Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
"E Deus falou todas essas palavras, dizendo: "Eu sou o Senhor, teu Deus,
que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão: não terás outros deuses
diante de mim (...) honra teu pai e tua mãe, a fim de que teus dias se
prolonguem sobre a terra que o Senhor, teu Deus, de dá. Não cometerás
homicídio. Não cometerás adultério. Não raptarás. Não prestarás testemunho
mentiroso contra teu próximo. Não cobiçarás a casa de teu próximo. Não
cobiçarás a mulher de teu próximo, nem o teu servo, sua serva, seu boi ou seu
jumento, nada que pertença a teu próximo." [11]
Destaque-se que os hebreus distinguiam as noções de direito e justiça,
identificando essa com o desígnio divino e, portanto, como sentimento superior
àquele. De um modo geral, o sentimento de justiça, entendida como amparo
aos pobres, como fraternidade e obediência à vontade divina, envolvia, em
essência, todo o sistema jurídico hebreu. Nessa direção aponta o magistério do
biblista Léon Epsztein que aponta a existência de dois vocábulos naquela
cultura para se referir à justiça: mishpat e çedeq. O primeiro, usavam para se
referirem tanto ao direito quanto à justiça. A raiz desse vocábulo (shapat) evoca
a idéia de julgar, de pronunciar uma sentença, referindo-se à justiça aplicada
pelos tribunais. Por força da atuação dos profetas, esse termo imiscuiu-se em
profundo conteúdo religioso. Já a palavra çedeq vinculava-se à prática
da equidade nos julgamentos. Era evidente a prevalência do ideal de justiça-
equidade sobre o direito ou leis materiais e processuais do direito hebreu. Nas
palavras do referido biblista, isso significava apreciar as leis com vistas a
alcançar o ideal de transcendentalidade nelas contida. Várias passagens
ilustram o desiderato hebreu de justiça:
"(...) Os juízes não deveriam julgar com parcialidade, mas com justiça (Lv
19,15; Dt 1,16) e seus veredictos têm de ser justos ( Pr 31,19; Dt 16,18.20); o
processo ilegal derruba a justiça (Am 5,7) e transforma o direito em veneno
(Am 6,12); a corrupção da justiça deturpa os processos justos e os direitos do
inocente ( Is 5, 23)" [12]
Veja que o ideal moral da justiça prevalecia e informava o regramento
legal, as normas e sua aplicação. Mckenzie [13], citado por Sella (2003:71), aduz
que a idéia hebraica de justiça consistia tanto na reivindicação de um direito,
quanto na prática justa de um processo pelo qual se reivindicava o próprio
direito ou se afirmava a própria inocência. Resgata ainda Sella as teses de
outro estudioso, Pinzetta, para afirmar a predominância da religiosidade sobre
o direito, demonstrando a confusão da terminologia jurídica com a teológica.
Naquele sistema jurídico, Pinzetta, "é Deus que dá a sentença. Ele é o ponto
de referência. Se a sentença do juiz não for de acordo com a sua, não há
justiça (cedaqah). Portanto, para haver a çedaqah é preciso agir conforme a
Lei de Deus". [14]