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Instituto de Economia
Objetivos
Foram dois os principais objetivos que nortearam este estudo. Em primeiro lugar, a partir
de uma análise sobre a situação competitiva de 20 cadeias industriais brasileiras, procurou-se
avaliar quais seriam os impactos que novas rodadas de liberalização comercial, em especial
acordos Mercosul-União Européia e ALCA, imporiam à estrutura industrial do país. Em
segundo lugar, procurou-se descrever, sucintamente, quais seriam as ações políticas mais
relevantes para que cada cadeia e o conjunto da economia pudessem alcançar posições
competitivas mais avançadas, de modo a explorar oportunidades e ou reduzir as ameaças
impostas pela perspectiva de incremento da liberalização comercial. O objetivo de reduzir os
déficits setoriais já muito elevados e/ou ampliar os superávits comerciais das cadeias
competitivas tem como norte a necessidade de sustentação de um saldo comercial elevado (i.e.
igual ou superior a 3% do PIB) nos próximos anos de tal modo a assegurar a solvência
intertemporal das contas externas do país.
De maneira geral, este objetivos foram plenamente atingidos, com será visto adiante.
Nota metodológica
1
As posições do sistema harmonizado (NCM-SH) que formam os dados de comércio de cada cadeia foram
propostas pelos especialistas. Por isto, certos dados agregados podem apresentar divergência com outras fontes.
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Qualquer uma das análises deveria sempre estar embasada por referências bibliográficas
nacionais e estrangeiras, por dados primários e secundários, e, principalmente por informações
qualitativas, estas últimas obtidas em mídia especializada e entrevistas com lideranças
empresariais.
Além disto, diferentes equipes do IPEA vinham trabalhando justamente nestes modelos,
cuja conclusão permitiria uma comparação entre os resultados macroeconômicos da
liberalização, estimados por esta análise econométrica, com os resultados dos efeitos
microeconômicos, ofertados pelos estudos setoriais resumidos na seção seguinte.
Antes, porém, cabe ressaltar que cada um dos trabalhos foi acompanhado durante sua
execução e após seu término por diversos técnicos do governo (MDIC, MCT, MRE, BNDES,
IPEA, INMETRO, FINEP, entre outros) e por lideranças empresariais e sindicais, inclusive em
dois seminários públicos realizados, conforme o caso, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e
outras cidades.
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Um esforço de síntese
A Tabela 2 mostra que cresceram acima da média do total da indústria (2,8% aa) apenas
as cadeias Automotiva, Siderurgia, Telequipamentos, e Informática, sendo que as duas últimas
representam ainda menos de 5% do total do faturamento. Todas as outras cadeias cresceram
menos que a média e ou retraíram suas vendas.
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Por questões metodológicas excluiu-se da presente síntese os segmentos de Complexo Saúde, Biotecnologia e
Construção Naval.
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Soja, carnes, álcool, bebidas, açúcar, não ferrosos, linha branca, aeronaves, etc.
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ALADI (excluindo México), de pequeno déficit com NAFTA e de grande déficit com UE e
“Ásia”4.
% no Faturamento da % Empresas
indústria* Estrangeiras *
Automotiva 9,4 86,5
Petroquímica 6,6 40,9
Bens de Capital 4,9 60,2
Siderurgia 4,3 35,0**
Têxtil 4,2 22,5
Transformados Plásticos 4,1 39,7
Papel e Celulose 3,9 37,1
Telequipamentos 3,2 90,0**
Farmacêutica 2,5 66,2
Madeira e Móveis 2,1 12,2
Couro e Calçados 1,9 8,8
Cosméticos 1,9 65,0**
Informática 1,4 72,4
Bens Eletrônicos de Consumo 1,4 50,0**
Citrícola 0,9 31,0**
Naval 0,07 60,00**
Cerâmicas de Revestimento 0,7 19,0**
Café 0,6 15,0**
Total Selecionadas 53,2 51,8
* % m 2000
** Estimativa
Fonte: NEIT-IE-UNICAMP a partir de PIA-IBGE
4
Hong Kong, Indonésia, China, Filipinas, Coréia do Sul, Japão, Malásia, Singapura, Tailândia e Taiwan.
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5
Como nos casos da siderurgia e do setor de papel e celulose, aqui estudados, ou nos acasos ainda não analisados,
como aeronáutica e soja.
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Em uma tentativa de sintetizar mais de 2000 páginas de resultados, optou-se pela criação
de uma tipologia que relacionasse, por um lado, a intensidade prevista dos efeitos (ameaças e
oportunidades) de novas rodadas de liberalização; e, por outro, os tipos de políticas prioritárias
para cada cadeia.
Evitou-se também, graças ao primeiro pressuposto, agrupar as cadeias por seu grau de
competitividade, privilegiando, desta forma, um agrupamento pelo desempenho comercial em
2001.
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Por exemplo, na Cadeia de Celulose e Papel, importantes elos do setor papeleiro têm sérias deficiências
competitivas.
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No Grupo 2, estão as cadeias que têm sérias deficiências competitivas – por razões
diversas – e que são cronicamente deficitárias. Neste caso, a prioridade da política de
negociação é postergar ao máximo a desgravação tarifária. Deveriam ser empreendidas sólidas
políticas de competitividade para reduzir tais deficiências durante o prazo de maior proteção.
Ações como reestruturação patrimonial (promover concentração e saneamento financeiro),
desenvolvimento tecnológico (produtos e processos) e apoio a cooperação inter-firmas (entre
nacionais e ou destas com as estrangeiras) são essenciais para a superação ou a forte redução
destas deficiências competitivas. Encontram-se neste grupo importantes segmentos da base
industrial (Bens de Capital Seriados e Petroquímica), a cadeia de Transformados Plásticos, de
heterogeneidade comprovada (no tamanho e na competitividade das firmas), mas forte geradora
de empregos; além da Cadeia de Construção Naval, potencialmente competitiva (dado o acesso
privilegiado a matérias-primas), mas que sofreu forte desindustrialização nos anos 90.
Encontra-se também a Cadeia de Têxtil e Confecções, outra cadeia bastante heterogênea. De
fato, certos segmentos da indústria têxtil – de grandes empresas integradas e com alto índice de
mecanização – são bastante competitivos, mas convivem com outros segmentos – em especial
confecções – com deficiências competitivas, seja pela escala produtiva e patrimonial deficiente,
seja pelo alto grau de informalidade, seja por deficiências tecnológicas, entre outras.
condicionante não é o único nem o mais relevante. Entram em cena as estratégias das empresas
estrangeiras que controlam estes setores. Tais estratégias, tomadas de acordo com a importância
conjuntural e estrutural da filial brasileira na rede corporativa, definem o desempenho
comercial da cadeia.
Isto significa que a prioridade de política é uma negociação que promova o aumento da
relevância da filial local na estrutura mundial das empresas e que, desta forma, permita alcançar
superávits comerciais ou, pelo menos, imponha significativa retração dos déficits de cada
cadeia. Adiamento da desgravação, manutenção de políticas de conteúdo local e ou de comércio
administrado, acesso a mercados e políticas de apoio ao desenvolvimento tecnológico
continuam sendo muito relevantes, mas serão tão ineficientes quanto menor for a capacidade de
negociação com as empresas estrangeiras.
O Quadro 2 abaixo tenta resumir esta tipologia, ordenando graus de prioridade de cada
ação política (de Negociação ou de Competitividade) por cadeias, agrupadas pelo saldo
comercial em 2001 e pela tipologia acima descrita. Por exemplo, as cadeias do Grupo 2, as mais
ameaçadas, têm ênfase em Defesa, isto é, uma política de negociação que priorize o adiamento
da desgravação tarifária, assim como prioridade em políticas de competitividade para a
superação da condição pouco competitiva das cadeias.
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Num esforço de síntese procurou-se agrupar as oportunidades e ameaças que cada cadeia
enfrentaria em um cenário futuro de hipotética liberalização comercial acelerada. Ressalte-se
que o esforço de síntese apresentado abaixo mascara involuntariamente a heterogeneidade
competitiva da indústria, ou seja, conforme já discutido anteriormente, é preciso compreender
que cada cadeia tem peculiaridades marcantes, que podem ser percebidas pela leitura atenta de
cada uma das Notas Técnicas do estudo. Pretendeu-se aqui sintetizar estes efeitos,
reconhecendo-se, de antemão, as limitações impostas por esta tentativa.
Ameaças
Antes de descrever as tipologias propostas para o caso das ameaças, se faz necessário
ressaltar que os efeitos aqui discutidos levam em conta não apenas o caso mais geral, a saber, a
perspectiva de liberalização comercial acelerada ou imediata, mas também situações de acesso
limitado a mercados externos, extensão de preferências para outros países/regiões e, no limite,
casos em que as negociações para integração comercial falhariam completamente.
Exposta a esta nova e forte pressão competitiva, certas cadeias produtivas encontrariam
dificuldades endógenas para reagir positivamente, o que certamente provocaria aumento
significativo das importações, além do risco de ocorrência de processos de desindustrialização e
de desnacionalização, potencializando assim efeitos macroeconômicos negativos (e.g.
constrangimento agravado do Balanço de Pagamentos e do desemprego).
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Além disto, vale ressaltar que os estudos concluíram que a imensa maioria dos produtos
comercializados pelo Brasil enfrentam barreiras tarifárias significativamente menores do que
aquelas praticadas pelo Mercosul, sob a TEC7. Ou seja, é preciso considerar que o potencial de
ganho de acesso a mercados a partir da desgravação tarifária continental será quase sempre
muito menor do que o risco potencial de aumento de importações.
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Exceções podem ser encontrados nos produtos vendidos para o México e em picos tarifários no estadunidenses e
canadenses, especialmente no Agronegócio, Têxtil e Confecções e Couro e Calçados. Outras cadeias enfrentam
importantes barreiras não tarifárias, como a Siderurgia.
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Cadeia % Aladi*
Plásticos 62,17
Têxtil-Confecções 58,00
Cosméticos 50,45
Informática 47,86
Telequipamentos 42,26
Automobilística 42,10
Farmacêutica 38,91
Petroquímica 38,88
Bens de Capital 38,45
Cerâmica 35,95
Total 18 Cadeias 25,51
Celulose e Papel 23,93
Total Brasil 21,11
Eletrônica de Consumo 19,91
Madeira-Móveis 11,60
Siderurgia 9,86
Couro-Calçados 9,21
Café 3,94
Cítricos 1,14
Naval 0,80
* Inclusive Mercosul; exclusive México
Fonte: NEIT-IE-UNICAMP a partir de SECEX
Há, portanto, um elevado grau de correlação entre o primeiro tipo de ameaça (aumento da
pressão competitiva) o segundo tipo (ameaça de perda de espaço exportador nos países latino-
americanos). Assim, este segundo grupo de ameaças atingiria cadeias que também estavam
ameaçadas pelo aumento de importações, dado o elevado diferencial competitivo ante os
parceiros mais desenvolvidos.
Os estudos caso a caso indicam, ainda, que uma liberalização comercial continental no
âmbito da ALCA pode levar a um aumento das exportações dos EUA e do Canadá para os
mercados latino-americanos, o que aumentará a pressão competitiva nestes mercados e,
provavelmente, levará a uma perda de espaço das exportações brasileiras das cadeias acima
citadas. Isto pode ocorrer porque segmentos brasileiros com menor capacidade competitiva –
mas ainda assim exportadores para os vizinhos da América do Sul – enfrentariam diretamente
seus congêneres do norte, mais competitivos, na disputa por mercados agora liberalizados. Esta
concorrência direta com empresas mais competitivas, da mesma forma que o primeiro grupo de
ameaça acima descrito, poderá resultar em perdas comerciais para as empresas brasileiras de
menor competitividade que, assim, perderiam importantes mercados exportadores.
Este mesmo risco está presente em cadeias controladas por empresas multinacionais. Se a
liberalização continental reorientar as estratégias das multinacionais, as filiais brasileiras
poderiam perder seu status enquanto “centrais de distribuição” para os países da América do
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Sul. Neste caso as matrizes poderiam centralizar tal tarefa, o que implicaria em reduções das
exportações brasileiras destas cadeias.
Por fim, vale ressaltar que os efeitos potenciais de criação de comércio para as cadeias
mais competitivas dos países do norte podem ser tão mais intensos quanto mais emperradas
forem as negociações entre Brasil e EUA para a criação da ALCA. Neste caso, tende a
prevalecer a estratégia americana de proliferação de acordos bilaterais EUA-demais países, o
que tornaria a penetração das exportações oriundas do norte da região ainda mais deslocadora
das exportações brasileiras, que, neste caso, além de menos competitivas, seriam discriminadas
em benefício das empresas norte-americanas.
Oportunidades
As cadeias nas quais existem as melhores possibilidades de expansão das exportações são
aquelas já descritas no Grupo 1. Por serem cadeias cujos produtos já são competitivos, o
aumento do comércio dependeria quase exclusivamente da redução das barreiras não tarifárias
existentes tanto na UE quanto no mercado norte-americano, como é o caso das cadeias de Café,
Papel e Celulose, Cítricos e Siderurgia. Na cadeia de Couro e Calçados e Têxtil, além do acesso
aos mercados desenvolvidos, o aumento das exportações estaria condicionado à garantia de
preferência tarifária em relação aos concorrentes asiáticos, particularmente no caso da ALCA.
No arquivo Caderno ECCIB encontram-se breves resumos de cada uma das cadeias
estudadas (com exceção de Biotecnologia-Agronegócios), procurando: quantificar importância
e desempenho recente de cada cadeia8; listar o grau de proteção vigente – no Brasil e enfrentado
por nossas exportações; apontar brevemente a capacidade competitiva da cadeia; elencar os
principais impactos das zonas de livre comércio em discussão na estrutura e no desempenho da
cadeia. Encontram-se também os resultados dos modelos macroeconômicos realizados pelo
IPEA-RJ (equilíbrio geral) e pelo IPEA-Brasília (equilíbrio parcial).
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Dados de faturamento são uma estimativa da PIA-IBGE, deflacionado pelo IPA setorial. Devem ser considerados
para estimar a participação da cadeia no faturamento da Indústria. Podem divergir de agregações oriundas de
outras fontes em cada um dos estudos individuais.