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H I S T O R I A

INGENIUM, II Série, nº 103, janeiro-fevereiro/2008, pp. 88-91

De Picote a Carrapatelo,
ou como o Plano Marshall alterou a hierarquia
do aproveitamento hidroeléctrico do Douro
Maria Fernanda Rollo * tência financeira que rondou os 90 milhões timas despesas relativas aos projectos de as-
de dólares (mais de dois milhões e meio de sistência técnica apoiados directamente pelo
contos1), interessando o Estado e muitos financiamento americano, desenvolveram-se

C
ontrariamente ao que durante muito outros agentes económicos do País. A essa em Portugal e nas colónias portuguesas mais
tempo foi “voz corrente”, Portugal par- verba deve acrescentar-se a participação dos de 50 projectos com impacto no conjunto
ticipou e foi beneficiário do programa chamados fundos portugueses de contrapar- da economia portuguesa, envolvendo a par-
americano de apoio à reconstrução da Eu- tida, da ordem dos 552 mil contos. A quase ticipação de 98 técnicos portugueses e 74
ropa a seguir à II Guerra Mundial conhecido totalidade do aproveitamento destas verbas estrangeiros. Na sua totalidade, estima-se
por Plano Marshall. ocorreu em 1950 e 1951, sobrando apenas que o programa de assistência técnica em
Não será muito importante, já passou mais uma pequena parcela, cuja utilização se pro- Portugal tenha representando um valor da
de meio século; mas, é verdade, o nosso País longou para além do termo do ERP. ordem de 100.000 contos, de que o Estado
participou mesmo da ajuda americana con- Para além do financiamento, Portugal bene- foi o principal beneficiário. A compreensão
cedida aos países da Europa Ocidental a se- ficiou da concessão de três empréstimos es- da importância da assistência técnica ame-
guir à II Guerra Mundial. Mesmo assim, para peciais, em aproveitamento de um fundo ricana a Portugal não se circunscreve à sua
lá do desconhecimento, subsistem os cepti- extra-ajuda especificamente dedicado a pro- apreciação quantitativa do número de pro-
cismos daqueles a quem não foi dado per- jectos coloniais, e do auxílio atribuído ao jectos e técnicos envolvidos ou em relação
ceber que, para além das mercadorias, o au- abrigo do programa de “assistência técnica aos valores dispendidos. O impacto do pro-
xílio financeiro e técnico americano chegou e produtividade”. grama de assistência técnica ultrapassa cla-
ramente a execução imediata dos projectos
realizados, assumindo uma importância qua-
litativa para o desenvolvimento da economia
portuguesa nos seus diversos sectores de ac-
tividade, e permitiu, inclusivamente, detec-
tar e compreender algumas omissões e con-
tradições da nossa política económica.
Esta nota histórica refere-se ao projecto que
assumiu maior relevância e teve impacto mais
duradouro e visível no âmbito da assistência
técnica a Portugal, que consistiu na realização
do estudo da bacia hidrográfica do rio Douro
por parte de uma empresa americana.
Pode, desde já, referir-se que os resultados
do estudo do esquema geral do aproveita-
mento do Douro contratado a uma empresa
americana, contrariando directamente as pers-
pectivas e os projectos desenvolvidos pela
Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos do
Ministério das Obras Públicas, se impuseram
e determinaram a opção pelo início do apro-
ao País, devidamente propagandeado, e en- O programa de Assistência Técnica e Pro- veitamento do rio Douro a partir do seu troço
trou nas empresas e nos organismos públi- dutividade constitui uma das facetas “mais internacional, com o escalão de Picote, e não
cos, da Metrópole e das colónias de então, invisíveis” e, todavia, das mais significativas por Carrapatelo no troço nacional.
de forma discreta, mesmo sem ser proposi- da participação de Portugal no Plano Mar- Mas vejamos, então, em que contexto e “por-
tadamente disfarçada. shall, envolvendo aspectos de estratégia e que artes” é que o aproveitamento do rio
No seu conjunto, a participação de Portugal com impacto a médio e longo prazos. Douro, uma aspiração já antiga entre tantos
no Plano Marshall propiciou-lhe uma assis- Até 1957, ano em que se cumpriram as úl- que vinham propugnando pelo desenvolvi-
1 Adoptando a taxa de câmbio - 1 dólar = 28,75 escudos - então praticada pela administração portuguesa.the Presidency Government of Portugal, March 1953.
do Douro e apresentava-se um estudo deta-
lhado do escalão de Carrapatelo a que se
atribuía prioridade.
Terá sido este estudo que, em 1949, o en-
genheiro Pedro Nunes2, que veio a ser bas-
tonário da Ordem dos Engenheiros entre
1970 e 1974, “levou debaixo do braço” para
os EUA e submeteu à apreciação dos espe-
cialistas do Denver Office do Bureau of Re-
clamation e que veio a ser proposto como
candidato ao programa de assistência técnica
americano.
Na verdade, o pedido de assistência técnica
relativo ao aproveitamento do rio Douro que
foi originalmente submetido, em Março de
1950, apresentava o documento intitulado
Hydroelectric Development of the River Douro
– Carrapatelo Plant, solicitando como auxí-
lio técnico americano a revisão do antepro-
jecto da barragem e central do Carrapatelo
que tinha sido preparado pela Direcção Geral
dos Serviços Hidráulicos.
mento do aproveitamento dos rios portu- Para avaliar a proposta, a administração ame-
gueses e, de alguma forma, pela promoção ricana considerou a necessidade de enviar a
do desenvolvimento económico do País, se Portugal dois técnicos com a missão de co-
transforma, no final da década de 40, em lher elementos informativos que permitis-
objecto de um projecto de assistência téc- sem à Economic Cooperation Administra-
nica concedida a Portugal ao abrigo do Plano tion (entidade da administração americana
Marshall. Ou, dito de outra forma, como é licos e Eléctricos, permitindo que em 1942 que geria o Plano Marshall), apreciar espe-
que, afinal, foram os americanos que deter- Ezequiel de Campos apresentasse um pe- cificamente o projecto proposto e, em geral,
minaram a programação do aproveitamento dido de concessão de um aproveitamento a questão geral da produção e transporte de
do rio Douro. situado no local de Carrapatelo. energia eléctrica no nosso País.
Os primeiros estudos destinados a promover A partir de 1943, uma vez concluídos os pla- Samuel F. Neville e George Clemens estive-
o aproveitamento do Douro tiveram lugar no nos gerais de aproveitamento do Zêzere e do ram em Portugal entre 13 e 24 de Abril de
tempo da República. Em 1918, a Direcção Cávado-Rabagão, a Direcção Geral dos Ser- 1950. Durante essa estadia, visitaram as obras
da Hidráulica Agrícola lançou a inventaria- viços Hidráulicos centrou atenções no Douro, em curso e entrevistaram as entidades públi-
ção das possibilidades energéticas, encetando conduzindo trabalhos de levantamento e re- cas e privadas responsáveis pelo programa de
um trabalho de reconhecimento dos nossos conhecimento indispensáveis ao estudo do electrificação do País. Em 15 de Junho, apre-
rios, conferindo prioridade aos Cávado e aproveitamento desse rio. Era, à época, sub- sentaram um relatório3 que veio a revelar-se
Douro e seus afluentes. Mais tarde, em 1929, secretário de Estado do Comércio e Indús- de importância capital para a prossecução da
com base num projecto formulado por Eze- tria Ferreira Dias, autor da lei de Electrifica- política de electrificação portuguesa, espe-
quiel de Campos, a Câmara Municipal do ção do País, que seria aprovada no ano se- cialmente pelo que representou em termos
Porto requereu a concessão do aproveita- guinte, consagrando uma política energética de estabelecimento da ordem de prioridade
mento de Bitetos, inicialmente previsto como que dava preferência à hidroelectricidade. a que deveria obedecer a construção dos em-
primeiro do Douro nacional, a que se suce- Depois de terminada a Guerra, em 1947, prendimentos previstos. Foi por isso que, sem
deram outros pedidos inconsequentes. foi decidida a elaboração do Plano Geral de qualquer reserva, o organismo que geriu a as-
Já sob o Estado Novo, os estudos de reco- Aproveitamento do Douro Nacional que sistência americana a Portugal, a Comissão
nhecimento do Douro evoluíram de acordo ficou concluído no ano seguinte. Nesse plano Técnica de Cooperação Económica Europeia,
com as sondagens geológicas efectuadas pela definiam-se os contornos principais dos qua- deixou registado que essas decisões, há que
Administração Geral dos Serviços Hidráu- tro escalões previstos para o aproveitamento reconhecê-lo, tiveram acentuada repercussão
2 Pedro Moura Brás Arsénio Nunes nasceu em Lisboa a 12-7-1917 e concluiu o curso de Engenharia Civil em 1940, no Instituto Superior Técnico. Em 1941, ingressou na Direcção Geral dos Serviços
Hidráulicos, onde chefiou a Repar tição de Projectos da Direcção dos Serviços de Aproveitamentos Hidráulicos. A partir de 1946, desempenhou ainda as funções de adjunto da Comissão de Fiscaliza-
ção das Obras dos Grandes Aproveitamentos Hidráulicos. Em 1957 foi nomeado vogal do Conselho Superior de Obras Públicas, como engenheiro civil especializado em aproveitamentos hidráulicos
e, em 1959, designado membro da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens, a que já pertencera de 1949 a 1953. Após 25 de Abril de 1974, fez parte do I Governo Provisório liderado
por Palma Carlos (16 de Maio a 11 de Julho), como Secretário de Estado das Obras Públicas.
3 Samuel F. Neville e George R. Clemens, General Survey and Recommendations on The Portuguese Power Situation, Industry Division, OSR/Paris, June 15, 1950. NARA, 853 - 1950-1954; 853.2614/7-550,
Junho 1950.
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na resolução de certos problemas relacionais mente, em Abril de 1952, a candidatura do Foi, de resto, nesse contexto, que o minis-
com a produção e utilização da energia eléc- projecto ao programa foi formalmente apre- tro da Economia aceitou a sugestão da Kna-
trica no País.4 sentada. Pouco tempo passado, em Julho, a ppen de encomendar a uma outra empresa
Relativamente ao Douro, o relatório de Ne- ECA emitiu a autorização de assistência téc- americana um estudo dos jazigos de ferro
ville e Clemens avançava duas recomenda- nica correspondente ao projecto, permitindo que permitisse completar o estudo da nave-
ções: o envio de uma missão de 5 engenhei- a realização de pagamentos até ao montante gabilidade do Douro. A Knappen encarre-
ros portugueses para exame de alguns apro- de 200.000 dólares. gou-se de encomendar o estudo, cujo rela-
veitamentos hidroeléctricos americanos e que Elaborou-se, então, um contrato entre o Go- tório foi entregue em 11 de Agosto de 1952.
fosse contratada uma empresa americana para verno português e a Knappen, nos termos Esse documento apresentava o estudo das
realizar um estudo do aproveitamento coor- do pedido apresentado, que, depois de apro- minas de Vila Cova do Marão, Guadramil e
denado da energia térmica e hidroeléctrica vado pela ECA, foi assinado em 1 de No- Moncorvo, analisando as perspectivas eco-
do rio Douro, controlo de cheias, navegação vembro de 1951, estipulando o custo total nómicas e financeiras da sua exploração fu-
e irrigação, e apontar uma ordem de priori- do estudo em 196.000 dólares, mas pre- tura. Recomendava-se a realização de um
dade para a execução das obras a realizar. vendo o seu aumento até ao montante de estudo geológico completo da região de Mon-
As recomendações propostas pelos técnicos 210.000, quantia que ficava sujeita a depó- corvo e a apreciação das possibilidade de
foram prontamente transmitidas à CTCEE sito de contrapartida. Note-se, a propósito, criação de uma indústria do ferro que pon-
pela missão da ECA que estabeleceu o li- que são diversos os testemunhos que ates- derasse a sua localização mais vantajosa e
mite de 200.000 dólares para custear o es- tam a relevância e o carácter prioritário que avaliasse as matérias-primas a utilizar.
tudo, recomendando e fazendo notar que o Governo português atribuía a este projecto Pouco mais tarde, em Outubro de 1952, a
sem a realização desse estudo não se pode- no quadro geral da estratégia prosseguida em Knappen apresentava, em Relatório Prévio,
ria avançar na apreciação do projecto rela- matéria de política energética e económica, as primeiras conclusões do seu trabalho, in-
tivo ao Carrapatelo que o Governo portu- aceitando, portanto, suportar os custos que dicando a ordem de prioridade mais econó-
guês havia submetido. lhe eram inerentes em termos de depósito mica dos aproveitamentos a realizar no Douro.
O assunto foi posto à consideração do mi- de fundo de contrapartida. Desde logo, era apontado como resultado do
nistro das Obras Públicas que considerou Os primeiros técnicos designados pela Kna- estudo que se pode produzir energia mais
que a encomenda desse estudo comprome- ppen chegaram a Portugal em 19 de Dezem- economicamente em pontos do Douro inter-
tia a concretização do projecto relativo ao bro de 1951. Estudaram largamente vários nacional acima do rio Tormes do que em sí-
Carrapatelo e a realização da respectiva obra. aspectos ligados ao aproveitamento do Douro, tios do Douro Português.6 Simultaneamente,
Em fins de Junho de 1950, a CTCEE insis- nomeadamente no campo hidroeléctrico, re- referia-se que o trabalho realizado também
tiu, submetendo à apreciação da Direcção- lativamente ao qual desenvolveram aturadas tinha demonstrado o grande valor que tem
-Geral dos Serviços Hidráulicos o seu ponto investigações, abrangendo a análise do con- para Portugal o funcionamento do sistema
de vista sobre a divergência verificada e so- sumo da energia eléctrica em Portugal e do que faz pleno uso das albufeiras do Zêzere e
licitando nova apreciação do assunto. Por seu mercado, o estudo das principais indús- do Cávado para garantir o fornecimento de
fim, o ministro das Obras Públicas despa- trias existentes e previstas, a avaliação das energia nos períodos de fraca corrente de água,
chou no sentido de se dar seguimento à apre- centrais e sistemas de transmissão e distri- e as suas conclusões e recomendações baseiam-
sentação do pedido formal de um estudo buição existentes e suas características téc- -se no princípio de que este tipo de funciona-
global sobre o aproveitamento do rio Douro, nicas. Empenharam-se também na identifi- mento será adoptado e de que serão tomadas
colocando, contudo, como condição dar-se cação e avaliação dos recursos económicos medidas positivas para o activar.7
prioridade absoluta para a pormenorização da bacia do Douro, recolhendo elementos
do projecto do Carrapatelo, obra conside- detalhados sobre as possibilidades de explo- Em síntese, o relatório sugeria um conjunto
rada no plano de primeira fase de assistên- ração dos jazigos carboníferos e de minério de seis recomendações:
cia financeira do Plano Marshall, aprovado de ferro, bem como na análise das possibi- 1. Que a barragem do Picote, situada no
superiormente.5 lidades existentes e futuras do tráfego flu- Douro internacional, fosse considerada
A decisão foi imediatamente transmitida à vial e ferroviário. obra de primeira prioridade entre os apro-
missão da ECA que, em breve, indicava um Além dos funcionários da Knappen, partici- veitamentos hidroeléctricos a realizar na
conjunto de quatro empresas americanas es- param nesse estudo alguns consultores es- bacia do Douro;
pecializadas na elaboração de estudos dessa peciais, cuja visita estava prevista no con- 2. Que fosse projectada uma barragem de
natureza às quais podiam ser pedidas pro- trato, chamados a dar parecer sobre temá- betão, com cerca de 100 m de altura e
postas. ticas diversas, designadamente sobre os ja- desenvolvendo uma queda de 74 m para
O exame dessas propostas conduziu à esco- zigos carboníferos de S. Pedro da Cova e do o local do Picote, situado a 22,4 km a
lha da empresa de engenharia americana Pejão e as possibilidades de instalação de montante da confluência do rio Tormes.
Knappen-Tippets-Abbett-McCarthy. Final- uma central térmica. A central ficaria situada na margem por-
4 CTCEE, Breve Resumo das Suas Actividades, Lisboa, 1953, p. 118.
5 Idem, p. 120.
6 Knappen-Tippets-Abbett McCarthy Engineers, Memorandum Report to Government of Portugal on Engineering and Economic Survey of Douro River, New York, October 1952, p. II.
7 Idem, p. III.
ria, afinal, começar-se pelo Douro interna- firma americana Knappen-Tippetts-Abbet-
cional, com o escalão de Picote. -McCarthy (hoje designada por T.A.M.S.)
Finalmente, o Relatório Geral foi entregue da elaboração dum estudo sobre o Douro e
nos primeiros dias de Abril de 19539. O os seus afluentes em Portugal. Como conclu-
texto confirmava as conclusões inscritas no são fundamental desse estudo, apresentado
relatório prévio, documentando-as, desta em 1953, foi dada prioridade à realização
feita, mais pormenorizadamente e focando dos aproveitamentos do Douro Internacional
outros aspectos menos importantes do apro- sobre os do Douro Nacional, e escolhido para
veitamento económico da bacia do Douro. execução imediata o escalão de Picote.11

tuguesa do rio e a potência inicialmente


instalada seria de 93.000 kW;
3. Que a sequência dos aproveitamentos hi-
droeléctricos a construir no Douro seguisse
uma determinada ordem que mencionava,
sujeita às modificação que quaisquer con-
siderações eventuais viessem a mostrar ser
Barragem do Picote
vantajosas;
4. Que a potência térmica actualmente exis-
tente fosse substituída tão rapidamente
quanto possível pela potência hidroeléc-
trica mais económica proveniente dos
aproveitamentos do rio Douro;
5. Que fosse, desde logo, montada uma mo-
derna central térmica no Pejão, com a po-
Barragem do Carrapatelo
tência instalada de 25.000 kW;
6. Que, ao serem construídas, as barragens Foi então que, em Junho de 1953, se proce- Seja como for, em 1953 foi constituída a Hi-
do Carrapatelo, Régua e Valeira fossem deu à aprovação oficial da obra do Picote, cujo dro-Eléctrica do Douro a quem foi outorgada
equipadas com eclusas que permitissem projecto (que constituía a última fase do es- a concessão dos aproveitamentos do Douro e
a passagem de embarcações com 2,7 m tudo americano) podia então ter início. entregue a missão de complementar o estudo
de calado, e que fosse efectuado o melho- Para terminar, um apontamento relativa- do plano geral de aproveitamentos hidráuli-
ramento das condições de navegalidade mente à forma discreta (mesmo omissa) cos do rio e seus afluentes. Em 1954 tiveram
do rio, até àquela profundidade, entre o como esta inflexão de estratégia e as causas início as obras de construção do Picote, que
Pocinho e a Foz, se o comércio fluvial nessa que a determinaram (não) têm sido reco- começou a produzir em 1958. Ao aproveita-
altura viesse a ser suficiente para justifi- nhecidas entre nós. A título de exemplo, mento do Picote sucederam-se no tempo Mi-
car tais medidas.8 veja-se a publicação que a EDP dedicou ao randa (1960) e Bemposta (1964), ambos no
Aproveitamento Hidráulico do Douro10, tra- Douro internacional. Finalmente, só em 1971
Escusado será sublinhar a importância e o balho de inquestionável rigor técnico e fun- entrou em funcionamento o Carrapatelo, que
impacto destas recomendações. Na prática, damental para conhecermos as característi- ficou a constituir o primeiro aproveitamento
estava posto em causa quase tudo quanto a cas e a forma como evoluiu o aproveitamento hidroeléctrico do Douro Nacional.
Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos tinha do rio Douro. Feita referência ao estudo de
apontado, e se preparava para executar, quanto 1948 da Direcção Geral dos Serviços Hi- * Investigadora do Instituto de História
aos trabalhos a desenvolver em termos de dráulicos e ressalvando a sua utilidade e im- Contemporânea, Professora do Departamento
aproveitamento do Douro. Em vez do Douro portância, sem maiores explicações diz-se de História da Faculdade de Ciências Sociais
nacional e do escalão do Carrapatelo, deve- apenas: Em 1951 o Governo encarregou a e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
8 Idem.
9 ADGSH ou ADGOTDU/DGSU, Knappen-Tippetts-Abbett-McCarthy Engineers, Master Plan and Report. Engineering and Economic Study. Douro River and tributaries within Portugal, prepared for Minis-
ter of the Presidency Government of Portugal, March 1953.
10 Aproveitamento Hidráulico do Douro, EDP/Empresa Pública, 1986. | 11 Idem, p. 27.

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