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Antônio José Dias da Silva, Geraldo Motta Azevedo Júnior, Marcio de Oliveira Farias e Mônica Affonso Debossam

ENGENHARIAS
SISTEMAS DE ACIONAMENTO PARA PONTE ROLANTE

Antônio José Dias da Silva


Mestre em Sistemas de Informação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) – RJ – Brasil
Professor do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM – RJ – Brasil
antoniojoseds@gmail.com

Geraldo Motta Azevedo Júnior


Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) – RJ
– Brasil
Professor do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM – RJ – Brasil
geraldomotta@unisuam.edu.br

Marcio de Oliveira Farias


Graduando em Engenharia Elétrica do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM – RJ
– Brasil
marcio.ofarias@gmail.com

Mônica Affonso Debossam


Mestre em Engenharia Mecânica pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) – RJ – Brasil
Professora do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM – RJ – Brasil
mdebossam@yahoo.com.br

RESUMO

O presente artigo aborda os sistemas de acionamento mais utilizados em pontes rolan-


tes. Estuda os sistemas de acionamento com motores de indução trifásicos para aplica-
ção em pontes rolantes. O trabalho foi desenvolvido a partir de problemas verificados
em campo e das especificações mínimas necessárias para garantir o bom funcionamento
da ponte rolante atendendo às necessidades do processo e à segurança das pessoas. As
soluções apresentadas são em função das especificações necessárias para atendimento
ao processo. Apresenta os possíveis ganhos que se podem obter com uma atualização
tecnológica para equipamentos que estão em operação há muitos anos e os componen-
tes utilizados não são mais fabricados.

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SISTEMAS DE ACIONAMENTO PARA PONTE ROLANTE

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Palavras-chave: Ponte rolante. Motores de indução trifásicos. Inversores de frequên-
cia.

DRIVE SYSTEMS FOR BRIDGE

ABSTRACT

This article discusses the most commonly used drive systems for rolling bridges. It stud-
ies the drive systems with three-phase induction motors for application in rolling bridg-
es. The work was developed based on problems verified in the field and the minimum
specifications necessary to ensure the proper functioning of the rolling bridge attending
to the needs of the process and the safety of people. The solutions presented are based
on the specifications required for the process. It presents the possible gains that can
be obtained with a technological update for equipment that have been in operation for
many years and the components used are no longer manufactured.

Keywords: Rolling bridge. Three-phase induction motors. Frequency inverters.

1 INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento de novas tecnologias para aplicação nas indústrias, equi-


pamentos que em sua época de fabricação atendiam com eficiência, hoje deixaram de
ser fabricados, tornando assim a necessidade de uma atualização tecnológica das ins-
talações para garantir a continuidade do funcionamento dos equipamentos, bem como
dos processos em que os mesmos estão inseridos.

Em alguns casos mais simples, uma troca de um pequeno componente elétrico


é suficiente para a adequação, e em casos mais complexos, é necessária uma grande
intervenção na instalação para adequação de todo sistema.

Muitas vezes os equipamentos já se encontram em operação por muitos anos


e não há mais peças disponíveis para substituição, sendo necessárias constantes recu-
perações de equipamentos elétricos obsoletos, que mesmo após a recuperação, não

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apresentam mais as características originais de funcionamento, provocando constantes
falhas e alto custo de manutenção.

Espera-se dentro das indústrias que os equipamentos utilizados nos processos


produtivos tenham uma disponibilidade adequada, de forma a não comprometer o pro-
cesso, e que os custos de manutenção sejam adequados ao negócio.

Uma ponte rolante, que é utilizada para retirada da produção, não pode ter fa-
lhas constantes, provocando perdas de produção, nem tão pouco ter um custo de ma-
nutenção elevado, comprometendo o resultado esperado do negócio. (Pinheiro 2015)

Quando ocorre uma situação onde o resultado do negócio é afetado pela inefi-
ciência de um determinado equipamento, faz-se necessária uma intervenção, a fim de
restabelecer as condições adequadas de operação e, em alguns casos, implantar melho-
rias que possibilitem um aperfeiçoamento desenvolvimento do equipamento.

Com isso, torna-se necessária uma atualização tecnológica para se manter a con-
tinuidade do equipamento em operação, possibilitando a realização de uma manutenção
adequada e uma disponibilidade que atenda aos requisitos operacionais da produção.

Quando se trata de equipamentos de içamento e movimentação de cargas, é


necessária uma atenção especial para garantir o bom funcionamento do equipamento,
seja quanto à preservação da estrutura mecânica do próprio equipamento ou do prédio
onde está instalado, bem como à movimentação adequada da carga, possibilitando um
posicionamento preciso e a segurança das pessoas que estão em sua proximidade.

Langui (2001) em seu trabalho fala sobre os ganhos de produtividade que podem
ser obtidos com o uso das pontes rolantes, fala, também, das informações que são ne-
cessárias para a especificação de uma ponte rolante, de forma a garantir o atendimento
às necessidades da área de produção de uma fábrica.

Côrtes (2010) trata em seu trabalho do uso de inversores de frequência para


acionamento de motores de indução, apresentando um breve histórico do uso de inver-
sores e sobre o princípio de funcionamentos de motores de indução trifásicos.

Seelig (2007) aborda a reforma de uma ponte rolante de 650 toneladas, que teve
como objetivo a substituição de motores de anéis por motores tipo gaiola de esquilo.

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Também foram apresentados os resultados obtidos após a reforma, onde se podem ob-
servar vários ganhos, tais como a melhoria na dinâmica dos acionamentos e redução dos
níveis de ruído, devido a não utilização de chaves eletromecânicas.

Além disso, a preocupação com a segurança das pessoas que operam estes equi-
pamentos, assim como com as que estão em sua proximidade, tem exigido um controle
preciso de posicionamento de cargas e restrições quanto a manobras que não podem
ser realizadas pelo operador.

Este trabalho aborda a especificação dos motores e dos principais componentes.


As questões mencionadas são tratadas através de um estudo que tem como premissa
uma atualização tecnológica adequada ao funcionamento da ponte rolante, que aumen-
te a disponibilidade da ponte para produção através da diminuição da necessidade de
intervenções de manutenção, que não permita que os controles da ponte rolante de-
pendam somente da habilidade e cuidado do operador, mas que bloqueiem manobras
que possam provocar avaria na ponte rolante ou acidentes com pessoas, e como conse-
quência disso, diminuir os custos de manutenção.

Para o desenvolvimento deste trabalho foram verificados: o manual do fabrican-


te da ponte rolante; o levantamento de campo da situação atual do sistema elétrico da
ponte e das necessidades operacionais quanto ao posicionamento das cargas; consultas
a livros sobre os sistemas de acionamento de motores; consultas a trabalhos acadêmicos
e artigos sobre sistemas de acionamentos de motores elétricos; manual de fabricantes
de equipamentos elétricos.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Problemas verificados no local

A ponte rolante, objeto deste estudo, tem vários anos em operação e não se
encontram mais peças do sistema de controle de velocidade dos motores para substitui-
ção, sendo necessárias constantes recuperações de equipamentos elétricos obsoletos,
que mesmo após a recuperação, não apresentam mais as características originais de

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funcionamento, provocando constantes falhas.

Boa parte do custo de manutenção ocorre devido ao mau funcionamento do


sistema de acionamento atual, que possibilita na partida, uma torção da ponte em re-
lação ao caminho de rolamento, o que provoca o desgaste prematuro da aba das rodas,
tornando necessária à sua substituição.

Além do custo elevado das rodas, há também custos com guindastes e a indis-
ponibilidade da ponte. Cada troca de roda necessita de 3 mecânicos durante 4 horas de
trabalho.

O custo de manutenção, de um intervalo de 12 meses, pode ser visto no gráfico 01,


que se encontra a seguir:

Gráfico 1: Custo de manutenção da ponte rolante

Fonte: Sistema de controle de custo de uma empresa

Nas figuras 1 e 2, pode ser visto o motor de rotor bobinado, que é utilizado para
o movimento de translação da ponte.
Figura 1: Motor de translação da ponte Figura 2: Motor de ventilação do motor
de translação da ponte

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Fonte: o autor Fonte: o autor

Um dos principais problemas relacionados ao acionamento da translação da


ponte é o desgaste excessivo das rodas, o que torna necessária à sua substituição.

Outras questões verificadas no local de trabalho foram: a falta de controle de


aproximação das pontes rolantes do mesmo vão, o que possibilita o choque entre elas,
ficando este controle apenas com o operador da ponte; a falta de sensores no final de
curso da translação do carro e da ponte; a falta do controle da carga a ser içada pelo
operador e a dificuldade para posicionamento de cargas.

2.2 Tipos de motores

Os motores mais utilizados nas pontes rolantes são:

- Motor de anéis (rotor bobinado)

- Motor de gaiola de esquilo.

O mais utilizado em novos projetos é o motor de gaiola de esquilo, para o qual


será dada maior atenção neste estudo.

2.2.1 Motor de rotor bobinado

Os motores trifásicos tipo rotor bobinado são máquinas robustas e de alto con-
jugado, mesmo em baixas velocidades. Apesar destas características importantes, o seu
uso vem sendo abolido na indústria, principalmente em novas instalações, devido ao seu
custo elevado, quando comparado com motores tipo gaiola de esquilo. Atualmente, ain-
da representam a grande maioria dos motores empregados nas instalações industriais.
(Côrtes, 2010).

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O motor de rotor bobinado é constituído de duas partes principais: rotor e esta-
tor. O rotor deste motor, como o próprio nome já diz, é bobinado, tendo um enrolamen-
to trifásico, acessível através de três anéis em contato com escovas coletoras fixadas em
suportes, chamados de porta escovas. O porta escova possibilita, além da fixação das
escovas, a instalação de molas que mantêm as escovas sob pressão, garantindo um bom
contato elétrico e, ainda, a fixação de cabos elétricos que são levados para fora do motor
até a caixa de ligação.

Os terminais possibilitam a ligação de impedâncias em série com o rotor, que


controlam a velocidade do motor sem a perda do torque. Essas impedâncias podem ser
construídas por associações resistências elétricas, hidro reostatos, reatores de corrente
contínua etc.

Segundo Côrtes (Côrtes, 2010), esses motores são utilizados em acionamentos


onde é requerido de sistemas de elevada inércia, devido a sua característica do ajuste da
curva de conjugado x rotação em função do aumento da resistência rotórica, e nos casos
em que o conjugado resistente em baixas rotações seja alto, comparado ao conjugado
nominal.

2.2.2 Motor tipo gaiola de esquilo

Os motores tipo gaiola de esquilo trifásica, por serem robustos e mais baratos,
são muito utilizados na indústria atualmente, principalmente pela disponibilidade de
sistemas de acionamento que possibilitam controle de velocidade e partidas suaves.

O princípio de funcionamento deste motor é semelhante aos dos motores de


rotor bobinado, porém o seu rotor não é bobinado e, também, não é acessível na parte
externa do motor.

Desta forma, o controle de velocidade é feito através de motores de dois enrola-


mentos (dupla polaridade) ou sistemas eletrônicos que controlam a tensão e frequência
aplicada no estator do motor.

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É comum a utilização de motores com dupla polaridade, quando se deseja ter
uma partida mais suave sem o uso de sistemas de partida mais complexos.

Segundo Telles (Telles, 2010), neste tipo de motor é empregado o sistema conhe-
cido como de enrolamento por polos consequentes e deve-se notar que uma velocidade
é sempre a metade da outra, e para alterar a velocidade deste motor, será preciso alterar
a conexão dos terminais externamente, o que é feito através de contatores.

2.3 Sistemas de acionamento para motores em pontes rolantes

2.3.1 Sistema de acionamento para motor de rotor bobinado

Há vários tipos de acionamentos para motores de rotor bobinado, porém o ob-


jetivo de todos os sistemas é a adição e retirada de impedâncias que ficam ligadas em
série com o rotor.

Vamos tratar a seguir de dois sistemas muito eficientes.

2.3.1.1 Sistema de partida com banco de resistores

Um sistema muito utilizado é o de banco de resistores, que são constituídos de


vários resistores, os quais possuem terminais, através dos quais é possível aumentar ou
diminuir o valor da resistência elétrica total.

Neste sistema, os resistores ficam fechados em estrela e o uso de contatores


possibilita deslocar o fechamento do banco, diminuindo o valor da resistência, conforme
pode ser verificado na figura 3.

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Figura 3: Sistema de partida com motor de rotor bobinado

Fonte: Apostila de acionamentos industriais Prof. Leo Sergio França

2.3.1.2 Sistema de banco de reatores e resistores

A Villares, que fabricou pontes rolantes durante muitos anos, utilizava para con-
trole dos motores de rotor bobinado um sistema chamado Varicont. Esse sistema é com-
posto por resistores e reatores controlados, ligados em série.

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O controle da variação da impedância rotórica é feito através dos reatores, que
possuem duas bobinas, sendo uma ligada em série com o rotor e outra utilizada para
controle.

Ao ser percorrido por uma corrente elétrica CC, a bobina de controle provoca a
saturação do reator, fazendo com que a impedância altere de acordo com a intensidade
da corrente. Esta corrente elétrica é definida de acordo com a velocidade desejada.

2.3.2 Sistema de acionamento para motor tipo gaiola de esquilo

2.3.2.1 Sistema de partida direta

No sistema de partida direta, o acionamento do motor é realizado através de con-


tatores que ao serem operados, energizam o motor com a tensão nominal de trabalho.
Este sistema só é utilizado em pontes de pequeno porte, pois este tipo de acionamento
faz com que o motor, no momento da partida, tenha uma corrente muito elevada, po-
dendo provocar perturbações no sistema elétrico.

Em motores de dupla polaridade, a troca da alimentação entre bobinas de pola-


ridades diferentes é feita através de contatores. Desta forma torna-se possível ter duas
velocidades em um mesmo motor com um sistema de partida simples.

2.3.2.2 Sistema de transformadores de partida

Os transformadores de partida têm por objetivo reduzir a tensão nos terminais


do motor no momento da partida, reduzindo, por consequência, a corrente na partida
dos motores. Neste processo, é possível obter uma partida mais suave do que na partida
direta.

É necessário que se tenha uma atenção especial neste caso, pois há uma redução

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no toque do motor, devido à redução da tensão, e por este motivo este sistema só é
utilizado nos movimentos da translação da ponte e do carro.

2.3.2.3 Inversores de frequência

Diferente de todos os outros acionamentos estudados até este momento, o acio-


namento dos motores de gaiola de esquilo por inversores de frequência possibilita um
controle muito mais eficiente. Com o inversor de frequência, é possível impor ao motor
tempos de aceleração e desaceleração, isto é, definir em quanto tempo se deseja que
o motor ao ser acionado chegue até a velocidade máxima e, da mesma forma, quanto
tempo o motor deve desacelerar até a velocidade próximo de zero rpm.

Este controle preciso do motor possibilita a elaboração de projetos mais elabora-


dos, onde o controle da velocidade é essencial.

2.4 Escolha do tipo de acionamento

De posse das informações verificadas no manual e no local de trabalho, obser-


vou-se a necessidade de especificar motores que suportem o regime severo de trabalho
e que permitam um controle eficiente de aceleração e desaceleração.

O controle de desaceleração é necessário para garantir uma aproximação segura


em relação às outras pontes rolantes instaladas no mesmo caminho de rolamento e,
também, para o posicionamento dos materiais.

Atualmente, os motores de rotor bobinado utilizados possibilitam um controle


suave na partida, porém não são precisos quando estão no processo de desaceleração,
sendo necessária a utilização de freios mecânicos para garantir a parada da ponte no
local desejado.

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Esta característica dificulta o uso de sistemas de controle de aproximação, pois é
necessário, a uma distância ainda longa para operação, interromper o acionamento do
motor para entrada dos freios mecânicos e garantir a parada. Para isso, é necessário que
seja considerado velocidade máxima da ponte e o tempo de parada após a interrupção
do acionamento do motor. Assim, quando a ponte está em baixa velocidade, a uma
distância ainda longa, o acionamento do motor é interrompido e a ponte para a uma
distância que impede uma aproximação necessária entre as pontes rolantes.

Comparando as características dos motores atuais (rotor bobinado) com a dos


motores tipo gaiola de esquilo e considerando os sistemas de acionamento possíveis
para cada tipo de motor foi identificado que o uso do motor tipo gaiola de esquilo apre-
senta vantagens muito relevantes quanto aos sistemas de acionamentos existentes.

2.5 Cálculos dos motores

O objetivo dos cálculos das potências dos motores é garantir que os novos moto-
res sejam adequados para realizar os acionamentos

Os motores de rotor bobinado possuem características peculiares e não é ade-


quado apenas substituir um motor de rotor bobinado por outro de mesma potência
sendo gaiola de esquilo.

Para realizar os cálculos podem ser adotados, como referência, o manual de es-
pecificação de motores da empresa SEW (2017) e o guia de especificação de motores da
WEG (2017).

2.5.1 Motor de elevação

O cálculo do motor de elevação deve considerar a carga constante e o torque


de aceleração. Após o cálculo da potência de regime é feita a escolha do motor com a

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potência mais próxima da calculada no catálogo do fabricante do motor, considerando a
potência igual ou imediatamente superior a calculada.

Com os dados do motor é possível que se faça uma comparação entre o conjuga-
do de partida e o conjugado de regime. Esta comparação define se o motor é capaz de
acionar a carga do repouso até a condição nominal de velocidade.

2.5.2 Motor de translação

Os motores de translação não têm uma carga constante, com isso o método de
cálculo precisa de uma atenção especial.

As pontes rolantes normalmente têm mais de um motor para fazer os acio-


namentos de translação. Para cálculo da potência é preciso saber a influência do peso
da estrutura da ponte e da carga para cada motor, desta forma o cálculo deve ser feito
sempre para um motor.

Os cálculos devem prever a resistência ao movimento de translação da ponte


no caminho de rolamento e o torque de aceleração.

Após a seleção do motor deve ser feita a comparação do conjugado de partida


com o conjugado nominal.

2.6 Dimensionamentos de condutores

Existem sete critérios para dimensionamento de condutores elétricos: seção mí-


nima, ampacidade, queda de tensão, sobrecarga, curto circuito, contatos indiretos e o
critério econômico.

A seção mínima para cabos em circuitos de força deve ser de 2,5 mm², conforme
NBR 5410.

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O critério de ampacidade trata a máxima corrente que o condutor pode conduzir
conforme o tipo de linha elétrica.

A queda de tensão avalia se o condutor, mesmo atendendo ao critério de Ampa-


cidade, provoca uma queda de tensão dentro dos valores estabelecidos por norma.

O critério de sobrecarga tem como objetivo garantir que, após definido o disposi-
tivo de proteção, o ajuste seja adequado aos limites máximos de condução de corrente
do condutor.

O critério de curto circuito avalia se o condutor selecionado suporta as correntes


de curto circuito no local onde foi definida a sua instalação.

A proteção de contatos indiretos avalia se o sistema onde o condutor está insta-


lado tem proteção contra falha na isolação, de forma que quando isto ocorrer o sistema
seja desligado automaticamente pelo dispositivo de proteção, evitando que equipamen-
tos fiquem com sua estrutura energizada indevidamente.

O critério do dimensionamento econômico avalia se a seção do condutor está


adequada com relação às perdas por efeito joule e se o caminho percorrido pelo condu-
tor é o mais adequado, isto é, se distância é a menor possível, se o local definido para a
passagem dos condutores tem as condições físicas mais adequadas como: temperatura
ambiente, intempéries etc.

Para a realização dos cálculos dos condutores, podem ser adotados os métodos
indicados em Filho (2013).

2.7 Sistemas de proteção

Os sistemas de proteção devem prever desde o bloqueio de operações indevi-


das até a proteção dos componentes da instalação.

Para proteção de manobras indevidas devem ser previstos dispositivos contra


sobrecarga, colisões e choques mecânicos.

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Para proteção contra sobrecarga do sistema de elevação, podem ser utilizadas
células de carga, que possibilitam o monitoramento da carga que será içada e com esta
informação é possível bloquear o acionamento impedindo que a manobra seja realizada.

Para evitar colisões entre pontes rolantes em um mesmo vão, a utilização de


sensores de distância à laser possibilita, com o uso do inversor de frequência, a limitação
da velocidade de acordo com a distância entre as pontes até que seja feito o bloqueio do
movimento. Esta condição evita que seja necessário o bloqueio do movimento a distân-
cias longas, impedindo transtornos no processo.

Para deter choques do carro nos finais de curso também pode ser utilizado o
mesmo método, pois não haverá perda de espaço de trabalho pelo bloqueio do movi-
mento do carro antes do final do curso.

Para os sistemas elétricos é essencial que durante o projeto sejam previstas as


proteções para os condutores elétricos como sobrecarga e curto circuito, evitando desta
forma problemas físicos na instalação que podem ser causados por sobreaquecimento
dos condutores.

O sobreaquecimento dos condutores provoca perda de energia por efeito joule


e dependendo da intensidade poderá provocar incêndio.

2.8 Manutenção dos sistemas

A manutenção de equipamentos na indústria é necessária e evita prejuízos finan-


ceiros tanto por evitar paradas não programadas, causando interrupções no processo,
como a deterioração dos ativos da empresa.

Para que se tenha sucesso nas manutenções, é essencial que os profissionais que
fazem a manutenção tenham o conhecimento necessário para realização das atividades.
Outro fator de grande importância é a segurança das pessoas que trabalham nas manu-
tenções. Portanto o plano de manutenção deve ser realizado por profissionais qualifica-
dos e devidamente autorizados por técnico habilitado.

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Após a entrada em operação, devem ser feitos ajustes nas frequências das manu-
tenções que deverão ser feitas por profissionais devidamente qualificados e autorizados.

A manutenção dos motores do tipo gaiola de esquilo é bastante simples, uma


vez que estes motores não possuem tantos acessórios que demandem intervenção por
desgaste, sendo necessários apenas o acompanhamento do estado da isolação e as in-
dicações de troca de rolamento de acordo com as horas de utilização ou por inspeções
preditivas com técnicas especificas.

Durante as manutenções, caso seja detectada a necessidade de uma intervenção


de desmontagem do motor, será necessária a substituição do motor por outro reserva.
Esta intervenção deve ser feita em uma oficina com pessoal e ferramental apropriado.

A manutenção nos painéis elétricos deve ser realizada buscando identificar: fa-
lhas em conexões elétricas que se apresentam por sinais de aquecimento nas conexões
do circuito de potência; falhas nas vedações dos painéis que podem permitir a entrada
de poeira ou água e a necessidade de fixação dos componentes, uma vez que a ponte
rolante é um equipamento móvel e esta movimentação pode provocar o afrouxamen-
to de parafusos. Outra consideração é observar as recomendações dos fabricantes de
equipamento com relação à vida útil dos componentes da instalação, que são dadas em
horas ou número de manobras.

A manutenção dos sensores se limita a limpeza e verificação de sua fixação na


estrutura.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste trabalho foi avaliar os sistemas de acionamento para pontes


rolantes mais utilizados e decidir sobre qual sistema é possível se obter resultados mais
satisfatórios, seja em relação à manutenção, à disponibilidade, ao tempo de parada para
manutenção, ao custo ou, é claro, à operação mais adequada para o processo.

Com a escolha de utilização de inversores de frequência com motores do tipo

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gaiola de esquilo, dois pontos se destacam: a manutenção e a operação.

A manutenção dos sistemas com os motores de rotor bobinado requer tempo e


frequência maiores de parada para manutenção, quando comparado com motores do
tipo gaiola de esquilo.

Nos sistemas com motores de rotor bobinado há necessidade de uma interação


maior de pessoas com a máquina, ocorrendo montagens e desmontagens durante as
manutenções, onde pode ser inserido um problema.

Com o uso de motores de anéis acionados por inversores de frequência, a ma-


nutenção limita-se basicamente à limpeza e monitoramento dos equipamentos, sem a
necessidade de intervenções de montagem e desmontagem. Com isso, o tempo entre
manutenções é maior, aumentando a disponibilidade do equipamento.

No que se refere ao desgaste de equipamentos como: freios, acoplamentos, re-


dutores, rodas, a partida e a parada mais suaves e a estabilidade da ponte no caminho
de rolamento, que pode ser obtida com os acionamentos por inversores de frequência,
é possível concluir que a vida útil de cada equipamento pode ser aumentada significati-
vamente diminuindo o custo de manutenção.

Em relação à operação, a proposta do sistema de acionamento não tratou so-


mente da partida dos motores, resolvendo outros problemas operacionais verificados
em campo como: colisão entre pontes, batidas nos finais de curso do carro e sobrecarga
no sistema de elevação por carga superior ao limite máximo.

O sistema de comando da ponte, através dos sensores, impede que o operador


consiga provocar a colisão entre as pontes do mesmo vão e no fim de curso do carro. A
maior dificuldade para isto ocorreu devido à necessidade de aproximação dos equipa-
mentos durante o processo.

No sistema de acionamento com motores de rotor bobinado, não há controle


preciso de velocidade e também de posicionamento, sendo necessário o uso dos freios
mecânicos para garantir a parada do equipamento no local desejado, o que provoca
uma distância de parada entre as pontes e no fim de curso do carro inadequado para o
processo.

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Com o sistema de acionamento por inversores é possível um controle preciso da
velocidade durante a aproximação e também de posicionamento, seja entre pontes ou
no fim de curso do carro. Desta forma, foi projetado que quanto mais próximo de outras
pontes ou do fim de curso do carro, a velocidade é limitada através de informações de
sensores de distância, o que garante que o corte do acionamento seja feito somente a
uma distância segura e suficiente para não causar acidentes.

Quanto à sobrecarga no sistema de elevação, que provoca o desgaste excessivo


dos cabos de aço e dos dispositivos de içamento, o projeto possui uma célula de carga,
onde é possível saber o peso que está sendo içado. Desta forma, não será possível exce-
der a capacidade de içamento.

Os objetivos do estudo foram alcançados, porém é possível continuar este traba-


lho com alguns itens que não foram tratados, tais como: o projeto detalhado dos painéis
de acionamento e dos outros sistemas de acionamento (eletroímã e sistemas auxiliares);
o projeto mecânico para instalação dos motores e a substituição dos freios eletromecâ-
nicos por freios mais modernos, quando os freios atuais não são mais comercializados.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410. Rio de Janeiro, 2004

CÔRTES, D. M. Aplicação de inversores de freqüência. Rio de Janeiro, 2010

FILHO, J. M. Instalações elétricas industriais. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

LANGUI, C. A. Pontes rolantes – a importância do equipamento nas áreas de produ-


ção industrial. São Paulo, 2001.

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