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A IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DA ESCOLA NORMAL NO SUL DO MATO

GROSSO (1930-1970)

Margarita Victória Rodriguez,


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
poroyan@uol.com.br

Silvia Helena Andrade de Brito


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
silvia.brito@ufms.br

Caroline Hardoim Simões


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
caroline_a_caluh@hotmail.com

Lucina Barbosa Belíssimo


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
barbosabelissimo@hotmail.com

A implantação e expansão da escola normal no sul de Mato Grosso, processo esse


imbricado no conjunto de transformações pelas quais passava a sociedade capitalista no Brasil
e, em particular, no sul de Mato Grosso, entre os anos de 1930 a 1970, é o objeto desta
comunicação. Seu objetivo geral é analisar a implantação e expansão da escola normal no sul
do Estado de Mato Grosso, no período de 1930 a 1970, considerando os determinantes desse
processo, isto é, as mudanças sociais e educacionais ocorridas no Brasil e no sul de Mato
Grosso neste período histórico.
Para tal, utilizam-se fontes documentais (leis, regulamentos, mensagens presidenciais
e relatórios), além da produção historiográfica já existente sobre o objeto. O referencial
teórico que orienta a análise fundamenta-se nas seguintes categorias: modernização, ideologia
liberal, trabalho didático e instituições escolares, sendo que essas categorias serão explicitadas
à medida que vão aparecendo no interior do trabalho.
Nessa direção, o texto está dividido em três partes. Uma primeira, na qual se
apresenta, em linhas gerais, o sul de Mato Grosso no período em questão, tendo em vista que
é o entendimento do processo histórico-social do que ocorria nesta região do Brasil que
permitirá compreender o papel desempenho pela educação e respectivas instituições escolares,
no citado espaço social.
Já na segunda parte da exposição o foco recairá sobre o desenvolvimento da escola
normal no sul de Mato Grosso. Considerando-se que ainda se trata de uma pesquisa em
andamento, e a título de exemplo dessa trajetória histórica, serão destacadas as informações já
coletadas acerca das escolas normais situadas nos municípios de Aquidauana e Campo
Grande.
Fechando o trabalho, apresentam-se algumas considerações sobre o processo de
implantação e expansão das escolas normais no sul de Mato Grosso, entre 1930 e 1970.

O sul de Mato Grosso entre os anos 1930 e 1970

Considerando-se a situação de Mato Grosso entre os anos 70 do século XIX e os


primórdios do século XX, isto é, no período que antecedeu a Revolução de 1930 — ponto de
partida, enquanto marco histórico, para as análises realizadas neste trabalho — pode-se
perceber que o estado vivia uma situação peculiar, considerando que passou por um processo
de diversificação de sua atividade econômica nesse período 1 . Por um lado, a pecuária
extensiva, que paulatinamente se afirmara como a principal atividade econômica na região,
com o esgotamento da atividade de mineração, em princípios do século XIX (ALVES, 1984,
p. 85 et. seq.), continuava tendo uma presença marcante no estado. Em torno desta atividade,
como fruto dos capitais que estiveram disponíveis na região neste início do século XX,
surgiram algumas charqueadas e saladeiros, que alcançaram destaque no cenário regional
nesse período, vindo a perder espaço principalmente a partir dos anos 1930.
Por outro lado, com a diversificação econômica do estado a partir da década de 70 do
século XIX, quando foi facilitado o acesso às terras de Mato Grosso, com o fim da Guerra que
envolvera Brasil, Uruguai e Argentina contra a vizinha república paraguaia, desenvolveram-se
quatro outros enclaves importantes, dois no Norte de Mato Grosso, e os outros dois situados
na região Sul. Ao Norte, na região de Santo Antônio do Rio Abaixo, nas proximidades de
Cuiabá, instalou-se um setor açucareiro expressivo em termos regionais, apesar de sua
produção destinar-se principalmente ao consumo local. O segundo desses enclaves, na região
Norte de Mato Grosso, foi a exploração da borracha, que teve sua fase áurea até os anos 10 do
século XX, quando começou a sofrer a competição do produto oferecido pelas colônias
inglesas do Oriente.
O terceiro desses enclaves foi a extração da erva-mate, realizada por meio da
Companhia Mate Laranjeira, detentora dos direitos de arrendamento e usufruto de grande
parte dos ervais nativos do extremo Sul do estado. O quarto foi representado pelas casas
comerciais, cuja intensa atividade, através da bacia Platina e tendo como polo dinâmico a
cidade de Corumbá, foi responsável, até meados dos anos 1930, pelo abastecimento da capital
do estado, Cuiabá, e demais cidades do Norte (Cáceres, Leverger, etc) e Sudeste de Mato
Grosso, como Campo Grande, Coxim, Aquidauana, Miranda, entre outras. Na verdade, as
casas comerciais, ao centralizarem o comércio de importação e exportação no estado,
acabavam atuando como polo dinamizador do conjunto das atividades econômicas, que
utilizavam esses serviços em seu processo de escoamento, dentro e fora de Mato Grosso.
Assim, na segunda metade da década de 1920, Mato Grosso era, por um lado, um
território ainda marcado pela presença de grandes latifúndios (pecuária e erva-mate), ocupado
por uma população rarefeita, principalmente em se tratando de sua zona rural. Por outro,
também possuía importante fração de sua classe dominante ligada às usinas de açúcar e ao
beneficiamento da carne bovina e, contraditoriamente, criara as condições para o
aparecimento de um homem cosmopolita, como os proprietários de estabelecimentos
comerciais em Corumbá, afeitos, graças à sua atividade profissional, aos contatos estreitos e
permanentes com os principais centros econômicos e sociais do Brasil, da região platina e do
continente europeu.
Com esses contornos, os anos 1930 iniciaram-se com o estado sentindo os reflexos da
crise econômica que abalava o país, ainda sob o impacto dos acontecimentos que envolveram
o conjunto do mundo capitalista, principalmente a partir de 1928/1929. Uma das principais
consequências destes abalos foi sentido com a queda nos preços das mercadorias relacionadas
à pecuária, principal produto da pauta produtiva de Mato Grosso. Além desta, também foram
atingidas a comercialização da erva-mate e a borracha, os outros dois produtos importantes na
economia local. Também em função disso, essa crise no plano econômico, a partir do final
dos anos 1920 e que se estendeu sobretudo até o início dos anos 1940, atingiu também outras
importantes fontes de renda do estado — a produção de borracha, a erva-mate e o açúcar —
que tiveram sua produção diminuída e, consequentemente, conduziram a uma queda
simultânea nas receitas públicas.
Esta crise, contudo, também contribuiu para dar continuidade ou iniciar algumas
modificações na base produtiva de Mato Grosso, sobretudo na região Sul de Mato Grosso,
introduzindo no criatório bovino (CORRÊA FILHO, 1984). Além disso, apesar de todas as
limitações existentes na Estrada de Ferro Noroeste, a via férrea trouxe melhorias no sistema
de transporte do gado, permitindo que parte da carne exportada pelo estado, particularmente
da região pantaneira e dos Campos da Vacaria2, ainda que transportado in vivo, não tivesse
que percorrer a pé a distância existente entre os centros produtores, por um lado, e as regiões
de engorda e empresas de beneficiamento, por outro, instaladas no estado de São Paulo
(CORRÊA FILHO, 1946). Da mesma forma, a ferrovia foi importante na afirmação de um
novo polo de desenvolvimento na região Sul do estado, representado pela cidade de Campo
Grande, que passou a funcionar como entreposto distribuidor das mercadorias adquiridas nas
regiões industrializadas do país, em direção ao interior de Mato Grosso, inclusive para
Cuiabá.
A esse quadro vêm devem ser acrescidas outras preocupações dos governos estaduais
na década de 1930, na verdade sempre presentes no discurso do Estado quando se falava das
características peculiares a Mato Grosso, como da sua pequena densidade populacional, aliada
à sua distante localização em relação aos centros dinâmicos da economia nacional.
Para que se revertesse essa situação, seria necessária a presença do Estado (governos
central e estadual), tanto no sentido do alargamento das fronteiras econômicas do estado,
como para induzir outras transformações na base produtiva do estado, inclusive no sul de
Mato Grosso.
Exemplo disso foi a própria criação do Território Federal de Ponta Porã, em 1943,
pelo Decreto-lei nº 5812, de 13 de setembro (BRITO, 2001). Desta nova unidade federativa
faziam parte sete municípios do extremo Sul de Mato Grosso — Ponta Porã, Dourados, Bela
Vista, Porto Murtinho, Maracaju, Miranda e Nioaque — situados numa região que
confrontava, a oeste, com a República do Paraguai. A capital do Território era a cidade de
Ponta Porã. Nas justificativas apresentadas para a criação desses Territórios, o presidente
Vargas, além de lembrar a questão da ocupação das fronteiras, chamava a atenção para os três
objetivos que deveriam orientar o imperialismo do Estado nessas regiões: sanear, educar e
povoar (VARGAS, 1938-1945).
A criação do Território Federal também foi significativa para o incremento do setor
agrícola 3 no extremo Sul de Mato Grosso, centralizado no município de Dourados. Este
processo iniciou-se com os Programas Federais de Colonização, que levaram à criação da
Colônia Agrícola Nacional de Dourados, pelo Decreto-Lei nº 5.941, de 28 de outubro de
1943. O objetivo do governo federal, com este projeto, era abastecer de cereais os mercados
do Centro-Sul do país. Essas lavouras, formadas por migrantes nordestinos — maioria neste
projeto até meados dos anos 1960 — eram de pequena produção, não gerando um excedente
significativo. Assim, nessas áreas de colônia, caracterizadas por minifúndios formados de
culturas permanentes, os produtos mais cultivados eram os típicos da pequena propriedade:
amendoim, algodão, arroz, café, feijão e milho. Apesar da pequena monta desta iniciativa, ao
final deste período, em meados dos anos 1940, a região de Dourados começou a despontar
dentro das estatísticas oficiais sobre Mato Grosso.
Neste sentido, pode-se dizer que, a partir da segunda metade dos anos 1940 e
principalmente na década de 1950, as diretrizes do projeto acalentado e decantado desde os
albores do movimento revolucionário de 1930, a chamada Marcha para o Oeste, começou a
mostrar de forma mais sensível os seus frutos na região mato-grossense. Se as bases materiais,
políticas e ideológicas para as iniciativas levadas a termo neste segundo período encontram
suas raízes nos anos 1930/1940, foi no momento que se iniciou com o final da Segunda
Grande Guerra, que frutificaram algumas das sementes antes cultivadas (BRITO, 2001).
Neste sentido, em relação à base econômica do estado, diferentemente do início dos
anos 1930, quando entre as três maiores riquezas da região duas eram representativas do setor
extrativista — a erva-mate4 e a borracha — a segunda metade dos anos 1940 encontrou Mato
Grosso encaminhando-se para o início de um processo de diversificação de suas atividades
produtivas, com a implantação de um setor industrial e, principalmente, com o progressivo
fortalecimento da atividade agrícola. Das principais atividades elencadas no período anterior,
apenas a pecuária continuou a ter o mesmo destaque, ocupando o posto de principal atividade
produtiva em Mato Grosso, num momento em que o estado possuía o terceiro maior rebanho
bovino do país, principalmente voltado para a pecuária de corte5.
Outro aspecto importante, que merece uma menção a parte neste momento da vida
mato-grossense, são os projetos de colonização. Floresceram em Mato Grosso, entre 1943 e
1963, dezenove diferentes projetos públicos (CAMPOS, 1960; SIQUEIRA ET AL., 1994),
afora a Colônia Agrícola Nacional de Dourados, já citada anteriormente. Destas colônias,
duas estavam situadas no Sul do estado (Colônia Bodoquena, em Miranda, e Colônia
Marechal Dutra, em Ponta Porã, atual município de Aral Moreira) e dezessete na região
Norte.
A maior parte desses empreendimentos fez-se em cima de terras devolutas, com
população migrante, preocupada com a busca de novas oportunidades de vida numa área
pouco explorada e com a possibilidade de virem a ser proprietários. Este modelo foi
incentivado pelo Estado até os anos 1960, e cumpriram seu papel enquanto linha de frente do
capital, no processo de desbravamento das áreas mais distantes do país6.
Em relação à região da fronteira Oeste do estado, no sul de Mato Grosso, a principal
menção diz respeito ao processo de industrialização em curso na cidade de Corumbá, nesse
período, quando a mesma chegou a assumir o papel de centro de abastecimento da região,
principalmente em relação a materiais de construção (cal e cimento), massas, bebidas etc.
Desta forma, aproveitando estas combinações particulares de capital local e de fora do
município, surgiram empresas como a fábrica de cimento do grupo Itaú, com capitais
originários de Minas Gerais; o Moinho Mato-Grossense, a Fiação Mato-Grossense e a
empresa Sobramil, esta última na exploração de ferro e manganês (BRITO, 2001).
À medida que avançou o processo de substituição de importações, contudo, levando as
empresas do polo dinâmico do país (São Paulo) à procura de novos mercados, inclusive
aqueles atendidos pelas empresas corumbaenses — as suas similares no município mato-
grossense passaram a enfrentar a concorrência da produção chegada à cidade, pelo trem ou, a
partir do final dos anos sessenta — principalmente nas duas décadas seguintes, pela via
rodoviária. Neste sentido, o parque industrial corumbaense foi desarticulado, gradualmente, a
partir de então.
Além disso, o processo de urbanização em curso naquele momento em todo o país e
em particular no estado de Mato Grosso deu ensejo ao desmembramento de áreas territoriais e
criação de novos municípios. Desta forma surgiu, em 1953, o município de Ladário, antigo
distrito de Corumbá, sede do Distrito Naval, abrigando o comando central da região Centro-
Oeste. É importante assinalar ainda o fortalecimento do município de Campo Grande, se
afirmou não só como polo regional mas como principal centro urbano do estado. Assim
ultrapassou, em população, o município da capital, Cuiabá: enquanto Cuiabá cresceu 5,7% no
decênio 1940-1950, Campo Grande teve um ganho populacional de 20,9% (IBGE, 1953;
IBGE, 1956).
Corumbá, em função dos processos sociais anteriormente descritos, acabou por ter um
crescimento relativo maior que a própria Campo Grande, embora permaneça no terceiro posto
entre as cidades mais populosas do estado. Denotando a importância que a atividade agrícola
alcançou no período, despontava o município de Dourados, com um crescimento de 54,0%
em sua população; no período, esta foi a maior variação relativa entre as cidades
consideradas. Ponta Porã, município do extremo Sul do estado, foi a única unidade municipal
a apresentar decréscimo populacional, para o que certamente contribuiu o desmembramento
de parcelas de seu território, para a formação do município de Amambai, além da perda de
importância relativa da erva mate, fator fundamental no processo de fixação populacional
nessa região de Mato Grosso. Três Lagoas, por sua vez, aproximou-se da variação média
verificada para o total da população do estado, registrando um crescimento de 25,5%.

A escola normal no sul de Mato Grosso entre 1930 e 1960

Como relatado anteriormente, o momento histórico que vai de 1930 a 1937 foi de crise
no plano econômico, crise essa que agravou a situação sempre precária das finanças públicas
do executivo estadual. Neste sentido, adotando políticas ortodoxas nos setores fiscais e
monetários, poucos foram os investimentos realizados pelo Estado no período,
particularmente nos setores sociais, inclusive em educação. Assim, tanto em termos
financeiros como administrativos, como se verá na parte seguinte deste capítulo, as estruturas
existentes permaneceram no mais das vezes conservadas em seus traços mais gerais, apesar
dos vários interventores e governadores que estiveram à frente do executivo estadual nesses
sete anos (BRITO, 2001).
Desta forma, somente no período ditatorial, entre 1937 e 1944, foram implementadas
reformas no plano administrativo, voltadas principalmente para a reorganização e
centralização dos organismos estatais. Apesar do alcance aparentemente limitado destas
reformas, principalmente aquelas que atingiram o setor educacional, foi nesses anos que se
lançaram as bases para as medidas que seriam implementadas pelo Estado após 1945,
sobretudo aquelas voltadas para a racionalização do processo de controle e gestão do sistema
escolar — importantes para a concretização, em Mato Grosso, das diretrizes do governo
Vargas, visando principalmente à consolidação de uma educação nacional. Pelos próprios
limites impostos a esse processo, nos primeiros quinze anos que se seguiram ao movimento
revolucionário de 1930, a (re)organização do ensino escolar em Mato Grosso não chegou a
motivar, por exemplo, a definição de um novo corpus legal, permanecendo em vigor até 1952,
em Mato Grosso, a legislação implementada a partir de 1927.
O ensino normal também não se expandiu entre 1930 e 1945, uma vez que deixou de
funcionar enquanto curso independente, em 1942. Durante o período, no sul de Mato Grosso,
uma única escola normal pública foi criada, na cidade de Campo Grande. São interessantes,
neste sentido, as observações sobre o perfil dos alunos da escola normal, reafirmado várias
vezes pelos ocupantes de cargos públicos naqueles anos:
[Os] (...) alumnos nella matriculados [são] [...] em sua quasi totalidade do
sexo feminino. É notavel em nosso Estado esse abandono da carreira do
magisterio, por parte dos rapazes. Ou seja porque considerem mais
brilhantes as carreiras abertas pelo ensino superior, ou porque reputem
menos compensadores os resultados materiaes que o nobre sacerdocio do
magisterio offerece, o facto é que em 1930 só um alumno do sexo masculino
se matriculou na 1º anno da nossa Escola Normal. (MATO GROSSO, 1930,
p. 45-46).

Assim, com uma procura menor desse tipo de curso pela população masculina, pode-
se entender o porquê da permanência de um mesmo número de cursos durante todos esses
anos. A posterior anexação da escola normal ao ensino secundário, a partir de 1938/39, como
curso de especialização de professores, veio agravar ainda mais este quadro, tornando mais
difícil a formação desses profissionais. Segundo registros dos Relatórios de 1940 e 1942 do
interventor Júlio Strübing Müller, em 1939, apenas 3 alunos se haviam matriculado nesse
curso em Cuiabá; enquanto 4 alunos se matricularam em 1941 (MATO GROSSO, 1940;
MATO GROSSO, 1942)7.
Sobre esta questão, é interessante notar ainda que, embora a própria interventoria
constatasse a falta de professores em Mato Grosso, principalmente nas zonas rurais (MATO
GROSSO, 1942), tenha feito a seguinte consideração, ao justificar as transformações sofridas
pelo curso normal, quando deixou de ser uma modalidade de ensino independente, em 1942, e
passou a exigir um curso complementar, de 2 anos, a título de especialização:
Considerando que o grande número de normalistas diplomadas, [é]
suficiente para as necessidades do nosso ensino primário [isto] permite a
exigência de um curso mais longo e mais profundo para os futuros
candidatos ao magistério [...]. (MARCÍLIO, 1963, p. 197. Os grifos são
nossos.). 8

Dessa forma, durante as décadas de 1930 e 1940, o ensino normal, no estado de Mato
Grosso, contava ainda com um número reduzido de estabelecimentos, distribuídos em quatro
municípios: Cuiabá, Campo Grande, Corumbá e Aquidauana. Se a demanda e o investimento
existentes em relação ao ensino primário já eram limitados pelas características econômico-
sociais do estado, tanto mais o eram nesta outra modalidade de ensino, para a qual concorria
parcela bastante reduzida de alunos egressos da escola primária.
Em que pesem as vicissitudes dessa quadra histórica, contudo, as primeiras
instituições públicas de formação de professores, de caráter permanente na região sul do
estado, surgiram entre 1930 e 1940.
O motivo desse longo período entre a instalação da Escola Normal no norte de Mato
Grosso, que acontecera ainda no século XIX, e as instituições do sul do estado pode ser
explicado quando se observa, conforme exposto na primeira parte deste trabalho, que o
processo de expansão e desenvolvimento mais acentuados do sul de Mato Grosso deu-se
efetivamente a partir da secunda década do século XX.
Foi somente a partir das políticas nacionalistas e desenvolvimentistas de modernização
de Getúlio Vargas, no início da República Nova, que a educação ganhou espaço no cenário
nacional. E foi neste período que se instalou a primeira Escola Normal de Campo Grande.
Como a educação também era peça chave da estratégia de desenvolvimento liberal
forjado pelo governo central, viu-se assim a necessidade da criação de uma Escola Normal
também em Campo Grande9. Outro motivo importante para a abertura da Escola Normal na
referida cidade está na rivalidade política entre os polos norte e sul do estado. Frente a
crescente disseminação do ensino primário em todo país, ter uma Escola Normal em Campo
Grande significava não precisar ter apenas professoras cuiabanas nas escolas públicas atuando
no sul do estado (ARAÚJO, 1997).
De acordo com Rodríguez e Oliveira (2006, p. 5) em Campo Grande, “A origem da
escola normal pode-se situar a partir da instalação do primeiro Grupo Escolar em Campo
Grande em 13 de junho de 1922, após ter sido autorizado pela Resolução nº 866, de 03 de
novembro de 1921.” No seguimento dessa iniciativa, em 21 de abril de 1930 foi instalado na
cidade, junto ao Grupo Escolar a Escola Normal de Campo Grande, por ordem do Dr. Aníbal
Toledo, presidente do estado. Ainda de acordo com as pesquisas das autoras supracitadas,
neste contexto de implantação da Escola Normal Campo Grande, as condições de
funcionamento desta instituição eram precárias:
Em péssimo estado de conservação se encontra o edifício da Escola Normal
onde funccionam também a escola modelo e o curso annexo.
A impressão que se tem ao penetrar-se nelle é desoladora. Urge uma
limpeza geral, assim como a reparação das vidraças das janelas que se
acham todas quebradas. Edifício acanhado, sem lotação suficiente
para nelle funcionar um grupo escolar, pois somente seis salas de aula,
sente-se, a direção do estabelecimento em sérios embaraços para nele
fazer funccionar as duas outras escolas annexas. No próximo anno,
com a promoção dos alunnos do 1º anno para o 2º anno normal, não
terá a Directoria, uma sala para collocar esses alunnos. [...] A lotação
actual do edifício é para 240 alunnos e só na escola modelo a
matrícula é de 541, com uma freqüência de 434 se juntarmos ainda 24,
da Escola Normal e 17 do Curso Complementar (...) um total de 582
alunnos, freqüentando um edifício com lotação para 240 ou 480, com
funcinamento em dois turnos (MATO GROSSO, RELATÓRIO, 1931
apud RODRÍGUEZ & OLIVEIRA, 2006, p.5).

A mesma situação é relatada por Ayd Camargo César, ingressa de uma das primeiras
turmas da Escola Normal Anexa de Campo Grande. Em sua fala ela desvela a situação
precária em que se encontrava a instituição:

Fui assim para a Escola Normal com muita base. Ali tive, como professor de
Português, Vitor de Paula Correa, homem de grande preparo, mas sem
nenhuma energia, com quem aprendi a redigir. O diretor da Escola Normal
Joaquim Murtinho10 era o professor Múcio Teixeira. Se a Escola Normal de
Cuiabá era modelo, a nossa deixava a desejar. Tanto o aprendizado, quanto o
material didático eram extremamente deficientes. Haviam professores
esforçados e outros que estavam ali só, porque tinham influência política.
Tive um professor de didática que costumava dizer: Sou farmacêutico
formado, de didática não entendo nada. (ROSA, 1990, p. 40).
Neste mesmo livro há também depoimentos de ex-funcionários da Escola Normal
Anexa que reclamavam da instabilidade profissional, pois não eram feitos concursos, e a cada
mudança de governo mudavam as nomeações de professores e diretores da instituição
(ROSA, 1990; BRITO, 2001).
A Escola Normal Anexa foi fechada em 1940, com o encerramento total de suas
atividades. Esta interrupção foi motivada pelo interventor Júlio Müller, que instituiu uma
nova política de formação de professores em Mato Grosso, na qual propunha que a mesma
fosse realizada por um curso de especialização de duração de um ano, vinculado aos Liceus. É
importante frisar que, nesse momento histórico, como frisa Romanelli:
Não tinham, porém, essas escolas organização fundada em diretrizes
estabelecidas pelo Governo Federal. Tal como o ensino primário, o ensino
normal era assunto da alçada dos Estados, ficando restritas as reformas até
então efetuadas aos limites geográficos dos Estados que as promovessem.
(ROMANELLI, 1986, p. 163).

Somente na transição do Estado Novo para o governo Dutra, em 1946, o Decreto-Lei


n° 8.530, de 2 de janeiro “[...] fixou as normas para a implantação desse ramos do ensino em
todo o território nacional” (ROMANELLI, 1986, p. 163). Por força dessa legislação, o
governo de Mato Grosso propõe e foi aprovada a Lei n° 834, de 31 de janeiro de 1947, que
restabeleceu o ensino normal em todo o estado (ROSA, 1990). Em seguida, o Decreto n° 590,
de 31 de janeiro de 1948, reabre a Escola Normal Joaquim Murtinho de Campo Grande, nome
que a instituição recebeu naquela oportunidade. Outrossim, seus cursos sofreram
reformulações e assim permaneceram até 1973.
Processo histórico semelhante explica o conjunto de fatores que culminam na criação
da Escola Normal Jango de Castro, na cidade de Aquidauana, no então sul de Mato Grosso,
em 1949.
Em mensagem apresentada à Assembleia Legislativa por ocasião do início da
Legislatura de 1950 pelo governador do Estado de Mato Grosso, Dr. Arnaldo Estevão de
Figueiredo, era enfatizada a necessidade da criação de uma instituição de formação
escolarizada de professores normalistas, que viesse a contribuir para a eficiência do ensino
primário na cidade de Aquidauana. Essa constatação é reforçada pela existência do Grupo
Escolar Antonio Corrêa, fundado a 10 de março de 1924, cuja denominação fora dada pelo
Decreto n° 669, de 5 de junho de 1924 (MATO GROSSO, 1950).
Na mensagem, o então Governador realiza uma breve retrospectiva em relação às
condições gerais do Ensino Normal em todo o Estado, enfatizar que no ano de 1946, em
função das iniciativas tomadas durante o Estado Novo, pela gestão de Júlio Müller, Mato
Grosso não dispunha de Escolas Normais. Realizadas tais afirmações, Arnaldo Estevão de
Figueiredo destaca que entre as metas do governo em relação a melhorias a serem efetivadas a
partir de 1946, no que diz respeito as condições do professorado, esteve esta de recriar as
escolas normais, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento do ensino primário.
Lembra ainda que dentre desse projeto político houve a reinstalação, em 1947, das
Escolas Normais Pedro Celestino e Joaquim Murtinho, em Cuiabá e Campo Grande,
respectivamente, as quais se encontravam desativadas. Ainda, como parte do
desenvolvimento e ampliação do Ensino Normal, em 1949, o governo recebeu autorização
expedida pela Assembleia Legislativa para assinar convênio com o Ginásio Candido Mariano,
em Aquidauna, em cujo prédio funcionaria, em anexo, o primeiro estabelecimento de Ensino
Normal.
Destarte, no mesmo ano de 1949 instalou-se, mediante a Lei n° 342, de 12 de
dezembro, a Escola Normal de Aquidauana, a qual se designou “Jango de Castro11,” uma vez
que Aquidauana constituía-se, no referido período, uma das principais cidades do estado no
eixo pecuário, devido a sua posição geográfica e sua posição estratégica na Bacia do Paraguai,
ligando-se a um processo mais amplo, o processo de ocupação e povoação do Pantanal.
O mesmo processo de expansão atingiria ainda o município de Corumbá, onde foi
autorizada, em 1948, a instalação de uma Escola Normal junto ao Ginásio Imaculada
Conceição, estabelecimento particular sob a responsabilidade da congregação salesiana. A
essas iniciativas seguiram-se ainda a instalação de escolas congêneres em outras cidades do
sul do estado, o que foi destacado pelo Governador Fernando Corrêa da Costa, em 1953:
De 1.948 a esta data, vêm funcionando no Estado as Escolas Normais Pedro
Celestino, em Cuiabá, Joaquim Murtinho, em Campo Grande, Dom Aquino
Corrêa, em Três Lagoas, e Jango de Castro, em Aquidauana, bem como
outras de iniciativa particular, em Cuiabá, Campo Grande e Corumbá,
devidamente fiscalizadas. (MATO GROSSO, 1953 apud OLIVEIRA E
RODRIGUEZ, 2009, p. 121).

Já no ano de 1958 foi criada a Escola Normal Nossa Senhora da Conceição, sob a
direção de religiosas franciscanas, na cidade de Dourados (MANCINI E SILVA, 2008). Na
mesma década (1950) apareceu a Escola Normal Regional, em Ponta Porã.
No início dos anos 1970 todas as escolas normais anteriormente referidas sofreram
nova interrupção de suas atividades. A causa do fechamento da Escola Normal, desta vez, foi
novamente motivada pela mudança da legislação nacional, mais especificamente, pela Lei n°
5.692, de 1971, que reformou o ensino, e instituiu o 1º e 2º graus, substituindo as Escolas
Normais por cursos de Habilitação Específica em Magistério.
À guisa de considerações em processo

Nesse sentido, considera-se que o Brasil, a partir dos anos 1930, sofreu modificações
que redundaram numa nova configuração social. Foi nesse contexto, marcado por um amplo
debate, que se desencadearam as reformas educativas. Dessas reformas resultou a necessidade
de ampliação da rede escolar em todo o país; a modificação da infraestrutura e a organização
administrativa; a introdução de um novo ideário educacional, com uma orientação pedagógica
também diversa, em função das concepções do escolanovismo. Nesse contexto, a Escola
Normal ganhou vitalidade e centralidade, porque era a instituição encarregada de prover os
professores que viabilizariam o processo de expansão, bem como divulgar e propagar os
novos métodos pedagógicos.
Essas transformações também se evidenciavam no sul do estado de Mato Grosso,
determinadas pelo desenvolvimento produtivo e aumento populacional ocorrido na região, o
que motivou a implantação de várias instituições escolares. Entre 1930 e 1970 houve a
criação de sete novas instituições, além daquela já existente desde 1904 em Corumbá. Dentre
as novas escolas normais, cinco eram públicas e estavam situadas nos municípios de Campo
Grande, Aquidauana, Ponta Porã, Três Lagoas e Dourados; as outras duas, confessionais,
eram situadas em Campo Grande e Dourados.
Apesar disso, a documentação legal evidencia que, afora o contexto modernizante e
“progressista”, a expansão do ensino normal na região sul de Mato Grosso teve dificuldades
de ordem política e pedagógica, sobretudo no tocante às escolas públicas. Estas últimas
inicialmente tiveram um funcionamento precário, dadas as condições materiais deficitárias e o
reduzido número de professores – muitos, inclusive, provinham de Cuiabá e de São Paulo. A
intervenção política também repercutiu na organização pedagógica e na estabilidade dos
docentes. Essa situação, aliada à política de formação de professores no contexto nacional,
suscitou várias interrupções e condicionou a expansão da escola normal no sul de Mato
Grosso.

Referências
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Notas:
1
Esta diversificação foi particularmente forte até os anos 1920, quando os reflexos da nova divisão internacional
do trabalho, por força das mudanças provocadas em âmbito mundial, com a transição para a fase monopólica da
sociedade capitalista, fez-se sentir com mais intensidade em Mato Grosso. Será nesse momento, com o ocaso
deste processo de dinamização econômica, que a região começou a se firmar enquanto zona de pecuária
extensiva e de exportação de gado em pé. Cf. ALVES, 1984, p. 54-57.
2
Região situada no entorno da planície pantaneira, cuja principal cidade é Campo Grande.
3
Até meados dos anos 1960, a atividade agrícola era pouco expressiva no Estado, ocupando uma posição
secundária, principalmente quando comparada à pecuária. Neste sentido, também em virtude da falta de um
mercado mais amplo que justificasse o empreendimento, carecia ainda de tecnologia e de capital. Em Mato
Grosso, até este período, além dos projetos de colonização, ela estava presente no interior das grandes
propriedades pastoris, onde era utilizada na abertura de áreas novas, visando ao barateamento de custos na
formação de pastagens. O cultivo era o tradicional, utilizando-se basicamente os solos de matas, por serem mais
férteis, uma característica da transitoriedade desta agricultura. Cf. GONZÁLEZ, 1996.
4
É necessário deixar claro que, apesar da tendência de queda relativa da participação da erva mate na economia
mato-grossense, queda esta que já vinha se dando desde meados da década de 1930, a produção local era
importante para o desenvolvimento do extremo Sul do estado, sobretudo para os municípios de Ponta Porã e
Amambaí. Além disso, apesar desta tendência de menor participação relativa, houve momentos de recuperação
nas vendas do produto, como aquele acontecido a partir dos anos 1940 e sobretudo nos anos 1950, em parte
graças a um série de incentivos oferecidos pelo governo estadual, combinados a conjuntura favorável de
aumento de vendas para a Argentina. Assim, nos anos de 1951, 1954 e 1957 a produção ervateira de Mato
Grosso representava respectivamente 17,18%, 10,56% e 11,03% da produção total desta mercadoria, no Brasil.
Cf. CAMPOS, 1960; QUEIROZ, 2004.
5
Segundo dados do IBGE, Mato Grosso tinha um rebanho bovino estimado em 7.956.200 cabeças em 1955, ou
12,51% do total existente no país, que chegava a 63.607.580 animais. INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1956..
6
É interessante notar que a maioria destas antigas áreas de colonização transformara-se em grandes propriedades
que se ligaram, nas décadas seguintes, ao processo de formação da agroindústria em Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul. O que significa dizer que se organizaram dentro dos mais avançados padrões tecnológicos e de relações
de produção dentro do campo agrícola, em termos capitalistas.
7
Pode-se inferir, pelos dados disponíveis, que os alunos remanescentes da antiga Escola Normal, no município
de Cuiabá, em 1939, em número de 226, estavam cursando a Seção Normal daquela escola, que era a “(...)
remanescente da antiga Escola Normal”. Dada a pequena matrícula registrada no curso de especialização de
professores nos anos seguintes, infere-se que após a encampação de 1938/39, os novos alunos e futuros
candidatos ao magistério primário, tanto em Cuiabá como em Campo Grande, acabaram por terminar seus
estudos na escola secundária, não optando posteriormente pela escola especializada de professores, que se
seguiria ao secundário.
8
MARCÍLIO, Humberto. História do ensino em Mato Grosso... p. 197.
9
É importante frisar ainda que outra Escola Normal foi instalada em Campo Grande no mesmo ano de 1930, e
que também teve papel importante na história da educação no sul do estado: a Escola Normal Dom Bosco. Esta
escola privada era mantida pelas freiras da Congregação Salesiana (ARAÚJO, 1997).
10
Essa denominação foi atribuída à citada instituição escolar em 1947, quando as escolas normais foram
reabertas em todo o estado de Mato Grosso (ROSA, 1990).
11
A Escola Normal de Aquidauana recebeu a denominação de Jango de Castro em homenagem ao Cel. João de
Almeida Castro (1860-1930), popularmente conhecido como Jango de Castro. Um dos fundadores da Villa de
Aquidauana em 15 de agosto de 1892, foi comerciante, primeiro juiz de paz, primeiro agente dos correios, o
primeiro delegado de polícia, enfim, era um dos intelectuais do grupo de fundadores de Aquidauana (NEVES,
2007).

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