicados na pregação de missões nas soberanias de Sedan, Raucourt e Saint-Manges e outros lugares de
nossa diocese, sob nossa autoridade e nossa permissão, serão obrigados a se deslocarem, todos ou a maior parte deles,
para Sedan, quando das festas de Páscoa, do Santíssimo Sacramento, de São Lourenço, de Nossa Senhora de 15 de
agosto e do Natal, a fim de tornar, nesses dias, mais solene, o serviço religioso. E quanto à censura que nos foi feita
no tocante ao pregador, não julgamos conveniente encarregá-los da hospedagem, da manutenção e da remuneração do
referido pregador. Para este fim ordenamos que, para a referida manutenção e remuneração, seja tirada a soma de 160
libras de renda devida pela receita do Domínio, sobre a terra de Bazeilles, mais...”.
Encontram-se vários documentos concernentes a este negócio na Biblioteca Nacional n. a. f. 22. 326, reg.,
fº 56 e seg.
.
Carta 724. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
O ano está assinalado no dorso do original. O conteúdo da carta permite precisá-lo mais (Cf. notas 2 e 3).
dermos resposta alguma, dentro do tempo em que ele pretendia ter algumas filhas, isto
é, antes da festa de Todos os Santos.
Permiti-me, muito honrado Pai, vos pergunte o que devemos esperar de vosso
retorno2. Quão aliviada me sentiria se pudesse dar-vos a conhecer minhas apreensões!
Todas elas convergem para o temor de que Deus me abandone, como creio havê-lo
merecido tantas vezes.
Suplico-vos humildemente permitir-me ir a Chartres, durante vossa ausência,
para recomendar à Santíssima Virgem todas as nossas necessidades e as propostas que
vos fiz3. Já é tempo de pensar em mim e, diante de Deus, creio que nisso está
igualmente o bem de nossa pequena Companhia.
Na semana passada, esteve aqui uma senhora, viúva de um nobre cavalheiro
chamado senhor Sigongne. Disse-me que vinha ver se poderia servir a Deus conosco.
Ela se encontra ainda num grande sofrimento pela morte do marido, o que a desapega
totalmente de tudo mais. Não tem filhos. Não sei se é Deus que a envia. Despertou em
mim grande compaixão, vendo-a tão ferida em seus sentimentos. Se ela voltar, senhor
Padre, julgais conveniente que a acolhamos por algum tempo para, de certo modo,
fazer um retiro espiritual que, devido a seu estado, seria mais um alívio? Julguei não
dever tomar nenhuma determinação antes de vos comunicar o fato.
Enfim, nosso bom Deus permitiu essa longa viagem, sem me conceder o que lhe
havia pedido. Suplico a sua bondade trazer-vos de volta, em breve, e com a saúde
completamente revigorada. Fazei-me a caridade e o favor de tranquilizar-me um
pouco, dando-me notícia de vosso estado e de continuar acreditando que nosso bom
Deus quer que eu seja, verdadeiramente, vossa humilde e muito agradecida filha e
serva,
L. de Marillac.
(P.S.) – Permiti, senhor Padre, que vos apresente as mui humildes saudações de
vossas filhas, nossas queridas Irmãs, que, como eu, estranhamos vosso afastamento.
Nossa Irmã Ana, de Saint-Paul, está muito doente.
Todas começamos a perceber, com pesar, que há muito tempo não temos a
felicidade de nos reunirmos, diante de vossa caridade, para a Conferência. Nós a
aguardamos com todo afeto e pedimos, humildemente, vossa santa bênção, como
preparação para ela.
Faz nove meses que a senhora (de que vos falei) ficou viúva. É boa pessoa e de
alta condição.
Podeis supor que, se Beauce entrasse no vosso itinerário, aproveitaria o
momento de vosso regresso para fazer a viagem que vos peço. Perdoai minha
insistência importuna sobre esse assunto.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
.
Carta 725. – Bibl. Nac. n. a. f. 1473, reg., fº 1695, fac-símile. O original, todo da mão do Santo, pertenceu ao
colecionador Berthevin.
11
A última cifra está mal reproduzida no fac-símile: Seríamos levados a ler 1640 ou 1642. Mas sabemos que o Padre
Perdu estava vivo a 22 de novembro de 1642 (Cf. carta 630). A comparação da carta acima com a seguinte e a
presença de Guilherme Gallais em Paris nos fazem escolher a data que aqui colocamos.
22
O fac-símile traz: 15. É, com toda a certeza, um erro.
.
Carta 726. – Em sua Isographie des hommes célèbres, Paris, 1828-1830, 2 vol., in-4º, t. II, p. 156, Delarue traz o
fac-símile da passagem desta carta compreendida entre as palavras Senhor Padre Codoing e por sua graça. O texto
do fac-símile difere muito pouco do encontrado na obra do Padre Pérmartin, t. I, p. 482, 1. 418. Este último teve sob
os olhos, assim o cremos, o original, que pertenceu ao Senhor de Châteaugiron. Por essa razão seguimos o seu texto
com confiança quanto à parte que o fac-símile não nos dá a conhecer.
Recebi aqui duas de vossas cartas, que escrevestes da missão próxima de Saint-
Sauveur1, quando da minha volta de Richelieu, onde acabo de fazer a visita com muito
boa disposição. Essas duas cartas não são para mim. Uma delas escreveis ao falecido
Padre Dufour2.
O Padre Codoing me pede com muita humildade ser desonerado do cargo de
superior, de tal maneira que não pude deixar de atender ao que ele pediu no mesmo
espírito com que ele pediu. Suplico-vos, senhor Padre, assumir o lugar dele por algum
tempo, embora vos tenha pedido para voltar daí. Não é que não precisemos de vós.
Nosso Senhor há de dar providência à vossa falta, por sua graça.
Talvez tenhais podido saber que colocamos no lugar do Padre Dufour, em
Sedan, o qual não estava satisfazendo, o nosso Irmão Damiens 3, que tem graça de Deus
para isso. Colocamos também o Padre Cuissot na direção do colégio 4. Resta-me dizer-
vos que penso ser bom conservar o Padre Codoing junto de vós durante algum tempo,
para vos inteirar um pouco dos deveres da casa. Nossos negócios consistem na
aprovação de nossas regras, na maneira como todos nós tivemos de nos aplicar a isso e
numa quantidade de outras pequenas diligências sobre as quais escrevemos ao Padre
Codoing. E quando estiverdes a par dos negócios e vós e ele tiverdes feito o que vos for
possível, será bom que ele venha visitar nossas pequenas casas de Marselha e de
Annecy.
O Padre Dufestel me comunica que ele vos envia o Padre Nouelly 5, com grande
pesar seu, pois recebia dele uma grande assistência.
Eis, senhor Padre, o que vos posso dizer no presente, acrescentando que abraço
toda a comunidade daí, prostrado em espírito a seus pés e aos vossos. Sou vosso muito
humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
i.p. da Missão.
11
Jean Dehorgny pregava uma missão de três semanas em Longone, pequeno povoado dependente da Abadia de
Saint-Sauveur na Sabina (Cf. Notices, t. I, p. 158).
22
Antônio Dufour, nascido em Montdidier, era subdiácono quando foi recebido na Congregação da Missão, a 31 de
dezembro de 1639. Fez os votos a 29 de setembro de 1642, foi colocado em Sedan e depois colocado à frente do
Colégio dos Bons-Enfants, que ele dirigiu de 1643 a 1644. Por ocasião de uma doença que parecia não ter gravidade
alguma, ofereceu sua vida a Deus para conservar a do Santo Fundador, cujo estado inspirava as mais vivas
inquietações. Deus o atendeu. Sua doença se agravou enquanto o Santo recuperava pouco a pouco a saúde. Uma
noite, relata Abelly (op. cit., 1. I, cap. IV, p. 245), três toques se fizeram ouvir na porta do quarto onde repousava o
Santo. Aqueles que o velavam foram abrir a porta. Não havia ninguém. São Vicente compreendeu. Mandou chamar
um clérigo e lhe disse para recitar uma parte do ofício dos mortos. Antônio Dufour acabava de expirar. Abelly situa
erroneamente este fato em 1645. Ele aconteceu em 1644, como constata Collet, op. cit., t. I, p. 406.
33
Gabriel Damiens, nascido em Bourseville (Some), ingressou na Congregação da Missão a 30 de março de 1640,
com a idade de 19 anos. Foi admitido aos votos a 16 de outubro de 1642 e ordenado padre em 1646. Posteriormente
foi colocado nos Bons-Enfants como professor de filosofia. Sua insistência em combater o jansenismo foi motivo
pelo qual São Vicente o retirou do ensino. O Santo tinha conhecimento da juventude e de sua tendência em tomar a
defesa das doutrinas atacadas sem as devidas medidas.
44
O seminário dos Bons-Enfants.
55
Bonifácio Nouelly, nascido em Collonges (Ain), ingressou, já como padre, na Congregação da Missão, a 22 de
novembro de 1643, com a idade de 25 anos. Foi colocado em Marselha, em 1644, e enviado a Argel, em 1646, para
dirigir ali a nova Missão. Depois de um ano de duros trabalhos e de dedicação, contraiu, à cabeceira de um pestilento,
os germes da doença que o levou à morte, a 22 de julho de 1647 (Notices, t. III, p. 28-34).
Destinatário: Ao senhor Padre Dehorgny, padre da Missão.
Senhor Padre,
.
Carta 727. – C. aut. – O original pertencia, em 1913, ao senhor La Caille, Avenida Malesherbes, 50, Paris.
11
Saint-Dyé-sur-Loire, localidade do Loir-et-Cher.
22
Mathurin Gentil, nascido em Brou (Eure-et-Loir) em maio de 1604, ingressou na Congregação da Missão a 11 de
novembro de 1639. Fez os votos a 17 de outubro de 1642. Era o ecônomo da casa de São Lázaro em 1644, e foi
exercer as mesmas funções, em 1647, no seminário de Mans. Morreu nesta cidade a 13 de abril de 1673, muito
lamentado por todos e, em particular, por seu Superior Geral, que anunciou sua morte a toda a Companhia por uma
circular muito elogiosa.
33
A Assembleia para a nobreza lorenense.
44
Laurent de Brisacier, nascido em Blois a 02 de agosto de 1609, era o irmão do jesuíta Jean, que adquiriu fama pelas
controvérsias contra os jansenistas, e era o tio de Jacques Charles, futuro superior das Missões Estrangeiras. Tornou-
se decano de Saint-Sauveur em Blois, em 1632. Foi preceptor de Luís XIV, por volta de 1649, durante uma ausência
de Dom Péréfixe. Recebeu da corte a missão de ir a Roma para lá negociar diversas questões e foi encarregado pela
rainha de cumprir o voto que ela tinha feito, durante uma doença do seu filho, se conseguisse sua cura, de fazer a
fundação de um ofício solene todos os anos, no dia de São Luís, na igreja de Notre-Dame-de-Lorette. Laurent de
Brisacier foi ainda Conselheiro de Estado. Suas rixas com o cabido de Blois lhe valeram mais de um processo.
Tomou parte ativa na fundação do seminário das Missões Estrangeiras e morreu em Blois, a 15 de fevereiro de 1690
(Cf. Une famille Blésiose, Les de Brisacier, por André Rebsomen, nas Mémoires de la Société des sciences et lettres
de Loir-et-Cher, 30 de junho de 1902).
55
A corte se encontrava lá.
66
O Cardeal Mazarino.
77
Provavelmente o estabelecimento de uma Confraria da Caridade.
mandar pregar naquele lugar8. Escrevi ao Bispo de Bolonha9. O Padre Alméras
apresentará à Assembleia1010 o pensamento da rainha e verá, entre esses senhores
padres, quais poderão dar assistência a essa missão, se ela acontecer, anotar-lhes-á o
nome e lhes pedirá estejam à disposição, caso a rainha se decida a fazê-la.
Saúdo muito humildemente ao senhor Padre Prior1111 e ao senhor Padre
Cousin1212, como também a pequena comunidade. Sou no amor de Nosso Senhor,
senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
88
Deveríamos relacionar com essa missão o incidente do qual Abelly nos faz o relato em sua obra, 1. III, cap. XIV, p.
235? Pressionado pela rainha a pregar uma missão em Fontainebleau, o Santo enviou os padres de sua congregação.
Acontece que um religioso começara lá uma série de pregações. Para não importuná-lo, os missionários fixaram seus
exercícios em horas diferentes. Apesar desta precaução, aconteceu um vazio em torno do púlpito dele. Ele ficou com
ciúme e se queixou amargamente. Sabendo disso, o Santo suplicou à rainha lhe permitisse chamar de volta os seus
padres, o que lhe foi concedido.
99
Francisco Perrochel. Ainda não tinha sido sagrado.
1010
A Assembleia das terças-feiras.
1111
Adriano Le Bom, prior de São Lázaro.
1212
Cláudio Cousin, antigo religioso de São Lázaro.
.
Carta 728. – Dossiê da Missão, cópia tirada do original do senhor Charavay.
11
Pequena comuna de Seine-et-Oise.
22
Provavelmente Jacques Rivet, Irmão Coadjutor, nascido em Houdan (Seine-et-Oise), a 11 de setembro de 1620.
Entrou na Congregação da Missão a 16 de dezembro de 1641 e fez os votos a 22 de abril de 1646.
33
Grande amigo da Congregação da Missão. Encontraremos mais à frente uma bela carta de São Vicente ao senhor
Norais para consolá-lo em suas provações.
44
Perto de Palaiseau, em Seine-et-Oise.
que o senhor Prior5 nos aconselha, com tanto empenho, a receber 6. Não lhe direis
contudo o que vos digo, (isto é), que devo passar por lá. Ele se preocuparia com me
fazer encontrar lá o referido senhor Norais.
Espero devolver-vos amanhã nosso Irmão Jean Lequeux7.
Enviai-nos o senhor Padre Gallais para anunciar a missão em Fontainebleau,
para o dia da festa de Todos os Santos. Será conveniente que ele peça a bênção do
senhor Arcebispo de Sens8, se ele estiver em Paris ou em Lys9, perto de Melun, ou a um
quarto de légua dali. Será bom que lhe escrevais em minha ausência, se ele partir sexta-
feira, como também ao Padre Prior, Pároco de Fontainebleau, comunicando-lhes a
ordem que recebi da rainha neste sentido, e rogar-lhes, em minha ausência, para acatá-
la. Vereis quem poderíeis enviar e se seria conveniente enviar os senhores Padres
Boucher e Mollin1010.
Estou passando bem, graças a Deus, e sou vosso servo,
Vicente de Paulo.
Vicente de Paulo.
55
Adriano Le Bon.
66
A granja oferecida a São Vicente estava situada no lugarejo hameau de Orsigny. O Santo a aceitou pelo contrato de
22 de dezembro de 1644 (Cf. Arq. Nac. S 6687). Ficou de posse dela, com toda tranquilidade, durante a vida do
Senhor e da Senhora Norais. Mas depois da morte dos doadores, os herdeiros reclamaram, moveram processo e
obtiveram um ganho de causa. A granja voltou, em 1684, a ser propriedade dos Padres da Missão.
77
Nascido em Châlons-sur-Marne, entrou na Congregação da Missão como Irmão Coadjutor a 22 de junho de 1639,
com a idade de 19 anos. Fez os votos a 13 de novembro de 1653.
88
Otávio de Saint-Lary de Bellegarde (1621-1646).
99
Hoje Dammarie-les-Lys. Ali se veem as ruínas de uma antiga Abadia de religiosas cistercienses, às quais a rainha
Blanche, mãe de São Luís, legara o seu coração.
1010
Jean Mollin, nascido em Beauvais, entrou na Congregação da Missão a 20 de junho de 1640, com a idade de 20
anos. Fez os votos a primeiro de novembro de 1643 e foi ordenado padre em 1644.
.
Carta 729. – C. aut. – Original com as Filhas da Caridade de Sedan.
11
Antes de 1639, as palavras “manhã de quinta-feira” viriam no fim da carta, não no começo.
730. – AO SENHOR PADRE CAMPION1
De muito bom grado, senhor Padre, dirigir-me-ei, sábado próximo para o lugar 3
e na hora que me indicais.
Sou vosso muito humilde servo,
Senhor Padre,
66
Jean Allain nasceu em Dreux, entrou como padre em São Lázaro, a 20 de maio de 1643, com a idade de 31 anos.
Fez os votos a 20 de abril de 1646. Morreu cerca de 06 de abril de 1649.
77
Francisco de Philmain nasceu em Normandel (Orne), entrou como diácono em São Lázaro, a 14 de abril de 1642,
com a idade de 25 anos.
88
Anteriormente superior em Troyes.
99
Já vimos que esta casa era disputada contra a Congregação da Missão, pela Ordem do Espírito Santo.
1010
Consignada no contrato de 02 de maio de 1643 (Cf. 1. 660, nota 1).
.
Carta 732. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
Senhor Padre,
11
Cláudio de Rueil, Bispo de Bayonne (1622-1626), depois, Bispo de Angers (1626 até 20 de janeiro de 1649).
.
Carta 733. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Guilherme Delville nasceu em Tilloy-lez-Bapaume, hoje Ligny-Tilloy (Passo de Calais), entrou como padre na
Congregação da Missão a 19 de janeiro de 1641, com a idade de 33 anos. Foi superior em Crécy (1644), em
Montmirail (1644-1646, 1650-1651). Retirou-se depois para Arras, onde continuou a cumprir durante vários anos,
com a permissão de São Vicente, seus deveres de missionário. Morreu nesta última cidade em 1658.
Paris, 20 de novembro de 1644.
Senhor Padre,
22
No subúrbio de Montmirail.
33
Jean François Delabarre, prior de Montmirail (1636-1646).
44
Hoje Champlong, na comuna de Courgivaux (Marne).
55
Nome relativo à administração dos bens da Igreja.
66
O nome foi esquecido no original, passando de uma página para outra.
Bendito seja Deus, senhor Padre, pelo que me dizeis desses senhores párocos
que querem fazer o retiro em vossa casa! Ó Jesus! senhor Padre, recebei-os e enviai
alguém em seu lugar durante esse tempo, para pregar lá a missão, ou rever o povo que
quiser se reconciliar, se a missão já foi pregada em sua paróquia. Em qualquer hipótese,
enviareis para lá, nos domingos e nas festas, algumas pessoas, e elas poderão pedir aos
párocos mais próximos para dar assistência aos paroquianos deles, em caso de
necessidade extrema, durante sua ausência.
Quanto ao nobre cavalheiro que tem a mesma intenção, procedereis com ele, por
favor, como fazemos aqui.
Vou dizer a Alexandre7 que vos envie o que está contido em seu bilhete (?).
Que vos direi da missão de Beuvardes 8? Será bom pregá-la enquanto o Senhor e
Madame de Melun estiverem lá. Certificai-os de que é informação falsa a que lhe deram
de que eu disse que falaria com a rainha 9 da inexecução do testamento da Madame de la
Bécherelle. Jamais este pensamento entrou em meu espírito, nem o de impaciência
alguma, e que sou seu muito humilde servo e trataremos de lhes enviar um eclesiástico
no lugar daquele que está lá.
Porventura vos entregaram os cinquenta escudos que a falecida Madame de la
Bécherelle vos legou?
Tiram-me a pena da mão e me constrangem a terminar a presente carta,
recomendando-me as vossas santas orações, prostrado em espírito aos vossos pés e aos
de vossa comunidade que eu saúdo. Envio-vos este portador expressamente para que
não entregueis as granjas da Chaussée e da Maladrerie, a não ser depois da tomada de
posse delas1010.
Sou, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
77
Alexandre Véronne, enfermeiro de São Lázaro.
88
Em Aisne.
99
A missão de Beuvardes, fundada por Madame de la Bécherelle a 03 de julho de 1643, devia ser pregada a cada
cinco anos.
1010
Diante da apresentação de Pierre de Gondi, Duque de Retz e Barão de Montmirail (29 de setembro de 1643), o
Bispo de Troyes tinha unido em caráter perpétuo à Congregação da Missão, a 20 de junho de 1644, o priorado ou
Hospital Geral de Chaussée, no subúrbio de Montmirail, na diocese de Troyes, com o compromisso de ela manter ali
dois padres e um irmão, que pregariam missões por toda parte onde o bispo os enviasse, conservariam os prédios em
bom estado, atenderiam a todas as obrigações espirituais e temporais do priorado e reconheceriam os direitos de visita
do bispo e “a vantagem de duas libras e cinco coletas por ano”. (Arq. Nac. S 6708).
.
Carta 734. – C. aut. – O original foi posto à venda pelo senhor Charavay em 1913. É dele que nós tiramos a cópia.
Senhor Padre,
11
Simão Le Gras.
22
Pierre de Gondi, Duque de Retz e barão de Montmirail, filho mais velho do Padre de Gondi e antigo aluno de São
Vicente.
33
Francisco Malier du Houssaye (1641-1678).
44
Cláudio Dufour nasceu em Allanche (Cantal), entrou na Congregação pouco depois de sua ordenação sacerdotal, a
04 de maio de 1644, com a idade de 26 anos. De início foi enviado a Montmirail (1644), depois foi colocado à frente
do seminário de Saintes (1646-1648). Era muito virtuoso, mas de uma virtude austera e pouco amável. A vida de
missionário era suave demais a seus olhos, persuadiu-se de que a de cartuxo conviria melhor ao seu amor pela oração
e pela mortificação. São Vicente foi de parecer completamente contrário, e Cláudio Dufour, sempre dócil, abandonou
seu projeto. Para afastá-lo de tentações desta natureza, o Santo colocou seu nome na lista dos missionários destinados
a Madagascar. Enquanto aguardava o dia do embarque, ele o ocupou primeiramente em Sedan, depois em Paris, onde
lhe confiou a direção do seminário interno, durante uma ausência do Padre Alméras, e enfim, em La Rose, como
superior (1654-1655). As viagens eram longas naquela época. O Padre Dufour partiu de Nantes em 1655 e chegou a
Madagascar no mês de agosto do ano seguinte. Alguns dias depois do seu desembarque, a 18 de agosto, foi tragado
pela doença (Notices, t. III, p. 14-23).
55
Francisco Perrochel.
66
O Santo acrescentara aqui as palavras “e a desta pequena Companhia”, que ele depois riscou.
735. – LUÍSA DE MARILLAC A SÃO VICENTE
Senhor Padre,
Estou preocupadíssima por causa do meu filho que chegou, sábado, com a
Condessa de Maure. Ela me disse que, no domingo, confiou-lhe um bilhete e que ele
ficou de vir ver-me, porém não tem ideia de onde possa estar. Que devo fazer? Não sei
se terá ido aos Bons-Enfants. Mando procurá-lo? Ou vós, senhor Padre, vos daríeis
esse trabalho, isto é, o de mandar alguém informar-se se esteve lá e o que fez? Eu vo-lo
suplico, muito humildemente, pelo amor de Deus! Bem sabeis quão grande são o meu
sofrimento e temores e que sou, senhor Padre, vossa muita obediente e agradecida filha
e serva,
L. de M.
02 de dezembro de [16441].
Não posso contar com a ajuda de ninguém neste mundo, nem quase nunca a
tenho tido senão de vossa caridade.
Depois que tive a honra, ontem, de conversar convosco, fui encontrar-me com o
senhor Príncipe de Condé3 para tratar da questão de Jansênio4. Encontrei-o todo cheio
.
Carta 735. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data acrescentada no dorso do original.
.
Carta 736. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. XII, 1ª ed., p. 416.
11
Huguenote convertido tornou-se pregador e capelão do rei e depois professor de teologia no Colégio de Navarra,
foi sagrado Bispo de Lavaur a 22 de maio de 1639. Morreu em sua terra natal, em Raconis, na diocese de Chartres, a
16 de julho de 1646, depois de ter lutado vigorosamente contra o jansenismo.
22
Esta carta parece dever ser colocada no tempo em que o Príncipe de Condé era membro do Conselho da Regência.
33
Henrique II, Príncipe de Condé, pai do grande Condé. “O príncipe de Condé, diz o P. Rapin em suas Memórias (t.
I, p. 40), tinha encontros secretos e frequentes com o Núncio do Papa e o Chanceler, com a intermediação do Padre
Vicente, para procurar em conjunto meios para destruir essas novidades, das quais tinha aversão”.
44
Cornélio Jansen, mais conhecido com o nome de Jansênio, nasceu na aldeia de Acquoy (Holanda) em 1585, e foi
estudar em Paris em 1604. Ali conheceu o Abade de Saint-Cyran, que lhe arranjou um posto de preceptor junto a um
Conselheiro, depois o levou para Bayonne, onde leram juntos os escritos de Santo Agostinho. Jansênio voltou para
Louvain em 1617 e lá conquistou o doutorado. Foi colocado à frente do colégio Santa Pulquéria e assumiu, em 1630,
a cátedra de Escritura Sagrada na universidade desta cidade. Elevado ao bispado de Ypres, pelo favor de Felipe IV,
foi sagrado em 1636. Dois anos depois, morria de peste com sentimentos de submissão à Santa Sé. Temos dele um
livro contra a França, Mars Gallicus, diversos comentários sobre a Sagrada Escritura e cartas ao seu amigo, o abade
de Saint-Cyran. A mais importante e a mais conhecida de suas obras é o Augustinus, que suscitou uma violenta
de ardor e de luzes contra os erros desse autor. Encorajou-me ao extremo a continuar o
meu trabalho e a colaborar com vosso zelo pela defesa da Igreja, do qual lhe falei
durante muito tempo e com o qual ele ficou radiante. Ele me deu ordem de duas coisas:
a primeira, a de estar com o senhor Núncio 5 para lhe comunicar, de sua parte, que ele
ficaria muito satisfeito em poder encontrar-se com ele, em alguma igreja, para lhe falar
deste negócio e lhe mostrar a necessidade absoluta que ele (o senhor Núncio) tem, para
o bem da Igreja e do Estado, de dar resposta a este autor. Cumpri logo sua solicitação
e fui estar com o senhor Núncio. Ele concordou, depois de uma longa conversa, que eu
lhe enviasse um catálogo dos erros de Jansênio, que foram outrora condenados ou
pelos Concílios, ou pelos Papas. Prometi fazê-lo. Voltei a estar com o senhor Príncipe,
que ficou extremamente satisfeito com esta resolução e me garantiu que ele
apresentaria à rainha e ao senhor Cardeal Mazarino a grande importância disso e
renovou-me a segunda ordem que me dera, a de vos certificar de seu zelo neste
negócio, a fim de levá-lo em frente juntamente convosco.
Senhor Padre,
tempestade na Igreja. Este escrito, publicado em Louvain, em 1640, e em Ruão, em 1652, exigira dele vinte anos de
trabalho. O Augustinus foi censurado por Urbano VIII, e por muitas vezes, nos anos seguintes.
55
Nicolau Bagni, Arcebispo de Atenas, Núncio na França, de 25 de junho de 1643 até o ano de 1657. Foi criado
Cardeal com o título de Santo Eusébio e feito Bispo de Sinigaglia a 09 de abril de 1657. Morreu em Roma a 23 de
agosto de 1663 com a idade de 79 anos. São Vicente, com quem ele teve estreitos relacionamentos, só pôde louvar
sua benevolência.
.
Carta 737. – Coleção do processo de beatificação.
11
Conta Abelly (op. cit., 1. I, cap. XXXII, p. 173) que depois de uma viagem de alguns dias fora de Paris, espalhou-
se o boato de que o Santo, tendo caído em desgraça, recebera ordem de abandonar a corte. Ele acabou voltando. A um
eclesiástico que lhe falava de sua alegria ao saber que o boato era falso, ele respondeu: “Ah! Como sou miserável!
Não sou digno dessa graça”. A viagem de que fala Abelly não seria a que o Santo fez a Richelieu, em outubro de
1644? E não seria necessário aproximar o que diz aqui o Santo do relato de seu biógrafo? A verdade é que o boato de
sua desgraça andou correndo mais de uma vez, em particular em fevereiro de 1644, quando ele conseguiu fosse
entregue a Jean-Jacques Olier um benefício solicitado por Mazarino para o filho do Duque de la Rochefoucauld (Cf.
Arq. do Ministério dos Negócios Estrangeiros, relatórios e documentos, França, vol. 849, fº 68 e 75).
me muitas vezes pessoalmente que isso não é conveniente, pela razão de que, estando eu
em viagem ou em alguma casa particular, os outros virão a sofrer, porque não receberei
suas cartas, nem os outros as minhas respostas, por longo tempo. Haverão de alegar-me
sempre o exemplo da Ordem dos cartuxos e dos jesuítas, que procedem assim. Sendo
assim, é bom que me comuniqueis o que me diríeis, em minha presença. Procurarei ficar
atento a isso.
Ficai certo de que não tenho repugnância em absoluto para com a proposta das
Índias, nem quanto ao seminário menor que me sugeris, desde que as coisas estejam de
acordo com o que me dizeis a respeito dos ordinandos. Mas o que faremos com o
seminário? A maior parte da renda vos é doada para esse fim. E começo a perceber que
nossa bondosa fundadora tem dificuldade em relação a ele. Não me dizeis quanto tendes
por mês nem por semana. Talvez isso satisfaria. Se o Padre Dehorgny, vós e o Padre
Blatiron forem do mesmo parecer, poderíeis tentar também o de Santo...2.
Vou encarregar alguém, já nesta noite, para redigir uma procuração que vos
enviarei dentro de dois dias, dando ao Padre Dehorgny, se ele concordar, e também ao
Padre Blatiron, o poder de comprar essa casa e de empenhar e hipotecar vossos coches
de Soissons, arrendados por cerca de duas mil libras, e a porção que tendes sobre os
coches de Ruão da qual retirareis cerca de seis mil libras do arrendamento, pois que nos
é impossível enviar-vos as seis mil libras que pedis. Fá-lo-íamos de bom coração, se
pudéssemos. Mas tenha cuidado para que esta casa esteja situada num lugar bem sadio.
Paro por aqui, recomendando-me a vossos santos sacrifícios com toda a
humildade que me é possível e às orações do Padre Dehorgny e da comunidade,
prostrado em espírito aos vossos pés e aos de todos.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente
servo,
Senhor Padre,
22
Palavra ilegível na cópia.
.
Carta 738. – C. aut. – Original com os padres da Missão de Gênova.
Soissons1. Ele me fez a honra de escrever-me que aceita nosso estabelecimento e que
combinaria todas as coisas com os que nós enviarmos para a missão de Soissons, que foi
adiada. Por esta razão, penso que fareis bem em ir encontrá-lo em Compiègne, onde ele
se encontra, para receber suas determinações sobre isso e tomar conhecimento das
dificuldades, se ele as fizer, sobre nossa maneira de agir e o que ele deseja de nós.
Enviei-lhe as condições com as quais o senhor Bispo de Meaux 2 nos recebeu em sua
diocese3 assim como todos os outros nossos senhores Prelados em cujas dioceses
estamos estabelecidos. Vê-lo-eis.
Informai-me todos os detalhes do que fizestes a respeito do negócio da granja de
Chaussée, se toda a renda está compreendida e o que resta, assim como o estado de
vossa granja de Fontaine-Essarts4. É preciso escrever-me com frequência sobre todas as
coisas.
Bom dia, senhor Padre. Sou vosso muito humilde servo,
Senhor Arcebispo,
11
Simão Le Gras.
22
Domingos Séguier.
33
Em Crecy.
44
Luís Toutblanc, secretário do Duque de Retz, legara aos padres da Missão as granjas de Fontaine-Essarts e de
Vieux-Moulin pelo seu testamento de 12 de maio de 1644 (Arq. Nac. S 6708).
.
Carta 739. – C. aut. – Original nos arquivos do Cabido de Recanati (Italia).
Temos aqui o senhor Abade de Beaulieu1, irmão do falecido senhor Bispo de
Vabres2 que insiste muito em obter o bispado. Há discordância no que me falam a
respeito dele. Em nome de Deus, senhor Arcebispo, tenha a bondade de me escrever
quem ele é, se ele é capaz e piedoso, e se ,enfim, ele tem as qualidades adequadas a esta
dignidade, em especial, se ele é Padre3. Ele diz que é, mas alguns, que me informaram
sobre ele e que o conhecem, nada sabem a respeito. Aguardo, para tomar decisão, o que
fizerdes a caridade de me escrever sobre ele. Vou ter a coragem e a ousadia de vos
suplicar, muito humildemente, senhor Arcebispo, que me envieis quanto antes o que
souberdes a respeito dele, e de vos garantir que jamais alguém o saberá de minha parte.
Está conosco também o Senhor de Campels, desde há muito a favor do senhor
Bispo de Montauban4, contra o senhor Bispo de Útica 5. Que faremos com isso, senhor
Arcebispo? O negócio aqui está todo confuso. Oh! como desejo que vós sejais
deputado, senhor Arcebispo, por muitas razões, de modo especial para esta explícita
questão. Propor-lhes-ei, como já fiz a ambas as partes, recorrer a vós, senhor Arcebispo,
quanto ao que o primeiro dos referidos senhores daria ao segundo, e quanto às
condições em que ele consentiria que este último pudesse trabalhar em sua diocese.
Meus Deus, senhor Arcebispo, como fiquei aflito com a doença do senhor vosso
irmão, e ainda o estou! Ele é aguardado aqui por muitas pessoas de bem, das quais ele é
protetor. E eu, senhor Arcebispo, peço a Deus no-lo devolva, quanto antes e em boa
saúde, e que me torne digno da graça que me concedeis de me permitir a de ser, senhor
Arcebispo, vosso muito humilde e obediente servo,
Março de 1645.
Senhor Padre,
.
Carta 741. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. II, sec. V, 1ª ed., p. 236.
.
Carta 742. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Nao se faz menção do estabelecimento das irmãs em São Gervásio antes de 24 de março de 1646.
22
Paróquia de Paris.
em tal caso, parece-me que tanto o senhor Pároco 3 como as Damas de São Gervásio
teriam de saber que a tomastes de empréstimo, para que esta mudança súbita não os
ofenda. Se me lembrar de alguma outra, vo-lo direi.
Tenho grande apreensão a respeito do assunto sobre o qual tratei no papel
entregue a vossa caridade, esta manhã. Temo pelo meu espírito e receio pelo meu
estado de alma, custando-me bastante submeter-me, neste ponto, à justiça eterna.
Suplico, por amor de Deus, a vossa caridade, presteis atenção nisso. Crede-me, senhor
Padre, vossa muito obediente e grata serva,
L. de M.
Senhor Padre,
33
Charles Francisco Talon (27 de agosto de 1620-25 e setembro de 1651).
.
Carta 743. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Cláudio de Rebé (1628-1659).
22
Os Estados da Provença.
33
Henriqueta Catarina, Duquesa de Joyeuse, viúva de Henrique de Bourbon, Duque de Montpencier, e de Charles de
Lorraine, Duque de Guise, falecido em Paris, a 23 de fevereiro de 1656, com setenta e dois anos.
Nicolau, bispo de Alet.
[1644 ou16461].
Senhor Padre,
Estou sendo solicitado de dois lados para vos escrever: um da parte do senhor
Landas, que deseja vos dê testemunho da religião do senhor seu pai e da senhora sua
mãe, o que faço com todo coração, pois lhes conheci a notável piedade; de outra parte
sou solicitado por uma donzela da Madame Princesa2 para vos pedir uma religiosa
para a reforma de uma abadia sobre a qual o senhor Bispo de Clermont 3 vos escreve,
como também a mim, para vo-lo suplicar 4. Eu o faço com a intenção de procurar o bem
da glória de Deus por toda parte onde ele está em jogo e particularmente em nossos
cantões da Auvérnia, tão abandonados.
Sou de todo coração, em Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e
muito obediente servo,
Senhor Padre, tenho a satisfação de vos enviar este livro que vos aprouve pedir-
me ultimamente.
.
Carta 744. – C. aut. – Arq. do Seminário de São Sulpício, original.
11
Ver nota 4.
22
Carlota Margarida de Montmorency, Princesa de Condé.
33
Joaquim de Estaing (1614-1650).
44
Durante os dez anos em que São Vicente foi membro do Conselho de Consciência, houve apenas três mudanças de
abadessas na diocese de Clermont: duas na cidade episcopal, em Santa Clara (1644) e em Eclache (1646); a terceira
em Santa Clara de Aigueperse (1646).
745. – TOMÁS TURCHI, SUPERIOR GERAL DOS DOMINICANOS, A SÃO
VICENTE1
Reverendíssimo Padre,
.
Carta 745. – Arq. da Missão, cópia tirada da Casa Generalícia dos Padres Dominicanos, na coleção manuscrita
intitulada: Praedicaturium Franciae. – Conventus Parisiensis series B, p. 105.
11
Tradução do francês, por sua vez, traduzido do original latino (N. T.)
746. – TOMÁS TURCHI, SUPERIOR GERAL DOS DOMINICANOS, A SÃO VICENTE
Reverendíssimo Padre,
Senhor Padre,
.
Carta 746. – Arq. da Missão, cópia tirada na Casa Generalícia dos Padres Dominicanos, na coleção manuscrita
intitulada: Praedicatorium Franciae. – Conventus Parisiensis series B, p. 111.
11
Ramo da grande Ordem dominicana. A Congregação languedócia (Occitana), chamada, em 1629, Congregação de
São Luís, nascera da reforma do Padre Sebastião Michaëlis. Tinha nessa ocasião dezessete casas das quais as
principais eram as de Paris, Tolosa, Bordéus e Avinhão. Todos os conventos situados abaixo do Loire foram
anexados, em 1646, à Província de Tolosa. Antes de 1668, a Congregação de São Luís não tinha o nome de
Província, nem os privilégios. Não eram representadas nos Capítulos Gerais.
22
O Padre Turchi veio para a França no decorrer do ano. De Paris, onde estava a 26 de novembro, foi para o norte,
passou pela Bélgica, em março de 1646, voltou a Paris para a Festa de Pentecostes, visitou os conventos da França,
chegou a Tolosa em novembro e desceu para a Espanha. Sua viagem só terminou em 1648.
.
Carta 747. – C. as. – Dossiê de Turim, original. Esta carta foi enviada às diversas casas da Congregação da Missão.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Estas linhas são apenas para vos informar que o número dos missionários de
nossa casa celeste aumentou, há pouco, com a morte serena de um de nossos estudantes,
nosso Irmão Jamain1, natural de Verdun, a quem Deus tirou da teologia escolástica para
levá-lo a aprender num instante a teologia celeste. Sua vida exemplar e sua santa morte
nos fazem crer piedosamente que ele já goza da imortalidade feliz com os santos. Minha
intenção não é de expor-vos aqui detalhadamente as suas santas ações, tanto porque não
tenho tempo, quanto porque ainda não fizemos a conferência sobre sua vida e sua morte.
Bastar-me-á, por hora, dizer-vos que não me lembro jamais de ter observado nele vício
algum e que possuía em alto grau as virtudes que compõem o espírito de um verdadeiro
missionário, particularmente a simplicidade, a humildade, a mansidão, a submissão e
exatidão, não somente no seminário, mas também nos estudos, quando os mais
fervorosos de ordinário se relaxam. Esteve doente várias vezes, e neste estado
demonstrou sempre uma grande paciência e resignação à vontade de Deus, embora a
interrupção de seus estudos fosse para ele um grande motivo de mortificação. A última
doença que teve durou apenas oito dias; mas ele fez mais e sofreu mais, por Jesus
Cristo, nessa única semana, do que em vários anos de sua vida, porque a dor que
suportava era muito grande e a virtude que praticava era mais difícil, a tal ponto que
todos se admiravam de como ele podia ainda assim pensar em Deus. A doença o
surpreendeu de repente no quarto domingo da quaresma. Era uma cólica muito violenta
que, ao final de alguns dias, se transformou numa inflamação do pulmão que bem cedo
apodreceu. É incrível quanto o sufocamento que tinha era grande e quanto a dor era
pungente. Com tudo isso, dava testemunho de uma extraordinária paciência e uma
notável serenidade de espírito. Quando lhe anunciaram a notícia de sua próxima morte,
mostrou que já estava inteiramente preparado, dizendo sem se perturbar: “Pois bem,
senhor Padre, que devo, portanto, fazer?”. Recebeu todos os sacramentos com uma
devoção e uma tranquilidade incomuns e teve a felicidade de lucrar o jubileu. Até quase
o último suspiro, permaneceu sempre na prática das virtudes que merecem o paraíso,
pois, vez por outra, lhes praticava os atos, no coração ou com os lábios, particularmente
quando alguém lhe falava sobre elas. Permaneceu em agonia muito pouco tempo. Deus
quis recompensá-lo dessa forma, em consideração aos combates que enfrentava pela
virtude da mortificação, enquanto estava com saúde.
Não poderia calar as pequenas circunstâncias observadas, antes e depois de sua
morte, que me parecem de bom auspício para este Irmão. Teve a felicidade: 1º, de beijar
devotamente a cruz imediatamente antes de entregar o seu espírito; 2º, de exalar o
último suspiro no exato momento em que concluíam a recomendação da alma, com
estas palavras: pervenire mereatur ad gloriam regni caelestis (mereça chegar à glória do
reino celeste); 3º, o último dia de sua vida foi o domingo da Paixão de N. S. e também
dia de São Francisco de Paula, cuja simplicidade e humildade ele imitara tão bem; 4º,
foi também o dia da abertura do jubileu; 5º, foi enterrado em frente ao crucifixo de
11
Martin Jamain entrara em São Lázaro no dia 08 de outubro de 1640, com a idade de 21 anos, fizera os votos a 10 de
outubro de 1642.
nossa igreja de São Lázaro; 6º, alguns dias antes de sua morte, predisse, contra o parecer
do médico, que ele não passaria do domingo.
Há grande motivo para se pensar que tudo isso não aconteceu por acaso, mas que
Deus assim o permitiu para melhor nos dar a conhecer o feliz estado desta bela alma.
Isso não impedirá, por favor, que lhe presteis os deveres de praxe, como fizestes para os
outros de nossa Companhia, e como já fizemos aqui. Acrescentamos a mais o canto de
um serviço religioso solene, no dia de seu enterro, na segunda-feira, três de abril. Deus
nos dê a graça de imitá-lo em suas virtudes, para acompanhá-lo um dia na glória que
desfruta!
Sou, no amor de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe, senhor Padre, vosso muito
humilde e muito obediente servo,
Vicente de Paulo.
Senhores,
.
Carta 748. – C. aut. – Original no Hospital Geral de Clermont-Ferrand.
11
Provavelmente a eleição de Lannes. O Cabido de Dax estava então preocupado por encontrar os recursos para
reparar a igreja catedral. A ruína deste edifício era tal que fora preciso interromper o serviço paroquial. Com a
intervenção de São Vicente, a rainha Ana d’Áustria tinha, pelo decreto de 07 de julho de 1644, mandado deduzir cada
ano, de 1645 a 1655, em toda extensão de Lannes, um imposto suplementar de 40.000 libras, para os reparos a fazer
no monumento. A partilha e o pagamento deste imposto numa região muito pobre, que as guerras da Fronda bem
cedo empobrecerão mais, passaram por muitas dificuldades, que o Santo não conseguiu desfazer completamente (Cf.
nossa História das catedrais de Dax no Boletim da sociedade de Borda, 1908, p. 88 e ss.).
22
Jacques Desclaux (1639-1658).
Nosso Senhor e de sua Santa Mãe, senhores, vosso muito humilde e muito obediente
servo,
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
Senhora,
Carta 750. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
Vicente de Paulo.
Importa por todos os modos evitar usar esta prática1 da qual o espírito maligno
poderia se servir para tentar ao que está vivo e até mesmo ao que está para morrer. O
diabo usa de todo recurso para atacar uma alma neste estado e o vigor do espírito pode
permanecer, embora o do corpo esteja debilitado. Lembrai-vos do exemplo daquele
santo que, estando doente, não quis que sua mulher o tocasse, depois de se terem
separado por mútuo consentimento, dizendo que ainda havia fogo sob as cinzas. De
resto, se quereis conhecer os sintomas de uma próxima separação da alma em relação ao
corpo, peça a algum cirurgião ou a alguma outra pessoa presente para vos prestar este
favor, havendo nisso menos perigo do que fazê-lo por vós mesmo. Podeis também pedir
ao médico informação sobre o que ele pensa. Mas, aconteça o que acontecer, importa
jamais tocar moça ou mulher, qualquer que seja o pretexto.
Senhor Padre,
.
Carta 751. – Abelly, op. cit., 2ª ed., 2ª parte, p. 267.
11
O padre ao qual o Santo se dirige lhe perguntara se era permitido tomar o pulso de uma mulher doente para ver se
era tempo de lhe dar os últimos sacramentos ou de rezar as orações da recomendação da alma.
.
Carta 752. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
Destinatário: Ao senhor Padre Vicente, Superior Geral da Congregação dos
padres da Missão, em São Lázaro, Paris.
Senhor Padre,
Suplico ao bom Deus fazer-me a graça de que minhas importunações não sejam
sobrecarga demasiada para vossa caridade, e vos peço perdão por todos os
aborrecimentos que vos ocasiono devido às minhas necessidades. Rogo-vos, pelo amor
de Deus, que me indiqueis uma ou várias intenções que me deva propor no retiro
mensal e concedei-me a graça de poder amanhã ouvir a santa missa que celebrareis,
para nela receber vossa bênção paternal. Tenho muito apreço a esta próxima grande
festa por causa de todas as insignes graças que nela Deus concedeu a sua Igreja e,
quanto a mim, pela graça que sua bondade me fez há vinte e dois anos, trazendo-me a
felicidade de ser dele, da forma como vossa caridade o sabe2. Sinto em meu interior não
sei que inclinação para unir-me, mais fortemente, a Deus; porém não sei como. Dizei,
por favor, meu muito honrado Pai, a vossa pobre filha e serva o que pensais, em nome
de Jesus, pelo qual somos o que somos diante de Deus. Espero muita ajuda de vossa
santas orações e rogo a vosso venerando Anjo da Guarda não vos deixeis esquecer
disso.
.
Carta 753. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 2.
22
Em uma nota que acompanhava sua carta (Cartas de Luísa de Marillac, p. 186), a fundadora fala de uma “lei” que
Deus colocou em seu coração no dia de Pentecostes e “que jamais saiu dele”. Eis, conforme seus próprios escritos
(Arq. da Missão), o fato ao qual faz alusão: “No ano de 1623, dia de Santa Mônica, Deus me deu a graça de fazer
voto de viuvez, se Deus chamasse a si o meu marido. No dia da Ascensão, logo em seguida, tive um grande
abatimento de espírito, por causa da dúvida que eu tinha se devia deixar meu marido, como o desejava fortemente,
para recobrar meu primeiro voto e ter mais liberdade para servir a Deus e ao próximo. Duvidava ainda se o apego que
eu tinha ao meu diretor me impedia de procurar um outro, estando ele ausente por longo tempo, e temia ser a isso
obrigada. Experimentava ainda grande sofrimento com a dúvida sobre a imortalidade da alma. Isto me fez
permanecer, desde a Ascensão até Pentecostes, num sofrimento incrível. No dia de Pentecostes, assistindo à santa
missa ou fazendo a oração na igreja, de repente, meu espírito foi iluminado em suas dúvidas, e fui avisada de que eu
deveria ficar com meu marido e viria um dia em que eu estaria em condição de fazer voto de pobreza, castidade e
obediência, e que isso aconteceria numa pequena comunidade em que algumas outras pessoas fariam o mesmo.
Entendia então que estaria num lugar para servir o próximo, mas não podia compreender como isso se faria, pois que
isso deveria acarretar o ir e vir. Fiquei então certa de que devia permanecer em paz quanto ao meu diretor e que Deus
me enviaria um, que ele me fez ver nessa ocasião, parece-me. Senti repugnância em aceitá-lo. Contudo eu o aceitei.
Parecia-me que ainda não era para realizar essa mudança. Fiquei livre do meu terceiro sofrimento com a certeza que
senti em meu espírito de que era Deus que me inspirava o que disse anteriormente e que, por Deus, não deveria
duvidar do resto. Sempre acreditei ter recebido esta graça do bem-aventurado Bispo de Genebra, por ter, antes de sua
morte, desejado muitíssimo comunicar-lhe esses sofrimentos, e ao depois ter sentido com isso um grande fervor
interior e recebido por este meio muitas graças; e nesse tempo tive algum motivo para acreditar nisso, do qual agora
não me lembro”.
L. de M.
Marselha, 1645.
Eu vos escrevo para vos informar sobre o progresso do hospital, com cujo
estabelecimento tanto contribuistes1. Soubestes por minha última carta como, depois de
muita resistência, com a ajuda de Nosso Senhor, nos confiaram os doentes das galeras.
Sem dúvida, não vos poderia exprimir a alegria que sentem esses pobres forçados ao se
verem transportados desse inferno para o hospital, a que chamam de um paraíso.
Somente com a entrada ficam curados da metade dos seus males, pois que os aliviam
dos vermes de que chegam cobertos, lavam-lhes os pés, e em seguida, os levam para um
leito um pouco mais macio do que a madeira sobre a qual estavam acostumados a se
deitar. Ficam todos admirados de se verem colocados em um leito, servidos e tratados
com um pouco mais de caridade do que nas galeras, para onde reenviamos grande
número de convalescentes que lá teriam morrido. Com toda certeza, senhor Padre,
podemos dizer que Deus abençoou esta obra, o que transparece não somente na
conversão de maus cristãos, mas também na de turcos que solicitam o santo batismo.
.
Carta 754. – Abelly, op. cit., 1. I, cap. XXVIII, 1ª ed., p. 130.
Este fragmento de carta se encontra todo inteiro em uma carta dirigida a 30 de maio de 1645 pelo cavaleiro
de la Coste ao senhor de Montmaur, Conselheiro do rei (Cf. A Companhia do Santíssimo Sacramento do Altar em
Marselha. Documentos publicados por Raoul Allier, Paris, 1909, in-8, p. 198). Ter-se-ia Abelly enganado sobre o
destinatário ou o cavaleiro de la Coste teria escrito nos mesmos termos ao Senhor de Montmaur e a São Vicente?
Raoul Allier prefere a primeira hipótese (ibidem, p. 199, nota 2); a segunda parece mais verossímil, pois o que diz
aqui o cavaleiro se aplica muito bem a São Vicente.
Gaspar de Simiane de la Coste, nascido em Aix em 1607, fora reconduzido a Deus em consequência da
morte prematura de uma pessoa que ele amava. Veio a Paris, estudou a arte da controvérsia com o Padre Véron e
tornou-se amigo de São Vicente de Paulo que despertou em seu coração o amor aos pobres infelizes, de modo
particular para com os pobres galés. Deve-se sobretudo a ele, a São Vicente de Paulo e a Dom Gault, Bispo de
Marselha, a fundação do hospital dos forçados, nessa cidade. Criou também a Obra das Mulheres Boêmias, em favor
das mulheres que acompanhavam as Galeras, seja para não abandonarem seus maridos, seja por outras razões menos
dignas. O piedoso cavaleiro se imbuiu plenamente das máximas de São Vicente. Conformava sua vida, o quanto lhe
era possível, à regra dos missionários: levantar-se às 4h da manhã, uma hora de oração, leitura de um capítulo do
Novo Testamento, de joelhos, de cabeça descoberta, meia hora de leitura espiritual, visita ao Santíssimo Sacramento,
antes de depois das saídas, retiro mensal, retiro anual de oito dias. Seu tempo em grande parte era tomado pelos galés
do hospital, aos quais se comprazia em ministrar algum consolo e seus desvelos. Os missionários não tinham auxiliar
melhor. Morreu de peste a 24 de julho de 1649, vítima de seu devotamento, em circunstâncias que relataremos
depois. O Senhor de Ruffi publicou sua vida em 1659 (Vida do Senhor Cavaleiro de la Coste, Aix, in-8º).
11
Os biógrafos de João Batista Gault, Bispo de Marselha (Marchetty, op. cit., p. 206), e do cavaleiro de la Coste
(Ruffi, op. cit., p. 123) remontam o hospital dos forçados ao ano de 1618, numa época em que Felipe Emanuel de
Gondi era General das Galeras, e São Vicente seu conselheiro muito ouvido. Por falta de meios, sem dúvida, o
estabelecimento permaneceu inacabado. João Batista Gault retomou o projeto, interessou nele o cavaleiro de la Coste,
São Vicente, a Duquesa de Aiguillon e outros personagens influentes e morreu sem ter nada começado. O cavaleiro
de la Coste se consagrou a essa obra e teve a alegria de vê-la terminada, graças aos mesmos interessados.
755. – AO CONDE DE BRIENNE
O Conselho dos assuntos religiosos roga ao senhor de Brienne por seu servo
Vicente escrever ao senhor Conde de Alais 1, ao Parlamento e aos Cônsules da cidade de
Aix, na Provença, que mandem cessar as ações escandalosas e ofensivas a Deus e às
pessoas de bem, que se praticam, desde algum tempo, na procissão da Festa do Corpo
de Deus, em Aix, cuja prática infeliz havia sido supressa, há alguns anos, por ordem do
falecido rei, e recomeçou ano passado2.
Senhor Padre,
Rogo ao bom Deus que o remédio vos tenha encontrado em estado de poder
fazer efeito sobre vossa saúde, mas receio tenha sido por demais prematuro. Desde
alguns dias, venho pensando em vos propor que tomeis os caldos. Creio que vos farão
muito bem. Se o permitirdes, poderíamos levá-lo a partir de amanhã. Tomei-os esta
semana e senti notável melhora.
Não posso esperar mais tempo, meu muito honrado Pai, para dizer-vos como
passei esses dias de retiro. Penso que Deus não quer que eu desfrute plenamente dessa
suavidade. Desde ontem tenho andado bem distraída por causa de uma de nossas
doentes que recebeu a Unção dos Enfermos. É uma Irmã que estava em São
Bartolomeu, filha de um comerciante de Tours, chamada Catarina de Gesse. Outra
doente, e essa de espírito, não cessa de reclamar que pediu para vos ver e nós não vos
avisamos. Tentaremos resolver este embaraço depois destas festas, se Deus quiser.
.
Carta 755. – C. aut. – Bibl. Nac., coleção Clairembault, vol. 399, p. 9443, original.
11
Luís Emanuel de Valois, falecido sem deixar posteridade a 13 de novembro de 1653.
22
A procissão do corpo de Deus era acompanhada em Aix por representações alegóricas que nada tinham de piedoso
ou mesmo decente. Nela se viam jovens rapazes, disfarçados de Cupido e de demônios, se permitirem liberdades
realmente excessivas, para melhor cumprir seu papel, que consistia em simbolizar os pecados capitais. Encontram-se
informações interessantes sobre essa questão em Joseph de Haitze, Espírito do Ceremonial de Aix na celebração da
Festa do Corpo de Deus, 1708, e em Gregório Gaspard, Explicação das Ceremônias da Festa do Corpo de Deus de
Aix, na Provença, Aix, 1777, in-12. A Companhia do Santíssimo Sacramento de Marselha teve de lutar contra tais
abusos (Raoul Allier, A Companhia do Santíssimo Sacramento do Altar, em Marselha, Paris, 1909, in-8º).
.
Carta 756. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data acrescentada no dorso do original.
E, quanto a mim, meu caríssimo Pai, que farei amanhã? Comungarei sem vos
declarar todas as maldades que descobri no meu exame? Ah! Meu Deus! Como tenho
motivos para reconhecer e confessar que nada faço que valha a pena! Entretanto, meu
coração não se enche de amargura, embora tenha motivos para temer que a
misericórdia de Deus se canse de exercer numa pessoa que lhe desagrada sempre.
Hoje é aniversário do desabamento do assoalho de nossa casa e, amanhã, o do
dia em que nosso bom Deus fez-me conhecer sua vontade e em muito desejaria que seu
santo amor fosse, para meu coração, sua lei eterna. Vede, meu muito honrado Pai, de
que necessito para isso e se vossa caridade pode dizer-me alguma palavra que me
ajude. Tende também a bondade de informar-me se amanhã, em algumas de minhas
meditações, tomarei como assunto o evangelho do dia, ou a descida do Espírito Santo,
ou se dedico a esse tema todas as meditações do dia.
Peço-vos perdão por vos ser tão importuna, ainda que me pareça que nisso faço
a vontade de Deus, na qual sou, senhor Padre, vossa muito grata filha e muito
obediente serva,
L. de Marillac.
Sábado.
Senhor Padre,
Humildemente vos rogo, pelo amor de Deus, me concedais a honra de vos falar
nesta manhã, pois preciso dar uma resposta urgente a meu filho que virá procurar-me
hoje, por que ontem não lha quis dar.
Se vossos afazeres vos obrigarem a sair de casa antes que eu chegue, tende a
bondade de passar por aqui. Se tomo a liberdade de fazer-vos semelhante pedido é por
causa da urgente necessidade que tenho. Sou no amor de Jesus crucificado, senhor
Padre, vossa muito humilde e mui grata filha e serva,
L. de M.
.
1
Carta 757. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
1
Depois de 1649, Luísa de Marillac teria escrito “Meu muito honrado Pai” e não “ Senhor Padre”.
Destinatário: Ao senhor Padre Vicente.
30 de junho de 1645.
.
Carta 758. – Dossiê da Missão, cópia tirada do original em poder do senhor Padre de Saint-Rémy, diretor do asilo
dos alienados, em Mans.
11
Superiora da Visitação de Mans (21 de maio de 1643 a 27 de maio de 1646), anteriormente professa do primeiro
mosteiro de Paris.
22
O Padre Gallais fora a Mans tomar posse do cargo de prepósito e da direção da igreja colegial e real de Notre-
Dame de Coëffort, cedida à Congregação da Missão a 26 de janeiro de 1645, pelo prepósito Martin Lucas, principal
administrador do Hospital Geral da cidade de Mans, tanto em seu nome quanto em nome de seus coirmãos. Este
último colocava como condição que ele gozaria, durante a sua vida, dos frutos e da renda do Priorado, que remontava
à soma de 2.400 libras, que seus coirmãos receberiam suas pensões ordinárias, que padres da Missão seriam enviados
para lá em número suficiente, celebrariam nela o ofício divino, assumiriam as missas e os óbitos da fundação e se
dedicariam ao trabalho das missões. O rei, a quem pertencia a nomeação para o cargo prepósito, tinha, pelas cartas
patentes de fevereiro de 1645, renunciado ao seu direito de lhe dar provisão e aprovado a concordata. Emmeric-Marc
de la Ferté, Bispo de Mans, emitiu o decreto de união a 18 de novembro de 1645 e nele acrescentou o direito de
apresentar e de nomear, para as paróquias de Montbizot e da Maison-Dieu, com o compromisso, para os padres da
Missão, de arcar com todas as fundações e outras obrigações do priorado, de cumprir as funções de capelães do
grande Hospital Geral de Mans e de receber os ordinandos e os seminaristas que lhe fossem enviados.
.
Carta 759. – Reg. 2, p. 227.
Esta semana veio-me ao espírito alguma luz sobre os meios possíveis para
introduzir a piedade nos espíritos daqueles que devem um dia compor aquela corte.
Confesso-vos que a proposta que me fizeram da instrução dos meninos me passou pela
mente como o único meio. Mas há tantas coisas a dizer a respeito disso que é preciso
nada fazer, se a Providência a isso não nos coagir.
Senhor Padre,
.
Carta 760. – Coleção do processo de beatificação.
11
O Padre Bernardo de Santa Teresa.
22
Superior do seminário de Annecy.
33
Marcos Coglée, nascido em Carrick (Irlanda) a 25 de abril de 1614, ordenado padre a 30 de maio de 1643, foi
recebido na Congregação da Missão a 24 de julho do mesmo ano. Acabava de ser enviado para Marselha, onde
permaneceu até 1646. Num momento de perturbação e desânimo, teve a felicidade de encontrar Geraldo Brin, seu
compatriota, que o reteve na Companhia. Depois de lhe ter dado um tempo para se firmar um pouco com alguns dias
passados no Seminário Interno, o Santo o colocou em Sedan (1646). Marcos Coglée fez os votos nessa cidade a 13 de
dezembro de 1649 e foi nomeado, no ano seguinte, pároco da paróquia e superior do estabelecimento. Substituído em
1654 por Jean Martin, retomou as mesmas funções em 1655, permanecendo nelas por um ano. Ocupou, durante
alguns meses, em 1659, a direção do seminário de Annecy, que ele deixou para retornar a São Lázaro.
Disse-vos o meu pensamento sobre o Irmão Berthe 4, com relação ao referido
senhor.
Fiquei satisfeito com o que me dissestes, parece-me, que o R. P. Léon 5 deve ir
passar alguns dias convosco. Se ele estiver ainda em Roma eu o abraço com todo afeto
do meu coração, como faço também em relação ao bom Padre de Montheron, prostrado
em espírito aos pés de um e de outro.
Quanto ao que me dizeis sobre a dificuldade de atribuir benefícios a crianças,
trata-se de uma determinação feita, estando no Conselho dos assuntos eclesiásticos os
senhores Bispos de Lisieux6 e de Beauvais7, por razões que podeis imaginar e pelo
aludido motivo de que se trata de descartar, entre dois males, o pior, ou seja, a
confidência e a inutilidade da infância8. Seria isso bom se houvesse apenas homens
casados e com filhos a solicitar benefícios. Mas o número desses não chega talvez a um
terço, pois todos os que pedem benefícios não são casados, e todos os que são casados
não têm filhos, e os que os têm não estão determinados a engajá-los no estado
eclesiástico, assumindo entrementes o benefício. Houve dificuldades para a observância
desta determinação. Para muitos, é violência romper com ela. Mas eis que, com a graça
de Deus, começam a se habituar com isso. O senhor de Chavigny 9 perdeu seu segundo
filho, encarregado de duas boas abadias. Os familiares as pediram para o seu terceiro
filho, que tem apenas cinco ou seis anos. Tendo Deus me dado força para me manter
firme, ele veio encontrar-me para me dizer que longe de levar a mal que eu tenha
insistido em me opor, ao contrário, se eu tivesse atendido ao desejo da madame sua
mãe, que eu o teria escandalizado, que ele conceberia desprezo a meu respeito e não o
teria aceitado. É do próprio senhor de Chavigny que vos falo. Seja isto dito ao pé do
ouvido do vosso coração. Não sei por que me deixei levar a vos dizer tanta coisa sobre
isso.
Vede nossas pequenas notícias. Deus dispôs do Padre de Vincy. Partiu deste
mundo não somente em paz, mas também com alegria. Quis que o recebêssemos na
Companhia quatro horas antes de morrer, conforme a inspiração que tivera, segundo me
disse. Do mesmo modo o sepultamos. Eu o recomendo a vossas orações.
44
Tomás Berthe, de Donchéry (Ardennes), foi recebido na Congregação da Missão a 26 de novembro de 1640, com a
idade de 18 anos, e pronunciou os santos votos a 08 de dezembro de 1645. Ordenado padre em 1646, foi enviado para
Sedan. Persuadido de que ia para esta cidade na qualidade de superior, sentiu-se humilhado por ver que lhe
confiavam um ofício inferior e se retirou para sua família. Retornou bem cedo a melhores sentimentos, e São Vicente,
que lhe conhecia as virtudes e lhe apreciava os talentos, o recebeu com alegria. Tomás Berthe prestou grandes
serviços à Companhia nos ofícios importantes que lhe foram confiados. De 1649 a 1650, foi superior do Seminário
dos Bons-Enfants, de 1653 a 1655, superior da casa de Roma; em 1660, foi secretário da Congregação, de 1661 a
1667, assistente do Superior Geral, de 1668 a 1671, superior da nova casa de Lyon, de 1673 a 1682 e de 1687 a 1689,
superior do Seminário São Carlos, de 1682 a 1685, superior em Richelieu. Em outubro de 1659, São Vicente julgava
que, entre os seus missionários, ninguém era mais apto para substituí-lo à frente da Congregação do que Renê
Alméras ou Tomás Berthe. Foram os dois nomes que ele propôs antecipadamente por escrito à Assembleia Geral que
devia escolher seu sucessor. Tomás Berthe morreu em 1697. Houve entre ele e Edme Jolly, então Superior Geral,
alguns atritos que lançaram sombra sobre seus últimos anos (Cf. Notices, t. II, pp. 247-313).
55
Da Ordem dos Carmelitas mitigados.
66
Felipe Cospéan.
77
Agostinho Potier.
88
“Inutilidade da infância”: está assim no original francês, obscuro para o tradutor.(N. do T.).
99
Léon Le Bouthillier, Conde de Chavigny, Secretário de Estado. Ana Phelippeaux, dama de Busançois, sua esposa,
lhe deu seis filhos e oito filhas, entre os quais muitos morreram jovens ou se fizeram religiosos. Um deles, Francisco,
tornou-se Bispo de Rennes e de Troyes. Os dois filhos de que se trata aqui eram Nicolau, nascido a 06 de setembro de
1633, e Urbano, nascido a 27 de novembro de 1639.
O Padre Lambert entrou no seminário1010, no qual é um notável exemplo (de
edificação).
Enviamos o Padre Gallais a Mans para tomar posse de nosso
estabelecimento1111.
O Padre Portail vai fazer um retiro de sete ou oito dias e, depois disso, o
mandaremos partir para fazer a visita que fazia o Padre Lambert. Ele precisa de um
retiro espiritual. Talvez irá ter convosco. Mandaremos o Padre Lambert ocupar-lhe o
cargo de assistente, se vós e os outros a quem escreverei sobre isso, conforme nossa
regra, não fordes de parecer contrário.
Começamos o seminário dos eclesiásticos, que celebram a santa missa em
Notre-Dame1212. Já há cerca de vinte nos Bons-Enfants, desde há sete ou oito dias.
Enviamos para lá o Padre Gilles e o Padre Beaumont 1313 para assistirem às aulas e
chamamos de volta para aqui o Irmão Damiens, que encanta os seminaristas. Quanto
aos ordinandos, será necessário transferi-los para aqui, onde vamos começar um edifício
no lugar da pequena enfermaria1414. Madame Duquesa de Aiguillon foi quem doou as
10.000 libras para isso. Estamos cercando nossas terras com muros.
Embora sempre com incômodo, minha carta é mais longa, porque estou de cama,
hoje, por causa de uma enfermidade no pé. Eis o que vos posso dizer no presente.
Abraço vossa pequena comunidade, prostrado em espírito aos seus e aos vossos pés e
sou, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
1010
No Seminário Interno de São Lázaro
1111
Tomara posse a 30 de junho.
1212
Depois de uma fundação feita por Richelieu, doze clérigos se juntaram, em 1642, aos jovens seminaristas que
faziam humanidades. Em 1645, desolado por ver numerosos padres vivendo em Paris, em locais onde sua virtude
ficava gravemente exposta, celebrando sem devoção e sem atenção às rubricas, passando de igreja em igreja,
mendigando honorários de missas e pedindo, publicamente, esmola, São Vicente arrumou um local na extremidade
do recinto de São Lázaro, num edifício que tomou nome de Seminário São Carlos, e alojou nele os seminaristas que
faziam as humanidades e recebeu em seu lugar, no Colégio dos Bons-Enfants, uns quarenta eclesiásticos. Seus
honorários de missas deviam servir para cobrir os gastos de alimentação. Combinou-se com o Cabido que todos eles
iriam, em hora marcada, celebrar a missa em Notre-Dame. O Santo só teve que se felicitar com esta nova obra, que
deu bons padres à Igreja (Collet, op. cit., t. I, p. 411 e seguintes).
1313
Pierre de Beaumont, nascido em Puiseaux (Loiret) a 24 de fevereiro de 1617, entrou na Congregação a 23 de
fevereiro de 1641, fez os votos a 04 de outubro de 1643 e foi ordenado padre em março de 1644. Foi preso na ocasião
do processo relativo ao estabelecimento de Saint-Méen. Tornou-se diretor do Seminário Interno de Richelieu e
depois, por duas vezes, superior da casa (1656-1660, 1661-1662).
1414
O novo edifício tinha aproximadamente vinte e três metros de comprimento e nove metros de largura. Com seus
quatro andares, oferecia lugar suficiente para os ordinandos (Arq. Nac. M 212, março nº 7).
1515
Ignoramos de que dispensa precisava Michel Le Gras. Tudo que sabemos é que essa dispensa foi muito difícil de
se obter e que as diligências continuaram durante vários anos. Pediu-se a intervenção do rei, que enviou ordens a seu
embaixador. Este último, depois de ter falado da questão com o próprio Soberano Pontífice, sem êxito, procurou
apoio dos cardeais mais influentes. Em 1648 nada ainda se tinha feito. Sobre este assunto existe, no Berço de São
Vicente de Paulo, duas interessantes cartas de Renê Alméras a Santa Luísa de Marillac, uma de 23 de março de 1648,
a outra de 21 de junho de 1649. Pensamos que se trata de uma dispensa em vista de um casamento. Mas qual era
então a natureza do impedimento para encontrar tantos obstáculos, apesar de tão altas intervenções?
Destinatário: Ao senhor Padre Dehorgny, Superior dos padres da Missão, em
Roma.
Senhor Padre,
14 de julho de 1645.
O senhor Padre... está com boa vontade. Penso ser bom lhe deis ocupação,
temendo que, ao procurá-la por si mesmo, não venha a alterar suas boas disposições.
Alguns espíritos são como mós girantes sem trigo, que se inflamam e queimam o
moinho.
Peço-vos de novo escrever-me, a mim somente, sobre vossas pequenas
dificuldades, e jamais a pessoa alguma de fora, que venha alterar e estragar totalmente a
vida interna, quando se lhe revelam as próprias dificuldades. Não quero dizer com isto
que eu o tema da parte daquele a quem fizestes vossas pequenas reclamações, até o
presente. Mas não posso ocultar-vos nem o fato de que aquele que manifesta de tal
maneira suas fraquezas fora da comunidade expõe ao desprezo a própria pessoa que o
faz e toda a Companhia em geral, nem a fuxicaria que isso poderia render. Em nome de
Deus, senhor Padre, prestai atenção nisso e não tenhais medo de vos queixar comigo de
mim mesmo. Vereis que, com a graça de Deus, farei bom uso disso.
764. – AO PARLAMENTO
11
Data da morte do Padre de Vincy.
.
Carta 763. – Reg. 2, p. 261.
.
Carta 764. – C. aut. – O original pertence ao senhor Cônego Loevenbruck, pároco da paróquia Saint-Vincent-de-
Paul em Nancy.
11
Data colocada no dorso da requisição.
22
Quinta dependente do priorado de São Lázaro.
paróquia de Sevran3, ligada à mata de Livry4, pela razão de que a maior parte da citada
mata é velha e mirrada, não serve mais e impede a boa mata de corte de crescer.
Pretendem, com a devida licença, empregar uma parte do dinheiro obtido da venda nas
cercas e tapumes que mandam fazer em torno das terras que possuem atrás de São
Lázaro5, por causa do grande estrago que o público faz nelas, indo e vindo, como
também roubando o trigo amadurecido 6. Usarão a outra parte para cercar uma casa no
bairro chamado Saint-Martin, alienada por seus proprietários anteriores, ou para
comprar uma granja que lhes interessa, na paróquia de Saclay 7. Tudo isso será vantajoso
para a referida casa de São Lázaro.
Posto isto, Excelências, apraza-vos mandar registrar as citadas cartas no cartório
de vossa referida corte, para que os referidos suplicantes possam usufruir dos seus
efeitos.
Senhor Padre,
.
Carta 765. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
Estou também sem saber se devemos deixar a Irmã Jaqueline em Saint-Jacques
ou chamá-la para aqui. É aquela que estava em Saint-Leu. Precisava falar-vos de todas
essas dificuldades, porém não me atrevo a pedir para conversar pessoalmente
convosco, pois não sei se estais de acordo. Ambos os assuntos são urgentes. Quanta
necessidade tenho de que vossa caridade se exerça sobre minha miséria, não podendo
eu ter outra ajuda senão a da direção que me deu a vontade de Deus, na qual sou,
senhor Padre, vossa muito indigna filha e mui grata serva,
L. de M.
Suplico-vos muito humildemente ter a bondade de me avisar se vossa caridade
entregou dinheiro a meu filho e se devo ir ao Filles-Dieu1 esta manhã para um serviço
ao qual Madame de Verthamon2 me lembrou que eu fosse, em favor de uma de suas tias,
caso possa servir-me de sua carruagem.
19 de julho de [16453].
Senhor Padre,
Julguei que deveria enviar-vos esta carta para que tenhais a bondade de lê-la.
Muito me admira que seja a mãe quem a tenha mandado escrever, pois já lhe havia
falado dos poucos meios que tenho para manter a casa e da incerteza de que isso
servisse para alguma coisa. Não que ela morando lá, eu não queira contribuir e
procurar o seu maior bem, por todos os meios que me fossem possíveis.
Sei que a maior parte das jovens que lá estão nada pagam. Se é verdade o que
ela disse, poderia ter um dote bastante bom para uma moça de sua classe, mesmo se
reduzido à metade do que afirmou possuir em sua terra natal. Penso que essas boas
Religiosas deram crédito exagerado às razões que ela lhes disse ter para conseguir, em
justiça, o que pretende.
Peço-vos humildemente perdão, senhor Padre, por importunar-vos com isso.
Minha intenção é dar-vos a conhecer a situação deste assunto tão aborrecido, para
quando vossa caridade tiver a bondade de estar com essas boas religiosas, pois dizem
ter grande necessidade de vos falar.
Queira a divina bondade aumentar-vos as forças, na proporção dos trabalhos
com que todo mundo vos sobrecarrega. Em meio a tudo isso, fazei-me a caridade de
considerar, diante de Deus, as minhas necessidades e de lhe recomendá-las, pois é a
11
Convento de moças penitentes.
22
Maria Boucher de Orsay, esposa de Francisco de Verthamon, Senhor de Breau, Barão de Manoeuvre, Referendário.
33
Esta carta parece ser dos primeiros tempos do estabelecimento de São Gervásio, e portanto deve ser colocada
pouco depois da carta 742.
.
Carta 766. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
única ajuda que tenho para cumprir sua santíssima vontade, na qual sou, senhor Padre,
vossa muito obediente filha e mui grata serva,
L. de M.
21 de julho de [16451].
Senhor Padre,
Permito-me crer que, há muito tempo, não tomo a liberdade de falar convosco e
isso me desculpará ante vossa caridade, se me atrevo a dizer-vos que estou preocupada
com vossa enfermidade. Receio ser mais grave do que nos fazem crer. Se fôsseis um de
nossos pobres, talvez “a água forte” do senhor Deure vos curasse logo, porque os
unguentos, quaisquer que sejam, irritam a ferida e a mantêm em supuração. Não sei,
meu muito honrado Pai, se o bondoso padre das Filhas da Madalena esteve convosco.
Ele apressa a decisão da saída dessa jovem e parece convicto de sua conversão, pois
diz que ela lhe garante não querer pensar jamais na pessoa a quem se sentir ligada 2 e,
o que deseja é voltar para sua casa. Aliás, eu me lembrei ser essa a resolução que
juntos tomaram, antes de serem capturados. A carta que mostrei a vossa caridade deixa
antever que o propósito dele é de associar-se, depois do casamento, aos pais da moça,
negociantes de vinho, ou retirar-se para aquela região, para viver nela em paz, mas
sem fazer nada. Portanto, com toda probabilidade, o pensamento dela é que, tão logo
saia, ele irá buscá-la.
Peço, muito humildemente, senhor Padre, me perdoeis ter-vos falado desse
assunto: para mim é tão novo como no início e, em alguns momentos, se me torna tão
doloroso que nem posso expressá-lo.
Continuo tendo o pensamento de que estou bem perto de morrer, e, ainda que o
aceite, se tal for a vontade de Deus, causa-me sofrimento deixar, se Deus o quiser,
todos os meus negócios atrapalhados e em má situação.
Nossa pequena Companhia jamais esteve também tão frágil. Numa palavra, meu
muito honrado Pai, não sei se é porque, há muito, nos falta a vossa presença, o certo é
que estamos mal. Suplico muito humildemente vossa caridade lembrar-se da proposta
11
Data acrescentada no dorso do original.
.
Carta 767. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data acrescentada no dorso do original.
22
É fácil adivinhar o nome daquele que Luísa de Marillac tinha em mente, ao escrever estas linhas.
que lhe fiz de uma conferência todas as semanas, com a presença de um de vossos
padres. Quando vo-la fiz, não me pareceu que vós vos afastásseis e até me destes a
honra de indicar um deles para nós. A essa conferência viria, por vez, uma irmã de
cada paróquia, para evitar que os pobres ficassem sem atendimento. Por favor, dai-nos
vossa santa bênção e concedei-me a alegria de ver-me diante de Deus, como o sou,
senhor Padre, vossa mui obediente filha e mui grata serva,
L. de M.
Dia de Santana.
Senhor Padre,
.
Carta 768. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Luís de Nogaret de la Vallette d’Epernon, Bispo de Mirepoix (22 de dezembro de 1629 a 1655), depois Bispo de
Carcassonne (1655 a 10 de setembro de 1679).
769. – O CARDEAL DURAZZO1 A SÃO VICENTE
Soube, nesses últimos meses, quando da passagem do Padre Codoing por essas
bandas, que ele pertencia à Congregação da Missão, e me servi de seu ministério em
diversas partes de minha diocese, onde trabalhou com grande fruto e bênção no serviço
de Deus e na salvação das almas, com minha particular satisfação.
Contudo, ao dizer-me que, para obedecer aos seus superiores, devia partir para
Paris, dei o meu consentimento, já que enviastes outros padres para continuar o que ele
começou, com tanta felicidade2. Há esperança de se estabelecer aqui um tão piedoso
Instituto para a maior glória da Divina Majestade. Fiz questão de vos comunicar nossa
consolação espiritual a este respeito.
Senhor Padre,
L. de Marillac.
.
Carta 770. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita quando a transferência das crianças expostas para Bicêtre estava apenas em projeto. Ela se
situa, portanto, entre junho de 1643 (Cf. carta 669) e julho de 1647. A data de 19 de agosto de 1646 deve ser
descartada, pois Luísa de Marillac não estava em Paris.
Primeiramente, o tamanho do prédio e a extensão do local. Nem pela metade
seriam ocupados, dentro de mais de dois anos.
Os grandes inconvenientes que existem, inclusive em Paris, quando as casas
foram, anteriormente, habitadas por pessoas de má vida. Com maior razão, são de
temer num lugar que, por muitos anos, foi o reduto, dia e noite, de toda espécie de
gente pouco recomendável, não só dentro do castelo, mas também fora.
O perigo que há nas estradas, para as Irmãs que, muitas vezes, são obrigadas a
ir e vir da cidade.
A impossibilidade de carregar as crianças nos braços, e a grande dificuldade de
levá-las a cavalo, por causa tanto dos terrenos argilosos e dos péssimos caminhos,
como por causa das chuvas, granizo e neve.
Seria preciso muitas Irmãs, devidos às viagens que estariam obrigadas a fazer,
tanto por causa das crianças, como pelas necessidades da casa, e não dispomos de
tantas, apropriadas a este tipo de trabalho.
Os perigos das muitas viagens a serem feitas pelas Irmãs poderiam causar-lhes
desequilíbrios, tanto agora como no futuro.
As grandes despesas para preparar o local a fim de torná-lo habitável, para
abastecê-lo, pois as provisões terão de ser ali mais abundantes do que em outro lugar.
Isso parece evidente.
Dificuldade de as Irmãs irem às Assembleias, de conseguirem vir todos os meses
à Casa (Mãe) e também de as crianças serem visitadas.
E se se tratasse de levar para lá todas as Irmãs de Caridade, parece-me, seria
grande prejuízo para toda a Companhia, por causa das visitas necessárias das Irmãs
que servem os pobres em Paris, dos exercícios que se fazem na Casa, tanto em favor do
atendimento aos pobres doentes, dos curativos de feridas, da instrução das meninas,
como, sobretudo, por causa da indispensável comunicação com os superiores e, às
vezes, com as Damas das paróquias.
Se, apesar de todas essas dificuldades, se devesse ir para lá, seria necessário,
pelo menos durante este inverno, que dois homens permanecessem na casa, e que todos
os dias houvesse missa na capela, na qual se poderia instalar uma pia batismal para as
crianças poderem ser batizadas, e seriam gastas as cinquenta libras doadas para isso.
Seria ainda necessário contar com uma carroça coberta e um cavalo para
transportar as crianças. Isso facilitaria bastante, e um dos homens poderia dirigi-la.
Se for assim, ter-se-ia de escolher com muito cuidado esses dois homens, devido
à comunicação com as amas e com as Irmãs.
.
Carta 771. – Manuscrito São Paulo, p. 76.
11
A carta 772 responde a esta.
Senhora,
22
Este relatório era o primeiro esboço de uma súplica ao Arcebispo de Paris do qual daremos o texto (Carta 773).
.
Carta 772. – Dossiê das Filhas da Caridade, minuta autógrafa incompleta.
1 1
As Filhas da Caridade entraram em serviço no Hospital Saint-Denis a 02 de agosto de 1645, e se diz que esta nota
foi escrita poucos dias depois.
Não conviria mencionar que o dinheiro que se entrega à bolsa comum serve
para comprar as provisões necessárias à Casa e para a roupa das Irmãs, mesmo das
que estão nas paróquias, uma vez que é confeccionada em casa para, por este meio,
ficarem todas uniformemente vestidas?
Neste artigo: “Respeitarão e obedecerão em tudo que se refere à direção e à
assistência dos pobres doentes...”.
22 de setembro de 1645.
.
Carta 775. – Reg. 2, p. 176.
11
O manuscrito de Avinhão dá como destinatário Francisco Grimal, Superior em Sedan. Preferimos o destinatário do
registro 2.
2
Traduzimos por “eremitas” a palavra “solitaires”, cujo sentido Coste não decifra. (N. do T.).
15 de outubro de 1645.
Senhor Padre,
Estou muito contente com a bênção que Deus concedeu aos exercícios
espirituais de vossos “eremitas” 2, mas sobretudo, com vossa sábia conduta, que há de
ser sempre assim, como espero, procedendo com aconselhamento e paciência, que são
os meios, segundo os quais, o ensino de hoje nos mostra como os romanos conduziam
com êxito sua república, e são os mais eficazes que Deus nos deixou para uma boa
direção. Não duvido de que o cuidado da casa, o da paróquia e de tantos outros negócios
vos sobrecarregam. Lembrai-vos porém, senhor Padre, que Nosso Senhor é a força e a
sabedoria daqueles que Ele aplica a semelhantes obras, e tende confiança que Ele agirá
assim convosco.
1645.
Vicente de Paulo roga a Denis Gautier receber como convém, em sua casa,
Adriano Le Bon, antigo Prior de São Lázaro, e oferecer-lhe hospedagem e alimentação,
e até mesmo tratá-lo como se fosse dono dos bens e das pessoas.
Senhor Padre,
.
Carta 776. – Collet, op. cit., t. I, p. 514.
.
Carta 777. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
11
Jean de Plantavit de la Pause, prelado muito erudito (1625-1648).
22
Os Estados de Languedoc.
crendo que vos será muito agradável e que ficareis contente com o fato de ele depositar
sua afeição sobre uma pessoa de tal mérito e capacidade, como bem sabeis. A
esperança que tenho de que ele se tornará muito útil à glória de Deus nessa diocese e à
salvação das almas que lhe serão confiadas leva-me a suplicar-vos, senhor Padre, com
todo meu coração, a tê-lo como especialmente recomendado, e prestar-lhe, nessa
ocasião, todos os bons ofícios que dependerem de vós, podendo garantir-vos que, além
do serviço que prestareis a Deus e do bem que fareis a essa diocese, ficarei vos
devendo um reconhecimento muito especial, pois que o estimo ternamente e lhe dedico
muito respeito, devido às marcas que ele dá de sua virtude e de uma piedade
verdadeiramente cristã. Espero esta graça de vosso zelo para com tudo que diz respeito
ao bem da Igreja de Deus, e que me fareis a honra de me crer sempre, no amor de
nosso caro Salvador e no de Sua Santa Mãe, senhor Padre, vosso muito humilde e
muito obediente servo,
[janeiro de 16462].
33
Cantão do Hérault.
.
1
Carta 778. – C. as. – Original no Seminário de São Sulpício, em Paris.
1
Jean Scarron, Senhor de Mendiné, Conselheiro da Alta Câmara do Parlamento.
22
Ver nota 6.
33
Lá se encontrava o Seminário São Carlos ou o Pequeno São Lázaro.
44
Henri de Guénegaud du Plessis, Marquês de Plancy, Comendador de Montbrison, Tesoureiro da Espanha, em 1639,
Secretário de Estado, de 1643 a 1669, Ministro da Justiça para as ordens do Rei, em 1656, falecido em Paris a 16 de
março de 1676, com a idade de 67 anos. Desposara, a 23 de fevereiro de 1642, Elisabeth de Choiseul, filha do
Marechal de Praslin.
cartas sido apresentadas aos senhores Tesoureiros de França, na Generalidade 5 de Paris,
esses últimos mandaram visitar os lugares e demarcar os alinhamentos necessários.
Considerando isso, senhor Prepósito, apraza-vos, por favor, mandar que as ditas
patentes anexas sejam registradas em vosso cartório, para que os suplicantes possam
usufruir de seus efeitos e para que as referidas cartas patentes estejam a sua disposição,
no que for de razão. E assim tudo ficará bem.
Senhor Padre,
55
Circunscrição financeira da França, antes de 1789, a cuja frente estava um Intendente (Nota do Tradutor).
.
Carta 779. – Publicada por Et. Charavay no Amateur d’autographes, outubro de 1871, p. 171, conforme o original,
que fazia parte da coleção Merlin.
11
Renê Sauvage, nascido em Arrest (Some), entrou na Congregação da Missão a 02 de julho de 1638, com a idade de
25 anos, e fez os votos a 17 de outubro de 1642.
22
Francisco Charles, nascido em Plessala (Côtes- du-Nord) a 10 de dezembro de 1611, foi recebido na Congregação
da Missão a 12 de março de 1640. Foi ordenado padre na Quaresma do ano de 1641 e morreu a 26 de janeiro de
1673, depois de ter exercido em São Lázaro as funções de diretor dos retirantes e dos Irmãos Coadjutores. Na circular
dirigida a toda a Companhia para anunciar sua morte, Edme Jolly, Superior Geral, faz um grande elogio de sua
virtude (Ver Notices, t. II, p. 245-246).
33
O Cardeal Francisco Tolet, jesuíta, nasceu em Córdova a 04 de outubro de 1532, e faleceu em Roma a 14 de
setembro de 1596. Ensinou brilhantemente a filosofia no Colégio Romano e realizou com êxito várias missões
diplomáticas. Devemos-lhe vários tratados de filosofia e de teologia. É conhecido, sobretudo, por sua obra de
casuística, frequentemente reeditada, Instructio sacerdotum ac de septem peccatis (Roma, 1601) que reapareceu em
1604, 1608, 1633 com o título de Summa casuum conscientiae absolutíssima, e, posteriormente, muitas vezes.
Vicente de Paulo, indigno padre da Missão.
[Antes de 16501].
Senhor Padre,
Suplico-vos muito humildemente, pelo amor de Deus, possa hoje ter a honra de
falar convosco, por pouco tempo que seja, conforme vos aprouver. Se ainda não
assinastes nossas contas, tende a bondade de diferi-lo até que eu inclua os gastos das
Irmãs do Hospital Geral, pois esqueci-me de anotá-los.
Cometo muitas faltas por minha pressa excessiva, sem falar das faltas por
malícia.
Todas as vossas pobres filhas vos saúdam muito humildemente, pedindo-vos que
vos lembreis delas. Quanto a mim, a menor de todas, sou, senhor Padre, vossa muito
humilde e mui grata filha e serva,
L. de M.
[1646 ou 16491].
Soube do sofrimento que vos causou certa carta que o senhor vosso pai vos
escreveu, para vos obrigar a ir socorrê-lo. Sobre isso, creio dever dizer-vos o que
pensei:
1º Não é pequeno mal romper o vínculo com que vos ligastes a Deus na
Companhia.
.
Carta 780. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Depois de 1649, Luísa de Marillac teria escrito “Meu muito honrado Pai” e não “Senhor Padre”.
.
Carta 781. – Reg. 2, p. 347. O destinatário desta carta parece ser Paulo Carcireux que tinha uma irmã entre as Filhas
da Caridade e deixou a Congregação da Missão para ajudar seu pai.
11
Ver nota 4.
2º Perdendo vossa vocação, privareis a Deus dos bons serviços que espera de
vós.
3º Sereis responsável, diante do trono de sua justiça, pelo bem que deixareis de
fazer e que faríeis, permanecendo no estado em que estais.
4º Poreis em risco vossa salvação, indo para junto dos vossos pais, e talvez não
os alivieis, como aconteceu a outros que saíram sob esse pretexto. Deus não o permitiu
porque, se ele quisesse que eles passassem a uma melhor condição, disporia de outros
caminhos para esse fim.
5º Nosso Senhor, conhecendo a malignidade inerente à obsessão com os
parentes, naqueles que já os deixaram para segui-lo, não quis, como diz o Evangelho,
que um de seus discípulos fosse nem mesmo sepultar seu pai, nem que um outro fosse
vender seus bens para dá-los aos pobres2.
6º Daríeis mau exemplo a vossos coirmãos e motivo de tristeza para a
Companhia, pela perda de um de seus filhos que ela ama e que educou com tanto
desvelo.
Eis, senhor Padre, o que vos suplico considerar diante de Deus.
O motivo que podeis ter de vos retirar está na necessidade do senhor vosso pai.
Mas é preciso ver em que casos os moralistas obrigam os filhos a sair de uma
comunidade. Quanto a mim, creio que é apenas quando os pais ou as mães estão
padecendo em sua própria saúde natural, não em sua condição de vida. Tal seria se
fossem muito velhos, ou quando, por algum incômodo natural, não pudessem ganhar a
própria vida. Ora, isto não acontece com o senhor vosso pai, que tem apenas 40 ou 45
anos, no máximo, e que está com boa saúde e pode trabalhar, e está de fato trabalhando.
Sem isto, não se teria casado de novo, como o fez há pouco, com uma jovem senhora de
18 anos, das mais belas da cidade. Ele próprio mo comunica, para que eu a apresente a
Madame Princesa de Logueville3, para ser ama-de-leite do filho dela4. Certo que ele não
se acha, penso eu, na abundância de recursos. Meu Deus! quem não se ressente hoje da
miséria desses tempos! Depois, não é seu incômodo presente que o obriga a vos chamar
de volta, porque ele não é grande. É apenas o incômodo que ele teme, por lhe faltar um
pouco de confiança em Deus, embora nada lhe tenha faltado, até o momento, e ele tenha
motivo para esperar que sua bondade não o abandonará no futuro.
Poderíeis talvez vos persuadir de que é por vosso meio que Deus quer de fato
acudir às suas necessidades, e que é por isto que sua Providência vos apresenta uma
paróquia de 600 libras, pelo próprio intermédio desse bom homem.
Mas vereis que não pode ser assim, se refletirdes em duas coisas: em primeiro
lugar, se Deus vos chamou a um estado de vida que honra o do seu Filho sobre a terra e
22
Lc 9, 59-62.
33
Ana Genoveva de Bourbon, esposa de Henrique II, Duque de Longueville, mulher de vida espiritual, instruída e
intrigante. Tomou parte ativa nas turbulências da Fronda. Tinha por São Vicente de Paulo uma profunda veneração.
Depois da morte do marido (1663), foi morar perto das Carmelitas da Rua Saint-Jacques. Passou o resto dos seus dias
na penitência e nas austeridades de Port-Royal e morreu jansenista, a 15 de abril de 1679. Sua vida foi escrita por
Bourgoin de Villefore (La véritable vie d’Anne-Geneviève de Bourbon, duchesse de Longueville, Amsterdam, 1739, 2
vol. in-12) e por Cousin (Madame de Longueville,Paris, 1859, in-8º).
44
A Duquesa de Longueville teve dois filhos: Jean-Louis-Charles, Conde de Dunois, mais conhecido como o Abade
de Orléans, nascido a 12 de janeiro de 1646, falecido a 04 de fevereiro de 1694, e Charles-Paris, nascido a 21 de
janeiro de 1649, na câmara municipal, morto afogado, a 12 de junho de 1672, atravessando o Rio Reno. Pensamos
que São Vicente fala aqui do Conde de Dunois.
tão útil ao próximo, não haveria de querer tirar-vos, no presente, deste estado, para vos
limitar ao cuidado de uma família do mundo que só busca suas comodidades e estará
continuamente a vossa procura para vos pedir o que tiverdes e o que não tiverdes e vos
sobrecarregará de desgosto e aflição, se não puderdes aliviá-la ao seu e ao vosso gosto.
Em segundo lugar, não é confiável que tenham prometido ao senhor vosso pai, em
vosso favor, uma paróquia de 600 libras de renda. As da diocese de Bourges são as
menores do reino. Mas se assim fosse, descontando vosso sustento, que vos restaria?
Não vos digo isso temendo que a tentação venha a vencer-vos. Não. Conheço
vossa fidelidade a Deus. Minha intenção é que escrevais, uma vez por todas, ao senhor
vosso pai, as razões que tendes de seguir antes a vontade de Deus do que a dele. Crede-
me, senhor Padre, o temperamento dele é de molde a não vos dar descanso, estando
perto dele, como não vo-lo dá, estando longe. A perturbação que ele causa a vossa pobre
irmã, que está com a Senhora Le Gras, é inimaginável. Quer obrigá-la a abandonar o
serviço de Deus e dos pobres, como se ele fosse receber dela grande amparo. Sabeis que
ele é naturalmente inquieto: o que ele tem lhe desagrada e o que não tem lhe suscita
violentos desejos.
Enfim, julgo que o maior bem que podereis fazer-lhe é rezar a Deus por ele,
conservando para vós a única coisa necessária, que um dia será vossa recompensa, e
que, por vossa causa, estenderá até mesmo para os vossos, as bênçãos de Deus. É o que
lhe peço de todo meu coração.
Senhor Padre,
Quanto à informação que vos apraz enviar-me, a respeito dos artigos que
pretendem terem sido aceitos, no negócio do Padre du Bosquet, e que o tornam vicioso,
fui vê-lo esta manhã, quando ele voltava da missa que acabava de celebrar. Ele me
garantiu de novo que renunciaria, de muito bom grado, a qualquer espécie de bispado,
antes que cometer uma vileza de tal sorte. Tereis ocasião de vê-lo, como penso, em
Paris, bem cedo. Nessa ocasião, ele conversará mais longamente convosco, sobre esse
negócio.
Não conheço nenhuma dessas pessoas que fazem profissão de notável piedade, a
respeito das quais vós dizeis, senhor Padre, haver queixas de que alteram os negócios
daqui. Com efeito, como me retirei para junto dos padres do Oratório, para ficar mais
em repouso e desligado das grandes e frequentes comunicações, e por não ter por
natureza o espírito de intriga, fico menos informado do que se passa no mundo.
.
Carta 782. – C. aut. – Dossiê da Missão, original.
Se desejais saber, senhor Padre, o meu procedimento nos negócios da
Assembleia1, dir-vos-ei que, quando prevejo que nela vão tratar algum deles de
importância, reflito maduramente diante de Deus, na oração da manhã, e lha
recomendo. Vou, então, celebrar a missa e em seguida me dirijo para a Assembleia. Na
base do conhecimento que Deus me concede, formo o meu parecer e o proponho, na
minha vez, tal e qual, e no mesmo espírito com que gostaria tê-lo feito na hora da
morte.
Enviarei quanto antes ao Padre Féret2 a carta que lhe é dirigida, no vosso
pacote. Aceitai por bem, senhor Padre, por favor, que tome a confiança de vos dizer
que, antes de tirá-lo da província e retirá-lo de nós, deveis pensar muito, pois ele é tão
útil aqui para o serviço da Igreja, quanto poderia sê-lo em vários outros lugares. Além
de um seminário de 25 eclesiásticos que começamos em Alet, há 3 meses, tanto de
dentro quanto de fora da diocese, no qual precisamos de seus serviços, os senhores
Prelados da Assembleia resolveram estabelecer as conferências de eclesiásticos em
suas respectivas dioceses e se dignam adotar o mesmo método nosso. Ora, se ele não
ficar conosco, não vejo como poderíamos ajudá-los nisso. Não falo das assembleias dos
eclesiásticos já ordenados, das dos ordinandos, das missões, visitas e outras propostas
semelhantes que se fazem todos os dias e às quais os senhores Prelados desta província
se acham dispostos, conquanto lhes seja dada alguma assistência.
É isto o que eu acreditei, senhor Padre, ser obrigado a vos representar, mais
para vos informar sobre o estado desta região, no que tange ao progresso do reino de
Deus, do que para vos levar a mudar vosso desígnio sobre a pessoa dele, caso ele vos
pareça mais vantajoso para o bem da Igreja. Considero e tenho em conta tudo que vem
de vossa parte com inteira submissão e reverência, sendo, de todo meu coração, senhor
Padre, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Fevereiro de 1646.
Senhor Padre,
11
A Assembleia dos Estados de Languedoc.
22
Vigário Geral de Nicolau Pavillon.
.
Carta 783. – Minuta não assinada. Arquivo dos Negócios Estrangeiros. Relatórios e Documentos, França, nº 855, fº
46.
Estas linhas são para vos dizer que, tendo o senhor Primeiro Presidente 1
despachado aqui no sentido de pedir à rainha o bispado de Bayeux, vacante desde há
alguns dias, para o senhor seu filho 2, ela lho concedeu. E isto ela o fez de bom grado,
tanto mais quanto ele tem as qualidades requeridas para dele ser provido, e porque Sua
Majestade se sentiu muito à vontade por encontrar uma ocasião tão favorável de
reconhecer, na pessoa do seu filho, os serviços do pai e o zelo que ele tem para com o
bem do Estado. A rainha prometeu-me escrever-vos sobre isso, e eu quis fazê-lo de
antemão, a fim de que tenhais a bondade de ir estar com ele, para lhe dar as instruções
que julgardes lhe sejam necessárias para bem desempenhar esta função.
Nada mais vos direi sobre isso, e termino garantindo-vos que sou, com muita
afeição...
01 de março de 1646.
Senhor Padre,
11
Mateus Molé.
22
Eduardo Molé (22 de junho de 1647-06 de abril de 1652).
.
Carta 784. – Arquivo da diocese de Cahors, caderno, cópia.
11
A sede de Bordéus tinha ficado vacante, a 18 de junho de 1645, com a morte de Henrique d’Escoubleau de Sourdis,
a quem foi dado como sucessor, a 20 de novembro de 1646, Henrique de Béthume, Bispo de Maillezais.
785. – NICOLAU PAVILLON, BISPO DE ALET, A SÃO VICENTE
Senhor Padre,
02 de março de 1646.
Por vossa última carta, pude ver como afinal enviastes o Padre Martin para
Gênova. Ousaria dizer-vos, senhor Padre, nessa ocasião, que é muito importante, mais
do que vos posso exprimir, vos entregueis a Deus para vos tornar exato a todas as
ordens do Superior Geral, sejam quais forem, ainda que choquem vosso sentimento e
qualquer pretexto que possais ter sobre o que seja melhor ou dos inconvenientes que
possam sobrevir. Com efeito, maior inconveniente não poderia acontecer do que o da
desobediência.
Um capitão me dizia, dias anteriores, que, ainda quando visse que seu general
desse uma ordem incorreta e que ele perderia sem dúvida a vida ao executá-la, e ainda
que pudesse fazer o general mudar de parecer, dizendo-lhe uma palavra, sentir-se-ia
desonrado se o fizesse e preferiria morrer a fazê-lo.
Veja, senhor Padre, que humilhação para nós no céu, ao ver tal perfeição na
obediência militar e a nossa, comparativamente, tão imperfeita. Garanto-vos, senhor
Padre, que dois ou três superiores que agissem dessa forma seriam capazes de pôr a
Companhia a perder-se e que, se não conhecesse bem vosso coração, seria obrigado a
tomar decisão mais radical. A certeza que tenho de que sois melhor do que jamais serei
11
Henrique de Maupas du Tour.
22
Francisco Bosquet foi sagrado Bispo de Lodève a 20 de dezembro de 1648. Passou desta sede para a de
Montpellier, a 24 de junho de 1657 e morreu a 24 de junho de 1676 (François Bosquet, pelo abade Henrique, 1889,
in-8).
.
Carta 786. – Reg. 2, p. 227.
e de que amais o Instituto melhor do que eu, me levará a não falar e nem pensar mais
nisso.
Enfim, depois de ter tentado, inutilmente, dissuadir M... de suas opiniões, fomos
aconselhados por quatro doutores da Sorbona, pelo senhor Bispo Coadjutor de Paris 1,
pelo senhor Cardeal2, pelo senhor Chanceler3 e pelo senhor primeiro Presidente4 a agir
como fizéramos com o senhor P.5 E assim o fizemos, ontem à noite.
Suplico-vos, senhor Padre, oferecer sua alma a Deus, e a minha, que está mil
vezes em pior estado, pelas minhas infidelidades aos movimentos que Nosso Senhor me
inspira no sentido de fazer-lhe a santa vontade em todas as coisas.
Senhor Padre,
Não vos posso dizer a consolação que recebeu minha alma pela vossa carta, nem
quanto peço a Deus de todo coração vos conceda cada vez mais o espírito do seu Filho e
um santo trabalho neste lugar1, onde tereis tanta necessidade dele. Ó senhor Padre, como
é necessária a humildade e o espírito de um perfeito missionário para esse lugar e para o
ofício que ocupais. Rogo a Nosso Senhor de novo vos conceda boa parte do seu espírito
e o vigor corporal tão necessário entre tantos e tão grandes trabalhos. Sinto inexprimível
satisfação por vos ver com o bom Padre Blatiron. Oh! que felicidade para um e outro
por estarem juntos e destinados por Deus, desde toda a eternidade, para servi-lo nos
ministérios aos quais a divina Providência vos aplica a ambos. Ó senhor Padre, quem o
teria dito, há quatro ou cinco anos? Sua divina bondade não se esgotará nisso, se fordes
bem fiéis na presente ocasião.
Aqui, a pequena Companhia está bem, graças a Deus. Ela ora a Deus
frequentemente por vós dois. Quem tem mais necessidade dessas orações é o mais
miserável de todos os pecadores do mundo que permanece, em Nosso Senhor...
Pensava poder escrever ao Padre Blatiron, mas me apressam por causa da missa.
Tenho apenas o tempo de vos abraçar, aos dois, de novo, prostrado em espírito aos dele
e aos vossos pés.
11
João Francisco de Gondi.
22
O Cardeal Mazarino.
33
Pierre Séguier.
44
Mateus Molé.
55
Provavelmente Guilherme Perceval, despachado da Companhia em 1644.
.
Carta 787. – Pérmartin, op. cit., t. I, p. 511, carta 444.
11
Em Gênova.
788. – A UM PADRE DA MISSÃO DA CASA DE SAINT-MÉEN
16 de março de 1646.
20 de março de 1646.
É verdade que a doença nos faz ver o que somos, muito melhor que a saúde, e
que é nos sofrimentos que a impaciência e a melancolia atacam os mais decididos. Mas
como eles só danificam os mais fracos, tirastes deles mais proveito do que vos poderiam
ter trazido de prejuízo, porque Nosso Senhor vos deu força para a prática de sua santa
vontade. E esta força aparece na resolução que tomastes de as combater com coragem.
Espero que ela apareça ainda melhor nas vitórias que obtereis sofrendo, daqui por
diante, por amor de Deus, não só com paciência, mas também com alegria e
contentamento.
Senhor Padre,
.
Carta 790. – Abelly, op. cit., 1. III, cap. XXIII, p. 329.
.
Carta 791. – C. aut. – O original foi posto a venda pelo senhor Charavay, com quem tiramos a cópia. Um dos
catálogos da casa Charavay coloca, sem razão, como endereço desta carta “Ao senhor Pierre Goulart, em Sainte-
Geneviève”.
das condições até que ela esteja lá, ou que tenhamos sua aprovação, que estou
solicitando e mandarei solicitar, sem cessar1? Que vos parece?
Tendes razão e estou satisfeito com vossa proposta de deixar passar as festas,
para fazer aí o que me dizeis. Contudo, depois da visita, há um clamor de todas as
partes, solicitando-a, e não sei como poderíeis fazer a de Roma. Isso me leva a pensar
em mandar o Padre Alméras para lá, carregando sua indisposição.
Como a parcimônia mesquinha é censurável, também o é a facilidade de dar as
coisas mais do que é necessário. Tenho observado que zombam igualmente de um e de
outro defeito em algumas de nossas casas em que não se dá a devida atenção a isso, nas
quais se diz que encarecemos as coisas e que estamos cheios do dinheiro. É necessário
recomendar o meio termo entre esses dois extremos e que se observe o que aqui se
pratica quanto à alimentação.2
Pedi ao Padre Lambert vos dê a resposta sobre o restante, conforme
combinamos, sobre as decisões a vos transmitir. Dei ordem também para vos enviarem
o que pedis.
Saúdo-vos entretanto muito humildemente, assim como a pequena família,
prostrado em espírito a seus pés e aos vossos, e sou, no amor de Nosso Senhor, senhor
Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
23 de março de 1646.
Ó senhor Padre, como o bom Deus parece estar presente em vossa pequena
comunidade e em vossos trabalhos! E como poderíeis, sem isso, sustentar tão grande
trabalho? Não posso agradecer suficientemente a Deus pela força que vos comunica e
ao Padre Martinho, em meio a tão grandes trabalhos. E não consigo me livrar da
contínua apreensão que tenho de que os dois estejam fazendo demais. Em nome de
Deus, senhor Padre, cuidai em fazer de tal sorte que se moderem vossos trabalhos, da
maneira como vos escrevi. Não vos parece seja necessário vos revezar por algum outro,
que vos enviaríamos para vos aliviar? Podeis crer, senhor Padre, que meu coração
estremece ao vos dizer isto, por causa da perfeita confiança que tenho em vós, e com
11
A boa ordem implantada pelas irmãs no hospital de Angers fizera lançar os olhos sobre elas, para o Hospital Geral
de Mans. Neste mesmo mês de março, o Padre Portail escrevia a Luísa de Marillac: “Esperamos vossas filhas aqui
com grande impaciência... os Administradores nos pressionam” (Arq. da Missão). As Irmãs só partiram a 04 de maio.
22
São Vicente repete aqui o que já dissera na carta de 20 de março, temendo, sem dúvida, que aquela carta não tenha
chegado ao seu destino.
.
Carta 792. – Reg. 2, p. 197. O copista nota que São Vicente escreveu esta carta de próprio punho.
muitíssima razão. Mas qual! estou sempre temendo não estejais passando mal. Em nome
de Deus, senhor Padre, poupai-vos o mais possível.
Abraço-vos, e ao Padre Martinho, prostrado em espírito aos vossos pés e aos
daqueles que trabalham convosco, que eu saúdo e a cujas orações me recomendo.
Tenho grande motivo de me humilhar, vendo a conduta de Deus sobre mim que
sou indigna da graça que desejava receber antes de vossa querida festa da Encarnação,
a fim de que ela me servisse de preparação. Suplico a bondade de Deus poder obtê-la
antes de terminarem as festas de Páscoa e que vós, restabelecido de vossa indisposição,
possais estar em perfeita saúde para isso e para tudo o que nosso bom Deus quiser de
vossa caridade. Peço-vos, pelo santíssimo amor de Jesus, que de novo nos entregueis a
Ele e ofereçais, amanhã, à sua Santa Mãe, este quadro que se destina a ornamentar um
altar que tenha como belo título o seu nome, pedindo-lhe nova proteção para meu filho,
de que não tenho notícias desde o dia 07 deste mês. Isso me preocupa sobremodo. Não
tenho também notícia alguma da Madre Superiora da Visitação de Tours 2, nem do
senhor Padre Deure. Tudo isso enche de temores meu espírito.
Suplico-vos também humildemente, meu muito honrado Pai, que me façais a
caridade, amanhã3, de colocar no santo altar toda a pequena Companhia, cheia de
faltas e dura de coração, para que se cumpra em nós a santíssima vontade de Deus. Ó
meu caríssimo Pai, se nosso bom Deus vos permitisse ver o motivo disso, quão
horrenda eu vos pareceria! Não vejo em mim senão crime e uma bem fraca vontade de
corrigir-me. Ajudai vossa indigna filha, com vossas orações e caridosas advertências, a
ser toda de Deus e a obter de sua bondade olhe com compaixão para seu pobre filho.
Remeto-vos o livro que o senhor Padre Guérin, confessor de nossas irmãs de
Saint-Gervais, vos envia por intermédio delas. Mandou-nos também um exemplar.
Queira Deus tiremos proveito dele para sua glória!
Peço-vos, com toda a humildade a mim possível, prostrada de coração e afeto a
vossos pés, vossa santíssima bênção, para atrair sobre minha pobre alma as graças de
que tanto necessita, a fim de ser, verdadeiramente, meu muito honrado Pai, vossa muito
obediente filha e mui humilde serva,
L. de Marillac.
.
Carta 793. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Data acrescentada no dorso do original.
22
Clara Madalena de Pierre.
33
Dia da renovação dos votos.
Destinatário: Ao senhor Padre Vicente.
[Março de 16461].
.
Carta 794. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta tem elos estreitos com a carta 793.
22
Então em Mans.
Favor não esquecer a resposta daquilo que a Madame Presidente de Lamoignon
solicita para saber se continuará com as coletas, e de que sou, senhor Padre, vossa
muito grata filha e obediente serva,
L. de M.
03 de abril de 1646.
Fazeis muito bem, em vossa visita, ao aprofundar todas as coisas para torná-las
mais concordes com o espírito da Companhia e mais firmes. Isso me agrada. E já que
procedendo assim não poderíeis chegar a Roma, a não ser por volta do outono,
resolvemos enviar o Padre Alméras para fazer as visitas da Itália e, de passagem, as de
Marselha e Annecy. Quanto às outras casas, elas vão esperar esse benefício de vossa
caridade, e eu, a satisfação de ver-vos restabelecer nelas a ordem e a perfeição da
disciplina. Para melhor fazer isso, não precisais de apressar-vos. Não duvido de maneira
alguma de que não encontreis sempre novos assuntos a polir, a regrar e corrigir, coisas a
fazer e desfazer, particularmente na casa onde estais. Não é possível proceder de outro
modo, por esta primeira vez. Por esta razão, empregai nisso todo tempo necessário.
Deus fez o mundo em vários dias e só o conserva com a ordenação das mudanças e
mutações.
Praza a sua bondade tornar-nos constantes em seu amor!
Senhor Padre,
.
Carta 796. – C. aut. – Original no seminário de Colle, na Toscana.
esperais saldar a metade. E se não fosse o senhor Bispo a dizer-me que saldaria e
mandaria saldar tudo, teria eu ficado muito preocupado1.
Nessa oportunidade, passo então a dizer-vos, senhor Padre, que será
conveniente, numa outra vez, me relateis de modo resumido, porém mais
circunstanciadamente, as coisas. Neste negócio, por exemplo, me dizíeis que fostes
tratar com o Vigário Geral2 o pagamento desta soma e que ele vos tinha causado má
impressão e dissera que não tinha ordem de vos dar coisa alguma. No entanto, dois dias
depois, a soma foi entregue. Não me dissestes quem as deu, e era necessário dizê-lo, a
meu ver, como também a área do local de Fajemot, o prédio, a área da granja. Não me
dissestes também que tínheis abandonado Saint-Barthélemy durante a quaresma e a
doença do senhor Pároco3.
Penso, senhor Padre, que é conveniente me informeis mais detalhadamente sobre
as coisas e que procedais com plena confiança e submissão às vontades do senhor
Bispo. Tanto maior é vossa obrigação quanto mais ele vos estima e vos quer muito bem,
embora não o demonstre. Deseja que o deixem agir, que acolham o que ordena e o que
faz ou deixa de fazer. E é justo. Ele tem suas razões que ignoramos e que devemos
respeitar, já que, assim fazendo, cumprimos de Deus. Penso, além do mais, que não é
bom passar, para um terceiro ou um quarto, pequenos sentimentos que nos chocam. Um
bom estômago tudo digere, e um estômago delicado converte em mau humor o que
engoliu e algumas vezes o vomita. Oh! como é bom, senhor Padre, digerir os negócios
entre Deus e nós!
O senhor Arcebispo me falou do fosso. Disse-lhe que ele tem razão em não se
expor, diante da cidade, exigindo dela uma porta particular para vós. Isso acarretaria
muitas consequências em tempos de guerra. É melhor, no presente, fazer a volta pela
porta da cidade4.
Enviar-vos-emos um leitor do seminário no lugar do Padre Water 5 que virá aqui,
se lhe aprouver. Temos ordem de Roma de enviar missionários para o seu país e
estamos sendo pressionados pelo senhor bispo da região. Se ele tiver feito voto de ir a
Roma, nós lhe concederemos a dispensa dele. Abraço-o, a ele e ao Padre Treffort 6, com
11
A casa com dois corpos centrais de edifícios que o Padre Delattre acabava de adquirir do senhor Brengue, na praça
Gaillard, pertencera a uma ilustre família, muito enfronhada na vida pública de Cahors, no fim do século VI, a família
dos Pons-Fajemot, burgueses e cônsules dessa cidade. Ela estava onerada com uma hipoteca em favor das Clarissas,
que tinham direito a 5744 libras sobre as 6400 que ela custava. Guilherme Delattre pagou de imediato 3000 libras e
assumiu o compromisso de pagar o restante quando fosse exigido (Adrien Foissac, op. cit., p. 10).
22
O Reverendo Padre Garat, cuja vida foi escrita por Leonardo Roche (O retrato fiel dos abades ou outros superiores
regulares e de seus religiosos, na vida do Padre Jean Garat, Paris, 1691, in-8º).
33
O contrato de união da igreja paroquial de Saint-Etienne ou Saint-Barthélemy de Soubiroux ao seminário datava de
27 de dezembro de 1644. Os diretores do seminário não podiam tomar posse da paróquia a não ser depois da morte
ou demissão do pároco, Antônio Guittard (Foissac, op. cit., p. 9).
44
Sabemos pelo livro de registro de benefícios eclesiásticos de Dumas que, em 1646, Alain de Solminihac fez ao
seminário, então estabelecido na cidade, na Chanterie, uma primeira doação de 2000 libras, para comprar uma casa
chamada de Fajemot, situada no subúrbio de Barre, perto da igreja Saint-Barthélemy, da qual estava separada apenas
por um fosso e pelas muralhas do recinto. Ali será construído o novo seminário maior, alguns anos depois.
55
James Water, nascido em Cork (Irlanda), entrou em São Lázaro a 07 de outubro de 1638, com a idade de 22 anos.
Foi ordenado padre em 1642 e fez os votos em 1644. Foi enviado para o seminário de Cahors, depois, provavelmente,
para o seu país.
66
Simão Treffort, nascido em Villiers-Herbisse (Sube), a 02 de outubro de 1611, entrou na Congregação da Missão a
05 de outubro de 1642. Fez os votos a 07 de outubro de 1645. Foi superior em La Rose, de 1668 a 1677. Faleceu em
Cahors a 16 de junho de 1682. Em carta escrita alguns dias depois de sua morte, Edme Jolly, Superior Geral, tece um
grande elogio de suas virtudes.
toda a humildade e afeto possíveis a mim que estou pesaroso de não poder escrever aos
dois. Peço a Deus devolver a saúde ao nosso caro Irmão Dupuis 7. Se pudermos, enviar-
vos-emos um outro padre e o Irmão que pedis.
Ficai, entretanto, contente e em paz, senhor Padre, na confiança de que Nosso
Senhor abençoará cada vez mais vossos trabalhos e vos animará sempre mais com o seu
espírito. É o que lhe peço, com toda a afeição possível, e sou, no amor de Nosso Senhor,
senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Falarei com o senhor Vacherot 2 amanhã, se ele vier aqui, não sendo razoável que
eu o mande buscar para lhe dizer isso.
Quanto à Irmã, porém, ó Jesus, Senhora, não é conveniente. Poderei muito bem
dizer-lhe, gracejando, alguma coisa sobre a afeição dela pela tal pessoa, se houver
oportunidade. Mas me encontro muito impedido para poder dizer quando lhes poderei
falar. Jamais estive tão sobrecarregado de negócios como agora. Amanhã, durante o dia
inteiro, teremos aqui alguns doutores para tratarmos de algumas questões, e sexta-feira
preciso escrever quase o dia inteiro. Veremos.
Quanto ao documento da Senhora Viole, será necessário fazer, amanhã bem
cedo, a procuração de que fala. Sera em vosso nome, e deveis assiná-la como uma das
oficiais da Caridade do Crianças Expostas. Na verdade vós o sois, e das mais
importantes. Vou mandar redigi-la esta noite e vo-la enviarei amanhã para a assinardes.
Será necessário que o tabelião vizinho esteja presente à assinatura e que despache
alguém para trazê-la. Tratarei de enviar até aí um de nossos Irmãos, numa diligência.
Boa noite, Senhora. Sou, v. s.
V. D.
77
Clérigo da Missão.
.
Carta 797. – Dossiê da Missão, original.
11
É em torno desta data que encontramos o nome do senhor Vacherot na pena de São Vicente ou de Santa Luísa de
Marillac.
22
Sábio médico, conhecido, sobretudo, pelo seu apego ao Cardeal de Retz que ele ajudou a sair da prisão e
acompanhou até Roma. Em 1646, 1647 e 1648 era médico das Casas-Mães dos padres da Missão e das Filhas da
Caridade. Morreu em Commercy no mês de maio de 1664, com a idade de 62 anos.
798. – LUÍSA DE MARILLAC A SÃO VICENTE
Senhor Padre,
O receio de que tenham esquecido de vos dizer que não deixarei de avisar todas
as Irmãs para virem amanhã, segunda-feira, para a conferência que vossa caridade nos
fez a honra de prometer, leva-me a importunar-vos com estas linhas. Tenho medo de
que algum outro compromisso nos impeça de ter essa felicidade. A Providência nos
trouxe Irmãs de Maule2, de Saint-Denis e Issy que, como as demais, muito se alegram
com a notícia. Queira Deus que tantas graças concedidas a nós, por sua bondade, não
sejam um dia motivo de confusão para nós, e para mim, em particular, pela graça de
ser, senhor Padre, vossa mui grata filha e humilde serva,
Luísa de Marillac.
Senhor Padre,
Bendito seja Deus pelo que me dizeis: as coisas espirituais da casa vão bem e
estais fazendo bom uso das advertências de vosso admonitor! Rogo-lhe abençoe cada
vez mais vossa conduta.
Tivestes a oportunidade de saber da determinação do senhor Bispo de Cahors,
com relação aos eclesiásticos de sua diocese, no sentido de irem passar algum tempo em
vosso seminário, conforme julgardes conveniente1. O senhor Bispo agiliza seus
negócios quanto pode, com a intenção de voltar o mais cedo possível 2. Quando ele
estiver aí, providenciará a compra da casa3.
É bom, senhor Padre, que me digais noutra ocasião a substância ou, para dizer
melhor, a história resumida das principais coisas sobre o que me escreveis. Por
exemplo, vós me fazeis uma pequena apologia a respeito dos habitantes de Saint-
Barthélemy. Teria sido conveniente me tivésseis narrado a coisa como se passou e em
.
Carta 798. – “Suplemento às Cartas de Luísa de Marillac”, 1.129 bis.
11
Depois de 1649, Santa Luísa de Marillac não teria dito “Senhor Padre”, mas “Meu muito honrado Pai”; por outro
lado, o estabelecimento de Saint-Denis foi fundado em 1645.
22
Comuna do entorno de Versalhes.
.
Carta 799. – Pérmartin, op. cit., t. I, p. 521, carta 454.
11
Encontra-se o texto desta determinação em Foissac, op. cit., p. 20.
22
Alain de Solminihac estava em Paris.
33
A casa de Fajemot.
seguida os fatos que podem justificar-vos. Como não relatastes adequadamente como
tudo aconteceu, fico sem poder emitir algum juízo de algum erro de vossa parte. Dir-
vos-ei apenas, senhor Padre, que vossos procedimentos devem ser suaves quanto aos
meios, embora firmes em direção aos fins bons e justos, que serão tais quando de acordo
com os regulamentos ou a ordem dos superiores.
Quanto ao mais, é bom consultar os conselheiros domésticos e, em casos de
maior importância, o Superior Geral. No que diz respeito aos externos, pedir conselho
ao Bispo ou aos seus oficiais.
É assim que procedo. Raramente faço alguma coisa de minha pobre cabeça.
Maior motivo temos para nos aconselhar com os de fora quando se trata de uma ação
que diz respeito à diocese ou a algumas pessoas particulares. Neste caso, não devemos
apenas seguir a ordem dos senhores bispos e dos párocos em suas paróquias, mas
também pedir pessoalmente a permissão dos senhores bispos nas desavenças que
tivermos com seu povo e quando de escândalos que tivermos observado.
No que se refere à disciplina e desavenças que acontecem com os da Companhia,
o assunto é outro. Neste caso, pertence ao Superior Geral resolver a questão, e é a ele
que se deve recorrer.
Maior razão temos de nos cuidar em conduzir o povo com doçura e paciência,
evitando qualquer meiguice em nossas opiniões, pois que Nosso Senhor no-lo ensina em
relação ao povo, e compete a nós instruir os eclesiásticos, não só com palavras, mas
também com exemplos de como conduzir seu povo.
Sendo assim, senhor Padre, será bom acatar as ordens do senhor Vigário Geral 4
ou daquele a quem o senhor Bispo encarregou de solucionar esse atrito. Se ele nada vos
disse a respeito, é talvez porque não sabe como tendes o espírito humilde e dócil.
Suplico-vos, senhor Padre, não desanimar com o que vos digo, nem concluir que
não sois apto para a direção. A natureza e o espírito maligno vo-lo sugerem. Mas a santa
humildade e a confiança em Deus nos fazem esperar que tudo podereis com sua graça. É
este o sentimento do senhor Bispo de Cahors e o meu. E é por isto que desejo tomar
cuidado especial em vos advertir, aconselhar e confortar, porque, tendo bom espírito,
como tendes, pela graça de Deus, e boa intenção, espero da bondade de Nosso Senhor
que ele abençoará vossa conduta.
Vem-me ao espírito acrescentar-vos outro aviso, depois daquele, mas em duas
palavras: que vos habitueis a julgar as coisas e as pessoas, sempre e em todos os casos,
de maneira positiva. Se uma ação apresenta cem facetas, diz o Bem-aventurado Bispo
de Genebra5, olhai-a sempre pela melhor. Em nome de Deus, senhor Padre, procedamos
assim, embora o espírito e a prudência humana nos insinuem o contrário. Tenho em
mim mesmo esta aborrecida tendência de julgar todas as coisas e todas as pessoas
conforme meu cérebro mesquinho. Mas a experiência me mostra a felicidade de agir de
outro modo e como Deus abençoa este modo de proceder. Se o tempo me permitisse,
dir-vos-ia muitas coisas sobre isso. Mas eis que me retiram a pena da mão e me obrigar
a terminar, dizendo-vos que meu coração quer um bem especial ao vosso, no de Nosso
Senhor. E vos peço o mesmo, em correspondência, pelo amor do mesmo Senhor,
44
O R. P. Garat.
55
São Francisco de Sales.
embora o não mereça, a não ser porque vos amo mais do que vos posso exprimir, eu que
sou...
Tunis, 1646.
.
Carta 800. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. VII, § 12, 1ª ed., p. 139. O contrato passado a 25 de julho de 1643,
com a Duquesa de Aiguillon, para a fundação da casa de Marselha, dizia que São Vicente enviaria a Barbária, quando
julgasse a propósito, padres de sua congregação “para consolar e instruir os pobres cristãos cativos... na fé, no amor e
temor de Deus, e lá pregar missões, ministrar catecismos, instruções e exortações a que estão habituados”. O Santo
ainda não dispunha dos fundos suficientes. Por outro lado, era preciso entender-se com Roma. Quando tudo ficou
resolvido, Vicente de Paulo enviou Juliano Guérin e o Irmão Francisco Francillon, Irmão Coadjutor, para Tunis, onde
chegaram a 22 de novembro de 1645. Lange Martin, cônsul da França, os recebeu em sua casa. Juliano Guérin pôs-se
à obra, sem demora. De início, exerceu seu trabalho em segredo. Quando percebeu que não havia nada a temer, não
ocultou mais sua condição de padre e celebrou publicamente as cerimônias religiosas nas prisões. Mas se por um lado
poderia agir abertamente junto aos cristãos, não era a mesma coisa junto aos turcos. Nesse caso, a menor imprudência
poderia custar-lhe a vida.
.
Carta 801. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta foi escrita na quarta-feira que precedia o dia 04 de maio, dia da partida das Irmãs destinadas ao hospital
de Mans.
22
Esta conferência, se foi feita, não foi conservada.
Calculei quanto nossas Irmãs das paróquias trouxeram para a Casa Mãe no
ano de 1645. Atinge um total de 1129 libras e 12 soldos. Com isso, pudemos fornecer
hábitos e roupa branca a 43 Irmãs. Parece-me haver saldo de 400 libras para a Casa,
descontados os gastos, nos quais não estão os feitios dos hábitos e roupas brancas que
foram confeccionados por Irmãs daqui mesmo. Creio, senhor Padre, que, se vossa
caridade pretende falar algo sobre esse assunto, seria bom que as Irmãs percebessem
que, o que trazem, quase equivale às despesas. Como algumas trazem mais do que
gastam, elas suprem o que outras trazem de menos. Também não sei se toda a
Companhia seria capaz de entender o quanto suas economias favorecem a Casa, por
causa da pouca discrição de algumas e da maior parte, que falam com demasiada
liberdade tudo o que sabem.
Peço à bondade de Deus vos faça conhecer nossas necessidades e nossas
fraquezas, especialmente as minhas. Sou, por disposição da Santa Providência, senhor
Padre, vossa muito obediente filha e mui grata serva,
Luísa de Marillac.
Quarta-feira.
V.D.
.
Carta 802. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Esta carta responde à precedente. Foi escrita na página em branco da carta de Luísa de Marillac.
22
Pierre de Pons de la Grange, de Saint-Flour, doutor em direito. Foi Pároco de Saint-Jacques- du-Haut-Pas, em
Paris, de 24 de dezembro de 1645 a 1649. Tornou-se depois diretor das Missões Estrangeiras e morreu a 31 de março
de 1680.
803. – A ANTÔNIO PORTAIL
Senhor Padre,
Senhor Padre,
[Antes de 16501].
Senhor Padre,
11
São Vicente acolheu favoravelmente a demanda dos Administradores.
22
Ver carta 813, nota 3.
.
Carta 805. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Depois de 1649, a carta começaria pelas palavras: “Meu muito honrado Pai”.
os empecilhos à perfeita execução desta santíssima vontade, na qual sou, senhor Padre,
vossa mui grata e humilde filha,
L. de Marillac.
Tende a bondade, por favor, de dizer a que horas a pequena du Pont poderá ir
encontrar-vos.
Senhor Cardeal,
Vicente de Paulo comunica a Jean Martin trabalhos dos missionários. Ele acaba
de receber na Companhia um novo recruta, sobre o qual deposita as maiores esperanças.
Senhor Padre,
L. de Marillac.
28 de maio de [1646 ]. 1
.
Carta 807. – O senhor Charavay, que colocou à venda esta carta, diz no seu catálogo que o original era assinado pela
mão do Santo e compreendia uma página in-4º de texto.
.
Carta 808. – Dossiê da Missão, cópia do século XVII.
11
Ano da morte da Irmã Maria Despinal.
.
Carta 809. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
[Cerca de 16461].
Senhor Padre,
L. de M.
Senhor Padre,
11
Ver nota 3.
22
Diana de Grand-Seigne, filha do Senhor de Marsillac, falecida em Poitiers a 11 de fevereiro de 1666. Desposara
Gabriel de Rochechouart, Marquês de Mortemart, que se tornou par da França em 1650, pela elevação do seu
marquesado a ducado, e em 1669, Governador da cidade de Paris e da Ilha de França.
33
Luís Victor de Rochechouart, filho único de Madame de Mortemart, nascido a 25 de agosto de 1636, falecido a 15
de setembro de 1688, depois de ter prestado à sua pátria eminentes serviços, que lhe valeram os títulos de Marechal e
General das Galeras de França e de vice-rei da Sicília.
44
Comuna dos arredores de Paris, hoje englobada nessa cidade.
.
Carta 810. – C. as. – Dossiê de Turim, original.
Na dúvida em que me encontrava de poder escrever-vos, falei ao Padre Blatiron
acerca da saúde da senhora vossa mãe 1, que continua bem, e lhe disse que o vosso irmão
vai para Tolosa com o senhor Arcebispo, para ensinar grego ao seu sobrinho.
A propósito do assunto sobre os pais, não imagineis quanto me consola o
pensamento de que tendes os mesmos sentimentos de Nosso Senhor, e que dizeis como
ele que vossa mãe e irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus. Glorificado seja
seu Santo Nome para sempre!
Escrevi para Roma a fim de que o Padre Dehorgny vos enviasse esse estudante
alemão de que sabeis. Ainda não obtive resposta, mas a aguardo para bem cedo.
Crede-me, senhor Padre, que tenho grande compaixão de vossas fadigas, e praza
a Deus estejais aliviado como desejo! Até o momento, não cessarei de pedir a Nosso
Senhor que seja vossa força, vosso refrigério, vossa consolação e vosso tudo. Quanto a
mim, que eu seja sempre, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
11
Gillette du Noyé, filha de Guilherme du Noyé e de Maria Nubert, livreiros em Paris.
.
Carta 811. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. VII, §10, 1ª ed., p. 133.
812. – LUÍSA DE MARILLAC A SÃO VICENTE
[Cerca de 16461].
Senhor Padre,
L. de M.
Sábado.
[Junho de 16461].
.
Carta 812. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Carta a se aproximar da carta 809.
.
Carta 813. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 5.
22
O Santo anexara à sua carta a súplica que lhe dirigiam os Administradores do hospital de Nantes, no sentido de
conseguir para lá as Filhas da Caridade.
33
Nome dado aos Administradores do hospital.
44
A instalação das Irmãs no hospital de Angers ocorrera a 01 de fevereiro de 1640, na presença de Luísa de Marillac.
55
O Padre Portail, reconheçamo-lo, agira com demasiada precipitação, chamando as Irmãs para Le Mans, antes de
serem aplainadas todas as dificuldades e, sobretudo, antes de obter que, no serviço do hospital, as irmãs hospitaleiras
não se misturariam com as Filhas da Caridade. A Irmã Lepeintre e suas companheiras aguardaram a solução em Le
Mans, durante uma quinzena, numa inação que lhes deve ter sido penosa. Ao final, tudo fracassado, a 01 de junho o
Padre Portail anunciava a Luísa de Marillac que mandava duas Irmãs de volta para Paris e dava ordem às duas outras
de partirem para Angers. “Enfim, Senhora, vossas caras filhas estão de volta para vós, conforme ordem vossa. Creio
que não tiveram menos méritos em sua inatividade do que se tivessem produzido ações heroicas. Ainda quando não
tivessem feito outro bem a não ser com o testemunho de sua modéstia e serenidade de espírito nas tempestades, não
foi mal ter empregado o tempo e o dinheiro em sua viagem”.
O Padre Lambert acaba de dizer-me que é urgente o remédio a se dar à casa de
Richelieu6.
A Senhora Lamoignon se encarregou ontem de vos comunicar as decisões das
damas sobre o que propondes. Entre outras coisas, foi resolvido que envieis quanto
7
Senhor Padre,
Temos pressa de enviar a Irmã Guilhermina2 para (a paróquia) São Paulo, a fim
de tirar de lá a Irmã Ana e trazê-la para aqui. Se tivésseis tempo para lhe dizer uma
palavra, vo-la enviaríamos hoje mesmo.
Pedi ao senhor Padre Lambert nos mandasse o vosso pedreiro, para ver o lugar
em que se há de construir um parlatório. Esqueci-me de dizer-vos que se poderia fazer,
em cima, um quarto, coisa também necessária, sobretudo porque o referido parlatório
deve ser coberto3. Quando Madame de Liancourt vier aqui, falar-lhe-ei disso, pois ela
entende de construção. Creio que vai contribuir com as despesas. Ela vai ocupar esse
quarto, quando dos seus pequenos retiros espirituais.
Peço-vos perdão por minhas importunações e sou, senhor Padre, vossa muito
obediente filha e mui grata serva,
L. de M.
29 de junho de 1646.
66
A Irmã Turgis foi enviada para lá algum tempo depois, na qualidade de superiora.
77
As damas da Caridade.
88
A visita às crianças expostas entregues a amas de leite.
.
Carta 814. – C. aut. – Dossiê das Filhas da Caridade, original.
11
Ver nota 3.
22
Guilhermina Chesneau.
33
O projeto de construir um parlatório foi adotado no Conselho de 28 de junho de 1646. São Vicente pediu com
insistência que o parlatório não tivesse grade, temendo que as Irmãs, com o tempo, não tivessem o pensamento de se
tornarem religiosas.
.
Carta 815. – Reg. 2, pp. 97 e 127.
Se o que me dizeis com relação às pequenas notícias da Companhia se refere
apenas às mesmas notícias, foi por distração que não as partilhei convosco e vos peço
perdão por isso, muito humildemente; mas se se trata da conduta da própria Companhia
ou de algumas pessoas particulares, não convém que vos escreva sobre isso, por muitas
razões. Penso também que o entendais assim. Ficai certo, senhor Padre, que nada faço
sem o parecer dos conselheiros que a Companhia me deu, nem sem recomendá-lo a
Nosso Senhor.
Vi por vossas cartas que, sem esperar nossa ordem, aceitastes a capela de
Plancoët1, mesmo apesar dos motivos que vos comunicara em contrário. São motivos de
peso, em especial o de que, ao nos ocuparmos em satisfazer às devoções dessa santa
capela, abandonaremos o desígnio de Nosso Senhor sobre nós, que é o de ir aos campos
à procura das pobres almas que receberiam a graça (de Deus) na própria terra e que não
iriam procurá-la em outras partes. Sei muito bem que tendes boas razões para a
afirmativa, particularmente a da mudança de ares; mas teria sido melhor comprar uma
casa de ares sadios para passeio, uma vez por semana, do que se comprometer com um
novo estabelecimento, no qual, em caso de bom êxito, tereis inimagináveis trabalhos; e
se não forem atendidos, será isso motivo de murmurações contra nós; ou então ser-vos-á
necessário empregar neles todos os obreiros que tendes e mais ainda.
Em nome de Deus, senhor Padre, não nos apressemos nas coisas. Vamos
devagarinho. Lembro-me que vos escrevi a mesma coisa em Troyes2 e me destes motivo
de esperá-lo. Podeis estar certo de que não poderíeis alegar razão alguma que eu não
tenha considerado, e com a resposta, antes de resolver qualquer coisa...3
Quanto à visita das casas da Companhia, trata-se de um uso de toda santa
comunidade e da própria Igreja. Se nela se estabelecem regras e determinações, é para
remediar falhas. E como é importante dar remédio a todas as falhas, tornam-se
necessárias tantas regras quantas são as espécies de falhas. O meio de não dar motivo a
um visitador de prescrever muitas regras é proceder de tal sorte que ele encontre poucas
falhas. E é neste sentido que tendes razão de desejar que ele deixe poucas determinações
e sou do mesmo parecer. Como também desejo que o visitador seja discreto ao emitir
ordens concernentes à igreja e à área externa, positis ponendis (observado o que se deve
observar). Quem é destinado para esse serviço terá a prudência necessária, como estou
certo de que cumprireis suas ordens com exatidão.
Senhor Padre,
11
Hoje centro administrativo do Cantão na Cotes-du-Nord.
22
O Padre Bourdet dirigira a casa de Troyes de 1642 a 1644.
33
O registro 2 nos dá dois extratos da carta do Santo. Aqui termina o primeiro e começa o segundo.
.
Carta 816. – C. as. – Dossiê da Missão, original.
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Contava antes com a felicidade de estar convosco do que a de vos escrever de
novo. Mas já que os negócios da Caridade ainda vos detiveram, tudo bem. A alegria de
vos abraçar será tanto maior quanto mais a desejei e esperei. Rogo a Nosso Senhor
reconduzir-vos com boa saúde, e ao Irmão Gondrée1 igualmente, que saúdo com afeto.
Os que dizeis que ireis trazer-nos serão bem-vindos; mas se não vos
comprometestes oralmente com aquele que quer vir para o seminário dos eclesiásticos
externos2 por 200 libras por ano, não o tragais, por favor, por tão pouco; pois não
recebemos seminaristas por menos de 250 libras. Se lhe prometestes, in nomine Domini.
Em Paris, não há pensão menor do que as nossas, nem onde os pensionistas sejam
melhor tratados; por isso mesmo, temos grande dificuldade em sua manutenção. Deus o
sabe.
Reservo-me dar testemunho da ternura do meu coração pelo vosso caro coração,
quando aqui chegardes, porque as palavras não são capazes de exprimir como gostaria a
consolação que sinto por ser totalmente para vós, no amor de Nosso Senhor, e sempre,
senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Senhor Padre,
Senhor2,
Embora não tenha a honra de vos [conhecer], tomo entretanto a liberdade de vos
escrever [no interesse] da Congregação da Missão e de vos oferecer os serviços em
geral desta pequena Companhia, e os meus em particular, suplicando-vos o haja por
bem.
A autoridade que o rei vos conferiu, por o[ráculo] da divina Providência, no
sentido de manter sua autoridade entre seus [súbditos], conservar os direitos públicos e
garantir os direitos particulares [de cada um], leva-nos a recorrer a vós, Senhor, na
presente [ocasião], com grande confiança na caridade incomum com que exerceis tão
dignamente vosso cargo.
Somos proprietários por contrato de arrendamento, dos impostos de Angers, em
conjunto com o Hospital Geral de Paris, por doação feita a nós pelo falecido senhor
Comendador de Sillery. Presentemente, nos alertaram que os senhores prefeito 3 e
almotacéis da referida cidade mandaram publicar um arrendamento de herdade de
vários direitos sobre uma quantidade de mercadorias que entram na dita cidade, em
especial de um novo [direito] sobre o vinho, com prejuízo de vários artigos do conselho
e do arrendamento geral dos referidos impostos, que o proíbem expressamente 4. Leva-
nos isto, senhor, a vos suplicar, com insistência, mandeis cancelar do edital que
afixaram o artigo que fala do referido novo direito sobre o vinho. Com efeito, se
acontecer a taxação de novos impostos sobre este último, que meios teríamos de
conservar este arrendamento, já que o próprio arrendatário é constrangido a relaxar seus
direitos antigos, para facilitar a venda desta mercadoria5? Nisto, senhor, fareis um
benefício6 notável, não somente a nossa pequena Companhia, mas também aos pobres
do citado Hospital Geral, conservando-nos o que possuímos de mais líquido e garantido
e nos livrando de um processo que seríamos obrigados a mover junto ao Conselho,
opondo-nos a este empreendimento, o que para nós significaria um grande
aborrecimento.
Vede pois, senhor, quanto nos é necessária vossa proteção e quanto seremos
obrigados a implorar sobre vós, cada vez mais, a proteção de Nosso Senhor, ao qual
suplico, de todo o meu coração, propiciar-me as ocasiões de vos expressar as provas de
uma perfeita obediência e os testemunhos do meu desejo de ser, inviolavelmente, no seu
amor, senhores, vosso muito humilde e muito obediente servo,
22
No início e no corpo da carta, o secretário escrevera primeiro Senhores. Substituiu em quase todo o resto o plural
pelo singular, exceto, por esquecimento, sem dúvida, na fórmula final.
33
Laurent Lamier (1645-1647).
44
Primeira redação: que proíbem expressamente de sobretaxar algo sobre o dito vinho, qualquer que seja a razão ou a
ocasião.
55
Primeira redação: do vinho.
66
Primeira redação: um serviço.
Destinatário: Aos Senhores Dehères e de Bautru, intendentes gerais da justiça,
em Touraine.
Senhor Padre,
.
Carta 819. – C. as. – Dossiê da Missão, original.
11
A capela de Plancoët.
820. – ESTÊVÃO BLATIRON, SUPERIOR EM GÊNOVA, A SÃO VICENTE
Julho de 1646.
Senhor Padre,
.
Carta 821. – Abelly, op. cit., 1. II, cap. I, sec. IV, 1ª ed., p. 69.
11
Data dada por Abelly.
.
Carta 822. – C. as. – Dossiê da Missão, original.
Espero que encontreis, nessa nova visita, de que vos consolar, pelo empenho de
todos em agir bem. Espero por isso um feliz sucesso de tudo que aí determinardes e
mais firme exatidão na prática dos regulamentos. Para esse fim, rogo a Nosso Senhor
vos comunique cada vez mais o seu espírito.
O Padre Alméras partiu hoje daqui para encontrar-se convosco em Richelieu.
Mas não chegará aí tão cedo, porque se dirigiu antes até Roma, para tratar da questão de
um seminário que querem estabelecer naquela diocese. Madame Duquesa 1 doou para
este projeto uma paróquia que veio a ficar vaga e que depende de Marmoutiers2.
O Padre Alméras partiu sem levar suas cartas. Eu vo-las envio para entregar-lhas
aí, por favor, quando ele chegar.
Saúdo o Padre Gautier3 e toda a família em geral, com todo afeto e ternura a
mim possíveis. E meu coração abraça o vosso muito querido coração, com o desejo de
sermos junta e inseparavelmente unidos ao de Nosso Senhor, em cujo amor sou, em
verdade, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Senhor Padre,
1
A Duquesa de Aiguillon.
22
A célebre Abadia de Marmoutiers (Indre-et-Loire) dependia da Congregação de Saint-Maur.
33
Superior da casa de Richelieu.
.
Carta 823. – C. aut. – O fac-símile desta carta foi publicado na Revista dos Documentos Históricos, julho de 1873,
p. 50.
11
Data acrescentada no dorso do original.
22
Elisabeth Martin.
33
Localidade do Cantão de Meulan (Seine-et-Oise). As Filhas da Caridade possuíam lá um estabelecimento.
44
Localidade do Cantão de Poissy (Seine-et-Oise). As Filhas da Caridade tinham lá um estabelecimento.
poderia assim dormir hoje mesmo em Saint-Germain-en-Laye e levar à Senhora
Bouillon a resposta, se vos apraz, sobre o pedido que vos fez no sentido de enviardes
para lá um de vossos padres, para a prestação de contas das tesoureiras.
Peço a vossa caridade sua santa bênção a fim de me preparar para a sagrada
comunhão, e sou, senhor Padre, vossa mui grata serva e obediente filha,
L. de M.
Senhor Padre,
Depois de assinada esta carta, recebi a vossa do dia 17, à qual não posso agora
responder. Dir-vos-ei unicamente que julgo excelente o que desejais colocar nas regras
do superior local.
Penso ser necessária vossa presença aqui, em razão das mudanças a fazer nas
regras.
Dizeis-me, senhor Padre, que sempre encontrais motivo de censura nas visitas
que se fazem na Companhia, e na maneira como são feitas. Suplico-vos, humildemente,
senhor Padre, levar a bem vos exponha as razões que a Companhia tem tido para
proceder assim.
A primeira é que as visitas que se fazem ou mandam fazer os que estão a serviço
do Superior Geral de uma Companhia, acontecem a exemplo da Igreja que ordena a
22
Lilliers é hoje centro administrativo de Cantão, no Passo de Calais.
.
Carta 825. – Reg. 2, p. 95.
11
Ver carta 824.
todos os Bispos visitem todas as suas igrejas de tempos a tempos e as mandem visitar
todos os anos pelos seus arcediagos e mais frequentemente pelos decanos rurais.
2º Todas as Ordens e Comunidades bem disciplinadas adotam essa prática.
3º A maior parte delas, como os Cartuchos, reconhecem que uma das principais
razões por que não precisaram de reforma foi que esta Ordem é visitada todos os anos.
4º A experiência nos mostrou que em uma de nossas casas quase desmantelada
em sua disciplina, assim como vários membros quanto aos bons costumes, por uma
visita, e só por ela, foi possível remediar a essa desgraça, de tal sorte que não há na
Companhia nenhuma outra casa que vá melhor do que essa.
5º A mesma experiência nos faz ver que todas as casas dela tiram proveito, pela
graça de Deus, algumas mais outras menos, na medida em que os superiores são mais
ou menos fiéis em observarem eles próprios ou em fazer com que os outros observem as
determinações feitas pelo Visitador.
6º A maior parte das casas insistem para serem visitadas, depois de passado o
tempo em que a visita deveria ser feita.
7º Os superiores locais solicitam as visitas, porque a comunidade em geral e
cada um em particular entram em maior união com ele e lhe acatam as ordens, depois da
visita, melhor do que antes.
8º As comunidades respiram melhor depois, porque a visita desaquece a
temperatura e fortalece os superiores que não têm força suficiente para reprimir a
ousadia de alguns. Acresce que, se há alguém na comunidade incomodando a maioria,
remedia-se parte de seu mau humor ou se alivia a comunidade com sua transferência,
ou, talvez, ele venha a melhorar.
9º Com a visita, todas as regras, ou quase, voltam a vigorar, se estavam deixadas
de lado.
10º Quando há inimizades, a caridade entre os coirmãos se restabelece.
11º Resumindo, pode-se dizer que as visitas, feitas com propriedade e exatidão,
fazem o que faz o sol: iluminam. As visitas expõem todas as faltas da comunidade a
quem lá está para remediá-las. O sol aquece, e a visita inflama as pessoas visitadas,
excitando-as a um mais intenso amor a Deus e ao próximo, a maior estima da vocação e
a maior observância das regras. E como o sol esparge sua influência sobre todas as
criaturas, pode-se também dizer que a visita traz proveito a toda a família visitada.
Sim, dir-me-eis, parece-me, porém, que esses efeitos não se notam em toda
parte. É verdade, respondo-vos, nas casas onde os superiores e os súbditos não andam
bem dispostos para merecer a graça dessa santa ação. Mas onde os superiores
demonstram bastante humildade e zelo, a visita faz maravilhas, como o mostra a
experiência, por toda a parte.
Não censuro as visitas, dir-me-eis, mas o modo como alguns da Companhia as
fazem. Bendito seja Deus, senhor Padre, por não culpardes as visitas, mas apenas a
maneira como são feitas! Vejamos como nela procedemos.
Começamos esta santa atividade por uma pregação que estimule a se fazer bem a
visita.
2º Cada qual confidencia ao Visitador suas próprias faltas, as da comunidade em
geral e as de cada particular, se tiver observado alguma.
3º Depois de ouvir cada um, o Visitador adverte a comunidade, no capítulo 2, das
faltas que lhe dizem respeito, e aos particulares, em particular.
4º Faz em seguida as determinações necessárias para que não se venha mais
recair nas mesmas faltas e introduzir o que for necessário para a boa ordem.
O que há de mal em tudo isto? Se nada há a recriminar nesta maneira de fazer as
visitas, talvez encontreis algo na execução e nas determinações do Visitador, pois estou
certo de que não o encontrareis na exortação e nas advertências.
Quanto à execução ou à informação secreta, não há comunidade em que isso não
se pratique desta maneira. Nossos senhores bispos interrogam publicamente os párocos
e o povo reciprocamente quanto às suas faltas. No que respeita às determinações, uns e
outros, os senhores bispos e os Visitadores das comunidades, as fazem. De que
serviriam as visitas sem isso? Os médicos, depois de curar um doente, prescrevem-lhe
um regime de vida, para se preservarem da recaída na mesma doença.
Sim, mas às vezes, os Visitadores fazem determinações que diminuem a
autoridade do superior e realçam a da comunidade, como a de dar um admonitor e
conselheiros a um superior, oficiais que os próprios superiores não escolhem com o
Superior Geral ou com o Visitador, se o próprio Geral não o puder fazer. Respondo que
se os superiores fossem impecáveis e infalíveis em seus conselhos, não haveria
necessidade disso. Mas como estão sujeitos a pecar e a errar e nem sempre têm o
discernimento necessário para agir sem conselho, não é justo fique ele próprio sem
admonitor e sem pessoas com quem possam se aconselhar. O próprio Geral tem seu
admonitor, seu confessor e conselheiros que a Companhia lhe deu. Não os escolheu por
si mesmo.
De resto, senhor Padre, eu vi as determinações que o Padre Portail fez na vossa
casa. E me parecem excelentes, tendo em vista o estado de vossa casa e das pessoas que
a compõem. Por isso vos suplico, pelas entranhas de N. S. Jesus Cristo, entrar, não
apenas no sentimento da importância das visitas, da maneira como se fazem, mas
também vos peço observar-lhes as determinações e fazê-las observar com exatidão.
Esteja certo, senhor Padre, que se o fizerdes, Deus abençoará e santificará cada
vez mais vossa conduta.
Senhor Padre,
22
Cf. c. 125, n. 13.
.
Carta 826. – C. aut. – Original no Seminário Maior de Bernay.
11
25 de julho.
Soube por vossa carta e pela do Padre Rose, e pelo senhor Janus, do sofrimento
vosso e de vossa família, na circunstância de que me escreveis. Não seria capaz de vos
exprimir a dor do meu coração e como desejaria ter sofrido eu mesmo, e sozinho, em
vosso lugar, o que vós e os vossos suportaram.
O Padre Codoing, portador da presente, vos poderá testemunhar quanto isso me
tocou. Eu o envio principalmente para vos certificar de que vossos sofrimentos são
meus, e vos dizer, mais em particular, como penso diante de Deus que este negócio vai
terminar. Suplico-vos, senhor Padre, recebê-lo e acolher o que vos disser como vindo da
parte de quem é, mais do que vos pode expressar, no amor de Nosso Senhor, senhor
Padre, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Senhor Padre,
22
Os padres da Missão, anteriormente em Montmirail, se tinham estabelecido em 1644 em Fontaine-Essarts, numa
casa legada por Luís Toutblanc, secretário do Duque de Retz.
.
Carta 827. – C. as. – Dossiê de Turim, original.
11
A corte estava em Fontenebleau. O Santo era chamado provavelmente em razão de suas funções no Conselho de
Consciência.
22
A Irmã Turgis é quem foi colocada em Richelieu.
33
O resultado da conversa do Santo com Luísa de Marillac nos é conhecido. Esta última escrevia ao Padre Antônio
Portail a 13 de agosto (C. 148): “Não ousaria dizer-vos nada sobre a proposta do pequeno véu, a não ser que o Pe.
Vicente manifesta muito receio e com razão, embora por diversas vezes eu lhe tenha feito a proposta, não
propriamente de um véu (isso é totalmente de se temer), mas de algo que possa cobrir um pouco o rosto do frio
intenso ou do calor mais forte. Em vista disso, ele nos permitiu as Irmãs, com uso recente da touca, usassem uma
corneta de tela branca sobre a cabeça, caso necessário. Mas o véu negro, ó senhor Padre! Não me parece viável”.
Sou de opinião que adieis ainda a admissão aos votos dos Padres Gobert 4 e
Lucas5.
Quanto ao modo de agir com o Padre Coudray, sobre o qual me interrogais, não
posso sugerir-vos um melhor do que o da mansidão e da humildade. Agindo com essas
virtudes, peço-vos nada temer. Nosso Senhor abençoará o que fizerdes, e espero que
encontrareis a mesma facilidade que em outras casas, para introduzir as práticas da
Companhia e banir as que não lhe são próprias. Podereis moderar-lhe o poder em
relação à mudança de ofícios, como para os outros superiores. Enfim, é necessária a
maior uniformidade possível.
Ainda não tenho notícias da volta do Irmão Testacy6.
O Irmão Pedro Vas7 não se deteve aqui, depois de me entregar vossa carta.
Falei-vos do Padre Brin em minhas cartas anteriores. O Padre Le Blanc 8 foi
agora substituí-lo na direção do seminário de Mans. O padre Cuissot foi também
enviado para lá, no lugar do Padre Alain que chamamos de volta para aqui. O Irmão
Nicolau, que estava em Crécy, foi para Mans para cuidar dos negócios e o Irmão
Francisco Le Rogueux9 para trabalhar no jardim.
Logo que tivermos dinheiro, enviaremos o livro das cerimônias.
Nada vos direi de particular sobre a desordem da igreja, que me assinalais, mas
vos suplico aplicar o remédio que vos for possível e disciplinar tudo conforme Deus vos
inspirar.
O Padre Guérin, de Túnis, continua trabalhando com grande bênção. Escapou de
um grande perigo, depois da conversão do filho do rei, o qual, fugindo com cinco ou
seis de sua comitiva, foram batizar-se na Sicília. O pobre Padre Guérin foi obrigado a
permanecer na prisão durante um mês, sob a suspeita de ter contribuído para a fuga.
Esperava a todo momento o viessem buscar para lançá-lo às chamas, para o que estava
inteiramente disposto. Nosso Senhor, porém, quis conservá-lo e até mesmo o introduziu
mais do que nunca nas boas graças do rei, que lhe deu uma carta para o nosso rei. Eu a
tenho em mãos, mas não encontramos ninguém que saiba interpretá-la1010.
44
Evrard Gobert nasceu em Vandresse (Ardennes), entrou como padre na Congregação da Missão a 01 de julho de
1641, com a idade de 34 anos.
55
Jacques Lucas, natural de La Pernelle (Manche), nasceu a 10 de abril de 1611, foi ordenado padre em 1635 e
recebido na Congregação da Missão a 10 de março de 1638. Foi superior em Luçon (1650-1656) e em La Rose
(1662-1668).
66
Ver carta 803.
77
Irmão Coadjutor, recebido em São Lázaro a 03 de fevereiro de 1642, com a idade de 17 anos.
88
Georges Le Blanc ou Georges White, nascido na diocese de Limerick (Irlanda). Era padre, com a idade de 37 anos,
quando entrou na Congregação da Missão, a 07 de novembro de 1645. São Vicente o enviou para a Irlanda, no fim do
ano de 1646 e o chamou de volta para a França em 1648, para colocá-lo em Mans, donde o chamou para Paris em
1649. Depois disso, não encontramos mais em parte alguma o nome de Georges Le Blanc na correspondência do
Santo, ao menos em termos de certeza, porque ele tinha um homônimo. Um tal de Georges Le Blanc, bacharel em
teologia, estava metido, em 1651, entre os estudantes irlandeses da Sorbona que assinaram uma declaração contra o
jansenismo (Cf. As relações de São Vicente de Paulo com a Irlanda, por Patrício Boyle, nos Anais da Congregação
da Missão, t. LXXII, ano 1907, nº 2, p. 190). Seria ele?
99
Francisco Le Rogueux, nascido em Hiesville (Manche), entrou na Congregação da Missão a 07 de agosto de 1644,
com a idade de 16 anos.
1010
É de fato Juliano Guérin quem preparara a conversão de Chéruby, filho de d’Hadji-Mohamet, bei de Túnis. Ele o
recebia em casa durante a noite para lhe ensinar os mistérios da religião. O príncipe fugiu secretamente com três
escravos, passou pela Sicília e foi batizado em Palermo. Felipe IV, rei da Espanha, de quem dependia essa ilha,
aceitou ser seu padrinho e lhe deu uma propriedade em seus Estados. O bei, furioso, mandou matar uma escrava
cristã que, diziam, Chéruby tinha desposado. O autor da notícia sobre o Padre Guérin declara (p. 74) que o bei
mandou chamá-lo, o interrogou, e o acusado soube, não somente, pela habilidade das respostas, dissipar as suspeitas
O Padre Nouelly e o Irmão Barreau1111 chegaram a Argel, há pouco. Este último
vai ficar com o ofício de cônsul, para agir com mais liberdade nas outras coisas1212.
Estão no solicitando ainda para Salé, outra cidade da África 1313, onde é
permitido pregar Jesus Cristo. Não sabemos ainda quem escolher para lá. Peço-vos
pensar, diante de Deus, quem teria capacidade e zelo para isso e mandar-me vosso
parecer.
Tudo o mais, aqui e em outros lugares, vai cada vez melhor, pela graça de Deus,
em cujo amor sou, de todo o meu coração, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
sobre ele, mas ainda conquistou as boas graças do bei, que lhe deu a permissão de mandar vir outros missionários.
Depois de algum tempo na Espanha, Chéruby foi para a Itália. Surpreendido em um porto da Itália por um corsário
enviado por sua mãe, foi reconduzido para Túnis. Demonstrou sempre a mais viva afeição pela religião católica e
pela França.
1111
Jean Barreau, nascido em Paris, na paróquia Saint-Jean-en-Grève, a 26 de setembro de 1612, abandonou o ofício
de advogado no Parlamento, para entrar, jovem ainda, na Ordem dos Cistercienses. Algum tempo depois, veio pedir a
São Vicente para recebê-lo entre os seus. Começou o Seminário Interno a 14 de maio de 1645. Em Argel, foi de uma
dedicação sem limites para com os escravos. A bondade do seu coração o levou, mais de uma vez, a se comprometer
com somas de que não dispunha, ou não lhe pertenciam, o que lhe valeu maus tratos das autoridades locais e censuras
de São Vicente. Já a ponto de perder o Padre Jacques Lesage, que uma enfermidade mortal levou a 12 de maio de
1648, ele fez os votos diante dele, embora não estivesse ainda desligado do voto simples de religião pronunciado
entre os Cistercienses. Esta dispensa só foi solicitada em 1652 e ele pôde enfim, a 01 de novembro de 1661,
validamente agora, dar-se a Deus na Congregação da Missão. Estava então em Paris, para onde o chamara o Padre
Renê Alméras, segundo Superior Geral, e tinha apenas as ordens menores. Foi ordenado padre, em 1662 ou 1663, e
passou o resto da vida na casa de São Lázaro, onde desempenhou o ofício de ecônomo. Foi, até mesmo, associado em
1672 ao ecônomo geral Padre Nicolau Talec. A 24 de maio de 1675, durante uma enfermidade grave, fez seu
testamento, ao qual ajuntou um codicilo a 07 de abril de 1679 (Arq. Nac. M 213, nº8). Deve ter morrido pouco
depois, pois não encontramos mais o seu nome em parte alguma.
1212
São Vicente comprara o consulado de Argel de Baltazar de Vias, com a ajuda pecuniária da Duquesa de Aiguillon
por conta de Lambert aux Couteaux. O Rei se apressou em ratificar o contrato. Esta medida tinha a grande vantagem
de afastar todo temor de conflito ou de simples desacordo entre o representante da França e os missionários, e dava a
estes um crédito de que a religião só poderia aproveitar-se. Contudo, o Santo preferiu confiar o ofício de cônsul a um
simples clérigo, para deixar os padres mais livres para a pregação do Evangelho. Talvez tenha sido esse o motivo pelo
qual Jean Barreau só foi chamado ao sacerdócio muito tarde, após seu retorno de Argel.
O cônsul da França era o protetor oficial dos franceses, dos judeus estrangeiros, dos gregos, dos armênios e
dos originários de país que não tivesse representante em Argel. Defendia-lhes os direitos, assumia-lhes os interesses,
facilitava-lhes o comércio e velava pela observância estrita dos contratos. Alguns direitos lhe eram atribuídos sobre
todas as mercadorias que os navios deles traziam para o porto de Argel, onde não podiam entrar e de onde não
podiam sair sem o seu passaporte. Era o juiz das desavenças entre os escravos ou entre os comerciantes das diversas
nações. Seu ofício, pelo que se vê, estava longe de ser uma sinecura.
1313
Cidade do Marrocos, na costa do Oceano Atlântico, então célebre ninho de piratas, hoje muito abaixo do seu
antigo esplendor. A França mantinha lá um cônsul. O projeto do Santo não chegou a termo; diremos mais tarde o
porquê. Desde 1643, a Companhia do Santíssimo Sacramento de Marselha pedira a São Vicente o envio de
missionários para esta localidade (Raoul Allier, A Companhia do Santíssimo Sacramento do altar em Marselha,
Paris, 1909, in-8º, p. 55).
.
Carta 828. – Arq. da diocese da Cahors, caderno, cópia.
Abadia de Chancelade, 31 de julho de 1646.
Senhor Padre,
Logo que cheguei aqui, escrevi ao senhor Bispo de Perigueux1 para lhe oferecer
meus serviços. Tendo sabido, por um de seus parentes próximos, que ele estava
aguardando obter as bulas de graça, mediante o favor do senhor Cardeal, eu o conjurei
a partir quanto antes para Paris, para tomar as providências requeridas para a
expedição delas e nada omitir, no que dependesse dele, para acelerar o processo, como
algo necessário para a glória de Deus, a salvação dos seus diocesanos e seu próprio
bem. Garanti-lhe que, se ele soubesse quanto a coisa é urgente e necessária, estaria eu
certo de que ele não deixaria passar um único momento, no sentido de trabalhar pela
aceleração da expedição. Respondeu-me que desejaria ardentemente consegui-las,
quanto antes, mas que só poderia empregar nisso a diligência que seu irmão deseja.
Ele viajou para a Holanda, a serviço do rei, e trancou o seu diploma com as cartas de
recomendação. Deste modo, ficaria paralisado até a sua volta.
Acrescentou que Sua Eminência tendo-lhe sugerido esperar essa gratuidade até
o acordo a ser feito entre o Papa e o rei, ele não poderia adiantar as providências
senão na medida em que Sua Eminência o aprovasse.
Esta resposta me chocou sobremaneira e me obrigou, vendo a confiança que ele
deposita em mim e o testemunho que me deu de acatar meus pareceres, a escrever-lhe
com mais vigor outra carta sobre o mesmo assunto. Nela lhe comunico que, tendo
refletido diante de Deus no meu retiro (que ele sabia que eu estava fazendo) sobre a sua
resposta, sentia-me impelido a lhe dizer que, se ele diferisse a obtenção das bulas até o
acordo do Papa e do rei, esse retardamento seria a causa de uma multidão de pecados
que se poderiam cometer em sua diocese e da perda de muitas almas; disso não deverá
ele duvidar, nem também de que Deus lhe pedirá contas de tudo; ficará prejudicada a
necessária estima que seus diocesanos devem ter por ele, vendo que ele prefere um
pouco de dinheiro à salvação de suas almas. Além do mais, impediria que Deus lhe
desse grandes graças, que infalivelmente lhe concederia, necessárias para a conduta de
sua diocese, e eu temeria até mesmo que não lhe subtraísse as que lhe tem concedido
até o presente, se adiasse assumir quanto antes seu ministério.
Julguei dever avisar-vos disto, a fim de agirdes com ele da maneira como Deus
vos inspirar, sem lhe revelar que vos escrevi algo a respeito, para urgir com ele no
sentido de se apresentar, sem perda de um instante, à sua diocese, que se encontra num
inimaginável estado de desolação, tanto espiritual quanto temporal. Fiz-lhe algumas
advertências prementes e lhe disse que farei outras, e que vo-las enviaria, como faço,
pedindo-vos lhas entregueis.
Estão querendo obrigá-lo a constituir como Vigário Geral o senhor Padre
Alexandre de Fontpidoux, Conselheiro no presidial, com quem estivestes no inverno
passado, em Paris, que não tem experiência alguma para conduzir uma diocese, nem
11
Jean d’Estrades, nomeado Bispo de Perigueux no decorrer do mês de julho, não tomou posse de sua diocese. Foi
transferido para Condom e substituído em Perigueux, em 1648, por Philibert de Brandon, candidato do Bispo de
Cahors.
mesmo a ciência requerida para o cargo, embora seja homem de bem e honrado. Vede
bem, vos suplico, de que modo essa diocese seria governada: por um jovem Bispo que
não sabe o que é isso, tendo como Vigário Geral quem também não o saberá. Ela seria
mais apropriada ao nosso oficial, embora este cargo exija um homem com mais
experiência, se fosse possível.
Estão falando que ele deve levar a mãe para a sua diocese. Isso não lhe fará
bem, se for verdade. Já ouvi falar disso.
Corre o boato de que o Padre de Vertueil, nomeado Bispo de Lectoure 2, deseja
trocar sua diocese com ele. Mas percebo no espírito do pessoal que não desejariam
fosse assim. Peço-vos agir com a maior energia possível, quer junto à rainha, se
julgardes conveniente, quer junto ao senhor Cardeal ou ao senhor Bispo de Perigueux,
no sentido de acelerar sua vinda para sua diocese, que se encontra em extrema
desolação, e de mostrar que as almas se perdem por falta de um bispo. Se quiserdes
fazer alusão a mim e dizer que vo-lo informei da situação, estarei totalmente de acordo,
pois é inteiramente verdade. Os fiéis não se consolam com a perda de Dom Brandão e
não deixam de publicá-lo alto e bom som, até mesmo aos amigos do senhor Bispo de
Perigueux, que mo comunicaram e disseram que isso lhe causa grande prejuízo.
Parto daqui amanhã, de volta para a minha diocese, depois de ter feito um
retiro de vinte dias que me impediu de retornar até o momento.
Suplico-vos lembrar-vos da reforma do convento dos jacobinos de Cahors e de
trabalhar sempre com vigor, como tendes feito, para proporcionar bons bispos à Igreja,
o que é o maior serviço que poderíeis prestar a Nosso Senhor.
Cuide de vossa saúde, suplico-vos, e crede-me sempre, senhor Padre, etc.
APÊNDICES
Viva Jesus!
Permito e consinto que nossas caras Irmãs de Aneccy doem meu coração, após
minha morte, a nossas caras Irmãs de Paris, do mosteiro da rua Santo Antônio, que me
22
Luís de la Rochefoucauld. Morreu como Bispo de Lectoure, em dezembro de 1654.
.
Apêndice 1. – A Vida da Venerável Madre Joana Francisca Frémiot, por Monsenhor Henrique de Maupas du Tour,
p. 323. Trata-se desta doação nas cartas 561 e 569.
testemunharam desejá-lo ardentemente, esperando, por este meio, que esses dois
mosteiros permaneçam não somente na perfeita união requerida pela caridade, mas
ainda em íntima ligação de coração e espírito, tal como sempre lhes desejei; com a
condição porém de que seja possível retirá-lo sem me abrir como se faz de ordinário,
mas somente de lado, e que seja uma de nossas Irmãs a me prestar, se possível, este
favor.
Dado a treze de abril de mil seiscentos e trinta e seis.
23 de maio de 1645.
1
Apêndice 3. – Reg. 2, p. 285. Esta carta, escrita em nome de São Vicente, faz, de certa forma, parte de sua
correspondência.
1
Mt 19, 29.
22
Lc 9, 60.
33
Lc 9, 62.
44
Antônio Portail fala de si mesmo.
pela insistência importuna, a permissão de ir rever os pais, perdem de ordinário a
vocação.
E ainda que essa infelicidade não vos acontecesse jamais, por causa de vossa
virtude, somente a consideração, entretanto, do mau exemplo que dareis aos outros com
essa viagem, deveria dissuadir-vos de pensar nela, senhor Padre. Com efeito, os que não
são tão virtuosos como vós poderiam dizer: porque não teria eu licença de ir, como tal
outro? E assim seria necessário dar-lhes a mesma autorização ou então contrariá-los,
com notável perigo; e uma e outra coisa seriam nocivas, tanto para um particular como
para a comunidade. Foi a principal razão que reteve o que ficou 20 anos na Companhia
sem ver a sua mãe.
O Padre Vicente vos roga, portanto, oferecer a Deus vossa vontade em sacrifício,
pela prática dessas máximas evangélicas e esperar que o próprio Jesus Cristo, pelo qual
renunciareis a vós mesmo e a vossos pais, será ele mesmo vosso procurador, vosso pai,
vosso amigo, vosso protetor e vosso tudo, ele que disse: Quaerite primum regnum Dei
et justitiam ejus, et omnia haec adjicientur vobis5 (Procurai antes de tudo o reino de
Deus e sua justiça e tudo mais vos será dado por acréscimo).
Eis, aproximadamente, o que o Padre Vicente me ordenou que vos escrevesse,
muito contrariado por não mo ter ditado palavra por palavra. Este discurso não vos
causaria aborrecimento, como acontecerá, a meu ver, por tê-lo mal composto. Rogo a
Nosso Senhor infunda nele o seu espírito, em cujo amor, sou...
55
Mt 6, 33.
ANEXO II
432 BIS1 – SANTA JOANA DE CHANTAL A SÃO VICENTE
Quanto ao Visitador, é constante entre os nossos superiores e nós que ele será de
grande utilidade para conservação de nosso Instituto. Por outro lado, encontramos todos
grandes dificuldades quanto aos meios propostos para estabelecê-lo, por causa da
repulsa que sabemos estar existindo no espírito de nossa Irmã Superiora N., e é tudo o
que tememos.
Vejo claramente que não conseguiremos êxito pelo caminho proposto. É preciso,
se for conveniente, tratar de conquistar os prelados e os mosteiros, com suavidade,
levando-os com muito habilidade a entender o assunto, e ver que não haverá atrito com
a autoridade dos prelados. Com efeito, meu caríssimo Padre, seria necessário, com a
destreza da santa humildade e caridade, que o visitador não alardeie a autoridade que
tiver da Santa Sé; de outra forma, nada fará. Gostaria que já nos déssemos ao trabalho
de lhe dar esses conselhos.
Se Deus concretizar este desígnio dentro da serenidade, espero que ele
contribuirá muito para a sua glória. É preciso, porém, meu caríssimo Padre, que vossa
bondade trace as regras para o visitador. Já destes tanto de vosso tempo, tão caro e
precioso, para esse bendito assunto, que chego a me admirar de como o encontrastes em
meio à urgência e atropelo dos vossos outros negócios. É a santa dileção que Deus vos
concedeu por nós que vos leva a fazer o impossível. Nesta questão, não mexeremos em
nada, antes de obtermos vossas considerações. Deus conduza tudo ao fim determinado
por sua Providência!
04 de junho de 1640.
Cópia do Relatório do Padre Vicente, sobre a instrução dos Ordinandos, enviado, como reposta,
ao R. P. Lachau, reitor do Colégio de Montferrand, no dia 04 de junho de 1640.
11
Carta 432 bis. – Visitação de Annecy, cópia. Carta publicada em Santa Joana de Chantal, correspondência, Paris,
Cerf., t. V, 1993, p. 856-857.
22
1650 era ano bissexto.
11
Carta 448 bis. – Biblioteca Santa Genoveva, cópia, MS 3238, f. 283-284. Publicada na Vincentiana 1968, p. 57-
59. Fotocópia nos Arquivos da Missão.
22
Robert Lachau, reitor do Colégio Jesuíta de Montferrand, que dava suporte aos projetos e esforços do bispo
diocesano em favor dos Ordinandos.
Roga-se ao Padre Vicente enviar por escrito qual a ordem observada em sua
casa, para a instrução dos clérigos que deverão ser promovidos às Ordens sacras.
Quanto ao Visitador, as razões que lhe mostram a utilidade são tão sólidas que
delas não se pode duvidar. Contudo, como Deus permitiu, sem que eu o soubesse, que
tantos mosteiros tenham sido avisados deste desígnio, e sentiram, a respeito, tão grande
discordância, e mo testemunharam, poderia eu aderir a ele, sem me dissociar deles?
Que êxito haveria com isso? Deixo-o à vossa consideração, meu caríssimo Padre, pois
11
Carta 449 bis. – Visitação de Annecy, cópia. Publicada em Santa Joana de Chantal, correspondência, Paris, Cerf.,
t. VI, 1996, p. 78-79.
eles se movimentarão em uníssono e, como dizeis, avisarão, depois, aos senhores
prelados que lhes cortarão a comunicação conosco. Haverá, então, ao que parece, uma
grande perturbação no Instituto, que goza de completa paz e união, pelo que dele
conheço, pela graça de Deus. Não sei de desordem alguma, a não ser a que aconteceu
com a dispensa dessas irmãs de N. 2, o que foi muito deplorável e exigiria pedir ao
senhor Bispo de N. uma boa mortificação para aquela superiora. São abalos
inevitáveis, quando há infidelidade ao regulamento.
Oh! meu caríssimo Padre, não posso deixar de vos confessar que me sinto
perplexa quando considero a utilidade desse visitador, e receio, ao mesmo tempo, que
não seja possível estabelecê-lo, sem um grande transtorno no Instituto, caso este não o
aprove. E fico com o pressentimento de que, nesse caso, não fizesse mais mal do que
bem e, portanto, não sendo possível ganhar as casas com doçura, se não seria melhor
deixar as coisas como estão, nos braços da Providência divina, em vez de ir em frente.
Eis minha opinião e a de alguns senhores Prelados.
22
Ruão.
11
Carta 498 bis. – Visitação de Annecy, cópia. Carta publicada em Santa Joana de Chantal, correspondência, Paris,
Cerf., t. VI, 1996, p. 151-152.
estimado por grande parte de nossas casas, pelo menos das principais, poderia lançar
suavemente a opinião da necessidade de algumas visitas para a continuação da
uniformidade. Se fosse conveniente, poderia mostrar a carta que lhes havia escrito
sobre esse assunto, e que foi aprovada por todos vós. Tenho confiança de que elas se
poriam de acordo com isso, em sua maioria; guardariam ao menos o segredo,
aguardando que se conquistassem os senhores nossos prelados. Não posso persuadir-
me de que não chegassem ao acordo, se o assunto lhes fosse bem apresentado, como
poderiam fazer os senhores Bispos de Sens, de Bourges e de Chalon, e vós, meu
caríssimo Padre. Com efeito, uma vez por ano, vários dentre eles vão a Paris.
Conquistando alguns deles, fariam um decreto de aprovação que poderia ser
comunicado a outros, acompanhado de cartas favoráveis, conforme se julgasse
conveniente.
Se não se introduzisse essa instituição de comum acordo, ao menos o dos
principais, ela traria perturbação ao Instituto. Nesse caso, seria preferível aguardar o
surgimento de alguma necessidade que não fosse possível sanar pelos meios ordenados
pelo Costumário.
Lanço aqui, diante do coração de meu caríssimo Padre, tudo que me vem ao
pensamento, porque sei que me suporta cordialmente. Com efeito, Deus meu! Sei lá o
que estou dizendo. Essas grandes questões não são para espíritos miúdos como o meu.
Com certeza estou abusando de vosso tempo, mas é a bondade do vosso coração
paternal que me inspira toda a confiança. Meu boníssimo e caríssimo Padre, suplique à
infinita Bondade que me receba, ao partir desta vida, entre os braços de sua doce
misericórdia. Sou...
Senhora,
.
Carta 26. – Carta autógrafa.
Original com as Filhas da Caridade da Paróquia Saint-Projet, em Bordéus. Publicado nos Anais C. M., 1928, p. 256-
257.
11
Data exigida pela do estabelecimento das Filhas da Caridade em Sedan (fevereiro de 1641) e pela comparação do
conteúdo da carta com o das cartas 512, 513, 514, 517, 518, 519 da edição Coste (t. II, p. 159-161; 163-167).
Mandei reservar e pagar dois lugares no coche de Sedan que partirá amanhã às
dez horas. Mantende nossas Irmãs prontas para partir às nove, por favor. Sinto muito
não poder estar com elas. Se Deus quiser, espero celebrar a missa na intenção delas.
Escrevi à Madame Duquesa2 e ao padre capuchinho que está lá, conforme me
dissestes. Resta uma dificuldade: dizem-me que há o temor de que haja alguma
proibição em relação ao comércio com essa cidade, o que me levou a escrever à
Madame Duquesa de Aiguillon e rogar-lhe me avise se há perigo em mandar para lá
essas filhas. Aguardo a resposta. Como é possível que ela não tenha tido tempo de ver
minha carta, solicitei a um funcionário do senhor Chanceler 3 que o indague a respeito e
me transmita as informações.
Não deixareis de mantê-las em estado de partir na hora combinada, por favor.
Estou mandando um padre daqui atender a essa filha, e sou, no amor de Nosso
Senhor, Senhora, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
22
A Duquesa de Bouillon (1615-1657), recentemente convertida ao catolicismo, contribuiu financeiramente para o
estabelecimento das Filhas da Caridade em Sedan.
33
Pierre Séguier (1588-1672), servidor dócil da política interior de Richelieu e, depois, da de Mazarino. Caridoso,
favoreceu as obras de São Vicente.
.
Carta 27. – Carta autógrafa.
Original com as Visitandinas de Orthez (Basses-Pyrénées).
Carta publicada em parte na edição de Coste nº 539 (t. II, p. 185-186), segundo uma cópia incompleta inserida no
Processo de Beatificação de Joana de Chantal. Fotografia no Arquivo da Missão, Paris.
Texto original, com uma introdução histórica, publicado (com a forma e a ortografia do original) nos Anais da
CM 1954-1955, p. 621-628.
11
Santa Joana Francisca Frémiot de Chantal (1572-1641). Depois da morte do marido, colocou-se sob a direção de
São Francisco de Sales, que a orientou para a vida religiosa. Juntos, instituíram a Ordem da Visitação. Depois da
morte de São Francisco de Sales, consultou São Vicente em assuntos de sua direção espiritual e sobre os negócios de
sua Ordem. Nas cartas que ele lhe dirige, São Vicente se esforça por adotar o estilo e a maneira de São Francisco de
Sales. Desde 1622, São Vicente foi o superior eclesiástico da Visitação na diocese de Paris: Primeiro mosteiro (1619)
instalado no subúrbio Santo Antão em 1621; segundo mosteiro instalado em 1626 (subúrbio Saint-Jacques); terceiro
mosteiro instalado em 1639, em Saint-Denis.
22
Trata-se de Ana Margarida Guérin, superiora do segundo mosteiro da Visitação, no subúrbio Saint-Jacques.
comunicação3 que vossa Caridade permite que lhe façam, e rogo a ele que os torne
dignos do proseguimento da mesma graça, pelo bom uso que desejo muito que façam
dela. Em nome de Nosso Senhor, minha digna [Madre], continuai a fazer-lhes a mesma
caridade.
Procurarei obedecer-vos quanto à visita do subúrbio e seguirei a ordem que
vossa bondade me determina, se impetrardes a Nosso Senhor me faça participar da
firmeza suave que ele vos concedeu. Oh! que vosso bom anjo nos ajudaria muito nisso,
se vós, minha cara [Madre], o suplicardes com diligência.
Eis como está a questão da qual um Prelado se queixou àquela que vos escreveu,
conforme vossa caridade me informa. Não preciso falar-vos aqui sobre o trabalho de
vossas caras Filhas que estão em Madeleine4. Algumas dentre as Professas, temendo que
nossas Irmãs se retirassem e que prevalecessem as desordeiras, encontraram um meio de
escrever a Madame Duquesa de Aiguillon por conta própria, e suplicaram-na, à revelia
da Superiora, para ir vê-las. Ela o fez, porque tem amor e é benfeitora da Casa. Elas lhe
fizeram suas queixas e Madame falou disso com esse senhor, pedindo-lhe que pusesse
fim a essa questão. Como notasse que o caso se arrastava e o incêndio continuava e se
difundia cada vez mais, tudo fomentado pela ousadia a que se davam, por serem
sustentados pelo dito Senhor, a senhora Madame lhe mandou dizer que lhe pedia que
acabasse com o negócio ou ela daria queixa dele. Isso o aborreceu ao extremo e o
indispôs muito contra vossas caras Filhas, dizendo que tudo veio delas: o que não é
verdade. Disso eu asseguro vossa caridade; digo-vos que não têm parte alguma em...
(rasgão)... que eu fosse até o local para vos relatar as circunstâncias da questão, minha
digna Madre. Veríeis que são inocentes; ele mesmo me declarou, há algum tempo, que
não o cria, mas que elas eram, pelo menos, o motivo pelo qual fora maltratado.
A Casa, no presente, vai bem. Foi uma pequena tempestade que passou e que
deixou uma tranquilidade maior do que nunca nesses espíritos. Deste modo, há razão
para louvar a Deus, e quanto a vós, minha cara Madre, para vos certificar de que a
conduta nesse negócio foi ditada pelo conselho do irmão e da irmã desse senhor, e em
espírito de respeito e de submissão, e nada em contrário.
Aconteceu recentemente outra pequena refrega sobre o mesmo assunto que foi
ocasião de novas queixas, mas posso assegurar-vos, minha cara Madre, que não há falta
da parte delas. Vede, pois, que é Nosso Senhor quem permite que vossas Filhas sejam
provadas desta maneira. Bendito seja Deus porque o são sem motivo! A caridade é
paciente, diz São Paulo5. A grande obra de caridade que praticam não merece que por
ela venham a sofrer, a fim de se exercerem na paciência? Jamais se viu obra de Deus, no
interesse de Deus, onde não aconteça a paga com tal moeda.
33
São Vicente aconselhava aos seus coirmãos de Annecy a fazer a sua comunicação interior a Santa Joana de
Chantal; estes recorriam à superiora da Visitação em suas atribulações espirituais e lhe confiavam praticamente a
direção da própria alma.
44
O mosteiro de Santa Madalena (casas de moças arrependidas) era dirigido desde 1629 por religiosas da Visitação.
A superiora era então a Madre Ana Maria Bollain.
55
1 Co 13, 4.
Nossa cara Madre da Cidade6 parece ter o espírito de Deus em sua conduta.
Nossa querida Irmã Angélica7 vive em suas enfermidades com tal humildade e
cordialidade com as Irmãs que me causa edificação. Oh! como desejo a mesma bênção
para todas as Ordens: uma harmonia admirável aos olhos de Deus, motivo de edificação
para quem as vê.
Boa noite, minha cara Madre!
Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
Se não puder escrever, por agora, ao Padre Codoing8, será na próxima ocasião.
Espero que esta carta encontrará o Padre De Horgny 9, de nossa Companhia, em
Annecy1010, onde foi estar com vossos Missionários. Vossa bondade dirá, entretanto, ao
Padre Codoing, por favor, minha digna Madre, que estou entregando quatrocentas libras
ao Senhor de Menthon1111, pelo trimestre de julho.
Bispo de Mende
Senhor Bispo,
66
Luísa Eugênia de Fonteines, que acabava de ser eleita, a 16 de maio de 1641, superiora da Visitação da rua Santo
Antão.
77
Maria Angélica Le Masson ou Helena Angélica Lhuillier ou ainda alguma outra religiosa da Visitação.
88
Bernardo Codoing, padre da Missão, nascido e falecido em Agen. Entrou na Congregação da Missão em 1636, era
superior da casa de Annecy desde 1640. Abandonou a Companhia depois de 1650.
99
Jean De Horgny, padre da Missão. Ingressou na Congregação da Missão em 1627. Nesta época, era superior do
Colégio dos Bons-Enfants. Em junho de 1641, se encontrava em Annecy, para a visita canônica.
1010
Os padres da Missão foram estabelecidos em Annecy em 1640, para missionar na diocese e receber os
ordinandos. O primeiro superior abriu pouco depois um seminário em sua casa.
1111
Membro da nobreza saboiana que morava em Annecy.
.
Carta 28. – Carta autógrafa.
Original comunicado pelo senhor Saffroy, livreiro em Paris (1927). Texto publicado nos Anais da CM, 1927, p. 235-
236.
11
Nascido em 1571, Bispo de Mende de 1628 a 1659, data do seu falecimento.
Vosso Vigário Geral talvez vos tenha escrito, como o senhor Chanceler 2 me
testemunhou, que ele estava muito contente por trabalhardes com tanto ardor em vossa
diocese; que não haverá necessidade de voltardes aqui, senhor Bispo; que não concederá
nada aos que vos exercem a paciência e que vos dão motivo para vir impedi-lo; que, na
verdade, a oferta que fazem de reembolsar o direito de que se trata e de liquidá-lo em
favor da província, dentro de dez anos, lhe parece razoável, já que é tão vantajoso para a
região. Não tendo previsto a resposta à questão, reservei-me dar-lha, e o farei, quando
estiver melhor informado. Falarei do caso àquele que me fizestes a honra de me
comunicar que o diga, no sentido de prestar o serviço no tempo e lugar devidos.
Estive também com o Senhor de Vertamont3, com a finalidade expressa de tratar
do negócio do vosso Vigário Geral, com o qual não me encontrei depois, a fim de lhe
dizer como o referido Senhor de Vertamont me prometeu de bom grado que faria a
devida justiça ao vosso referido Vigário Geral e que ele queria conversar sobre ele com
o Senhor de Morangis4, que concedeu o indulto em seu favor.
Acrescento a isso, senhor Bispo, a muito humilde prece que vos dirijo de mandar
entregar cinco escudos aí ao Padre Savinier 5, para comprarem roupa , ele e o Padre Le
Sage6. Eu os pagarei aqui ao vosso Vigário Geral. Não pude dar-lhos aqui, porque há
muito tempo que não o vejo, e não sei por qual outro endereço vo-los enviar.
Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
22
Pierre Séguier.
33
Provavelmente Francisco de Verthamont, Conselheiro de Estado.
44
Provavelmente Antônio Barileon, Senhor de Morangis, referendário.
55
Annet Savinier, padre da Missão, nascido perto de Clermond-Ferrand. Ingerssou na Congregação da Missão em
1635.
66
Jacques Le Sage, padre da Missão, nascido em Suffray (diocese de Ruão) cerca de 1614. Ingressou na
Congregação da Missão em 1639. Morreu em Argel, em 1648.
1
Carta 562 bis. – Original perdido. Uma cópia manuscrita se encontra nos arquivos da Visitação, Avenida Denfert-
Rochereau 68, Paris. Fotocópia desta cópia nos Arquivos da Missão, Paris.
12
Octave de Bellegarde.
Escrevi ontem a nossa Madre do subúrbio que o meu pensamento era de que,
embora respeite o do senhor Bispo de Sens2 e não tenha eu mudado de opinião, convirá
mandar celebrar uma oração fúnebre, em favor de nossa digna Madre3, e ficaria sentido
se não fosse realizada.
Entretanto, para se proteger, de algum modo, contra os que encontrem
dificuldade nisso, seria bom reunir o conselho para esse fim. Supondo, porém, o parecer
do senhor Bispo de Châlons4, importa falar com o senhor Arcebispo 5, como é justo, e
ele, a não ser que sua sobrinha do subúrbio insista com ele, enviará o caso a seu
conselho, até mesmo, talvez, se ela vier a escrever-lhe. Vede, minha cara Madre, se há
inconveniente em mandar que esta filha lhe escreva, ou, então, se é oportuno que vós e
nossa cara Madre do subúrbio rogueis conjuntamente ao Monsenhor Le Blancq 6 que
fale com ele e vos comunique o que fazer, no caso. Não vos esqueçais de lembrar que se
faça a mesma coisa em Bourges e em Nevers. Submeto, porém, meu pobre pensamento
ao vosso juízo e ao de nossa cara Irmã H.A. 7, que saúdo de coração, como só Deus sabe,
no amor do qual e de sua Santa Mãe, sou, minha cara Madre, vosso humilde e obediente
servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Senhor Padre,
23
Joana Francisca Frémiot de Chantal.
3
44
Felix Vialart de Herse, Bispo de Châlons-sur-Marne.
55
João Francisco de Gondi, Arcebispo de Paris.
66
Denis Le Blancq, Viário Geral de Paris.
77
Provavelmente Irmã Helena Angélica Lhuillier, Visitandina.
.
Carta 29. – Carta autógrafa.
Original na Biblioteca da Universidade de Amsterdam (Schenkings Diederichs 59 Ap.).
Carta publicada na edição Coste (Nº 570 t.II, p. 223-226) a partir de uma cópia com falhas; editada com a disposição
e a ortografia do original nos Anais da C.M. (1953, p.253-254).
11
Superior da casa de Annecy, B. Codoing acabava de ser nomeado superior da casa de Roma.
22
O Cardeal Mazarino (1602-1661), presente então na corte da França sem função definida; conselheiro de
Richelieu , será seu sucessor a partir de 17 de dezembro de 1642.
33
Antônio Barberini (1608-1671), subrinho do Papa Urbano VIII. Era então muito influente, por causa dos
numerosos cargos que exercera sucessivamente na Cúria.
dessa casa, se estiver na cidade de Annecy, ou tão próxima que vos possa servir de
residência, da mesma maneira como se estivessem na cidade. Mas nos é impossível
ajudar-vos com esses 7.000 florins. O Padre Du Festel4 tratará, portanto, de se arranjar
com os mil ducados, parte da soma empregada para rendas.
Fizestes bem em me advertir no sentido de não empenhar Sua Eminência 5 no
projeto do senhor Bispo de Genebra 6. Não fosse isso, eu iria escrever amanhã, a
respeito, ao Senhor de Chavigny7, em Lyon, para lhe falar do assunto. Vossa presença
em Roma será muito importante junto ao senhor Embaixador 8 para esse fim. Pedirei ao
Senhor de Liancourt9, muito amigo dele, lhe escreva sobre isso, em seu melhor estilo
possível.
O Padre Thévenin, Pároco de Saint-Etienne, no Delfinado1010, me escreveu
várias cartas, todas elas no sentido de trabalharmos para fundar um seminário de padres,
a fim de prepará-los para as paróquias e outros benefícios. Ele me pressiona com
numerosas razões, apelando até para os juízos de Deus. Esteve convosco no Delfinado e
em Annecy, e conosco aqui. Gostaria muito que vos désseis ao trabalho de estar com
ele, de passagem, e entregar-lhe minhas cartas. Entre essas, há uma letra de câmbio a ser
sacada em Lyon dos senhores Mascarini e Lumague1111, no valor de 250 libras, que ele
me comunica ter gasto para vir estar conosco. Ele me pressiona para abandonar nosso
projeto (das missões) para seguir o que ele propõe, o que eu não teria dificuldade em
fazer, se fosse do agrado de Nosso Senhor. Mas, 1º a Companhia, tendo sido aprovada
pela Santa Sé, que goza de infalibilidade na aprovação das Ordens que Nosso Senhor
institui, pelo que ouvi do falecido Padre Du Val 1212; 2º e sendo a máxima dos santos
rejeitar, como tentação, o que é contrário ao que foi decidido, diante de Deus, depois de
muitas orações e conselhos tomados; 3º e, enfim, tendo sido do agrado de Deus
propiciar uma aprovação universal, por parte de todos, a essa boa abra (das missões), de
tal sorte que, em todo lugar, todas começam a apreciá-la e nela trabalhar, e a
misericórdia de Deus tendo acompanhado com suas bênçãos esta obra: parece-me que
seria necessário um anjo do céu para nos persuadir que é vontade de Deus que
abandonemos essa obra, a fim de assumir uma outra que já foi iniciada sem êxito em
diversas partes.
Como, entretanto, o Santo Concílio de Trento 1313 recomenda essa obra, nós nos
demos a Deus para servi-lo nisso em toda parte, quando nos for possível. Vós
começastes1414, o senhor Bispo de Alet1515 faz a mesma coisa, o senhor Bispo de
44
Francisco du Festel acabava de ser nomeado superior da casa de Annecy, em substituição ao Padre B. Codoing.
55
Sua Eminência o Cardeal de Richelieu.
66
Justo Guérin, Bispo de Genebra desde 1639. Morreu em 1645.
77
Léon Bouthillier, Conde de Chavigny (1608-1652), excerceu diversos cargos administrativos e diplomáticos
importantes.
88
François Du Val, Marquês Fontenay-Mareuil, embaixador em Roma, de 1640 a 1650. Morreu em 1665.
99
Roger Du Plessis, Duque de Liancourt (1598-1674), homem piedoso, praticante de boas obras, ligado ao grupo
jansenista.
1010
Com certeza Saint-Etienne de Saint-Geoirs (Isère).
1111
Banqueiros de Lyon.
1212
André Du Val (1564-1638), professor da Sorbona, um dos conselheiros mais ouvidos por São Vicente.
1313
Decreto “Cum adolescentium aetas”, publicado na XXIIIª sessão (13 de julho de 1563).
1414
Foi em Annecy, no ano precedente, que B. Codoing começara os exercícios de um seminário de cléricos.
1515
Nicolau Pavillon, Bispo de Alet desde 1638. Morreu em 1677.
Saintes1616 tem a mesma intenção. Nós mesmos vamos dar início nesta cidade a uma
experiência com doze candidatos, para a qual Sua Eminência nos ajuda com mil
escudos1818. Esse bom servo de Deus gostaria que a coisa andasse um pouco mais
depressa, mas me parece que as coisas de Deus se fazem pouco a pouco, quase sem que
as percebam, e que seu espírito não é precipitado, nem intempestivo.
Disse-vos acima que vos rogava para ir ter com ele, mas pensei depois que não é
necessário e que basta enviar-lhe minhas cartas.
Sinto-me contente, senhor Padre, por vossa natureza se ter refeito desses
movimentos impulsivos que sentíeis para Roma, no início, e que no presente os temeis,
pois será o puro amor de Deus que vos conduzirá até lá, e, por conseguinte, tendes
motivo de esperar que o próprio espírito de Deus vos animará e fará sua obra por vosso
intermédio.
Ide, pois, senhor Padre, in nomine Domini, com esta confiança. Escrevei-me
com frequência e sobre todas as questões. Escolhei um lugar sadio para vossa
residência. A carta do senhor Cardeal Mazarino é escrita em bom estilo, e eu sou, no
amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
A carta 613 da edição Coste (II, 292-293), dirigida a Jacques Chiroye, padre da Missão, superior
da casa de Luçon, a 06 de setembro de 1642, foi publicada por Coste conforme a edição Pémartin de 1880
(nº 364, t. I, p. 420-421). O original dessa carta foi encontrado depois; em 1935, ele estava de posse de
dom Garnier, Bispo de Luçon, que deu notícia dele a arquivista da Congregação da Missão; este último
publicou essa carta nos Anais da C. M. (1938, p. 606-607), com a ortografia de São Vicente, pois a carta é
toda autógrafa.
As diferenças entre o original e o texto Pémartin-Coste são mínimas, sem importância; é a razão
pela qual não julgamos ser de utilidade reproduzir aqui essa carta.
Senhor Padre,
Vicente de Paulo
i. p. da Missão.
55
A pistola valia 10 libras.
66
Paulo Millet de Châles (1599-1656), Bispo de Maurienne. Tomara posse de sua diocese a 17 de setembro de 1642.
Por engano, São Vicente lhe dá o título de arcebispo.
77
O Visitador canônico dos conventos da Ordem da Visitação.
88
O pé valia cerca de 33 centímetros.
99
O passo valia 2 pés e meio.
99
Chambéry, antiga capital da Saboia. Após a transferência da corte e do governo para Turim, Chambéry ficou como
centro administrativo das regiões além-montanhas.
Janeiro de 1643.
Há alguns dias, nosso Irmão Mateus me escrevia de Lorena. Sua carta, toda
banhada de lágrimas, me comunicava as misérias daquela região e em especial de mais
de seiscentas religiosas:
“Senhor Padre, a dor do meu coração é tão grande que não sou capaz de vo-la
exprimir, sem chorar, dada a enorme pobreza dessas religiosas que vossa caridade
manda socorrer e da qual eu não saberia descrever a menor parte. Os hábitos delas
são quase irreconhecíveis. Andam remendadas de todos os lados, de verde, de cinza, de
vermelho, enfim, de tudo que conseguem obter. Tiveram de passar a usar tamancos”.
Senhor Padre,
.
Carta 32. – Conferência de 25 de janeiro de 1643 às Filhas da Caridade. Arquivos das Filhas da Caridade. Original
com a letra de Luísa de Marillac. S.V. IX, 84-85.
.
Carta 33. – Carta autógrafa.
Original nos Arquivos ducais de Sagan (Silésia), em 1936. Coste em sua edição pudera apenas dar notícia da carta
(Nº 640, t. II, p. 363), cuja existência então só era conhecida por um catálogo de Charavay.
Texto publicado nos Anais da C. M. (1936, p. 405-408) com a ortografia do original.
11
Tratava-se de unir a paróquia Saint-Yves (em Roma) à Congregação da Missão e nela instalar os padres da Missão.
O projeto não vingou.
22
Em margem, São Vicente escreveu: Esqueci-me de vos enviar a carta do Padre Codoing (sic.), há muito tempo.
33
Bernardo Codoing tinha morado em Annecy como superior da casa da Congregação da Missão de 1640 a 1642.
44
Jacques Chiroye, padre da Missão (1614-1689), ingressado na Congregação da Missão em 1638, superior desde
1640.
Ainda outra coisa: um pároco obteve sua paróquia às custas de uma bem leve
simonia. Chama-se Taufin6 e é da diocese de Troyes. Solicita a dispensa, para conservar
o benefício e receber os emolumentos que não passam de 100 escudos por ano. Ele é
muito pessoa de bem. A simonia é de apenas seis almudes 7 de vinho que o resignatário
do benefício fez absoluta questão que ele lhe desse, depois de terem entrado em acordo
sobre a pensão que era de doze escudos. Em nome de Deus, senhor Padre, providenciai
para que ela seja expedida quanto antes. Se for necessário declarar o benefício, ele se
denomina Nogetum8.
Aguardo a letra de câmbio de mil libras que vos propus receber. Apesar de todas
as diligências por mim realizadas, não temos ainda os contratos de vossa fundação, em
razão de uma quantidade de circunstâncias que se encontram no negócio.
O Padre Du Coudray9 e o Padre Boucher1010 partirão dentro de dois dias para a
Barbária1111, pelas razões que vos escrevi e, enquanto aguardam, pregarão missão nas
galeras de Marselha. Se se tratasse apenas do resgate dos cativos, eles não iriam para lá.
Mas, em se tratando de examinar as razões que haverá de dar assistência espiritual aos
pobres escravos no futuro, os dois nos estimulam a isto. Dizei, por favor, uma palavra
sobre o assunto a Dom Ingoli1212.
Aguardo com impaciência o êxito de vosso seminário. O nosso aqui está sendo
abençoado por Deus. Estamos com 22, dos quais sete ou oito se encontram em missão.
Saúdo e abraço vossa querida comunidade, prostrado em espírito a seus pés e
aos vossos. Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo,
Indigno padre da Missão.
55
Antônio Portail, padre da Missão (1590-1660), primeiro companheiro de São Vicente, escolhido pela Assembleia
Geral da Congregação da Missão, reunida em 1642, como primeiro assistente do Superior Geral (São Vicente).
66
Este nome dificilmente lisível foi posteriormente riscado, sem dúvida para velar com o anonimato essa história de
simonia.
77
Antiga unidade de medida para líquidos, equivalente a cerca de 40 litros. (N. do T.).
88
Esta palavra foi também riscada, certamente pela razão assinalada na nota 6. Nogentum (ou Nogetus) corresponde
a Nogent. Ora, há três Nogent na diocese de Troyes.
99
Francisco Du Coudray, padre da Missão (15861649). Entrou na Congregação em 1626. Não foi para a Barbaria.
Ficou algum tempo em Marselha para evangelizar os galés, em companhia de vários outros coirmãos.
1010
Leonardo Boucher, padre da Missão. Ingressou na Congregação em 1632. Também ele, como Francisco Du
Coudray, não irá para a Barbária.
1111
Com esse termo de Barbária designavam então a África do Norte. Os missionários de São Vicente começaram a
trabalhar para o bem espiritual dos escravos cristãos em Túnis, em 1645, em Argel, 1646.
1212
Secretário da Congregação da Propaganda em Roma, de 1622 a 1649.
1313
Cônego do Cabido da Catedral de Notre-Dame de Paris, desde 1638, mais tarde Vigário Geral do Cardeal de
Retz, Arcebispo de Paris. Seu nome de família era Paulo Chevalier. Morrerá em 1674.
1414
Priorado beneditino, hoje na diocese de Sens e no departamento de Yonne. O projeto em questão não vingou.
1515
Notário eclesiástico da diocese de Paris.
e dos religiosos. Estareis com ele, por favor, para lhe recomendar e velar aí pela
componenda1616.
10 de março de 1643.
Senhor Padre,
1616
A componenda era uma oferta entregue à Santa Sé por ocasião da obtenção de um benefício, de uma graça ou
favor.
.
Carta 34. – O resumo dado aqui foi tirado de um catálogo de Charavay, que a assinala como autógrafa. Coste diz o
mesmo, por sua vez, em sua edição (nº 652, t. II, p. 374). A parte reproduzida acima, após o resumo de Charavay, foi
reencontrada na Biblioteca Nacional de Paris (Departamento dos Manuscritos: Nouv. Acq. fr. 3099).
11
Ver nota 3 da carta nº 16 da presente edição.
.
Carta 35. – Carta autógrafa.
Original no Museu de Mariemont (Bélgica) em 1960; estava ali desde 1910.
Carta publicada na edição Coste (c. 654, II, 375-382) conforme uma cópia cheia de erros de leitura e de
interpretações errôneas. O original, reencontrado recentemente, não está em muito bom estado: em vários lugares a
tinta comeu o papel; encontram-se muitas rasuras; alguns nomes próprios e até linhas inteiras se tornaram ilegíveis
por mão posterior. Algumas leituras atuais permanecem conjecturais.
Fotografia do original nos Arquivos da Missão (Paris).
Rendo graças a Deus por tudo que me dizeis nas duas, em especial, por terdes
tido a felicidade de prestar reverência ao senhor Cardeal Lante 1 e por tudo que Sua
Eminência vos disse. Igualmente pelo fato de terdes começado o seminário pelos
diáconos e subdiáconos que o senhor Cardeal Lante vos mandou. Dir-vos-ei que
entrevejo os frutos que me dizeis poderão dele provir, se aprouver a Deus conceder-lhe
sua bênção, como lhe peço com todo o coração. Ofereço-lhe todas as palpitações do
meu coração, como outras tantas orações jaculatórias a lhe pedir incessantemente esta
graça.
Quanto à questão de Saint-Yves2, não vejo muita coisa a se esperar no presente,
por causa da insistência que fazem os Padres do Oratório a respeito de Saint-Louis 3, por
intermédio do seu Padre Geral4, confessor do senhor irmão do rei 5, ao qual a pessoa com
quem falei6 do caso não quer desagradar. Não direis isto a pessoa alguma no mundo.
Veremos com o tempo.
Mostrei vossas cartas, como faço de ordinário, à Madame vossa fundadora 7.
Quando houver alguma coisa mais particular, é só me comunicar por um bilhete à parte.
Agora, a resposta à segunda carta.
Fala-me amplamente de Saint-Yves e de algumas missões na Bretanha. Nada
mais vos posso dizer a não ser o que já vos disse sobre esse assunto. Acrescento apenas
que a pessoa, a quem falei a respeito dele, se afasta de mim por causa disso, e que temos
alguns bretões em nosso seminário, caso haja urgência. Salvo isto, “omnia tempus
habent”8.
Sou totalmente do vosso parecer, senhor Padre, de que precisamos nos dedicar
aos seminários, e com isto as missões terão mais frutos. Somos obrigados a ir começar o
de Cahors depois da Páscoa e os senhores Bispos de Mende 9 e de Angoulême1010 nos
pressionam para fazer o mesmo em suas dioceses, e ao mesmo tempo, o que nos é
impossível, se Deus não vier em nosso socorro. Estabelecemos uma pensão para todos
que tiverem condições de pagar. Alguns colaboraram com 200 libras, outros com 80
escudos1111. Penso como vós que é preciso proceder assim em todo lugar.
11
Bispo suburbicário de Óstia.
22
Cf. nota 1 da carta nº 33 da presente série.
33
Confraria e Paróquia Saint-Louis-des-Français em Roma (à qual estavam ligadas a Confraria e a Paróquia de Saint-
Yves). Dependia dos Oratorianos franceses.
44
Francisco Bourgoing (1585-1662). Superior Geral desde 1641.
55
Gastão, Duque de Orléans.
66
O Conde de Brienne.
77
A Duquesa de Aiguillon.
88
Livro do Eclesiastes, 3, 1: “Há um tempo fixado para tudo”.
99
Silvrestre de Crusy de Marcillac, Bispo de Mende de 1628 a 1659, data de sua morte.
1010
Jacques Du Perron, Bispo de Angoulême de 1637 a 1646.
1111
Isto é, 240 libras.
Da próxima vez, escreverei ao Padre Souffliers 1212 o que me sugeris para
Agen1313. Vou aguardar o que a Madame Duquesa1414 me dirá com respeito ao de
Richelieu1515 e ao dos ordinandos em Poitiers1616.
Fico contente com o que dizeis, que o Papa 1717 vai admitir a união das paróquias
ao seminário, mediante o pagamento da componenda1818. O senhor Bispo de Saintes 1919
me pergunta sobre isto na carta que ontem recebi dele. Explicai-me, entretanto, por
favor, a condição de que me falais: a do pagamento da componenda, a quanto chega
isso, e que essas paróquias são servidas pelos padres do seminário.
Não tenho a honra de conhecer o Senhor de Vanci. Darei, contudo, atenção à
proposta que me fazeis a seu respeito.
Quanto à paróquia da diocese2020 do senhor Cardeal de Lante, se tivermos
pessoal disponível, e supondo que ela se situe numa cidade pequena, in nomine Domini,
seria preciso pensar a respeito. Mas se vos for possível suspender a coisa, poderíeis,
entretanto, ver e me comunicar o estado do local, o número de pessoas que recebem a
comunhão e quantas pessoas a paróquia poderia sustentar [?], depois de terdes pregado
missão nela.
Quanto à dispensa do voto, eu vos devolvi a que me enviastes e mandei dizer
que essa boa alma tem apenas cerca de trinta e seis anos. E no que diz respeito à doença
que a constrange a comer carne, trata-se de um enfraquecimento da natureza, em virtude
de uma contínua agitação do seu espírito e das preocupações que alguns negócios lhe
causaram. Suplico-vos, senhor Padre, empenhar-vos nisso.
A absolvição ou a dispensa que se pedia em favor do herege convertido, que foi
capuchinho, será solicitada por ele próprio, em Roma, para onde partiu.
Mandarei refazer e assinar pelo Padre Callon2121 a carta que já escreveu ao Padre
Aumale2222; se a questão de Saint-Yves fosse adiante, providenciaríamos que pessoas
importantes lhe escrevessem. Se o negócio se fechasse, suprimiríeis a alma da coisa,
omitindo a consideração do seminário. O que se diria em razão da mudança deste rumo?
Já que o irmão do Irmão Martinho 2323 vos é útil e pensais fazer dele um bom
rapaz, in nomine Domini, ficai com ele.
Trataremos de obter a carta do senhor Cardeal Mazarino, nos termos que
solicitais, e vos enviarei o livro latino dos ordinandos, pelo Padre de Horgny, que espero
1212
Francisco Soufliers, nascido em Montmirail, diocese de Soissons, em 1606, recebido na Congregação da Missão
em 1629, ordenado padre em 1631.
1313
Mais exatamente La Rose, diocese de Agen, onde o Padre Soufliers era superior desde o ano precedente.
1414
A Duquesa de Aiguillon.
1515
O Seminário de Richelieu começou em 1646 e teve existência afêmera.
1616
Trata-se quer de um projetado seminário de ordinandos (projeto abandonado), quer de um retiro de ordinandos
pregado em Poitiers.
1717
Urbano VIII, papa de 1623 a 1644.
1818
Cf. a nota 15 da carta nº 33 da presente série.
1919
Jacques Raoul de La Guibourgère, Bispo de Saintes de 1642 a 1646.
2020
Cf. nota 1.
2121
Luís Callon, nascido em Aumale, diocese de Ruão, entrou na Congregação da Missão em 1626; pouco depois,
retornou à sua paróquia de Aumale, sem deixar de fazer parte da Congregação. Faleceu em Vernon, em 1647..
2222
Edmundo ou Aimé de Broc de Nozet.
2323
Sem identificação certa, talvez Jean Martin, nascido em Paris em 1620. Entrou na Congregação da Missão em
1638. Ordenado padre em Roma, em 1645; faleceu em Roma em 1694.
mandar partir na Páscoa, para a visita das pobres pequenas famílias de Nosso
Senhor2424.
Pensaremos no que me dizeis, que é conveniente tenha o Geral a faculdade de
aplicar os bens de uma casa em favor de uma outra. Consulte, a respeito, se é algo
desejável e se há casas semelhantes como exemplo.
Doravante, mandarei redigir os memoriais em latim, antes de vos pedir para
obterdes o que eles contiverem.
Eis as palavras da senhora do voto, relativas à sua indisposição: essa
enfermidade é antes fragilidade e delicadeza de temperamento que impede essa mulher
de poder jejuar seis dias seguidos sem padecer de uma doença particular.
Comunicai-me, por favor, o nome da paróquia de Vanes2525, de que me falais, a
fim de me empenhar em estabelecer nela um seminário.
Resta-me agora responder-vos ao que me dizeis do Padre... [?] e, a seu respeito,
do suporte aos díscolos2626.
Que faríeis, senhor Padre, de uma pessoa que tivesse feito o possível desde há
alguns anos, para tirar da casa todos os que pôde e que, efetivamente, corrompeu quatro
ou cinco deles, dos mais capazes de servir; que fez ainda um maravilhoso estrago numa
alma, e das melhores da Companhia, cujo espírito, se não está totalmente pervertido,
acha-se muito alternado; que anda fazendo o que pode neste sentido, não somente por
palavras, mas também por escrito aos que estão ausentes? Eis o que ele disse a um
padre... [?] “Ainda está no cueiro? 2727 Não pensa mais no que lhe disse, que se ele
empinar a bandeira eu bato o tambor para todos os lados? E então, tais e tais outros não
tomarão partido? E vós, não quereis que vos mande pano desta região, para meter um
capuz em cima dos vossos votos (que ele fizera há seis ou sete anos)?” E, continuando
ainda, lhe relata os defeitos corporais do pessoal da região; que a maior parte dos
homens entra na Igreja pelo claustro e que as mulheres são tão feias que não teve
dificuldade em fazer um sinal da cruz para espantar a tentação. E escreve isso do lugar
onde pregou missão, a um outro a 150 léguas dele.
Que faríeis... [?] porque ele o tem sempre... [?] desde que saiu, e introduziu tal
divisão na comunidade de... [?] que foi preciso contratar novos operários ? E tudo isso
no auge do momento em que me dava as mais fortes esperanças. Ó senhor Padre, Deus
nos guarde de vo-lo enviar e a vós de recebê-lo. Ele arrasaria, bem logo, vosso
estabelecimento ou o prejudicaria de modo lamentável.
Dizeis-me que é preciso suportar esta gente, nestes inícios da Companhia,
quando precisa tanto de pessoal, e que, com o tempo, poderíamos limpá-la. É verdade,
senhor Padre, que a Companhia precisa de gente; mas é melhor ter menor número do
que contar com desordeiros desta natureza. Dez bons farão mais para Deus do que cem
dessa espécie. Limpemos, senhor Padre, limpemos a Companhia das pessoas profanas e
que não são agradáveis aos olhos de Deus. Ele a fará crescer e a abençoará. Querendo
Deus ferir de morte cerca de três mil homens que tinham adorado o bezerro de ouro, e
2424
Dito de outro modo: para ir fazer a visita canônica de várias casas da Companhia.
2525
Este projeto de seminário em Vannes não teve prosseguimento.
2626
Pessoas com as quais é difícil viver.
2727
“Está no cueiro” traduz a expressão francesa “etre dans son béguin”, isto é: ser inexperiente como uma criança.
Moisés querendo impedi-lo de o fazer com suas preces, ele lhe respondeu: “Deixa que
minha cólera se abrase contra eles e farei de ti uma grande nação”2828.
Assim sendo, senhor Padre, diminuir o número dos que ofendem a Deus numa
companhia é aumentar a mesma companhia em virtudes e em número, porque as
pessoas procuram as companhias bem regradas e virtuosas. Oh! como Nosso Senhor
sabia bem o que dizia, quando falava que uma ovelha má contamina todo seu
rebanho2929. Basta um homem como aquele, senhor Padre, para perturbar uma
companhia. A dos Maturinos reformados3030 está numa extrema desolação e ameaçada
de ser aniquilada total ou parcialmente por um espírito profano, desordeiro e
incorrigível, cheio de artimanhas.
Peço a Deus, senhor Padre, que levante e ilumine vosso entendimento para
penetrar a importância para a glória de Deus, para a santificação da Companhia e para o
bem da Igreja que não admitamos nela pessoas que não procedem bem. Chegaria um
tempo em que não poderíamos agir contra elas, quando quiséssemos fazê-lo.
Sim, mas ele irá escrever e açular os outros contra a Companhia. Certo; porém
ele não nos fará maior mal além do que Deus permitir, e o mal que nos fizer se
converterá em bem. E depois, não seríamos indignos de servir a Deus em nossa
condição se, para impedir que alguém nos faça mal, deixarmos que ele adultere o
serviço e a glória de Deus em nosso meio? Lembrai-vos, senhor Padre, que a decadência
da maior parte das comunidades vem da negligência dos superiores por não se
manterem firmes e não limpá-las dos desordeiros e incorrigíveis.
Termino recomendando-me a vossas sanas orações e às da comunidade.
Sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e obediente
servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
2828
Ex 32, 10.
2929
Provérbio que não se encontra na Bíblia.
3030
Trata-se da Ordem dos Trinitários (chamados de Maturinos, na França) reformados na França, no fim do século
XVI. A Ordem está então em plena crise, em consequência da oposição à autoridade do Superior Geral, por parte de
alguns dos seus membros, a cuja frente estava um tal de Alexis Berger.
libertados. Prometeu fazê-lo, se os fundos de que dispõem bastarem para a libertação daqueles a que
foram enviados e à dele. Escreveu-lhes hoje para esse fim...”
Senhor Padre,
Vicente de Paulo.
Carta 37. – Carta autógrafa.
Original de posse (1965) de M. R. Schuermans, advogado, em Turnhout (Bélgica).
11
Sobrinha do Cardeal de Richelieu, benfeitora das obras de São Vicente, em particular das casas de Roma, de La
Rose, de Argel e de Turim.
22
No original Frances consta “sur Le domaine du roi aliéné”: de que se trata?... (N. do T.).
33
O rei Luís XIII devia morrer no dia 14 de maio seguinte.
38. – CARTA DO PADRE FÉLICIEN A SÃO VICENTE
Noticiada por Collet (Pierre), A Vida de São Vicente de Paulo. Nancy, 1748, 2 tomos, t. I, p.
306:
“... temos ainda uma carta do Padre Félicien, vigário provincial dos capuchinhos de Lorena,
na qual agradece a São Vicente, em nome dos seus irmãos, de modo semelhante como São Paulo
agradecia a Filemão, por ter ele dado alívio aos servos de Deus em sua extrema necessidade: Quia
viscera Sanctorum requieverunt per te... 1”(“Pois, graças a tí, foram reconfortados os corações dos
Santos”).
Collet acrescenta em nota: Esta carta, datada de Saint-Mihiel, em 20 de maio de 1643, se
conserva no seminário de Toul”.
11
Carta de São Paulo a Filemão, versículo 7: “O coração dos Santos está em repouso, graças a ti”.
.
Carta 39. – Esta carta, escrita em fins de julho de 1643, se perdeu.
11
Porto na costa atlântica de Marrocos.
22
O projeto não teve prosseguimento. Entretanto, falou-se dele por muito tempo. A 23 de julho de 1646, São Vicente
escrevia a Antônio Portail: “Pedem ainda por nós em Salé, uma outra cidade da África, onde há permissão de pregar
Jesus Cristo. Não sabemos ainda quem escolher para lá”. (São Vicente, Obras, edição Coste, t. II, p. 623). São
Vicente designou um dos seus coirmãos, Jacques Le Soudier, e o enviou a Marselha, para o embarque. Sabendo,
porém, que um religioso franciscano “se tinha antecipado” no caso, suspendeu o negócio, para não entrar em
concorrência com outros religiosos missionários.
11
Carta 679 bis. – “C. aut. – Uma nota do Padre Jean Couty, Superior Geral dos Lazaristas, inserida nos arquivos da
Visitação, avenida Denfert-Rochereau, 68, Paris, assinala que o original desta carta, escrita e assinada por São
Vicente, está guardada nos arquivos do primeiro mosteiro da Visitação de Paris. Essa nota data de 31 de outubro de
1738”. Uma cópia manuscrita se encontra nos arquivos da Visitação, Avenida Denfert-Rocherau, 68, Paris. Fotocópia
dessa cópia nos arquivos da Missão, Paris.
Estive presente ontem na abertura de vossa correspondência, em Santa Maria.
Dou graças a Deus pela saúde que vos concede e peço-lhe que a prolongue por muitos
anos. Oh! como é bom se expor em favor do serviço de um mestre que sabe reconhecer
os serviços que lhe prestam.
Vereis pelas cartas inclusas o que o senhor Destampes me comunicou.
Respondi-lhe que julgava não ser necessário que fosse a Ruão, nem que se começasse a
recorrer aos poderes temporais, a não ser depois que os recursos espirituais de vossas
orações, de vossas práticas de virtude e, especialmente, dos atos de paciência, não
tivessem merecido de Deus a graça de que precisais, para realizar a sua obra. Louvo a
Deus agora, minha cara Irmã, porque vossa carta nos faz entrever a aurora dessa amável
espera. Oh! como servirá de exemplo para a posteridade e como será maravilhosamente
honroso para Deus, se puderdes, por Jesus Cristo, introduzir o espírito de Jesus Cristo
nesse lugar, e como nosso bem-aventurado Pai2 e nossa digna Madre3 vos ficarão
reconhecidos por isso! Com efeito, só deixareis de ver as astúcias do diabo e o veneno
que esconde sob o recurso aos meios humanos e aos poderes da terra, se os parentes
dessas filhas forem os primeiros a recorrer a eles. In nomine Domini, a vontade de Deus
vos será então conhecida, no que tange a servir-vos dos mesmos meios. Sabeis, minha
cara Irmã, quantas vezes dialogamos sobre quanto esses meios falham nas coisas
divinas, e as resoluções que tomamos, com frequência, de nos ater ao que Nosso Senhor
nos ensina. Demo-nos de novo a Deus, de modo mais particular, para esse fim, minha
cara Irmã. Vou fazê-lo imediatamente na santa Missa, na qual não deixarei de vos
oferecer a Deus, como por sua graça o faço sempre, eu que sou, em seu amor, minha
cara Irmã, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo
i.p. da Missão.
Senhor Padre,
22
Francisco de Sales.
33
Joana Francisca Frémiot de Chantal.
.
Carta 40. – Carta autógrafa.
Original posto à venda em 1925 ou 1926 pelo senhor Lemasle, comerciante de autógrafos. Esta carta foi publicada
nos Anais da CM, 1926, pp. 231-232.
bondade vo-la recuperar. Moderai, para este fim, a austeridade de vida, no comer e no
dormir, que aumentastes após vosso retiro e segui o conselho do Padre Blatiron 1.
Rationabile enim debet esse absequium vestrum2. O excesso na prática da virtude não é
menos vicioso do que a falta.
Penso que já decidistes a negociação da casa de 2000 libras. Quanto à questão
dos coches que vos queriam subtrair, foi decidida em vosso favor, no Conselho do rei.
A fundação das 2000 libras está concluída, pela graça de Deus. Não falta mais nada para
iniciardes o trabalho dos ordinandos e do seminário para padres.
Os Padres do Oratório insistem aqui para terem Saint-Louis 3, por inteiro. Em
vista disto foi determinado no Conselho que falassem, a respeito, com o senhor
Embaixador de Roma4. Peço-vos nada falar sobre o caso a quem quer que seja.
O Senhor de Brienne me deu a mesma resposta com relação a Saint-Yves5.
O Senhor de Saint-Chamond parte dentro de dois dias para a embaixada de
Roma. Deu-me a honra de vir estar comigo e dar-me esperança de sua proteção.
O senhor Cardeal Grimaldi partirá no próximo mês 6. É um prelado de notável
virtude, conduta e firmeza. Recebi, ontem, sua bênção. Também ele me deu esperança
de sua proteção a vosso respeito, embora eu o tenha chocado um pouco, sem querer,
com relação ao Vigário Geral de Pignerol7, por causa de certa dificuldade que lhe fiz, no
tocante a algo que pedia. Mas isso não é nada. Ele me falava ontem, com evidente
entusiasmo, de nossa felicidade por nos entregar à assistência do povo pobre dos
campos.
Eis tudo o que o embaraço em que encontro me permite dizer-vos no momento.
No mais, abraço vossa pequena comunidade, prostrado de joelhos a seus pés e aos
vossos, e sou, no amor de Nosso Senhor, senhor Padre, vosso muito humilde e
obediente servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
11
Estêvão Blatiron, nascido em Saint-Julien-Chapteuil, diocese de Clermont, em 1614. Recebido na Congregação da
Missão em 1638, foi ordenado padre em 1639. Chegara a Roma, há alguns meses. Era um coirmão prudente, sensato,
muito estimado por São Vicente. Morreu em Gênova em 1657, vítima do seu devotamento junto aos pestilentos.
22
Carta de São Paulo aos Romanos, 12, 1. A citação é aproximativa. Pode ser traduzida assim: “que vossa obediência
seja racional”; no contexto da carta, o sentido é ligeiramente diferente.
33
Cf. nota 3 da carta nº 33 da presente série.
44
O Senhor de Saint-Chamond. Cf. infra.
55
Cf. nota 1 da carta nº 33 da presente série.
66
Girolamo Grimaldi, Núncio em Paris desde 1641. Acabava de ser nomeado Cardeal (13 de julho de 1643) e ia
deixar seu posto para se juntar à Cúria romana. Em 1655, tornar-se-á Arcebispo de Aix-en-Provence, onde morreu em
1685.
77
Pignerol, cidade do Piemonte, dependia então da França.
41. – CARTA DO MARQUÊS DE FABERT1
Escrita de Sedan a São Vicente. Noticiada em Barre (Joseph), Vida do senhor Marquês de
Fabert, Paris, 1752, 2 tomos. Tomo I, p. 459.
O autor faz o elogio de Guilherme Gallais2, superior dos missionários de Sedan3, nestes termos:
“O cabeça da Missão era o senhor Padre Gallais, sábio lazarista, homem de reconhecida
probidade, desinteressado, religioso sem superstição, extremamente atento em nada fazer que lhe
pudesse atrair alguma distinção exterior; sempre modelo, jamais espetáculo, nas missões. Fazia uso de
seus talentos para a utilidade dos outros e não para a própria exaltação. Iniciou a grande obra da
conversão dos sedaneses estudando-lhes o caráter, a fim de se ajustar a seu alcance e de captar, de certo
modo, o foco e o grau de seu gênio.”
À margem, o Padre Basse assinala como fonte: “Carta do senhor Fabert a São Vicente 4”.
1
Carta 41
1
Abraão de Fabert, nascido em Metz, em 1599, valoroso militar, goverdador de Sedan, em 1642, Marechal da França,
em 1658. Morreu em Sedan, em 1662.
22
Guilherme Gallais, nascido em Plouguenast, diocese de Saint-Brieuc, foi recebido na Congregação da Missão em
1639 e ordenado padre em 1641. Superior em Sedan de 1643 a 1644.
33
Os padres da Missão começaram seu ministério, em Sedan, em meio de 1643 (fundação real).
44
Carta a ser datada de 1643-1644 (durante a permanência em Sedan de Guilherme Gallais, de maio de 1643 a
setembro de 1644, ou pouco após sua saída).
11
Carta 710 bis. – C. aut. – Biblioteca Santa Genoveva, MS 3275, fol. 550, original. Fotocópia nos Arquivos da
Missão, Paris.
22
Jesus Salvador dos homens.
33
O Cardeal de la Rochefoucauld se demitira do título e do usufruto da Abadia de Santa Genoveva.
vos solicita auxílio em uma questão que Deus nos obriga a levar em frente, e me imporá
nova obrigação, como a toda a Congregação, da qual sou apenas frágil instrumento, de
rogar a Deus que abençoe a todos os vossos santos projetos, e de ser, em seu santo
amor, reverendíssimo senhor Padre, vosso muito humilde e muito obediente servo,
Ch. Faure
27 de junho de 1644.
Senhor Padre,
Julguei que era meu dever certificar-vos do meu muito humilde serviço e
obediência, e de vos testemunhar a alegria que senti com a entrada dos vossos padres
no hospital dos pobres forçados2. Nosso Senhor seja vossa recompensa, senhor Padre,
pela caridade que dispensastes a essa casa, e pelos bons serviços que lhe prestastes
junto a Madame Duquesa de Aiguillon. Nada vos escrevo sobre seu estado e carências,
pois não duvido de que o senhor Montmort3, ao qual rogamos, antes de sua partida da
região, vos informasse plenamente de tudo, o tenha feito, conforme deu-me a honra de
escrever-me. Assegurou-me da continuidade de vossa boa vontade, no sentido de
buscar a realização da obra de Nosso Senhor.
Sei, aliás, que o Padre Du Festel vos manda com frequência notícias dela.
Contentar-me-ei, então, somente, de vos suplicar, com toda humildade, que acrediteis
que não vos sou menos dedicado que os menores súbditos de vossa Companhia, à qual
dediquei todos os meus serviços; mas, sendo incapaz de fazê-la experimentar-lhe todos
.
Carta 42. – Tirada de: Allier (Raoue), A Companhia do Santíssimo Sacramento do Altar, Paris, 1909, pp. 181-182,
conforme a Vie de M. Le chevalier de La Coste, por Antoine de Ruffi, Aix, 1659.
11
Gaspard Simiane de La Coste, nascido em Aix, em 1607. Vindo a Paris, ligou-se de amizade com o senhor Padre
Vicente. De volta a Marselha, dedicou-se a toda espécie de boas obras. Foi o grande auxiliar das obras de São Vicente
em Marselha, empregando particularmente seu tempo e cuidados em favor do Hospital dos Galés. Morreu de peste,
vítima da sua abnegação junto aos galés pestilentos, em 24 de julho de 1649.
22
Em virtude de um contrato assinado a 25 de julho de 1643, a Duquesa de Aiguillon havia fundado a Casa da
Missão de Marselha: doava 14000 libras. Entre as cláusulas do contrato, encontramos esta: os missionários
garantiriam o serviço espiritual do Hospital dos Galés. Esse hospital, cuja instituição, em tono de 1618, parece devida
a São Vicente e a seu protetor, Filipe Emanuel de Gondi, general das galeras, tinha sido reorganizado, recentemente,
graças a Dom Gault, Bispo de Marselha, e ao cavaleiro de la Coste.
33
Henri-Louis Habert, Senhor de Montmort (ou de Montmaur), referendário e Conselheiro do rei.
os efeitos, pedirei, ao menos, a Deus, em minhas pobres orações, comunicar-vos, a vós
e a ela, a abundância de suas graças, e inundá-la com seu Santo Espírito, com a mesma
sabedoria que derramou sobre seus apóstolos, cujos passos ela trilha e dos quais vos
almejo a coroa, senhor Padre.
Vosso muito humilde e obediente servo,
O cavaleiro DE LA COSTE.
Senhor Padre,
.
Carta 43. – Carta autógrafa.
1
Original posto à venda pelo senhor Charavay, comerciante de autógrafos em Paris, em 1927 ou 1928. Carta já
publicada na edição Coste (C. 725, II, 480), conforme um fac-símile incompleto e incorreto, publicada de novo, de
acordo com o original, nos Anais da CM, 1928, pp. 8-10.
1
Antônio Portail (Cf. nota 5 da carta 33 da presente série) era o primeiro assistente de São Vicente, desde 1642. Era
ele que ocupava o lugar do Superior Geral, quando este último estava ausente de São Lázaro. São Vicente se
encontrava, então, em Richelieu, onde fazia a visita canônica.
22
Jacques Perdu, nascido em Grandvillers, diocese de Amiens, em 1607. Ingressou na Congregação da Missão em
1630, e foi ordenado padre em 1632.
33
Cf. nota 8 da carta nº 16 da presente série.
44
Pequena localidade da diocese de Meaux.
Estou muito satisfeito com o que me dizeis do Padre Bourdet5; um abraço nele
também.
Só poderei partir daqui dentro de três ou quatro dias. Oh! quantas questões
encontrei por aqui!
Tereis como novos hóspedes os Padre Collée6, Buissot7, Durot8, enfermo; Le
Noir9, Chastel1010 e talvez Lefebvre e nosso Irmão Bastien. Suplico-vos, senhor Padre,
providenciar-lhes a hospedagem.
Ó meu bom Deus, senhor Padre, como encontrei coisas distantes de nossa
expectativa!
Não mandareis partir aqueles de que vos falei, antes de vo-lo autorizar; mantê-
los-eis prontos para tal e direis ao Padre Alméras1111 que concordo com o que me
propõe, a respeito de Cantelin e dos dois outros dos quais me fala. À Senhora Le Gras
direis que acho bom tudo que me escreve1212, e tratarei de cumprir tudo que prometeu
por mim, mas que é difícil encontrar-me com ela por lá, e que, pela graça de Deus, estou
passando bem, embora trabalhe da manhã até à tarde.
Se há algo urgente que eu deva saber, endereçai-o ao senhor Pároco de Tours,
para mo entregar, ou, por um mensageiro expresso, em Fréneville, para onde não
poderei dirigir-me, a não ser quinta-feira 151313 deste mês.
Sou, no amor de Nosso Senhor, vosso muito humilde e obediente servo,
Vicente de Paulo.
55
Nesta época, dois padres da Missão traziam este nome. Não é possível determinar com certeza qual dos dois visa
São Vicente nesta passagem. Trata-se provavelmente de Jean Bourdet, nascido em Saint-Babel, diocese de Clermont,
em 1614, que entrou na Congregação da Missão em 1636, e foi ordenado padre em 1640. Foi colocado, durante
alguns meses, em São Lázaro, entre seu superiorato em Troyes (1642-1644) e sua colocação em Saint-Méen (1645).
66
Antônio Colée, nascido em Amiens, em 1610. Entrou na Congregação da Missão em 1630, e foi ordenado padre
em 1635. Saiu da Congregação em 1645.
77
Nicolau Buissot entrou na Congregação da Missão em 1630 e foi ordenado padre em 1632.
88
Nicolau Durot, nascido em Oisemont, diocese de Amiens. Entrou na Congregação da Missão em 1633 e foi
ordenado padre em 1636. Saiu da Congregação em 1645.
99
Jacques Le Noir, nascido em Arras, em 1615. Entrou na Congregação da Missão em 1641. Foi provavelmente
convidado a sair da Congregação pouco depois.
1010
Pierre Du Chastel, nascido em Courcelles-le-Comte, diocese de Arras, em 1606. Entrou na Congregação da
Missão em 1641, já padre. Faleceu em 1648, em São Lázaro.
1111
René Alméras, nascido em Paris, em 1613. Entrou na Congregação da Missão em 1637. São Vicente, que o
estimava, confiou-lhe cargos importantes e delicados (direção do noviciado, superiorato da casa de Roma, visita
canônica das casas da Congregação). Em 1661, sucedeu a São Vicente como Superior Geral da Congregação da
Missão. Morreu em 1672.
1212
Alusão à peregrinação que santa Luísa de Marillac projetava fazer a Chartres, onde esperava poder encontrar São
Vicente.
1313
Foi por distração que São Vicente anunciou sua chegada a Fréneville para o dia 15, quinta-feira (15 era sábado).
Lá chegou, efetivamente, na quinta-feira, dia 13.
Se eu não puder escrever ao Padre Lambert1414, dir-lhe-eis que estamos no auge
desse tumulto, que precisamos rezar. Peço-lhe que comunique minha ausência ao senhor
Arcebispo de Reims1515, e que, na volta, vamos trabalhar no seu negócio.
Senhor Padre,
1414
Lambert Aux Couteaux, nascido em Fossemanant, diocese de Amiens, em 1606. Entrou na Congregação da
Missão em 1629. Era um dos homens de confiança de São Vicente. Morreu na Polônia, em 1653, da peste contraída à
cabeceira dos pestilentos. Estava, então (outubro de 1644), encarregado de negociar com o Arcebispo de Reims, a
propósito da situação jurídica e financeira do estabelecimento dos missionários de Sedan (em fundação desde maio de
1643).
1515
Leonor d’Estampes de Valençay, Arcebispo de Reims de 1642 a 1651, data de sua morte. Sedan pertencia a sua
diocese.
.
Carta 44. – Carta autógrafa.
O original pertencia, em 1942, à Paróquia Saint-Nicolas-du-Chardonnet, em Paris. Carta publicada, com o original
autógrafo e um comentário sucinto, nos Anais da CM, 1941-1942, pp. 272-273, Fotografia nos Arquivos da Missão,
Paris.
11
A Madre Ana Margarida Guérin, superiora do segundo mosteiro da Visitação de Paris (no subúrbio Saint-Jacques),
de 1640 a 1646.
22
Guy Lasnier, Abade de Vaux (1602-1681). Cf. ed. Coste, I, p. 601.
33
Firmino Get, nascido em Chepy, diocese de Amiens, em 1621; entrou na Congregação da Missão em 1641. Será
ordenado padre apenas em 1647; estava, então, fazendo seus estudos eclesiásticos em São Lázaro. Sua Saúde
permanecerá frágil. Morrerá em 1682.
44
Martin Jamain, nascido em 1619. Entrou na Congregação da Missão em 1640. Morreu em são Lázaro, em 1645.
55
Alexandre Véronne, nascido em Avinhão, em 1610. Entrou na Congregação da Missão em 1630, como Irmão
Coadjutor. Em São Lázaro, exerceu, durante longos anos, com inteligência e dedicação, as funções de enfermeiro.
Morreu em 1686.
66
Saint-Dyé-sur-Loire (atual departamento do Loir-et-Cher).
77
27 de outubro.
Estou penalizado com a indisposição da Irmã Genoveva. Suplico-vos, senhor
Padre, saudá-la de minha parte, assim como a sua companheira doente.
Bendito seja Deus que tudo vai bem em São Lázaro. Espero partir segunda-feira
para Fontainebleau, se minha enfermidadezinha me permitir.
Remeto-vos a carta do Padre Grimal 8 e vos peço tomar as providências, se
puderdes.
Peço a Alexandre atender ao que pede o Padre Grimal a respeito das cobertas.
Vosso humilde servo, senhor Padre,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
Destinatário: [de outra mão]: Ao senhor Padre Portail, padre da Missão, em São
Lázaro.
Senhor Padre,
88
Francisco Grimal, nascido em Paris em 1605, ordenado padre em 1629. Entrou na Congregação da Missão em
1640. Só fará os votos em 1646. Será daqueles que não hesitarão em renová-los em 1656.
.
Carta 45. – Carta autógrafa.
Original com as Irmãs de Mount-Saint-Vincent, em Halifax (Canadá). Carta publicada nos Anais da CM, 1937, pp.
14-15.
11
Voltando de Richelieu, São Vicente se deteve em Fontainebleau, onde estava a corte.
22
Vila ao Sul de Paris (atual departamento de Seine-et-Oise). A presidente Herse, proprietária de uma quinta situada
nesta vila, a tinha doado à Congregação da Missão.
33
Guillaume Gallais acabava de deixar Sedan. Estava “disponível” em São Lázaro.
44
Cf. a carta precedente, nota 3.
Enviei-vos duas cartas com endereço para Roma. Não vistes as que vos mandei
para serem encaminhadas. O Padre Codoing pede para ser deposto. Escrevo ao Padre
De Horgny5 que assuma o lugar dele. Não diga nada a respeito, por enquanto, por favor.
Recomendo-me às orações do Padre Lambert e a seus “consolitários” 6.
Tudo bem pesado, penso que Jourdain7 tem razão quanto à provisão do vinho.
Madame Duquesa8, com respeito ao expediente do Padre Lambert, me fala...9
Não vejo nada que exija a presença do Padre Du Chesne1010 em Paris.
Eu o saúdo, como a todos da casa, principalmente o senhor Prior 1111, e sou vosso
muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
Não é a primeira vez, e não será a última, se aprouver a Deus, que este
excelente livro do falecido reverendo Padre Luis de Granada, de feliz memória, que
operou conversões milagrosas no mundo, vos escolheu para introduzi-lo 3. Com efeito,
era muito conveniente que este instrumento tão útil de salvação fosse colocado nas
mãos de um padre cujas orações, operadas na caridade, conciliam os corações, não
somente do povo, mas até dos reis, e que, na função de apóstolo, que exerce
continuamente, em pessoa ou por seus coirmãos, estende o reino de nosso soberano
Mestre até aos lugares em que sua glória estava como enterrada; para dizer em uma
55
Jean De Horgny, com efeito, se encontrava já em Roma, para a visita canônica da casa. Substituiu pouco depois a
Bernardo Codoing, no cargo (até 1647).
66
Com esta expressão, São Vicente quer designar os que fazem os exercícios do retiro espiritual ao mesmo tempo que
Lambert Aux Couteaux.
77
Jean Jourdain, Nascido em Galluis, diocese de Chartres, em 1587. Entrou na Congregação da Missão, na qualidade
de Irmão Coadjutor, em 1627. Tinha sido mordomo na casa da Marquesa de Maignelay, onde travara conhecimento
com São Vicente. Foi o primeiro Irmão da Congregação e prestou preciosos serviços em São Lázaro. Era, então,
encarregado da dispensa.
88
A Duquesa de Aiguillon.
99
São Vicente se esqueceu de terminar a frase.
1010
Pierre du Chesne entrou na Congregação da Missão em 1637. Foi uns dos missionários mais estimados por São
Vicente. Era, então, superior da casa de missões de Crécy, que iria deixar, dentro em pouco, para assumir a direção da
casa dos Bons-Enfants, em Paris. Morreu em Agde, em 1654.
1111
Adriano Le Bon, cônego regular de Santo Agostinho, prior de São Lázaro. Resignou seu priorado, em favor da
Congregação da Missão, em 1632. Permanecendo em São Lázaro, que se tornou Casa-Mãe da Congregação da
Missão, veio a falecer em 1651, com seus setenta e quatro anos.
11
Carta 758 bis. – Publicada em nota no tomo XIV, pp. 347-348, por Pierre Coste. Quando da publicação do tomo
XIII, ele ignorava a existência desta carta. Ela lhe foi notificada pelo Padre Dubarat, arcipreste de Pau.
22
Religioso mínimo.
33
Por esta carta, o Padre Simon Martin dedica a São Vicente sua tradução francesa do Guia dos Pecadores do Padre
Luís de Granada.
palavra, onde a vinha do Senhor estava inculta e sem frutos, por falta de bons
operários que sustentassem, como convém, a honra do Mestre. Graças a Deus, a
França está agora mais cristã do que nunca; as trevas da ignorância dão lugar ao belo
dia da salvação e da graça; as ovelhas, que caminhavam ao sabor do desejo de seus
corações, escutam a voz dos seus pastores e são reconduzidas ao redil; e o Evangelho
do Crucificado é igualmente anunciado aos mais simples e miseráveis do campo e aos
mais capazes e maiorais das melhores cidades. Esta ventura provém do fato de que não
há canto do reino, por menor que seja, onde esses novos operários estimulados por
vosso zelo e piedade na messe do Senhor, não vão distribuir o pão da doutrina celeste e
o vinho sagrado que gera as virgens; e isso, com tanto fruto que se mostram,
verdadeiramente, muito dignos da qualidade de discípulos do grande mestre Jesus, no
ofício de evangelizador dos pobres.
É a vós, portanto, senhor Padre, com toda a justiça, mais do que a nenhum
outro, que esse livro, que realiza todos os dias tantas conquistas sobre os três grandes
inimigos de nossa salvação, devia ser dedicado. Com efeito, os pecadores, dos quais é o
guia, não recebem menos ensinamentos dos exemplos de vossa vida do que da verdade
dos seus preceitos. Permiti, pois, senhor Padre, pelo amor daquele por cuja glória
zelais com tanto ardor, que esta obra, com o nome do seu autor, já coroada pelos seus
frutos, receba ainda uma nova coroa, pelo vosso nome, marca de força e vitória, para
ser, enfim, acompanhada do triunfo que vos deseja, senhor Padre, vosso muito humilde
e muito obediente servo, em Jesus Cristo,
44
29 de junho de 1645.
.
Carta 46. – Carta autógrafa.
O original está com as Filhas da Caridade da Paróquia Saint-Projet, em Bordéus. Texto publicado nos Anais da CM ,
1928, p. 257-259.
11
25 de março.
Estou melhor, graças a Deus, mas não saio para fora ainda, porque ainda não fui
purgado, uma vez que me resta um pouco de resfriado. Vosso coração ficou um pouco
consternado, à vista dos meus pequenos incômodos e porque encarais, algumas vezes,
as coisas com um olhar que se fixa nos acontecimentos e nas consequências.
Acontece-vos o mesmo a respeito do senhor vosso filho, e isto vos perturba. É
bom, Senhora, não dar essas liberdades à nossa imaginação e detê-la com a
consideração de que se trata de um efeito de nossos sentimentos melancólicos, e de que,
de ordinário, a maior parte das coisas não acontece e de que só acontecerá o que a
Providência ordenar.
Muito Bem! Desejaríeis fazer vossa revisão e uma comunicação mais íntima 2
com aquele no qual Nosso Senhor vos inspirou alguma confiança. Não foi do agrado de
Deus que assim acontecesse, a fim de que as fizésseis, interiormente e em vosso íntimo,
com ele mesmo. Honrando-vos com seu amor até o extremo, como diz o Apóstolo, ele
quer, com ciúme divino, que seja com ele que façais esta cara revisão e íntima
comunicação. Teríeis motivo de vos queixar, sendo assim?
E como podeis saber se não é de propósito que Deus vos priva de notícias do
vosso filho, a fim de que honreis, de modo particular, a privação que ele mesmo quis
sofrer do seu, e a da Santíssima Virgem também? Oferecei-lhe vossas ternuras, Senhora,
bendizei-o, entregai-lhe a direção do vosso filho e ele o conduzirá tão bem que, do
próprio mal, se o houver, o que não creio, há de tirar o bem e a salvação dele. Aquele
que retira água da rocha e o óleo das pedras duras não produzirá o efeito de que vos
falo?
Vi o belo quadro3. A Igreja celebra amanhã a festa da Encarnação 4. Espero
celebrar a santa missa diante dele amanhã, pois me parece mais conveniente do que
hoje. É para o vosso oratório ou para o das crianças?
Não escrevereis na terça-feira ao Padre Portail sobre as vossas filhas que ele está
pedindo5? Não poderia ele acomodar as coisas ao vosso sentir, cuja compreensão lhe
passaríeis? Seria muito de se desejar que fôsseis lá. Mas como a coisa não é tão urgente
e não podeis estar em todos os estabelecimentos, redigi alguma notas que sirvam para o
presente e para o futuro, em tais casos.
É necessário que elas assumam a direção, ou que se submetam às outras Irmãs6.
A última alternativa não é conveniente e a primeira talvez seja difícil. Contudo, importa
tender para a primeira, ou então, que se lhes confie uma parte dos doentes para deles
cuidarem a seu modo. Dizei-me vosso parecer a respeito. Podeis escrever na terça e no
sábado, e depois nos encontraremos.
Vou, entretanto, oferecer-vos, como também as vossas filhas, a Nosso Senhor,
no adorável sacrifício da santa missa que estou indo celebrar. Peço-vos a mesma graça
em vossa santa comunhão.
22
“Rivisão”, “comunicação”, estas palavras fazem alusão à direção de consciência, para o qual Santa Luísa de
Marillac se dirigia ao Padre Vicente.
33
Quanto ao assunto desse quadro assim como para a maior dos pontos tratados nesta carta, ver, na edição Coste (II,
p. 574-576), as cartas 793 (de 24 de março de 1646) e 794 (de 25 de março); esta última é uma resposta à presente.
44
A festa da Anunciação fora transferida para o dia seguinte (26 de março) por causa da solenidade do dia de Ramos.
55
O Padre Portail se encontrava então em Mans onde fazia a visita canônica do estabelecimento dos Missionários. O
Padre Portail solicitava o envio de Filhas da Caridade para o serviço do hospital.
66
Trata-se das Irmãs de uma outra comunidade que serviam no presente ao hospital de Mans.
Ficarei muito contente de saber o que é este pequeno terço de doze contas preso
à imagem da Santíssima Virgem.
Bom dia, Senhora.
Sou vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo.
Senhor Padre,
1
Carta 47. – Carta autógrafa.
Original com os padres da Missão de Florença (Itália).
Texto publicado com a ortografia e a disposição do original nos anais da CM, 1947-1948, p.309-310. Fotografia nos
Arquivos da CM, em Paris.
1
Guilherme Delattre, padre da Missão, nascido em Amiens, em 1610. Entrou na Congregação da Missão em 1642 e
faleceu em Bordéus, em 1650.
22
Sem dúvida, a carta 799 da edição Coste (II, 582-585).
33
As palavras que seguem, como algumas da linha precedente, são ilegíveis em consequência de uma molhadura do
papel.
44
A união da Paróquia São Bartolomeu de Cahors ao Seminário, da qual o superior seria o pároco, decretada pelo
bispo desde 1644, será efetivada apenas algumas semanas depois desta carta.
55
Alain de Solminihac, nascido em 1593, ordenado padre em 1618, reformador da Abadia de Chancelade, em
Périgord, de que era titular desde 1614. Nomeado Bispo de Cahors em 1637, governou sua diocese com zelo,
dotando-a com instituições eficazes e duráveis. Amigo de São Vicente de Paulo, foi um modelo de bispo reformador.
Morreu em 1659. Sua causa de beatificação foi introduzida.
qual, honor regis judicium diligit6, e, além disso, nem sempre é possível advertir a tudo,
de imediato.
É por esta firmeza que tendes que o senhor Bispo vos estima e ama e até
testemunha que vos deseja, mais do que qualquer outro que conhece, no ofício que
tendes. Obsequium tuum ejus judicium diligit7. Esses embates, senhor Padre, e os atos
de paciência que neles praticais vos merecerão novas graças para confrontos
semelhantes.
De resto, fico admirado ao ver as oblações tão frequentemente reiteradas que
fizestes e, com a mesma frequência, fazeis a Deus. Ó Deus, senhor Padre, como lhe
peço de todo coração que ele se honre a si mesmo, pela glória que disso ele retira e que
ele seja o seu próprio agradecimento e uma ajuda para vossa querida alma.
Não vos posso exprimir a ternura que Nosso Senhor me inspira para convosco e
para com vossa pequena mas tão boa família. Eu a abraço com toda a efusão do meu
coração, que ama o vosso mil vezes mais do que a si mesmo, no de Nosso Senhor, em
cujo amor sou, senhor Padre, vosso muito humilde servo,
Vicente de Paulo,
indigno padre da Missão.
[1646]2.
33
Atualmente: efetivamente. Cf. Dicionário do francês clássico, XVII século, Paris, 1989.
ÍNDICE DAS MATÉRIAS
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APÊNDICES
432 Bis. Santa Joana de Chantal a São Vicente ( 22-29 de fevereiro de 1640)
448 Bis. Ao Revmo. Padre Robert Lachau, S.J (04 de junho de 1640)
449 Bis. Santa Joana de Chantal a São Vicente (cerca de 13 de junho de 1640)
498 Bis. Santa Joana de Chantal a São Vicente (24 de novembro de 1640)
26. A Santa Luísa de Marillac (11 de fevereiro de 1641)
27. A Santa Joana de Chantal (09 de junho de 1641)
28. A Sylvestre de Crusy de Marcillac, Bispo de Mende (06 de desembro de 1641)
562 Bis. Para a Madre Luísa Eugênia de Fonteine ( ínicio de 1642)
29. A Bernardo Codoing (09 de fevereiro de 1642)
30. A Jacques Chiroye (06 de setembro de 1642)
31. A Francisco Du Festel (20 de setembro de 1642)
32. Irmão Mateus Regnard ao Padre Vicente (janeiro de 1643)
33. A Bernardo Codoing (05 de fevereiro de 1643)
34. A Francisco Du Festel (10 de março de 1643)
35. A Bernardo Codoing (20 de março de 1643)
36. Carta de São Vicente aos Padres da Missão em Marselha (18 de abril de 1643)
37. A Bernardo Codoing (07 de maio de 1643)
38. Carta do Padre Félicien a São Vicente (20 de maio de 1643)
39. Carta dirigida a São Vicente (01 de agosto de 1643)
679 Bis. Para a Irmã Helena Angélica Lhuillier (07 de outubro de 1643)
40. A Bernardo Codoing (13 de novembro de 1643)
41. Carta do Marquês de Fabert (1643-1644)
710 Bis. Padre Charles Faure a São Vicente (21 de junho de 1644)
42. Carta do Cavaleiro Simiane de La Coste a São Vicente (27 de junho de 1644)
43. Carta a Antônio Portail (05 de outubro de 1644)
44. A Antônio Portail (15 de outubro de 1644)
45. A Antônio Portail (19 de outubro de 1644)
758 Bis. Do Padre Simon Martin a São Vicente (29 de junho de 1645)
46. A Luísa de Marillac (25 de março de 1646)
47. A Guilherme Delattre (19 de maio de 1646)
778 Bis. Santa Luísa de Marillac a São Vicente (1646)